NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas 2. Dinâmica do ponto material SUMÁRIO: Os Problemas Fundamentais da Dinâmica; exemplos; Definição de algumas grandezas fundamentais; Trabalho e Energia; Energia Potencial; Força de atrito; Exemplos; Problemas 2.1. Os Problemas Fundamentais da Dinâmica; Exemplos A Segunda Lei de Newton aplicada a um ponto material, (1.1), pode tomar a forma .. . J = .> (7@) = 7 ..>@ = 7< 2.1 onde a massa m não varia com o tempo e < œ <" 3 <# 4 <$ 5 representa o vector posição do ponto em relação a um referencial inercial. O vector : œ 7@, quantidade de movimento, passar-se-á a designar por momento linear. A expressão (2.1) é uma equação diferencial de segunda ordem que, decompondo os vectores nas suas componentes, é equivalente ao seguinte sistema de três equações: .. . # <" . " J" = .> Ð7@" Ñ œ 7 .@ œ 7 ou J" œ 7< " .> .># .. . # <# . # J# = .> Ð7@# Ñ œ 7 .@ ou J# œ 7< # 2.2 .> œ 7 .># .. .@$ . # <$ . J$ = .> Ð7@$ Ñ œ 7 .> œ 7 .># ou J$ œ 7< $ 2.2.1. O Primeiro Problema: Dadas as equações do movimento, determinar a força capaz de o provocar. Conhecidas as equações da trajectória, basta derivá-las em ordem ao tempo para que se conheça a força. Do segundo membro do sistema (2.2), obtidos por duas derivações sucessivas do vector <Ð>Ñ, passa a conhecer-se o primeiro membro e o problema está resolvido. 2.1.2. O Segundo Problema: Conhecida a força, determinar a equação do movimento provocado. Conhecida a força, basta proceder a uma integração para se conhecer a velocidade, sujeitando esta última grandeza a uma outra integração chegar-se-á às equações da trajectória. Do primeiro membro do sistema (2.2), por integração, acha-se o segundo membro de todas as equações e o problema está resolvido. Deve, todavia, salientar-se que a força em causa não tem que ser uma constante, pode ser uma função da posição, da velocidade e do tempo, isto é .. .<# .<$ " 7< " = J" (<" , <# , <$ , .< .> , .> , .> Ñ .. .<# .<$ " 7< # = J# (<" , <# , <$ , .< 2.3 .> , .> , .> ) .. .<" .<# .<$ 7< $ = J$ (<" , <# , <$ , .> , .> , .> ) o que complica a pesquisa da solução. Para que este problema se possa resolver é necessário definir as condições iniciais em que se encontra o ponto material, a sua posição e velocidade, ou as condições em qualquer outro instante bem definido. Sem estes dados não se podem determinar as constantes de integração, o seu conhecimento é uma condição necessária para a determinação da solução < œ <(t). 2.1.3. Exemplos Exemplo 2.1: Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 17 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas Determinar a equação de movimento de um ponto material de massa m que se move ao longo de uma trajectória rectilínea horizontal, com uma velocidade inicial v9 e sujeito à acção de uma força que se opõe ao movimento e é, em cada instante, proporcional à velocidade. A equação que traduz este movimento a uma dimensão (B ´ <" ) é # 7 ..>B# œ J 2.4 onde J œ 5@, sendo 5 uma constante característica do meio onde se desloca o ponto material, então # 7 ..>B# œ 7 .@ .> œ 5@ Desta última expressão, tendo presente que inicialmente @ œ @9 , extrai-se a velocidade: 5 5 '@@ .@ œ 5 '0> .> 68 @@9 œ 7 > @ œ @9 / 7 > 2.5 7 9 @ Finalmente, a segunda integração permite encontrar a posição, @ œ .B .> , '9B .B œ @9 '9> / 75 > .> B œ 7@9 5 5 Ð" / 7 > ) 2.6 Examinando os resultados, (2.5) e (2.6), conclui-se que a velocidade tende assintoticamente 9 para zero quando B p 7@ 5 . Exemplo 2.2: Determinar a equação de movimento de um ponto material de massa m que se move à superfície da Terra, ao longo de uma trajectória rectilínea vertical, com uma velocidade inicial v9 e sujeito à acção de uma força que se opõe ao movimento e é proporcional à velocidade. Este movimento, admitindo que o ponto material se desloca na vertical para baixo (sentido negativo Fig.2.0 ), pode ser descrito, a uma dimensão (D ´ <$ ), pela equação 7 .@ 2.7 .> œ 71 5@ A força aplicada ao ponto material, F= 71 5@, é a resultante de dois efeitos: o peso ( 71) e a oposição ao movimento ( 5@). A força 5@ tem sentido positivo, visto que a velocidade @ tem o sentido do movimento (@ !, logo 5@ !). Seguindo um raciocínio análogo ao do exemplo anterior, virá, tendo presente as condições iniciais, '@@ .@ = '9> .> v 9 5 ' @1 @œ 1 5' 5 '@9 1 5' /5 '> 0 vo = 0 2.8 5 onde 5 ' œ 7 . De (2.8) conclui-se que à medida que o tempo aumenta, a velocidade tende para o valor limite 1 17 5 ' œ 5 , velocidade terminal (@> ). O valor da velocidade terminal corresponde à existência de uma força nula, o que se pode confirmar se se fizer | vo |<| vt | -g/k’ | vo |>| vt | t Fig.2.1:-Representação gráfica do Problema; ´ representação grafica da expressão (2.8). Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 18 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas @ œ 5'1 em (2.6). Se a velocidade inicial é, em módulo, superior à velocidade terminal, l@9 |>|@> |, então o ponto material começa a perder velocidade e esta aproxima-se da velocidade terminal, a Fig.2.1 ilustra os diferentes casos possíveis. A integração da última expressão, @ œ D (> œ !) ´ 2, conduz ao resultado D œ2 1> 5' .= .> , tendo presente que 5 '@9 1 5 '# Ð" /5 '> ) a posição inicial 2.9 æ 2.2. Definição de algumas grandezas fundamentais Da segunda Lei de Newton, expressão (2.1), retira-se que J .> œ 7. @, então o > efeito total, entre o instante 1 e 2, da aplicação ao ponto material da força J será '>"# J @ .> œ '@"# 7. @ ou '>># J .> œ :# :" 2.10 " Designando por impulsão elementar a grandeza .M œ J .>, o resultado do integral calculado é a impulsão, exprimindo-se na fórmula (2.10), e que corresponde ao seguinte enunciado: a Impulsão total devido à acção das forças aplicadas a um ponto material entre dois instantes e´ dada pela variação do momento linear entre os mesmos instantes. ´ Um ponto material move-se ao longo de uma trajectoria com momento linear : œ 7@, ´ define-se o seu momento cinetico em relação ao ponto O como sendo o vector P dado por Pœ<‚ : 2.11 em que <t representa o raio vector do ponto em relação a O. Dada a força J , define-se momento da força em relação ao ponto O como sendo o vector Q expresso por Q œ < ‚ J 2.12 Partindo da expressão (2.11) e derivando-a em ordem ao tempo, ..>P = ..>< ‚ : + < ‚ ..>: ß .: como ..>< œ @ e .> =J ( Segunda Lei de Newton), vemß para a equação anteriorß .P .> œ @ ‚ : + < ‚ J que, devido a (2.12) e a @ ‚ : œ 0 , é .P .> =< ‚ J 2.13 ´ Esta equação traduz o enunciado do Teorema do Momento Cinetico : ´ A derivada em ordem ao tempo do momento cinetico de um ponto material de massa m em relação a um ponto O, e´ igual ao momento da força aplicada em relação ao mesmo ponto. æ 2.3. Trabalho e Energia Por acção de uma força J , um ponto material de massa m desloca-se, entre duas posições, ao longo de uma trajectória. Define-se trabalho elementar da força J ao longo do deslocamento elementar . < como sendo .[ œ J † . < . Esta grandeza pode ainda apresenterse do seguinte modo . J † . < œ m ..>@ † ..>< .> Ê J † . < œ m ..>@ † @ .> Ê J † . < œ 7# .> (@ † @) Ê J † . < 7 . # œ # .> (@ ).> J † . < œ . ( 12 7@# ) 2.14 Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 19 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 O trabalho realizado pela força Ft entre a posição 1 e a posição 2 será dado pelo integral curvilíneo 2 a Augusto J.S. Fitas ["# = '1 J † . < b 2 1 c 2.15 que depende da trajectória seguida pelo ponto material. Relembrando (2.14), obtem-se [12 œ ( 12 7@# )‘ # 0 " Fig.2Þ2: -Representação de três possíveis trajectórias de deslocamento do ponto material da posição (1) para a posição (2). 1 2 7(@## @"# [12 = - ) [12 œ X# X" 2.16 em que X œ 12 7@# representa uma grandeza que se designa por energia cinética do ponto material. A quantidade 7@# era denominada por Leibniz de força viva, daí que a igualdade anterior, (2.0), traduza o Teorema das forças vivas: O trabalho efectuado pelas forças aplicadas a um ponto material ao longo de um determinado deslocamento é dado pela variação da energia cinética entre a posição final e inicial. Se X" >X# , então [12 < 0, o ponto material realizou trabalho, o que implica uma diminuição da Energia Cinética. Exemplo 2.4: ´ Determinar o trabalho devido à acção de uma força elastica aplicada a um ponto t t ao longo de uma trajectória entre a posição 1 e a posição 2. material, F= kr, Tendo presente (2.15), o trabalho ao longo de uma trajectória, Fig.2.3 2 2 ' [12 = 1 J † .=t œ 5 '1 < † .=t onde .=t representa o deslocamento ao longo da t trajectória escolhida e < o vector deslocamento ao longo da mola. Ora (rt † ds)=rcos )ds e dscos)=dr, logo o trabalho é dado pela expressão [12 œ 5 '1 <.< œ 2 1 # 2 5 (<" <## ) 2.17 Fig.2.3: Representação gráfica para o cálculo do trabalho devido à acção de uma força elástica e da força gravítica, respectivamente. Exemplo 2.4: Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 20 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas ´ Determinar o trabalho devido à acção de uma força elastica aplicada a um ponto t t ao longo de uma trajectória entre a posição 1 e a posição 2. material, F= kr, Tendo presente (2.15), o trabalho ao longo de uma trajectória, Fig.2.3 2 2 ' [12 = 1 J † .=t œ 5 '1 < † .=t onde .=t representa o deslocamento ao longo da t trajectória escolhida e < o vector deslocamento ao longo da mola. Ora (rt † ds)=rcos )ds e dscos)=dr, logo o trabalho é dado pela expressão [12 œ 5 '1 <.< œ 2 1 # 2 5 (<" <## ) 2.18 Exemplo 2.5: Determinar o trabalho realizado por acção da força gravítica uniforme quando aplicada a um ponto material. Esta força e´ do tipo J œ 71t em que 1t representa a aceleração segundo a vertical, assim, Fig.2.3 , 2.19 [12 = '1 J † .=t œ '1 71t † .=t 2 2 t Como (gt † ds)=g cos) ds e dscos)=dz, o integral anterior conduz a [12 œ '1 71.D œ 71 ( D" D# ) 2 2.20 Conclui-se, expressões (2.17) e (2.20), que, para estes dois tipos de força, o trabalho é independente da trajectória, depende exclusivamente da posição inicial e final do ponto material. æ 2.4. Energia Potencial Se existir uma força do tipo das descritas nos exemplos anteriores, isto é, tal que o seu trabalho é independente da trajectória, dependendo exclusivamente da posição inicial e final do ponto material, o resultado expresso em (2.17) e (2.19) pode tomar a forma geral 2 [12 = '1 J † . < œ Y" Y# 2.21 ou 2 [12 œ '1 .Y O trabalho é igual à variação de uma função Y que depende unicamente da posição do ponto material. Esta função designa-se por Potencial ou Energia Potencial. Prova-se que, matematicamente, a equação anterior é equivalente a esta outra J œ 1<+. Y œ fY 2.22 a força J deriva de um potencial, Y , de acordo com a relação escrita. Em coordenadas rectangulares o vector fY escreve-se 1<+. Y œ `Y `Y `Y `B" 3+ `B# 4+ `B$ 5 fY œ ! $ iœ" `Y `B3 2.23 ?t3 Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 21 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas Às forças, ou ao campo de forças, que derivam de um potencial Y , isto é, em que o trabalho por elas efectuado ao longo do deslocamento é independente da trajectória, chamam-se forças conservativas, ou campo de forças conservativo, respectivamente. De acordo com (2.22) e (2.23), as componentes da força são dadas por `Y )BßCßDÑ `B JB œ JC œ `Y )BßCßDÑ `C JD œ `Y )BßCßDÑ `D 2.24 o que implica determinar a força aplicada a partir do conhecimento da energia potencial. Da expressão (2.21) pode retirara-se -Ft † drt œ dU, logo a diferença de energia potencial, .Y , entre dois pontos que distam .< é dada por Ft † drt œ F cos) dr, logo .Y dr œ Fcos) , isto é, a força corresponde à derivada direccional da energia potencial. Prova-se que um campo de forças é conservativo (J œ fY ) se e só se o seu rotacional é nulo f ‚ J œ !t 2.25 Esta proposição não demonstrada é 7?3>9 importante, pois permite verificar analiticamente se um campo de forças J é conservativo. Exemplo 2.6: Se a energia potencial de um ponto material é dada pela função V œ 3x# y xz y, determinar o campo de forças conservativo que actua sobre o ponto. A expressão (2.23) permite escrever `Y `B `Y `C œ 'BC D `Y `D œ $B# " œ B logo JB œ 'BC D JC œ $B# 1 JD œ B JB œ 'BC D JC œ $B# 1 JD œ B ou Exemplo 2.7: Dada o campo de forças Ft œ (2xy z$ )utx x# uty 3xz# utz , verificar se é conservativo, caso seja determinar U. Para provar que o campo de forças é conservativo recorre-se ao resultado (2.24), calcula-se f ‚ J queß como se sabeß é dado por â â utB â ` t â f ‚ F= `x â â 2xy z$ â utC ` `y # x â utD â â ` â `z â 3xz# ââ Resolvendo este determinante simbólico f‚J œ ’ ` ($BD # ) `y - ` (B# ) `z “ ?tB ’ ` ($BD # ) `B - ` (#BCD $ ) `D “ ?tC + ’ ` (B# ) `B - f ‚ J œ c!d ?tB c ($D # ) - ($D # ) d ?tC + c(#B)-(#B)d ?tD ` (#BCD $ ) `y “ ?tz conclui-se que o rotacional de J é nulo, logo o campo de forças é conservativo. Se o campo de forças é conservativo, existe a função Y , dada pela relação expressa em (2.21), que em seguida se vai calcular: Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 22 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas `Y $ # $ 1ºpassoß `Y `B œ JB ,logo `B œ #BC D ,o que implica Y œ B C D B <(y,z)à `Y `Y #ºpassoß `C œ JC ß então, de acordo com os dados do problema, `C œ B# , mas o `< # resultado anterior conduz a `Y `C œ B `C , comparando estas duas expres-sões conclui-se que ``C< œ !, isto é, < œ ;(D ), então -Y œ B# C D $ B ;(z)à $ºpassoß raciocínio análogo an anterios, `Y `z œ Jz ß então, de acordo com os dados do `Y # problema, - ` z œ $BD , e, devido ao resultado anterior, - ``Uz œ $BD # ``;z ; comparando estas duas expressões, chega-se a ``;z œ 0, donde ; œ cte , ou seja, a expressão da função Y œ ( B# C D $ B) cte æ 2.5. Força de atrito Considerem-se dois corpos, A e B, em contacto através das suas superfícies exteriores, tome-se como exemplo o caso de um livro colocado sobre uma mesa. Pretende-se por acção de uma força F deslocar o corpo A, o livro, sobre o corpo B, a mesa, e verifica-se que a acção de contacto entre as duas superfícies oferece resistência ao movimento; essa resistência ao movimento é tanto maior quanto mais rugosa é a superfície da mesa. Fig.2.4:-Movimento do livro sobre a mesa. Pode acontecer que, embora o corpo esteja sujeito à acção de J , o valor desta não é suficiente para o colocar em movimento. Não havendo movimento ter-se-á .# < .># œ !, o que implica que pela Segunda Lei de Newton a resultante das forças aplicadas seja nula (!J+: œ !) . Para o caso do livro sobre a mesa, esquematicamente representado na Fig.2.4, a Lei Fundamental da Dinâmica escreve-se # 7 ..><# œ ! J+: ou, de acordo com o sistema de eixos representado, # 7 ..>B#" œ J J+> 2.26 # 7 ..>B## œ V T J J+> œ ! Não havendo movimento o sistema anterior é equivalente a œ como, V T =0 por hipótese assumida, a existir movimento ele será segundo ut" , a acção da mesa sobre o livro (R) será sempre igual ao peso do livro (P), R=P. Por outro lado, fazendo variar F o livro não se movimenta, a força de atrito variará de tal modo que F=Fat , Fig.2.5. Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 23 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas Todavia, sabe-se que a partir de um determinado valor de F passa a existir movimento do livro sobre a mesa. A força de atrito aumenta até atingir o seu valor máximo, valor a partir do qual, F>(Fat )max , o livro entrará em movimento. O valor máximo da força de atrito é dado pela lei de Coulomb que se exprime matemáticamente por J+/ œ ./ V 2.27 onde ./ é o coeficiente de atrito estático e depende da natureza das superfícies em contacto. Para valores de F, F=(Fat )max , o livro está prestes a entrar em movimento, logo que F>(Fat )max inicia-se o movimento. Havendo movimento, o que acontecerá à força de atrito existente entre as duas superfícies? Esta força continua a existir, reduzindo-se o seu valor para Fig.2.5:-representação gráfica da relação entre F e Fat . Jac œ .- V 2.28 onde .- é o coeficiente de atrito cinético que depende da natureza das superfícies em contacto, sendo este coeficiente inferior a ./ para as mesmas superfícies. Após entrar em movimento o livro ficará animado de uma ac aceleração + œ J J ; se a força J diminuir de modo a F œ Fac , o corpo ficará 7 animado de movimento uniforme. æ 2.6. Exemplos Exemplo 2.8 (Movimento do projéctil): Determinar a equação de movimento de um ponto material de massa m que se move à superfície da Terra, quando lançado com uma velocidade inicial vt9 qualquer e está sujeito à acção de uma força vertical constante. Para a trajectória do ponto material, <Ð>Ñ œ B" Ð>Ñ3 B$ Ð>Ñ5 , sujeito à acção da força J œ 715 , a segunda lei de Newton para duas dimensões, expressão (2.1), escreve-se # B" Ð>Ñ 7 . .> œ! 7 .@.>" Ð>Ñ œ ! # # B$ Ð>Ñ 7 . .> œ 71 7 .@.>$ Ð>Ñ œ 71 # Tendo presente que a velocidade inicial pode tomar a forma vt! =v! cos() )ut" +v! sen() )ut$ , obtem-se 7 .@" Ð>Ñ .> œ! Ê @" Ð>Ñ œ @! -9=() ) v t 7 .@.>$ Ð>Ñ œ 71 Ê 'v!$sen()) .@$ Ð>Ñ= 1'0 .> Ê @$ Ð>Ñ œ @! =/8() ) 1> A velocidade do projéctil é dada por @Ð>Ñ œ @9 -9=() )3+Ð@9 =/8() ) 1>)5 (admitindo que a posição inicial é <9 œ B9 3 D9 5 ), por integração chega-se às equações paramétricas da trajectória Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 24 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 7 .B.>" Ð>Ñ œ 7@9 -9=()) Ê Augusto J.S. Fitas ' B" .B" Ð>Ñ œ @! -9=())' t .> Ê B! 0 B" Ð>Ñ œ @9 > -9=()) B! 7 .B.>$ Ð>Ñ œ 7Ð@! =/8()) 1>) Ê 'z!$ .B$ (>) œ '0 (@9 =/8()) 1>).> Ê x$ (t) œ @9 >=/8()) 12 1># +D! B t A equação vectorial da trajectória é <Ð>Ñ œ [@9 > -9=() ) B9 ]3 [@9 > =/8() ) 12 1># D9 ]5 No caso de a posição inicial coincidir com a origem do referencial (B9 e D9 iguais a zero) e eliminando o tempo nas equações paramétricas, extrai-se a equação cartesiana da trajectória B$ Ð>Ñ œ 12 [@! -9=1 ())]# [B" Ð>Ñ]# + B" Ð>Ñ >1() ) Esta expressão permite concluir que a trajectória é uma parábola cujo eixo é vertical e a concavidade é dirigida para baixo Fig.2.6. Fig.2.6:- Trajectória do movimento bidimensionalde queda de um grave O ponto mais alto da trajectória é o ponto B representado na figura. Neste ponto a componente da vertical segundo o eixo vertical é nula, logo @9 =/8() ) 1> œ ! Ê >œ @! =/8()) 1 substituindo o valor de t obtido nas equações paramétrica, determinam-se as coordenadas do ponto B # B" = (@291) =/8(#) ) (B9 œ !) # B$ = (@291) =/8# () ) (D9 =0) Exemplo 2.9 (o pêndulo cónico): Uma massa m encontra-se suspensa de um ponto O através de um fio indeformável e de comprimento j,Fig.2-9 ,o ângulo que o fio faz com a vertical é ): a) qual a velocidade angular = que se tem de comunicar à massa m para que esta descreva com movimento uniforme um círculo horizontal b) determine o momento cinético em relação ao ponto c) mostre que se verifica o Teorema do Momento Cinético. # a) A segunda lei de Newton escreve-se 7 . .><Ð>Ñ œ Xt +Tt em que Xt # representa a acção da corda sobre a massa m e Tt o peso desta. Para que o movimento se Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 25 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas # a) A segunda lei de Newton escreve-se 7 . .><Ð>Ñ œ Xt +Tt em que Xt # representa a acção da corda sobre a massa m e Tt o peso desta. Para que o movimento se processe unicamente no plano horizontal, a resultante (J œ Xt Tt ) tem que ser um vector que actua em m e pertence ao plano do movimento, o que implica que a componente da resultante das forças segundo a direcção normal ao plano anula-se X -9=) œ T ou X -9=) œ 71. Como se pretende que o movimento seja circular e uniforme, J possui a direcção raio da trajectória e o seu valor é dado por @# J œ 7 6 =/8 J œ 7=# 6 =/8) ) onde = é a velocidade angular, @ œ =6sen) . Da geometria expressa em Fig.2-9 rapidamente se conclui que F P =tg); substituindo este resultado na expressão anterior ^ Fig.2.7: Representação gráfica do pendulo cónico ) T >1) œ 71 =/8 -9=) T >1) œ 7=# 6=/8) ou 1 =# œ 6 -9= ) Isto é, quanto maior for o ângulo ) , maior será a velocidade angular de circulação do ponto material. b) O momento cinético em relação ao ponto S é dado por (2.11), neste caso concreto escreve-se P œ 6 ‚ 7@. Da geometria do problema conclui-se que t6 ¼ @, logo P œ 76@ e a sua direcção é normal ao plano definido por P e @ . A B ^ Fig.2.8: A Sistema de eixos do pendulo cónico; B Momento cinético em relação a O Resolva-se esta mesma questão em termos gerais. O movimento do ponto material (massa m) é descrito por <Ð>Ñ œ 6 =/8) -9=(=>)3 6 =/8) sen(=>)4, Fig.2.7, admitindo que no instante inicial (> œ !) se encontra sobre B" ; o vector velocidade é normal a <Ð>Ñ, logo assume a forma @Ð>Ñ œ =6 =/8) -9=(=> 12 )3 =6=/8) =/8(=t+ 12 )4 @Ð>Ñ œ =6 =/8) (=>)3+=6 =/8) -9=(=>)4 Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 26 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas O vector posição de m em relação a O é t6Ð>Ñ=6 =/8) -9=(=>)3+6 =/8)=/8(=>)4-6-9=)5 . O momento cinético Lt será ou seja â â 3 4 5 â â â t6 ‚ 7@= ââ 6=/8) -9=(=>) 6=/8) =/8(=>) 6-9=) â â â 0 â â 7=6=/8) =/8(=t) 7=6=/8) -9=(=t) P œ 72 =6# =/8(2) )-9=(=t)3+ 72 =6# =/8(2) )=/8(=>)4+7=6# =/8# ) 5 Na Fig.2.8A mostra-se a representação, no espaço, de P. c) De acordo com (2.13), .P .> = 6 ‚ J , e sabendo que a resultante das forças é J œ 7=# 6=/8) -9=(=>)3 7=# 6=/8) =/8(=>)4 calculem-se separadamente os dois membros da expressão. Assim para o primeiro membro .P 7 # # 7 # # .> = 2 = 6 =/8(2) ) =/8(=>)3 2 = 6 =/8(2) )-9=(=t)4 enquanto que para o segundo ou â 3 â â 6=/8) -9=(=>) 6 ‚ J= â â â 7=# 6=/8) -9=(=>) 6 ‚ J= 7 # # 2 = 6 =/8(2) ) â 4 5 â â 6=/8) =/8(=>) 6-9=) â â m=# 6=/8) =/8(=>) 0 â =/8(=>) 3 7 # # 2 = 6 =/8(2) )-9=(=t)4 Está assim provado o Teorema do Momento Cinético. Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 27 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 2.7. Augusto J.S. Fitas Problemas 1. O ponto material A desloca-se ao longo de OX, enquanto que B se movimenta circularmente com uma velocidade angular, =, constante. Calcular a velocidade e aceleração de A. 2. De acordo com a Fig.2.10 e sabendo que os corpos A e B possuem as massas 7" e 7# , respectivamente, determine: a) a aceleração do sistema desprezando as forças de atrito; b) a aceleração do sistema, admitindo que o coeficiente de atrito cinético entre os corpos A e B e a superfície e .. 3. Duas massas Q e 7 estão ligadas por um fio através de uma roldana, Fig.2.11. Admitindo que o fio é ´ inderfomavel, sendo desprezável a sua massa bem como a acção deste sobre a roldana, determine: a) a aceleração do movimento; b) a tensão (X ) no fio. 4. Um corpo A de massa Q colocado sobre um plano horizontal encontra-se ligado, através de um fio, a um outro, B, de massa variável que está suspenso, Fig. 2.12. Os coeficientes de atrito estático e cinético entre a superfície e A são 5" e 5# , respectivamente. Determine: a) o valor mínimo da massa de B que permite iniciar o movimento de A; b) o valor mínimo da massa de B para que o movimento de A seja uniforme. 5. Observe a Fig.2.14 onde Q e 7 são as massas de B e A, respectivamente; 5 é o coeficiente de atrito estático entre as superfícies de contacto dos dois corpos. Determine o valor mínimo da força J aplicada em B que permite ao corpo A deslocar-se sobre aquele. Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) Fig.2.9 Fig.2Þ10 Fig.2Þ11 Fig.2Þ12 Fig.2.13 28 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 6. Dois blocos Q =$51 e 7 œ #51 estão em contacto entre si e deslocam-se sobre uma superficie horizontal (Fig.2.14). Uma força J œ &R actua sobre o bloco Q , não havendo atrito entre este e a superfície. Entre o bloco 7 e a superficie horizontal há uma força de atrito constante e que vale #R Þ Determine: a) a aceleração dos dois blocos; b) a força de contacto entre os dois blocos. Augusto J.S. Fitas M F m Fig.2.14 7. Observe o esquema representado na Fig.2.15, admitindo que os fios são inderfomáveis, sendo desprezável a sua massa bem como a acção destes sobre as roldanas, determine: a) a aceleração do movimento das massas 7" , 7# e 7$ ; b) a tensão nos fios ligados às Fig. 2.15 mesmas massas. 8. Um ponto material com a massa 7 move-se ao longo de uma trajectória rectilínea horizontal, com uma velocidad inicial @9 e encontra-se sujeito à acção de uma força que se opõe ao movimento e é, em cada instante, proporcional ao quadrado da velocidade. Para o instante t, determinar: a) a aceleração do ponto material; b) a velocidade do ponto material; c) a posição do ponto material. 9. Lançado do solo um projéctil tem que passar por cima de uma parede de altura 2, encontrando-se esta à distância =, na horizontal, do ponto de lançamento. Qual o valor menor possível da velocidade que permite ao projéctil saltar o obstáculo? Neste caso qual o angulo de lançamento? 10. O vector posição de um corpo de massa %kg é dado por <Ð>Ñ œ (2># 4>) 3 3>$ 4 2> 5 determine: a) a força que actua no corpo; b) o momento das forças em relação à origem; c) o momento linear e o momento cinético do corpo em relação à origem; .: .P d) verificar as relações J œ .> t e Q œ .> . 11. Uma partícula material de massa 7 está sujeita à acção de uma força ´ J œ J9 =/8=>, determine a sua trajectoria, sabendo que para > œ 0 se tem < œ 0 e @ œ 0. Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 29 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas 12. Um ponto material está sujeito à acção de um campo de forças J =(C# -2BCD $ )3+(3+2BC -B# D $ ) 4 + (6D $ -3B# CD # )5 a) verifique que este campo é conservativo; b) caso seja determina a função potencial, Y , associada ao campo J ; c) determine o trabalho quando um ponto material se desloca por acção deste campo entre a posição (2,-1,2) e (-1,3-2). 13. Um ponto material está sujeito à acção de um campo de forças J =(3B# 6CD )3+(2C +3BD )4 (1 4BCD # )5 a) verifique que este campo é conservativo; b) caso seja determina a função potencial, Y , associada ao campo J ; c) determine o trabalho quando um ponto material se desloca por acção deste campo entre a posição (0,0,0) e (0,1,1). 14. Dado o campo de forças J œ 5<$ < a) verifique que este campo é conservativo; b) caso seja determina a função potencial, Y , associada ao campo J . 15. Um ponto material, de massa 2 kg, está sujeito à acção de um campo de forças J =(24># )3+(36>-16)4 (12>)5 sabendo que no instante t=0 a sua velocidade é nula, determine: a) a energia cinética nos instantes > œ 1 e > œ 2; b) o trabalho feito pelo campo de forças quando o ponto se desloca entre as posições correspondentes aos instantes > œ 1 e > œ 2; c) a impulsão entre os instantes > œ 1 e > œ 2; d) o momento da força em relação à origem; e) o momento cinético em relação à origem. 16. Um projéctil é lançado com uma velocidade inicial horizontal @! do topo de um prédio de altura h. Admitindo o movimento no plano OX" X# : a) determine o momento cinético e o momento das forças aplicadas em relação à base do edifício; ! b) mostre que se verifica .P .> œ Q9 . 17. Numa estrada o declive de uma curva cujo raio é 300m, foi calculado para uma velocidade de 25m/s. a) Determinar o declive da curva; b) O atrito entre os pneus e a estrada é tal que permite, no máximo, que a força tangencial seja 0,4 da da força normal à estrada; qual o valor máximo da velocidade do carro para que possa fazer a curva sem derrapar? 18. Dado um pêndulo cónico constituido por uma massa de 20kg cuja velocidade angular de rotação em torno do seu eixo é =, determine a tensão da corda e o ângulo desta com a vertical. [j=1,16m ==30 rad.s" ] Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) 30 NOTAS EM CONSTRUÇÃO (Física Geral I) Cap. 2 Augusto J.S. Fitas 19. Provar que diferentes pêndulos cónicos suspensos do mesmo ponto e com diferentes comprimentos, mas girando no mesmo plano horizontal, possuem o mesmo período. 20. Uma massa Q está suspensa de um fio, passando através de um pequeno tubo, que possui na outra extremidade uma outra massa 7 animada do movimento de um pêndulo cónico (Fig.2.16). a) Escreva as equações dinâmicas que se aplicam a cada massa; b) Mostre que a massa 7 percorre uma órbita no intervalo de tempo dado 67 por #1Š 1Q ‹ "Î# Þ Engª Civil/EngªInf./Engª Mec./Engª Quim./LCF 2005-06 Ð2ºsem.) l θ m M Fig 2.16 31