Psicologia - Dioneia

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ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO DE CASO COM BASE NA TERAPIA ANALÍTICO COMPORTAMENTAL
SANTOS, Dioneia Aparecida Schneider dos1
AOYAMA, Patrícia Cristina Novaki2
SANTOS, Raquel Regina Pacheco Fagundes dos3
RESUMO
O presente artigo busca apresentar o caso clínico de uma adolescente atendida em uma clínica escola pelo período de quatorze meses, tendo como
base do tratamento a abordagem Analítico Comportamental. Além da apresentação do caso, as bases teóricas que sustentam a análise do
comportamento, a análise funcional, o comportamento verbal, o auto conhecimento e a prática clínica da análise do comportamento com adolescentes
serão abordados. Dentre as problemáticas apontadas pela adolescente como queixa que a fizeram buscar a terapia estão: conflitos com os pais, hábito
de mentir, falecimento de um parente próximo, conflitos com a irmã, conflitos com o namorado, início da vida sexual e posicionamento frente às
situações de vida na condição de adolescente. As técnicas utilizadas para o trabalho com essas problemáticas foram: análise funcional; psicoterapia
analítico funcional (FAP); observação e trabalho com CRB1, CRB2, CRB3; inventário “quem sou eu” e técnica da roseira. Como resultados foram
obtidos que as brigas da cliente com a irmã diminuíram, as brigas com o namorado ainda acontecem, porém com menos frequência e intensidade, em
relação ao início da vida sexual da cliente, a terapeuta conversou com S. e ajudou-a a sanar algumas dúvidas, salientando a importância de conversar
sobre estes assuntos com a mãe. O comportamento de mentir, se manteve por longo prazo, pois ele acabava sendo reforçado toda vez que ela se
livrava momentaneamente de algo que lhe era aversivo. A perda do familiar e o conflito com os pais foram trabalhados e a cliente deixou de
apresentar tal queixa.
PALAVRAS-CHAVE: Análise do Comportamento. Adolescência. Análise Funcional.
ADOLESCENCE: A CASE STUDY BASED ON ANALYTICAL BEHAVIORAL THERAPY
ABSTRACT
This article seeks to present a clinical case of a teenager attended in a clinic-school for a period of fourteen months, based on the Analytic Behavioral
treatment approach. Besides the presentation of the case, the theoretical underpinning behavior analysis, functional analysis, verbal behavior, selfknowledge and clinical practice of behavior analysis with teenager will be discussed. Among the problems identified by the adolescent as the
complaint did seek therapy are: conflict with parents habit of lying, death of a close relative, conflicts with his sister, conflicts with her boyfriend,
sexual initiation and positioning ahead to situations condition of life in adolescents. The techniques used to work with these issues were: functional
analysis, functional analytic psychotherapy (FAP); observation and work with CRB1, CRB2, CRB3; inventory “who am I” and technique rosebush.
The results were obtained from the customer that the fights with her sister fell, fighting with boyfriend still happen, but with less frequency and
intensity in relation to the onset of sexual client, the therapist talked with S. and helped to address some questions and commented on the importance
of talking about these issues with her mother. The behavior of lying, were maintained for a long time because it had just been reinforced every time
she gets rid of something that momentarily was aversive. The loss of family and conflict with parents have been worked and failed to submit customer
complaint that was about it.
KEYWORDS: Behavior Analysis. Adolescence. Functional Analysis.
1 INTRODUÇÃO
1.1 PSICOLOGIA E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
O processo terapêutico dentro da análise do comportamento busca compreender o ser humano a partir de sua
interação com o ambiente em que está inserido (MOREIRA & MEDEIROS, 2007), e possui suas raízes filosóficas no
Behaviorismo Radical de Skinner, onde diz que só existem eventos materiais ocorrendo em um universo físico. Porém,
este fato não levou Skinner a deixar de lado os eventos mentais (PRADO, 1982).
Skinner acreditava que não é dever da Psicologia descrever como a estrutura de um indivíduo é modificada no
decorrer de sua história, e nem como tal estrutura causa o comportamento. A Psicologia é uma ciência que trata das
relações entre o comportamento e o ambiente e ainda assim, deve-se buscar na história do indivíduo as respostas para
explicar porque ele se comporta de determinada forma. (SKINNER, 1974).
A ciência de Skinner se preocupa em estudar o comportamento a partir do próprio comportamento, identificado
em sua relação com o ambiente em que vive, sem permitir que a investigação se dirija à identificação de estruturas
mediadoras entre estes eventos (MICHELETTO, 2001).
1
Psicóloga da Faculdade Assis Gurgacz, Pós graduanda do Curso de Psicologia Clínica Analítico Comportamental da Faculdade Assis Gurgacz.
[email protected]
2
Graduada em Psicologia pela UEL, Especialista em Psicoterapia na Análise do Comportamento pela UEL e Mestre em Psicologia Clínica pela
USP/SP. Docente de graduação na Unipar e Pós Graduação na Unipar e FAG. [email protected]
3
Psicóloga Clínica, Pós graduanda do Curso de Psicologia Clínica Analítico Comportamental da Faculdade Assis Gurgacz. [email protected]
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Skinner (1938) descreve o comportamento como o simples movimento de um organismo num quadro de
referências fornecido pelo próprio organismo, ou por objetos externos a ele. É interessante falar a este respeito como a
ação do organismo sobre o mundo que o cerca, e é mais desejável trabalhar com um efeito do que com o próprio
movimento.
Então, se o comportamento é uma categoria funcional de análise, a contingência é a operação empírica
equivalente usada por psicólogos analistas do comportamento. Porém, se o organismo do indivíduo é um local, ele
também faz parte das contingências e assim o trabalho deste profissional é estudar estas contingências no seu efeito
sobre o desempenho dos organismos (MATOS, 2001).
Partindo deste princípio, a análise das variáveis em que o comportamento é função pode ser chamada de análise
funcional. O comportamento do organismo é a variável dependente, e as condições externas em que o comportamento é
função, são denominadas variáveis independentes. Um comportamento sempre é controlado por um estímulo e existe
uma conseqüência que o segue, a qual tende a fortalecer ou enfraquecer o aparecimento de determinado comportamento
(SKINNER, 1974).
1.2 ANÁLISE FUNCIONAL
A análise funcional tem como ponto de partida a relação entre variáveis dependentes e independentes,
enfatizando a importância da relação contingêncial que deve haver entre as variáveis, estabelecendo relação de
dependência entre os eventos que antecedem o comportamento, o próprio comportamento e as consequências deste
(COSTA & MARINHO, 2002).
O que se busca no processo terapêutico é levar o cliente a perceber em função de que determinante apresenta
determinados comportamentos, aprendendo a reorganizar estas contingências de maneira consciente, se tornando capaz
de descrever tais contingências e de as produzir ou alterá-las. Produzindo assim, um ser consciente e autodeterminado
(GUILHARDI, 1995).
Nessa abordagem, o terapeuta procura estabelecer junto com o cliente os objetivos de mudança. Para tanto, o
terapeuta vai ajudar o cliente a reconhecer o problema, saber o que o causa e estabelecer uma meta de mudança. Assim,
o trabalho de terapia envolve, em um primeiro momento, o desenvolvimento do autoconhecimento necessário para
produzir a mudança desejada pelo cliente. Após isto, o terapeuta fornecerá a ajuda necessária para o cliente implementar
a mudança (SKINNER, 1974).
Ao realizar a análise funcional de determinado comportamento, o terapeuta deve selecionar, entre as informações
obtidas sobre a vida do cliente, aquelas que parecem ter relação de causa com o comportamento em análise e ele só
saberá se escolheu a variável correta após sua manipulação (COSTA & MARINHO, 2002).
A análise funcional pode ajudar a determinar a função do comportamento, estabelecendo também as
contingências controladoras e mantenedoras do mesmo. Para realização deste trabalho, o terapeuta deverá conhecer a
história passada do indivíduo, o comportamento atual e sua relação com o ambiente (DELITTI, 1997).
1.3 COMPORTAMENTO VERBAL
Skinner introduziu o termo “comportamento verbal”, para substituir a palavra “linguagem”, que traz várias
interpretações. O comportamento verbal se caracteriza por ser estabelecido e mantido por reforço mediado por outra
pessoa (HÜBNER, 2001).
O ser humano se comporta verbalmente na maior parte do tempo, por isso se diz que ele age indiretamente sobre
seu ambiente, pois o primeiro efeito é sobre os homens. Assim, se caracteriza por ser ineficaz ao mundo físico
(HÜBNER, 2001).
Ao se analisar um comportamento verbal, deve-se levar em consideração os mesmos princípios adotados para os
comportamentos não-verbais. O repertório verbal segue a mesma base dos demais repertórios operantes (BARROS,
2003).
O comportamento verbal tem sua função relacionada à vida do homem no contexto em que está inserido, por este
motivo devemos buscar as razões pelas quais ele é modelado e mantido no efeito sobre a vida do grupo (PASSOS,
2003).
Assim, a explicação para a aquisição da linguagem deve seguir os mesmos princípios da modelagem e
manutenção dos repertórios operantes, e quem a instala é a comunidade verbal através de discriminação, reforçamento,
generalização, entre outros.
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Como as interações na clínica são, em sua maioria, verbais, a análise do comportamento verbal, na psicoterapia
comportamental, é de extrema importância para as intervenções clínicas (MEDEIROS, 2002).
Analisar funcionalmente o comportamento verbal significa buscar as variáveis que controlam tal comportamento
no ambiente em que o indivíduo se comporta. Tais variáveis devem permitir sua observação e manipulação, permitindo
a verificação da relação controladora do comportamento verbal e a instalação deste repertório comportamental.
Para o estudo do comportamento verbal, se utilizam os mesmos princípios empregados na investigação dos
comportamentos operantes. A classificação deste comportamento, bem como sua identificação, se fundamentam na
relação funcional entre a resposta e as variáveis controladoras (PASSOS, 2003).
1.4 AUTOCONHECIMENTO
Os apontamentos da Psicologia mostram que o quanto uma pessoa se conhece tem relação com a interação com
outras pessoas. Skinner (1974) salienta que o autoconhecimento é de suma importância para os indivíduos que almejam
produzir mudanças em seu comportamento. Geralmente a situação que causa o sofrimento é fácil de ser identificada, ao
contrário de saber como, o que, e em que sentido mudar.
Para Skinner, autoconhecimento significa discriminar estímulos que são gerados pelo próprio sujeito, sendo
assim, o autoconhecimento seria a auto discriminação. Esta análise é possível porque eventos privados são considerados
como estímulos e comportamentos (MARÇAL, 2004).
Assim, como o psicólogo é notadamente treinado para fazer a identificação das causas dos comportamentos dos
sujeitos, a psicoterapia se mostra bastante eficaz para a promoção do autoconhecimento, principalmente no que se refere
ao autoconhecimento que produz mudanças que são desejadas pelo indivíduo (SKINNER, 1974).
1.5 A PRÁTICA DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO COM ADOLESCENTES
A entrevista inicial realizada com os pais ou responsáveis, o contrato terapêutico realizado com os pais e com a
criança e ainda a entrevista inicial com a criança, são passos iniciais e bastante importantes para o processo terapêutico
com crianças e adolescentes (MOURA e VENTURELLI, 2004).
É papel do terapeuta comportamental explicar à criança ou ao adolescente como será realizado o processo
terapêutico, bem como definir em conjunto os objetivos da terapia, sempre buscando verificar se concorda ou não com
os objetivos dos pais. Esta forma de o analista do comportamento conduzir o processo terapêutico apresenta uma
mudança de ambiente que produz efeitos imediatos bastante importantes (MOURA e VENTURELLI, 2004).
A relação com o cliente também deve ser foco do terapeuta, que deve fazer com que a sessão seja reforçadora
para que a probabilidade de que o adolescente volte, aumente. O terapeuta comportamental deve ainda, explicar para o
adolescente e para seus pais que todos os envolvidos com o adolescente são encarados como clientes, tendo em vista
que o comportamento problemático acontece quando algo ou alguém o mantém (BANACO, 2001).
O sigilo pode se tornar aliado do terapeuta, aumentando a função reforçadora da sessão, porque mesmo que
todos sejam considerados clientes, o sigilo é resguardado apenas com o adolescente, assim o que as outras pessoas
falarem a seu respeito será revelado, o que acaba aproximado o adolescente do terapeuta (BANACO, 2001).
O terapeuta deve ainda esclarecer que para a obtenção de resultados melhores, as falas devem ser sinceras, assim
o analista do comportamento se prontifica a falar ao cliente tudo que sentir a respeito do adolescente, esperando que ele
faça o mesmo. Assim o terapeuta poderá mostrar ao adolescente os sentimentos bons e ruins que ele provoca nas
pessoas
Algumas teorias tentam explicar porque da vivência de dificuldades nesta etapa da vida, porém buscam as causas
dos comportamentos dentro das pessoas. Para a análise do comportamento, o conflito está no ambiente e a insegurança
vivida pelo adolescente é obra de um ambiente punitivo que não proporciona adequação e aumento no repertório
comportamental dos mesmos.
Para Banaco (2001), este período de rápidas transformações incomoda e assusta o adolescente e as pessoas com
ele envolvidas, pois estão presentes nesse momento, a agressividade, a insegurança, a inconstância, entre outros. Todos
esses itens apontados foram considerados ao iniciar o processo terapêutico com uma adolescente, que permaneceu em
atendimento por quatorze meses em uma clínica escola.
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2 METODOLOGIA
2.1 COLETA DE DADOS DA QUEIXA PRINCIPAL
Este artigo faz referência ao caso de uma adolescente do sexo feminino de quinze anos de idade, estudante, que
foi atendida sob a luz da abordagem Analítico Comportamental em uma clínica-escola no período de um ano e dois
meses. Os encontros aconteceram semanalmente, sendo de cinquenta minutos cada.
O desenvolvimento do caso atendido se deu primeiramente a partir do acolhimento da queixa da cliente,
aplicação de técnicas da abordagem levantamentos de outras demandas percebidas através da aplicação das técnicas e
da evolução do processo terapêutico. A relevância deste estudo se apresenta pela explanação de problemáticas vividas
pela cliente na fase do ciclo vital pela qual está passando (a adolescência). Foram percebidos principalmente conflitos
interpessoais, geralmente familiares.
Durante o processo terapêutico, o repertório comportamental da cliente se ampliou, modificando as respostas
dadas pelo meio de acordo com as experiências comportamentais que a cliente fazia conforme trabalhava os temas em
terapia.
Os dados apresentados na ficha inicial traziam como queixa a situação familiar, relatando as brigas entre os pais
e a tentativa de suicídio do pai, na qual a cliente viu os pulsos cortados e o sangue no chão. Porém, durante maiores
investigações em entrevista com a paciente, houve a modificação da queixa, agora apontada em relação às brigas entre
pai e mãe, problemas em seus relacionamentos afetivos e o seu comportamento de mentir, utilizado para esquivar-se de
situações aversivas.
Dentro da questão relacionamentos, houve a necessidade de se trabalhar especificamente o conflito que a cliente
vivia com sua irmã mais velha. As brigas ocorriam com frequência devido ao fato que elas usam o mesmo tamanho de
roupas e muitas vezes J. (irmã da cliente) usa as roupas de S. sem o consentimento da mesma, o que deixa a cliente
irritada e desencadeia brigas entre as duas.
Foram trabalhadas também as brigas entre a cliente e o namorado, que acontecem quando o F. (namorado da
cliente) fica lembrando-se de coisas que S. fez no passado, como por exemplo, os namoros anteriores da cliente e por
mais que S. fale para F. que estas coisas aconteceram antes de ela conhecê-lo, F. mantém seu comportamento e a cliente
fica nervosa, o que ocasiona frequentes brigas entre os dois.
Percebeu-se a necessidade de trabalhar o início da vida sexual da cliente, já que esta perdeu sua virgindade há
pouco tempo e tinha muitas dúvidas e medos. Segundo o relato da cliente, não tinha com quem conversar, pois sentia
vergonha de falar com outras pessoas sobre este assunto.
Durante o processo terapêutico um familiar da cliente faleceu e devido a isto, houve a necessidade de trabalhar
este assunto. Devido à morte do tio, o pai da cliente passou por momentos de comportamentos incompatíveis com a
realidade, gerando desconforto para os familiares, inclusive para a cliente. Outra demanda encontrada diz respeito à fase
do ciclo vital em que a cliente se encontra: a adolescência.
2.2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para a construção teórica do presente artigo e trabalho prático do caso, foram utilizados os principais
pressupostos teóricos que sustentam a análise do comportamento expostos em livros e periódicos relacionados ao tema.
Além disso, técnicas de entrevista para a coleta de dados de informações iniciais.
Durante o processo terapêutico, utilizou-se a análise funcional, com o objetivo de investigar as relações entre as
respostas da cliente e estímulos ambientais identificados, bem como identificar diferentes classes de comportamentos e
variáveis controladoras dos comportamentos envolvidos. Delliti (2001), aponta que contingência comportamental é tida
como uma regra capaz de especificar a relação entre uma respostas e as suas conseqüências.
A Psicoterapia Analítico Funcional (FAP) foi utilizada a fim de extinguir comportamentos considerados
inadequados e promover condições para a emissão de comportamentos assertivos.
Ao utilizar a FAP, o terapeuta espera que os problemas do cliente ocorram na sessão, tendo em vista que este
utiliza-se de funções discriminativas, reforçadoras e eliciadoras e que tais estimulações terão maior efeito no
comportamento do cliente com o passar das sessões. Espera-se ainda que os progressos do cliente também ocorram na
sessão e sejam reforçados de forma natural.
Alguns comportamentos do cliente que podem ocorrer durante a sessão, são de grande importância. Estes são
chamados de comportamentos clinicamente relevantes (CRB), que podem ser classificados como CRB1, que se refere
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aos problemas do cliente que ocorrem durante a sessão, CRB2, referente aos progressos que o cliente obtém na sessão e
CRB3 que são as interpretações que o cliente faz dos comportamentos (KOHLENBERG; TSAI, 2001).
Também foi utilizado o inventário “quem sou eu”, que é uma técnica que ajuda no processo de autodescrição,
onde a partir de algumas características expostas e da estimulação provocada pelo terapeuta feita através de questões,
explicações e exemplos do dia a dia o cliente passa a conhecer um pouco mais a respeito de si mesmo (MOURA).
Assim, o terapeuta assume um papel bastante importante para que o cliente obtenha repertório auto
discriminativo, e assim, tomando consciência de si mesmo, o cliente poderá prever e controlar seu comportamento. Para
tanto, esta técnica tem como objetivo, através de contingências expostas pela comunidade verbal, ajudar o cliente a se
conhecer.
A técnica se procede da seguinte forma, pede-se para que o cliente distribua as características sugeridas em uma
lista, nos quadrantes: Sou/ Não Sou/ Sou, e não gostaria de ser/ Não sou, mas gostaria de ser. Após a leitura das
características, pede-se para que o cliente pense nas características que ele tem e nas que não tem e após, selecione as
que mais e menos combinam com seu jeito. Após pede-se para que distribua as características nos quadrantes conforme
julgar correto. O terapeuta pode dar modelo e podem ainda ser adicionadas características à lista. Para finalizar, discutese quais características contidas nos quadrantes “Sou e não gostaria de ser” e “Não sou, mas gostaria de ser” o cliente
prefere mudar primeiro. Em seguida, passa-se aproximadamente três características para os quadrantes superiores,
características estas, consideradas pelo cliente como prioritárias e após, decide-se dentre estas três, qual seria mais fácil
para iniciar a mudança.
Foi utilizada também, a Técnica da Roseira, que consiste em pedir para que o indivíduo imagine que é uma
roseira. São dadas, algumas sugestões para ajudar na estimulação e criação. A partir disto, pede-se que a pessoa imagine
qual é o tipo de roseira e se realmente é uma roseira ou é outra flor, se é alta ou baixa, se tem raízes ou não, se tem ou
não espinhos, em que lugar está plantada, se está sozinha ou se tem algo mais ao seu redor, se é dia ou noite, frio ou
calor, o que vê em volta de si, como se sente, quem cuida dela, entre outros. Após isso, a pessoa é trazida novamente ao
espaço próprio e pede-se para que desenhe a roseira que imaginou, explicando que não há necessidade de preocupação
com a qualidade, pois poderá dar explicações sobre seu desenho, assim, é possível que o terapeuta observe se há relação
entre o relato e a história do cliente (OAKLANDER, 1980).
2.3 PROCEDIMENTOS
O trabalho durante o tratamento deu-se no sentido de ajudar a cliente a passar pela adolescência e conhecer-se
melhor, ser mais assertiva em seus comportamentos e ainda, no sentido de ter maior autonomia para resolver seus
conflitos.
O início do trabalho deu-se por meio de entrevista com a adolescente. Em seguida, foram sendo percebidas as
demandas e para cada uma, era selecionada a técnica mais adequada para trabalho da situação, sendo que, de maneira
geral, as técnicas mais utilizadas ao longo de todo o processo terapêutico foram a análise funcional e FAP.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O primeiro avanço ao longo do processo terapêutico, além da compreensão que a cliente passou a fazer sobre a
importância da identificação das contingências que podem manter o comportamento, foi o entendimento da cliente
sobre o que estava acontecendo em sua casa, pois os pais brigavam muito, o pai ameaçava bater/matar a mãe, e,
principalmente, pela tentativa de suicídio do pai, em que a cliente viu o pulso do mesmo cortado e o chão
ensanguentado.
Posteriormente, foram percebidas melhoras com o trabalho sobre a fase conturbada em que se encontra
(adolescência) e que gera tantos questionamentos, inseguranças e onde os comportamentos encobertos são vivenciados
de forma mais profunda.
Outro aspecto importante trabalhado foram os ganhos em autoconhecimento, também em função da fase de
transição que a cliente está vivenciando. O trabalho com algumas técnicas no sentido de modelar comportamentos para
que esta não precise utilizar-se de artifícios como a mentira para conseguir o que deseja surtiu efeitos muito
satisfatórios.
A cliente demonstrou-se sempre bastante solícita aos questionamentos realizados, mostrando-se falante nas
sessões e também buscando entender melhor seu funcionamento através de questões feitas à terapeuta. Apresenta
raciocínio claro e regularidade na apresentação das ideias.
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Depois de aproximadamente quatorze meses de terapia, uma boa aliança terapêutica foi formada, a cliente fala
com mais propriedade das suas vivências, sem se sentir envergonhada, o que antes acontecia, porém a cliente nunca
deixou de falar por este motivo, apenas relatava sentir-se envergonhada em falar de determinados assuntos.
Ao longo do tempo a cliente foi modelada a perceber de que forma deveria falar e explicar as coisas e agora a
própria cliente se corrige em suas falas para trazer o que sabe que será questionada, como, por exemplo, no início de
uma sessão a cliente foi questionada sobre como estava. Ela respondeu que estava “bem”, sorriu e continuou: “mas,
bem como, né?” Depois continuou sua fala explicando o que havia acontecido durante aquela semana.
A cliente apresentava alguns comportamentos inadequados que são o foco de análise funcional. Pode-se destacar
o comportamento de mentir para a mãe, que acontece porque a cliente relata ter medo de que a mãe deixe de apoiá-la,
por exemplo, a cliente está namorando com F. e teve sua primeira relação sexual com ele, porém, a cliente acredita que
se contar para a mãe esta deixará de apoiar seu namoro e não permitirá que a cliente o veja novamente, assim se ela
esconde este fato da mãe, a mesma continua apoiando-a, e é o que acontece. A cliente livra-se do que é aversivo (não ter
o apoio da mãe) e isso faz com que a probabilidade de que a cliente minta novamente em outras situações, aumente.
Foi trabalhado também o comportamento da cliente de brigar com a irmã, que acontece quando J. (irmã da
cliente) pega emprestado objetos pessoais da cliente (roupas, brincos, maquiagens), sem o consentimento prévio da
mesma. Este comportamento da irmã faz com que S. fique bastante irritada e brigue com J. que também se irrita e briga
com S. e a cliente revida brigando novamente com a irmã. Porém a irmã deixa de apresentar este comportamento por
alguns dias, o que aumenta a probabilidade de acontecer uma nova briga na próxima vez em que J. pegue emprestado os
pertences de S.
Destaca-se também as brigas da cliente com o namorado, que acontecem toda vez que o namorado, com ciúmes
de S., lembra-se dos namoros anteriores da cliente, dizendo que a cliente gostava dos outros namorados e não gosta dele
com a mesma intensidade. A cliente explica que os outros namoros aconteceram no passado, quando ela ainda não o
conhecia e que agora gosta dele e que ele faz muito bem à ela, que sente-se feliz quando está ao seu lado. O namorado
parece não entender a justificativa de S. e continua com o mesmo discurso, então a cliente acaba brigando com o
namorado, falando que talvez seja melhor que eles terminem já que F. pensa assim em relação ao namoro deles. Após a
fala da cliente, o namorado sente-se culpado, dizendo que ele sempre acaba estragando tudo, que não havia necessidade
de falar sobre aquelas coisa e pede para que S. não termine o namoro com ele. Assim, o comportamento da cliente de
brigar toda vez que o namorado fale de coisas que ela não gosta, dizendo que se ele pensa assim é melhor que terminem
o namoro, é reforçado, o que aumenta a probabilidade de que a cliente reaja da mesma forma da próxima vez que o
namorado apresentar o mesmo comportamento ou comportamento semelhante.
Pode-se destacar ainda o fato de a cliente conseguir expor melhor seus desejos e pensamentos, sem brigar e/ou
ofender as pessoas que estão por perto, pensando um pouco mais em relação à isso e tentando colocar-se no lugar dos
outros. Também como melhora, podemos destacar o comportamento da cliente de não mentir para conseguir o que
deseja, passando a usar a sinceridade como melhor aliada para obter a confiança e a ajuda das pessoas que gosta. Ainda,
o fato de não tomar os problemas dos pais para si, o que gerava bastante desconforto para a cliente e agora não ocasiona
isso, pois a cliente conseguiu separar o que é seu, do que é dos pais.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A queixa apresentada pela cliente em relação às brigas entre os pais teve início quando ela ainda era criança,
desde então a queixa vinha acontecendo, porém, com alguns meses de terapia a cliente passou a entender melhor a
situação, verbalizando que os pais deveriam saber o que estavam fazendo e que, portanto ela não se preocuparia mais
com esse assunto, apresentando significativa melhora em relação à queixa.
Sobre o comportamento de mentir para esquivar-se daquilo que é aversivo, a cliente deixou de apresentá-lo por
entender que falando a verdade teria a confiança das pessoas e conseqüentemente as teria como aliadas para conseguir o
que deseja.
Com relação à morte do tio, foram trabalhadas as perdas, porém depois de algumas sessões a cliente mostrou
significativa melhora e quando questionada a respeito, falava que estava melhor e introduzia outro assunto. Sobre os
comportamentos apresentados pelo pai logo depois da morte do tio, a cliente trouxe por algumas semanas até que o pai
iniciou tratamento psiquiátrico e apresentou melhora. Após isso, quando questionada a cliente falava apenas que o pai
estava melhor e que a única diferença notada era em relação à diminuição do comportamento verbal do pai.
As brigas da cliente com a irmã também tiveram significativa melhora, pois toda vez que a irmã pegava algum
objeto emprestado da cliente, esta conversava com a irmã explicando o porquê de não querer emprestar e pedindo para
que a irmã não emitisse mais este comportamento. Após algum tempo, a irmã diminuiu a frequência deste
comportamento e por isso as brigas entre elas diminuíram significativamente. O fato de a irmã ter terminado seu
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namoro também foi significativo para a diminuição das brigas entre elas, pois a irmã mostrou-se fragilizada e a cliente a
acolheu, o que fortificou os laços de amizade entre elas.
As brigas com o namorado ainda acontecem, porém com menos frequência e intensidade, pois quando acontece
a cliente explica que gosta dele e que o passado não tem nenhuma relevância para o presente que estão tendo e muda de
assunto, deixando F. (o namorado) sem saber o que falar, então ele fica quieto por alguns instantes e depois voltam a
conversar normalmente, sem que hajam brigas.
Em relação ao início da vida sexual da cliente, a terapeuta conversou com S., ajudou-a a sanar algumas dúvidas,
e comentou sobre a importância de conversar sobre estes assuntos com a mãe, que poderia ajudar bastante nesta fase em
que a cliente estava passando, não só no sentido de orientá-la, mas também por ser uma pessoa com quem a cliente
poderia se abrir e ter conselhos válidos.
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