Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA Análise do ciclo biológico do Aedes aegypti(Diptera: Culicidae) exposto a cenários de mudanças climáticas previstas pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) JULIANA BRUNING AZEVEDO Manaus, Amazonas ABRIL, 2015 JULIANA BRUNING AZEVEDO Análise do ciclo biológico do Aedes aegypti(Diptera: Culicidae) exposto a cenários de mudanças climáticas previstas pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) Orientador: Dr. Wanderli Pedro Tadei Coorientador: Dr. José Bento Pereira Lima Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas, área de concentração em Entomologia. Manaus, Amazonas ABRIL, 2015 XII A994 Azevedo, Juliana Bruning Análise do ciclo biológico do Aedes aegypti(Diptera: Culicidae) exposto a cenários de mudanças climáticas previstas pelo IPCC / Juliana Bruning Azevedo. --- Manaus: [s.n.], 2015. IX, 53 f.: il. color. Dissertação (Mestrado) --- INPA, Manaus, 2015. Orientador: Wanderli Pedro Tadei. Coorientador: José Bento Pereira Lima. Área de concentração: Entomologia. 1. Aedes aegypti. 2. Dengue. 3. Mudanças Climáticas. I. Título. CDD 616.921 Sinopse: Este trabalho avaliou o ciclo biológico do Aedes aegypti exposto a diferentes cenários de aquecimento global, em condições de laboratório, simulando as condições climáticas, previstas para o ano de 2100. Palavras-chave: Aquecimento global,Biologia do vetor, Dengue. IV Dedico este trabalho aos meus pais, Leoni e Edemundo, e a minhas irmãs, Jaqueline e Janaina, por todo o amor e carinho. V AGRADECIMENTOS Neste momento agradeço primeiramente as pessoas que mais admiro, sem elas não seria capaz de trilhar o caminho que trilhei. Agradeço imensamente meu Pai Edemundo e minha Mãe Leoni, por todo o carinho e dedicação, por todo incentivo e apoio incondicional. As minhas irmãs Jaqueline e Janaina, por serem parceiras em todos os momentos, mesmo distante, amo vocês. E ao meu amigo,esposo, companheiro de todas as horas, André Luís. Aos meus orientadores, Dr. Wanderli Pedro Tadei e Dr. José Bento Pereira Lima,pela amizade, orientação, pela confiança, e principalmente, pela valiosa contribuição teórica ao meu aprendizado, que servirá de base para toda a minha carreira profissional.Agradeço também aoDr.João Antônio Cyrino Zequi, por estar sempre presente, me ajudando em momentos de duvidas, serei eternamente grata a vocês. Ao Curso de Pós-graduação em Entomologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, pela possibilidade de ter realizado o curso de mestrado. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo auxílio financeiro sob a forma de concessão de bolsa de mestrado. A toda equipe do Laboratório de Malária e Dengue – INPA: Carlos, Edineuza, Elias, Gervilane, Bosco, Marcio, Muana, Raimundo Nonato. Em especial aos amigos Augustto Aleksey, Érika Gomes, Leandro Leal, Rejane Simões, Rochelly Mesquita, Waléria Dasso,obrigada pelos bons momentos, pelas conversas e risadas. A toda a equipe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores- FIOCRUZ, que gentilmente me receberam. Amigos da turma de mestrado, André, Eurico, Vagner, José, Gustavo, Tohnson, Ernesto, Dayse, Marcus. Um agradecimento em especial aos amigos de todas as horas, Lucide e Marcelo, Joice, Martinha, Dirce, Paty, Danilo, Sofia e Jefferson, foi um prazer enorme conhecer vocês. A minha amiga Adaiane Catarina, por estar sempre por perto, mesmo estando longe, obrigada. Muito obrigada a todos que, de alguma forma se fizeram presentes nesta minha jornada. VI Resumo O Aedes aegyptié considerado o principal vetor do vírus da Dengue, Febre amarela urbana e da Febre Chikungunya. São insetos suscetíveis à variação de fatores ambientaiscomo, quantidade de chuva e temperatura. Responsáveis porregular o tamanho populacional e aspectos da biologia do mosquito, como o crescimento larval, tempo de desenvolvimento, tamanho corporal,longevidade, fecundidade e alimentação sanguínea. O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) prevê um aumento de 2° a 4° C na temperatura média global, durante o próximo século. Essas alterações climaticas poderão resultar em mudanças significativas nas paisagens e nos padrões ecológicos das doenças infecciosas, e interferir diretamente no desenvolvimento e comportamento do A. aegypti. Neste trabalho foram avaliados diferentes aspectos da biologia do vetor como, ingestão de sague, fecundidade, oviposição e eclosão de ovos e longevidade, sobre cenários de mudanças climáticas, previstas para o ano de 2100, cenários intermediários e extremos.Dentre as variáveis preditas para sofrem alterações devido a mudanças do clima, a temperatura é principal responsável por alterar a biologia e o comportamento do vetor. As concentrações de CO2, mesmo três vezes maior que a concentração atual, não influenciou significativamente os resultados obtidos neste estudo.A quantidade de sangue ingerida por fêmeas criadas em temperatura mais elevada foi maior quando comparadas com as fêmeas que viviam em temperaturas menores, a longevidade é menor em temperaturas superiores a 32°C, vivendo aproximadamente 40 dias e não houve diferença de longevidade entre os sexos. A fecundidade é extremamente afetada pela temperatura, sendo reduzida pela metade em temperaturas maiores. A oviposição é prejudicada em temperaturas superiores a 32°C, porém esse efeito não foi observado na eclosão.Modelos matemáticos projetam um aumento no número de casos de dengue, além de uma expansão geográfica na distribuição do vetor. No entanto, nossos dados indicam que, em cenários futuros de mudanças climáticas, alguns aspectos da biologia do A. aegypti serão afetados. Com as informações acima mencionadas, foi possível conhecer melhor a biologia do vetor e levando também em consideração as mudanças climáticas, servindo como base para outros estudos. Abstract VII The Aedes aegypti is considered the main vector of dengue virus, urban yellow fever and Chikungunya fever. Insects are susceptible to changes in environmental factors such as rainfall and temperature. Responsible for regulating population size and aspects of mosquito biology, such as larval growth, development time, body size, longevity, fertility and blood supply. The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) predicts an increase of 2° to 4° C in average global temperature over the next century. These climatic changes may result in significant changes in landscapes and ecological patterns of infectious diseases, and interfere directly in the development and behavior of A. aegypti. This study evaluated different aspects of vector biology as amount amount of ingested blood, fertility, egg laying and hatching of eggs and longevity, climate change scenarios, planned for the year 2100, intermediate and extreme scenarios. Among the predicted variables to undergo changes due to climate change, the temperature is primarily responsible for changing the biology and vector behavior. Concentrations of CO2, even three times the current concentration does not significantly affect the results obtained in this study. The amount of blood ingested by females raised in higher temperature was higher compared to females who lived at lower temperatures, longevity is low at temperatures above 32° C, living approximately 40 days and no longevity difference between sex. The fertility is greatly affected by temperature, being reduced by half in higher temperatures. The oviposition is impaired in temperatures above 32° C, but this effect was not observed in the outbreak. Mathematical models project an increase in the number of dengue cases and geographic expansion in vector distribution. However, our data indicate that, in future scenarios of climate change, some aspects of the biology of A. aegypti will be affected. With the above information, it was possible to better understand the biology of the vector and taking also into account climate change, serving as a basis for other studies. VIII Sumário 1. Introdução Geral ................................................................................................................... 10 2. Objetivos: ............................................................................................................................... 17 2.1. Geral: ................................................................................................................................... 17 2.2. Específicos: ......................................................................................................................... 17 3. Resultados.Capítulo 01: Azevedo, J.B., Lima, J.B.P., Tadei, W.P., 2015. Análise do ciclo biológico do Aedes aegypti (Diptera: Culicidae) exposto a cenários de mudanças climáticas previstas pelo IPCC. Manuscrito formatado para Acta Tropica.................................................. 18 4. Conclusão ............................................................................................................................... 42 5. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 42 Anexos ........................................................................................................................................ 49 Lista de tabelas Tabela 1:Descrição do clima no Microcosmos (LEEM/INPA), referente ao período de setembro a dezembro de 2014........................................................................................................................................25 Tabela 2:Resultados do modelo ajustado de Regressão Linear do peso dos pools no experimento de ingestão de sangue.......................................................................................................................................26 Tabela 3: Resultados descritivos e do modelo ajustado de Regressão Logística da capacidade de cópula...........................................................................................................................................................27 Tabela 4:Resultados descritivos e do modelo ajustado de Regressão Logística de ocorrência de oviposição....................................................................................................................................................28 Tabela 5: Resultados descritivos e do modelo ajustado de Regressão Logística da ocorrência de eclosão..........................................................................................................................................................30 Tabela 6: Resultados descritivos e do modelo ajustado de Análise de Sobrevivência do experimento de longevidade..................................................................................................................................................31 Lista de figuras Figura 1: Diagrama de dispersão e retas ajustadas entre peso dos pools vs temperatura por alimentação (A) e por sala (B).........................................................................................................................................26 Figura 2: Gráficos de linhas do modelo ajustado para probabilidade de ocorrência de oviposição....................................................................................................................................................28 Figura 3: Diagrama de dispersão entre nº de ovos ovipositados vs temperatura segundo a sala do experimento..................................................................................................................................................29 Figura 4: Diagrama de dispersão entre nº de ovos ovipositados vs CO2 segundo a sala do experimento..................................................................................................................................................29 Figura 5: Gráficos de linhas do modelo ajustado para probabilidade de eclosão........................................30 Figura 6: Curvas de sobrevivência de cada sala (A) e por sexo (B) pelo método de KaplanMeier............................................................................................................................................................31 ............................................................................................................... IX 1. Introdução Geral O Aedes aegypti(Linnaeus, 1762) pertence ao grupo dos Culicidae: Culicinae (Knight and Stone, 1977), originário do velho mundo, provavelmente na região etiópica, porém descrito no Egito,(Consoli e Lourenço-de-Oliveira, 1994).Sua dispersão pelo mundo teve início entre os séculos XVII ao XIX, por meio de navios de escravos e mercantes ( Silva et al.,1998; Kyle e Harris, 2008). Admite-se que a disseminação do mosquito ocorreu de forma passiva, pelas migrações do homem no mundo, o que proporcionou ao A. aegypti permanecer em locais onde as condições eram favoráveis ao seu desenvolvimento. Considerado um mosquito cosmopolita, ocorre nas regiões tropicais e subtropicais do globo (Consoli e Lourenço-de-Oliveira, 1994). Este mosquito é o vetor de algumas arboviroses, dentre elas a Febre amarela urbana (FAU) e Febre Chikungunya, é o principal vetor do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3, DENV-4)(Black et al., 2002). No ano de 2014, o vírus Chikungunya começou a circular no Brasil, oA. aegypti e Aedes albopictus, são vetores eficientes,o ultimohábil para veicular o patógeno em apenas dois dias após a infecção em laboratório(Vega-Rúa et al.,2014).De acordo com os trabalhos realizados por Chahare colaboradores (2009) e Vega-Rúa e colaboradores(2014), é possível a co-infecção pelos vírus da Dengue e o Chikungunya em locais onde há ocorrência dos dois vírus. A dengue se caracteriza por uma infecção aguda, muitas vezes assintomática, podendo apresentar quadros de manifestações hemorrágicas com ou sem choque, sendo causados por um dos quatro sorotipos (DENV-1 a DENV-4) (Marcondes, 2009).Um novo sorotipo (DENV-5) foi detectado em um surto ocorrido em 2007 na Ásia, sendo este sorotipo filogeneticamente diferente dos demais (Science, 2013). A transmissão do vírus ocorre de homem para homem, por meio da picada da fêmea de A. aegypti, quepode se alimentar várias vezes durante um ciclo gonotrófico, o que propicia e facilita a disseminação viral, podendo contribuir para o aumento no número de casos de dengue (Scott et al., 2000; Marcondes, 2009) Entretanto, há outro meio de transmissão, chamado de vertical ou transovariana, que ocorre quando parte da prole de uma fêmea infectada nasce já infectado com o vírus, devido à invasãodeste em todas as partes do corpo do mosquito(Consoli e 10 Lourenço-de-Oliveira, 1994), podendo assim, ser detectada a presença do DENV-2 em machos, o que confirma a transmissão transovariana (Pessanhaet al., 2011).Empregando-se técnica de RT-PCR, Martins e colaboradores (2012) encontraram taxas importantes (3%) de A. aegypti e A. albopictus, contaminados por vírus dengue através da transmissão vertical em Fortaleza, Brasil. Estima-se que no ano de 2010 foram notificados aproximadamente 150 milhões de casos de dengue no mundo, tendo um adicional de aproximadamente 294 milhões de infecções chamadas de inaparentes, infecções assintomáticas ou confundidas com outras doenças, que não fora detectadas pelo sistema de saúde (WHO,2012). Estudosapontam que,anualmente ocorram cerca de 390 milhões de infecções por dengue(Bhatt et al., 2013), e que 3.9 milhões de pessoas, distribuídas em 128 países, estão em risco de se infectarem com o vírus(Brady et al., 2012; WHO, 2015). O primeiro balanço de 2015, feito pelo Ministério da Saúde, registrouum aumento de 57% (40.916)no número de casos de dengue no Brasil, referente ao mês de janeiro (SVS, 2015).Em Manaus, houve uma redução de 74,5% no número de casos suspeitos de dengue (4.240) em relação a 2014(16.634), o número total de casos confirmados de Dengue e Febre Chikungunya no ano de 2014 foide 1.489 e 4 respectivamente (Semsa, 2015). Biologia A fêmea do A. aegyptise alimenta de sangue para a maturação dos ovos e a hematofagia ocorre geralmente durante o dia. Devido à necessidade de repasto sanguíneo, uma fêmea pode se dispersar por até 800 metros, sendo capaz de ingerir de 3,0 a 3,5 mg de sangue por alimentação (Forattini, 2002).Depois de alimentada, a fêmea procura lugares para depositar seus ovos, estas posturas ocorrem sempre em locais úmidos,preferencialmente acima da linha d'água, podendo ser colocado também na superfície (Forattini, 2002; Madeira et al., 2002). O A. aegyptié um mosquito essencialmente urbano, de hábito diurno, utiliza reservatórios artificiais contendo água para sua oviposição(Tauil, 2002), podendo também utilizar recipientes naturais como bromélias, buracos em árvores (Forattini e Marques, 2000), portanto a oviposição é menos influenciada pela sazonalidade do ambiente(Donalísio e Glasser, 2002). Segundo estudos de Valença e colaboradores(2013), foram catalogados 220 tipos de criadouros artificiais e naturais. Estes reservatórios podem ser protegidos ou 11 não, sendo os mais comuns pneus, garrafas, plásticos, e principalmente reservatórios de água, utilizados para consumo humano como pias, tanques, caixas d’água, entre outros. A magnitude destes criadouros tanto naturais quanto artificiais é determinante no tamanho da população (Banerjee et al., 2013). O A. aegyptipossui a habilidade de se desenvolver em águas com diferentes graus de poluição, com diferentes concentrações de matéria orgânica, inclusive em esgoto doméstico, esta plasticidade lhe confere uma importante capacidade adaptativa, pois água contendo matéria orgânica e processos fermentativos podem ter um efeito de atração nas fêmeas para a oviposição(Beserra et al., 2009, 2010). Outra habilidade de extrema importância é a capacidade de se manter em um estado de dormência durante estágio de ovo, chamado de quiescência.Essa adaptação possibilita uma pausa no desenvolvimento do embrião, suspendendotemporariamente a eclosão após o término do desenvolvimento embrionário, especialmente durante o período em que as condições ambientais estão desfavoráveis(Fox, 1974; Consoli & Lourenço-de-Oliveira 1994; Silva e Silva, 1999; Danks, 2007). Estudos realizados por Barae colaboradores(2013), apontaram a existência de uma suscetibilidade e a capacidade das larvas deste mosquito, se infectarem com o vírus dengue por meio da ingestão do exoesqueleto de mosquitos adultos, presentes no mesmo hábitat. Histórico da dengue no Brasil Relatos de ocorrência de epidemias de dengue no Brasil foram registrados desde 1846, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. As primeiras referências a casos de dengue na literatura médica no país datam de 1916, no entanto primeira epidemia com confirmação laboratorial ocorreu em 1982, na cidade de Boa Vista- Roraima, com 11 mil casos, onde foram isolados os sorotipos DENV-1 e o DENV-4 (Teixeira et al., 1999). No início da década de 1940, a Fundação Rockefeller foi responsável pela erradicação do A. aegypti nas Américas, porém em 1947 a Organização Pan-Americana da Saúde e a OMS decidiram coordenar a erradicação do vetor. No final da década de 50 este mosquito foi eliminado de quase toda a América. No entanto, no ano de 1967 foi confirmada a reintrodução do mosquito no Brasil, pelo estado do Pará, seguida com uma nova erradicação em 1973 e, por fim, uma nova reintrodução no Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro em 1976, devido às falhas no monitoramento do A. aegypti (Braga e Valle, 2007a). Em 1986 após 12 um período sem registro de casos, a dengue reaparece no Brasil, na cidade de Nova Iguaçu - Rio de Janeiro, identificado o sorotipo DENV-1, a partir deste momento a virose se espalha para as cidades vizinhas. Em 1990, ocorre a introdução do DENV-2 no Rio de Janeiro (Teixeira et al., 1999), no ano de 2000, DENV-3 foi introduzido no Brasil (Câmara et al., 2007). No ano de 2008, foi detectada em pacientes de Manaus a presença do DENV-4 (Meloet al., 2009).No Brasil desde 1986 ocorrem surtos frequentes, em intervalos de 3 e 5 anos, o maior surto registrado ocorreu no ano de 2013, com mais de 2 milhões de casos notificados.Atualmente os quatro sorotipos do vírus se encontramcirculando no Brasil (SVS, 2015). Em Manaus o primeiro registro da presença do A. aegypti ocorreu em novembro de 1996, por meio das atividades do Programa de Vigilância para Síndromes Febris Indiferenciadas,sob responsabilidade da Fundação de Medicina Tropical/ Instituto de Medicina Tropical do Amazonas (FMT/IMT-AM). No entanto a primeira epidemia de dengue só foi registrada em 1998 (Pinheiro e Tadei, 2002; Figueiredo et al., 2004). Controle Ações de controle sistematizadas começaram a acontecer no século XX, devido às grandes epidemias de Febre amarela urbana. As campanhas de controle desta enfermidade favoreceram a diminuição dos casos de dengue, que não apresentavam registros até meados do século 20, não sendoconsiderado um problema de saúde pública(Braga e Valle, 2007c). Levando-se em conta todo o país, desde 1986 é registrado um aumento de número de casos.Desde o início do século XX, o controle do A. aegypti se baseia principalmente na remoção dos criadouros, o que representa um desafio logístico, já que os maiores números de casos são registrados em aglomerados urbanos(Maciel-deFreitas et al., 2012). Estima-se que de cada quatro municípios, três estão densamente infestados pelo A. aegypti.Mesmo com o investimento do governo para o controle do vetor, a redução na densidade larvária é insuficiente para conter a expansão da dengue (Barreto et al., 2011). Atualmente os larvicidas recomendados pelo Ministério da Saúde, para o controle das larvas de A. aegyptipertencem aos grupos dos biolarvicidas, reguladores de crescimento (inibidores de síntese de quitina e análogos do hormônio juvenil), espinosinas, organofosforados e piretróides. Para o uso em água potável, a OMS recomenda o uso do diflubenzuron, novaluron,Bacillus thuringiensis israelensis(BTi) , 13 espinosade, e piriproxyfen (Sumilarv®)em substituição ao temefós (organofosforado). O adulto é controlado por meio da borrifação de deltamentrin, lambdacialotrina e malathion, somente em períodos de epidemias ou surtos de dengue, o bendiocarb é usado em aplicações residuais (SVS, 2014). Existem outras alternativas para o controle deste vetor, como a utilização das bactérias entomopatogênicas como o Bacillus sphaericus (Bs), Bacillus thuringiensis israelensis (Bti), estas bactérias possuem cristais em seus esporos, que são ingeridos pelas larvas.Aação inseticida ocorre no intestino do inseto, interrompendo os movimentos peristálticos, impedindo a larva de se alimentar (Braga e Valle, 2007). ASaccharopolyspora spinosa produz toxinas as espinosinas A e D, o produto da fermentação resultante da mistura destas duas toxinas é a Espinosade,que atua sobre o sistema nervoso dos insetos, por contato externo ou ingestão, produzindo contrações musculares involuntárias, tremores e paralisia, interrompendo a alimentação das larvas(Duchet et al., 2012).Estas bactérias demonstraram serem eficientes no controle do A. aegypti, passando a ser uma alternativa a pesticidas químicos de muitos programas de controle (Rafael et al., 2008). O uso de outro microrganismo para o controle da população de A. aegyptiestá em fase de desenvolvimento. A bactériaWolbachia, encontrada naturalmente em 70% dos insetos, como A. albopictus(Skuse), exceto nos principais mosquitos de importância médica, Aedes aegyptie Anopheles spp.,é considerada endossimbiótica, e parasita o citoplasma do inseto hospedeiro, impedindo o vírus de se replicar, provavelmente devido à competição, reduzindo o tempo de vida de seu hospedeiro (Moreira et al., 2009; Hoffmann et al., 2011;Turley et al., 2013). Para ajudar na redução nos números de casos, além do uso de larvicidas e inseticidas, estão sendo desenvolvidas vacinas contra a dengue em todo o mundo.A equipe laboratório francês Sanofi Pasteur é a única em que os testes clínicos já foram concluídos, apresentando uma eficiência de 57% (75% para os sorotipos 2 e 3; 50% para o tipo 4; e 35% para o tipo 1). A proteção contra a forma mais grave aumentou cerca de 88,5% após 3 doses, porém ainda restam algumas duvida como por exemplo, a duração desta proteção (Capeding et al., 2014). A vacina brasileira mais atual, está sendo desenvolvida em parceria entre o Instituto Butantan e os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH – National Institutes of Health), encontra-se em fase de testes em seres humanos. Espera-se que em 2015, a vacina esteja pronta para o uso da população, que poderá ser protegida contra os quatro sorotipos dovírus da dengue (ANVISA, 2013). 14 Em decorrência do crescimento desordenado das grandes cidades, a falta de estrutura das moradias, a precariedade no fornecimento de água e o destino inadequado do lixo, tornam cada vez mais difíceis o controle do A. aegypti (Tauil, 2001). Outros fatores complicam o controle deste vetor, como o aumento no trânsito de pessoas e cargas entre países, além das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global. Há evidências de que o clima está mudando e que partedestas mudanças podem ser atribuídas às atividades humanas(Brasil, 2009). IPCC(Intergovernmental Panel on Climate Change) O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988, para fornecer ao mundo uma visão científica clara sobre o estado atual do conhecimento em mudanças climáticas, e seus potenciais impactos ambientais e socioeconômicos. O IPCC é um órgão científico, apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), analisa e avalia a informação científica, técnica e socioeconômica mais recente produzida no mundo, relevantes para a compreensão da mudança climática (IPCC, 2010b). Mudanças Climáticas A superfície terrestre aqueceucerca de 0,6°C desde o final do século XIX, projeções estimam um aumento na temperatura média da superfície global de 1,4 ° C a 5,8 ° C até o ano de 2100 (em relação à média 1961-1990), considerando que o uso intenso de combustíveis fósseis, siga o mesmo padrão dos anos anteriores(Patz et al., 2005; IPCC, 2007; IPCC, 2010a). O aumento na temperatura previsto para a Amazônia poderá ser de até 3°C, sendoesperada uma redução de 5% a 20% na precipitação em várias regiões do estado do Amazonas.É previsto para o período 20202029 que, 3.1% da floresta tropical será substituída por savana, e para o final do século (2090-2099) a área a ser substituída aumentará para 18% (Nobre e Salazar, 2001;Fearnside, 2008). Efeitos potenciais das mudanças climáticas sobre os ecossistemas e a saúde humana, são comprovados pelos estudos epidemiológicos, que enfatizam as relações entre o tempo e os parâmetros climáticos, na evolução das doenças, causando 15 mudanças na distribuição geográfica e na sazonalidade destas, particularmente nospatógenos transmitidos por mosquitos vetores(IPCC, 2010b). A variação no número de casos de doenças veiculadas por vetores está intimamente relacionada a eventos meteorológicos e mudanças climáticas. Além disso, espera-se que o aquecimento global promova um aumento nos casos de doenças infecciosas veiculadas por insetos. Porém estas variáveis ambientais podem ser uma das possíveis explicações para estes problemas, existem outros fatores como, deleção de genes resistentes aos inseticidas, desmatamento e principalmente mudanças nas políticas de saúde pública, que explicam estes surtos ou grandes epidemias (Zell, 2004). Considerando as doenças transmitidas por vetores, a importância da temperatura se dá pela relação direta com a biologia do mosquito. Em locais mais quentes o período de desenvolvimento do A. aegypti e a incubação do vírus são mais curtos, um ciclo menor do vetor aumenta o número e a duração das epidemias (Shope, 1991). Estando também relacionada com os surtos e a abundância do A. aegypti,alterando o número de ovos produzidos e o tempo de vida(Mohammed e Chadee, 2011; Chaves et al., 2013). O aumento do CO2 atmosférico causa um impacto nas comunidades ecológicas e em suas interações (planta-animal), provocando uma redução na concentração de nitrogênio e carbono(Smith et al., 2013).Pode reduzir o crescimento larval e a sobrevivência,por reduzir a qualidade e a quantidade de alimento nos criadouros(Walton e Reisen, 2013). A umidade relativa do ar, é outra variável ambiental que está geralmente relacionada com as chuvas, interferindo no número de criadouros, influenciando no voo,e na procura do hospedeiro para a alimentação(Khormiet al., 2011), podendo estar relacionada também com tamanho corporal do mosquito, durante a fase de ovo(Morales Vargas et al., 2010). Rowley e Graham (1968) verificaram que as fêmeas respondem a estas mudançasambientais principalmente através da redução do número e viabilidade dos ovos, tempo de vida, diminuindo as taxas de eclosão.Estes fatores interferem na população do mosquito, consequentemente nos patógenos por eles transmitidos(Arruda et al., 2006; Mohammed e Chadee, 2011). As populações naturais estão respondendo às mudanças climáticas, alterando sua distribuição e as relações com os outros organismos (Hoffmann e Sgrò, 2011). Compreender o efeito das variáveis ambientais no comportamento dos insetos, como a interferência do CO2 e a temperatura, sobre a atividade reprodutiva, sobrevivência, número de ovos e a eclosão, fornecem 16 informações importantes, que propiciam subsídios para avaliar o desempenho do mosquito como vetor de arboviroses (Mulla and Chaudhury, 1968; Rowley e Graham,1968). 2. Objetivos: 2.1. Geral: Analisar a influência das variáveis ambientais previstas pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), em aspectos do ciclo biológico de A. aegypti. 2.2. Específicos: Analisar o efeito da concentração de CO2 e da temperatura na quantidade de sangue ingerido, produção e eclosão de ovos. Avaliar a influência das variáveis ambientais na capacidade de cópula e longevidadedosadultos do A. aegypti. 17 3. Resultados Capítulo 01 Azevedo, J.B., Lima, J.B.P., Tadei, W.P., 2015. Análise do ciclo biológico do Aedes aegypti(Diptera: Culicidae) exposto a cenários de mudanças climáticas previstas pelo IPCC.Manuscrito formatado para Acta Tropica 18 Análise do ciclo biológico do Aedes aegypti(Diptera: Culicidae) exposto a cenários de mudanças climáticas previstas pelo IPCC Juliana Bruning Azevedo¹*, José Bento Pereira Lima², Wanderli PedroTadei³ ¹Programa de Pós-Graduação em Entomologia/ INPA e-mail: [email protected] ²Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores, Fiocruz-RJ, Brasil. ³Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, AM, Brasil. * [email protected] Resumo:As mudanças climáticas previstas pelo IPCC para os próximos anos poderão interferir na biologia e distribuição do Aedes aegypti,principal vetor da dengue, febre amarela urbana e Chikungunya. De acordo com as previsões, até 2100 a temperatura da terra poderá aumentar em até 4°C, a concentração de CO2 poderá atingir cerca de 800 ppm, na média global. No intuito de avaliar os efeitos das mudanças do clima na biologia do A. aegypti, foram mantidas colônias em salas climatizadas, controlando a concentração de CO2, temperatura e a umidade, de forma independente. Os seguintes parâmetros foram considerados nas avaliações: quantidade de sangue ingerido, longevidade dos adultos, cópula e a oviposição. Os resultados obtidos apontam que apenas a temperatura poderá alterar significativamente a biologia do vetor, nos futuros cenários de mudanças climáticas.A quantidade de sangue ingerida por fêmeas criadas em temperatura mais elevada foi maior quando comparadas com as fêmeas que viviam em temperaturas menores, a longevidade é menor em temperaturas superiores a 32°C, vivendo aproximadamente 40 dias, e não houve diferença de longevidade entre os sexos. A fecundidade é extremamente afetada pela temperatura, sendoreduzida pela metade em temperaturas maiores. A oviposição é prejudicada em temperaturas superiores a 32°C, porém esse efeito não foi observado na eclosão.Modelos matemáticos projetam um aumento no número de casos de dengue, além de uma expansão geográfica na distribuição do vetor. Resultados indicam que, em cenários futuros de mudanças climáticas, alguns aspectos da biologia do A. aegypti serão afetados. Com estas informações será possível melhor conhecer a biologia quando submetido a cenários de mudanças climáticas, servindo como base para outros estudos e para futuras ações de controle. Palavras-chave: Biologia do vetor, aquecimento global, dengue. 19 1. Introdução O Aedes aegypti(Linnaeus, 1762)é considerado o principal vetor do vírus da dengue (Flaviviridae), arbovirose de grande importância na saúde pública dos países tropicais e subtropicais, causada pela infecção por um dos quatro sorotipos deste vírus(Black et al., 2002; Maciel-de-freitas et al., 2013; Lana et al., 2014). Além da dengue, esta espécie está envolvida com a transmissão da Febre Amarela urbana e a febre Chikungunya, recentemente introduzida no Brasil(Vega-Rúa et al., 2014; Ministério da Saúde, 2015). Os mosquitos são organismos pecilotérmicos, sujeitos à variação externa do clima, influenciando diretamente sua temperatura corporal, capazes de se adaptar às alterações extremas do ambiente(Hawley, 1988; Josh, 1996; Juliano, 2009; Schneider et al., 2011; Couret and Benedict, 2014; Breaux et al., 2014). Mudanças no ambiente, provocadas por ações antrópicas ou climáticas, interferem na distribuição das espécies bem como na biologia dos mosquitos, modulando o tamanho populacional, além da competência vetorial, controlada por fatores genéticos e ambientais (World Health Organization, 2012; Bourtzis et al., 2013;Caicedo et al., 2013;Chaves et al., 2013; Lana et al., 2014). Apesar da importância epidemiológica doA. aegypti, há poucos estudos que investigam os efeitos das alterações climáticas sobre esta espécie(Tsuda and Takagi, 2001; Morales Vargas et al., 2010; Hugo et al., 2014). O Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC) prevê que o aquecimento global será contínuo e acelerado, resultando em um aumento de 2° a 4°C na temperatura média global, durante o próximo século (IPCC, 2007; IPCC, 2010a, 2010b). O ano de 2014 foi considerado o mais quente de todos os tempos, superando 0,57 grau a temperatura calculada para o período, segundo as informações da Organização Meteorológica Mundial - OMM, e este aumento não foi influenciado pela presença do El Ninõ, que eleva naturalmente as temperaturas nos trópicos (WMO, 2015). Alterações no clima poderão resultar em mudanças significativas nas paisagens e nos padrões ecológicos das doenças infecciosas (Ciota et al., 2014). Loetti e colaboradores (2011) verificaram que em decorrência do aumento na temperatura global, haverá uma maior sensibilidade dos patógenos transmitidos por vetores. Chaves (2012, 2013) estudando a frequência dos casos de dengue ao longo de três anos, 20 encontrou uma relação entre as mudanças no clima com a ocorrência de surtos e o aumento da população do mosquito. Alguns modelos matemáticos, levando em consideração a temperatura, sugerem que as doenças veiculadas por vetores podem aumentar em frequência e distribuição, mostrando que a biologia do vetor e a replicação viral, são sensíveis à mudança da temperatura(Thai and Anders, 2011; Canyon et al., 2013; Chaves et al., 2013).Wu e colaboradores, (2009), em seus estudos sobre como o clima pode alterar a distribuição da dengue, apontaram que para cada 1°C de aumento da temperatura média mensal, o total da população em risco de transmissão da dengue aumentaria em 1,95 vezes. As condições ambientais interferem de forma significativa nos imaturos e adultos, afetando a taxa de crescimento larval, tempo de desenvolvimento, tamanho corporal, longevidade, fecundidade e a alimentação sanguínea(Mohammed and Chadee, 2011; Farjana and Tuno, 2013;Ciota et al., 2014; Couret et al., 2014; Couret and Benedict, 2014).As diferenças observadas no tempo de desenvolvimento do A. aegyptiem diferentes localizações geográficas têm sido atribuídas às mudanças climáticas, ocorrendo uma adaptação local de temperatura e outras variáveis ambientais, alterando o tempo médio de desenvolvimento deste mosquito, entre outros aspectos (Tun-Lin et al., 2000; Hopp and Foley, 2001; Couret et al., 2014). Além da temperatura, ocorreu também um aumento das emissões de CO2na atmosfera, que elevaram-se em 80% nos últimos 30 anos. Isto se deu devido às necessidades energéticas da população, das atividades de transporte e da indústria, incluindo os efeitos das atividades de desmatamento e da agricultura (IPCC 2007). Atualmente a concentração de CO2 na atmosfera é cerca de 450 ppm (partes por milhão), sendo projetado um aumento que deverá atingir entre 855-1300 ppm para o ano de 2100, de acordo com os dados do IPCC (IPCC, 2005, 2007). O CO2 atmosférico pode impactar as interações entre inseto-planta, além da composição das comunidades ecológicas. Uma exposição a concentrações elevadas de CO2 atmosférico propicia um aumento na taxa fotossintética e na fitoquímica de espécies de plantas (Smith et al. 2013b).Há um número reduzido de trabalhos que avaliam o efeito do aumento da concentração de CO2 atmosférico, no comportamento do A. aegypti. Os trabalhos de Guerenstein e Hildebrand (2008) e Majeed colaboradores (2014) possibilitaram verificar que há uma relação com o tempo de decolagem e o encontro do hospedeiro, para a alimentação sanguínea. 21 Outros fatores ambientais também mostram efeito na biologia do mosquito, como a umidade relativa do ar, que está diretamente relacionada à intensidade das chuvas, gerando uma diversidade maior de plantas no ambiente. Estas condições proporcionam alimento às populações de mosquito, além de novos locais para a procriação (Canyon et al. 2013). Além disso, há trabalhos que apontam que a umidade relativa do ar pode alterar o tamanho corporal de insetos, atuando durante o período de embrionamento dos ovos(Morales Vargas et al. 2010; Schneider et al. 2011). Até o momento, não há trabalho que leve em consideração a variação da temperatura e do CO2, ao longo do dia, projetando estimativas sobre os futuros cenários de mudanças climáticas(Liu-Helmersson et al. 2014). Desta forma, considerando os aspectos descritos acima, que abordam diferentes características do vetor, este trabalho aborda possíveis efeitos das mudanças climáticas como o aumento da temperatura e concentração de CO2, em aspectos da biologia do Aedes aegypti,como a ingestão de sangue, cópula, oviposição, eclosão e longevidadeem condições de laboratório, no qual élevado em conta, o ambiente atual da Amazônia, interligando a fatores que poderão atuar nas mudanças climáticas para o ano de 2100. 2. Material e método 2.1 Local do experimento Os experimentos foram realizados no microcosmos (ADAPTA/LEEN/INPA). Esta estrutura é constituída de quatro salas climatizadas, onde é possível controlar a concentração de CO2, a temperatura e a umidade, de forma independente. A sala 1 representa os dados meteorológicos atuais de Manaus-Amazonas, captados em intervalos de 2 minutos. As demais salas projetam as condições previstas para o ano de 2100 pelo IPCC. A sala 3 representa o cenário intermediário, com um aumento de aproximadamente 2,5°C e 400ppm CO2 ea sala 4 simula o cenário extremo, com o acréscimo de4,5°C e 850ppm CO2. Os parâmetros concentração de CO2, temperatura e umidade variam seu valor ao longo do dia (referência a sala 1), simulando assim os cenários gerais, e sua variações nictimerais, estabelecendo condições mais próximas a realidade. Neste trabalho foram analisados parâmetros do ciclo biológico do A. aegypti, utilizando-se mosquitos de colônias pré-estabelecidas em cada sala, por mais de um ano 22 (sala 1= 31°, sala 3= 32° e sala 4= 35° geração), considerando a cidade de Manaus, situada no Amazonas, região Norte do Brasil, localizada à margem do rio Negro (3° 06' S; 60° 00' W), cercada pela floresta amazônica. O clima é quente-úmido, com o período de chuva entre os meses de janeiro a maio e o período de seca entre os meses de junho a setembro(Koeppen, 1948; Ríos-velásquez et al., 2007). 2.2Manutenção da colônia O tempo destinado para a eclosão dos ovos foi 1h, após a eclosão 500 larvas foram colocadas em recipientes circular de polietileno, contendo 500 mL de água, com 0,5 gramas de ração paragato triturada, alimentadas a cada três dias ou quando houve necessidade (Braga et al., 2005; Martins et al., 2012). As pupas foram transferidas para gaiolas de papelão (17x18 cm) para emergência dos adultos, que foi alimentado ad libitum com uma solução açucarada (10%), embebida em algodão. Para a alimentação sanguínea foram utilizados hamster (Mesocricetus auratus) anestesiados durante 30 min. (CEUA: 04/2013– “Manutenção de colônia de vetores em condições de laboratório”). 2.3 Ingestão de sangue Dois grupos com 100 fêmeas adultas de três a cinco dias de idade foram utilizados neste experimento em cada sala do microcosmos, umgrupo foi alimentado por meio de hamsters anestesiados durante 30 minutos, o outro foi mantido sem alimento. Todas fêmeas foram colocadas no freezer (-20°C) por 3 a 5 minutos em seguidas pesadas em pools de 10 indivíduos, utilizando balança eletrônica de precisão - Bel Engineering Mark ®M214A(Belinato et al. 2009). 2.4 Fêmeas inseminadas Em cada sala do microcosmo, 30 grupos compostos por três fêmeas e um macho, com dois a três dias de idade, foram colocados juntos em tubos Falcon de 50 mL transparentes. Este procedimento de cópula foi realizado com grupos da mesma sala e combinações entre grupos das diferentes salas. Os mosquitos utilizados neste experimento foram criados individualmente desde a fase de pupa em tubos Falcon de 15 mL, a fim de assegurar a virgindade dos adultos. Depois de três dias de contato, 23 asespermatecas das fêmeas foram dissecadas e a presença de espermatozoides avaliada com o auxílio de um microscópio Zeiss® Axio lab. A1(Belinato et al. 2012). 2.5 Produção e viabilidade dos ovos Três dias após a alimentação sanguínea, 25 fêmeas foram individualizadas em placas de Petri invertida, forrado na parte inferior foi com papel filtro dividido em quadrantes e umedecido com água (3 mL). Foi determinado um período de três dias para a oviposição (Armbruster 2002; Belinato et al. 2009). Respeitado este período, os ovos foram contados e as fêmeas tiveram seus ovários dissecados, registrando-se ovos que por ventura ficaram retidos, foiutilizado um Estereomicroscópio da Zeiss®Stemi 2000. Depois de contados os ovos, foi determinado o período de 3 dias para a incubação dos ovos, após este período foi colocada água para a eclosão. Neste experimento foram utilizados comandos lógicos para classificar oviposição e eclosão (> 0 = 1 e 0 = 0).Sendo construídas duas novas variáveis, ambas dicotômicas. Assim, o foco está na ocorrência dos eventos de oviposição e eclosão, em cada variável. Observa-se, por análise exploratória dos dados, que existe um número muito grande de zeros,o que inviabiliza o modelo ordinário de contagem (Poisson ou Binomial Negativo). Existem outras formas de analisar estes resultados, porém esbarrou-se nos pressupostos dos modelos que ficaram comprometidos.Optou-se então pela simplicidade e por um modelo de fácil interpretação. 2.6 Longevidade dos adultos Neste experimento,após a emergência das pupas, foram utilizados 20 casais de mosquitos em cada sala do microcosmos, mantidos em gaiolas de papelão, sendo fornecida uma solução açucarada a 10% ad libitum. A mortalidade dos mosquitos foi registrada diariamente (Martins et al., 2012). 2.7 Análise dos dados O software estatístico utilizado foi o R 3.0.2, ao nível de significância de 5%. Por meio de Modelos Lineares Generalizados, foram avaliadas as diferenças estatísticas da produção e viabilidade dos ovos, considerando os fatores: sala, temperatura e CO2 (Paula, 2013). 24 Com o intuito de avaliar diferenças estatísticas do tempo de vida, utilizaram-se técnicas de análises de sobrevivência, como estimador de Kaplan-Meier, teste de Mantel-Haenzel ou Log-rank (Carvalho et al., 2011).Para testar diferença estatística do peso em relação aos fatores: sala, temperatura e CO2, foram utilizados Modelos Lineares (Agresti e Finlay, 2012).A capacidade de cópula em relação à combinação de macho e fêmea foi feita por meio de Modelos Lineares Generalizados (Paula, 2013). 3. Resultados Na tabela 1 é apresentada a descrição dos cenários de mudanças climáticas previsto pelo IPCC, para o ano de 2100. A Sala 1 é considerada a sala controle, simulando as condições atuais do clima de Manaus-AM, a sala 3 simula o cenário intermediário e a sala 4 o cenário extremo. A umidade relativa do ar é a única variável ambiental não simulada pelo microcosmos, sendo a mesma em todos os cenários. Tabela 1 Descrição do clima no Microcosmos (LEEM/INPA), referente ao período de setembro a dezembro de 2014. Medidas Descritivas Variável Sala O Temperatura ( C) CO2(ppm) Umidade (%) Média D.P. Mínimo Mediana Máximo 1 28,04 0,65 26,26 27,98 29,06 3 30,74 0,66 29,03 30,62 31,87 4 32,88 0,61 31,22 32,77 33,87 1 487,75 16,23 461,88 491,15 519,96 3 896,91 31,15 862,09 889,28 1.029,93 4 1.322,20 20,20 1.274,00 1.326,20 1.357,50 1 73,47 2,26 68,90 73,60 78,85 3 74,12 2,28 69,91 73,86 80,71 4 72,61 2,67 67,20 72,47 79,81 25 3.1 Ingestão de sangue Há evidências que o peso médio dos pools é influenciado pela temperatura e alimentação (p=< 0.001) (Tabela 2). Como mostrado naFig.1, à medida que a temperatura aumenta o peso dos pools tendem a aumentar. Esse comportamento também foi verificado entre os não alimentados. O peso médio dos pools da sala 1 diferem da sala 4, mas não diferem dos pools da sala 3. Fêmeas mantidas em temperaturas mais elevadas ingerem mais sangue, se comparadas com as mantidas em menores temperaturas. Tabela 2 Resultados do modelo ajustado de Regressão Linear do peso dos pools no experimento de ingestão de sangue. Variáveis Modelo de Regressão Linear Betas IC (95%) P-valor (Intercepto) -0.0301 -0.0408,-0.0194 < 0.001 Temperatura 0.0012 0.0008,0.0016 < 0.001 Sala[T.sala3] -0.0010 -0.0028,0.0008 0.2725 Sala[T.sala4] -0.0026 -0.0050,-0.0003 0.0308 Alimento[T.SIM] 0.0130 0.0116,0.0144 < 0.001 Observações 61 2 2 R / adj. R 0.879 / 0.871 IC = Intervalo de Confiança Fig.1.Diagrama de dispersão e retas ajustadas entre peso dos pools vs temperatura por alimentação (A) e por sala (B). 26 3.2 Fêmeas inseminadas Ao término dos três dias estipulado para a cópula, considerando apenas casais da mesma sala, 77,8% das fêmeas da sala 1 estavam inseminadas, a sala 3 e 4 tiveram respectivamente 80,6% e 51,1% das fêmeas inseminadas, existindo uma influência dos cenários na fecundidade das fêmeas (Tabela 3). Na Tabela 3 observa-se que a razão de chances (OR) da ocorrência de cópula positiva nas combinações que envolvem casal das salas 1 e 3 é pelo menos 2 vezes maior do que na combinação que envolvem indivíduos da sala 4. Sendo assim, a chance de cópula positiva nas salas 1 e 3 ou uma combinação delas são maiores do que na sala 4 e suas combinações. Aparentemente o aumento da temperatura prejudica muito mais o macho da sala 4do que a fêmea da mesma sala. Em todas as combinações onde o macho da sala 4 se faz presente, a percentagem de cópula é menor. Tabela 3 Resultados descritivos e do modelo ajustado de Regressão Logística da capacidade de cópula. Capacidade de Copula Casal Estatística Regressão Logística Positivo Negativo n = 238 (%) n = 113 (%) m4_x_f4 23 (51.1) m1_x_f1 OR (95%IC) P-valor 22 (48.9) referência referência referência 28 (77.8) 8 (22.2) 3.35 (1.26,8.91) 0.016 m1_x_f3 30 (83.3) 6 (16.7) 4.78 (1.67,13.72) 0.004 m1_x_f4 30 (66.7) 15 (33.3) 1.91 (0.82,4.48) 0.136 m3_x_f1 29 (74.4) 10 (25.6) 2.77 (1.10,7.01) 0.031 m3_x_f3 29 (80.6) 7 (19.4) 3.96 (1.44,10.9) 0.008 m3_x_f4 27 (69.2) 12 (30.8) 2.15 (0.88,5.28) 0.094 m4_x_f1 16 (48.5) 17 (51.5) 0.9 (0.37,2.21) 0.819 m4_x_f3 26 (61.9) 16 (38.1) 1.55 (0.66,3.65) 0.311 Regressão logística p=0,006; OR = Odds Ratio (Razão de Chances); IC = Intervalo de Confiança; referência = categoria de referência. (%) Porcentagem por linha; m= macho, f= fêmea. 3.3 Produção e viabilidade dos ovos Há evidências de que apenas a temperatura influenciou no número de ovos (p=0.009) e na eclosão (p= 0.006) (Tabela 4).O número total de ovos depositados pelas fêmeas da sala 1 foram de 827 ovos e, destes, 23 ficaram retidos em seus ovários e apenas 155 eclodiram. Na sala 3 foram colocados 903 ovos, ficando retidos 38 e 114 27 eclodiram. Por fim, na sala 4 foram depositados 434 ovos, dos quais 43 ficaram retidos e 52 eclodiram. Desta forma, os dados obtidos das análises da ocorrência de oviposição, contidos na Tabela 4, apontam diferenças entre a sala 1 e sala 3 (p=0,03), porém não há diferenças entre a sala 3 e sala 4 (p=0,885). A diferença entre a sala 1 e sala 3 se dá apenas quando o modelo leva em conta a temperatura, que para essa análise mostrou-se significativa. Observa-se na Fig. 2, utilizando o modelo ajustado, à medida que a temperatura aumenta diminui a probabilidade ocorrência de oviposição. Tabela 4 Resultados descritivos e do modelo ajustado de Regressão Logística de ocorrência de oviposição. Oviposição Variáveis Sala Sala3 Sala1 Sala4 Temperatura Mediana(IIQ) Estatísticas da Regressão Logística Sim Não n = 41 (%) n = 30 (%) OR bruto (95%IC) OR ajustado (95%IC) P(Wald's test) P(LR-test) 17 (73.9) 17 (68) 7 (30.4) 6 (26.1) 8 (32) 16 (69.6) referência 0.75 (0.21,2.63) 0.15 (0.04,0.56) referência 0.06 (0,0.65) 1.16 (0.16,8.26) referência 0.021 0.885 0.03 30.8 (28.2,30.8) 33.1 (30.1,33.1) 0.67 (0.52,0.87) 0.37 (0.17,0.8) 0.012 0.009 (%) Porcentagem por linha; OR = Odds Ratio (Razão de Chances); IC = Intervalo de Confiança; referência = categoria de referência. IIQ = Intervalo Interquartílico Fig. 2.Gráfico de linhas do modelo ajustado para probabilidade de ocorrência de oviposição. Considerando as fêmeas criadas em temperaturas superiores a 33°C, houve redução do número de ovos postos por fêmeas (aprox. 60 ovos), quando comparado com temperaturas menores. A partir de 34°C não há postura de ovos e a probabilidade 28 de oposição é zero (Fig.3). Na sala 1 e 3 onde a concentração de CO2 ficou entre 400 a 600 ppm e 800 a 1000ppm respectivamente, apresentaram resultados similares com a temperatura (Fig.4). Na sala 4 apenas uma fêmea colocou ovos (100) a 1400 ppm de CO2, grande parte da oviposição ocorreu entre 1200 a 1300 ppm de CO2. Fig. 3.Diagrama de dispersão entre nº de ovos ovipositados vs temperatura segundo a sala do experimento. Fig. 4.Diagrama de dispersão entre nº de ovos ovipositados vs CO2 segundo a sala do experimento. De acordo com os dados da Tabela 5, os resultados das análises de eclosão mostram que não há evidências para diferenças significativas entre as salas (p=0.104 e 0,135). A probabilidade da ocorrência de eclosão depende somente da temperatura, na Fig. 5observa-se que utilizando o modelo ajustado, à medida que a temperatura aumenta diminui a ocorrência eclosão. Comportamento similar ao da oviposição. 29 Tabela 5 Resultados descritivos e do modelo ajustado de Regressão Logística da ocorrência de eclosão. Variáveis Sala Sala3 Sala1 Sala4 Temperatura Mediana(IIQ) Ovos Eclodidos Sim Não Estatísticas da Regressão Logística n = 26 (%) n = 45 (%) OR bruto (95%IC) OR ajustado (95%IC) P(Wald's test) P(LRtest) 8 (34.8) 13 (52.0) 5 (21.7) 15 (65.2) 12 (48.0) 18 (78.3) referência 2.03 (0.64,6.5) 0.52 (0.14,1.93) referência 0.11 (0.01,1.58) 6.91 (0.55,9.34) referência 0.104 0.135 0.161 30.3 (28.2,30.8) 32.4 (29.9,33.1) 0.69 (0.54,0.9) 0.31 (0.12,0.81) 0.017 0.006 (%) Porcentagem por linha; OR = Odds Ratio (Razão de Chances); IC = Intervalo de Confiança; referência = categoria de referência. IIQ = Intervalo Interquartílico Fig. 5.Gráfico de linhas do modelo ajustado para probabilidade de eclosão. 3.4 Longevidade dos adultos A longevidade máxima foi maior na sala 1, onde as fêmeas viveram 65 dias, enquanto os machos 61 dias. Na sala 3 e 4 a longevidade máxima das fêmeas foi de 42 dias, os machos 40 e 39, respetivamente. Os dados da Tabela 6 apontam uma diferença significativa entre as salas na longevidade dos mosquitos (p=0,0361). Na sala 1 possuem maior tempo de vida, sendo a mortalidade maior na sala 4. As curvas das salas3 e 4 são próximas, porém a curva da 30 sala 1 difere no início e a partir do 35º dia (Fig. 6 A). Quanto ao sexo, não há diferença de tempo de vida entre machos e fêmeas (p=0,811) (Fig. 6 B). Fig.6.Curvas de sobrevivência de cada sala (A) e por sexo (B) pelo método de Kaplan-Meier. Tabela 6 Resultados descritivos e do modelo ajustado de Análise de Sobrevivência do experimento de longevidade. Sala Númerode Mosquitos Mediana (dias) sala1 40 sala3 sala4 IC.95% LI LS 28.5 24 41 40 30.5 26 37 40 32.5 28 36 P-valor 0.0361 P-valor teste de Log rank; CI = Intervalo de Confiança; LI e LS = Limite inferior e superior da mediana. 4. Discussão A temperatura, dentre outras variáveis ambientais, é considerada a principal responsável pelas alterações biológicas causadas no Aedes aegypti(Couret and Benedict 2014). Alguns trabalhos afirmam que o aquecimento global poderá favorecer as populações de A. aegypti,devido à possibilidade de se adaptar às altas temperaturas(Bader and Williams 2012; Walton and Reisen 2013; Williams et al., 2014).Mohammed and Chadee (2011) e Carrington e colaboradores (2013) avaliaram o tempo de desenvolvimento e o período de incubação extrínseco, e observaram que em altas temperaturas (35°C), os mesmos são reduzidos, fazendo com que os mosquitos 31 sejam ainda mais eficientes como vetores. Existe interferência dos fatores ambientais no tamanho corporal do A. aegypti, indicando que mosquitos maiores seriam capazes de se adaptarem melhor às mudanças extremas no ambiente(Briegel, 1990; Scott et al., 2000; Tun-Lin et al., 2000; Tsuda and Takagi, 2001; Kingsolver and Huey, 2008; Morales Vargas et al., 2010; Mohammed and Chadee, 2011).Alterações no clima influenciam a transmissão de algumas doenças infecciosas, principalmente as veiculadas por vetores, como a malária e a dengue. Informações sobre como o clima poderá influenciar na transmissão de algumas arboviroses, principalmente por alterar aspectos da sua capacidade vetorial e distribuição das espécies vetoras, são valiosas por fornecer subsídios para as decisões, na área de saúde pública, o que possibilita a implementação de medidas preventivas e reduz os riscos de uma epidemia(Lowe et al. 2013). Neste trabalho, constatou-se que as fêmeas mantidas nas salas 1 e 4 (28° e 34ºC, respectivamente) diferem em cerca de duas vezes no seu peso, estando ou não alimentadas. Estes resultados também foram encontrados em outros estudos, porLounibos e colaboradores (2002),Kingsolver e Huey (2008), Mohammed e Chadee (2011), Reiskind e Zarrabi (2012).Mosquitos criados em ambientes com variação de temperaturas são mais pesados, possuindo maior tamanho corporal o que influenciana quantidade de sangue ingerido (Briegel, 1990;Morales Vargas et al., 2010). Este aumento no tamanho corporal do mosquito pode ser explicado devido ao armazenamento de glicogênio, provendo mais recursos que podem ser utilizados, como por exemplo, durante o voo(Reiskind and Zarrabi, 2012). Em temperatura elevada, o crescimento bacteriano no criadouro é maior, fornecendo mais alimento às larvas(Reiskind and Zarrabi, 2012 apud Precht,1973). Porém, não é possível confirmar estas informações, pois não foram analisados os microrganismos presentes nos criadouros, durante o experimento. Mosquitos pequenos possuem reservas energéticas menores, se comparados com mosquitos grandes, porem se alimentam com mais frequência (Scott et al., 200). Alguns trabalhos apontam que mosquitos menores podem ser melhores vetores se comparados com os maiores (Maciel-de-Freitas et al., 2007). Desta forma, o tamanho corporal do mosquito apresenta implicações para atividades do controle vetorial, uma vez que, causa um impacto na transmissão da dengue (Briegel et al., 2001). Modelos matemáticos projetam uma relação positiva entre o número de casos de dengue e o aumento de temperatura (Hales et al., 2002;Patz et al., 2005; Aström et al., 32 2012;Banu et al., 2014; Naish et al., 2014; Williams et al., 2014). No entanto, temperaturas maiores que 35°C afetam negativamente a atividade reprodutiva das fêmeas de A. aegypti, reduzindo a quantidade de ovaríolos e a fecundidade(Bader and Williams 2012). De acordo com os resultados obtidos por Bader and Williams (2012) e por Oliva e colaboradores (2013), apenas a temperatura afeta o sucesso da cópula e a fecundidade, mostrando que não há interferência do tamanho corporal da fêmea ou do macho na cópula. Outro fator que se pode descartar é o efeito do tamanho do recipiente na fecundidade, uma vez que em ambientes pequenos ou grandesnão afetaa transferência de espermatozoides (Ponlawat and Harrington 2009). A maior taxa de inseminação ocorreu entre 25° e 35°C, porém grande parte das fêmeas morreu antes do término do experimento a 35°C, também observado pordeBader and Williams (2012). Os dados estão de acordo com os resultados obtidos neste trabalho, onde fêmeas criadas entre 28º e 32ºC têm duas vezes mais chances de cópulas positivas, do que fêmeas criadas em temperaturas maiores que 34ºC, sendo reduzida pela metade a fecundidade. Após a cópula, as fêmeas buscam um hospedeiro para o repasto sanguíneo, necessário para a obtenção de nutrientes utilizados na produção dos ovos, sendo um dos meios pelo qual os mosquitos adquirem e disseminam o patógeno (Walton and Reisen, 2013). Farjana e Tuno (2013) verificaram que as fêmeas de A. aegypti depositam seus ovos após um repasto sanguíneo, não havendo relação entre o tamanho corporal e a necessidade de múltiplas alimentações sanguíneas, para a oviposição. Os folículos que não se desenvolveram, após o primeiro repasto, indicam que as fêmeas necessitam de mais de uma alimentação para desenvolver estes ovos e reforçar a sua fecundidade. Ainda segundo estes autores, a retenção de ovos está relacionada com as necessidades nutricionais na fêmea, uma vez que os retendo, estes se transformam em estoque de energia para a sua própria sobrevivência. Waldock e colaboradores (2013)afirmaram que existe uma relação entre a temperatura e o número de ovos depositados, por ciclo gonotrófico, em Aedes albopictus. Este aspecto também foi observado neste trabalho com A. aegypti, onde apenas a temperatura, quando comparada com o CO2, influenciou no número de ovos e na eclosão. Acima de 34°C não houve oviposição e eclosão dos ovos. Arruda e colaboradores (2006) e Carrington e colaboradores(2013a) relataram que em A. aegypti, a temperatura de 26°C favorece a oviposição, registrando-se o maior 33 número de ovos depositados por fêmea. Em temperatura igual ou superior a 35°C são colocados os menores números de ovos, em média 25 por fêmea. A eclosão dos ovos também está diretamente relacionada à temperatura. Em condições superiores a 27°C, apenas 50% dos ovos eclodem, acima de 32°C a eclosão é menor que 4%, em temperaturas superiores a 37°C não se registra eclosão de ovos(Mulla and Chaudhury, 1968; Mohammed and Chadee, 2011). Considerando os dados obtidos neste trabalho, constatou-se que a oviposição foi maior na sala 1 e menor na sala 4, não havendo divergência na eclosão entre as diferentes temperaturas. Algumas fêmeas não colocaram ovos, mesmo em condições favoráveis. Existe a possibilidade de que estas fêmeas poderiam não estar fecundadas, conforme observado por Carrington e colaboradores(2013). No entanto, não é possível confirmar essa informação, uma vez que não foi analisada a presença de espermatozoide nas espermatecas, quando das análises. Outro parâmetro de grande importância epidemiológica é a longevidade dos mosquitos. Uma grande longevidade é fundamental para os ciclos de transmissão de doenças, sendo considerado um fator limitante para a transmissão de patógenos. Isto decorre porque estes necessitam de um período de tempo para penetrar no epitéliointestinal do mosquito, replicar e se disseminar infectando as glândulas salivares, ocorrendo assim à transmissão do vírus(Brady et al., 2013; Couret and Benedict, 2014; Couret et al., 2014; Hugo et al., 2014). Alguns fatores podem alterar a longevidade do mosquito adulto, como repasto sanguíneo, densidade larval, déficit de alimento no criadouro, além do aumento da temperatura, durante o seu desenvolvimento(Mourya et al., 2004; Arruda et al., 2006; Strickman, 2006; Delatte et al., 2009; Brady et al., 2013; Breaux et al., 2014; Ciota et al., 2014; Couret and Benedict, 2014; Petrić et al., 2014) A temperatura crítica para a longevidade varia de 30°C a 33,5°C e, acima destas, a longevidade é drasticamente reduzida (Josh 1996). Estudos realizados por Josh (1996) indicaram diferenças significativas na longevidade de machos e fêmeas criados em temperaturas constantes e com flutuação. Mosquitos que emergem a 37°C, com uma pequena flutuação diária de temperatura, geralmente são inativos, fracos e morrem logo após a emergência (Carrington et al. 2013). Neste trabalho, o tempo máximo de vida para mosquitos criados em temperaturas superiores a 30°C foi de 40 dias; em temperaturas menores próximas a 28°C, esse tempo de vida aumentou, ultrapassando 60 dias. Resultados semelhantes foram obtidos por Brady e colaboradores (2013), onde 34 avaliaram a sobrevivência em diferentes temperaturas, situadas entre 0°C e 40°C. Não foram observadas diferenças significativas na longevidade entre os sexos, o que também foi encontrado por Neto e Navarro-Silva (2004). Entretanto, outros trabalhos relatam que as fêmeas vivem por mais tempo quando comparadas aos machos(Delatte et al. 2009; Martins et al. 2012). Também não foi encontrada uma relação entre o tamanho corporal do mosquito e a longevidade, uma vez que os mosquitos mantidos na sala 4, onde a temperatura foi mais elevada ecom os maiores pesos corporais, viveram aproximadamente 20 dias a menos que os mosquitos mantidos a 28°C , estes resultados estão de acordo com os trabalhos relaizados por Maciel-deFreitas et al., 2007. Em síntese, concluímos que, no futuro cenário de mudanças previsto pelo IPCC, dentre as variáveis simuladas, apenas a temperatura mostrou influência significativa nos aspectos biológicos do vetor. Os níveis de CO2 atmosférico simulados em diferentes concentrações, chegando a ser três vezes maior do que o atual, não interferiu nos resultados obtidos neste trabalho. Em determinadas situações, o aumento da temperatura pode favorecer o mosquito, uma vez que a quantidade de sangue ingerida foi maior nas salas 3 e 4. Entretanto, o aumento da temperatura reduziu alguns parâmetros da biologia do vetor, relacionados como o número de ovos e a eclosão, a fecundidade e a longevidade.Reduções na fecundidade e longevidade (parâmetros que alteram a densidade populacional do vetor) influenciam na intensidade da transmissão de dengue Modelos matemáticos projetam uma relação positiva entre o número de casos de dengue e o aumento de temperatura, além da expansão geográfica do vetor(Hales et al., 2002;Patz et al., 2005; Aström et al., 2012;Banu et al., 2014; Naish et al., 2014; Williams et al., 2014). No entanto, é preciso ter cautela em afirmar que as mudanças climáticas influenciarão posiivamente o vetor, uma vez que poucos trabalhos consideraram o efeito das mudanças do clima no grupo dos Flavivirus. Também não foram considerados outros fatores que interferem na epidemia da dengue, tais como mudanças demográficas e sociais, economia, educação ambiental, além do transporte e tráfego de pessoas e cargas, entre outros(Morin et al., 2013; Naish et al., 2014). Com as informações acima mencionadas, será possível conhecer melhor a biologia do vetor e levando também em consideração as mudanças climáticas, servindo como base para outros estudos e para futuras ações de controle. 35 5. Referências Bibliográficas Agresti, A; Finlay, B., 2012. Métodos estatísticos para as Ciências Sociais. Tradução Lori Viali. 4 ed. Porto Alegre: Penso. Arruda, E., Almeida, P. De, Maria, E., Santos, D.M., Correia, J.C., Maria, C., Albuquerque, R. De, 2006. Impact of small variations in temperature and humidity on the reproductive activity and survival of Aedes aegypti(Diptera, Culicidae). Rev. Bras. Entomol. 54, 488–493. Aström, C., Rocklöv, J., Hales, S., Béguin, A., Louis, V., Sauerborn, R., 2012. 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De acordo com as análises de produção e viabilidade dos ovos de A. aegypti, o número de ovos colocados por fêmeas e as eclosões destes, estão diretamente relacionadas com a temperatura. A quantidade de sangue ingerido por mosquitos mantidos em temperaturas superiores a 34°C é maior, se comparado com os mantidos a temperaturas de 28°C, também se verificou que, em temperaturas elevadas há um maior tamanho corporal das fêmeas, mesmo sem estarem alimentadas. Na capacidade de cópula, verificou-se que a fecundidade é reduzida em 50% nas temperaturas acima de 34°C, em temperaturas menores, o número de espermatecas positivas é duas vezes maior. As análises de longevidade indicaram que,mosquitos mantidos em temperaturas acima de 32°Cpossuem o tempo de vida menor quando comparado com mosquitos mantidos em 28°C.Vivendo aproximadamente de 40 dias, não existindo diferenças de longevidade entre os sexos. 5.Referências Bibliográficas ANVISA, 2013. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. 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Casais de mosquitos (1 macho e 3 fêmeas) mantidos em tubo Falcon, com tiras de papel como suporte. 50 Mosquitos alimentados com água açucarada (10%) embebida em algodão. Espermateca positiva, com a presença de espermatozoides. 51 Produção de ovos Placa de Petri invertida, com papel filtro dividido em quadrantes, para facilitar a contagem. Fêmea de A. aegypti, mantida em uma placa de Petri invertida, com papel filtro umedecido. 52 Ovos de A. aegypti, na placa de Petri com papel filtro dividido em quadrante. Ovos de A. aegypti que ficaramretidos nos ovários durante o experimento de oviposição. 53