SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO BÁSICA MOVIMENTO PARANÁ SEM CORRUPÇÃO Primeiro voto: o papel do jovem eleitor em relação ao combate à corrupção ROTEIRO – PLANO DE ATIVIDADE 2 IDENTIFICAÇÃO EQUIPE: Edson André Pegoraro, Wilson José Vieira. DISCIPLINA: Filosofia SÉRIE: 2º ano TEMPO PARA DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE (EM AULAS): 4 horas-aula TÍTULO DA ATIVIDADE: Política: Estado, Sociedade e Poder CONTEÚDO PRINCIPAL: Política CONTEÚDOS RELACIONADOS: Política, Ética, Sociedade e Democracia JUSTIFICATIVA Tendo nascido no mundo grego e sendo fruto da busca de explicações para a origem das coisas, a Filosofia desde o início debruçou-se sobre os temas políticos. A organização social e política dos gregos sempre despertou reflexões e propostas dos primeiros filósofos. Platão e Aristóteles foram homens que viveram num determinado contexto social e político e deixaram suas impressões sobre questões sociais e políticas. Assim, a filosofia não surgiu desvinculada do mundo concreto. É a partir da realidade que surgem os sistemas filosóficos. Com o passar do tempo, esta inserção da filosofia e de seus filósofos nas realidades sociais e políticas continuará caracterizando a evolução do pensamento filosófico. De tal maneira que todos os grandes nomes da filosofia apresentaram suas considerações sobre Política e Sociedade, dos primórdios da filosofia até os dias atuais. ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO a) Mobilização A atividade poderá ser iniciada com a leitura do texto “Sobre farinhas do mesmo e de outros sacos”, de Roberto Pompeu de Toledo (http://veja.abril.com.br/070499/p_150.html). O professor/a poderá fazer os seguintes questionamentos: Por que não contribui para o bom funcionamento da democracia a idéia tão brasileira de que todos os políticos são iguais? b) Problematização Enquanto problematização o professor/a poderá fazer os seguintes questionamentos: Que acontece a essa invenção humana para tornar-se um fardo de que gostaríamos de nos livrar? De onde deriva a imagem da política como um poder do qual somos vítimas tolerantes? c) Investigação O desenvolvimento teórico poderá ser feito principalmente a partir de textos da Antologia de Textos Filosóficos: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/cadernos_pedagogicos/cadern o_filo.pdf. Os textos que poderão subsidiar a investigação são os de Aristóteles (A Política) e Rousseau (Segundo discurso e Contrato Social). d) Criação de conceitos A percepção das diferentes concepções políticas e principalmente o contato direto com a fonte do problema em questão, por parte do estudante, possibilita o exercício de leitura do texto filosófico, requisito básico para que também se exercite na indispensável produção escrita em torno das reflexões realizadas. O objetivo central deste trabalho é fazer com que os estudantes possam ascender a uma concepção melhor elaborada relativa à política. ATIVIDADES E EXERCÍCIOS Uma sugestão de atividade é uma visita de campo aos três poderes instalados em seu município. Os estudantes poderiam entrevistar agentes do poder executivo: prefeito ou secretários; os vereadores no legislativo e o Juiz da comarca ou o promotor representantes do judiciário no município. AVALIAÇÃO A avaliação em Filosofia tem como papel central oferecer subsídios e quando necessário redirecionar o processo de ensino-aprendizagem. É importante ressaltar que a avaliação em Filosofia não tem como objetivo descobrir a quantidade de informações referentes a este ou aquele filósofo o estudante foi capaz de “guardar”, decorar. Em Filosofia o valor da avaliação está na possibilidade de que o estudante possa fazer uma experiência com conceito, isto é, a possibilidade de encontrar as ideias implícitas nos discursos, de apreender conceitos e construir seus próprios conceitos. Em filosofia política o processo avaliativo deverá levar em questão os seguintes itens: quais conceitos e discursos o estudante tinha antes de iniciar o estudo do tema e quais conceitos e discursos criou após o estudo dos conceitos relacionados ao conhecimento em Aristóteles e Rousseau. REFERÊNCIAS ARANHA, M. L. ; MARTINS, M. H. P. Filosofando - Introdução à Filosofia. 3ª ed. São Paulo: Moderna, 1993. ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BIGNOTTO, N. Maquiavel Republicano. Coleção Filosofia, volume 19. São Paulo: Loyola, 1991. BOBBIO, N. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Org.: Michelangelo Bovero. Trad.: Daniela Beccaccia Versiani. 11ª ed Rio de Janeiro: Elsevier / Ed. Campus, 2000. _____. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da política. Trad.: Marco Aurélio Nogueira.10ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. BURNS, E. M. História da Civilização Ocidental. Trad. de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallandro. 20ª ed. Porto Alegre: Editora Globo, 1977. CHAUÍ, M. Convite à Filosofia, São Paulo, Ed. Ática, 2004. CARDOSO, S. (Org.). Retorno ao Republicanismo. Coleção Humanitas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004. GRAMSCI, A. Maquiavel, a política e o Estado Moderno. Trad.: Luiz Máro Gazzaneo. 8ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991. INSTITUTO DE HUMANIDADES. Política: guias de estudo 3 - 4 - 5. São Paulo: Instituto de Humanidades, 1989. LEFORT, C. As formas da história: ensaios de antropologia política. São Paulo: Brasiliense, 1979. MORAIS, V. Antologia Poética. São Paulo: Cia das Letras, 1992. PARANÁ. Diretriz Curricular de Filosofia para a Educação Básica, Curitiba. 2008. _______. Secretaria de Estado da Educação. Livro Didático Público de Filosofia. 2 ed. Curitiba: SEED-PR, 2007. PINSKY, J. 100 textos de história antiga. 4ª ed. São Paulo: Contexto, 1988. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Trad. Lourdes Santos Machado. São Paulo: Abril Cultural, 1983. _________Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1999. SOUZA, M. T. S. R. de (Orgs.). O pensamento político clássico, cit. São Paulo Martins Fontes, 2003. WEFFORT, F. C. (Org.). Os clássicos da política. Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu, Rousseau, “O Federalista”. Série Fundamentos 62. São Paulo: Atica, 1989. ANEXO Sobre farinhas do mesmo e de outros sacos Não contribui para o bom funcionamento da democracia a ideia tão brasileira de que os políticos são todos iguais São todos iguais. Farinha do mesmo saco. É assim que o eleitor brasileiro, com frequência, se refere aos políticos. Seriam todos uns a cara esculpida e escarrada dos outros. Fazem promessas vãs. Eleitos, dão as costas ao eleitorado. Só se importam com os próprios interesses. E roubam, roubam. Se são todos iguais, como escolher entre um e outro? Como decidir em quem votar? Aliás, para que votar? A crença no "são todos iguais", muito partilhada no Brasil, é na verdade uma das principais responsáveis pelo mau funcionamento da democracia no país. O comentário vem a propósito do escândalo que envolve a administração da cidade de São Paulo. A partir do gesto destemido de uma professora de ginástica, que se recusou a pagar a propina exigida pelos fiscais da prefeitura para autorizar o funcionamento de sua academia e os denunciou, veio à tona todo um lamaçal de falcatruas, com ramificações em múltiplos cantos do Executivo municipal, passagem importante pela Câmara dos Vereadores e ímpeto que ameaça mesmo a cadeira do prefeito. Ao leitor de outros Estados o assunto pode parecer distante, mesmo o de São Paulo pode não se ter dado conta do tamanho do problema, mas a esta altura é permitido afirmar que o caso se equipara aos escândalos Collor-PC, Anões do Orçamento ou Precatórios. A maior cidade do país, ficou-se sabendo, era uma Chicago entregue a Al Capone, Bagdá abandonada a Ali Babá, Jerusalém doada aos incréus. E, diante dessa tenebrosa realidade, quais foram as reações? Duas foram muito comuns, a saber: 1. Sempre foi assim; 2. Todo governo faz isso. O "sempre foi assim" refere-se ao fato de sempre ter havido fiscais que exigem propinas. Certo, mas isso não impede que o fenômeno conheça variados graus de extensão, que os fiscais ajam mais ou menos à vontade segundo a leniência dos chefes e que o problema assuma proporções máximas quando se recobre, como é o caso, de formas institucionalizadas de planejamento das roubalheiras, arrecadação das prebendas e distribuição dos butins. O "todo governo faz isso" refere-se à questão, central no caso presente, de o prefeito ter entregue a vereadores o controle das chamadas administrações regionais. Certo, até na Alemanha, onde o Partido Verde ocupa alguns ministérios em troca do apoio ao governo social-democrata, se faz isso. A diferença é que em São Paulo a divisão obedeceu menos a esse padrão, ou mesmo ao padrão tradicional do patrimonialismo brasileiro, do que àquele pelo qual os bicheiros, no Rio de Janeiro, dividem as zonas da cidade. O "sempre foi assim" e o "todo governo faz isso", nem seria preciso acrescentar, servem de defesa aos implicados, direta ou indiretamente. "Todo fiscal é corrupto", disse, com a habitual imprudência verbal, o ex-prefeito Paulo Maluf, chefe do partido e patrono último da turma do escândalo. Os vereadores contemplados com o loteamento das administrações regionais têm se defendido com o "todo governo faz isso". Tanto o "sempre foi assim" como o "todo governo faz isso" remetem ao axiomamãe segundo o qual os políticos são todos iguais. Se não se acreditasse que todos são iguais, não se acreditaria que sempre foi assim nem que todo governo faz isso. Ora, acreditar que os políticos são iguais é, ao mesmo tempo, uma impossibilidade lógica e uma renúncia de direitos. Impossibilidade lógica porque nunca duas pessoas, mesmo que profissionais da mesma atividade, ou membros da mesma corporação, são iguais. Os advogados não são todos iguais, nem os pedreiros, nem mesmo os bandidos. É uma renúncia de direitos porque o cidadão que assim pensa mentalmente rasga o título de eleitor. Se é tudo igual, para que votar? O cidadão em geral acredita que os políticos são iguais de boa-fé, mas com isso acaba fazendo o jogo dos piores. São eles os principais interessados em que se acredite que "é tudo farinha do mesmo saco". O quadro que se revela em São Paulo é obra de um grupo específico, que já há dois mandatos toma conta da cidade e agora tem suas vísceras expostas. Um membro desse grupo, o vereador Wadih Mutran, ao ser entrevistado no programa Opinião Nacional, da TV Cultura de São Paulo, defendeu o colega Vicente Viscome, preso na semana passada, com o argumento de que Viscome é tão rico que "nem precisava ser vereador". Eis um cacoete de linguagem que vale por uma confissão. "Tão rico que nem precisava..." Isso revela uma concepção segundo a qual vai para a política quem precisa ainda enriquecer. O que ocorreu na cidade não ocorreu porque todos são assim, mas porque eles, os atuais detentores do poder municipal, são assim. Trata-se de um grupo que, a cada eleição, costuma dizer-se renovado, convertido dos pecados da vez anterior, mas que, a cada nova oportunidade, mostra-se, ele sim, mais igual ainda a si mesmo. Construir uma democracia supõe saber distinguir diferenças. Começaremos a construir a nossa quando deixarmos de acreditar que é tudo a mesma coisa. Fonte: http://veja.abril.com.br/070499/p_150.html