Uma publicação da Igreja Batista da Lagoinha Edição outubro/2008 Gerência de Comunicação Ana Paula Costa Transcrição: Else Albuquerque Copidesque: Adriana Santos Revisão: Ana Paula Costa e Marcelo Ferreira Capa e Diagramação: Luciano Buchacra Introdução Amados, assim como as ovelhas (naturalmente falando), temos inclinação para desgarramos ou desviarmos do aprisco, da presença do Senhor. A boa notícia é que mesmo que tenhamos nos afastado dos caminhos do Bom Pastor, Ele está pronto a nos buscar e perdoar. Mas, para que isso aconteça, o primeiro passo a ser dado é o de reconhecermos a culpa. É preciso que saiamos do caminho errado e retornemos ao caminho que nos leva à salvação. Portanto, precisamos nos arrepender. E é sobre o arrependimento que vamos falar neste livreto. Na segunda parte dessa nossa Série, vamos fazer um breve estudo acerca do silêncio de Deus. Silêncio é a maneira de dizer, claro, pois Deus sempre nos fala. Nós é que 5 não reconhecemos seus sinais. E em muitos momentos da nossa vida, parece que há somente silêncio. Em tais momentos, somos vulneráveis a suposições e conclusões erradas acerca da vida e sobre Deus. Mas será que podemos ouvir a voz de Deus no silêncio? Em tudo, há um propósito do Eterno. Precisamos entender que Deus se comunica de diversas maneiras com aqueles que realmente o buscam. Querido, abra o seu coração e absorva a mensagem que o Espírito Santo preparou para você. E uma boa leitura! 6 Parte 1 Encarando a realidade Certa vez, conheci um moço cujo dente começou a doer. Não era apenas um dente, mas vários. Porém, ele relutava em fazer o tratamento dentário. Quando decidiu ir ao dentista, foi vencido pelo medo da broca, aquele aparelho de uso comum dos dentistas e tão conhecido nosso, que põe medo em muita gente. Pois bem! Na verdade, esse moço a que me refiro estava à procura de um paliativo (que só tem eficácia momentânea ou incompleta). Ele queria um tratamento indolor, e ele, de fato, encontrou. O “profissional”, literalmente, tapou os buracos e as dores parecem ter cessado. Satisfeito, 7 o moço dissera a si mesmo: “Ufa! Estou livre dessa dor. Fim do problema!” De fato, a dor desapareceu. Mas sua satisfação durou pouco. Decorridos alguns dias do “tratamento”, uma forte infecção ocorrera, e a dor voltara, agora muito mais forte. Agora desesperado, o moço teve de procurar um dentista de verdade, um profissional de fato. E, novamente, a broca, o motorzinho, entrou em ação. Era a hora de o moço lidar com a dor, com o sofrimento. E a dor e o incômodo foram inevitáveis. Contudo, a grande diferença é que agora o mal seria tratado pela raiz. Ao contar este fato, quis ilustrar uma realidade em nossa vida. Não adianta mascarar os nossos “buracos” – que são os pecados –, pois Deus tudo vê. Não existem fórmulas ou métodos paliativos. Precisamos sim ir à raiz de nosso pecado, se quisermos encontrar a cura. O que Deus mais deseja é que fiquemos livres da dor de nosso pecado. E só há uma maneira para se consertar diante do Senhor: arrependimento. Uma palavra muito importante agora. Muitas vezes, achamos que arrependimento é apenas para os assassinos, para as garotas de programa, para os ladrões, para aqueles que cometem “grandes” pecados. Porém, pra Deus, não há “pecadinho” ou “pecadão”. Pecado é pecado. Um mentiroso ou omisso é tão pecador quanto um assassino, um ladrão ou uma prostituta. É interessante que no Novo Testamento encontramos nove palavras gregas que descrevem a palavra pecado. Encontramos também 8 21 listas de pecados, e nestas listas, contamos 222 pecados. Se separarmos os pecados que foram repetidos ou que estão nas outras listas, vamos encontrar cerca de 100 pecados. Muitas vezes, achamos que esta questão de arrependimento não é para o crente, que quem tem que se arrepender é o ímpio, o imoral. Quando lemos a carta do apóstolo Paulo aos Romanos, capítulos 1 e 2, vemos três classes específicas de pecados: os “pecados obscenos”, os “pecados acadêmicos” ou “filosóficos” e os “pecados religiosos”. Creio que todos têm uma compreensão de arrependimento, no intelecto, mas o arrependimento tem que sair da cabeça e chegar ao coração. Tenho lidado com pessoas que têm vivido na prática pecaminosa e não têm manifestado qualquer sinal de arrependimento por seus atos. E isso muito tem me incomodado. Arrependimento só é arrependimento quando há dor. Não há arrependimento sem dor. Na morte horrível da cruz, Jesus sentiu as mais fortes dores. Veja o que o salmista Davi escreveu no Salmo 32: “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada, cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não atribui iniqüidade e em cujo espírito não há dolo. Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a tua mão pesava dia e noite sobre mim, e o meu vigor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha iniqüidade não mais ocultei. Disse: Confessarei 9 ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniqüidade do meu pecado. Sendo assim, todo homem piedoso te fará súplicas em tempo de poder encontrar-te. Com efeito, quando transbordarem muitas águas, não o atingirão. Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento. Instruir-te-ei e te ensinarei o caminho que deves seguir, e, sob as minhas vistas te darei conselho. Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem. Muito sofrimento terá de curtir o ímpio, mas o que confia no Senhor, a misericórdia o assistirá. Alegrai-vos no Senhor e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos, que sois retos de coração.” Mais que ninguém, Davi sabia da dor e das terríveis seqüelas e conseqüência de se conviver ou mesmo compactuar com o pecado. O Salmo 51 foi escrito por ele na ocasião em que o profeta Naamã o repreendera severamente por causa de seu pecado de adultério com BateSeba, esposa de um servo-soldado seu, chamado Urias. (Veja 2 Samuel, capítulos 11 e 12.) No verso 4 do Salmo 51 (primeira parte do verso), Davi, em arrependimento, admite seu erro: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que era mal perante os teus olhos [...]” Nos versos 5 e 10, ele clama, angustiado: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me e ficarei mais alvo que a neve. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro em mim um espírito inabalável.” E já findando seu salmo, Davi afirma, em tom de admoestação: “Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não 10 te agrada de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás. Ó Deus.” (Versos 16 e 17). Traduzindo: arrependimento é o que Deus quer. Em todo esse contexto e acerca do que disse, essa é a minha oração: “Pai, esta é a tua Palavra. Que ela seja viva para cada um de nós. Senhor, dá-nos a graça de ouvirmos o que tu queres que cada um ouça; não o que queremos ouvir, mas aquilo que precisamos ouvir. Que a unção do Senhor esteja na vida de todos que lerão a tua Palavra. Em teu precioso Nome. Amém!” Na raiz da questão Para que possamos entender, de fato, a extensão do que é o pecado e, mais ainda, do arrependimento para não cometê-lo, é preciso ir a fundo na questão. Primeiramente, entendamos a questão do pecado. Etimologicamente, a palavra “pecado” tem um significado muito interessante, que é “errar o alvo”. O pecado é quando deixamos de cumprir o propósito de Deus para a nossa vida. Esse é o grande alvo de Deus para nós: o de que atinjamos o alvo, que descubramos o chamado e propósito dele para cada um de nós. E errar o alvo é errar o rumo. E quando não se sabe onde se quer chegar, qualquer lugar é qualquer lugar. Deus tem um alvo, um propósito para a sua vida, mas quando você erra esse propósito, aí está o pecado. 11 Só existe uma coisa que toca e que resolve esta situação profunda do pecado: o arrependimento. O princípio essencial do pecado é o egoísmo. “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho”, disse o profeta Isaías (Isaías 53.6). Deus tem o seu caminho, mas o egoísmo nos leva a viver o nosso próprio caminho, a nossa própria vontade, o nosso querer. Não pense que pecado é apenas o que consideramos ser grave. Pecado é uma atitude do coração. Não pense também que Jesus viera simplesmente para mudar a sua vida. De fato, ele pode sim, fazer isso. Mas mais que mudar a sua sorte, ele que mudar o seu coração. Você precisa entender que a vida cristã é muito mais do que liberar a pessoa de determinados pecados. Basicamente, o pecado é uma atitude aberta e declarada de rebeldia, o mesmo que dizer: “Eu quero fazer a minha própria vontade, eu quero viver independente de Deus. Eu tenho que ser senhor da minha própria vida”. Ainda que nem todos digam isso, para Deus, assim que o pecado é visto. E como para Ele, o que conta é o coração! O apóstolo Paulo, em sua segunda carta aos coríntios (2Co 5.15), escreve acerca de Jesus: “E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” Viver em pecado, é viver para si. E o que é, então, a salvação, o perdão, o arrependimento? É sacrifício. “E ele morreu por todos, para os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” 12 Quando uma pessoa vem para Jesus e experimenta a salvação, há uma mudança profunda. Quando ela decide deixar de viver somente para a sua própria vontade, ela passa a ter um sonho, um desejo diferente: o de fazer a vontade do Pai! Amado leitor, talvez você questione: “Mas, pastor, se eu for viver desta maneira, a minha vida não vai ter sentido, não vai ter propósito! Porque, afinal, temos que curtir a vida, com tudo o que temos direito!” Entenda, querido(a) que nossa vida só é vida quando a vivemos de acordo com a vontade e os planos de Deus. Esclarecido então a questão do pecado, entendamos agora o arrependimento. O que é o arrependimento? Com certeza, não é remorso. É mudança de atitude. Arrependimento é lamentar-se, é afligir-se, é tomar um novo caminho, é uma mudança radical de atitude para com o pecado e para com Deus; é aquele sentimento de preocupação e pesar, e não simplesmente remorso. Há uma diferença tremenda entre arrependimento e remorso. O que é o arrependimento? É como alguém que está andando na contra-mão ou na via proibida, mas, ao perceber que está no caminho errado, ela toma uma nova direção. Arrependimento não é simplesmente a tristeza por ser pego no erro, ou se envergonhar do pecado, mas uma mudança radical de atitude, de direção. Vou explicar a diferença entre arrependimento e remorso novamente. Você conhece a história de Pedro, aquele homem cheio de fé, que caminhou sobrenatural13 mente sobre as águas ao encontro do Senhor? Pois bem! Pedro era um homem impulsivo, explosivo. Num mesmo instante em que era tomado pela fé, era tomado pelo medo. Só para exemplificar, houve um momento quando ele, de uma forma tão terrível, negara a Jesus, a ponto de afirmar quando acuado pelos soldados romanos que o procuravam: “Eu não o conheço, eu nunca o vi, eu não tenho parte alguma com ele”. Ainda que tomado pelo instinto de sobrevivência, pois temia pela morte caso confessasse abertamente que não só o conhecia, mas era seu discípulo, é fato que ele o negara. E ele sabia de seu erro, do que fizera, pois quando o negara na casa do sacerdote, tão logo vira Jesus olho a olho, seu semblante caíra em profundo amargor e grande angústia de espírito que, naquela hora, saiu dali e chorou amargamente, arrependido. Um fato, porém, merece destaque. A atitude de Pedro fora sincera, de profundo e genuíno arrependimento. Por que digo isso? Porque quando Jesus ressuscitara, Ele fizera questão de que Pedro soubesse disso. Veja o que ele dissera a Maria Madalena, a Maria (mãe de Tiago) e a Salomé quando foram visitar o túmulo, agora vazio: “[...] Ide, dizei a seus discípulos, e a Pedro [...]” (Marcos 16.7). Ante ao choro amargo e genuíno de Pedro ante a seu erro, pergunto: quando é que choramos amargamente, como sinal ao nosso arrependimento? E respondo: é quando choramos compulsivamente, a ponto de praticamente não termos mais lágrimas para serem derramadas. Não lágrimas por lágrimas, mas lágrimas como sinal de 14 contrição e desejo de não mais pecar. Quando choramos de dor por algo que tenhamos cometido, o arrependimento é genuíno. Outro que podemos citar nesse contexto é Judas. Ele traíra a Jesus por trinta moedas de prata. Contudo, aquelas moedas como que começaram a queimar nas suas mãos. A sua consciência fora dominada pelo remorso. Mas era remorso sem arrependimento, visto que o remorso sempre busca justificação, uma desculpa, a transferência de responsabilidade. Judas procurara o sacerdote, a fim de devolver as moedas. (Veja o relato em Mateus 27.1-10.) Judas não estava arrependido, mas imerso em remorso, diferente de Pedro, que saíra e chorara amargamente, mas em sincero arrependimento. As Escrituras não registram o arrependimento de Judas, mas sua omissão ao se enforcar. Quero, então, apresentar algumas razões porque devemos nos arrepender. Não gostamos muito de ouvir sobre isto, mas não tenho outra palavra de Deus para você neste momento. A mensagem de Deus para o coração do homem é a de arrependimento. Assim lemos em Atos 17.30: “Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam.” Talvez diga: “Eu, pastor?!” Isso, você mesmo(a)! Jesus disse: “[...] pois não vim chamar os justos, e sim pecadores (ao arrependimento).” (Mateus 9.13). Muitas pessoas não entendem o verdadeiro sentido do Evangelho. Alguns acham que Jesus Cristo veio para 15 que vivam sem problemas. Não, ainda que ele seja a solução para muitos de nossos dilemas. Jesus disse: “Eu vim chamar pecadores ao arrependimento.” A pessoa que não entende a realidade do arrependimento, age como aquele moço que mencionei no início dessa mensagem que procurara tratamento dentário, mas optara, de início, por um paliativo, o que significa que ele apenas mascarara o problema. Quando se trata de pecado, não há meio termo ou paliativos. É preciso ir à raiz. E a raiz é o arrependimento, e nunca o remorso. “[...] agora, porém, notifica aos homens, que todos, em toda parte, se arrependam.” (Atos 17.30). Afaste-se do pecado Jesus nos mandou pregar o Evangelho. E a mensagem do Evangelho é, antes de tudo, a mensagem do arrependimento. É verdade que pregamos o amor, a misericórdia, a bondade, mas, basicamente, não podemos deixar de pregar o arrependimento. Veja o que está escrito em Lucas 24.47: “[...] e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.” Jesus mandou que se pregasse “arrependimento para remissão de pecados a todas as nações”. A única maneira de a pessoa resolver o problema de uma vez para sempre do pecado é buscando o arrependimento, ainda que isso envolva a dor, como fruto de uma genuína transformação de dentro para fora. Isso é arrependimento, e não remorso. 16 Hoje vemos tantas pessoas que simplesmente fazem uma decisão ao lado de Jesus, mas sem arrependimento. Em Hebreus, capítulo 6, encontramos os fundamentos da fé, e o primeiro fundamento é o arrependimento. Jesus Cristo disse que dois homens foram construir suas casas, casas magníficas, mas um deles construiu sem alicerce, sem um sólido fundamento. O que aconteceu? Um dia, o vento soprou com fúria, a chuva veio e os rios transbordaram. A casa que fora construída sem fundamento, ruíra. A outra que fora construída sobre um alicerce sólido, não ruíra, ainda que experimentando também a fúria do vento, o transbordar dos rios, a chuva inclemente. Qual a diferença? Uma foi construída sem fundamento, enquanto a outra fora construída com fundamento. Sempre que se encontra uma pessoa que desiste de caminhar com o Senhor ou que naufraga na fé, que vive sempre como um ioiô – uma hora lá em cima, outra lá embaixo; no domingo toma posse da vitória, mas na segunda-feira, a derrota toma conta dele – é bem provável que ela não só esteja em pecado, mas também não tratando desse pecado. Essa instabilidade espiritual pode ser a conseqüência da falta do primeiro fundamento da fé, que é o arrependimento. Filho, o vento vai soprar, os rios vão transbordar, a chuva virá como um dilúvio, e aquele que não tiver o conhecimento da vontade do Senhor Jesus no que se refere ao arrependimento, ruirá como a casa sem fundamento. Você pode ser religioso e até mesmo membro de igreja. 17 Você precisa ter esta compreensão. Por isto, Jesus nos ensinou a proclamar o Evangelho para “que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados”. Muitas vezes, a pessoa vem para Jesus e continua com o velho estilo de vida. Porém é preciso abandonar os vícios que levam à morte eterna. Aquele que mentia, não minta mais; aquele que adulterava, não adultere mais; aquele que roubava, não roube mais, ou seja, é preciso arrepender-se dos erros cometidos. Arrependimento leva a uma restauração, ao acerto com Deus. A título de exemplo de quão é importante nos arrependermos, gostaria de citar o país de Gales, que experimentara um grande e verdadeiro avivamento. Tal avivamento fora tão real e quase que palpável que em algumas fábricas do país, os funcionários foram constrangidos pelo Espírito de Deus a devolverem inúmeros objetos que haviam sido furtados. Esta atitude só foi possível porque os funcionários aceitaram a instrução de Deus e obedeceram aos seus mandamentos. Um dos sintomas que podemos identificar como algo errado em nossa saúde ou com a de alguém próximo é a falta de apetite. Pode ser oferecido o prato mais saboroso, mas ao olhar para o alimento, não há desejo nenhum em comê-lo. Na saúde espiritual é assim também. Aquilo que dava muito prazer, passa a ser recusado. Perde-se o “apetite” em meditar na Palavra de Deus, em ir às reuniões de célula ou de oração, e por tudo o mais que diz respeito ao Reino. E essa falta de apetite para com as coisas de Deus 18 pode levar à morte espiritual. E quando há morte, não há sensibilidade. Nada mais parece incomodar ou causar dor. O pecado se tornou algo tão natural, sem importância, que pode ser até mesmo justificado. E em relação ao pecado, não se justifica, mas se confessa. Se a insensibilidade ao pecado é sinal de morte espiritual, o arrependimento é sinal de vida, uma evidência clara de uma mente transformada e um coração puro e sincero – coisas que Deus jamais despreza (Veja Salmo 51). Muitas vezes você fica questionando: “Por que isto, por que aquilo?” Na época de Jesus, aconteceu um episódio muito semelhante ao “Onze de Setembro” (guardadas as devidas proporções, claro). Ocorrera em Jerusalém a queda de uma torre, que matara muita gente. Era a Torre de Siloé. Muitos afirmaram que a tragédia acontecera pelo fato de as pessoas daquele lugar serem pecadoras, e por isso, morreram porque mereceram. Mas veja o que está escrito em Lucas, capítulo 13, versos 1 a 5: “Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” 19 Jesus não jogava fora uma única palavra. Ele não falava palavras ao vento. Se você observar os versos 3 e 5, verá que Jesus fora categórico ao afirmar que não havia diferença entre aqueles que morreram na tragédia e aqueles que julgavam ser diferentes dos galileus. No verso 3 se lê: “Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” E no verso 5, lemos: “Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.” O que leva a ter o livramento e não perecer? O que evita a morte? A resposta é uma só: o arrependimento. Se você não se arrepender, você perecerá. É o que diz o Senhor. Liberte-se do pecado Todos queremos a vida, e a vida que Jesus tem é muito mais do que existir. Não fomos chamados apenas para ocupar um espaço no Planeta. A vida é bela, é gloriosa, mas Jesus definiu a vida dizendo: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (João 10.10). Olhe o que está escrito em Atos 11.18: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida.” O arrependimento conduz à vida, enquanto que o não-arrependimento conduz à morte. Tudo na vida é uma escolha. Você escolhe arrepender-se ou não. Você escolhe olhar para a comida e só admirá-la, ou admirá-la, mas também comê-la. 20 O arrependimento é tudo. Assim lemos na Palavra: “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.” (Atos 2.38). Também lemos no capítulo 3, verso 19, de Atos: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados.” O que é conversão? Converter é mudar a mente e a maneira de pensar acerca de você mesmo e a do próximo. Converter é mudar também a maneira de pensar acerca de Deus. Por isto é que eu disse que a essência do pecado é o egoísmo. Quando a pessoa vem para Jesus, ela passa a entender que não se vive mais para si mesmo, mas para Jesus. Aquele que deseja conhecer a verdade, precisa passar pela porta do arrependimento. Está escrito em 2 Timóteo 2.25: “Disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade [...]” Quando você escolhe viver o arrependimento, você passa a conhecer plenamente a verdade. Filho, não existe nada mais glorioso do que conhecer a Deus, conhecer a Verdade. Mas para isso, é necessário passar pelo arrependimento. Vamos encontrar na Bíblia registros em que Jesus e os discípulos pregaram sobre o arrependimento. A bondade de Deus nos conduz e nos leva experimentar o arrependimento, conforme está registrado em Romanos, capítulo 2, versículo 4: “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e 21 tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” Tudo o que Deus deseja é que você experimente o arrependimento. Deus é bom, sempre bom e sempre está disposto a nos conceder mais uma nova chance. Você vai desprezar a riqueza da bondade dele? Deus é tão bondoso que deu o Único Filho para padecer, sofrer e morrer em nosso lugar. Se estamos vivos não é porque temos boa saúde ou porque somos jovens, mas porque há um Deus misericordioso e bondoso nos concedendo a vida. Paulo assim escreveu (em Romanos 2.4): “Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância [...]” Paulo aqui mostra que Deus concede tempo para você se arrepender. Mas ele ainda continua: “[...] ignorando que a bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento?” É bom lembrar que bondade não é complacência. Com Deus não se brinca e dele não se zomba. Pode ser que você esteja na fornicação, no adultério, na imoralidade, enfim, cometendo pecado que você sabe muito bem qual é, mas por saber que Deus é bondoso, abusa e aproveita, e ainda protela o acerto com ele para “um dia desses, quem sabe!”. Querido, este tempo que Ele está dando a você, por bondade, é somente para você fazer uma coisa: se arrepender. O tempo é hoje, agora. É a bondade e a longanimidade dele oferecendo este espaço de tempo na sua vida para que você se arrependa. “A bondade de Deus é que te conduz ao arrependimento.” Quando você peca, 22 você fere a pessoa que mais o ama: Jesus Cristo! Não deixe Jesus longe de você. Não entristeça o Espírito Santo. A nossa fé é alegre, autêntica. A fé cristã é algo que contagia, que causa impacto, mas nem por isso, deixamos de ferir Aquele que mais nos ama quando cometemos o pecado: Jesus Cristo. O quê nos conduz ao arrependimento? A bondade de Deus. Jesus disse: “Eu vim chamar pecadores ao arrependimento.” (Lucas 5.32). Por que pregamos o Evangelho? Por que muitos, em várias partes do mundo, neste momento, estão ouvindo a mensagem do Evangelho? Porque Deus escolheu um caminho, por meio do qual as pessoas pudessem se arrepender, que é a pregação da Palavra. Nossas mensagens são centradas na Palavra, porque aquilo que vai provocar o arrependimento no coração das pessoas é a pregação da Palavra de Deus. A Escritura registra que “aprouve a Deus salvar os homens pela loucura da pregação” (1 Coríntios 1.21). Deus escolheu este método, o método da proclamação, da pregação das boas-novas. Também lemos em Mateus 12.41: “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas.” Meus irmãos, queremos ver a nossa nação salva, porém o caminho que Deus determinou para a salvação é por meio da pregação do Evangelho. Seja pela televisão, pelo rádio, pela internet, por livros, jornais, panfletos, pela sua vida. E muitas vezes, a pessoa não suporta a mensa23 gem do arrependimento porque incomoda, toca na ferida. Muitas vezes, ela quer ouvir o que para ela é agradável, mas é preciso ouvir o que Deus tem a dizer. E o Pai diz que aquele que não se arrepender, perecerá. Oro para que todos possam entender esta verdade! A cidade de Nínive só foi salva porque muitos creram na pregação e se arrependeram. Algo que entristece a todos é a decepção com alguém próximo a nós. Seja traição, fofoca, inveja etc. Irmãos podem ferir e magoar. Mas a Palavra nos ensina: “Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.” (Mateus 18.15). Ao repreender alguém, apontamos um dedo para o irmão, porém não podemos nos esquecer que quando apontamos um dedo para alguém, apontamos também um dedo para Deus e três para nós mesmos. Alguns irmãos não gostam de participar de uma célula por causa da aproximação, da intimidade que se cria ao longo do tempo. Por ser um grupo com poucas pessoas, aquele que comete algum deslize, é repreendido imediatamente, pois, dificilmente, conseguirá esconder o erro dos irmãos. Por este motivo, muitos decidem não fazer parte de algo tão precioso e importante na caminhada cristã: a célula. Repreender alguém pelo erro é uma prova de amor que se tem pelo irmão. O próprio Jesus afirmou: “[...] Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.” (Lucas 17.3). Existem dois tipos de tristeza. Uma segundo os valores de Deus e a outra segundo os valores dos homens. A que se re24 fere a Deus, aquela que o incomoda quando comete um erro, quando o Espírito Santo começa a inquietá-lo e a que se refere aos homens, quando há tristeza em razão da exposição de um erro de alguém descoberto por todos. Quando, por exemplo, alguém bate à sua porta, chamando a atenção de todos os vizinhos e expondo a pessoa ao constrangimento. A Bíblia registra o que produz realmente a tristeza segundo Deus: “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte.” (2 Coríntios 7.10). Esta é a principal diferença entre os dois tipos de tristeza. Quando nos entristecemos pelos nossos pecados, nos arrependemos. Enquanto que a tristeza do mundo causa apenas vergonha e remorso. E saiba que o remorso pode levar a pessoa a se matar. Há algum tempo, li uma estatística terrível. Uma pesquisa concluiu que no mundo, a cada quarenta segundos, uma pessoa se mata. O suicídio mata mais do que todos os acidentes de carro e que todos os assassinatos no Planeta. Muitos se matam por causa do remorso. Por causa de um pecado, de culpa não resolvida. Os jornais, por um aspecto ético, não podem trazer notícias de suicídio. Como é triste quando alguém acaba com a própria vida! A vida é preciosa, é dádiva do Senhor, e o caminho do arrependimento está diante dela. Escolhas Tudo na vida é uma escolha. Ou você escolhe arrepender-se para ter a vida ou escolhe continuar no erro 25 para perecer. Assim dissera o Senhor Jesus à igreja de Tiatira (Apocalipse 2.21): “Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se [...]” A igreja escolheu não se arrepender. Meus irmãos, temos que nos arrepender, como Igreja, por não vivermos uma vida de santidade diante de Deus, pois este é o nosso primeiro chamamento. Temos que arrepender por não levarmos o Evangelho a outras pessoas. Temos de nos arrepender por estarmos, muitas vezes, com o coração insensível. Veja o que está escrito ainda em Apocalipse, capítulo 2, agora nos verso 5 (e esta palavra é para mim e para você): “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” Essa foi a carta do Senhor Jesus à igreja de Éfeso. Você pode até cair, mas só não pode ficar prostrado. Você precisa se levantar e voltar à prática das primeiras obras, arrepender-se. Na história do filho pródigo, o moço caiu vergonhosamente. Saiu de casa para viver, com todo o dinheiro da herança, uma vida dissoluta, imoral, perversa. Perdeu o nome, a dignidade, a pureza, perdeu tudo. Passou a viver entre porcos. Mas pela bondade de Deus, os olhos daquele jovem foram abertos, e ele se arrependeu, a ponto de dizer a si mesmo: “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e perante ti, já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um de seus trabalhadores.” (Lucas 15.18). Ele se arrepen26 deu e manifestou o arrependimento quando ele disse: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai”. O arrependimento começa quando você se levanta. Para caminhar sobre as águas primeiramente é preciso sair do barco. No caso do arrependimento, não é diferente. A pessoa precisa se levantar e não ficar prostrada. A Palavra revela que “o pecado não terá domínio sobre vós”. O Senhor Jesus continua a admoestar, a corrigir, a Igreja. Ainda em Apocalipse 2, agora no verso 16, lemos: “Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.” No capítulo 3, verso 3, está escrito: “Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como um ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti.” No verso 19, ainda no capítulo 3 de Apocalipse, lemos: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te.” Interessante o que Davi afirmara em um de seus salmos: “Se eu atender a iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá.” (Salmo 66.18). Muitas vezes, guardamos o nosso coração por causa do orgulho e pensamos: “O que os outros irão pensar ao meu respeito?” Muitas vezes o orgulho humano, diabólico, nos leva à destruição. Mas o arrependimento precisa passar pela cabeça e chegar ao coração, pois o arrependimento não é uma doutrina. A única pessoa que conhece o coração do homem é Deus. O Espírito Santo é o único que sonda os corações. “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, vê se há em 27 mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno”, escreve Davi (Salmo 139.23-24). Deus não nos chamou para sermos religiosos, mas para sermos filhos. Entretanto, para vivermos e desfrutarmos da vida que Deus tem para cada um de nós, é preciso haver arrependimento dos pecados. “Arrependei-vos por que está próximo o reino dos céus”, pregava João Batista (Mateus 3.3). Arrependimento é a mensagem. Arrependimento é o caminho, é a porta. “Arrependei-vos, arrependeivos”, pregava enfaticamente João. Arrepende-se, quem sabe, da indiferença em sua vida. Talvez você não tenha pecados obscenos, “filosóficos”, religiosos, mas você percebe a indiferença no seu coração. Ore e arrependa-se. Esta é a hora do marido voltar-se para a esposa e dizer: “Perdoe-me”. De o pai dizer para o filho: “Perdoe-me”. De o filho voltar-se para o pai e dizer: “Me perdoe”. Tudo o que precisamos é tomar posse da bondade de Deus, aproveitar deste tempo e nos arrepender. A nossa vida precisa ser a vida que Deus sonha que tenhamos. Eu preciso me converter e mudar os meus conceitos acerca da realidade da vida cristã, que é a vida de Deus em minha vida: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.” (Gálatas 2.20). Amada ovelha, amado leitor, que você tenha consciência desta verdade. Se desejar, ore comigo assim: “Não serei destruído porque tenho este conhecimento, mas, muitas vezes, eu o desprezo. Tenho vivido longe desta verdade, por isso me arrependo agora e quero começar uma 28 nova etapa na minha vida, vivendo intensamente para o nosso Deus. Selo mais uma vez o meu compromisso de viver no altar do Senhor, sendo uma bênção, segundo a vontade de Deus. Em nome de Jesus, amém!” Eu abençôo e oro por você, para que jamais perca a sensibilidade do arrependimento. Jesus disse: “Eu sou a porta.” (João 10.9). E a maneira de você entrar por essa Porta é pelo arrependimento e pela fé. Que você possa entrar e tomar posse da vida eterna. Arrependimento de fato e em obras Em Atos 26.19-20 está registrado o encontro de Paulo e do rei Agripa. Vejamos: “Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento.” Uma das evidências da salvação é a prática de obras dignas de arrependimento. Você vai demonstrar o arrependimento não com palavras, mas com atitudes, com obras, com frutos. “Praticando obras dignas de arrependimento.” Para você que entregou a sua vida a Jesus, este é o momento de praticar obras dignas de arrependimento. E para você que ainda não fez a entrega da sua vida a Jesus, veja o que a Palavra tem a lhe dizer: “Converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.” (Isaías 55.7). 29 Tudo o que você tinha que fazer para ser salvo, Jesus já fez por você. A salvação é um dom, um presente, e Jesus morreu em seu lugar, para lhe dar a vida. Mas você precisa arrepender-se, converter-se. Converter vem de conversão, que é mudança, giro. É mudar sua maneira de pensar acerca de si mesmo, dos outros e de Deus. A Bíblia revela que você é um pecador e está separado de Deus, e que você não é justo pelos seus próprios méritos. No momento em que você se arrepende e convida Jesus para entrar na sua vida, você experimenta o milagre, tornando-se justo aos olhos do Senhor. Deus passa a vê-lo como se você nunca tivesse cometido um único pecado. “Arrependei-vos e convertei-vos.” Mude a maneira de pensar a respeito de si mesmo. Mude a maneira de pensar a respeito de Deus. Arrependa-se. Saiba que Deus se importa com você. Ele o ama, e a prova desse amor foi a entrega de seu único Filho para morrer em seu lugar! 30 Parte 2 O SILÊNCIO DE DEUS O silêncio é um sinal que todos conhecem. Fazemos um minuto de silêncio em razão da morte de alguém. Fazemos silêncio em hospitais. Fazemos silêncio em locais onde os profissionais precisam se concentrar. Desejamos silêncio para dormir. Enfim, os exemplos são inúmeros. Certa ocasião, tive a informação de que nos Estados Unidos estava sendo vendido um aparelho que bloqueava a poluição sonora. Mesmo que a pessoa tivesse em meio a ruído, ao barulho, não ouviria nada ao colocar o aparelho nos ouvidos. Era possível desfrutar de um silêncio absoluto. Algumas vezes, o silêncio nos faz tão bem! 31 Mas em alguns momentos, esse mesmo silêncio nos perturba tanto! E ele é tão paradoxal que ao mesmo tempo que nos faz bem, pode também nos machucar e trazer inquietação. E creio que um tipo de silêncio que muito nos inquieta é o de Deus. No Salmo 83, verso 1, Davi inicia a oração dizendo assim: “Ó Deus, não te cales; não te emudeças, nem fiques inativo, ó Deus!” Davi tinha ouvido a voz do Senhor por muitas e muitas vezes e por isso sabia o que é andar ouvindo a voz Deus. Mas, aparentemente, Deus se silenciara, a ponto de Davi se sentir inquieto e perturbado com isso. Por que, muitas vezes, Deus permanece em silêncio? Percebo que o silêncio de Deus (como as palavras dele) sempre tem um propósito redentor. Precisamos interpretar tanto a voz quanto o silêncio de Deus. Se deixarmos o nosso coração absorver esta verdade, seremos capazes de entender, de uma forma muito profunda, o silêncio do Senhor, nas nossas vidas. O silêncio do Senhor como julgamento Algumas vezes, o silêncio de Deus é tomado como uma voz de julgamento. Você se lembra de quando era criança, fazia uma traquinagem e ficava a espera da correção de seus pais e eles ficavam em silêncio? Não pronunciavam uma única palavra! Ficava uma interrogação no ar, a decepção. Algumas vezes, o silêncio traz mais reprovação do que as palavras. 32 Uma das maneiras mais profundas de reprovação é o silêncio. Existe um tipo de punição que, muitas vezes, o marido ou a esposa impinge um ao outro: “greve de palavras”. Não é julgamento, mas carnalidade quando um deixa de falar com o outro. Não é isso que as Escrituras revelam. Pelo contrário. Em algumas passagens, percebemos Deus em silêncio. Houve, por exemplo, uma ocasião em que os filhos do sacerdote Eli viviam uma vida corrupta, de pecado, sem nenhum parâmetro na Palavra do Senhor. Assim lemos: “Era, pois, mui grande o pecado destes moços perante o Senhor, porquanto eles desprezavam a oferta do Senhor.” (1 Samuel 2.17). Os filhos de Eli viviam deliberadamente em pecado, em corrupção, longe do Senhor. E como conseqüência, “o jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli. Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram freqüentes” (capítulo 3, verso 1a). A palavra do Senhor era mui rara; o silêncio era o julgamento do Senhor, exatamente em razão do pecado. Os sacerdotes deviam trazer a Palavra do Senhor, como os profetas também. O silêncio de Deus provocou em Israel fome de Deus, fome da Palavra do Senhor. Algumas vezes, o silêncio de Deus, como julgamento sobre a Terra, provoca fome. Algumas vezes, quando aparentemente não conseguimos ouvir a voz de Deus, ouvimos tanto barulho, tanta agitação e então começamos a ter fome da Palavra, um desejo tremendo de ouvi-lo, mas parece que Ele não fala. Outras vezes, vivemos em peca33 do, descaradamente, e esperamos até ouvir uma palavra de condenação. Mas parece que Deus não fala. O próprio silêncio do Senhor é uma expressão do julgamento dele sobre a nossa vida. É interessante como o silêncio traz julgamento. No capítulo 8 do Evangelho de João, versos 1 a 11, encontramos um episódio tremendo. O silêncio de Jesus falava de uma forma muito mais eloqüente do que muitas palavras. “Jesus, entretanto, foi para o monte das Oliveiras. De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado os ensinava. Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinado-se, escrevia na terra com o dedo. Como insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais velhos até os últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava. Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e não peques mais.” 34 Meus irmãos, quando trouxeram aquela pobre moça e a colocaram em pé diante daqueles fariseus enfurecidos, religiosos, legalistas, hipócritas, maculados por pecados, querendo levar ao cumprimento da lei de Deus, mas sem a graça, eles disseram: “Ela deve ser apedrejada, precisa morrer; e tu o que dizes?” Mas Jesus não disse uma só palavra. No versículo 7, vemos a insistência deles: “Fala, queremos ouvir, tu o que dizes?” Insistiam, porém Jesus não disse absolutamente nada. Muitas vezes, o silêncio de Deus traz julgamento. Jesus simplesmente escrevia no chão. Não sabemos o que Ele escrevia, mas foi algo tão forte que, depois de terem insistido tanto com Ele, se retiraram. Jesus não disse o que pensava a respeito da mulher. Disse apenas àqueles homens: “O que dentre vós estiver sem pecado seja o que lhe atire a primeira pedra, e todos foram embora.” E à mulher Ele disse: “Onde estão os teus acusadores? Mulher, eu te perdôo, vai e não peques mais, tenha um novo começo na tua vida. Eu te ofereço uma nova oportunidade.” A Bíblia nos fala de uma forma muito clara sobre o silêncio do Senhor como um julgamento. O silêncio do Senhor como expressão da sua misericórdia Algumas vezes também, Deus se recusa a falar conosco, não como forma de julgamento, mas como uma expressão da sua misericórdia. Isso porque Ele nos dá tempo. Assim afirmara o profeta Isaías: “Ele foi oprimido 35 e humilhado, mas não abriu a sua boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca.” (Isaías 53.7). Quando Ele foi preso, Pedro estava ali e já havia cortado a orelha de alguém. Porém, Jesus disse: “Pedro, se eu quisesse, se eu falasse uma única palavra, todo o exército celestial estaria ao meu dispor. Pedro, bastaria uma palavra minha e todos seriam dispersos.” (Mateus 26.53). Uma única palavra, mas o silêncio de Jesus traduzia misericórdia. “Como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca.” Quando levado perante Pilatos, jogado de um lado para o outro, Ele não abriu a sua boca. Quando foi indagado sobre o que era a verdade, Jesus poderia ter exposto tudo. Muitas vezes, o silêncio do Senhor é uma expressão da sua misericórdia. O silêncio do Senhor como um teste Muitas vezes, o silêncio do Senhor é um teste para a nossa vida. Encontramos, no livro de Jó, um homem sendo testado. Parecia que o Senhor o havia abandonado. Tantos por quês. Tantos achismos. Mais do que a enfermidade que corroia o corpo de Jó, o que o incomodava era exatamente o silêncio de Deus. Entretanto, ele pôde guardar no seu coração o seguinte: “Ainda que Ele me mate, eu continuarei confiando nele. Sei que ele me ama, sei do caráter dele, sei que ele tem o melhor para a minha vida em todas as circunstâncias. Ele é fiel, eu sei. Sei que Ele pode falar com voz de trovão, mas pode falar, também, em meio ao silêncio. Preciso apenas ouvir a sua voz”. 36 É interessante o que o Senhor falou para Ezequias: “[...] Deus o desamparou, para prová-lo e fazê-lo conhecer tudo o que lhe estava no coração.” (2 Crônicas 32.31). Algumas vezes experimentamos o silêncio do Senhor. Há muitas pessoas que, no silêncio do Senhor, colocam para fora tantas situações, as mais diversas, que estão dentro do coração. O silêncio do Senhor como um pedido para esperarmos Outras vezes, o silêncio do Senhor é tão perspicaz no sentido de compreendermos o que queremos, como aquela mulher Cananéia, que foi atrás do Senhor para buscar alívio para a sua filha e o Senhor não a ouviu. Não é que o Senhor não escutasse, mas Ele estava testando se era exatamente aquilo o que ela queria (Mateus 15.21 a 28). Outras vezes, Deus silencia porque não damos tempo para Ele falar. Falamos tanto que não oferecemos espaço para Ele falar conosco. “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus”, escreveu Davi no Salmo 46. Aquietai-vos, calaivos! Quantas vezes o silêncio que nos envolve é exatamente para esperarmos. Veja o que está escrito em Isaías 30.15: “Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranqüilidade e na confiança, a vossa força, mas não o quisestes.” No verso 18, lemos: “Por isto, o Senhor espera, 37 para ter misericórdia de vós, e se detém, para se compadecer de vós, porque o Senhor é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam.” No meio da agitação, o Senhor espera que você se aquiete. Muitas vezes o coração fica conturbado e o Senhor espera para ter misericórdia de vós. O silêncio do Senhor como expressão de graça e de amor A Palavra diz que o Senhor se cala por amor. Nossas maiores alegrias, nossas maiores tristezas, também são compartilhadas em silêncio. A alegria pode causar silêncio, assim como as tristezas. Como precisamos interpretar o silêncio de Deus! Como precisamos crescer na apreciação da sabedoria dele! Quando entendemos e sabemos que somos amados, podemos confiar nele de verdade. O silêncio de Deus, assim como as palavras, para nós, é uma outra expressão da graça infalível do Senhor. “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo. Espera, ó Israel, no Senhor, desde agora e para sempre.” (Salmo 131). Precisamos do silêncio e da Palavra. Precisamos interpretar o silêncio do Senhor! Como é preciso descansar no caráter do Senhor! Filho, que o Pai abra os seus olhos. Que 38 você possa vê-lo e ouvi-lo, mesmo em meio ao silêncio. Mesmo que seja como expressão de julgamento, ou de amor, ou de misericórdia, ou de espera. Precisamos entender e ouvir o silêncio do Senhor! Deus abençoe! Pr. Márcio Valadão 39 Uma publicação da Igreja Batista da Lagoinha Gerência de Comunicação Rua Manoel Macedo, 360 - São Cristóvão CEP 31110-440 - Belo Horizonte - MG www.lagoinha.com 40