PRÁTICAS PEDAGÓGICAS CRIATIVAS DE PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SENTIDOS E SIGNIFICADOS PRODUZIDOS COLABORATIVAMENTE Iarla Danielle de Moura (bolsista PIBIC – CNPq) Ivana Maria Lopes de Melo Ibiapina (Orientadora Dep. de Métodos e Técnicas - UFPI) INTRODUÇÃO Este relatório apresenta discussões selecionadas da pesquisa de Iniciação Científica que faz parte do Projeto PROCAD - Currículo, trabalho pedagógico e inclusão escolar: produzindo redes de significados e sentidos na perspectiva histórico-cultural. O estudo tem como objeto as práticas pedagógicas criativas dos professores e apoia-se na compreensão de problemas vivenciados no âmbito escolar, visando ação transformadora de práticas que colaborem para a constituição de sujeitos criativos. O objetivo geral é compreender a prática pedagógica dos professores em situações reais de trabalho, fazendo com que haja expansão dos significados de prática pedagógica, bem como da práxis do educador e de sua influência no desenvolvimento da criatividade dos alunos. E como objetivos específicos: identificar a compreensão dos professores sobre prática pedagógica criativa, caracterizar as práticas dos professores e analisar se a práxis destes gera condições para que desenvolvam uma prática pedagógica que forme sujeitos criativos. O presente trabalho foi organizado com base em uma revisão de literatura sobre o tema, de acordo com os autores: Ferreira (2008), Franco (2006), Rocha (2012), Vázquez (2007), Vigotski (1998), Ibiapina; Carvalho (2009), entre outros. METODOLOGIA A produção dos dados da pesquisa foi materializada com um encontro colaborativo. Com base em Ibiapina (2008) e na sua concepção de observação colaborativa. No encontro colaborativo fizemos a apresentação formal da nossa pesquisa à professora, visto que esta, em conversas informais, já demonstrava interesse em participar do estudo. Na ocasião, explicamos nosso referencial teórico e negociamos as datas e locais para a efetiva produção de dados. Para os resultados que seguem, fizemos a análise da aula da professora partícipe da relacionando-a com as categorias do quadro I. Quadro I: Classificação das práticas com base no conceito de Criatividade PRÁTICAS PEDAGÓGICAS CRIATIVAS NÃO CRIATIVAS Desenvolvem a teoria de acordo com a realidade que trabalham; Seguem um modelo; Provocam a aprendizagem que possibilita transformações; Trabalham apenas as habilidades; Seu foco é a aprendizagem do aluno; Seu foco é o ensino (transmissão); Trabalham as contradições; Executam tarefas sem atribuir-lhes sentidos; Concebem o brincar (mediado) como instrumento essencial para o desenvolvimento da criança. Brincar como atividade livre (sem mediação). Fonte: Figura elaborada pela autora com base nos estudos de Barros (2008) e Coelho (2012). DISCUSSÃO DOS RESULTADOS L – A tia L trouxe uma coisa pra vocês. CRIANÇAS – É uma bola! L – É uma bola? ALUNO A – É. L – É uma bola? CRIANÇAS – É! ALUNO A – É uma bola do planeta Terra. L – Uma bola de que? CRIANÇAS – Uma bola! L – Do planeta Terra? ALUNO A – É! L – Vamos passar essa bola pra todo mundo pegar? (Professora passa o globo terrestre pra cada aluno da rodinha.) Passa a bola, passa. A bola grande é pesada? CRIANÇAS – Não. L – Ah, qual a cor dessa bola? CRIANÇAS – Azul. L – Azul? Só é azul essa bola? CRIANÇAS – Não. Misturado! [...] L – Planeta Terra. É o planeta que a gente mora. E onde será que a gente mora aqui no nosso planeta? Nós moramos... Qual o nome d o nosso país? ALUNO B – Olha ali, oh... (Aponta paras as bandeirolas com a imagem da bandeira do Brasil.) L – Qual é o nome disso aí? CRIANÇAS – Bandeiras. [...] L – E dentro do Angelim IV está a nossa escola, a nossa casa... A tia L vai botar o nosso planeta... Ah gente, tem um detalhe: o que é essa parte azul? ALUNO E – O sol! L – Porque tudo isso aqui colorido é terra. ALUNO F – A terra do mar. L – A terra firme, que pode pisar, certo? E aqui nessa parte azul, será que a gente pode pisar? CRIANÇAS – Não! ALUNO A - É o céu! L – Não, não é o céu! É azul da cor do céu. ALUNO G – O rio. L – O Vinícius falou que é o rio, será que o rio é azul? CRIANÇAS – É! L – Esse azul é o mar, é o oceano. É o oceano Atlântico, o oceano Pacífico. Tudo isso aqui é água, todo esse azul é água. Olha o tanto de água que tem no nosso planeta! Meu Deus, tem água demais! ALUNO D – Tem muita! L – E essa água, será que ela é boa pra beber ou ela é salgada? CRIANÇAS – Salgada! L – Ela é salgada, é água do mar. Só que aqui no meio dessa terra, na África, na Europa... Tem alguns rios, aí nos rios tem a água que é boa pra beber. A água que a gente bebe. Certo? Vou colocar o nosso planeta Terra aqui no meio. (Posiciona o globo no centro da rodinha.) [...] L – Na praia. E o que mais tem, nessa foto? Além da praia... ALUNO G – Rio, o rio! ALUNO F – O rio! L – Tem um rio? ALUNO C – É! ALUNO D – Tia, tia? Tubarão. L – Olha, se tem tubarão e se tem praia é mar. Se não tem praia nem tubarão, é rio. Vocês decidem: é rio ou é praia? CRIANÇAS – Rio! L – É rio ou é mar? CRIANÇAS – Rio! L – Rio? Mar? ALUNO C – Mar! L – Se for mar, tem tubarão. Tubarão mora no mar. [...] L – Tudo que a tia L mostrou faz parte do planeta Terra. Tudo está aqui dentro. A gente mora aqui dentro, as escolas estão aqui dentro. ALUNO I – Mas aí é pequeno, tia. L – A escola é grande, mas o planeta Terra também é grande. Só que a tia L trouxe ele pequenininho pra gente poder pegar. Porque a gente não pode pegar no planeta de verdade, porque ele é muito, muito, muito grande. E aqui é um planeta que a gente pode pegar, a gente pode abraçar. Certo? Por isso que eu trouxe o planeta pequeno. Mas o nosso planeta, ele é grande! [...] Os conteúdos são abordados seguindo a sequência definida para cada nível, porém a professora desenvolve essa sequência didática de acordo com o nível de seus alunos, procurando sempre utilizar materiais do cotidiano das crianças e levando em consideração as vivências dos mesmos; mostrando assim que desenvolve sua prática com o foco na aprendizagem do aluno e não apenas com o intuito de transmitir conhecimentos. A partícipe também busca, sempre que possível, utilizar materiais concretos – que é essencial nessa fase - e adequar os conteúdos à realidade empírica com a qual trabalha, para que assim oportunize aprendizagens que possibilitem a transformação dos alunos envolvidos, onde a criança produza sentidos e internalize o conhecimento apresentado. Além disso, a professora colaboradora tenta provocar contradições, através de perguntas, quando está apresentando o conteúdo para as crianças, a fim de que essas reflitam sobre o que estão aprendendo e, no nível delas, negociem os sentidos; sempre com o auxílio do professora como par mais experiente. Durante a pesquisa pudemos observar que a educadora tem um potencial que oportuniza criativa e reflexivamente o desenvolvimento de seus alunos, haja vista que está sempre preocupada em planejar suas aulas de forma que as crianças apreendam o conteúdo e que estas possam reorganizar suas vivências de acordo com o aprendizado. É fato que nem sempre a professora consegue atuar de maneira satisfatória, ou seja, conseguindo que seus alunos compreendam e reelaborem o conhecimento e que a mesma tem dificuldade em mediar as contradições geradas na aula; mas, por esse motivo, que a professora tenta trabalhar visando os aspectos que não deram certo em uma aula para melhorá-los em outras, num contínuo processo de ação-reflexão-ação. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da pesquisa observamos que é possível ser um profissional que trabalhe pautado na reflexão e na criatividade, a exemplo da professora colaboradora desse estudo; que embora tenha dificuldade em desenvolver uma prática criativa e com base na reflexividade em todas as aulas, sempre procura formações contínuas (leituras, pesquisas, formações oferecidas pela instituição em que trabalha...) que a possibilite planejar aulas significativas para seus alunos. Uma das sugestões que ofereceríamos à professora seria um estudo mais aprofundado de planejamento na educação infantil, a fim de que a docente pudesse expandir seus conhecimentos e técnicas na área para melhor satisfazer aos seus alunos e à si mesma. Este trabalho está foi produzido a partir das discussões realizadas em conjunto com os partícipes do núcleo FORMAR, que contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento das discussões realizadas neste relatório. APOIO: PIBIC/CNPq e Grupo de Pesquisas FORMAR. Palavras-chave: Prática pedagógica. Práxis. Criatividade. Sentido e significado. Colaboração . REFERÊNCIAS AFANASIÉV, V. Fundamentos de Filosofia. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro, 1968. BARROS, Diana Maria da Silva. O trabalho da matemática nas salas de Educação Infantil da Escola Municipal Comendador Cortez. 2008. Monografia (Pós-Graduação em Educação Infantil). UFPI. COELHO, Grasiela Maria de Sousa. Formação contínua e Atividade de ensinar: produzindo sentidos sobre o brincar. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação). UFPI. FERREIRA, Liliana Soares. Currículo sem fronteiras, v. 8, n.2, p.176-189, Jul./ Dez., 2008. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Saberes Pedagógicos e Prática Docente. In: SILVA, Aida Maria Monteiro (Org.). Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Recife. ENDIPE, 2006, p. 27-49. IBIAPINA, I. Mª. L. de M. Pesquisa Colaborativa: investigação, formação e produção de conhecimentos. Brasília: Líber Livros, 2008. IBIAPINA, I. Mª. L. de M.; CARVALHO, Mª. V. C. de. A abordagem sócio-histórico-cultural de Lev vigotski. In: CARVALHO, Mª. V. C. de; MATOS, K. S. A. L. de. (Org.). Psicologia da educação: teorias do desenvolvimento e da aprendizagem em discussão. Fortaleza: Edições UFC, 2009. ROCHA, Arlete Fragas da Silva. Práticas pedagógicas: instrumento e resultado no processo de reflexão crítica em contexto colaborativo. 2012. Dissertação (Mestrado em Educação). UFPI. VAZQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra: 2007. VIGOTSKI, L. S. Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.