02. MICROECONOMIA 02.01. CUSTOS E OFERTA Examinaremos, agora, como os produtores agem. Eles nos fornecem alguns bens de baixo custo, outros bens de elevado custo e simplesmente não nos fornecem outros bens cujo custo seria proibitivo. Assim a oferta reflete custos. Mostraremos que a altura de uma curva de oferta reflete o custo margina. Alem disso, mostraremos como uma variação no lucro dos produtores (excedente do produtor) pode ser vista a partir de uma curva de oferta, assim como uma mudança no excede nte do consumidor pode ser vista a partir de uma curva de demanda. CUSTOS E OFERTA NO CURTO PRAZO O Gráfico 17.1a ilustra como os custos totais de uma empresa crescem à medida que eu produto cresce. Os valores do diagrama estão nas primeiras cinco colunas da Tabela 17.1.(Por enquanto, ignore as duas últimas colunas desta tabela.) Note, no Gráfico 17.1a que mesmo antes de começar a produzir (isto é, quando a produção é ainda zero), a empresa enfrenta um custo de $35. Por exemplo, juros sobre dinheiro tomado emprestado e depreciação de equipamentos serão custos mesmo que nada esteja sendo produzido. Estes são chamados de custos fixos (ou overhead), porque eles não variam com o aumento da produção, neste diagrama há sempre um custo fixo de $ 35, não importando qual seja a produção. Mas quando esta empresa começa a produzir, ela enfrenta também outros custos, os quais variarão com o nível de produção. Por exemplo, quanto maior a produção, maior a quantidade de trabalho que terá de ser empregado e maior a quantidade de materiais que deverá ser comprada. Quaisquer custos acima e além dos originais $ 35 de custo fixo são chamados de custos variáveis. Inicialmente, para manter a análise tão simples como possível, consideraremos que a empresa use somente dois fatores: (seu custo fixo) e trabalho variável). É claro (GRÁFICO) que, no logo prazo, uma empresa pode variar não somente o trabalho, mas também seu capital, através da adição de equipamentos e edificações. Mais adiante, neste capítulo, estudaremos, este caso; por enquanto, nos concentraremos no curto prazo, o período no qual a empresa pode variar o tamanho de sua força de trabalho, mas continua a usar montante fixo de capital. O custo total é a soma dos custos fixo e variável, isto é, combinada das duas setas no Gráfico 17.1. Em particular, estamos interessados em como aumentar o custo total, tal como mostrado pelas barras cinza-claro, ou “degraus”. Para produzir sua primeira unidade de produto, os custos de empresa sobem em Cr$ 24, representados pela primeira barra cinza-claro no Gráfico 17.1a. Para produzir a segunda unidade, seu custo sobe Cr$ 16, representados pela próxima barra. Os economistas chamam cada destas barras de custo marginal (enquanto os executivos a chamam de custo incremental). Por definição: Custo marginal é o incremento no custo total causado pela produção de uma unidade a mais. Note quão similar é este conceito ao de utilidade marginal (o incremento na utilidade devido ao consumo de uma unidade a mais). TABELA 17.1 Custos de custo prazo de uma empresa hipotética* (5) (1) Quantidade, q (2) (3) (4) Custo Custo Custo Custo Total, Marginal Fixo. Variável, CT= CMg=variaçã CF CV CF+CV o no custo total * (6) (7) Custo Custo Médio **, Variável CM e CVM e =CT+q =CV q 0 35 - 35 1 35 24 59 59-35-24 59159 241=24 2 35 40 75 75-59-16 752=38 402=20 etc. etc. etc. 3 35 60 95 20 32 20 4 35 85 120 25 30 21 5 35 115 150 30 30 23 6 35 155 190 40 32 26 7 35 210 245 55 35 30 As colunas de (l) a (5) estão representadas no Gráfico 17.1, e as colunas (6) e (7) no Gráfico 17.3. ** Valores arredondados. Cada uma das barras cinza-claro no diagrama a do Gráfico 17.1 está agora colocada em um gráfico próprio no diagrama b. (Esta escala pode ser vista como “o que sobraria” se, no diagrama a, fossem removidas as barras cinza-escuro de suporte e se as barras cinza-claro fossem colocadas no eixo.) Muito embora o custo marginal possa, a princípio, diminuir, ele deve, finalmente, crescer com o produto, por causa da lei dos rendimentos decrescentes. Para entender esta lei, considere o exemplo de uma empresa que produz televisores com um dado estoque de máquinas. À medida que esta empresa, inicialmente, emprega mais trabalho, cada trabalhador adicional aumenta seu produto por uma substancial quantidade. Mas, finalmente, quando a força de trabalho cresce e o equipamento é operado mais e mais próximo de capacidade plena, um trabalhador adicional adicionará apenas um pequeno montante ao produto da empresa. Tudo o que o novo empregado pode fazer é algum trabalho improdutivo, ou ficar à espera de que alguma das máquinas fique livre. Em outras palavras, há um decréscimo no produto marginal do trabalho (definido, como seria de se esperar, como o produto adicional que uma empresa pode produzir pelo emprego de um trabalhador a mais). A lei dos rendimentos (finalmente) decrescentes: se mais de um fator (trabalho) é empregado, enquanto todos os outros fatores (como capital) são mantidos constantes, o produto marginal daquele fator (trabalho) deve finalmente cair. Na Parte 5, veremos que este é o princípio-chave em nossa explicação de salários e de outros pagamentos de renda. Por enquanto, é importante, pois explica por que os custos marginais devem, finalmente, crescer. Em nosso exemplo, a empresa de televisores operando perto da plena capacidade é ainda capaz de aumentar seu produto empregando mais trabalhadores; mas, uma vez que o trabalho adicionado resulta em desperdício grande de esforços (um produto marginal do trabalho decrescente), o custo marginal de produzir mais um televisor cresce. Como o Custo Marginal Determina a Quantidade Ofertada No Gráfico 17.2 reproduzimos a parte ascendente da curva de custo marginal do Gráfico 17.1b. Mostraremos agora que esta é a chave para definir a curva de oferta da empresa (assim como a escala de utilidade marginal é a chave para a curva de demando individual). Para confirmar esta importante proposição, suponha que o preço de mercado seja $ 40, como mostrado pela linha depreco horizontal. (Quando fazemos esta suposição, estamos claramente pressupondo concorrência perfeita, com a empresa não possuindo nenhum controle sobre o preço). A linha de preço é também chamada a receita marginal da empresa. Por enquanto, podemos dizer que, por definição: Receita marginal é o incremento na receita total pela venda de mais uma unidade. É fácil verificar que a receita marginal será este preço constante de $ 40. A razão é que a receita total será $ 40 na venda de 1 unidade, $ 80 na venda de 2 unidades, $ l20 na de 3 e assim por diante. Não importa quantas unidades a empresa venda, sua receita total será sempre aumentada em $ 40 pelo venda de mais uma unidade. Dado o preço de $ 40 e a escala de custo marginal mostrada no Gráfico 17.2, quantas unidades a empresa irá produzir? A resposta é 6. A razão é que qualquer decisão de produzir a um nível de produção mais elevado, digamos 7, seria um erro, desde que o custo marginal de $ 55 para produzir a sétima unidade seja maior do que o preço de $ 40 ao qual ela pode ser vendida. De outro lado, se a empresa está a um nível de produção mais baixo, digamos 4, será de seu interesse expandir o produto(o custo marginal da quinta unidade é $ 30, e ela pode ser vendida por $ 40). Mas, em 6 unidades, não há tendência nem para contrair nem para expandir a produção, porque o custo marginal cresceu ao nível do preço (isto é, receita marginal). Conseqüentemente, este é o produto de equilíbrio para a empresa, porque neste ponto seu lucro é máximo. (Como um exercício opcional, você pode confirmar isto calculando o lucro a cada nível possível de produto, tal como no Apêndice 17-A). (GRÁFICO) Se o preço sobe de $ 40 para $ 55, você pode visualizar a linha horizontal do preço deslocando-se para cima até este nível mais alto. A empresa responderá a este preço mais alto elevando sua produção para 7 unidades, onde o custo marginal é novamente igual ao preço. Ou, se o preço cai para $ 30, ela irá oferecer 5 unidades, e assim por diante. Note que o que estamos fazendo é definir a resposta da oferta da empresa, isto é, quanto será ofertado a diversos preços. Quanto o preço sobe, ela simplesmente segue ao longo de sua curva de custo marginal para cima, mas, se o preço baixo, ela segue ao longo de sua curva de custo marginal para baixo. Então, o custo marginal define a curva de oferta da empresa individual – sujeito a uma importante qualificação que analisaremos a seguir. O Custo Marginal Sempre Determina a Ofertada ? A resposta é não, nem sempre. Por quê? Porque não é que a empresa, afinal de contas, gere qualquer nível de produto. Se ela o fizer, o custo marginal determinará de fato a quantidade ofertada, porém, pode ser (GRÁFICO) Zero. A questão crítica, portanto, é: quanto pode cair o preço antes que a empresa feche suas portas e pare de produzir? Para lançar luz nesta questão, são úteis dois novos conceitos: custo médio (CMe), definido como o custo total dividido pelo produto, e custo variável médio (CVMe), definido como o custo variável pelo produto. Estas duas novas curvas (calculados nas colunas finais da Ta bela 17.1) são mostradas, junto com o custo marginal (CMg), no Gráfico 17.3. Note que a curva CMg corta a curva CMe em um raciocínio mostrando por que isso deve acontecer. Tenha em mente que o custo marginal afeta o custo médio.) Considere, agora, o que acontece se o preço cair para $ 30. Para identificar seu melhor nível de produção, a empresa determina onde CMg iguala o preço de $ 30; isto acontece em 5 unidades. Observe que, neste ponto, o custo médio é um mínimo e é igual ao preço. O melhor que a empresa pode fazer com um preço de Cr$ 30 é cobrir seus custos médios. Ela apenas estará igualando custos a receitas, e os lucros cairão a zero. Mas, devido ao fato de que receitas e despesas estão igualadas, a empresa ainda continuará a produzir. Agora suponha que o preço caia ainda mais, digamos para $ 25. Se a empresa chegar a produzir, seu produto será de 4 unidades, no ponto J, onde o CMg iguala o preço de $ 25. Mas esta produção irá implicar uma perda operacional, uma vez que J está abaixo da curva CMe. (O preço de $ 25 que a empresa recebe não cobre o custo médio de $ 30 para produzir cada unidade.) Mas muito embora esta empresa esteja operando com uma perda em J, ainda assim continuará a produzir. A razão é que o preço de venda de $ 25 mais do que cobre os seus custos variáveis médios. (Isto é, o ponto J está acima do CVMe.) Portanto, ela pode cobrir completamente seus custo variáveis e ainda ter uma sobra de receita para cobrir parcialmente os custos fixos. E é melhor cobrir tais custos fixos parcialmente do que encerrar a produção e não cobri-los de modo algum. Então, enquanto uma empresa cobrir no mínimo seus custos variáveis, ela continuará produzindo. Isto permanece verdadeiro até que o preço esteja acima do nível de $ 20, no ponto K ; mas se o preço cai abaixo deste valor, a empresa não será capaz sequer de cobrir seus custos variáveis, e encerrará a produção. ( Os cálculos completos para cada um desses casos se encontram na Tabela 17.3, no Apêndice 17-A.) Assim, no curto prazo (o período no qual a empresa está trabalhando com um estoque fixado de capital e não pode evitar seus compromissos de custos fixos), a empresa irá reagir a qualquer preço dado, ofertando a quantidade determinada pela sua curva de custo marginal, desde que esteja operando em um ponto da curva de custo marginal que esteja acima do CMVe. Resumindo: A curva de oferta de curto prazo de empresa é a parte da sua curva de custo marginal que se encontra acima de sua curva de custo variável médio. Esta situação pode ser resumida descrevendo e situação em que você mesmo poderia se encontrar, um dia, operando em um ponto como J. Por exemplo, suponha que você tenha herdado uma casa em uma outra cidade e que deseja alugá-la. Você tem de pagar custos fixos semanais (impostos etc.) de $ 200, bem como custos variáveis semanais (eletricidade, comissão da imobiliária etc.) de $ 40. Se você conseguisse apenas $ l00 de aluguel por semana, você deveria alugar a casa ou deixa la vazia? A resposta é: aluga-la. É claro que você terá um prejuízo, mas desde que o preço de $ l00 que recebe mais do que cobre seu custo variável de $ 40. você ao menos terá uma sobra de $ 60 para cobrir alguns de seus custos fixos, como por exemplo o pagamento do imposto predial. E isto é melhor do que deixar a casa sem alugar e ter de responder por todos os custos fixos. Em resumo, sua perda será menor se você alugar a casa do que se deixa-la vazia. É claro que, no longo prazo, você não quererá manter tal casa, uma vez que está tendo prejuízo. Mas, no curto prazo – isto é até que você possa vender a casa – não tem outra saída. Tudo o que de melhor você pode fazer é minimizar seu prejuízo alugando a casa. Mas, é claro no longo prazo você pode vender a casa. E sua reação, como ofertante, está bastante diferente. CUSTOS E OFERTA NO LONGO PRAZO Todos os custos que discutimos até agora se aplicam ao curto prazo, uma vez que eles descrevem uma empresa com um estoque fixado de capital de equipamento e instalações. Mas, no longo prazo, o tamanho da empresa pode variar. Ela pode se expandir através da aquisição de novas instalações. Ela pode se expandir através da aquisição de novas instalações e equipamentos; ou ela pode se retrair não repondo equipamentos à medida que se depreciam, ou pela venda de equipamento e instalações. Estão os custos, que são fixos no curto prazo, tornam-se variáveis no longo prazo e , como conseqüência, os custos mostrados no Gráfico 17.3 não mais se constituem se constituem em guias adequados. Suponha que uma empresa comece com um tamanho pequeno, com uma pequena fábrica e apenas com umas poucas máquinas. Então, depois de se ter estabelecido com sucesso, ela se expande para uma nova e maior fábrica com muitas máquinas novas. A curva original de custo médio de curto prazo (CMeC A , no Gráfico 17.4) não mais será relevante; a empresa agora estará em uma nova curva de custo médio de curto prazo (CmeC B ). Com maiores instalações e mais equipamentos, os custos médios serão menores para qualquer nível de produção maior do que q 1 ; como é claro, é desejável ter instalações maiores para produzir mais. (Mas para pequenos níveis de produção, abaixo de q 1 , é óbvio que não é desejável ter-se grandes instalações; em outras palavras, CMeC B é maior do que CMeC A . A razão é que a empresa incorre em grandes despesas para adquirir maiores instalações, mas algumas dessas instalações não serão plenamente ocupadas.) Mas não existem somente estes dois tamanhos de plantas, existem muitos mais. No Gráfico 17.5 foram escolhidas quatro curvas de custo de curto de curto prazo, sendo tais curvas de uma família, cada qual representando uma diferente quantidade de instalações e equipamentos. (As curvas de custo de curto prazo terminam com a letra “C” para enfatizar sua natureza de curto prazo). No longo prazo, a empresa escolherá seu tamanho de planta e equipamentos (e, portanto, o CMeC) de tal forma a minimiza seu custo. Assim , por exemplo, se a empresa planeja uma produção q 3 , ela escolherá o tamanho necessário para operar na curva de curto prazo CMeC C ; do mesmo modo, para produzir q 4 , ela escolherá o tamanho necessário para CMeC D , e assim por diante. A curva de custo médio de longo prazo (CmeL) forma um “envelope” que envolve, por baixo, todas as curvas CMeC. Uma vez que existem muitas curvas CMeC, e não apenas as quat ro ilustradas, CMeL forma uma curva suave. Ela mostra o menor custo médio ao qual cada nível de produção pode ser obtido no longo prazo, isto é, período no qual os produtores têm a liberdade de ajustar a quantidade de capital que utilizarão. Ela fornece um resumo da informação relevante de todas as curvas CMeC. (GRÁFICOS) Efeitos de Escala na Produção. Agora que fizemos a importante distinção entre custos de curto e de longo prazo, podemos distinguir claramente, no Gráfico 17.6, dois importantes conceitos econômicos: 1.A lei dos rendimentos decrescentes. Esta lei aplica-se à situação na qual o capital é mantido constante. Como vimos no exemplo da empresa de televisores, ela diz que, mantido constante o capital, os custos marginais finalmente devem subir (como mostrado pela seta f ). 2. Economias de escala. Este conceito aplica-se a uma situação na qual todos os fatores (trabalho e capital) são variáveis; em outras palavras, movemo-nos ao longo da CMeL. Para a empresa aqui mostrada, existem economias de escala, de tal forma que este movimento resulta em uma redução do custo médio, isto é, CmeL cai (como mostrado pela seta e) 3 . Resumindo, embora uma destas idéias descreva custos crescentes e a outra descreva custos decrescentes, elas não estão em contradição . A razão é que a lei dos rendimentos decrescentes aplica-se um fator (capital) é mantido constante, enquanto as economias de escala descrevem uma situação onde todos os fatores são variáveis. Economias de escala existem quando dobrando-se todos os fatores mais do que dobra o produto. Existe, contudo, uma clara conexão entre est5a definição e a forma da curva CmeL. Considere um exemplo no qual 10 unidades de trabalho e 1 de capital são utilizada para produzir 100 unidades de produto. Ao custo de $ 10 o trabalho e $ 50 o capital, o custo total das 100 unidades será $ 10 x 10 + 50 x 1, isto é, $ 150. Então, o custo médio é $ 1,50. Suponha, agora, que sejam dobradas as quantidades de ambos os fatores, isto é 20 unidades de trabalho e 2 de capital. Se o preço do trabalho e do capital permanecerem constantes, o custo total da produção torna-se $ l0 x 20 + $ 50 x 2, isto é, $ 500. Se existem economias de escala, o fato de se dobrar os fatores mais do que dobra a produção. Ela vai de l00 para, digamos, 240. O custo médio, agora, é de $ 1,25 isto é, $ 300 + 240. À medida que o produto cresce, o custo médio cai. Com efeito, se os preços dos fatores permanecem constantes, economias de escala resultarão em uma curva de custo médio decrescente. (Se, contudo, os preços dos fatores crescem quando são usadas maiores quantidades de fatores, o CMeL pode começar a subir antes que as economias de escala esgotadas. Portanto, economias de escala e CMeL decrescente não são precisamente a mesma coisa. Mas elas estão muito intimamente relacionadas). (GRÁFICO) Oferta de Longo Prazo No Gráfico 17.7, CMeL é a curva de custo médio de longo prazo (ou envelope) para uma empresa. É também mostrada a correspondent e curva de custo marginal de longo prazo (CMgL), com CMgL interceptando CMeL em seu ponto mínimo.(Lembre: as curvas médias e marginais estão sempre relacionadas desta maneira.) Em muitos aspectos, a análise de custos e oferta de longo prazo corre paralela à análise precedente de custos e oferta de curto prazo, sendo que os detalhes não necessitam ser repetidos. Por exemplo, a oferta de longo prazo é determinada pelo custo marginal de longo prazo (CMgL), desde que o preço seja elevado o suficiente para manter a empresa em funcionamento. E definir tal ponto no longo prazo é a única questão que merece cuidado especial. Qual, no longo prazo, é o preço mínimo que permite o funcionamento da empresa? A resposta é R, onde o custo médio CMeL atinge um mínimo. Este é o ponto de lucro zero; se o preço está a este nível, a empresa irá operar em R, justamente cobrindo todos os seus custos. Mas a qualquer preço abaixo deste, a empresa incorrerá em prejuízo e irá parar de produzir. Isto é claro, é diferente da situação de curto prazo, onde a empresa pode continuar a produzir com perda, porque ela não tem outra saída. No longo prazo, ela tem alternativas. A empresa pode ter de tomar a decisão de repor ou não o equipamento quando o mesmo se desgastar. Se ela estiver operando com perda, sua escolha será não repor o equipamento. (Em outras palavras, não existem custos fixos no longo prazo.) Portanto, a qualquer preço abaixo de P 1 ,no longo prazo, este empresa deixará esta indústria, e sua oferta desaparecerá. Então: (GRÁFICO) A curva de oferta de longo prazo de empresa é a parte de sua curva de custo marginal de longo prazo que está acima de sua curva de custo médio de longo prazo. Esta oferta de longo prazo está mostrada com traço mais grosso no Gráfico 17.7. No restante deste livro abandonaremos a letra L (para “longo”) e a letra C (para “curto”), e usaremos as abreviaturas CMe e CMg. Elas representarão curvas de longo prazo, a menos que o contrário seja especificado. A DEFINIÇÃO DE CUSTO DOS ECONOMISTAS Quando os economistas falam em levar todos os custos em consideração, eles usam uma definição de custo muito mais ampla do que a utilizada pelo contadores. Para ilustrar, suponha que uma amiga, que opera uma loja, peça a você que analise seu negócio. Sua contabilidade de custos, na coluna a da Tabela 17.2, parece confirmar sua impressão de que ela tem um negócio que está indo muito bem. Com uma receita de $ 102.000 e custos de $ 74.000, ela está registrando um lucro contábil de $ 28.000. Mas você quer levar a questão mais a fundo. Você descobre que ela poderia ganhar um salário de $ 24.000 se aceitasse uma de emprego de uma companhia de seguros. Este é um custo implícito, uma vez que ele não implica nenhum desembolso. Mas devemos incluí-lo, tal como o fizemos na coluna b, ou não teremos uma visão adequada dos verdadeiros custos envolvidos na operação deste negócio (isto é, o custo de todos os recursos utilizados, incluindo o seu talento e sua energia). E não seríamos capazes de julgar se ela está se desempenhando tão bem neste n egócio como faze-lo em outra atividade (especificamente, trabalhando para a companhia de seguros acima mencionada). Este salário implícito para seu próprio esforço ilustra o conceito de custo de oportunidade, isto é, aquilo que se deixou de ganhar. Por definição: TABELA 17.2 A avaliação de custos e lucro (a) Por contadores (b) Por economistas Receita total $ 102.000 Receias total $ 102.000 Custos (desembolsos) Custos explícitos (desembolsos) Trabalho $ 10.000 Trabalho $ 10.000 Materiais $ 59.000 Materiais $ 59.000 Alugueis $ Aluguel $ 5.000 5.000 $ 74.000 $ 74.000 Custos implícitos Salário do Lucro contábil Proprietário $ 24.000 Juros $ 1.000 Lucro normal $ 2.000 Custos totais $ 101.000 $ 28.000 Lucro econômico $ 101.000 $ 1.000 O custo de oportunidade de um fator é o rendimento que ele poderia auferir no seu melhor uso alternativo. O custo de oportunidade também indica, aproximadamente, o quanto se deve parar por um fator para conserva-lo no uso presente. Por exemplo, se sua amiga não aufere seu custo de oportunidade (seu salário potencial na companhia de seguros), ela terá um incentivo para se deslocar da presente atividade para o negócio mais rendoso de seguros. Você também descobre que sua amiga tem outros os custos de oportunidade que também devem ser incluídos na coluna b. Por exemplo, ela tem cerca $ 30.000 de seu próprio dinheiro aplicado neste negócio. Qual seria o melhor uso alternativo para este dinheiro? Ela indica que poderia emprestar parte dele, ganhando deste modo $ 1.000 de juros. E ela poderia usar o restante para comprar uma quota de sociedade em uma companhia que lhe proporcionaria um lucro de $ 2.000. Este último item – o custo de oportunidade do capital – é chamado lucro normal. Quando, neste livro, desenhamos uma curva de custos, incluímos não somente aqueles custos que implicam desembolsos específicos, mas também aqueles custos implícitos, tais como o lucro normal. Portanto, em nosso exemplo, os custos montam a $ 101.000, tal como mostrado na coluna b da Tabela 17.2. Esta definição ampla significa que os custos nos dizem quanto os recursos empregados por uma empresa poderiam auferir em outra parte. Uma vez que suas receitas de $ 102.000 excedem seu custo de $ 101.000, ela está ganhando um lucro supranormal de $ 1.000. (Em economia, a palavra “lucro” significa lucros supranormais, menos que o contrário seja especificado.) É este valor de $ 1.000 que permite que você julgue que sua amiga de fato possui um bom negócio: ele não só lhe dá uma renda apropriada de $ 24.000 pelo seu esforço e um retorno apropriado para o capital que ela investiu, ele também lhe dá 1.000 adicionais. Se as empresas em uma indústria estão conseguindo tais lucros (supranormais), haverá um incentivo para outros empresários deslocarem seu capital para este negócio, para participarem de um bom negocio. Lucro econômico é lucro supranormal, isto é, o lucro após terem sido considerados os custos de oportunidade. Agora suponha que os salários cresçam em outros trabalhos. Especialmente, suponha que a companhia de seguros aumente a oferta para sua amiga de $ 24.000 para $ 27.000. Isto aumenta o item s alarial de $ 24.000 em $ 3.000, e, quando se recalcula a coluna b, o lucro (supranormal) de $ 1.000 transforma-se em uma perda de $ 2.000. Sua amiga não é mais capaz de ganhar tanto em sua empresa como na sua melhor atividade alternativa. E (supondo que ela vê esta linha alternativa de trabalho como igualmente interessante), ela terá um incentivo para a mudança. Então, o lucro econômico (ou perda) é definido de tal maneira que ele próprio fornece um sinal, indicando se recursos estão sendo atraídos(ou afastados) por alguma atividade. O EXCEDENTE DO PRODUTOR Assim como examinamos em detalhe, no último capítulo, como uma mudança de preço afeta o excedente do consumidor, consideraremos agora como uma mudança de preço afeta o excedente do produtor, isto é, um lucro econômico (supranormal). O Gráfico 17.8 ilustra uma empresa em concorrência perfeita, com a oferta refletindo o seu custo marginal (CMg). Ao preço inicial de $ 500, a empresa oferta 30 unidades e recebe uma receita total igual à área 1. Se o preço sobe para $ 700, a empresa responde movendo-se para cima em sua curva de oferta, de R, para T, ofertando 40 unidades e tendo uma recita total igual às áreas 1 + 2 +3. Sua receita, portanto, aumentou pelas áreas 2 + 3. Mas os seus custos também subiram. Para ver quanto subiram os custos, desenhamos o custo marginal para cada uma das unidades adicionais produzidas (barras verticais). A soma de todos estes custos marginais – isto é, a área 2 – indica quanto cresce o custo total da empresa quando a sua produção aumenta de 30 para 40. Desde que a receita de empresa aumenta pelas áreas 2 + 3 e que seus custos crescem pela área 2, o aumento de seu lucro (ou excedente do produtor) é igual à área 3. Note que esta é a área entre o antigo preço de $ 500 e o novo preço de $ 700, á esquerda da curva de oferta. Em geral: Se o preço de mercado sobe (desce) e o produtor se desloca para um novo equilíbrio na curva de oferta, o acréscimo (decréscimo) no excedente do produtor é a área horizontal entre os preços novo e antigo, à esquerda da curva de oferta. (GRÁFICO) Como já foi dito, o excedente do produtor representa um lucro econômico (supranormal). Para uma maneira alternativa de ilustrar o lucro econômico. Ver o Apêndice 17.B. Problemas 17.1. Quais custos (CMe, CVMe, CMg de curto prazo; CMe, CMg de longo prazo) a empresa necessita saber antes de decidir quanto ela ofertará no curto prazo? Explique, em cada caso. 17.2. “No longo prazo, todos os custos são variáveis.” Você concorda? Explique, usando máquinas como um exemplo de custo fixo. 17.3. “Uma empresa que está enfrentando rendimentos decrescentes (custos crescentes) não pode estar enfrentando economias de escala (custos decrescentes).” Você concorda? Explique. 17.4. Explique por que os economistas definem custo de mo do a incluir o lucro normal. Se existir lucro adicional, o que isso significa? 02.02. O MERCADO PERFEITAMENTE COMPETITIVO O Capítulo 16 descreveu o comportamento dos compradores e o Capítulo 17 o comportamento dos vendedores. Podemos, agora, ligar os dois lados e examinar como funcionam os mercados. Neste capítulo continuamos a supor que os mercados são perfeitamente competitivos: há muitos vendedores e muitos compradores, nenhum comprador ou vendedor individual tendo qualquer influência sobre os preços. Esta é a forma mais simples de mercado, e existe em alguns setores da economia (por exemplo, mercados de alguns produtos agrícolas). Além disso, quando compreendemos como funciona um mercado perfeitamente competitivo, estaremos aptos a estudar formas mais complexas de mercados, tais como monopólio ou oligopólio. O PARADOXO DO VALOR Com o conhecimento adquirido nos dois últimos capítulos, considere um quebra-cabeças que incomodou Adam Smith quando ele escreveu sua Riqueza das Nações em l776. Um dos bens mais valiosos é a água: não podemos fazer coisa alguma sem ela. Se necessário, estaríamos dispostos a dar tudo o que temos para adquiri-la. Em contraste, poderíamos facilmente viver sem coisas como diamantes ou champanhe – dificilmente notaríamos sua falta. Já a água é vendida a um baixo preço, e o champanhe a um alto preço. Estaria o mundo virado de cabeça para baixo? A solução deste quebra-cabeça complicado pode ser encontrada através da aplicação da análise dos últimos dois capítulos. Antes de prosseguir, veja se você consegue resolver por si mesmo esse quebracabeças. Para determinar a solução, as curvas de oferta e de demanda por água e por champanhe são colocadas lado a lado no Gráfico 18.1. No caso da água, demanda e oferta resultam num preço baixo, P A . Na verdade, demanda por água é muito grande: mas ele é tão abundante (pode ser ofertada a um preço tão baixo) que continuamos a consumir mais e mais água, e até no equilíbrio. E estamos consumindo copos com água, os quais valorizamos muito pouco. (Lembre-se de que a utilidade marginal é dada pela altura da curva de demanda, e ao nível de consumo Q 1 esta altura é apenas Q 1 E ). Por outro lado, no caso do champanhe, oferto e demanda resultam num alto preço. Na verdade, a demanda por champanhe não é grande. Mas ela é vendida a um preço alto porque sua oferta é limitada por seu alto custo de produção. Conseqüentemente, apenas os compradores mais entusiásticos o consomem e, na última unidade que consomem, gozam de uma utilidade marginal igual a P C .Concluímos que o preço mais alto de champanhe está nos dizendo que, na margem, onde consideramos apenas as últimas unidades consumidas, o champanhe é mais valioso, (fornece uma utilidade marginal mais elevada) que a água. (GRÁFICO) Esta é, obviamente, apenas uma parte da história. O valor total da água para a sociedade é a nossa avaliação; não apenas a do última copo que bebemos, mas a de cada copo que bebemos, e aqueles que nos livram de morrer de sede são mais valiosos ainda. De fato, nossa avaliação do primeiro desses copos com água, Q 2 digamos, é extremamente alta; ela é dada pela altura da curva de demanda em Q 2 , e não temos bastante espaço no alto do diagrama para mostrá-la. Isto não é verdadeiro para o champanhe; a utilidade do primeiro copo como champanhe pode ser representada no Gráfico 18.1. O valor total para a sociedade é a utilidade que recebemos de todas as unidades que consumimos; neste sentido, a água é muito mais valiosa que o champanhe. Então, concluímos que, depois de tudo, a água é mais valiosa para nós do que o champanhe, embora o seu preço seja menor (o seu valor, na margem, é menor). O paradoxo está solucionado. Este paradoxo água-champanhe fornece um prelúdio para nossa discussão acerca de mercados, pois, como veremos, estudar se um mercado está ou não funcionando bem envolve concentração cuidadosa no exame do que está acontecendo na margem. O exemplo da água no entanto, deverá auxilia-lo a lembrar de que há uma outra questão importante: as unidades anteriores à margem podem ser muito importantes. Outra mensagem fundamental é de que encontramos anteriormente, no Capítulo 4, e muito simples: se desejarmos fazer qualquer afirmação sensível a respeito de preço, o exame da demanda apenas não é suficiente. (Note quanto poderia ser enganadora uma comparação apenas entre a demanda limitada por champanhe e a demanda muito grande por água). Precisamos olhar, também, a oferta. Não podemos dizer isto melhor do que Alfred Marshall: Precisamos examinar as duas lâminas da tesoura. CONCORRÊNCIA PERFEITA E EFICIÊNCIA ECONÔMICA Antes de examinar em detalhe como funciona o mercado competitivo, vamos fazer duas hipóteses. Duas Hipóteses Importantes Até aqui, não fizemos qualquer distinção entre o benefício que um bem fornece àqueles que o compram (seu benefício privado) e o benefício que ele fornece para a sociedade como um todo (seu benefício social). Freqüentemente os dois são iguais. Por exemplo, o benefício para a sociedade, de um bife, é o benefício usufruído por aqueles que o compram e comem. Porém, as coisas não são sempre assim. Por exemplo, o beneficio social dos serviços realizados por jardineiros profissionais pode incluir não apenas a satisfação usufruída por aqueles que compram esses serviços, como também a satisfação usufruída por parte de outros indivíduos na vizinhança. Mas descartamos, para o momento, esta complicação, pondo que os compradores obtêm todo o benefício do bem. HIPÓTESE 1. O benefício social é o mesmo que o benefício privado. Mais precisamente, o benefício marginal do bem para a sociedade como um todo (o qual chamaremos de Umgs) é o mesmo que seu benefício marginal (utilidade marginal) para aqueles que o compram (Umg). Qualquer um deles pode ser medido na curva de demanda de mercado. UMg s =UMg (18-1) Fazemos uma hipótese a respeito dos custos: HIPÓTESE 2. O custo social é o mesmo que o custo privado dos produtores. Mais precisamente, o custo marginal de um bem para a sociedade como um todo (CMgs) é o mesmo que seu custo marginal para os produtores (CMg). Qualquer um deles pode ser medido na curva de oferta. CMg=CMg s (18-2) Isto é freqüentemente verdadeiro também. Por exemplo, o custo de produzir trigo, para a sociedade, é exatamente o custo incorrido pelos produtores de trigo. Há exceções, novamente: o custo de produzir papel, para a sociedade, pode não ser apenas o custo no qual incorre a empresa para produzi-lo, mas também o custo para outras firmas e indivíduos estabelecidos às margens do rio que sofre com os dejetos que a fábrica de papel despeja, poluindo-o. As exceções a essas duas hipóteses são importantes, e lhes daremos maior atenção no Capítulo 21. Apesar disso, essas hipóteses são razoavelmente verdadeiras em muitos casos; são casos como esses que consideraremos neste capítulo. A Idéia de Eficiência Econômica Nos dois capítulos anteriores, mostramos como o consumidor individual escolhe a melhor quantidade para comprar, e como produtor individual escolhe quantidade para vender. Em ambos os casos, a atividade se expande até que seu custo marginal iguale o seu benefício marginal. Este princípio é tão fundamental em economia que não representa apenas uma prova real de se os indivíduos (como consumidores e produtores) estão operando eficientemente. De fato, a idéia de eficiência em economia está baseada precisamente neste conceito: Eficiência requer que uma atividade seja conduzida a um nível onde seu custo marginal iguala seu benefício marginal. Se esta condição não se realiza, uma solução melhor pode ser encontrada ou através da expansão ou através da contração desta atividade, até que seu custo marginal iguale efetivamente seu benefício social. Em outras palavras, se esta condição não se realiza, há uma perda de eficiência. (Há uma perda na eficiência alocativa. Por exemplo, se estivermos produzindo no ponto onde o custo marginal supera o benefício marginal, devemos produzir menos deste item e transferir recursos para a produção de algum bem ou serviço alternativo. Por que o Mercado Perfeitamente Competitivo é Eficiente O Gráfico 18.2 ilustra como as decisões de muitos consumidores e muitos produtores num mercado perfeitamente competitivo leva a um resultado eficiente. Note, na parte central, que oferta e demanda são iguais a uma produção de equilíbrio de l00 unidades e um preço de $ l0. Neste equilíbrio, a quantidade que cada consumidor compra está indicada nas partes à esquerda, enquanto a quantidade que cada produtor vende está indicada nas partes à direita. (Utilizamos aqui um procedemos similar ao do Capitulo 16, indicando apenas 3 consumidores e 3 produtores para representar um grande número de ambos que participam do mercado.) Considere a situação de um consumidor individual que estende o seu consumo até que a última unidade forneça um benefício pessoal (utilidade marginal) de $ l0, indicado pela barra vertical. Para este consumidor, o custo marginal é o montante pago por uma unidade adicional, ou seja, seu preço. Consumindo até o ponto onde a utilidade marginal iguale o preço, o consumidor estará igualando seu custo marginal ao seu benefício marginal (como mostramos no Capítulo 16). Para uma empresa individual em concorrência perfeita, o preço representa o benefício marginal. Desde que a empresa continue a produzir até o pronto onde o custo marginal iguale o preço (como vimos no Capítulo 17), estará também igualando seu custo marginal e seu benefício marginal. (GRÁFICO) Assim, num mercado competitivo: Consumidores compram até que: UMg=P (18-3) Empresas produzem até que: P = CMg (18-4) Conseqüentemente, UMg = CMg (18-5) Essas três equações estão ilustradas nas três partes do Gráfico 18.3 Note, particularmente, que os benefícios são iguais aos custos na margem, na parte c, sugerindo um resultado eficiente. Para nos asseguramos disso, busquemos as duas hipóteses expostas na seção anterior, as de que avaliações privadas e sociais são as mesma tanto do lado dos custos quanto do lado dos benefícios. Segue, então da afirmação (18.5), que, num mercado perfeitamente competitivo: UMg=CMgs (l8-6) Ou seja: Benefício Social Marginal = Custo Social Marginal Temos na verdade, um resultado eficiente do ponto de vista da sociedade como um todo. (GRÁFICO) Quando as avaliações sociais e privadas são as mesmas tanto do lado dos custos quanto do lado dos benefícios, o equilíbrio perfeitamente competitivo é eficiente do ponto de vista geral, social. NÍVEIS DE PRODUÇÃO NÃO-EFICIENTES Para confirmar que o mercado competitivo é eficiente quando sujeito a condições especificadas, vamos retornar ao equilíbrio competitivo do Gráfico 18.2. Suponha que você é um burocrata ou um ditador que ordenou que, em lugar da quantidade de equilíbrio de 100 unidades, 20 unidades a mais deveriam ser produzidas e consumidas. Tente da maneira que quiser, mas não conseguirá evitar uma perda nessas unidades adicionais. Por um lado, elas devem custar mais do que $ 10; independentemente da empresa que você escolher para produzi-las, esta empresa terá de se deslocar para cima em sua curva de oferta, para um custo marginal mais elevado. Ao mesmo tempo, essas unidades adicionais serão consumidas por um indivíduo (ou indivíduos) que as valora a menos do que $ 10; independentemente de quem você seleciona para consumilas, este indivíduo terá de se deslocar para baixo em sua curva de demanda, para uma utilidade marginal menor. Sendo o custo de cada unidade adicional superior a $ 10, e o benefício que ela fornece menor do que $ 10, haverá uma perda líquida. Podemos chegar exatamente à mesma conclusão usando apenas as curvas de oferta e de demanda de mercado da parte central do Gráfico 18.2, como está reproduzido no Gráfico 18.4. Suponha que a produção é expandida além do nível eficiente, competitivo, de 100 unidades – digamos, até 140 unidades, como mostra a parte a. Considere, para demonstrar a perda de eficiência resultante uma unidade típica, c, desta produção adicional. Seu benefício é indicado pela barra vazia (a altura da curva de demanda); mas seu custo é ainda maior, como indicado pelas barras vazia e cheia (a altura de curva de oferta). A perda líquida desta unidade apenas é a barra sólida, e a soma de todas as perdas similares de todas as outras unidades excessivas de produção no intervalo entre l00 e l40 é indicada pelo triângulo sombreado. Por outro lado, suponha, que, por alguma razão, a produção é menor do que o nível eficiente de 100 unidades – digamos, as 60 unidades mostradas pela parte b deste diagrama. Para mostrar a perda de eficiência resultante, considere (GRÁFICO) Uma das unidades que não é mais produzida, como d. Uma vez que seu custo teria sido a barra vazia (sob a curva de oferta) e seu benefício a barra vazia mais a barra sólida ( a altura da curva de demanda). O benefício líquido para a sociedade advindo da produção desta unidade seria a barra sólida. Ou, para colocar a mesma coisa de maneira diferente, a sociedade incorre na perda desta barra sólida porque esta unidade potencialmente geradora de benefícios não é produzida. E a soma de perdas semelhantes por todo o intervalo da produção restringida de 100 para 60 unidades é o triângulo sombreado. A idéia de uma perda de eficiência é tão importante par o estudo da microeconomia que você deve estar seguro de que apreendeu a lição do Gráfico 18.4 antes de prosseguir. Enfatize, particularmente: Ocorre uma perda de eficiência sempre que existir um movimento que desloque a produção do ponto onde o custo marginal é igual ao benefício marginal. (Mais discussões sobre eficiência expostas no Quadro 18.1.) QUADRO 18.1 PARETO E A ELIMINAÇÃO DAS PERDAS DESNECESSÁRIAS Com um pouco mais de esforço e imaginação, podemos aumentar nosso entendimento acerca de importante idéia de eficiência. Uma mudança que torne um indivíduo melhor sem prejudicar qualquer outra pessoa é chamada de Melhoria-Pareto ou eficiência de Pareto, depois que o grande economista italiano Vilfredo Pareto desenvolveu essa idéia pela primeira vez. Se fizermos todas as possíveis melhorias-Pareto, chegaremos a um ótimo-Pareto. É exatamente isto que os economistas entendem como uma solução eficiente. Significa que todas as perdas desnecessárias foram eliminadas, ou seja, que foram feitas todas as possíveis melhorias-Pareto. A idéia de uma eficiência de Pareto pode ser ilustrada no Gráfico 18.2. Suponha que, inicialmente, o indivíduo II tem uma unidade e menos de produto do que foi demonstrado ali (ou seja, 14 unidades), enquanto o indivíduo III tem uma a mais (21). Agora é possível realizar uma melhoria-Pareto, pois podemos tornar III melhor sem prejudicar mais ninguém (ou seja, sem prejudicar II, o único indivíduo envolvido). Eis como: faça o indivíduo III vender uma unidade ao II por $ 10. III ganha com essas transação (porque ele próprio avalia sua 21ª. Unidade por menos de $ 10). ?Ao mesmo tempo, II não ficou prejudicado porque ele avalia a unidade que recebe de III (sua 15ª. unidade) em exatamente $ l0 que paga por ela. Essa eficiência de Parede é possível porque, inicialmente, todos os produtores e consumidores avaliam sua última unidade diferentemente. Com esta transação, porém, atingimos a solução perfeitamente competitiva do Gráfico 18.2. quando todos os consumidores e produtores realmente avaliam a última unidade igualmente (a $ 10), ou seja, a UMg para todos os consumidores é igual ao CMg para todos os produtores. Além desse ponto uma melhoria-Pareto é impossível. Conseqüentemente, esta solução perfeitamente competitiva é um ótimo-Pareto (ou seja, eficiente). (GRÁFICO) O PREÇO DE MERCADO COMO UM MECANISMO DE FILTRAGEM Cada economia precisa ter um mecanismo de racionamento para determinar quem consumirá um bem escasso, e quem não. No nossa economia, o preço de mercado realiza essa função, atuando uma barreira que precisa ser transposta pelos compradores. Na parte a do Gráfico 18.5, vemos um mercado competitivo no qual são vendidas l.000 unidades ao preço unitário de $ 15. Na parte b, vemos que este preço isolou todos os consumidores potenciais menos aqueles preparados para pagar no mínimo 15. Na parte c, vemos que esse mesmo preço de 15 também age como uma barreira para os vendedores potenciais, bloqueando todos os produtores, exceto os que produzem a um custo mais baixo que 15. Compradores desentusiasmados e competidores de custo alto retornam, excluídos do mercado por causa de um simples critério – estão impossibilitados de enfrentar o preço de mercado. COMO MERCADOS COMPETITIVOS PARA VÁRIOS BENS REPONDEM À QUESTÃO : Quando de Cada Bem Será Produzido? O Gráfico 18.6 ilustra como um mercado competitivo age como um mecanismo de mudança de produção de um bem (carne de porco) para outro (carne de boi), em resposta a variações nos gostos dos consumidores. Inicialmente, o equilíbrio para cada b em é mostrado por E nas duas partes do gráfico. Das preferências individuais dos consumidores, refletidos em D B e D P , esta é uma alocação de recursos eficiente; está sendo produzido o montante certo de cada bem. Por exemplo, ao nível de produção Q B , é igual ao custo margina S B . (GRÁFICO) Mas suponha, que as preferências dos consumidores mudem, com uma demanda crescente por carne de boi e uma demanda decrescente por carne de porco. D’ B reflete, agora, a utilidade aumentada da carne de boi, enquanto D’p reflete a utilidade diminuída da carne de porco. O equilíbrio, em cada parte, muda de E para E’. O incremento na produção de carne de boi é a resposta do mercado competitivo ao incremento na demanda por essa carne; da mesma forma, o decréscimo na produção de carne de porco é a resposta do mercado competitivo ao decréscimo na demanda por carne de porco. Esta nova alocação de recursos, porém, também é eficiente, dado o novo padrão de preferência dos consumidores. (Por exemplo, ao novo nível de produção Q’ B , o benefício marginal D’ B é igual ao seu custo marginal S B .) Alterando os recursos, desta maneira, o mercado competitivo movimentou a economia de uma alocação de recursos eficiente para outra. PRÉVIA: Problemas com Livre-Mercado Até aqui, fornecemos uma pintura rósea de como os mercados livres funcionam bem. Os exemplos de resultados ineficientes ocorreram quando o governo interveio para alterar as regras de funcionamento do mercado competitivo: quando o burocrata resolveu que muito (ou pouco) estava sendo produzido e ordenou que menos (ou mais) fosse p roduzido, houve uma perda de eficiência. Na verdade, até aqui, a análise trouxe uma mensagem muito forte do laissez-faire: o governo deve deixar o mercado agir, ele deseja funcionar. Mas isto nos dá uma visão distorcida da realidade. Para que o livre-mercado resulte em eficiência, todas as quatro condições básicas listadas na Tabela 18.1 precisam ser preenchidas. Na prática, porém, essas condições podem não ser preenchidas. A Tabela 18.1 mostra em que capítulos trataremos os casos em que as condições são violadas. No caso de não serem respeitadas, a economia, se deixada livre, funcionará ineficientemente. Neste caso, a intervenção governamental pode fazer com que a economia trabalhe mais eficientemente, e não menos. Além disso, mesmo quando todas as três condições são obedecidas, o resultado pode não ser tão bom quanto as páginas precedentes sugeriam, como veremos agora. UMA RESSALVA A RESPEITO DE SOLUÇÃO PERFEITAMENTE COMPETITIVA: Ela Depende de Distribuição da Renda Retornando ao Gráfico 18.2, suponha que o indivíduo I tenha uma renda mais elevada que o indivíduo II, e esta é a razão pela qual ele tem uma demanda maior por esse bem. (Lembre-se: a demanda depende de desejo pelo produto e da capacidade de pagar por ele.) No Gráfico 18.7: reproduzimos o Gráfico 18.2, alterando apenas uma coisa: supomos que as rendas dos indivíduos I e II foram trocadas. O indivíduo II tem, agora, uma renda mais elevada e, assim, uma demanda mais elevada, e o indivíduo I tem uma renda e uma demanda mais baixas, como mostra seção sombreado do gráfico. Uma vez que nada mais muda 2 , o restante do Gráfico 18.7 é idêntico ao 18.2, onde o mercado perfeitamente competitivo traz uma solução eficiente. A solução, entretanto, é bem diferente. Não há uma maneira pela qual os economistas possam julgar qual delas é a melhor – o que podemos dizer é que ambas são eficientes. TABELA 18.1. Como Três Condições Básicas Podem Deixar de Ser Preenchidas Condição (18.1) UM Será violada se: = UMg g Houver benefícios para outros que não os compradores (os vizinhos usufruem de um jardim bem cuidado, por exemplo (18.2) UM = P g Um comprador individual tiver alguma influência sobre o preço (como pode suceder quando há apenas poucos compradores) – ver Capítulo 24 (18.3) P = CMg Um vendedor individual tiver alguma influência sobre o preço (como pode ocorrer se há apenas poucos vendedores) – ver Capítulos 19 e 20. No entanto, os indivíduos I e II terão, cada um uma opinião clara sobre qual é a melhor: o indivíduo I prefere o Gráfico 18.2. onde ele consegue mais desse bem (65 unidades), enquanto o indivíduo II prefere o Gráfico 18.7, onde ele tem a parte do leão. Do ponto de vista da sociedade como um todo, porém, não há maneira de julgar. Na verdade, se pudéssemos entrar na cabeça desses dois indivíduos, seríamos capazes de dizer que , se o ganho de utilidade de II excede a perda de utilidade de I, o padrão do Gráfico 18.7 é superior. Mas isto não podemos fazer, pois não há meios de comparar a utilidade de uma pessoa com a ut ilidade de qualquer outra. Resumindo: para cada distribuição possível de renda, há uma solução perfeitamente competitiva diferente; não podemos mostrar que uma é melhor que as outras. A questão de como a renda deveria ser distribuída não pode ser respondida apenas pelos economistas (embora venhamos a discuti-la mais no Capítulo 25.) (GRÁFICO) O PAPEL DA ESPECULAÇÃO NA REDUÇÃO DA INSTABILIDADE DE PREÇOS Há várias maneiras pelas quais o padrão cíclico pode ser quebrado. Primeiro, depois de, talvez, duas ou três alterações de preços, os produtores reconheçam o que está acontecendo e, por conseguinte, deixam de supor que o preço de hoje fornece uma boa predição do preço de amanhã. (Na verdade, os teóricos que argumentam que possa haver flutuações severas, contínuas, de “teia-de-aranha”, têm sido muito criticados pelo argumento de suporem que os produtores nunca aprendem.) A outra possibilidade é que alguém mais reconheça este padrão de teia de aranha e haja não apenas de maneira lucrativa somente para si próprio, mas também modifique o ciclo e, assim beneficie a sociedade como um todo. Suponha que o preço, num ciclo como o dos suínos tenha subido no primeiro ano e decrescido no segundo. Um brilhante indivíduo, agora, percebe subitamente que “Já vi isso antes. Este é novamente um ciclo de suinocultura. Muitos produtores, devido ao baixo preço do suíno este ano, sairão desse ramo, e o preço subirá no próximo ano. Vou compra alguns animais que estão baratos este ano, congelá-los e vende-lo no ano que vem”. Será um empreendimento rentável (se os custos de armazenamento etc. não forem muito altos), uma vez que esse indivíduo descobriu uma maneira de colocar em prática o conselho que qualquer corretor de bolsa dá: compre barato e venda caro. Esta ação, entretanto , não beneficiará apenas o comprador: ela moderará, também, o ciclo. Por quê? A compra de suínos, quando eles estão baratos, cria uma demanda adicional que impede que seu preço caia tanto. E, quando são vendidos mais tarde a um preço mais elevado, a oferta adicional impede que o preço suba tanto. Este ciclo, então, é moderado pela especulação . Especulação envolve a compra de um item na esperança de realizar um lucro a partir da elevação no seu preço (ou a venda de um item na expectativa de que seu preço diminua). QUADRO 18.2 O CICLO DA TEIA DE ARANHA Suponha que o equilíbrio seja E 1 , onde a oferta S e a demanda D de longo prazo se interceptam. Se não houver nenhum choque no sistema, o preço continuará em P e a produção em Q. Agora suponha que no período inicial alguma perturbação (digamos, uma doença) reduza o número total de suínos que chega ao mercado para Q 1 . Suponha, também, que nenhum animal mais pode ser produzido pelo período de um ano, de modo que a oferta é inelástica ao nível de produção Q 1 . Em outras palavras, a oferta imediata pode ser (GRÁFICO) visualizada pela seta vertical que parte de Q 1 e intercepta a demanda no ponto de equilíbrio E 1 . Como resultado, o preço se estabelece no alto nível. P1. Neste ano inicial, os produtores precisam decidir acerca de quantos suínos produzir no próximo ano. Ao enfrentar esse preço favorável P 1 , respondem indo até o ponto G em sua curva de oferta, produzindo, então, a quantidade Q1 Essa quantidade maior, porém, quando chega ao mercado no ano 2, é a oferta imediata completamente inelástica (mostrada pela seta apontando para baixo na direção de Q 2 ) que resulta, agora, num novo equilíbrio E 2 , com o preço mais baixo P 2 Neste segundo ano, os produtores precisam decidir o que produzir no terceiro ano. Ao enfrentar o baixo preço P 2 , respondem escolhendo o ponto H na sua curva de oferta. Quando, porém, essa pequena quantidade Q 3 é produzida e chega ao mercado no terceiro ano, resulta num equilíbrio em E 3 , com um preço relativamente alto de P 3. Preço, produção e consumo continuam a saltar para a frente e para trás até que o sistema, novamente, se fixe no equilíbrio de longo prazo E Conceitualmente as coisas poderiam ser ainda piores. A teia de aranha exemplificada fornece uma boa ilustração de um problema dinâmico, ou seja, um problema no qual o tempo precisa ser considerado explicitamente. No nosso exemplo, a oferta tem um elemento dinâmico (tempo), já que a oferta do próximo ano depende do preço deste ano. O argumento favorável à especulação é simples assim como apresentamos. Para fixá-lo mais precisamente, considere como a estabilização do preço é benéfica do ponto de vista da sociedade como um todo. Imagine, especificamente, uma situação onde muitas, e não uma pessoa apenas, estoque suíno no ano 2, quando o preço está baixo, e venda no ano 3, quando o preço está alto. Além disso, por simplicida de, assuma inicialmente que os custos de estocagem são nulos, assim como também os juros sobre os empréstimos. A parte a do Gráfico 18.8, mostra a curva de demanda por suínos, reproduzida do Quadro 18.2. O ano 2 está assim ilustrado: na ausência de especulação, o equilíbrio se dá em E 2 , com um preço baixo P 2 e uma produção elevada Q 2 . O Gráfico, na parte b, mostra o ano 3, com a mesma curva de demanda mas com uma produção mais baixa, Q 3 na ausência de especulação, o equilíbrio se dá em E 3 , e o preço mais alto em P 3 . Considere, agora, o comportamento dos especuladores: compram quando o preço está baixo, no ano 2, e vendem quando está elevado, no ano 3, o que faz subir o preço no ano 2 e baixar no ano 3. A especulação continuará até que não seja mais lucrativa, até o ponto onde os preços de igualem no tempo (P 1 2 P 1 3 ) e as ondas cíclicas tenham sido eliminadas 3. Isto porque, enquanto o preço for menor no ano 2 do que no ano 3, alguns especuladores terão incentivo para comprar no ano 2 e revender no ano 3. A quantidade que eles transferem de um ano para o outro está indicada pela seta sob cada parte do gráfico. Atente para o fato de como a estabilização do preço foi benéfica. O consumo reduzido, no ano 2, tinha então menor utilidade, como mostra a área 1 da parte a, mas houve um incremento ainda maior de utilidade na parte b, devido ao incremento de consumo no ano 3. A razão para esta diferença é que as unidades estão sendo retiradas de um público “relativamente saciado” no ano 2, e fornecidas a um público “relativamente faminto” no ano 3. A diferença entre essas duas áreas é o lucro líquido da especulação. (GRÁFICO) Se há um benefício que resulta da eliminação de um ciclo, é claro que há uma perda em se ter um ciclo em lugar de preços estáveis, como situação inicial. Esta é a segunda maior reserva acerca dos mercados perfeitamente competitivos: a falência do mecanismo de sinalização e de sincronização pode levar à instabilidade de preço, como no exemplo da teia de aranha. Quando isto não é eliminado pelos especuladores, o movimento livre do preço, permitido pelo mercado perfeitamente competitivo, pode se tomar uma desvantagem — embora seja uma grande vantagem sob outras circunstâncias (por exemplo, as do Gráfico 18.6). Por enquanto, os especuladores emergem desta discussão quase como herói da cena, mas isto porque supusemos que eles predizem corretamente o futuro. É claro que eles podem prever erradamente, quando então suas ações resultarão numa perda tanto para eles quanto para a sociedade. Por exemplo, quando formam estoques hoje na expectativa de que o preço seja maior no próximo ano, se de fato o preço resultar menor, os especuladores incorrerão numa perda óbvia. Além disso, do ponto de vista da sociedade como um todo, há também uma perda, já que suas vendas no próximo ano deprimirão o preço, tomando a flutuação ainda pior. Assim, o sucesso individual e o benefício potencial que podem gerar para a sociedade dependem de sua habilidade em predizer o preço. Finalmente, os especuladores podem também assegurar um benefício quando as flutuações de preço são devidas a outras causas. Nosso exemplo envolveu uni ciclo de teia-de-aranha, mas um ganho similar poderia ser obtido quando os especuladores eliminassem flutuações de preço que resultam de alterações climáticas. 02.03. MONOPÓLIO A concorrência perfeita prevalece em alguns mercados. Há muitos vendedores e muitos compradores, nenhum deles influenciando o preço. No outro extremo, outros mercados são monopólios, cada um com apenas um vendedor. (A palavra grega mono significa “único”, e a palavra pálio significa “vender”). DE ONDE SURGE O MONOPÓLIO? Há quatro razões importantes pelas quais possa haver apenas uma empresa vendendo um bem: 1. Controle de um insumo ou de uma técnica. Uma empresa pode controlar algo essencial que nenhuma outra pode adquirir. É o caso da propriedade sobre recurso necessário; um exemplo clássico é o do controle que a Alcoa exercia as ofertas de bauxita, que lhe permitiram monopolizar a venda de alumínio da II Grande Guerra. Outro caso é o da propriedade de uma patente, que permite o inventor controlar com exclusividade a produção de um novo bem ou processo um período legalmente estabelecido. (A concessão de patentes é destinada a encorajar os gastos em pesquisa, permitindo que o inventor receba um prêmio substancial). Quando uma empresa detém o controle de um recurso, ou de uma patente embora novas empresas desejem entrar na indústria, elas não podem –a industria permanece monopolizada. 2. Monopólio legal. Em vários casos é ilegal que mais do que uma em venda um produto. Alguns exemplos são: Correios e Telégrafos (é ilegal competir com os Correios no envio de cartas — embora não no envio de pacotes);direitos exclusivos de exploração de uma linha interurbana de ônibus por parte de alguma empresa particular; monopólio estatal de exploração de recursos minerais estratégicos e petróleo. 3. Monopólio natural. Um monopólio natural se desenvolve não porque seja garantido por lei, mas, em lugar disto, porque é o resultado natural de condições especiais de custo. Um exemplo é o das companhias fornecedoras de energia elétrica. Devido às vantagens de custo que essas empresas monopolistas apresentam, nenhuma outra empresa desejaria instalar redes elétricas nas comunidades já servidas por elas. Esta é uma das mais interessantes formas de monopólio, do ponto de vista econômico, e concentraremos nossa atenção neste capítulo sobre ela. 4. Monopólio por coalizão. Alguns produtores podem se associar na forma de uma operação de mercado unificada, única, para obter um preço mais elevado. (Esta forma de monopólio será estudada mais detalhadamente no próximo capítulo; uma introdução é fornecida ao final deste capítulo). A preponderância do monopólio depende, em parte, da amplitude com que um mercado é definido. No início dos anos 70, a Boeing exerceu um monopólio temporário no mercado de aviões a jato grandes, tipo Jumbo, mas não no mercado de aviões, definido mais amplamente; n os tempos do 747 ainda não havia concorrência de outros grandes aviões a jato, mas certamente havia concorrência na construção de aeronaves menores. (Mesmo no caso de grandes jatos, o monopólio da Boeing teve vida curta, à medida em que outras empresas desenvolviam aviões similares.) As companhias telefônicas detêm o monopólio dos serviços telefônicos, mas não do mercado mais amplo das telecomunicações, onde elas precisam competir com as companhias de correios e telégrafos. Na verdade, cada produtor, no sentido mais amplo, concorre com todos os outros produtores pelos cruzeiros dos consumidores. Quando um consumidor compra um automóvel, pode ser que deixe de realizar telefonemas interurbanos para fazer frente ao pagamento do carro. Desta maneira, num sentido mais amplo, a companhia telefônica concorre até mesmo com o produtor de automóveis. Ao definir os mercados de maneira mais limitada, no entanto, surgem áreas significativas de monopólio: telefones, água serviços de eletricidade, de gás, dentre outros. A importância do monopólio não deve, entretanto, ser superestimada. O oligopólio, onde a indústria está dominada por apenas poucos vendedores, é muito mais importante nas economias capitalistas. Na verdade, a maior parte dos setores da economia brasileira são oligopolizadas, incluindo indústrias tais como as de construção de equipamentos pesados, de aço, automóvel produtos eletrônicos geradores elétricos. Apesar da importância do oligopólio, é apropriado considerar primeiro o monopólio. Sendo a forma mais simples, o monopólio fornece o conhecimento necessário para o estudo do oligopólio. MONOPÓLIO NATURAL: A Importância das Condições de Custo O Gráfico 19.1 ilustra como podem ser importantes as condições de custo na determinação do número de produtores num mercado. As duas partes do gráfico mostram dois produtos com demandas idênticas, mas com custos diferentes para um produtor individual. Na indústria representada na parte a, a curva de custo médio de longo prazo (CMe) atinge um mínimo em 10 unidades de produção, uma parcela muito pequena do mercado total. Conseqüentemente, a demanda total de mercado não pode ser satisfeita por apenas uma empresa operando no seu ponto de custo mínimo. Em lugar disto, a maneira menos custosa de servir a este mercado é através de muitas empresas, a tal ponto que este se organize como concorrência perfeita. Na parte b, o CMe tem o mesmo valor mínimo de $100, com a grande diferença no volume de produção, muito maior, necessário para que urna empresa atinja este mínimo custo. Ao contrário da parte a, onde CMe alcança um mínimo e passa a crescer a um volume muito pequeno, na parte b o CMe continua a decrescer após esse ponto de mínimo. A maneira menos cara de servir este mercado é através de uma única empresa, e está dado o passo para o monopólio. Por definição: O monopólio natural surge quando o custo médio de uma empresa única diminui por um intervalo suficientemente longo que permite, a esta empresa, produzir a quantidade total vendida a um custo médio mais baixo do que o fariam duas ou mais empresas. O que faz um monopólio natural? Por que poderiam os custos continuar a cair por todo, ou quase todo, o intervalo necessário para satisfazer a demanda de mercado? A resposta é: elevados custos fixos (overhead). Telefone, eletricidade, água e serviços de gás, são, todos, exemplos de monopólio natural, uma vez que os custos fixos na instalação de redes de eletricidade e de telefone, ou de reservatórios de água ou centrais de gás, são muito altos relativamente aos custos variáveis. (Para ilustrar o que acontece quando predominam os custos fixos, mantenha os custos fixos da Tabela 17.1 a $1.000, em lugar de $35, e recalcule os custos médios. Note como o custo médio CMe continua a cair à medida que esses $ 1.000 de custos fixos se repartem por um número de unidades de produção cada vez maior.) (GRÁFICO) Para comprovar que a parte b tende a resultar num monopólio, suponha que poucas empresas estão, inicialmente, produzindo 100 unidades cada, no ponto F. Este pequeno volume resultará num elevado CMe ($200) para cada empresa. Uma empresa agressiva descobrirá que pode diminuir seu custo incrementando sua produção e, assim, oferecer seu produto a um preço menor que seus concorrentes. Desta maneira ela pode lançá-los para fora do mercado. Neste caso de monopólio natural, a concorrência tende a eliminar todas as empresas do mercado, exceto uma. A atração óbvia que esta concorrência de preços traz ao consumidor, durante o período no qual a indústria está sendo “sacudida” e o número de empresas reduzido, provavelmente desaparecerá, uma vez que a empresa bem-sucedida tenha eliminado todos os concorrentes e tenha emergido como monopolista. Como único ofertante remanescente, ela terá considerável controle sobre o preço. Uma vez que tenha eliminado seus concorrentes e mostrado que pode bloquear a entrada de novas empresas nesta indústria através do corte nos preços, enquanto for necessário para levar as outras empresas à falência, a empresa monopolista pode aumentar o preço sem receio da concorrência pr esente ou futura. Os consumidores deste produto estão à mercê desta empresa, exceto no caso em que estejam preparados para restringir suas compras. Uma questão importante que resulta disto é a seguinte; qual será o preço que o monopolista irá estabelecer? Antes de responder a esta questão, entretanto, precisamos fazer mais uma distinção importante entre concor rência perfeita e monopólio. A DIFERENÇA NA DEMANDA QUE SE APRESENTA PARA UM COMPETIDOR PERFEITO E PARA UM MONOPOLISTA O competidor perfeito na parte a do Gráfico 19.2 precisa considerar o preço de mercado como dado. Por exemplo, um agricultor individual nunca pensa em pedir 1 cruzeiro a mais por quilo de seu trigo quando sabe que não irá consegui-lo, e nunca oferecer o produto por 1 cruzeiro a menos, pois ele pode vender todo o seu trigo ao preço corrente de mercado. O agricultor não tem “poder de mercado”. Como um produtor individual dentre muitos, ele é incapaz de através da redução da quantidade que oferta, causar qualquer influência notável sobre o preço. Para confirmar esta afirmação, suponha que o preço de mercado seja $2, como determinam a oferta e a demanda da parte b. A resposta do agricultor a este preço é ofertar 2.000 unidades, como está mostrado na parte a. Suponha, agora, que ele tenta ofertar apenas a metade desta quantidade, ou seja, 1.000 unidades. Este movimento reduzirá a oferta de mercado da parte b, deslocando 5 para a esquerda, mas por um montante tão pequeno (1.000 unidades) que sua ação não vai ser sequer notada no mercado. A oferta total variará de 2.000.000 para 1.999.000 unidades. (Se tentar desenhar a nova curva de oferta, você perceberá que está justamente desenhado uma reta acima da curva S inicial.) O preço de mercado, conseqüentemente, permanece o mesmo, como indicado na parte b. O agricultor tentou aumentar o preço, mas sua tentativa de exercer o poder de mercado fracassou totalmente. Sendo um vendedor individual, ele não tem qualquer influência sobre o preço, e isto está refletido na curva de demanda completamente elástica que ele enfrenta na parte a. Agora considere o monopólio, mostrado nas partes c e d do Gráfico 19.2. Na parte d, a demanda total de mercado é exatamente a mesma do caso competitivo recém-descrito. A única diferença é que esta demanda de mercado está sendo satisfeita por uma única empresa monopolista; em outras palavras, a demanda que a empresa individual enfrenta, na parte “c’, é exatamente a demanda total de mercado da parte “d” O monopolista como resultado, pode afetar o preço. Para confirmar isto, suponha que a empresa monopolista esteja vendendo, inicialmente, ao preço de $2. Por ser a única vendedora, esta empresa está ofertando, sozinha, todas os 2 milhões de unidades vendidas (indicadas pelo ponto A tanto na parte c quanto na parte d). Suponha que a companhia, agora, tenta influenciar o preço vendido (GRÁFICO) apenas metade desta quantidade ou seja, 1 milhão de unidades. O resultado é que o preço aumenta para $3; a firma se desloca do ponto A para o ponto B na curva de demanda. Ela é capaz de aumentar o preço através da diminuição da quantidade produzida. (Alternativamente, a firma poderia ter feito exatamente o mesmo movimento de A para B aumentando o preço para $ 3, e neste caso os compradores comprariam 1 milhão de unidades.) Em resumo, a firma monopolista tem a demanda de mercado em suas mãos. Ela é livre para se deslocar ao longo da curva de demanda de mercado do ponto A para o ponto B, selecionando aquele que achai melhor. O concorrente perfeito, por outro lado, não tem controle sobre o preço; em lugar disto, a empresa enfrenta sua própria curva de demanda individual, completamente elástica, e a única coisa que pode fazer é escolher a quantidade que quer vender, O monopolista determina o preço, enquanto o competidor perfeito aceita o preço. QUE PREÇO O MONOPOLISTA ESCOLHE? Qualquer empresa, seja monopolista ou concorrente perfeita, maximizará lucros escolhendo a produção onde o custo marginal CMg iguala a receita marginal RMg. Como já foi reconhecido (no Gráfico 17.2), a receita marginal para os competidores perfeitos é o preço dado de mercado, pelo qual ele vende. (Por exemplo, a receita marginal para uma firma perfeitamente competitiva, no Gráfico 19.2a é $2; a representação de sua receita marginal é idêntica a esta curva de d emanda completamente elástica.) Mas, para o monopolista, a receita marginal não é igual ao preço de venda. Um ponto tão importante quanto este requer um exemplo detalhado, como veremos. Qual é a Receita Marginal de um Monopolista? Suponha que a empresa monopolista do Gráfico 19.3 se desloca de B para C ao longo da curva de demanda. Em B estava vendendo 1 unidade ao preço de $50, e em C está vendendo, agora, 2 unidades ao preço unitário de $45. (A receita média RMe é $45.) Qual é sua receita marginal, ou seja, a receita adicional que recebe por estar vendendo 2 unidades em lugar de 1 unidade? Podemos calcular rapidamente a resposta. A receita total do monopolista era $50, ao vender 1 unidade, e é $ 90, ao vender 2. Assim, sua receita marginal, advinda da ve nda da segunda unidade, é $ 90 - $ 50 = $ 40. Note que a receita marginal ($40) é menor do que o preço ($45). Há uma boa razão para isto. Para vender a segunda unidade, o monopolista tem de baixar o preço — inclusive o preço da primeira unidade. A receita marginal, como conseqüência, é reduzida, o que estabelece uma conclusão importante: Para um monopolista, a receita marginal é menor do que o preço. A Tabela 19.1 mostra a receita marginal para o monopolista a cada nível de produção. A receita total está na coluna (3), e a coluna (4) mostra como varia esta receita total para cada unidade adicional vendida. A representação da receita marginal resultante está feita no Gráfico 19.3. Note que, embora o preço de venda (na curva de demanda) não caia a zero no intervalo considerado, a receita marginal cai abaixo de zero. (GRÁFICO) As curvas de demanda e de receita marginal são o ponto de partida para responder à questão. que preço um monopolista maximizador de lucros estabelece? Produção e Preço do Monopólio Como vimos no Capítulo 18, a melhor escolha para qualquer pessoa que esteja fazendo uma decisão econômica é igualar o custo marginal ao benefício marginaL Para o monopolista, porém, o benefício marginal é a receita marginal. Para maximizar o lucro, então, o monopolista escolhe a produção (Q) onde o custo marginal. iguala a receita marginal, como mostra o Gráfico 19.4 parte “a’. Para maximização do lucro, a empresa escolhe a produção na qual: CMg = RMg Que preço a empresa estabelece? A curva de demanda indica os preços aos quais as diversas quantidades podem ser vendidas. Assim, para vender a quantidade Q, o monopólio seleciona o preço P. Esta escolha é simplesmente a seleção do ponto de maximização do lucro sobre a curva de demanda. TABELA 19.1 A Receita Marginal, para um Monopolista, é Derivada da lnformação de Demanda (Receita Média) (1) Quantidade (Q) 1 2 3 4 5 6 7 (2) Preço (P X Q) $50 45 40 35 30 25 20 (3) receita Total (P X Q) $50 90 120 140 150 150 140 (4) Receita Marginal (RGg) $50 ( 90-50) = $ 40 (120-90) = 30 (140-120) = 20 (150-140) = 10 (150-150) = 00 (140+150) = -10 É claro que a empresa precisa, neste caso de monopólio (assim como em concorrência perfeita), se importar com outra questão importante: deveria ela, afinal, operar? A resposta é sim. Vendendo Q unidades, ela realiza um lucro por unidade igual a EV (a diferença entre o preço de venda E, na curva de demanda, e o custo médio V, na curva CMe). Para o monopolista, então, haverá um lucro enquanto E permanecer acima de V, ou seja, até que a curva de demanda cruze a curva de custo médio. O lucro total do monopólio é a área sombreada, indicada na parte b do Gráfico 19.4, ou seja, o lucro por unidade (EV) vezes o número de unidades vendidas (PE). Assim, essas duas partes mostram a empresa monopolista maximizando lucros de duas maneiras exatamente equivalentes: na parte a, ela iguala o CMg à RMg; alternativamente, na parte b, ela seleciona o ponto E na curva de demanda, ponto este que maximiza a área de lucros sombreada. Usaremos essas duas abordagens alternativamente. A abordagem da parte b foi colocada porque indica claramente os lucros que a empresa está tentando maximizar. Além disso, ela capta as duas condições que a empresa precisa satisfazer; garante: 1) que a condição marginal CMg = RMg será preenchida e 2) que a empresa não estará operando com perda (caso em que ela sairia fora do negócio no longo prazo). A firma monopolista maximiza seus lucros (e alcança, assim, a melhor posição para si própria) escolhendo a produção na qual CMg = RMg. Permanece, entretanto, uma questão importante: como será avaliado este nível de produção pela sociedade como um todo? Especificamente, este nível de produção escolhido pelo monopolista leva à eficiência? (GRÁFICO) O MONOPÓLIO É EFICIENTE? A resposta é não: um monopólio produzirá muito pouco e, conseqüentemente, os recursos da nação serão mal alocados. Antes, porém, de mostrarmos a razão para a ineficiência alocativa, note que o monopólio pode ser, também, tecnicamente ineficiente; a empresa pode não estar operando na menor de suas possíveis curvas de custo. Já que não há concorrência, o monopólio pode relaxar seus controles de custo, e os recursos, em conseqüência, podem estar sendo desperdiçados. Ao desenhar nossos diagramas supusemos que tal tipo de ineficiência não existia, ou seja, que a firma estivesse operando sempre na menor possível de suas curvas de custo médio. A ineficiência técnica nas industria monopolistas, porém, é um custo muito importante para a sociedade, e não deveria ser esquecida. Vamos retomar, agora, ao problema mais sutil da ineficiência alocativa (ou, para simplificar, apenas “ineficiência”). Considere as duas indústrias indicai no Gráfico 19.5, para ilustrar por que um monopólio produzirá pouco produto. Às curvas de demanda para esses dois produtos são idênticas; além disso, as curas de custo marginal da produção desses dois bens também são idênticas, como mostra o gráfico 2 . A única diferença é que o mercado, na parte a, é servido por um grande número de empresas perfeitamente competitivas, enquanto o mercado, na parte é servido por um monopolista. Essas duas partes ilustram a importante diferença entre uma indústria perfeitamente competitiva e uma indústria monopolista. A curva de custo marginal, para a indústria perfeitamente competitiva parte a, ou seja, a curva CMg, é a curva de oferta, e o equilíbrio está em E C . produção Q C é realizada e vendida ao preço P C . Se esta indústria, porém, monopolizada, como mostra a parte b, o equilíbrio estará em E M , .com produção menor Q M e o preço maior P M . Assim: O monopolista vende uma produção menor do que a produção perfeitamente competitiva, e a um preço maior. Em ambos os cálculos, os consumidores sofrem: no ponto E M da parte b pagam um preço mais alto e usufruem menos desse bem do que o fariam no ponto E C , sob concorrência perfeita. Por outro lado, o monopólio lucra: uma vez c pode aumentar o seu preço, ele tem uma oportunidade de lucrar não disponível para os concorrente perfeitos. Até aqui, tentando avaliar o monopólio, fomos apresentados ao dilema típico dos responsáveis pela política econômica; o monopólio prejudica um grupo (os consumidores) mas beneficia outro (o produto). Como poderemos determinar o efeito líquido trazido pelo monopólio para sociedade como um todo? Sabemos a resposta: há uma perda de eficiência devida ao monopólio. Uma vez que Q C , na parte a, é a produção perfeitamente competitiva, ela é eficiente Portanto, o nível de produção QM menor, no caso do monopólio, envolve necessariamente uma perda de eficiência, ou seja, uma perda desnecessária para economia como um todo. Isto está confirmado na parte a do Gráfico 19.6, on o equilíbrio Ec, perfeitamente competitivo, e o equilíbrio E M , do monopólio, (GRÁFICO) são a reprodução do Gráfico 19.5. A perda de eficiência, sombreado, sob o monopólio, está estabelecida aqui da mesma maneira que no Gráfico 18.4b, e é deixada como um exercício. (Para conferir sua resposta, veja a legenda do Gráfico 19.6a.) A razão desta ineficiência, conforme demonstra a parte b, é que segue: o benefício marginal deste bem para a sociedade (ou seja, a utilidade marginal) está reflectido na sua demanda de mercado, independentemente de se este mercado está sendo servido por urna indústria monopolista ou concorrência. O custo marginal do bem para a sociedade como um todo também está demonstrado: é o custo marginal de sua produção. Eficiência requer que o bem seja produzido ao nível de produção Qc, onde os dois são iguais. Isto é o que acontece sob concorrência perfeita (seta à direita). Se este mercado, porém, estiver servido por um monopólio, a empresa venderá menos, uma vez que igualará o CMg ao seu benefício marginal individual, o qual não é o mesmo que o da sociedade como um todo, ou seja, seu benefício individual é a receita marginal, e não a utilidade marginal do bem para os consumidores (demanda). Assim, quando um monopolista decide com base em seu próprio interesse, em lugar do interesse da sociedade, esta sofre - o que não é surpreendente. A “mão invisível” de Adam Smith falha em sua tarefa. (GRÁFICO) Uma limitação A discussão anterior pareceu levar ao claro julgamento ae que a sociedade fica prejudicada quando se monopoliza uma indústria perfeitamente competitiva. Esta conclusão geralmente é correta. Ela não é incontestável, porém, pela distinção entre o efeito-transferência e o efeito-eficiência de um monopólio. O efeito-eficiência é a redução na eficiência associada à produção de uma quantidade que é muito pequena. Este efeito está medido pela perda de eficiência em sombreado no Gráfico 19.6a. O efeitotransferência ocorre porque o preço mais elevado cobrado pelo monopolista envolve a transferência dos consumidores, que pagam esse preço maior, para o monopolista, que o recebe. Ao concentrarmos nossa atenção sobre o efeito-eficiência, ignoramos, até o presente, o efeito da transferência, ou seja, temos suposto implicitamente que a utilidade que o monopolista ganha de, digamos, um adicional de $100.000 é aproximadamente igual ao declínio na satisfação dos consumi dores quando estes perdem aquela soma. É possível, porém, que esta hipótese seja errada. O monopolista pode obter mais utilidade, a partir desta transferência, do que perdem os consumidores. (Suponha, por exemplo, que o produto é algo como um carro MP-Lafer. Os consumidores que o adquirem devem ser tão ricos que mal notam o custo extra de $100.000. Os proprietários da empresa monopolista da distribuição desse tipo de carro na cidade, principalmente se forem viúvas ou órfãos, poderão ter uma satisfação enorme através desse adicional de $100.000 nos lucros). Neste caso, o ato de transferir renda geraria um benefício líquido. Ademais, é concebível que tal benefício anule a perda de eficiência mostrada em sombreado no Gráfico 19.6a. Então nosso julgamento desfavorável acerca do monopólio será derrotado. O argumento, embora possível, é um tanto forçado; parece refletir a exceção e não a regra. Por conseguinte, a maior parte dos economistas argumentaria que a monopolização de uma indústria resulta, tipicamente, numa perda líquida para a sociedade. Deve-se apontar, contudo, que o problema de avaliar se esses $100.000 trazem ou não benefícios iguais para compradores e vendedores surge quando se pretende avaliar a maior parte das políticas econômicas, sejam elas o controle do preço do monopólio, limitação da poluição ou abertura de comércio com outros países. Qualquer dessas políticas resulta numa variação em algum preço de mercado e, assim, numa transferência de renda entre compradores e vendedores. Qualquer conclusão normativa (de ser desejável ou não a política) requer, portanto, uma hipótese de trabalho a respeito da avaliação de renda por parte das pessoas. Qualquer pessoa que não esteja preparada para estabelecer uma hipótese de trabalho razoável a esse respeito estará limitada para a economia positiva - para uma análise de eventos, políticas e instituições econômicas, sem um julgamento acerca de serem estes benéficos ou não para a comunidade como um todo. POLITICAS GOVERNAMENTAIS ANTIMONOPÓLIO Objetivando proteger os consumidores, o governo tenta instituir políticas para lidar com o monopólio. Geralmente essas políticas são dos seguintes tipos 1. estabelecimento de uma agência para controlar o preço que o monopolista estabelece; 2. operação de um monopólio sob a propriedade governamental; 3.cumprimento de leis antitrustes para repartir um monopólio em duas ou mais empresas menores ou para prevenir que diversas empresas realizem uma fusão para formar um monopólio. (O objetivo, neste caso, é o de proteger não apenas os consumidores mas também as empresas competidoras.) Os primeiros dois pontos serão analisados neste capítulo, enquanto o terceiro o será no Capítulo 20. CONTROLE DE PREÇOS: A Tentativa de Fazer com que o Monopólio Aja como um Concorrente Perfeito Alguns setores significantes da economia são monopólios. Faz sentido haver apenas um conjunto de dutos elétricos ou de telefones correndo sob a rua serviços elétricos e de telefonia são monopólios naturais. Também o são os serviços de gás urbano, esgotos e água. Alguns destes são fornecidos por empresas esta enquanto outros (como telefones) são fornecidos por grandes empresas particulares (como nos Estados Unidos) ou mistas (no Brasil). O governo pode, nestes casos, regulamentar - ou controlar - os preços. Quando controla preços, a que níveL: governo deve estabelecê-los? (GRÁFICO) Para lançar luz a esta questão, considere o monopolista representado Gráfico 19.7 (que produz as curvas do Gráfico 19.6 mais a adição da curva custo médio CMe). Já vimos que o monopolista que tem liberdade para estabelecer seu próprio preço escolhe o ponto E 1 na sua curva de demanda (uni nível produção Q 1 , onde RMg = CMg), em lugar do ponto E 2 , eficiente e socialmente desejável (onde CMg = D = utilidade marginal). Uma política governamental adequada deveria deslocar o monopólio de E 1 para E 2 , sobre sua curva de demanda. Em teoria, esse resultado pode ser alcançado simplesmente fixando em P 2 o preço máximo que a empresa pode cobrar, o preço no qual sua curva de CMg corta a de demanda. Chama-se a este procedimento de estabelecimento do preço pelo custo marginal. Uma vez que, agora, a firma monopolista está proibida de elevar seu preço, ela é forçada a agir como uma firma perfeitamente competitiva, tomando o preço como dado. Como a firma é perfeitamente competitiva, ela produzirá no ponto E 2 , onde sua curva de CMg sobe até o nível do seu preço P 2 , dado. Sendo E 2 também o ponto eficiente onde CMg = D = UMg, esta política alcança eliminar a perda original de eficiência devida ao monopólio. Resumindo, considere como o estabelecimento do preço pelo custo marginal soluciona os abusos do monopólio quando este produz muito pouco e a um preço multo elevado. O monopólio é obrigado a reduzir seu preço e, conseqüentemente, a aumentar também sua produção. Além disso, seu lucro de monopólio fica reduzido, embora não necessariamente eliminado. (Permanece um lucro por unidade de E 2 Z, ainda.) Infelizmente não é assim tão fácil lidar com o monopólio. Assim como o estabelecimento do preço pelo custo marginal, no exemplo do Gráfico 19.7, permitiu realizar lucro, poderia ter causado um prejuízo para o monopólio. Quando a indústria apresenta condições para a perda, a política utilizada deve ser outra. O CASO ESPECIAL DE MONOPÓLIO DISCRIMINADOR: Deixar o Monopolista Agir como um Monopolista O argumento, até aqui, é o de que não se deveria permitir que o monopolista fixasse um preço elevado, mas há uma interessante exceção a esta regra geral. O Gráfico 19.8 mostra a demanda por serviços de uma médica numa cidade pequena, bem como a sua curva de custos médios (a qual, como sempre, inclui seu custo de oportunidade, ou seja, o que ela poderia ganhar em outro lugar). Se precisasse estabelecer um único preço para todos os pacientes, ela decidiria não trabalhar nesta comunidade. A razão é que sua curva de demanda D não se sobrepõe à curva CMe, não havendo nenhum preço único que ela possa selecionar que cobrisse seus custos. Em resumo, mesmo que ela pudesse ser uma monopolista e ter o poder de estabelecer preços, não teria um preço único que valesse a pena estabelecer. O melhor que poderia fazer seria selecionar um ponto como E na sua ‘curva de demanda, estabelecendo sua taxa em P e vendendo a quantidade Q. Mesmo assim a doutora não estaria cobrindo seus cus tos, uma vez que o seu preço P seria menor do que seu custo médio C. (A sua perda total comparada com o que ela estaria ganhando em outro lugar, especificamente, seria as áreas 1 e 2, ou seja, Q unidades vendidas com um prejuízo de CP cada uma.) Nestas circunstâncias, a comunidade fica sem médico, perdendo um excedente de consumidores igual a FJE. Obviamente, se houver uma maneira de a doutora conseguir parte desse excedente, será lucrativo para ela estabelecer-se ali, e a comunidade se beneficiaria também. Ela poderá fazer isto se lhe for permitido discriminar seus pacientes, vendendo seus serviços mais caro para uns que para outros. Suponha, para ilustrar, que ela inicie na posição E, cobrando um preço P para todos os seus pacientes e incorrendo numa perda igual a 1 + 2. Sua situação poderá melhorar se ela discriminar, ou seja, se cobrar de seus primeiros pacientes ( Qi, os mais ricos) uma taxa maior, P’. Tal ação incrementa sua renda, a partir de seus pacientes mais ricos, num montante igual as áreas 1 + 3, mais que compensando suas perdas originais 1 + 2. A média conseguirá, portanto, mais do que cobrir seus custos; com uma renda maior do que conseguiria em qualquer outro lugar, ela decide permanecer na cidade. Em resumo, se não lhe for permitido discriminar, a médica será forçada a receber uma renda anormalmente baixa, e a comunidade perderá um doutor. Se lhe for permitido discriminar, entretanto, ela permanecerá. Isto é benéfico para ela e para os seus pacientes. De fato, beneficia até mesmo os pacientes que precisam pagar taxas mais elevadas, pois sua presença lhes permite obter um excedente F’JF dos consumidores, do qual teriam de abrir mão se a doutora não permanecesse. A discriminação de preços é, por conseguinte, justificada neste caso, pois beneficia a todos os interessados. Embora seja desejável em alguns casos, a discriminação de preços pode não ser possível. Para fazer com que os diferentes preços se mantenham, o monopolista que discrimina deve ser capaz de dividir o mercado, evitando assim que indivíduos que compram a preços mais (GRÁFICO) baixos revendam os bens que comparam a um preço mais alto. No exemplo da médica, a divisão do mercado não é problema, uma vez que nenhum paciente poderá revender uma cirurgia pela qual pagou um preço baixo a qualquer outro doente. Por outro lado, pode não ser possível a uma empresa de ônibus discriminar entre seus usuários adultos,cobrados de alguns $10 e de outros $20 através de passagens diferenciadas, uma vez que aqueles que podem adquirir as passagens a $10 podem, também, revendê-las a $15, beneficiando tanto quem vende quanto quem compra. Esta companhia pode, entretanto, discriminar entre adultos e crianças, uma vez que aqueles não têm condições físicas adequadas para utilizar as passagens de crianças. Finalmente, deve ser reenfatizado que a discriminação de preços (Gráfico 19.8) é desejável quando D não se sobrepõe a CMe, forçando o monopolista a sair de atividade. A discriminação, entretanto, não se justifica quando, no caso normal de monopólio, D se sobrepõe a CMe e o monopolista tem capacidade de realizar um lucro monopolista através do estabelecimento de um único preço. O caso do monopólio onde não se justifica a discriminação é que nos interessa analisar neste livro daqui por diante. AS EMPRESAS REALMENTE MAXIMIZAM LUCROS? Foi suposto, até aqui, que os produtores maximizam seus lucros. Deve-se reconhecer, entretanto, que estes, às vezes, buscam outros objetivos bastante diferentes. Às vezes podem decidir seguir uma política que lhes melhore a imagem perante seus acionistas. Às vezes, com o objetivo de se tomarem maiores, podem expandir a produção além do ponto de maximização dos lucros (assegurando que consigam um nível de lucro razoável). Às vezes, interessados na segurança, podem guinar para a direção oposta e “pensar pequeno”, apenas se comprometendo com despesas que lhes rendam um lucro elevado, mas abandonando despesas relacionadas a risco maior, que lhes renderiam um lucro menor. Outros, às vezes, preferem seguir a política de não alterar nada porque sua atividade tem-lhes proporcionado uma vida tranqüila. Por exemplo, por que se preocupar com perdas menores nas quais incorrem por manter empregados alguns familiares? Qual a razão de não construirmos nossa teoria econômica utilizando uma dessas hipóteses, em lugar da hipótese da maximização dos lucros? No caso de algumas dessas hipóteses, não podemos construir uma teoria porque os objetivos não são suficientemente específicos. (Por exemplo, é possível que 10 empresários em idênticas circunstâncias, cada qual almejando uma vida tranqüila, apresentem 10 decisões diferentes quanto à produção e preço.) E mesmo quando uma teoria puder ser construída, ela terá o mesmo defeito da decorrente da maximização dos lucros: não descreverá todos os processos decisórios econômicos. Utilizamos, assim, a hipótese da maximização do lucro por ser simples e precisa o suficiente para nos permitir dar o primeiro passo e construir uma teoria, assim como porque ela geralmente descreve o processo de decisão econômica pelo menos tão bem quanto qualquer hipótese alternativa. Reconhecemos, entretanto, que ela não é válida em alguns casos. Portanto, deveríamos ser apropriadamente modestos ao reivindicar por nossas conclusões. É claro que se temos evidência de que certas firmas es outro objetivo (como o rápido crescimento), podemos ajustar de maximização de lucro de algum modo razoável. Por exemplo, uma vez que a firmas que crescem muito tendem a produzir uma produção maior que maximizam lucro, podemos perguntar: qual a implicação no preço para o consumidor? Quais os efeitos sobre a eficiência? Como os produtores reagiriam ao controle de preço? E assim por diante. As respostas para algumas dessas questões são evidentes, mas outras não são tão claras.se desejássemos clarificá-las, poderíamos mesmo dar um gigantesco passo além de construir uma teoria totalmente nova, sem prévios conhecimentos, baseados que não a de maximização de lucro. Esta é, no entanto, uma historia para um curso mais avançado. 02.04. OS BENEFÍCIOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL A especialização traz benefícios ou ganhos econômicos para uma sociedade. Assim, uma das razões para o alto padrão de vida dos Estados Unidos é o seu alto grau de especialização interna, O aço é produzido perto das minas de carvão da Pensilvânia, o trigo é cultivado nos estados do Centro-Oeste e as frutas cítricas vêm da Califórnia e Flórida. Podemos observar também um certo grau de especialização no caso do Brasil: os cereais são cultivados no Sul; o algodão e cacau no Nordeste e veículos e equipamentos industriais são produzidos na região Sudeste. Com isto, toma-se possível aumentar a produção total de bens e serviços. Do mesmo modo que a especialização interna dos Estados Unidos e Brasil toma estas economias mais eficientes, a especialização entre países contribui para o aumento de eficiência a nível internacional. Noutros termos, o comércio internacional e a especialização trazem a mesma sorte de benefícios que a especialização interna, ou seja: vantagens comparativas e economias de escala. O comércio internacional também submete os produtores internos a um grau maior de concorrência, reduzindo seu poder de mercado. Conseqüentemente, os consumidores internos compram produtos mais baratos, tanto dós produtores externos quanto dos produtores nacionais, que devem manter seus preços em níveis concorrenciais. O maior objetivo desse capitulo será o de analisar em detalhe cada um desses benefícios advindos do comércio. Entretanto, antes de seguir adiante, cumpre-nos propor duas questões básicas. COM QUEM COMERCIAMOS? O QUE COMERCIAMOS? As respostas a estas questões são dadas na Tabela 21.1, onde são considerados os itens mais importantes da Balança Comercial brasileira e os principais blocos econômicos com quem comerciamos. É evidente que o parceiro comercial mais importante do Brasil são os Estados Unidos – o que não é de se estranhar dado o grua u de complementaridade entre o dos países. Entretanto, a nível de bloco econômico, aparecem em primeiro lugar os países da Comunidade Econômica Européia (CEE), seguidos dos países pertencentes à Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC). TABELA 21.1 Estrutura da balança comercial brasileira em 1979 para os primeiros parceiros comerciais (US$) milhões) Estados Unidos Comunidade Econômica Européia (CEE) ALALC Canadá Ásia África Europa Oriental Europa Ocidental (excluindo CEE) América Latina (excluindo ALALC) Orientes Médios Outros TOTAIS Exportação 2.940,9 4.505,3 2.474.7 199.3 1.522,8 650,8 975,7 1.082,8 114,4 517,8 259,9 Importação 3.239,6 3.275,5 2.208,7 345,0 1.485,8 462,8 239,4 821,5 47,5 5.807,7 150,3 15.244,4 18.083,8 PRINCIPAIS INTES DE COMÉRCIO Exportação Importação Café 1.917,6 Combustíveis minerais 6.773,0 Farelo de óleo de soja 1.463,7 Produtos Químicos 2.288,7 Minérios de ferros e outros 1.287,7 Cereais minérios 1.319,5 Máquinas e aparelhos elétricos 1.043,1 Material mecânico e elétrico 3.887,7 Equipamentos mecânicos 2,267,4 Produtos alimentícios 1.100,7 Matéria plástica e borracha 425,9 Material de transporte 368.2 Ferro fundido, aço e cobre 851,1 Calçados 972,6 Papel e derivados 247,3 Cacau 2,926,7 Demais itens 983,5 3.206,8 Demais itens 15.244,4 18.083,8 A parte de baixo da tabela indica que a pauta de comercio brasileiro compreende uma enorme variedade de mercadorias. Nossas exortações incluem itens tão diversos como veículos e minérios da região Sudeste, farelo e óleo de soja dos estados do Sul e cacau do Nordeste. Por outro lado, nossas importações incluem desde o petróleo e produtos químicos — insumos básicos da produção industrial e agrícola até plásticos e cereais. Entretanto, o item que merece uma atenção especial refere-se ao petróleo importado, que tem comprometido fortemente nossa balança comercial, observe que a conta de petróleo, em 1972, era de 343,9 milhões de dólares, passando para 6,7 bilhões de dólares em 1979. Assim, embora nossas exportações, principalmente de manufaturados, tenham crescido de modo apreciável, o país incorre em déficits continuados devido à elevação do preço do petróleo na década de 70. O exposto acima descreve, em linhas gerais, o que e com quem comerciamos. Retornemos, agora, à análise que podemos obter das trocas internacionais. Há três fontes principais de benefícios a considerar: 1) aumento de concorrência, 2) economias de escala e 3) vantagens comparativas. OS MERCADOS SE TORNAM MAIS CONCORRENCIAIS E, PORTANTO, MAIS EFICIENTES Consideremos a firma monopolista do Gráfico 21.1. Inicialmente, na ausência de comércio com o exterior (diagrama a), a firma detém todo o mercado brasileiro para si mesma, portanto, se inexistir controles governamentais, ela poderá estabelecer um preço de monopólio. No diagrama b, com a introdução do comércio exterior, o produtor brasileiro se defronta, agora, com uma demanda potencial muito maior dada pela Curva de Demanda Mundial. Por esta razão, a firma brasileira pode tentar a captura tanto do mercado interno quanto do externo, contudo, a mesma já não detém cativo o mercado interno, pois ela enfrenta uma dura concorrência dos produtores estrangeiros. Assim, vemos que o comércio internacional pode transformar um monopólio no mercado interno (diagrama a) em um oligopólio natural no mercado mundial (diagrama b), neste processo, o controle monopólio que a firma exerce no mercado brasileiro é quebrado, e sua capacidade de manter um preço alto, graças a seu poder de mercado, é igualmente reduzida. Como tivemos oportunidade ver anteriormente, qualquer redução de preço para níveis mais competitivos resulta em uma melhor alocação de recursos com ganhos de eficiência em decorrência. Por outro lado, se a indústria doméstica é originariamente um oligopólio natural, o comércio internacional pode torná-la mais concorrencial. Observe no Gráfico 21.2 acima uma firma brasileira que detém cerca de um terço do mercado interno (diagrama a). Após a abertura do comércio internacional, sua fatia de mercado será pequena, em termos do mercado mundial maior, no diagrama b. Novamente, o aumento de concorrência tenderá a manter baixo o preço do prod uto. Mais ainda, o consumidor brasileiro pode também ganhar já que o produtor doméstico é forçado a concorrer nos aspectos extrapreço, tais como qualidade e concepção do produto. Pôr esta razão, a indústria automobilística norte-americana tem sido encorajada a produzir carros menores, em decorrência da concorrência, primeiro de parte da (GRÁFICO) Volkswagen (no fim de 1950), e mais recentemente das firmas japonesas: Datsun, Toyota e Honda. ECONOMIAS DE ESCALA Na presença de economias de escala - envolvendo custos médios decrescentes, à medida que cresce a produção - há dois tipos de ganhos potenciais que resultam do comercio: Surgimento de Novos Produtos Em particular, o comércio internacional pode tornar lucrativa a produção de bens que de outro modo jamais seriam produzidos. O Gráfico 21.3a ilustra o caso de um desses produtos. A demanda interna é muito pequena para permitir uma produção lucrativa desse produto. Entretanto, à medida que os mercados externos se tornam acessíveis ao produtor interno, a demanda cresce o suficiente para cobrir o custo médio (a demanda crescente corta o CM), e o produto é lançado no mercado. Um exemplo disto foi o jato jumbo 747, lançado pela Boeing no começo dos anos 70, se não houvesse possibilidade de venda para a s companhias aéreas estrangeiras, a Boeing não seria capaz de cobrir os gigantescos custos do projeto e fabricação necessários para produzir um avião de tal envergadura. Pelo menos, o seu lançamento seria retardado, ou não seria produzido de qualquer maneira. (GRÁFICO) Produção mais Eficiente de Bens já Existentes Quando há economias de escala, o comércio com o exterior determina não só a produção de novos produtos, mas também a produção mais eficiente dos que já estão disponíveis no mercado. Por exemplo, o s produtores europeus tiveram a possibilidade de produzir um volume maior de carros, a custos menores, com o estabelecimento do Mercado Comum Europeu, pois com a remoção das barreiras ao comércio, o acordo possibilitou a um produtor, em quaisquer dos países-membros, vender livremente para consumidores em todos os países pertencentes à Comunidade Econômica Européia. VANTAGENS COMPARATIVAS Vamos agora supor que não há economias de escala, isto é, os custos são constantes para qualquer nível de produção (a curva de custo médio é horizontal). A teoria das vantagens comparativas nos diz que, mesmo nessas circunstâncias, pode haver ganhos advindos do comércio internacional. (GRÁFICO) A idéia básica sobre vantagens comparativas já foi introduzida no Capítulo 3. Assim, mesmo que a médica do exemplo seja mais qualificada em medicina e jardinagem (isto é, possua uma vantagem absoluta), ela não trabalhará no seu jardim. Em vez disso, a doutora concentrará suas atividades em medicina, no que ela possui uma vantagem comparativa. Especializando sua atividade desse modo, ela poderá ter um ganho maior do que se empregasse seu tempo para cuidar do jardim. A analogia em termos internacionais é a seguinte: mesmo que o Brasil tenha uma vantagem absoluta na produção de soja e rádios transístores, será mais eficiente concentrar-se na produção de soja e outros produtos nos quais há vantagens comparativas, deixando que outros países produzam os rádios. Especializando-se em soja, os brasileiros podem adquirir mais rádios, através do comércio, do que seria possível com produção interna. A concepção das vantagens comparativas foi desenvolvida no início do século dezenove por David Ricardo, um economista inglês, financista e membro do Parlamento. Na sua versão simplificada, Ricardo fez as seguintes hipóteses: a) concorrência perfeita; b) ausência de custos de transporte; e) custos de produção constantes, d) trabalho como o único fator de produção e) comercio bilateral entre dois passes. Para exemplificar voltemos ao caso de dois passes Estados Unidos e Brasil, que produzem dois bens, alimentos e vestuário. Vantagens Absolutas Preliminarmente, a Tabela 21.2 ilustra o caso no qual um país detém uma vantagem absoluta na produção de um bem. Na primeira coluna, vemos que um trabalhador da industria de vestuário tem maior produtividade no Brasil do que nos Estados Unidos (4 para 3), isto é, o Brasil detém uma vantagem absoluta em vestuário. Similarmente, na segunda coluna, vemos que os Estados Unidos tem uma van tagem absoluta em alimentos, porque a produtividade do trabalhador norteamericano é maior neste setor produtivo (2 para 1). Com isto, a alocação de recursos mais eficiente é fazer com que os Estados Unidos se especializem na produção de alimentos e o Brasil em vestuário. Aparentemente ,parece que cada país se especializa naquele produto em que goza de uma vantagem absoluta, mas isto nem sempre é verdadeiro, pois, como veremos a seguir, a chave para a especialização é a existência de vantagens comparativas. Vantagens Comparativas A Tabela 21.3 ilustra o caso menos evidente de um país, os Estados Unidos, que detém uma vantagem absoluta na produção de ambos os produtos, pois a produtividade do trabalhador norte-americano é maior na produção tanto de vestuário (6 para 4) quanto de alimentos (3 para 1). Não obstante, os Estados Unidos não deverão produzir os dois produtos para satisfazerem suas necessidades internas. Em vez disto, aquele país se especializará na produção de um produto e importará o outro do Brasil, como veremos a seguir. Nosso primeiro passo será o de calcular o custo de oportunidade de, digamos, alimentos em termos de vestuário, para cada país. Tomemos o caso do Brasil primeiramente: a segunda linha da Tabela 21.3 nos indica que um trabalhador brasileiro que está agora produzindo uma tonelada de alimentos poderia estar produzindo 4 unidades de vestuário. Em outras palavras, no Brasil, o custo de oportunidade de uma tonelada de alimentos é igual a 4 peças de vestuário, dado que os preços tendem a refletir os custos de produção, esperaríamos que estes produtos tivessem uma relação de troca de 1 para 4, no Brasil (isto é, na ausência de comércio internacional, uma tonelada de alimentos seria trocada por 4 peças de roupa neste país). Por outro lado, qual seria o custo de oportunidade dos alimentos nos Estados Unidos? A primeira linha da Tabela 21.3 indica que um trabalhador norte-americano que presentemente produz 3 toneladas de alimentos, poderia estar produzindo 6 peças de vestuário. Em outros termos, nos Estados Unidos o custo de oportunidade de uma tonelada de alimentos é igual a 2 peças de vestuário (6 para 3). Conse qüentemente, inferiríamos que a relação de troca entre os dois produtos fosse de 1 para 2 nos Estados Unidos, na ausência de trocas internacionais. Dad o que o custo de oportunidade de alimentos em termos de vestuário é menor nos Estados Unidos do que no Brasil, dizemos que os Estados Unidos gozam de uma vantagem comparativa na produção de alimentos. Por definição: A vantagem comparativa de um país é o produto que ele pode produzir relativamente mais barato, isto é, a um custo de oportunidade menor do que seu(s) parceiro(s) no comércio internacional. TABELA 212 Exemplificação de: produtividade (hipotética) do trabalho no Brasil e nos Estados Unidos Vestuário Alimentos Estados Unidos 3 peças 2 toneladas Brasil 4 peças 3 toneladas Na primeira coluna, o Brasil goza de uma vantagem absoluta na produção de vestuário porque um trabalhador produz 4 unidades, em comparação com as 3 unidades produzidas nos Estados Unidos. Na segunda coluna, os Estados Unidos têm, uma vantagem absoluta na produção de alimentos, porque, neste caso, um trabalhador produz 2 unidades, enquanto somente 1 unidade é produzida no Brasil. Assim, os dois países podem produzir, conjuntamente, uma maior quantidade de produtos, se os Estados Unidos se especializarem na. produção de alimentos e o Brasil na produção de vestuário. Para confirmar esta assertiva, vamos supor que ainda não houve especialização e ambos os países produzem os dois bens. Suponhamos agora que o processo de especialização é iniciado com os Estados Unidos concentrando-se em alimentos e o Brasil em vestuário. Assim, um trabalhador é realocado da produção de vestuário para a produção de alimentos, ao mesmo tempo que um trabalhador brasileiro muda na direção oposta, de alimentos para a produção de vestuário; como resultado dessas mudanças, teremos que: Nos Estados Unidos Variação da produção Variação da produção De vestuário De alimentos - 3 +2 No Brasil Variação da produção Mundial +4 -1 +1 +1 TABELA 21.3 Exemplificação de vantagens comparativas: produtividade (hipotética) do trabalho no Brasil e Estados Unidos Vestuário Alimentos Estados Unidos 6 peças 3 unidades Brasil 4 peças 1 unidade No Brasil, um trabalhador pode produzir 4 unidades de vestuário ou uma tonelada de alimentos; assim, o custo de oportunidade de uma tonelada de alimentos é igual a 4 unidades de vestuário. Por outro lado, nos Estados Unidos, um trabalhador pode produzir 6 unidades de vestuário ou 3 toneladas de alimentos; portanto, o custo de oportunidade, nos Estados Unidos, de uma tonelada de alimentos é de 2 unidades de vestuário (6/3) — verifique que o custo de oportunidade é calculado através do quociente dos elementos na mesma linha. Desse modo, dado que o custo de oportunidade dos alimentos é menor nos Estados Unidos que no Brasil, o primeiro país tem uma vantagem comparativa na produção de alimentos e deve especializar-se na produção deste bem. A fim de verificar que a especialização faria aumentar a produção total, vamos supor que, inicialmente, cada país está produzindo os dois bens, e então se especializam de acordo com as vantagens comparativas de cada um: nos Estados Unidos um trabalhador é realocado da produção de vestuário para alimentos, e vice-versa no caso do Brasil; teremos que:jgghjgkkkkkhkkkkkkkkkkkkkkkkjgfhfghjfghjgjgjgfhjhgjgjhg Nos Estados Unidos No Brasil Variação da produção total Variação da produção de vestuário -6 +8 +2 Variação da produção de alimentos +3 -2 +1 Utilizando-se a Tabela 21.3, podemos, similarmente, verificar que o Brasil tem um custo de oportunidade menor na produção de vestuário e, portanto, goza de uma vantagem comparativa neste setor produtivo Munidos do conceito de vantagens comparativas, nosso último passo é o de mostrar que ambos os países se beneficiarão se se especializarem no produto em que têm vantagens comparativas e os comercializarem a qualquer razão de preço (preço relativo) entre o preço relativo de 1 para 2, que prevaleceria independentemente nos Estados Unidos, e o preço relativo de 1 para 4, que prevaleceria no Brasil, caso não existisse possibilidade de consumo. Embora não tenhamos informações suficientes para determinarmos precisamente qual seria a relação de preços a prevalecer, vamos supor que fosse de 1 para 3, isto é, uma unidade de alimentos é trocada internacionalmente por 3 peças de vestuário — este quociente é comumente chamado de Relações de Troca ou Termos de Intercâmbio. Vamos supor que a princípio cada país produz os dois produtos. Com isto, os Estados Unidos podem agora beneficiar -se através da especialização no seu produto que tem uma vantagem comparativa —alimentos — importando artigos de vestuário para satisfazer suas necessidades internas. Especificamente, para cada trabalhador norte-americano retirado da produção de vestuário, os Estados Unidos perdem 6 unidades daquele produto; mas, em compensação, aquele trabalhador pode agora produzir 3 toneladas de alimentos, as quais podem ser trocadas — à relação internacional de preços de 1 para 3 — por 9 peças de vestuário, obtendo um ganho inequívoco de 3 peças de vestuário. Do mesmo modo, o Brasil também ganha com a especialização no produto que tem uma vantagem comparativa (vestuário) importando alimentos, em contrapartida . Os ganhos de comércio dos Estados Unidos podem ser ilustrados de modo diverso. O Gráfico 21.4 mostra a Curva de Possibilidades de Produção daquele país, obtida a partir dos dados da primeira lista da Tabela 21.3, estabelecendo a hipótese de que há 200 milhões de trabalhadores. A Curva de Possibilidades de Produção é uma linha reta, no presente caso, porque o custo de oportunidade de alimentos (em termos de vestuário) nos Estados Unidos permanece constante à medida que a combinação de produtos é deslocada de A para C: não importa o nível de produção que se estabeleça, a produção de uma unidade a mais de alimento custa 2 peças de vestuário. Antes do comércio estabelecido, os Estados Unidos produzem e consomem no ponto B da Curva de Possibilidades de Produção. Com a abertura do comércio, ele se beneficia com os seguintes fatores: 1. Especializa pio: mudança da combinação de produção de B para C(conforme a indicação da seta dupla, no gráfico), isto é, são produzidos 300 milhões de unidades de alimentos a mais, ao mesmo tempo que a produção de vestuário é diminuída em 600 milhões de peças. Desse modo, os norte-americanos se concentram na produção de alimentos, na qual têm uma vantagem comparativa. 2. Comércio internacional: troca desses 300 milhões de unidades de alimento por 900 milhões de peças de vestuário a preços internacionais (termos de troca) de 1 para 3; isto é indicado no gráfico pela seta maior em preto. Como resultado da especialização e do comércio, o consumo aumenta do ponto B para o ponto D. Em outras palavras, 300 milhões de peças de vestuário adicionais podem ser consumidos — o que significa um ganho de renda real, ou ganho de eficiência econômica. A existência de vantagens comparativas conduzem, assim, a ganhos de comércio, mas a questão central refere-se a por que as vantagens comparativas existem? Por que os Estados Unidos teriam uma vantagem comparativa em trigo, por exemplo? Uma das razões principais é a grande disponibilidade de terras apropriadas para o cultivo daquele cereal, no Centro-Oeste - Por outro lado, um país como o Brasil, com um vasto estoque de mão-de-obra não-qualificada, tem uma vantagem comparativa em setores produtivos que sejam intensivos em mão -de-obra. Como vemos, as vantagens comparativas dependem basicamente da dotação de recursos existentes, mas também dependem de treinamento e especialização do trabalho advindos da educação. Por exemplo, o alto grau de desenvolvimento tecnológico dos Estados Unidos e da Alemanha dão a estes países vantagens comparativas na produção de itens sofisticados conto computadores, reatores nucleares e aviões. COMERCIO E MUDANÇA TECNOLÓGICA: Suas Semelhanças Em uma economia fechada, sem transações com o exterior, um país não pode consumir produtos além de sua Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Com a abertura do comércio, torna-se possível consumir além das possibilidades de produção internas, ainda que, em verdade, a produção seja estritamente limitada pela CPP, mas o consumo pode ser maior devido aos ganhos de comércio, isto é, o comércio internacional é o modo pelo qual os países podem superar suas limitações individuais de produção, conseguindo maiores níveis de consumo e renda real; no (GRÁFICO) Gráfico 21.4, os Estados Unidos vencem suas limitações de p rodução (linha AC) e consomem uma combinação de alimentos e vestuário (ponto D), antes inatingível. O Gráfico 21.5 ilustra a similaridade entre comércio internacional e mudança ou progresso tecnológico. Os dois efeitos permitem que o consumo aumente do ponto B para o ponto D. Contudo, enquanto a mudança tecnológica significa uma mudança para a direita e para cima da Curva de Possibilidades de Produção, o comércio internacional tem a mesma implicação ao permitir que a sociedade consu ma além da Curva de Possibilidades de Produção. O comércio e a mudança tecnológica também são semelhantes no que tange a outro ponto importante: embora ambos tragam benefícios para a nação como um todo, não trazem benefícios, necessariamente, para cada indivíduo em particular. Por isso, é natural que alguns possam criar objeções ao comércio internacional e ao progresso tecnológico. À guisa de exemplo, quando a mecanização da indústria têxtil foi introduzida, os trabalhadores temeram que isto determinaria uma eliminação de seus empregos. Na verdade, alguns perderam seus empregos, embora a mecanização tenha tomado possível ganhos de produtividade e salários mais altos. (GRÁFICO) O desemprego temporário que se segue tanto ao comércio quanto à mudança tecnológica é um sério problema, ainda que frequentemente exagerado, na medida em que os trabalhadores desempregados pelo progresso técnico tendem a ser reabsorvidos noutro setor do mesmo modo que aqueles deslocados pela importação. Este processo tem-se verificado historicamente tanto no Brasil como na Europa, onde o Mercado Comum (a Comunidade Econômica Européia) ensejou o aumento do volume de comércio — pela eliminação de barreiras alfandegárias — entre as nações, mas o desemprego temporário foi menos do que se esperava. Voltando ao Gráfico 213, observemos dois outros pontos ilustrados no diagrama b. Em primeiro lugar, há ganhos de comércio mesmo que os custos de oportunidade não sejam constantes, isto é, mesmo que a Curva de Possibilidades de Produção não seja uma linha reta. Em segundo lugar, embora o comércio induza um país a se especializar, frequentemente esta especialização não é completa — no diagrama b, Os Estados Unidos vão do ponto B para o C, mas não para o ponto F. COMÉRCIO INTERNACIONAL E EFICIÉNCIA ECONÓMICA Enquanto a análise acima ilustra as condições gerais do comércio internacional, ela é demasiado abstrata, porque todas as exportações, digamos, do Brasil, são agregadas em uma (mica categoria — vestuário — e todas as importações noutra categoria — alimentos. Mas, ainda, os únicos preços que aparecem são os preços relativos ou preços de troca, típicos de uma economia de escambo — por exemplo, o preço de uma unidade de alimentos é igual a 3 peças de vestuário. Portanto, retornemos ao esquema familiar de demanda e oferta, onde os bens no caso são transacionados em termos de cruzeiros — por exemplo, o preço de um quilo de trigo é 120 cruzeiros. Aqui, não mais precisamos pensar na abstracção de dois bens apenas, os alimentos representando toda a importação, e o vestuário toda a exportação do Brasil. Em vez disso, examinaremos um item específico de exportação (cacau) e um item específico de importação (trigo) do Brasil. Com este esquema mais fami liar, ilustraremos como o comércio aumenta a eficiência econômica. GANHOS DE EFICIÊNCIA EM UMA EXPORTAÇÃO TIPICA: O Caso do Cacau O Gráfico 21.6 mostra as curvas de demanda e oferta de cacau no Brasil, onde, na ausência de comércio, o equilíbrio do mercado interno dá-se em A, ponto de intersecção das curvas de demanda e oferta internas. Assim, nosso país produz Q A ao preçoP A, enquanto o preço no resto do mundo situa-se em um nível mais alto,P refletindo custos de produção maiores nos outros países. Quando o comércio internacional é implementado, os produtores brasileiros descobrem que eles podem vender no exterior a um preço mais alto,P. Mais do que isso, desde que podem conseguir um preço mais alto, (GRÁFICO) eles se recusarão a vender por um preço menor no mercado interno; com isto, o preço interno aumenta até o nível internacional, P- ainda que realisticamente tivéssemos de descontar os custos de transporte desse aumento, mas nesta ilustração simples abstrairemos a existência de custos de transporte e outras complicações. Os produtores brasileiros, atraídos pelo maior preço, aumentarão sua produção. Em particular, mover-se-ão ao longo de sua curva de oferta de A para C, aumentando sua produção de Q A para Q 2 - Entretanto, os consumidores de nosso país reagirão, naturalmente, ao preço maior de modo diverso: eles reduzirão sua quantidade demandada de A para B, reduzindo o consumo interno de QA para Q 1 . Assim, Q 2 é agora produzido e Q 1 consumido no Brasil; a diferença Q 1 Q 2 é a quantidade exportada pelo país. Como vemos, esta exportação é determinada parcialmente por um aumento da produção interna e parcialmente por uma redução do consumo interno. Examinemos separadamente cada um desses efeitos. Consideremos, em primeiro lugar, uma das unidades de redução do consumo Q 1 Q A, digamos, o intervalo e. A importância ou valor atribuído pelo consumidor por esta fração perdida é indicada pelo pequeno trapézio sob a curva de demanda —lembrando sempre que a demanda reflete a utilidade marginal. Por outro lado, o ganho para exportar essa unidade é o preço de exportação, recebido por ela, isto é, todo o retângulo incluindo o trapézio preto acima da curva de demanda. Portanto, o ganho líquido de exportar a unidade de cacau, em vez de consumi-la, é dado pelo trapézio preto. A forma de todos estes pequenos trapézios no intervalo relevante Q 1 Q A é dada pelo triângulo sombreado 3. Este é o ganho advindo de uma redução de consumo em favor de uma utilização mais valorizada, isto é, a exportação. Passemos agora a considerar uma das unidades que significa um pequeno incremento da produção para exportação Q AQ 2 , digamos, o incremento unitário f.O custo para produzi-lo é dado pelo trapézio sob a curva de oferta (note que a curva de oferta reflete o custo marginal). O benefício decorrente para produzi-lo é o preço de exportação P recebido, dado pelo retângulo que inclui o trapézio preto, sendo este o ganho líquido de produzir para exportar; a soma de todos estes pequenos trapézios no intervalo Q A Q Z é o triângulo sombreado 4 — que é o ganho de eficiência derivado da expansão da produção para exportar. O ganho total da exportação é dado pela soma destes efeitos, isto é, a área sombreada do Gráfico 21.6. Em outras palavras, este ganho indica-nos que é possível vender cacau no mercado externo por um preço acima do custo de produção, e maior do que a perda decorrente de uma redução no consumo. Obviamente, a área sombreada também significa uma perda de eficiência se os produtores internos são impedidos de exportar. Isto indicaria que a interferência em mercados mundiais competitivos pode ser prejudicial da mesma forma que em mercados internos. GANHOS DE EFICIÊNCIA EM UMA IMPORTAÇÃO TÍPICA: O Caso do Trigo Podemos fazer uma análise semelhante para ilustrar o ganho advindo da importação de um item específico. O Gráfico 21.7, mostra-nos as curvas de demanda e oferta de trigo no Brasil. Na ausência de (GRÁFICO) comércio, o equilíbrio no mercado interno é estabelecido no ponto A ao preço P A e quantidade Q A produzida e consumida. Entretanto, o preço no mercado mundial situa-se a um nível menor, P, refletindo os menores custos de produção nos outros países. Com a abertura do comércio, os consumidores brasileiros podem comprar trigo importado ao menor preço, P, e na medida em que eles resistirem a comprar dos produtores internos a um preço maior (como P A ), o preço interno cairá para o nível do preço internacional, P. A este preço menor, os consumidores brasileiros aumentarão suas compras, movendo-se ao longo de sua curva de demanda de A para 1, e, com isto, aumentando o consumo de Q A para Q 6 . Simultaneamente, os produtores internos respondem ao preço menor, movendo-se ao longo de sua curva de oferta de A para H, com isto, reduzindo a produção de QÁ para 5. Em resumo, Q 5 é produzido e Q 6 é consumido agora em nosso país; a diferença Q 5 Q 6 eqüivale à importação. Como podemos ver, a importação brasileira implica um decréscimo de produção e um aumento de consumo. (GRÁFICO) Agora, consideremos um dos decréscimos unitários de produção Q A Q5 , digamos, a unidade j. O custo para importá-la é o preço P que se deve pagar, indicado pelo retângulo até P. Mas, em consequência, há uma redução equivalente ao custo para produzi4a, dada pelo trapézio sob a curva de oferta (definido pelo custo marginal). Portanto, o ganho líquido para importar esta unidade, ao invés de produzi-la mais caro internamente, é o pequeno trapézio preto; evidentemente, a soma de todos estes trapézios no intervalo Q 5 Q A é o triângulo sombreado 1- este é o ganho para permitir que a importação desloque produtores internos ineficientes de custos elevados. Consideremos o caso de um dos pequenos incrementos unitários de consumo Q A Q 6 , digamos, a unidade K. Seu custo é dado pelo preço de importação P, dado pelo retângulo até F. Mas, o consumidor a valoriza como sendo o trapézio sob a curva de demanda (de acordo com a utilidade marginal sob a curva de demanda); o ganho líquido desse incremento unitário de consumo é, então, dado pelo pequeno trapézio preto, sendo a soma total destes igual ao triângulo sombreado 2 - este é o ganho de eficiência por permitir-se uma expansão do consumo em resposta a um preço internacional menor. Assim, o ganho total de eficiência, pelos dois motivos, é a área sombreada do Gráfico 21.7 - Noutras palavras, esta área mostra que um país pode se beneficiar ao comprar externamente produtos mais baratos, já que isto torna possível uma desativação de produtores internos ineficientes, permitindo também um aumento de consumo a preços reduzidos. COMO O COMÉRCIO INTERNACIONAL AFETA ADVERSAMENTE CERTOS GRUPOS Mesmo que o comércio determine um ganho global em eficiência, é importante enfatizar que nem todos os grupos se beneficiarão. Por exemplo, no Gráfico 21.6, o comércio causa um aumento no preço do cacau no Brasil. Este aumento beneficia os agricultores à custa dos consumidores, com esta transferência de renda sendo indicada pela seta branca à esquerda do diagrama. Por outro lado, a importação do Gráfico 21.7 determina uma transferência oposta, já que, ao reduzir o preço interno, ela beneficia os consumidores à custa dos produtores. Estes benefícios e prejuízos de grupos específicos, como resultado de importações, são mostrados no Gráfico 21.8 de modo alternativo. Cada diagrama do gráfico reproduz as curvas de demanda e oferta de trigo no Brasil, conforme o Gráfico 2L7. O ganho dos consumidores nacionais em decorrência de comprar a menor preço envolve tanto uma redução de custos nas suas compras quanto o benefício do aumento de consumo, aumentando, assim, o excedente dos consumidores conforme a área sombreada, delimitada à esquerda da curva de demanda no diagrama a. Por outro lado, os produtores são prejudicados porque agora recebem um preço menor e pela perda de vendas para os produtores externos. Estes dois efeitos reduzem o excedente dos produtores conforme a área 5 delimitada à esquerda da curva de oferta no diagrama b. Dado que a área 5 também aparece como parte do ganho no diagrama a, ela representa uma transferência dos produtores, no diagrama b, para os consumidores, no diagrama a. Observe que esta técnica para identificar uma transferência pode ser utilizada numa gama enorme de problemas; veja o Problema 21.4. Levando adiante a análise, vemos que a área 6 no diagrama a é um ganho não compensado por uma perda; este é o ganho de eficiência mostrado pelo triângulo 6 no diagrama c. Obviamente, este é exatamente o ganho de eficiência indicado no Gráfico 2 1.7. Tomando um exemplo recente de como as importações afetam os vários grupos nacionais, consideremos o caso das importações norte-americanas de artigos têxteis do Oriente. O efeito sobre os produtores internos de produtos têxteis foi inequívoco-ele sofreram prejuízos na medida em que as importações deprimiram o preço interno e que os consumidores se beneficiaram com a redução de preços dos têxteis; contudo, não ficou claro qual foi o efeito líquido sobre aquela nação como um todo. O que a análise acima sugere é que o efeito global foi positivo, já que o benefício dos consumidores compensa mais do que a perda incorrida pelos produtores.