O USO ESCOLAR DO SENSORIAMENTO REMOTO Marcos Roberto Martines [email protected] Curso: Geografia Ricardo Vicente Ferreira [email protected] Curso: Geografia Resumo O uso de imagens de satélites e recursos computacionais nas aulas de Geografia é recorrente hoje em dia, no entanto, o uso de suas potencialidades para o aprendizado pode estar sendo subestimado. É possível que alguns professores estejam se perguntando quais procedimentos se pode adotar para utilizar esse recurso de forma mais integrada na sala de aula? Que conhecimento técnico é necessário para o bom aproveitamento das imagens de satélites que hoje são disponibilizadas na internet? Estas e outras questões podem estar surgindo na mente daqueles professores que querem transitar em novas tecnologias aplicadas às aulas de Geografia que são abordadas nesse artigo The use of satellite images and computational resources in geography lessons applicant is today, however, the use of their potential for learning is underestimated. It is possible that some teachers are wondering what steps you can take to use this feature in a more integrated way in the classroom? That technical knowledge is required for the proper utilization of satellite images that are available today on the internet? These and other issues may be emerging in the minds of those teachers who want to transition into new technologies applied to geography lessons that are discussed in this article Palavras-chave: Sensoriamento Remoto, Educação ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2045 EIXO 15 - A Geografia na educação básica: metodologia, tecnologia e formação docente I - Introdução Quando se fala em imagem de satélite parece algo muito distante de nossa realidade. De fato os satélites estão a centenas de quilômetros de distância da superfície terrestre, mas as imagens produzidas por eles podem estar bem perto de nós. O uso de imagens de satélites e recursos computacionais nas aulas de Geografia é recorrente hoje em dia, no entanto, o uso de suas potencialidades para o aprendizado pode estar sendo subestimado. É possível que alguns professores estejam se perguntando quais procedimentos se pode adotar para utilizar esse recurso de forma mais integrada na sala de aula? Que conhecimento técnico é necessário para o bom aproveitamento das imagens de satélites que hoje são disponibilizadas na internet? Será que o resultado final dessa prática é realmente válido? Estas e outras questões podem estar surgindo na mente daqueles professores que querem transitar em novas tecnologias aplicadas às aulas de Geografia. O recurso do sensoriamento remoto tem a propriedade de integrar diferentes temas do currículo de Geografia do ensino básico. Através da interpretação de imagens de satélite é possível abordar elementos da natureza e da ocupação humana de forma integrada, e ainda discutir sobre a espacialização desses fenômenos na superfície terrestre. É possível, ainda, obter uma compreensão mais clara de temas relativos à natureza, ocupação humana, dimensão espacial (escala), contiguidade espacial, localização, direção, entre outros. É importante destacar que, para o bom uso dos recursos computacionais e dos produtos de sensoriamento remoto, aqui nos referimos especificamente às imagens digitais. II - Sensoriamento remoto O sensoriamento remoto é uma tecnologia que está relacionada com a obtenção à distância de dados sobre a superfície da Terra, podendo tais dados ser apresentados na forma de imagem ou não. É importante que os alunos compreendam que as imagens de satélites são geradas de forma diferente daquelas produzidas pelas câmaras fotográficas. Os princípios físicos dos sensores remotos se relacionam com a ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2046 captura da energia emitida ou refletida pela superfície terrestre (figura 1), nesse sentido, passam por temas como: radiação solar, comprimento de onda, campo eletromagnético, tecnologia das câmeras digitais, propriedades da luz e formação das cores. A discussão desses e outros aspectos podem servir como currículo integrador da geografia e da física em torno do estudo do sensoriamento remoto. A própria evolução da tecnologia dos sensores remotos coincide com fatos históricos importantes da sociedade moderna. Já é sabido que o conhecimento sobre o espaço sempre foi um quesito fundamental para que povos e nações, em diferentes momentos históricos, estabelecessem relações de controle e poder sobre o território. Tal fato ocorreu acompanhado do conhecimento sobre o espaço e dos avanços adquiridos em cartografia. Atualmente, pode-se dizer que as tecnologias dos sensores remotos, ao se prestarem a esse fim, substituíram os antigos mapas analógicos e estabeleceram uma nova relação no processo de aquisição e manipulação de dados espaciais. A partir de informações instantâneas processadas em alta resolução temporal, espacial e espectral, os satélites artificiais obtêm dados bastante precisos sobre a superfície terrestre, sendo hoje um dos principais instrumentos utilizados na análise ambiental e planejamento físico-territorial. Figura 1 Durante a fase de aquisição de dados pelos sensores, podem-se distinguir os seguintes elementos básicos: energia radiante, fonte de radiação, objeto (alvo), ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2047 trajetória e sensor. A radiação eletromagnética pode percorrer vários caminhos antes de atingir o sistema sensor. (FONSECA, 2000, p. 16 III - Processo histórico Pesquisas sobre a história dos mapas pode trazer luz sobre como o conhecimento sobre o espaço geográfico sempre foi importante para as sociedades em diferentes momentos históricos. A evolução das técnicas cartográficas culmina nos dias atuais com o advento das geotecnologias, sendo o sensoriamento remoto parte fundamental desse segmento. Hoje é comum falar sobre a qualidade técnica e instrumental da cartografia digital, sistemas de informação geográfica e sensoriamento remoto, mas pouco se comenta sobre os processos históricos que os engendraram. É conveniente traçar um histórico aglutinando os diferentes campos do conhecimento que influenciaram o desenvolvimento desses saberes e os imperativos sociais, políticos e econômicos que fizeram parte desse processo. Disciplinas como a Biologia e a Química podem contribuir com o conhecimento dos ecossistemas e o meio ambiente. Pela interpretação das imagens, os alunos podem identificar biomas terrestres, ambientes áridos e úmidos através de elementos básicos presentes na imagem, tais como: tonalidade/cor, textura e localização. Podem também notar indicadores de poluição em ambientes aquáticos explorando, por exemplo, a relação existente entre a qualidade da água de um rio, lago, represa ou oceano (manifesta nas diferentes tonalidades ou cores da imagem) e os componentes químicos e orgânicos da água, que podem ser determinados por análises químicas em laboratório. Nos programas dessas disciplinas poderão ser elaborados estudos explicativos de tais fenômenos (FLORENZANO, 2002, p. 94). IV - In loco Outra possibilidade interdisciplinar diz respeito ao estudo do meio ambiente através de visita ao campo. Ao elaborar um roteiro, é importante que os alunos aproveitem o percurso da viagem para fazer observações, constatar na paisagem como se dá a organização espacial dos objetos e como os mesmos podem ser identificados através de chaves de interpretação. Com base nas imagens, os estudantes exercitam o senso de direção e intuição, por meio de comparações e deduções, prevendo quais elementos aparecerão ao longo do percurso. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2048 Poderíamos aqui enumerar outras possibilidades de uso das imagens orbitais e fotografias aéreas em sala de aula, todavia, os próprios educadores podem descobrir por si só novas estratégias. O uso do sensoriamento remoto como recurso didático no processo de aprendizagem deve servir para desmistificar a ideia de que uma tecnologia de ponta é algo distante da escola (SANTOS, 1999 p. 41). Ao contrário, atualmente, com o advento da informática e da internet, torna-se cada vez mais fácil a aquisição de dados de sensoriamento remoto. Muitos institutos de ensino de Geografia, Agronomia, Geologia, Biologia, entre governamentais como EMBRAPA e o INPE têm outros; bem como órgãos desenvolvido pesquisas em sensoriamento remoto e geoprocessamento, disponibilizando diversos materiais para consulta em suas bibliotecas, laboratórios e em páginas da internet. Tudo isto tem contribuído para que professores e alunos atualizem seus conhecimentos e possam utilizar cada vez mais e com maior facilidade essas informações. De modo geral, o uso escolar do sensoriamento remoto pode contribuir para que a função da escola e do ensino de Geografia não perca significado na atualidade. Acreditamos que esses e outros recursos colaboram no exercício da cidadania, no preparo do indivíduo na construção de seu espaço de vivência e, consequentemente, na qualidade de vida. Fonte: EMBRAPA, disponível em www.cnpm.cdbrasil.embrapa.br Composição: R. V. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2049 Ferreira V - Imagens de satélite e cartografia O principal objetivo das imagens de satélite é possibilitar a realização de análises e interpretações do espaço geográfico. No caso do uso dos computadores existe a possibilidade de alteração da escala de visualização de uma imagem, ou seja, é fácil ampliar e reduzir uma imagem, colocando em evidência alguns detalhes da representação. Na Figura 2 tem-se a visão parcial da zona oeste da cidade de São Paulo. Observe o detalhe da concentração de prédios destacado pelas cores mais escuras na imagem, isso se explica pelas sombras por eles geradas (Consolação e Jardim Paulista); presença de algumas áreas verdes representadas pelas manchas que variam de tom laranja a vermelho; as fronteiras entre os bairros (linhas pretas) foram sobrepostas à imagem, na qual também é possível notar como os rios Pinheiros e Tietê funcionam como organizadores desses limites. É mapeando que os alunos aprenderão manipular de forma consciente as informações cartográficas, bem como se familiarizarão com as convenções utilizadas pela cartografia e, gradativamente, perceberão a importância das representações gráficas em Geografia (SOUZA e KATUTA, 2001, p. 134). É comum notar que, na maioria das vezes, os alunos não adquirem independência nem tomam consciência das possibilidades de uso dos mapas. Tomam-nos, muitas vezes, como mera ilustração de textos, fazendo observações que se resumem apenas ao conteúdo da legenda, não avançando para a formulação de ideais através de relações e deduções. É importante educar o aluno nesse sentido, pois a cartografia é uma linguagem gráfica, e como tal, se insere no universo da comunicação social, que por sua vez opera por meio de recursos visuais (MARTINELLI, 2003b, p. 13). Nas palavras de Simielli (apud Souza e Katuta, 2001, p. 117), “o mapa é um instrumento comumente usado na escola para orientar, localizar e informar”. O mapa deve ser uma simplificação da realidade e sua leitura não deve exigir do usuário amplos conhecimentos da técnica cartográfica. Enfim, o uso desse instrumento visa à observação indireta de fenômenos geográficos por meio de representações gráficas. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014 2050 Isolando objetos distintos através da percepção visual seletiva – cor, tamanho, textura, forma, padrão, sombra e localização (MARTINELLI, 2003a, p. 15), os alunos podem mapear o espaço por meio de imagens e fotografias, selecionando elementos de interesse temático. Como fora observado por Florenzano (2002), “interpretar fotografias ou imagens é identificar objetos nelas representados e dar um significado a esses objetos”. Referências 2051 FLORENZANO, T. G. Imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: Oficina de textos, 2002. MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto, 2003b. SOUZA, J. G.; KATUTA, Â. M. Geografia e conhecimentos cartográficos. São Paulo: Ed. Unesp 2001. ISBN: 978-85-99907-05-4 I Simpósio Mineiro de Geografia – Alfenas 26 a 30 de maio de 2014