CAPITALISMO E CLASSES SOCIAIS NO CINEMA Bruna Pereira da Luz (IS/UEL) Ariovaldo Santos Oliveira (orientador), e-mail: [email protected] UEL-Universidade Estadual de Londrina, CLCH-Centro de Letras e Ciências Humanas, Departamento de Ciências Sociais. Ciências Humanas / Sociologia Palavras-chave: Luta de Classes, Trabalho, Capitalismo Resumo O estudo teve por finalidade resgatar a categoria classes sociais e luta de classes a partir da leitura feita sobre o problema pelos escritos de Marx e de Engels. Para isto valeu-se das análises produzidas por Marx e Engels a partir do Manifesto do Partido Comunista, no qual a problemática das classes sociais e das lutas de classes ao longo da história comparecem fundamentadas naquilo que posteriormente ambos denominaram por concepção materialista da história. Neste percurso de investigação do objeto o estudo incorporou, também, leituras contemporâneas sobre o tema, tais como as feitas por Steven Marglin, André Gorz e, mais recentemente, David Harvey, autor que teve publicada recentemente no Brasil obra na qual procura fazer uma releitura atualizada da obra maior de Karl Marx, o Capital. Das leituras buscou-se apreender a importância de se resgatar o debate sobre capitalismo, classes sociais e luta de classes uma vez que a literatura mais recente tem colocado esta investigação em segundo plano e a substituído por outros temas tais como os de gênero, raça, identidade. Com isto, abandona-se, ao mesmo tempo, uma real problematização a respeito das contradições sociais que marcam as sociedades contemporâneas bem como as análises estruturais, que procuram pensar a vida social em sua totalidade e não a partir de aspectos parciais. Introdução e objetivo O desenvolvimento da sociedade capitalista produziu uma vasta literatura analítica a respeito da estrutura da vida social e, em particular, do capitalismo e das classes sociais. Ainda que Marx e Engels não tenham sido os únicos, no século XIX e início do século XX, a se debruçarem sobre este objeto, ressaltando-se, por exemplo, os esforços desenvolvidos por Weber e Durkheim dentro de referenciais analíticos distintos, coube a Marx e Engels realizarem a 1 leitura do problema a partir do que denominaram por concepção materialista da história. Por outras palavras, partindo do reconhecimento de que existe uma categoria central, o trabalho, ambos analisaram como este atua como elemento mediador entre o ser social e as condições objetivas, geralmente chamada por natureza, de modo a colocar em processo uma transformação continua das condições materiais de existência e, com elas, do próprio ser que opera sobre elas. É a partir daí que Marx e Engels chegam à formulação de modo de produção, mostrando que ele se transforma ao longo do desenvolvimento histórico, para apresentarem o capitalismo enquanto um estágio mais avançado de sociabilidade em relação às formas anteriores. Contudo, o desenvolvimento histórico comporta contradições e o modo de produção capitalista não está isento a elas. Dentre as contradições que perpassam esta forma de sociabilidade Marx e Engels apontam para aquela expressa pela relação trabalho assalariado e capital, que configura, no plano social, nova maneira de exploração social bem como da luta de classes. Ao resgatar a análise realizada por Marx e Engels sobre a sociedade capitalista, enquanto produto do desenvolvimento histórico mais geral, a pesquisa teve por finalidade compreender o que ambos os autores compreendiam por categorias como trabalho, exploração e, em particular, capitalismo e classes sociais. Tratou-se, a todo momento, de centrar a atenção neste tema com a finalidade de obter subsídios para, em investigações posteriores, compreender melhor a sociedade contemporânea e as transformações operadas pelo modo de produção capitalista no conjunto das relações sociais. Procedimentos metodológicos A pesquisa foi realizada essencialmente valendo-se de artigos e textos centrados na discussão sobre capitalismo e classes sociais. Por uma questão de recorte, optou-se por realizar esta leitura investigativa a partir dos textos de Marx e Engels, ainda que ambos não tenham sido os únicos que tenham se debruado a investigar, naquele período, a sociedade capitalista. Importante ressaltar que tanto Marx quanto Engels destacam, em vários momentos, que para a investigação que fizeram revelar avanços, tiveram de respaldar-se em investigações anteriores fornecidas pela econômica clássica, em particular, Adam Smith e David Ricardo. De posse do material buscou-se compreender como ambos os autores analisam a sociedade capitalista enquanto uma totalidade social, bem como a adoção, por parte de ambos, de um determinado referencial metodológico ancorado na dialética materialista, isto é, a investigação do processo de desenvolvimento da vida social a partir de configurações específicas assumidas pela relação ser social e natureza, mediadas pelo trabalho. 2 Resultados e discussão Para a bolsista, a pesquisa permitiu uma melhor compreensão do que é a sociedade capitalista e as bases nas quais está assentada, ainda hoje, a vida social. Embora tenha sido uma pesquisa fundamentalmente ancorada em uma determinada bibliografia, a pesquisa permitiu pensar, inicialmente, a partir da grade de textos selecionados, primeiro, a necessidade de sair de uma leitura fenomênica sobre a sociedade capitalista, aquela que ancora-se na compreensão de que existem bons e maus capitalismos. Foi possível perceber, no conjunto de textos investigados, que o capitalismo possui uma estrutura e que esta determina uma forma específica de existirem as relações sociais. Portanto, as contradições do capitalismo não decorrem de um mal gerenciamento da vida social mas resultam, sim, de seus próprios limites internos. Um segundo resultado obtido pelo pesquisador foi a compreensão de que, embora importantes, as leituras sobre o capitalismo precisam ser reatualizadas uma vez que a vida social se transforma. Neste sentido, foi de fundamental importância, sempre compreendido a vida social como processualidade, entrar em contato com a leitura de André Gorz sobre os mecanismos de dominação dentro do espaço fabril, no capitalismo recente, o que aponta para a persistência das contradições envolvendo a relação capital e trabalho. Igualmente significativo foi ler capítulos da releitura que Harvey realiza do capital, uma vez que o capitalismo, em sua fase atual, em termos de forças produtivas, é bem distinto daquele analisado por Marx e por Engels no século XIX. Conclusão Através das leituras foi possível observar que o tema das classes sociais ainda é pertinente para a análise da sociedade contemporânea. Apesar de ter passado por profundas transformações, já reconhecidas por Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, quando afirmam que a sociedade burguesa precisa provocar continuamente uma revolução nas forças produtivas e, com elas, nas próprias relações sociais de produção, as contradições básicas que atravessam a sociedade capitalista tenderam a se aprofundar durante o século XX e continuam a se tornar mais agudas no século XXI. Como continua ancorada na relação capital e trabalho, as classes continuam a ser uma categoria pertinente de análise, inclusive no quadro da economia mundializada de hoje. O estudo permitiu verificar, também, como são produzidas e reproduzidas as condições de desigualdade social resultantes da estrutura de 3 classes e os mecanismos de dominação que o capital coloca em funcionamento para continuar controlando a força de trabalho. Agradecimentos Ao meu orientador Ariovaldo Santos de Oliveira que me ajudou no desenvolvimento desse trabalho; À Fundação Araucária pelo incentivo e financiamento desse trabalho. À Universidade Estadual de Londrina na qual estou inserida. Referências BEBEL, Auguste, La Mujer y el Socialismo. Ed. AKAS, México, 1977. GORZ, André. O despotismo de fábrica e suas conseqüências. Crítica da divisão do trabalho, v. 2, p. 79-90, 1980. HARVEY, David. Para entender O capital. São Paulo: Boitempo, 2013. HUBERMAN, Leo, História da Riqueza do homem, RJ. , Zahar Editores, 1984. MARGLIN, Stephen. Origens e funções do parcelamento das tarefas (Para que servem os patrões?). GORZ. André. org. Critica da divisão do trabalho. Tradução de Esteia dos Santos Abreu. São Paulo, Martins Fontes, p. 3777, 1980. MARX, Karl. A chamada acumulação primitiva. O Capital: crítica da economia política, 3ª ed, p. 828-882, 1980. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto Comunista, S. P. Boitempo editorial, 2014. 4