- Seminário Concórdia

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ÍNDICE
VOUJME58· "
SE~1INA.RlO CONCÓRDIA
Diretor
Paulo Moisés Nerbas
Professores
Acir Raymann, Ely Prieto, Gerson Luís Linden, Leopoldo Heimann,
Norherto Heine (CAAPP), Orlando N. Ott, Paulo Gerhard Pietzsch,
Paulo Moisés Nerhas, Vilson Scholz.
Professores emédtos
Amaldo J. Schrnidt, Donaldo Schueler,
Johannes ti. Rottmann, Martim C. Warth
ii.;nEJA.
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LU~T~RANA
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FÓRUM
Trapalhadas em final de séculc
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ARTIGOS
Sugestão
de método para esn.:ic.:
Vílson Scholz
.
ISSN 0103-779X
Revista semestral de Teologia publicada em junho a novembro pela
Faculdade de Teologia do Seminário Concórdia, da Igreja Evangélica
Luterana do Brasil (IELB), São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil.
"Pericopite"
Acir Raymann (editor), Vilson Scholz
Assistência Administrativa
Rafael Juliano Nerbas e Or!,_~··:.:'
Elementos
Janisse M. Schindler
de umaeclesio1cgi:::
Igreja e sacramentos
A Revista Igreja Luterana está indexada em Bibliografia Bíblica
Latino-Americana - Old Testament Abstracts .
Os originais dos artigos serão devolvidos
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Austaus~
I
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Correspondência
Rev'..staIGREJALUTERANA
Seminário Concórdia
Caixa Postal 202
93.00 1-970 - São Leopoldo, RS
~- .c-",::
em \Volr,.:::--
Manfred Krespsky Zeuch .....
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
.,
DEVOÇÕES
".,'
de envelope com endereço e selado.
/ ~ Solicita-se permuta -
I
.
Considerações
da ética cristã qc:.c...:-:::;
técnica de reprodução humana 2.2:.:
Conselho Editorial
quando acompanhados
i_
e sua cura: análisõ'
Vílson Scholz
.
~:-.--
ÍNDICE
IGREJA LUTERANA
58 - NOVEMBRO 1999 - NÚMERO 2
VOLUME
?ietzsch,
FÓRUM
Trapalhadas em final de século
A cruz da IELB
o
•••••
o
o
••••
o
••••••••••
o
••
o
••••••
o
149
151
•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
ARTIGOS
Sugestão
de método para estudar as parábolas
Vílson Scholz
ubro pela
.angélica
.~J.o
"Pericopite"
o
o
•••••••••
o
153
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
e sua cura: análise da narrativa
Vílson Scholz ....
o
161
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Brasil.
Considerações
da ética cristã quanto ao uso da fertilização
técnica de reprodução
humana
in vitro como
assistida
Rafael Juliano Nerbas e Orlando Nestor Ou
167
Elementos de uma ec1esiologia luterana contemporânea:
Igreja e sacramentos em Wolfhart Pannenberg
:::'U[ICa
Manfred Krespsky Zeuch
181
AUXÍLIOS HOMILÉTICOS
202
DEVOÇÕES
296
147
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
fÓRUM
TRAPALHADAS
EM FINAL DE SÉCULO
1999 foi um ano de muitas trapalhadas entre os "profetas" da destruição. Houve quem anunciasse a destruição de Paris, com milhões de mortos em uma catástrofe nuclear. Até em fim do mundo se falou. Talvez estes movimentos escatológicos,
próprios de um final de século e milênio (independente da questão se o milênio de
fato começa em 2000 ou 2001), poderiam ser vistos com uma visão positiva. Afinal,
permitiram um campo para anúncio da visão bíblica sobre o fim. No entanto, há
aspectos preocupantes para os quais, penso, deveríamos estar atentos, como pastores e líderes na Igreja.
o que acontecerá diante da frustração havida ante as falsas profecias? Impossível responder com segurança. Já houve, na história não tão distante, situações
em que falsas profecias sobre as coisas do fim serviram para, com certas adaptações, institucionalizar o erro. Exemplo 1- as expectativas geradas pelos discursos
de William Miller, que calculou a vinda de Jesus para 22 de outubro de 1844. Seu
erro acabou sendo reinterpretado, viabilizando o início do Adventismo do Sétimo
Dia. Exemplo 2- semelhante ao anterior, agora com Charles T. Russel, que anunciou
o fim do mundo para 1914. Apesar do engano, vem dele a seita "Testemunhas de
Jeová." Falsas profecias podem, quem sabe, seguir o roteiro destas citadas e gerar
novos grupos escatológicos, a engrossar as fileiras dos já existentes. Segundo o
Instituto Millennium Watch, que pesquisa os fanáticos milenaristas, há cerca de
1200 "profetas" nos Estados Unidos, declarando serem Cristo. (Revista Isto É 04/08/
99, p. 110)
Outra reação possível diante da falta do cumprimento das "profecias" citadas é
a conclusão, pelo mundo, de que a mensagem dos religiosos é engano e superstição. Esta seria uma generalização ampla, para o que deveria ser aplicado aos
milenaristas. Para alguns pode parecer que os "cristãos" estão por aí, com Bíblias
debaixo do braço, anunciando catástrofes, que falham! É muito fácil, para o mundo,
colocar os religiosos no mesmo bolo. O antropólogo Ari Pedro Oro, da Universidade Federal do RS, faz a análise: "Quando as sociedades parecem ter chegado a uma
encruzilhada, é comum a população olhar para o céu esperando que um fato sobrenatural substitua este mundo por um melhor." (Zero Hora 08/08/99,p.36)
Faz-se necessária uma contínua e profunda ênfase no ensino bíblico da
Escatologia, e seu testemunho fiel ao mundo. A IELB dedicou boa parte do tempo
de suas atividades nacionais e regionais em 1999 para o estudo das coisas do fim.
149
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
É preciso manter o ensino equilibrado, sóbrio e claro da Escritura sobre este assunto
cativante e tantas vezes abordado com sensacionalismo. Sem negar a realidade da
Lei, que anuncia condenação aos descrentes, é preciso continuar enfatizando a
centralidade do Evangelho, também no ensino da Escatologia. Afinal, a Lei é anunciada para que haja arrependimento e, pelo Evangelho, salvação. Corno Igreja, não
estamos aí simplesmente esperando um fim, mas a revelação plena do reino do Senhor Jesus Cristo, o que aguardamos com alegria e esperança.
Escatologia é mensagem de esperança e consolo. "As quatro atividades da
inumerável companhia dos salvos, nas celebradas palavras finais de A Cidade de
Deus [de Agostinho] recapitulam temas centrais na escatologia bíblica. "Paz" descreve o repouso perfeito em Deus daqueles que no tempo terreno foram justificados por graça, por causa de Cristo, mediante a fé. "Visão" denota o cumprimento
do intelecto humano no seu observar a verdade, que é o próprio Deus. "Amor" que
brota de Deus, para encher Seu povo, e voltar a Ele, satisfaz o coração e a vontade
de homens e mulheres, feitos para a comunhão pessoal com seu Criador e uns com
os outros. "Louvor" é tanto a resposta da criatura à misericórdia divina, que de boa
vontade rende a Deus o que é dele, como também a voz de Cristo em nós, falando
ao Pai ..... O antigo testemunho do bispo de Hipona, no 5° século, permanece atual
até hoje, visto que o mistério de Deus em Cristo é e permanecerá eterna fonte de
vida: Lá nós teremos paz e veremos; veremos e amaremos; amaremos e louvaremos. Vede o que será no fim, que não tem fim! Pois qual é o nosso fim, senão chegar
àquele reino que não tem fim?" (JohnR. Stephenson, EscathoZogy - ConfessionaZ Lutheran
Dogmatics - voZ. XIII, editor: Robert D. Preus, Fort Wayne, The Luther Academy, 1993,
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150
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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- Confessional Lutheran
The Luther Academy, 1993,
Gerson Luis Linden
A CRUZ
DA
IElB
Como anda a cruz daIELB? Pelo visto ela anda bem, obrigado! Basta andarmos
por esse vasto território "ielbiano" para constatarmos essa verdade. Pois esses dias
andei refletindo sobre ela e quero aproveitar esse espaço para partilhar com os
leitores alguns pensamentos.
Esta logomarca já está conosco desde 1991. Creio que é um tempo razoável para
se avaliar a sua validade ou não. Quando o Conselho Diretor (23-26 de maio de
1991) aprovou a "Cruz daIELB", estava na verdade cumprindo uma resolução da 50"
Convenção Nacional (1986), a qual havia determinado que se criasse uma identificação fácil para as congregações da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. No seu
lançamento, ficou claro o que significava essa identificação fácil. A logomarca da
IELB é própria para utilização em papelaria (papel ofício, envelopes, cartões), painéis (placas de identificação, out-doors), trabalhos em escultura e outros (cf. Mensageiro Luterano, julho de 1991, p.5).
Já se passaram quase dez anos, e a cruz da IELB está aí. Podemos vê-Ia em
vários tamanhos e nos mais variados e inusitados lugares. Além da tradicional
explicação: "L" para Luterana e o "B" estilizado, sugerindo do Brasil. Já há quem
veja outras explicações para a mesma. O "1" para Igreja e o "M e L" de Martinho
Lutero! A cri atividade é grande e certamente seremos surpreendidos com outras
explicações.
Mas qual é o ponto? A cruz da IELB não cumpriu o seu papel? Sim. Certamente
que sim. Hoje essa logomarca é sinônimo de IELB. Ninguém duvida que ela ajudou
(e ainda ajuda) na divulgação do nome da igreja e também na sua identificação.
Para explicar o meu ponto, quero retomar uma frase colocada acima, quando
mencionei que a cruz da IELB pode ser vista "em vários tamanhos e nos mais
variados e inusitados lugares".
Tenho observado que no afã de se utilizar a cruz da IELB, se perdeu de vista o
seu primeiro propósito - identificar a instituição. E nesse particular, a cri atividade
tem sido grande. Já se pode ver a "cruz da IELB" encimando altares de igrejas, nos
paramentos do altar e do púlpito, em estolas pastorais e até gravadas em utensílios
da Santa Ceia. Quem sabe se tenha dado um novo significado ao "L" da cruz da
IELB = "litúrgico"?
151
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Aqui há que se fazer uma distinção. A logomarca da IELB é um símbolo da
instituição. Seu papel é identificar e divulgar a denominação. É uma cruz, é verdade,
mas é uma marca de identificação da IELB. Isso não quer dizer que ela não pode
estar presente nos templos da IELB (especialmente nos cartazes de divulgação das
ênfases anuais da igreja), mas jamais deveria tomar o lugar do crucifixo! e dos
símbolos Iitúrgicos da igreja cristã, os quais são universais e pertencem à Igreja de
todos os tempos e épocas.
Vinculado a isso, gostaria ainda de chamar atenção para os destaques e ênfases
anuais daIELB. A cada ano a igreja propõe uma temática, e sugere que a mesma seja
estudada nos grupos do PEM, nos estudos bíblicos e utilizada como tema de sermões dominicais. Aqui há que se cuidar para que o texto do Domingo não se torne
um pretexto para se falar do destaque do ano. Cada texto proposto pela Série Trienal
tem o seu próprio destaque, bem como de resto todo o domingo do Ano Eclesiástico. A série de leituras foi elaborada com muito cuidado, pois não busca somente o
interrelacionamento dos textos, mas procura refletir todo o desígnio de Deus (Atos
20.27) e quer manter um ano Iitúrgico Cristocêntrico. Não quero dizer com isso que
os destaques anuais da IELB não devam ser estudados ou mesmo anunciados do
púlpito. Neste caso, o bom senso deve imperar. Quando o texto do domingo
oportunizar pregar sobre referido destaque, que assim seja feito. Agindo assim, o
"Cristo para Todos" (e os destaques anuais) certamente não irá soar apenas como
um lema ielbiano, mas com certeza como um lema bíblico e altamente relevante.
A cruz da IELB está aí. E parece que veio para ficar. O seu valor, ninguém
questiona. O que se espera é que ela seja de fato utilizada para o fim a que foi
destinada - identificar a IELB! Tendo dito isso, espero ter contribuído para que seu
uso na IELB seja feito de forma adequada e coerente, bem como seu lema e destaques anuars.
ARTIGOS
SUGESfÀC
ESTUDAJ
Nenhum método, nem m~o-::-quada compreensão de um l~
-=
hermenêutica ou exegese a;:,:,oc- procura entender um texto.
princípios é este: a gente r:~:
contrário, a gente segue os rr teórico da hermenêutica, o 0_ - ~intepretativo, existe uma t.;;~,·~__ - =
receptor ou intérprete, expIe ..
A sugestão de método q_~ :,
se, entender as parábolas. ?::.
e ainda assim ficar sem ent:,,": _cA estrutura do método
co'':' :-_
I. G?~~
ElyPrieto
1. Segmentação do DisClU'
diferentes edições da E::- Títulos em Bíblias tcr..:.~Ia. Por outro lado, os tf,'.:: _c -
o
mais importante ornamento do altar é o crucifixo. O crucifixo enfatiza a humanação de
Cristo e seu sacrifício perdoador. Uma cruz lisa e vazia carece dessa ênfase. Todavia há quem
afirme que a cruz vazia representa a ressurreição.
Particularmente,
creio que a cruz vazia
apenas lembra que Cristo foi tirado dela - ainda morto I Se queremos falar de símbolo da
ressurreição, teremos que inevitavelmente
apontar para a tumba vazia (Cf. Lc 24.1-12). Em
contraposição
àqueles que querem ver um Cristo espiritualizado,
a Igreja Luterana
crê e
confessa que "à parte desse homem não há Deus" (PC, DS - Da Pessoa de Cristo, Vll1, 81).
Sendo assim, o crucifixo pode tornar-se matéria confessional. A tradição luterana prefere o
crucifixo à cruz vazia. Todavia, é possível utilizar o crucifixo em cima do altar e a cruz
(vazia) por detrás da mesa-fixa ou suspensa.
152
DI: Vilson Scholz é
Professor de Te.ologi" ,..
Tradução da Sociedcld" =
1 Lonergan,
2
Method I!: :;própria.
Lategan, "Hermeneut:~: -,
Horízons: Part 1 . Pc.:.
Papers,
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8. p ::
-
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
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ARTIGOS
SUGESTÃO DE MÉTODO PARA
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Vílson Scholz
Estudo apresentado no Oitavo Simpósio Teológico do
Concordia Seminary, St. Louis, USA, em maio de 1998.
Nenhum método, nem mesmo o mais abrangente e complexo, pode garantir a adequada compreensão de um texto. Bernard J. F. Lonergan explica que "princípios de
hermenêutica ou exegese apresentam os tópicos que vale a pena considerar quando se
procura entender um texto. (...) No entanto, o ponto fundamental acerca de todos esses
princípios é este: a gente não entende o texto porque seguiu os princípios, mas, ao
contrário, a gente segue os princípios para chegar à compreensão do texto. 1" Outro
teórico da hennenêutica, o sul-africano Bernard C. Lategan, explica que, no processo
intepretativo, existe uma tensão entre o dinâmico e o estático. Do ponto de vista do
receptor ou intérprete, explicar é o aspecto estático; entender, o dinâmic02.
- _ :el'.
A sugestão de método- que segue quer ajudar o leitor a explicar e, assim esperase, entender as parábolas. Mas fica o aviso que é possível seguir todos os passos
e ainda assim ficar sem entender.
A estrutura do método está baseada no trivium medieval: gramática, lógica, retórica_
ElyPrieto
I. GRAMÁTICA(: Texto)
1. Segmentação do Discurso (Os contornos da perícope no LeGionário e em
diferentes edições da Bt'blia.)
Títulos em Bíblias tendem a revelar como os tradutores e editores lêem a parábola. Por outro lado, os títulos formam uma moldura interpretativa. Exemplo: Lucas
--'.\J enfatiza
a humanação de
~"ssa énfase.Todavia há quem
é~;--,ente, creio que a cruz vazia
: - ~ueremos falar de símbolo da
_~-~} vazia (Cr Lc 24.1-12). Em
___cada, a Igreja Luterana
crê e
- ::Ja Pessoa de Cristo, V1I1, 81).
A tradição Iuterana prefere o
__. :::(-] em cima do altar e a cruz
Dr. Vilson Scholz é professor de exegese do Novo Testamento no Seminário Concórdia,
Professor de Teologia na Universidade Luterana do Brasil e membro da Comissão de
Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil
I Lonergan,
Method in Theology.
New York: Herder and Herder, 1972, p_ 159. Tradução
própria.
2 Lategan,
"Hermeneutics:
Discovering the Dynamics of the Text", Expanding Homiletical
Horizons: Part 1 - Reaching into the Text. Concordia Seminary Publications.
Symposiul11
Papers, Number 8, p. 33-34.
153
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
15.11-32 seria "O Filho Pródigo" (ARA), "O Pai Amoroso" (J. Jeremias), "O Pai
Compassivo e o Irmão Irado" (Peter R. Jones), "Dois Filhos" (Contemporary English
Version), ou "Uma Família Desajustada e seus Vizinhos" (Richard L. Rohrbaugh)?
Poderia ser tudo isso ao mesmo tempo? Outra questão: Será que tanto Mt 18.10-14
quanto Lc 15.1-7 são "A Parábola da Ovelha Perdida", como aparece no The Greek
New Testament?, ou seria Mt 18 muito mais "A Parábola da Ovelha Desgarrada"?
2. Crítica Textual (Podemos até concordar com os editores do texto grego, mas
temos o direito de saber que opções eles tinham.)
Aqui o exegeta se pergunta: Que "versão" está sendo lida como texto? Existe
alguma variante? O que explica o surgimento da( s) variante(s)? Faz alguma diferença? Mesmo que não se esteja disposto ou capacitado a discordar dos editores do
texto grego, o exame das variantes textuais ajuda pelo menos a perceber o que é
inusitado ou difícil, o que incomodou os leitores do texto no passado. No entanto,
a questão fundamental é sempre esta: Que diferença faz? Como seria o texto se
adotássemos a variante? É claro que, se o exegeta não consegue ver a diferença
entre texto e variante, terá de suprimir este passo.
3. Textura (A parábola como obra de arte ou vitral.)
"Textura" e "texto" têm muito em comum, a começar pela mesma raiz latina. Um
texto é uma seleção de signos lingüísticos, que são tecidos ou entrelaçados numa
teia ou rede de relações. Aqui, pois, cabe ver o padrão que resulta da combinação
dos diferentes elementos ou signos. Infelizmente, no passado as parábolas foram
vistas antes de tudo como janelas através das quais se pode enxergar algo diferente, seja o conceito "reino de Deus", seja a pregação do assim-chamado Jesus histórico, seja o contexto eclesiástico do evangelista. Em tempos recentes, no entanto,
depois do que Bernard C. Lategan chama de "Onda Estruturalista", as parábolas
passaram a ser vistas como vitrais que têm sua beleza própria.
Atentar para a textura do texto, contemplar a beleza do vitral, implica evitar a
atitude do tipo "eu já sei o sentido, por que me preocupar com os detalhes da
parábola?". Cumpre perguntar: Em que sentido este texto é singular ou único?
Nunca é demais atentar para termos raros, conexões, padrões que surgem, etc. Aqui
também cabe ir das partes para o todo, e voltar do todo para as partes.
Igualmente interessante é observar o "tempo" ou aspecto verbal. As parábolas
são narrativas que têm um "tempo" ou aspecto verbal básico, geralmente aoristo ou
presente. Qualquer alteração no "tempo" ou aspecto, como, por exemplo, a passagem
do aoristo para o presente, pode ser significativa em termos de confirmação do "ponto" da parábola. Aliás, em estudos recentes sobre o aspecto verbal da língua grega
passou-se a falar em "planos de discurso". Seriam três planos: "pano-de-fundo"
(Background), "realce" (Foreground), e "destaque" (Frontground).3 O "pano-de-
fundo" é o aspecto prirr:i.-: presente serve para dar "'c .'.'..
dar "destaque". Exemp li:-::. c
ça no aspecto presente.:'. :'e:.
"tinha"). No v. 7, passa-s:-" '.
respondendo diz (ÀÉYEL :2::"':':- _
traduzido por "disse". A;::.:: _ :-.:.c~
ao que é dito. Em outras f':':'
parece ser confirmado
cautela, para não querer e".::' =.
ria ser baseada unicame:,::- -.
"interpretações do aspe:::
claramente apoiadas pele::--::
Outra coisa que se ped-: -:..- .
to se sabe, foi formulada v- >.': - _prefiram o termo "extra' . .:.;:..-_
a) Exagero ou hipérbole: t ::: --:-contraste para apresentar " :..
vencionais. Huffman con::'. :_:para revelar que a vinda c.: -:4. Gênero ou Forma Uri?!'â~= _
É sabido que oNovo T:,:,.=--:-:--:
sentido amplo ou genéri:: .. : .
os (Lc 4.23), ditos sapienci.:::
embora íTapaf3oÀ~ apare~c. :significa que existem 50
parábolas não aparecem id-::.:- _
Ao se querer defini: f:'
Aristóteles (Topica, VIII. ~ _:-: _:- :
formuladas. James W. Yc':-.c
não-literais destinadas a e:.'
definição, "história temer::. :.
colocá-Ia de ponta cabe;:::
teITena". Isto é assim pCl':_=
antes, e só então se formul:e..: mação" da história terrena ~.~.
4
5
fi
J
Stanley E. Porter, ldioms of the Greek New Testament, Sheffield Academic
154
Press, 1996, p. 23.
7
Silva, Explorations in E:'."l.
Book House, 1996, p. 7';
Norrnan Huffrnan, "Atypl~": ;=,:
97 (1978), 207-220.
Paul Ricoeur, "Biblical :-:'o~~-,
James W. Voelz, Whar D.,,: :-
_
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
, ., (1. Jeremias), "O Pai
: s" (Contemporary English
Rohrbaugh)?
Richard
~~~áque tanto Mt 18.10-14
: : mo aparece no The Greek
,~ da Ovelha Desgarrada"?
L
, ,'i:tores do texto grego, mas
,C:.::: lida como texto? Existe
::I~(S)? Faz alguma diferen_ . .:.discordar dos editores do
',lenos a perceber o que é
I.I no passado. No entanto,
,_ :::7.: Como seria o texto se
=
'consegue
ver a diferença
fundo" é o aspecto primário, que tende a ser expresso pelo aoristo. A inserção de um
presente serve para dar "realce". Já o perfeito, por ser menos freqüente, é usado para
dar "destaque". Exemplifiquemos com a Figueira Estéril (Lc 13.6-9). A história começa no aspecto presente, ou seja, dois imperfeitos no v. 6 (fAEYEV, "dizia", e EIXElJ,
"tinha"). No v. 7, passa-se para o aoristo (EL-1TflJ, "disse"). A surpresa vem no v. 8: "E
respondendo diz (AÉYEL) para ele n." Este "diz" cert<l111enteé um presente histórico,
traduzido por "disse". Agora, a passagem do aoristo ao presente ajuda a dar "realce"
ao que é dito. Em outras palavras, o clímax ou ponto da parábola está no v.8, o que
parece ser confirmado pelo contexto e pelo "conteúdo" da parábola. Aliás, é preciso
cautela, para não querer extrair demais do aspecto verbal. Nenhuma conclusão deveria ser baseada unicamente no aspecto verbal. Moisés Silva nos lembra de que
"interpretações do aspecto verbal têm pouco ou nenhum valor a menos que sejam
claramente apoiadas pelo contexto"4.
Outra coisa que se pode fazer é notar elementos atípicos. Esta expressão, quanto se sabe, foi formulada por Norman A. Huffman5, embora outros, como Paul Ricoeur,
prefiram o termo "extravagância"6. Huffman lista os seguintes elementos atípicos:
a) Exagero ou hipérbole; b) elementos muito pouco freqüentes; c) uso de acentuado
contraste para apresentar os dois lados de uma situação; d) conclusões não-convencionais. Huffman conclui que Jesus geralmente se vale desses elementosatípicos
para revelar que a vinda do reino de Deus não é um fenômeno deste mundo .
. _:: :ela mesma raiz latina. Um
',: Idos ou entrelaçados numa
=: .:;ueresulta da combinação
- - : J.ssado as parábolas foram
_: ::de enxergar algo diferen:>sim-chamado Jesus histó:::- ::mpos recentes, no entanto,
-, =s:ruturalista", as parábolas
::: ::ópria.
. , ::: do vitral, implica evitar a
:-:curar
com os detalhes da
, " I~XWé singular ou único?
: :::::3es que surgem, etc. Aqui
:: ?a~a as partes.
:<~cto verbal. As parábolas
-- .. : .:.sico,geralmente aoristo ou
. :::::. por exemplo, a passagem
:-::.:5 de confirmação do "pon:- :~cto verbal da língua grega
_o;
s planos: "pano-de-fundo"
::C::,ntground).3 O "pano-de-
4. Gênero ou Forma Literária (Como sabemos que é uma parábola?)
É sabido que o Novo Testamento emprega o termo TTa:pa:f30À~ ("parábola") num
sentido amplo ou genérico, incluindo não somente parábolas mas também provérbios (Lc 4.23), ditos sapienciais (Mc 7.15,17), e até símbolos (Hb 9.9; 11.19). Assim,
embora TTa:pa:f30À~ apareça exatamente 50 vezes no Novo Testamento, isto não
significa que existem 50 parábolas no sentido estrito do termo. Ademais, muitas
parábolas não aparecem identificadas como "parábolas" .
Ao se querer definir "parábola", quase somos levados a concordar com
Aristóteles (Topica, VIII.5) de que definições são mais facilmente refutadas do que
formuladas. James W. Voelz oferece a seguinte definição: "Parábolas são histórias
não-literais destinadas a ensinar uma verdade ou lição"7 Que dizer da surrada
definição, "história terrena com sentido celestial"? Não é má, embora seria melhor
colocá-Ia de ponta cabeça: "uma mensagem celestial na forma de uma história
terrena". Isto é assim porque o "sentido celestial", aquilo que se quer dizer, vem
antes, e só então se formula a história terrena. Disso resulta, por vezes, uma "deformação" da história terrena, algo que acima foi descrito como "elementos atípicos".
4
5
6
-::old Academic
Press, 1996, p. 23.
7
Silva, Explorations in Exegetical Method:
Galatians as a Test Case, Grand Rapids, Baker
Book House, 1996, p. 79.
Norman Huffman, "Atypical Features in the Parables of Jesus", Journal of BibUcal Literature
97 (1978), 207-220.
Paul Ricoeur, "Biblical Hermeneutics",
Semeia 4 (1975), 114-118.
James W. Voe1z, What Does This Mean? St. Louis, Concordia, 1997, p. 303.
155
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Existem, nos Evangelhos, três tipos de parábolas: "7TapapoAaL-símile" (em número de doze, segundo Madeleine Boucher8); "7TapapoA1XÍ-parábola" (em número
(em número de quatro,
de dezesseis, segundo Boucher); e "7TapapoAaí-ilustrações"
todas em Lucas). Esta classificação remonta, no mínimo, a Adolf Jü1icher, cuja obra
publicada em 1899 teve grande influência na interpretação das parábolas no século
XX. Jülicher popularizou a diferença entre "Gleichnisse" (símiles), "Parabeln" (parábolas), e "Beispielerzahlungen" (ilustrações). Para Jülicher, o bom samaritano (Lc
10), o rico insensato (Lc 12), o rico e Lázaro (Lc 16), e o fariseu e o publicano (Lc 18)
são ilustrações. Parábolas envolvem comparação entre dois planos ("o reino dc
Deus é semelhante a ...."). Uma ilustração não envolve comparação, pois apenas
excmplifica um princípio ou um valor (o amor ao próximo, por exemplo).
As 7TapapoAaí-parábola, que são parábolas narrativas, tendem a seguir algumas
das "leis" que norteiam narrativas populares: a. concisão; b. ponto de vista
unitário; c. o caráter dos personagens é revelado pelo modo de agir (e não por meio
de descrição); d. pouca ênfase nas emoções; e. ênfase nos personagens principais; f. não-revelação do que levou a determinado modo de agir; g. omissão de
conclusões óbvias ou irrelevantes; h. linguagem concreta; i. discurso direto e
monólogo; j. repetição; l. clímax no final.
5. Traduções (Não precisamos fazer de conta que o texto nunca foi traduzido.)
Nenhuma tradução substitui o original, e raramente uma só tradução consegue
reproduzir toda a beleza do texto. Por isso, quanto mais versões do texto se puder
ler, melhor.
n. LÓGICA (= História
e Teologia)
6. Contexto Literário (Onde aparece a nossa parábola no contexto amplo da
narrativa?)
Este passo parece tão óbvio, mas não é. Em geral se ignora ou manipula o
CJntexto literário. Procede-se corno se as parábolas tivessem vida independente,
formando um "quinto evangelho". Para os críticos, então, o contexto é meramente
redacional e precisa ser substituído pelo "contexto vivencial" (Sitz im Leben) original. Em anos recentes, no entanto, voltou-se a valorizar o contexto canônic09.
Por que existe essa tendência de ignorar o contexto literário? Talvez porque
essa moldura literária contribui significativamente para o seguinte dado estatístico:
75% das parábolas de Jesus aparecem interpretadas nos Evangelhos! Para propor
interpretação diferente, é preciso em boa parte desprezar esse contexto.
, Madeleine L Boucher, The Parables.
Wilmington, Michael Glazier, 1983.
v Um exemplo
disso é o livro de John Drury, The Parables flI the Cospels (New York, Crossroad,
1989). Leva em conta o contexto literário, embora esteja por demais preocupado com a
assim,chamada
"crítica da redação"
156
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10
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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- Glazier, 1983.
Cospels (New York, Crossroad,
por demais preocupado com a
Ao se levar o contexto literário a sério, é bom lembrar que as parábolas são
"histórias dentro da história", ou seja, nmTativas menores dentro da narrativa maior.
Aí é preciso ver se existe conexão entre o enredo e os personagens da parábola (a
nan'ativa menor) e do evangelho (a narrativa maior). Por exemplo, é sabido que a
parábola do Filho Pródigo (Lc 15) termina em aberto, ou seja, não nos é dito que
atitude o filho mais velho tomou. Já houve quem sugerisse, à luz do que acontece
na narrativa maior, que o filho mais velho (que representa escribas e fariseus) matou
o pai (que representa Jesus)!
7. Contexto Histórico e Cultural
Uma parábola, por mais que se acentue a importância dos elementos textuais,
não pode ser isolada de seu contexto cultural. Fazê-lo seria incorrer no que se
convencionou chamar de "falácia poética".
Para este passo, graças ao método histórico, não nos faltam recursos. Um
exemplo é o popularíssimo livro de Joachim JeremiaslO, cujo valor maior reside exatamente nas informações de natureza histórico-cultural.
Aqui cabe perguntar se o que se conhece do contexto, a partir de outras fontes,
tem algo a contribuir para a nossa compreensão da parábola. Por outro, se a parábola tem algo a contribuir para o conhecimento do contexto cultural. Mateus 20.1-16 é
um exemplo típico. Constitui-se, até prova em contrário, na única fonte para afirmar
o valor relativo do denário (moeda romana de prata): era o salário pago por dia a um
trabalhador do campo na Palestina do primeiro século.
É preciso cautela para não se acabar fazendo o papel de "limpador de vidraças".
Isto acontece particularmente em círculos onde se faz aplicação rigorosa do método
histórico-crítico, e se considera a parábola como uma espécie de vidraça através da
qual se enxerga o contexto da igreja do evangelista e/ou o contexto do ministério de
Jesus. O mesmo vale para o método alegórico de interpretação, que também olha
através da parábola para aquilo que supostamente Deus está dizendo por trás ou
acima (ou abaixo) do texto. A função do intérprete, neste caso, é a de mero "limpador de vidraça", tornando a parábola mais transparente.
Outro perigo é tentar rescrever a parábola e o contexto literário em nome de uma
reconstrução do contexto cultural. Por exemplo, a "exegese oriental" de Kenneth
Baileyll por vezes desrespeita o texto em nome do contexto cultural. Como sempre,
o texto deve moldm' o método, e não o contrário.
10
11
Joachim Jeremias, As Parábolas de Jesus. São Paulo, Paulinas, 1977.
Kenneth Bailey, A Poesia e o Camponês. São Paulo. Edições Vida Nova.
título: As Parábolas de Lucas.
Reeditado sob novo
157
Igreja Luterana . N° 2 • 1999
8. lntertextualidade
(todo texto é, num certo sentido, afusão de textos anteriores.)
Que textos estão refletidos ou ecoam na parábola? Em geral, a lista de passagens paralelas não é tão extensa assim, nem mesmo numa edição Nestle-Aland.
Nem sempre todas as passagens pertinentes são citadas. Por exemplo, a parábola
do semeador já foi descrita como "um midraxe de 1saías 55". No entanto, NestleAland não apresenta 1s 55.10-11 como paralelo.
Também cabe perguntar se há algum "tema parabólico". Temas parabólicos são
palavras ou conceitos que, por sua freqüência (no AT e nas parábolas), acabam
virando tema. Rei, dono de casa, semeador, vinha, são exemplos de temas parabólicos.
Outra questão a investigar é se a parábola pode ser descrita como parábola do
Reino. Caso afirmativo, qual a relação? Não faltam estudos das parábolas em que
se procura relacionar todas elas com o reino de Deus, mesmo aquelas em que tal
conexão não é tornada explícita. Neste caso, algumas tratam da vinda do Reino
agora, outras falam da consumação do Reino, outras falam do Deus do Reino, da
graça do Reino, das pessoas do Reino, etc.
Uma questão interessante, neste particular, é se devemos privilegiar o método
dedutivo ou o indutivo. Em outras palavras, devemos formular uma teologia do
reino a partir dos evangelhos como um todo e aplicar isto às parábolas (dedutivo),
ou devemos partir das parábolas e entender o conceito de reino de Deus a partir
delas? Talvez tenhamos que fazer as duas coisas. No entanto, a hermenêutica
luterana, adotando o princípio de que as passagens mais claras (neste caso, nãofiguradas) devem iluminar as menos claras (no caso, as parábolas), dá preferência
ao método dedutivo.
Ainda neste passo, cabe fazer uma comparação sinótica (sempre que houver um
paralelo em outro evangelho). No entanto, à luz da recente ênfase nos evangelhos
como narrativas ("Narrative Criticism"), passou-se a preferir a leitura sintagmática
(o lugar da parábola na narrativa maior) à leitura paradigmática (as semelhanças e
diferenças da parábola em relação à versão paralela em outro sinótico).
lU.
9. A Mensagem
RETÓRICA
(= Impacto
Long12•
Mais recente:T:~~~:é. ~.
A imagem usada é :l d~ _
simplesmente reduzi~ :: ::_~~ninguém questionou:, é"
quanto a que vamos j"'~~z.::.:
b. Quantos pontos-de<ter? A maioria dos e5é'..'::: do, que a pergunta e<· :.:
tertium ou ponto-de-:::-:~
coro com Adolf Jüliche: __é
Aristóteles, insistiu n: _
questionado, passand:~se ~ ~:ponto. Craig L. Blombe:; .: - ~
ou ponto por person::;~
comparationisl4• Om::' ::.:z.:::
pontos-de-comparaçfi:. -;afirmar que o método de ~:..".:era na verdade melhor d: .:
problema de Agostinh: :~: do código errado. Nfi:
fossem história da igre' :::.~
10. O Propósito e o ImpCic
coisas". ]ohn L. Austin
Mais uma vez cabe f:lz~~
a. A quem Jesus se diri;~
b. Qual o propósito da
Segundo Jacques Dut=.:~:
truir pontes" que penE:::-, ~- _
rios para o ponto de í"is:: .: _
a cruzar a ponte, mas e-:: :::..:c. Por que, humanamen:e -:.
d. Dá para saber como e5::::' .::: _
pelos Pais da igreja an:;_ -
e Aplicação)
da Parábola
Aqui cabe fazer uma série de perguntas:
Thomas G. Long, Prec,_"
O termo latino tertium qcc:
entre os dois outros: a :"i.cio
comparação".
14 Craig L. Blomberg,
lnter.15 Jacques
Dupont, Por qZit
12
a. As parábolas transmitem uma mensagem, que precisa ser destilada das mesmas,
ou seriam elas próprias a mensagem? Tradicionalmente se tem visto a parábola
como trazendo uma mensagem. Neste caso ela pode ser comparada a um
"código" ou "vasilha", para ficar com a terminologia empregada por Thomas G.
158
13
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
.~fusão de textos anteriores.)
, Em geral, a lista de passa,cuma edição Nestle-Aland.
_':'~5 Por exemplo, a parábola
-',:3555". No entanto, Nestle-
- ' :::0". Temas parabólicos são
-"~T e nas parábolas), acabam
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, :-'eaisclaras (neste caso, não'. 2S parábolas), dá preferência
:.,5tiea (sempre que houver um
:~:ente ênfase nos evangelhos
, :, C'referir a leitura sintagmática
. :,,~digmática (as semelhanças e
, :~:n outro sinótieo).
Longl2.
Mais recentemente se passou a enfatizar que a parábola é a mensagem.
A imagem usada é a de uma "obra de arte". Posto em outros termos, pode-se
simplesmente reduzir a parábola a uma "verdade central"? Por muito tempo
ninguém questionou a legitimidade de tal procedimento, mas fica a pergunta
quanto a que vamos pregar: a parábola oua verdade central da mesma?
b. Quantos pontos-de-comparação
(terÚa comparationis) pode uma parábola
ter? A maioria dos estudiosos vai responder, quase que por reflexo condicionado, que a pergunta está mal formulada, pois uma parábola tem apenas um
tertium ou ponto-de-comparação1J. Nisto, mesmo sem saber, estão fazendo
coro com Adolf Jü1icher, que, opondo-se ao método alegórico e recolTendo a
Aristóteles, insistiu no "um só ponto". Nos últimos anos também isto tem sido
questionado, passando-se a admitir que uma parábola pode ter mais do que um
ponto. Craig L. Blomberg, por exemplo, defende a tese de que existe um tertium
ou ponto por personagem,
o que geralmente
resulta em três tertia
comparationisl4.
Outros argumentam que é impossível limitar o número de
pontos-de-comparação, pois varia de parábola a parábola. Blomberg chega a
afirmar que o método de Agostinho (i.e. alegórico, com pluralidade de pontos)
era na verdade melhor do que o de Jü1icher (não-alegórico, com um só ponto). O
problema de Agostinho foi decifrar detalhes que não são relevantes e valer-se
do código eITado. Não raras vezes Agostinho explica as parábolas como se
fossem história da igreja e teologia em código.
10. O Propósito e o Impacto da Parábola ("Palavras são usadas para fazer
coisas", lohn L. Austin)
Mais uma vez cabe fazer uma série de perguntas:
a. A quem Jesus se dirige, aos discípulos, à multidão, ou a seus adversários?
b. Qual o propósito da parábola, ou seja, que quer Jesus alcançar com a mesma')
Segundo Jacques Dupontl5, Jesus contou parábolas com o intuito de "construir pontes" que permitissem a passagem do ponto-de-vista dos seus adversários para o ponto de vista que ele trazia. A parábola não era apenas um convite
a cruzar a ponte, mas era a própria ponte .
c. Por que, humanamente falando, esta parábola está na Bíblia?
d. Dá para saber como esta parábola foi lida ao longo dos tempos, especialmente
pelos Pais da igreja antiga?
:.::cto e Aplicação)
. - --::isa ser destilada das mesmas,
::,:mente se tem visto a parábola
-:'2 pode ser comparada a um
, , : ;:ia empregada por Thomas G.
" Thomas G. Long, Preaching and lhe Lilerary Forms of lhe Bible, Fortress Press, 1989.
13 O termo
latino lerriwn quer dizer "terceiro".
Designa o terceiro elemento, que faz a ligação
entre os dois outros: a imagem ou figura e o assunto de que se fala. Equivale a "ponto-decomparação" .
14 Craig
L. Blomberg, Inlerpreling lhe Parables
InterVarsity Press, 1990.
15 Jaeques
Dupont, Por que parábolas? Petrópolis, Vozes, 1980.
159
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
e. A parábola teve alguma influência na formulação de alguma doutrina? Ainda se
aplica o princípio theologia parabolica /10/1argume/1tativa est (que equivale a
dizer que parábolas não podem ser usadas para fundamentar doutrinas)? O
exemplo clássico neste caso é o uso que Agostinho fez da parábola do joio (Mt
13.24-30), em sua luta contra os donatistas. Segundo Agostinho, a parábola
ensina que a igreja é um corpus mixtum, incluindo bons e maus. Acontece que
a parábola deixa claro que o campo é o mundo, não a igreja! Outro exemplo é
tirado de Craig Blomberg, que apela para Mt 20 como "uma das mais claras
passagens didáticas da Escritura contra a noção de que existem graus de glória
no CéUI6". Dum ponto-de-vista luterano, é questionável basear tal afirmação
unicamente numa parábola.
f. Que podemos aprender de nossos contemporâneos, especialmente outros pregadores?
g. De que modo Deus nos fala nesta parábola em lei e evangelho?
h. O que é "relevante" em nosso contexto (se é que nos cabe decidir o que é
relevante) ?
1. Qual o contexto litúrgico da parábola?
j. Como posso pregar o evangelho a partir desse texto?
A última pergunta já nos encaminha para a homilética, que é a arte de pregar as
parábolas. Mas isto é outro departamento.
Igrejas cristãs, em eSf'e::~ _
seus cultos, correm o risc.~·éc :
apenas perícopes ou pcqc:e-.l- _
todo. Currículos de esccl:e -.
mal. Um certo número de :..,:~:que vida própria. As h;,,~
salvação (que é narrativa e'se estudar o Bom Sam3r:::::-. levar em conta que, em Lc.: •.•
efeito dessa justaposição e _ ~próximo (Bom Samaritan:
Uma outra maneira deie:,::-c
para tomar emprestado um:
narrativa, mas por diversas :-2.2 -'0
dc verdades teológicas qc:e:=-:-e::
Método Dogmático, de
tamento, o Método Hist6:-:: - <
XVIII, não representou "é'~:.. :-:'-lidos em seus próprios te~: para a reconstrução do (,'::-':0
texto tende a ser visto:::'
pode contemplar uma 1'e::::::_:.o
Mais recentemente. _ -:
Unidos, o que se conh~:. -_~
palavra "crítica" soa pc:- :.~se da leitura das nalTat:·..c, ~-
16
160
Craig L. Blomberg,
1997, p. 302.
Df: Vilson Scho/z é p!'c"o
Jeslls and lhe Cospe/s.
Nashville.
Broadman
and Holman
Publishers,
Professor de Teolog'.~
Tradução da Socied:;:='êE
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
~~ :.lzuma doutrina? Ainda se
.,.'itCltiva est (que equivale a
..:1damentar doutrinas)? O
, ='ez da parábola do joio (Mt
, ,; .,:~doAgostinho, a parábola
, =='nse maus. Acontece que
, ~ = 3. igreja!
Outro exemplo é
: Jmo "uma das mais claras
=~:;ue existem graus de glória
., 'nável basear tal afirmação
"PERICOPITE"
E SUA CURA.:
ANÁLISE DA NARRATIVA
VílsOI1Scholz
s. especialmente outros preevangelho?
~ :·.:.e nos cabe decidir o que é
~:
·e
~ ,~tQ?
.~:ica, que é a arte de pregar as
Igrejas cristãs, em especial aquelas que adotam um sistema de perícopes em
seus cultos, COlTemo risco de sofrer de "pericopite". Este mal consiste em enxergar
apenas perícopes ou pequenas unidades, sem levar em conta a nalTativa como um
todo. CUlTículos de escola bíblica ou escola dominical são acometidos do mesmo
mal. Um certo número de histórias bíblicas, tiradas de seu contexto, assumem como
que vida própria. As histórias são removidas do contexto maior da história da
salvação (que é narrativa) e podem facilmente ser moralizadas. Por exemplo, podese estudar o Bom Samaritano num dia e a história de Marta e Maria noutro, sem se
levar em conta que, em Lueas, a segunda aparece imediatamente após a primeira. O
efeito dessa justaposição é algo que valeria a pena explorar em termos de amor ao
próximo (Bom Samaritano) e amor a Deus (Marta e Maria).
Uma outra maneira de descrever a situação é falar do eclipse da narrati va bíblica,
para tomar emprestado uma expressão de Hans Frei. A Bíblia é essencialmente
narrativa, mas por diversas razões, foi, por muito tempo, vista apenas como repositório
de verdades teológicas que precisam ser extraídas, interpretadas e aplicadas. Se o
Método Dogmático, de longa tradição na igreja, tem culpa no cartório neste departamento, o Método Histórico-Crítico, que é filho do Iluminismo e surgiu no século
XVIII. não representou nenhum progresso. Também aqui os textos bíblicos não são
lidos em seus próprios termos. Ao contrário, são vistos primariamente como fontes
para a reconstrução do contexto do autor ou do contexto dos leitores originais. O
texto tende a ser visto como meio para outro fim, como janela através da qual se
pode contemplar uma realidade diferente da realidade do próprio texto.
Mais recentemente, a partir de meados da década de 70, surgiu, nos Estados
Unidos, o que se conhece por "Crítica da Narrativa" (Nanative Criticism). Se a
palavra "crítica" soa por demais negativa, a opção é "Análise da Narrativa", Tratase da leitura das nalTativas bíblicas (livros inteiros ou até um conjunto de livros) à
:. Broadman
and Holman
Publishers.
DI: Vi/son ScllOlz é professor de exegese do Novo Testamento no Seminário Concórdia,
Professor de Teologia na Universidade Luterana do Brasil e membro da Comissão de
Tradução da Sociedade Bíblica do Brasil
161
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
luz de conceitos tirados da moderna crítica literária. Como não existe a teoria literária, mas diferentes métodos e sistemas, adota-se em geral uma postura eclética, ou
seja, toma-se emprestado de diferentes enfoques ou linhas. Privilegia-se, no entanto, o valor estético da Bíblia. Os textos são vistos como vitrais, belos em si, e não
mais como simples janelas que pennitem ver outra realidade.
entra, não apenas o que se :'.c:
(idéias). O enredo é a es:=-.:=__-'
colocando-os numa seqiEr:_ "
rativo, que interpretam se'..:
mesma história, mas o er:rei ..
__
anúncio do nascimento de I: 5. - -
i:;
A Crítica ou Análise da Narrativa apresenta três características básicas:
1. O texto bíblico é visto como um fim em si, e não como um meio para outros fins.
É vitral e não janela.
2. O objeto de análise é o texto em sua forma finaL Pouco imp0l1a como o texto veio
a existir, se o autor real se valeu de fontes ou não, etc. O que importa é o produto
acabado. Neste sentido, o enfoque é sincrônico, em contraposição ao aspecto
diacrônico que é privilegiado pelo Método Histórico. 3. Enfatiza-se a unidade
do texto como um todo. Leva-se em conta toda a narrativa, e não apenas um ou
dois parágrafos.
Este método tem sido aplicado a ambos os testamentos. Afinal, mais de uma
terça parte da Bíblia é narrativa. No Novo Testamento, os quatro evangelhos e o
livro de Atos são os que mais se prestam à análise da narrativa. Dentre as obras
mais conhecidas estão Matthew as Story (Mateus como História), de Jack D.
Kingsbury, publicada em 1986; The Narrative Unity ofLuke-Acts (A Unidade Narrativa de Lucas-Atos), de Robert C. Tannehill, publicada em 1986; e Anatomy ofthe
Fourth Cospel (Anatomia do Quarto Evangelho), de R. Alan Culpepper, publicada
em 1983. Além disso, existe um grande número de artigos e ensaios tratando do
assunto. Salvo equívoco, pouco ou nada desse material é acessível ao leitor de
língua portuguesa. A exceção é o Guia Literário da Bíblia, uma tradução do original
inglês The Literary Cuide to the Bible (1987), publicado em 1997 pela Editora Unesp,
de São Paulo. Esse Guia é uma coletânea de quarenta ensaios, escritos por autores
protestantes, católicos e judeus, a maior parte deles tratando de um livro ou conjunto de livros bíblicos. O enfoque é literário, ou seja, é mais amplo do que a análise da
narrativa. Assim sendo, inclui ensaios sobre literatura sapiencial (Provérbios e
Eclesiastes) e epístolas, que não se prestam muito a uma análise de narrativa no
sentido estrito do termo. O grande número de autores, cada um com sua
idiossincrasia, contribui para a impressão de que se trata de um "saco de gatos".
Mesmo assim, este volumoso Guia, de 725 páginas, merece ser examinado, entre
outras coisas por ser o único em português.
Para benefício dos não-iniciados, apresentamos alguns dos conceitos empregados pela Análise da Nanativa. Antes de tudo, fala-se muito de narrativa. Nanativa
é toda obra literária que conta uma história. Por vezes se distingue entre a história
da nanativa, o assunto ou aquilo que é nanado, e o discurso da narrativa, a retórica
ou como o assunto é nanado. Uma mesma história pode ser narrada de formas
diferentes, com discursos diferentes. É o que acontece com os Evangelhos.
Uma narrativa é feita de eventos, que são os acontecimentos da história. Aqui
162
Um enredo geralmence :r. __
idéias, vontades. O conL:.
_
pontos de vista conflitar:e;
autOlidades, bem como c::~.:-·- .
que o conflito não é resol \jj.
feliz. A Parábola do Filho 2r C.c _
pai e o filho mais velho este':: =-e'
16.8, tem um final "trágico"
negação, fuga) ainda não fê: -e
oráculo de salvação, tem tir",-lr
Ligado à noção de conr; '. e..
é o conjunto de padrões pe >:: .c_
eventos, e personagens da h.:s:_,' .:
vista diferentes. Nos EVQn;:e
to. Jesus representa este p,::"':: .ce
autoridades representam o ~. r.. __
pensamentos são "pensame",:' ;
dois pontos de vista anteri::-:"
16.17 -17) é capaz de ex pr;:,; :.'
Os atores da história. 2':; '
parte do enredo, são os pe",:
nanador diz como eles são :~\:: .
>'
o
.
,~
o nanador apresenta o pe:;: -,';: - :
características do mesmo. C, e
preferem mostrar a descre,;;:: ':.:.
da história (maior), é mui:o ::-'
Personagens têm traço'5 .
.-=
nos (com características pre' :.;:
de características potene121·"'.er.e _:
racterística marcante que 3.i=2-e.: __
gem estereotipada. Os Hd;:;-e i:e teso No Evangelho de ;"12r::;
incompreensão é consiste:,-e
(Lc 8.10) e baixos (Le 9 ...;....:.-_~
obra de ficção moderna. - s e .c- ;;
mento ou O mundo inter::-
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
=:mo não existe a teoria literá;~ral uma postura eclética, ou
-_nas. Privilegia-se, no entan. _:mo vitrais, belos em si, e não
-o:e:idade.
c ~
entra, não apenas o que se faz (ações), mas também o que se diz (discursos) e pensa
(idéias). O enredo é a estrutura dos eventos. O enredo interpreta os eventos,
colocando-os numa seqüência (temporal e causal), num contexto, num mundo narrativo, que interpretam seu significado. Cada evangelista conta basicamente a
mesma história, mas? enredo de cada um deles é diferente. Lucas começa com o
anúncio do nascimento de João Batista. João começa "no princípio".
_, : :uacterísticas básicas:
- : :mo um meio para outros fins.
importa como o texto veio
e:c. O que importa é o produto
:::mcontraposição ao aspecto
- ::1CO. 3. Enfatiza-se a unidade
:, ,: nalTativa, e não apenas um ou
.=
-'JCO
Um enredo geralmente inclui o elemento de conflito. Este é o choque de ações,
idéias, vontades. O conflito se dá, em geral, entre personagens que expressam
pontos de vista conflitantes. Nos Evangelhos, existe conflito entre Jesus e as
autoridades, bem como conflito entre Jesus e seus discípulos. Há momentos em
que o conflito não é resolvido. Neste caso tem-se um final "trágico" ou final nãofeliz. A Parábola do Filho Pródigo (Lc 15.11-32) termina sem que o conflito entre o
pai e o filho mais velho esteja resolvido. O Evangelho de Marcos, terminando em
16.8, tem um final "trágico", pois o conflito entre Jesus e seus discípulos (traição,
negação, fuga) ainda não foi resolvido. O livro de Amós, que termina com um
oráculo de salvação, tem um final "cômico", ou seja, um final feliz.
c:· :ementos. Afinal, mais de uma
eDto, os quatro evangelhos e o
o ja narrativa. Dentre as obras
é _,
como História), de Jack D.
- "lfLuke-Acts (A Unidade Nar- _-c:ida em 1986; e Anatomy ofthe
:e R. Alan Culpepper, publicada
:e artigos e ensaios tratando do
-::}terial é acessível ao leitor de
: _.3:0 lia, uma tradução do original
- _ - : :e"-o em 1997 pela Editora Unesp,
.'0: -a ensaios, escritos por autores
_: ::'atando de um livro ou conjun_ :: 'nais amplo do que a análise da
é:',lLurasapiencial (Provérbios e
_ -: a uma análise de narrativa no
:::: 2,utores, cada um com sua
-o 5~ trata de um "saco de gatos".
- _::.:::5. merece ser examinado, entre
_ --C-,
: 5
alguns dos conceitos emprega-
':. >5e muito de narrativa. Narrativa
- .. ~zes se distingue entre a história
o : jiscurso da narrativa, a retórica
<ria pode ser nalTada de formas
_: : "ltece com os Evangelhos.
" acontecimentos da história. Aqui
Ligado à noção de conflito está o conceito de ponto de vista. O ponto de vista
é o conjunto de padrões pelos quais os leitores são levados a avaliar os cenários,
eventos, e personagens da história. O conflito resulta da existência de pontos de
vista diferentes. Nos Evangelhos, o ponto de vista de Deus é verdadeiro e correto. Jesus representa este ponto de vista. O leitor se identifica com o mesmo. As
autoridades representam o ponto de vista contrário e se opõem a Jesus. Seus
pensamentos são "pensamentos de homens". Já os discípulos oscilam entre os
dois pontos de vista anteriores. O mesmo Pedro que faz a grande confissão (Mt
16.17-17) é capaz de expressar os pensamentos dos homens (Mt 16.22-23).
Os atores da história, aqueles que executam as diferentes atividades que fazem
parte do enredo, são os personagens. Personagens podem ser descritos, isto é, o
nalTador diz como eles são (Mt 1.19; Lc 1.6). Podem também ser mostrados, ou seja,
o narrador apresenta o personagem em ação e cabe ao leitor decidir quanto às
características do mesmo. Os evange1istas preferem o segundo método, ou seja,
preferem mostrar a descrever. Nas parábolas, que são histórias (mais breves) dentro
da história (maior), é muito raro o personagem que é descrito.
Personagens têm traços ou características. Dependendo disso podem ser planos (com características previsíveis e consistentes), redondos (com uma variedade
de características potencialmente conflitantes), e estereotipados (com uma só característica marcante que aparece de forma consistente). A viúva pobre é personagem estereotipada. Os líderes religiosos são planos, isto é, previsíveis e consistentes. No Evangelho de Marcos, os discípulos de Jesus tendem a ser planos, pois sua
incompreensão é consistente. Já em Lucas os discípulos são redondos, com altos
(Lc 8.10) e baixos (Lc 9.44-45). No entanto, é bom lembrar que, diferentemente da
obra de ficção moderna, os evangelistas não estão preocupados com o desenvolvimento ou o mundo interior dos personagens.
~._-
.•
163
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Vale a pena mencionar mais dois conceitos: autor implícito (ou autor modelo) e
leitor implícito (ou leitor modelo). O autor implícito é o retrato do autor real que
emerge do texto. É, como se diz, um epifenômeno do texto. É o autor que o leitor
reconstrói a partir do texto. Está implícito, ou seja, seu perfil e ponto-de-vista pode
ser determinado apenas a partir do texto.
Esta noção de autor implícito permite afirmar, por exemplo, que os livros dos
profctas menores, embora escritos por autores reais, autores de carne e osso, diferentes, revelam um autor implícito semelhante. O ponto de vista expresso e o autor
implícito que emerge é quase o mesmo em todos eles. Por outro lado, um mesmo
autor real pode escrever obras diferentes, cada uma delas com um autor implícito
diferente. Há quem argumente que isto explica as diferenças entre, digamos, 1
Timóteo e Romanos. Ambas foram escritas pelo mesmo autor real, Paulo, mas o
autor implícito que emerge das duas epístolas é diferente. Também obras formalmente anônimas, como a carta aos Hebreus, têm um autor implícito.
Já o leitor implícito (ou modelo) é o leitor que o texto ou seu autor implícito
pressupõe c que pode ser reconstruído a partir do próprio texto.
O autor de
Hebreus, por exemplo, "constrói" o seu leitor em termos de alguém que conhece
(e conhece relativamente bem) a língua grega, é cristão, tem interesse em personagens e instituições do Antigo Testamento, etc. Outro exemplo é o evangelho
de João. Discute-se, principalmente à base de Jo 20.31, se o evangelho foi escrito
para evangelizar não· cristãos ou para fortalecer a fé daqueles que já crêem. Em
outras palavras, quem são os primeiros leitores reais do evangelho: cristãos ou
não-cristãos?
Em parte o argumento depende da questão textual, a opção entre
o aoristo e o presente do verbo crer. Pode parecer uma picuinha, mas é uma
interessante questão histórica. Se João foi originalmente escrito para evangclizar,
então é talvez o único livro do Novo Testamento escrito expressamente para tal
finalidade. No entanto, outra leitura é possível. Culpepper, em Anatomy of the
Fourth Gospel, valendo-se do conceito do leitor implícito, chega à conclusão de
que o evangelista se dirige a cristãos. Isto porque, entre outras coisas, o autor
pressupõe que o leitor conheça a maioria dos personagens, não espera que ele
esteja familiarizado com os ritos de purificação, etc.
Antes de concluir com algumas palavras de avaliação, seria interessante mos·
trar como essa análise da narrativa funciona na prática. Para tanto, reproduzo
trechos da leitura que Mark A. Powell faz de Lucas 3.1-20, no ensaio que integra a
obra Hearing the New Testament, p. 248-253.
Em primeiro lugar, Powell examina como o trecho se relaciona com a narrativa em
seu todo. Observa que o leitor de Lucas teve um encontro anterior com João
Batista, no capítulo primeiro (vv. 5-25, 57-80). Muitas das expectativas ali expressas
se cumprem agora. O leitor ouvira que João seria profeta (1.76), e isto se confirma em
Lc 3.2. João prepararia o caminho do Senhor (1.76), e agora o nanador cita Isaías
para mostrar que este é, de fato, o caso (3.4). João daria ao seu povo "conhecimento
da salvação, no redimi-Io dos seus pecados" (1.77) e, de fato, João agora prepara o
164
povo para a salvação ck D,.:
remissão de pecados" 13.3
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Igreja Luterana - N" 2 - 1999
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Ce:1 (1.76), e isto se confirma em
e agora o narrador cita Isaías
.:.:,~iaao seu povo "conhecimento
- - ~. de fato, João agora prepara o
•
povo para a salvação de Deus (3.6), "pregando batismo de arrependimento
remissão de pecados" (3.3).
para
Mark Powell também tem um parágrafo sobre o enredo de Lucas-Atos e o papel
de Lc 3.1-20 dentro do mesmo. Afirma que o enredo de Lucas-Atos gira em torno do
plano divino de levar salvação a todos os povos. O maior obstáculo a tal plano é a
falsa confiança ou autojustiça dos líderes religiosos, que julgam não necessitarem
da salvação que Deus oferece, e não querem que a mesma seja oferecida a outros
(5,30-32; 7.29-30; 18.9). Este tema de Lucas-Atos já vem expresso claramente em
Lucas 3, na afirmação de que "toda a carne verá a salvação de Deus" (3.6). A
estranha admoestação de João, "Não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos
por pai a Abraão" (3.8), aponta para um conflito em potencial. No contexto imediato,
essa admoestação parece gratuita, pois ninguém está dizendo tal coisa. Mas, à
medida que a história se desenvolve, o leitor percebe que lá no início João percebeu
o que viria a ser um importante conflito ao longo da narrativa.
Pode-se perceber que na Crítica da Narrativa a ênfase recai, não tanto sobre a
perícope em particular, mas na forma como se relaciona com a narrativa em seu todo.
Isto contraria nossa tradição, que tende para a "pericopite".
Dito isto, cabem mais algumas palavras de avaliação. A Crítica da Narrativa
a leitura do texto nos termos propostos pelo próprio texto.
Enfatiza aqueles aspectos do processo de leitura levados em conta por um
leitor "marinheiro de primeira viagem", aquele a quem ainda não se disse que é
preciso desacelerar e atentar para as pequenas unidades (parágrafos, frases,
palavras). Por outro lado, a Crítica da Narrativa oferece o risco de se tratar o
texto bíblico como mera ficção. Para evitar a assim-chamada "falácia referencial"
(que só se interessa por aquilo a que o texto se refere) incorre-se na "falácia
estruturalista".
Tudo que interessa é o mundo do texto. Verdade é que a Crítica
da Narrativa é aplicada antes de tudo a obras de ficção, mas deduzir daí que
nanativa é sinônimo de ficção resulta mais da agenda hermenêutica dos críticos do que do método em si. Em resumo, a narrativa bíblica é referencia!, isto
é, refere-se a algo que está fora do mundo do texto, mas nem por isso deixa de
ser narrativa. Quemjá abriu mão da dimensão histórica da fé bíblica tem aí a sua
grande chance. Mas, como sempre, o abuso não impede o uso.
é basicamente
Se se perguntar pela aplicabilidade desse enfoque, uma das respostas é que o
mesmo tem muito a ver com a técnica de "contar histórias" (Story Telling), que é
uma das ênfases da assim-chamada "Nova Homilética". Contar histórias não é
simplesmente ilustrar as idéias da pregação por meio de histórias, mas é pregar
contando uma ou várias histórias. Richard A. Jensen (Telling Luke's Story), além de
lembrar que as histórias bíblicas são poderosas em e de si mesmas, argumenta que
Lucas prega contando histórias. Lucas explica uma história contando outras histórias. Assim, se um texto não faz sentido, melhor do que consultar o dicionário
teológico é continuar lendo Lucas. E a pergunta que Jensen nos deixa é esta: se
Lucas prega assim, por que não podemos nós fazer o mesmo?
165
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Bibliografia:
Robert Alter e Frank Kermode,
Unesp, 1997.
Guia Literário da Bíblia.
São Paulo, Editora
CONSIDERAÇÕES
Richard A. Jensen, "Telling Luke's Story: A Narrative Approach to Preaching on
the Third Gospel". Currents in TheologyandMission
21 (1994),444-451.
DA
USO DA FERTIL.r;
TÉCNICA DE REPROr
Walter C. Kaiser e Moisés Silva, An lntroduction to Biblical Hermeneutics. Grand
Rapids, Zondervan, 1994.
William W. Klein, Craig L. Blombefg, Robert L. Hubbard, lntroduction to Biblical
Interpretation. Dallas, Word, 1993.
A técnica de fertilização
mente nos grandes centros '.Ir::::~sonho da paternidade biológ:, 2. r:_'::
Mark Allan Powell, What is Narrative Criticism? Minneapo1is, Fortress Press,
o crescente uso da técnic" .~. _.__
sem preocupação com as q'.Ies:~ e
da escolha deste tema para :0:::: _ r·C'
1990.
Mark Allan Powel, "Narrati ve Criticism", in H earing the New Testament: Strategies
for Interpretation. Editado por Joel B. Green. Grand Rapids, Eerdmans, 1995, p.
239-255.
Nosso objetivo não é tra;:, fertilização in vitro, nem nos, ,;_
ou dos problemas sociais (':3.;::22
vista teológico o uso da té::-, _
ajudar casais cristãos infértei:::: _;:
formas através das quais SU:l _ -,::
A fertilização in vitroj é:.;:': ..
siste na fertilização de um óV'..:.: como um recipiente de vidro. gerar bebês de proveta.
o percentual de sucesso d"
sucedida não passa de vinte;:::
de quinze por cento.2
:_
Hoje, estima-se que exista:":.r:::...
Brasil, sendo que o custo aprox ,.,
Rev. RafaeL JuLiano Nerbas é ::_.
professor de TeoLogia Prei::,'.C'
BrasiL. Este artigo é wnCi
primeiro em 1998 e orien :.-'-.- ~,
I
2
3
166
Doravanle FIV
VIDAL, Macarena.
I998, pAG.
IÔ. Ibiô., p. 42-3.
De Lc~:,c c _
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
:.: Bíblia. São Paulo, Editora
CONSIDERAÇÕES
_ -
~::
.. ;ê
Approach to Preaching on
DA ÉTICA CRISTÃ QUANTO AO
USO DA FERTILIZAÇÃO IN VITRO COMO
on 21 (1994),444-451.
TÉCNICA DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
3'blical Hermeneutics.
Grand
_ .-:..'~bard, lntroduction to Biblical
\1inneapolis, Fortress Press,
,-'!le New Testament: Strategies
~:-'-2dRapids, Eerdmans,1995, p.
Rafael Juliano Nerbas e Orlando Nestor Ott
A técnica de fertilização in vitro tem se tornado cada vez mais comum, especialmente nos grandes centros urbanos, como um grande avanço científico em prol do
sonho da paternidade biológica para casais inférteis.
o crescente uso da técnica de fertilização in vitro por casais cristãos e luteranos
sem preocupação com as questões éticas levantadas por tal técnica foi a motivação
da escolha deste tema para nossa pesquisa.
Nosso objetivo não é traçar normas definitivas que proíbam ou não o uso da
fertilização in vitro, nem nos ocuparemos com as questões éticas a partir da ciência
ou dos problemas sociais causados. Nossa preocupação é analisar do ponto de
vista teológico o uso da técnica e apontar orientações importantes que possam
ajudar casais cristãos inférteis a julgar se é conveniente utilizá-Ia ou buscar outras
formas através das quais sua união seja manifesta e frutífera.
o QUE
É FERTIUZAÇÃO
IN VITRO?
A fertilização in vitrol é uma técnica de reprodução humana assistida que consiste na fertilização de um óvulo fora do corpo humano, num ambiente artificial, tal
como um recipiente de vidro. É popularmente conhecida como a técnica para se
gerar bebês de proveta.
o percentual de sucesso da técnica varia muito, mas a média de gravidez bem
sucedida não passa de vinte por cento dos casos, e de nascimento de bebês vivos
de quinze por cento.2
Hoje, estima-se que existam mais de sessenta clínicas de reprodução assistida no
Brasil, sendo que o custo aproximado do uso da FIV está entre quatro e seis mil reais. )
Rev. Rafael Juliano Nerbas é pastor em Parobé, RS Rev. Proi Orlando Nestor Ott é
professor de Teologia Prática no Seminário Concórdia e na Universidade Luterana do
Brasil. Este artigo é uma síntese da monografia de conclusão de curso escrita pelo
primeiro em 1998 e orientada pelo segundo.
I Doravante
2
3
FIV
VIDAL. Macarena.
1998, pAO.
Id. Ibid., p. 42-3.
De Louise a Dolly, 20 anos de avanços. Zero Hora, Porto Alegre, 2S jul.
167
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
PRINCIPAIS VARIAçõES E APERFEIÇOAMENTOS
DA TÉCNICA DE fERllUZAÇÃO
IN V17RO
Fecundação In Vitro Homóloga - este é o procedimento em que o sêmen usado
na inseminação é proveniente do marido e os óvulos que serão fecundados foram
extraídos da esposa, sem a participação de terceiros no processo.
Fertilização In Vitro Heteróloga - neste caso, há a utilização de sêmen ou
óvulos extraídos de um ou mais doadores. Pode ocorrer também de o embrião fecun-
Refletindo sobre ess2. '::.:0
usados ao longo da históri.:: '::=--os hebreus, impressionaj-;
'.
filho, usaram uma pala\T3.:·'::: impressionados com o dê'c·
geração e decadência, ch3.:--.2.~r
modernismo, impressionad __ :-.
"procriação". O mundo de
larga escala, emprega a meti:' :rr :
dado e implantado na esposa ser resultado da fusão de ambos, sêmen e óvulos,
provenientes de doadores.
Mãe-de-aluguelnesta variação da técnica, uma mulher voluntária ou contratada submete-se a ter os óvulos fecundados in vitro implantados em seu corpo,
comprometendo-se a entregar a criança, ao final da gravidez, ao casal que contratou
o uso da técnica.
Criogenia - na maioria dos casos, quando se procede a FIV, não se fecunda um
óvulo de cada vez, mas um certo número deles, já que o percentual de sucesso no
processo de implantação é limitado, sendo assim mais econômico e prático para o
casal. Para conservação dos embriões fecundados in vitro, eles são congelados e
podem ser usados no caso de fracasso no processo de implantação ou numa futura
tentativa de FIV para uma nova gravidez.
Banco de Sêmen, Óvulos e Embriões - tanto sêmen como óvulos, bem como
embriões já fecundados e congelados, provenientes de doadores anônimos remunerados, podem ser escolhidos e/ou adquiridos junto a clínicas de reprodução
assistida, abrindo possibilidades novas não apenas para casais inférteis, mas também para solteiros terem filhos, bem como casais homossexuais.
Biópsia de Embriões - com o auxílio de um microscópio, numa análise feita no
segundo ou terceiro dia de vida do embrião, é possível detectar doenças
cromossômicas, tais como a Síndrome de Down, possibilitando a eliminação de
embriões indesejáveis,
Clonagem. esta é uma possibilidade ainda não concretizada em seres humanos,
mas muito discutida a partir do nascimento da ovelha Dolly, em fevereiro de 1997,
clonada a partir de uma célula mamária de outra ovelha adulta.
PROCRIAÇÃO OU REPRODUÇÃO?
o CONCEITO
A questão então é definir: . _- _::
com o uso moderno do terr:-_='0
usadas no processo de FI\'.
Helmut Thielicke posi:i: c.c
capítulos de Gênesis, no est3.:::.:'.
do-se efetiva quando os prime::
.
de serem uma só carne (Gn 1.::- - -"Sede fecundos, multiplica>.:
A Comissão de Teologi2. :: :: _
Synod afirma que dentro de L"
pre vinculada ao amor mútuc r r :
A paternidade humana ei;- ..
ação (Gn 1.28). Assim, sexu3.}:'::':.
sexo, a comunicação do aTIlGc::: Isto não significa que to de
verdadeiro: toda procriação ec....
De acordo com a descriç 3.: :
"Sede fecundos, multiplicai-,- ::
apenas ao relacionamento dê ::;::-... _
tão completa e única encarr:2. 2._
4
5
6
Estes dois termos, procriação e reprodução, aparentemente podem parecer referir-se ao mesmo evento: a gênesis da vida humana, o surgimento de uma nova vida.
E muitas vezes são empregados como sinônimos, sem se preservar a distinção
necessária quanto ao que significa e envolve a aplicação de um ou de outro.
168
!=<t
7
R
KASS, Leon apud Rumo}: ec':.
THEOLOGY ANO CHURCi-i c-=
SYNODJ. p. 37.
THIELlCKE, Helmut. Theo«
.
p. 251.
Ruman Sexuulity: A Theoic'c._.
ANDERSON,
J. Kerby. "A:-::r .. _
bsLbible.org/galaxie/jouma:'
,-Christiuns
Procreutive
O:'
THEOLOGY AND CHURC--;
SYNODJ, p. 26.
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
F":illIÇOAMENTOS
;:'!..:ÃO IN VImO
,~nto em que o sêmen usado
. j'je serão fecundados foram
. _ . :. processo.
~.:ia utilização de sêmen ou
:-:-õ~
também de o embrião fecun: je ambos, sêmen e óvulos,
Refletindo sobre essa diferenciação, o teólogo Leon Kass analisa os termos
usados ao longo da história para descrever a origem da vida humana. Ele afirma que
os hebreus, impressionados com o fenômeno da transmissão da vida de pai para
filho, usaram uma palavra que hoje traduzimos por "gerar" ou "procriar". Os gregos,
impressionados com o desenvolvimento de uma nova vida no processo cíclico de
geração e decadência, chamaram isto de "gênesis", significando o "vir a ser". O prémodernismo, impressionado com o mundo, uma dádiva do Criador, usou o termo
"procriação". O mundo de hoje, impressionado com a máquina e com a produção em
larga escala, emprega a metáfora da fábrica: "reprodução".4
o CONCEITO BÍBLICO DE PROCRIAÇÃO
_ :-:êulhervoluntária ou contrataimplantados em seu corpo,
.idez, ao casal que contratou
· :.~de a FIV, não se fecunda um
:. jje o percentual de sucesso no
:'.s econômico e prático para o
: ',itro, eles são congelados e
~~ implantação ou numa futura
'~:-:-iencomo óvulos, bem como
A questão então é definir o conceito bíblico de procriação, para então comparar
com o uso moderno do termo reprodução, especialmente em relação às técnicas
usadas no processo de FIV.
Belmut Thielicke posiciona o termo procriação no contexto dos dois primeiros
capítulos de Gênesis, no estabelecimento da ordem divina do matrimônio, tornando-se efetiva quando os primeiros seres humanos são criados um para o outro a fim
de serem uma só carne (Gn 1.27; 2.23-24). Nesta união seria então cumprida a ordem:
"Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a" (Gn 1.28).5
A Comissão de Teologia e Relações Ec1esiais da Lutheran Church-Missouri
Synod afirma que dentro de uma perspectiva cristã, a procriação humana está sempre vinculada ao amor mútuo na aliança do matrimônio.6
: ':'e doadores anônimos remu.:1IO a clínicas de reprodução
. .c.. ::::ra casais inférteis, mas tam· :":;ossexuais.
- . :~:.scópio, numa análise feita no
~ possível detectar doenças
- :::.ssihilitando a eliminação de
•
· :.ncretizada em seres humanos,
c.Dolly, em fevereiro de 1997,
õiha adulta.
A paternidade humana envolve estas duas esferas: a união (Gn 2.24) e a procriação (Gn 1.28). Assim, sexualidade, amor e procriação estão vinculados. O prazer do
sexo, a comunicação do amor e o desejo de ter filhos estão conectados num só ato.
Isto não significa que todo o ato sexual deve ser procriativo, mas o inverso é
verdadeiro: toda procriação envolve um relacionamento sexuaI.7
De acordo com a descrição bíblica do que é procriação, no mandamento divino
"Sede fecundos, multiplicai-vos" (Gn 2.24), a união de uma só carne não se refere
apenas ao relacionamento de esposo e esposa, mas também ao filho que de maneira
tão completa e única encarna a união de uma só carne entre os cônjuges.8
0.
;~ODUÇÃO?
4
5
6
_. :"::õ:--;temente
podem parecer refe: surgimento de uma nova vida.
>em se preservar a distinção
c.cão de um ou de outro.
-<
7
8
KASS. Leon apud Human Sexuality:
A Theological
Perspective.
(COMISSION
ON
THEOLOGY
AND CHURCH RELATlONS OF THE LUTHERAN CHURCH-MISSOURI
SYNOD), p. 37.
THlELlCKE, Helmut. Theological Ethics - Sex. Grand Rapids, William B. Eerdmans, 1979,
p. 251.
Human Sexuality: A Theological Perspective, op. ciL, p. 37.
ANDERSON,
J. Kerby. "Artificial Reproduction:
Biblical Appraisal", julho 1998. <<http://
bsf bible. org/galaxie/j ournals/sample/bibsac/8594/86a.6.htm»
(10/07/98).
Christians
Procreative
C/lOices - How do God's Chosen Choose?
(COMISSION
ON
THEOLOGY AND CHURCH RELATlONS OF THE LUTHERAN CHURCH-MISSOURI
SYNOD),
p. 26.
169
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
Assim sendo, o mistério da união de uma só carne entre homem e mulher estabelecidos por Deus dentro do matrimônio, é tornada física e representada no filho
como resultado do poder criativo do próprio Deus.9
Assim, a criança gere:. -o
entre marido e esposa. r:'':~.::,
comodidade a ser buscacL -:-c .
É neste contexto de amor e união abençoada por Deus que a procriação verdadeira acontece, sendo que a criança gerada, e não produzida, incorpora a união de
seu pai e sua mãe. Não é mera reprodução, causa e efeito, mas a criança é fruto de um
amor que superou a separação entre eles e os uniu em 'uma só carne', que os guiou
para fora de si mesmos e na direção um do outro. Sua doação de amor resultou em
doação de vida."lO
Estando a procriação inserida no contexto da união de uma só carne dentro do
matrimônio instituído por Deus, e uma vez que esta união torna-se frutífera pela
ação do poder criativo do mesmo Deus, pois é ele quem proporciona a origem de
uma nova vida, pode-se então afirmar que a concepção está nas mãos de Deus, ou
seja, o gerar uma nova vida, procriar, é antes de tudo uma prerrogativa divina.11
CRÍTICAAO
CONCeITO
Gilbert Meilander aincL .c:r~
está se determinando seu
que todo o casal que utiliz:: e = ~
suficientes para temer que c-re:::
mum, esteja-se definindo e
realização em detrimento dc::re
o perigo então é fazer d:: rr'
ção, removendo-a do contex: :.
amor mútuo doado dentro de ::.:' -. ~.
realização dos pais imposs:bi:._l:.'
~.
A PARTICIPAÇÃO
DE Ti
HUMANAATRAVES
D
DE REPRODUÇÃO
o simples uso da técnica científica ou de métodos artificiais não pode ser razão
de opor-se a um procedimento médico, mas no caso da reprodução, a FIV invade um
campo perigoso que é a manipulação da vida humana na busca de um produto. 12
A técnica da FIV e tode c' .. _- .
participação de terceiros na rerr'
bem como doadores de óvu]:'
A geração de um filho é uma doação de Deus para os pais (SI 127.3). A paternidade biológica não implica a posse da criança, mas confere uma tarefa histórica,
dada por Deus, de criar, nutrir e educar a geração seguinte.13
Estas possibilidades espec:::_:'
divina da procriação dentro d:: "r.
condenável pela ética cristã ..
o Dr. Martim Warth reafirma esta visão bíblica de que os filhos são uma dádiva
de Deus dentro de uma família onde a procriação e o nascimento são frutos de uma
união em que o casal se serve, apóia e realiza em amor sexual diante Deus.14
Em vista disso, a técnica de :-" .
substitutiva (mãe-de-aluguel :: ::.
A procriação ordenada por Deus acontece então no matrimônio através de outra
doação também - a doação de amor entre pai e mãe. Os filhos são o sim de Deus a
essa mútua doação. Ao se gerar um filho, dá·se de si mesmo e assim forma-se um
novo ser que, embora outro, compartilha da mesma natureza e é igual aos pais em
A partir do ponto de vista c'r' .. :
da mãe-de-aluguel ainda é que,-::'
humano para a satisfação de C:.::r r ~
ça um objeto e umamercadori:: ..:,
dade de procriar instrumemc' ::: .
dignidade.15
Human Sexuality: A Theological Perspective, op. cit, p. 18.
MEILANDER, Gilbert. Bioética - um Guia para os Cristãos. São Paulo, Vida Nova, 1997.
p. 29-30.
11 KLOTZ,
John W. A Christian vtew Df Abortioil. Saint Louis, Concordia, 1973, p. 34.
12 MEILAENDER,
op. cit, p. 26.
13 Id. Ibid., p. 29.
14 WARTH.
Martim Carlos. Mãe de AlugueL Revista Mensageiro Luterano, Porto Alegre, 73
(11) :5-8, novo 1990, p. 7.
15 MEILANDER,
op. cit, p. 29.
-=-
9
10
" WEISE, Robert W. Begot:ç~ ,'..
:6-9, jun. 1997, p. 9.
17 MEILANDER,
op. cit, p. ::5
18 In- Vitro Fertilization.
(Dil';si.: '.
s.d.). p. 31.
19
20
170
::
Christians
Procreative
MEILANDER,
op. cit.,
Ch" __,
p
:'
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
~-' : ::-'-3 homem e mulher estabeuoi.::ae representada no filho
Assim, a criança gerada pela obra de Deus através do compartilhar do amor
entre marido e esposa, nunca é um produto nem um projeto, muito menos uma
comodidade a ser buscada, um fim que justifique todo e qualquer meio. 16
, - . :-Seus que a procriação verda_ :-:-~j uzida, incorpora a união de
c, ::. mas a criança é fruto de um
Jma só carne', que os guiou
joação de amor resultou em
Gilbert Meilander ainda acrescenta que, se um filho é produzido em laboratório,
está se determinando seu significado e utilização futura. Meilander não quer afirn1ar
que todo o casal que utiliza a FIV assume este pensamento, mas ele vê motivos
suficientes para temer que aceitando-se esta prática como algo corriqueiro e comum, esteja-se definindo o valor humano como algo a ser alcançado para autorealização em detrimento do direito intrínseco de cada criança. I?
_-"..::' de uma só carne dentro do
.c.lnião torna-se frutífera pela
o perigo então é fazer da procriação um mero procedimento técnico, reprodução, removendo-a do contexto de doação da parte de Deus ao casal, bem como do
amor mútuo doado dentro do casamento, para apenas satisfazer um desejo de autorealização dos pais impossibilitados de procriar naturalmente .
.::_em
proporciona a origem de
. ~:-.::".J está nas mãos de Deus, ou
_.::_,;ma prerrogativa divina.ll
A PARTICIPAÇÃO DE TERCEIROS NA REPRODUÇÃO
HUMANA ATRAVÉS DA FERTIUZAÇÃO l'N VITRO
: REPRODUÇÃO
. .::::' artificiais não pode ser razão
~2. reprodução, aFIV invade um
'::-,'::na busca de um produto.12
A técnica da FIV e todo o seu aperfeiçoamento permite hoje a possibilidade da
participação de terceiros na reprodução humana, tanto como doadores de esperma,
bem como doadores de óvulos.
...::: os pais (SI 127.3). A paterni--c., .::onfere uma tarefa histórica,
Estas possibilidades específicas de FIV entram em choque direto com a ordem
divina da procriação dentro da união de uma só carne no casamento, sendo por isto
condenável pela ética cristã.18
.: zuinte.13
~: que os filhos são uma dádiva
.::: nascimento são frutos de uma
~ ,,:-:',Jf sexual diante Deus.14
_:.J matrimônio através de outra
".e Os filhos são o sim de Deus a
_: ,i mesmo e assim forma-se um
. .::natureza e é igual aos pais em
Em vista disso, a técnica de FIV com posterior gestação de aluguel por uma mãe
substitutiva (mãe-de-aluguel) é condenável da mesma forma. 19
A partir do ponto de vista bíblico da doação que existe na procriação, a questão
da mãe-de-aluguel ainda é questionável pelo fato de que alguém concebe um ser
humano para a satisfação de outra pessoa que deseja um filho, tornando-se a criança um objeto e uma mercadoria. A mãe-de-aluguel faz de seu corpo e de sua capacidade de procriar instrumentos da vontade alheia e não uma relação de doação.20
~ 18.
_ -.:-:Üos. São Paulo, Vida Nova,
1997,
WEISE, Robert W. Begotten, not Made. Revista The Lutheran Witness, Saint Louis, \16 (6)
:6-9, jun. 1997, p. 9.
17 MEILANDER,
op. ciL, p. 35.
18 In- Vitro Fertilization.
(Division of Theological Studies of the Lutheran Council in the USA,
s.d.), p. 3 I.
l' Christians Procreative Choices - How do God's Chosen Choose?, op. ciL, p. 18.
20 MEILANDER,
op. cit., p. 39.
16
-- _ouis, Concordia,
"':sageiru Luterano,
1973, p. 34.
Porto Alegre,
73
171
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
A REPRODUÇÃO
HUMANA ATRAVÉS DA FERllUZAÇÃO
MANDAMENTO
o Dr. Warth acreSCCIT:.:: _.
haver filhos no casam ente ::::.=-:.
IN VITROÀ lUZ DO PRIMEIRO
A explicação de Martinho Lutero do primeiro mandamento sintetiza a obediência ao mesmo a: "temer e amar a Deus e confiar nele acima de todas as coisas."21
A procriação é um dos =:.='
de ser de uma união de am., ê =ê total e suficientemente sigr.: ~ ,
mem e mulher no casament.: '.:r.. :' ,
Certamente, os casais cristãos impossibilitados de conceber um filho pelos meios naturais devem respeito e obediência para com o que Deus ordenou neste mandamento.
A partir desta conclusão, e tendo em vista que a reprodução humana através da
FIV distorce o sentido bíblico de reprodução e coloca a concepção de uma criança
fora do contexto da união de uma só carne ordenada por Deus, torna-se necessário
questionar o uso de tal técnica como sendo uma possível idolatria - um filho a
qualquer preço, não uma dádiva de Deus.""
Usar de quaisquer meios para obter um fim desejado é questionáveI ainda que
este fim seja o desejo de conceber um filho. Isto vale tanto para a ciência no seu
intuito de assistir os casais inférteis, bem como para os próprios casais que buscam
a FIV Imaginar que devemos fazer tudo o que é necessário para realizar mesmo o
mais digno dos desejos é começar a pensar que somos deuses, criadores do mundo,
responsáveis pela vitória do bem contra o mal, sendo esta uma responsabilidade
que compete unicamente a Deus.23
Lutero adverte os homens afogados em sua cegueira espiritual, que usam de todos
os bens e dons de Deus unicamente para a sua soberba, avareza, prazer e diversão, sem
atentar em Deus, para agradecer-lhe e reconhecê-lo como Senhor e Criador."24
A Comissão de Teologia e Relações Ec1esiais da Lutheran Church- Missouri Synod
compara o convite do diabo no momento da tentação em Gênesis 3.1: "É assim que
Deus disse ...?", com o convite à razão humana para abandonar a confiança plena em
Deus e em sua Palavra a respeito da vida humana e substituir por meios supostamente
wperiores à Palavra de Deus na busca pelo objetivo a ser alcançado.25
Diante desta tensão entre os meios de reprodução assistida oferecidos pela
ciência e medicina através da FIV e a orientação da Palavra de Deus quanto à
procriação humana, Gilbert Meilander afirma que o casa! incapacitado de ter filhos
pode e deve encontrar outras maneiras por meio das quais sua união seja manifesta
e frutífera.26
Entre as diversas mane:r::, ê'
infértil está inserida, certarne r....
É digno de nota que a
criança fora do contexto pr= c ='
união de uma só carne no m::':::r:EMBRIÃO OU PRE-€
MANIPU~}~
Pré-embrião é uma class' ..
aproximadamente quatorze ire.: ê
dado na parede uterina, quar;j. c.:.'::
Tal classificação pressup:=
humano, mas de uma assim
um potencial para a vida.
Christians Procreative Choices - How do God's Chosen Choose 1, op. cit., p. 4.
" MEILANDER,
op. cit., p. 41.
A partir desta definição. :. - .
manipulação, pesquisa e eEmi- =-=
~
liares ao processo de FIV
__.
fecundação, o que existe é
ARGUMENTOS~
AOCONCEITC
o Dr. Jérôme Lejeune. g=_.::::'
descoberta do cromossomo C.C, ê :: .
cia a veracidade da classific::=~' .
faz sentido cientificamente. p:'s .'
esperma, e a menos que
opinião do Dr. Lejeune, o em=r:.".- .
27
WARTH, op. cit., p. 7.
31
Human Sexuality: A Theo '. 5,,-Christians Procreative Ch .':, o' _
LEJEUNE, Jérôme. The C.:."-Christians Procreative Ch.-
12
LEJEUNE,
18
29
30
15
172
::_.
c.,. _"
"Cm I, 2.
" MEILANDER,
op. cit., p. 40.
23 ln Vitro Fertilizatioll,
op. cit., p. 21.
24 CM I, 21.
:.J
op. cit., p. lI.
Igreja Luterana
"'~s DA FERTILIZAÇÃO
~:"'
. ANDAMENTO
::,:"ento sintetiza a obediênde todas as coisas."21
, _..::r:1a
nceber um filho pelos mei..:~e Deus ordenou neste man-
c _ '
- N° 2 - 1999
o Df. Warth acrescenta que a infertilidade não é uma doença, nem é necessário
haver filhos no casamento para haver um casal cristão felizY
A procriação é um dos objetivos do casamento, mas não é o único nem a razão
de ser de uma união de amor e bênção diante de Deus. A união de uma só carne é
total e suficientemente significativa em si mesma, não devendo ser a união de homem e mulher no casamento unicamente um meio de procriação.28
Entre as diversas maneiras em que Deus pode abençoar a relação de um casal
infértil está inserida, certamente, a possibilidade da adoção.
, :"~:'odução humana através da
. .:.concepção de uma criança
,:_ -:r Deus, torna-se necessário
: ' ósível idolatria - um filho a
É digno de nota que a prática da adoção não envolve a opção de conceber uma
criança fora do contexto prescrito por Deus para a procriação humana, ou seja, a
união de uma só carne no matrimônio.29
EMBRIÃO OU PRÉ-EMBRIÃO - PRESERVAR OU
MANIPULARA VIDA HUMANA?
:,:.jo é questionável ainda que
:.e tanto para a ciência no seu
• s próprios casais que buscam
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, s deuses, criadores do mundo,
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"vareza, prazer e diversão, sem
"'.::'Senhor e Criador."24
:"~:heran Church-Missouri Synod
_..:.'.:em Gênesis 3.1: "E assim que
.:.oandonar a confiança plena em
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" ser alcançado.25
:j~ão assistida oferecidos pela
. ',: da Palavra de Deus quanto à
• :asal incapacitado de ter filhos
:.:.s quais sua união seja manifesta
Pré-embrião é uma classificação científica adotada para definir o período de
aproximadamente quatorze dias entre a fecundação e a fixação de um óvulo fecundado na parede uterina, quando aparecem as primeiras células diferentes. 30
Tal classificação pressupõe que o status deste pré-embrião não é de um ser
humano, mas de uma assim chamada entidade humana, que simplesmente possui
um potencial para a vida.
A partir desta definição, torna-se aparentemente justificável, ética e legal, a
manipulação, pesquisa e eliminação de pré-embriões em certas circunstâncias peculiares ao processo de FIV, visto que até aproximadamente quatorze dias após a
fecundação, o que existe é algo subumano ou potencialmente humano.31
ARGUMENTOS CIeNTÍfIcos CONTRÁRIos
AO CONCEITO DE PRÉ-EMBRIÃO
o Dr. J érôme Lejeune, geneticista mundialmente conhecido, especialmente pela
descoberta do cromos somo base do mongolismo, o trissoma 21, nega com veemência a veracidade da classificação científica de pré-embrião. Para ele, este termo não
faz sentido cientificamente, pois antes de um embrião existem apenas um óvulo e um
esperma, e a menos que haja fertilização, nenhum novo ser existe. Portanto, na
opinião do Df. Lejeune, o embrião é a primeira forma de vida humana.32
27
28
29
30
'~.'r Choose?, op. cit., p. 4.
31
32
WARTH, op. cit., p. 7.
Human Sexuality: A Theological Perspective, op. cit., p. 18.
Christians Procreative Choices - How do God's Chosen Choose?, op. cit., p. 33.
LEJEUNE, Jérôme. The Concentration Cano San Francisco, Ignatius, 1992, p. 149.
Christians Procreative Choices - How Do God's Chosen Choose?, op. cit., p. 36.
LEJEUNE, op. cit., p. 11.
173
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
A Comissão de Teologia e Relações Eclesiais da Lutheran Church-Missouri
Synod, em seu parecer sobre o aborto, também posiciona-se a favor do momento da
fertilização como o início do desenvolvimento de um novo ser individual, uma célula
totalmente nova que carrega as características genéticas de pai e mãe e que estabelece muitas características de um novo ser humano.33
A Fórmula de Concórdi3.. ~.:
a favor do momento da cone,,: : ':
Salmo 51: "Deus não cria !1:':-'
ainda hoje cria e faz nos hom~:-.
minosa, pela concepção e na,<:~-.c-:
Se do ponto de vista científico não há necessidade para se criar o termo préembrião, por que então ele existe?
Em relação à encamação de T~.' __
"se tomou homem, foi concebidpecado, a fim de que fosse Senhe: .' :
te com o ser humano, Jesus foi CO",.
homem desde o momento de SU3.:
A manipulação da linguagem científica para justificar procedimentos técnicos
questionáveis do ponto de vista ético não é novidade.
o mesmo parecer sobre a questão do aborto, citado anteriormente, afirma que na
época do aparecimento do Dispositivo Intra-Uterino (DIU) no mercado, este era
conhecido como método contraceptivo. A partir do momento em que o DIU foi
reconhecido como abortivo e a questão ética começou a ser questionada, a Academia Americana de Obstetras e Ginecologistas mudou em seus documentos oficiais
a definição de gravidez, que anteriormente era "o período de tempo entre a concepção e o parto", para "o período desde a implantação até o parto". De acordo com a
nova definição, os efeitos do DIU ocorrem antes do início da gravidez, tentando
justificar assim seu USO.34
Quanto ao fato de se definir a pessoalidade ou ausência da mesma baseado nas
potencialidades humanas, como no caso do pré-embrião, Gilbert Meilaender afirma
que este critério não enquadra todos os seres humanos vivos como pessoas, pois
não leva em conta que nossa história pessoal não exige a presença permanente de
nossas capacidades pessoais, pois esta história pessoal começa com dependência,
no útero matemo e depois como recém-nascidos, e muitas vezes termina na dependência da velhice e na perda das capacidades que se possuía anteriormente.35
ARGUMENTOS TEOLÓGICOS coNTRÁRIos
À MANIPULAÇÃO DE EMBRIÕeS
O momento da fecundação (concepção) é o início de uma nova vida humana,
como demonstra o Dr. John Klotz em sua obra sobre o aborto, onde ele cita duas
passagens bíblicas: Jó 10.10-12 e também o Salmo 51.5. Com base nestas duas
passagens, fica claro ser o momento da concepção o início da vida humana, visto
que Davi refere-se a si mesmo como pessoa desde o momento da concepção, e Jó
descreve claramente seu desenvolvimento embriônico.36
O Dr. Martim Warth, num 3.~ ".
posição luterana baseada na Esc=-:._
O Dr. Warth usa como argum~r. _.
também o texto de Lucas 1.3; c:-:ligada ao nome de Jesus com: - c.
Derek Kidner, em seu Corr,,,.-enfatiza a formação divina da '. :::3. - _
ao ser humano, mesmo sendo,,". _:-:Outra passagem marcante é :~::c ::.:
a palavra hebraica dly para des::~
conseqüência da briga entre de:s Em um artigo muito interess::.:-.Russel FulIer afirma que este tc=:
aplicado também a recém-nasc:.:: __
Gênesis 21.15, referindo-se a Is:--_
conclusão de FulIer ressalta qUê' .:.:=
os de desenvolvimento da vida ~._
ção diante de Deus do embri;;: c 3.O momento do encontro e:-.::-=
Evangelho de Lucas (Lc ].41
Isabel. O mais interessante, no ~:-.:.'
fJpÉcpoç para registrar a referên::.: :'c
37
FC DS t. 7.
"CM
" Abortion in Perspective. (COMISSION ON THEOLOGY AND CHURCH
THE LUTHERAN CHURCH-MISSOURI
SYNOD), p. 7.
34 KOOP,
C. Everett apud Abortiol1 in Perspective, op. cit., p. 10-1.
35 MEILAENDER,
op. cit., p. 19-20.
" KLOTZ, op. cit., p. 48.
174
RELATIONS
OF
39
40
lI, 3l.
WARTH, op. cit., p. 7.
KIDNER, Derek. Psalms 73-
t ~
Downcrs Grave, Inter- Varsi t:,.
41 FULLER,
Russel. Exodus 21:':'':'-':',:
the Fetus. Journal of the EVGng,
184.
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
A Fórmula de Concórdia, falando da doutrina
a favor do momento da concepção, referindo-se
~_ Lutheran Church-Missouri
:,'la-se a favor do momento da
- :\0 ser individual, uma célula
Salmo 51: "Deus não cria nem faz pecado em nós, mas com a natureza, que Deus
ainda hoje cria e faz nos homens, o pecado original é propagado de semente pecaminosa, pela concepção e nascimento carnais de pai e mãe."37
.: }) de pai e mãe e que estabe-
Em relação à encamação de Jesus Cristo, Martinho Lutero, no Catecismo Maior, afmna:
.::,~;;: para se criar o termo pré-
: :.:ficar procedimentos
do pecado original, posiciona-se
também às palavras de Davi no
"se tomou homem, foi concebido e nasceu do Espírito Santo e da Virgem, sem qualquer
pecado, a fIm de que fosse Senhor sobre o pecado."J8 Segundo esta explicação, em contraste com o ser humano, Jesus foi concebido sem pecado, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro
técnicos
homem desde o momento de sua concepção por obra do Espírito Santo.
o
"-_.: (DIU) no mercado, este era
. _. momento em que o DIU foi
Dr. Martim Warth, num artigo sobre a questão da mãe-de-aluguel,
reafirma a
posição luterana baseada na Escritura de que a vida humana começa na concepção.
O Df. Warth usa como argumento escriturístico,
além do Salmo 51 e do Salmo 139,
:; :,u a ser questionada,
a Acade_:: .: em seus documentos
oficiais
também o texto de Lucas 1.31, em que Maria recebe a notícia de que conceberá
ligada ao nome de Jesus como pessoa.J9
__: ::mteriormente,
afirma que na
já
: 0-; odo de tempo entre a concep-
o
~: até o parto". De acordo com a
início da gravidez, tentando
::.
. .:sência da mesma baseado
"o"
nas
::ião, Gilbert Meilaender afirma
':,::os vivos como pessoas, pois
o\ige a presença permanente
de
: _" Jal começa com dependência,
: ::",ui tas vezes termina na depen-
: _ o
o~
possuía
anteriormenteY
-:io
Outra passagem marcante é a de Êxodo 21.22- 23. O texto bíblico original usa aqui
a palavra hebraica dly para descrever o embrião ou feto que poderia ser abortado em
conseqüência
da briga entre dois homens.
Em um artigo muito interessante
sobre esta passagem,
o comentarista
americano
Russel Fuller afirma que este termo hebraico é utilizado em outras passagens bíblicas
aplicado também a recém-nascidos,
adolescentes
e jovens, como por exemplo em
Gênesis 21.15, referindo-se
a Ismael; e em Gênesis 37.30, referindo-se
a José. A
conclusão de Fuller ressalta que a Escritura aplica este termo sem distinguir estágios de desenvolvimento
da vida humana e assim confÜma a pessoalidade
e valorização diante de Deus do embrião e do feto humano.4J
:05 coNTRÁRIos
E E~1BRIÕES
; ::re
Derek Kidner, em seu comentário ao Salmo 139, diz que este trecho do Salmo
enfatiza a formação divina da vida humana pré-natal, realçando o valor que Deus dá
ao ser humano, mesmo sendo este um embrião ainda.40
de uma nova vida humana,
aborto, onde ele cita duas
: _:~~,J 51.5. Com base nestas duas
~: o início da vida humana, visto
~"J momento da concepção, e Jó
• :·j:O.J6
(>
O momento do encontro entre Isabel e Maria, mãe de Jesus, registrados
no
Evangelho de Lucas (Lc 1.41), nos mostram que já havia vida plena no útero de
Isabel. O mais interessante; no entanto, é que o evangelista utilizou a palavra grega
{3pÉq;oç para registrar a referência
de Isabel ao fruto do ventre de Maria.
FC OS 1,7.
CM 1I,3I.
39 WARTH,
op. cit., p. 7.
40 KIONER,
Oerek. Psalms 73-150 - a
Oowners Grave, Inter- Varsity, 1973,
" FULLER, Russel. Exodus 21 :22-23:
the Fetus. Journal of the Evangelical
184.
37
38
_ : ::Y ANO CHURCH
p. 10·1.
RELATIONS
OF
Commentary. In: Tyndale Old Testament Commentaries.
p. 466.
The Miscarriage Interpretation and the Personhood of
Theological Sociei)', 37 (2) :169-84, jun. 1994, p. 169-
175
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Arthur Just, em seu comentário de Lucas, ressalta que esta palavra grega é
usada para bebês antes e após o nascimento. A Escritura testifica assim, não fazendo distinção dos termos, que uma criança, mesmo antes de nascer é uma pessoa
humana de maneira completa, e a santidade da vida humana presente desde o momento da concepção.42 (3pÉc/!OC; pode ser traduzida também por embrião em referência a uma criança que ainda não nasceu.43
criação continuada de DeI';'.
Cristo comprou o ser hum2I~.~ .:._
Ressaltando a import2,,~:':: sal, como fundamental na \':::. :.,:,,:'"
Mais importante ainL .::.de que Deus viveu eT;'. -c: _. os seus momentos i:-c::::::
temos diante de Deu: _"
apresentamo-nos ceIT. ::-
Em seu parecer oficial sobre o aborto, a Lutheran Church- Missouri Synod reafirma que todo ser humano é valioso porque Deus o valoriza. A criança antes de seu
nascimento, como qualquer outro ser humano em todos os seus estágios de desenvolvimento, é feito à imagem de Deus, feito para a vida com Deus, para responder em
amor e obediência à misericórdia c graça divina.44
o Dr. Robert Kolb, professor de Sistemática do Concordia Seminary - Saint Louis,
ressalta três aspectos importantes ligados à dignidade da vida humana, estabelecidos
pela doutrina da criação: a minha própria dignidade como cllatura de Deus, visto que a
cliatura humana é colocada em destaque no projeto de Deus para o universo; a doutrina da cliação estabelece também a base para a re-cliação, pois o ser humano é cliado
novo à imagem da Palavra que, como imagem do Deus invisível, criou todas as coisas
e reconcilia todas as coisas trazendo paz no sangue derramado na cruz; e por último, a
cllação estabelece a dignidade de todas as outras cliaturas humanas, por causa da
dignidade que Deus tem colocado na vida de cada um, exigindo total amor e cuidado
de uns pelos outros dentro de uma humanidade comum.45
A Lutheran Church-Missouri Synod, através de uma Comissão especial sobre a
santidade da vida humana, afirma clara e publicamente que a vida humana é reconhecida por Deus e objeto de seu amor em qualquer estágio de seu desenvolvimento ou consciência, pois ela não é uma realização ou conquista, mas um dom concedido por Deus. Por isto, ninguém a quem Deus tenha criado e por quem Jesus Cristo
morreu, é desprezível por qualquer motivo que seja.46
Helmut Thielicke, em sua obra que trata da ética na sexualidade humana, fala de
uma dignidade da vida humana qu'e não é intrínseca, não pertence ao homem, mas
lhe é alheia, atribuída por Deus a ele. Isto se expressa no fato de que os esforços e
feitos humanos não têm valor diante de Deus, senão aquela dignidade que provém
do amor sacrificial do próprio Deus por nós. Sendo assim, Thielicke ressalta que a
vida humana, desde sua origem, torna-se sagrada não só por causa da ordem da
JUST, Arthur A. ]r. Luke 1: 1-9:50. 1n: Concordia Commentary. Saint Louis, Concordia,
1996, p. 72-3.
4.J
BROWN, Colin, ed. Dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo,
Vida Nova, 1981. VI, p. 548.
44 Abortioll
ill Perspective, op. cit., p. 27-8.
45 KOLB,
Robert. The Christiall Faith. Saint Louis, Concordia, 1993, p. 58-9.
46 That They May Have Life.
(THE PRESIDENT'S
COMISSION ON THE SANCTITY OF
LIFE - LUTHERAN CHURCH-MISSOURI
SYNOD), p. 1.
42
176
sa vida foi atingida p::'
boa razão teológic8. ~.:.
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isto leva a escolher a presen ::~::ta dentro da ética bíblica e cr,.::
A MANIPULAÇÃO DE EMBPJÔ
IN VITROÀ LUZ 0.,)
A explicação do quinto ::.
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livre de perseguição e tranqt:. que este mandamento envoh" .:..:.~.
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47
48
49
50
51
THIELICKE,
op. cit., p. ::
MEILANDER,
op. cit., p . .:
WEISE, op. cit., p. 9.
Cm I, 10.
CM I, 185.
_
•
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
criação continuada de Deus, mas também por causa da ordem da redenção, quando
Cristo comprou o ser humano de volta para Deus.47
que esta palavra grega é
~ra testifica assim, não fazen:cretesde nascer é uma pessoa
::::-"Jmana presente desde o mo--têm por embrião em referên;:C:::l
Ressaltando a importância da obra da redenção em Cristo e seu caráter universal, como fundamental na valorização da vida humana, Gilbert Meilander afirma:
Mais importante ainda, ao menos para o cristão, é o ensinamento cristológico
de que Deus viveu em Jesus de Nazaré e redimiu toda a vida humana, desde
os seus momentos iniciais até a morte que nos aguarda a todos (...) Não
temos diante de Deus quaisquer direitos ou realizações de que nos gabar;
apresentamo-nos com confiança diante dele unicamente porque toda a nossa vida foi atingida pela morte e ressurreição de Jesus. Temos, portanto, uma
boa razão teológica para defender a continuidade da vida desdc os seus
primeiros momentos até o último suspiro.48
- C:1Urch-Missouri Synod reafir, , c.lJriza. A criança antes de seu
, :::JS os seus estágios de desen::'2 :: om Deus, para responder em
~-r,::ordia Serninary - Saint Louis,
___c ja vida humana, estabelecidos
: -r-,o criatura de Deus, visto que a
, :: Deus para o universo; a doutri:,~ão,pois o ser humano é criado
invisível, criou todas as coisas
- _, :i c'-:-amadona cruz; e por último, a
; ::-:',aturashumanas, por causa da
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=-
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r,~m,45
:i: 'lma Comissão especial sobre a
-'.ente que a vida humana é reco::_-:: estágio de seu desenvolvimen, • :onquista, mas um dom conce, .,.'c.criado e por quem Jesus Cristo
, :, "a sexualidade humana, fala de
-:::c.,nso pertence ao homem, mas
::: :; 5a no fato de que os esforços e
, :': aqucla dignidade que provém
:- :i: assim, Thielicke ressalta que a
.c. "ão só por causa da ordem da
-':ínentary.
Saint Louis,
,ia do Novo Testamento,
Concordia.
o Batismo é o momento em que Deus coloca sua marca no homem e lhe dá uma
uma nova identidade que vai além de sua carga genética, por causa da justiça de
Deus por graça através da fé por causa de Cristo. Esta afirmação do Df. Robert
Wcise está diretamente conectada com o conceito de dignidade alheia da vida
humana, uma vez que Cristo ordenou o Batismo a todas as criaturas, conectando
assim a ordem da criação com a ordem da redenção.49
A obra da criação e da redenção são portanto a base da dignidade humana
diante de Deus e atribuída pelo próprio Deus, que dá o status de sagrado à vida
humana. Esta valorização do ser humano, mesmo nos momentos iniciais logo após
sua concepção, quando ainda no período embrionário, é testificada pelas Escrituras
Sagradas, pelas Confissões Luteranas e encontra apoio na ciência também. Tudo
isto leva a escolher a preservação ao invés da manipulação como uma atitude coneta dentro da ética bíblica e cristã.
A MANIPULAÇÃO DE EMBRIÕeS NA TÉCNICA DE FERTILlZAÇÃO
IN VITROÀ LUZ 00 QUI!\'TO MANDAMENTO
A explicação do quinto mandamento no Catecismo Menor de Martinho Lutero
alerta não apenas contra o homicídio, mas também para a responsabilidade da preservação da vida do próximo. 50
No Catecismo Maior, Lutero amplia essa visão: "que cada um esteja protegido,
livre de perseguição e tranqüilo quanto à maldade e violência dos demais, e quer
que este mandamento envolva o próximo como muro, fortaleza e asilo sagrado, para
que nenhum mal ou dano se lhe cause no corpO."51
São Paulo.
47
48
~c,:Jrdia,
1993, p, 58-9.
= ='-lISSION
ON THE SANCTITY
1.
49
OF
50
SI
THIELlCKE,
op. cit, p. 231.
MEILANDER,
op, cit, p, 47,
WEISE, op. cit, p, 9,
Cm r, 10,
CM I, 185.
177
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
o Dr. Warth
Lutero vê a necessidade de proteger a vida humana não apenas proibindo o
homicídio, mas preservando-a de qualquer perigo ou dano e evitando a possibilidade do homicídio: "Porque onde se proíbe matar, aí se proíbem, outrossim, todas as
causas que possam dar origem ao homicídio."52
em laboratório, afirmando q:.:~:; .
ou pessoas humanas, levam,,:.::' _
to: Não matarás.57
alerta contE, .::::0:
A utilização e o consentimento com o uso de qualquer meio que crie situações
de risco à vida humana também é condenado pelo reformador: "que não usemos
nem consintamos nenhum meio ou procedimento com que se possa maleficiar al-
A questão da criopreser·::,::'.: _
próprias clínicas de reprodu;::'
sobrevivem ao processo de :::-. ~~ __
guém."53
A vida humana merece e deve ser preservada pois ela é muito valorizada e
estimada por Deus, por causa da sua obra de criação e redenção. E esta valorização
e dignidade se estende a qualquer estágio de desenvolvimento da vida humana,
inclusive o estágio embrionário, logo após a concepção.
o Dr. Lejeune também se :-:-.::'
- -_':
pois estes estão totalmente ,j~::-~:__.:- .:
da pessoa que supervisiona c .:- ..; c
com uma fortaleza segura. afu-:::-_::.:-.::': ::
digno para abrigar uma nO\2' ~
Partindo deste ponto de vista, o embrião humano inclui-se no rol daqueles que
devem ser preservados de acordo com a explicação e aplicação do quinto mandamento.
o teólogo americano Se:': R.
da, acrescenta que um proble:-:-.::::-:-:que os embriões congelados "i'.: :
nati vas seriam destruir os em t·i. o e •
A técnica da FIV pode ser altamente questionada então, visto que cria situações
de risco para a vida humana, em que efetivamente há uma possibilidade grande de
perda de óvulos fecundados no processo de manipulação. Além disso, há a prática
comum de se destruir embriões se eles parecerem anormais. Existe ainda a
los para outros casais infértei, :._
avaliada do ponto de vista tece c;. _.
hiperfertilização, quando são fertilizados muitos óvulos simultaneamente,
alguns selecionados para implantação e outros descartados.54
sendo
Por esta causa, a DivisãO' ~::.::. recomenda que todos os 6\:.:1_:
destruídos, mas voltem para: ..>:
O uso da técnica de FIV nas clínicas de reprodução assistida prevê como uma
Mas esta solução também ~ :: . : .::
não se implantarão e serão des.::.-- - c
tas vezes no processo natural de .:- - . ei
tece em conseqüência da mani;:-',:::. '.
dade humana sobre o uso da FI',,'
das etapas anteriores à implantação dos embriões, a chamada seleção de embriões
através de uma biópsia e um diagnóstico genético do embrião. A partir de então, os
embriões que tenham em sua carga genética alguma probabilidade de doenças
cromossômicas conhecidas, são descartados, selecionando-se apenas os embriões
mais viáveis.5ó
Uma das conseqüências da Fl'·
ção em conseqüência do númer:: e e:-:
problemas como nascimentos r:.:.
de ocasionar por vezes uma gr::-:::e - j
Os riscos, ainda que pequenos, mas existentes, de perda de vidas humanas pela
mal formação dos embriões durante a FIV, e o uso desta técnica mesmo estando-se
consciente deste risco, é questionável a partir da ética cristã.55
CM 1,186 .
CM I, 188.
" ANDERSON.
\2
j7
'.1
.\8
frozen embryos?",
op. cit., <<http://bsf.bib]e,org/galaxie/journals/samp1e/bibsac/8594/86a.6.htm>>
178
outubro
199~
10/98).
(10/07/98).
" RAMSEY. Paul. On In Vitro Fertilization. In: LAMMERS, Stephen E. e VERHEY, Allen. ed.
Dn Moral Medicine - Theologica! PersfJectives in Medica! Ethics. Grand Rapids, WiJliam B.
Eerdmans,
]989, p. 340-l.
56 "Diagnóstico
Genético de Pré-Implantação".
PROFERT - Reprodução Assistida, outubro
1998. <<http://www.profert.com.br/diagnost054.htm>>
(23/1 0198).
WARTH, op. cit., p. 6-7.
1995 ART FERTILITY CLI'\IC
59
60
LEJEUNE, op. cit., p. 129.
RAE. ScoU B. "Brave New Fer·._
textlcri/cri-jrnl/web/crjO
125a.h:,.,..
111 Vitm Fertilization,
op. cit..
62 GREENHALGH,
Laura et a1ii.. -", 61
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
- c
; :-:-,ananão apenas proibindo o
.~dano e evitando a possibilida_. o~proíbem, outrossim, todas as
o Dr, Warth alerta contra a destruição consciente de embriões na manipulação
em laboratório, afirmando que isto significa a manipulação ou eliminação de vidas
ou pessoas humanas, levantando uma pergunta muito séria diante do 5° mandamento: Não matarásY
:~}lquer meio que crie situações
reformador: "que não usemos
~:m que se possa maleficiar al-
A questão da criopreservação dos embriões também é problemática, pois as
próprias clínicas de reprodução assistida alertam que alguns dos embriões não
sobrevivem ao processo de congelamento e posterior descongelamento.58
::..: pois ela é muito valorizada e
, '.: e redenção. E esta valorização
:écenvolvimento da vida humana,
- ~epção.
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- .'. de perda de vidas humanas pela
_, " desta técnica mesmo estando-se
ética cristã.55
.'dução assistida prevê como uma
'éo. a chamada seleção de embriões
~, do embrião. A partir de então, os
Jguma probabilidade de doenças
é:ecionando-se apenas os embriões
o Df. Lejeune também se manifesta contrário à criopreservação de embriões,
pois estes estão totalmente dependentes do aparato tecnológico e da boa vontade
da pessoa que supervisiona o congelamento. Ele então compara o útero materno
com uma fortaleza segura, afirmando que o mesmo é o único lugar verdadeiramente
digno para abrigar uma nova vida humana.59
o teólogo americano Scott Rae, num artigo sobre a ética na reprodução assistida, acrescenta que um problema importante em relação à criopreservação é o fato de
que os embriões congelados não podem ficar estocados indefinidamente, e as alternativas seriam destruir os embriões, usá-los para experimentação científica ou doáIas para outros casais inférteis, numa nova forma de adoção que teria de ser melhor
avaliada do ponto de vista teológico e legal. 60
Por esta causa, a Divisão para Estudos Teológicos da Lutheran Council USA
recomenda que todos os óvulos fertilizados não sejam criopreservados
nem
destruídos, mas voltem para o útero da mãe.61
Mas esta solução também é problemática, pois um maior número de embriões
não se implantarão e serão descartados pelo organismo da mãe. Isto acontece muitas vezes no processo natural de concepção também, mas no caso da FIV, ele acontece em conseqüência da manipulação dos embriões, o que acarreta a responsabilidade humana sobre o uso da FIY.
Uma das conseqüências da FIV que tem-se tornado comum é a múltipla gestação em conseqüência do número de embriões implantados. Isto aumenta o risco de
problemas como nascimentos prematuros e bebês com seqüelas neurológicas, além
de ocasionar por vezes uma gravidez de alto risco.62
57
58
- . ,urnals/sample/bibsac/8594/86a.6.htm»
WARTH, op. cit., p. 6·7.
1995 ART FERTILlTY
CLlNIC REPORTS. "What are the suceess rates for ART using
(231
frozen embryos?", outubro 1998. <<http://www.ede.gov/necdphp/drh/arts/section3.htm>>
10198) .
. ::::RS, Stephen E. e VERHEY, Allen, ed.
',:!lcal Ethics. Grand Rapids, William B.
c ~_-1::RT- Reprodução
(23/1 0/98).
Assistida,
outubro
LEJEUNE, op, cit., p. 129,
'0 RAE, Seott B. "Brave New Families?", julho 1998. <<http://www.iclnet.org/pub/resources/
text/cri/cri-jrnl/web/crjO
125a.html» (15107/98).
" [n H'tra Fertilization, op. cit., p, 31.
ó2 GREENHALGH,
Laura et alii, A Fábrica da Vida. Revista Época, 1 (9) :40·6, jul. 1998, p. 46.
59
179
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
Este é outro peligo para a vida humana provocado pela manipulação dos embriões na FIV
o uso da técnica de fertilização in vitm torna-se assim, por causa da manipulação dos embriões humanos e suas possíveis e muitas vezes inevitáveis conseqüências, algo extremamente questionável, pois coloca em risco a vida humana e por
vezes seu uso consente com o homicídio, sendo assim uma atitude contrária ao que
Deus prescreveu como sua vontade no quinto mandamento.
ELEMENTOS ~
LUTERANA
~
IGREJA E SACRAMENTO
CONCLUSÃO
Não há como negar quão impressionante é o avanço científico humano em todas
as áreas, especialmente no campo da medicina. Os grandes avanços e descobertas
na área da reprodução humana assistida em laboratório, especialmente após o êxito
da técnica da fertilização in vitm, são igualmente espantosos.
Os dois pontos fundamentais de questionamento ético analisados neste trabalho,
a saber, os contrastes entre a visão bíblica de procriação e da origem e dignidade da
vida humana, e os conceitos científicos de reprodução humana e de pré-emblião, nos
levam a concluir que há sérias razões para casais Clistãos optarem por não usar a
técnica de fertilização in vitm, especialmente quando tais problemas éticos são confrontados com a vontade divina expressa no primeiro e no quinto mandamentos.
«Mais um livro sobre ecleSlc:- _
Wolfhart Pannenberg não é exa:2--:-.
=- ._
to na teologia européia e amer:~-destaca em sua identidade própr.:-'.~obra sistemática que se propõe 2.:
que já é assaz surpreendente eI :-,Ademais, a fé cristã não é ali sC:"c-de um sistema, um sistema epis:=:científico e filosófico. Sim, Pa:-"c- ==-i
sistema teológico. Sistema 21.1T:-'.2.
sintetizado na mais recente «de;::: c .
volume dedicado inteiramente:: :,.
pesso dos três, com suas quase s=:=.--.-lhado em notas de rodapé. As'_:
esperança-amor, Igreja, sacrarr,e:-.:_.
A Palavra de Deus é bem clara ao estabelecer a procriação humana no contexto
da união de uma só carne dentro do matrimônio ordenados e abençoados por Deus
desde o início da humanidade. Qualquer tentativa de reprodução humana que
desvincule procriação desta união de uma só carne está se desviando da orientação
divina e torna-se idolatria, ao colocar o desejo da auto-realização através da paternidade biológica antes da obediência e confiança no Senhor.
Estudo científico, dizia eu. E;
atrás de si. Mainz, Wuppertal. E= principais, sem citar suas estad.--c:'--~ periência, eu também dizia. Ref: --:um livro com sermões, Gegen,:;=
no. Publicou reflexões sobre ='::_-
Da mesma forma, o uso de uma técnica de reprodução assistida que manipula e
coloca em risco vidas humanas que, segundo a revelação bíblica, são valorizadas e
amadas por Deus em qualquer estágio de seu desenvolvimento, está se colocando em
franca oposição ao quinto mandamento que proíbe qualquer espécie de atentado à
vida e ordena preservar em vez de manipular.
publicando sobre o pastoreio d-'.= 5
Mas, do ponto de vista da ética cristã, os fins nem sempre justificam os meios, e
é necessário, antes de celebrar tais avanços científicos e fazer uso deles para auxiliar
casais cristãos inférteis, analisar alguns aspectos importantes relativos à técnica a
partir de uma ótica bíblica e cristã.
A realidade da infertilidade certamente não é agradável, muito menos insignificante, e casais cristãos também sofrem por causa dela, Mas, como Deus mesmo o instituiu,
o matrimônio não depende da procriação para se tornar completo, feliz e abençoado. A
procriação não é o único nem fundamental objetivo de uma união em casamento.
Certamente Deus abençoa de diversas e variadas formas também o matrimônio
de casais cristãos impossibilitados da paternidade biológica, sendo uma destas
formas a adoção, que não envolve questionamentos éticos de nenhum dos dois
pontos éticos levantados.
180
Manfred K. Zeuch. Doutor E'
pmfesso/; Coordenador de PE'.
LlIlerana do Brasil, Cal1oGS..
Faculdade de Teologia do Se
um artigo anteriormente
r::-1996, pp. 77-90. A versão "'::,'
I Wolfhart Pannenberg, SYEE-tradução em inglês foi CO[2:;'::':
2
c
Em 1998 publicou por exemplG = _ ,_
in Zeitweruie 69, 1998, 13-25: ~ __;:c_~.
- Communion. Essais ill Ruw"
-«Die lutherische Tradition u:~ _..:--:
Primato de! Successore Die:, F
Vaticano: Libreria Editrice \s..:::,--.:
igreja e ministérios de unid:;~:: =.: -, - Strasbourg». Vox Concord,c;:.:
_-:
:-
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
"::'.,cnipulaçãodos embriões na HV.
e ""sim, por causa da manipula, 'ezes inevitáveis conseqüên,: =:TIrisco a vida humana e por
::~1uma atitude contrária ao que
_J.mento.
ELEMENTOS DE UMA ECLESIOLOGIA
lUTERANA
CONTEMPORÂNEA:
IGREJA E SACRAMENTOS
EM WOlFHART
PANNENBERG
Manfred Krespsky Zeuch
,:':,0 científico humano em todas
~' ,::randes avanços e descobertas
c "lO, especialmente
após o êxito
~spantosos.
- e"n sempre justificam os meios, e
: os e fazer uso deles para auxiliar
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~, auto-realização através da pater_:: no Senhor.
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,::":idável,muito menos insignifican\las, como Deus mesmo o instituiu,
'nar completo, feliz e abençoado. A
: de uma união em casamento.
_~:2das formas também o matrimônio
'_~:lde biológica, sendo uma destas
,-~~entos éticos de nenhum dos dois
«Mais um livro sobre eclesiologia»? O terceiro volume de Systematische Theologie1de
Wolfhart Pannenberg não é exatamente isto. Na abundância literária que aborda o assunto na teologia européia e americana das últimas décadas este livro de Pannenberg se
destaca em sua identidade própria por pelo menos duas razões: primeiro faz parte de uma
obra sistemática que se propõe a tratar o conjunto global da fé cristã, em três volumes, o
que já é assaz surpreendente em nossa época. Rara coragem de se expor assim ao risco.
Ademais, a fé cristã não é ali somente tratada de maneira sistemática, mas exposta dentro
de um sistema, um sistema epistemológico bem particular, um sistema de pensamento
científico e filosófico. Sim, Pannenberg propõe à comunidade acadêmica mundial um
sistema teológico. Sistema amadurecido em quarenta anos de estudo e experiência, e
sintetizado na mais recente «dogmática». Surpreende também por ser o terceiro e último
volume dedicado inteiramente a assuntos de eclesiologia, sendo além disso o mais espesso dos três, com suas quase setecentas páginas de texto miúdo e amplamente trabalhado em notas de rodapé. Assuntos de eclesiologia são: ação do Espírito Santo, féesperança-amor, Igreja, sacramentos, ministério(s), escatologia.
Estudo científico, dizia eu. Este teólogo tem uma brilhante carreira universitária
atrás de si. Mainz, Wuppertal, Heidelberg, e especialmente München são os marcos
principais, sem citar suas estadas em universidades americanas como convidado. Experiência, eu também dizia. Refiro-me ao viver a Igreja, ao dialogar na Igreja. Publicou
um livro com sermões, Gegenwart Gottes (=presença de Deus), traduzido para o italiano. Publicou reflexões sobre espiritualidade cristã, sobre viver o sacramental. Está
publicando sobre o pastoreio da Igreja, a questão ecumênica dos ministérios.2 Esteve
Manfred K Zeuch, Doutor em Teologia Protestante (Universidade
de Strasbourg, França) é
professO/; Coordenador de Pesquisa do Centro de Teologia e Assessor de Teses na Universidade
Luterana do Brasil, Canoas, RS, e professor convidado no curso de mestrado em teologia da
Faculdade de Teologia do Seminário ConcÓrdia, Este estudo retoma, numa revisão e ampliação,
um artigo anteriormente
publicado,
em português.
na Caesura (ULBRA), n° fi, jan./jun.
1996, pp. 77-90. A versão anterior foi publicada também na França, Alemanha e Argentina
1
2
Wolfhart Pannenberg, Systematische
Theologie, voI. 1-3. Gbttingen, 1988, 1991, 1993. A
tradução em inglês foi concluída e publicada em 1997, em Grand Rapids (Eerdmanns).
Em 1998 publicou por exemplo: <<EvangelischeÜberlegungen zum Petrusdienst des rbmischen Bischofs»,
in Zeitwende 69, 1998, 13-25; <<Lutheransand Episcopy», in Colin Podmore (ed): COlllmunity - Unity
- Cmnmunion, Essais in Honnor of Mary Tanner. Londres: Church House Publishing, 1998, 183-188;
«Die lutherische Tradition und die Frage eines Petrusdienstes an der Einheit der Christen», in II
Prima to dei Successore Dieu Pietro. Atti dei Simposio teologico, Roma, diciembre 1996, Città de!
Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1998, 472-475. Cfe. também meu artigo de 1995; «Unidade da
igreja e ministérios de unidade: Esperança ou utopia? Aspectos de um colóquio internacional em
Strasbourg». Vox Concordiana [Suplemento teológico], n° 2 (1995), pp. 58-71.
181
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
o «starting
sempre engajado nas discussões ecumênicas eclesiásticas e acadêmicas no mais
alto nível, tratando muitas vezes dos temas aqui citados.]
Pannenberg ocupa um lugar de destaque no mosaico teológico contemporâneo.
Indicou um novo rumo à teologia européia a partir de 1961,4 tanto pela sua
redescoberta e revalorização da ciência histórica para a hermenêutica teológica descreditada há muito nessa disciplina por causa da influência devastadora da
crítica iluminista - como pela sua impressionante interdisciplinaridade e disponibilidade em dialogar com outras ciências do espírito e com as ciências naturais. Desenvolve, no interesse da fé cristã, uma teologia «argumentativa», que tem por objetivo
re-descobrir a sua auto-consciência de então de ser a ciência por excelência, enquanto compreende a realidade sem excluir a «possibilidade Deus». Somente uma
ciência que «inclui» Deus é capaz de chegar a uma compreensão real e global do
existente.
Quanto ao nosso tema: os meios da graça, ou meios de salvação, fazem parte
constitutiva da Igreja, para Pannenberg, o que explica que o seu estudo esteja
incluído no capítulo da Igreja. Em sua visão histórica da revelação divina, Pannenberg
se decidirá pela apresentação mais rara na história da dogmática, que coloca a
eclesiologia antes da doutrina dos meios da graça e da apropriação individual da
salvação da parte daquele que crê.5
Pannenberg vê, com uma certa ala da teologia católica,6 a eclesiologia como
sendo uma variável do estudo do Reino de Deus, (Gottesherrschaft) uma vez que é
este Reino determina, por eleição (Erwiihlung), a história do povo de Deus enquanto «Israel» e enquanto «Igreja». A Igreja está em uma continuidade atual em relação
a IsraeL Nessa relação a Igreja é a comunidade escatológica - o que corresponde à
visão histórico-teológica geral de Pannenberg - e como tal, ela é um estágio mais
avançado no caminho da história da humanidade em direção ao seu cumprimento
totaL A Igreja é um sinal mais claro na antecipação do fim, mas não pode se separar
da sua continuidade veterotestamentária. Israel e a Igreja são elementos de uma só
e coerente história que está revelando Deus, até o dia em que, no fim, reinará de
maneira imediata.
i Panncnberg colabora ativamente no «círculo ecumênico de teólogos protestantes e católi·
cos», tendo contribuído, entre outros, para a série Lehrverurteilungen,
KirchenTrennend?,
vol. 1-4.
, com a publicação de Pannenberg, Wolfhart; Rendtorff, Rolf; Rendtorff, Trutz; Wilkens, Ulrich.
Offenbarung aIs Geschichte. (Kerygma und Dogma Beiheft). Giittingen, 1961', 19825[com um
prefácio novo)), traduzido em inglês: Revelation as History. (New York, 1968), edição inglesa:
(London, 1969), italiano (trad. da Ia 3' edição: Rivelazione come storia. (Bologna, 1969),
espanhol: La revelacion como historia. Caparros, Antonia, trad. (Salamanca, 1977).
5
6
Do lado protestante, Werner Elert, por exemplo, optara também por essa ordem de apresentação. Do lado católico, esta ordem foi seguida especialmente depois do concílio do Vaticano
lI, na dogmática coletiva Mysterium Salutis: J. Feiner et M. Liihrer, ed. Mysterium Salutis.
GrundriB heilsgeschichtlicher
Dogmatik, nos volumes 4/1 (1972) e 4/2 (1973).
Especialmente
com a assim chamada «escola de Tübingen», cf. Systematische
Theologie, 3,
p.38.
182
block» teolc~
Aquijá tocamos no::p,c~.=-ou estrutura da antecipaç2:.
chave, o princípio ou
Deus, da Trindade, de Cri,:ou antropológicas, como t:-é~~-:
enão forem vistas ou tratad::.' ; . :
sacramentologia se enqusj-.:.~
Fundamentalmente em':::.:.
e com a exegese bíblica cL:
conhecimento da realidade':
fim da mesma: é olhando ,,:c:.:. .
e a Igreja ilustram que o ILc" _
reinado final de Deus. O,.'. c'::
incorporado e antecipado. '.:
conhecer este fim, este esc":::, .
fim da história universal. bs;
que Deus tem com os home:,;:
ressurreição será geral. Se:'':::
decidirá sua situação diame:c _ ; _'
A compreensão globc:: "
Cristologia. A história, a te:2: .'_
endidas senão a partir de. c é~ .. '::
uma afirmação de seu tra[.'.
divindade de Deus realizo!.:· c::
Jesus de Nazaré, enquant.: ~...
dos os eventos.»1O
O conceito da proleps:: ::
e o presente, - dos dois
Gadamer, filósofo de He::L ~;~,:
contingente e particular TI.' ~.:.::
ser conhecido se não a
ção trata da relação entre.' ,_
7
Cf. Denis Müller. Parolé ,: ~. __
33, e Philip Clayton. «A~... __"
Pannenberg.
Carl Braa:e~, ::: "
R.D. Pasquariello, «Panr:ô:. co:,; .
(1976), pp. 338·347.
Cf. Clayton, op. cil. p. l>
Tratei este assunto em ..._.
Pannenberg».
Igreja L.'(
10 Offenbarung
ais GescU:
8
9
Igreja Luterana
o «starting
:"·.i~as e acadêmicas no mais
.. ' : teológico contemporâneo.
:ir de 196I,4 tanto pela sua
. ~3. a hermenêutica teológica _ ~., influência devastadora da
c iisciplinaridade
e disponibili: _:':1 as ciências naturais. Desen_::Hativa», que tem por objetivo
: - J. ciência por excelência, en'-ilidade Deus». Somente uma
. ~Jmpreensão real e global do
.:10S de salvação, fazem parte
::,lica que o seu estudo esteja
'.J. revelação divina, Pannenberg
. -:J. da dogmática, que coloca a
.: ~ : da apropriação individual da
~atólica,6 a eclesi010gia como
~]ttesherrschaft) uma vez que é
.=.o:ória do povo de Deus enquan_~-.3.continuidade atual em relação
. ;": :,tológica - o que cOlTesponde à
_ . ~'mo tal, ela é um estágio mais
_:: ::11 direção ao seu cumprimento
ia fim, mas não pode se separar
:, Igreja são elementos de uma só
jia em que, no fim, reinará de
:: de teólogos protestantes e católi'.'Temrteilungen,
Kirchentrenllelld?
~.,:,jf; Rendtorff, Trutz; Wilkens, Ulrich.
~dt). Gottingen, 19611, 1982S[com um
(New York, 1968), edição inglesa:
.•:Iolle come storia. (Bo1ogna, 1969),
~ia, trad. (Salamanca, 1977).
c::. também por essa ordem de apresen- : _.:.;:nente depois do concílio do Vaticano
=, c: et M. Lohrer, ed, Mysterium
Salutis.
-,' -'-/1 (1972) e 4/2 (1973).
. _: .:.gen», cf. Systematische Theologle, 3,
c
o
- N° 2 - 1999
block» teológico
Aquijá tocamos no epicentro do pensamento teológico de Pannenberg. É a temia
ou estrutura da antecipação, ou prolepse, no termo técnico. Ela é considerada como a
chave, o princípio ou impulso subjacente de sua teologia.? Tanto a sua concepção de
Deus, da Trindade, de Cristo, da ressurreição, ou suas considerações mais filosóficas
ou antropológicas, como também metodológicas e hermenêuticas, não têm sentido se
não forem vistas ou tratadas sob o aspecto da prolepse.8 Também a sua eclesiologia e
sacramentologia se enquadram nessa estrutura de pensamento.
Fundamentalmente em diálogo crítico com a filosofia (Hegel, Dilthey, Heidegger)
e com a exegese bíblica do Antigo e do Novo Testamento, o teólogo conclui que o
conhecimento da realidade da história (individual e global) só pode ser atingido no
fim da mesma: é olhando para trás que se compreende o sentido de uma vida. Israel
e a Igreja ilustram que o mundo caminha dentro de uma história que culmina com o
reinado final de Deus. Ora, Jesus Cristo não pode ser senão este momento final
incorporado e antecipado. No Cristo ressurreto Deus antecipou o fim, e nos dá a
conhecer este fim, este eschaton, por antecipação. Para conhecermos o objetivo e o
fim da história universal, basta olharmos para Jesus Cristo reSSUlTeto.Esta é a meta
que Deus tem com os homens: viver na comunhão com eles numa nova realidade. A
ressurreição será geral, sendo que na postura do indivíduo diante de Jesus se
decidirá sua situação diante de Deus.9
A compreensão global da prolepse está, pois, intimamente ligada à sua
Cristologia. A história, a totalidade da realidade, e a teologia não podem ser compreendidas senão a partir de, e em Jesus Cristo em sua vida, morte e ressurreição. Cito
uma afirmação de seu trabalho programático de 1961: «A revelação universal da
divindade de Deus realizou-se, não na história de Israel, mas somente no destino de
Jesus de Nazaré, enquanto nesse destino irrompeu, antecipadamente, o fim de todos os eventos.»10
O conceito da prolepse é uma tentativa de descrever a relação entre o passado
e o presente, - dos dois «horizontes», como Pannenberg o compreende segundo
Gadamer, filósofo de Heidelberg . e o futuro, bem como a relação entre o que é
contingente e particular no passado e o sentido de toda a realidade, que não pode
ser conhecido se não a partir do futuro, também aberto e contingente. A antecipação trata da relação entre a parte e o todo, na história universal. Jesus Cristo é o
Cf. Denis Müller. Parole el Hisloire. Dialogue avec IVoifhart Pannenberg. Genebra, 1983, p,
33, e Philip Clayton. «Anticipation and Theological Method», in The Theology of Woifhart
PannenberR. Carl Braaten et Philip Clayton, ed. Minneapolis,
1988, pp. 122-152 (128), e
R.D. Pasquariello, «Pannenberg's philosophical foundations»
in The Joumal of Religion 56
(1976), pp. 338-347.
, Cf. Clayton, op. cit. p. 128.
Y Tratei
este assunto em «A salvação universal e a escatologia no pensamento de Wolfhart
Pannenberg».
Igreja Luterana, voi. 56, n° 1 (7/1997), pp. 39-58 .
10 Offenbarung
ais Geschichte, p. 103.
7
183
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
evento particular significativo no qual o todo da realidade foi antecipado. Ele é a
irrupção proléptica do fim, no curso da história da humanidade. A prolepse encontra-se, então, numa tensão entre o já, e o ainda não. A batalha final já foi travada,
mas o armistício ainda está por vir, conforme uma expressão do recém-falecido e
grande Oscar Cullmann, ex-professor em Strasbourg e na Basiléia.ll
O conceito de antecipação de Pannenberg não tenciona servir à filosofia, e também
não deriva-se simplesmente de suas leituras filosóficas - mesmo se ele é um dos teólogos que mais intensamente dialogaralll com a filosofia - mas tenciona antes expressar
a estrutura fundamental deste evento (considerado historicamente verificável, aliás!)
central do clistianismo, a saber, a ressurreição de Jesus Cristo. 12 O conceito da unidade
da história, e de sua antecipação a partir do fim, não é novo. Começou já com Hegel.
Mas ele não ultrapassava, no pensamento hegeliano de filósofos como Dilthey e
Heidegger, o muro ou abismo intransponível da finitude humana, a morte. Pannenberg
escreveu em 1967: «O conceito de Heidegger, segundo o qual a totalidade do ser não
pode ser obtida ou compreendida senão a partir de uma antecipação que corresponda
ao primado do futuro sobre a temporalidade [...] precisa somente ser livrado do erro de
querer compreender a totalidade do ser a partir da morte. A consciência do caráter
inevitável da própria morte pode despertar no ser humano a seriedade da questão pelo
seu destino, mas não pode ela mesma ser o conhecimento do destino último do homem,
que constitui o todo do ser.»13Neste caso, o destino último do ser é o nada. O nihil.
Mas o «não-ser» não é um destino que faça sentido. É antes uma «ameaça», como dizia
Paul Tillich. Pannenberg atravessa o impasse filosófico, e vai achar o fim e o sentido
além desse muro ou abismo ameaçador. O fim e o sentido de toda realidade humana são
dados naquele evento que ultrapassa a morte, e no qual o ser humano encontra o seu
destino, e o sentido da história universal: a ressurreição da morte e a chegada do
reinado imediato e universal de Deus.
A Igreja e os sacramentos indicam
antecipadamente o Rein(ad)o de Deus
A prolepse determina, assim, igualmente a visão dc Pannenberg da Igreja e sua
relação com o Reino de Deus. A essência da Igreja, bem como seu destino ou o seu
alvo, estão estreitamente ligados à noção de Reino de Deus.14 Essa relação se
" Amold, Matthieu. <<In Memoriam Oscar Cullmann. (25 février 1902·16 janvier 1999).
L'exégese du Nouveau Testament au service de Ia Théologie». Positions Luthériennes,
47e
année, n01 (Janvier-Mars
1999), p. 5. Abordo a diferença entre Pannenberg e Cullmann
neste particular na minha tese de doutorado: Signes du Royaume de Dieu. L'Eglise
et les
sacrements
dans Ia théologie de Wolfhart Pannenberg
(Strasbourg,
1997, 423 p. Lille·
Theses, 1998, microficha),
p. 42.
" como bem o resume Clayton, op. cit. p. 129.
13«Über historische und theologische Hermeneutik», in Grundfragen Systematischer Theologie.
Gesammelte
Aufsatze, vol. 1. Gottingen, 1967', pp. 123·158 (146-147).
14Cf. «Die Kirche und das eschatologische Gottesreich», in W.Pannenberg, C.Braaten, A.Dulles.
Kirche ohne Konfessionen?
H-J.Pesch,
trad. München,
1971, pp.119-135
(119) c W.
Pannenberg, Thesen zur Theologie der Kirche. München, 1970, p.9.
184
compreende, no seu pen,::::. =_ ..
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no Reino de Deus». Esta cr.-essência em seu destine é.'.
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17Ibid. p.272.
181bid.
" Ibid. p.323s.
Ibid. pp 317.
20
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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compreende, no seu pensamento, quando se toma em consideração a sua «ontologia
escatológica»15: A Igreja é chamada a ser «a antecipação da sociedade consumada
no Reino de Deus». Esta ontologia escatológica significa que o ser (ontos) tem sua
essência em seu destino (eschaton). A Igreja é a «representação provisória do
Reino de Deus».16 Seu ser consiste em representar o destino final da humanidade já
agora, Nesta representação a Igreja é sinal. Em laços intelectuais estreitos com
Agostinho, Pannenberg incorpora em sua eclesiologia intensamente o conceito de
Zeichen, sinal.
E os sacramentos? Também no batismo existe a estrutura ontológica da antecipação. Vejamos: no batismo a morte futura do batizado é antecipada (zeichenhaft
vonveggenommen) pelo fato de ser ali o indivíduo associado à morte de Cristo. Esta
participação na morte de Cristo lhe dará igualmente a certeza de que ele participará
também, doravante, da vida de ressurreição de Cristo, pelo que o Santo Espírito lhe
é dado como garantia. Vemos aqui o «starting bloch do programa teológico de
Pannenberg: Se a revelação é a história, então é a partir do fim da história, do seu
cumprimento, que se poderá compreender a unidade do percurso histórico. É o que
acontece no caso do batismo. 17A participação na morte de Cristo, ou o sepultamento com Cristo pelo batismo, é o fundamento da relação do batismo com o caminho da
vida do cristão, como já pode ser percebido pelo seu cumprimento final, futuro. Em
outras palavras: a história da vida do cristão entre o batismo e a morte é a
concretização histórica do evento proléptico do batismo: morte e ressurreição. A
vida cristã, então, não será outra coisa do que um processo contínuo dc «morte com
Cristo», no qual todavia a presença do Espírito Santo garante a realidade da nova
vida de ressurreição no cristão. I! O batismo é, assim, constitutivo ao ser da Igreja.
_:-:::~ão da morte e a chegada do
:.JS
ie Pannenberg da Igreja e sua
em ,como seu destino ou o seu
.." de Deus.14 Essa relação se
=
:5 février 1902-16 janvier 1999).
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,:~:;,aentre Pannenberg e Cullmann
?"\'Gume de Dieu. L'Eglise
et les
Strasbourg,
1997,423
p. Lille-
Semc1hantemente acontece com a santa ceia. Como no caso do batismo, ela é
constitutiva para o ser da Igreja.19 A Igreja é, na qualidade de comunidade que
celebra a ceia do Senhor, um sinal e um instrumento do destino escatológico da
humanidade. Esse destino é a participação do homem no Reino de Deus no eschaton.
A tradição apocalípticajudaica, que via o futuro da comunhão no Reino de Deus na
imagem do banquete, é um sinal, na história, que permite reconhecer este destino
último, e que se confirma no comportamento e na prática de Jesus,20 a saber, na
comensalidade que praticava com os pequenos e excluídos. Esta comensalidade
recebeu, no entanto, uma dimensão totalmente nova na última ceia, - a eucaristia - na
qual os seus discípulos tomaram parte na sua vida e morte. Vejamos a seguir alguns
pontos mais detalhados quanto à Igreja e os sacramentos.
cr M.E.Brinkmann. «De plaats van de Kerk in w.Pannenbergs
Theol. Tijdschriji, 1 (1978), pp.31-41 (35).
ló Systematische
Theologie 3, p.385 .
!7 Ibid, p.272.
I' Ibid.
15
-:dfragen Systematischer Theologie.
. :::-158 (146-147).
',\'Pannenberg, C.Braaten, A.Dulles.
]971,
pp.119-135
(119) e W.
1970, p.9.
10
10
Theologie»
in Nederlands
lbid. p.323s.
Ibid. pp 317.
185
Igreja Luterana - N° 2 • 1999
Igreja e Rein(ad)o de Deus
Como indicado acima, Pannenberg começa suas considerações eclesiológicas
pelo elo estreito entre a Igreja e o Reino de Deus. Referindo-se ao Pestecostes,
afirma que a Igreja é a conseqüência do «passo dado em direção à proclamação
[pública] da ressurreição e elevação de Jesus Cristo»,21 A Igreja recebeu provas, ou
sinais escatológicos, de que o reinado de Deus já está iniciado (im Anbruch). Essas
provas são a realidade escatológica da ressurreição dos mortos já realizada em
Jesus, e o fenômeno do dom do Espírito Santo, prometido para os últimos tempos ,22
A Igreja é somente um aspecto parcial desse reinado de Deus que começa na nossa
história, uma «reunião provisória da comunidade que aguarda a vinda de Deus»,
Assim, Pannenberg não identifica - com razão - a Igreja com o Reino de Deus,
Segundo ele não existe também uma «diferença» somente «quantitativa» entre ambos, como se o Reino de Deus fosse apenas maior do que a Igreja.
Qual é, então, a natureza e o destino da Igreja? A partir da antologia eschatológica
de Pannenberg é possível afirmar que a essência ou a natureza de toda existência
não nos é conhecida agora, mas que o futuro revelará a verdadeira natureza de
todas as coisas, O teólogo holandês Brinkmann conclui, então, que a questão pela
essência não é uma questão de origem, mas antes uma questão de fim, de futuro.
Segundo esta visão, a essência da Igreja teria a ver com o cumprimento do reinado
de Deus, em que tudo deverá encontrar sua vocação, seu destino.23
Pannenberg não vê, portanto, a Igreja como uma instituição consumada, terminada. Para ele a Igreja se encontra, antes, num movimento, e os seus atributos essenciais,
como a sua santidade, sua catolicidade e apostolicidade são critérios desse movimento, É nesse movimento que a Igreja tenta realizar a sua essência, a qual, segundo essa
tese, é ao mesmo tempo o destino e o alvo da Igreja.24 Pannenberg faz aqui justa
referência a Gerhard Ebeling, Ebeling explica, no volume terceiro de sua Dogmática da
Fé Cristã, porque os atributos da unidade, da santidade, da apostolicidade e catolicidade
da Igreja (credo Niceno) devem ser enfatizados: «[...] existe, apesar de tudo, uma relação inegável entre estes atributos e uma certa realidade da Igreja, realidade esta que, ao
invés de confirmá-Ios, lhes é totalmente contraditória. Mas é por isso mesmo que se
tem de afirmar tão enfaticamente a unidade da Igreja: porque ela é tão radicalmente
contestada e ameaçada, Também a apostolicidade da Igreja deve ser realçada tão enfaticamente: porque sentimos tanto como a Igreja está sendo arrastada para longe de sua
fonte [origem] apostólica e como ela está indo em direção de um futuro incerto. A
santidade da Igreja é tão importante porque nela se acumulam intensivamente tantos
traços pecaminosos [Unheiligkeit], E a universalidade torna-se tão central para a
Igreja porque sua própria tendência para o particularismo lhe dá tanto trabalho.»25 No
" lbid. pAG.
22 Ibid, pA2.
23 Brinkmann,
art. cil. p. 32,
24 Ibid, p.37.
25 Gerhard
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186
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26
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numa carta a Sp.L::605: Regnllm Dei est Ec'
29 Praelectio
D. Martini L:::'
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Ego sum Princeps virae.
mecum, adhaerete mih: o' e:·' .. _
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amem imperfectum reg;-,cc. u
autem perficietur, cum ':;-0 :"<
facie ad faciem (Numé :c
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pessoa imortal, a morte c. ~.
mente a mim, e onde e;:c'~ ._ ._
vida começa esse reiné;.':
começando. Mas quandc e:~
é o seu Reino: começar é...:~'
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
_c.>considerações eclesiológicas
,_: Referindo-se ao Pestecostes,
:c.:io em direção à proclamação
: A Igreja recebeu provas, ou
.' :!, iniciado (imAnbruch). Essas
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- •.i:. de Deus que começa na nossa
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.-é' uma questão de fim, de futuro.
:-,.com o cumprimento do reinado
_c.,ia, seu destino.23
_-.c. instituição consumada, tennina:-:·:-~i[O, e os seus atributos essenciais,
,. c.ê.desão critérios desse movimen~- c.>ua essência, a qual, segundo essa
:;:-eja.24Pannenberg faz aqui justa
= :ume terceiro de sua Dogmática da
,: J.je. da apostolicidade e catolicidade
._existe, apesar de tudo, uma rela~ .ic.de da Igreja, realidade esta que, ao
., na. Mas é por isso mesmo que se
. :;-:-",;a:porque ela é tão radicalmente
_:-:ê.Igreja deve ser realçada tão enfa. :-::.: sendo arrastada para longe de sua
. .'. direção de um futuro incerto. A
_ ':- 1cumulam intensivamente tantos
.:::iade torna-se tão central para a
. _,J...c"lsmo
lhe dá tanto trabalho.»25 No
. \01. 3. Tübingen,
1979, p.369s.
pensamento pannenbergiano pode-se compreender estes atributos como a essência
que Deus dá à Igreja, mas que somente será realidade evidente e absoluta (sem as
mesclas do pecado, onde o simul da expressão de Lutero deixará lugar ao solus iustus) no
fim derradeiro. Dados em Cristo já agora, por antecipação, estes atributos guiam a marcha
da Igreja. Ela é em Cristo, e ao mesmo tempo precisa tornaI-se. O alvo guia o movimento.
É a imagem da situação individual do cristão, cuja vida é constante luta no Espírito de
Deus.
O movimento e o alvo da Igreja não podem ser confundidos ou identificados. No
contexto proléptico, antecipativo, Pannenberg designa a Igreja de sinal do Reino vindouro de Deus. Aqui precisa-se dar cautelosa atenção ao conceito de sinal. A natureza
ou função do sinal é «mostrar» ou «indicar» alguma coisa. Normalmente o sinal deve
ser rigorosamente distinguido do objeto sinalizado. Mas Pannenberg usa o conceito
de sinal em dois sentidos diferentes. O sinal chamado Igreja é de outra natureza do que
o sinal chamado sacramentos. Voltarei a isso, mais adiante. No que se refere ao conceito de sinal aplicado à Igreja, Pannenberg chama a atenção ao perigo que pode representar uma identificação ou mistura entre o sinal e o objeto sinalizado. No caso da Igreja: o
objeto - o Reino de Deus - será confundido com a pequenez e fragilidade do seu sinal
- a Igreja. Reino de Deus será confundido com Igreja .
Entre os reformadores uma certa identificação entre
também era comum26 Lutero não identificava a Igreja com
to instituição externa, mas enquanto comunhão de crentes.
dade de Reino de Deus27. A Igreja é o Reino de Deus2x
Palavra. Claro que não podemos dizer que para Lutem
Igreja e Reino de Deus
o Reino de Deus enquanDeus chama sua cristane é governada por sua
o Reino de Deus estava
Cf. Systematische
Theologie 3, p. 47, onde Pannenberg indica alguns escritos de Lutcro,
como Da Autoridade Secular (1523), WA 11.
27 Von dem Papstthum
zu Rom wider den hochberühmten Romanisten zu Leipzig (1520), WA
6, 293: "[ ... ] aufz wi1chen <Sprüchen> [Jn 18,86: Lc 17,20s] klerlich yderman vorstet, das
das reich gottis (szo nennet er seine Christenheit) ist nit zu Rom, aueh nit an Rom gebunden,
wider hie noch da, sondern wo da inwendig der glaub ist", e respondia a Emser em Auf das
überchristlich, übergeistlich und überkünstlich Buch Bocks Emsers zu Leipzig Antwort (1521),
WA 7, 683: "Ich meyn yhe, du heyssist das reych gottis die Christenliehe kirche odder uns,
yn wilehen gott lebt und regiert", sendo que Lutero concordava aqui.
28 Lutero, numa carta a Spalatin,
de 4.10.1522, refere-se aqui aRam 14.17, WA Br. N° 541, p .
605: Regnum Dei est Ecc/esia Christi .
29 Praelectio
D. Martini Lutheri in Psalmum XLV (1532), WA 40/Il, 517s: "Qui dicit [Christus]:
Ego sum Prineeps vitae, persona immortalis, a morte invineibilis. Nune ergo conglutinemini
mecum, adhaerete mihi et effieiamini membra mea, tune fiet, ut, ubi ego sum, ibi etiam vos
sitis. Talem igitur habemus regem, qui sie regnat in hae vi ta incipiens aeternam vitam. Est
autem imperfeetum regnum quod ad nos, quia inehoatum tantum est, non est perfectum, tum
autem perfieietur, cum 'tradet regnum Patri' (1 Kor 15,24). Ibi perfeete cernetur Deus de
facie ad faeiem (Numa tradução do alemão: "Pois o próprio Cristo diz: 'Eu sou Deus, uma
pessoa imortal, a morte não pode me vencer, por isso vocês devem unir-se o mais intensamente a mim, e onde estou, lá também estarão vocês'. Assim ele reina etemamente, e nessa
vida começa esse reinado. O quanto depender de nós, o reino é imperfeito, está somente
começando. Mas quando ele 'entregar o Reino ao Pai' (1 CO. ]5.24), vai ser diferente. Isto
é o seu Reino: começar aqui o reino da vida, destruir a morte, e um dia estar nele sempre.").
26
187
Igreja Luterana . N° 2 - 1999
realizado e cumprido na Igreja. Ele está somente esboçado29, mesmo se já está neste
mundo.30 Também as confissões luteranas conheciam este tipo de equação entre os
dois conceitos, quando Melanchthon por exemplo diz na Apologia, art. VII, que a
verdadeira Igreja é o Reino de Crist03!, e que este Reino se resume exclusivamente
nos verdadeiros crentes da Igreja32. Bugenhagen sabia dizer que os eleitos são o
Reino de Cristo33, assim como Lutero também afirmava que «os cristãos podem
cstar seguros de serem o Reino de Deus»34. Seguindo esta concepção, o luteranismo
tem tradicionalmente mantido esta tendência para uma certa equação entre Reino de
Deus e Igreja. O dogmático americano F. Pieper, por exemplo, podia identificar a
Igreja Cristã com o «Reino de Deus sobre a terra»35.
Pannenberg convida para uma reflexão globaj dos cristãos sobre estes conceitos e argumentações, sendo que em sua reflexão não estão ausentes categorizações
filosóficas fundamentadas especiahncnte sobre Agostinho. O sinal não é o objeto
sinalizado. Quando há simples identificação entre os dois conceitos, ou quando a
própria igreja não fizer clara distinção entre ambos, isso só pode ter como conseqüência o descrédito de sua mensagem de esperança, porque esta estará em contradição com o lado pobre, imperfeito e contraditório de sua humanidade. 36A Igreja não
30
WA XV, 542, num sermão sobre Jo. 16.5ss: "Hie horst du, daS sein Reich auf Erden sei, und
sei nicht sichtlich, sondem stehe im worte [--T. Existe na visão de Pannenberg uma modi·
ficação clara de ênfase: enquanto que Lutero e a teologia luterana antiga compreendiam
o
Reino de Deus como estando presente neste mundo, escondido na Palavra, Pannenberg o
compreende como estando somente antecipado neste mundo e representado no sacramento.
A Palavra leva o cristão a este sacramento.
BSLK, Apologia CA VI,16, p. 237: Ad haec ecclesia est regnum Christi, distinctum contra
regnum diaboli, cr aussi Martim Warth: "O reino de Deus". Palestra, 49' convenção nacional
da !ELB, São Leopoldo, 19-25 janeiro de 1984, datilografado, p. 8.
10 Ibid.,
Apologia CA VII, 18s: Nec propterea impii sunt regnum Christi, quia revelatio nondum
facta est. semper enim hoc est regnum Christi, quod spiritu suo vivificat, sive sit revelatum,
sive sit tectum cruce. (<<Nem são os ímpios o Reino de Cristo, por isso que a revelação ainda
não ocorreu. Pois que Reino de Cristo é sempre aquilo que ele vivifica por seu Espírito, quer
esteja revelado. quer esteja encoberto pela cruz». Tradução emprestada de A. Schueler em
Livro de Concórdia. São Leopoldo - Porto Alegre: Sinodal, Concórdia, 1980, p. 179s.)
13 Annotationes,
p. 98, cf. Wemer ELERT, Morphologie des Luthertums, Bd. 1, p. 436.
'4 Sermon: Die Epistel am ersten S01Jtag ynn der Fasten 2. Corin. 6 (1525), WA 17 lI, 185:
"Christenleute sollen gewis seyn, das sie Gotts reich sind", indicado por Elert, op. cit., p. 436.
;s "Das ist die Lehre Luthers
und der lutherischen Kirche. Um scharf hervorzuheben, daS keine
auSere Gemeinschaft mit Christen und kein auSerer Gebrauch der Gnadenmittel, sondem nur
der personliche Glaube an das Evangelium in das Himmelreich
auf Erden, das ist, in die
christliche Kirche bringe, sagt Luther: 'Sonst ware ein Mensch eben im Himmelreich,
ais
wenn ich einen Klotz oder Block unter die Christen würfe [__.]''' <citado por Pieper de Walch'
XI, cal 490, sermão de 1523 sobre Mt 8,1·13>, Francis Pieper, Christliche Dogmatik, VaI.
m. SI. Louis, 1920, p. 460 (a ênfase está no original). Eu abordo a questão da relação entre
os conceitos de reino do poder, reino da graça e reino da glória, na teologia luterana, em
minha dissertação de doutorado, citada supra, pp. 96ss.
36 Ver na Igreja o rosto da «pecadora»
é uma tradição luterana, enraizada no conceito patrístico
da casta meretrix, cr H. Fries em M.v-,terillm SalulÍ-" 4, p. 229. Luther dizia: non est tam
magna peccatrix ut christiana ecclesiae (não há pecadora tão grande quanto a Igreja), citado
por Eberhard
Jüngel: «Die Kirche aIs Sakrament», in Zeltschrift für Theologie und Kirche
(1983), p. 453.
31
é a forma definitiva de R~
simboliza - vivendo em C:- ,..
de Deus. Ela tem, portan:.:
de vida individual e cc:rcc::-.:::
proclamaY A esperanç a d :=: c . expressar na maneIra pei: -=_
Deus a capacitou.38
à Igreja
Um dos problemas
Igreja é sua relação com Cris:
católica Mysterium Saiu tis t::,~'~
conceito da Igreja como IlLc:::' _'.:
pela vulgata do termo neotes:.:.'
Igreja, ou deve ele ser exclusi \l.--:-.:':-_
quando se trata do conceito de
sua concepção de revelação: : :--":"
ção divina, através dos testen:_:-.'-..
Jesus Cristo, o seu sentido def:-.·
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realidade.40
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cristocentricidade da Igrej a é fc:"
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17
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nesse sentido: «A carateriE;~:
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deve realmente ser, e por 2:;:::.'
Zeichen der Einheit. TeXle
Gottingen,
1979, p. 11s.
38
3Y
40
41
42
188
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cr Brinkmann, art. cit. p.
volume de Systel1'latische T::,.
Kirche, p. 56 e W. PanneC~":;
den Fragen der Gegem·, (ir:. ,,--,-.
Systematische
Theologie. :
._
cr O resumo de Brinkmc.r ...
Teólogo sistemático de H~::..c.-c';
S.vstematische Theologie
:
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
é a forma definitiva do Reino de Deus, ela tem antes uma função simbólica: ela
simboliza - vivendo em Cristo - o cumprimento final do destino humano, no reinado
de Deus. Ela tem, portanto, a tarefa de vigiar e cuidar da sua fOlTIlade organização e
de vida individual e comunitária, para que nada obscureça a esperança que ela
proclama.37 A esperança do Reino por vir está ligada à fé e ao amor. Fé e amor vão se
expressar na maneira pela qual a Igreja estabelece e vive comunhão, para a qual
Deus a capacitou.38
,~i=,:;, mesmo se já está neste
~~le tipo de equação entre os
:'3. Apologia, art. VII, que a
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'.::' dizer que os eleitos são o
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::..erta equação entre Reino de
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A Igreja
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. :'nho. O sinal não é o objeto
iais conceitos, ou quando a
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daI) sein Reich auf Erden sei. und
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no sacramento.
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49' convenção nacional
_ c. õ" Palestra,
- ;:~fado, p. 8.
-epum Christi, quia revelatio nondum
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~;csto. por isso que a revelação ainda
::C.c ele vivifica por seu Espírito, quer
,,:io emprestada de A. Schueler em
::21, Concórdia,
1980, p. 179s.)
- LlIth"rtums, Bd. 1, p. 436.
: Corin. 6 (1525), WA 17 lI. 185:
'. indicado por E1ert, op. cit., p. 436.
m scharf hervorzuheben, daI) keine
- c: :3uch der Gnadenmittel, sondem nur
_ .::-,melreich auf Erden, das ist, in die
\1ensch eben im Himmelreich.
ais
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por Pieper de Walch'
Pieper, Christliche Dogmatik, Vol.
E'J abordo a questão da relação entre
da glória, na teologia luterana, em
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_:":'ana, enraizada no conceito patrístico
.:.. p. 229. Luther
dizia: non est tam
a Igreja), citado
Zeirschriji für Theologie und Kirche
~2 tão grande quanto
e Jesus Cristo
Um dos problemas ligados a uma compreensão adequada do que é a essência da
Igreja é sua relação com Cristo. O concílio do Vaticano n, e em seguida também a dogmática
católica Mysterium Salutis bem como uma parte da teologia protestante têm integrado o
conceito da Igreja como j.1U0r77PWv,ou sacramentUln39, que é a tradução latina introduzida
pela vulgata do termo neotestamentário. Este conceito é apropriado quando aplicado à
Igreja, ou deve ele ser exclusivamente aplicado a Cristo? Qual é o elo entre a Igreja e Cristo
quando se trata do conceito de j.1UOr7jpwv? Pannenberg o explica dentro do prisma de
sua concepção de revelação: a história, na qual todo ser humano pode perceber a revelação divina, através dos testemunhos escriturísticos, recebe e demonstra, na histólia de
Jesus Cristo, o seu sentido definitivo e a sua unidade, por antecipação. A Igreja, enquan·
to comunidade de Jesus Cristo, é o lugar onde este sentido pode ser percebido em nossa
realidade.40
Pannenberg insiste nesse ponto, com Eberhard Jüngel41aliás, porque para ele a
cristocentricidade da Igreja é fundamental, sua união com ele é essencial e vital. Se o
mistério da vontade divina de salvação foi revelado ou manifestado em Jesus Cristo,
esse mistério tomou forma na Igreja, porque ela é o corpo de Cristo.42 O j.1uorijpwv é
" Ibid, p. 38. Um documento de estudos sobre a unidade da Igreja, publicado em 1979, affirmava
nesse sentido: «A caratetização das deformações da Igreja mostra que assim não se pode obter
uma determinação de sua natureza e sua missão. Manifestamente
a Igreja empírica espelha
muito imperfeitamente aquilo que ela deveria ser, de acordo com a vontade de seu Senhor. Ela é a nova comunhão daqueles que foram reconciliados com Deus em Cristo. Aqui está a
justificativa para as expectativas que se tem para com a Igreja. [H'] É verdade que todas estas
expectativas
devem se transformar
a partir da reconciliação
em Cristo; porque nós não
somos simplesmente confoffi1ados e saciados em nossos desejos a partir da cruz. Esta Igreja
é ao mesmo tempo a união de homens cheios de capacidade de errar, de fraqueza, de pecado.
Por isso ela não pode ser reconhecida
automaticamente
como uma nova comunhão dos
reconciliados em Cristo. E por isso também ela precisa orientar-se sempre por aquilo que ela
deve realmente ser, e por aquilo deixar·se avaliar e medir.» Niels Hasselmann, éd. Kirche im
Zeichen der Einheil. Texte und Überlegungen
zur Frage der Formen kirchlicher Einheit.
Gottingen, 1979, p. 11s.
38 CL Brinkmann,
art. cil. p. 36. Quanto ao tema fé, esperança e amor, ver também, neste
volume de Systematische
Theologie, pp. 156ss, como também Thesen zur Theologie der
Kirche, p. 56 e W. Pannenberg Das Glaubensbekenntnis.
Ausgelegt und verantlvortet vor
den Fragen der Gegellwart. Hamburg, 19721, 19956 [edição revista], p. 134.
3' Systematische
Theologie, 3, p. 52 .
40 CL o resumo
de Brinkmann, art. cil. p.3 L
" Teólogo sistemático de Heidelberg.
'2 Systematische
Theofogie, 3, p. 58.
189
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
o desígnio do plano histórico de Deus43, um desígnio escondido, mas ao mesmo
tempo revelado para os que crêem. O termo central é Col. 1.26-27. Na opinião de
Pannenberg, a teologia católica, depois do Vaticano II, não atingiu toda a compreensão bíblica do conceito de Igreja como sacramento quando ela vê a Igreja somente
«como um mistério divino inacessível aos conceitos e representações humanas»44.
Ao mesmo tempo em que resume ou empobrece o conceito de mistério, atribui à
Igreja um conceito maior do que ela é: identifica Cristo com a Igreja.
É em Cristo que esse mistério foi revelado, E esse mistério em Cristo manifestase, então, agora, na Igreja, porque esta é inseparável daquele, mesmo se distinta
dele, sendo ele a cabeça do corpo. A Igreja não pode, pois, ser considerada por ela
mesma como sendo o mistério da salvação, ou como o sacramento da unidade para
a humanidade, em sua condição de sinal, insiste Pannenberg em sua discussão com
uma parte de teologia católica. Ela o é somente porque ela está em Cristo, e Cristo
está ativo nela.45 Pannenberg o expressa assim: «A Igreja é, enquanto corpo de
Cristo, o povo escatológico de Deus oriundo de todas as nações. Assim ela é um
sinal da reconciliação que sinaliza e indica a unidade futura da humanidade regenerada no Reino de Deus. Jesus Cristo é a revelação do mistério divino da salvação,
porque a reconciliação da humanidade desemboca, a partir da morte e ressurreição
dc Cristo, no Reino de Deus. E é pela participação do plano de salvação de Deus
revelado em Jesus Cristo, que a Igreja torna-se um sinal do futuro da humanidade
sob o Reinado de Deus. Ela participa nesse plano quando existe enquanto corpo de
Cristo.»4ó
«Comunhão
dos santos»
Falando da relação entre a comunidade do Messias e o indivíduo (capítuloI3),
Pannenberg aborda uma questão atual na discussão em teologia ecumênica sobre a
«ec1esiologia de comunhão», que se considera a si mesma um questionamento da
definição «tradicional» da Igreja como a totalidade de indivíduos que crêm, e que se
considera, em conseqüência disso, uma visão nova da Igreja. Essa visão considera
- de forma bastante abstrata - a Igreja como uma entidade anterior e prioritária aos
indivíduos que crêem.47 Pannenberg lembra que a Igreja não pode ser considerada
4.1
Ibid. p. 53.
M Ibid. p. 58.
4' Ibid. p. 54. Uma passagem
neotestamentária
fundamental para essa compreensão é Ef. 3.49. Pannenberg afirma sobre esse relação: "O pico da afirmação de Cristo como sendo o
mistério da salvação está na universalidade
de Cristo como o reconciliador
do mundo, na
história da salvação (Col. 1.20), universalidade que se manifesta na vida da Igreja. sendo que
para os cristãos esta manifestação se dá especialmente no abolimento do abismo entre judeus
e não-judeus quando se passou à missão entre os gentios», p.54s.
4' Ibid, p.57.
47 Veja por exemplo
o trabalho de Eugene Brand. Auf dem Wege ZlI einer lutherischen
Cemeinschaft:
Kanzel- und Abendmahlsgemeinschaft.
LWB-Report
26,1989. A edição
paralela em inglês: Toward a Lutheran Communion: Pulpit and Altar Fellowship. LWBReport 26 (1988).
190
como prioritária ao indivÚL. '_
ele também vê o perigo in'-e:"
manifestação ou conseqüên,: '.
ele o conceito de COl1lmUmc. ,.
Pannenberg apóia-se na C- gia patrística, e afirma com <) ::-:;
o puro evangelho é proclamsi .
única Igreja, uma Igreja samir: ~
sua missão apostólica.»49 A '2:C:::~manifesta-se essencialmente
manifestação atinge seu pODr: :''':
tia, pois ser Igreja significa e5:2_-: ~ E essa participação de Cristo, q..:ese - como sinal sacramental _ ::-.0.
participa do sacramento da ce::: e.
sacramento. A Igreja é, entãG
duos participam de maneira i,.":::
sangue) de Cristo. Ela encorl t,., _
Ela encontra aí, também, a sue _
uma conseqüência da presen;:: :
realidade invisível, e não pode:
palavras, a unidade da Igreja é ..::-.
tal, ela procede da participaçãc.
mente na vida cúltica e sacrame:'
L
4' Systematische
Theolugie 3, p.
Individuen gebildet? 1st nicht '.durch die Kirche vermittelt zc _,Christen zukame? Was aber \'''~Cc _.,
glaubenden einzelnen? Die Ki'2~.=
Glauben vorangehend
gedJct:
Gemeinschaft der Kirche aIs et\'.:os ,, __
zu denken [ ... ] Ein Zugang 2 c
erschlie!3t sich aus der für dJS '.'.,
Gottesherrschaft
[ ... ]»
49 Ibid. p.126:
<<!njedem GOL: ."
Sakramente gefeiert werder, ..
zurückgehende
und in ihrc, 2 ~
Igualmente quando fala dos J'",_
50 Veja especialmente
Systemc ..'
51
Ibid. p.125.
" Notar-se-á todavia que Par::: 'c. - ,- ~
antemão» (vurgegebene
EI.'··
Einheit).
53
Cf. Theulogie und Reiclz Cor',-of Cud. R.l. Neuhaus, ed., Ph:=='
=
~_
Igreja Luterana
escondido, mas ao mesmo
:::Col. 1.26-27. Na opinião de
"ão atingiu toda a compreen: ~}I1doela vê a Igreja somente
. , :::representações humanas»"" .
. .:I1ceito de mistério, atribui à
.' com a Igreja.
c~
.,,:mistério em Cristo manifesta. :::1daquele, mesmo se distinta
- ::":.pois, ser considerada por ela
. ;) sacramento da unidade para
- .::,enberg em sua discussão com
. . : '1ue ela está em Cristo, e Cristo
.-'\.Igreja é, enquanto corpo de
:::ias as nações. Assim ela é um
~:::futura da humanidade regene:iD mistério divino da salvação,
., partir da morte e ressuneição
do plano de salvação de Deus
.:-:: sinal do futuro da humanidade
:.~ando existe enquanto corpo de
l:::ssias e o indivíduo (capítulo 13),
em teologia ecumênica sobre a
mesma um questionamento da
::::de indivíduos que crêm, e que se
. '.1 da Igreja. Essa visão considera
: :::ntidade anterior e prioritária aos
: _:::.'.Igreja não pode ser considerada
o::':'
'i
cc
,tal para essa compreensão é Ef. 3.4afirmação de Cristo como sendo o
201110 o reconciliador
do mundo, na
:1nnifesta na vida da Igreja, sendo que
no abolimento do abismo entre judeus
, __,:os», p.54s.
_ ".iif dem Wege zu einer /utherischen
·.:fl. LWB-Report 26,1989. A edição
Pu/pit and A/tar Fe/lawship. LWB·
- N° 2 - 1999
como prioritária ao indivíduo de maneira absoluta e gera1.48 Mas ao mesmo tempo,
ele também vê o perigo inverso de se considerar a Igreja simplesmente como uma
manifestação ou conseqüência secundária da fé do indivíduo. O que significa para
ele o conceito de communio? Não posso senão dar algumas indicações .
Pannenberg apóia-se na Confissão de Augsburgo, no pano de fundo da teologia patrístiea, e afirma com o artigo VII que «em cada culto [da igreja 10calJ no qual
o puro evangelho é proclamado e onde os sacramentos são celebrados, aparece a
única Igreja, uma Igreja santificada por Cristo, oriunda dos apóstolos, c católica em
sua missão apostólica.»49 A unidade da Igreja, ou a presença da Igreja universal
manifesta-se essencialmente na reunião da comunidade local para o culto. Esta
manifestação atinge seu ponto culminante na participação dos cristãos na eucaristia, pois ser Igreja significa estar em Cristo, na comunhão de seu corpo (e sangue) .
E essa participação de Cristo, que fundamenta a Igreja, concretiza-se ou exteriorizase - como sinal sacramental - mais intimamente quando a comunidade de Cristo
participa do sacramento da ceia eucarística.50 Sim, a Igreja não pode existir sem o
sacramento. A Igreja é, então, a comunhão dos santos na medida em que os indivíduos participam de maneira indissociáve! do mesmo Senhor, ou seja, do corpo (e
sangue) de Cristo. Ela encontra aí a sua identidade de ser Igreja e ser povo de Deus.
Ela encontra aí, também, a sua unidade. A unidade da Igreja, que por essa razão é
uma conseqüência da presença de Cristo na Palavra e nos sacramentos, é uma
realidade invisível, e não pode ser percebida a não ser na fé e pela féY Em outras
palavras, a unidade da Igreja é um artigo de fé.52 Ela é «dada de antemão» c, como
tal, ela procede da participação com Cristo. No entanto ela se manifesta necessariamente na vida cúltica e sacramental da Igreja.
Mas para Pannenberg a essência da igreja não pode consistir somente na união
de indivíduos com vistas à prática e piedade comunitárias.53 A definição de Igreja
48
Systematische Thea/ogie 3, p. 115: «Wird die Kirche durch den ZusammenschluJ3 der glaubigen
Individuen gebildet? 1st nicht vielmehr umgekehrt der Glaube des einzelnen aIs immer schon
durch die Kirche vermittelt zu denken, so daJ3 der Kirche dic Prioritat vor dcn einzclnen
Christen zukame? Was aber ware die Kirche, wenn nicht Gemeinschaft von an Jesus Christus
glaubenden einzelnen? Die Kirche kann offenbar nicht in jeder Hinsicht aIs dem individuelIen
Glauben vorangehend
gedacht werden. Andererseits
ware es aber auch verfehlt,
die
Gemeinschaft der Kirche aIs etwas sekundar zum Glauben des einzelnen Christen hinzutretendes
zu denken [ ... ] Ein Zugang zu diesem die ganze Ekklesiologie durchziehenden
Fragenkreis
erschlieJ3t sich aus der für das Wesen der Kirche konstitutiven Beziehung auf die Zukunft der
Gottesherrschaft
[ ... ]»
49 Ibid. p.] 26: «!n jedem
Gottesdienst, in welchem das lautere Evangelium verkündigt und die
Sakramente gefeiert werden, tritt die eine, durch Jesus Christus gehei]igte, auf die AposteI
zurückgehende
und in ihrer apostolischen
Sendung katholische
Kirehe in Erscheinung.»
Igualmente quando fala dos atributos essenciais da Igreja, pp. 442ss.
'o Veja especialmente
Systematische Theo/agie 3, p. 120, fim do 2° §.
51 Ibid. p.125.
" Notar-se-á todavia que Pannenberg faz a importante distinção entre a «unidade dada de
antemão» (vorgegebene Einheit) e a «unidade dada como tarefa» ou missão (aufgegebene
Einheit).
53
Cf. Thealogie und Reich G(Jltes. Güters/oh, 1971 (tradução alemã de The%gy and the Kingdom
af Gad. RJ. Neuhaus, ed., Philadelphia, 1969), p. 34 et Kirche ahne K(mfessionen?, p. 119.
191
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
como sendo a communio sanctorum lhe parece descrever simplesmente o que é
essencial para a sua vida interior, mas insuficiente para descrever por ela mesma o
que é a essência da Igreja. Pois nessa definição não se deve perder de vista o seu
movimento dupl054que se carateriza por um lado em seu aspecto «eclesial» e cúltico,
ou seja, seu aspecto de comunidade «chamada para fora» deste mundo, e separada
(= «santa»), e por outro lado em seu aspecto missioário, ou seja, o de ser comunidade chamada a transmitir a fé a outros homens, às gerações futuras; o que seria sua
vida e atividade exterior. A relação com todos os homens, não somente com os que
hoje crêm, faz parte integrante e «constitutiva» da própria essência da Igreja.55 Isso
corresponde ao que dissemos acima sobre os atributos essenciais que a Igreja é
constantemente chamada a realizar, no seu movimento determinado pelo fim e pelo
destino da história da Igreja. O fundamento cristológico e universal-soteriológico
desse argumento parece evidente, e não necessita aqui de maiores explicações. A
comunidade não pode, pois, achar o sentido de sua existência somente em si mesma
e sua vida interior e comunitária, mas o sentido de sua existência visa este evento
universal-soteriológico. Nesse sentido, a Igreja é o «sinal e instrumento» de Reino
de Deus para o benefício de toda a humanidade.56 Pannenberg insiste no fato de que
essa instrumentalidade ou sacramentalidade da Igreja não é real senão na condição
de sinal. Ela não realiza a unidade da humanidade com Deus, ela não produz o Reino
de Deus em si, mas ela é instrumental em sua função sinalizadora. Ela indica a, chama
atenção e convida para a «vinda do Reino de Deus e sua irrupção na vida do
indivíduo e da comunidade eclesiástica».57 Isto tanto pela sua comunhão sacramental, quanto pela sua atuação no testemunho neste mundo em favor de valores do
Reino de Deus que são o direito (divino), a justiça e a paz, sendo o direito possibilitador da justiça c da paz - compreendido corno Cristo o reinterpretou: no
amor por ele pregado e vivido. A função simbólica da Igreja implica comunhão
sacramental, a missão que anuncia o evangelho salvador, e a ação de amor neste
mundo em favor do Reino que vem e em que a humanidade conhecerá cnfim vida
abundante, comunhão perfeita com os outros e com Deus, a realidade da ressurreiçã058. Esta ação não está desvinculada de uma atitude moral humana e altruísta em
geral. Antes, a presença do Espírito vem a transfigurar a ética humana e lhe dar
verdadeiro sentido. Poderia ser como o exprimiu Roberto Zwetch no final de seu
.::omentário de um conto de João Guimarães Rosa, «o espelho», publicado no livro
primeiras estórias, de 1962, no âmbito mais individual, que se aplica no entanto à
Igreja como corpo(ração): «O conto de G. Rosa é ficção de alta qualidade. Porque
remete o leitor ou leitora às mais profundas realidades da vida humana [...]. Deus fala
e age na vida, muitas vezes, através de fracassos e sofrimentos vários, despertando
Segundo E.Schlink, cf. Pannenberg Systematische Theologie 3, p. 58.
Ibid. p, 58.
56 Ibid. pp. 58 et 61.
57
Ibid. p. 6l.
58 Note-se
que os valores do Reino de Deus, presentes na Igreja, estão também presentes na
ordem secular, no Estado. Há algo em comum entre a Igreja e o Estado secular em sua relação
comum ao Reinado de Deus. Também este assunto é abordado em minha tese que, aliás,
aprofunda todos os assuntos abordados neste artigo.
em nós compaixão. 2:';', ~ _,
amor [de Deus, n.d,a,' S~ '_
Esta é a dialética conSL<:ê
aquela liberdade que lib~6.12).»59
A problemática
o conceito de sacraTT.ê·
conceito mais abrangen:'~ :ê
ção sistemática» entre O"
saber qual é essa relação
esta relação senão na esf::r'
dos rituais que foram
sua definição, parecem-Ih~ . ê, _- '
pressa por K. Rahner e TTT.
fundamentais da Igreja',. g> ,ê -:_
da Igreja, essa designaç2.: ê
definir sacramento, e pod~
compreensão dos sacrarne".:' :
de Jesus Cristo do que cof'~ ..:=-:' ~
sacramentos também não
da instituição divina pode :i~csiástico, uma vez que tod::
membros da igreja.
r' _.
Pannenberg pode distin;_~
que entram nessa cetegori::c sobre um mandatum Dei,
à questão da ordem divif"<:
Tudo se decide, para P::c,,:'êuma origem em ou institui~:-,
vel. Por quê? Porque os S2e:
54
59
55
192
da i'iOçã: c
Roberto E. Zwetch: «Es;.:
Estudos Teológicos, v, 3~,
60 Systematische
" Ibid. p. 369.
62
63
Theologiç .. : _
«Nachtragliche
zusamme,.:':,:
K. Rahner, Kirche ulld 5 ...
Grundri/3 der Sakrameli'(
370.
Igreja Luterana
_.. _'ever simplesmente o que é
-::.~"descrever por ela mesma o
se deve perder de vista o seu
,el aspecto «eclesial» e cúltico,
::.: :ra» deste mundo, e separada
_._.=. ou seja, o de ser comunida;e-"ções futuras; o que seria sua
::'":ens,não somente com os que
'pria essência da Igreja.55 Isso
~.ltos essenciais que a Igreja é
determinado pelo fim e pelo
- gico c universal-sotcriológico
de maiores explicações. A
\lstência somente em si mesma
.é sua existência visa este evento
sinal c instrumento» de Reino
-::::.nnenberg insiste no fato de que
• =~eJ a não é real senão na condição
. _, : ::-:,Deus, ela não produz o Reino
sinalizadora. Ela indica a, chama
- e :Jeus e sua irrupção na vida do
- tJ pela sua comunhão sacramente mundo em favor de valores do
-
. =
-
_, tiça e a paz, sendo o direito :amo Cristo o reinterpretou: no
.::a da Igreja implica comunhão
'.llvador, e a ação de amor neste
_ ~.:manidade conhecerá enfim vida
-:-.-:Deus, a realidade da ressurrei_;demoral humana e altruísta em
;:l~urar a ética humana e lhe dar
_ Roberto Zwetch no final de seu
{(oespelho», publicado no livro
::..:dual, que se aplica no entanto à
~ ficção de alta qualidade. Porque
:::.:iesda vida humana [...]. Deus fala
s e sofnmentos vários, despertando
-i'ologie
3, p. 58.
-:" na Igreja, estão também presentes na
_ I;reja e o Estado secular em sua relação
~ abordado em minha tese que, aliás,
- N° 2 - 1999
em nós compaixão, amor, dos quais nascem a reciprocidade, a solidariedade. E no
amor [de Deus, n.d.a.] se fundamenta a fé, que por sua vez atua pelo amor (015.6).
Esta é a dialética constante, exigente, verdadeiramente criadora da fé e do amor. É
aquela liberdade que liberta o cativo de si mesmo para servir à justiça do Reino (Rm
6.12).»59
A problemática
da noção de sacramento
o conceito de sacramento sempre foi plurivalente,60 e Pannenberg prefere o
conceito mais abrangente de sacramento, porque ele comporta uma «estreita relação sistemática» entre os sacramentos e o conceito de Igreja.6] A questão está em
saber qual é essa relação. Digamos mais uma vez que Pannenberg não pode pensar
esta relação senão na esfera cristocêntrica. A partir daí, tanto a questão do número
dos rituais que foram designados a jortiori de sacramentos,62 como a questão de
sua definição, parecem-lhe secundárias. Se a teologia católica, como tem sido expressa por K. Rahner e Th. Schneider,63 designa os sacramentos como «rituais
fundamentais da Igreja», que se realizam em «situaçõs fundamentais» dos membros
da Igreja, essa designação é muito insuficiente aos olhos de Pannenberg, para
definir sacramento, e pode no máximo ser uma paráfrase aproximativa da situação. A
compreensão dos sacramentos tem mais a ver com a questão da instituição original
de Jesus Cristo do que com uma questão antropológica dos rituais eclesiásticos. Os
sacramentos também não podem ser «auto-realizações da Igreja». Somente o fato
da instituição divina pode destinguir os sacramentos de qualquer outro ritual eclesiástico, uma vez que todos os rituais podem ser «fundamentais» para a vida dos
membros da igreja.
Pannenberg pode distinguir, com as confissões luteranas, somente três rituais
que entram nessa cetegoria: o batismo, a santa ceia e a absolvição. Estes repousam
sobre um mandatum Dei.
A questão da ordem divina
Tudo se decide, para Pannenberg, nessa distinção. Ele afirma que a prova para
uma origem em ou instituição específica dos sacramentos por Cristo é indispensável. Por quê? Porque os sacramentos são uma ação divina, transmitem uma força ou
Roberto E. Zwetch: «Espiritualidade
e antropologia:
um diálogo com Leonardo Boff».
Estudos TeolÓgicos, v. 38, n02 (1998), pp. 141-155 (147).
60 Systematische
Theologie, 3, p. 398.
61 Ibid. p. 369.
6' «Nachtragliche
zusammenfassende
Kennzeichnung»,
ibid. p. 371.
63 K. Rahner,
Kirche llnd Sakramente,
1960, e Th. Schneider. Zeichen der Niihe G(Jltes.
Grllndrifi der Sakramententheologie,
1979, cf. Pannenberg Systematische
Theologie 3, p.
59
370,
193
-~----------Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
graça divina (teilen Gnade mit). É esta a função do sacramento.64 Portanto, somente
Deus pode instituir um sacramento da nova aliança.65 Pannenberg tenta escapar do
impasse no qual a exegese histórico-crítica chegou com respeito à instituição dos
sacramentos. A origem histórica dos sacramenta maiora (batismo e santa ceia) no
próprio Jesus não causa dúvida alguma para Pannenberg - seja qual for a natureza
dessa origem, segundo uma visão histórico-crítica66• Sem um elo direto entre os
sacramentos e Cristo, não se poderia falar em meios da graça, argumenta Pannenberg.
Esse elo entre os sacramentos e Cristo é vital não somente para a vida da Igreja, mas
para a sua própria constituição, para a sua essência.
Pannenberg opõe duas tendências que procuram contornar o problema que
surgiu com a exegese histórico-crítica dos textos que relatam a instituição dos sacramentos. Uma tendência, católica, consiste em deduzir os sacramentos do grande
«sacramento original», a Igreja. Uma outra tendência, de uma parte do protestantismo, consiste em deduzir os sacramentos da palavra eficaz. No último caso,
Pannenberg receia, os sacramenrtos correm o risco de se tornarem simples «aspectos da Palavra». Pela crítica de Pannenberg a Ebeling67um diálogo intra-luterano se
anuncia. Porque segundo Pannenberg, Ebeling estaria negligenciando, como a teologia católica também, a origem cristológica dos sacramentos. Parece que Pannenberg
opõe um certo realismo sacramental de Lutero à visão mais «reformada» de Ebeling.
Ele conclui que Ebeling «dilui» o sacramento na Palavra. Ele receia, com razão, que
essa atitude possa levar ao raciocínio seguinte: quemjá tem a Palavra, não necessita
do sacrament068• Para Pan,c~-.c.~-__ .:..
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supérieur de pédagogie,
53
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Pannenberg não tem dúvida alguma quanto à vis effectíva dos sacramentos. Com E. Jüngel
ele está aqui na tradição de Lutero, da qual Jüngel diz: «offensichtlich
ist es die in dcr
schbpferischcn Kraft seines Verheillungswortes vollzogene, Glauben provozierende und Glauben
stàrkende Selbstvergegenwártigung
Jesu Christí in Brot und Wein, die Luther im Sakrament
so hoch schátzte [ .. ,]», Jüngel, art. cit. p, 438,
(" Pannenberg argumenta indutivamente aqui, Compare-se o raciocínio dedutivo de Lutero nos
artigos de Marburgo: «Sonder weil Gottes Wort darbei ist und sie auf Gottes Wort gegrundet,
so ists (di e Taut) ein heilig, lebendig, kráftíg Ding, und wie Paulus sagt, Titus 3 und Eph,5, ein
Bad der Wiedergeburt und Vomeuerung des Geistes etc, und dall solche Tauf auch den Kindlein
zu reichen und mitzuteilen sei» (<<Mas é porque a Palavra de Deus nele está, e por estar ele
fundamentado
na Palavra de Deus, o batismo é uma coisa santa, viva, e poderosa [H']»)'
Marburger Artikel, Art. 9, BSLK (1952'), p.63.
06 Tenhamos
sempre em mente que Pannenberg recusa a facilidade da afirmação dogmática
pura e simples e argumenta num quadro em que a ciência pode contestar qualquer realidade da
fé cristã. Esse é, na verdade, o desafio que a teologia precisa encarar se quiser convencer o
mundo da universalidade desta fé.
lentes do mesmo dom do e\'ar:;~::
pregação, em outras situações ~ __. _
para permitir a vinda da Pah-r~ _,
resposta da fé, a confissão de fé = ._
os meios da graça, em sua Ch'" cEscritura e a experiência mostrêJ:.
ram seus pecados, do que crer _.: _
variada [palavra e sacramento. _
corresponde a uma necessidad~i ..
Lutem sobre a relação entre o ,,_::..: ._
e Cristo, veja-se o excelente es:.:. =.
f4
67
194
Ambos luteranos, mas de tendência teológica opostas: Pannenberg representando a tendência nova, cL acima, e Ebeling, conhecido luterólogo, representando a escola pós-bultmaniana
existencialista que negligenciava a história em benefício de um evento existencial de palavra
e linguagem, para escapar às críticas da ciência histórica.
zu Luthers Theologie. Forscb:.:-:~=Wolf, ed. Zehnte Reihe, vol. \I
69
7()
Systematische
Theologie, 3.;:
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também Gunther Wenz. Ein",.
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Igreja Luterana - N" 2 - 1999
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já tem a Palavra, não necessita
do sacrament068• Para Pannenberg trata-se de uma correlação entre a promissio e os
elementos do batismo e da santa ceia, ou uma correlação entre o sinal e o objeto
sinalizado. No sacramento, o sinal e o objeto sinalizado coincidem. Esta correlação,
diz Pannenberg, é típica da reforma luterana, e falta no sistema mais reformado,
calvinista e sua concepção de uma subordinação dos sacramentos à Palavra69 .
Pannenberg opta mais pela interpretação forte dos sacramentos no sentido de admitir um proprium sacramental com relação à Palavra.
No que se refere à teologia católica, Pannenberg não concorda com as conclusões de O. Semmeleroth, K. Rahner et R. Schulte, os quais, na incapacidade de
acharem esta forma específica da ordem divina para pelo menos 4 dos 7 sacramentos, ligam os diferentes sacramentos à eclesiologia, ou seja, vêm os sacramentos
como uma forma de «derivados» da Igreja, ou «ramificações subseqüentes» da
Igreja, ou como «frutos» do «sacramento fundamental»
que seria a Igreja
(Wurzelsakrament). Parece, no entanto que Pannenberg não faz aqui, como no
capítulo 12,2,b, p.5l, a nuance que André Birmelé fez, aproximando mais Karl Rahner
dos teólogos luteranos nesse ponto. Birmelé lembra da diferença que Rahner faz
entre o sacramento original (Ur-sakrament), que seria Cristo, e o sacramento fundamental (Grund-sakrament), que seria a Igreja, na qual o primeiro sacramento é celebrado. Birmelé afirma que o «o ponto de partida de Rahner é radicalmente
cristocêntrico, Cristo sendo o sacramentum e ares sacramenti».70 Talvez a distin-
_ o :',
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"c :Üva dos sacramentos. Com E. Jüngel
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_~: coisa santa, viva, e poderosa [ ... ]»).
O teólogo francês André Birmelé fez uma nuance entre essas diferentes concepções protestantes, referindo-se,
num artigo, a uma ala do protestantismo
que considera o sacramento
como «evento da Palavra de Deus», na Revue de I' Institut Catholique de Paris. Institut
supérieur de pédagogie.
53 (1995), p. 47: «Não existe, pois, nenhuma oposição entre a
pregação e o sacramento, mas ambos são compreendidos como sendo duas maneiras equivalentes do mesmo dom do evangelho. Em alguns casos e em alguns momentos, preferir-se-á a
pregação, em outras situações a forma sacramental será mais apropriada do que a pregação
para permitir a vinda da Palvra única de Deus. As duas celebrações pedem, além disso, a
resposta da fé, a confissão de fé». Francis Pieper também falava de um idem effectus de todos
os meios da graça, em sua Christliche Dogmatik. vol. 3, Sl. Louis, 1920, p.133. Ele diz: «A
Escritura e a experiência mostram que não há nada mais difícil para pessoas que reconheceram seus pecados, do que crer no perdão de seus pecados. Assim a proclamação repetida e
variada [palavra e sacramento, n.d.a.] do perdão dos pecados através dos meios da graça
corresponde a uma necessidade dos cristãos «, p. 135. Para uma compreensão do conceito de
Lutero sobre a relação entre o sinal sacramental e a Palavra, bem como a relação entre o sinal
e Cristo, veja-se o excelente estudo do dinamarquês Regin Prenter Spiritus Creator. Studien
zu Luthers Theologie. Forschungen
zur Geschichte und Lehre des Protestantismus.
Emst
Wolf, ed. Zehnte Reihe, voI. VI. München, 1954.
Systematische
Theologie,
3, p. 377. Para a diferença entre as duas tendências,
veja-se
também Gunther Wenz. Einführung
in die evangelische
Sakramentenlehre.
Darmstadt,
1988, p. 69 bem como as pp. 47ss.
70 A. Birmelé,
art. cil. pA8. É verdade que Birmelé, contrariamente
a Pannenberg
nesse
contexto, não toma em consideração
a «compreensão
da relação entre a Igreja e Cristo»,
ibid. Mas Jüngel é mais reservado ou cético quanto à distinção que faz Rahner. De acordo com
sua opinião, Rahner não atinge realmente o ceme cristocêntrico,
quando afirma ao mesmo
tempo: «A Igreja é realmente o sacramento original, o ponto de origem dos sacramentos no
sentido próprio do termo». citado por JüngeI, arl. cil. p. 436.
69
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a facilidade
da afirmação
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=
195
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
ção de Rahner não convencesse nem Pannenberg nem Jüngel? Pannenberg teme
que para uma parte da teologia católica os sacramentos só estejam ligados a Cristo
através do elo que a Igreja tem com Cristo.
guia. O cumprimento ,,:: e'
Jesus Cristo, mesmo 5e
parousia77. Nesse sentide
alvo, e a proclamação c,~~ alvo. Os dois sacramente' , " ..
mento duplo e na realiz::~5.·
movimento ao outro: o mo', :'~e -.
Mas no tocante à essência da Igreja, tanto Pannenberg como a teologia católica
dão fundamental importância ao elo que existe entre ela e os sacramentos. Conforme
Pannenberg, Ebeling não teria a mesma opinião.7l Pannenberg chama a atenção para
o fato de que na opinião de Ebeling uma eliminação hipotética dos sacramentos
prejudicaria a essência da Igreja na concepção teológica católica, mas não necessariamente na concepão teológica protestante. Parece ser essa, com efeito, a visão de
Ebeling: «Se, num procedimento hipotético, se tirasse da Igreja católica Romana os
sacramentos, destruir-se-ia a sua natureza (essência). Se se tentasse o mesmo procedimento dentro do protestantismo, ninguém ousaria, é verdade, afirmar que isso
não teria grandes conseqüências, mesmo se, exteriormente, quase se poderia chegar a tal conclusão. Mas não podc haver dúvida de que as conseqüências [...] disso
seriam outras, e não a de ter destruído a essência da Igreja»72
Na visão de Pannenberg, a relação entre a palavra e os sacramentos tem, por
assim dizer, a forma de um percurso, de um caminho, de um movimento ou de uma
relação entre ponto de partida e ponto de chegada: «A palavra da proclamação do
evangelho, que é aceita pela fé, chega ao seu destino pelo elo realizado pelo batismo
e santa ceia entre os cristãos e Jesus Cristo».73 Ele faz referência à reforma luterana
que, segundo ele, não «compreendeu os sacramentos como sendo apenas uma
imagem e concretização (Verleibliehung) de uma salvação que de qualquer jeito jà
está presente na proclamação da palavra da promessa,74 e afirma em seguida que o
batismo e a santa ceia «acrescentam realmente algo» à proclamação oraI,75E penso
que o sentido aqui é o da chegada ao alvo, ao destino: «a incorporação em Cristo»
não se realiza definitivamente a não ser pelo batismo, e é somente na santa ceia que
«[os batizados] se sabem e confessam ser membros da Igreja de Cristo». Aquele
que apesar da proclamação do evangelho não chega ao batismo nem à santa ceia mesmo se, individualmente, ele se sente ligado à tradição e à fé cristãs - ainda não
compreendeu a promessa da proclamação cristã, e não efetuou ainda, na prática,
sua qualidade de membro da Igreja.76Pannenberg toma a sério a ordem divina ligada
aos sacramentos: «batizai! Sede batizados!», «tomai, comei, bebei, fazei isto todas
as vezes ... » Porque os sacramentos são os meios, pelos quais o ser humano já pode
chegar concretamente ao «alvo provisório» do seu destino, para o qual a palavra o
Conclusão e avaliação
Mesmo se Pannenberi' 'e
antiga,78o seu conceito de Ii'Te':' .
refere ao caráter missionár::-= c :;r-=
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7.1 Systematische
Theologie 3, p. 379. (ênfase minha).
74 lbid. p. 385ss. Aqui se encontram
certamente as explicações mais claras de Pannenberg sobre
a tese de um proprium sacramental, ou seja, que os sacramentos têm uma ação ou eficacidade
própria, diferente da palavra proclamada,
75Ibid.
71
J7
76
196
«vollzieht
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79
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têm uma ação ou eficacidade
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Jesus Cristo, mesmo se o cumprimento final ainda «está por vir» quando da
parousia77 Nesse sentido, a proclamação missionária visa sempre o batismo como
alvo, e a proclamação comunitária pressupõe o batismo, visando a eucaristia como
alvo. Os dois sacramentos correspondem assim à essência da Igreja em seu movimento duplo e na realização do seu destino, realização que sempre leva de um
movimento ao outro: o movimento missionário e o movimento comunitário e cúltico.
Conclusão e avaliação
Mesmo se Pannenberg se refere, nestes assuntos, à tradição luterana mais
antiga,78o seu conceito de Igreja se diferencia do de Lutero, por exemplo no que se
refere ao caráter missionário da Igreja, algo um pouco secundário em Lutero (pela
força das circunstâncias da época), conforme Ulrich Kühn.79 É verdade que o conceito da communio sanctorum é essencial para a definição da Igreja, tanto para
Pannenberg quanto para Lutero, mas na opinião do teólogo de Munique ele é
somente parcial porque só descreve o aspecto interno da existência da Igreja, e não
expressa suficientemente o aspecto da tarefa que foi dada à Igreja na qualidade de
instrumento e antecipação do Reino vindouro de Deus, tarefa que a Igreja cumpre
em seu movimento em direção do mundo. Essa dimensão que evidentemente se
encontra hoje numa outra perspectiva do que no século XVI, está intimamente
ligada à dimensão ecumênica em que a Igreja do século XX se encontra. A ecumene
e a missão são esforços de quase todas as dominações cristãs diante de uma sociedade pós-moderna que há muito não é mais uma reaiidade cristã global mas que,
pelo contrário, está se descristianizando a passos grandes, e à qual é preciso anunciar o evangelho de maneira credível. Pannenberg encontra-se na tradição de teólogos protestantes mais antigos, desse século, para os quais «o ambiente de um
mundo não-cristão entrou na definição da essência da Igreja» por essa razão.80
Por outro lado a eclesiologia de Pannenberg pode ser considerada como uma
contribuição original à discussão teológica e ecumênica, na medida em que ela se
fundamenta no ponto de partida mais amplo de sua teologia, como indiquei acima,
Ibid. Concluo aqui que Pannenberg incorpora a idéia aristotélica
do «movimento»
e do
«alvo», que tratou em outro contexto. Veja·se suas considerações
em Metaphysik
und
Gottesgedanke sobre "Begriff und Antizipation",
pp. 66ss, especialmente
76ss. Além disso,
preciso explicitar de que o presente estudo não pôde contemplar a questão da relação entre
o mistério neotestamentário
e o matrimônio na concepção de Pannenberg, fato abordado na
tese. O espaço aqui não o permitiu.
" Na sua obra sistemática, na qual aparece o seu «saber enciclopédico» cf. J. Buckley, «Review
Essay» . W. Pannenberg Systematic Theology, vol. 2. Grand Rapids, 1993, in Pro Ecclesia,
vol. IV, n03 (1995), pp.364-369
(p. 365), Pannenberg
cita abundantemente
Lutero e as
confissões luteranas .
77
7Y
80
<',che»,
Ibid. p. 385.
cr
Ulrich
Assim por
também de
objetivo de
Kühn, Kirche.
exemplo Paul
um ministério
que 'o mundo
Carl Heinz Ratschow, ed. Gütersloh, 1980, pp. 21-38.
Althaus, que «não fala somente de um ministério na Igreja, mas
de toda a comunidade, que fala da 'Igreja como ministério', com o
inteiro torne-se Igreja [comunidade]'»,
Kühn, op. cit., p. 151.
197
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
quanto ao conceito da antecipação ou prolepse na sua relação com a revelação
enquanto história. De acordo com este ponto de partida, a Igreja não pode ser
pensada senão como estando fundamentada sobre o Cristo ressuscitado, em quem
o Reino divino já irrompeu. Nesse sentido, Pannenberg está conduzindo um intenso
diálogo com a teologia católica. Kühn tem razão quando diz que não se pode «escrever atualmente nenhum capítulo sobre eclesiologia sem que isso se faça num diálogo intenso com o interlocutor católico-romano.»81
Lutero a Palavra e os sacf3.C:. _.'
protestantes modernos, nos êj':.:c
não passa de um apêndice a.::',,: ..
meios da graça, Palavra e sa(::-a:rentes, mas faziam parte de .::~.
sempre a Palavra pregada a h:
batismo e que celebram consta:-.:"
Palavra, no verbum vocale, 11:::
valorizá-Ios porque ela é um e:::
Pannenberg sintoniza-se aqui :_. :-:-
No tocante ao sacramento, Pannenberg desenvolveu um conceito raro para um
teólogo protestante,82 enraizado no conceito bíblico-patrístico e expresso especialmente pelo termo dejJvarí'jpwv. Também aqui Pannenberg discute vivamente com a
teologia católica. Notamos com interesse a originalidade do seu conceito de sacramento que também se encontra inserido no quadro do cumprimento da história de
Deus com esse mundo já realizado antecipadamente. 83Numa aproximação tipológica,
Pannenberg compara os sacramentos a Cristo, isto é, como sendo uma realidade,
neste mundo, que antecipa o eschaton por vir.84 A relação estreita entre a Igreja e os
sacramenta maiora, na vida concreta da Igreja, é ressaltada nesta visão proléptica.
No leque protestante Pannenberg ocupa uma posição singular, que do lado
católico só pode ser parcialmente encontrada em J.B. Metz ou L. Boff.X5Existem
duas concepções alternativas à visão dos sacramentos como sendo uma antecipação do Reino por vir: de um lado a concepção de Ebeling do sacramento como
sendo um evento de palavra, tendo como conespondente católico W. Kasper,S6e de
outro lado a concepção de E. Jüngel87 do único sacramento Jesus Cristo, tendo
como correspondente católico K. Rahner.88 Na discussão com essas correntes teológicas, Pannenberg encoraja a teologia luterana a um sério exame da questão do
proprium sacramental. Trata-se da relação entre Palavra e sacramentos, que muitas
vezes não está bem clara na consciência luterana. Trata-se, com Pannenberg, mais
de uma sacramentalisação da pregação, como R. Prenter afirmou de Lutero, do que
uma espiritualização dos sacramentos?89 Parece-me que a concepção de Pannenberg
corresponde aqui ao conceito de Lutero, segundo o qual a proclamação e a absolvição oferecem o Cristo contido nas promessas, estando assim ligados aos sinais que
Deus mesmo instituiu para o cumprimento dessas promessas no indivíduo. Em
" Isso por causa da abertura ecumênica da igreja católica, da sua «oferta eclesiológica, como o
Concílio Vaticano o formulou, da sua entrada nos diálogos ecumênicos bilaterais e multilaterais, e da renovação da sua teologia», Kühn, op. ciL p. 138.
" como Pannenberg diz em seus próprios termos, numa carta de pessoal de 1995.
'.1 cf
lembra André Birmeié, arL ciL p. 50.
B4 lbid.
p. 49.
" Ibid. p. 50.
86 Por exemplo
W. Kasper «Wort und Sakrament» in Glaube und Geschlchte. Mainz, 1970.
"' Por exemplo E. jüngel, K. Rahner. Was 1st eln Sakrament? Freibug, 1971.
" Birmelé, arL cil. p.50.
RO
198
R. Prenter, op. cil. Cr. assunto que abordei em '''O Espírito embrulhado na carne': o choque
entre Lutero e os entusiastas e espiritualistas da Reforma". Vox Concordlana, ano lI, N°I,
(1996), p. 8-19.
Digamos, para terminar, qUO' ~ (:
ceito de sacramento. Com efei:: '.
do mistério da salvação de DO'.:
história da humanidade e da Ig:-".
suas explicações sobre o conc,,;. _ .
preendido desta maneira, o ccr:(:"
desse mistério é mais ampla d: ~_.
ástica, e contribui assim para _~
realidade da vinda do Reinad: :,
que se trata de um usus lingliC'é .':não perder de vista os limites::meios dos quais Deus se serve [>:.:c
e real de Cristo, ou pela união re:
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PANNENBERG,
Wolfuart, DL'1..:''''.
Philadelphia 1970. - tradu;:'.: .
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Ethik und Ekklesiologie. G,.,-.:
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90
Ibid.
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3. p.':
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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Jade do seu conceito de sacraic, cumprimento da história de
. ::\uma aproximação tipológica,
~, como sendo uma realidade,
_ -~.ação estreita entre a Igreja e os
c -:'
saltada nesta visão proléptica.
::'Jsição singular, que do lado
-3, Metz ou L. Boff.85 Existem
~:-.:cscomo sendo uma antecipa_: Ebeling do sacramento como
-:-iente católico W. Kasper,86e de
sacramento Jesus Cristo, tendo
:2'lssão com essas correntes teoe.:: um sério exame da questão do
. :=.:lavra e sacramentos, que muitas
- Trata-se, com Pannenberg, mais
. -=:-enterafirmou de Lutero, do que
..'- ~que a concepção de Pannenberg
: qual a proclamação e a absolvi<::-;do assim ligados aos sinais que
:.' se,s promessas no indivíduo. Em
:~, da sua «oferta ec1csiológica,
_. _"os ecumênicos
~
bilaterais
como o
e multilate-
138,
~-~ carta de pessoal de 1995.
~;oube und Geschichte,
Freibug, 1971.
Mainz,
1970.
Lutero a Palavra e os sacramentos não se relacionam como em alguns recantos
protestantes modernos, nos quais por exemplo o sacramento da eucaristia às vezes
não passa de um apêndice acrescentado ao culto de pregação, Para Lutero, os dois
meios da graça, Palavra e sacramentos, não eram separáveis e muito menos concorrentes, mas faziam parte de um só todo salvífico, de um só evento: a Palavra é
sempre a Palavra pregada a homens e mulheres que vivem constantemente o seu
batismo e que celebram constantemente a eucaristia. 90 Para Lutero, a insistência na
Palavra, no verbum vocale, não visa minimizar os sacramentos, mas, pelo contrário,
valorizá-los porque ela é um elemento essencial dos sacramentos. O conceito de
Pannenberg sintoniza-se aqui com o de Lutero.
Digamos, para terminar, que Pannenberg milita para um uso mais largo do conceito de sacramento. Com efeito, este conceito permite apreciar melhor a profundeza
do mistério da salvação de Deus em Jesus Cristo, e os sinais desse mistério na
história da humanidade e da Igreja. Aqui também deverá se tomar em consideração
suas explicações sobre o conceito da diversidade sacramental e o matrimônio. Compreendido desta maneira, o conceito de sacramento permite mostrar que a presença
desse mistério é mais ampla do que uma simples circunscrição institucional eclesiástica, e contribui assim para um testemunho mais incisivo no mundo, sobre a
realidade da vinda do Reinado de Deus. Mas Pannenberg insiste sobre o fato de
que se trata de um usus linguae (Sprachgebrauch).91
Convém, nesse uso lingüístico,
não perder de vista os limites do conteúdo do assunto (Sachgehalt) referente aos
meios dos quais Deus se serve para comuniear a graça divina pela presença salvífica
e real de Cristo, ou pela união real com ele na sua morte e ressurreição. E no sentido
próprio, isto não pode ser outra coisa do que o batismo e a santa ceia. Aí está, ao
meu ver, um desafio para a teologia, cuja tarefa de ajudar as igrejas para uma proclamação clara e inequívoca do evangelho perante o mundo e a razão científica, não é
das menores nem das últimas.
Bibliografia seletiva de Pannenberg sobre eclesiologia:
Systematische Theologie. VoI. 3. Gottingen, 1993.
Thesen zur Theologie der Kirche, Claudius Thesen Reft 1. München, 19701, 19742.
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-"ient?
:::,pírito embrulhado na carne': o choque
c ,:':rma", Vox Concordiana, ano lI, N°!.
90Ibid.
9lSystematische Theologie
longe de ter terminado.
3, p.398,
Aqui, também,
o diálogo
com a teologia
católica
está
199
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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zur Lehre von den Sakramenten und vom kirchlichem Amt (Dialog der Kirchen,
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=gen um die Einheit der Christen.
::êm, vol. 109. FRIES,Heinrich, ed.
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,-,,'Q
32 (1986), pp. 35-51.
201
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
AUXÍLIOS HOMIlÉTICOS
PRIMEIRO DOMINGO NO ADVENTO
28 de novembro de 1999
Marcos 11.1-10
CONTEXTO
Com muita propriedade a perícope da entrada triunfal de Jesus em Jesusalém tem
sido colocada como uma das leituras no início do ano eclesiástico como evangelho
do primeiro domingo de advento. Assim como Jesus entrou humilde, mas como rei,
justo e salvador, em Jerusalém, a filha de Sião, assim ainda hoje vem a sua igreja, a
filha de Sião do Novo Testamento, trazendo justiça e salvação, pela sua palavra e
sacramentos. A perícope serve assim como preparação, no tempo do advento, para
a sua vinda espiritual aos nossos corações, a fim de que possamos avançar com
gratidão a Deus, conforme o lema de nossa igreja para o novo ano eclesiástico. A
perícope encontra-se nos quatro Evangelhos com algumas diferenças na narração
que, porém, não são conflitantes. Após haver passado a noite em Jericó, na casa de
Zaqueu, Jesus dirigiu-se a Betânia, aonde deve ter chegado sexta, à tardinha. Passou o sábado com seus amigos Lázaro, a quem recentemente ressuscitara dos moro
tos, Marta, Maria e outros seguidores, que ali moravam. No dia seguinte, domingo,
pôs-se em marcha rumo de Jerusalém com seus discípulos e outros peregrinos.
Quando muitos peregrinos, já em Jerusalém para a festa da Páscoa, ouviram de sua
chegada, saíram da cidade para encontrar-se com ele, com ramos de palmeiras,
unindo as suas vozes ao cortejo, procedente de Betânia.
TEXTO
Quanto às aldeias de Betfagé e Betânia, só podemos localizar a última, tendo a
primeira desaparecido. Betânia situava-se no lado leste do Monte das Oliveiras,
onde se encontra hoje a aldeia El Azarigeh (cidade de Lázaro). Betfagé deve ter-se
encontrado entre Betânia e Jerusalém. Seu significado é casa de figos e o de Betânia,
casa de tâmaras. Até o ano de 70 A.D. aquela região era coberta de árvores frutíferas
e o Monte das Oliveiras, de oliveiras, quando os romanos mandaram cortá-Ias,
sendo até hoje seu número escasso.
V 1- Jesus enviou dois de seus discípulos, que talvez fossem os mesmos de Lc
22.8, Pedro e João. Se o Evangelho de Marcos registrou de fato as memórias
de Pedra, então um dos enviados deve ter sido Pedro, devido à exatidão dos
dados fornecidos. R.A.Cole chama a atenção sobre o fato de que foram de
dois em dois. Jesus costumava confiar uma tarefa a ser realizada em conjunto, a um grupo, no mínimo de dois em dois. A ação solitária do cristão nunca
foi um ideal bíblico. Apenas entrou mais tarde na igreja com o surgimento
dos monges e eremitas.
202
V2- A aldeia que est2::: ::
deveria ser um
ainda não tinha slc .'
de instrumento j~ ::::-::-:-:
primícias. Passage-' .. I'
esta interpretaçãs ::_ainda não usadüs ': ..
_
bem planejado.
V 3- O Senhor precisa ,de:.;; animal o liberasse,~_ .' .
as maiores barrelr.:.' .
vontade seja feita", .::
V4· Os discípulos enviad::: :
portão, certamente d" ::::. última palavra I:íflÇ:.:::
rua), originalmente.::: ..:.-.
sentido de quarteir2c:. c. _
sariamente de uma L:: =:
Vv. 5-6- Diz o nosso text,:::::
discípulos estavam s:: :::. :
nos (Lc 19.33). Esse'
chegaram a conhec~-:-e:::
e, por isso, permitirzc. ::_:
conforme a última fr::.::
Os que não admitem a
prévio de Jesus feito com: s ::.
encontram dificuldade ei!': ::::::_
sugerido em Lc19.33 em c::
passagens em que a onisc.2:-.
1.48; Jo 2.4,25; Mc 10.33.3.:
Merece destaque o pr.::: _.:::: -para eles obscura da qual "l:-::=
comprometer a sua honestl::::::::
desafio e são coroados de
as tarefas penosas, muitas \ ",Ze::
as mesmo com fISCO,sem;::: .:: concedido pela fidelidade:::.: V 7- É uma das caracterí::::::.
histórico peio que ,~~.':: _
nos pnmeIrOS ve:-:!=.
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
V2- A aldeia que estava diante deles pode ter sido a própria Betfagé. Por que
deveria ser umjumentinho oqual ainda ninguém montara? Talvez porque
ainda não tinha sido usado para executar trabalhos indignos e deveria servir
de instrumento de primeira mão para o Senhor. Deveria ser urna espécie de
primícias. Passagens como Nm 19.2; Dt 21.3 e 1 Sm 1.7 parecem confinuar
esta interpretação. Para executar propósitos sagrados no A.T. só animais
ainda não usados poderiam ser empregados. Cada detalhe tinha sido muito
bem planejado.
_:.ial de Jesus em Jesusalém tem
_:0 ~ eclesiástico como evangelho
_: entrou humilde, mas como rei,
0-0'0 ainda hoje vem a sua igreja, a
,:,
'c salvação, pela sua palavra e
':,3.0, no tempo do advento, para
,'o ie que possamos avançar com
: :'ara o novo ano eclesiástico. A
o
:.lgumas diferenças na nanação
V 3- O Senhor precisa dele. Como essa palavra era decisiva para que os donos do
animal o liberassem, assim ainda hoje uma palavra do Senhor pode romper
as maiores barreiras e dar força e direção ao cristão a fim de que a sua
vontade seja feita e os planos de seu reino possam ser executados.
V4- Os discípulos enviados foram e encontraram o jumentinho amanado junto ao
portão, certamente da propriedade dos donos, do lado de fora, na rua. Essa
última palavra uJJcjJo6ov,a combinação de D:JJcjJL
(em torno) e o6óç (caminho,
rua), originalmente uma rua indo em torno de algo, podendo também ter o
sentido de quarteirão, aqui provavelmente tem o sentido de rua e não necessariamente de urna rua cercando a casa.
_" :'::0 a noite em Jericó, na casa de
c:' :hegado sexta, à tardinha. Pasel1temente ressuscitara dos mor:':''' amoNo dia seguinte, domingo,
. _; discípulos e outros peregrinos.
resta da Páscoa, ouviram de sua
ele, com ramos de palmeiras,
: 3etânia.
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:.i:, leste do Monte das Oliveiras,
__~c de Lázaro). Betfagé deve ter-se
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c:: 3.:,era coberta de árvores frutíferas
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:e::ção sobre o fato de que foram de
_::-a tarefa a ser realizada em conjun,: lS. A ação solitária do cristão nunca
::s tarde na igreja com o surgimento
Vv. 5-6- Diz o nosso texto que alguns dos que ali estavam reclamaram quando os
discípulos estavam soltando o jumentinho. Lucas os identifica com os donos (Lc 19.33). Esses donos deviam ter sido bons amigos de Jesus ou o
chegaram a conhecer recentemente, talvez através da ressuneição de Lázaro
e, por isso, penuitiram que o levassem, confiando na sua pronta restituição
conforme a última frase do V. 3.
Os que não admitem a onisciência e onipotência dc Jesus insistem num acordo
prévio de Jesus feito com os donos, mas os que aceitam a divindade de Jesus não
encontram dificuldade em ver aqui um procedimento sobrenatural, que parece ser
sugerido em Lc19.33 em que os donos expressam a sua surpresa. Confira outras
passagens em que a onisciência de Jesus claramente se evidencia (Mt.l7.27; Jo
1.48; Jo 2.4,25; Mc 10.33,34).
Merece destaque o procedimento dos discípulos que executaram uma tarefa
para eles obscura da qual ainda não entendiam o sentido (Jo 12.16) e que poderia
comprometer a sua honestidade, mas confiantes na palavra do Senhor enfrentam o
desafio e são coroados de pleno êxito (cp. Lc 5.5). Assim também nós não temamos
as tarefas penosas, muitas vezes obscuras para nós, no reino de Deus e, realizandoas mesmo com risco, sempre de novo experimentaremos com gratidão o sucesso
concedido pela fidelidade das promessas do Senhor.
V 7- É uma das características do estilo vívido de Marcos o emprego do presente
histórico pelo que seu Evangelho já foi chamado o Evangelho da ação. Já
nos primeiros versículos constatamos em verbos sucessivos o presente,
203
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
indicando ações passadas éyyL( OUOLV, tXíTOOtÉV,EL (v. 1),
(v.2). No v. 7
encontramos de novo os dois primeiros verbos no presente: cpÉPOUOLV,
ÊTIL~á.ÀÀOUOLV. Na tradução se perde essa nuança estilística, sendo todos os
verbos traduzidos no passado. Mas assim mesmo podemos perceber a sucessão rápida das ações. Em Mateus e Lucas a maioria desses verbos se
encontra no aoristo.
Apenas Mateus relata que trouxeram a Jesus dois animais: o jumentinho e sua
mãe. Os outros evangelistas citam somente o jumentinho, pondo toda a ênfase no
animal que foi usado como montaria. Não há necessidade de ver nisso uma contradição. A jumenta não pertence à essência do relato. Ela foi levada junto talvez
apenas para tornar o jumentinho mais dócil, quando dela acompanhado.
Vv. 8-10- E muitos estendiam as suas vestes pelo caminho. As vestes postas sobre
o jumentinho tinham uma finalidade prática: amaciar o assento. As que foram
espalhadas pelo caminho serviam como tributo de homenagem que se prestava no Oriente a um rei (cf. 2 Rs 9.13). Era também uma demonstração de
submissão e sacrifício, oferecendo o que tinham de mais indispensável para
o próprio uso. Além disso, para expressar a sua intensa alegria, espalhavam
ramos de árvores pelo caminho. Que tipo de ramos eram? Mateus usa os
termos KÂá.OOUÇ eXíTà tWV oÉvopwv (ramos das árvores); Marcos, oH~á.oaç
Kólj!av,Eç
eX1Tà,WV eXypwv (ramos que haviam cortado dos campos); Lucas só
menciona as vestes que estendiam pelo caminho e João fala em ~ata ,wv
cpOLVLKWV (ramos de palmeiras) que tomaram para sair a seu encontro. Como
parece, serviram-se de ramos de diferentes plantas, tanto de árvores como
de plantas rasteiras, tudo para expressar a mesma simbologia: alegria, esperança, vitória.
Essa diversidade de ramos usados coaduna-se bem com o v. 9 que fala de dois
grupos: os que iam adiante dele como os que vinham depois. Os que iam adiante
dele eram com certeza o grupo do qual fala João. Numerosa multidão que já tinha
vindo à festa e se encontrava em Jerusalém, tendo ouvido que Jesus estava de
caminho a Jerusalém, tomou ramos de palmeira e saiu a seu encontro, talvez agitando-os (Jo 12.12,13). Era costume dos judeus de agitar ramos de palmeiras na festa
dos tabernáculos como expressão de alegria. Encontraram-se com o grupo que
vinha acompanhando a Jesus na descida do Monte das Oliveiras, do lado de Jerusalém, onde toda a multidão passou, jubilosa, a louvar a Deus em alta voz, por todos
os milagres que tinham visto (Lc 19.37). As palavras jubilosas não são todas as
mesmas nos quatro relatos. A multidão pode ter proferido todas elas, sendo que
cada evangelista registrou o que lhe foi transmitido por divina inspiração. Uma frase
é comum aos quatro: EU.\OYllIlÉvOÇ o ÊPXÓIlEVOÇ Êv oVóllan KupLou (bendito o que
vem em nome do Senhor). 'EpXÓIlEVOÇ é um título estritamente messiânico (cf. Mt
11.3). Designava o nome do Messias que deveria vir para tornar o nome de Deus
conhecido aqui na tena e salvar a humanidade dos seus pecados. A palavra hosana
foi registrada por três, com exceção de Lucas. É uma transliteração de ~)?;-,)!'\Ui;-,
(Salva-nos, nós te pedimos). É uma combinação ao mesmo tempo de súplica e de um
204
grito de homenagem ou
o início para o uso litúrgi:'~ : -Tanto a frase Bendito c c c
extraídos do SI 118.25,26 E .:-:- 113-118), cantados duran:=.:. :=
com o Messias esperado.
_
dos: hosana ao Filho de Do"
(João) e Marcos, em lugar d= ::._
Rei e reino se completam e 2r:' c.: ~ .
um reino deste mundo. Iss: 2:0: _.
morada de Deus para onde: oõ.:
ainda são mais explícitas: pC.:
paz que só Jesus poderia dar = .:._
É inútil especular quant:s
entrada de Jesus em Jerusalér:: = 2 - .
só o compreenderam plenam=~:o _c'
bém At 1.6). Não importa (' ir2.
triunfal foi o cumprimento d= Z _ :
movido pelo poder do Espíri:: ~.:.
voz por todos os milagres quo ::r.-:
recente milagre da ressurrei~2=.;
coração, boca e mãos, numa f~-,-,
também aceitou o seu lom'or. - - _ '.
escribas de silenciar as vozes::::
mais longe ainda, dizendo que _ õ. o
o que as pedras iriam proteS:2: c'PROPOSTA HOMILÉTIC-\
Tema
A entrada de Jesus em Je:'..:.:o'igreja através da palavra e sacr:::--:1. Ele vem humilde, porém c::-.' • := .
2. Ele deve ser recebido cc:-:.
louvor e testemunho) e cc:-:- .•: :-:-~
Igreja Luterana
(v.1),
(v.2).Nov.7
presente: <jJÉpouow,
-_.~':i estilística, sendo todos os
: '-no podemos perceber a su__:.' " maioria desses verbos se
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· :mimais: o jumentinho e sua
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~ela acompanhado.
. ,:'::iinho. As vestes postas sobre
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de homenagem que se pres. :lmbém uma demonstração de
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'.:a intensa alegria, espalhavam
~ê ramos eram? Mateus usa os
~as árvores); Marcos, onpúbaç
. :ortado dos campos); Lucas só
_.::'.:J.ho e João fala em paÜ( :wv
::ara sair a seu encontro. Como
. :' ::lantas, tanto de árvores como
:-;'ê -ma simbologia: alegria, espe-
· ~m com o v. 9 que fala de dois
-~.:.m depois. Os que iam adiante
'<umerosa multidão que já tinha
ê~~J ouvido que Jesus estava de
, . :.iu a seu encontro, talvez agitan. :'~::3.rramos de palmeiras na festa
~>:.:ntraram-se com o grupo que
.~ das Oliveiras, do lado de Jeru, :."'''' a Deus em alta voz, por todos
:,\TaS jubilosas não são todas as
. ê~ ::roferído todas elas, sendo que
.' ::cor divina inspiração. Uma frase
ÓVó!-1aHKUPLOU (bendito o que
, estritamente messiânico (cf. Mt
- N° 2 - 1999
grito de homenagem ou saudação, equivalente a "Viva!" ou "Glória!" Passou desde
o início para o uso litúrgico como uma interjeição de alegria e louvor.
Tanto a frase Bendito o que vem em o nome do Senhor como o hosana foram
extraídos do SI 118.25,26. É um salmo messiânico que faz parte do grande hallel (Sls
113-118), cantados durante a Páscoa pelos judeus. A multidão identificou a Jesus
com o Messias esperado, o que expressam também os outros termos acrescentados: hosana ao Filho de Davi (Mateus), Bendito é o Rei (Lucas), Rei de Israel
(João) e Marcos, em lugar de Rei, fala no reino que vem, o reino de Davi, nosso pai.
Rei e reino se completam e ambos foram prometidos e estavam para vir. Mas não era
um reino deste mundo. Isso atestam as palavras nas maiores alturas, indicando a
morada de Deus para onde Jesus em breve seria exaltado. As palavras de Lucas
ainda são mais explícitas: paz no céu e glória nas maiores alturas, aludindo àquela
paz que só Jesus poderia dar e a uma glória não profana, mas celestial.
É inútil especular quantos da multidão entenderam o verdadeiro sentido da
entrada de Jesus em Jerusalém e a natureza de seu reino espiritual. Até os discípulos
só o compreenderam plenamente depois que Jesus foi glorificado (J012.16; cf. também At 1.6). Não importa o grau de compreensão, o que importa é que a entrada
triunfal foi o cumprimento de Zc 9.9 e que o entusiasmo do povo era autêntico,
movido pelo poder do Espírito Santo. A multidão estava louvando a Deus em alta
voz por todos os milagres que tinham visto (Lc 19.37), entre os quais figurava o
recente milagre da ressurreição de Lázaro (Jo 12.17). Receberam a Cristo com o
coração, boca e mãos, numa fé alegre e confessante, ativa pela amor. Por isso Cristo
também aceitou o seu louvor, não atendendo ao pedido dos principais sacerdotcs c
escribas de silenciar as vozes dos meninos no tcmplo (Mt 21.15) e em Lc 19.40 vai
mais longe ainda, dizendo que o silenciar de tais homenagens seria um crime contra
o que as pedras iriam protestar em altos brados.
PROPOSTA HOMILÉTICA
Tema
A entrada de Jesus em Jerusalém, uma imagem de sua vinda ainda hoje a sua
igreja através da palavra e sacramentos.
1. Ele vem humilde, porém como Rei, trazendo salvação e paz.
2. Ele deve ser recebido com o coração (fé verdadeira), com a boca (confissão,
louvor e testemunho) e com as mãos (obras que sejam frutos autênticos da fé) .
Paulo F. Flor
Dois Irmãos, RS
"ir para tornar o nome de Deus
:.:, ,eus pecados. A palavra hosana
:=: uma transliteração
de XJ?:1l7't.:i;:1
, , :-'iesmo tempo de súplica e de um
205
Igreja Luterana - N" 2 • 1999
SEGUNDO DOMINGO NO ÃDVENTO
5 de dezembro de 1999
Marcos
J,1-8
1.1) "arehé" = início, origem, princípio. Neste texto, descreve o começo do evangelho de Cristo, segundo Marcos.
Evangelho significa boas novas. Marcos usa esse termo para se referir aos fatos
históricos, palavra e obra de Jesus Cristo, como plenamente de acordo com as
profecias do AT.
UlOU
theou" = Filho de Deus. Essa designação após o nome Jesus Cristo
encontra-se somente aqui em todo o NT. Assim, Marcos apresenta Jesus Cristo
como o eterno Filho de Deus. Jesus (cujo significado é Salvador, cf Mt 1.21), de
fato pode salvar inteiramente dos pecados, por ser ele de natureza divina (ct. Hb
7.23-28). A natureza divina de Cristo é o fundamento do evangelho.
"katôs gégratetai" = assim como está escrito. É uma fórmula confirmatória
para o relato que segue. Tudo o que segue aconteceu de acordo com o que foi
anunciado previamente pelo profeta, Os profetas anunciaram. Por isso, o que
segue devia ser assim, BLH: "A boa notícia~.. começou como o profeta Isaías
tinha dito".
1.2,3)
"ángelos " = João Batista é mensageiro de Deus. Essa é uma das poucas
ocasiões no NT em que o termo é usado para referir-se a mensageiro humano e não
a anjos. Além deste texto, encontramos o vocábulo com o mesmo sentido de mensageiro humano emLc 7.24; 9.52; Tg 2.25 e Mt 11.10.
do pecado mas tambér;~,
pregação de arrependimcr~::
Edmund, The Doetr!ne
IA) Na pregação de JciL ~~::-~
do pecado, visande - -:-éC
de mente e atitud" ~ ,~-~~
Batismo como mel;: "':-:~-:_
na atitude dos batin:-',
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_
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o texto traz "batismo d~~c::-~-"
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uma purificação cúltico-ceri'''.:r
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o seu encontro com o juiz ',:r: c
pregação, tomando-se comc:~c_
O batismo de João relaci:rc
livrar-se do julgamento. Arr: f: _ ~
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salvação no juízo vindouro. '.;:
a purificação e renovação es:c: ~
tido pelos profetas (Me 1.S: '<:
arrependimento, dirige ao c'''" c" - _
escatologicamente válido, :-~~::':
como um selo eficaz do arrepé',,:::-~ .
1.7,8) João anuncia a vin:: c" '.
Espírito Santo". Não Sé'rc~~Espírito Santo à sua igE,
o que faz pensar no dia ::~ :
A citação é de 1s 40.3 e Ml 3.1. João Batista é, por conseguinte, o mensageiro,
aquele que foi enviado para anunciar ao povo a necessidade e meio de preparação
do caminho para a chegada de Cristo.
Após a morte e ressurrei.; ".:
e desde então atua em tod:'
Aliança nos profetas, reis e::.:'
sua plenitude, Cada membr: __
Daí, a citação de preparador do caminho. Logo, João Batista foi porta-voz e
preparador do caminho para Cristo. Ele é o Precursor do Messias vindouro.
conseguinte, é alistado peic ::: c :-7.39; 2 Co 3.6), para ser me"o::~
"Consciente de ser ele o porta voz e preparador do caminho para Aquele que
estava para vir, o "mais poderoso" (l'vIc1.7), João o proclamou como sendo o executor do julgamento divino. Ao mesmo tempo, João via nele o cumprimento da promessa profética sobre a outorga do Espírito (Me 1.8). Porquanto o juízo de Deus é
iminente, é exigido o imediato arrependimento. João não exigia apenas a confissão
206
c
PARA A I\1ENSAGR\ I
Quatro séculos se passar2.:-:-~
~de silêncio profético. A relig:3:
_
as de purificação exteriores
e conformidade com a lei.
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
do pecado mas também um afastamento do mesmo (Mt 3.8,10). Baseado nessa
pregação de alTependimento, João convidava as pessoas para o Batismo." (SCHLINK,
Edmund. The Doctrine of Baptism. St. Louis, CPH, p.17) .
. descreve o começo do evan-
, c:: é :enno para se referir aos fatos
::lenamente de acordo com as
~~:.;ão após o nome Jesus Cristo
-- \larcos apresenta Jesus Cristo
_::10 é Salvador, cf. Mt 1.21), de
é~ "le de natureza divina (cf. Hb
<:0 do evangelho.
É uma fórmula confirmatória
_-nteceu de acordo com o que foi
Cétas anunciaram. Por isso, o que
:omeçou como o profeta Isaías
_:-_'0
:
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_::::'-se a mensageiro humano e não
_.- : om o mesmo sentido de mensa-
__ . Dor conseguinte, o mensageiro,
~:essidade e meio de preparação
:"':go, João Batista foi porta-voz e
: _:~sor do Messias vindouro.
1.4) Na pregação de João temos Lei e Evangelho. Aqui a lei é aplicada na denúncia
do pecado, visando o arrependimento ("rnetánoia" = conversão, mudança
de mente e atitude, voltar-se para Deus). O Evangelho está vinculado ao
Batismo como meio "para a remissão dos pecados". O resultado se apresenta
na atitude dos batizados confessando os seus pecados (v.S). Excelente auxílio
poderá ser a citação da Confissão de Augsburgo, Artigo XII: Do Arrependimento.
O texto traz "batismo de arrependimento". Qual o significado desse batismo de
arrependimento? Não se tratava apenas de uma limpeza exterior do corpo, nem de
uma purificação cúltico-cerimonial. Era, antes, uma preparação do homem todo para
o seu encontro com o juiz vindouro. Esse é um aspecto que pode ser destacado na
pregação, tomando-se como auxílio a epístola do dia (2 Pe 3.7-14).
O batismo de João relacionava-se com uma conversão total, a única maneira de
livrar-se do julgamento. Através desse Batismo, o pecador penitente era inserido no
alTependimento e, por causa dele, produzia frutos do alTependimento e aguardava a
salvação no juízo vindouro ... Não coube a João, mas sim ao que virá após ele, operar
a purificação e renovação escatológica mediante o Espírito Santo, conforme prometido pelos profetas (Mc 1.8; Mt 3.11; Lc 3.16; At 1.5 ). O Batismo de João exige
arrependimento, dirige ao arrependimento e reconhece o arrependimento como
escatologicamente válido. Nesse aspecto, o batismo de João pode ser caracterizado
como um selo eficaz do arrependimento. (SCHLINK, op.cit., pp. 18,19).
1.7,8) João anuncia a vinda de Jesus Cristo como seu superior. Este batizará "no
Espírito Santo". Não se refere aqui ao batismo com água, mas à outorga do
Espírito Santo à sua igreja. Mateus acrescenta o fogo ao se referir ao Espírito,
o que faz pensar no dia de Pentecostes.
Após a morte e ressurreição de Jesus, o Espírito Santo foi enviado ao seu povo
e desde então atua em todos os crentes. Embora o Espírito já agisse na Antiga
Aliança nos profetas, reis e outros mensageiros de Deus, agora será derramado em
sua plenitude. Cada membro da igreja de Cristo recebe o Espírito. Cada um, por
conseguinte, é alistado pelo Espírito como um instrumento do Cristo exaltado (Jo
7.39; 2 Co 3.6), para ser mensageiro e precursor daquele que há de vir para o juízo.
PARA A MENSAGE.l\1
- ~:r do caminho para Aquele que
oroclamou como sendo o execu._::\ia nele o cumprimento da proPorquanto o juízo de Deus é
- -}o não exigia apenas a confissão
Quatro séculos se passaram em que não se ouvia a voz de Deus. Foi um período
de silêncio profético. A religião deteriorara em meros rituais, formalismos, exigências de purificação exteriores (batismos nas comunidades de Qurnran, Essênios, ctc.)
e conformidade com a lei.
207
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
o povo esperava a manifestação de Deus para o juízo. Parecia, no entanto, que
Deus estava distante, alheio à realidade e necessidades do cotidiano de seu povo.
As vozes que se faziam ouvir não eram dignas de crédito, visto não terem sido
enviadas por Deus. Sua mensagem não era a mensagem divina de lei e evangelho.
Por conseguinte, não preparavam para o "encontro com o Juiz".
A voz de Deus, no entanto, se faz ouvir através do seu último mensageiro e
também precursor de Deus - João Batista. Sua mensagem é Palavra de Deus amparada na voz dos profetas outrora enviados. Ele proclama Cristo, o Filho de Deus,
como Aquele que está para vir. Nele há remissão de pecados e a outorga do Espírito
Santo.
Que tipos de vozes clamam e clamarão nesses domingos que precedem o terceiro
milênio? Serão, de fato, a voz de Deus? Pense nos esotéricos e suas exigências de
purificação, nos pentecostais e outros legalistas confundindo o rito de Batismo com
uma conformidade a leis eclesiásticas, etc. Não parece ao povo de Deus que ele se
calou por dois milênios, deixando seus filhos sem a sua companhia e orientação? E, se
Deus continua ativo, onde podemos ouvi-Io e de que maneira nos comunicamos com
ele? São fidedignas as tantas vozes que clamam e exigem do pobre pecador? A pergunta da Idade Média continua atual: "Como encontrar um Deus gracioso?"
TERCEI:RO
CONTEXTO
O
Jesus
Estes,
Deus,
Evangelho de k:"
diante dos discípc:;.: : _.
porém, foram fê;,.~
e para que, crend: . .:::".
Nossa perícope se "L':-=-'
que o Verbo (Jesus) é ete:'
(Jesus) é a redenção ( 19-:respeito de Jesus Cristo. -.
No v. 6 João (o Bati:::-=-:: :--,tem autoridade dada per D,
idosos (Zacarias e Isabe 1 ::. - ::
nascimento de João afim,.'.
Essa reflexão é própria para conduzir ao tema da pregação:
Deus nos fala pelo Evangelho de seu Filho. (v.I)
Espírito Santo, já no vem'::
"E a mão do Senhor est::'·-=Rudi Thoma
São Borja, RS
Promessa Divina, de algu:':. era um representante pe",'
vv. 7 e 8- É dito quc Je:"
estava no mundc ,:: _
presente. E mais t,,- ~_
"Eis o Cordeiro de D::_:
a luz, como bem eliso", ~" _
5.35); ou seja, Jose ::
verdadeira. A funç:L =-=-
vv.19-23 - Umade1ega~-"- -=-.:
sobre quem ele cr:: e . -=-.:"- '-,~
à promessa de D::c:' _
Elias, antes que \er.:--.-=. ~.
ele era o profeta qu:: :::lhes-ei um profeta:: - r'::
as minhas pala '-rê,' .: ..
ponde: Não. A
208
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
.ufzo. Parecia, no entanto, que
::::::es do cotidiano de seu povo.
~ ::ó ~rédito, visto não terem sido
;em divina de lei e evangelho.
::,:·mo Juiz".
~s do seu último mensageiro e
:-:,s::gem é Palavra de Deus ampa:::, ::lama Cristo, o Filho de Deus,
:::-pecados e a outorga do Espírito
:::'Tlingos que precedem o terceiro
" " esotéricos e suas exigências de
",'Jndindo o rito de Batismo com
::::::-:e ao povo de Deus que ele se
'J,i companhia e orientação? E, se
:: J:- maneira nos comunicamos com
. ó\:igem do pobre pecador? A per'-"rar um Deus gracioso?"
:;2
pregação:
:lê seu Filho. (v.I)
Rudi Thoma
São Borja, RS
TERCEIRO DOMINGO NO ADVENTO
j2 de dezembro de 1999
João 1.6-8, 19-28
CONTEXTO
O Evangelho de João expressa claramente o seu propósito: "Na verdade fez
Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de
Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (20.30-31).
Nossa perícope se situa no prólogo do Evangelho de João, onde é testificado
que o Verbo (Jesus) é eterno (1.1-2); estava junto ao Pai na criação (1.3); e o Verbo
(Jesus) é a redenção (1.9-14), e se estende pelos testemunhos de João Batista a
respeito de Jesus Cristo, o Filho de Deus que tira o pecado do mundo (1.29-34).
No v. 6 João (o Batista) é apresentado como "enviado" por Deus. Alguém que
tem autoridade dada por Deus para falar. Deus intervém na vida de um casal de
idosos (Zacarias e Isabel) e lhes concede um filho na velhice, e o anjo ao anunciar o
nascimento de João afirma: "Este será grande diante do Senhor ... será cheio do
Espírito Santo, já no ventre materno" (Lucas 1.15); e após o seu nascimento é dito:
"E a mão do Senhor estava com ele" (Lucas 1.66). E João é o cumprimento da
Promessa Divina, de alguém para preparar o caminho do Senhor (Mateus 3.3). João
era um representante pessoal de Deus no seu plano de salvação.
vv. 7 e 8- É dito que João veio como "testemunha". João foi o "profeta final", que
estava no mundo testemunhando, apontando para o Salvador que já está
presente. E mais tarde, face a face com Jesus, João dá o grande testemunho:
"Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1.29). João não era
a luz, como bem disse Jesus: "Ele era a lâmpada que ardia e alumiava"( João
5.35); ou seja, João era um instrumento na mão de Deus para mostrar a luz
verdadeira. A função da lâmpada é mostrar a luz, e João fez isso muito bem.
vV.19-23 - Uma delegação dos líderes religiosos judeus foram até João para especular
sobre quem ele era e o que pregava. Perguntaram se era ele Elias, uma referência
à promessa de Deus em Malaquias 4.5: "Eis que eu vos enviarei o profeta
Elias, antes que venha o grande e terrível Dia do SENHOR". Questionaram se
ele era o profeta que Deus prometeu enviar em Deuteronômio 18.18: "Suscitarlhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei
as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar". E João responde: Não. A delegação persiste em seus questionamentos, pois o que iriam
209
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
dizer aos que os enviaram? E João responde dizendo que é o cumprimento da
promessa de Isaías 40.3: "Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do
Senhor; endireitai no ermo vereda ao nosso Deus". Sua missão era preparatória.
João era a voz que anunciava a redenção, que já estava presente no mundo.
VV.24-27- Os fariseus que foram interrogar João tinham um interesse maior na
atividade que ele estava fazendo - Batizar. Para os fariseus o Batismo era um
rito escatológico, que deveria ser realizado por personagens do fim dos tempos. João ao dizer: "Eu batizo com água", deixa claro que virá outro que
batizará com o Espírito Santo ( João 1.33). E João desfaz-se de toda autoridade
e dignidade pessoais e diz que já está presente no meio do povo alguém
especial que ele não era "digno de desatar-lhe as correias das sandálias"(v.27).
Desamarrar e carregar sandálias era o dever dos escravos. João se coloca na
condição de escravo, servo do Senhor, que ele batizaria mais tarde.
V.28 - Este versículo serve para confirmar e localizar o leitor do Evangelho sobre
onde se passaram estes acontecimentos .
QUARTO
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Nota: Contexto e Aii.~··
INTRODUÇÃO
Um jornalista disse: "Um ,',"
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com extraordinários significad::' .~,
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... quando o comum torna-Sê
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PROPOSTA HOMILÉTICA
I - Quando Deus providencia tu!
Advento: queremos esperar com fidelidade a Deus testemunhando a respeito da
Luz: Jesus.
Paulo Henrique Voltz
São José do Rio Claro, MT
A - Deus providenciou Jes> C' ,
B - Deus providenciou Jescs cC - Deus providenciou na Es __,
Cristo (2 Pe 1.21). Deus usou c .:.~,
A virgem Maria experimem: _
ela tornou-se o embrião dos 'I - concebido pelo Espírito Sant,cP
grande privilégio em sua "insign,,:_
A- Somos tentados a peroo-1- Muitas vezes queremos ,':'::.-,
2- Muitas vezes queremos :::-:-d
padrões.
B- O reconhecimento ((
1- Como Maria que creu :-.::"
2- Esta missão salvador" ;c::":-
c-
O reconhecimento
(lc --'
CONCLUSÃO
Deus ainda muda o cornu:-:'
210
L-:~
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
c~,jo que é o cumprimento da
:-7s~rto:Preparai o caminho do
_ . _ Sua missão era preparatória.
.. :- estava presente no mundo.
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QUARTO DOMINGO NO ADVENTO
19 de dezembro de 1999
Lucas 1.26-38
..-.ham um interesse maior na
-:. ..s fariseus o Batismo era um
::'.. :.'ersonagens do fim dos tem:.c:\a claro que virá outro que
~: desfaz-se de toda autoridade
. ~:e no meio do povo alguém
, _.,:c:meias das sandálias"(v.27).
_.' escravos. João se coloca na
::o:nizaria mais tarde.
=::'f
o leitor do Evangelho sobre
Nota: Contexto e Análise do texto: ver Igreja Luterana, vaI. 49, n° 2, ano 1990.
INTRODUÇÃO
Um jornalista disse: "Um fato é como um saco - só fica em pé quando está
cheio". Pode nossa vida do dia-a-dia, agitada com a preparação do Natal, ser enchida
com extraordinários significados? A experiência de Maria responde com um forte
sim. Ela mostra-nos o que acontece ...
... quando o comum torna-se extraordinário
I - Quando Deus providencia tudo
= C·..lS testemunhando a respeito da
Paulo Henrique Voltz
São José do Rio Claro, MT
A - Deus providenciou Jesus Cristo no mistério da encarnação (v.31)
B - Deus providenciou Jesus Cristo na sua morte e ressurreição (v. 31; Mt 1.21).
C - Deus providenciou na Escritura Sagrada um registro do seu amor em Jesus
Cristo (2 Pe 1.21). Deus usou o anjo para anunciar a Boa Notícia, o Evangelho!
A virgem Maria experimentou a total providência de Deus. Duma humilde galiléia,
ela tornou-se o embrião dos sonhos e da esperança de toda a humanidade: "Foi
concebido pelo Espírito Santo". Maria, também, ilustra a maravilha de receber um
grande privilégio em sua "insignificância, humildade, pobreza e inferioridade". (Lutero)
n- Quando
Deus capacita-nos a receber o que ele providenciou
A- Somos tentados a perder-nos no comum (v.34).
1- Muitas vezes queremos transformar as dádivas de Deus em nossas realizações.
2- Muitas vezes queremos limitar as dádivas de Deus de acordo com os nossos
padrões.
B- O reconhecimento do extraordinário necessita de aceitação (v.38)
1- Como Maria que creu na missão salvadora de Jesus (v.37).
2- Esta missão salvadora preencheu e satisfez a sua vida (v.37).
c- O reconhecimento do extraordinário necessita de uma resposta (v.38)
CONCLUSÃO
Deus ainda muda o comum em extraordinário? Simples água, pão e vinho, palavras
211
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
num livro (Bíblia), corpo e sangue, isso tudo são coisas comuns, mas transformadas
em extraordinárias por Deus!
As palavras do anjo Gabriel: 'Tara Deus não haverá impossíveis", ainda
permanecem verdadeiras. Pode Deus preencher a nossa vida do dia-a-dia com seu
significado extraordinário? Em Jesus Cristo a resposta é SIM: ontem, hoje e para
sempre! Nossa "contribuição" para este milagre? A alegre resposta da fé, que
exclama: "Deixe isso para mim conforme tua Palavral"
Osvino Vorpagel
lndaial,
se
I. CONSIDERAÇÕES I,iRe
Normalmente inicia-sê_=exegéticas que consideram
estrutura do texto, a gramátic::. -:
repartir alguma experiência e " ~
contri buição uma coletânea de ê -:-_
refletiram sobre o texto. Esc!'e
pregação relevante nesses rIC', :, Kürst, Lindolfo Weingartner. e
:e,~
Enfim, fiz o trabalho dê,,:~
oferecer o mel saboroso do E>.:.
de nossas vidas.
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n. CONSIDERAÇÕES GER '; T';;
AS EXPECTATIVAS DA CO"':;l
DO PREGADOR
A história do Natal em 51 '~
outros tipos de prédicas, c::-~'
sociedades de consumo. sobre .:.'
posto ao lixo e miséria de n:',.:c: - ~
Mas, falar e ouvir o Ób\lC e :
presta atenção no profundarc.e'
ro de Deus precisa fazer ao preê -: ':'.-
o
pregador precisa leIT,::':': : __
mais freqüentados do anOê __ê
todas as idades. Virão av6s -:_ .
mória natalina está viva g:.:c.::':
comunicação de massa que e~'
Mas, apesar de tudo. c..' ~é::
parar, por um instante. Te=- ce::."
alegria e amor. E se a festa :: ~',~c
o que está acontecendo r:2 SL.:::' -: .'
212
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
;: ~Jmuns, mas transformadas
-
';averá impossíveis", ainda
. ,,} vida do dia-a-dia com seu
. O'" é SIM: ontem, hoje e para
-". alegre resposta da fé, que
Osvino Vorpagel
lndaial, se
DIA DE NATAL
25 de dezembro de 1999
Lucas 2. 1-20
I. CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Normalmente inicia-se um estudo homilético com reflexões isagóglcas e
exegéticas que consideram termos, verbos, palavras chaves na língua original, a
estrutura do texto, a gramática, etc. Decidi ir por outro caminho, numa tentativa de
repartir alguma experiência e vivência como pregador do Evangelho. Trago como
contribuição uma coletânea de pensamentos de mais de uma dezena de autores que
refletiram sobre o texto. Escrevo o que julguei ser o mais significativo para uma
pregação relevante nesses novos tempos. Os autores consultados foram: Nelson
Kürst, Lindolfo Weingartner, entre outros.
Enfim, fiz o trabalho de uma abelha. Fui a muitas flores colher o néctar para
oferecer o mel saboroso do Evangelho de modo compreensível e aplicado ao hoje
de nossas vidas.
ll. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O EVENTO DO NATAL,
AS EXPECTATNASDACONGREGAÇÃOEOS
CUIDADOS
DO PREGADOR
A história do Natal em si não causa mais tanto impacto, razão porque surgiram
outros tipos de prédicas, como os sermões sociais, políticos de protesto contra
sociedades de consumo, sobre as diferenças sociais e os exageros do luxo contraposto ao lixo e miséria de nossas multidões.
Mas, falar e ouvir o óbvio e o normal do Natal cansa!? De tanto repetir ainda se
presta atenção no profundamente radical do Natal? São perguntas que o mensageiro de Deus precisa fazer ao preparar seu recado natalino.
O pregador precisa lembrar que provavelmente o culto neste dia será um dos
mais freqüentados do ano, e que Natal é um acontecimento para as pessoas de
todas as idades. Virão avós, pais, jovens, crianças, especialmente crianças. A memória natalina está viva graças a muitos fatores, entre os quais estão os meios de
comunicação de massa que exploram esse momento para seus fins de lucro.
Mas, apesar de tudo, as pessoas querem ter um momento celebrativo. Querem
parar, por um instante. Tem sede e fome por consolo, esperança, paz, harmonia,
alegria e amor. E se a festa do Natal ficou tão normal, é preciso que alguém nos diga
o que está acontecendo na sua essência.
213
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Ao refletirmos sobre essas expectativas de nosso povo, teremos levado a sério
o público alvo da mensagem de Natal, e isso é compromisso de todo pregador e
mensageiro de Deus.
Por ser um dia com boa freqüência e com chances de reaparecerem os "membros
relapsos", o pastor é tentado a usar mais a lei do que realmente partir do evangelho
- a verdadeira força Iibertadora. De igual modo o pregador não pode esquecer que
nesse dia as crianças vivenciam a tensão dos presentes, e portanto, estão impacientes e agitadas, o que requer dele um esforço e preparo especial como comunicador
sensível e atento à realidade de seu povo.
m. CONSIDERAÇÕES
HISTÓRICAS E HOMILÉTICAS
A história mais recontada do mundo é a do Natal. Um levantamento da população, em todo o império, visando atualizar e melhorar a arrecadação de impostos
movimentou um marceneiro chamado José e sua esposa Maria, da cidade de Nazaré
para a cidade de Belém, cidade de seus antepassados, e ali fazer seu registro.
Quando chegaram a Belém, souberam que não havia mais lugar nas hospedarias, e Maria estava em adiantado estado de gravidez. Acomodados numa estrebaria,
Maria deu à luz a seu primeiro filho, e colocou o bebê num cacho de animais.
Até aqui é uma história normal. Meros fatos corriqueiros. O que dá um significado único à história desse menino deitado num cacho é que a alguns quilômetros
dali, naquela mesma noite, nos campos ao redor da cidade, um grupo de pastores de
ovelhas estava batendo um papo, enquanto cuidavam das ovelhas, e algo de extraordinário aconteceu: apareceu-lhes um mensageiro de Deus e lhes disse que tinha
uma notícia maravilhosa para eles, a saber, que nesse momento acabara de nascer,
ali na cidade, o Messias tão esperado! Deus intervém para dizer, através do mensageiro, um absurdo: naquele bebê está o Salvador de vocês, o Cristo. Deus esclarece
com sua palavra. E receberam o convite para ir lá e conferir. E eles foram e viram. Essa
é a essência da alegria do Natal: ver o Messias.
O objetivo da mensagem de Natal é a encarnação: o Verbo se tornou carne. Deus
entra na aflição do mundo para que todos vejam sua glória. Sua missão como Messias é recolocar em ordem as relações entre os homens e Deus. Por si próprios os
homens não têm condições de reatar as relações com seu Criador. Esta criança é a
única chance de salvação para a humanidade.
No entanto, Ele se revela contra toda a expectativa humana. Identifica-se com os
humildes, como um Deus aparentemente fraco. Sua fragilidade impede Seu reconhecimento. É o milagre e mistério da humanação divina.
Onde em todos os registros das divindades que os humanos criaram pode encontrar-se um Deus como esse que criou as criaturas humanas e ele mesmo tornouse um humano? Ele não se esconde atrás do véu de sua glória majestosa, mas deitase numa manjedoura.
214
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Igreja Luterana . N° 2 - 1999
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o Evangelho é simples, modesto, tão diferente daquilo que a inteligência humana teria arquitetado para solucionar os problemas que afligem a humanidade: manjedoura, oficina de carpintaria, um barco, um deserto, umjumentinho, uma cruz são
sinais da aparente fraqueza e loucura de Deus.
PERSONAGENS DA HISTÓRIA:
A ciência de obstetrícia não conhece tais coisas como a gravidez da virgem e a
concepção pelo Espírito Santo. Alguns chamam isso de fábula, mas para Lucas e
para o que crê é o milagre, o mistério .
Maria - é mãe sem leito. Para dar à luz, Maria provavelmente teve que se deitar no
chão da estrebaria, pois não havia lugar para eles na pensão. O romantismo europeu
encobriu o lugar escandaloso do nascimento do Filho de Deus: um cocho num
estábulo fedorento. Deus se humilha mesmo .
Maria reflete e medita sobre tudo que vivenciou e ouviu. Ela liga os fatos. É a ação do
Espírito Santo na serva do Senhor. O diabo separa, cria confusão (diabolein). Essa é sua
especialidade: separar. O Espírito de Deus liga, une, ilumina. E certa.'TIenteiluminou até o
fim da vida aquela que foi instrumento especial nesse evento único da história humana,
E Maria pensa, reflete, aprofunda sua compreensão sobre os acontecimentos.
O anjo que anunciou o nascimento de Jesus para os pastores nos campos de
Belém foi um mensageiro de poucas palavras. Esse primeiro sermão de Natal foi uma
maravilha de simplicidade. Nessas simples palavras tudo que era necessário ser dito
foi dito. É mensagem transformadora.
Da estrebaria ao campo. Os primeiros ouvintes da melhor boa notícia do mundo
foram os simples pastores, que prontamente dizem: "Vamos até Belém"! A disponibilidade, o despojamento é visível. Estão envolvidos no evento histórico decisivo. Eles
creram com os corações e com os pés, pois eles foram apressadamente para o lugar
indicado pelo anjo. Não fazem uma reunião de análise dos fatos para depois decidirem
o que e como fazer. Vão para ver. É ação espontânea de quem está contagiado. A
mensagem recebida os põe em movimento. No versículo 17 diz que os pastores viram.
São testemunhas oculares do mistério da encarnação do próprio Deus. É mistério que
contradiz tudo o que a razão humana é capaz de captar pelo esforço próprio.
E a mensagem foi adiante, se espalhou, nas visitas e nas conversas de olho no olho,
de amigo para amigo. E isso é maravilhoso, pois foi e é desse jeito que a notícia do Amor
de Deus se espalhou e se espalha, no contato humano, no testemunho espontâneo
pessoal simples e verdadeiro. Esses contatos, essas visitas, esses diálogos precisam ser
incrementados entre nós humanos da era do contato e comunicação virtual eletrônica.
IV - OUTROS PENSAMENTOS PARA A PRÉDICA
Por ocasião do Natal cabe a pergunta sobre os critérios de escolha de Deus: a
mãe de Jesus, porque não uma mulher das fileiras da nobreza? Seu lugar de nascimento, porque não Jerusalém, a antiga capital de Israel? A mensagem primeiramente
215
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
anunciada e festejada entre pastores nos campos de Belém, por que não para a elite
religiosa, os fariseus, saduceus, sacerdotes e levitas?
PRlMEIRO
Esse é o jeito de Deus. Ele escolheu as coisas loucas do mundo para confundir
os sábios, as coisas fracas para confundir os poderosos. Nenhuma carne pode
gloriar-se na Sua presença. Manjedoura e cruz é o seu jeito de atuar e agir no mundo.
Entra em cena como Servo sofredor e não como conquistador de nações. Aparentemente é fraco. Deus tornou-se homem - o homem que aceita os homens, que não
julga conforme os méritos nem os ama por causa de eventuais boas obras.
o problema
com essa história de Natal é que ela é tão conhecida. Quando ouvimos, vamos logo pensando: Ah, já sei o que vem e deixamos de ouvir muita coisa
importante, que precisamos ouvir sempre de novo, como alimento diário.
Não temais! - É a primeira parte do recado do anjo. Ele sabe que há medo no coração
humano. O ser humano por natureza tem medo e raiva de Deus. Não temais é recado,
ordem e oferta. É mão estendida do Deus amoroso, pronto para perdoar e aceitar.
Não temais - Cada pregação cristã precisa ter esse caráter de convite, de atrair,
acolher, atrair pessoas assustadas, apavoradas, aterrorizadas. Deus convida a todos, seja quem for e seja lá o que tenha feito.
Jesus não é a única criança que nasceu em condições tão humildes. Nascem
crianças em condições bem mais pobres e com menos chances de vida do que
Jesus. Hoje muitas vezes não há lugar para muitas Marias, para muitos Josés, para
muitos meninos e meninas. A causa dessa desarmonia social, existencial e espiritual
Jesus veio tratar, a saber, o pecado.
Deus amou e deu Seu Filho. Deus não só falou. Ele agiu. E com o nascimento de
seu Filho tudo mudou e mudará. Nós somos desafiados a nos tornarmos testemunhas natalinas, como os pastores.
Na Santa Ceia temos nosso encontro com o Cristo. É o mistério do Cristo presente no
pão e vinho nos convidando a vir a Ele com fé e celebrar Sua presença em nós - o seu berço.
Uma das curiosidades desta história natalina é o fato que o primeiro natal não
esteve ligado ao templo, à igreja organizada, Tudo aconteceu em meio à rotina do
quotidiano e profano. Foi lá que Cristo se manifestou e é nesse dia a dia da vida
secular que Ele quer ser reconhecido e identificado.
Os momentos importantes, decisivos não acontecem na igreja, mas no dia a dia
da vida. Aí se põe em prática o que se recebe e oferece na igreja, a saber, Palavra e
Sacramento e o nosso louvor e adoração.
Gerhard Grasel
Capelão Geral da ULBRA Canoas / RS
216
CONTEXTO
Lc 2 apresenta a históri2. ~.
do A. Testamento. Era o s,::~::
verdadeiro Deus, desde teci::.
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acordes do primeiro Natal.
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TEXTO
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mais tarde em Atos dos ApÓs::
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PROPOSTA HOMILÉTIC\
Texto: Lc 2.25-40
Tema: Jesus Cristo, Sina]~ó.
INTRODUÇÃO
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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DOMINGO
APÓS O NATAL
26 de dezembro de J 999
Lc 2.25-40, ou Lc 2.25-38
CONTEXTO
Lc 2 apresenta a história do 1()Natal. Cumpriam-se, desta maneira, as profecias
do A. Testamento. Era o amor de Deus se encarnando no Verbo (Lagos). Jesus,
verdadeiro Deus, desde toda a eternidade, passa, a partir de Lc 2, a ser também
verdadeiro homem, em carne e sangue, para ser Emanuel- Deus-conosco. Com os
acordes do primeiro Natal, como pano de fundo, o texto de Lc 2.25-40 apresenta
Jesus, agora sendo levado à Sua Casa, casa de oração e adoração, a igreja.
TEXTO
Lc 2.25-27 apresenta 3 vezes a ação forte e direta do Espírito Santo na vida de
Simeão.
Simeão, geralmente, é visto como sendo idoso, em parte como inferência, a partir
da idade da profetisa Ana (84 anos), e do v.26 que diz: "não passaria pela morte antes
de ver o Cristo do Senhor". Contudo, não há provas de Simeão ser idoso.
Nün entende salvação "agora", "aqui", na pessoa desta criança: Jesus, nos
braços de Simeão .
. ~le agiu. E com o nascimento de
-::-iados a nos tornarmos testemu-
o mistério do Cristo presente no
. -:: Sua presença em nós - o seu berço.
Etnoon não tem propriamente o sentido de nações, mas gentios. Antecipa a
missão, não só entre os judeus, mas entre os gentios também, como é revelada logo
mais tarde em Atos dos Apóstolos.
:==:
rato que o primeiro natal não
_::_ aconteceu em meio à rotina do
-e':ou e é nesse dia a dia da vida
e
-
-.:~çem na igreja, mas no dia a dia
:c:ece na igreja, a saber, Palavra e
. '-f'50
Gerhard Grasel
Geral da ULBRA Canoas / RS
Keitai é passivo, "está destinado" por Deus, já desde antes dos tempos eternos .
PROPOSTA HOMILÉTICA
Texto: Lc 2.25-40
Tema: Jesus Cristo, Sinal destinado por Deus
INTRODUÇÃO
O Natal passou, mas o seu clima paira no ar com as suas melodias e a sua
mensagem. Os pastores saíram dos campos e foram até Belém. Agora é Jesus,
acompanhado de Maria e José, que sai de Belém e vai a Jerusalém. Vai para sua Casa,
Casa de oração, a Igreja. Jesus ali é tomado nos braços por Simeão, homem justo e
piedoso, que canta feliz o seu Nunc Dimitis: "Agora, Senhor, despedes em paz o teu
servo, porque os meus olhos viram a Tua salvação" .
217
Igreja Luterana
. N° 2 . 1999
Guiado pelo Espírito Santo, Simeão faz, então, uma grandiosa profecia: "Eis que
este Menino está destinado tanto para ruína como para levantamento de muitos em
Israel e para ser alvo de contradição (também uma espada traspassará a Tua própria
alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações". Lc 2.34,35.
SEGUNDO
D
1- Jesus Cristo, como Sinal Vivo e pessoal
a) Primário: Enviado para salvar a todos: judeus, gentios, pretos e brancos, pobres
e ricos, letrados e iletrados, doentes e sãos, todos. Jo 3.16
b) Secundário: Onde a vontade primária é sumariamente rejeitada, entra a "vai untas
Dei consequens", como dizem os teólogos: ruína
CONTEXTO
n- Jesus Cristo, como sinal destinado
a) Não por homens
b) Mas por Deus: 1 Co 3.11; 2 Tm 2.19; Is 43.11,12
- Por isso mesmo são tornados sem efeito e vazios todos os fundamentos e sinais
postos pelos homens. Nossos sinais não passam de vento e palha. Is 26.18
c) Por isso mesmo tem eternidade.
1-
Contexto Bíblico:
Estes 18 primeiros vero:: __
considerados um hino de :lf:'
claro em João 20.31 e em ::::=
pois os milagres em João sE.'
é o Cristo, o Filho de Deus.
lU- Jesus Cristo, sinal destinado
a) Para ruína (secundário). Como pedra de tropeço: Is 8.14,15; Mt 21.42,44; Jo
3.36eRm9.33
b) Para levantamento (ressurreição)
- Como rocha de salvação: SI 18.2; Is 28.16; SI 118.21-23; Jo 10.10 eJo 12.47
c) Para se alvo de contradição, para que se manifestem os pensamentos de muitos
corações. Lc 2.35.
CONCLUSÃO
Simeão "esperou com fidelidade a Deus". Deixou se guiar pelo Espírito do Senhor
e foi muito feliz. Tomou a seu Senhor e Salvador nos braços, ou melhor, em sua
mente e coração.
Jesus Cristo, para ele, não foi sinal de contradição e muito menos de ruína, mas
de levantamento e salvação.
Frente a Jesus Cristo não há neutralidade, nem coluna do meio, nem jeitinho
brasileiro. Ou Jesus Cristo é "ruína", ou "levantamento". Esperemos, por isso, com
fidelidade a Deus até o fim deste Milênio, até a entrada do Novo Milênio e sempre.
Felizes aqueles que ainda hoje se deixam guiar pelo Espírito a Jesus. Eles podem
cantar alegres: "Agora, Senhor, despedes em paz o teu servo, porque os meus olhos
já viram a Tua Salvação". Amém.
Gennano Neumann
Tapes, RS
218
2 - Contexto Litúrgico:
Estamos no segundo d:::-. - ~.
humanação do Filho de Deus :'." mas na "glória do Unigênit,=:: = ::-=Mas, com certeza, o ambier:re c:
que para o Natal. Devemos :l-:rcorretas bases para o nove, C.r
leituras do domingo:
Salmo 147.12-20, Is 61
ação de graças pelas bênçiics
continuamente. Reconhecere::: e - _
a luz do mundo, avançand:. - c_com gratidão em nossos c'
TEXTO
Vv. 1-3: a origem de le'u: re-Filho de Deus sempre e-, ,Sua eternidade é segurc:..-:.=-o princípio racional que ~ . __
_<
termoaDeus.João.d2~:r=
de forte significado ]:'2-:. :=-- r
Vv. 4,5: "vida" aparece 3" . ece
morte. "Luz": é a úr,::=- c.
somos a luz (Mt 5, 1"".
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
;" :,,'idiosa profecia: "Eis que
._ ~',antamento de muitos em
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, corações". Lc 2.34,35.
SEGUNDO DOMINGO
APÓS O NATAl
2 de janeiro de 2000
João 1.1-18
·:·s. pretos e brancos, pobres
:,,:s.Jo3.l6
o' -
:"~.:~rejeitada, entra a "voluntas
CONTEXTO
1 - Contexto Bíblico:
'dos os fundamentos e sinais
ie vento e palha. Is 26.18
.. , Is 8.14,15; Mt 21.42,44; Jo
. S.21-23; Jo 10.10 eJo 12.47
c:stem os pensamentos de muitos
- _ se guiar pelo Espírito do Senhor
_ - ::10Sbraços, ou melhor, em sua
_:.. 5.J
e muito menos de ruína, mas
- :~: coluna do meio, nem jeitinho
c:-:·.~::1to".
Esperemos, por isso, com
:~.:~ada do Novo Milênio e sempre.
::. cela Espírito a Jesus. Eles podem
[eu servo, porque os meus olhos
-= :
Germano Neumann
Tapes, RS
Estes 18 primeiros versículos do Evangelho segundo João, - o Prólogo - são
considerados um hino de afirmação da divindade de Jesus. Este objetivo fica bem
claro em João 20.31 e em todos os sinais registrados no Evangelho segundo João;
pois os milagres em João são sempre comentados como sendo sinais de que Jesus
é o Cristo, o Filho de Deus.
2 - Contexto Litúrgico:
Estamos no segundo domingo após o Natal. Daí este relato diferente da
humanação do Filho de Deus: Não na simplicidade da manjedoura (como em Lucas),
mas na "glória do Unigênito do Pai" que "se fez carne e habitou entre nós" (v 14).
Mas, com certeza, o ambiente está todo mais voltado para a entrada do ano 2000 do
que para o Natal. Devemos aproveitar as expectativas e os festejos para lançar as
corretas bases para o novo ano, "Avançando com Gratidão a Deus". As demais
leituras do domingo:
Salmo 147.12-20, Is 61.10-62.3, Ef 1.3-6, 15-18 são palavras de gratidão, louvor e
ação de graças pelas bênçãos da salvação e por outras bênçãos que Deus nos dá
continuamente. Reconhecendo estas bênçãos, reafirmamos nossa fé em Jesus Cristo
a luz do mundo, avançando neste novo ano confiantes e alegres, servindo a Deus
com gratidão em nossos corações!
TEXTO
Vv. 1-3: a origem de Jesus remonta ao princípio de todas as coisas (Gn 1.1). O
Filho de Deus sempre existiu e não surgiu apenas a partir do Natal em Belém.
Sua eternidade é segurança no novo ano. "O verbo" para os gregos significava
o princípio racional que governa todas as coisas. Os judeus aplicavam este
termo a Deus. João, dirigindo-se tanto ajudeus como a gregos, usa um termo
de forte significado para ambos ao falar de Jesus.
Vv. 4,5: "vida" aparece 36 vezes em João. Ele é a vida e Ele dá a vida. Sem Ele há
morte. "Luz": é a única qualidade referida a Jesus e a nós: Jesus é a luz, nós
somos a luz (Mt 5.14). Lutero fala que somos "pequenos cristas". O contraste
entre trevas e luz é clássico na Bíblia. Jesus volta ao tema em Jo 8.12: "Eu sou a
219
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas" e em Ia 12.35,36: "Andai
enquanto tendes a luz ... crede na luz para que vos toneis fiihos da luz ..."
Vv. 6-8: "como testemunha para que testificasse". Parece redundância, mas é a
ênfase do Evangelho: testemunho, testemunhar. O substantivo aparece 14
vezes e o verbo 33 vezes. Lembramos novamente Jo 20.31: O testemunho leva
à fé salvadora. João Batista é instrumento nas mãos de Deus para testemunhar
da luz.
Vv. 10-13: é retomado o tema do versículo 3, introduzindo os conceitos de rejeição
e aceitação. O lamento de Deus, em Is I ,3, é confirmado aqui: "O boi conhece
o seu possuidor e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem
conhecimento, o meu povo não entende." Enquanto a rejeição é uma atitude
humana, a aceitação é graça divina. Os que aceitam são nascidos de Deus e
não da vontade humana (v. 13). Cf. Ef2.8-9.
V. 14: "Habitou entre nós" ou "Armou a sua tenda de acampamento entre nós",
uma alusão ao tabernáculo no deserto que marcava a presença de Deus no
meio do seu povo. "Vimos a sua glória": João se refere à experiência pessoal
no monte da transfiguração. À semelhança de Pedra (2 Pe 1.16-18) ele é
testemunha ocular da glória do verbo eterno, o Filho de Deus: Jesus Cristo!
Também o sinal das Bodas de Caná pode ser relacionado aqui: Jo 2.11:
"Manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele."
PROPOSTA HOMILÉTICA
Tema: Uma luz para o ano 2000.
Objetivo: Reafirmar Jesus como a verdadeira e única luz, que nos conduz com
segurança durante o novo ano e sempre.
Empecilhos na busca do objetivo: Inúmeras luzes se apresentam; qual seguir?
Qual a verdadeira? Por natureza éramos filhos das trevas; e elas nos atraem (tentação).
Queremos trilhar nossos próprios caminhos sem olhar para Jesus.
A solução de Deus: Jesus, a luz, desfaz as trevas e nos leva pelo caminho
iluminado até o Pai.
INTRODUÇÃO
- Os fogos de artifício na passagem do ano: belos, impressionantes,
transitórios. Depois tudo volta a ser trevas.
mas
- Ou: a polêmica sobre o novo milênio/século: incerteza, insegurança.
- Ou: você já andou no escuro? Por exemplo, dentro de casa quando acaba a luz;
ou no trânsito, à noite, quando se apagam as luzes e os semáforos; ou no meio do
mato à noite ... qual a sensação?
220
I - Jesus: luz e a via" lI- Jesus: luz e as tre'.as
III - Jesus: luz e o res::::-;IV - Jesus: luz e a fé ,-CONCLUSÃO
Um relato diferente de :-:ê. ~.'
Ou: Novo ano: com Jêo_o -
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
-'.s"eemJo 12.35,36: "Andai
•s toneis filhos da luz ..."
Parece redundância, mas é a
O substantivo aparece 14
c Jo 20.31: O testemunho leva
-.:'.. s de Deus para testemunhar
I - Jesus: luz e a vida (vv. 4, 1-3)
II- Jesus: luz e as trevas (vv. 5,10-11)
III - Jesus: luz e o testemunho (vv. 7a-8)
IV - Jesus: luz e a fé (7b, 9,12,13)
_ - ~.• c::.
CONCLUSÃO
Um relato diferente do Natal: v. 14: festa de luz.
Ou: Novo ano: com Jesus podemos seguir confiantes.
_..=mdo os conceitos de rejeição
.. -.·:rrnado aqui: "O boi conhece
·.·..edoura; mas Israel não tem
= _"Dto a rejeição é uma atitude
. c:=am são nascidos de Deus e
Carlos Walter Winterle
Porto Alegre, RS
.:" de acampamento entre nós",
.:rcava a presença de Deus no
'e refere à experiência pessoal
:e Pedra (2 Pe 1.16-18) ele é
.' Filho de Deus: Jesus Cristo!
__ ser relacionado aqui: Jo 2.11:
_.. ' creram nele."
o·
. e
Única luz, que nos conduz com
_. "..:zesse apresentam; qual seguir?
_.e'-as; e elas nos atraem (tentação).
:11arp~ra Jesus.
_ :";:\'as e nos leva pelo caminho
belos, impressionantes,
mas
:ncerteza, insegurança.
ientro de casa quando acaba a luz;
.=es e os semáforos; ou no meio do
221
Igreja Luterana . N° 2 - 1999
vida. O inusitado, o nc'também fizessem aquilo q..:cêcê
dos pecados para Deus.
PRIMEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
João, com isso, mostre,'.
09 de janeiro de 2000
Marcos 1.4-11
sua pregação. João Batis::: :": .
Jesus como o Messias libcê:-'::cmensagem que Jesus pregc
nova aliança que transfofIT.:: _
e agora movidas pela fé.
CONTEXTO.
Quando Jesus tinha em torno de 30 anos foi apresentado ao povo de Israel,
iniciando, assim, seu ministério de Salvador, Messias de toda a humanidade. João
Batista, filho de Zacarias, foi precursor de Jesus em conformidade com a profecia de
Isaías: "Eis aí envio diante da tua face o meu mensageiro, o qual preparará o teu
caminho ..."(Mc 1.2).
Conforme o evangelista Lucas (3.1,2), esses fatos aconteceram "no décimo quinto
ano do reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes
tetrarca da Galiléia, seu irmão Pelipe tetrarca da região da Ituréia e Traconites, e
Lisânias tetrarca de Abilene, sendo sumo-sacerdotes Anás e Caifás ...", não deixando,
assim, nenhuma dúvida quanto ao fato histórico em si, a exemplo da narrativa do
nascimento de Jesus.
o autor do evangelho no qual se insere o presente texto é João Marcos. Alguns
estudiosos supõe que o cenáculo onde Cristo comemorou a Páscoa com seus discípulos
na véspera de sua crucificação ficava na casa de Maria, mãe de João Marcos, e que foi
nessa casa, também, que os discípulos se reuniram após a ascensão do Senhor Jesus
ao céu. Assim, com certeza João Marcos ouviu muitas histórias de Jesus dos lábios
dos próprios discípulos, com os quais convivia proximamente em sua mocidade.
lEXTO
vv.4,5: João Batista surge no deserto. Por séculos, a voz dos profetas ficara em
silêncio. De repente, se quebra o silêncio. O deselto, geograficamente, se localiza
no vale inferior do Jordão, adjacências de Jericó e da foz do rio do Mar Morto.
João surge como arauto, anunciador, "pregando batismo de arrependimento
para remissão de pecados", ou seja, CONVERSÃO a Deus, retorno à fonte da vida.
O começo, o ponto de partida da salvação, da paz, da comunhão com Deus, é
exatamente o processo, o pacote: ARREPENDIMENTO e PERDÃO dos pecados.
A proclamação de João Batista era clara e sucinta: arrependimento,
dos pecados e batismo. Para todos.
confissão
Os judeus estavam familiarizados com o batismo. Êxigiam o mesmo dos gentios
convertidos à fé judaica. Simbolizava a purificação, a conversão do antigo modo de
222
v. 6: João Batista se \'e5L
camelo amarrado ao::,
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sua missão plenamer,::
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O arrependimento, a C"
VIDA que surge em Crise:. ::. ~
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
vida. O inusitado, o novo, o desafiador era João Batista querer que os judeus
também fizessem aquilo que exigiam dos gentios. João os convidava para se voltarem
dos pecados para Deus.
1,:>::5 EPIFANIA
João, com isso, mostrava os equívocos da religião de seus dias. E era radical na
sua pregação. João Batista preparava o caminho não só para que o povo aceitasse
Jesus como o Messias libertador prometido pelos profetas, mas também para a
mensagem que Jesus pregaria a todos quanto O ouvissem: a mensagem de uma
nova aliança que transforma os convertidos em NOVAS CRIATURAS, arrcpendidas
e agora movidas pela fé.
_-:~ sentado ao povo de Israel,
:k toda a humanidade. João
, :',Iormidade com a profecia de
c ~~eiro, o qual preparará o teu
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::.:5 e da foz do rio do Mar Morto.
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::',] a Deus, retorno à fonte da vida.
.~ paz, da comunhão com Deus, é
',íENTO e PERDÃO dos pecados.
v. 6: João Batista se vestia como profeta, usava um simples manto de pelos de
camelo amarrado ao corpo com um cinto de couro, João dedicava-se a cumprir
sua missão plenamente. Fugiu de uma vida confortável, alimentava-se de
gafanhotos e mel silvestre.
v. 7: João Batista foi figura impactante, bem como sua mensagem: queria despertar
o povo para o arrependimento e prepará-Ia para reconhecer em Jesus "aquele
que é o mais poderoso ... e que deveria, tinha de vir".
v. 8: "Eu vos tenho batizado ... ele, porém, vos batizará ...". A primeira impressão é
que se tratam de dois batismos distintos: o de João e o de Jesus. Os dogmáticos
luteranos mais antigos os consideraram idênticos, pelo simples motivo que o
evangelista relata que João pregou o "batismo de a.rrependimento para remissão
dos pecados", precisamente
como o apóstolo Pedro por ocasião de
Pentecostes, seguindo instruções de Jesus, pregou o "batismo para remissão
dos pecados" (Atos 2.38). Por esta razão deve-se considerar o batismo de
João idêntico ao que Cristo instituiu tempos depois.
'1'1.9-11: O batismo de Jesus: o Messias é introduzido abruptamente no relato e a
atenção se concentra exclusivamente nEle. Jesus, que no batismo desce ao
nível dos pecadores e ao mesmo tempo se apresenta repleto do Espírito Santo
e como filho de Deus, inicia sua missão de SERVO DE DEUS. No versículo dez
Jesus aparece como o único beneficiário da extraordinária visão, quando, de
forma maravilhosa, revela-se a Santíssima Trindade. O significado do batismo
de Jesus mostra, em primeiro lugar, sua disposição de cumprir toda justiça,
toda lei. Em segundo lugar pode ser visto como um ato de identificação com o
povo, e em terceiro lugar, um ato de entrega e consagração ao seu ministério.
PROPOSTA HOMILÉTICA
'.:Ínta:
arrependimento,
confissão
::',,0. Êxigiam o mesmo dos gentios
: 5.:'.a conversão do antigo modo de
O arrependimento, a confissão dos pecados, o batismo, a conseqüente NOVA
VIDA que surge em Cristo, fundamentam o firme "avançar com gratidão a Deus".
Norberto Ernesto Heine
223
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
SEGUNDO DoMINGO
APÓS EPIFANIA
16 de janeiro de 2000
João 1.43-51
CONlEXTO
1. No período da Epifania (manifestação) queremos, junto com Filipe, apresentar o
Senhor Jesus. Esta não é a apresentação do "Rabi" ou do "Rei de Israel", apenas,
mas a apresentação do "Senhor dos senhores", do "Mestre dos mestres", e do
"Rei dos reis", aquele sobre o qual os anjos estão descendo e subindo, o Cristo,
o Ungido, escolhido pelo Senhor, o Mediador entre Deus e os homens, a própria
escada que liga os homens a Deus.
2. Junto com Filipe, desempenhando o papel de apóstolos, convidamos a todos
para conhecer o Messias, pois também nós estamos ávidos por compartilhar a
experiência da nossa fé, pois nesta fé descobrimos o nosso Salvador.
3. Junto com Filipe, na Epifania, convidamos a todos para conhecer Jesus e
reconhecer nEle pela fé, o Cristo. Temos este objetivo pois também, seguindo o
lema para este ano, queremos "Avançar com fidelidade a Deus", e só podemos
avançar com fidelidade quando estamos conhecendo e reconhecendo o Messias,
neste ponto a perícope se toca com o nosso lema. Este "avançar" é seguir com
passos seguros, na única e verdadeira fé em Deus, é o ser fiel. É só a Ele amar e
só nEle confiar. Para permanecer e avançar nesta fidelidade, sempre de novo
precisamos apresentar e reapresentar o Cristo. Sempre de novo precisamos repetir
as palavras de Filipe, "Vem e vê" o que também é o testemunho da nossa fé.
4. Nossa perícope se coloca no início desta manifestação aos primeiros discípulos.
N as palavras do evangelho, podemos perceber a alegria, o entusiasmo e a
disposição em aceitar o chamado de Jesus, percebendo nEle mais do que um
"Rabi", mas aquele anunciado por "Moisés e pelos profetas" (v. 45). Percebendo
em Jesus, o Cristo, os discípulos se mobilizam para estarem com Ele e para
seguirem com Ele, percebemos neles o movimento da fé em direção ao Sal vador,
pelo qual aguardavam e esperavam. Ao entrarem em contato com Jesus, não
resta dúvidas, "é Ele". Uma pequena amostra de sua onisciência como verdadeiro
Deus é o suficiente para convencer o cético Natanael sobre "se de Nazaré poderia
sair alguma coisa boa" (v. 46).
5. A verdadeira fé dos discípulos, deve apoiar-se no fato de que Jesus, o Filho do
homem, de Nazaré, é o Filho de Deus, que desceu do céu e se humanou. Isto é o
que Natanael os discípulos veriam nas manifestações de sua glória, cuja primeira
224
foi o milagre em (2- :,
manifestação de su~,
que veria o Filho de- ,.. _
amplia a visão parti:u,:::
_
no mundo. Sua conf., _- .
quem não há dolo"
Jesus amplia sua
sua reconciliação cerT. =_
6. Percebemos em tude':.
israelitas, mas para tei:
TEXTO
I. Nossa perícope, dentre
_
do chamado dos primei.-., _.
João aponta "Eis o corj~.rdespertado em André. ~ : .
pergunta: "Onde assiste;:
Senhor Jesus: "Vinde e '.fi.
Podemos sentir a atra~.".aguardavam o Messias.
2. Na seqüência imediata ae :~da glória de Jesus como .~ _
discípulos no Messias.
3. O texto é apresentado e'propósito de tratar do ch.::-:-__.
do Messias no mundo.
4. Observações no texto:
a -) Antes de ir para a Gal.l2
ao acaso; neles esta".: .: :..
direção a Jesus e a
b -) Filipe chama Natanael
com Bartolomeu no;: _:r
c -) Natanael parece que' 'e __
destaque dada ao ver: Filipe e Natanael já h.
revela também toda.: ::
d -) Podemos observar.: 1- __ ,
ei um profeta do me:: _.
minhas palavras. e eI::
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
..!..;rôJSEPIFANIA
foi o milagre em Caná. Jesus lhe promete uma visão ainda maior do que a
manifestação de sua onisciência, quando o viu debaixo da figueira. Promete
que veria o Filho do homem como o elo entre o céu e toda a humanidade, o que
amplia a visão particularizada de Natanael, e até limitada, sobre a ação do Messias
no mundo. Sua confissão sobre o Messias foi a "de um verdadeiro israelita em
quem não há dolo" (v. 47). Esta declaração limita a ação do Messias a Israel.
Jesus amplia sua ação e sua visão para a salvação de toda a humanidade e de
sua reconciliação com Deus.
6. Percebemos em tudo isso a importância do "Vem e vê", não apenas para os
israelitas, mas para todo o mundo .
. . unto com Filipe, apresentar o
'JU do "Rei de Israel", apenas,
=-.=. "Mestre dos mestres",
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:: descendo e subindo, o Cristo,
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Sempre de novo precisamos repetir
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:.:rarem em contato com Jesus, não
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"dtanael sobre "se de Nazaré poderia
:,>se no fato de que Jesus, o Filho do
::esceu do céu e se humanou. Isto é o
:'estações de sua glória, cuja primeira
TEXTO
1. Nossa perícope, dentro do Evangelho de João, é colocada na seqüência imediata
do chamado dos primeiros discípulos e da manifestação do Cristo a eles. Quando
João aponta "Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (v. 36) é
despertado em André, e possivelmente em João, o interesse por Jesus, e à
pergunta: "Onde assistes?" Já vemos o primeiro chamado e convite do próprio
Senhor Jesus: "Vinde e vede" (v. 39), que ecoa em Filipe quando chama Natanael.
Podemos sentir a atração que Jesus exerceu nestes homens, que de fato
aguardavam o Messias .
2. Na seqüência imediata ao texto, vemos o milagre em Caná da Galiléia, manifestação
da glória de Jesus como verdadeiro Deus, visando confirmar e fortalecer a fé dos
discípulos no Messias.
3. O texto é apresentado em apenas um parágrafo, o que vai ao encontro do seu
propósito de tratar do chamado de Filipe e Natanael e da abrangência da missão
do Messias no mundo.
4. Obsen;ações no texto:
a -) Antes de ir para a Galiléia Jesus chama Filipe (v. 44). Não foram escolhas feitas
ao acaso; neles estava a ansiosa espera pelo Messias, o movimento de fé em
direção a Jesus e a disposição em segui-Io.
b -) Filipe chama Natanael, cujo nome só aparece em João; ele tem sido identificado
com Bartolomeu nos outros evangelhos.
c -) Natanael parece que se aplicava ao estudo das Escrituras. A posição de
destaque dada ao verbo égrapsen, aor. de grafo - escrever, pode indicar que
Filipe e Natanaeljá haviam discutido o cumprimento destas Escrituras, o que
revela também toda a expectativa em torno do assunto.
d -) Podemos observar a passagem citada de Moisés em Dt 18.18 "Suscitar-Ihesei um profeta do meio dos seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as
minhas palavras, e ele Ihes falará tudo o que eu Ihes ordenar."
225
Igreja Luterana
- N° 2 - 1999
e -) Notamos o ceticismo de Natanael (v. 46) ti agatón - alguma coisa boa - uma
pergunta com desprezo.
4-) Quem não aceita o con'.i:;, -:
a Deus.
5-) Quem não aceita o con·· ...
f -) O convite de Filipe foi o convite que Jesus fez a André e possivelmente ao
próprio João (v. 39) "Vinde e vede" e depois Filipe no v. 46 "Vem e vê".
g -) Jesus vê em Natanael a sinceridade de um verdadeiro israelita. A frase en hô
dolos ouk estin - indica uma integridade religiosa e moral.
h -) Quando Jesus diz que viu Natanael debaixo da figueira, é significativo notar
que a figueira era usada pelos rabinos para estudar, ou para ensinar. Foi uma
amostra ...
da onisciência divina do Cristo, o suficiente para convencer Natanael
que vena COIsasmmores.
i -) A promessa da visão do céu aberto e dos anjos subindo e descendo sobre o
Filho do homem é uma referência ao sonho de Jacó em Gn 28.10. Só quc na
passagem do evangelho, Jesus é a própria "escada" que liga terra e céus, os
homens com Deus. A comunicação com Deus torna-se uma realidade
pennanente para os que abraçam a fé.
PROPOSTA HOMILÉTICA
Tema - "Vem e vê," v. 46
INTRODUÇÃO
Sugiro algo didático, como a apresentação de convites e cartazes para introduzir
o assunto do convite de Jesus e depois o de Filipe.
1· CRISTO DIZ: "VEM E VÊ"
1-) É o convite a cada discípulo.
2-) É o convite para quem quer ser discípulo.
3-) É o convite para quemjá é discípulo.
4- ) É o convite para a fé no Cristo, para ser fiel, para avançar com fidelidade e na
fidelidade a Deus, para o perdão, para a nova vida, para a salvação e para a
vida eterna.
5-) Transição: O convite de Cristo nos leva a sermos portadores do mesmo, no
testemunho.
2· COM FILIPE
DIZEMOS:
"VEM E VÊ"
1-) É o nosso testemunho de fé e fidelidade.
2-) Testemunhos o Cristo na Palavra, na pregação, no evangelho da salvação.
3-) Quem não aceita o convite não pode ver o "céu aberto" e os "anjos subindo
e descendo sobre o Filho do homem".
226
os homens.
6- ) Mas quem aceita o con \i:~ ....
CONCLUSÃO
- Rejeite o convite do mun:':
- Aceite o convite de Crist:.
Igreja Luterana
_2atón - alguma coisa boa - uma
_; ~ez a André e possivelmente ao
• -=llipeno v. 46 "Vem e vê".
erdadeiro israelita. A frase en há
.21Dsae moral.
. da figueira, é significativo notar
ou para ensinar. Foi uma
;':f:ciente para convencer N atanael
- N° 2 - 1999
4-) Quem não aceita o convite não pode avançar e nem permanecer na fidelidade
a Deus.
5-) Quem não aceita o convite, não tem mediador, Cristo, a escada entre Deus e
os homens.
6· ) Mas quem aceita o convite tem a graça, vida, perdão, salvação e reconciliação .
CONCLUSÃO
- Rejeite o convite do mundo, do diabo e da própria carne
- Aceite o convite de Cristo, "Vem e vê" .
.= ~ ;; studar,
Rubens J. Ogg
São Lourenço do Sul, RS
subindo e descendo sobre o
. de Jacó em Gn 28.10. Só que na
'escada" que liga terra e céus, os
':-:-.Deus torna-se uma realidade
~",lOS
=-;;
=-
Jnvites e cartazes para introduzir
para avançar com fidelidade e na
_ -,'va vida, para a salvação e para a
u
__
=-
>"rmos portadores do mesmo, no
':; :.~ão, no evangelho da salvação.
"céu aberto" e os "anjos subindo
227
..
~
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
A "pesca" de pessoa' ~ ~~
_
Mt. 13.47 mostra que a ..~~::~ ~.-_
TERCEIRO DOMINGO APÓS EPIFANIA
23 de janeiro de 2000
Marcos 1. 14-20
v.18: SimãoeAndré
2'.'.:
.
como discípulos. Eles ade::-.c.:..-:_~_
bíblica para ser discípulo: é ,~, '=_v. 19: Karapn(ov,o::;
-, :-_:é-~as redes prontas para ou:-::..~~
CONTEXTO
Esse texto marca o início do ministério de Jesus na Galiléia ( v.14 ). Logo após
esse texto começam os relatos dos milagres de Jesus, que é a ênfase do evangelho
de Marcos.
Interessante: Jesus não inicia seu ministério sozinho. Ele "chama" quatro de
seus discípulos para irem com ele.
Dentro do ano da igreja estamos vivendo o período de Epifania, onde lembramos
de forma especial a manifestação de Jesus para os gentios, para os povos e para os
discípulos. Essa época e esse texto são ótimos para enfatizar o "Cristo para Todos",
a missão da igreja.
o texto mostra que de ' ..
equipamento de pesca, as :-~=~
chama para serem discípu: ;
Podemos tirar daqui Ulli ~:-_::::-..:..material de pesca, bem cuid2d _
..
v. 20: Tanto esse versL,:' .
como é a caminhada do dis.:i::-.: a frente. Os discípulos segu~='_
PROPOSTA HOMILÉTIC_,Tema: Pescando para J ~, .. ;
Podemos também dizer que "Avançamos com gratidão a Deus" , realizando a
missão, pois Jesus nos leva ao arrependimento e nos transforma em seus discípulos.
É para isso que Jesus se manifesta entre os povos.
É muito importante citar a relação íntima do texto do AT desse domingo ( Jn. 3. 1-5,
10) com o evangelho. Os ninivitas levaram a sério a Palavra de Deus, mesmo que em um
segundo momento. Arrependeram-se, por causa da pregação de Jonas, e Deus se
agradou muito da situação.
'IEXTO
v. 14: K7]puaawv - proclamar.
O ministério de Jesus é proclamar o Evangelho de Deus. Essa proclamação é
que leva ao arrependimento e que faz discípulos.
v. 15: f-1,fTaVOfLTf" arrepender e íTWrfUfTf .. crer.
Essas formas são dois imperativos de Deus aos homens, e o tempo presente
enfatiza o que Deus quer dos homens a cada dia: arrependimento da vida de erros/
pecado efé no Cristo Salvador, o Evangelho encarnado.
v. 17: íTm7)aw
-
farei.
É Deus quem torna discípulos, através de seu chamado e da mudança de vida
que ele realiza. É Deus que faz com que André e Simão, bem como todos os
discípulos, se tornem pescadores de homens.
228
INTRODUÇÃO
Nas "águas do mar da \::..:
lançada para capturar as p~ss
queremos pescar outros m2.:o
L Jesus quer "pescador~:: ::~
A. Ele nos torna, n:;
1) Deixam ru::" ..
B. Para proclamar 2,,--=-~::-~"=.=
1) Mensag~::·.:: lI. Da melhor forma pc:'
A. Palavra e Sacr;:c.::'-::"
1) De forma:.~:::':
2) Através d~"ó;
para a rec::' ::_
CONCLUSÃO
Nas "águas do mar da '. :::2.
gratos por ele nos ter rei:: '
Cristo para Todos.
.. -
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
A "pesca" de pessoas é profetizada desde o AT (Jr. 16.16, Ez. 47.10 ). O texto de
Mt. 13.47 mostra que a "rede" é para serlançada sobre todas as pessoas, sem exceções .
.APÓS EPIFANIA
v. 18:Simão e André deixaram - aifm7lJ.L - tudo para trás e seguiram - aKOAOOOf{;) - a Jesus,
como discípulos. Eles aderiram, ligaram-se intimamente com Jesus. Essa é uma exigência
bíblica para ser discípulo: é necessário estar intimamente ligado com o Mestre Jesus.
10
v. 19: KIXTlXpn( OVTIXÇ - consertar, pôr em ordem, remendar, limpar, dobrar, deixar
as redes prontas para outra pescaria.
,; .~:'na Galiléia (v.14 ). Logo após
~~';'.lS. que é a ênfase do evangelho
O texto mostra que dois discípulos estavam pescando e dois consertando o
equipamento de pesca, as redes, no momento do chamado de Jesus. E Jesus os
chama para serem discípulos a exemplo do que estavam fazendo.
';Jzinho. Ele "chama" quatro de
Podemos tirar daqui um ensinamento muito importante: precisamos ter hoje um bom
material de pesca, bem cuidado, em ordem, para sermos bons "pescadores de pessoas".
v. 20: Tanto esse versículo como o v.17 trazem o advérbio
Jdo de Epifania, onde lembramos
. ; gentios, para os povos e para os
:..~,; ~nfatizar o "Cristo para Todos",
c:-.
orr
ww enfatizando
como é a caminhada do discípulo com o Mestre: após ele, sempre. É Jesus quem faz
a frente. Os discípulos seguem os seus passos .
PROPOSTA HOMILÉTICA
Tema: Pescando para Jesus.
iratidão a Deus" , realizando a
: - -s transforma em seus discípulos.
~do AT desse domingo (ln. 3. 1-5,
?:..lavrade Deus, mesmo que em um
:.. 23. pregação de Jonas, e Deus se
_ . 0-' de Deus. Essa proclamação
é
homens, e o tempo presente
ooependimento da vida de erros/
_
:"J';
. __ ~-. }CIo.
.:iamado
e da mudança de vida
_~ e Simão, bem como todos os
.c
INTRODUÇÃO
Nas "águas do mar da vida" onde estamos, há muita armadilha sendo
lançada para capturar as pessoas. Nós fomos pescados pela rede de Deus e
queremos pescar outros mais.
I. Jesus quer "pescadores de homens" na missão.
A. Ele nos torna, nos faz pescadores, a exemplo dos discípulos.
1) Deixam tudo para trás e seguem a Jesus, vão após ele.
B. Para proclamar arrependimento e fé.
1) Mensagem do "Cristo para Todos".
11.Da melhor forma possível, com os melhores equipamentos de "pesca".
A. Palavra e Sacramentos: equipamentos dados por Deus
1) De forma atrativa, contextualizada e dinâmica
2) Através desses meios o Espírito Santo traz os "peixes/homens"
para a rede do reino de Deus.
CONCLUSÃO
Nas "águas do mar da vida" nós vamos avançando como pecadores de Jesus,
gratos por ele nos ter feito seus pescadores e cada vez com mais vontade de levar
Cristo para Todos .
Aurélio Leandro Dali'Onder
Ribeirão Preto - SP
229
Igreja Luterana - N° 2 • 1999
QUARTO DOMINGO APÓS EPIFANIA
30 de janeiro de 2000
Marcos 1.1-28
INTRODUÇÃO
A perícope inicia com o primeiro versículo (V) do Evangelho de São Marcos.
Com isso é oportuno sublinhar, no contexto maior, algumas informações sobre a
pessoa e o Evangelho de Marcos. Adiantamos, também, que escolhemos a pregação
de Cristo como tema do sermão. No texto da mensagem do dia, examinaremos,
especialmente, os conceitos de pregação, ensino, autoridade, arrependimento,
evangelho e perdão.
CONlEXTO
Marcos é um personagem bonito, querido e com os pés no chão. Ele merece
destaque na abertura da história da igreja do Novo Testamento. Marcos é o autor do
Evangelho que leva seu nome. Ao lado de Mateus, Lucas e João, pois, é um dos
quatro evangelistas. Mas Marcos não faz parte dos 12 apóstolos escolhidos por
Cristo. Era de Jerusalém, a capital religiosa e teológica de Israel, e na casa de sua mãe
Maria, a igreja do Novo Testamento realizava ofícios religiosos (At 12.12). Foi
companheiro de Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária (At 12.25). Houve
um atrito com Paulo, e Marcos voltou para casa. Desaparece por um período de dez
anos. Euzébio, em sua História Eclesiástica, faz uma colocação interessante: "Marcos,
tendo-se feito intérprete de Pedra, escreveu com exatidão, se bem que sem respeitar
a ordem dos fatos, quando ele se lembrava das coisas que o Senhor disse e fez".
Não se sabe o tempo, o lugar e o modo de sua morte. Quando Paulo se encontra na
prisão de Roma, manda chamar "Marcos porque me é útil para o ministério" (2 Tm
4.11). Houve reconciliação. Pois este Marcos é "um dos homens que falaram da
parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" (2 Pe 1.21), ao escrever o Evangelho de
Marcos.
O Evangelho de Marcos é tido como o primeiro livro do Novo Testamento. É o
mais breve dos quatro Evangelhos. Tem um estilo vivo e vigoroso, de frases curtas
e precisas. Não é um historiador preocupado com biografias, mas um narrador que
usa um '~ornalismo moderno e dinâmico". Alguém que conta fatos, sempre tendo
pressa. Mas ele é extremamente exato, respondendo sempre as grandes perguntas
diretivas: Quando? Onde? Que? Como? Quem? Por quê? Para quê? Marcos tem
pressa e corre - é com urgência que precisa divulgar sua mensagem. Marcos não
escreve para judeus, mas para gentios. Provavelmente de Roma para os romanos.
Acredita-se que foi escrito antes de 70, ano da destruição de Jerusalém. Lendo todo
o Evangelho, fica muito claro que Marcos teve um grande propósito com o seu
230
Evangelho: mostrar qJ~ .~e c_
mais uma das "sagrad::, _
em Cristo Jesus" (2 Tm :
'IEXTO
Como a perícope ::
encontramos, no mínim~
Batismo de Jesus; 3. A t~~
5. O chamado dos prime::-evangelho de hoje. Há ;::,
_
e
,
Como, porém em tC~ ~
pregação de Jesus. Diank
ênfase no sermão:
I-
Filho de Deus (v.
i"~ ~
Cristo, o Messias, o Prcrne::::'
Trindade. Aponta para a d:', .~.~ _
Marcos. Filho do Homem. ::,.
Filho de Deus, Salvador de ~.'_~::.
Art. III da CA: Do Filho de De_
Pregar (v.4,7,14,17,3S - "
proclamar, transmitir, avisa:-.:::.:Sempre como algo oficiaL C'
público, para todos, para c
16.15). Na igreja, tornoU-Se ._
Pregação, a Mensagem, c De. _Ensinar (v. 21,22 - dii:.: ..
conotação de apresentaçã.:: ;:. -'-'
conteúdos, lições, dourrini"s ::~
se mais em pregação; quJ.':c:
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Evangelho: mostrar que Jesus Cristo é o Filho de Deus! O Evangelho de Marcos é
mais uma das "sagradas letras que nos podem tornar sábios para a salvação pela fé
em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15).
'IEXTO
Como a perícope é longa (28v.) e Marcos é breve e conciso em suas narrativas,
encontramos, no mínimo, seis blocos diferentes (1. João Batista e sua pregação; 2.
Batismo de Jesus; 3. A tentação de Jesus; 4. O início da pregação de Jesus na Galiléia;
5. O chamado dos primeiros discípulos; 6. A cura de uma pessoa endemoninhada) no
evangelho de hoje. Há, pois, seis assuntos distintos para sermões.
_: Evangelho de São Marcos.
:c~gumasinformações sobre a
: c:':',. que escolhemos a pregação
, :'êLgem do dia, examinaremos,
êLutoridade, arrependimento,
_,
os pés no chão. Ele merece
,tamento. Marcos é o autor do
: .,'. Lucas e João, pois, é um dos
:::, 12 apóstolos escolhidos por
, ;::" de Israel, e na casa de sua mãe
:.:ios religiosos (At 12.12). Foi
. ;~:T'.missionária (At 12.25). Houve
=: ~ ,aparece por um período de dez
, :c:olocação interessante: "Marcos,
: :i:tidão, se bem que sem respeitar
: :isas que o Senhor disse e fez".
, -te. Quando Paulo se encontra na
~ ..-..-,e
é útil para o ministério" (2 Tm
:'um dos homens que falaram da
~ 1.21), ao escrever o Evangelho de
-:11
,
-=- ~
,~iro livro do Novo Testamento. É o
'o vivo e vigoroso, de frases curtas
::: biografias, mas um narrador que
.:~m que conta fatos, sempre tendo
:~Ddo sempre as grandes perguntas
" Por quê? Para quê? Marcos tem
ulgar sua mensagem. Marcos não
~lmente de Roma para os romanos.
.estruição de Jerusalém. Lendo todo
~ um grande propósito com o seu
Como, porém em todo o texto a anunciação recebe destaque, optamos pela
pregação de Jesus. Diante disso, a análise de alguns termos que deverão receber
ênfase no sermão:
Filho de Deus (v. 1 - uiou tou Theu): Jesus, a Salvação, o Salvador, o Redentor.
Cristo, o Messias, o Prometido, o Ungido. Filho de Deus, a segunda pessoa da
Trindade. Aponta para a divindade de Jesus. É o tema principal do Evangelho de
Marcos. Filho do Homem, título que só Jesus aplicava a si mesmo. Jesus Cristo,
Filho de Deus, Salvador do mundo. É o Emissor ou o Pregador em nosso estudo. Ct.
Art. III da CA: Do Filho de Deus.
Pregar (vA,7,14,17,38 - keerússu - keérugma): Anunciar publicamente. É
proclamar, transmitir, avisar, publicar, comunicar, falar ao outro, "pescar gente"(v.17).
Sempre como algo oficial, em nome de alguém com autoridade; com o sentido de ser
público, para todos, para o longe - "todo o mundo, todas as nações" (Mt 28.19; Mc
16.15). Na igreja, tornou-se termo técnico para designar o "Sermão de Púlpito", a
Pregação, a Mensagem, o Discurso Sacro, no exercício do ministério pastoral.
Ensinar (v. 21,22 - didasku - didaxée): É quase sinônimo de pregar. Tem uma
conotação de apresentação mais informal, mas didática e pedagógica. É transmitir
conteúdos, lições, doutrinas aos outros. Quando Jesus se dirige às multidões, falase mais em pregação; quando se dirige a seus discípulos, seguidores, apóstolos,
fala-se mais em ensinar. É dar lições, transmitir doutrinas, instruções.
Autoridade (v. 22,27 - ezusfa): Não com fraqueza ou vergonha, como que pedindo
desculpas. O termo aparece no NT para falar de atividades recomendadas, autorizadas
e ordenadas por rabinos, sacerdotes ou o próprio Deus. Têm dois significados bem
interessantes: ter o direito e a liberdade para fazer e dizer o que tem vontade de fazer
e dizer, sem interferência de quem quer que seja, ter o poder e o direito de fa;.-:eralgo
com o poder e o direito de fazer algo com o poder e o direito que recebeu de outro.
Também pode ter o sentido de capacidade, habilidade e jeito de fazer bem alguma
coisa. Os escribas eram autoridades, mas em relação a Jesus eram pequenos, pobres
e medíocres. Jesus pregou e ensinou com a sua própria autoridade, na qualidade de
Filho de Deus (Natureza Divina) e com a autoridade recebida do Pai, na qualidade
de Filho do Homem (Natureza Humana). Ct. Mt 28.18.
231
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Arrependimento (v. 4,15 - metánoia): Não é desespero, mas arrependimento,
isto é, reconhecimento de um mal praticado e a intenção de mudar de vida. É
regeneração, renascimento e mudança interior, moral e espiritual. É renovação da
alma, do coração e da mente. É dar meia-volta. É retomar. É mudar de estrutura, de
postura e de conduta. É ter uma atitude nova, correta, divina e abençoada. Este é um
dos conteúdos doutrinários do sermão de Cristo. Sem arrependimento não existe
salvação. Cf. Art. XII da CA: Do Arrependimento.
Evangelho (v. 14,15 - euaggélion): É uma boa, agradável e feliz notícia. É o
contrário de derrota, de prejuízo, de tristeza. É sempre um grito de vitória, de
conquista, de ganho. Também significa falar, proclamar e di vulgar as boas, grandes
e graciosas obras de Jesus em favor dos pecadores - os delTotados. É a mensagem
da salvação em Cristo. Curiosidade: 7 é tido como número da perfeição; em Mc, o
termo "evangelho" aparece 7 vezes; o conteúdo do evangelho - "Cristo" aparece 7
vezes e "Filho de Deus" aparece 7 vezes. Este é o segundo conteúdo do sermão de
Cristo - o evangelho. Cf. Art. IV de Art. de Esmalcalde: Do Evangelho.
Remissão (v. 4,25 - áfesis): É perdão dos pecados. Livramento da culpa. Libertação
dos males. Soltura de algemas, de prisões, de inimigos. É riscar e apagar dívidas,
manchas e chagas. A remissão sempre é conferida por Deus. O homem não pode se
remir (pagar, comprar) ou perdoar-se a si mesmo. O perdão é resultado final da morte
de Cristo. É a maior bênção: ser absolvido do pecado, libertado do diabo e salvo do
inferno. Cf. Mt 26.28; Lc 1.77; 3.3; Ef 1.7. Hb 9.22; Explicação do 2° Art. do Credo
Cristão.
Maravilhas (v. 22,24,28 - eekpleessu): É ficar admirado e perplexo com um fato
presenciado. É ficar atônito e assombrado com algo que se viu ou ouviu. É ficar
abismado e emocionado com alguém ou alguma coisa que é esplendoroso, forte,
diferente. A pregação às multidões, o ensino na sinagoga e o milagre da cura do
endemoninhado fez com que "a fama de Jesus corresse cé1ere em todas as dire·
ções"(v.28) e deixava a todos maravilhados, admirados, atônitos e perplexos.
DISPOSIÇÃO
INTRODUÇÃO
Os Três Ofícios de Cristo
Cristo exerceu três ofícios:
r
Oficio Sumo-sacerdotal: como Sumo Sacerdote (Hb 7.26,27), Cristo cumpriu
a lei em nosso lugar, sacrificou-se a si mesmo por nós e continua orando e nos
defendendo diante do trono da graça de Deus.
2° Ofício Real: Como Rei, Cristo sustenta, governa e protege a sua igreja (reino
do poder, graça, glória)
3° Ofício Profético: Como Filho de Deus (v.1), Cristo pregou a palavra e continua o ministério da proclama'ção através de sua igreja.
232
Em nossaperícope.
J~,~: -
pois:
o quê?
I. A Mensagem do Al'!'i'c~c
1.
2.
3.
Contexto da perícc~~
Pregação e AutoricL<:~
Arrependimento
4.
Mini-aplicação: ".~~~::~- .
lI. A Mensagem
1.
2.
3.
do Du;'"
Ilustração: Paulo ~m R:' Evangelho e seus ':;:- .. c •.
Mini-aplicação: ··D~:.::.; ,
(cf. Art. Esma1cald" ..:~
llI. A Mensagem da Remi,ic.~'
1. Ilustração: Remissãc., _:::-,
2. Remissão, perdão, lit~:-·
3. Mini-Aplicação: 2° .-'~: ::-
CONCLUSÃO
Nossa missão como igrej.::. - Mt 26.18-20
-Mc16.15
- Fp 2.5-11
Os outros precisam ficar.::~:-:-:-_nho e pregação.
Igreja Luterana
~ó,ó5pero, mas arrependimento,
~'ónção de mudar de vida. É
. -::..:: espiritual. É renovação da
-ó ~:1ar.É mudar de estrutura, de
ê.: .. ina e abençoada. Este é um
~:::-:,arrependimento não existe
- N° 2 - 1999
Em nossa perícope, Jesus Cristo, o Filho de Deus, exerce o Ofício Profético,
pozs:
TEMA
JESUS PREGA VA COM AUTORIDADE
(v. 4,7,14,15,17,22,38,39)
o quê?
_ .~~radável e feliz notícia. É o
- ::::-,-,preum grito de vitória, de
~:-:~Jre divulgar as boas, grandes
-::"5 derrotados. É a mensagem
~.5.meroda perfeição; em Me, o
: . ::·.angelho - "Cristo" aparece 7
: ::~undo conteúdo do sermão de
_::.iie: Do Evangelho.
: _: Livrarnento da culpa. Libertação
. :-:.:~os. É riscar e apagar dívidas,
::.::.::.Jr Deus. O homem não pode se
= ::::rdão é resultado final da morte
_::,2.J.libertado do diabo e salvo do
= = Explicação do 2° Art. do Credo
__ 2mirado e perplexo com um fato
<p que se viu ou ouviu. É ficar
2'Jisa que é esplendoroso, forte,
- ::.5:nagoga e o milagre da cura do
_::,'rressecélere em todas as dire~
:-:-:~3.dos,atônitos e perplexos.
I. A
1.
2.
3.
4.
Mensagem do Arrependimento (v. 4,15)
Contexto da perícope: Marcos e Evangelho
Pregação e Autoridade
Arrependimento
Mini-aplicação: "Arrependei-vos ..."(Cf. Livro de Concórdia, 324)
I!. A
1.
2.
3.
Mensagem do EvangelhoJv. 14,15)
Ilustração: Paulo em Rm 2.18 e 1Co 1.23-25
Evangelho e seus significados
Mini-aplicação: "Deus é exuberantemente rico em sua graça"
(cf. Art. Esmalcalde, Art. IV)
lI!. A Mensagem da Remissão
(Y.4,25)
1. Ilustração: Remissão, compra, resgate e sangue: Ef 5.16; Hb 9
2. Remissão, perdão, libertação
3. Mini-Aplicação: 2° Art. do Credo/Lutero
CONCLUSÃO
Nossa missão como igreja: "Toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor".
- Mt 26.18-20
-Mc16.15
- Fp 2.5-11
Os outros precisam ficar admirados e perplexos com o nosso ensino, testemunho e pregação.
.: ódote (Hb 7.26,27), Cristo cumpriu
-or
nós e continua orando e nos
c
Dr. Leopoldo Heimann
São Leopoldo, RS
; ~\erna e protege a sua igreja (reino
.ê.
: . Cristo pregou a palavra e conti:~reJa.
233
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
QUINTO
DOMINGO APÓS EPIfANIA
6 de fevereiro de 2000
Marcos 1.29-39
CONTEXTODAPERÍCOPE
Este texto situa-se no ministério de Jesus na Galiléia. Chamam atenção os diversos
milagres de Jesus no início do seu ministério nesta região. Jesus faz uma pregação
de impacto e cura um endemoninhado, causando grande admiração em Cafarnaum
(Mc 1.21-28), segue a isto a cura da sogra de Pedro e de muitos outros (vv. 32-34),
a cura de um leproso (vv. 40-45), e a cura de um paralítico (Mc 2.1-12). O pecado traz
consigo o séquito do sofrimento e da morte física, como diz Paulo em Rm 6.23: "O
salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, em
Cristo Jesus, nosso Senhor". Com estas curas Jesus está mostrando que as
muitas enfermidades, físicas, morais e espirituais desta região e do mundo inteiro
são conseqüência do pecado, e, como o povo necessita de um Salvador! Porém
quando o povo se prende ao que é temporal, i. é, a cura do corpo, Jesus deixa claro
o seu poder e coloca a pregação acima dos milagres, retirando-se dali e indo a
outros lugares a fim de pregar (vv.38, 39).
TEXTO
Olhando este texto, da forma como o Dr. Martinho Lutero aconselha a orar os
Dez Mandamentos, percebemos que temos uma bíblia que fala. Ele diz: "Pego um
ponto depois do outro, para que fique inteiramente livre para oração (o quanto
isso for possível), fazendo de cada mandamento um quadrado ou uma coroa
trançada quatro vezes, ou seja: tomo cada mandamento primeiro como um
ensinamento, como ele na realidade o é em si mesmo, e reflito sobre o que o nosso
Senhor Deus nele exige de mim com tanta seriedade; em segundo lugar, faço dele
uma ação de graça; em terceiro lugar, uma confissão, e em quarto, uma oração ... "
(Obras de Lutem Vai. 5. p.140). Recomendamos uma leitura do texto deste modo.
Destacando em cada v. a doutrina, ação de graça, confissão e oração, dependendo
do tempo da nossa meditação, teremos algo semelhante a isto:
V 29 - "E, saindo eles da sinagoga,joram,
a casa de Simão e André."
com Tiago e João, diretamente para
1) Doutrina: Jesus acompanha os seus discípulos para fora do templo. Jesus está
sempre conosco, não só na igreja, mas também fora dela. Jesus quer entrar em
nossas casas. Jesus foi fazer uma visita a uma mulher enferma. (Sabemos,
através da leitura corrida da perícope, que a sogra de Simão estava doente).
234
2) Ação de graça: les:>
Sou grato pela sua. ~,
procurado ou solicil2.~, ,-_~ __.
3) Confissão: Reconne~Senhor após o culto e = '-:- - '
como se Cristo tivesse :, :',_ para as pessoas necess::~~_
4) Oração: Senhor, ajud3.-r:e c_<
tua presença. Quere \',::
palavras certas para c
_
não ter dado atençãc ~
=
V30 - "A sogra de
:
Sim[j;,
respeito dela."
1) Doutrina: Simão e Ar,i:-: c __
uma intercessão. Ora:!::
2) Ação de graça: Que ;T,':'::'
quem podemos recor: ';r c
necessidades. Louvad: 'e
3) Confissão:
Sou fiel::::
-- desempregados, neces,:::, preguiçoso em minhas ::.:.~- -: 4) Oração: Rogo-te, meu De _:
despertes em mim o es;:f-:-pelo próximo. Amém.
V 31 - "Então, aproximalu:kela a servi-tos." (Pode-:::..-=
1) Doutrina: Jesus atend-: :.:
pelo Senhor: servir. O, ';em resposta natural d.:. ::c::
2) Ação de graça: Não te:,~__
me livrou da morte e d~ : minhas forças que ele ~_-:'; - 3) Confissão: Confess,irmãos que me trouxerl:~_ nos meus próprios af"zer:: : __
ingratidão e minhas d-::':'; =
4) Oração: Agradeço-'e :::c
restabeleceste a minn::
que oram por mim.
servir a ti e ao meu pr"Poderíamos prosseg-.;-
Igreja Luterana
?:6 EPIFANIA
o~" Chamam atenção os diversos
'o iião. Jesus faz uma pregação
;.:~.jeadmiração em Cafarnaum
~o je muitos outros (vv. 32-34),
:~~o(Mc 2.1-12). O pecado traz
_ . ::no diz Paulo em Rm 6.23: "O
de Deus é a vida eterna, em
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um quadrado ou uma coroa
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. ,jma leitura do texto deste modo.
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:::. confissão e oração, dependendo
--:'.elhantea isto:
)m Tiago e João, diretamente para
.:ios para fora do templo. Jesus está
têm fora dela. Jesus quer entrar em
:. uma mulher enferma. (Sabemos,
a sogra de Simão estava doente).
- N° 2 - 1999
2) Ação de graça: Jesus quer entrar em minha casa. Ele vem espontaneamente.
Sou grato pela sua misericórdia e bondade, oferecendo-se a mim sem ser
procurado ou solicitado. Agradeço ao Senhor Jesus pelo seu interesse por mim.
3) Confissão: Reconheço que sou ingrato e tenho desprezado a companhia do
Senhor após o culto e o tenho desprezado de modo vergonhoso. Tenho agido
como se Cristo tivesse ficado na igreja. Não visitei os enfermos e não tirei tempo
para as pessoas necessitadas.
4) Oração: Senhor, ajuda-me a aceitar a tua companhia. Que eu não menospreze a
tua presença. Quero visitar os enfermos. Concede-me a tua companhia e as
palavras certas para o doente. Ajuda-me, Senhor amado, e perdoa-me por eu
não ter dado atenção aos doentes. Amém.
V30 - "A sogra de Simão achava-se acamada, com febre; e logo lhe falaram a
respeito dela."
1) Doutrina: Simão e André falaram a Jesus a respeito da mulher doente. Houve
uma intercessão. Oração.
2) Ação de graça: Que maravilha! Temos um Senhor presente, ao nosso lado, a
quem podemos recorrer em oração. Temos a quem recorrer em nossas
necessidades. Louvado seja Deus por escutar os nossos anseios .
3) Confissão:
Sou fiel na intercessão?
Lembro-me dos doentes, aflitos,
desempregados, necessitados, em minhas orações? Confesso que tenho sido
preguiçoso em minhas orações pelo próximo.
4) Oração: Rogo-te, meu Deus, pelas pessoas que estão doentes ... e para que
despertes em mim o espírito de intercessão. Que eu não seja preguiçoso em orar
pelo próximo. Amém.
V 31 - "Então, aproximando-se, tomou-a pela mão; e afebre a deixou, passando
ela a servi-los." (Poderíamos dividir este v. ao meio)
1) Doutrina: Jesus atende as orações. A atitude daqueles que são beneficiados
pelo Senhor: servir. O servir aqui é uma prova de que estava curada e se torna
em resposta natural da cura. O significado de "servo".
2) Ação de graça: Não tenho o suficiente para agradecer e bendizer o Senhor. Ele
me livrou da morte e da condenação eterna. Agora quero servi-Io com todas as
minhas forças que ele me concedeu.
3) Confissão: Confesso que não tenho servido ao Senhor e aos discípulos e
irmãos que me trouxeram o Senhor e intercederam por mim. Tenho pensado mais
nos meus próprios afazeres servindo a mim mesmo. Confesso meus pecados de
ingratidão e minhas deficiências no servir ao Senhor e ao meu próximo.
4) Oração: Agradeço-te, Senhor, porque ouviste as orações dos teus servos e
restabeleceste a minha vida mediante o teu poder. Agradeço porque há pessoas
que oram por mim. Ajuda-me a orar também pelos outros. Quero, em gratidão,
servir a ti e ao meu próximo, assim como a tua palavra me ensina. Amém.
Poderíamos prosseguir até o final da perícope deste modo. Assim percebemos
235
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
que a Bíblia é um livro que fala conosco e nos leva a serví-lo, confessar os nossos
pecados e a falar com Deus em oração.
SEXTO DC'H
SUGESTÃO DE TEMA (pROPOSTA HOMILÉTICA)
TEMA
"Cristo para todos - avançando com gratidão a Deus".
a) Levando Cristo para todos, inclusive aos doentes.
- visitando, v.29
CONTEXTO
Início do ministério de .T,,: _: como quem tem autoridade". TO; ~
nhão com o Pai e seu mini:[ê~:
realiza na região de Cafarnaur:'
que causa ciúmes e medo na: ::...:'
b) Com ações de graça.
- intercedendo, v.30, e servindo, v.31
c) Confessando os nossos pecados.
- os quais nos tornam doentes e impedem de servi-lo.
TEXTO
v. 40 : Um homem "coberto
d) Orando com gratidão (avançando)
- fomos perdoados (curados) dos nossos pecados.
Dari Trisch Knevitz
Pela tas, RS
i"
de seus milagres, de joellL:
podes purificar-me". C :c:o;::-:'
total confiança no poder o; - ~ ,
humildemente aos desígr:: _: :.
tica a terceira petição do F
com mais facilidade no D: Uo;'
O leproso não pede apenJ.: '.::-'
ra e do corpo doente. SI 51.2. "L::.':'
do". Afinal, "o sangue de .Te'> ''_'
LEPRA: doença de pele do; -,'
pecado. A consideravamjulg::.réde Deus". Ensinavam que serr. -'--=0;
da. Acreditavam que a lepra t,,: -: __ ,-,
a de participar das atividades :0; _
LEPROSO: As leis que regu,~
te rígidas. Após ser examina:, Do;
rado impuro, imundo. Era is:L:, _,
V. 41: Jesus não apenas se:'.':; ,
a causa e as conseqüê:::'::,o
salvadora mais profuni"
"estendeu a mão, tocou-: '
5.3). Este tocar revela a
236
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
--l-10, confessar os nossos
SEXTO DOMINGO
APÓS EPIFANIA
13 de fevereiro de 2000
Marcos 1.40-45
CONTEXTO
Início do ministério de Jesus. Encontra-se na região da Galiléia, onde "ensina
como quem tem autoridade", realiza curas e expele demônios, e fortalece sua comunhão com o Pai e seu ministério, orando. Grande parte do ministério de Jesus se
realiza na região de Cafarnaum. A fama de Jesus se espalha em todas as direções, o
que causa ciúmes e medo nas autoridades religiosas dos judeus.
, c-- ..i-lo.
TEX1D
Dari Trisch Knevitz
Pelatas, RS
v. 40 : Um homem "coberto de lepra" (Lc 5.12), que tinha conhecimento de Jesus e
de seus milagres, de joelhos, prostrado, faz seu pedido de ajuda: "Se quiseres,
podes purificar-me". O mesmo revela profunda humildade, mas sobretudo,
total confiança no poder e na compaixão de Jesus. Não duvida, mas submete-se
humildemente aos desígnios divinos. Revela uma fé submissa e confiante_ Pratica a terceira petição do Pai Nosso. Conforme A. B. Bruce "Os homens crêem
com mais facilidade no poder milagroso do que no amor milagroso".
O leproso não pede apenas uma cura física, mas cura completa, da alma pecadora e do corpo doente. SI 51.2: "Lava-me completamente .... purifica-me do meu pecado". Afinal, "o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 Jo 1.7).
LEPRA: doença de pele, de natureza duvidosa. Para os judeus, símbolo do
pecado. A consideravam julgamento divino contra o pecado, chamando-a de "dedo
de Deus". Ensinavam que sem arrependimento a lepra não poderia jamais ser curada. Acreditavam que a lepra tornava a pessoa cerimonialmente imunda, impedindoa de participar das atividades religiosas dos judeus.
LEPROSO: As leis que regulavam a vida do leproso (Lv 13,14) eram extremamente rígidas. Após ser examinado pelo sacerdote e constatada a doença, era considerado impuro, imundo. Era isolado do convívio da sociedade, família e igreja.
V. 4 l: Jesus não apenas sente compaixão, mas revela desej o profundo de remover
a causa e as conseqüências do sofrimento do leproso. Compaixão é a virtude
salvadora mais profunda, rica e confortadora do Salvador.
"estendeu a mão, tocou-o" - Era contrário à lei mosaica tocar um leproso (Lv
5.3). Este tocar revela a profunda compaixão, o desejo sincero de ajudar, curar e
237
Igreja Luterana
. N° 2 . 1999
consolar de Jesus. Também pode ter sido o 'meio' que Jesus usou para transferir o
poder curador ao leproso.
PROPOSTA HOl\Ul.ÉTIC.-'-.
INTRODUÇÃO
"quero" - O verbo querer revela concordância com o pedido, e uma palavra de
consolo. Não resta qualquer dúvida quanto ao desejo de aliviar o sofrimento. Jesus
não veio para dar espetáculo, mas para socorrer e aliviar tanto o espírito como o
corpo.
Diante do descspere I' _- nários e profetas oferecer.:: s:L .._
especialmente os que est;';: -é:c
de Jesus diante do sofrÍrne:-.-
"fica limpo" - Está no imperativo do aoristo, que expressa um único ato de
purificação. Ação completa e definitiva.
V. 42: cura milagrosa, instantânea, completa e benéfica. Purificação não só para o
corpo, mas também para a alma. Limpo para adorar e servir a Deus no culto
público, e voltar a viver em sociedade, sem restrições nem preconceitos. Que
maravilha: há pouco, um homem prostrado, "coberto de lepra"; agora, o homem
mais saudável e limpo dos que lá se encontravam.
Vv. 43,44: "veemente advertência" - Que mudança radical nas palavras de Jesus.
Antes, uma voz que revelava compaixão, amor e consolo. Agora, um tom de voz
áspero, duro, severo. Qual a razão para esta advertência?
Possivelmente, para que o sacerdote, encarregado de dar o laudo, pudesse atestar
a cura definitiva, não sabendo como a mesma tinha ocorrido. Por outro, revela o
cuidado de Jesus em cumprir toda a lei. Outro aspecto a destacar nesta "proibição" de
Jesus é a sua missão messiânica. Como Filho de Deus não era um milagreiro sensacionalista, mas o MESSIAS, o Mestre da Lei e da verdadeira religião (Mt 12.15-21; Jo
2.11), o que "veio para buscar e salvar o perdido" (Lc 19.10; Mc 10.45).
CERIMÔNIAS
DE PURIFICAÇÃO
Ia Cerimônia: devolvia o leproso curado à vida em sociedade; simbolizava a
purificação física, corporal. Conforme Lv 14.5-8, nesta ocasião era ofertado:
duas aves puras, um pedaço de madeira de cedro, lã tingida de vermelho e um
galho de hissopo.
za Cerimônia: oito dias após a 1a, devolvia ao leproso curado seus direitos religiosos; simbolizava a purificação espiritual. Conforme L v 14.10-22, se fosse pobre, ofereceria um carneirinho, um quilo de farinha misturada com azeite, um
quarto de litro de azeite e duas rolinhas ou dois pombinhos; se tivesse posses,
ofereceria dois carneirinhos e uma ovelhinha de um ano, três quilos de farinha
misturada com azeite e mais um quarto de litro de azeite.
V. 45: Parece que a ordem de Jesus de não contar a ninguém o ocorrido, teve o
efeito contrário. Ao invés de calar, o ex-leproso começou a falar muito e a
espalhar a notícia. Não deve ser nada fácil alguém que experimentou tamanho
milagre em sua vida, tanto para a alma como para o corpo, guardar para si o
acontecido (At 4.20).
238
I-está pronto para omir
e 8.:c"~
II - é o único que tem todo
III - espera que divulguerrL
CONCLUSÃO
O pecado trouxe graves _:separação, doença, terror. m::- _
trouxe solução definitiva p:.:: mos mais viver em desesper: _'..__
cidos a boa notícia do SaL22 ..
a livrá-Io agora e para sempre
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
__~ Jesus usou para transferir o
-:-:c
o pedido, e uma palavra de
o sofrimento. Jesus
i~ aliviar
,iar tanto o espírito como o
PROPOSTA HOMILÉTICA
INTRODUÇÃO
Diante do desespero humano, em dias de crise e dificuldade, não faltam missionários e profetas oferecendo soluções milagrosas para todo e qualquer sofrimento,
especialmente os que estão relacionados à saúde, família e emprego. Qual é a reação
de Jesus diante do sofrimento humano?
TEMA
JESUS, EM SUA PROFUNDA COMPAIXÃO
:le expressa um único ato de
~fica. Purificação não só para o
- 2imar e servir a Deus no culto
I - está pronto para ouvir e atender nossos pedidos, segundo sua vontade
-c':ri~ões nem preconceitos. Que
- -e110de lepra"; agora, o homem
II - é o único que tem todo poder para curar a lepra espiritual e corporal
- c
_
':':'-'-1.
radical nas palavras de Jesus.
- c :·onsolo. Agora, um tom de voz
ertência?
__ - ; 2
_' _ de dar o laudo, pudesse atestar
-: ..' ocorrido. Por outro, revela o
2 destacar nesta "proibição" de
~_, não era um milagreiro sensaci. -_.deira religião (Mt 12.15-21; Jo
_: 19.1O;Mc 10.45).
III - espera que divulguemos a boa notícia da salvação aos sofredores.
CONCLUSÃO
O pecado trouxe graves conseqüências para a vida de todos: sofrimento, dor,
separação, doença, teITor, morte e condenação. Em sua profunda compaixão Jesus
trouxe solução definitiva para o pecado: perdão, nova vida e salvação. Não precisamos mais viver em desespero. Aliviados, perdoados e salvos, proclamemos agradecidos a boa notícia do Salvador que se compadece do ser humano e está disposto
a livrá-Io agora e para sempre.
Otomar Walter Schlender
Porto Alegre, RS
:: em sociedade; simbolizava a
- 5-8, nesta ocasião era ofertado:
oi"). lã tingida de vermelho e um
_or":so curado seus direitos religi-::':rme Lv 14.10-22, se fosse poo :'.::-:nhamisturada com azeite, um
-., pombinhos; se tivesse posses,
-: i~ um ano, três quilos de farinha
ie azeite.
-2:3. ninguém o ocorrido, teve o
: - - 'o começou a falar muito e a
_ ;:~m que experimentou tamanho
rara o corpo, guardar para si o
239
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
SÉTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
20 de fevereiro de 2000
Marcos 2.1-12
LEITURAS DO DIA
Salmo 41: Ligado ao texto do Evangelho do dia, estão presentes os ensinos claros
do AT (especialmente vV.l - 4). Vv. 1- 3: As bem-aventuranças e bênçãos derramadas
pelo Senhor Deus sobre aqueles que são caridosos para com o seu semelhante necessitado. Em referência aos amigos que trouxeram o paralítico até Jesus. V 4: A doença,
o estar enfermo e a morte são a conseqüência da condição de ser pecador de todo o
homem. Por isso a confissão: "...sara a minha alma, porque pequei contra ti".
/saías 43.18-25: Apesar de toda a transgressão e total ingratidão de seu povo,
Deus o perdoa. " ...eu mesmo sou o que apago as tuas transgressões por amor de
mim e dos teus pecados não me lembro" (v.25). Deus restaura a integridade de seu
povo exilado na Babilônia. Entre outras, destacamos as seguintes analogias no
texto com referência à restauração promovida pela graça de Deus:
1 - A misericórdia de Deus é tão profunda que só Ele pode fazer esquecer o
passado de idolatria e rebeldia (v.18);
2· Deus põe um caminho (salvação) no deserto (pecado) e rios (salvação), no
ermo (pecado);
3 - "Terras secas" e "lugares ermos ou desertos" = "vidas secas", i.é, vidas
destituídas de qualquer esperança. A este povo, que assim anda sem esperança no mundo, para com eles que não merecem senão somente a condenação eterna, Deus dá de beber de sua misericordiosa salvação;
4 - Este povo é da parte de Deus "meu escolhido, povo que formei para mim, para
celebrar o meu louvor" (vv.20 e 21)
Por certo, aqui encontramos algumas das mais belas analogias que projetam
demonstrar a graça e a misericórdia de um Deus perdoador. Este amor divino é a
confirmação e certeza de sua fidelidade, assim igualmente o amor incondicional de
Deus a fonte e o motivo da fidelidade de seu povo.
2 Coríntios 1.18-22: A maior prova da fidelidade de Deus está no fato de enviar
seu Filho, Jesus Cristo, como o seu sim, o seu selo redentor, a confirmação do seu
penhor, o pagamento pelo resgate de todas as criaturas. Esta é a mensagem que o
pecador arrependido necessita ouvir por nosso intennédio: "O SIM DE DEUS". Em
Cristo os teus pecados estão perdoados. Sim, Amém.
CONTEXTO
O evangelista tem o claro propósito de apresentar a Jesus como o Filho de Deus,
através de suas poderosas palavras e atos. A manifestação da glória de Jesus
240
Cristo (EPIFANIA) fica e\:~e "
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TEXTO
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Cristo (EPIFANIA) fica evidente em sua pregação (ensino, doutrina) que maravilhava o povo e é autenticada por seus milagres(muitas curas). O Evangelista tem em
mente que para as primeiras comunidades cristãs o mais significativo é poder responder com convicção que "Jesus Cristo é o Filho de Deus" (l.l).
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da glória de Jesus
Do primeiro ao último capítulo o Evangelho de Marcos tem como seu grande
propósito autenticar a divindade de Jesus Cristo. Na pregação do Batista, no batismo,
na tentação e na vocação ou chamado para seus discípulos, o destaque é evidente:
mostrar a Jesus como o Filho de Deus. Assim, o contexto é marcado por muitas curas
que Jesus realiza. Isto não deixa de ser o propósito na perícope seguinte ao descrever
as curas realizados, autenticar a Jesus Cristo como verdadeiro Deus. Naturalmente
estes fatos extraordinários não só chamaram a atenção do povo em geral, mas especialmente dos que manipulavam e dominavam toda e qualquer manifestação religiosa em
Israel, os fariseus e entre eles a maioria dos mestres da lei (escribas, cf. Lc 5.17). Dentro
deste clima, encontramos o Salvador Jesus Cristo de retorno a Cafarnaum. E é neste
contexto que se insere o texto em estudo, a cura de um paralítico.
TEXTO
A fama de Jesus correu célere por toda a Galiléia e especialmente na cidade de
Cafarnaum. Apesar de ter impedido o testemunho dos demônios expulsos (Mc 1.34);
ter declarado aos discípulos que o'procuravam, quando orava de madrugada: "Vamos
... às povoações vizinhas, a fim de que pregue também ali, pois para isso ê que eu
vim"(Mc 1.38); ter solicitado ao leproso curado: "...não digas nada a ninguém ... Mas,
tendo ele (o leproso) saído, entrou a propalar muitas cousas e a divulgar a notícia, ao
ponto de não mais poder Jesus entrar publicfullente em qualquer cidade, mas permanecia fora, em lugares ermos; e de toda parte vinham ter com Ele"(Mc 1.44 e 45).
Vv. 1,2 - Não poderia ser diferente, estando Jesus novamente em Cafarnaum. A
notícia da sua presença, se espalha rapidamente e logo uma multidão se encontrava
diante da casa, impedindo qualquer acesso pela porta .. O que fazia Jesus dentro da
casa? "... anunciava-1hes a palavra" (v.2 icíll.b1.fl um imperfeito durativo de ílaílicw falar,
com sentido de proclamar, Mt 12.36; Jo 3.24; 1 Co 2.6ss., acompanhado de ílicyw(íl6yolJ)
dar sentido ou significado ao que é falado. Tomado no sentido superlativo, para
designar o evangelho (doutrina) que Jesus veio proclamar (Mc 8.32) .
Vv. 3,4 - Alguns homens tentavam se aproximar de Jesus, conduzindo um amigo paralítico. Na impossibilidade de chegar até o meio da casa através da porta, não desistem, e
vencendo os obstáculos sobem ao eirado, em que abriram um buraco. Lucas menciona que
o eirado era de ladrilhos (Lc 5.19). Descem o amigo deitado em seu leito diante de Jesus.
"Vendo-lhes afê, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados" (v.5). Tanto seus amigos como o próprio paralítico vão ao encontro de
Jesus, movidos por sua absoluta confiança e certeza de ajuda. Os amigos tinham
certeza que Jesus podia curar o paralítico, pois já haviam visto fazê-Io antes. Mas
este paralítico padecia de um mal maior que sua paralisia, e assim chegou diante de
Jesus com o peso de seus pecados.
241
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Os responsáveis pelo bem estar espiritual do povo de Israel não cumpriam suas
funções, não declaravam o bálsamo do perdão divino aos corações arrependidos.
Primeiro a paz d'alma, depois a preocupação com o corpo. Jesus é verdadeiro Deus,
pois é o único que pode ver além das aflições corporais. Jesus vê o reconhecimento da
culpa e o arrependimento no coração daquele homem. Ele mesmo declara ao paralítico:
"Os teus pecados estão perdoados". A autoridade para proferir perdão e absolver os
pecados é o ponto principal deste relato. É muito significativo que a declaração evangélica do perdão dos pecados fosse a primeira pedra de contradição dos escribas e fariseus
contra Jesus. Não poderia ser diferente, estes últimos eram legalistas e sinergistas em seu
ensino. Desprezavam a graça salvadora, porque interpretavam mal a revelação do AT.
Cabe, agora, a pergunta dos escribas: "Quem pode perdoar pecados, senão um,
que é Deus? (v.7) Jesus responde a mesma, em primeiro lugar, apontando para os seus
pensamentos (v.8). Aquele que conhece os corações é o único que pode perdoar o
pecado. Em segundo lugar, Ele os submete a um teste. A pretensão de perdoar os
pecados não podia ser averiguada. Porém, a autoridade para curar podia ser demonstrada imediatamente. Se Ele fizer com que o homem ande, então que saibam que "o Filho
do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados" (v.10).
"Filho do homem", título exclusivo e adotado pelo próprio Jesus. Designa sua
messianidade, manifestando o Cristo verdadeiro Deus, do verdadeiro Deus, assumindo a completa natureza humana. A designação encontra-se referida em Dn 7.13 e 14. O
fato de o Filho do homem ter sobre a terra autoridade para perdoar pecados indica que
Ele não se esvaziou na encarnação de sua divindade, apenas não fez uso da mesma.
Os escribas acusaram a Jesus de blasfêmia, pois apesar de seus muitos milagres
não o reconheceram como verdadeiro Deus. O povo em geral reconheceu em Jesus
o verdadeiro Deus, o que não reconheceram seus dirigentes. Com freqüência o
mesmo sucede, não somente em assuntos ligados à fé. O reconhecer e crer em Jesus
como verdadeiro Deus, que por grande amor assumiu a nossa natureza e todos os
nossos pecados, é o grande milagre da salvação.
PROPOSTA HOMILÉTICA
lEMA
O Médico Pelfeito
O milagre interno, a fé que encontra seu grande conforto e se alegra e rejubila ao
ouvir a declaração absolvedora de seus pecados, é maior e mais significativo que
qualquer outro milagre externo e visível.
Mas, é o milagre da cura externa (ex.: cura do paralítico), que autentica perante os
homens o único capaz, Jesus Cristo, por força de sua Palavra e Obra, de perdoar todos os
pecados, de todos os pecadores. O grande milagre da cura completa, nossa redenção.
O resultado deste perdão conquistado por Cristo é que faz digno perante Deus
nosso culto, adoração e ação de graças.
Oriando Nestor Ou
242
OITAVO
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LEITURAS DO DIA
O salmista Davi, no SaIr;; "
dos que o temem. Deus é m'Sê::-::
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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OITAVO DOMINGO
APÓS EPIFANIA
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Orlando Nestor Ou
27 de fevereiro de 2000
Marcos 2,18-22
LEITURAS DO DIA
O salmista Davi, no Salmo 103.1-13, exalta a Deus pela benevolência em favor
dos que o temem. Deus é misericordioso, pois "Ele é quem perdoa todas as tuas
iniqüidades" (v.3). Esta ação imerecida de Deus leva o seu servo a viver (avançar)
com gratidão a Deus (vv 1 e 2).
No texto do AT, Os 2.14-16,19·20, a mensagem de Deus ao povo de Israel é:
portanto eu vou deixar a Israel só, para não seguir a outras influências (Baal), e
então eu mesmo, o Deus da aliança, hei de falar-lhes, e de maneira suave, para captálos, pois eu os amo. Nos versículos 19 e 20 encontramos umas das palavras mais
consoladoras do livro de Oséias: Deus quer contrair núpcias novamente com Israel
(a parte ativa é exclusivamente ele). Ele, de sua parte, faz aliança de duração ilimitada,
eterna. A primeira aliança também foi eterna. Quem quebrou o trato foi o povo
ingrato. Ele lembra o que a aliança implicava da parte de Deus. A outra parte da
mesma aliança, Israel, nada tinha a oferecer, apenas fraqueza, impureza e rebeldia.
Deus enumera vários atributos, cheios de graça e de amor. Entre outros, encontramos
juízo e justiça, mas no sentido de que o Senhor sempre está pronto para perdoar e
declarar justo o malfeitor arrependido. Este amor de Deus para com Israel levaria o
seu povo a viver (avançar) com gratidão a Deus,
Na leitura da epístola, 2 Co 3.lb-6,0 apóstolo Paulo fala da congregação de
Corinto como sendo uma carta escrita. Não escrita com tinta, não em tábuas de
pedra, não da letra (isto é, não como obra humana como resultado da observância
da lei), mas como carta de Cristo, escrita nos corações pelo Espírito do Deus vivente.
Os cristãos de Corinto, como carta de Cristo, deveriam avançar com gratidão a
Deus, mas tinham sérios problemas, pois as duas cartas escritas por Paulo a esta
congregação revelam tensões e conflitos de toda ordem.
CONTEXTO
1- Anterior - Jesus estava jantando na casa de Mateus (Levi) com os seus
discípulos na companhia de publicanos e pecadores e, por esta atitude, é
criticado pelos escribas dos fariseus. Jesus responde usando um provérbio
(v.17). Aos chamá·los de sãos e bons Jesus estava ironicamente
concordando com eles. Os fariseus se consideravam bons, saudáveis, justos
diante de Deus, embora não fossem de fato. Por não comer com publicanos
e pecadores, realizar sacrifícios (Mt 9.13), jejuar, guardar o sábado ... os fariseus
243
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
não se enxergavam como espiritualmente doentes e, como conseqüência,
não sentiam a necessidade de um médico (Jesus).
2 - Posterior - a observância do sábado perdia em importância, no judaísmo,
apenas para a circuncisão. Colheita e limpeza dos grãos nos sábados estavam
entre as 39 principais violações passíveis de morte, de acordo com as
ordenanças judaicas. A lei cerimonial não contradizia o propósito messiânico;
as restrições dos fariseus, sim.
TEXTO
Jejum - as formas e os propósitos do jejum no AT eram numerosos. O jejum se
praticava em Israel como um preparativo para uma conversa com Deus. Era praticado
pelo indivíduo quando se sentia oprimido por grandes cuidados. Era praticado pela
nação em perigos iminentes de guena e destruição; durante uma praga de gafanhotos;
para trazer sucesso no retomo dos exilados; etc ... A lei israelita ordenava o jejum tãosomente no dia da expiação. No deconer do tempo, o significado mais profundo do
jejum, como expressão do humilhar-se do homem diante de Deus, foi perdido para
Israel. Sempre mais veio a ser considerado uma realização piedosa (DTNT).
VIS. Através do evangelista Mateus sabemos que somente alguns dos discípulos
de João vieram perguntar a Jesus porque os seus discípulos não jejuavam
assim como eles e os fariseus (Mt 9.14). João Batista está na prisão (Mc
1.14). Os discípulos que o haviam seguido estão sós. Sua pergunta não é
motivada pela hostilidade, senão pela perplexidade.
Estão somente
perguntando a razão desta grande diferença a respeito do jejum. Os fariseus,
por iniciativa própria, jejuavam duas vezes por semana com o objetivo de
fazer mais aparente sua atitude de santidade. Os discípulos de João levam
sua incompreensão a Jesus mesmo e não vão com as suas acusações aos
seus discípulos, CorilO os fariseus fizeram(Mc 2.16). Vieram buscar
esclarecimento, uma vez que os fariseus procuravam desacreditar a Jesus.
V19. O ponto de vista inteiramente novo que o NT contribui à questão do jejum se
expressa com a máxima clareza nas palavras de Jesus: "Podem, porventura,
jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?"
Porventura (llE) (acaso) pressupõe uma resposta negativa: certamente que não!
O irrompimento do reinado de Deus, da presença do Messias, das boas novas
da salvação que independem das obras boas - tudo isso significa alegria, que é uma
coisa excluída pelo jejum no sentido judaico. À luz da pregação de Jesus, centralizado
no Messias, o jejum deste tipo é coisa do passado, e pertence a uma era que já se foi.
V20. Jesus se refere à sua paixão e morte.
V21. Não um remendo novo, mas um vestido novo. O vestido velho é o judaísmo
de então, ou melhor, o que os escribas e os fariseus haviam feito com com
suas doutrinas e práticas, todo o velho formalismo, as observâncias exteriores,
a falsa santidade. Seria inútil remendar tudo isso com uma parte dos ensinos
244
e/ou práticas dÕ',-';'"
e vestir em seu
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V22. Um odre era a pelÕ': .-'que segue fermem:,,' ~.'. ';
resultado seria des:;s:.~-: '
as antigas práticas r:;e,.:.. __
necessário lançar fc~:::.:.' :
somente as novas r;:~,,-,
ASPECTOS PRÁTICOS
Pensamento central, ..i. ::;,
obras da lei.
Objetivos: Viver a nm,. - ,~'- ~~
Moléstia: A falsa santi.j::j:
Meio: O sofrimento e 2::-c:':-:'; :Õ
que Deus manifesta o seu p :2: '
comunhão com Cristo nos :~'--= '-::Deus. A comunhão com C~:'
preciosos meios da graça: P,-:,-' ': ::'
Na Santa Ceia entramos em _ ,- -DISPOSIÇÃO / INTROm'C;c
Edifício com o fundame:::
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TEMA
É necessário desconstru:;- ::-.:...'_
I- Desconstruir o enSlr.: ';
II- Construir o ensino e :: - - ,
ill- Assim seremos verei,,:::.: _~:
CONCLUSÃO
Filme "Um drama em Í::::-..
problema no coração. Outrc :'"~,, _ ,
cérebro. Ambas as crianças :'Õ': .- ::de coração com sucesso. Qu:::-:..:.:. ':o
avançar na vida com gratiei~:; .:
apenas doou o seu coraçãc. ::-,:;::
Podemos agora avançar c:'::-, ;:-:::.
Ou
lEMA
Busquemos a Cristo
I- Para tirar as dú\'id,,:.
II- Para receber orier.-:;::~,
ill- Para viver com ale;;:-::::.
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
c:ntes e, como conseqüência,
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_ ~:radizia o propósito messiânico;
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somente alguns dos discípulos
seus discípulos não jejuavam
João Batista está na prisão (Mc
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o c. perplexidade.
Estão somente
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" procuravam desacreditar a Jesus.
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: c:nquanto o noivo está com eles?"
= 'posta negativa: certamente que não!
::-'c:sençado Messias, das boas novas
:..lio isso significa alegria, que é uma
..:zda pregação de Jesus, centralizado
.c.:,. e pertence a uma era que já se foi.
e/ou práticas de Jesus. Faz-se necessário rechaçar o velho vestido das obras,
e vestir em seu lugar o novo vestido da justiça de Cristo.
v'22. Um odre era a pele completa de uma cabra. Jamais se pode deixar vinho novo,
que segue fermentando-se e causa pressão, em odres velhos e secos, pois o
resultado seria desastroso. Jesus não é nenhum insensato que trata de combinar
as antigas práticas farisaicas com a gloriosa nova doutrina da graça e fé. Faz-se
necessário lançar fora todo o velho farisaísmo com toda a sua prática, e aceitar
somente as novas normas de vida que enquadram dentro da nova doutrina .
ASPECTOS PRÁTICOS
Pensamento
obras da lei.
central: A salvação é pela graça de Deus em Cristo Jesus, sem as
Objetivos: Viver a nova vida em Cristo com alegria e avançar com gratidão a Deus .
Moléstia: A falsa santidade, as observâncias exteriores, todo o velho formalismo.
Meio: O sofrimento e a morte de Cristo. Somente atíavés da pregação da cruz é
que Deus manifesta o seu poder para a salvação naqueles que crêem (Rm 1.16). A
comunhão com Cristo nos traz alegria e, assim, podemos avançar com gratidão a
Deus. A comunhão com Cristo se dá pela ação do Espírito Santo através dos
preciosos meios da graça: Palavra de Deus e Sacramentos (Batismo e Santa Ceia) .
Na Santa Ceia entramos em comunhão com o corpo e o sangue de Cristo.
DISPOSIÇÃO / INTRODUÇÃO:
Edifício com o fundamento arruinado
TEMA
É necessário desconstruir para construir
Desconstruir o ensino e a prática farisaica
II- Construir o ensino e a obra de Cristo
III- Assim seremos verdadeiramente livres e felizes
T-
CONCLUSÃO
Filme "Um drama em famílias". Um casal estava esperando um filho, mas com
problema no coração. Outro casal estava esperando um filho, mas com problema no
cérebro. Ambas as crianças teriam poucos minutos de vida. Foi feito o transplante
de coração com sucesso. Quanta alegria por parte da família beneficiada! Poderiam
avançar na vida com gratidão à família doadora, e foi o que fizeram. Jesus não
apenas doou o seu coração, mas toda a sua vida para nos dar a alegria da salvação .
Podemos agora avançar com gratidão a Deus!
Ou
TEMA
Busquemos a Cristo
TPara tirar as dúvidas
novo. O vestido velho é o judaísmo
, e os fariseus haviam feito com com
:~alismo, as observâncias exteriores,
. 'udo isso com uma parte dos ensinos
II- Para receber orientação
III- Para viver com alegria
Lauri Pinnow
Palmitos, se
245
Igreja Luterana - N° 2 • 1999
ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA
A TRANSFIGURAÇÃO
DENosso SENHOR
Marcos 9.2-9
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Ó
5 de março de 2000
CONTEXTO
A temática do dia no Ano Eclesiástico
A festa da Transfiguração marca a transição entre o período de Epifania (ao qual
pertence) e a Quaresma, que introduz de forma muito própria. Na Epifania lembramos
a manifestação de Jesus ao mundo. A transfiguração mostra quem Jesus é - o
glorioso Filho de Deus; com isto, ilumina todo o período da Quaresma, mostrando
que o "homem de dores e que sabe o que é padecer" não é uma "vítima" das
circunstâncias. Ele é o Senhor que deixa de usar plenamente os poderes, glória e
majestade que são Seus, para dirigir-se ao Calvário. A Transfiguração de Jesus nos
ajuda a "ler" o tempo da Quaresma com a ênfase própria do "Deus na cruz é meu
amado" (Hinário Luterano, 82:1).
o texto
no seu contexto
O texto em estudo no início da segunda grande parte de Marcos, que trata
basicamente da paixão, morte e ressuneição de Cristo. Pouco antes, Jesus ouvira a
confissão de Pedro e fizera o primeiro anúncio de Sua morte e ressurreição e falara
da cruz do cristão. Pouco depois do texto Jesus novamente prediz Sua morte e
ressurreição (9.31; cf. 9.12). A Transfiguração é, pois, um momento de grande glória
colocado bem em meio à trajetória de Jesus a Jerusalém e à cruz,
"A narrativa sobre a transfiguração de Jesus aparece imediatamente depois da
predição de que 'alguns' veriam a gloriosa vinda de Cristo e do reino. Uma observação
feita quanto ao tempo que se escoara, 'seis dias depois', serve de liame entre a
transfiguração e a predição ..... É lógico concluirmos que a transfiguração cumpriu a
promessa de Jesus. 'Alguns' dos discípulos --Pedro, Tiago e João --foram testemunhas
oculares deste evento. E isto foi uma prelibação particular da glória do reino de
Deus sobre a tena, quando do retorno de Cristo." (Robert Gundry, Panorama do
Novo Testamento, 170.) Há quem prefira outras explicações para as palavras de
Jesus em 9.1 (por exemplo, uma referência à ressuneição de Jesus; etc.). De qualquer
forma, a transfiguração de Jesus é um evento em que claramente o reino de Deus se
manifesta.
TEX1D
"Foi a transfigurado" - metamorfôo
é "mudar para outra forma", "transformar".
O verbo é empregado no texto da Epístola do dia (2 Co 3.18). Pedro interpreta esta
246
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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:2 Co 3.18). Pedro interpreta esta
cena como uma manifestação da "Sua majestade, ... honra e glória" (2 Pe 1.17). Em
meio ao Seu ministério terreno, mostra aos discípulos Sua "glória como do Unigênito
do Pai" (Io 1.14). É um momento passageiro, pois a missão está ainda por ser
completada, na cruz e na ressurreição. Isto torna este momento ainda mais especial.
É uma demonstração pequena e passageira da glória a ser revelada, depois da
ressurreição e especialmente em Sua segunda vinda (Mc 13.26).
Vivemos um tempo que combina paradoxalmente os exageros das idéias de
um "Cristo cósmico", distante da verdadeira humanidade; e da religiosidade
popular, que vê no sofrimento de Jesus simplesmente um exemplo para o
sofrimento de um povo em busca de melhores condições de vida. Contra tais
visões equivocadas, a transfiguração de Jesus - valorizado seu contexto - aponta
para o fato de que Ele é o Deus-homem, vindo ao mundo com a missão específica
de redimir a humanidade .
"Elias e Moisés" - possivelmente ninguém mais representaria tão bem a "lei e os
profetas", o Antigo Testamento, que testifica de Cristo e Sua obra. É significativo
que os dois homens tiveram revelação de Deus sobre montes (Êx 24.15; 1 Rs 19.8s) .
Agora estão diante do Deus humanado, em um monte. Vale lembrar também que os
dois têm importância singular na perspectiva escatológica do Antigo Testamento.
Ambos são mencionados nos últimos versículos do Antigo Testamento (MI4.4-6).
E é sabido que os judeus levavam a sério a palavra sobre a vinda de Elias (Mc 9.11).
Tanto Moisés como Elias proclamaram o reinar de Deus em meio a uma época de
autoritarismo pagão (Faraó; Acabe), de ameaça contra a Igreja de Deus. Pelo ministério
de ambos, ficou evidenciado ao povo que Deus reina, com poder e fidelidade às
Suas promessas. A presença dos dois homens no monte da transfiguração marca a
presença do reino de Deus na terra; não através deles, mas dEle, o Rei encarnado. A
presença destes grandes homens de Deus do Antigo Testamento testemunha a
respeito de Jesus. E nos lembram que precisamos ler o AT à luz da vida e obra de
Cristo .
"Bom é estarmos aqui" - a sugestão de Pedro, de fazer tendas, parece tentativa
de eternizar aquele momento. Antes de criticá-Io, precisamos concordar com Pedro
que um momento assim deveria ser eterno. A frase de Pedro se aplica ao culto da
Igreja, onde "Moi sés e Elias" estão presentes na proclamação da palavra profética
e apostólica; mas sobretudo, Cristo está presente, na Palavra, pela Palavra e no
Sacramento. "Bom é estarmos aqui" é particularmente significativo no contexto da
Santa Ceia, celebrada aqui, mas apontando para a Ceia celestial, onde será sumamente
bom estar e, melhor que a transfiguração, será eterno!
"A Ele ouvi"- "continuem a ouvi-lo", é o que diz o Pai. Este é o ponto alto do
texto para os discípulos (e os leitores e ouvintes). Deus se dirige a nós, que estamos
diante do fato maravilhoso da transfiguração. O que importa para a Igreja é ouvir a
Cristo. Por vezes corremos o risco do ativismo. É preciso, no entanto, valorizar
sempre mais o ouvir a Cristo. Em Sua palavra temos perdão dos pecados, alimento
para a fé e renovação da alegria, esperança e amor.
247
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
PROPOSTA HOMILÉTICA
lEMA
D
PRIMEIRO
A importância da transfiguração de Jesus para a Igreja
1.
Nos mostra quem Jesus realmente é
1.1 - nele o reino de Deus se faz presente
1.2 - é o Filho de Deus
1.3 - significativo: antes da paixão, a manifestação de Sua glória
2.
Nos conclama a que ouçamos a Jesus, em qualquer situação
2.1 - a ordem do Pai: "a Ele ouvi"
22 - é isto que realmente importa em nossa fé - ouvir o que Jesus diz, na Sua Palavra
3.
Nos dá uma idéia da maravilha que será o céu
3.1 - a manifestação de Pedro - "bom é estarmos aqui"
3.2 - diremos o mesmo no céu, onde cada momento será glorioso
3.3 - nós temos algo disto no culto - a presença de Jesus, na Palavra e Sacramento
CONTEXTO
O relato da tentação G:::
evangelhos o apresentam l.;:
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Gerson Luis Linden
TEXTO E COMENTÚliC)
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é tentado pela sua pr6ç::~ :.::
248
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
PRIMEIRO DOMINGO NA QUARESMA
Marcos 1.12-15
12 de março de 2000
__: ~ .:leSua glória
:.:alquer situação
- que Jesus diz, na Sua Palavra
., :qui"
será glorioso
:" Jesus, na Palavra e Sacramento
::-,,:-,to
CONTEXTO
O relato da tentação de Jesus acontece no início de seu ministério, e os
evangelhos o apresentam logo após o batismo, com exceção de Lucas, que
intercala a tentação na genealogia de Jesus. Aqui, bem no começo de seu
ministério adulto, o Filho de Deus luta contra o grande inimigo. Isto não quer
dizer que não tinha havido ataques anteriormente, e sabemos que os houve
depois ( Mt 16.23; Lc 22. 28). Mas este ataque foi algo de especial. Foi uma
tentativa de derrotar o Messias, bem no princípio de sua atividade pública
como o Salvador do mundo.
Gerson Luis Linden
TEXTO E COMENT.ÁRIO
Jesus foi batizado e preparado para assumir a sua obra. Seu Pai agradou-se
dele e o capacitou com o poder do Espírito Santo. Quando estava começando a agir,
encontrou-se com o inimigo. Depois do batismo - a tentação.
V. 12: Eu8uC; - "e logo - imediatamente", mostra a urgência, um sentido de
ação imediata, pressa. Também o verbo: EK~aÀ,À,o- "lançado fora, expulso",
traz um sentido de urgência, não há tempo a perder, exige urna ação
imediata. "Jesus é lançado para fora, expulso para o deserto onde Satanás
o enfrenta".
Nas três versões da tentação de Jesus, a de Marcos é a menor, um resumo
apenas, mas usa um termo muito forte: "expulso". Mateus já usa outro termo,
mais suave: aVTlx8T1 - "foi levado até" (4.1) e Lucas usa: T1YE'W - "foi guiado"
(4. 1). São termos que não mostram tanta dureza.
EPTlIl0C; - "para dentro do deserto", lugar sem amigos, sem nenhum recurso,
sem assistência, lugar onde se está a sós. Nota-se que deserto, solidão, estar só,
nenhum ser humano por perto, somente animais selvagens, combina muito bem
com a tentação.
Foram 40 dias, exposto ao inimigo pior: Satanás.
V. 13: TCElpaSOIlEvoC; - "sendo tentado, provar, testar", usado aqui para uma
solicitação real para a prática do mal. O próprio Satanás veio testar a Jesus.
Isto mostra que não devemos esperar caminho mais suave se formos fiéis.
Nossas tentações talvez sejam diferentes, em outras formas, pois cada um
é tentado pela sua própria cobiça (Tg 1.14). A tentação é real e potencialmente
249
~
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
devastadora, se não contarmos com a ajuda do Espírito. Parte da tentação
pode ter ocorrido na alma de Jesus, pois parte dela é interna. Exteriormente
envolve as formas morais que nos circundam, isto é, forte desejo ou vontade
de praticar o mal.
Cada um de nós experimenta tentações todos os dias. Somos tentados para
o mal por Satanás: Na falta de dinheiro, a fazer uso da desonestidade; na fartura,
à cobiça; nos perigos, a confiar nas próprias forças; perante o fracasso, a
desconfiar das promessas e ajuda de Deus. Somos tentados especialmente
quando estamos no "deserto". Jesus precisa dominar o diabo e libertar a
humanidade perdida da tirania dele. A vitória final e completa foi conseguida
na cruz, com o grito "Está consumado!"
Esta primeira batalha precisa ser
vencido. pelo Senhor para que a profecia de Isaías 61. 1 possa ser cumprida:
"libertação aos cativos, e a pôr em liberdade os algemados". No deserto, a
tentação mostra Jesus em atividade redentora agressiva, isto é, Ele está
perseguindo o diabo e não se defende ou simplesmente sujeito às tentações
dele. O Pai o abençoa e tem seu prazer nele e em sua obra salvadora; o Espírito
o impele para batalhar com o tentador; Jesus, voluntariamente, aceita esta sua
imcumbência. Se a Trindade não o tivesse querido, Satanás nem poderia ter se
aproximado de Jesus, muito menos tê-Ia tentado.
O primeiro Adão é tentado e derrotado no jardim e perde o Paraíso. O
segundo Adão é tentado e vence a batalha no deserto para nos reconquistar
o Paraíso.
V. 14: Depois que João foi entregue, Jesus voltou para Galiléia. Estabeleceu
seu centro de atividades em Cafarnaum, importante cidade da região.
Segundo os Evangelhos, daí por diante ele passou a pregar o Evangelho
de Deus e a necessidade de arrependimento e de fé.
K1lPU00õJV
= proclamar como arauto o Evangelho de Deus. EUcx.yycÀ10V - as
alegres novas da salvação que vem de Deus, ou, a Boa-Notíca do amor de
Deus em Jesus.
V. 15: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo, arrependeivos e crede no evangelho." Almeida Revista e Atualizada.
"Chegou a hora, e o Reino de Deus está perto. Arrependam-se
pecados e creiam na mensagem da salvação." B.L.H.
dos seus
"O tempo está realizado e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos
crede no Evangelho." Bíblia de Jerusalém.
Arrependimento é me~.::.
não andar mais nos cai",;;_
evangélica, que descobre :õ :c:,
a pessoa a Deus. Atn,\ ~o .=:c
Deus em Jesus Cristo:
cristão a bandonar seus: .::r',
caminhos do perdão, da r:.:: _
Satanás é a nossa vitári.::, .:.
porque "o tempo está cure:,:,:.::
fala: "Arrependa-se e :r:õ::c
arrependimento e fé.
e
.
PROPOSTA HOJ\1ILÉTIC-"~
O que nos dá poder
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É a vitória de Jesus sobre ~-"~
I - Para nos aITeper'::õ:'
II - Para ter fé no E\.:::,,~:õ
I - Sem a vitória
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escravidão não estaria g2L.;,:
gratidão a Deus". Agora
não andar mais segundo a :::..
23), porque Jesus no li\Tc~ .=:c
II - A Boa-Notícia é ass:õZ'~'
sua primeira luta contra
é proclamada e podemos
cada ser humano que creia r:õs::: =
de ter fé no Evangelho. ;::::_.0
fatos verdadeiros na
em e por Cristo. Ela, já :;:: -
l-LE"Ccx.VOEt"CE "mudança de mente, mudar de opinião". Na Bíblia a palavra
arrependimento
tem a conotação de "voltar." A necessidade de voltar se
justifica porque o ser humano, por natureza, caminha em direção contrária a
250
Deus, para a perdição, p:u-:c
quando sonega, mente. ':'::õ::c
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
:i do Espírito.
Deus, para a perdição, para o inferno. Mesmo o cristão, seguidamente faz isso:
quando sonega, mente, odeia, inveja, corrompe ...
Parte da tentação
~:uce dela é interna. Exteriormente
~-,--;-,.
isto é, forte desejo ou vontade
Arrependimento é meia volta, andar em direção a Deus, e, conseqüentemente,
não andar mais nos caminhos que são contrários a Deus. A fé bíblica é a fé
evangélica, que descobre e aceita a Boa-Notícia. Ela é como um canal que une
a pessoa a Deus. Através da fé, a pessoa recebe os benefícios do amor de
Deus em Jesus Cristo: perdão, salvação e vida eterna. É ela que motiva o
cristão a bandonar seus caminhos de egoísmo, traição, violência, c andar nos
caminhos do perdão, da paz, do amor, da fraternidade. A vitória inicial sobre
Satanás é a nossa vitória. O colapso total do reino de Satanás é inevitável,
porque "o tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo." E Jesus ainda
fala: "Arrependa-se e creia no Evangelho". Isto significa que Jesus requer
arrependimento e fé.
: ::.)s os dias. Somos tentados para
c" uso da desonestidade; na fartura,
·~:J.s forças; perante o fracasso, a
Somos tentados especialmente
'? dominar o diabo e libertar a
~_'. final e completa foi consegui da
::sta primeira batalha precisa ser
Isaías 61. 1 possa ser cumprida:
_' os algemados". No deserto, a
cDtora agressiva, isto é, Ele está
simplesmente sujeito às tentações
c e em sua obra salvadora; o Espírito
_s. voluntariamente, aceita esta sua
~'Jerido, Satanás nem poderia ter se
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PROPOSTA HOMILÉTICA
o que nos dá
poder?
É a vitória de Jesus sobre Satanás.
;.:' no jardim e perde o Paraíso. O
no deserto para nos reconquistar
I - Para nos arrepender
II - Para ter fé no Evangelho
voltou para Oaliléia. Estabeleceu
2um, importante cidade da região.
e ele passou a pregar o Evangelho
mento e de fé.
1S
::\'angelho de Deus. EuayycÀwv - as
:eus, ou, a Boa-Notíca do amor de
: de Deus está próximo, arrependei:Zevista e Atualizada.
está perto. Arrependam-se
, B.L.H.
dos seus
Deus está próximo. Convertei-vos
I - Sem a vitória de Jesus sobre as tentações, a nossa libertação da
escravidão não estaria garantida. Nem teríamos motivo para "Avançar com
gratidão a Deus". Agora o nosso Senhor quer que tornemos da escravidão e
não andar mais segundo a carne (015.19,20), mas segundo o Espírito ( 015. 22,
23), porque Jesus no livrou da lei do pecado e da morte (Rm 8.1- 4).
II - A Boa-Notícia é assegurada e absolutamente verdadeira e cumprida. Na
sua primeira luta contra Satanás Jesus saiu vitorioso. A Boa Nova, a Redenção,
é proclamada e podemos "Avançar com gratidão a Deus." O que se requer de
cada ser humano que creia neste Evangelho. A vitória de Jesus nos dá o poder
de ter fé no Evangelho, porque o próprio Evangelho é o chamado dele. São
fatos verdadeiros na proclamação de Jesus. Deus nos prometeu a vida eterna
em e por Cristo. Ela, já agora, é nossa pela fé.
e
Edemar
Zenkner
Schroeder,
se
dar de opinião". Na Bíblia a palavra
:;Itar." A necessidade de voltar se
eza, caminha em direção contrária a
251
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
SEGUNDO DOMINGO NA QUARESMA
Marcos 8.31-38
19 de março de 2000
CONTEXTO
Este texto exibe um quadro novo na revelação de Jesus Cristo. O seu propósito
é tornar inteligível o que significa ser o Messias e o que espera dos que querem
segui-Io. A origem desta intenção está na confissão de Pedro em Me 8.29: "Tu és o
Cristo!" Ao anunciar que no caminho da exaltação há os passos inevitáveis da
humilhação, o ânimo e a coragem dos discípulos dão lugar ao vacilo e à confusão
(8.32). Os discípulos recebem alimento sólido. Nas outras duas ocasiões em que
Jesus faz declarações sobre a sua obra sacrificial (Me 9.30-37 ;10.32-45), ele aponta
os passos da renúncia e da humildade também na vida cristã.
TEXTO
Ao associar este texto com a declaração de Pedro em 8.29, pode se concluir que
a confissão por si só não é garantia de nada e insuficiente para estabelecer a fé
cristã. Marcos traz Jesus mais perto de Jerusalém, onde o Filho do Homem cumprirá
seu destino messiânico, enquanto Jesus conduz seus discípulos a refletirem sobre
as dimensões desta missão, bem como das conseqüências em ser um cristão fiel.
V. 31: O que Jesus somente havia proclamado de maneira velada (2.20) e que
procurava esconder (1.44; 5.43; 7.36), mas que os demônios já sabiam (1.24;
3.11), agora é ensinado explicitamente. O Filho de Deus começa a instruir seus
discípulos da necessidade de seu sofrimento, rejeição e morte. Na filosofia o
verbo õEl, é necessário, expressa a necessidade lógica ou científica, além de
exprimir obrigações religiosas ou éticas (Bromiley, Geoffrey. TDNT, p. 140). A
paixão é a lógica de Deus e é a obediência irrestrita do Filho à vontade do Pai.
Ao profetizar a iminente "tragédia", Jesus não está apenas fazendo um registro
antecipado da história, nem prevendo um acidente de percurso, mas fornecendo
a certeza de que os eventos relacionados com ele são aqueles que Deus Pai
programou. Por trás do acontecimento histórico está um, às vezes imperceptível,
plano de Deus.
o FILHO DO HOMEM
Este título de uso exclusivo de Jesus tem como pano de fundo Dn 7.13-14. Lá,
o Filho do Homem é descrito como um ser celestial investido de autoridade, glória e
cujo reino não tem fim. Só que esta figura recebe agora cores extremamente paradoxais.
O homem da glória e domínio eterno se aproxima da vergonha e rejeição, uma
aparente ruína, ainda que em seu vaticínio também transpareça a vitória.
252
V 32: O protesto de Pedr:
uma incongruência enrr:
.. _
discípulos desejam scgc::.f ..
quando este líder falEiel" -: _
fazer sentido. Pedrc c:..'.
incompatíveis com ".I.C., _::c
.'
curto, do conforto. e [eco: V 33: Jesus não explica, ne,'
programação de Deus ..:~
tentativa de Satanás e i", c
à sua entronização com: ::::.' ..
de Deus, que tentar ir:.'pe'::-:."
_
V 34: A audiência agora au:-:-.:'::C-. ~
Ao ehamar a multidãc-. ,':' _.
relevantes para todos os::-,,:..'. .
estende somente aos lid:''''
como salvador. Não é ;:q:::-:c.' ::
(I Pe4.13-16; 1 Co 1. 26-:
A CRUZ DO CRISTÃO
A cruz do cristão pode ::"
sofrimento do dia a dia. As::::-:vergonha, a fraqueza e a ind:.;' _
assim a cruz do cristão não c :c::
A imagem da cruz usada :,'
tem como base as crucificaç.,,:: c: .
de quem se dirige a esta exe.: ' •..'., " . '.
396). A cruz do cristão é dizer :.:.-'-,';: ..:se a uma vida humilde e de e:'::: .:-,,' ,
segui-Io, que devem estar r',,·
vidas. Do "Eu" para "Deus"
-.
L:.
Na análise sobre a teolc2'::~:
o cristão sofre, aí é que a ;:::-:
manifestam neste mundo" EV. 35: Jesus expõe em tra;>.~
em administrar de m3.:-=:~::.00(<..> é a preservaç?i
e eterna. O primeir~ c::::::.'
refere-se à perda pele. :._:, .'C
discipulado pode resul-.:.: .~
perda que resulta em ge::-.'-.: -:.-
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
V. 32: O protesto de Pedro tem lógica do ponto de vista dos homens, pois ele percebe
uma incongmência entre o Messias de 8.29 com a última afirmação de Jesus. Os
discípulos desejam seguir um líder vitorioso e esperam ganhar com isto, mas
quando estc líder fala em perder sua vida, esta expectativa desmorona, além de não
fazer sentido. Pedra então tenta reprogramar os planos de Deus, pois eles são
incompatíveis com suas esperanças e convicções. Ele deseja o caminho mais
curto, do conforto, e tenta impedir o vergonhoso caminho da cruz.
-• "JS Cristo. O seu propósito
:le espera dos que querem
___
:='edro
em Me 8.29: "Tu és
o
os passos inevitáveis da
_.:gar ao vacilo e à confusão
_.:tras duas ocasiões em que
~-';.30-37;10.32-45), ele aponta
_.: :::ristã.
V. 33: Jesus não explica, nem justifica; ele simplesmente afirma que a cruz está na
programação de Deus. A "reprogramação" de Pedra é considerada como uma
tentativa de Satanás em frustrar os eventos que conduzirão o Filho do Homem
à sua entronização como salvador e juiz. A morte de Jesus é tão central no plano
de Deus, que tentar impedi-Ia é fazer a obra do próprio Satanás.
-n1
e:118.29, pode se concluir que
_:-::::ientepara estabelecer a fé
le :::Filho do Homem cumprirá
; iiscípulos a refletirem sobre
__~:_=iasem ser um cristão fiel.
maneira velada (2.20) e que
demônios já sabiam (1.24;
- ie Deus começa a instruir seus
:ejeição e morte. Na filosofia o
le lógica ou científica, além de
u:"y, Geoffrey. TDNT, p. 140). A
_;:rita do Filho à vontade do Pai.
V. 34: A audiência agora aumenta, mas a mensagem é outra vez alimento consistente.
Ao chamar a multidão, Jesus demonstra que as condições para segui-Io são
relevantes para todos os cristãos. A exigência da auto-renúncia e da cruz não se
estende somente aos líderes da igreja, mas a todos os que confessam Jesus
como salvador. Não é apenas assistir, mas crescer na fé também no sofrimento
(l Pe 4.13-16; 1 Co 1. 26-29; 2 Co 12.7-10 e 1 Pe 4.12).
A
CRUZ DO CRISTÃO
A cruz do cristão pode ser mal entendida quando ela é identificada corno um
sofrimento do dia a dia. Assim como a cruz em si não foi a cruz de Cristo, mas a
vergonha, a fraqueza e a indignidade que o acompanharam na trajetória ao Calvário,
assim a cruz do cristão não é qualquer at1ição, mas é o sofrer por amor a Cristo.
lê
__ e JS
- está apenas fazendo um registro
e:lte de percurso, mas fornecendo
::: ele são aqueles que Deus Pai
. _ "stá um, às vezes imperceptível,
pano de fundo Du 7.13-14. Lá,
. 'nvestido de autoridade, glória e
::cores extremamente paradoxais.
~~J. da vergonha e rejeição, uma
transpareça a vitória.
_o,
A imagem da cruz usada por Jesus para realçar o comprometimento do cristão,
tem como base as cmcificações feitas naquela época. Tomar a cruz é o prelúdio cruel
de quem se dirige a esta execução e cujo veredicto é inapelável (Just, Arthur A. p.
396). A cruz do cristão é dizer NÃO para seus desejos e SIM para Deus, submetendose a uma vida humilde e de auto-renúncia. Jesus estipula para aqueles que desejam
segui-Io, que devem estar preparados para mudar o centro da gravidade em suas
vidas. Do "Eu" para "Deus" (Ef2.3; 4.17).
Na análise sobre a teologia da cruz de Lutero, Paul Althaus escreve que "quando
o cristão sofre, aí é que a glória de Deus e o seu reino contraditoriamente se
manifestam neste mundo" (Ethics of Martin Luther, p.34).
V. 35: Jesus expõe em traços claras a ambivalência da vida e exibe toda importância
em administrar de maneira sábia o aqui, para não ter prejuízo no lá. O primeiro
o4>(w é a preservação física neste mundo, o segundo é a salvação espiritual
e eterna. O primeiro O'lt~ÂÂUI-l-1. é a perda da vida eterna e o segundo
refere-se à perda pela auto-renúncia por amor a Jesus e ao Evangelho. O
discipulado pode resultar em perda na satisfação física e material, mas é uma
perda que resulta em ganho real e eterno.
253
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Vv. 36·37: Uma grande verdade está condensada em duas simples questões
retóricas. Jesus mede o absurdo de alguém dar preferência aos ganhos materiais
c à segurança de sua vida terrena e ignorar a salvação providenciada por Deus.
Rejeitar a vida eterna é experimentar a perda em seu sentido mais profundo,
ainda que haja aprovação do mundo e sua vida seja permeada pelo conforto e
segurança material. Estes versículos lembram as palavras do SI 49, em cujo
contexto o salmista descreve o homem que falha ao procurar sua segurança nas
riquezas materiais. O ganho máximo imaginável é o mundo todo (suas riquezas
e o seu controle). Se isto fosse possível, na "balança" de Deus a vida de
alguém ainda possuiria valor maior. Arthur Just, (p. 398) escreve que este sucesso
no mundo poderia também ser aplicado do ponto de vista missionário. Just
justifica que quando Jesus recebe os setenta missionários e eles vibram pelo
seu êxito, Jesus recomenda que a alegria maior deveria estar no fato de que seus
nomes estão escritos nos céus (Le 10.17-20).
V. 38: Esta sentença revela toda a seriedade envolvida em negar a cruz. O caráter da
perda agora é definida em traços eternos e definitivos. Este versículo
complementa o v. 35 e especifica a perda e o ganho assinalados naquela
declaração. Para a geração adúltera e pecadora (incrédula e infiel) e que se
envergonha de Jesus valerá o "dente por dente, olho por olho": No dia do Juízo,
é o Filho do Homem que se envergonhará dos envergonhados.
PROPOSTA HOMILÉTICA
O desafio deste texto é pregar o verdadeiro Cristo e o cristão autêntico. Muitos
falsos profetas têm saído mundo fora a pregar conceitos estranhos sobre o Filho de
Deus e sobre os cristãos. De Cristo se faz apenas um libertador terreno e a fonte da
prosperidade material. Do cristão alguém que pode ter tudo o que ele sempre desejou ter na vida, especialmente sucesso material e pessoal. Por natureza a expectativa
da maioria das pessoas é ser bem sucedido, alcançar a felicidade e a liberdade. O ser
humano tem fascínio pelo conforto. A proposta de Jesus fere em parte esta esperança, pois no caminho de segui-Ia em fidelidade está a cruz, a renúncia e a humildade.
Na cabeça de ninguém o sofrimento e o sacrifício são vistos como normais, muito
menos como uma bênção, a não ser que a cruz de Cristo abra seus olhos e ele possa
enxergar, com os olhos da fé, a glória presente e eterna, ao tomar a cruz por amor a
Cristo e segui-Io sem olhar para trás.
Anselmo Ernesto Graf!
Barra do Garças, MT
LEITIJRASDO DH
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254
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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Anse/mo Ernesto Graff
Barra do Garças, MT
TERCEIRO DOMINGO NA QUARESMA
João 2.13-22
26 de março de 2000
LEITURAS DO DIA
SI 19.7-14 - O título deste salmo em ARA é bem apropriado. Os vv. 7-14,
evidentemente, caracterizam a "excelência da palavra de Deus". A expressão "lei do
SENHOR" deve ser entendida como "a palavra de Deus", o que inclui lei e evangelho.
O motivo é óbvio: a lei não restaura o homem na presença de Deus, pois a restauração
é própria do evangelho. A lei, como explica a pergunta n. 108 do nosso tradicional
manual de Instrução de Confirmandos, apenas diagnostica a deplorável situação
espiritual natural do ser humano, e o condena. Por isso, apenas quem foi restaurado
pelo evangelho é que pode esperar em Deus e ser-lhe fiel, tendo no coração
pensamentos agradáveis na presença do SENHOR, pois este passou a ser sua
Rocha e seu Redentor.
Êx 20.1-17 - O "Iocus classicus" do Decálogo nos faz pensar nas funções da lei
divina. Além de servir como espelho revelador do problema espiritual humano,
serve como norma/caminho em que andará todo aquele que foi restaurado pelo
evangelho do SENHOR. Uma coisa é certa: nem toda a pessoa que apresenta um
comportamento exemplar foi restaurada por Deus, pois pode tratar-se dum belo
hipócrita; mas todo aquele que vive longe do caminho dos Dez Mandamentos pode
ter certeza de que vive em "fel de amargura e laço de iniqüidade" (At 8.23). Portanto,
esperar com fidelidade a Deus envolve duas coisas inseparáveis: a fé (confiança na
obra de Cristo em nosso favor) e o amor (obediência, fidelidade a Deus).
1 Co 1.22-25 - Pregar a Cristo é muito escandaloso. Imagine só: anunciar ao
povo que a vida eterna é dada aos que confiam no sacrifício que o Deus-Homem
realizou em nosso favor quando morreu e ressuscitou. O homem em seu estado
espiritual natural nada sabe nem quer saber disto. Pois o saber do homem natural
não admite que Deus seja Deus. Não apenas ignora as conseqüências da lei divina
como espelho. Ignora o evangelho, transformando-o em veneno (a graça barata). E
ainda mais: mesmo quando a lei é-lhe anunciada, desesperando-o, não consegue
por si mesmo atinar com o evangelho, pois a salvação no Cristo crucificado pertence
à revelação e não à filosofia. Ser fiel a Deus, portanto, significa permanecer com a
loucura da pregação da sabedoria de Deus.
TEXTO
"Jesus vai aotemplo" (BLH); "A apresentaçãodo Filhode Deus no templo em JelUsalém"
(A Bíblia Anotada Ryrie); "Jesus purifica o templo" (Shedd): títulos complementares.
255
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Duas purificações do templo hierosolimitano? (Mc 11.15-18). É provável, pois
os evangelhos sinóticos situam uma purificação do templo nos estágios finais do
ministério de Jesus. Muitos eruditos, no entanto, sentem que ou aqueles ou João
alteraram a ordem cronológica por motivos tópicos. Mas, não é inconcebível que
Jesus tivesse iniciado seu ministério com um protesto contra a corrupção oficializada
no templo, para servir de desafio ao arrependimento; tendo feito outro protesto,
antes do seu padecimento, como previsão da destruição divinamente punitiva, que
haveria de sobrevir a Jerusalém e ao templo em 70 d. C. (GUNDRY, R. Panorama do
NT, p. 140, nota n. 12).
V. 13 - Páscoa Uudaica): era uma das três grandes festas religiosas do povo do
Antigo Testamento, sendo as outras Pentecostes e Tabernáculos. A páscoa
comemorava a obra realizada pelo SENHOR (Javé), libertando seu povo no e do
Egito. Na noite pascal Deus "passou por cima" das casas dos israelitas (não
entrou para ferir), - pois haviam confiado na promessa divina - durante o episódio
da morte dos primogênitos dentre homens e animais egípcios (Êx 12.1-29). Jesus
foi à festa que comemorava anualmente aquela obra de Deus. A religião de
Jesus é a do Deus do AT, mesmo que alguns boiolas moderninhos digam que o
Deus do AT é muito duro, até cruel, e que, por isso nada teria a ver com o Deus
de Cristo. (Jo 10.30; Jó 40.2; ls 45.9).
V v. 14-17 - O pano de fundo da purificação do templo foi o fato de que animais e
aves para os sacrifícios e holocaustos estavam sendo vendidos na área do
templo (embora isto beneficiasse os peregrinos que, por causa da distância,
não podiam trazer consigo os animais para os sacrifícios). Os cambistas trocavam moedas estrangeiras por judaicas, a fim de os peregrinos provenientes de
outros países poderem comprar com "moeda sagrada" os referidos animais, ou
para poderem pagar o meio siclo anual, que os judeus maiores de vinte anos de
todo o mundo davam para a manutenção do templo. A única moeda aceita para
o pagamento do meio sido era de Tiro, por causa da pureza de sua prata (BRUCE,
EE João, p. 76). Jesus fazia objeções ao comércio nos recintos sagrados, reservados para seres humanos. Parece também que, além da profanação, os próprios preços e taxas de câmbio eram exorbitantes. E mesmo que não o tivessem
sido, ou mesmo que os animais tivessem sido cortesia de Abraão ou Jacó,
Cristo teria purificado o templo, pois o lugar dos adoradores não vinha sendo
respeitado. Anás, o sumo-sacerdote, que controlava o dito esquema financeiro
(GlJNDRY, idem.) deve ter começado ali as suas amabilidades contra Jesus.
(Se Gundry tem razão, na raiz da crucificação de Jesus está o amor de Anás ao
dinheiro).
Vv. 18-22 - Quando os judeus questionam as atitudes de Jesus com perguntas do
tipo: "Quem é você para fazer isso?", ou pior ainda: "Quem você pensa que é
para fazer cantar o chicote aqui no templo?" - o Verbo de Deus responde com a
promessa da Sua própria ressurreição, chamando seu corpo de santuário. E de
cortesia ainda dá as dicas para desconfiarem de que havia chegado um novo
256
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- N° 2 - 1999
tempo, o tempo da nova aliança, o tempo do santuário do corpo de Cristo - em
quem reunir-se-ão os filhos de Deus. (O assunto retoma quando Jesus conversa
com a mulher samaritana: Jo 4.20-24). A resposta de Cristo apresenta um tom
parabólico, evidenciando que Jesus queria que os judeus pensassem. Não
queria arregimentar seguidores dentre candidatos de plantão, pois Ele sabia o
que sucederia com gente do tipo "semente que caiu em solo rochoso" (Mt.13 .2021), como fica evidente em Jo 6.60-66).
E assim o Verbo de Deus está diante de nós, esperando que efetivamente
também reflitamos. Mas, nada das populares "gottseligen Gedanken"(pieguices),
que para outra coisa não servem, a não ser para alimentar as vaidades dum coração
carregado de autojustiça. Deverá ser um meditar agradável a Deus, como almeja o
autor do Salmo 19.
Pois bem, Jesus' Que o teu Espírito nos guie ao meditarrnos nas tuas obras'
Que animais irás chicotear hoje em nossos templos e corações? Que mesas
deverão ser viradas? Que gaiolas de pombas vens tu abrir em nossas igrejas? Contra o que fazes brandir o chicote no limiar do século XXI? Que situações fazem o teu
zelo se acender quando compareces às festas do povo que se chama pelo teu nome?
O que dirás dos nossos cultos, onde dificilmente vês uma prostituta ou um
homossexual penitente buscar guarida? Que dirás dos hinos dos herdeiros da Reforrna
luterana, cujos ritmos e formas jejuam rigorosamente em brasilidade? Que dirás da
forma (linguagem, etc.) do nosso "Catecismo Menor"? O que dirás da disciplina
eclesiástica que se converte em autoritarismo vingativo e humilhador? O que farás
conosco, do clero, que tanto medo temos de pensar que preferimos papagaiar
fórmulas doutrinárias como ventríloquos? (Cf. Mensageiro luterano, out/86:
Opinião). Se o juízo há de começar pela casa de Deus, o que será do ímpio, daquele
que não obedece ao evangelho de Deus? (1 Pe 4.17-18).
VEMANÓSTAMBÉM,JESUSl
VEM PURIFICAR!
VEM COM O TEU ZELO AMOROSO!
VEM COM O PODER DA TLJARESSURREIÇÃO!
VEM RESTAURAR, VEM TRANSFORMAR!
lvo Dreyer
Schroeder,
se
257
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
QUARTO DOMINGO NA QUARESMA
João 3. 14-21
02 de abril de 2000
INTRODUÇÃO
O Evangelho de João é diferente dos outros. Neste Evangelho Jesus é
apresentado como a Palavra de Deus, o Verbo divino, que existiu desde a eternidade
com Deus e que se fez um ser humano, mostrando assim o amor e a verdade de
Deus. O autor diz que o propósito deste Evangelho é fazer que os leitores creiam
que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e que, por meio desta fé, tenham vida
(20.31).
Na primeira parte do livro, onde encontramos perícope de nosso estudo, o autor
trata principalmente dos milagres de Jesus. Esses milagres são sinais, isto é, mostram
quem Jesus é e a razão por que ele veio ao mundo. O maior dos milagres é a ressurreição
de Lázaro, pela qual mostra que ele é ressurreição e vida. Outros milagres mostram
que ele é pão da vida, luz do mundo, aquele que dá vida às pessoas e provam que
Ele recebeu autoridade de Deus para julgar todos os seres humanos.
Fala também de uma ligação que existe entre os seus seguidores e seus
ensinamentos. A perícope a ser estudada encontra-se dentro de um bloco que
poderíamos chamar de "O trabalho de Jesus na Galiléia e na Judéia" que vai do
capítulo 2 ao capítulo 12 de João.
DESTAQUES DO TEXTO
]. A perícope indicada para este dia contém a continuação do diálogo entre Jesus
e Nicodemos, iniciado em João 3. 1 e ss. Um diálogo interessante do Mestre
Jesus com um Mestre em Israel- Nicodemos, que segue o episódio da purificação
do templo e as Bodas de Caná, extremamente didáticos para a igreja. O assunto
principal começa com a necessidade de "nascer de novo". Nicodemos não
compreendera o ensino sobre o novo nascimento. Jesus recorda um episódio
que certamente estava registrado na mente de todos e de Nicodemos também:
como os israelitas, na sua viagem pelo deserto, foram atacados por serpentes
abrasadoras. Moisés intercede por eles junto a Deus, são orientados a mirar uma
serpente de bronze e então ficariam vivos. A serpente erguida no meio do arraial
é figura do Filho que seria levantado na cruz. Mirando a serpente - nova vida começar de novo. Começar de novo, superar dificuldades, vencer barreiras é
possibilidade oferecida pela ação da graça divina. Com a graça divina, a pessoa
humana pode iniciar nova existência. A propósito do lema para este ano, só a
258
graça divina possibiEre.:c
direta e clara para os
"carne", e não conseg:.:ó :':'.
ingressar no Reino de D,,:.::
2. O nascer de novo accr,r"tó
clara ao batismo, que ~
3. O resultado do nascer::" do texto. Vida eterna é _u
comunhão do Pai, e é r:::':t
=- .
4. João 3.16 é parte integr::r:ó .:
evangelística, revelar,,:::
auto-entrega de Cri,,: c::' _
que é amor verdadeir.:
5. Segundo João 3.16.
seu Filho a este mune:.
totalmente novo, pois J::,_:
salvá-Ia. O amor de De_' -que Deus tinha para e:c . ::::.::.
um determinado grur.~
:-:_
os que põem a fé nele. :- -o: a vida que é verdade i:" ::::::e.- =
Deus. Perecer seria au~::
final para aqueles que s" ::::_
pecados" (João 8.2J.
6. A vinda do Salvadc:::_ ::::_' =-.
contrastes. Vv. 19-2: ::'"
- confiança em oposiç~. _ :._
exigir posicionamem:o .:'
revelação. A conseqüêr::::. :.=:
não ajunta, espalha" e
a vinda da luz (Cristo) nete:;:.:-.-,--:-=-:
com prazer dos que a e·.:~-:-. J'
realmente são. Bem ae' g: ..
=
mal, amor e ódio, vida" ::::- -:
PROPOSTAS HO.\ill.É TI C~...s
Muitas sugestões homilé-:.::::.cJ .
de conteúdo da perícope. Sé: .::-:"pregador a apresentação de :e=-:. e.- - _
objetiva e, ao mesmo temr' .
obra de Jesus Cristo:
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
~J.QUARESMA
graça divina possibilita avançar à frente com gratidão a Deus. É mensagem
direta e clara para os judeus, que dela tanto necessitam, pois vivem apenas na
"carne", e não conseguem compreender que é "preciso nascer de novo" para
ingressar no Reino de Deus.
2. O nascer de novo acontece com "o nascer da água e do Espírito", referência
clara ao batismo, que é o 2° nascimento, isto é, o novo nascimento em Cristo.
3. O resultado do nascer de novo é a vida eterna, conteúdo central da mensagem
do texto. Vida eterna é um dos nomes que tem a salvação. Aquele que vive na
comunhão do Pai, e é nascido de novo, já tem "a vida eterna".
,:
\'este Evangelho Jesus é
~'je existiu desde a eternidade
:cssim o amor e a verdade de
c ,'azer que os leitores creiam
- -: meio desta fé, tenham vida
,;, :l-20pe de nosso estudo, o autor
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:-:'jor dos milagres é a ressurreição
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do Mestre
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::Jscer de novo". Nicodemos não
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de todos e de Nicodemos também:
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c serpente erguida no meio do arraial
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:iivina. Com a graça divina, a pessoa
:'opósito do lema para este ano, só a
0_'
4. João 3 .16 é parte integrante da perícope. Texto-chave, supra-sumo da mensagem
evangelística, revelando toda a intenção amorosa e misericordiosa de Deus. A
auto-entrega de Cristo revela todo o aspecto amoroso do Pai, ensinando-nos o
que é amor verdadeiro.
5. Segundo João 3.16, o objeto da ação da graça divina é o mundo. Deus envia o
seu Filho a este mundo. "Pelo amor ao mundo" é uma expressão que traz algo
totalmente novo, pois Jesus não veio para julgar este mundo, mas sim, para
sal vá-Ia . O amor de Deus não tem limites; engloba toda a humanidade. O melhor
que Deus tinha para dar, Ele o deu - seu único Filho. Ele é dado não apenas por
um determinado grupo de pessoas, mas foi dado para que todos, sem exceção,
os que põem a fé nele, possam ser resgatados da destruição e abençoados com
a vida que é verdadeira. Esta mensagem de salvação tem sua origem no amor de
Deus. Perecer seria a outra alternativa além da vida eterna. Perecer é o resultado
final para aqueles que se recusam a crer em Jesus. Perecer aqui é "morrer nos
pecados" (João 8.24).
6. A vinda do Salvador ao mundo e sua mensagem trazem decisão e separação, criam
contrastes. Vv. 19-21 trazem luz em oposição às trevas - vida em oposição à morte
- confiança em oposição à desconfiança. A vinda do Filho, a sua mensagem vão
exigir posicionamentos das pessoas. O homem tomará uma posição diante de
revelação. A conseqüência deste posicionarnento será vida ou morte. "Quem comigo
não ajunta, espalha" e "Quem não é por mim, é contra mim". Na visão do evangelista,
a vinda da luz (Cristo) necessariamente envolve a separação daqueles que a recebem
com prazer dos que a evitam por medo de que ela revele como eles e sua conduta
realmente são, Bem ao gosto do evangelista, ele utiliza termos contrastantes: bem e
mal, amor e ódio, vida e morte, salvação ejuízo, luz e escuridão, verdade e mentira.
PROPOSTAS HOMILÉTICAS
Muitas sugestões homiléticas poderiam ser arroladas, principalmente pela riqueza
de conteúdo da perícope. Selecionamos algumas que, julgamos, oportunizará ao
pregador a apresentação de uma boa mensagem, isto é, uma mensagem clara, direta,
objetiva e, ao mesmo tempo, rica em conteúdo e reflexão e centralizada na pessoa e
obra de Jesus Cristo:
259
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
a)
QUEM CRÊEM CRISTO
1.
n.
Não perece
Tem a vida eterna
a)
DEUS ENVIA JESUS
1.
Não para julgar o mundo
Mas para salvar o mundo
n.
c) JESUSÉALUZDOMUNDO
1.
n.
o.:
QUINTO
TEXTO E CONTEXTO
Para manifestar as obras dos que praticam a verdade
Para julgar as obras dos que amam as trevas
Walter José Mormello
Esteio, RS
Talvez a primeira reaç2c
compreensivelmente,
confe:-:~ _
promissoras. 5151.10-13, li'S.:: _ ~_
luterana, e Hb 5.7-9, comemi-: - ;;
perfeitamente no espírito ds ':;_~ê
Evangelho? Afinal, trata-se:::e
respostas. Talvezjustameme ","
tarefa é justamente fazer eSte t,:',
À primeira vista, a perfc:c:oe : ,.~e:
Jesus, ponto crucial da perícq:e e·
para adorar no templo durame " :o.:c. . :'
com André, André e Filipe f}l::::-:
fossem duas perguntas nosyô :::_ê
ponde? 2) A que pergunta Je'.'
Os gregos C'EH7]lJfÇ - p,:', "
pois estavam entre os que \1 e=-:::
outra passagem dos evangeL-,:,
ele pretende ir para os da
que vêm até Jesus, como OC:e;;'
"vejam, o mundo está indo ,c L _ê e
primeiro foram os discípulcs:::e "
Judéia (3.26), os samaritano:, ..:.~
(4.46ss), o povo da Transjords:-_.'
Jerusalém (12.lls) - ou sej}, :::::
Claro, há exceções -Jesus é ,,':'O:::::::: '
esta rejeição atingira o seu clf:-:.:::
o confronto toma-se inevit2', e'
cmoKpívErctL
lXurolç
' ..
Filipe e André? Aos grego: :.:
omitindo o objeto indireto fi' :_'
caso os gregos teriam, eStfsn:::c::-,ê
nunca deixa de receber os OC:e. 260
=-,
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
QUINTO
DoMINGO NA QUARESMA
João 12.20-23
9 de abril de 2000
TEXTO E CONTEXTO
_:rn a verdade
:::,\as
Walter José Mormel/o
Esteio, RS
Talvez a primeira reação diante do texto do Evangelho para este Domingo seja,
compreensivelmente,
conferir as demais leituras sugeridas. Aliás, todas muito
promissoras. S151.1 0-13, usado na liturgia, Jr 31.31- 34, que leva ao centro da teologia
luterana, e Hb 5.7-9, comentário clássico sobre o sacrifício de Cristo, todos encaixam
perfeitamente no espírito da quaresma. Diante de tantas opções, por que escolher o
Evangelho? Afinal, trata-se de uma perícope que oferece mais perguntas que
respostas. Ta1vezjustamente esta seja uma boa razão para escolhê-Ia - afinal, nossa
tarefa é justamente fazer este texto falar para a Igreja!
À primeira vista, a perícope parece não fazer sentido. Antes da declaração de
Jesus, ponto crucial da perícope, é-nos dito que alguns gregos estavam em Jerusalém
para adorar no templo durante a páscoa e pediram a Filipe para ver Jesus. Filipe fala
com André, André e Filipe falam com Jesus ... e Jesus responde-lhes. Simples, não
fossem duas perguntas nossas que o texto não responde: 1) Para quem Jesus responde? 2) A que pergunta Jesus responde?
Os gregos ("EUi)VfÇ - provavelmente judeus da dispersão ou então prosélitos,
pois estavam entre os que vieram para adorar durante a festa) só aparecem em uma
outra passagem dos evangelhos: Jo 7.35, onde os judeus perguntam-se "será que
ele pretende ir para os da dispersão, ensinar os gregos?" No entanto, são os gregos
que vêm até Jesus, como que confirmando a observação dos fariseus no v. 19:
"vejam, o mundo está indo atrás dele!" A busca de Jesus pelos gregos é climática:
primeiro foram os discípulos de João (1.37), depois Nicodemos (3.1ss), o povo da
Judéia (3.26), os samaritanos (4.30,40), o povo da Galiléia (4.45), o oficial do rei
(4.46ss), o povo da Transjordânia (l0.40s), a multidão que viera festejar a páscoa em
Jerusalém (l2.11s) - ou seja, todo o Israel e as nações buscam a Jesus (cf. Is 49.6).
Claro, há exceções - Jesus é rejeitado pelos líderes religiosos (5.40; 7.48). Também
esta rejeição atingira o seu clímax (11.47ss), deixando um clima tenso no ar, no qual
o confronto torna-se inevitável.
CnToKpívaca
IXUro7.Ç (v. 23) - A quem Jesus dirige as palavras que seguem? A
Filipe e André? Aos gregos que o buscavam? BLH tenta esconder a dificuldade
omitindo o objeto indireto lhes. Aparentemente Jesus fala aos discípulos, mas neste
caso os gregos teriam, estranhamente, desaparecido sem deixar pistas. Jesus, porém,
nunca deixa de receber os que o buscam (cf. passagens acima): "o que vem a mim, de
261
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
modo nenhum o lançarei fora" (6.37). Além disso, o v. 29 sugere que há uma multidão
ouvindo as palavras de Jesus, e podemos concluir que junto a esta multidão estavam
os gregos, com quem Jesus falava.
'E,lríÂVeEV
rí wpa (v. 23) - Por três vezes ouvimos que a "hora" ainda não havia
chegado (2A; 7.30; 8.20). Mais duas referências à hora ter chegado são feitas adiante
(13.1 e 17.1). A chegada da hora faz desta passagem um ponto chave do quarto
evangelho (como Mc 8.27-9.1 no evangelho de Marcos). Até aqui Jesus revelara-se
através de sinais para que cressem nele (Jo 2.11; 3.2; 20.29s); daqui para a frente,
Jesus cumpre a sua missão e a explica para os seus discípulos. O círculo de discípulos,
que até aqui crescia, parece agora reduzir-se aos doze.
r50ç aaeíj (v. 23) - Este "ser glorificado" é a chave da perícope. Glória geralmente
lembra poder, honra, majestade. Seria de esperar que Jesus dissesse estas palavras
antes de entrar em Jerusalém, quando foi aclamado como o Messias. Ou então, que
haveria mais aclamações pela frente, quem sabe a consagração pelos braços do
povo. Mas nada disso acontece. Jesus não é honrado, mas acusado; não é revestido
de poder, mas condenado pelos que detêm o poder.
Esta aparente contradição é eliminada quando observamos as pistas que o
contexto nos oferece. O víàç rou aVepW7TOV, em João, está ligado ao sacrifício de
Jesus (3,14; 6A7-58). Ele não vem para receber honra, mas para dar a sua vida em
favor do mundo (3,16), A seqüência das palavras de Jesus deixa isto muito claro: o
grão de trigo precisa morrer, pois só assim dará muito fruto, Aliás, os vv. 24-26 fazem
parte do discurso iniciado no v. 23, e o explicam; não deveriam ser omitidos na
leitura do Evangelho. Portanto, a glorificação de Jesus é, paradoxalmente, também o
início do seu sofrimento. É através da obra redentora de Cristo que Deus pretende
ser glorificado, e também o Filho será glorificado após dar sua vida em resgate pelos
pecadores. Não há glória sem passar pelo caminho da cruz; não há vida eterna sem
abrir mão desta vida.
Aqui desvela-se o conteúdo escatológico da passagem. A glória possui duas
feces: diante do mundo, mostra-se como vergonha, fraqueza, derrota, aflição. Mas
como isto é conseqüência da entrega total a Deus (15.19; ver SI 37.5; 2Co 8.5), Ele
promete revelar o outro lado da moeda, onde há honra, força, vitória, júbilo - enfim,
a mesma glória que o Filho recebeu em sua ressurreição. Então a lógica humana é
invertida, e por isso Jesus responde aos gregos, que procuravam aquele que há
pouco fora saudado com hosanas, não com promessas de novos sinais, mas com a
necessidade de entregar sua vida, pois seu projeto não é de glória individual, mas
uma glória em que muitos participam.
Na reta final da quaresma, a nossa perícope ilumina boa parte da vida cristã.
Estamos em uma contínua quaresma. E quaresma é tempo de buscar a Jesus - não
apenas querer vê-Io, mas estar ao seu lado, seja nas tentações do deserto, seja no
Gólgota, onde Cristo entregou sua vida, não em seu próprio interesse, mas para
beneficiar a muitos. Assim como Jesus em Jerusalém, também vemos à frente o
262
caminho do sofrimento r
dar muito fruto. Neste :2--:-:::-perguntas, mas não nos T2:
nossa caminhada: a vit:'r:_. __
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PROPOSTA HOl\IILÉTIC. ~
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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caminho do sofrimento por causa do Evangelho, onde entregamos nossa vida para
dar muito fruto. Neste caminho podemos não ter resposta para todas as nossas
perguntas, mas não nos faltará o essencial, se não perdemos de vista o destino de
nossa caminhada: a vitória, já conquistada para nós por Jesus, horizonte sereno
rumo ao qual avançamos com gratidão a Deus .
PROPOSTA HOMILÉTICA
Queremos ver a Jesus!
Para que a sua justiça revele o nosso pecado
Para que o seu sacrifício nos purifique de todo pecado
Queremos seguir a Jesus!
Entregando nossa vida para que dê frutos em favor de muitos
Confiantes na salvação conquistada na cruz de Cristo
Queremos estar com Jesus!
No serviço aos pequeninos deste mundo
Na glória eterna junto ao Pai
Gerson L. Flor
Vila Progresso, Vem Cruz, RS
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263
Igreja Luterana • N° 2 - 1999
DoMINGO
DE
V. 33 - Aqui não se trata=-~ - ~
poupado de real sc:-~c:~:,-
RAMos
escapando da morte.
humano, sentindo
Marcos 14.1 - 15.47 ou 15I39
16 de abril de 2000
CONSIDERAÇÕES
fKeaf.1f3fL aem
CONTEXTUAIS
EXEGÉTICAS
E HOMILÉTICAS
SOBRE O TEXTO
Ao estudar e abordar este texto, o pregador pode fazer, para si e para sua
comunidade, um paralelo com a palavra de Deus a Moisés: "tira os teus sapatos de
teus pés, porque o lugar em que tu estás é terra santa (Êx. 3.5). Encontramo-nos em
solo santo: a luta de Jesus no horto.
V. 32: "Chegaram a um lugar chamado Getsêmani". O texto paralelo de Lucas acrescenta
a idéia de que Jesus foi para este lugar "como de costume" (22.39). Ele não se
esconde, mas procura o lugar de recolhimento para a comunhão espiritual com seu
pai, também, e especialmente, neste momento, pois no lugar costumeiro pode ser
achado (vejaJo 18.1-2). Sabe que o amigo traidor já está cumprindo seu desígnio.
Não desvia da perspectiva da dor e do sofrimento, mas a encara de frente. Ela é
pessoal, ela acena a morte, passagem a ser sofrida individualmente. Por isso, a
oração decisiva, a batalha decisiva é travada a sós. Aos discípulos, cuja vocação
sempre foi a de "ficarem com ele" (Mc 3.14) diz: "Sentem-se aqui, enquanto vou
orar". Eles vão abandoná-Io (v. 27). Até os três mais chegados o deixarão só. Jesus
deverá beber sozinho o cálice do sofrimento e da ira divina. Ele sabe disso.
264
KC:: ~~:
~
se de pavor e tristeza j~ "cc~
e aflição". E o senti::-.':;.- _
Escolhemos desta perícope o trecho de Mc 14.32-37: Getsêmani. O episódio é
precedido pela ceia de páscoa que Jesus e os discípulos celebraram, e pela revelação
da nova aliança no sangue de Cristo, explicitado na instituição da Santa Ceia. Depois
de terem cantado hinos de louvor, vão para o monte da Oliveiras, sendo que Marcos
relata a conversa que os discípulos tiveram com Jesus no caminho: Jesus avisa e
adverte-os, especialmente Pedro: na hora da decisão todos o abandonarão. Ele
estará só. E nesta solidão encontra-se a maior mensagem e consolo não só para a
comunidade cristã, como também para todo homem que reconhece não poder vencer
a sua vida (e sua morte) por si só. A luta derradeira de Jesus em favor de todos nós
ocorreu aqui: a aceitação do destino que lhe é reservado, é conquistada aqui com
tremor, suor e lágrimas. O relato subseqüente da prisão, condenação e crucifixão é a
confirmação gloriosa da aceitação voluntária de Jesus de descer aos abismos
insondáveis do sofrimento e da oblação pelos seus irmãos "fracos na carne" e
pecadores. "A cruz é glorificação do amor de Deus no mundo [...] Morte e ressurreição
são apenas duas faces de um mesmo acontecer de amor; a glória manifesta da
páscoa, já se acha na glória velada da sexta-feira santa, como a coluna de Deus no
deserto, que aparecia ora obscura ora brilhante" (von Balthazar, p. 43).
CONSIDERAÇÕES
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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:: a sós. Aos discípulos, cuja vocação
. diz: "Sentem-se aqui, enquanto vou
:ês mais chegados o deixarão só. Jesus
: e da ira divina. Ele sabe disso.
V. 33 - Aqui não se trata de nenhuma tristeza romântica de um herói de filme, herói
poupado de real sofrimento e assegurado de sua vitória soberana no final,
escapando da morte. Jesus de Nazaré trava aqui um combate autenticamente
humano, sentindo o pavor e a angústia que a situação lhe inflige, DPxcao
heaflf3n cem Km á(57)flováv(Vulgata: et coepit pavere et taedere). Trata-se
se de pavor e tristeza, de adrenalina, tremor e angústia. Na TLH: "grande tristeza
e aflição". É o sentimento de ameaça contra a própria integridade física, moral e
espiritual. O que o ameaça? O fardo das transgressões e culpas humanas, o
poder de Satanás, a vergonha moral das acusações e zombarias, os horrores da
execução por crucifixão, e a violência da morte. Na espera do que está para vir,
o peso incalculável desta ameaça pressiona seu espírito com toda intensidade.
V. 34 - Esta é a tentação da qual falam os Salmos do povo de Israel. Nas palavras de
Jesus ecoa o Salmo 42: "Porque estás abatida, ó minha alma, por que te perturbas em
mim?" Veja Jo 12.27. As palavras da Escritura são, também nesse momento, lugar de
apoio e referência, como o serão no ponto culminate desta situação quando gritará o
Eloí, Eloí: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (SI2). Ou seja, também
no momento de tentação, sofrimento, medo e dor Jesus se coloca debaixo do "está
escrito" (Mt 4). Que riqueza têm aqueles que podem apelar, em momentos críticos,
para palavras ou estrofes aprendidas e meditadas dura.llte a vida!
Não podemos deixar de fazer referência aqui à palavra de Hebreus, que enfatiza
tanto a humanidade quanto as tentações de Jesus (Hb 4.15; 2.17s). Jesus, que
"ofereceu com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da
morte" (Hb 5.7), conhece e compreende, por experiência, toda a tentação e fraqueza
dos seus irmãos. E por isso também pode Ihes fornecer amparo e socorro (Hb 2.18).
"Ficai aqui e vigiai" é um aviso: chegou a hora da tentação, em q.ue os poderes do
mal procuram conquistar e dominar Jesus e os discípulos. É exõrtação à oração.
Nesta situação, somente o que ora pode subsistir (Lc liA). Porque também nesta
hora é Deus quem está no poder, e vem ao encontro daquele que o procura em
oração. D. Bonhoeffer (p. 69): "Há um único comportamento do cristão diante da
tentação, a saber, permanecer vigilante contra o inimigo astuto e orar a Deus para
que nos conserve firmes em sua palavra e sob sua graça".
V. 35 - Os judeus costumam orar de pé. Chama a atenção o fato de Jesus "prostrarse em terra". fTTL1TTfV fTTL T~Ç y~ç "Caiu por terra". Talvez esteja estendido no
chão, com o rosto na terra e os braços estendidos, repleto de dor indizível. Não
raras vezes esta imagem tem parecido contraditória, para alguns, em relação a
uma imagem do Jesus que enfrenta onisciente e onipotente o seu destino e o
caminho da cruz. A imagem de um homem sobrenatural. Elevado acima da nossa
realidade. Pois este relato de Getsêmani nos foi legado para nos lembrar de que
Jesus não enfrentou seu destino ao abrigo das ondas do sofrimento, do medo,
da incerteza, da tentação. Pelo contrário, ele atravessou todas estas ondas e
águas turbulentas e turvas. Atrás de cada palavra confiante sobre sua paixão,
tenha-se como pano de fundo esta luta no horto. Sua confiança 'somente lhe
vem do pai, com quem "luta" em oração, prostrado no chão.
265
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Jesus também não quer sofrer e morrer, como nós não o queremos. "Se possível",
aquela hora devia lhe ser poupada. Ele treme diante da morte tal como ela é, e como
a teremos de enfrentar. A morte não pode ser descrita, o que dela dizemos não é a
verdade total. Cfe. Schabert (p. 290), muitos céticos têm ironizado a atitude de Jesus,
comparando-a a outras mortes na história, muito mais "corajosas" e "serenas", e
por isso mais "exemplares". Cita-se o filósofo Sócrates: condenado à execução,
conversava serenamente com seus amigos enquanto bebia o veneno, e quando seu
corpo foi tomado pela rigidez da morte, ainda exclamou: "Ó Criton, estamos devendo
um galo a Asklépio!" Significa que ele considerava que .estava sendo "curado da
doença da vida", não querendo esquecer o sacrifício de gratidão, aos "deuses", ao
morrer e ser assim "curado". Existe um morrer assim? Certamente que sim. Umjovem
que vai à batalha, pode ter outra atitude do que um homem que sabe o que se passa
lá fora. Alguém cuja consciência foi iluminada pela palavra de Deus, e cujos olhos
foram abertos para ver o que significa a morte, não pode voltar à serenidade de um
filósofo ateu face à morte. Por que a maioria de nós não pode morrer como Sócrates?
Porque sabe o que significa a morte. E, no entanto, nosso saber empalidece diante
daquilo que Jesus sabe dela, e especialmente de sua morte. Por isso está deitado no
pó do jardim Getsêmaní, e sua alma tomada de pavor. Mas aqui está o consolo do
texto: não é isto puro evangelho para nós, o fato de Jesus ter enfrentado assim a
morte, e não como Sócrates? É evangelho o fato de ser descrito aqui cruamente o
que é a morte. É evangelho porque aquele que está enfrentando assim esta nossa
morte é Jesus. Aquele que tomou sobre si nossa dor, nosso pavor, nossa transgressão.
Só assim podemos realmente suportar a verdade sobre a morte. Este relato é
evangelho para nós porque Jesus não teve de suportar o que o espera, mas porque
ele voluntariamente enfrentou o que o espera. Na obediência ao Pai, no amor por
seus irmãos e irmãs. Não é sua culpa que o joga ao chão, é nossa culpa. Por isso
podemos enfrentar a morte consolados: a sua morte é vicária: ela inclui a nossa.
Nosso morrer, um dia, estará incluso neste seu morrer. O que é também garantia do
ressuscitar, conforme sua promessa.
V. 36 - Aqui temos descrito o conteúdo da oração. Primeiro "Aba". A forma síria ou
aramaica para "pai". O "Aba" de Jesus passou para as orações das comunidades
de língua grega, Rm. 8.15, Gl. 4.6. Ele, Jesus, é o único filho. Veja 1.1 e Mt 5.9; 6.9.
O filho é submisso à vontade do pai, como exemplo para nós. Na vontade do pai
há vida. Fora dela, toda vida só é máscara da mais profunda e definitiva morte.
Quanto à vontade do pai: 3.35; Mt. 6.10: sua vontade significava aqui para
Jesus o cálice da ira divina e da morte. O paradoxo é que nesta morte está sua
vitória para todos. Ela leva à vida plena, ela possibilita para nós comunhão com
Deus desde já, e perdão total. Ele gritou o "Eloí, Eloí. .." (15.34) e o "por quê" clamores que subiram e sobem aos céus na história da humanidade devido ao
mal, à injustiça, à doença, à fome, à guerra, ao pecado -, para que nós pudéssemos
aprender um novo clamor: o "Aba", que brota de um coração filial, confiante
diante da vida e da morte.
V. 37 - "Voltando, achou-os dormindo". Não há melhor ilustração para o fato de
Jesus ter enfrentado a sós o seu destino. Ele carrega e "suporta" seus próprios
266
discípulos adormecido' deixaram só, na hora de _
fizemos por ele, ele tudo ·c
Mas a nós é dada esta ::-c.: ~ praticar a oração e a subm:, o':
invocação, a terceira petiçãc. ~ -' _ .
segundo a carta aos Hebreu,. : :
provação, o teste da fidelidad~ -'
13.14. É somente na teIL';, ~.
"aperfeiçoado", Hb 5.9.
Em comunhão com ele,:, ê
podemos viver vida vigilant~ ~ _
enfrentaremos nossa própr:a
e tremor está incluso no de J~,;.:'
Oração: Senhor Jesus Cris"
aceitaste a vontade de Deus r.C .:- __
me sempre de que tu não és.::-um senhor e pastor sofredor _:-:- c
me para que eu não procure .:u
Preserva-me de pastores (j'.:e :-:-.e _
não confunda tua cruz com ':-:''',_
com conselhos dos homens. L'>da cruz. Eu te agradeço ;:-::- ,eI:'
sofrimento, a todos quanto, r
PROPOSTA HOMILÉTIC.-\
A oração do Senhor no e.o' ,
foi solitária: ele orou. cs d:, r foi
foi
foi
foi
foi
humilde: ele caiu por'::-:- c .:_de confiança filial: """'=':- .:
séria: ele orou, lutand' . : - _
perseverante: orou -:.~; . _.
submissa à vontade d~ =- o
Literatura
- Balthazar, Hans Urs \0,
Sul: Paulinas, 1969.
- Bonhoeffer, Dietrich
-
1968.
- Dietzfelbinger, Herrra;:r. ser Verlag, 1956.
- Grundmann, \Valter. D.re ~ _
zum Neuen TestamenT. \.
''.
-
Igreja Luterana . N° 2 . 1999
- :;ueremos. "Se possível",
: ~:etal como ela é, e como
eue dela dizemos não é a
-nizado a atitude de Jesus,
discípulos adormecidos nesta hora. Eles nada podem fazer. Nada fizeram. O
deixaram só, na hora do choque e do escândalo, cf. Zc 13.7. Nós todos nada
fizemos por ele, ele tudo fez por nós.
:Jrajosas" e "serenas", e
condenado à execução,
:~: J o veneno, e quando seu
Criton, estamos devendo
: ce .estava sendo "curado da
Mas a nós é dada esta palavra de exortação: "vigiai e orai". Nele, podemos
praticar a oração e a submissão ao pai. Sua oração estrutura-se no "pai nosso": a
invocação, a terceira petição, e a última petição (tentação). Esta, cf. v. 38, caracteriza,
segundo a carta aos Hebreus, como também Lc 22.28 e 4.13, toda a vida de Jesus. A
provação, o teste da fidelidade dos servos de Deus, cf. Gn 22.1; Êx 20.20; Dt 8.2,16;
13.14. É somente na tentação que o filho se torna "obediente", Hb 5.8, e
"aperfeiçoado", Hb 5.9.
:'
ce gratidão, aos "deuses", ao
-- ~eramente que sim. Umjovem
-:-:',emque sabe o que se passa
::.-:--,-lavrade Deus, e cujos olhos
_ -:-:je voltar à serenidade de um
:'.: pode morrer como Sócrates?
:-,c sso saber empalidece diante
::',erte. Por isso está deitado no
~~.Mas aqui está o consolo do
::e Jesus ter enfrentado assim a
_c ser descrito aqui cruamente o
c c:-,- enfrentando assim esta nossa
: - -..:sso pavor, nossa transgressão.
_ ::.::.e sobre a morte. Este relato é
~-:-_-tar o que o espera, mas porque
.::. c,bediência ao Pai, no amor por
~-'--,-Jchão, é nossa culpa. Por isso
_: rIe é vicária: ela inclui a nossa.
-- :-:-rer.O que é também garantia do
Primeiro "Aba". A forma síria ou
-..-.para as orações das comunidades
e e único fílho. Veja 1.1 eMt5.9; 6.9.
. \emplo para nós. Na vontade do pai
J-,- mais profunda e definitiva morte.
sua vontade significava aqui para
c::radoxo é que nesta morte está sua
: possibilita para nós comunhão com
Eloí, Eloí..." (15.34) e o "por quê"J história da humanidade devido ao
::'J pecado -, para que nós pudéssemos
-rJta de um coração filial, confiante
: há melhor ilustração para o fato de
:le carrega e "suporta" seus próprios
Em comunhão com ele pela fé, e no santo sacramento da Ceia e do Batismo,
podemos viver vida vigilante e submissa ao pai, neste mundo, até a hora em que nós
enfrentaremos nossa própria morte, orando e submissos, sabendo que nosso temor
e tremor está incluso no de Jesus, que foi, suportou, e venceu.
Oração: Senhor Jesus Cristo, eu te agradeço porque tu te deixaste ferir, e porque
aceitaste a vontade de Deus na cruz. Agradeço-te pelo teu sim para a cruz. Lembrame sempre de que tu não és um senhor que esquivou-se do sofrimento, mas que és
um senhor e pastor sofredor, um senhor e salvador na cruz e através da cruz. Ajudame para que eu não procure um pastor que me ofereça outra coisa do que tua cruz.
Preserva-me de pastores que me apresentam caminhos enganadores, para que eu
não confunda tua cruz com pensamentos humanos, com sabedoria deste mundo, e
com conselhos dos homens. Dá-me o teu Espírito Santo, que me ensine na sabedoria
da cruz. Eu te agradeço por seres meu único pastor, que aperfeiçoas, pelo teu
sofrimento, a todos quantos confiam somente em ti. Amém.
PROPOSTA HOMILÉTICA
A oração do Senhor no Getsêmani:
foi solitária: ele orou, os discípulos dormiam
foi humilde: ele caiu por terra diante de Deus - SI. 22.6
foi de confiança filial: Abba, meu pai.
foi séria: ele orou, lutando com a morte - Lc. 22.44
foi perseverante: orou três vezes
foi submissa à vontade de Deus Pai.
Literatura
- Balthazar, Hans Urs von. O cristão na hora decisiva. C. Ferrário, trad. Caxias do
Sul: Paulinas, 1969.
- Bonhoeffer, Dietrich. Tentação. E. Bernhoeft, trad. Porto Alegre: Metrópole,
1968.
- Dietzfelbinger, Hermann. Gottes Weg zum Kreuz im Alten Bund. München, Kaiser Verlag, 1956.
- Grundmann, Walter. Das Evangelium nnch Luka.s. Theologischer Handkommentar
zum Neuen Testament. VoI. m. Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1984.
267
Igreja Luterana - N° 2 . 1999
- Johnson, John F. Abandoned by God? Concordia Joumal, voI. 20, n° 1 (January 1994),57.
- Pannenberg, Wo1fuart. Systematische Theologie. Vo12. Gottingen, Vandenhoek
& Ruprecht, 1991.
- Schabert, Amo1d. Das Markus-Evangelium. Eine Auslegung fÜr die Gemeinde.
München: Claudius Verlag, 1964.
- Schniewind, Julius. pas Evangelium nach Markus. Das Neue Testament Deutsch.
VoI. 1. Gottingen: Vandenhoeck&Ruprecht, 1958.
DI'. Manfred K. Zeuch
Canoas, RS
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CONTEXTO
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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SEXTA-fEIRA
Z'ingfiirdie Gemeinde.
João 19.17-30
21 de abril 2000
-_\-eueTestament Deutsch.
Dr. Manfred K. Zeuch
Canoas, RS
DA PAIXÃo
CONTEXTO
O apóstolo João omite os insultos e crueldades que os soldados infligiram a
Jesus. O julgamento foi realizado conforme o costume e a sentença fora pronunciada: morte de cruz! A morte mais vergonhosa conhecida entre os romanos, aplicada apenas aos piores criminosos. E assim Jesus foi entregue aos líderes dos judeus,
não em suas mãos, mas de acordo com a vontade deles para ser crucificado. A
execução da sentença, no entanto, fora entregue aos soldados que a executaram
conforme o costume da época, com todo o requinte de crueldades e indignidades
sempre presentes em tais ocasiões.
TEXTO
V. 17 - Jesus carregou a sua cruz até, humanamente, lhe faltarem as forças. João
não menciona a ajuda de Simão, o Cirineu, pois este fato era conhecido através
dos outros evangelhos. A crucificação ocorreu num lugar chamado de Cal vário,
ou o lugar da caveira (por causa do seu formato), que na forma aramaica era
chamada de GÓlgota.
V. 18 - Ele foi crucificado entre dois malfeitores. Homens que cometeram crimes e
eram culpados destes crimes cometidos e mereciam a pena de morte. Assim
Jesus se tornou um malfeitor, tomou o lugar dos malfeitores de todo o mundo.
Ele tomou sobre si a culpa dos nossos pecados e transgressões: a maior vergonha
que pode existir, a maldição e a condenação, tudo estava sobre Ele, para que
nós pudéssemos ser absolvidos.
Vv. 19-22- Depois que Jesus havia sido crucificado surgiu uma dificuldade, uma
discussão a respeito do título colocado por Pilatos no cimo da cruz: Jesus de
Nazaré, o Rei dos Judeus! O título foi escrito nas três línguas usadas na Palestina:
em hebraico-aramaico, que era usado pelas pessoas comuns; em grego, que era
a língua do comércio, e em latim, que era a língua da corte, a oficial. Os principais
sacerdotes reclamaram porque o lugar onde Jesus fora crucificado ficava perto
da cidade e todos podiam ler esta inscrição. E assim como estava inscrito
parecia que havia sido aceito aquilo que Jesus afirmava ser.
Apesar de toda a reclamação, Pilatos não voltou atrás. Esta sua firmeza não era
algo normal, pois onde podia contemporizar para não prejudicar a sua popularidade,
ele o fazia. Mas também aqui precisamos enxergar a mão de Deus. Era da vontade
de Deus que este título permanecesse no cimo da cruz. Pois este Jesus que foi
crucificado pelos judeus era, na verdade, o Rei dos judeus, o Messias de Israel. O
269
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Messias que traria salvação para todos os povos da terra, cujas principais línguas
estavam sendo usadas. A morte cruel e dolorosa nesta cruz era o resgate que todos
os povos precisam para a sua libertação. E este fato deveria ser conhecido por
todas as pessoas da terra. Para que todos possam colocar a sua confiança no seu
substituto que morreu no Cal vário.
Vv. 23-24 - Os soldados, seguindo seu costume, despiram Jesus e dividiram entre
si as suas roupas, e sobre a túnica, que era sem costuras, lançaram a sorte para
ver com quem ficaria. A túnica, portanto, se transformou num prêmio num jogo.
E aqui de novo, como tantos outros fatos relacionados à história da paixão, este
jogo não foi o resultaqo mero da ocasião, mas ocorreu para que se cumprisse a
profecia registrada no SI 22.18. Tudo o que Ele tinha, seu corpo, sua vida e
mesmo a sua própria roupa ele entregou por amor aos pecadores. Mas os
soldados fazendo jogos ao pé da cruz de seu Salvador podem, muito bem,
retratar a insensatez da humanidade, estando na sombra da cruz, que aponta
para cima, perdem a oportunidade de sua salvação.
Vv. 25-27 - Estes versículos apresentam uma cena como vente, não somente porque
teve compaixão de sua mãe, mas, também, porque ele o fez numa hora em que
ninguém se importaria se ele não o fizesse, em meio a uma dor indescritível, em meio
à angústia, sangramento, sofrimento e morte pelos pecados do mundo inteiro. E,
contudo, ele se esquece das suas próprias dores e se preocupa com os outros!
Essa atitude de Jesus nos assegura que ele se preocupa conosco hoje.
Vv. 28-30 - Os últimos momentos de Jesus na cruz foram momentos de agonia e triunfo.
Eram, mais ou menos, 3 horas da tarde, e chegando quase ao final de sua agonia,
clama: Tenho sede! Mas, em lugar de água, lhe alcançaram uma esponja embebida
em vinagre, para lhe aliviar as muitas dores. Mas ele não bebeu. E, então, veio a sua
hora. Sabendo que tinha cumprido perfeitamente a sua missão de salvar o mundo,
através do derramamento de seu sangue e sua morte, ele dá um grito, o maior grito
que, provavelmente, já havia dado: "Está consumado!" - Com isto não queria dizer
que a sua dor e agonia haviam acabado, mas antes, que a sua missão estava
cumprida. t€t€ÀCO't<Xl significa: está cumprida, com sucesso, uma obra. A mesma
palavra também era colocada nos recibos por ocasião do pagamento: está paga,
liquidada a dívida. Depois de tudo concluído, depois da declaração pública de
vitória, ele, por amor, inclina a cabeça e entrega o seu espírito.
PROPOSTA HOMILÉTICA
TEMA
A maior demonstração de amor
I - Motivado pelo amor
II - O amor o fez suportar tudo
III - Por amor esquece--se de si e pensa nos outros
IV --Por amor inclina a cabeça
Mario Lehenbauer
Porto Alegre, RS
270
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Igreja Luterana
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Mario Lehenbauer
Porto ALegre, RS
DOMINGO DE PÁSCOA
RESSURREIÇÃO
00 SENHOR
João 20.1-9 (10-18) ou Marcos 16.1-8
23 de abril de 2000
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:cr': momentos de agonia e triunfo.
- N° 2 - 1999
CONTEXTO
Neste que é o domingo dos domingos, o pregador tem a opção de pregar Marcos 16 ou João 20. Marcos 16.1-8 traz a mensagem da páscoa, mas não tem nenhuma
reação positiva por parte dos discípulos ou das mulheres. É um texto com final
aberto ou "final não feliz". As mulheres nada disseram a ninguém, "pois estavam
atemorizadas". Já o texto de João 20 registra a fé do "outro discípulo" (v.8). Sugerimos que, por este motivo, e também por ser a primeira opção, o pregador escolha
João 20 .
Existe a possibilidade de estender a leitura até ao v. 18. Isto é bom, especialmente para um sermão mais expositívo ou narrativo. Por outro, sugerimos incluir também Jo 19.38-42, pois este parágrafo dá o contexto e fornece alguns dos elementos
fundamentais para o capítulo 20, a saber, o sepulcro (20.1), os lençóis (20.5), e o
jardineiro (20.15).
TEXTO
Algumas "pitadas" exegéticas, para "abrir o apetite":
V. 1 - a) Maria Madalena é a primeira personagem do texto. Aliás, uma das características de Jo 20 é a ênfase em indivíduos (Maria, Pedro, o outro discípulo,
Tomé). b) "Foi" traduz EPXErfXL (literalmente, "vai"). As traduções têm "foi",
por verem nisto um presente histórico, que é o uso do presente onde se espera
um verbo no passado. O presente histórico empresta vivacidade à narrativa. É
como se o narrador estivesse vendo a ação no momento em que narra. João é o
evangelista que mais emprega esse recurso (162 vezes), seguido de perto por
Marcos (151 vezes), geralmente com verbos de ação. c) A pedra não tinha sido
apresentada anteriormente,
V. 2 - a) "Correu" - Esta é a primeira vez que alguém corre, no evangelho de João.
Antes disso, outra Maria tinha se levantado "depressa" (Jo 11.29,31), também
num contexto de morte, túmulo, vida. O discípulo amado ganha na corrida (v.4)
e na fé (v.8). Pedro, no entanto, é a primeira testemunha a inspecionar o túmulo.
b) "Tiraram ....o Senhor" - José pediu e retirou o corpo de Jesus (19.38). Aqui
Maria anuncia que tiraram do sepulcro o Senhor. A formulação é estranha, tão
estranha quanto a de 19.42, onde se lê (diferentemente do que é traduzido): "ali
... puseram Jesus". c) O "não sabemos" (plural) serve para intensificar o senti271
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
mento de frustração. É como se ela estivesse falando por um grupo de pessoas
(o que, segundo relatos parelelos, não deixa de ser verdade).
V. 5 - a) O "abaixando-se, viu" faz sentido à luz do fato de ser aquele um túmulo
"aberto em rocha" (Lc 23.53). b) Os "lençóis" são aqueles de 19.40.
V. 6 - "Viu os lençóis" - O texto não deixa claro o que por vezes se supõe, a saber,
que os lençóis ficaram no mesmo formato (estilo múmia) e que o corpo tinha, por
assim dizer, "evaporado".
V. 7 - a) O lenço, segundo ARA, não estava com os lençóis, mas "deixado num
lugar à parte". Esta tradução se esquece do particípio EVTfTU.Ü YI.1Évov (do verbo
EVTuÂíaaw "emolar"), reproduzido na BLH ("estava emolada ali ao lado"). Este
detalhe é importante. A Madalena havia dado a entender que tinham roubado
o corpo. Agora, ladrões não alTUmam acasa antes de sair. O lenço (aouóápwv),
portanto, indica que o corpo não havia sido roubado. (Na Bíblia de Estudo
Almeida, nota a 20.6-7, falta um não: "indicava que o corpo não havia sido
roubado".) b) Por outro, esse lenço tem as marcas de um "sinal" joanino (embora não seja explicitamente descrito como tal). Aponta para algo (ou alguém) que
transcende aquilo que acontece ou que se vê. A fé (v.8) resulta, em parte ao
menos, da visão desse lenço.
V. 8 - "Viu, e creu" - Aqui temos fé. Não diz em que(m) ele creu, mas o contexto deixa
claro que se trata da ressurreição (ou do Ressuscitado). Vale lembrar que este
é o único relato no Novo Testamento em que alguém chega à fé pela contemplação do túmulo vazio, que, a rigor, nem estava tão vazio assim. Agora, à luz do
que virá no V. 29 ("Bem-aventurados os que não viram e creram"), esta é uma fé
até certo ponto "imperfeita", uma fé que depende do que se vê. João parece
sugerir que a fé por excelência é aquela que surge a partir da leitura (não visão!)
dos sinais "escritos neste livro" (Jo 20.30). Esta é a fé que compreende a
Escritura (v.9).
V. 9 - a) Este verso ensina que a ressulTeição não foi dedução exegética, fruto de
leitura das Escrituras. Esta compreensão veio depois. b) O "pois" explicativo,
no início deste versículo, que traduz yáp (na Almeida; não aparece na BLH),
levanta uma questão exegética importante: que tem a falta de compreensão da
Escritura a ver com aquele "e viu, e creu"? Uma resposta é a que foi dada há
pouco: a ressulTeição não é "fruto" da leitura das Escrituras. Outra resposta
possível é que, naquele momento, era preciso ver para crer. Mais tarde entrariam as Escrituras. Em outras palavras, João parece sugerir indiretamente aquilo
que explicita no final do capítulo: virá a hora em que ver, além de não mais
possível, será a opção menos preferíveL "Felizes os que crêem sem ver!" (10
20.29, BLH).
272
PROPOSTA HOMILE li C.,.~
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
~ por um grupo de pessoas
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lençóis, mas "deixado num
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",que o corpo não havia sido
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: ó
PROPOSTA HOMILÉTICA
Como pregar esse texto? Como pregar a ressurreição? Alguémjá disse que este
é o domingo em que o pregador não tem escapatória, pois está confrontado com um
milagre. Em outras ocasiões ele pode até atenuar o sobrenatural (o Natal, por
exemplo, pode simplesmente ser o nascimento de um menino, o Messias), mas hoje
não tem como fugir, a menos que se prefira falar do coelho.
Sempre existe a tentação de querer "explicar" a ressurreição de Cristo, seja de
modo filosófico, teológico, ou até científico, O texto não explica nada, apenas relata
o que foi descoberto na manhã daquele primeiro domingo e como as pessoas reagiram. O clímax é a fé, cuja obtenção é o grande interesse de João (20.31).
,,:::0 fVfErvÂLYf1ÉVOI/
ele creu, mas o contexto deixa
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_ -; e 3. partir da leitura (não visão 1)
=-[a é a fé que compreende a
O objetivo do sermão por certo haverá de ser um propósito de fé. O pregador
quer levar o ouvinte à fé, ou à confirmação da fé. Não somente fé na realidade do
milagre da Páscoa, mas também no que decone daí. Não haveria perdão, não haveria vida, não haveria esperança, não haveria oração, não haveria Cristianismo sem a
Páscoa.
Para tal objetivo de fé, nada melhor do que deixar o texto bíblico falar. Um sermão
narrativo (ou expositivo) ainda é a melhor solução. No entanto, é preciso levar todo
o capítulo 20 em consideração. Parar no v. 9 pode dar a impressão de que ainda hoje
precisamos sair correndo (ou ir a Jerusalém e tentar descobrir o túmulo de Jesus),
quando, na verdade, João nos direciona para o sinal ou os sinais que podem ser
"vistos" através da leitura do que ele relata. Que bom que João viu e creu. Era
preciso. Ele e Pedro são testemunhas oculares, são apóstolos. Felizes são os que
crêem sem ver, ouvindo e lendo o "sinal" inscrito no evangelho.
D,; Vílson Scholz
São Leopoldo, RS
~:idedução exegética, fruto de
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-L:1~eida;não aparece na BLH),
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=:esos que crêem sem ver!" (Jo
273
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
SEGUNDO DOMINGO DE PÁSCOA
João 20. 19-31
30 de abril de 2000
CONTEXTO
Este texto segue narrando as aparições de Jesus após a sua ressurreição. João,
após evidenciar a ressurreição de Jesus, narra a aparição a Maria Madalena e, em
seguida, aos discípulos e a Tomé. Esta perícope talvez seja a mesma de Lucas 24.3643. Algumas diferenças entre os textos levantam dúvidas sobre o fato de serem o
mesmo episódio.
o texto não deixa claro se Jesus apareceu somente aos onze discípulos. Podemos dizer, sim, que os onze, primeiramente só os dez, com certeza estavam presentes
(1 CoIS.S), É possível que um grupo maior de pessoas estivesse presente naquele
local, uma vez que em Lc 24.33 temos "e outros com eles", antes de uma aparição de
Jesus. Diante do fato de que somente João relata sobre Tomé, cabe lembrar que João
foi um escritor ocular e é conhecido como o autor que apresenta a FÉ EM JESUS
PARA A VIDA ETERNA - destaque à confissão de Tomé.
A presente perícope é de destaque frente às tantas outras que tratam sobre o
tema da ressurreição. Isto fica claro ao vermos que a mesma está presente nas três
séries de leituras preparadas pela igreja, seguindo o domingo de Páscoa.
o fato de os discípulos
estarem trancados nos evidencia a perseguição dos judeus
sobre quem viesse a confessar a fé em Jesus (Jo 9.22) e o medo dos discípulos, pois se
os judeus mataram o seu mestre, por que não fariam o mesmo com seus seguidores?
Esta aparição de Jesus é a última relatada na Bíblia no dia da ressuneição, pois
todas as outras foram anteriores. Apesar de Jesus já ter-se mostrado vivo para
muitos de seus seguidores, os discípulos ainda mostram-se incrédulos e, inclusive,
desobedientes, pois ainda estavam em Jerusalém, enquanto Jesus ordenara que
eles o esperassem na Galiléia. E a própria perícope apresenta o propósito das aparições de Jesus: " para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em Seu nome>; (]o 20.31).
TEXTO
vv. 19-23: "Ao cair da tarde daquele dia" pode parecer o início de um novo dia (para
os judeus um novo dia começa ao anoitecer), mas não. "Aquele dia" acrescido de
"o primeiro da semana" deixa claro que era o dia da ressurreição de Jesus, o
mesmo de que fala o v.I. "Trancadas as portas" o próprio texto diz o porquê: por
274
medo dos judeus. A cb,e~
lhe, uma vez que é repc,i=::- .
aqui a natureza do corp,· -" __
destaca que Jesus comeu ~.::c.
tratava de um espírito). C) . ~."::==
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também em sua naturez;; ':.IT"'-· ="Paz seja convosco" er::c U'
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dita por Jesus revestia-sei ê .r-.=
pavor e dúvidas dos di'::ir.
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acalma. Tem o propôsit::== -.--"
momentos de sofrimen:,: o ::~:-:'~
anteriormente(Jo 15,17-25:
:o
o coração em meio à im,,'."::,:. ê ê.
possuidores da paz do Se:-~-.-..
evangelho da paz (Ef 6 :' ê:::-=,
perfeita e completa obr3. =e _
Deus. "Assim como o Pai lli'i:- ~:=-::-:::;
passa a ser a missão des.:::::
que a obra estava
._ ,ê'_
faladoemJo 17.18.i'UT,"~ :.
será. E para realizar t3.i IT."::: ':
discípulos necessitavar:" i.: ~ . .:..::J
são, que lhes foi conIe::.::.:c =
dias depois. Seu sopre
ser traduzido como
do Espírito Santo, e par:: :2. ~.
os pecados à alguém C::, ' . .:c:::
vv. 24-25: Tomé recebe de:::::."ê
espírito crítico, o que IT . :
_ ._
ressurreição, ao mesm:: :e:::-;: .
reição em si, e quandc 2::,,:::: :: -Cristo Vivo. As exigêr,:::.:..c
feitas por muitos sobre:. ê',::::::i: - _ "
texto não apresenta my , .: __
Tomé, ao faltar à reuni:';:: ::=='::ê "
mento e fortalecimeme ce : _: __ ~
ainda chegou a ver e cre:- =:::-:
_
vv. 26-39: Os discípulos es:.::, - os primórdios da obse;--,~:-_
L:: ::.
lugar é o mesmo dap::IT,:: ,
O correto seria os disci,_.: _: '-_
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
. -...
- p,'.i::.I""nA
::!!/I"":.,~
_~-, a sua ressurreição. João,
- _: ,',:' a Maria Madalena e, em
'" 3. a mesma de Lucas 24.36_ . ias sobre o fato de serem o
o-c: aos onze discípulos. Pode: _:'m certeza estavam presentes
: ':5 estivesse presente naquele
--:',,::5", antes de uma aparição de
. ': lDmé, cabe lembrar que João
, :_e apresenta a FÉ EM JESUS
::25 outras que tratam sobre o
mesma está presente nas três
:iomingo de Páscoa.
_, .l
-,
,iencia a perseguição dos judeus
e o medo dos discípulos, pois se
c mesmo com seus seguidores?
:'Dliano dia da ressurreição, pois
já ter-se mostrado vivo para
: >:ram-se incrédulos e, inclusive,
_.:::-:-L enquanto Jesus ordenara que
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':,
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. : :erceero início de um novo dia (para
:-:-.3.5 não. "Aquele dia" acrescido de
<.J dia da ressurreição de Jesus, o
-:3.5" o próprio texto diz o porquê: por
medo dos judeus. A observação sobre portas trancadas não é um simples detalhe, uma vez que é repetido novamente no v. 26. Precisamos lembrar e ressaltar
aqui a natureza do corpo real de Cristo agora ressurreto (Lucas 24.42-43 ainda
destaca que Jesus comeu na presença dos discípulos, deixando claro que não se
tratava de um espírito). O onipresente Deus-Homem colocou-se visível no meio
de seus discípulos de uma forma irracional e não científica. Jesus está presente,
também em sua natureza humana, em nossas vidas como o Salvador glorificado.
"Paz seja convosco" era uma saudação oriental muito comum, mas por ter sido
dita por Jesus revestia-se de um sentido todo especial. Em meio à incredulidade,
pavor e dúvidas dos discípulos, Jesus tranqüiliza-os oferecendo a sua paz. Tendo
em vista o comportamento dos discípulos na sexta- feira santa, talvez eles esperavam de Jesus alguma repreensão ou censura, mas Jesus com tais palavras os
acalma. Tem o propósito de fortalecê-los naquele momento e também para os
momentos de sofrimento e perseguição que ainda viriam, conforme anunciara
anteriormente (Io 15.17-25; Jo 16.33). Mas, não era meramente parafortalecer-lhes
o coração em meio à inimizade e ódio do mundo. Os discípulos deveriam ser os
possuidores da paz do Senhor como mensageiros e testemunhas ao oferecer este
evangelho da paz (Ef 6.15) e ao pregar Cristo como a paz. Esta paz resulta da
perfeita e completa obra de Cristo perdoando e reconciliando a humanidade com
Deus. "Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio;' - A missão de Cristo
passa a ser a missão dos discípulos: levar salvação a toda a humanidade, sendo
que a obra estava completa. Jesus conferiu aos discípulos a missão que havia
falado em Jo 17.18. A missão é compartilhada assim como a glória por vir também
será. E para realizar tal missão "soprou sobre eles" o Espírito Santo, pois os
discípulos necessitavam da ajuda de Deus no desempenho da missão, ou comissão, que lhes foi conferi da. Este fato antecipou o dia de Pentecostes ocorrido 50
dias depois. Seu sopro indica a doação do Espírito (no original "espírito" pode
ser traduzido como "sopro"). A missão é levada pelos crentes mediante o poder
do Espírito Santo, e para tal missão Cristo também dá o poder de perdoar e de reter
os pecados à alguém (Ofício das Chaves).
vv. 24-25: Tomé recebe destaque no evangelho de João. Ele é o discípulo com
espírito crítico, o que mostra que não é fácil aceitar e crer no fenômeno da
ressurreição, ao mesmo tempo que se torna para nós mais uma prova da ressurreição em si, e quando aceito por Tomé, ele se torna um feroz defensor da fé no
Cristo Vivo. As exigências de Tomé não são diferentes de exigências atuais
feitas por muitos sobre a existência do Filho de Deus ou até mesmo de Deus. O
texto não apresenta motivos da ausência de Tomé, mas podemos dizer que
Tomé, ao faltar à reunião, perdera um momento muHo importante para o crescimento e fortalecimento de sua fé. Graças ao amor e à misericórdia do Pai, Tomé
ainda chegou a ver e crer em seu Salvador.
vv. 26-39: Os discípulos estavam novamente reunidos, após oito dias. Temos aqui
os primórdios da observância do domingo como um dia especial (At 20.7). O
lugar é o mesmo da primeira aparição de Jesus: tudo indica que era Jerusalém.
O correto seria os discípulos estarem esperando Jesus na Galiléia conforme lhes
275
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
fora ordenado (Mt 26.32; 28.7,10; Mc 14.28, 16.7). Não se sabe por que os
discípulos não obedeceram,já desde a primeira vez, à ordem de Jesus. O fato é
que Jesus vai ao encontro de seus discípulos, não para lhes reprovar a atitude,
mas para lhes DAR A PAZ, COMISSIONAR, FORTALECER NA FÉ. O onisciente
Deus-homem conhece as nossas dúvidas e nossos questionamentos e nunca
nos afasta dele. Ele vem ao encontro dos crentes e dos descrentes para os
conduzir à fé. Ao aparecer repentinamente aos discípulos, Jesus os saúda com
"paz". Jesus, ao mostrar os sinais dos pregos, apresenta-se como o crucificado
e que agora estava vivo diante deles, especialmente de Tomé, que fora incrédulo. Tomé, então, usa uma das confissões mais bonitas e verdadeiras: SENHOR
MEU E DEUS MEU! Esta confissão revela a fé pessoal (meu) no seu Salvador
que é, também, o verdadeiro Deus (Divindade de Cristo). Tomé não questionou,
não tocou, somente caiu diante de Jesus e confessou a sua fé - o poder do
convite de Jesus. "Bem-aventurados" são todos os que cristãos de todos os
tempos. A eternidade é dada a todos que confessam a sua fé no Cristo Vivo,
verdadeiro homem e verdadeiro Deus.
vv. 30-31. É apresentado aqui o objetivo dos sinais que Jesus realizou diante dos
discípulos e de outras pessoas: a fé em Jesus e conseqüente vida nos céus.
Parece-nos que João encerrou aqui a sua carta e que o capítulo 21 foi escrito
posteriormente o qual também apresenta um final parecido.
TERCEIRO
LEITURAS
DO DIA
Salmo 139. 1- 12
O Salmista Davi, fala neste S2.::um Deus sempre presente e que' c::
mãos - conhecimento e domínic ::--=
Diante de tão grande podei ::'::
humildemente, reconhecer a SUé ::õ
esconder um ser do outro, mas;: 2: 2
Ele, a luz do mundo, se aproxime. :':::
mal e morte. A luz nos clareia, é
PROPOSTA HOMILÉTICA
Atos 4.8-12
TEMA:
Avançando com o Deus Filho - Jesus
INTRODUÇÃO
Tudo avança: Tecnologia, ciência, profissões .... É necessário palticipação de estudo,
pessoal, verbas, empenho ... Os discípulos não avançaram sozinhos. Eles se trancaram.
Desenvolvimento: A Igreja e os seus membros deveriam avançar no trabalho no
Reino de Deus. O que impede? Como os discípulos: medo (dos que ameaçam), insegurança, dúvida, não obediência (ordem de Jesus). O avanço não depende de nossas
forças. Jesus vem ao nosso encontro para: nos dar a paz (eliminar o que impede); nos
comissionar; e, nos fortalecer a fé. Vem a nós várias vezes. A graça de Cristo levou
Tomé a fazer a confissão: Senhor meu, Deus meu! Com esta fé, com o Deus Filho Jesus,
avançamos no trabalho, no crescimento do reino de Deus e na vida santificada.
CONCLUSÃO
Salvador em todo o mundo, e pai2 t
1 João 1.1-2.2
João se dirige aos cristãos de se:.
e vida cristã, frente às incertezas
pastor quer levar o seu rebanho:: :"
pela comunhão que podemos tei.:
concede, pois "o seu sangue nos advogado nos concede, ao n;:,s ;,
propiciação; certeza da vida eterr;, c
nos perdoar"; que é o verbo da '.:::.;
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Cristo age em nós e por nós. Com Ele, o Deus Vivo, avançamos rumo à salvação
de nossas almas como é o seu propósito (J020.31).
Klaus Kuchenbecker
Porto Alegre, RS
276
A presença de Jesus na vida Cê
mais belas é a gratidão. Pedro, mê 01
seu Senhor, agora dá a volta por c; n
poder de vida e morte sobre todos
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Cristo ressuscitou! Vejamos
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA
Lucas 24.36-49
7 de maio de 2000
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LEITURAS DO DIA
Salmo 139. 1- 12
O Salmista Davi, fala neste salmo, da onisciência e da onipresença de Deus. De
um Deus sempre presente e que tem as nossas vidas (do gerar ao morrer) em suas
mãos - conhecimento e domínio total (1-5).
Diante de tão grande poder, e elevado conhecimento, o ser humano só pode,
humildemente, reconhecer a sua pequenez e limitação (v.6). A escuridão até pode
esconder um ser do outro, mas para Deus, não há elemento que seja treva, quando
Ele, a luz do mundo, se aproxima. Escuridão nos dá medo. É sinal de ignorância, erro,
mal e morte. A luz nos clareia, é verdade, é justiça, é sinal de vida.
Atos 4.8-12
:: ;·.:cessário participação de estudo,
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-s deveriam avançar no trabalho no
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Deus e na vida santificada.
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, Vivo, avançamos rumo à salvação
Klaus Kuchenhecker
Porto Alegre, RS
A presença de Jesus na vida de um homem produz reações incríveis. Uma das
mais belas é a gratidão. Pedro, mesmo que um dia, no passado, houvesse negado o
seu Senhor, agora dá a volta por cima. Diante das autoridades, aqueles que tinham
poder de vida e morte sobre todos os cidadãos, Pedra não se cala e assim como um
diajá havida confessado, "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo", agora reforça esta
certeza ao dizer: "
em nome de Jesus Cristo, a quem vós crucificastes, e a quem
Deus ressuscitou dentre os mortos. Sim, em seu nome é que este está curado
".
No versículo 12, Pedra dá um testemunho corajoso - a existência de um único
Salvador em todo o mundo, e para todo o mundo.
1 João 1.1-2.2
João se dirige aos cristãos de sua época, com o objetivo de firmá-Ias em sua fé
e vida cristã, frente às incertezas do futuro. Alegria, santidade e certeza é o que o
pastor quer levar o seu rebanho a sentir. Alegria pela palavra que se tornou carne,
pela comunhão que podemos ter com ele e com os irmãos, pelo perdão que nos
concede, pois "o seu sangue nos purifica de todo o pecado"; santidade que nosso
advogado nos concede, ao nos inocentar de todos os nossos pecados pela
prapiciação; certeza da vida eterna que recebemos dAquele que "é fiel e justo para
nos perdoar"; que é o verbo da vida, que é a verdade, que é luz.
CONTEXTO
Cristo ressuscitou! Vejamos, passo a passo, o que aconteceu naquela manhã.
277
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
-Um grupo de mulheres dirige-se ao túmulo na madrugada do primeiro dia da semana para
embalsamar o corpo de Jesus (Mt28.1 ;Mc 16.1-2;Lc 24.1-10; Jo 20.la).
-Lá descobrem que a pedra foi removida (Mt 28.2-4; Mc 16.3-4; Lc 24.2; Jo 20.2b)
-O corpo de Jesus já não está no túmulo; no lugar dele vêem um anjo, que lhes
explica a situação e as encarrega de levar uma mensagem (Mt28.5-7; Mc 16.5-7;
Lc24.3-7)
- As mulheres voltam correndo para Jerusalém para relatar aos outros discípulos
o acontecido, mas suas palavras são acolhidas com ceticismo (Mt 28.8; Lc 24.811,22-23;J020.2).
- Pedro e o "outro discípulo, aquele que Jesus amava", dirigem-se ao túmu10 e
encontram-no vazio; depois voltam para casa (Jo 20.3-10; Lc 24.24).
- Maria Madalena os segue até o túmulo e fica lá, depois de eles terem partido;
Jesus então aparece primeiro a ela (Jo 20.11-18; Mt 28.9; Mateus fala de Maria
Madalena e da "outra Maria").
- Naquele mesmo dia aparece também a Pedro (Lc 24.34; 1 Co 15.5), aos dois
discípulos de Emaús (Lc 24.13-32; c 16,12-13 e depois aos outros discípulos em
Jerusalém, com exceção de Tomé (Jo 20.19-23; Lc 24.36-43; Mc 16.14). Os
evangelhos, Atos 1 e 1 Co 15 apontam outras aparições ainda. Mas o que
queremos ressaltar é que Jesus podia revelar-se e desaparecer à vontade e se
manifestava só a seus seguidores.
TEXTO
V 36 - Era ainda o primeiro dia - o da Páscoa, muitas coisas haviam acontecido,
especialmente tristezas e dúvidas, muitas dúvidas. Mas também alegrias, alegrias
não confirmadas. Os dois discípulos de Emaús (ficava no caminho para Jope,
cerca de 11 Km a oeste de Jerusalém), um era Cléopas, o nome do outro não é
mencionado; mesmo sendo noite, tomaram a decisão de voltar para Jerusalém
para se encontrarem com os outros e contar o que havia acontecido.
Falavam eles ainda
e llres disse: Paz seja convosco. Esta é a saudação do
Cristo Vivo· Ressuscitado. Os apóstolos, junto com outros seguidores de Jesus, e
mais os dois discípulos de Emaús, encontravam-se reunidos, no fim daquele
ahençoado dia, por detrás de portas trancadas. É claro que, com muito medo dos
escribas, fariseus e doutores da lei, pois estes lhes tinham ainda um ódio tamanho,
como aquele demonstrado ao seu Mestre (dos discípulos).
Quando parece que uma sombra de esperança está para chegar, eis que algo
quase inacreditável se torna reaiidade visível. E é o próprio Senhor que,
"pessoalmente", aparece como a esperança viva e real, e diz: "Paz seja convosco".
Quantos procuram a paz em caminhos e fontes falsas: simpatias; cartomantes;
telTeiros de umbanda; filosofias positivistas - fórmulas humanas. A verdadeira paz
somente pode ser encontrada no Cristo Ressuscitado.
Vv. 37-38 - A presença repentina e inesperada de Jesus (que achavam ainda estar
morto) deixou os presentes não apenas surpresos, mas alarmados, atemorizados,
278
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Igreja Luterana - N° 2 . 1999
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aterrorizados. Era um acontecimento fora do comum, inexplicável aos olhos e
com a sabedoria dos homens.
Ver "em pessoa" alguém que com certeza tinham visto morto e sepultado, e
agora está ali no meio deles - falando - gesticulando - mostrando as feridas deixadas
pelos pregos e pela lança, provas infalíveis de que é Ele mesmo(vv.39-40).
Vv. 39-41 - Depois de todas estas provas incontestáveis, houve uma mistura de
alegria, euforia e ainda de "
mas será verdade, podemos realmente confiar?".
Que pena que Tomé não estava ali presente. Perdeu uma oportunidade ímpar.
Ainda bem que ele teve outra chance.
Vv. 42-43 - É claro que Jesus não precisava comer, mas podia comer. Isto ajudou a
esvaziar aquele mundo de medo e pavor que ainda existia entre os presentes.
Quebrou o gelo - ajudou a fortalecer a confiança que estava tão abalada .
Vv. 44-49 - Jesus dá uma verdadeira aula de conhecimento bíblico. Deixou claro,
mastigado, tudo o que Deus mandara os seus santos homens escreverem a
respeito do Salvador da Humanidade.
Jesus destaca o que a respeito dele fora escrito "....na lei de Moisés, nos profetas
e nos Salmos". São as três divisões características do Cânon Hebraico, que incluíam
todo o Antigo Testamento. Ver Isaías 53.1-12 e Oséias 6.2, que falam da paixão,
morte e ressurreição de Cristo.
Jesus deu aos seus seguidores a incumbência de "pregar arrependimento para
remissão de pecados a todas as nações" - "em seu nome". "Vós sois testemunhas
destas coisas" v.48. Pedro foi exemplo, conforme relato de Atos 4.8-20; o Apóstolo
Paulo em fez das seguintes palavras o seu viver: "Cristo morreu por todos, para que
os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu
e ressuscitou" 2 Co 5.15.
PROPOSTA HOMILÉTICA
TEMA
Filhos de Deus, perdoados, testemunham com Gratidão.
,:,ça está para chegar, eis que algo
'el. E é o próprio Senhor que,
.1 e real, e diz: "Paz seja convosco".
~,tes falsas: simpatias; cartomantes;
Órmulas humanas. A verdadeira paz
scitado.
1 - Porque Jesus venceu os inimigos;
2 - Nos trouxe a verdadeira paz;
3 - Nos abre o entendimento;
4 - Está conosco.
Wilmar Meister
São Leopoldo - RS
2 de Jesus (que achavam ainda estar
'Tesos, mas alarmados, atemorizados,
279
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
QUARTO DOMINGO DE PÁSCOA
João 10.11-18
14 de maio de 2000
CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES
O quadro do Bom Pastor e as ovelhas está bem fixado em nós desde os (bons)
tempos da escola dominical. Mas receio, por vezes, haver excesso de idealismo e
romantismo no imaginário cristão e luterano sobre esse quadro. É curioso que o
Salmo do Dia, o 23, seja um dos textos preferidos de tantas pessoas. Por que será?
Será porque é o Salmo mais lido em cerimônias fúnebres? Em casamentos? Seria
porque é o único Salmo que alguns ouvem? Ou porque há uma superpopulação de
ovelhas em nossas cidades? Embora pastorear ovelhas seja uma das ocupações
mais comuns na Palestina e na Síria ainda hoje, nós pouco ou nada conhecemos
dessa atividade. Que imagem faz hoje o nosso ouvinte, seja ele urbano ou mesmo
rural, da figura do pastor? Das ovelhas? Do lobo?
CONTEXTO
Atrás da figura e conceito do Bom Pastor está a messianidade de Jesus. Este Pastor
é, antes de tudo, o Messias que vem para morrer. Esta é a sua missão. O próprio Salmo
23 expressa esse fato ao se confessar que "nada me faltará." O contexto de João 10.1116 inicia-se com a presença de Jesus em Jerusalém para a maior e mais popular das
festas, a dos Tabernáculos. Sua presença ali leva o povo a indagar sobre Sua
messianidade (7.26,27) e Jesus a testificar dela (7.29). No capo 8 Jesus é Aquele que
perdoa pecados (v.11), que é eterno e imutável (v.58). No capo 9, na presença de Seus
discípulos, Jesus envia um cego de nascença a lavar-se na piscina de Siloé, o Enviado
(do hebraico nL,ib). A culminância do testemunho de Cristo como Messias vem por boca
do que teve os olhos abertos para ver: Ele demonstra um crescendo no testemunho
sobre o Messias: de homem (v.1l) para um profeta (v.17) que podia ser seguido por
discípulos (v.27), a um que vem "de Deus" (v.33) e que é digno de ser adorado (v.38).
Embora afirmada e demonstrada, a messianidade de Jesus vem sendo questionada,
duvidada e atacada (9.22). A concepção é de que para alguém ser filho de Deus ele
precisa estar ligado a uma tradição mágica (8.39) e a uma casta espiritual superior (9.34).
Jesus esclarece, de forma incisiva, que este não é o caminho para Deus, mas sim o
caminho de e para Satanás (cf. 8.41,44). O caminho para Deus está em Deus mesmo, na
Sua cura graciosa e inédita de um homem cego de nascença e totalmente dependente;
e no cuidado amoroso e autêntico de ovelhas frágeis e vulneráveis.
O TEXTO
V. 11 - O texto grego repete o artigo. Jesus não é o bom pastor em comparação com
outros pastores. Mas Ele é um pastor singular, único. Ele é o Bom Pastor. O
280
artigo definido de::,~~:~-~ ~.
outro pastor. Ele é. ::_~ _.
aexpressãon8Éve::c :"c "
a Jesus e em 15.13:,,,J~ ::"'z _~os casos há inutilid2.::e -=
reaver a vida. A aÜL:J:.::.
("pelas") seria melh,',
~
de", ou seja, quand~ ~ :e-'.'
espontaneamen te fe i.:. '.. - - ..,;
mas isso em nada as :e- ~.
uma presa ainda ma:, :'c..
tenham em abundâ:::::.
Vv. 12·13 - Em contrast: _
BLH como "empreg::J.
vida, o empregado c:.::.::,.
pelo seu salário. Mas.:: .:.:.::
foge. Ele foge on ~.:~ -,
A referência a "emprega::.
lembrar que ÂÚKOÇ ,"lobo", :-"..
natural das ovelhas. Quer:: e e' e
V.14 - A segunda mare aJ. -=
KO:ÂÓÇ. Esta segunda m ".'. _ ..
pastores, mas diz res;;:::-' .:
me conhecem (Yll)c..:,C·:~_:',
mesmo sentido que (1 ':-~ , .Os Pais luteranos em::~,,::,~'
para a doutrina da ele:, "., __
povo é igualado ao c::
V. 15· "E dou a minha
'-.= '.
ao mesmo tempo. o I'" I'~
reassume. Em ambos 0' .::.,.
10(vv. 17-18).
O carinho, o cuidado e '.'.
da casa deIsrael, ("deste ê.I"::.
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haverá uma só grei e um s:~?~:.
PROPOSTAS HOMILÉnC
~
O texto fala de três: I'e-:::-~;:·
Pastor das ovelhas; b) o ar ':.g . as ovelhas desgarradas e -'C: - e.
==
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
O)E
P:SCOA
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.:-:~ na piscina de Siloé, o Enviado
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::~.::um crescendo no testemunho
17) que podia ser seguido por
. :'-,~ é digno de ser adorado (v.38).
;; .::::Jesus vem sendo questionada,
_ -:.~raalguém ser filho de Deus ele
;;.:.:-:-,a
casta espiritual superior (9.34).
;; : .::aminho para Deus, mas sim o
. ::lia Deus está em Deus mesmo, na
;;:'.lScença e totalmente dependente;
:;;:s e vulneráveis.
artigo definido demonstra que a descrição é aplicável apenas a Ele e a nenhum
outro pastor. Ele é o que dá a vida pelas ovelhas. A mais próxima analogia com
a expressão TL8ÉVIH T~V \(Iux~v acha-se em 13.37 quando Pedro oferece sua vida
a Jesus e em 15.13 onde alguém oferece a sua vida pelos seus amigos. Em ambos
os casos há inutilidade na atitude visto que em nenhum deles há poder para se
reaver a vida. A atitude de Jesus não tem similar (v.17). A preposição UTTÉp
("pelas") seria melhor traduzida por "em favor de", "pelo bem de", "em lugar
de", ou seja, quando o bem-estar das ovelhas exige o sacrifício da vida, este é
espontaneamente feito. Um pastor comum pode até morrer pelas suas ovelhas
mas isso em nada as beneficiaria; com o pastor morto o rebanho tornar-se-ia
uma presa ainda mais fácil. Jesus veio para que as ovelhas tenham vida e a
tenham em abundância (v. 10); e esta só é obtida pelo ato vicário do Bom Pastor.
Vv. 12-13 - Em contraste com o Bom Pastor aparece o flLOTWTÓÇ, bem traduzido pela
BLH como "empregado" (Mc 1.20). Desde que a função não implique risco de
vida, o empregado cuida das ovelhas motivado, não pelo carinho ou amor, mas
pelo seu salário. Mas quando vê o lobo chegando, ele abandona as ovelhas e
foge. Ele foge OTL flLOTWTÓÇ EOTLV - sua natureza é traída pela sua conduta.
A referência a "empregado" é parentética. O foco é a presença do inimigo. É bom
lembrar que À,ÚKOÇ ,"lobo", não é discurso retórico de Jesus. O lobo é o predador
natural das ovelhas. Quem é ele?
Y.14 - A segunda marca do Bom Pastor é apresentada pela repetição de Êyw
KIXÀ.ÓÇ. Esta segunda marca não é feita em termos gerais, aplicáveis a todos os
pastores, mas diz respeito apenas aEle: "Eu sou ... e conheço (YWWOKW)
... e elas
me conhecem (YWWOKOfl(H)
". Este verbo ocorre 4 vezes nos vv. 14-15 e tem o
mesmo sentido que o verbo lli' em hebraico. Como tal, o verbo significa "eleger" .
Os Pais luteranos entendiam esta secção de Jo 10.14-15 e 27-30 como uma sedes
para a doutrina da eleição. Este conhecimento recíproco entre Cristo e o Seu
povo é igualado ao conhecimento e relação que existe entre o Pai e o Filho.
V. 15 - "E dou a minha vida ..." - Cristo sabe que esta é a vontade do Pai. Contudo,
ao mesmo tempo, o próprio Cristo, por vontade própria, dá a Sua vida e a
reassume. Em ambos os casos Ele tem a autoridade, o poder (Ê~OUOl(i), para fazêlo(vv.17-18).
O carinho, o cuidado e salvação do Bom Pastor estende-se não apenas às ovelhas
da casa de Israel, ("deste aprisco" V. 16) mas também às ovelhas dispersas dentre os
gentios ("outras ovelhas" V. 16). E com isso, embora havendo muitos rebanhos,
haverá uma só grei e um só Pastor.
PROPOSTAS HOMILÉTICAS
;; - bom pastor em comparação com
_:'::1. único. Ele é o Bom Pastor. O
O texto fala de três personagens: a) o protagonista, Jesus Cristo, o Dono e
Pastor das ovelhas; b) o antagonista, Satanás, o lobo; c) o prêmio, os seres humanos,
as ovelhas desgalTadas e vulneráveis. O ser humano, embora no início propriedade
281
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
do pastor, é o prêmio desejado tanto por Deus quanto por Satanás. (Não se quer,
desta forma, propor um dualismo - mesmo porque o dualismo maniqueísta não existe
na Escritura onde só há um Vencedor. Mas não se pode negar que na esfera histórica
e existencial haja um dualismo ético que tem sua culminância em céu ou inferno.) À
fragilidade do ser humano por causa do pecado e ausência de defesa natural, postase a sagacidade, astúcia e fome de Satanás, Do outro lado do ser humano está a
figura do Messias, o Cristo. Ele clama e chama pelos seres humanos porque Ele os'
criou, é seu Dono, e está pronto a dar a Sua própria vida (e efetivamente a deu) para
que Seu povo tenha vida e vida em abundância, Ao reassumir (v.17 - Âápw) a Sua
vida (ressuneição, Páscoa!), o Pastor está vivo e presente, como poderoso Salvador, para proteger, guardar e salvar aqueles que Ele redimiu,
CONTEXTO
Jesus está com seus dis:;::,'.:i:
quinta à noite. Está na Últim:: c~ -_
negação, o capítulo 14 de .k~o -o:
que Ele é o caminho, a ver2i~ ~
..
podem pedir tudo em nomeie ~_ .'
o
SUGESTÃO DE TEMA
Ameaçados sim, mas bem protegidos!
Acir Raymann
o capítulo 14 encena ,'.:":'0 o-e
Que estava chegando a te-c..:.
abandonado o convívio cris::'.: ':'.e
excluído da árvore da vid", .:..,
seqüência, temos o belo rei.:.::
o
1EXID
Termos significati vos.
karpón . (fruto) - 6
oç,:,~-
méno· (permanecer; _
'7 .:.:
o .. o o
Vv. 1,2 - Jesus faz uma ::":' ~ :c:
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282
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
- . - ~.i:anás. (Não se quer,
_:naniqueísta não existe
- _~c.:Cjuena esfera histórica
- _~__::~m céu ou inferno.) À
_~defesa natural, posta_.:.: do ser humano está a
numanos porque Ele os'
::~tivamente a deu) para
_".:.mir (v. 17 - Àcipw) a Sua
c -:
como poderoso Salva-
QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA
João 15.1-8
21 de maio de 2000
c -:'
CONTEXTO
Jesus está com seus discípulos na semana da Última Páscoa, mais precisamente na
quinta à noite. Está na Última Ceia. Após já ter falado a seus discípulos sobre traição e
negação, o capítulo 14 de João nos mostra Jesus confortando seus discípulos. Ele fala
que Ele é o caminho, a verdade e a vida, o único meio de se chegar ao Pai. Os discípulos
podem pedir tudo em nome de Jesus, que serão atendidos.
Acir Raymann
O capítulo 14 encerra com Jesus dizendo que o traidor estava se aproximando.
Que estava chegando a hora de Ele ser entregue nas mãos daquele que havia
abandonado o convívio cristão, que havia se separado da raiz, que havia se autoexcluído da árvore da vida, que é Cristo. Parece, assim, que não é por acaso que, na
seqüência, temos o belo relato das palavras de Jesus sobre a "videira e os ramos".
TEXTO
Termos significativos:
karpón - (fruto) - 6 ocorrências
méno - (permanecer) -7 oconências + umaenclítica (v. 4).
Vv. 1,2 - Jesus faz uma comparação que, além de ser claramente entendida por seus
discípulos, por fazer parte de seu contexto de vida imediato, é muito impressionante.
Jesus é a videira verdadeira, sendo os discípulos, os ramos. Aquele que produz fruto
é limpo pela Palavra (v. 3) para que produza ainda mais. O que não produz, é cOltado.
Existem várias pessoas que pensam que ser um ramo já é o suficiente. Talvez,
"ser luterano", ou, "ser da Igreja" é garantia de estar com Cristo. Mas o próprio
Cristo mostra a possibilidade de haver ramos na videira que não produzem fruto.
Pessoas que acham que estão na fé, mas são ramos mortos. Estes são cortados pelo
georgós, o pai, o agricultor.
V3 - leláleka. Jesus falou palavras que não voltam atrás, nos mostra o perfeito
reduplicado. Palavras que foram ditas e continuam valendo. E estas mesmas palavras,
"limpam", purificam os ramos, os discípulos, para que produzam ainda mais fruto.
V 4 - Permanecer em Jesus toma o ramo produtivo. Aquele ramo que não permanece Nele,
não tem condição nenhuma de produzir fruto bom. Por mais que se esforce em praticar
o bem, em fazer coisas boas, em ser uma boa pessoa, quem não permanece em Cristo
não produz bons frutos, pois "sem fé é h'llpossível agradar a Deus" (Hb 11.6).
283
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Vivemos em um mundo onde a alta produtividade em menor tempo é a palavra de
ordem. De cada um de nós é exigido que tenhamos condições de produzir, gerar
lucro, ter competência, ter força para trabalhar de sol a sol, o máximo possível, com
alta competência, com alta produtividade, muitas vezes a salários não compatíveis ...
Em meio a isso, saber que de Cristo recebemos todo o alimento de que precisamos,
toda a força, toda coragem, toda competência para agirmos como cristão é o maior
consolo que podemos ouvir e sentir. Permanecendo em Cristo, em Palavra e
Sacramentos, o Espírito Santo nos torna cristãos altamente produtivos!
Vv. 5,6 - Estes versículos confilmam a verdade de que, pela fé, somos feitos "cristãos
produtivos". Como ramos ligados a Cristo, as boas obras surgem como fruto
espontâneo da fé. E Jesus enfatiza: sem mim, nada podásfazer. A vida sem Cristo
torna-se totalmente improdutiva, levando ao desespero e à condenação. O próprio
agricultor, o Pai, corta o ramo improdutivo, o qual será "lançado no fogo".
Vv. 7,8 - A epístola do dia (lJo 3.18-24) é um excelente texto paralelo a esta perícope.
Especialmente estes dois versículos relacionam-se ao que João escreve na 1a
epístola: "Aquele que guarda seus mandamentos permanece em Deus, e Deus
nele. E nisto conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que ele nos
deu" (v. 24). Neste versículo, há um sumário do que está escrito nos capítulos
15 e 16 - Permanecer em Cristo (15) e O Consolador (16).
E o mandamento a ser guardado, 1 Jo 3.23 ajuda: "que creiamos em o nome de
Seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que
nos ordenou". Jesus também já mostrou os dois grandes mandamentos a serem
guardados (Mt 22.37-39; Jo 13.34-35). Este é o fruto que o cristão produz quando
permanece na videira verdadeira. Amor a Deus e ao próximo.
PROPOSTA HOMILÉTICA
CONTEXTODAPERÍCOP-I
Jesuseseusdiscípukse'~~
-.-'
usa a figura da videira e des =-3--.
estivermos ligados a ele. Ai §;_": ~ _ =
sinal de seu serviço e humildade ~
o conforto aos discípulos e ~,::--. EXEGESEOOTEXTO
V.9-llY(,(TCllGeV- aoriste de
assim também eu vos :e:'~._ c_-::-:2
13.1. O Pai já manifesz.:. '17.23,24. Assim, o amer =e=:do amor do Pai pelo
benevolência de Cristo ap=-,.~.:.
"O Pai ama o Filho"- refe:;:-::,
vivendo perfeitamente De .:.r
como marca registrada c es-:-"permanecerem ligados ac.''=:: .: j
F::
,i
SEM MIM, NADA PODEIS FAZER!
I - Permanecer
em Cristo
1 - Ramos ligados a videiras falsas produzem resultados aparentes e ilusótios, pois não
permanecem na videira verdadeira. Sem Cristo, é impossível fazer coisa alguma!
2 - Graças a Cristo, os ramos permanecem na videira verdadeira. Com Cristo,
"pedireis o que quiserdes e vos será feito!" (v. 7)
n-
Produzir Fruto ...
1 - ...Imposição da sociedade moderna. Sem Cristo, não háfruto.
2 - ...Conseqüência do cristão justificado, movido pelo Espírito Santo e alimentado
por Palavra e Sacramentos - Com Cristo, alta produtividade!
3 - ...Avançar com gratidão a Deus.
V. 10- Destaque para as pala·.=--,--:-"continuar a viver"). O ~";;::,c ::
marca de sua permanénc:.:. ~amor é conseqüência de r=-_:::éoprimeiro(lJ04.l9.::..
nosso amor ao agll'mes ..:.e .:.~
cumprimento de sua \
seu amor ( v. 10). As:;::-::-.'
(,(Y('(TCll
de Deus reve lad,: ~- . _
de nossa parte; este am,::=-::::':
amor; este amor suster:." _
corações. Assim o cren~e
sacrifício voluntário de F:i: _.:.:..-.1
da obediência a Deus.
Lucas André Albrecht
Campo Bom, RS
284
V. 11- O termo TCÀllPC09~ n_,
da alegria daqueles que e:'~.:'.'
Igreja Luterana
,,,mpo é a palavra de
de produzir, gerar
. ::',áximo possível, com
. ,-ciosnão compatíveis ...
. . c': to de que precisamos,
., :'Jmo cristão é o maior
,,:-::Cristo, em Palavra e
:c produtivos!
- N° 2 - 1999
c- :~
. ' çs
:, fé.
somos feitos "cristãos
:bras surgem como fruto
·:fazer. A vida sem Cristo
- e à condenação. O próprio
,,~'-"lançado no fogo".
" :""::0'
João 15.9-17
28 de maio de 2000
paralelo a esta perícope.
,:,i) que João escreve na
COl'lTEXTO DAPERÍCOPE
Jesus e seus discípulos estão reunidos para a última ceia. Nesse contexto Jesus
usa a figura da videira e dos ramos, mostrando que só há verdadeira vida enquanto
estivermos ligados a ele. Alguns acontecimentos fundamentais: O "lava pés" como
sinal de seu serviço e humildade; a indicação do traidor; o aviso a Pedro e, finalmente,
o conforto aos discípulos e a promessa do Consolador.
l"
: ÇI1TlaneCeem Deus, e Deus
~.. s pelo Espírito que ele nos
. _c está escrito nos capítulos
__ ~ 16).
:ue creiamos em o nome de
oegundo o mandamento que
:- ::-,jes mandamentos a serem
J,ue o cristão produz quando
~:.~'Xlmo.
[~ r.-\ZER!
s aparentes e ilusórios, pois não
':poss[iel fazer coisa alguma!
:ieira verdadeira. Com Cristo,
_ = :
não háfruto.
pelo Espírito Santo e alimentado
'.: Drodutividade!
EXEGESEOOTEXTO
V9-llycm1l0fV - aoristo de ayarearo "amar" - "Assim como o Pai tem me amado,
assim também eu vos tenho amado. Continuai no meu amor." Veja o sentido em
13.1. O Pai já manifestara seu amor ao Filho, confOlme Mt 3.17; Mt 17.5 e Jo
17.23,24. Assim, o amor de Cristo é algo precioso aos discípulos pois é uma cópia
do amor do Pai pelo Filho. Viver neste amor é igualmente algo precioso. A
benevolência de Cristo aponta para o prêmio dado a quem nele permanece ( v. 7 ).
"O Pai ama o Filho" - refere-se a Jesus de N azaré, amado perfeitamente pelo Pai e
vivendo perfeitamente no amor do Pai. O Filho amou aos discípulos, que tinham
como marca registrada o espírito de obediência e reconheciam a necessidade de
permanecerem ligados ao amor de Jesus, sem o qual não teriam acesso ao Pai.
V 10- Destaque para as palavras 'tllP1l01l'tf ( "guardar" ) e !lEva'tE ( "permanecer",
"continuar a viver"). O crente é reconhecido pelos atos de amor, sendo este
marca de sua permanência com seu Salvador. A obediência ao mandamento do
amor é conseqüência do próprio amor de Cristo na vida dos seus. A- Seu amor
é o primeiro ( 1 Jo 4.19). E como este amor se manifesta? B- Nós mostramos o
nosso amor ao agirmos de acordo com seus mandamentos ( Jo 14.15 ) C- Este
cumprimento de sua vontade resulta novamente em nosso habitar / viver em
seu amor ( v. 10). Assim voltamos ao princípio, à 8uvaiJ.10 da vida cristã: O
ayare1l de Deus revelado em Jesus. Este amor é "ativado" em cada ato de amor
de nossa parte; este amor precede o nosso amor; este amor acompanha o nosso
amor; este amor sustenta o nosso amor; este amor cria mais amor em nossos
corações. Assim o crente "permanece" ligado a Deus por meio de Cristo. O
sacrifício voluntário do Filho à amarga morte na cruz é a mais gloriosa manifestação
da obediência a Deus.
Lucas André Albrecht
Campo Bom, RS
V 11- O termo reÀllpro8T]("completo", "cheio", "pleno") aponta para a plenitude
da alegria daqueles que estão em Cristo. Amor e alegria são descritos por Paulo
285
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
como frutos do EspÍlito em GI5.22. Permanecer no amor do Pai, cuja obra Cristo
realizou, eis a alegria indescritível do Filho no final de sua missão. A alegria de
ter cumprido a missão de salvar a humanidade faz com que os que nele crêem
sejam igualmente inundados por essa alegria. Compare-se "minha alegria "(v. 11)
com "minha paz" (14.7). Assim como a "minha paz" tem em mente a paz que Eu
vos dou, assim também a "minha alegria" é aquela por mim imputada, a alegria
que não se restringe às coisas deste mundo, mas que é do Espírito e perdura
para a eternidade. Veja também: Lc 2.10; R..'ll14.17 e, especialmente, 1 Pe 1.6,8.
V. 12- Destaque para três palavras: l:YLOÀll("mandamento"),
aya1w/tE ( "vos
ameis") e aÀÀllÀüucr ("uns aos outros", "reciprocamente" ou "mutuamente").
Do preceito "permanecei em mim" Jesus segue para a próxima unidade, "Amaivos reciprocamente". Isto somente poderá acontecer se permanecermos de fato
em Cristo, em sua Palavra, em seu amor ( Veja também 13.34 ). O amor que
gratificou os discípulos se exprime no amor que eles se dedicam mutuamente
neste mundo. Esse desfecho verifica a presença do amor recebido de Jesus. Eis
porque o mútuo amor fraternal é apresentado como mandamento por excelência.
Vv. 13 e 14- As palavras flaseov ("mais que" - idéia de algo incomensurável) e <jJtÀocr
( o subst. "amigo" e o adjet. "devotado"). Ao combinarmos os vv. 12 e 13 teremos
a seguinte mensagem: "Continuem a amar aos outros da mesma forma que Eu o
pratico, ao ponto de dar a minha vida pelos meus amigos". Veja 1 Jo 3.16. É
verdade, é evidente que este amor de Cristo não pode ser igualado, pois o nosso
amor ao semelhante é muito limitado. Seu amor é de um valor infinito, de caráter
substitutivo, e traz gloriosas conseqüências para a nossa redenção. Seu ato de
amor jamais poderá ser imitado por nós, pois seu perfeito amor não pode ser
copiado. O que deve ficar evidente no amor ao próximo é a disposição ao autosacrifício (veja 13.15; e Mc 8.34 ). "Em vosso amor pelo semelhante vós deveis
estar dispostos a autodoação". O amigo de Jesus é este: a) resgatado deste
mundo ( 15.19); b) aquele que faz o que Jesus mandou que fosse feito (15.14); c)
aquele que não quer ser o maior, e sim servo de todos ( 13.2; Lc 22.24); d) não é o
pecador que escolhe Jesus como amigo, mas Cristo chama pecadores ao
arrependimento (v. 16).
V. 15- Destaque para as palavras ü'\)1(ETI("não mais" - uma possível referência a 13.16
e 12.26) e mOa ("saber", "conhecer"). Há pouco tempo os discípulos ainda eram
chamados de servos, e agora Jesus os chama de amigos. Se um superior manda o
servo cumprir uma ordem, não cabe a este perguntar os porquês. Deve simplesmente
cumprir detelminações. Com o amigo é diferente. O amigo é um confidente ( 8.26;
3.11 enfatizando o "meu Pai"; veja também 1.14 e 1.18 ). Jesus não se contenta
simplesmente com uma "obediência servil". Seus amigos são motivados pela
"AMIZADE" de Cristo e a Cristo quando cumprem os seus mandamentos. A
obediência é e sempre será uma expressão de seu amor.
Vv. 16 e 17- ESEÀEsa08E ( "escolher", "selecionar ") e E81l1(C(( "constituir",
"designar" ). Entre as pessoas muitos são os motivos que fazem de alguém um
286
amigo. As pessoas r:-~
seu amigo. Com Cri,.,
_
nos escolheu, apes:c ;:
do amor espontâne:::e ~e _
em nós mesmos.
também:Dt7.7.8:Is-~
.. ao eleger os homen' ... ' .. _
duradouros, para a '.-i·i::e:e
1.6. O v. 16 conclui ":':~:. ::--e
nome, ele vos concede:::
identificado. "Ele", c L·,; _ aos que estão ligado;: ::. =
Cristo e que cumpres: s :e _'
porque ele os amou
também ao semelhan:e
PROPOSTA HOl\ULÉTIC ."'.
INTRODUÇÃO
A caridade e assistên.:i.' : .
religiosas e sociais. Do::,::~'
.
ao próximo, e mais, que
a caridade e ação socieil::::.: "
origem e motivação deste ::::-.
enquanto que o cristão "5: ..
o'
Tema:
PERMANEÇAi\í.\' O '- m.- ~._.
Lâ
Partes
1- Eu os escolhi pia '';:'e
II- Como o Pai me a;:: __ e.
IU- Estando em mir:- .;-.'"
IV- Estando em mirre ::.::-::.:0.
CONCLUSÃO
Fomos chamados pc::-\_::s,· ::.
da gloriosa notícia da ::a.e "C
enche de alegria e. em ::~:-.
_
"avançamos com gralldi'.
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
o
amor do Pai, cuja obra Clisto
:--,a] de sua missão. A alegria de
o.é ~J.z com que os que nele crêem
~ ::-:c.pare-se"minha alegria "(v. 11)
- :. ,,~"z"'tem em mente a paz que Eu
- _ = Ia por mim imputada, a alegria
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0- l7 e, especialmente, I Pe 1.6,8.
é - ~:
:-:~:mdamento"), O:YCX1!:CCl:E ( "vos
"l'DCamente" ou "mutuamente").
_ = "ara a próxima unidade, "AmaiC.tecerse permanecermos de fato
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· ='X eles se dedicam mutuamente
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o
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meus amigos". Veja 1 Jo 3.16. É
~S.Dpode ser igualado, pois o nosso
.::- é de um valor infinito, de caráter
"ara a nossa redenção. Seu ato de
.:, seu perfeito amor não pode ser
20 próximo é a disposição ao auto') amor pelo semelhante vós deveis
= Jesus é este: a) resgatado
deste
mandou que fossefeito ( 15.14 ); c)
::' todos ( 13.2; Lc 22.24); d) não é o
mas Cristo chama pecadores ao
amigo. As pessoas normalmente buscam motivos para que alguém possa ser
seu amigo. Com Cristo é diferente. Não fomos nós que o escolhemos, mas ele
nos escolheu, apesar do nosso pecado. "Eu vos escolhi" dá ênfase ao caráter
do amor espontâneo de Jesus. O motivo do amor de Deus por nós jamais estará
em nós mesmos, porém nEle, porque em sua essência DEUS É AMOR (veja
também: Dt 7.7,8; Is 48.11; Dn 9.19; Rm 5.8; Ef 1.4; 1Jo 4.19). Assim agiu Cristo
ao eleger os homens da escuridão do pecado a fim de que produzam frutos
duradouros, para a vida eterna. Que frutos são estes? Veja 015.22; Ef 5.19; Cl
1.6. O v. 16 conclui com a expressão "tudo quanto pedirdes ao meu Pai em meu
nome, ele vos concederá ". Há um retorno ao V.7, contudo no V. 16 o doador é
identificado. "Ele", o Pai: O Pai amou o Filho; em conseqüência ele também ama
aos que estão ligados ao Filho. O v. 17 conclama àqueles que estão ligados a
Cristo e que cumprem os seus mandamentos a que" não apenas amem a Cristo
porque ele os amou primeiro", mas que evidenciem este amor a Cristo, amando
também ao semelhante.
PROPOSTA HOMILÉTICA
INTRODUÇÃO
A caridade e assistência social têm sido "cavalo de batalha" de muitas instituições
religiosas e sociais. Do cristão também se espera que o mesmo faça obras de amor
ao próximo, e mais, que seja exemplo de doação e sacrifício. Contudo, o que diferencia
a caridade e ação social das referidas entidades de um ato de amor de um cristão é a
origem e motivação deste amor. O não-cristão age como o servo que faz por obrigação,
enquanto que o cristão age como amigo de Cristo e o faz por amor.
Tema:
PER.\1ANEÇAM
NO MEU A.\10R
Partes
I- Eu os escolhi para serem meus amigos
TI-Como o Pai me amou eu também os amei
m- Estando em mim a sua alegria será completa
IV - Estando em mim amarão uns aos outros
:.:s" - uma possível referência a 13.16
:uco tempo os discípulos ainda eram
je amigos. Se um superior manda o
untar os porquês. Deve simplesmente
'::e. O amigo é um confidente (8.26;
1.14 e 1.18 ). Jesus não se contenta
Seus amigos são motivados pela
:umprem os seus mandamentos, A
seu amor.
CONCLUSÃO
Fomos chamados por Cristo a fim de vivermos como seus amigos e conhecedores
da gloriosa notícia da salvação. Como tal, fomos alvo de seu perfeito amor que nos
enche de alegria e, em conseqüência, nos faz amar como fornos amados. Por isso,
"avançamos com gratidão a Deus" por tanto amor a nós revelado.
Paulo Gerhard Pietzsch
,cionar ") e E8rjKCX ( "constituir",
, motivos que fazem de alguém um
287
Igreja Luterana . N° 2 . 1999
SÉTIMO DoMINGO
João
DE PÁSCOA
17.llb-19
4 de junho de 2000
CONTEXTO DAPERÍCOPE
A perícope encontra-se dentro de um contexto de oração. Este dado é importante à medida em que nos leva a perceber quem está orando. Trata-se de ninguém
menos do que Jesus. O coração do Filho de Deus abre-se diante do Pai e nos permite
conhecer seus pensamentos e desejos. Pelas palavras dirigidas ao Pai notamos que
Jesus estava tomado de grande amor pelos seus discípulos, no caso específico do
texto, o pequeno grupo dos onze apóstolos. Os onze, reunidos com Jesus para a
ceia pascal antes dos acontecimentos que culminaram com a condenação e morte
do Filho de Deus, são chamados de "os homens que me deste do mundo" v.6. São
aqueles que Deus Pai havia confiado aos cuidados de Jesus. Naturalmente que, ao
todo, havia mais do que onze que podiam ser mencionados como homens que o Pai
confiara ao Filho, basta lembrar, por exemplo, os 120 de At 15. No texto, contudo, os
onze são destacados porque seriam enviados como apóstolos de Jesus (v. 18) e a
favor deles ele ora de modo muito especial.
Trata-se, portanto, de uma intercessão especial a favor dos onze. Não é uma
oração pelo mundo. O que Jesus fala a respeito dos onze nos vv. 6 a 10 é revelador
e apresenta reações possíveis apenas em corações crentes.
O motivo principal para a intercessão pelos onze revela-se nas palavras iniciais
do v. 11: ;;Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu
vou para junto de ti." Jesus deixa o mundo, porém os discípulos nele permanecem.
Por isto ele vai ao Pai em súplica. Os discípulos permanecem no mundo e tal fato não
fica oculto da atenção de Jesus por eles. Movido por amor, Jesus leva ao Pai em
súplica aquilo que vê como necessário para acompanhar os discípulos no mundo a
partir do retorno do Filho de Deus para junto do seu Pai. A prece a favor deles
desenrola-se em minúcias através do texto da perícope. Dela extraímos alguns
comentários presentes na exegese dos versículos a seguir.
o TEXTO
V. 11b - Após ter se dirigido a Deus por duas vezes chamando-o de "Pai" (vv. 1 e
5), aqui Jesus o chama de "Pai santo." Podemos levantar hipóteses para a razão
do emprego do adjetivo "santo." Creio que é possível tentar justificar a sua
presença por dois motivos. Primeiro, contrasta com a característica do mundo
onde ficarão os discípulos. Ele não é santo; pelo contrário, nele está presente
o pecado, do qual Deus está totalmente separado. Para não serem engolidos
288
pelo mundo, some,E= ~.;: _.
Segundo, o Pai santc 'er c, .
verdade." Santific ::r= ~: ~.
Os perigos provenieTI:=' ~=
Deus santo a proteção sc:-re
me deste." O nome de De',:' :
Pela palavra de Jesus. rs d:o:
conseguinte, o próprio De,,; - __
a pessoa, um conhecimemc=,:" :
os em teu nome" inclui. j:":'~:":-.:'
eles permaneçam em com::",-'
ele até aquele momento, ê::- rf.:':
O propósito da comunhi:
como nós." Da comunhão
:._.
fornece-nos subsídios p:~" ,:r:-_
discípulos de Jesus. AIér:a unidade deixa de exisci- -encarrega de romper lir>:_
Vv. 12, 13 -Jesus me:'.r.c. _ -_
ocorrerá. Tendo esc:::: .
protegeu. Nenhum :::,::,,:c :" -_
que se cumprisse a E',
da perdição afasteu-s:,: .
ao qual Judas este ...e.: r.d,,-~:
incorreta do ;;para c_c
sabia o que aCOTItec=:-:~
.
antes da ação se co:':re
aquele discípulo. O ::-':ê
do Filho de Deus.
Aproxima-se, contu:i:. - - ..
quer que os discípulos pcr ,:~-:com o Pai, sempre preseTIr:'::,:u
será ameaçada pelo ódi ci: rf._- .
comunhão com Deus Pal':':
dos seus, Jesus roga ae P::: ~:::': .
Jesus conhece o único rno.:i. e r:-_- t:
i
de Deus. Em amor peles :i:s:'~ _
Vv. 14 - 16 - Os discíp',::' continuará existindo, _-'l :--=-=~
não o é. O que signiL:, -~ .
é a criação que tem se " - .'
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
:t PASCOA
- . ~3.ção.Este dado é importan::~3.ndo.Trata-se de ninguém
. , = diante do Pai e nos permite
:.cjirigidas ao Pai notamos que
_ : .:,ulos, no caso específico do
::.=. reunidos com Jesus para a
- ~ ..::' com a condenação e morte
..: ",e deste do mundo" v.6. São
. ::.= Jesus. Naturalmente
que, ao
: ~"idoscomo homens que o Pai
je At 15. No texto, contudo, os
.ipóstolos de Jesus (v. 18) e a
. a favor dos onze. Não é uma
: : o ::mzenos vv. 6 a 10 é revelador
. :' crentes.
:.ze revela-se nas palavras iniciais
·.uam no mundo, ao passo que eu
::JS discípulos nele pennanecem.
;:,nanecem no mundo e tal fato não
:::: por amor, Jesus leva ao Pai em
:-·.;:,anharos discípulos no mundo a
::.: seu Pai. A prece a favor deles
::-erícope. Dela extraímos alguns
-o a segUIr.
;ezes chamando-o de "Pai" (vv. 1 e
levantar hipóteses para a razão
= é possível tentar justificar
a sua
'.ota com a característica do mundo
pelo mundo, somente alguém santo terá poder para protegê-los e guardá-Ios.
Segundo, o Pai santo será capaz de atender o pedido do v. 17: "Santifica-os na
verdade." Santificar é ação possível somente a quem é santo.
Os perigos provenientes de um mundo com a presença do pecado requerem do
Deus santo a proteção sobre os discípulos. Por isto, "guarda-os em teu nome, que
me deste." O nome de Deus foi dado a Jesus e este o tem revelado aos discípulos.
Pela palavra de Jesus, os discípulos têm conhecido o nome de Deus e, por
conseguinte, o próprio Deus, pois, neste caso, conhecer o nome significa conhecer
a pessoa, um conhecimento que envolve aceitação, confiança e comunhão. "Guardaos em teu nome" inclui, portanto, O velar do Pai santo sobre os discípulos para que
eles permaneçam em comunhão com o Pai, assim como estavam em comunhão com
ele até aquele momento, por meio de Jesus .
O propósito da comunhão com o Pai aparece em "para que eles sejam um, assim
como nós." Da comunhão com o Pai dependerá a comunhão entre eles. Tal verdade
fornece-nos subsídios para umá interessante reflexão sobre unidade entre os
discípulos de Jesus. Além disso, fica claro que à parte da comunhão com Deus Pai
a unidade deixa de existir, pois a cOlTupção do mundo, causada pelo pecado, se
encalTega de romper vínculos.
Vv. 12, 13 - Jesus menciona a mudança de situação dos discípulos que em brevc
ocolTerá. Tendo estado na companhia deles, guardou-os no nome do Pai e os
protegeu. Nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição (Judas), para
que se cumprisse a Escritura. Sob a proteção de Jesus houve segurança. O filho
da perdição afastou-se voluntariamente da companhia de Jesus. Não foi um ato
ao qual Judas esteve condenado por um decreto, como sugere uma interpretação
incorreta do "para que se cumprisse a Escritura." Na sua presciência, Deus
sabia o que aconteceria com Judas e já havia feito menção do ocolTido muito
antes da ação se concretizar. Também não foi um descuido de Jesus para com
aquele discípulo. O que aconteceu não joga dúvidas sobre o valor da proteção
do Filho de Deus.
Aproxima-se, contudo, o momento do Filho voltar para junto do Pai. Jesus não
quer que os discípulos percam o seu gozo (alegria) completo. A alegria da comunhão
com o Pai, sempre presente em Jesus, é um Dom maravilhoso para os discípulos. Ela
será ameaçada pelo ódio do mundo. Para que ela permaneça é indispensável que a
comunhão com Deus Pai seja mantida. Não estando mais visivelmente na presença
dos seus, Jesus roga ao Pai que aja em favor daqueles homens. Na sua sabedoria,
Jesus conhece o único modo de manter a comunhão com Deus: é a ação protetora
de Deus. Em amor pelos discípulos, ele a busca junto do Pai.
',1DS
: pelo contrário, nele está presente
:'arado. Para não serem engolidos
Vv. 14 - 16 - Os discípulos foram alvo do ódio do mundo e tal atitude adversa
continuará existindo. A razão cá está: não são do mundo, como Jesus também
não o é. O que significa não ser do mundo? É não ter comunhão com ele. Não
é a criação que tem se voltado contra eles, mas os homens sob a tutela do
289
Igreja Luterana . N" 2 . 1999
pecado é que constituem o mundo hostil aos discípulos. Quem não se encontra
em comunhão com o mundo se torna ameaça a este e dele recebe ódio. Ódio
gera maldade contra os discípulos de Jesus. A comunhão com Deus conservada pela palavra divina, dada aos discípulos por Jesus, exclui da comunhão com
o mundo. Não compartilha do modo de agir e de ver a vida seguido pelo mundo.
Por isto o mundo se torna inimigo do discípulo de Jesus.
pulos a santificaçãc '.c. '.
_
a favor dos discípulcs .. ~ - .,~
que se processe a sa"c;·:.~.~:
PROPOSTAHo~m_ÉTIc.-\
Sugiro três idéias preseE:::: .
o tema: O indispensável IX; -c:
seguinte seqüência:
::c
Qual seria, em nossa maneira de ver as coisas, a melhor solução para não sofrer
o ódio do mundo? Ser tirado do mundo e colocado, talvez, numa outra existência? É
bem possível. Não é, porém, o que Jesus pede que aconteça aos discípulos. Deverão
ficar no mundo, porque Jesus os enviou ao mundo. Foram enviados para salvar
quem os odeia. Qual a garantia que terão de não serem destruídos pelo mal contra
eles lançado pelo mundo? A proteção de Deus. A ela Jesus recorre:" .,. e sim que os
guardes do mal." Todo o mal engendrado pelo mundo contra os discípulos de Jesus
é inspirado por Satanás. É inimigo poderoso, todavia não tão poderoso quanto
aquele que é chamado a defender os discípulos: Deus Pai. Nisto reside a certeza do
êxito da ação de Deus buscada em oração por Jesus.
V. 17 - Este é um versículo bem conhecido. Tem rico conteúdo! "Santifica-os na
verdade; a tua palavra é a verdade." O verbo santificar significa "colocar à parte
para Deus." Em outras palavras, separar os discípulos de qualquer outra
comunhão para que a única existente seja a com o Pai. O santificar acontece
dentro dos domínios da verdade. Não há influência da mentira e tal não pode
acontecer, pois esta é filha de Satanás. Os limites da verdade são traçados pela
palavra de Deus. A ação santificadora de Deus existe apenas dentro dos limites
da verdade, ou, conforme Jesus, a palavra do Pai. A importância da palavra para
a obra santificadora de Deus é dupla: demarca os limites para a ação divina e
carrega consigo o poder para que a santificação se efetue. Logo, o que contraria
a palavra não provém de Deus e não é verdade.
V. 18 - É a razão para os discípulos não serem tirados do mundo. Há, porém, mais
um detalhe a observar. Com que autoridade Jesus veio ao mundo? Ora, foi
enviado pelo Pai. Haverá necessidade de credencial maior? Com que autoridade
os discípulos irão ao mundo? Foram enviados por Jesus, o Deus-homem.
Também não há necessidade de credencial maior para realizar a obra para a qual
são deixados no mundo. O enviar de Jesus não é inferior ao enviar do Pai, pois
"eu e o Pai somos um."
V. 19 - Jesus santifica-se a si mesmo para que os discípulos sejam santificados na
verdade. A favor dos discípulos ele tem agido. Coloca-se voluntariamente à
disposição do Pai para que os discípulos desfrutem da comunhão com Deus.
Os discípulos são santificados. É obra de Deus, realizada até aquele momento
por Jesus, mas que terá continuidade através do Espírito Santo, o Parácleto
prometido por Jesus. Antes, porém, acontece o santificar de Jesus, o entregarse voluntariamente e espontaneamente à execução dos planos salvíficos do
Pai. A partir da obra mediadora de Jesus é que se torna possível para os discí290
1 - O que julgamos necco: é':-..
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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::davia não tão poderoso quanto
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pulos a santificação na verdade. Destaca-se no versículo a mediação de Jesus
a favor dos discípulos. Apresenta a sua própria santificação como razão para
que se processe a santificação dos seus.
PROPOSTA HOMILÉTICA
Sugiro três idéias presentes no texto para serem desenvolvidas no sermão. Sob
o tema: O indispensável para a obra da igreja - a mensagem poderá observar a
seguinte seqüência:
I - O que julgamos necessário para o trabalho da igreja?
2 - Aquilo que o texto apresenta como indispensável para a obra dos discípulos
de Jesus.
3 - Jesus torna possível o recebimento do indispensável.
Paulo Moisés Nerbas
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Igreja Luterana . N" 2 - 1999
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o DIA DE PENTECOSTES
João 7.37-39
11 de junho de 2000
LEITURAS
DO DIA
O Salmo do dia (SI 143) apresenta um Davi em dificuldades, talvez sendo
perseguido por seu fiiho Absalão (2 Samuel17 e 18). Desanimado, com seu espírito
esmorecido, Davi ora a Deus, e pede que o Seu bom Espírito o guie por caminhos
seguros (v.l O). A situação é comparável à morte, então Davi suplica: "vivifica-me,
Senhor; por amor de teu nome" (v.ll). A vida, a verdadeira vida, é dádiva de Deus,
por meio da ação de Seu Espírito na palavra (Ez 37.4), como Ezequiel bem descreve
na visão do vale de ossos secos (Ez 37.1-14». O Sermão de Pedro aponta para a obra
redentora de Cristo e suas conseqüências: Deus Pai cumpre Sua promessa e derrama
o Espírito Santo sobre os seguidores de Cristo (Atos 2.22-36). Pois esse Espírito é o
mesmo que inunda corpos secos com a água da Vida e faz com que os mesmos se
tornem rios de água viva (João 7.37-39).
CONTEXTO
LITÚRGICO
Com o Pentecostes se encerra o assim chamado Período Festivo do Ano Eclesiástico. Nos primeiros séculos, essa celebração ocupava o segundo lugar (primeiro
era a Páscoa) em importância na vida da igreja. Tradicionalmente nessa data se
comemora o aniversário da igreja cristã. A festa do Espírito Santo é uma celebração
alegre e vibrante, afinal Ele é o vivificador.
É o Espírito Santo quem chama o homem pelo Evangelho, o ilumina com seus
dons, santifica e o conserva na verdadeira fé. Antes, o que era nascido da carne seco e sem vida, agora é nascido do Espírito - cheio de água da vida, produz vida.
Diante desta nova realidade, o homem está na comunhão do Espírito (cf. 2 Co 13.13
e Fp 2.1), isso não é outra coisa, senão dizer que agora faz parte da igreja de Deus (cf.
Ef 2.19-22). Estando na Igreja, ele não está só, mas faz parte da comunhão dos
santos (communio sanctorum). Vivendo em comunhão com Deus e com o próximo,
essa cristandade é fortalecida pelo evangelho de seu Senhor, é regenerada diária e
abundantemente pela ação do Espírito e vive seu Pentecostes diário, jorrando para
a vida eterna.
TEXTO
V.37: "No último dia, o grande dia da festa ... " Pelo contexto (7.2), vemos que
tratava-se da Festa dos Tabernáculos. Esta festa durava sete dias (cf. Lv 23.34;
Dt 16.13,15), mas tinha uma "assembléia de encerramento" no oitavo dia (cf. Lv
23.36). A Festa dos Tabernáculos comemorava a peregrinação de Israel pelo
292
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rava a peregrinação de Israel pelo
deserto. Durante sete dias o povo vivia em tendas. Cada manhã se trazia água
do tanque de Siloé em uma jarra de ouro. O sacerdote oficiante pegava a água
e derramava a mesma em duas tigelas de prata perfuradas no lado ocidental do
altar, em comemoração à água da rocha que Deus havia providenciado para os
israelitas no deserto. Enquanto isso as trombetas soavam em louvor e o povo
cantava Isaías 12.3. No último dia da festa, o oitavo e grande dia, este rito
provavelmente era omitido, ou para sugerir as bênçãos do povo quando este
entrou na Terra Prometida ou para indicar a sede deste pelas grandes bênçãos
espirituais, às quais os profetas haviam se referido. A visão daquela multidão
que participava da festa, certamente evocou em Jesus a imagem de milhares de
pessoas, de todas as épocas e lugares, a quais viviam fazendo (e fazem) sua
peregrinação, e estão sedentas, fracas e aflitas. Então Jesus afirma para todos
aqueles que estão angustiados, insatisfeitos e sedentos, que Ele é o que aquela
rocha fendida foi para os israelitas no deserto.
EKpaçEV-Kpá(w
= clamar. O v.28 diz que Jesus clamou no templo. Aqui ocorre
o mesmo. Isso implica dizer que as pessoas estavam se opondo a Ele, como o
contexto mesmo sugere. Além disso, esse clamor demonstra Seu profundo amor e
desejo em salvar aqueles que a Ele se opunham. Quando Cristo faz essa exortação,
na verdade é como se fosse um eco e Ele estivesse dizendo repetidamente: "agora
é o tempo!"
EpXE08w
7TpOÇ f-lE = venha a mim. Isso não implica que o homem possa vir
tateando até Deus. Deus não está longe é verdade (cf. At 17.27), e Suas testemunhas testificam que Ele está aí (cf. Rm 1.19ss). E mesmo assim o homem não pode
encontrar o caminho até Deus. Esta é ainda função do Espírito Santo, o qual coloca
o homem no caminho correto e o dirige até à cruz de Cristo. Pentecoste é uma grande
oportunidade para lembrar ao pregador de que a persuasão não é tarefa sua, mas
sim, responsabilidade do Espírito Santo, este é Seu ofício.
llwETw = beba. Em Cristo o símbolo e a profecia estavam cumpridos. Jesus é a
fonte de água viva. Sobre a metáfora de "sede" e "beber da água", compare com o
que Jesus disse para a mulher na fonte de Jacó (ct. Jo 4.10,14). "Se alguém tem sede,
venha a mim e beba." Não há dúvida de que Jesus aqui está falando de sede
espiritual (cf. Is 49.10,55.1 e Ap 21.6; quanto ao convite, não esquecer Mt 11.28). É
digno de nota que em todos os casos, tanto no AT como no NT, não há restrição.
Qualquer um que estiver sedento espiritualmente, é objeto adequado para receber a
água gratuita do evangelho. Jesus não faz restrições, mas apenas convida. Somente a Lei pode revelar nossa grande necessidade, assim como Jesus fez com a mulher
no poço de Sicar. Somente aquele que reconhece sua sede espiritual, sua grande
necessidade de perdão, irá apreciar o convite de Jesus em nosso texto (cf. Jo 4).
V.38: Karwç EL7TEV7] ypacp7]: A margem de Nestle-Aland pergunta unde? (onde?)
e então apresenta uma longa lista de referências, mas nenhuma delas reproduz
de forma literal as palavras de nosso texto. Fica claro que Karwç denota passagens paralelas, de idéias similares, mas não com as mesmas palavras. Nestle293
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
Aland sugere 1s 4319ss; Ez 47.1-12; J14.18; Zc 14.8; Pv 18.4; Ct 4.15 como
passagens que abordam tema semelhante. A meu ver, o texto de Ez 47.1-12
ilustra de forma magistral o evangelho em questão e oferece uma riqueza
homilética ao pregador. Ali Ezequiel vê águas fluindo debaixo do limiar do
templo. As águas crescem e se tornam um rio, um grande rio e à sua margem há
muitas árvores. Esse rio leva vida ao Mar Morto e transfonna suas águas. E o
texto conclui dizendo: "e tudo viverá por onde quer que passe este rio. " (v.9).
Kodw = Denota as partes ocultas e mais interiores do corpo humano (útero,
estômago). Seria a parte mais íntima do ser. A BLH traduz por "coração". Um coração transbordando de água da vida certamente será uma fonte de vida para muitos
(cf. Lc 6.45).
V.39: A referência explícita ao Espírito Santo faz com que este texto seja apropriado
para o Pentecostes. A função do Espírito Santo é testemunhar o Cristo glorificado. A glorificação ocorre na crucificação, ressurreição e exaltação de Jesus.
Mais adiante (Io 14.26; 16.7 e 20.22), fica claro que o Espírito Santo virá para a
comunidade de fiéis após a glorificação de Jesus. O v.39 aponta para a
centralidade da cruz. Sem a cruz e a tumba vazia, o Espírito Santo não poderia
realizar sua obra de santificação. A plenitude da obra do Espírito depende da
obra redentora realizada previamente por Cristo.
PROPOSTA HOMILÉTICA
A promessa de nosso texto, a princípio, confronta o pregador e seus ouvintes
com um problema: "do seu interior fluirão rios de água viva". Será que de fato é
isso que as pessoas vêem quando se encontram com um cristão? Para ser mais
específico, é isso que nós cristãos experimentamos quando nos encontramos uns
com os outros - "água viva"? Parece que Tiago põe mais água nesta fervura,
quando pergunta se de uma mesma fonte pode jorrar o que é doce e o que é amargoso
(Tg 3.11)? O evangelho deste Domingo oferece ao pregador uma grande oportunidade (diria até visual), de se pregar sobre a incrível e maravilhosa obra do Espírito
Santo. É possível obter "água viva" de recipientes secos e disformes? Para o
Espírito de Deus tudo é possível! (cf. Ez 37.1-14).
A primeira parte do sermão seria um vibrante "Sim", em resposta à pergunta
formulada pelo tema do sermão. Pessoas pensam que" água viva" só pode fluir de
pessoas perfeitas e santas. Não é assim, pois não há santos perfeitos - exceto pela
perfeição oferecida por meio de Cristo e do lavar regenerador e renovador do
Espírito - o Batismo (cf. Ef 5.25-26; Tt 3.4-7). Todavia, esse processo não estará
completo até estarmos face a face com nosso Deus. Aqui, como igreja militante,
ainda somos simul iusti et peccatores.
A Segunda parte seria: o Espírito Santo continua operando em nós - os recipientes secos e disformes. Que a água da vida possa ser derramada em mim, uma
pessoa morta em peéados e transgressões, já é algo espantoso demais. Mas que a
água da vida possa fluir de mim, do meu interior - como isso é possível? Quem sou
294
eu? Um pobre e miserá,~ _
sou um pecador peri,:,:::::.
do Batismo. A água que :' ...
água que colocamos ;:-::.-::.
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sobre o cosmos e o sa];2 i.
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
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- .: ~ .. z
.::.:eeste texto seja apropriado
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.::.:eJ Espírito Santo virá para a
:" >5U5. O v.39 aponta para a
. :. Espírito Santo não poderia
. _ z ~ :. bra do Espírito depende da
eu? Um pobre e miserável pecador? Sim, mas essa não é toda a verdade. Também
sou um pecador perdoado, um pecador lavado e regenerado diariamente nas águas
do Batismo. A água que flui tem sua força, não do recipiente em si, mas em Jesus. A
água que colocamos para fora depende das chuvas de bênçãos que Deus faz
descer dos céus - em Sua Palavra e Sacramentos. Em Cristo, não precisamos continuar como recipientes secos e disformes - feias criaturas. Cristo nos transforma, as
coisas antigas passam e eis que se fazem novas (cf 2 Co 5.17). O Cristo que se
transfOlIDou (cf. Mt 17.2) também nos transforma (cf.. 2 Co 3.18). Alguém poderia
dizer desta forma: o Cristo" cósmico" é também um Cristo" cosmético". Ele reina
sobre o cosmos e o salva do caos. Cristo traz beleza e santidade onde antes havia
somente o repugnante pecado. Sua obra não é apenas superficial, como se fosse um
ruge, uma base ou mesmo um simples perfume. Não! O Cristo" cosmético" faz uma
cirurgia cosmética em nossa alma desfigurada pelo pecado. Ele corta o nosso
pecado e implanta a santidade. Nosso Jesus Formoso é um incrível cirurgião plástico. Ele transforma "recipientes secos e disformes" em belos depósitos de água, da
água da vida que dEle procede - mesmo que isso exija mais do que uma operação .
Jesus nunca desiste.
Ely Prieto
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295
Igreja Luterana • N° 2 . 1999
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DEVOÇÕES
ATENTEMOS
NAS COISAS QUE SE NÃO VÊEM
(2 CORÍNTIOS 4.13-18)
Numa das cenas finais e marcantes do filme a Última Cruzada, Indiana Jones vai em
busca do suposto cálice do Santo Graal utilizado por Jesus na última Quinta-feira
Santa e cujo conteúdo curaria doenças e traria longevidade. O trajeto, como sempre, é
cheio de percalços e num determinado ponto culmina num estreito caminho que dá
acesso apenas a um enorme abismo. Orientado por um códice que descreve como
chegar ao outro lado, Indiana consulta-o e o desenho mostra uma figura humana
dando um passo no vazio, sobre o abismo. Ele olha para o abismo e o que vê é apenas
uma névoa e o abismo. Como dar um passo para dentro do abismo intransponível?
Como atrás vêm os inimigos ferozes e reais, algo precisa ser feito. Suando, arfando e
tremendo, Indiana fecha os olhos, estica a perna sobre o abismo e dá o passo. E seu pé
encontra apoio! Ali está uma ponte estreita, invisível porque se confundia com o
abismo debaixo daquela névoa. E Indiana segue em busca do cálice ...
Outras vezes a tribuiac2.
::-:_ó'
armados numa escola de Se"..': "
Dentre os estudantes men':
'_
Entre estes estava uma :T::;':' ,
matador aproximou-se dei.: e ec- ~=
"Sim, eu acredito em Deu'-- e
tornou-se uma máI1ir para~s ::--.
inspirado milhões de amen.:. 2 No início do nosso te\::
lermos este Salmo veremos o ...e
'
"Laços de morte me cercara:': . _ -:tribulação e tristeza." E no \e-'
Davi acrescenta "mas es:i\ c :.
Quais são as nossas tri':inferno. O que surpreende e:-'
situação de "momentânea 1e'-=:::.:.
porque vivemos no fluxo de :::Te '
outro momento, mas ele pass:::,-:
os dedos. Os momentos de :::~
_
acumulam.
o
Em nosso texto o apóstolo fala de coisas que se vêem e ao mesmo tempo nos
convida a que "atentemos nas coisas que se não vêem." Nos vv. 17 e 18 ele diz:
"Porque a momentânea leveza da nossa tribulação produz para nós eterno peso de
glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas
nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, mas as que se não vêem
são eternas." O apóstolo está falando de duas realidades, de dois mundos, que se
caracterizam por elementos opostos.
A primeira realidade é representada pela tribulação. É a realidade do mundo
vemos, que percebemos e que, acima de tudo, nos persegue. Nos versículos
o.ntecedem nosso texto o apóstolo diz: "Em tudo somos atribulados, porém
angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos,
porém
desamparados; abatidos, porém não destruídos."
que
que
não
não
Via de regra, a perseguição do mundo rara.mente é aberta e ostensiva. Fato é que o
mundo não quer ver seus ídolos desconsiderados, nem sua conduta censurada. Os
inimigos não vão nos perseguir por causa da nossa santidade. Mas eles o farão sob
outros pretextos. Até nos tempos bíblicos foi assim. Elias, por exemplo, será acusado de
"perturbador de Israel"; o apóstolo Paulo será acusado de ser o "homem que transtorna
o mundo" e Cristo será punido como sendo blasfemador e inimigo do governo.
Há um mês atrás conversava com um pastor da Índia. Dizia-me ele que na Índia
apenas 3% da população são cristãos. 70% dos empregos são garantidos para as
296
,
O apóstolo então nos (;or:\:::.:..:..:.:.
das coisas que se não vêem. :-.;,:~ .-=-.::
Todo esforço para entender :=:Te'
"
é como tentar descrever J _
Mesmo assim podemos
Se 10 anos de tribuIaç~,: ,c
tribulação se torna leve. C:'r:::.:::'
1 segundo, isto certamem",,,,.
Mas, enquanto a tribU::::;2:
é concentrada e eterna. A is:~ - .
coisas que se não vêem m3.o .:., e -.""
Somos convidados a a'er.~2C-.:.
normalmente empregado ;2..
apóstolo emprega o \'erto ,-'o --
o
Igreja Luterana - N" 2 - 1999
castas. Quando alguém se diz cristão, ele logo é promovido para a casta superior
com todas as suas responsabilidades. Em si é um grande privilégio. Mas na hora de
se distribuir emprego, o cristão, mesmo bem qualificado, nunca é favorecido. O seu
emprego será dado a alguém de casta inferior, embora sem qualificação. É um método
sutil, porém eficaz de perseguição.
ÇllJ
E SE NÃO VÊEM
~,-JZada, Indiana J ones vai em
,'~sus na última Quinta-feira
~-,.:c.O trajeto, como sempre, é
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oc::L" Nos vv. 17 e 18 ele diz:
_. ,-:.duz para nós eterno peso de
, : ~,ascousas que se vêem, mas
,-', :.rais, mas as que se não vêem
~ades, de dois mundos, que se
__.É a realidade do mundo que
- .: persegue. Nos versículos que
':.mos atribulados, porém não
- a'::s: perseguidos, porém não
- : ~ aberta e ostensiva. Fato é que o
;,em sua conduta censurada. Os
,s:. santidade. Mas eles o farão sob
=.::s, por exemplo, será acusado de
a'::. de ser o "homem que transtorna
;,:0[ e inimigo do governo.
, :.>dia. Dizia-me ele que na Índia
c-::~pregossão garantidos para as
Outras vezes a tribulação é mais direta. No dia 20 de abril dois rapazes entraram
armados numa escola de Segundo Grau em Litteton, Colorado, e mataram 13 pessoas.
Dentre os estudantes mortos, vários deles pertenciam a grupos religiosos cristãos.
Entre estes estava uma moça chamada Cassie Bernall. Diz a revista Time que o
matador aproximou-se dela e perguntou se acreditava em Deus. Quando ela disse
"Sim, eu acredito em Deus", ele disparou a arma. Segundo a mesma revista, Cassie
tornou-se uma mártir para os demais adolescentes cristãos e a sua vida e morte têm
inspirado milhões de americanos.
No início do nosso texto o apóstolo refere-se a Davi, citando o Salmo 116. Se
lermos este Salmo veremos que tribulação e morte eram vizinhas de Davi. Ele diz:
"Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; caí em
tribulação e tristeza." E no versículo que o apóstolo cita Davi "eu cri, por isso falei,"
Davi acrescenta "mas estive sobremodo aflito."
Quais são as nossas tribulações? Aflições? Laços de morte? Angústias do
inferno. O que surpreende em nosso texto é que o apóstolo denomina essa nossa
situação de "momentânea leveza". A tribulação acontece num determinado momento
porque vivemos no fluxo do tempo. Mas cada momento com sua dor passa. Vem
outro momento, mas ele passa. Tais momentos fluem, desaparecem como areia entre
os dedos. Os momentos de tribulação não se juntam, não se concentram, não se
acumulam.
O apóstolo então nos convida a atentarmos para uma outra realidade - a realidade
das coisas que se não vêem. Na etemidade não há fluxo de tempo como o entendemos.
Todo esforço para entender tempo na eternidade é inadequado. Como disse alguém:
é como tentar descrever a cor branca com palavras que significam a cor preta.
Mesmo assim podemos imaginar um pouco do que o apóstolo quer dizer.
Se 10 anos de tribulação são diluídos em cada segundo desses 10 anos, essa
tribulação se torna leve. Contudo, se 10 anos de tribulação fossem concentrados em
1 segundo, isto certamente seria uma grande peso.
Mas, enquanto a tribulação é assim diluída e momentânea, a glória, por sua vez,
é concentrada e eterna. A isto o apóstolo chama de "eterno peso de glória." São as
coisas que se não vêem mas que não são menos reais só porque invisíveis.
Somos convidados a atentar para as coisas que se não vêem. Blépein é o verbo
normalmente empregado para designar um ver em geral. Mas em nosso texto o
apóstolo emprega o verbo skopein. Skopein significa fixar os olhos num ponto,
297
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
enfocar um objeto. Daí vem a palavra "periscópio", por exemplo, usado nos
submarinos. É um ver que vai além do ver comum. É um ver que atravessa as ondas,
as vagas, o turbilhão e focaliza um ponto específico no horizonte que está acima. É
um ver diferente, incomum que precisa de um instrumento especial - a fé.
Nós vemos! Nós atentamos pela fé. A fé não é um simples artifício humano, mas
poder divino. Fé é a dimensão da eternidade estendida a nós - e que só percebemos
quando ela já está dentro de nós. Pelo batismo esta fé nos permite ver o invisível,
mesmo cercados por inimigos, aflições, abismos e névoas. Pela fé vemos até a
ressurreição de Cristo, diz Paulo, e também a nossa ressurreição, que não são vistas
pelo ver comum.
Pela fé vemos a ponte que nos dá acesso ao cálice da salvação, ou seja, o
próprio Cristo. Este sim que nos restaura a vida na sua glória, plenitude e eterna
longevidade.
Devoção proferida pelo Prof Dr. Acir Raymann
na capela do Seminário no dia 17 de junho de 1999.
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Em nome de Jesus. c
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298
Igreja Luterana
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- N° 2 - 1999
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da salvação, ou seja, o
5lÓria, plenitude e eterna
Prof Dr. AGir Raymann
- dia 17 de junho de 1999.
Em nome de Jesus, o Senhor. Amém.
Muito estimados em Cristo Jesus. E aqui estamos, em plena Sexta-feira 13! Em uma
semana que foi, pelo menos, diferente! Foi uma semana e tanto para os místicos, que
fizeram festa. Agora estão por aí arranjando alguma explicação do porquê do fim não ter
vindo. A imprensa se fartou. Afinal, além dos temas desemprego, caos da saúde pública
e viol~ncia, havia outro assunto candente no ar. Para os pastores foi uma semana em
que não tiveram de pensar muito sobre o que enfocar no estudo para o Departamento
Feminino. Foi, por isso, uma semana abusada por alguns, mas bem aproveitada por
outros, que tiveram a oportunidade de lembíar ao povo de Deus a profundidade das
palavras do Senhor. "Vede que ninguém vos engane!" (Mt 24.4).
Nas palavras do Senhor Jesus, no texto de João 6, há lembretes importantes
sobre a escatologia, as coisas referentes ao fim.
Em meio à repreensão aos murmuradores, o Senhor repete: "eu o ressuscitarei
no último dia." "Repete", digo, porque esta frase ele a diz quatro vezes em seu
discurso relatado no capítulo 6 de João. A mensagem toda se centraliza na verdade:
Eu sou o pão da vida. Quem de mim se alimenta, trazido por meu Pai, este vive. E em
meio a este discurso o Senhor, sem falar de fim do mundo, enfatiza a verdade da
ressurreição que Ele realizará "no último dia" (aliás, expressão onde se encontra o
adjetivo éscaton - último, ou fim). Verdade é que, para o mundo, o grande fato
escatológico é ofim. Aí até mesmo os analfabetos em Escrituras se tornam teólogos.
Falam de Apocalipse, Armagedom, profecia! "Apocalpse" (que significa realmente
"revelação") vira sinônimo de "fim do mundo". "Profecia" se torna propriedade
exclusiva de Nostradamus.
A ênfase bíblica é outra. O grande fato escatológico não é o fim do mundo, mas
a volta do Senhor. A vinda visível de Jesus é o evento pelo qual o povo de Deus
aguarda. E ao qual outros eventos antecedem e seguem. Agora, os sinais; depois, o
fim do universo, a criação dos novos céus e nova terra. Mas, ao invés de enfocar
estes fatos globais, nosso Senhor aponta para o fato escatológico que se dirige a
cada um de nós: "eu o ressuscitarei no último dia." O éscaton, para nós, significa
ressurreição. E ressurreição é vida, não morte; é começo, não fim. Sim, é claro que
por ocasião da ressurreição dos mortos também haverá o fim do mundo. Mas a
ênfase é outra. A ênfase do Senhor, para a qual chama a nossa atenção, é Sua
299
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
gloriosa obra de ressuscitar os mortos. De concretizar, ou, de tornar plena Sua obra
escatológica. Que já iniciou quando Ele veio ao mundo pela primeira vez.
É, numa semana onde se falou de escatologia como coisas lá do fim, talvez não
se tenha lembrado que, na visão bíblica, o éscaton já iniciou. Senão vejamos. O
apóstolo Pedro, em sua primeira carta, fala da primeira vinda de Jesus, dizendo:
"conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim
(éscaton) dos tempos, por amor de vós"(1 Pe 1.20). Paulo, aos Coríntios, lembra que
ele e seus leitores são, em Cristo, pessoas sobre quem "os fins dos séculos têm
chegado" (1 Co 10.11). E o nosso Senhor, em Seu ministério terreno, anuncia aos
que zombavam de Sua obra: "Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus,
certamente é chegado o reino de Deus sobre vós"(Mt 12.28). Em Cristo, em Sua
vinda como Deus encarnado e em Sua obra de esmagar a cabeça da serpente, está a
inauguração dos tempos do fim. Já aí fica evidenciado que a batalha final, ainda que
aguardada, já tem vencedor.
QUE FOI QUE
Que foi que Pedra re.:::~"Ô~::.:
dos críticos que, duvidar:é.
acha que alguém disse. c q'.::e::: -<:er
"que foi que Pedra realmô~.: _.: o-o
suas palavras?
Em nosso texto, Jesus nos leva a esta percepção da escatologia já iniciada,
quando nos assegura: "Quem crê, tem vida eterna"(Jo 6.47). "Tem"; não "terá"! Em
Cristo, a vida eterna é nossa, é garantida e pode ser, desde já, celebrada.
Mas antes disso pre=:s:.~'
pronunciou. E aqui há cec,.
antigas (Almeida Revistz, e c:
Cristo. Isto combina com '" , . -
Ainda estamos na expectativa. Ainda não é o fim. As marcas desta era - a presente
era má - estão aí. Há perseguições pelo mundo afora. A mensagem CllStãé debochada.
Irmãos nossos passam por tribulação. Talvez mesmo alguns de nós estejam vivendo
tempos de aflição e dúvida. Não, ainda não estamos no céu. Nossa escatologia não é
aquela do triunfaiismo barato. Nossa vida em Cristo é vivida em meio à cruz. Por isso
mesmo, as palavras do nosso Senhor são tão consoladoras e importantes: "Eu sou o
pão que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente"(Jo 6.51). É preciso
comer do pão da vida, que é Cristo. Ele vem a nós no Evangelho. Ele nos alimenta com
Seu corpo e sangue. Ele nos renova, fazendo-nos valer diariamente o batismo. Ele nos
conforta pela doce palavra de absolvição. Ele nos assegura da vida eterna, pela presença
e conforto de Sua palavra entre nós. Isto é o absolutamente necessário. Neste tempo
em que aguardamos a ressulTeição e celebramos o fato de que em Jesus, desde já temos
a vida eterna, que é para ser vivida, celebrada e testemunhada. Amém.
Mc e Lc). Mas exatamente:::significativo por parte dcs "'::~._ -Ficamos, pois, com a Alme;~: =
aceito (por, entre outras ·==:s:...·
Simão Pedra confessar: :\;
l'vfensagem proferida pelo Prof Gerson Luis Linden na devoção do
Seminário Concórdia em 13 de agosto de 1999, realizada na
capeia da Congregação São João Batista, em São Leopoldo.
L
Agora que sabemos o q.:: "Ô.:
quis dizer. Simão Pedra ccrre:: . .:
Deus. Santo é geralmeme :'.ce-c
conseguinte sagrado). Ag·::-:,. o::':;
de Jesus, equivaleria a dizer'~ ~
o Senhor é totalmente outr=. e:=
Pedra. Não no céu, mas na :: c __;. . ~
também o aspecto positi\·ci"Ô:::. :.
Deus. Ele é o Agente auu,:z.: ..
[Aliás, essa questão de agt·_
central do evangelho de J=.3..:: ou ao Filho, Jesus Cristo'] Te·
Deus. Às palavras de Jes::s
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Deus; o Deus unigênirc,
Pedra confessou: lU. Deus, que vem de Deus. e:~ ~
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300
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Igreja Luterana - N" 2 - 1999
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<~1!1Luis Linden na devoção do
agosto de 1999, realizada na
/oão Batista, em São Leopoldo.
::2
Que foi que Pedra realmente disse? Não, não estou fazendo a típica pergunta
dos críticos que, duvidando de tudo e de todos, querem distinguir entre o que se
acha que alguém disse, o que poderia ter dito, e o que ele de fato disse. Ao perguntar,
"que foi que Pedro realmente disse?", estou me perguntando: Que querem dizer as
suas palavras?
Mas antes disso precisamos determinar que palavras exatamente Pedro
pronunciou. E aqui há controvérsias. Em primeiro lugar, segundo traduções mais
antigas (Almeida Revista e Corrigida, por exemplo) Pedra confessou que Jesus é o
Cristo. Isto combina com a confissão de Pedra em Cesaréia de Filipe (segundo Mt,
Mc e Lc). Mas exatamente por combinar, e especialmente por ter um apoio menos
significativo por parte dos manuscritos gregos, cheira a harmonização dos copistas .
Ficamos, pois, com a Almeida Revista e Atualizada, que repraduz o texto grego hoje
aceito (por, entre outras coisas, ter a seu favor os melhores manuscritos), e faz
Simão Pedra confessar: Nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus.
Agora que sabemos o que ele disse, podemos nos perguntar quanto ao que ele
quis dizer. Simão Pedra confessou que Jesus Cristo é o Santo de Deus, o Kadosh de
Deus. Santo é geralmente interpretado no sentido de separado do profano (e por
conseguinte sagrado). Agora, esta é uma definição por demais negativa. No caso
de Jesus, equivaleria a dizer: O Senhor tem tudo a ver com Deus, é o Filho de Deus,
o Senhor é totalmente outra, etc. Acontece que Jesus está ali, na presença de Simão
Pedra. Não no céu, mas na sinagoga de CaÍarnaum. Por isso, é necessário enfatizar
também o aspecto positivo dessa santidade. Como Santo, Jesus representa e revela
Deus. Ele é o Agente autorizado de seu Pai. Jesus é aquele a quem o Pai enviou!
[Aliás, essa questão de agência e representação pode ser vista como o conflito
central do evangelho de João. Esse papel pertence à Lei e às instituições judaicas
ou ao Filho, Jesus Cristo?] Jesus é o mensageiro que vem do alto. Ele é o que revela
Deus. Às palavras de Jesus: Ninguém vem ao Pai senão por mim, poderíamos
antepor: "Ninguém vem do Pai senão eu". A confissão de Pedro é um eco ou faz
dobradinha com a confissão do evangelista em Jo 1.18: "Ninguém jamais viu a
Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou."
Pedro confessou: Tu, Jesus, és o Santo de Deus. És o Santo que pertence a
Deus, que vem de Deus, etc. Curioso é que esta é a primeira vez que Pedra fala, no
evangelho de João. E é, a rigor, apenas a segunda vez que se menciona Pedra. A
301
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
primeira menção é no capítulo primeiro. (Depois ele volta nos capítulos 13, 18,20 e
21.) André, o irmão de Simão Pedra, ouviu o testemunho de João (Ele é o Cordeiro
de Deus!), seguiu Jesus, achou seu irmão, Simão, e diz: "Achamos o Messias (que
quer dizer Cristo), e o levou a Jesus" (Jo 1.41-42).
JESUS
Aqui, no capítulo seis, na segunda referência a Pedra, ele na verdade apenas
repete o que ouviu de André: Tu és Santo de Deus (o Messias), o Agente de Deus,
aquele que traz vida eterna. Sim, confissões são feitas, são formuladas, mas
geralmente são aprendidas. Não foi diferente com Pedro.
Confissões são também feitas em determinado contexto.
Essa de Simão Pedra
aparece no sexto capítulo da história contada por João. João 6 é o discurso do pão
da vida, que explica o sentido mais profundo do milagre da multiplicação dos pães
e peixes. Ao longo do texto aparecem reações a esse discurso.
A primeira reação diante do sinal foi: "Este é, verdadeiramente, o profeta que
devia vir ao mundo" (6.14). A segunda reação foi o desejo de proclamar Jesus rei
(6.15). Jesus se retira e o cenário começa a mudar. Quando Jesus fala do pão que
desceu do céu, os judeus murmuram (6.41). Discutem entre si (6.52). A reação
negativa se espalha e chega aos discípulos. Muitos deles disseram: "Duro é este
discurso; quem o pode ouvir?" (6.60). Há murmúrio entre os discípulos (6.61).
Jesus declara que há descrentes entre eles (6.64). Daí muitos discípulos abandonam
Jesus (6.66). É um quadro pouco animador. E a coisa fica dramática quando Jesus
se dirige aos doze (aparentemente os únicos que restaram) e pergunta: "Será que
também vocês querem ir embora?" (6.67). Ele espera uma resposta negativa, e não
dá outra. Pedro, em nome deles, confessa: "Senhor, para quem iremos? Tu tens as
palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus."
A lição que fica é esta: A confissão é acima de tudo resposta à palavra de Jesus. No
caso, o discurso do pão da vida. Outra lição é que a confissão surge e ganha força num
contexto de conflito. Confissão de fé não é o óbvio da maioria, o mínimo denominador
comum da sensibilidade religiosa das pessoas em geral. Não, confissão de fé é um
"apesar de", um protesto da minoria de Deus geralmente num contexto de incredulidade.
Uma última lição é que os confessores sabem em quem eles crêem. "Nós temos
crido e conhecido", ou, talvez melhor, "nós de fato cremos e sabemos que o senhor
é o Santo de Deus." O confessor sabe em quem ele crê. Simão Pedro sabe que
Jesus, e somente Jesus, é quem revela Deus. É uma confissão de suma importância.
Por isso importam as palavras bem exatas e o que elas significam. Por isso é tão
importante a pergunta inicial: Que foi que Pedra realmente disse? Ele disse: Tu és
o Santo de Deus. E, muito embora estejamos mais perto do dia de Sto. Agostinho
(28 de agosto) do que de São Pedra (29 de junho), este é, num sentido bem especial,
um dia de São Pedra, do qual aprendemos a fé e como confessá-Ia. Amém.
Devoção proferida na capela do Seminário pelo
Dr. Vilson Scholz no dia 27 de agosto de 1999.
302
Este evangelho de M2I: c, :'
isso não apenas por ter sid:: :' ." .:'
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veste a carne humana, que c·e .::.
de anunciar vida e salvaçi\e - ..
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mim e a todos nós, assim eon'c c.
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mostra que ele suspira por cc:.
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o texto inicia dizendo ... _
sobre ele colocasse a mão. '
Não sabemos quem trouxe:,;:.
Podem ter sido os pais, os ir=~
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comunicar livremente. A su-:c::
humanas. A cegueira, por (:\c:::-:::,
afasta o surdo das pessoas. Se:'
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Observemos Jesus em _, .. _
o pedido, mas Ele vai além, \ 'c ,c.:
qual era o prablema do Ta,::::
rogaram-lhe que sobre de'
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Igreja Luterana - N° 2 - 1999
, :apítulos 13, 18,20 e
: ó .~:3.0 (Ele é o Cordeiro
-,: :-.::moso Messias (que
Jesus FAZ TUDO TÃO BEM
(MARCOS
7.31-37)
~lê na verdade apenas
<'s), o Agente de Deus,
S3.0 formuladas, mas
",0 6 é o discurso do pão
,;' ó ::: multiplicação dos pães
Este evangelho de Marcos é, para mim, um dos mais belos evangelhos. Digo
isso não apenas por ter sido pastor e missionário para surdos por muitos anos, mas
especialmente, porque vejo aqui um Jesus que de fato se fez came. Um Verbo que
veste a carne humana, que se envolve em toda miséria humana, com o único objetivo
de anunciar vida e salvação - falar a nossa língua.
:'.:eiramente, o profeta que
_., ó.:' de proclamar Jesus rei
.:':.:0 Jesus fala do pão que
.' :nre si (6.52). A reação
. ~ ó' disseram: "Duro é este
Quero deixar claro que a admiração por este evangelho não é só minha, mas a
mesma é compartilhada por muitos outros teólogos e estudiosos da Bíblia, entre
esses, destaco Lutero. Comentando o mesmo, ele diz o seguinte:
Essa de Simão Pedro
:":'re os discípulos (6.61).
_ :'S discípulos abandonam
:.::dramática quando Jesus
-.:> e pergunta: "Será que
__~.:: resposta negativa, e não
:.':':.:.:juemiremos? Tu tens as
. ,'lê tu és o Santo de Deus."
':.'rosta à palavra de Jesus. No
- -,,,",0 surge e ganha força num
:ria, o mínimo denominador
: ~:.. :"ão, confissão de fé é um
. - .-:' c.ontextode incredulidade.
"Esse evangelho nos apresenta a Cristo como o homem que aceita a você, a
mim e a todos nós, assim como devemos aceitar a nós mesmos, como se ele estivesse
envolvido no mesmo pecado e dano em que nós nos encontramos. E ainda nos
mostra que ele suspira por causa do diabo invejoso que deu origem a toda essa
defomwção." (Castelo Forte, 1983. Ter. 25/01)
I
o texto inicia dizendo ... "E lhe trouxeram um surdo e gago, e lhe rogaram que
sobre ele colocasse a mão. " (v.32)
Não sabemos quem trouxe esse rapaz! O evangelista Marcos não nos informa.
Podem ter sido os pais, os irmãos, quem sabe alguns amigos. Não importa. O que
importa mesmo é que "o trouxeram até Jesus!"
- :..óm eles crêem. "Nós temos
:.:',::s e sabemos que o senhor
: :.:.§ Simão Pedro sabe que
.'::ssão de suma importância.
:.' significam. Por isso é tão
.ó":te disse? Ele disse: Tu és
. ó:::' do dia de Sto. Agostinho
: ~. num sentido bem especial,
:.:·nfessá-la. Amém.
:: c'apela do Seminário pelo
dia 27 de agosto de 1999.
A razão? - essa é obvia. A busca pela cura. O desejo era que ele pudesse se
comunicar livremente. A surdez é sem dúvida uma das mais terríveis deficiências
humanas. A cegueira, por exemplo, afasta o cego dos objetos, das coisas. A surdez
afasta o surdo das pessoas! Sem audição - não há linguagem, não há diálogo - NÃO
HÁ COMUNICAÇÃO!
Observemos Jesus em ação em nosso texto ... Ele não se dispõe apenas a atender
o pedido, mas Ele vai além. Vejam bem - e isso é fundamental- ninguém disse a Jesus
qual era o problema do rapaz. Diz o texto: E trouxeram-lhe um surdo e gago e
rogaram-lhe que sobre ele colocasse a mão." (v.32), Sabemos da situação porque
o evangelista Marcos nos deixa informados.
303
Igreja Luterana - N° 2 - 1999
Mas voltemos a Jesus ... em sua onisciência, o Salvador sabe onde está o
problema. O v. 33 diz que: "Jesus, tirando-o da multidão, à parte ... "
Como será que Jesus fez isso? Será que Jesus o pegou pela mão? Poderia, mas
creio que não o fez' O surdo é uma pessoa extremamente desconfiada. Esse era o
primeiro contato de Jesus com o rapaz. Então o que Jesus faz? Ele conquista a sua
confiança. Como? Falando a sua língua!
Olhem o texto ... Jesus "fala" com o surdo. Jesus "diz" em sinais: "ei rapaz, vem
aqui." E este, prontamente, o entende e atende ao Seu sinal.
"Tirando-o da multidão ... " O surdo, com o tumulto da multidão, ficaria perdido
e confuso. Jesus está ciente dessa dificuldade - mas Ele tem a situação sob controle
- ele quer a atenção do rapaz surdo só para ele.
"Dedos nos ouvidos." O que Jesus está dizendo para o surdo? "É aí o seu
problema, não é? Eu sei!" Jesus não é apenas simpático com o surdo, mas é
profundamente empático. Ele se encarna na situação real do surdo. E com toda
sensibilidade se comunica de forma clara e inequívoca.
"Tocou a língua com saliva" Como se estivesse a dizer: "o teu problema vai
além dos ouvidos, não é verdade? Tu também não consegues falar."
Imaginem a cena ... Jesus tocando os ouvidos e a língua do surdo, e o mesmo
pensando: "Esse não é como os outros ... ele me entende. Ele sabe exatamente onde
está o meu problema!"
E Jesus vai adiante ... v.34: "Erguendo os olhos ao céu ... " A mensagem fica clara
para o surdo. A solução para o teu problema vem lá de cima. Deus - que compreende
e sente a tua necessidade - é quem vai te auxiliar.
;7
O resultado é imediato ... v.35: "abriram-se-lhe os ouvidos, e logo se lhe soltou
empecilho da língua, e falava desembaraçadamente. "
O milagre de Jesus é espantoso, pois é um milagre triplo. Explico. Nós falamos
porque ouvimos. Quando alguém é surdo desde pequeno - como aparenta ser o
'caso aqui - ele não tem o mesmo vocabulário de uma pessoa ouvinte, ele mal sabe
algumas palavras. Quando Jesus curou esse rapaz ele não só restabeleceu a sua
audição, como também lhe conferiu todo o seu vocabulário, pois, como diz o texto ..,
"e falava desembaraçadamente. " Mas e onde está o terceiro milagre? Após esse
contato com Jesus - o Verbo encarnado, tudo nos leva a crer que aquele rapaz foi
levado à fé e à salvação. E esse, sem dúvida, é o maior dos milagres.
E todos aqueles que presenciaram o oconido ... muito admirados, diziam: "Como ele
faz tudo tão bem!". Aqui ecoa Gênesis 1.31, quando diante de toda a sua criação Deus
dá o seu aval final. Diz o texto: "viu Deus tudo quanto fizera e eis que era muito bom. "
304
Ai está a escatolcz;c
- .-:- _-.
descreve (Is 35.1-6). l::"~~~:-c: -;
Cristo há plena restaurJ.';'" =- :
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Igreja Luterana - N" 2 - 1999
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desconfiada. Esse era o
faz? Ele conquista a sua
Ai está a escatologia inaugurada. Essa será a Sião futura, que o profeta Isaías
descreve (Is 35.1-6). Esse era de fato "aquele que estava para vir" (Mt 11.3). Em
Cristo há plena restauração - ele quer ver o homem sadio e feliz assim como o
Criador o havia idealizado - e Ele age para que isso ocorra. Cristo morre e ressuscita,
e quem nEle está é "nova criatura", as coisas antigas passam e eis que se fazem
novas (2C05.14-l5, 17).
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_... em sinais: "ei rapaz, vem
;mal.
_ ia multidão, ficaria perdido
cem a situação sob controle
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~: ::>arao surdo? "É aí o seu
. :-:-.;,áticocom o surdo, mas é
. ~: real do surdo. E com toda
': .l dizer: "o teu problema vai
. "segues falar."
..:.l:ngua do surdo, e o mesmo
. Ele sabe exatamente onde
. : iZi... " A mensagem fica clara
__ ': : lma. Deus - que compreende
Estamos no ano de 1963 ... o casal Arnildo e Alida Lindenjá tinham os seus quatro
filhos: Ester (11 anos), Ede Paula (10 anos), Elisete (9 anos) e Sérgio (perto dos 3 anos).
Elisete é a única "ouvinte" entre os irmãos, todos os outros nasceram surdos.
Ela está na 3" Série no Colégio Concórdia de Porto Alegre. A Professora de religião,
Sra. Naomi H. Warth, pede que a classe faça uma composição sobre o tema da aula
, Sou Cordeiro de Jesus .
A pequena Elisete faz a seguinte redação para a professora Naomi:
"Eu tenho 2 innãs mudas, mas eu mostro o retrato de Jesus e mostro que Jesus gosta
delas e elas amam a Jesus. Um dia vão falar, eu peço a Deus isso e eu vou ensinar para
elas isso: Eu sou cordeirinho de Jesus, ele me ama e morreu na cruz por mim. Vou
ensinar assim Jesus é meu Pastor, nada me faltará. Deus amou o mundo de tal maneira
... Filho unigênito para que todo que nele crê não pereça mas tem a vida eterna .
Jesus ajudou os cegos e mudos, ele pode ajudar minhas innãzinhas, ainda
mais porque eu ensinei para elas tudo de bonito de Jesus. Jesus eu te amo, ajuda
para mim. Jesus, um dia eu e minhas irmãÚnhas vão cantar o hino que minha
professora ensinou. Sou cordeiro de Jesus ... "
ouvidos, e logo se lhe soltou
Qual o resultado da carta? A Profa. Naomi visita a família Linden e inicia, por
assim dizer, o protótipo do que veio a ser mais tarde a Escola Especial Concórdia,
que veio a ser fundada oficialmente no dia 5 de setembro de 1966.
:;~e triplo. Explico. Nós falamos
: - ':~ueno . como aparenta ser o
_.. :, pessoa ouvinte, ele mal sabe
.~~ ':1e não só restabeleceu a sua
Hoje essa Escola tem 220 alunos, que são atendidos desde o Programa de Pais,
passando pelo Ensino Fundamental e Médio. Mas o seu objetivo primeiro jamais foi
abandonado - usando as palavras do Evangelho de hoje - "um grupo de pessoas
continua levando surdos até Jesus" (v.32).
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']lário, pois, como diz o texto ...
''':' : terceiro milagre? Após esse
a a crer que aquele rapaz foi
~.-. dos milagres.
.. admirados, diziam: "Como ele
~:.lnte de toda a sua criação Deus
';:era e eis que era muito bom."
E todos aqueles que conhecem o trabalho da Escola Especial Concórdia ... ou já
tiveram algum contato com ele ... professores, funcionários, pais de alunos, irmãos,
parentes e amigos ... muito admirados, continuam a dizer: "Como Jesus ... continua
fazendo tudo tão bem!"
Ali é possível ver a continuação do milagre do Efatá, o qual Marcos descreve de
forma tão maravilhosa em nosso texto ... Abre-te!
305
Igreja Luterana • N° 2 = 1999
Nesta Escola não são apenas ouvidos e bocas que são abertos, mas lá a força do
Evangelho escancara corações ... e a ação redentora de Cristo continua tendo livre
curso.
Ainda hoje é possível ver um Deus encarnado na pessoa de Seu Filho Jesus. Um
Deus Homem que vem para redimir e restaurar - dar urna nova vida, urna nova forn1a
a todos os homens (2 Co 5.17).
É, Jesus continua fazendo tudo tão bem!
Aquele grupo era testemunha da perfeita ação de Jesus em favor de seu amigo
surdo. Eles observaram a profunda compaixão de Cristo por seu amigo e sua grande
compreensão pela necessidade humana. Eles viram a sensibilidade de Jesus retirando o jovem da multidão, fazendo-se entender por ele. Ficaram maravilhados
diante do toque íntimo e pessoal de Jesus nos ouvidos e na língua do surdo. Então
não puderam mais se conter, quando este começa a ouvir e a falar sem nenhuma
dificuldade. Ah! Jesus ... nos desculpe, mas é impossível deixar de contar o que
aconteceu. E a conclusão era apenas uma: "corno Ele faz tudo tão bem!"
o que dizer de um Jesus que age assim? Somente que essa mesma compaixão,
esse profundo entendimento, esse magnífico poder que trouxe uma nova vida para
esse jovem surdo está à inteira disposição dos muitos surdos que por ai estão, e
também está à nossa inteira disposição.
o Jesus que fez tudo tão bem ... é o mesmo que continua a fazer tudo esplendidamente bem - hoje e eternamente. Que Seu maravilhoso Evangelho continue ecoando não somente em nossos ouvidos, mas especialmente em nossos corações. Amém.
Devoção proferida pelo Prof Ely Prieto no dia 10 de setembro de 1999,
na Capela do Seminário Concórdia.
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