2 SUMÁRIO I. O Parlamento ....................................................................................................... 2 I.1. Legislação ..................................................................................................... 6 I.2. Procedimentos ............................................................................................... 7 II. Sistema político partidário .................................................................................. 8 II.1. Parlamentarismo .......................................................................................... 8 II.2Bipartidarismo ............................................................................................... 9 II.3Voto Distrital ............................................................................................... 11 II.4. Relação Partidária Inglesa ........................................................................ 12 (a) Partido Conservador – “Os Tories” ........................................................ 14 (b) Partido dos Trabalhadores ...................................................................... 15 (c) Aliança Liberal Social Democrata ........................................................... 16 III. Contexto Histórico-Político da década de 1970 .............................................. 17 III.1 Estado de bem estar social ......................................................................... 17 III.2 O fim do socialismo .................................................................................. 19 III.3 O neoliberalismo ....................................................................................... 22 IV. Lei do Emprego............................................................................................... 25 IV.1 A questão ideológica ................................................................................. 26 IV.2 A realidade inglesa e o jogo político-sindical ........................................... 27 IV.3 Considerações sobre a lei .......................................................................... 29 V. Privatização da British Telecom ...................................................................... 36 V. 1 Contextualização histórica ......................................................................... 36 V. 2 As Privatizações ........................................................................................ 37 V. 3 Perspectivas econômicas sobre o processo de privatização ...................... 38 V. 4 A British telecom ....................................................................................... 42 VI. Reforma educacional ...................................................................................... 43 VI. 1 Principais institutos do sistema educacional inglês.................................. 43 VI. 2 Histórico normativo do sistema educacional britânico ............................ 47 (a) The Baker Act .......................................................................................... 51 VI.Bibliografia ...................................................................................................... 55 3 I. O PARLAMENTO Parlamento, palavra cujas origens remontam a parler, que significa falar, é o nome dado ao órgão legislativo máximo do sistema político e governamental do Reino Unido da Grã Bretanha (Encyclopædia Britannica/Parliament, 1911). O vocábulo, parlamento, tem seus registros mais antigos na língua inglesa datados do século XIII, referindo-se primeiramente a debates e, posteriormentea conferências formais. Notadamente, o sistema político do Reino Unido e, em especial, sua esfera legislativa é repercussão da história ímpar de desenvolvimento da Europa insular.Edificado por essa formação britânica única, o parlamento, então, não tem data certa de origem e criação, apesar de que, da configuração como o concebemos hoje,ele se consolidou da unificação dos parlamentos inglês e escocês, em 1707, a que se incorporou posteriormente, com o Ato de União de 1801, o parlamento irlandês. Entretanto, sua gênese principiológica e material data do período anglosaxônico. Cabe citar, primeiramente, o Witenagemot1 - posteriormente substituído pela Curia Legis –queera composto por nobres que aconselhavam os monarcas em questões governamentais quando requisitados e é considerado, então, como o embrião da câmara alta. Ainda, havia as reuniões de homens livres e camponeses em assembleias locais em inglês, Moots -, que deliberavam sobre a regulação de questões civis e acabaram se desenvolvendo mais tarde na base para a construção da câmara baixa. No início do século XIII, em 1215, os nobres ingleses, insatisfeitos com as atitudes e demandas do Rei João, que havia envolvido a Inglaterra em um conflito com a França, passaram a reivindicar por mudanças no cenário político. Nesse intuito, constrangeram o monarca a assinar a Magna Carta em junho, que limitava a autoridade da Coroa, estabelecendo que o rei também fosseera destinatário das normas que eram produzidas, ou seja, ele não estaria mais acima da ordem jurídica, mas seria sujeito dela, bem como os súditos. Além de outras disposições, como a regulação dos costumes adotados nos feudos e a constituição efetiva de um sistema judiciário, a Magna Carta, a partir da prescrição dos poderes que caberiam aos nobres e à Coroa, reconheceu formalmente que a nobreza teria o direito de ser consultada e de aconselhar o rei, no que foi denominado como Grande Conselho. 1 Do inglês antigo, Witenagemot significa "reunião dos homens sábios". 4 Apesar das grandes conquistas trazidas pela Magna Carta, a nobreza ainda se mostrava inconformada com os conflitos existentes com o monarca. Assim, em 1258, o Rei Henrique III, que travou conflitos políticos com a nobreza inglesa durante seu reinado, foi compelido a concordar com a instituição de um conselho de 15 membros que seria constantemente consultado por ele, denominado Parlamento. Foram instauradas reuniões regulares e, ainda, sugeriram a participação de 12 membros não nobres escolhidos pelos condados. Entretanto, a contínua recusa de Henrique III em honrar com o estabelecido levou a uma guerra entre os nobres e o soberano. Vitorioso, o Parlamento instituiu-se como o governante de fato da Inglaterra, em 1264. Acreditando na necessidade de conferir maior influência aos representantes locais comuns, os parlamentares passaram a convocar fidalgos e burgueses para atender às suas reuniões. Após algumas décadas, em 1327, a presença dos comuns no ambiente parlamentar foi formalmente instituída, o que se tornou um grande marco na história britânica. Mais tarde, foram inclusos no Parlamento membros eleitos por cada distrito, tornando-o uma instituição cada vez mais representativa da população inglesa e se tornando mais próximo do que hoje entende-se pela Câmara dos Comuns. A câmara baixa foi prevista já em 1332 e, nesse momento, o Parlamento era tripartido: havia o monarca, a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes, sendo que a câmara alta tinha mais atribuições e poderes em relação à baixa. Com o passar das décadas, as circunstâncias fizeram com que o Parlamento fosse gradualmente mais consultado e que as casas, principalmente a baixa, ganhassem maior força política. Em meados do século XV, as casas tinham poderes legislativos equivalentes e a Câmara dos Comuns já não necessitava mais da aprovação dos Lordes para realizar suas atribuições. Em 1407, inclusive, foi instituído que as propostas de matéria tributária deveriam ser de discussão privativa dos Comuns, retirando essa deliberação do rei. Mais tarde, em 1414, entendeu-se que todo projeto de lei, para tornar-se vigente, deveria necessariamente passar pela aprovação da câmara baixa. Evidentemente, muitos foram os esforços direcionados para moldar o Parlamento como hoje o entendemos e, apesar de serem identificados vários marcos de grande simbolismo na cronologia britânica, não há algum que se possa escolher como a sua origem absoluta, já que o sistema parlamentar foi desenvolvido em harmonia e coalizão com as mudanças da cronologia britânica. 5 O parlamento do Reino Unido, sediado atualmente no Palácio de Westminster, é parte essencial da política britânica, juntamente com a Coroa e o governo. O parlamento é o corpo legislativo, enquanto que o governo e seus ministros compõem o poder executivo, figurando, ambos, como peças interdependentes da construção do sistema e da organização política britânicos. A proximidade entre os poderes Legislativo e Executivo dentro do contexto político do Parlamentarismo é característica muito significativa da configuração governamental britânica. Dois institutos que demonstram muito nitidamente essa grande integração são os votos de confiança e de desconfiança. A escolha do primeiro-ministro ocorre através do voto de confiança do parlamento. Após as eleições da câmara, um dos partidos se candidata e apresenta suas propostas de governo ao parlamento, que elege (ou não) esse gabinete, dando a ele seu voto de confiança. De maneira lógica e análoga, o voto de desconfiança é o instrumento procedimental usado para depor o gabinete vigente. Mostrando-se insatisfeito com o governo estabelecido, os ministros podem mover uma moção para dissolver todo o primeiro escalão e empossar um novo. Dentro dessa dinâmica, o Parlamento e o executivo estão sempre em constante diálogo e em uma relação muito estreita. Resta claro, assim, que dentro do sistema parlamentarista, o governo precisa obter apoio da maioria do corpo legislativo para se manter no poder. Nem o parlamento, nem 6 o primeiro escalão tem sua permanência como certa (CHEIBUB, José Antônio, 2013), já que uma esfera pode interferir na existência da outra. Há três funções primordiais atribuídas ao corpo parlamentar britânico: o escrutínio, com o exame e a objeção aos trabalhos governamentais; a legislação, com a aprovação e o debate de leis, e a autorização do aumento tributário. O parlamento funciona em um sistema bicameral: há a Câmara dos Lordes, a câmara alta, e há a Câmara dos Comuns, a câmara baixa. Apesar de possuírem atribuições muito próximas, a Câmara dos Comuns, pelo seu simbolismo, sua história e sua composição, é considerada a casa legislativa de maior força e importância e, assim, apresenta competências privativas, como a avaliação das questões tributárias. Além disso, geralmente, compete à Câmara dos Comuns a análise dos assuntos políticos mais polêmicos e de maior relevância. A câmara alta é independente em relação à baixa e complementa seus trabalhos, propondo e revisando projetos de lei e fiscalizando as atividades do executivo. I.1. LEGISLAÇÃO Os Acts of Parliament, as leis produzidas pelo Parlamento, podem ser classificadas de várias formas, sendo que as mais comuns são quanto à sua iniciativa e quanto à sua abrangência de aplicação. As leis britânicas podem, então, alcançar toda a população do Reino Unido (ou pelo menos a mais de um dos países que o compõe), configurando-se como leis públicas e gerais - Public General Acts, em inglês - ou podem se estender a apenas uma fração da população, sendo leis de efeito pessoal ou local, conhecidas como Local and Personal Acts ou Private Acts.Ainda, verifica-se que há leis que se mostram híbridas quanto à dimensão de seus efeitos, elas dispõem tanto de maneira geral quanto de maneira específica sobre algum grupo populacional ou empresa. Outrossim, a legislação pode ser dividida quanto à sua iniciativa dentro das casas parlamentares. Geralmente, as propostas de leis mais comuns são de iniciativa governamental, Government Bills. Entretanto, também há leis que são propostas por "membros privados", Private Members Bills, que são aqueles membros parlamentares que não compõem o gabinete, o corpo executivo vigente, também denominados, no 7 inglês, backbenchers 2 . Tais propostas de lei passam por procedimentos mais rígidos para que possam ser aprovadas e, nesse sentido, são menos frequentemente validadas pelas câmaras. I.2. PROCEDIMENTOS A primeira leitura de um projeto de lei introduzido no Parlamento é o cumprimento de uma formalidade requerida pelo ordenamento interno das casas e geralmente não há nenhum tipo de debate sobre o texto e ele é meramente impresso. A segunda leitura, no entanto, pode ser considerada como a fase mais importante do procedimento de aprovação parlamentar. Nela, é dada aos parlamentares a primeira oportunidade de discutir a matéria do projeto de lei em questão. Essa fase é aberta pela leitura do projeto de lei em íntegra pelo membro que o propôs, seguida pela fala do líder do partido de oposição, que apresenta suas críticas e sugestões ao texto e à matéria tratada. O debate é aberto, então, ao restante dos membros parlamentares e se finda com a votação da passagem do projeto para a próxima fase procedimental. Se aprovado, o projeto passa, então, para a fase dos comitês, geralmente compostos por uma parte dos integrantes do Parlamento e raramente por todos eles, que discutirão cada parte da proposta de lei e proposições de emendas. Após a aprovação do projeto dentro dos comitês, ele volta para sua casa de origem para ser novamente discutido, consideradas agora as alterações feitas na fase de discussão das comissões. Essa fase, denominada fase de relatório, é caracterizada pelo debate amplo na casa parlamentar, com propostas de emendas e de alterações do texto de iniciativa de qualquer membro e é seguida, em geral, imediatamente pela terceira leitura. Sendo aprovada a terceira leitura do projeto, todos os procedimentos listados seguirão para a casa parlamentar que não deu origem à proposta de lei. Na hipótese de a segunda casa ter feito emendas e alterações ao projeto aprovado em terceira leitura na casa originária, elae volta a essa câmara inicial. Essa dinâmica de "ping-pong" perdura até que as duas câmaras se mostrem de acordo com o texto da proposta em questão. Havendo harmonia entre as casas, o projeto é validado e se torna 2 No sistema político britânico, os backbenchers são os membros do parlamento que, por não comporem nem o gabinete ministerial nem a liderança do partido da oposição, sentam-se nas fileiras de trás dentro da Câmara dos Comuns. 8 efetivamente lei pela aprovação da Coroa, o que mostra, mais uma vez, a proximidade entre as esferas de poder dentro da organização política britânica. Há que se ressaltar que, apesar dessa dinâmica descrita, a Câmara dos Comuns pode usar de seus poderes, conferidos legalmente, para aprovar um projeto de lei que não contem o consentimento da Câmara dos Lordes. II. SISTEMA POLÍTICO PARTIDÁRIO II.1. PARLAMENTARISMO A história do próprio parlamentarismo se confunde com a história da Inglaterra. Esse sistema de governo não foi produto de reflexões doutrinárias, nem obra de um único governante que o instituiu de sua cabeça. Suas estruturas foram se construindo nos enredos da história política inglesa, remontando aos conselhos reais (Parliamentum ou Curia Regis) da era feudal, passando pela Revolução Gloriosa do século XVII e chegando até às reformas empreendidas pelo Primeiro-Ministro Tony Blair através da House of Lords Act 1999. Quando o Parlamentarismo emerge como uma teoria de sistema de governo, admite duas formas: a pura e a mista. No parlamentarismo puro, o Primeiro Ministro (Chefe de Governo) é indicado pelo Legislativo, ao passo que o Chefe de Estado é o monarca. Nesse sentido, o Primeiro-Ministro é politicamente responsável pelos atos do governo e, caso haja problemas, ele é quem responde sumariamente. O chefe de Estado é uma figura, portanto, sem responsabilidades políticas, embora tenha função de unificar a nação e personificar o Estado. Já no parlamentarismo misto, ou semipresidencialismo, o Primeiro-Ministro ainda é o responsável pelo andamento do governo, mas o Chefe de Estado, o Presidente, passa a ter um papel de extrema relevância política, afinal ele também foi eleito democraticamente. A Inglaterra assume a forma pura, com um primeiro-ministro e um monarca, e esta forma segue tal denominação devido a sua história de desenvolvimento no pais. O Parlamento (ou a Câmara dos Comuns, no caso britânico) elege o PrimeiroMinistro e seu gabinete (voto de confiança), que ocuparão o Poder Executivo e 9 determinarão as diretrizes políticas para a máquina administrativa. Sendo o PrimeiroMinistro o seu chefe, suas atribuições são muito bem examinadas por Bonavides: “Cabe ao primeiro-ministro organizar o gabinete, dirigi-lo, presidir lhe às sessões, chefiar o partido majoritário, exercer a liderança parlamentar, tratar diretamente com o rei, ou Chefe de Estado, servir de intermediário entre o ministério e a Coroa ou a Presidência da República, enfim, assumir a direção de todos os negócios de governo e obter sempre o apoio da maioria, demonstrando para tanto a necessária habilidade e competência como líder parlamentar.” (BONAVIDES, 2001, p. 424) É mister, então, que haja uma alta comunicação ente executivo e legislativo, entre o gabinete e a Câmara dos Comuns. É assim que o governo passa informações e responde pelos problemas de sua gestão, e é assim também que ele é deposto caso não satisfaça as expectativas da Casa. Entretanto, ao que contraria a opinião comum, não há preponderância do Legislativo. O Parlamento tem poder de dissolver o gabinete a qualquer momento (voto de desconfiança), mas devemos lembrar que o este foi eleito porque detinha maioria de apoiadores na Casa. Ademais, depois de eleito, o Gabinete também exerce um controle sobre o Legislativo (principalmente no que toca à pauta) porque indica ao Parlamento quais os temas e direcionamentos principais e aquela maioria que o elegeu assim atende, posto que tem interesse político no bom andamento do gabinete aliado. Ainda assim, se o Parlamento decidir pela dissolução do Gabinete e seus componentes crerem que detém junto ao povo uma boa aprovação podem pedir para que o Chefe de Estado desfaça o Parlamento e convoque novas eleições. Nessa jogada política, chamada de direito de dissolução, o povo então confirmará ou não as pretensões do Gabinete: se concordam que o governo tem sido bom, elegerão deputados do partido da base governista. Caso contrário, o Governo cai. O parlamentarismo é um sistema de governo que enseja laços estreitos entre os poderes Legislativo e Executivo, nos termos acima expostos. Nesse sentido, o Executivo se submete continuamente ao controle político dos representantes para que o governo se mantenha sempre nos rumos pretendidos pela nação. II.2BIPARTIDARISMO Apesar de haver liberdade de associação e criação de Partidos, houve uma tendência, no sistema político inglês, de concentração de cadeiras em poucos principais 10 partidos após o término da 2ª Guerra Mundial. Desse modo, tal como nos Estados Unidos, o fenômeno do Bipartidarismo se deu por fato, não por direito. Isso significa que há a possibilidade de existência de múltiplos partidos (e efetivamente ocorreu), mas que somente dois partidos conseguiram ascender ao poder, devido ao sistema eleitoral: o Partido Conservador (Tories) e o Partido dos Trabalhadores. Após o final da Guerra, os partidos se alternaram para chefiar o Parlamento britânico, dominando o cenário eleitoral do Reino Unido. Em 1988, anteriormente ao término do governo de Margaret Thatcher, outro partido de grande expressão surgiu, quando o Partido Liberal (cujas origens remontam ao século XVIII) se juntou ao Partido da Social Democracia (criado em 1981), formando o Partido Liberal Democrata (Whig’s). Esses três partidos, o Conservador, o dos Trabalhadores e o Democrata Liberal, contabilizaram mais de 90% dos candidatos vitoriosos nas eleições de 1992. Exemplifica-se a grande importância desses Partidos através dos resultados das eleições gerais realizadas desde 1945, nas quais o Partido Conservador venceu oito, o dos Trabalhadores venceu seis, e, portanto, a maioria dos Membros da Câmara dos Comuns pertenceu a esses partidos. O surgimento do Partido Liberal Democrata agregou, junto àqueles, parcela majoritária das cadeiras do Parlamento, como supracitado. 11 Figura 1: Composição do Parlamento Britânico até o imediato pós-2ª Guerra Mundial II.3VOTO DISTRITAL O Sistema Eleitoral do Reino Unido comporta uma série de métodos para eleger os representantes do povo, dependendo do âmbito no qual eles serão inseridos (Câmara dos Comuns, Parlamento Escocês, Assembléia Nacional de Gales, Parlamento Europeu etc.). O método aplicado varia de acordo com o tipo de eleição, podendo ser por voto distrital, voto alternado, voto suplementar, entre outros tipos. No que tange à Câmara dos Comuns, especificamente, o sistema escolhido foi o do Voto Distrital, no qual o Reino Unido é divido em várias circunscrições eleitorais (distritos). De tempos em tempos,é revista e adaptada a estruturação desses distritos, de modo a refletir o crescimento demográfico e geográfico do país. Nesse sistema, os partidos políticos só podem apresentar um candidato por distrito e é eleito aquele que obtiver maior número de votos, portanto, voto majoritário. É em razão disso que existe o bipartidarismo de fato, visto que os grandes partidos são quem realmente disputam o poder e não há proporcionalidade nas cadeiras, logo, os pequenos partidos, ainda que tenham votos, não elegerão candidatos. A contagem dos votos indica aqueles que serão os representantes do distrito na Câmara dos Comuns pelo período indicado. Os representantes tem mandato de 5 anos 12 que podem ser encurtados caso o Chefe de Estado, a pedido do Primeiro-Ministro, exerça seu direito de dissolução. Figura 2: Resultado das eleições gerais realizadas no Reino Unido, em 1979, divido em seus respectivos distritos eleitorais. II.4. RELAÇÃO PARTIDÁRIA INGLESA Entende-se o Partido Político como “união de várias pessoas que se opõem a outras, tendo em vista interesses ou opiniões contrárias” (BARACHO, 1979, p. 132). Como se pode ver, pela sua conceituação ampla, é possível constatar a existencia de partidos políticos desde a Idade Média, contudo, agremiações mais complexas e organizadas passam a existir posteriormente. A história partidária no Reino Unido foi marcada por uma profusão de instituições representativas ao longo dos anos. Nos primórdios de seu sistema político representativo, não existiam agremiações com uma forte institucionalização como 13 ocorre atualmente. Cada circunscrição possuía, durante o período eleitoral, conglomerações de apoiadores às principais lideranças locais. Administradas pelos próprios candidatos, tais agremiações não possuíam linhas ideológicas próprias, mas sim um objetivo claro de demonstração de poder político nas circunscrições, seja pelo poderio econômico, ou, inclusive, pelo militar. Apesar desse caráter demagógico de instituições eleitorais, elas podem ser caracterizadas como um dos nascedouros das agremiações partidárias no Reino Unido. Alguns estudiosos entendem que se tratam de “Partidos Indiretos” (BARACHO, José, 1979, p. 131). Tais agremiações tornaram-se mais complexas e atuantes no decorrer da Revolução Inglesa, quando os partidos Whig e Tory passaram a disputar o espaço público. Com o advento da Revolução Industrial e a proliferação de grandes centros urbanos, formaram-se, paulatinamente, grupos sociais, com um certo grau de coesão e organização interna que passaram a reivindicar direitos sociais e trabalhistas. Tais grupos passaram a ser influenciados pela literatura marxista que insurgiu na filosofia moderna, além de aclamarem por uma reestruturação sistemática para o socialismo, ou, em últimaanálise, para o comunismo. Por outro lado, grandes industriais reuniam-se em livres associações econômicas com o intuito de expandir a atividade industrial, como também, debater sobre diretrizes políticas para a sociedade britânica, sob apremissa de expandir o sistema capitalista. Criavam-se, assim, os “Partidos de Massa” (BARACHO, 1979, p. 131), pois congregavam grandes grupos da sociedade com o espectro ideológico, propagando as principais ideias dessas coletividades perante ao público. Como pode-se inferir, também, foi nesse momento que se aprofundou a polarização entre agremiações dos trabalhadores frente aos interesses patronais. Tendo em vista essa pequena contextualização histórica, passaremos a discutir sobre as principais características dos partidos políticos que compunham de maneira incisiva o governo de Margaret Thatcher, quais sejam: o Conservador, o Trabalhista e a Aliança Liberal Social Democrata. Considerando que a ideologia partidária modifica-se conforme mudanças institucionais da sociedade, traremos um breve resumo sobre a atuação política dessas agremiações no período a ser simulado. Portanto, para melhor compreensão das ideologias partidárias o leitor deve estar atento às transformações do paradigma do Estado, quando, após a Segunda Guerra Mundial, existe a derrocada do Estado Social em sua acepção clássica. 14 (A) Partido Conservador – “OS TORIES” O Partido Conservador teve sua origem na Revolução Inglesa, quando seus antecessores denominavam-se tories, reunindo a aristocracia britânica em apoio aos interesses da coroa. Em meados do século XX, os interesses do partido estiveram envoltos na reestruturação do Estado Social. Com a vitória na Segunda Guerra Mundial, os conservadores, até então unidos sob a liderança de Winston Churchil, perderam espaço para a os trabalhistas. Na oposição, seus principais líderes partidários criticavam os governos trabalhistas que inflaram a máquina estatal, causando despesas extravagantes ao Estado, péssimo desempenho econômico, além de fortalecer demasiadamente a autonomía sindical(REITAN, 2003, p. xi).Com efeito, acreditavam que o estado não poderia se sustentar, criando, outrossim, a dependência financeira de uma parcela importante da sociedade. REITAN, 2003, p. 4). Durante a gestão trabalhista, tornaram-se corriqueiras as nacionalizações. De acordo com os conservadores, essa estatégia econômica detinha enormes falhas logísticas. Primeiramente, criticava-se tal medida pelo fato dessas empresas não se sujeitarem à lógica de mercado, isto é, livre concorrência e meritocracia, de modo que as empresas públicas apresentavam um desempenho econômico abaixo da média (REITAN, 2003, p. 8). Além disso, tais empresas sujeitavam-se à interferência estatal pelos Ministros de Estado. De acordo com os conservadores, elas ocorriam por conta de disputas políticas internas do partido trabalhista e não por questões econômicas propriamente ditas (REITAN, Earl, 2003, p. xii). Como exemplo da ineficiência estatal, hospitais do serviço público de saúde eram considerados defasados e custosos. A mão de obra médica, contraditoriamente, tinha que trabalhar por longas horas em péssimas condições, além de receber um baixo benefício salarial. (REITAN, 2003, p. xIII). No que diz respeito a educação, os conservadores eram consentes na aplicação da meritocracia, beneficiando os melhores alunos e premiando as escolas que obtivessem os resultados mais proveitosos. Outra grande crítica por parte dos tories diz respeito a autonomia sindical. A filosofia conservadora, por si só, abominava os excessos causados pelas greves trabalhistas. De acordo com essa orientação, acreditava-se que os sindicalistas, ao promoverem as greves, paralisavam o funcionamento pleno da economia e, por diversos motivos, atentavam contra os interesses dos próprios trabalhadores que pretendiam, 15 antes de tudo, trabalhar (REITAN, 2003, p. 35). Por tal motivo, repudiavam os atos da Trade Union CongressTUC, que é o centro de convergência de pautas sindicais. Desse modo, os conservadores exigiam que o estado interferisse na autonomia de grupos sindicais. Entre os grupos que compunham os conservadores, existia uma ala mais moderada e uma radical. A, assim conhecida, Ala de Direita da Frente Nacional (REITAN, 2003, p. 9), defendia interesses da própria cultura clássica do Reino Unido, sendo conservadores em relação aos interesses da família tradicional e à aceitação de grupos imigrantes no convívio social britânico. Além disso, seus membros eram menos inclinados a negociações com o partido trabalhista e seus adeptos. A ala mais moderada era marcada pela reestruturação conservadora do estado, isto é, defendiam a diminuição de impostos, desburocratização, limitação da autonomia sindical, reforço ao policiamento e prevenção de crimes. Existia, contudo, uma divergência de liderança, os adeptos ao primeiro ministro Edward Heath, que implementava tais medidas com parcimônia, e aqueles que seguiam Margaret Thatcher, vigorosa na aplicação de tais orientações. Esse conflito de lideranças causava discórdias internas no partido conservador (REITAN, 2003, p. 11). (B) Partido dos Trabalhadores O Partido era composto por dois grupos principais, a classe média de cunho socialista e os sindicalistas em geral (REITAN, 2003, p. x). Com o decorrer do tempo, grupos mais ao centro político começaram a compor o partido de maneira mais incisiva, e passaram a defender a desnacionalização de industrias primárias e alguma forma de interação com a propriedade privada, entendiam o socialismo como uma expansão dos serviços públicos, mas inseridos em uma lógica de mercado (REITAN, Earl, 2003, p. 6). Desse modotrês grupos passaram a coexistir dentro do partido, a ala mais moderada, composta pelas orientações mais voltadas ao centro, grupo que, paulatinamente, passou a compor a maioria partidária; a ala de esquerda, do qual participavam universitários e a classe média socialista; e os sindicalistas que estavam divididos em uma gama de sindicatos autônomos e independentes, estes todos tutelados pelo Trade Union Congress (TUC). Como veremos adiante, as diferenças ideológicas tornaram-se tão evidentes que ocasionaram a ruptura trabalhista com a posterior criação do partido Social Democrata. 16 Apesar disso, existiam pautas consensuais defendidas pelo partido, sendo elas: o pleno emprego, a autonomia aos sindicatos e a expansão do estado social. Este era considerado a maior conquista do partido trabalhista, pois trazia benefícios diretos aos trabalhadores e ao restante da população. Nesse viés, o Estado custeava diversas medidas sociais, reduzindo desigualdades históricas e incluindo diversos segmentos, outrora excluídos, no jogo político e econômico. Além disso,preconizou o National Health Service (NHS), que, apesar de algumas falhas estruturais, garantiu tratamento médico gratuito à população(REITAN, 2003, p. xii). Depreende-se, por fim, a importância dada pelos trabalhistas à estatização das empresas primárias. Com a expansão do mundo capitalista e a maior interação de grupos economicosinternacionais, temia-se pela perda de matérias primas do Reino Unido para estes. Além disso, em uma acepção de estado social, acreditava-se em uma margem de lucro constante se tais empresas ficassem a cargo do Estado (TORRES, Ricardo, 2011, p. 23). Em relação a educação, existi diferenças marcantes no posicionamento do partido trabalhista. Pelo sistema imposto pela reforma educacional em 1944, induzida pelos líderes do partido, crianças de onze anos eram separadas em escolas de acordo com o resultado obtido em exame especifico, de modo que, algumas crianças eram destinadas a instituições mais respeitadas do que as outras. Contudo, outros líderes partidários questionavam essa visão meritocrática defendiam escolas mais compreensivas, para melhor formação de alunos com alguma deficiência de aprendizado (REITAN, 2003, p. xiii). Essa visão foi compartilhada pelo primeiro ministro Harold Wilson que reestruturou o sistema educacional e permitiu uma segunda chance para crianças acima dos onze anos, esperando quebrar barreiras educacionais e sociais. Contudo, um ponto em comum dos trabalhistas era a expansão universitária, defendendo acesso ao ensino superior para grande parcela da população. (C) ALIANÇA LIBERAL SOCIAL DEMOCRATA Como já mencionado anteriormente, as insatisfações internas no Partido Trabalhista tornaram, a manutenção do diálogo impossível. Insatisfeitos com a tendência socialista imposta pelos trabalhistas, parte da ala central rebelou-se e fundou o Partido Social Democrata, cujo cunho ideológico detinha características de um centro preocupado com a interação entre o estado e a iniciativa privada. 17 Por questões eleitorais, a nova associação filiou-se a um dos grupos políticos mais tradicionais do Reino Unido, os Liberais. Estes, oriundos da alta burguesia e insatisfeitos com a aristocracia real, estavam presentes nos primórdios da Revolução Inglesa. Na conjuntura a ser simulada, o partido havia perdido muito de sua representatividade, angariando poucas cadeiras no Parlamento. Contudo, mantinham sua linha liberal, creditando o insucesso econômico às políticas trabalhistas. Divergiam-se dos conservadores, contudo, nas medidas econômicas implementadas, pautando-as por uma tendência mais liberal. A referida aliança permitiu a eleição de um número de parlamentares pequeno, mas suficientemente expressivo, contudo, pela forma como foi articulada, pouco se sabe se tal aliança compactuara com os egressos do partido trabalhista, ou, reforçara um ideal liberal. III. CONTEXTO HISTÓRICO-POLÍTICO DA DÉCADA DE 1970 III.1 ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL A primeira guerra mundial de certo marcou a história. Provou que os imperialismos não poderiam conviver. Também decretou a falência daquele Estado do laissez-faire, Estado Liberal abstencionista que vinha sendo paradigma desde as revoluções burguesas. De forma escatológica a Segunda Guerra afirmou isso tudo. Depois de 1918, o clima de desespero tomou conta da Europa com o decaimento daquele modelo de Estado; fez surgir algumas tentativas fracassadas de mudança (Weimar, em 1919) e assistiu às ideologias totalitárias ocuparem os cantos vazios do Estado Liberal. Paralelamente àderrota do nazi-fascismo, os países ocidentais voltariam suas preocupações para dentro, na tentativa de remodelar sua ação política em recepção do que os conflitos e as crises haviam demonstrado. Essas mudanças, entretanto, não aconteceriam por causa de um líder profético que indicou o caminho. Elas ocorreram devido a anos e anos de lutas e demandas populares que paulatinamente iriam ganhando espaço. O direito ao sufrágio (de fato) universal, por exemplo, casou muito bem com as pretensões reformistas dos marxistas que adotaram ação parlamentar em detrimento de revolução. Estes social-democratas 18 foram apoiando e sendo apoiados pela classe trabalhadora na medida em que afastavam governos liberais e alteravam o rumo da política. “As reivindicações de participação na direção da economia, de segurança social e de entrega aos trabalhadores de uma fatia mais justa dos frutos do trabalho não podiam deixar de afectar o liberalismo das classes abastadas de estilo clássico, bem como os governos que o apoiavam”(CAENEGEM, 2009) Os governos social-democratas a pouco e pouco estruturaram um novo paradigma: o Estado de Bem Estar Social. Estado de Bem Estar Social, Welfare State, Estado Social, Estado Social de Direito ou qualquer denominação correlata se refere ao modelo de Estado e política pública que teve vigor a partir do final da Segunda Guerra visava modificar o efeito nocivo do mercado dando garantias mínimas aos cidadãos (THOMÉ, 2013).Esse modelo nega o que o precedeu ao querer implementar mudanças sociais e tais garantias através da ação e intervenção direta do Estado em diversas searas; contrapondo-se ao abstencionismo anterior. Do ponto de vista econômico, o New Deal émarcante. Tentando recuperar-se da Crise de 29, em boa medida provocado pela desregulação por parte do Estado, os Estado Unidos efetivam um plano keynesiano no qual o Estado interfere na economia para tentar acalmar os ânimos irracionais dos mercados. Nesse sentido, privilegiam a economia mista, com grande influência das empresas estatais no controle da macroeconomia. Para muito além de sóajuizarem a economia, as estatais tinham papel fundamental na garantia de direitos e bens para os cidadãos; era através de estatais de telefonia, por exemplo, que se queria proporcionar acesso de qualidade e barato a todos. Quanto às prestações positivas por parte do Estado, o mote era “proteção do berço ao túmulo”. Os poderes públicos se incumbiram de agigantar os sistemas públicos de saúde e educação, agora admitidos como obrigação do Estado. Ofereceriam um sistema público gratuito e universal desde o pré-natal e da educação infantil. Passariam por assistência médica, escolas e universidades públicas e garantia de direitos trabalhistas. Chegando, como previsto, atéa aposentadoria e ao atendimento para idosos. Assim, se retirariam do mercado esses setores para colocá-los sob supervisão do Estado. Restaria ao mercado entregar aqueles bens contingentes que o Estado não entrega. 19 Todo esse aparato foi bancado por meio de um sistema de tributação progressiva, com alta carga de impostos que eram revertidos em serviços e bens para a sociedade. Não obstante, a tributação progressiva favorecia a distribuição de renda (tema caro ao Estado Social) e possibilitava com que os pobres recebessem prestações positivas do Estado financiadas pelas classes altas. Observa-se que o foco de todas as políticas públicas nesse modelo éo trabalhador. Ele compõe a grande maioria da população (e do eleitorado) e foi protagonista nas reivindicações populares desde o inicio século. Ainda que fosse o agente da industrialização, a classe trabalhadora foi esquecida durante o Estado Liberal, sob a crença de que o mercado proveria os bens de que necessitava independente de sua condição financeira e social. O Estado de Bem Estar, portanto, parte da crença da irracionalidade dos mercados e da necessidade de intervenção do Estado para poder controlá-lo e poder oferecer bens para a população. Assim, cria empresas públicas e passa a reter decisões macroeconômicas; paralelamente, amplia sistemas públicos e gratuitos de toda sorte para garantir direitos. Centrado e orientado no valor da Igualdade, o Estado de Bem Estar procura efetivar todo tipo de direito, em especial os sociais, por meio de uma prestação direta. Os direitos fundamentais saem da esfera da declaração e oposição frente ao Estado (liberdade negativa ) para serem de declaração e “crédito”perante o Estado (liberdade positiva ). Além de exigir a abstenção do Estado em certa esfera de individualidade, o cidadão poderia também exigir que o Estado atuasse para efetivar outros direitos, entendidos como as garantias sociais. III.2 O FIM DO SOCIALISMO Marx, em 1848, disse “Um espectro ronda a Europa –o espectro do comunismo”. A ideia que Marx desenvolve no século XIX éum dos pontos mais marcantes da história moderna e o modelo de estado por ele desenvolvido perdurou por anos no poder.Cabe a ele uma vasta bibliografia, de prós e contras, demonstrando toda sua capacidade de trazer um modelo econômico fechado e de complexidade avantajada, dando contornos àdoutrina de esquerda, algo que seus doutrinadores não haviam conseguido construir num passado não tão distante (GIDDENS, 1998). 20 “O socialismo foi antes de mais nada um impulso filosófico e ético, mas bem antes de Marx ele começou a adotar as roupagens de uma doutrina econômica. Foi Marx, contudo, que forneceu ao socialismo uma teoria econômica elaborada.”(GIDDENS, 1998) A situação econômica mundial, ressignificada num grande dualismo social, com classes muito espaçadas, fez com que a ideia do socialismo fosse extremamente palatável, disseminando-a a um nível que quebrava com todos os status quo, cabendo agora a chance de aplicação daquele modelo elaborado desenvolvido por Marx em países. “Por cerca de um quarto do século após a Segunda Guerra Mundial, o planejamento socialista parecia ter chegado para ficar tanto no Ocidente, quanto no Oriente. Um eminente observador da economia, E.F.M. Durbin, escreveu em 1949: ‘Agora somos todos Planejadores (...) O colapso da crença popular no laissez faire avançou com rapidez espetacular (...) pelo mundo todo desde a guerra.”(GIDDENS, 1998) A luta de classes, nesse momento, foi o motor da história, como dizia Marx. Levou, principalmente na Rússia, com a Revolução de 1917, àascensão do governo Bolchevique de Lênin, que, mais tarde, culminaria na fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, em 1922. Fez-se de um trecho do manifesto seu lema: “Trabalhadores do mundo, univos!”. De 1922 a 1991, se firmou por quase todo o século XX como uma potência mundial, sendo considerado por muitos que, àsua queda, concomitante se tem a morte do socialismo no mundo. Entretanto, essa éa primeira ressalva a ser feita: regimes perduraram pós o fim da União Soviética. O socialismo émais que uma experiência governamental: éuma filosofia política. Ainda existem países que, de modo mais brando ou robusto, conservam características socialistas em seus governos. Cuba, China, Laos, Vietnãe a Coréia do Norte ainda se afirmam, num contexto global, como vertentes políticas comunistas. Concordantes ou não sobre o fato do fim da URSS ter sido concomitante ao fim do socialismo, háuma questão inconteste: o fim deste desencadeia uma crise estrutural nos países e grupos que dependiam politicamente e economicamente desta que era a grande potência; opunha-se “a vertente esquerdista da força”num dualismo contra o ocidente, numa tentativa de demonstrar que o socialismo também poderia ser o modus operandi na modelagem econômica global. “A idéia de que o capitalismo pode ser humanizado mediante uma administração econômica socialista ao socialismo toda a vantagem que ele 21 possui (...). Para Marx, o socialismo se mantinha ou sucumbia por sua capacidade de dar origem a uma sociedade que iria gerar maior riqueza que o capitalismo e distribuir essa riqueza de maneira mais equitativa. Se o socialismo estámorto hoje, éprecisamente porque essas pretensões soçobaram [sic].”(GIDDENS, 1998) E porque sucumbiram? Teorias não faltam. Há, primeiramente as históricas: a URSS era mais que a fonte política dos países que a seguiam; esta era também apoio financeiro global àqueles que, conquistados ideologicamente por ela ou não, praticavam o socialismo real ao redor do globo. Hátambém a disputa tecnológica firmada entre a URSS e a outra potência global, os Estados Unidos. Viagens ao espaço, desenvolvimentos de muitos dos gadgets que atéhoje são utilizados foram feitos, sendo tudo isso extremamente custoso aos cofres vermelhos. Há, por fim, o constatável custo de uma Guerra, em questões militares, mas uma guerra que não houve vias armadas claras. Houve todo um investimento em tecnologia militar armamentista, investimento em treinamento e estruturas militares, como veículos de guerra e armamento individual: tudo estocado para a iminência de um conflito que nunca acontecera. Outra perspectiva que se pode tomar, ao se falar do fim da URSS, éa política. Eric Hobsbawm, notório historiador, de modo ímpar, traz em sua bibliografia uma descrição detalhada de todo o processo político sofrido pelos soviéticos. Dentre tudo, éinteressante notar como a longevidade da URSS gerou um problema de grande complexidade política: uma falta de continuísmo ideológico. Isso se deu jáque o ideal traçado àpriori fora quebrado, reacendendo a luta de classes a partir de uma observação da hierarquização social implementada pelo governo, onde uma nomenklatura governava, formando assim, uma oligarquia dirigente. Isso reacende a luta de classes; o motor da história volta àfuncionar, trabalhando agora àcontragosto do regime. “De qualquer modo, na Europa como na URSS, os comunistas, outrora sustentados pelas antigas convicções, eram agora uma geração do passado. Em 1989, poucos deles, com menos de sessenta anos, podiam ter partilhado da experiência que ligava o comunismo e patriotismo em vários países (...). Era provável que mesmo membros do partido, entre os não idosos, não fossem comunistas no sentido antigo, mas homens e mulheres (infelizmente, demasiado poucas mulheres) que faziam carreira em países que por acaso se achavam sob governo comunista. Quando os tempos mudassem, e se pudessem mudar, eles estavam dispostos a virar a casaca de uma hora para outra. Em suma, os que dirigiam os satélites soviéticos haviam perdido a féem seus próprios sistemas, ou jamais haviam tido.”(HOBSBAWN, 1994) Essa perda de “féno projeto”fez com que ficasse por alto o estigma de que, enquanto fosse operacionalizavél, o governo ainda estaria lá, mas ao sinal de fim do 22 ciclo, o barco seria abandonado pelas lideranças dando fim assim àaplicação do socialismo real. E foi o que aconteceu. Depois das reformas de Mikail Gorbachev e o fim da Guerra Fria, concomitante ao fim do dualismo EUA vs. URSS, com a formação da Confederação dos Estados Independentes (CEI), abre-se espaço para a palavra da terceira via, com o surgimento de pensamentos de cunho social-democrata, com a propagação dos welfare states por toda a Europa, com o foco no Reino Unido e a sua perspectiva Thatcherista. Essa conjuntura global, que comunga o fim do socialismo e a inserção de uma doutrina neoliberal de governo a nível internacional, geraráefeitos duradouros no mundo, influenciando de modo contundente a história do fim do século XX e todo o século XXI atéa atualidade, criando a dita “Nova Ordem Mundial”. A derrocada da URSS e do sonho socialista deixa a esquerda desamparada em todo o mundo. A existência um socialismo real dava subsídios argumentativos ou retóricos às esquerdas para concretizarem planos de governo, socialistas ou socialdemocratas, que observando a realidade da União Soviética, queriam alterar a realidade pátria. Com a decaída da referência socialista, passam a ser questionados os seus ideais e as vias pelas quais executam esses planos perdem credibilidade, enquanto os partidos esquerdistas perdem a sua força. Formula-se, portanto, um cenário político que favorece partidos conservadores, nesse momento chamados de neoliberais. Esses grupos ascendem ao poder, marcadamente com Reagan e Thatcher, nos anos 70-80 tendo como competidores partidos de esquerda jáfragilizados e que ainda não haviam realinhado o discurso perante o novo contexto global. III.3 O NEOLIBERALISMO A doutrina neoliberal surge no contexto de falência do Welfare State, no qual as perspectivas de esquerda, inclusive as sociais-democratas, encontravam-se perdidas sem a estrela socialista brilhando àsua frente, como havia sido no século inteiro. A doutrina neoliberal e seus apoiadores pareciam a única opção possível. Evidentemente, isso favoreceu vitórias de partidos conservadores que propunham alternativas para saída de crises econômicas que podem ser resumidas sobre a rubrica do Estado Mínimo. Aos olhos do brasileiro Bresser Pereira, a doutrina radicalizou: 23 “o velho liberalismo burguês propondo domínio absoluto do mercado e a correspondente meta do estado mínimo (que apenas garante a propriedade e os contratos), o neoliberalismo se engajava na modernidade representada pelo desenvolvimento tecnológico rápido e pela globalização da economia, distinguindo-se, assim, do velho conservadorismo voltado para o passado.”(BRESSER PEREIRA, 1996) Fica claro como que o neoliberalismo representa uma retomada de valores caros ao Estado Liberal, a saber, o individualismo, a liberdade individual e a propriedade, agora imersos no contexto sócio-político e econômico do final do século XX. Juntamente a esses valores, outras idéias são admitidas como pressupostos do pensamento neoliberal. Obviamente se destaca a crença nos mercados, isto é, que sem a intervenção do Estado, o mercado se provaria estável, aumentando o bem estar de toda a população e saindo autonomamente das próprias crises. Por outro lado, a economia cresceria mais, forneceria mais bem estar e exaltaria mais a livre iniciativa quanto mais fosse expurgado de intervenções. Crença parecida se admite quanto àsociedade civil, vista aqui como um ente auto-gerador de solidariedade social. Sem a intervenção do Estado, a sociedade civil faria florescer as mais puras qualidades como tolerância, honra, serviço, confiança justiça e integridade . Dá-se voz ao princípio da subsidiariedade: o que pode ser feito por um grupo menor, não deve ser feito por um grupo maior. Quanto mais o Estado delegasse “obrigações”àsociedade civil e mais deixasse-a livre, maior seria a concretização da liberdade individual e a eficiência desses serviços. Por fim, respondendo às críticas, o neoliberalismo acreditava que a desigualdade social deveria, em boa medida, ser desconsiderada. A ideia de que a desigualdade social éerrada; é“ingênua e implausível”. E qualquer tentativa de uniformidade sóseria possível pelo exercício de algum poder despótico. A desigualdade que deveria ser considerada era aquela referente às oportunidades econômicas. John Major, sucessor de Thatcher no cargo de primeiro-ministro, asseverou que “uma sociedade em que o mercado pode atuar livremente écapaz de gerar grandes desigualdades econômicas, mas estas não importam, desde que pessoas com determinação e talento possam ascender a posições adequadas às suas capacidades”(GIDDENS, 1988) Todas essas estruturas e pressupostos se somam para determinar qual seria a função do Estado em uma doutrina neoliberal, ou seja, qual deveria ser a ação de governos assim. Nesse sentido, querem desmantelar o falido Estado de Bem Estar 24 Social; reduzir o tamanho e ação do Estado, delegando suas funções ao mercado e àsociedade civil. A privatização de empresas públicas émarcante nesse desmantelamento; éjustamente o neoliberalismo de alguma forma se desfazendo daquele aparato estatal, jáprecário, que oferecia serviços àpopulação e cumpria aquilo que se entendia como obrigações do Estado. De outra perspectiva, éo Estado entregando ao mercado aquelas atribuições que entende lhe serem próprias, a saber a exploração de minério ou serviço de telefonia. A privatização também serve a outro propósito caro ao neoliberalismo, qual seja, o ajuste fiscal das contas públicas. Com fulcro de obter superávit primário, empreendese uma corrida para aumentar as arrecadações (seja com impostos ou recursos providos das vendas), e diminuir os gastos, incidindo este último, principalmente, sobre as áreas da saúde, educação e previdência social; constituindo outra face de desmantelamento do Estado Social. Preconiza também que o governo deve adotar uma política de câmbio flutuante, para que o mercado, através de trocas livres de informações, possa definir o valor adequado de cada moeda; sem que o governo determine artificialmente o valor, prejudicando, inclusive, o superávit do Estado. Da mesma forma, não deve emitir moeda de forma a aumentar a inflação, mantendo-a sempre em controle com metas claras e, de preferência, através de um Banco Central independente das vontades políticas. Conectado ao seu tempo, o neoliberalismo favorece a globalização na medida em que se contradiria ao tentar restringir o mercado às fronteiras pátrias. Passo seguinte, prescreve que haja barreiras aduaneiras ao comércio nem favorecimentos tributários. Deve prevalecer a livre concorrência entre os países e seus produtos, mais uma vez sem a ingerência do poder estatal. Isso se soma àquela crença no mercado: abrem-se os portos, se favorece a livre concorrência e o mercado depura-se em favor do melhor produto. A título de didatismo, observamos a tabela elaborada por Anthony Giddens, destacado sociólogo e cientista político inglês: Por fim, vale destacar que, ainda que o neoliberalismo pareça uníssono, ele admite correntes internas; seja quanto às maneiras de se executar o Estado Mínimo (ou a 25 definição de mínimo), seja quanto às prescrições morais. O neoliberalismo se separa em correntes moralmente mais conservadoras (ressaltando valores tradicionais da família, vida, nacionalismo) e mais libertárias prevalecendo a liberdade lato sensu, como a sexual ou a de uso de drogas. THATCHERISMO, OU NEOLIBERALISMO (A NOVA DIREITA) Governo Mínimo Sociedade civil autônoma Fundamentalismo de mercado Autoritarismo moral, somado a forte individualismo econômico Mercado de trabalho se depura como qualquer outro Aceitação da desigualdade Nacionalismo tradicional Welfare state como uma rede de segurança Modernização linear Baixa consciência ecológica Teoria realista da ordem internacional Pertence ao mundo bipolar IV. LEI DO EMPREGO Ao se refletir sobre a questão dos sindicatos, deve-se primariamente ver sua função no jogo político. Sem avaliar as suas nuances de modo global, pode-se muitas vezes reduzir a questões pouco frutíferas para o movimento de classes. Todo jogo político é, como dito, um jogo. Existem regras, agentes, objetivos, passos a serem dados e estratégias. Para vencer ou alcançar o objetivo deve-se mover as peças, atacar, recuar e assim movimentar o panorama visando criar uma via aberta ao fim máximo. A questão sindical não é, portanto, diferente. O assunto sindical-trabalhista tem ligado a si duas vertentes de análise que devem ser pensadas como coexistentes e simbióticas, mas dissociadas em sua acepção. 26 Essas são: a questão ideológica e a realidade factível econômica. A importância e a função da organização sindical no jogo deve ser medida com base nesses fatores. IV.1 A QUESTÃO IDEOLÓGICA Capital époder social concentrado, ao passo que o trabalhador dispõe apenas de sua força de trabalho individual. Marx ensina que, na lógica capitalista, o capital, por ser esse poder social concentrado, teria função tipicamente opressora sobre o proletário. Énotória a lógica dual entre detentores dos meios de produção e não detentores para Marx, cabendo àluta de classes enquanto o motor da história. Observa-se, então, o surgimento desses sindicatos a partir dessa perspectiva, sendo, assim, uma saída àopressão gerada pelo capital e pela burguesia. Essa éa fundação ideológica dos sindicatos. Mas a pergunta que surge é: como os sindicatos resolveriam a questão? Como dito acima, o jogo político-econômico éfeito por agentes . O capital desestabiliza a disputa, posto que concentrado, se delimita a uma parcela ínfima da população. Nota-se, então, que, como a máxima “a união faz a força”, os sindicatos cumprem essa função de concentrar o poder de uma grande massa a uma instituição delegada, composta única e exclusivamente por essa classe trabalhista, para defender os interesses da massa frente àburguesia. A lógica máxima do mercado capitalista via de regra éproduzir mais gastando menos. Resgata-se por um momento as ditas “Revoluções Industriais”. Éconhecido, por registros históricos, dos imensuráveis “Exércitos de Trabalhadores de Reserva”. O mercado capitalista age com uma de suas leis: a “oferta versus procura”. A grande oferta de mão de obra levava os trabalhadores a condições sub-humanas de trabalho, não havendo ao tempo organizações que contemplassem como fim a luta pela defesa dos mesmos . “Os direitos trabalhistas são reflexo direto das transformações no mundo do trabalho, ligadas diretamente ao sistema econômico de produção, que passa por profundas transformações de natureza econômica, social, política e institucional. O homem tornou-se submisso às condições implementadas pela burguesia, detentora dos meios de produção e riqueza O contexto éde um empregado frágil, sem força para exercer a sua liberdade de coalizão e sem expressividade política.”(MATOS, 2011) Vê-se, por conclusão, que os sindicatos têm seu papel como órgão de concentração de poder de massa, trabalhando como mediador dos conflitos e interesses 27 do trabalhador frente aos detentores dos meios de produção. Essas instituições são órgãos promotores de direito, sendo de exímia importância para sedimentar os direitos de “Segunda Geração’, direitos esses de classe; ‘a segunda geração, por sua vez, seria a dos direitos econômicos, sociais e culturais, baseados na igualdade (égalité), impulsionada pela Revolução Industrial e pelos problemas sociais por ela causados’”(NUNES DA SILVA JÚNIOR, 2014) IV.2 A REALIDADE INGLESA E O JOGO POLÍTICO-SINDICAL Sindicatos e ideologias não estão deslocadas do tempo e da geografia.. As ideologias, por sua existência teórica (e não física) não movem mundo por si só. Elas têm que influenciar agentes que têm as características existenciais ditas acima, gerando assim transformações e influenciando; dando vetores àforça motriz da história dos atos. A partir disso, reflete-se como a questão dos Sindicatos e do Employment Act surgem como pauta na Inglaterra de Margaret Thatcher . Primeiramente, ressalta-se uma característica ligada àquestão da representação. Representação, lato sensu, éo modo como se vêem outra coisa, ou seja, o modo como algo se vêe se apresenta aos outros. Isso se torna importante pois háum dualismo, mas não maniqueísta,, que se posta aos que se aventuram nessa temática: a representação coletiva e a individual. Sindicatos são instituições de representação de massa, mas sótêm seu poder lastreado e como legítimo se as mesmas massas se vêem representadas por tais, se postando assim como coletivo que não buscam reinvindicações individuais, mas sim o que émelhor e mais proveitoso para a classe. De outro modo, entende-se o individualismo como: todos somos livres o bastante para nos autodeterminar dentro do nosso lastro de liberdade individual; ou seja, não estamos a priori determinados por nenhuma característica objetiva de uniformização que possibilite a um único ente tratar de todos os interesses de todos indivíduos. Desde o início deste texto, fazem-se analogias àideia da política como um jogo. Política éessa disputa pelo poder, fazendo com que quem o detenha (no sistema parlamentarista representado pela maioria na Câmara, seguido da posição do Primeiro Ministro) possa atuar com mais forças. A teoria política ensina que, via sufrágio universal, as casas parlamentares devem ser esse espelho perfeito (ou quase) da sociedade, devendo essas legislarem em prol de um projeto de governo que foi posto 28 legitimamente pelo próprio sufrágio. A realidade inglesa demonstra Margaret Thatcher ascendendo ao poder na sucessão de dois líderes da maioria advindos do Partido Trabalhista , sendo a nova Primeira Ministra representante de uma ideologia diversa, a do Partido Conservador . A década de 80 do Século XX élembrada por ser um período em que o mundo passava por crises e consequentemente havia uma recessão em que os gastos públicos eram contidos, as importações estavam restritas, e os investimentos não faziam mais parte de nenhuma política adotada. O Welfare State, defendido àgrandes forças como o modelo de política de Estado se deteriora , havendo uma busca por um novo norte; um novo modelo de política Estatal a se seguir. Com Thatcher, na Inglaterra éescolhido o caminho trilhado pelo neoliberalismo. Herdeiros de Adam Smith, os neoliberais se pautam, dentre várias doutrinações, na ideia máxima do Estado Mínimo, ou seja, num Estado contraposto ao Leviatãmoderno, não abraçando com seus tentáculos campos que não lhe cabem, por exemplo a economia. Os Sindicatos não são órgãos simplesmente de representação. São instituições com fim último: a luta pelos direitos trabalhistas. Se pudéssemos classificá-los, estes seriam típicos defensores de uma categoria de direitos conhecida como “Direitos de Segunda Geração”. A dogmática ensina que, para a defesa desse direito típico às classes, deve-se gerar normatividade e um Estado presente para defendê-lo e aplicá-lo , ressaltando o fato de que direitos adquiridos, como regra geral, não são passíveis de retroação, ou seja, não se pode retirar do indivíduo direito adquirido. Referencialmente ligados ao ideário do Estado de Bem-Estar Social, a teoria de direitos e política em relação a eles se coloca em confronto ao Estado Mínimo, abrindo um paradoxo para o Estado. "A globalização pune com força qualquer país que tente administrar sua economia ignorando as realidades do mercado ou a prudência nas finanças públicas. Nesse estrito sentido específico, e devido ànecessidade urgente de remover rigidezas e incorporar flexibilidade ao mercados de capitais, bens e trabalho, somos hoje todos tatcheristas.”(The Guardian, 2002) Refletir-se-á, por fim, na motivação do Employment Act. Há, primariamente, três agentes: o Estado, o mercado e o trabalhador, sindicalizado ou não. Os Sindicatos,, trabalham em defesa do trabalhador. O mercado, por sua vez, visa ao lucro. E o Estado oscila. Dependendo do modo como este opera, pode haver uma tendência em prol da 29 intervenção, ou não, na economia e na sociedade. Nesse sentido,, o mundo estava em crise. Não éresponsabilidade do mercado avaliar a moral trabalhista, ou seja, pesar por si sóa importância de leis trabalhistas e a sua pertinência àsociedade. Reforça-se: éinteresse do mercado produzir, com o menor custo possível, gerando assim o maior lucro potencial. Mas não podemos nos deixar levar por uma caricatura pintada pela lógica maniqueísta, onde o mercado seria esse invólucro de objetivos negativos ao trabalhador. O mercado, mesmo não sendo o maior expoente desses objetivos, precisa do trabalhador para a produção, cabendo assim certo esmero. O problema que se apresenta ao governo Thatcher é: o mercado estáem crise, fazendo com que o poder concentrado de barganha dos trabalhadores leve a dificuldades financeiras os empregadores. O jogo estádesequilibrado, fazendo com que prima facie a medida buscada pelo governo Conservador seja colocar o Estado como sujeito de intercâmbio de ideias entre o mercado e as forças sindicais, numa medida de “taking the unions”, sendo o Estado mediador entre esses dois pólos de interesse. Énesse contexto turvo e turbulento que se encontra o Employment Act, se fixando em meio a paradoxos dos paradigmas teóricos e a realidade factível. IV.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI De posse de noções sobre o contexto histórico-político dos sindicatos, bem como de sua atuação no cenário britânico, faremos agora algumas análises sobre o conteúdo da Lei do Emprego de 1980. As análises aqui empreendidas não têm pretensões exaustivas e sequer versam sobre todos os tópicos da lei. A ideia éexaminar algumas questões que têm maior relevância, levando-as àreflexão sobre suas justificativas e impactos. O primeiro ponto em destaque éo financiamento público para votações sindicais. O governo estabelecia hipóteses para os ballots (votações secretas) e propunha arcar com as despesas levantadas. Eram, originalmente, cinco situações passíveis de financiamento: (a) obter uma decisão sobre a convocação ou término de uma greve; (b) fazer uma eleição pelas regras do sindicato; (c) eleger um representante frente ao empregador; (d) emendar as regras do sindicato e (e) obter decisão sobre fusão ou 30 transferência. O Secretário de Estado de Codes of Practice poderia, também, propor outras hipóteses. Esse mecanismo de financiamento (chamado de the scheme) determinaria as circunstâncias, condições e os montantes destinados aos pagamentos, que se restringiriam às votações conduzidas de forma tão segura quanto possível para garantir o voto secreto. A questão do financiamento éa mais pacífica. Para os conservadores, a proposta éfavorável porque exige condições predeterminadas e inclina os sindicatos a promoverem votações secretas, vistas como mais democráticas e que dificultam a formação de grupos de poder estabelecidos. Os trabalhistas e sindicalistas, por sua vez, não rejeitam o projeto porque oferece financiamento aos sindicatos, o que facilitaria a organização de votações necessárias. A oposição que surge contra o projeto éparte de algo que sobre o que toda a lei transcorrerá: o controle dos sindicatos pelo governo. Neste momento, o governo incute, pouco a pouco, os sindicatos a fazerem eleições secretas, a despeito de normas e ideais internos àorganização. Também, podem advir regulamentações que vinculem ainda mais as ações sindicais que desejem receber o financiamento estatal. Ainda nessa linha de “controle sobre os sindicatos”, temos a regulamentação das demissões ligadas àfiliação em sindicatos. Nos idos da seção 7 e seguintes, a Lei de 1980 visa alterar as disposições sobre o assunto, criadas pela Lei de Proteção ao Emprego de 1978 (Employment Protection Act, 1978). Este último diploma legal citado, em verdade, visa estabelecer como injustas as demissões que tivessem como causa principal a participação em sindicatos, sua proposta ou recusa. Mas, ao mesmo passo, seriam consideradas justas (isto é, legais) as demissões que tivessem como justificativa a não-participação ou recusa em participar de um sindicato específico, ligado àempresa. A ideia central do documento édeclarar injusta a demissão pela recusa em participar de um sindicato específico, restringindo de forma incisiva essa articulação dos closed shops que são “acordos entre o empregador e um ou mais sindicatos no qual ele concorda em não empregar qualquer pessoa que não seja membro de algum sindicato que seja parte do acordo”(CHANDLER, 2003, p. 47) . Em outra forma, reforça a 31 ilegalidade das demissões ligadas àrecusa de participação em sindicatos, obrigando o empregador a indenizar os empregados que foram demitidos por esse motivo. Esses sindicatos participantes dos acordos estão, logo, vinculados a um empregador e deixam de ser independent trade unions. A lei de 1978 permitia a demissão baseada na não participação em sindicatos vinculados ou, ainda, permitia a prática dos closed shops. Existem dois arranjos possíveis para os closed shops: aqueles pre entry e post entry (BARROW, 2002, p. 264) , que se dicotomizam em torno do momento da filiação ao sindicato. No pre entry o empregador se obriga a contratar somente trabalhadores filiados a determinado sindicato. Nesse caso, o sindicato opera como um uma agência de empregos indiretamente; quando surge uma vaga, o sindicato elabora uma lista de trabalhadores elegíveis ao cargo, dentre seus membros. Enquanto isso, no post entry os trabalhadores podem ser contratados de toda sorte de lugares e canais, entretanto éexigido que se filiem ao sindicato apropriado uma vez contratados. De toda sorte, dispõe o Employment Act que o sindicato não pode recusar injustamente a filiação de um empregado e que cabe compensá-lo. Ainda que a Lei de 1980 não tenha proibido expressamente um desses dois tipos, ela apresenta algumas disposições, como em sua seção 7, subseção (2), que adiciona o item (3B)(a), em que declara injusta a demissão se o empregado jáestava no quadro de funcionários quando adveio o acordo para closed shop. Indica-se, nesse passo, que éproibido o post entry closed shop, mas não referência expressa. Dentro dessas adições e modificações feitas àlei de 78, de certo que a alteração mais significativa éaquela que obriga o empregador a submeter o acordo àvotação. Dispõe o item (3C), combinado a seção 58A adicionada àEmployment Protection Act, que os acordos com sindicatos elaborados após a entrada em vigor de lei (para além de outros efeitos) deveráser aprovada em um ballot. Nessa votação, tem direito a voto todos os empregados daquele patrão que seriam atingidos pelo acordo; e responderiam se o acordo deve ser aplicado a eles. Assim como naquelas condições de repasse de verbas comentadas acima, o ballot deveria ser conduzido da maneira tão segura quanto possível, oferecendo oportunidade de voto todos aqueles que têm direito, bem como a possibilidade de fazê-lo de forma secreta.. 32 O legislador de 1980 manteve a preocupação jávigente dois anos antes no que se refere a impedir a demissão daqueles funcionários que não se filiaram ao sindicato determinado devido a objeções de consciência ou outra profunda convicção pessoal. Essa oposição deveria impedi-lo de tomar parte em qualquer sindicato ou naquele sindicato específico. Desde o inicio da regulamentação, atentou-se para esta dissonância entre o contrato sindical e as convicções pessoais, favorecendo-as. De certo que a prática –e os debates –sobre os closed shops não eram recentes nem inéditos. E o governo Thatcher jáhavia se posicionado: “O manifesto do Partido Conservador jáhavia prometido atitudes sobre o closed shop, o picketing e sobre a democratização dos sindicatos; e muitos conservadores, incluindo a primeira-ministra, relembravam-se da humilhação do último governo Conservador feita pelos mineiros”.(FRASER, 1999) A ideologia dos conservadores era justamente fazer valer o direito fundamental do liberalismo clássico que éa liberdade de associação. A conexão com os closed shops émuito clara, no sentido de que quando o empregado ésubmetido a essa articulação que restringe a gama do empregador (préentry), em boa medida ele se obriga a se filiar em um sindicato para angariar maiores oportunidades de emprego. Da mesma forma, no post entry ele égenuinamente obrigado a se filiar caso queira manter seu emprego. Ou seja, qual éa qualidade dessa escolha de filiação em que uma das opções acarreta, incisivamente, na perda do emprego ou na dificuldade de obtê-la? O ataque conservador contra os closed shops, para além das questões de dinâmica política, ou certo “preconceito”contra os sindicatos, tangenciava também em problemas filosóficos e ideológicos, bem como afirmação histórica de direitos. Note mais uma vez como que o governo entra para controlar os sindicatos e mediar suas relações com o mercado e a sociedade civil. Ao inibir os closed shops, a legislação estáimpedindo também uma decisão individual e contratual, na medida em que a empresa e suas atividades pertencem ao seu dono. No âmbito privado, portanto, eficaz éa autonomia da vontade frente àfunção pública. Atentaria, por vezes, outro baluarte liberal que éa primeira. Contudo, entendia-se que essas decisões individuais cerceavam direitos de outros (jáque obrigava a filiação) e atrapalhava a dinâmica do livre mercado e livre concorrência. O debate sobre o tema refletia o conflito que tinha 33 “em uma mão, a necessidade de solidariedade coletiva como contra peso àforça empresarial e, na outra, o direito individual em uma democracia liberal para escolher livremente com quem ele iria se associar.”(BARROW, 2002) Aqueles defensores do closed shop argumentariam fielmente que a dinâmica do capitalismo exigiria esse contra peso em favor dos trabalhadores e dos sindicatos frente ao poder do empresariado. Essa articulação em torno da filiação obrigatória, entretanto, não seria benfeitora sóàclasse empregada, mas também permitiria relações trabalhistas mais estáveis e sólidas. Com um sindicato (ou grupo de sindicatos) representante dos seus empregados, os empresários teriam um firme canal de diálogo com esse setor. Os interesses dos trabalhadores seriam canalizados através do sindicatos em direção ao empresário, permitindo a barganha coletiva, sem que este tivesse que lidar com uma multiplicidade de sindicalistas cada um com sua demanda, por vezes conflitantes. Esse arranjo talharia, em sentido prático, a oferta excessiva de trabalhadores, o que daria maior estabilidade aos que ali estão, aumentar-lhes-ia os salários, bem como melhoraria as condições de trabalho. Ainda assim, o efeito negativo dessa limitação da oferta de empregados éa geração de uma gama limitada de habilidades naquelas indústrias, desincentivando a inovação e a competitividade. Resta comentarmos a prática do picketing e sua regulamentação pela Employment Act 1980. Sem dúvida, esse éum ponto crucial da política thatcherista e, portanto, da Lei. O piquete, para ficarmos no português, éa prática de greve que consiste em reunir pessoas na entrada ou saída de um local (normalmente, posto de trabalho) com objetivo de persuadir pessoas a aderirem àgreve para aumentar sua efetividade, bem como pode querer desencorajar outros funcionários, ou substitutos, a irem trabalhar. A visualização disso éfácil quando se liga ao nome: estabelecer piquetes em torno de um terreno, cercando-o, para que não se ultrapasse aquele marco. O picketing também pode consistir em interferências na performance de um contrato comercial que tenha parte aquele empregador envolvido na lide. Por exemplo, quando manifestantes convencem (ou impedem) o motorista de caminhão entregue sua carga para uma fábrica. Como bem indica a seção 16 da Lei de 1980 (que também altera a mencionada lei de 1974), existem tipos de piquetes pacíficos. Um tipo para obter ou divulgar 34 informação e outro para pacificamente persuadir alguém a deixar de trabalhar. Ambos devem ser conexos a uma trade dispute, por exemplo, aquelas questões que normalmente geram disputas entre empregadores e empregados, como termos e condições, reajustes de salário e bonificações, disciplina e reconhecimento de sindicatos . As disposições da Lei do Emprego miram, principalmente, em restringir a atuação dos sindicatos ao estabelecer hipóteses e condições legais para o exercício do picketing. Como observamos logo no início da seção, sóserápermitido o piquete próximo ao ou no próprio local de trabalho; ou, nos casos dos representantes (official) dos sindicatos, próximo ou no local de trabalho de seus representados. Quanto aos exempregados, aplica-se a mesma regra se ele for terminantemente conexo com a disputa. Adicione-se ressalva da lei relacionada àquele trabalhador que não trabalha em um lugar determinado ou que no local o piquete seja impraticável, seria considerado , para os fins da lei, qualquer instalação de seu empregador ou ainda o lugar do qual a empresa éadministrada. Outra importante restrição que a Lei faz ésobre as secondary actions. O trabalhador poderia ser judicialmente acionado se engajasse em ações solidárias, nas quais o seu empregador não éparte integrante da trade dispute. Mais especificamente, pela seção 17(2) da lei de 1980, incorreria em ação secundária aquele que induzisse a quebra de contrato, a redução de sua performance, ou ameaçasse fazê-lo. Ficaria proibido, portanto, que um grupo de funcionários de uma determinada empresa participasse da greve em piquete feita por empregados de outra empresa, ainda que as disputas ali lhe fossem politicamente interessantes ou houvesse uma cumplicidade. Também seria considerada ação solidária aquela que perturbasse fornecimento de bens e serviços entre um empregador relacionado àdisputa e a ação adequada para alcançar seu objetivo. Observa-se que essa perturbação também éválida quando empregados de uma fornecedora, ainda que de dentro da empresa, tentam subverter a entrega de materiais para uma contratante em sinal de apoio àgreve que ocorria. Éevidente que a questão das ações solidárias vai de encontro com uma noção de classe. Permeia o sindicalismo, desde seu surgimento, a ideia de que os trabalhadores pertencem a uma sóclasse e devem nutrir mutuamente o sentimento da união e do 35 solidarismo. A ideia de classe era tanta que extrapolava as barreiras nacionais e lingüísticas, para que todos os trabalhadores do mundo unissem-se. Acontece que por um ato normativo, ficam proibidas as manifestações políticas entre trabalhadores da mesma cidade, que moram no mesmo bairro, mas que não podem colaborar entre si porque não são parte interessadas naquela trade dispute. Mas éclaro que entes que não fazem parte da disputa não devem dela participar, argumentam os defensores da lei. Suponha-se que a cada divórcio, outro casal pudesse intervir, seria uma cadeia infinita de ingerências em esferas privadas. O mesmo ocorre quando uma empresa discute com seus empregados os termos de pagamento de salários. Sódevem participar politicamente da disputa aqueles interessados, para que cada um coloque sua posição e seus argumentos na mesa para solucionar a questão. A empresa éum negócio, pertence ao empresário com participação dos trabalhadores e é, portanto, privado. Não cabem interferências de externos. O picketing, como um todo, toca na questão do direito de greve e sua efetivação. A greve compete àdecisão dos trabalhadores sobre sua oportunidade e finalidade, desde que seja alinhada com os direitos sociais. Por um lado, a greve éo meio mais utilizado de mobilização política que os trabalhadores conhecem na reclamação de e por direitos. Ela depende, em boa medida, da adesão de parcela significativa dos empregados, jáque em caso contrário atrapalharia as atividades do empresário e facilitas manobras que a findem, como demissões ou substituições. Nesse sentido, parece legítimo que os trabalhadores tentem angariar simpatizantes àcausa para que “façam volume”e tenham poder de barganha coletiva frente ao empregador. Contudo, a greve e o picketing comportam limites relacionados àboa fruição de direitos. Primeiro, quanto aos direitos fundamentais de outros indivíduos que não aderiram àgreve, ardilosamente chamados de ‘pelegos’. Seria grave injuriar um trabalhador que não aderiu àgreve, ou impedi-lo a passagem em determinada via (ou ainda a de qualquer pessoa, ligada ou não àempresa); grave subtraí-lo, de toda sorte, de seu direito de trabalhar. Conforma-se, assim, a opção individual de não aderir àgreve e manter-se trabalhando, seja porque estásatisfeito, seja porque teme. Ademais, o direito àgreve, como todos os direitos, não éabsoluto e depende de sopesamentos para que frua bem. Em especial, quando esse direito não éexercido para a finalidade social pela qual foi conferido, isto é, de forma que acomode o interesse 36 coletivo, incorre em abuso. O abuso do direito àgreve deve ser lapidado para que coadune com outros direitos sociais, os direitos individuais e os direitos dos empresários. Éo caso daquelas greves, ou das manobras que são empregadas que buscam prejudicar a empresa, que tenham sido convocadas desligadamente do objetivo trabalhista ou qualquer outra que atente contra direitos. Ao mesmo tempo em que tratamos como pano de fundo disso tudo uma disputa ideológica, na verdade o palco pode ser outro. A cada questão aqui levantada, vemos embates entre neoliberalismo e trabalhismo, cada um demonstrando sua razão para o debate político. Opunham-se liberdade versus igualdade, indivíduo versus comunidade, patrão versus empregado. Contudo, podemos também estar falando de disputas de interesses, nas quais os grupos políticos defendem os proveitos de uma classe. Enquanto um partido, em nome dos empregadores, quer refrear o poder dos sindicatos; outro luta para mantê-los, visto que são aliados (eleitorais) históricos. O palco pode estar montado de forma a encobrir as questões com o véu da ideologia e quando o descortinamos, vemos as peças do interesse. V. PRIVATIZAÇÃO DA BRITISH TELECOM V. 1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA No século XIX, notou-se um crescimento do envolvimento governamental nas indústrias de infraestrutura com o sucessivo apoio por parte dos Estados às empreiteiras na aquisição de direitos sobre ferrovias, as linhas de telégrafo e gerenciamento de água e combustíveis. A partir disso, as discussões sobre privatização e estatização se intensificaram com o reconhecimento inicial, por parte de grupos de economistas e políticos, de que osetor de utilidades públicas apresentava "falhas de mercado" e precisava então, da gerência dos entes públicos. Evidentemente, como a maioria das correntes de pensamento elaboradas, outros economistas e políticos apresentaram uma série de críticas ao favorecimento da iniciativa pública, dentre asquais se destacam: (a) o privilégio da supervisão desses setores pela máquina pública seria uma oportunidade de expansão excessiva do papel do Estado, limitando o espaço da autonomia privada e (b) 37 a burocracia inerente ao corpo governamental não seria verdadeiramente capaz de conduzir os setores de maneira que eles fossem eficientes. Houve uma vertiginosa adoção ao pensamento favorável à iniciativa governamental com a chegada da década de 30 e com a Segunda Guerra Mundial,.Passou-se a não mais questionar que cabia à iniciativa estatal a gerência dos bens de utilidade pública. O que tornou essa corrente de pensamento tão forte foi claramente o período da grande depressão e a vasta implementação das políticas keynesianas, com o surgimento de um novo modelo estatal: o WelfareState. A privatização ganhou força nas últimas três décadas com a vinda e o fortalecimento do movimento neoliberal, principalmente, configurando-se como uma política de grande influência, não apenas no Reino Unido, mas em escala global. Medidas de cunho privatista foram adotadas não apenas em países de orientação econômica tradicionalmente capitalista, mas também naqueles de passado comunista, como se vê atualmente com algumas medidas adotadas pelo governo dos irmãos Castro em Cuba. Atendo-se mais exclusivamente àtrajetória britânica de políticas de privatização, considera-se que elas se configuraram enquantouma resposta ao crescimento da máquina governamental e à consequente crise econômica que se instaurava no país nos anos 70, caracterizada por generalizadas greves no setor público, e simbolizando, ao menos para o Partido Conservador, a falência do modelo do Estado do Bem Estar Social como se estruturava até então. As privatizações, então, foram adotadas pelo Partido Conservador, com a grande insatisfação dos sociais-democratas, como a medida basilardas soluções para o caos econômico em que se encontrava o Reino Unido. V. 2 AS PRIVATIZAÇÕES O termo “privatização” tem sido objeto de grande atenção por parte de estadistas, acadêmicos e da sociedade civil. Por abranger diversos tipos de transações e situações, não há um consenso quanto a melhor forma de conceituá-lo. Apesar desse dissenso, os estudiosos parecem concordar que “privatização geralmente envolve uma transferência de ativos, gestão, funções ou responsabilidades previamente controladas 38 ou levadas a termo pelo Estado a atores privados” (DE FEYTER, Koen e GÓMEZ ISA, Felipe. 2014. pág. 421). Ainda, alguns autores apontam que essa transferência pode ocorrer no todo ou em parte, dependendo da situação específica e do interesse dos atores envolvidos. O autor Robert W. Poole Jr., especialista na matéria, aponta as três principais formas existentes de se entender o fenômeno da privatização. Segundo ele, a forma mais usada designa a venda ou concessão a longo prazo de empresas estatais para investidores privados (privatização clássica). A segunda forma seria a concessão de uma franquia de longo prazo ou a concessão sob a qual o setor privado financia, constrói e opera um grande projeto de infraestrutura (parcerias de infraestrutura). Uma terceira forma envolveria a seleção por parte do governo de uma entidade privada para executarum serviço público que fora previamente realizado por funcionários públicos (terceirização). Esse processo se afasta de outro tipo de política econômica engendrada por alguns Estados: a “nacionalização”. Por esse termo entende-se a prática de um governo assumir o controle ou a propriedade de indústrias e terras privadas para si, o que pode ocorrer por uma série de razões, com ou sem indenização por parte do Estado. Ademais, o termo privatização não se confunde com outro termo comumente utilizado no campo da política econômica, o de “liberalização”. Talfenômeno representa a tentativa de se providenciar maior abertura dos mercados à competição internacional e integração das cadeias produtivas de um país ao comércio mundial, com reduções de tarifas alfandegárias, eliminação de subsídios, entre outros. V. 3 PERSPECTIVAS ECONÔMICAS SOBRE O PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO Diante da existência desse fenômeno, vários economistas apresentaram propostas e noções sobre as causas e consequências de privatizações, tais como Paul Krugman e Gregory Mankiw. Seja qual for o tipo empregado de privatização, seus objetivos estão relacionados a leis de mercado e a escolas de pensamento econômico, que propõem a fundamental importância da participação do setor privado na realização de serviços e desenvolvimento de produtos e bens. Segundo Poole Jr. (2008), a motivação comum para se engajar em algum tipo de privatização se baseia em 39 “substituir operações menos eficientes, burocratizadas e geralmente politizadas do setor público por operações comerciais mais eficientes”. Desse modo, a privatização ocorreria de modo a contornar possíveis falhas dos governos em prover certos serviços de modo eficiente e com boa relação custobenefício para si e para a população. Outros objetivos a serem alcançados por esse tipo de política podem incluir a redução dos gastos públicos, a atração de investimento nacional e estrangeiro para determinado setor, o aumento da competição do mercado (com o fim do monopólio do Estado sobre a oferta do serviço ou bem), arrecadação de divisas para se equilibrar a Balança de Pagamentos ou quitar dívidas;entre outros. Ademais, privatizações podem ocorrer quando os governos não possuem recursos suficientes para realizar suas obras, o que os faz repassar, assim, o esforço para o setor privado. A necessidade de se criar mecanismos de cooperação internacional para se lidar com questões financeiras e econômicas, principalmente após o fim da Segunda Guerra Mundial e o crescente processo de globalização, fez com que surgissem Organizações Internacionais que apresentam considerável influência sobre as políticas internas desenvolvidas pelos Estados. Assim, instituições como a Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, bem como a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas têm influenciado governos a tomar medidas para racionalizar suas tarefas, reduzir o tamanho de suas burocracias, diminuir os gastos públicos e aumentar sua eficiência. Por conseguinte, a participação da comunidade internacional na realização de políticas públicas contribuiu para a disseminação do fenômeno da privatização a nível mundial, ainda que não haja unanimidade entre os países em sua formulação. Como dito anteriormente, existem várias formas de se fazer políticas públicas voltadas para a privatização: a privatização clássica; as parcerias de infraestrutura; a terceirização; as joint ventures (empreendimento conjunto); entre outras. De acordo com Megginson e Netter (2000), a decisão do governo sobre o tipo do método de privatização utilizado dependerá de vários fatores conjunturais. Dentre eles, é possível destacar: o histórico da propriedade do ativo; a competitividade da empresa estatal; a percepção ideológica do governo que as está promovendo sobre mercados e regulação; o atendimento aos interesses dos grupos envolvidos no processo; a credibilidade internacional do Estado; as condições institucionais do governo; a sofisticação de 40 potenciais investidores; e a disposição do governo em permitir que estrangeiros possuam ativos da empresa(MEGGINSON, William L. e NETTER, Jeffry M. 2014). As privatizações clássicas, que tiveram em Margaret Thatcher seu principal expoente, ocorreram de modo a reverter o fluxo do valor de saída e de entrada das empresas estatais que passariam para o controle do setor privado. Subsidiadas pelos contribuintes, essas empresas apresentavam prejuízos em seus negócios, não conseguindo gerar lucros que lhes possibilitasse aumentar sua eficiência. Essa situação decorreu de vários fatores, dentre eles a busca por atender à políticas como, além de produzir os serviços ou bens que deveria levar a termo, estabelecimento de preços “acessíveis” (contrariando a lei da oferta e demanda), provisão de empregos para a população, bem como outros fins. De modo geral, essas empresas passaram, após a privatização, por uma reestruturação, que levou à perda de empregos, mas que possibilitou a geração de lucros e o incremento de sua eficiência. No que tange às parcerias de infraestrutura, o objetivo principal é transferir para o setor privado o direito de operar e desenvolver grandes projetos de infraestrutura, do qual o governo pode participar em maior ou menor grau. Essa parceria possibilita a redução dos custos do projeto para o governo ao repassá-los para a iniciativa privada, a qual teria a concessão de explorá-lo por determinado período de tempo. Ademais, esse repasse faz a transferência de risco do projeto das mãos do contribuinte para os investidores particulares, tais como os excedentes nos gastos de construção. Incentivadas pelo Banco Mundial e outras agências que trabalham com o desenvolvimento regional e global, as parcerias de infraestrutura vêm ganhando espaço internacionalmente, tanto em países desenvolvidos, quanto em países em desenvolvimento e subdesenvolvidos. O processo de terceirização tem como fundamento primordial a tentativa de se aumentar o custo-benefício na realização de serviços públicos, justificada pela existência de uma diferença entre prestação de serviço público e produção desse serviço. Esse custo-benefício mais favorável se apoiaria em elementos de teoria econômica que apontam para a ineficácia do setor público. Oselementos referidos são: “em primeiro lugar, a unidade do governo responsável pelo serviço pode não ser da melhor escala para prover o serviço eficiente; em segundo lugar, essa unidade pode não possuir a tecnologia ou o conhecimento necessário para realizar o serviço, por várias 41 razões; e em terceiro, um monopólio estatal terá menos incentivos para inovar, buscando modos de operar com um custo-benefício melhor.” (POOLE JR. 2008) Tendo em vista as características intrínsecas ao processo de privatização, algumas partes da sociedade e grupos organizados (tais como os sindicatos) apresentam argumentos contrários a essa política pública. A partir de situações nas quais a privatização não ocorreu conforme esperado pelo governo ou de modo precário, esses grupos entendem ser o setor público mais eficiente e benéfico para a sociedade como um todo, ao contrário do setor privado, que priorizaria as necessidades de poucos, especialmente daqueles mais ricos, e ampliaria a desigualdade social ao mover o lucro para as parcelas mais abastadas da população. Também, a privatização elevaria o nível de desemprego do país, na medida em que as empresas eliminariam gastos com recursos humanos. Além de uma possível ampliação da desigualdade social, as privatizações possibilitariam um grande lobby de empresas no governo, de modo a garantir políticas favoráveis a essas e ajustar a legislação a seu favor no que couber. A corrupção de funcionários públicos, as falhas de mercado e o possível desinteresse das empresas para com os direitos humanos e direitos sociais da população seriam alguns dos fatores contráriosà adoção de políticas de privatização por parte dos governos. Nessa perspectiva, a estatização de empresas seria mais afeita aos interesses nacionais, em detrimento daqueles puramente particulares. Em suma, os críticos ao processo privatista, principalmente os sociaisdemocratas, compreendiam que as empresas, em especial aquelas que se dedicam à gerência de bens de utilidade pública, cumpririam uma função social e ética dentro da sociedade, em que o cidadão figurava como fonte de legitimidade. Isso significava que os indivíduos, não meras peças do corpo social, eram o fundamento de existência dos serviços oferecidos pelo Estado. Assim, seria essencial que fosse o governo o fornecedor de direitos e garantias tão importantes à população, já que seria esse o papel precípuo do Estado, numa perspectiva do Bem Estar Social. Apesar de não haver forte consenso sobre muitos dos aspectos dessa política pública, a privatização tem um grande papel a desempenhar na conjuntura econômica, tanto no âmbito nacional, quanto no nível internacional. Ela pode ser aplicada de diferentes maneiras, adequando-se às circunstâncias e objetivos do governo, sendo as mais comuns a privatização clássica, as parcerias de infraestrutura e a terceirização. Atribui-se à privatização argumentos favoráveis, com base na possibilidade de se 42 reduzir custos de produção, aumentar os prospectos de lucros, garantir a eficiência na realização do serviço e desburocratização do processo. Em contrapartida, são apresentados argumentos contrários, fundamentados no interesse da sociedade como um todo, namanutenção de empregos e na diminuição dos índices de desigualdade social. Acredito que o texto está bem escrito, entretanto, repete-se muito os tipos de terceirização. V. 4 A BRITISH TELECOM A British Telecom é considerada como a mais antiga empresa de telecomunicação do mundo e suas origens remontam ao estabelecimento das primeiras empresas do ramo das telecomunicações na Grã-Bretanha, com destaque para a Companhia Elétrica de Telégrafo, na primeira metade do século XIX. Os serviços de telefonia britânicos eram, então, oferecidos tanto por empresas de iniciativa privada quanto pela empresa de iniciativa do governo. Entretanto, em 1912, por entrarem em processo de falência, essas empresas foram transferidas para o controle do governo britânico, passando a integrar o General Post Office e a ser denominadas conjuntamente sob o nome de British Telecom. O General Post Office arquitetava-se enquanto um departamento do governo britânico, apesar de iniciativas frustradas, datadas de 1932 e 1961, para transformá-lo em uma indústria de iniciativa pública. Apesar dessa relutância inicial, em 1965, o então Postmaster General, chefe do GPO, com cadeira no gabinete ministerial do governo britânico, chegou a propor para o Primeiro Ministro que os estudos feitos sobre as mudanças de configuração do General Post Office deveriam nortear as políticas concernentes às telecomunicações. Em 1969, com a adoção da Lei do Post Office, ele deixou de integrar efetivamente o corpo do Estado e passou a se configurar enquanto uma cooperação pública, que ainda detinha do monopólio (reforçado pela Lei) das telecomunicações no território britânico. Em 1981, com a Lei das Telecomunicações, a British Telecom foi separada do Post Office, ficando esse responsável apenas pelos serviços postais e a primeira pelas funções das telecomunicações. Simultaneamente a essa separação, começou a ser quebrado o monopólio governamental sobre os sistemas de telecomunicações, com as primeiras autorizações à venda de licenças a agentes de iniciativa privada, mas ainda com a permanência do poder de gerência das redes nas mãos da British Telecom em 43 conjunto com o próprio governo. No ano seguinte, a Mercury Communications teve licença aprovada para trabalhar no campo de telecomunicações a cabo e via Wireless, simbolizando o marco desse processo de liberalização. Já em 1982, o governo de Margareth Thatcher tornou pública formalmente a intenção de passar a British Telecom por um processo de privatização com o objetivo de arrecadar mais capital aos cofres públicos e aumentar a capitação por futuros impostos. Assim, foi introduzido no Parlamento Britânico o projeto de lei denominado Lei da British Telecom em 1984, com a proposta de venda de 50% das ações da companhia para agentes não governamentais e de quebra do privilégio da British Telecom sobre o gerenciamento da rede de telecomunicações, com a perda efetiva do monopólio que já estava enfraquecido desde 1981. O projeto thatcherista foi duramente criticado pela oposição, que via com grande descrédito a concretude dos benefícios que seriam trazidos por uma possível privatização. A iniciativa foi descrita como extremamente radical e chegou até a ser comparada à "venda da prataria da família"3 por Harold Macmillian. VI. REFORMA EDUCACIONAL VI. 1 PRINCIPAIS INSTITUTOS DO SISTEMA EDUCACIONAL INGLÊS O sistema educacional da Grã-Bretanha perpassou por diversas nuances políticas durante o governo de Margaret Thatcher, no qual, com a eminência da votação do “Education act of 1988”, refletiu aspectos sobre a função do Estado na vida privada. Sob esse prisma, antes de adentrarmos nos principais pontos de discussão da lei, será necessária uma breve contextualização da engenharia educacional britânica, revelando as principais instituições e teorias pedagógicas que sustentavam as ações do Estado. Dois modelos estavam em disputa no aspecto educacional. Nos sistemas europeus em geral, antes de ingressar no ensino fundamental, as crianças, em torno de onze anos de idade, são submetidas a uma avaliação de seu percurso acadêmico, as que demonstrarem melhores desempenhos serão realocadas para escolas com maior aporte 3Tradução livre de "sell off the family silver". 44 financeiro, enquanto que as piores são posicionadas naquelas com menores índices de qualidade no ensino. Desse modo, por um princípio de gestão orçamentária do estado, tendo em vista que o governo prioriza um ensino qualificado e de alto nível técnico em poucas instituições por conta do teto financeiro, as crianças são separadas, desde idades mais tenras em escolas que irão modular sua trajetória profissional de acordo com sua aptidão. Como se vê, o modelo tradicional de ensino básico, característico em meados do século XX na Grã-Bretanha, era baseado em um princípio puro da meritocracia, no qual, os mais preparados estarão em contato com instituições mais aptas a desenvolverem suas habilidades, de modo que o país geraria um corpo técnico mais qualificado para competir no mercado de trabalho. Além disso, o sistema de seleção era restabelecido de forma mais justa e mais transparente, impedindo possíveis ingerências estatais na regulamentação sobre quais dos alunos a serem aprovados e alocados de acordo com interesses políticos dos governos locais. Tal modelo defendia uma concepção liberal de escolha da família, possibilitando que essa entidade tivesse maior autonomia em moldar o futuro dos jovens, por tais motivos, era defendido, lato sensu, por boa parte do partido conservador. Contudo, o Partido Trabalhista acreditava que tal modelo ampliava, cada vez mais, as desigualdades econômicas e regionais britânicas. Para os trabalhistas, a função da escola não deveria se pautar em uma ótica mercadológica, mas sim na formação do indivíduo, possibilitando que um maior número de alunos fosse beneficiado pelo sistema de educação pública. Além disso, defendiam que a meritocracia favorecia as classes mais abastadas, pelo fato das famílias menos favorecidas terem maiores dificuldades para prover um ensino adequado para suas crianças. Dessa forma, reconheciam que o sistema meritocrático induzia a uma elitização das escolas públicas, institucionalizando um déficit social a partir do ensino fundamental. Para resolver tal dilema, propunham escolas “compreensivas” em que, para os melhores centros educacionais, existiriam mecanismos de interação entre alunos mais qualificados com aqueles com maiores dificuldades. Além do modelo macro institucional de administração educacional, outros órgãos de controle das escolas estavam na pauta para uma vindoura reforma no ensinofundamental. Tal questão colocava em cheque três órgãos responsáveis pela 45 gestão escolar:o governo central, comunidades regionais e as famílias. A Grã-Bretanha passava por momentos de turbulência na procura de uma melhor gestão do Estado. Por tal motivo, Margaret Thatcher (e sua ala conservadora)acreditavam na necessidade de se retirar a regulação estatal na vida privada, desburocratizando procedimentos e permitindo maior autonomia para as instituições.Desse modo, como solução, planejaram uma nacionalização da reforma educacional, com a finalidade de estabelecer parâmetros consolidados e unos em todo o país. Seu principal intuito era de, com um marco regulamentatório geral, enfraquecer a ingerência de grupos políticos regionais e permitir maior autonomia às escolas. Por outro lado, o partido trabalhista era adepto ao sistema de regionalização do ensino, de modo que, a matriz curricular fosse adaptada às nuances locais. Assim, o controle orçamentário seria direcionado para atender demandas próprias de cada região, as matérias lecionadas seriam adequadas para as necessidades locais, além disso, era possível que os “LEA´s – local education authorities” tivessem maior autonomia para regular o ensino. Tais instituições eram compostas por professores e demais funcionários do ramo da educação e definiam as diretrizes básicas do ensino local. Essasautoridades eram consideradas, por parte dos conservadores, um grande perigo ao sistema de ensino, principalmente por seus membros serem adeptos às ideias trabalhistas. Ademais, ainda existiam os grupos familiares. Com a maior ingerênciados “LEA’s” nas escolas públicas, o núcleo familiar perdia força na consolidação das diretrizes de ensino. Apesar de serem constantemente levadas à discussão, as famílias não tinham poder decisório tão definido como as entidades locais. Os conservadores, em geral, pregavam maior autonomia e independências às famílias, para que elas escolhessem o caminho que seu filho deveria traçar, impedindo uma excessiva ingerência estatal na regras das instituições de ensino. O último fator que ensejava debates mais ferrenhos entre trabalhistas e conservadores girava em torno da formatação do currículo das escolas, isto é, quais entidades seriam responsáveis por sua elaboração, como seria realizado o controle das disciplinas a serem ofertadas e, principalmente, quais matérias seriam ofertadas. A proposta de Margaret Thatcher consistia em retirar e desburocratizar o ensino básico de todos os meios possíveis, retirando a ingerência de autarquias locais, 46 entidades de classe e professores, preterindo uma maior autonomia familiar na consolidação de projetos educacionais para suas crianças. Desse modo, a ala conservadora defendia um projeto de nacionalização do currículo para todo o ensino básico, retirando a apropriação do ensino por grupos políticos. Além disso, um dos principais embates que Thatcher enfrentou durante o processo foi contra os professores, a classe entendia que não incumbia a um governo central a gerência de um assunto mais adequado aos profissionais da área. Os currículos eram vistos como uma caixa de pandora, resguardados pelos professores contra possíveis interferências governamentais. De acordo com eles, assim que o governo pudesse ter controle sobre a elaboração das diretrizes básicas no ensino fundamental, o marco educacional abriria um precedente que possibilitaria a perda de autonomia das escolas na elaboração de seus princípios. Os conservadores, contudo, entendiam que os professores, ao elaborarem os currículos, interferiam na liberdade familiar em prol de pequenos grupos políticos que visualizavam as escolas como um espaço de disputa. Para esse partido, os professores retiram o caráter técnico do ensino, possibilitando a imersão das crianças em doutrinas trabalhistas. A autonomia curricular dos professores e das “LEA’s” priorizava uma formação política e não tanto científica. Por tal razão, os conservadores acreditavam que a família deveria ser o centro da formação infantil, permitindo que os pais tivessem maior poder decisório na administração escolar. Nesse sentido, a nacionalização do currículo permitiria que o governo retirasse o caráter de disputa política do ambiente escolar e facilitaria o controle das escolas que detivessem as melhores performances, para que estas recebessem maior aporte financeiro. Por fim, a nacionalização curricular significava maior autonomia familiar, pois facilitava o processo de mudança de instituições para as famílias que assim o desejassem, de modo a desburocratizar o acesso ao ensino infantil. Por outro lado, o partido trabalhista entendia que a proposta de nacionalização curricular era temerária. Primeiramente, porque acreditavam que os profissionais da educação eram mais aptos a traçarem as bases do sistema educacional, pois, além de possuírem estudo especializado na temática, tinham contato direto com as lacunas da educação básica e formatavam os currículos para suprir valores essenciais à formação do indivíduo. Nesse passo, a valorização do professor, de acordo com os trabalhistas, 47 era fundamental para o desenvolvimento de um estado, entender que o profissional da área é o berço da formação cidadã, constitui-se como um princípio basilar de gestão do governo. Outra questão que trouxe ferrenhas discussões tangenciou o fato do currículo nacional impedir uma imersão cultural, pelas escolas, nas nuances locais. A GrãBretanha foi formada por uma conglomeração rica de diferentes culturas e tradições, um dos objetivos dos trabalhistas era que os alunos tivessem contato com suas raízes históricas, para conhecer um pouco mais da cultura de sua região. Por tal motivo, a nacionalização curricular andava a contrario sensudesse objetivo, regiões menos periféricas deveriam submeter seu modelo de formação a um projeto de governo central. Após essa pequena contextualização sistemática do modelo de educação britânico, traçaremos um histórico normativo dos principais “act’s”que serviram de arcabouço jurídico para a formação do “Education act of 1988”. VI. 2 HISTÓRICO NORMATIVO DO SISTEMA EDUCACIONAL BRITÂNICO Antes de adentrarmos nas principais legislações que resguardavam a educação, fazse necessário um recorte temporal para uma melhor avaliação legal. Desse modo, pretendemos demonstrar os principais pontos que resultaram da última grande reforma legislativa no sistema educacional britânico, o “Education act of 1944”, fruto do governo trabalhista que moldou o sistema de ensino britânico, como também, resultou em forte oposição por parte do partido conservador. Posteriormente, traçaremos um escopo normativo de pequenos “act’s” que antecederam a votação da principal legislação em 1988. Tais normativas demonstram os princípios que o governo conservador pretendia alcançar para reformular o modelo educacional. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os países europeus tiveram de reestruturar sua engenharia administrativa para reconstruir as perdas advindas do conflito. Nesse passo, o governo, então trabalhista, apoiou-se nesse contexto para reformar o sistema educacional. Com efeito, foi promulgado o “Education act of 1944”. As principais reformas advindas dessa normativa são a criação do Ministério da Educação e das “LEA’s”.Tais entidades eram incumbidas de contribuir para o desenvolvimento espiritual, moral, mental e físico da comunidade ao redor dos centros educacionais. 48 O Ministério da Educação servia como um órgão de diálogo entre o governo e as autoridades locais contudo, estas detinham autonomia política e financeira para gerir os trabalhos das escolas. Portanto, as “LEA’s” foram criadas com um poder político e administrativo bastante consolidado e, entre suas atribuições, estava oprovimento às escolas de equipamentos, oportunidades de aprendizado de maneira equitativa, que incentivassem as habilidades individuais de cada um. Para tanto, cada autoridade local deveria produzir um plano anual de desenvolvimento educacional para cada área do saber.Estes planos educacionais locais seriam submetidos para aprovação do Ministro da Educação, como condição para que as escolas fossem mantidas em funcionamento. Tal plano, contudo, poderia também ser realizado para requerer a abertura de novas instituições de ensino, assim como pararequerer maior aporte financeiro para certas localidades. A nova reforma também consolidou um projeto de escola mais inclusiva, criando tratamento diferenciado para as crianças que apresentassem deficiências físicas ou mentais. Para o funcionamento de uma política mais inclusiva, as “LEA’s” tinham uma importante função, pois eram elas que analisavam as especificidades de cada caso, como também, realocavam as crianças para centros que melhor satisfizessem suas necessidades. Por fim, permitiram maior autonomia dos professores no ensino, atribuindo a eles uma importe função na elaboração dos currículos que seriam adequados para a realidade local de cada região. O inicio da desconstrução da reforma de 1944, ocorreu na doutrina de “Stuart Sexton’s”, intitulada “Evolution by choice”, a contribuição se deu ao projeto denominado “Black Papers”, um esboço de reformulação secundarista, baseado na liberdade de escolha. Desse modo, as “LEA’s” não teriam mais o poder de realocar estudantes para escolas.As instituições que já tivessem superado seu limite de capacidade poderiam continuar a selecionar alunos, mas de modo que estes satisfizessem os índices de capacidade e aptidão para ingressar em tais escolas. Por outro lado, aquelas que tivessem os piores índices nas avaliações escolares enfrentariam a possibilidade de serem fechadas. Em análise diversa, o projeto não previa uma regulação nacional do sistema educacional, traçando diretrizes mínimas para que as escolas se adequassem. 49 Retomando o exame do governo Thatcher. O primeiro “act” promulgado em prol da educação em 1979, foi uma tentativa conciliatória com as reformas anteriores do “Black Papers”, nas quais os conservadores haviam subestimado a popularidade das escolas inclusivas. Por isso tiveram que reintroduzir a autonomia das “LEA’s” na seleção de crianças para escolas. A tentativa de adotar um regime mais liberal fracassou diante de uma forte oposição local de escolas tradicionais britânicas. Apesar da derrota, o governo não desistiu da construção de um projeto que valorizasse a autonomia da família, enfraquecendo a atuação de entidades locais. Em setembro de 1981, o Ministro da Educação seria substituído por “Keith Joseph”, defensor das ideias de um livre mercado e fundador de uma associação ligada àultra direita denominada “Center for PolicyStudies”. Com a mudança ministerial, a política educacional do governo Thatcher passaria por uma profunda reforma de suas diretrizes. Desse modo, os conservadores utilizariam uma tática mais agressiva para a consolidação de seu projeto de ensino básico.Para tal, o governo passaria a enfrentar três grandes questões. Primeiramente, a busca por um currículo nacional; em segundo lugar, a tentativa de maior controle na formação dos professores, além de limitar seus poderes na elaboração dos currículos e, por fim, a extinção das “LEA’s”, como um modo de combater a expansão da influência do partido Trabalhista nas escolas. Na elaboração de um plano nacional, o primeiro passo foi dado em julho de 1987,(Livro legal lá, 106) no qual o governo publicou “The National Curriculum”, um documento de quarenta páginas que servia como uma introdução a uma futura implementação de um currículo em esfera nacional, relatando, também, osprocedimentos necessários para que o objetivo fosse alcançado. No que tange ao controle do magistério, o governo tinha planos de exercer limites maiores à atuação profissional. Para tal, foi criado em 1984 o “Council for theAccreditationofTeacherEducation”, (CATE), cuja função seria estabelecer princípios e metas para qualificação dos educadores. Desse modo, a entidade promoveria ciclos de treinamentos básicos dos professores. Além disso, como uma forma de reduzir o protagonismo dessa classe na consolidação dos currículos, que ocorria majoritariamente pelos “SchoolsCouncil”, tais conselhos foram, no mesmo ano, extintos. Dessa forma, a projeção curricular ocorreria através de duas entidades distintas, a SEC, “SchoolExaminationsCouncil”, conselho nos quais os membros eram indicados pelo 50 Secretário do Estado; e pela “School Curriculum DevelopmentCouncil” (SCDC), agremiação no qual os trabalhistas entendiam que eram manipulados pelos conservadores para não transparecer qualquer autonomia política. Por fim, Keith Joseph, em 1985, introduziu uma lógica meritocrática ao acompanhamento dos professores. Desse modo, aqueles que apresentassem os melhores resultados angariariam os melhores benefícios financeiros. A medida controversa surtiu efeito para uma maior dedicação do magistério, mas, de acordo com a ótica trabalhista, a visão de mercado tornou o ensino um “trabalho industrial”, na medida em que focava na produtividade, e não na qualidade. No que tange às autoridades locais, a nova política educacional conservadora foi caracterizada por atitudes bastante enérgicas. Para Thatcher, as “LEA’s”, eram consideradas associações que, politicamente, impediam os principais projetos do governo. Além disso, a massiva presença de trabalhistas regulando tais entidades gerava um clima pouco amistoso para a consolidação de políticas públicas educacionais. Por isso, um dos objetivos principais do thatcherismo era desmantelar esses grupos. Por outro lado, em substituição a essas agremiações, o governo conservador tinha uma clara intenção de propiciar um papel mais atuante à família, incluindo-a nas instâncias decisórias para a formatação das políticas educacionais. A primeira tentativa, frustrada, de retirar a autonomia das autoridades locais, ocorreu com a implementação, em 1982, dos Institutos de Vocação e Educação Técnica(TVEI), implementado como forma de diversificar o sistema educacional, abarcando uma matriz tecnológica. Nesse sistema as “LEA’s” não teriam participação, sendo tais instituições controladas exclusivamente pelo governo. Contudo, tal iniciativa não atendeu às expectativas, gerando um gasto de aproximadamente 89 bilhões de libras para gerar vinte e cinco cursos especializados. Destes, vinte e dois tiveram que ser fechados antes de sua implementação. Além da principal reforma na política educacional implementada pelo governo Thatcher, existiram uma série de “act’s”que, de forma geral, consubstanciaram-se com as principais mudanças macro politicas de sua gestão educacional. Os “act´s” de 1980 e 1981 aumentaram a autonomia dos pais perante as instituições de ensino, regulando 51 pequenos mecanismos nos quais o poder de voto e voz seriam ampliados para as famílias. Uma nova guinada para a meritocracia ocorreu em 1983, quando um “act” aumentou algumas provisões para as escolas que apresentassem melhores resultados.Em 1984, em nova investida contra os “LEA’s”, algumas provisões foram alteradas em prol de um maior controle das escolas pelo governo. Contudo, como uma forma de antecipar os debates vindouros da reforma de 1988, o governo lançou o “EducationAct (No. 2) of 1986”. Nessa normativa, os conservadores instauraram uma doutrina pedagógica intitulada “BetterSchools”, cujas principais características giravam em torno da nacionalização curricular, a preparação dos estudantes para o mercado de trabalho, a admissão de estudantes com as melhores notas para os melhores cursos, maior treinamento do magistério e a redução do controle das autoridades locais em relação à formação curricular. Portanto, a lei de 1986 tomou alguns passos decisivos para a consolidação dos projetos políticos pedagógicos do governo de Margaret Thatcher.Estes, posteriormente, viriam sob um projeto de reforma sistemática do ensino básico na Grã- Bretanha. (A) THE BAKER ACT Carinhosamente apelidado pelo nome do Secretário de Estado Kenneth Baker, o projeto do EducationReformactof 1988contemplou grande parte das discussões levantadas ao longo do texto. As principais propostas existentes no projeto, que devem ser analisadas minuciosamente pelos delegados e votadas de acordo com a contextualização social e política do momento, podem ser observadas abaixo. O projeto conservador, a diretriz educacional mais importante a ser discutida na Grã-Bretanha desde a legislação reformista de 1944, tinha como principal intuito a aproximação das escolas com o mercado de trabalho. Nesse sentido, o sistema proposto pelos Tories induzia ao serviço público, uma lógica de mercado. De acordo com a proposta, os alunos com as melhores notas nos exames de admissão seriam realocados para as melhores escolas, sendo que estas, seriam as instituições que receberiam maior aporte financeiro. Desse modo, existia uma lógica meritocrática em duas vias, para os estudantes de ensino básico, a serem selecionados de acordo com seu exame de aptidão e com as escolas públicas, a serem agraciadas com os melhores alunos e maiores verbas de acordo com os índices de ensino daquelas instituições. Além disso, os conservadores 52 tinham o intuito de ampliar os cursos profissionalizantes, tornando as escolas um ponto de contato para o mercado de trabalho, um exemplo de proposta era a instalação das “city technology colleges” (CTC). Tais pontos sofriam uma forte oposição dos trabalhistas, uma vez que estes argumentavam que os conservadores, após a derrota em 1979, estariam tentando reaplicar um sistema falido de seleção estudantil. Além disso, os trabalhistas entendiam que as escolas inclusivas continuavam a ser a solução ideal para enfrentar o problema das desigualdades sociais. No que concerne os poderes do governo central, a proposta perpassava o aumento das atribuições do Secretário de Estado na regulação das diretrizes educacionais. Desse modo, os conservadores pretendiam atribuir maior autonomia financeira e normativa para esse órgão. Com efeito, os Tories entendiam que essa proposta trazia maiores poderes às escolas, tendo em vista que as ingerências de autoridades locais na formatação do ensino engessavam o projeto pedagógico em disputas políticas. Nesse passo, ao introduzir uma hipertrofiação das funções do Secretário de Estado, os conservadores defendiam que tal medida tornaria o processo decisório mais transparente e cívico. Além dessa medida, pretendiam implementar os “LMS- Local management ofschools”, uma associação que contaria com a participação das famílias(e outros membros indicados pelo Secretário de Estado) na construção pedagógica. O principal objetivo de trazer a família para o debate do ensino é entendê-la como uma extensão do aprendizado. Nesse sentido, os conservadores acreditavam que elas deveriam ter maior autonomia e liberdade para a concretização do futuro de suas crianças, para, assim, ter o direito de atuar incisivamente nos projetos escolares. Além disso, a principal intenção dessas propostas culminava em um projeto mais enérgico de atuação contra a influência trabalhista no ensino básico: a extinção das LEA’s pelos. Vistos como adversários ferrenhos do governo Thatcher, as autoridades locais serviam como uma oposição consolidada e bastante articulada contra os principais projetos que a Primeira- Ministra pretendia consolidar em seu governo. Além desse aspecto de disputa, a extinção desses conselhos, de acordo com os conservadores, era necessária para permitir que a Grã-Bretanha avançasse na consolidação de diretrizes nacionais na educação. Apesar das nuances locais que deveriam ser respeitadas, a 53 nacionalização, para os conservadores, fazia-se importante, pois permitia maior controle das políticas públicas da educação por parte do governo. Os trabalhistas, contudo, faziam forte oposição a esses projetos. A principal crítica se dava em relação às funções do magistério na elaboração das políticas educacionais. Os professores são a porta de entrada do aluno para a convivência em sociedade.Nesse aspecto, esses profissionais teriam a capacidade de introduzir à criança experiências não vivenciadas no convívio familiar. Apesar dos trabalhistas não subestimarem a função familiar na formação infantil, eles acreditavam que o ambiente escolar era o mais adequado para que o estudante entrasse em contato com o diferente e, a partir disso, formar-se-ia da uma maneira mais livre e completa. Além disso, retirar o poder dos professores em discutir a função da escola e submetê-los a uma imposição governamental, não permitiria que tais instituições se adequassem às realidades de cada escola. Por essa razão, os trabalhistas se opunham à extinção das “LEA’s”. Tais instituições, antes de serem um órgão em prol do partido, eram formas de congregar profissionais da educação para uma melhor gestão da educação pública. Conselhos nos quais as peculiaridades de cada ambiente seriam sopesados na elaboração das diretrizes de cada escola.Projeto esse, de acordo com os trabalhistas, fundamental para reduzir com as desigualdades locais. Retirando a função das “LEA’s”e concedendo maior poder decisório para o governo, permitir-se-ia, ainda por cima, introduzir uma lógica de mercado nas escolas, formando alunos mais preocupados com o sucesso profissional, do que com a formação de um cidadão preocupado com o contexto em que vive. Por fim, a última grande discussão em torno da proposta conservadora girava em torno da nacionalização curricular. Fora os argumentos já expostos em prol da implementação desse currículo, os conservadores acreditavam que todas as escolas deveriam seguir um modelo único para que os alunos em todas as regiões da GrãBretanha tivessem uma formação que os preparasse para o futuro. Desse modo, a nacionalização de um currículo possibilitava que todos os estudantes britânicos tivessem acesso às ciências como a matemática, química e física. Por fim, existia outra discussão de índole religiosa: a implementação do sonhado currículo nacional regulava também a educação em ensino religioso. 54 Os trabalhistas tinham fortes criticas à implementação dessa diretriz nacional. A Grã-Bretanha é composta de povos com diferentes formações humanas e culturais; galeses, escoceses e ingleses tendo a mesma formação educacional, para os trabalhistas, era visto como um desrespeito às peculiaridades de cada cultura. Os principais teóricos do partido, temiam a instalação de uma cultura cosmopolita voltada ao mercado profissional em detrimento da história de cada região. Além disso, eles temiam as orientações religiosas que poderiam advir com a nacionalização curricular. Com efeito, entendiam que os conservadores defendiam uma política “anti-imigracionista”, de modo que as orientações religiosas a serem elaboradas pelo currículo nacional tinham uma grande chance de serem preconceituosas, não permitindo que outras religiões não tivesse sua liberdade de credo respeitada. 55 VI.BIBLIOGRAFIA ADAM SMITH ORGANIZATION. http://www.adamsmith.org/sites/default/files/resources/privatizationrevisited%283%29.pdf BARROW, Charles. Industrial Relations Law. 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