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Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
PKS
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KNOWLEDGE
PROJECT
REVISTA DE GEOGRAFIA OJS
OPEN
(UFPE)
JOURNAL
www.ufpe.br/revistageografia
SYSTEMS
DESCRIÇÃO DO SISTEMA GEOFÍSICO DO
ASSENTAMENTO PATATIVA DO ASSARÉ - PATOS/PB
Aretuza Candeia de Melo1; Hugo Orlando Carvallo Guerra2
1
Doutora em Recursos Naturais pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais do Centro de
Tecnologia e Recursos Naturais (CTRN) da Universidade Federal de Campina Grande-PB. Mestre em Teoria
da Região e Regionalização pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de
Pernambuco – Recife/PE. Graduada em Geografia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Patos-PB.
Professora Titular do Centro de Educação do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da Universidade
Estadual da Paraíba - Campus I - Campina Grande-PB. E-mail: [email protected] /
[email protected]
2
Pós-Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade de Concepción – Chile. Doutor em Relações
Agua-Solo-Planta pela Universidade de North Dakota State – Estados Unidos. Mestre em Solos pela
Universidade de North Dakota State – Estados Unidos. Graduado em Agronomia pela Universidade de
Concepción - Chile. Professor Titular da Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola da Universidade Federal
de Campina Grande – Campus I - Campina Grande-PB. E-mail: [email protected]
Artigo recebido em 09/09/2012 e aceito em 02/10/2012
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo descrever o sistema geofísico do Projeto de Assentamento Patativa do
Assaré no município de Patos-PB, com o intuito de avaliar as interrelações entre os fatores geológicos,
geomorfológicos, climatológicos, fitogeográficos, pedológicos e hidrográficos sobre a paisagem do geossistema.
Os resultados obtidos permitiram mostrar que a maior parte das terras do assentamento é formada por rochas
graníticas, gnáissicas e micaxistos, pertencentes ao Complexo Cristalino; situando-se em terço médio de
elevação, apresentando declividade litológica variável, que vai de plano (13,69%), suavemente ondulado,
moderadamente ondulado, ondulado e fortemente ondulado (85,99%) e montanhoso (0,32%). O clima
predominante é o BSh, quente e seco, com a estação seca prolongada; predomínio de vegetação de caatinga
hiperxerófila e hipoxerófila. Com relação a pedologia, os solos encontrados na área são os LUVISSOLOS
Crômicos Órticos típicos (74,26%), NEOSSOLOS Litólicos Eutróficos típicos (15,77%) e NEOSSOLOS
Flúvicos Eutróficos (9,97%). Quanto à acidez dos solos, 20% apresentaram-se ácidos, 70% alcalinos e 10%
neutros. A área do assentamento apresenta baixo potencial fluvial, com tipo de drenagem endorréica, dispondo
de cinco reservatórios artificiais de água, que ocupam 5,55% da área total do assentamento
Palavras-chave: Sistema, geofísico, assentamento.
DESCRIPTION OF THE SETTLEMENT SYSTEM GEOPHYSICAL
PATATIVA OF ASSARÉ - PATOS/PB
ABSTRACT
This project had as objective describe the geophysics system of the Patativa the Assaré Settlement in the city of
Patos/PB, aiming evaluate the interrelationships among geologic, geomorphologic, climatological,
phytogeographic, soil and hydrographic factors over the landscape geossystem. The obtained results permitted
to show that most part of the soil of the settlement is composed of granitic rocks, gneiss and mica which belong
to the Crystalline Complex; standing at third medium of elevation, presenting a lithological variable slope,
Melo e Guerra, 2013
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Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
which goes from plain (13,69%), slightly wavy, moderately wavy, wavy and very wavy (85,99%) and
mountainous (0,32%). The prevailing climate is the BSh, hot and dry, with a long dry period; prevailing
vegetation is hiperxerofila caatinga and hiperxerofila. In regards to pedology, the soils found in the area are the
typical Chromic Orthic LUVISOIL (74,26%), the typical Euthropic Entisoil NEOSOIL (15,77%), and the
typical Euthropic Fluvent NEOSOIL (9,97%). Regarding the soil acidity, 20% was acid, 70% was alkaline, and
10% was neutral. The settlement area presents low fluvial potential, with endrheic drainage, with five artificial
water reservatories which occupy 5,55% of the total settlement area
Keywords: System, geophysicist, settlement.
inclinação
INTRODUÇÃO
O Semiárido brasileiro se estende
por uma área que abrange a maior parte dos
estados da região Nordeste (86,48%), a
região setentrional do Estado de Minas
Gerais (11,01%) e o norte do Espírito Santo
(2,51%), ocupando uma área total de
976.743,3 Km2. É uma região que possui
caracacterísticas
naturais
singulares,
apresentando em boa parte dessa área a
presença de registros geológicos da era précambiana, clima semiárido, vegetação de
caatinga, irregularidade de chuvas, solos
secos,
rasos
intermitentes
e
pedregosos,
e
deficit
rios
hidríco
(SUASSUNA, 2002).
O clima apresenta-se como a
principal característica do sistema geofísico
da
região,
como
elemento
natural
determinante; sendo a seca o principal fator
de percepção no saber popular regional.
veiculado e difundido através dos meios de
comunicação
sobre
a
paisagem.
Esquecendo que o indicador clima deve ser
comparado com outros elementos, como a
distribuição das chuvas durante o ano, a
formação geológica, com dominância de
rochas
sedimentares
Melo e Guerra, 2013
ou
cristalinas,
a
do
relevo
dentre
outros
(RIBEIRO, 1999).
Ribeiro (1999) descreve que nos
estudos do sistema geofísico do Semiárido
nordestino
as
análisadas
e
paisagens
destacadas
devem
ser
conforme
as
diferenças ocorridas no espaço e no tempo,
entre os elementos do processo, tanto do
potencial biológico (litologia, relevo, clima
e
hidrografia)
como
da
exploração
biológica (solo, vegetação e fauna).
Essa
complexos
região
se
sistemas
define
por
morfo-bio-pedo-
climáticos que resultam do encadeamento
entre
clima-vegetação-alteração-solos-
erosãomodelado-relevo
e
paisagens
(MELO, 1998a). Esta abordagem perpassa
pela paisagem do Assentamento Patativa do
Assaré que expressa muito bem a influência
desses elementos interrelacionados aos
fatores zonais, característicos da zona
tropical, como o clima e dos azonais, como
a continentalidade, relevo, vento entre
outros (MELO, 1998a).
Portanto, este trabalho teve como
objetivo descrever o sistema geofísico do
Assentamento Patativa do Assaré, no
município de Patos-PB, instituído pelo
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Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
INCRA-PB, em 05 de novembro de 2003,
associados a certos tipos de exploração
com o intuito de avaliar as correlações
biológica.
entre os elementos morfogenéticos sobre a
paisagem da área em estudo.
Na maior parte do tempo, a
paisagem do Semiárido é constituída de
espaços diversificados, que denotam os
REVISÃO DE LITERATURA
O
sistema
vários estágios de sua evolução no tempo e
morfogenético
ou
no
espaço,
sendo
mais
sensíveis
à
sistema físico pode ser definido como um
observação visual. Com a introdução do
conjunto complexo de ações relacionado a
homem no Semiárido, exercendo pressões
um sistema morfoclimático controlado por
por meio do desenvolvimento de atividades
fatores
geomorfológicos,
diretas ou indiretas sobre ele, o mesmo
climatológicos, fitográficos, pedológicos e
deixou de ser um complexo de relações
hidrográficos
determinado
entre os componentes bióticos e abióticos e
geossistema regional e/ou territorial. É
se transformou em um complexo natural
importante destacar que cada sistema
antropizado,
denota um geossistema diferenciado, que
(JANISE & LEONARDO, 2007).
geológicos,
de
um
resulta em variadas paisagens que se
A
denominado
estrutura
geossistema
litológica
que
traduzem em uma unidade de formas e
predomina no Semiárido é composta por
fisionomias
rochas gnaisses, migmatitos e os micaxistos
diversificadas
dentro
do
mesmo ambiente. Um dos fatores mais
que,
marcantes do domínio morfogenético da
superfícies erodidas pavimentadas com
paisagem do Semiárido nordestino é o
seixos angulosos de quartzo, provenientes
clima, que repercute sobre os demais
dos filões que armam estas rochas “in situ”,
componentes do sistema morfogenético e
ou então, com uma mistura desses seixos e
dos processos ambientais e antrópicos
fragmentos provenientes da desagregação
(AB’SABER, 1967).
mecânica das rochas. Esse sistema é
geralmemente,
dão
origem
à
Para Ab’Saber (2003) o Semiárido
marcado pela coexistência de processos
nordestino é uma região com posição
mecânicos ou físicos de desagregação das
azonal e, portanto, um raro exemplo de
rochas durante a estação seca e de
domínio morfoclimático intertropical, seco
processos
e
bioquímica,
semiárido,
situado
em
latitudes
de
alteração
muito
química
deficientes
e
e
subequatoriais. Essa região é o resultado de
incompletos e suas modalidades erosivas
um complexo potencial ecológico que
desempenham um papel fundamental na
reflete as relações dos fatores físicos
Melo e Guerra, 2013
150
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
morfogênese do Semiárido (AB’SABER,
típicos das regiões tropicais úmidas, porém
2003).
incompletos, uma vez que esta é muito
O
sistema
é
curta. A estação seca é longa e pode se
marcado topograficamente por pedimentos.
prolongar por vários meses ou anos (secas
Estes são formados por rochas cristalinas
periódicas). As chuvas são mal distribuídas
circundada, algumas vezes, por rochas
no tempo e no espaço. Como resultado,
sedimentares, definido como uma vertente
tem-se uma combinação complexa de
longa, regular, dominada a montante por
processos físicos e biológicos que lhe dão
um relevo (maciço montanhoso, serra,
características peculiares.
serrote,
De acordo com Lima (1989), os contrastes
lajedos,
rochosos,
geomorfológico
matacões,
amontoados
inselbergs),
térmicos
são
pouco
significativos
modesta.
anuais entre 24º C e 28º C, média das
Associado ao relevo, esse sistema torna o
temperaturas no inverno de 22º C, média
quadro climático da região diversificado e
das temperaturas no verão de 34º C e 38º
complexo, sobretudo, quanto ao regime
C). Entre essas estações (seca e chuvosa)
pluviométrico que apresenta uma grande
ocorrem
variabilidade no tempo e no espaço. A estes
relacionadas com a cobertura vegetal e com
dois fatores de ação direta sobre o clima, se
os
acrescenta a posição geográfica da região
pedogenéticos, responsáveis pela formação
com relação aos sistemas meridionais e
do
zonais da circulação atmosférica, de que
respectivamente. A vegetação é adaptada a
resultam
essa irregularidade e aos solos que, na sua
os
declividade
sistemas
um
e
(amplitude de 5º C, média das temperaturas
com
por
blocos
plano
inclinado
formado
de
pontões
regionais
de
perturbações
processos
modelado
nas
condições
morfogenéticos
relevo
e
dos
e
solos,
instabilidade ou estabilidade do tempo
maioria, são rasos e pedregosos.
(MELO 1998a).
A estação chuvosa e a seca são bem
Segundo Boyé (1999), o clima tropical
definidas na paisagem dessa região. Esse
semiárido apresenta uma estação chuvosa
ritmo
curta entre 3 a 5 meses, registrando chuvas
variações dos aspectos fisionômicos da
por vezes em apenas dois meses, que
caatinga que, de uma estação para a outra,
alterna com uma estação úmida curta,
perde
principalmente nos meses de março e abril.
desaparecem e outros ressecam. A caatinga,
Inversamente, durante a estação chuvosa,
tipo vegetacional predominante da região
verifica-se a ocorrência de processos
Semiárida, mostra uma grande variação
Melo e Guerra, 2013
se
as
reflete,
folhas,
principalmente,
alguns
151
nas
estratos
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
fisionômica e florística, relacionada à
comportamento com relação à água. Nos
heterogeneidade do clima, solo e relevo, as
solos com textura arenosa, sob climas
quais apresentam características xerofíticas
semiáridos com longa estação seca, a
(JANISE & LEONARDO, 2007).
lixiviação é reduzida em virtude de sua
Percebe-se que a pedogênese e as
forte permeabilidade e de sua fraca
condições edáficas do Semiárido são
capacidade de retenção da água. Esta
fenômenos complexos que integram não
penetra nas partes mais profundas do solo e
somente condições climáticas e litológicas
armazena-se ao abrigo da evaporação
como também diferentes fatores, tais como:
(KUHLMANN, 1984).
os aspectos geológicos, o modelado do
Ainda de acordo com Kuhlmann
relevo e sua exposição à umidade e a chuva
(1984), a textura arenosa assegura uma
(BOYÉ, 1999). A paisagem das caatingas,
reserva de água que é colocada à disposição
apresentam
que
das raízes, permitindo, desse modo, que as
importante,
plantas atravessem a estação seca, se os
condições
desempenham
sobretudo,
no
um
que
edáficas
papel
diz
respeito
ao
anos forem normais. Os solos com textura
comportamento da água do solo, principal
argilosa, embora dotados de uma fertilidade
fator limitante nesses climas e também
mais elevada do que a dos solos arenosos,
potencializador da erosão hídrica.
mas não totalmente utilizáveis devido à
No Semiárido, a falta de água
insuficiência da hidrólise dos minerais e do
durante a estação seca e a pouca matéria
seu comportamento com relação à água,
orgânica fornecida ao solo pela vegetação,
são pouco permeáveis porque a água é
limitam
pedogenéticos,
rapidamente bloqueada na superfície por
evoluam lentamente.
causa da elevada capacidade de retenção
Aliada a esses fatores, a morfogênese
desses solos compactados. Encharcados na
promovida
estação
os
processos
fazendo com que
também
pelos
contribui
agentes
para
mecânicos,
interferir
úmida,
logo
dessecados
e
na
endurecidos, desde que cessam as chuvas,
pedogênese. As chuvas, mesmo as de
esses solos apresentam limitações sérias
menor intensidade, atuam sobre as fracas
para o desenvolvimento da vegetação e
inclinações dos pediplanos e têm forte ação
para as culturas agrícolas, principalmente,
erosiva porque a ausência do tapete
provenientes do escoamento superficial.
herbáceo nessa estação não impede o
Conforme
Melo
(1998a)
o
escoamento superficial. A textura dos solos
escoamento superficial na região Semiárida
intervém na pedogênese através do seu
ocupa um lugar importante da dinâmica da
Melo e Guerra, 2013
152
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
Caatinga,
tanto
hipoxerofila
como
a
afloramentos rochosos, lajedos, matacões,
hiperxerofila. A vegetação caducifólia, com
maciços
uma taxa de cobertura do solo muito
descontinuidades litológicas ou pequenas
variável, explica porque o escoamento logo
rupturas na declividade. A dinâmica do
após as enxurradas tem um forte poder
escoamento superficial se processa de duas
erosivo.
maneiras, segundo Melo (1998b):
Os
detritos
oriundos
do
de
vegetação,
árvores,
intemperismo são transportados pelas águas
1. O escoamento como fase inicial de
que escoam na superfície do solo e
alimentação do escoamento organizado em
exercem, eles próprios, uma ação erosiva in
um sistema de drenagem;
situ para, em seguida, se depositarem nas
2. O escoamento superficial, agente da
partes mais baixas do relevo.
erosão hídrica que atinge particularmente
Segundo Ab´Saber (1980), por
efeito do escoamento superficial produzemse acumulações de soluções salinas em
as terras cultivadas e que apresenta quatro
modalidades:
a) laminar, quando há remoção
torno dos perímetros irrigados, baixios,
homogênea
várzeas e represas. No Semiárido, onde a
formando sulcos;
água escassa e a pedogênese funcionam
lentamente, os solos são rasos e, na sua
maioria, pedregosos. Alguns deles são
propensos a problemas de salinização e
alcalinização. A matéria orgânica e o
de
uma
capa
de
solos,
b) difuso, quando organizado em
filetes de água;
c) em lençol, quando os córregos se
reúnem formando um lençol de água;
d) concentrado, formando ravinas.
húmus existem em menor quantidade do
Albuquerque
(1970)
considera
que nos geossistemas úmidos e sua
dois tipos de escoamento: 1) o escoamento
decomposição é muito lenta em virtude da
de saturação, que ocorre quando os solos
duração da estação seca.
são saturados de água por causa de chuvas
Conforme Melo (1980), as águas
prolongadas; 2) e o escoamento superficial
escoam e carregam os detritos provenientes
de intensidade, quando a intensidade das
das rochas alteradas e desagregadas para as
chuvas
partes mais baixas. Todas as encostas
infiltração.
apresentam micro-formas arqueadas para
granulometria das formações superficiais
montante, resultando ao mesmo tempo do
(teor em argila ou em silte), declividade do
escoamento superficial difuso e em lençol,
terreno, índice pluviométrico e sua duração.
que
contorna
Melo e Guerra, 2013
obstáculos,
tais
ultrapassa
a
Ambos
como:
153
velocidade
de
dependem
da
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
Na concepção de Koechlin &
Este é o quadro da paisagem
Melo (1990), o escoamento e a erosão
sistêmica
subsequente
algumas
Portanto, é todo um complexo de condições
variáveis, tais como utilização do solo,
que favorece o escoamento superficial, o
estado atual da vegetação, propriedades
qual não é impedido pela vegetação,
físicas do solo, repartição e regime das
sobretudo, se ela for representada por
chuvas, declividade e comprimento da
vegetações baixas e esparsas se o clima for
encosta. As características estruturais da
mais seco e o pedoclima mais árido, como
vegetação e sua taxa de recobrimento do
é
solo, a periodicidade caracterizada pela
(BERTRAND,
perda das folhas durante a estação seca e a
condições do sistema geofísico dessa região
ausência de tapete herbáceo favorecem a
apresentam frágeis e agravadas pelas ações
ação mecânica do escoamento superficial.
antropicas secular, que podem favorecer a
Sobre os solos expostos, o impacto das
formação de núcleos de desertificação em
chuvas dá origem a uma crosta erodida de
vários estados do Nordeste, e em especial
alguns milímetros ou centrímetros de
da Paraíba.
dependem
de
o
do
caso
Semiárido
da
caatinga
1972).
No
nordestino.
hiperxerófila
geral,
as
espessura que modifica o regime hídrico
dos
solos
e
favorece
o
escoamento
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada numa
superficial difuso.
Conforme Albuquerque (1970), os
antiga área pertencente à Fazenda Jacú,
maciços de vegetação, as árvores isoladas e
atualmente conhecida como Assentamento
os
Patativa
afloramentos
rochosos
constituem
do
Assaré.
Localiza-se
no
obstáculos à concentração do escoamento
Nordeste brasileiro no Estado da Paraíba na
das águas e este, toma sempre a forma
mesorregião do Sertão Paraibano, no
difusa. No conjunto dos pedimentos e
Município de Patos, especificamente no
vertentes submetidos a estas ações, o
Distrito de Santa Gertrudes, distante 14 km
escoamento se organiza em sulcos, assim
da sede municipal e cerca de 310 km de
que encontra os obstáculos mencionados,
João Pessoa, capital do Estado da Paraíba
concentrando-se
e
(Figura 1). Integra a Bacia do Rio Piranhas,
carregando as argilas, siltes e areias finas
inserido no Semiárido nordestino. Possui
para as partes baixas das encostas, terraços
uma área de 2.239,60 ha e encontra-se às
fluviais e fundos dos vales, rios, córregos e
margens das Rodovias Federais BR-230, no
riachos.
trecho que liga Patos a Pombal e da BR-
Melo e Guerra, 2013
logo
após
eles
154
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
110 que liga Patos ao município de Serra
Negra do Norte-RN (INCRA-PB, 2010).
Figura 1: Localização do Assentamento Patativa do Assaré. Fonte: IBGE, 2007 e
LAGUAEF/UFCG, 2011.
Trata-se
de
um
Projeto
de
O
método
empírico-analítico
Assentamento Rural (P.A), criado no dia 05
utilizado nessa pesquisa resultou de um
de novembro de 2003 e reconhecido através
levantamento
da
2003.82.01.006671-1
oportunizando a observação, interpretação
(SR/18/PB) pelo INCRA-PB (INCRA-PB,
e análise da paisagem, relacionado a
2003). A área do assentamento caracteriza-
conhecimentos teórico-práticos da região,
se por apresentar fortes limitações físicas e
no qual se buscou descrever os atributos
ambientais, por estar inserida numa Zona
físicos como a geologia, climatologia,
Intertropical susceptivel a processos e
pedologia e a hidrografia, separadamente.
Portaria
Nº
núcleos de desertificação. Antes de ser
teórico
Quanto
ao
e
documental,
método
inventário
implementada como assentamento, essa
utilitário por amostragem (tamanho da
area era utilizada com culturas do algodão e
amostra por quadrado ou comprimento)
a
variou em função dos atributos geofísicos
criação
de
gado,
pela
Empresa
Agropecuária Wanderley Ltda.
A
embasou-se
metodologia
nos
métodos
selecionados. Esse caracterizou-se pela
empregada
empírico-
pequisa de campo de natureza generalizada
semi-detalhada, utilizado pelo
INCRA
analítico (GIL, 1999) e de inventário
(2010) e EMBRAPA (1996); compreendeu
utilitário por amostragem (INCRA, 2010 e
a
EMBRAPA, 1996).
observatória. Dada sua capacidade semi-
análise
científica
exploratória
e
detalhadora foi utilizado para analisar e
Melo e Guerra, 2013
155
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
descrever os elementos geofísicos como a
A segunda etapa foi norteada pela
geomorfologia, fitografia e a pedologia,
pesquisa de campo. Essa atividade in loco,
isoladamente.
principalmente,
buscou
descrever
os
A técnica utilizada nesse estudo
atributos geomorfológicos, fitográficos e
foi a exploratório-descritiva, baseada na
pedológicos da área pesquisada, tendo
pesquisa bibliográfica, documental e de
como base o referencial de diversos estudos
campo (SAMPIERI, et. al., 2006). O
do sistema geofísico regional, sobre a
presente trabalho procurou verificar se os
temática descrita. Foram realizados os
atributos
seguintes procedimentos:
geofísicos
regionais
são
os
mesmos encontrados no Assentamento
Patativa do Assaré.
utilizada
Na primeira etapa foi realizada a
descrição
dos
elementos
climatológicos,
a) Na análise geomorfológica foi
geológicos,
ferramenta
do
georreferenciamento com GPS, a partir do
plano de reclassificação do Modelo Digital
e
de Elevação do Terreno, a partir do qual foi
de
elaborado o mapa da declividade, conforme
pesquisas bibliográficas e documentais,
a classificação de intervalos das classes no
extraidos de diversos órgãos do Estado da
LAGUAEF/UFCG1 (2011), por meio do
Paraíba e federal. Essa etapa seguiu os
programa SIG-Idrise Andes, V. 14.0 e do
seguintes procedimentos:
AutoCAD 2006.
hidrográficos,
pedológicos
a
obtidos
por
meio
a) A descrição geológica e climática
b) Com
relação
à
classificação
seguiu a determinação do levantamento da
fitográfica foi utilizada a técnica de
pesquisa
bibliográfica,
amostragem de modo aleatório, numa
elaborados
nas
documental,
adjacências
da
área
estudada.
escala de 200 metros de um ponto a outro,
seguindo os atributos da caatinga arbustiva
b) Para a classificação pedológica,
e arbórea, no qual foram destacados para a
com base nas classes de solos, foram
classificação dessas espécies o nome vulgar
utilizados os trabalhos realizados pelo o
(regional), simbologia, nome científico e
INCRA-PB e EMBRAPA no âmbito do
família.
assentamento.
c) As
c) Para a classificação e análise das
informações
dos
recursos
classes de intervalos do pH dos solos, foi
hídricos foram obtidas de dados fornecidos
utilizada a técnica de abertura de trincheiras
pelo o INCRA-PB e AESA.
1
Laboratório de Geoprocessamento da Unidade
Acadêmica de Engenharia Florestal da Universidade
Federal de Campina Grande.
Melo e Guerra, 2013
156
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
de modo aleatório, numa escala de 200
magmáticas e as metamórficas, sendo
metros de um ponto a outro. Foram
ambas
coletadas
terrenos cristalinos; constitui-se de uma
30
amostras
em
campo
e
enviados ao LASAG2 (2011).
habitualmente
sequência
denominadas
migmatizada,
de
deformada,
subordinada em dois domínios principais:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
biotita-gnaisses
Geologia
ortognaisses
migmatizados
e
granito-granodiroríticos, os
Assentamento
quais se encontram geralmente associados
Patativa do Assaré indica um estágio
aos micaxistos e granitos, incluindo diques
avançado do processo de pediplanação de
de quartzo. Com base em Ab’Saber (2003),
feição dominante, constituindo uma vasta
os
planura
ondulados,
micaxistos e granitos, bastante susceptíveis
unidade
à ação do intemperismo químico desta área
A
geologia
com
do
aspectos
encontrando-se
sobre
litoestratigráfica
que
a
se
constitui
de
graníticos,
dão
origem
gnáissicos,
a
superfícies
migmatitos,
erodidas,
afloramento sobre rochas muito antigas. De
pavimentadas com seixos angulosos de
acordo com a CDRM (1982), a área fica
quartzo provenientes dos filões que armam
inserida no Complexo Nordestino da
estas rochas “in situ”, ou então, com uma
unidade
mistura
litoestratigráfica
da
era
Pré-
desses
seixos
e
fragmentos
Cambriana do período Paleoproterozóico,
provenientes da desagregação mecânica das
denominado
rochas.
de
Complexo
Gnáissico-
O
Migmatítico. Apresenta quase que em sua
Complexo
Gnáissico-
embasamento
Migmatítico é marcado por um tectonismo
cristalino, estando inserida nas Folhas Patos
intenso, onde as zonas de cizalhamento,
(SB.24.Z-D-I) e Serra Negra do Norte
fraturamentos, dobramentos e falhamentos
(SB.24-Z-B-IV) (SUDEMA, 2004).
dispersos por toda a área do assentamento
totalidade,
rochas
Scheid
classificam
do
Ferreira
(1991)
favoreceu a ocorrência de superfícies
unidade
como
planas ou de ondulações suaves (CPRM,
afloramento
sobre
2005).
&
essa
litoestratigráfica
de
Complexo
Considerando os estudos de Leal,
representadas
et. al., (2005), o resultado da origem do
predominantemente pelas rochas ígneas ou
substrato geológico sobre o geossistema do
rochas
muito
antigas
Gnáissico-Migmatítico,
do
assentamento condicionou uma estrutura
2
Laboratório de Solo e Água da Unidade
Acadêmica de Engenharia Florestal da Universidade
Federal de Campina Grande.
Melo e Guerra, 2013
litoestratigráfica
constituída
157
por
solos
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
predregosos e rasos, com a rocha-mãe
vertentes curtas, topos arredondados e vales
escassamente decomposta a profundidades
secos e abertos, configurando-se assim,
exíguas e muitos afloramentos de rochas.
restos de superfícies erosivas formadas em
A limitação de áreas com declives
acentuados originou-se do processo de
pediplanação
seguindo
A superfície de pedimentação da
processos erosivos (TRICART, 1994): o
área apresenta cotas altimétricas com
primeiro, esfoliação milimétrica, peculiar a
mínima de 210m e máxima de 401m. Situa-
este geossistema e com apenas alguns
se
milímetros de profundidade, resulta em
apresentando
sedimentos levados pelas águas correntes
variável, segundo a classificação de Prado
dos pedimentos, modelando as áreas mais
(1995), que vai de plano (Classe A -
inclinadas;
13,69%),
o
segundo
tipos
sob o clima semiárido (CPRM, 2005).
de
e
dois
condições de morfogênese pela dissecação
processo,
em
terço
médio
de
declividade
litológica
suavemente
ondulado,
esfoliação métrica, apresenta cerca de um
moderadamente
metro de profundidade e manifesta fissuras
fortemente ondulado (Classes B, C, D, E -
paralelas à superfície do embasamento,
85,99%) e montanhoso (Classe F - 0,32%) -
com
(PESQUISA DE CAMPO, 2011). As
grandes
blocos
de
rochas
de
embasamento cristalino.
características
ondulado,
elevação,
das
seis
ondulado
classes
e
de
declividade estão assim discriminadas e
Geomorfologia
O
como pode ser observada na Figura 2:
Assentamento
do
a) Classe A - O declive do terreno
Assaré estende-se pelas áreas aplainadas do
não oferece dificuldade quanto ao uso de
Sertão
de
culturas agrícolas, não apresenta erosão
Depressão
hídrica significativa, salvo solos altamente
Sertaneja, que faz parte do Domínio das
suscetíveis ao receberem enxurradas de
Depressões Periféricas e Interplanálticas do
áreas vizinhas de maior declive.
Paraibano,
Depressão
de
Patativa
denominada
Patos
ou
Sertão Nordestino, que circundam os
b) Classes B, C, D, E - Nestas classes
contornos do Planalto da Borborema na
agregadas, a declividade das classes B e C
Paraíba (AB’SABER, 2003). A superfície
apresentam características semelhantes às
do assentamento converge para o Baixo
da classe A. Já as classes D e E, apresentam
Sertão Paraibano, apresentando evidências
solos com alto índice de erodibilidade
tipológicas de relevo que variam de plano a
tornando-se necessária a implementação de
ondulado; são registrados níveis suspensos
terraceamentos.
de
pedimentação,
Melo e Guerra, 2013
caracterizado
pelas
158
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
c) Classe F - Compreende as áreas
extremamente suscetível à erosão hídrica e
com declives acentuados (montanhoso),
eólica; portanto, deve-se promover o
chegando a determinados pontos a 401
reflorestamento, objetivando a proteção da
metros de altitude. Esta classe não permite
área declivosa. A Figura 1 e a Tabela 1
qualquer tipo de cultura ou qualquer outra
demonstram a classificação de intervalos de
forma de exploração (a não ser culturas
classes
mais leves, com limitações). O solo nesta
Patativa do Assaré.
de
declive
do
Assentamento
declividade, sem cobertura vegetal, é
Figura 2:
Mapa da
declividade do Assentamento
Patativa do Assaré. Fonte:
LAGUAEF/UFCG, 2011.
Tabela 1 - Classificação de intervalos de classes de declive
Classes de
Declividade (%)
0–2
306,48
% em Relação
ao Assentamento
13,69
2–5
890,53
39,77
Moderadamente Ondulado
Ondulado
5 – 10
10 – 15
819,62
140,27
36,59
6,27
E
Fortemente Ondulado
15 – 45
75,43
3,36
F
Montanhoso
45 – 70
-
7,27
2.239,6
0,32
100,00
Classes de Relevo
A
Plano
B
Suavemente Ondulado
C
D
Total
Área (ha)
Fonte: Adaptado de Prado (1995) e Pesquisa de campo, 2011.
Observou-se que quanto à classe
moderadamente
ondulada
(5-10%),
de declive, a primeira classe em área
representando 36,59% e a terceira classe
ocupada é a suavemente ondulada (2-5%),
(0-2%), é a plana, que ocupa 13,69% da
representando 39,77%, seguida da classe
área total; a classe de declive ondulada (10-
Melo e Guerra, 2013
159
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
15%) apresentando 6,27% da área total,
ocorrência de serras e serrotes, que são
sendo a quarta maior classe; a classe de
massas
declive fortemente ondulada (15-45%)
elevações isoladas disseminadas sobre a
compreendendo 3,36% e a classe com
superfície pediplanada com a presença de
declive montanhosa (45-70%)correspondeu
matacões, seixos, lajedos, cristas e serras
a 0,32% da área total do assentamento.
formando relevos residuais, simétricas ou
predominantemente
rochosas,
Segundo Melo (1998a), a região
assimétricas, com topo por vezes plano a
onde se insere a área do assentamento
ondulado, às vezes contendo vegetação,
apresenta
flancos mais ou menos regulares ou multi-
algumas
características
geomorfológicas que são:
convexos e desprovidos de cobertura
a) topo maciço, de forma convexa
vegetal.
e/ou com modelado ruiniforme, associado
A área do assentamento está
ou não com pequenos agrupamentos de
circundada por um pediplano, formado por
vegetação
uma
lenhosa
ou
sub-lenhosa
e
rupícola;
superfície
desenvolvida
de
a
erosão
partir
sedimentar
de
agentes
b) parte inferior soterrada sob blocos
modeladores exógenos tais como o clima e
de diversos tamanhos, provenientes da
a chuva (ROSS, 2005). Essa erosão
fragmentação
rochas,
sedimentar
é
geralmente com ou sem vegetação. São
frequência
nas
também encontrados relevos residuais,
vegetação, nas proximidades dos Rios
exíguos
Panaty e Santa Gertrudes, além dos riachos
ou
mecânica
com
maior
das
envergadura,
isolados, agrupados ou em maciços altos
c) Têm geralmente uma repartição
áreas
com
desprovidas
mais
de
e estradas que cortam o assentamento.
(altura nunca excedendo os 401 metros), ou
rebaixados quase ao nível do solo;
verificada
Observou-se que essa modelagem
geomorfológica está condicionada pelos
fatores
climáticos
regionais
posição em relação à drenagem, seja por
determinantes para a formação dos solos e
sua maior resistência aos processos de
dos
alteração e de desagregação mecânica, seja
assim, que a força dos agentes exógenos
por esses dois fatores ao mesmo tempo.
(naturais) e antrópicos são determinantes
processos
por
pluviométricos
determinada, seja por sua localização ou
Ao se analisar a geomorfologia da
que,
e
sua
erosivos
são
evidenciando,
para a dinâmica do geossistema estudado.
área do assentamento tomando por base os
trabalhos de Tricart (1997), observou-se a
Melo e Guerra, 2013
vez,
160
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
insolação de, aproximadamente, 2.455
Climatologia
A climatologia está incluída no
horas/ano e a umidade relativa do ar
domínio semiárido subequatorial e tropical
apresenta uma variação média anual entre
que constitui o chamado Polígono das
59 e 76% (AESA, 2010).
Secas. De acordo com a classificação de
A estação chuvosa é regulada
Köppen, o clima predominante é do tipo
principalmente pelas variações da Zona de
BSh (quente e seco), marcado por uma
Convergência Intertropical (ZCIT), que é
estação seca prolongada e outra mais curta,
relevante para a convergência de ventos
com chuvas de verão (BRASIL-MA, 1978).
para a determinação do clima tropical
classificação
semiárido. Nas estações de verão-outono, a
bioclimática de Gaussen, domina na área o
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)
tipo 4aTh termoxeroquimênico acentuado
tende a se deslocar em direção ao sul (rumo
(tropical
acentuada)
à linha do Equador), proporcionando o
características
chamado período chuvoso ou inverno,
parâmetros
ocorrendo a partir de janeiro até abril
Segundo
quente
(IDEME,
extremas
2000),
dentre
a
de
seca
com
os
meteorológicos: alta radiação solar, baixa
(AB’SABER, 2003).
nebulosidade, altas temperaturas média
O assentamento está inserido em
anual, baixas taxas de umidade relativa do
área que sofre uma concentração de 50 a
ar, evapotranspiração potencial elevada e,
70% de chuvas em apenas três meses,
sobretudo,
e
constituindo-se em um clima sazonal muito
irregulares, limitadas a um período muito
forte (AESA, 2010). Devido às oscilações
curto no ano (LEAL, et. al., 2005).
dos
precipitações
baixas
De acordo com o PERH-PB
elementos
insolação,
climáticos (temperaura,
baixo
índice
pluvimétrico,
(2006), a temperatura média anual é 26,5º
estiagem prolongada entre outros), podem
C, com mínimas de 20,8 e máximas de
ocasionar secas em períodos consecutivos.
32,8º C, apresentando índices xerotérmicos
Em determinados anos a estiagem na área
que variam de 200 a 300 mm/aa. A
resulta numa estação seca com duração de
precipitação média anual oscila em torno de
sete a nove meses, chegando a prolongar-se
400 a 800 mm/aa, sendo sua pluviometria
até por alguns anos.
bastante irregular, com altas taxas de
Estudando
a
região
da
evapotranspiração que contribuem para a
microrregião de Patos, Melo (1998a)
formação de rios temporários com pouca
concluiu que o fenômeno das secas afeta de
retenção de água subterrânea, com uma
maneira
Melo e Guerra, 2013
endêmica
provocando
161
sérios
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
impactos sobre o meio natural, social,
do Semiárido no Domínio das Caatingas
econômico e ambiental. A seca na área é
com 1.304,11 ha de caatinga arbustivo-
compreendida
fenômeno
arbórea aberta e caatinga arbustivo-arbórea
meteorológico que ocorre quando as chuvas
fechada. Para Silva (1986), as caatingas
são inferiores à média durante um ano ou
podem ser caracterizadas como matas
vários anos consecutivos e está relacionada
arbustivas
a anomalias no sistema de circulação
compreendendo, principalmente, árvores e
atmosférica da Zona de Convergência
arbustos
Intertropical (ZCIT).
apresentam espinhos, microfilia (tamanho
como
um
Melo (1998a) identificou três tipos
de secas na região:
e
baixos,
arbóreas
savanizadas,
muitos
dos
quais
reduzido dos organismos que economizam
água e alimentos) e algumas características
1. Seca hidrológica é uma diminuição
xerofíticas. Conforme Maia (2004), tais
do escoamento dos rios e o rebaixamento
características xerofíticas estão associadas
dos lençóis freáticos com relação à normal
com caules carnudos para armazenar água,
conhecida.
folhas reduzidas, raízes longas e a queda
2. Seca edáfica é a diminuição da
infiltração
da
água
no
das folhas que ao cobrirem o solo,
solo,
protegem as plantas contra a alta insolação,
consequentemente menor umidade do solo
impedindo que o solo sofra erosão e proteja
em período de estiagem, o que vem
os seres vivos que nele vivem.
acentuar a aridez do meio. Como na área os
A vegetação da área estudada, por
solos são poucos desenvolvidos, possuem
está localizado no Domínio Semiárido, é
reduzida capacidade de retenção hídrica
dotada
favorecendo a seca edáfica.
adaptado ao xerofilismo. As caatingas na
3. Seca agrícola é um déficit hídrico
área
de
do
um
mecanismo
assentamento
funcional
apresentam
durante o ciclo vegetativo das culturas. Ela
características
é determinada em relação às necessidades
constituídas por uma vegetação que abriga
de água pelas atividades agrícolas e
muitas espécies.
acontece quando estes recursos tornam-se
rarefeitos.
heterogêneas,
sendo
As fisionomias são muito variadas,
dependendo do regime de chuvas e do tipo
de solo; com relação ao porte, identificam-
Fitografia
Fitograficamente
se desde as matas baixas a altas com 5
o
assentamento,
com base nos estudos realizados por Tricart
centímetros
(arbustos)
10
metros
(arbóreos) de altura, em áreas de solos
(1994), encontra-se inserido numa porção
Melo e Guerra, 2013
até
162
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
secos ou em áreas mais úmidas, até
adaptação ao meio (composição pedológica
afloramentos
de solos rasos e pedregosos, escassez e
rochosos
com
arbustos
esparsos e espalhados, com cactos nas
irregularidade
fendas.
espécies
As
tipologias
vegetacionais
nas
chuvas);
encontram-se
algumas
em
fase
de
regeneração, variando entre 5 centímetros a
predominantes no assentamento, refletem
3
as condições do meio em que ocorrem.
fisionômicos
Basicamente estão associadas a dois tipos:
diretamente relacionados às características
hipoxerófila
Essas
edafo-climáticas e ocorrem em tempos e
longa
espaços diferentes, provocando grandes
adaptação às condições de semiaridez e que
contrastes entre os períodos secos e
atestam
chuvosos.
formações
e
hiperxerófila.
resultam
uma
paleoclimática
de
uma
relativa
que
estabilidade
compreendem
metros
de
altura.
e
Os
contrastes
vegetacionais
estão
as
Há predominância na área, das
formações xerófilas lenhosas, em geral
tipologias de caatinga arbustivo-arbórea
espinhosas
plantas
aberta, caatinga arbustivo-arbórea fechada,
suculentas, com tapete herbáceo estacional.
além da herbácea. Na Tabela 2, encontram-
entremeadas
A
vegetação
de
que
ocorre
no
assentamento, pode ainda ser caracterizada
se as espécies vegetais mais frequentes na
área.
quanto à fisionomia em caatinga arbustivoarbórea aberta e caatinga arbustivo-arbórea
fechada.
Tais
formações
refletem
a
Tabela 2 - Espécies vegetais mais frequentes do Assentamento Patativa do Assaré
Nome Vulgar
Simbologia
Nome Científico
Angico
Ang
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan.
Jurema preta
Jurema branca
Sabiá
Aroeira
Baraúna
Algaroba
Cumaru
Mata-pasto
Mulungu
Umari
Capim elefante
Cardeiro
Facheiro
Mandacaru
Xique-xique
Jup
Jub
Sab
Aro
Bar
Alg
Cum
Mtp
Mul
Uma
Cae
Cad
Fac
Man
Xiq
Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret.
Piptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke.
Mimosa caesalpiniifolia Benth.
Myracrodruon urundeuva Fr. All.
Schinopsis brasiliensis Engl.
Prosopis juliflora (Sw.) DC.
Amburana cearensis (Allemão) A.C. Sm.
Senna obtusifolia (L.) H. S.
Erythrina velutina Jacq.
Geoffraea spinosa
Pennisetum purpureum Schum
Cereus giganteus sp.
Cereus squamosus Guerke
Cereus giganteus D.C.
Pilosocereus gounellei Weber.
Melo e Guerra, 2013
Família
Mimosaceae
Anacardiaceae
Leguminosae
Poaceae
Cactaceae
163
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
Catingueira
Mororó
Craibeira
Carnaúba
Favela
Marmeleiro
Velame
Imburana
Juazeiro
Macambira
Mofumbo
Pereiro
Cat
Mor
Cra
Car
Fav
Mar
Vel
Imb
Jua
Mac
Mof
Per
Poincianella poycianella (Tul.) L. P. Queiros
Caesalpiniaceae
Bauhinia fortificata Lin.
Tabebuia áurea
Bignoniaceae
Copernicia prunifera
Arecaceae
Cnidosculus phylloncanthus Pax.& K.Huf.
Cróton sonderianus Muell.
Euphorbiaceae
Croton campestris A. St. Hil.
Commiphora leptophloeos (Mart.) Gillet.
Burseraceae
Rhamnaceae
Zizyphus jozeiro Mart.
Bromélia laciniosa (Mart.) Ex. Schult.
Bromeliaceae
Combretum leprosum Mart.
Combretaceae
Aspidosperma pyrifolium Mart.
Apocynanceae
Fonte : Pesquisa de campo, 2011.
Com relação às espécies, foi
catingueira,
xique-xique,
observado que as mais frequentes na área
facheiro,
mata-pasto,
angico,
são: a jurema preta, seguida da favela,
elefante, dentre outras (Gráfico 1).
algaroba,
capim
Gráfico 1: Espécies vegetais com maior frequência no Assentamento Patativa do Assaré.
Fonte: Pesquisa de campo, 2011.
Melo e Guerra, 2013
164
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
No Gráfico 2, estão listadas as
Todas estas famílias exibem
famílias das espécies vegetacionais mais
características de espécies de clima
bem representadas no Assentamento, que
semiárido, que são espontâneas, densas,
totalizam 14, perfazendo uma soma de 28
baixas, retorcidas, de aspecto seco, com
espécies da caatinga, nas quais se
raízes rasas, de folhas pequenas de
destacam
caráter xérico e umas poucas plantas com
Mimosaceae,
Leguminosae,
Cactaceae, com 14,29% de cada uma das
espécies encontradas (42,87%).
Em
seguida
Caesalpinaceae
e
representando
10,71%
aparecem
órgãos de reservas subterrâneas.
Com
fulcro
nos
estudos
as
desenvolvidos por Aubreville (1961),
Euphorbiaceae,
conclui-se que a fitogeografia da área, em
uma
virtude da aridez climática e edáfica,
(21,42%), além da Anacardiaceae, que
deveria apresentar características nítidas
corresponde a 7,15%. As demais famílias
de pobreza em espécies, famílias e
como
uniformidade,
Plantagineae,
cada
Bignoniaceae,
mas,
adaptam-se
Arecaceae, Burseraceae, Rhamnaceae,
facilmente as altas temperaturas e à
Bromeliaceae,
e
evapotranspiração do ambiente semiárido
Apocynanceae, mesmo que em menor
e, de certa forma, mesmo em ambientes
proporção, apresentou 3,57% cada uma
submetidos às fortes pressões antrópicas,
(28,56%) - (PESQUISA DE CAMPO,
ainda apresentam significativa riqueza
2011) – (Gráfico 2).
vegetacional, como as espécies citadas
Combretaceae
nesta pesquisa.
Gráfico 2: Famílias das espécies vegetais mais encontradas do Assentamento Patativa do
Assaré. Fonte: Pesquisa de campo, 2011
Melo e Guerra, 2013
166
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
.
Como já visto, os solos estão
Pedologia
cobertos por uma vegetação do tipo
A pedologia da área resulta de
um mosaico de solos com características
variadas dentro de um pequeno território.
As classes de solos mais frequentes foram
classificadas
em
três
tipos:
os
LUVISSOLOS Crômicos Órticos típicos
(nomenclatura
antiga
Brunos
Cálcicos),
NEOSSOLOS
Eutróficos
típicos
(nomenclatura
Litólicos
com
antiga
Não-
A
fraco
LITÓLICOS
Eutróficos) e NEOSSOLOS Flúvicos
Eutróficos
ALUVIAIS
(nomenclatura
Eutróficos)
(EMBRAPA,
classificadas utilizando-se a metodologia
do inventário utilitário de campo adotado
pelo o INCRA-PB, para avaliação e
de
amostragem
do
geossistema estudado.
no assentamento são de baixa fertilidade
natural. Quanto à distribuição espacial
dos solos no universo estudado, os
LUVISSOLOS Crômicos Órticos típicos,
representam 74,26% (1.439,3 ha), os
Litólicos
rochosos
desenvolvem-se
ondulados
e
em
e
Eutróficos
típicos, correspondem a 15,77% (353,20
ha), enquanto que, os NEOSSOLOS
Flúvicos Eutróficos representam apenas
9,97% (223,24 ha) da área total do
relevos
serranos.
planos,
Apresentam
limitações fortes pela carência de água
além de forte vulnerabilidade erosiva. Os
fatores morfogonéticos que deram origem
a estes solos foram constituídos pelo
material de origem das rochas PréCambrianas do embasamento cristalino
de unidades sedimentares localizados.
A decomposição dessas rochas
na
superfície
assentamento
da
área
deram
total
formação
do
aos
LUVISSOLOS Crômicos Órticos típicos,
NEOSSOLOS
Litólicos
Eutróficos
típicos com horizonte A fraco e os
NEOSSOLOS Flúvicos Eutróficos, que
intervalos de pH do solo: 7% apresentou
acidez média, 13% de acidez baixa e 10%
neutro; com relação a alcalinidade foi
identificado 27% de alcalinidade baixa,
30% de alcalinidade média e 13% de
alcalinidade elevada. Nesta análise não
ocorreu a presença da classe de acidez
elevada (LASAG, 2011).
Embasado no trabalho realizado
por Souza, et. al., (2007), infere-se que os
LUVISSOLOS
são
solos
assentamento (INCRA, 2010).
Melo e Guerra, 2013
pedregosos;
apresentaram as seguintes classes de
As classes de solos ocorrentes
NEOSSOLOS
profundos,
antiga
2006). As classes de solos foram
procedimentos
caatinga, caracterizados por serem pouco
166
altamente
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
intemperizados, resultantes da remoção
das estiagens, além do aproveitamento
de sílica e de bases trocáveis do perfil,
intensivo das vazantes e baixios (SILVA,
desenvolvem-se especialmente a partir de
1986).
gnaisses e micaxistos, com ou sem
Com relação aos NEOSSOLOS
contribuição de materiais transportados,
Litólicos
podendo também ser constituídos da
horizonte A fraco, Sousa, et. al., (2007),
procedência de outras rochas, como
definem
calcários, siltitos, filitos e sedimentos
associados a muitos afloramentos de
argilo-arenosos.
rocha. Correspondem a solos pouco
Apesar
como
típicos
solos
muito
com
rasos,
apresentarem
evoluídos, apresentando substrato de
pequenas profundidades, expressam uma
rochas cascalhentas, filíticas e xistosas,
significativa
se
com horizonte A fraco, comumente de
comparados aos NEOSSOLOS Litólicos,
textura média e com drenagem que varia
além dos grandes fatores restritivos para a
de baixa a moderada e muito rasos.
sua
de
Eutróficos
fertilidade
utilização
são
natural
com
Este tipo de solo origina-se de
declividades, ondulações, pedregosidade
diferentes tipos litológicos, destacando-se
e a vulnerabilidade à erosão, tanto natural
os migmatitos e os gnaisses; caracteriza-
como
áreas,
se por serem pouco desenvolvidos e
intensificadas pelo o uso das terras, estão
rasos, textura arenosa, fase pedregosa
propensas
associada a afloramentos rochosos, ocupa
antrópica.
a
alcalinização
as
Algumas
ocorrência
e
áreas
a
de
acidez,
processos
de
erodibilidade (EMBRAPA, 2006).
apresentando uma série de atributos
Embora as condições edáficas e
climáticas
da
área
sejam
relevos planos, ondulados a serranos,
favoráveis a alta vulnerabilidade de
fatores
processos erosivos devido a sua pequena
limitantes, não são impeditivos para o uso
profundidade. Tem ocorrência fracionada
da terra com culturas anuais leves,
pela unidade da área estudada, com
principalmente no período chuvoso. Os
exceção dos espaços úmidos, ou seja, das
LUVISSOLOS são mais utilizados para
vazantes e baixios.
criação de gado. Verificou-se que o
Os NEOSSOLOS Litólicos não
potencial para a agricultura é baixo, mas
apresentam condições para a utilização
o uso e aproveitamento são indicados
agrícola, tendo em vista as fortes
para
limitações existentes, provocadas pelo
pecuária,
intensificado
o
desde
cultivo
que
de
seja
plantas
forrageiras com reservas para o período
Melo e Guerra, 2013
relevo
ondulado,
afloramentos
pedregosidade,
rochosos
167
e
pequena
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
profundidade dos solos, além da carência
encontra-se na rede de drenagem, nas
de água que só permite culturas que
margens dos rios, riachos e dos pequenos
resistem às estiagens. Só é possível a
córregos que descem das áreas serranas.
exploração destes solos pelos sistemas
Os
NEOSSOLOS
Flúvicos
tradicionais de agricultura, devido à
possuem grande potencial agrícola, sendo
necessidade do controle conservacionista
recomendada a sua utilização de forma
(CAVALCANTE, et. al, 2005).
semi-intensiva, tanto pela agricultura
Pode-se
ação
quanto pela pecuária. São indicados para
antrópica nas áreas onde este tipo de solo
o cultivo do milho, feijão, banana,
se
a
melancia, mandioca, abóbora, manga,
aceleração do processo de degradação se
cana-de-açúcar, maracujá, entre outros,
relaciona muito mais ao inadequado uso
além do capim elefante (pastagens para o
do que pelo agravamento dos fatores
gado). Esses tipos de solos quando
morfoclimáticos. Esta classe de solo sofre
explorados com técnicas de irrigação,
forte escassez de água e, em sua maioria,
mesmo
está ocupado pela vegetação secundária
cuidados especiais, tendo em vista a
e/ou terciária; praticamente não têm
susceptibilidade
utilidade para as práticas agrícolas, sendo
salinização, conforme observado em
mais utilizada pela pecuária extensiva.
algumas
apresenta,
Os
observar
a
evidenciando
NEOSSOLOS
que
Flúvicos
que
rudimentares,
para
áreas
inspiram
processos
do
de
assentamento
(CAVALCANTE, et. al., 2005).
Eutróficos, também conhecidos como
O
uso
dos
LUVISSOLOS,
solo de várzea ou solo aluvial, são solos
NEOSSOLOS Litólicos e NEOSSOLOS
pouco evoluídos, não hidromórficos,
Flúvicos
formados em depósitos aluviais recentes.
quando sob condições regulares de chuva,
São
os
são utilizados para a agricultura de
NEOSSOLOS
subsistência e a criação de gado; a
mais
profundos
LUVISSOLOS
e
os
que
na
área
do
Litólicos. Apresentam fertilidade que
vegetação
nativa
varia de alta, mediana a baixa; textura
forragem,
estimulando
argilosa ou arenosa desde ácidos até
extensiva, os rebanhos bovino, caprino e
alcalinos, com mediana profundidade (no
ovino. No período chuvoso, devido à
geral
atividade
não
excedem
dois
metros),
vulnerabilidade
encontram-se
geossistema.
relevo
geralmente
utilizada
criatória,
imperfeita a moderadamente drenados,
em
é
assentamento,
pecuária
eleva-se
ambiental
plano. A maior parte desse tipo de solo
Melo e Guerra, 2013
a
168
como
a
deste
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
Não
se
pode
fazer
partículas mais finas como argila, silte e a
generalizações com relação a toda área do
areia fina, e deixa para trás a areia grossa,
assentamento, tendo em vista que em
cascalho e pedras caracterizando as
cada
extensas plataformas de detritos;
compartimento
registra-se
uma
dinâmica particular, impulsionada pela
3)
concentração
de
fluxos
herança do sistema geofísico, aliada às
descendentes de águas correntes das áreas
contingências atuais do clima e da ação
planas inclinadas, onde se unem para
antrópica,
formar os Rios Panaty, Santa Gertrudes e
influenciando
diretamente
sobre a vegetação e os solos, resultando
pequenos
na
temporária.
morfodinâmica
atual
e
na
configuração de cenários de degradação
e/ou conflito ambiental.
riachos
Pode-se
com
drenagem
observar
que
a
hidrografia do assentamento consiste em
cursos de água interminentes sazonais
Hidrografia
Com
com drenagem endorréica, ou seja, os
de
Rios Panaty, Santa Gertrudes e os riachos
estudada
correm para o interior do continente. Em
constitui uma geo-região de condição
anos mais chuvosos, deságuam no Rio
climática sazonal com relação às faixas
Espinharas,
tropicais e subtropicais da Terra. Esse
chuvosos a água se evapora ou se infiltra
geossistema encontra-se inserido na área
rapidamente (AB’SABER, 2003).
Ab’Saber
base
(2003),
nos
a
estudos
área
mas
em
anos
menos
de abrangência da Bacia do Rio Piranhas,
A partir da concepção de Leal,
na Sub-bacia do Rio Espinharas, além de
et. al., (2005), pode-se afirmar que tais
ser cortado pelos Rios Santa Gertrudes e
rios fluem durante a estação chuvosa,
Panaty. A ação do sistema geofísico da
mas
drenagem das águas das chuvas sobre a
gradualmente. Uma inversão hidrológica
superfície do assentamento, com base nos
ocorre logo que as chuvas cessam, sendo
estudos de Tricart (1997), apresenta três
responsável pelo desaparecimento dos
formas de escoamento:
cursos de água; os rios retroalimentam o
1) nas serras e serrotes, com
embasamento
cristalino
com
afloramentos rochosos, ocorre drenagem
rápida e imediata da água da chuva;
logo
após
desaparecem
lençol freático e permanecem secos até o
próximo período chuvoso.
A
assentamento
rede
é
de
drenagem
bastante
do
incipiente,
2) drenagem difusa ao longo dos
constituída por pequenos rios e riachos
pedimentos, a água corrente transporta as
que correm de forma mais ou menos
Melo e Guerra, 2013
169
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
paralela na direção ao Rio Panaty,
águas
pluviais
em
reservatórios
considerado o mais importante, em
artificiais, cujo volume estimado é de 3,7
decorrência da sua extensão e do volume
milhões de m3, ocupa uma área de 124,29
de água, apesar de ser temporário. A rede
ha, ou seja, 5,55% da área territorial
percorre um longo trecho entre o Distrito
(INCRA, 2010).
de Santa Gertrudes até o município de
Esse potencial hídrico deve-se
São José de Espinharas, no sentido Sul-
ao fato da área contar com cinco grandes
Norte, principalmente, no perímetro do
açudes - Jacobina, Lama, Linha, Paus e
assentamento permitindo assim, algumas
Saco, além de apresentar outros de menor
culturas temporárias de subsistência nas
capacidade de captação e armazenagem.
suas margens em períodos chuvosos.
Devido à área está sobre o
A ação combinada da baixa
embasamento cristalino, registra-se baixo
altitude em relação ao Planalto da
potencial hídrico subsuperficial, a rede de
Borborema e da disposição do relevo, que
drenagem apresenta-se bem restrita, com
se constitui em barreira para circulação
apenas 364,87 ha, o equivalente a 16,29%
das massas de ar úmidas oriundas do
da área total, evidenciando a importância
Oceano Atlântico, faz com que a área, em
de se coibir a retirada da vegetação das
seu
margens dos cursos de água, pois o solo
conjunto,
possui
pluviométricos
muito
índices
baixos
em
determinados anos, com médias anuais
carreado vem erodindo e assoreando os
mesmos.
em torno de 300 a 800 mm. Em
decorrência
disto,
as
No entanto, observou-se uma
condições
conjugação de fatores que contribuem
pluviométricas interferem na rede de
para o baixo potencial hídrico-fluvial,
drenagem,
e
na
inserindo-se entre eles, o clima semiárido
açudagem
para
e
que apresenta alta taxa de insolação e,
consequentemente
a
captação
armazenagem de água (AESA, 2010).
consequentemente,
uma
intensa
Os estudos do PTDRS (2006)
evapotranspiração e o fator solo, em que
sobre fatores abióticos da região indicam
as condições de umidade, bem como a
que
profundidade efetiva, são limitantes.
o
potencial
hidrogeológico
é
satisfatório em termos de captação de
água, por localizar-se numa área de
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
pediplanação.
Os recursos hídricos superficiais
são exclusivamente da acumulação de
Melo e Guerra, 2013
formação
geológica
do
Assentamento Patativa do Assaré data da
era
Pré-Cambriana,
do
170
período
Revista de Geografia (UFPE) V. 30, No. 1, 2013
Paleoproterozóico, encontrando-se sobre
típicos com A fraco e os NEOSSOLOS
o Complexo Gnáissico-Migmatítico, com
Flúvicos Eutróficos. Os solos, em geral,
predomínio
e
são de baixa fertilidade natural, pouco
graníticas apresentando quase que em sua
profundos, rochosos e pedregosos, com
totalidade
predomínio de pH alcalino. Apresentam
de
rochas
sobre
gnáissicas
o
embasamento
cristalino.
limitações fortes pela carência de água
A
estrutura
estende-se
pelas
geomorfológica
áreas
além da vulnerabilidade erosiva hídrica.
aplainadas,
A rede de drenagem apresenta
denominada de Depressão de Patos ou
baixo potencial fluvial, tendo como
Depressão Sertaneja, apresentando o
principais
Rios
predominio de declividade suavemente
Gertrudes
(ambos
onduladas a fortemente onduladas.
coletam a totalidade das águas drenadas
o
Panaty
e
Santa
temporários),
que
O assentamento está incluído no
no interior da área, por intermédio de
chamado Polígono das Secas, com clima
pequenos riachos e córregos, na estação
BSh (quente e seco), com chuvas de
chuvosa.
verão.
endorréica,
A
precipitação
média
anual
distribui-se irregular e temporalmente,
apresentando
temperatura
da
cobertura
vegetal encontra-se sobre o domínio das
Caatingas hipoxerófila e hiperxerófila,
estratos
arbustivos
e
arbóreos baixos com tapete herbáceo
estacional, que atestam uma relativa
estabilidade
paleoclimática
que
compreendem as formações xerófilas.
Predomina
a
espécie
jurema
preta,
vegetação invasora, com forte indicativo
da exploração nativa da área.
Os
solos
mais
frequentes
encontrados foram os LUVISSOLOS
Crômicos Órticos típicos, seguidos pelos
NEOSSOLOS
Melo e Guerra, 2013
com
cursos
é
do
de
tipo
água
interminentes sazonais.
BIBLIOGRAFIA
composição
apresentando
drenagem
elevada
durante todo o ano.
A
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Litólicos
Eutróficos
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