UNIVERSIDADE SAGRADO CORAÇÃO FELIPE ZANOTTO PERES A ESPETACULARIZAÇÃO DO ESPORTE E O MARKETING ESPORTIVO BAURU 2011 FELIPE ZANOTTO PERES A ESPETACULARIZAÇÃO DO ESPORTE E O MARKETING ESPORTIVO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda sob orientação da Prof. Ms. Lígia Beatriz Carvalho de Almeida. BAURU 2011 Peres, Felipe Zanotto P4375e A espetacularização do esporte e o marketing esportivo / Fernanda Oliveira Souza -- 2011. 59f. : il. Orientadora: Prof. Ms. Lígia Beatriz Carvalho de Almeida. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação Comunicação social – habilitação em Publicidade e Propaganda) – Universidade Sagrado Coração – Bauru – SP. 1. Espetacularização. 2. Marketing esportivo. 3. Marketing 3.0. 4. Espetáculo. I. Almeida, Lígia Beatriz Carvalho de. II. Título. FELIPE ZANOTTO PERES A ESPETACULARIZAÇÃO DO ESPORTE E O MARKETING ESPORTIVO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao centro de Exatas e Sociais Aplicadas como parte dos requisitos para obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda sob orientação da Prof Ms. Lígia Beatriz Carvalho de Almeida. Banca examinadora: _______________________________________ Profa. Ms. Lígia Beatriz Carvalho de Almeida __________________________________ Profa. Ms. Luciane Miranda de Faria Cruz _______________________________ Prof. Ms. André Luís Petraglia Dedico este trabalho aos meus pais, irmão e amigos que sempre me apoiaram. Aos amantes do esporte que como eu, são apaixonados por este universo. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a meus pais José Cristovam Peres e Ofélia Zanotto Peres que com incrível força e honestidade puderam proporcionar ambiente para minha formação como homem e profissional. Não menos importante, agradecimentos a meu irmão; Cristovam Peres, que sempre foi meu porto seguro e exemplo para mim, agradeço por ter me ensinado tantas coisas que só um irmão mais velho como ele é capaz. Também não poderia deixar agradecer minha prima; Bárbara Zanotto por me abastecer com seu carinho jovem e compartilhar momentos únicos desde sempre, me permitindo ser mais do que primo, seu irmão mais velho. Agradeço também aos amigos e colegas de estudos; Caio Henrique Benjamin, Rafael Barros, Bruna Lara, Larissa Ribeiro, Lívia Teixeira, João Guilherme Garcia, Alan Goulart, Fernando Germani, Luiz Otávio Missassi, Bruno Spaulonci, Andréia Buscariolo, Matheus Marques, entre tantos outros que participaram de momentos únicos em minha vida. Também gostaria de agradecer aos amigos de uma vida que sempre me fortaleceram em todos os momentos; Luiz Henrique Marçano, Felipe Fasano, Raphael Monje, Vinicius Queiroz Dias e Monize Arquer. Gostaria de agradecer também aos meus amigos, companheiros de esportes, meu mestre de jiu-jítsu; Ricardo Pereira, que me ajudou a evoluir dentro e fora dos tatames, aos meus parceiros e amigos do Mountain Bike; Diogo Machado, Ricardo Taveira, Eduardo Gamba e Vinícius Mira. Não poderia deixar de agradecer à professora Lígia Beatriz que somou de forma substantiva para este e tantos outros trabalhos, e também a todos os professores e profissionais da Universidade do Sagrado Coração que sempre me auxiliaram com profissionalismo e proximidade, o que só me traz boas lembranças e uma satisfação sem tamanho. É inevitável que algumas pessoas não sejam citadas, mas somadas às que estão nestes agradecimentos, me trouxeram até aqui, contribuindo para o que sou hoje. Sem eles não conseguiria dar passos tão firmes e alcançar sonhos tão almejados que sempre compartilhei com todos. Que este seja um de tantos outros que conquistaremos juntos. É muito fácil fugir mas eu não vou, não vou trair quem eu fui, quem eu sou. Eu gosto de onde eu vou e de onde eu vim... (Racionais Mc´s) RESUMO Que o esporte está presente no ambiente publicitário e de promoção de produtos é uma realidade, seja na televisão ou em outros meios de comunicação,como a internet. Entender um pouco mais sobre como esta realidade se tornou prática constante é a questão chave deste trabalho. Levantando questões pertinentes a construção do cenário que observamos hoje, pretende-se elaborar considerações que possam aumentar a intimidade dos interessados no marketing esportivo com o assunto. Através de levantamento bibliográfico a respeito de fenômenos sociais de comunicação, estratégias de promoção comercial e particularidades do universo esportivo, foi possível conhecer mais do cenário, com o intuito de fortalecer os pilares para prática do marketing esportivo. As considerações no âmbito da comunicação social e da espetacularização inicialmente levantavam possibilidades como forças somente de alienação e controle do Estado sobre a massa espectadora. Com o desenvolvimento do trabalho, se constatou que os modelos de comunicação evoluem com velocidade e o cenário antes observado, de alienação e ação do Estado, pode ser confrontado por uma mudança proveniente dos próprios consumidores, empresas e principalmente dos meios de comunicação. Os conceitos de marketing 3.0 puderam agregar considerações atuais sobre a evolução observada também na prática do marketing, que se utiliza muito das próprias mídias de massa como canal de promoção. Os processos de comunicação social e suas evoluções ao longo do tempo contribuíram para construção de uma cultura específica de culto ao esporte. O esporte se mostrou conectado às tradicionais formas de promoção e mais ainda às novas estratégias atuais do marketing. Compreender pouco dos processos e teorias que formaram o ambiente da comunicação social, comercial, e de promoção de vendas que observamos hoje é fundamental para que se possa trabalhar os elementos estratégicos passíveis de implementação no universo de promoção e vendas inserido no esporte. Agregando conhecimento de causa é possível atingir com mais vigor a excelência nos investimentos e marketing esportivo. Palavras-chave: Espetacularização. Marketing esportivo. Marketing 3.0. Espetáculo. ABSTRACT It is a reality that sports are present in the environment of advertising and product promotion whether on television or in other media like the internet. To understand more about how this reality has become standard practice nowadays, is the key issue of this paper. Raising questions pertaining to the scenario building that it is seeing today, aims to develop considerations that may increase the intimacy of those interested in sports marketing with the subject itself. Through literature review about social phenomena of communication, trade promotion strategies and peculiarities inside the sports universe, it was possible to learn more about the sports scenario in order to strengthen the foundation for the perform of sports marketing. The considerations in the media and spectacle initially, only raised possibilities as forces of alienation and state of control of the consuming mass. With the development of this paper, it was found that the patterns of communication develop with speed and scene before observed of alienation and state action can be confronted by a change from the consumers themselves, companies, especially communicating media. The marketing concepts could add 3.0 current considerations on the evolution observed also in marketing as a practice, which relies heavily on mass media themselves as a channel for media advertisement. The processes of communication and their evolution over time contributed to building a culture of sport worshiping The sport itself, showed connected to the traditional forms of promotion, and even more new marketing strategies nowadays. Understanding some of the processes and theories that formed the environment of the media, business, and sales promotion we see today, is essential to be able to work on the strategic elements in the universe of possible implementation of sales promotion and inserted into the knowledge of sports. Putting together the knowledge of the real reason that this happens, it is possible to more vigorously invest in excellence in sports marketing. Key Words: Spectacularization, Sports Marketing, Marketing 3.0. Spectacle SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 11 2 COMUNICAÇÃO DE MASSA ................................................................................................ 13 3 O PROCESSO DE ESPETACULARIZAÇÃO..................................................................... 16 3.1 A ESPETACULARIZAÇÃO E O ESPORTE ......................................................................... 23 4 O MARKETING .......................................................................................................................... 30 4.1 MARKETING 3.0 ............................................................................................................................ 39 5 O MARKETING ESPORTIVO ............................................................................................... 46 5.1 A INDÚSTRIA DO ESPORTE ..................................................................................................... 48 5.2 SEGMENTAÇÃO ............................................................................................................................. 49 5.3 ESPORTE COMO MÍDIA ............................................................................................................. 50 5.4 A NATUREZA DO MARKETING ESPORTIVO ................................................................. 51 5.5 COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA .......................................................................................... 52 5.6 ATLETAS E A PUBLICIDADE .................................................................................................. 52 5.7 O CASO JORDAN............................................................................................................................ 53 6 APONTAMENTOS FINAIS ..................................................................................................... 55 REFERÊNCIAS............................................................................................................................... 58 11 1 INTRODUÇÃO O fenômeno do marketing, suas estratégias, empregabilidades e sucesso não devem ser entendidos somente como técnica de vendas de determinado produto ou serviço. O relacionamento entre anunciante e consumidor, que se materializa nas relações de compra, se mostra um assunto mais amplo do que uma simples de abordagem técnica. Os fatores sociais, culturais e históricos têm enorme valor enquanto determinantes de um cenário que evolui, e se molda, para que as não menos importantes técnicas sejam desenvolvidas e aprimoradas. A preocupação deste trabalho é levantar e relacionar conteúdo substantivo e relevante, apresentando um pouco do caminho percorrido pela evolução da sociedade e suas convenções, que hoje permitem o emprego de técnicas como as amplamente usadas no marketing esportivo. A comunicação social não surgiu na forma como é conhecida hoje, houve grandes evoluções, para as quais vários fenômenos sociais e culturais foram importantes. No desenvolvimento da comunicação social midiática há varias etapas que podemos analisar para deter um panorama dos dias de hoje, sendo este trabalho um esforço para compreender melhor algumas abordagens específicas pertinentes à realidade de comunicadores e receptores de informação, mais especificamente dentro do esporte no Brasil e no Mundo. Inicialmente esta monografia pretende explorar preceitos de comunicação em massa, que possibilitam abordagens posteriores com interpretações e considerações sobre vertentes específicas, implicitamente ligadas a esse processo. A abordagem do processo de espetacularização proposta a fim de trazer considerações a respeito desse fenômeno se faz necessária, pois é fundamental para posterior análise do ambiente atual, em que estratégias e técnicas de comunicação são usadas em larga escala, mais especificamente tratadas nessa obra como estratégias de marketing. Mostra-se a estreita ligação existente entre o trajeto da comunicação social, os processos de espetacularização e o marketing, pois essas estratégias de comunicação com o mercado, utilizadas pelo marketing, 12 exploram nitidamente ambientes e cenários traçados culturalmente pelos fenômenos sociais e culturais da evolução da comunicação. Este trabalho pretende agregar considerações ligadas especificamente aos processos históricos, culturais e sociais da comunicação e a estreita ligação desses fatores com a utilização com excelência do marketing esportivo. Na esfera mercadológica, considerações a respeito do marketing esportivo também serão foco no desenvolvimento do tema, pois os esforços comerciais via comunicação social dentro do ambiente esportivo se mostram eficazes, relevantes e em constante evolução. Em um trecho de sua obra, quando trata dos conceitos da comunicação, Sant´Anna (1998, p. 1) traça brevemente considerações sobre o ambiente de comunicação, muito pertinentes ao objetivo principal do trabalho: “não se pode mais pensar em propaganda como um fenômeno isolado. Ela faz parte do panorama geral da comunicação e está em constante envolvimento com fenômenos paralelos, onde colhe subsídios”. Ao explorar os temas delimitados, pretende-se fazê-los convergir para a compreensão da evolução histórica da comunicação e sociedade. Tal abordagem possibilitará uma análise crítica acerca da linha evolutiva que nos trouxe ao ambiente contemporâneo, permitindo clareza e conhecimento de causa ao planejar e executar estratégias de marketing, aplicando suas ferramentas específicas de forma racional e excelente. Por meio de pesquisa bibliográfica e confronto de informações pretendese agregar e organizar informações sobre o tema, sendo essas empiricamente relevantes à prática de atividades publicitárias e de marketing. Diante desses fatores, pergunta-se: Quais os processos históricos e sociais contribuíram para a formação do ambiente em que marketing e esporte se relacionam, criando o marketing esportivo, suas estratégias peculiaridades e aplicações. 13 2 COMUNICAÇÃO DE MASSA Para podermos compreender o ambiente de comunicação em que nos situamos hoje, não podemos deixar de introduzir e considerar a comunicação de massa, pois foi através dela que as facetas da imprensa e da publicidade se desenvolveram e se desenvolvem. Foi através da comunicação que os seres humanos evoluíram, compartilhando conhecimento e experiências geração a geração chegando nos modelos de civilização que notamos hoje, Defleur e Ball-Rokeach (1993, p. 22) , tecem comentários a esse respeito. Foi a crescente capacidade para comunicar-se cabal e perfeitamente que levou ao desenvolvimento crescente da complexa tecnologia, e a mitos, lendas, explicações, lógica, hábitos, e às regras complexas para o comportamento que possibilitaram a civilização. Defleur e Ball-Rokeach (1993) exploram o conceito de evolução histórica no campo da comunicação, baseado na teoria de transições, onde em momentos subseqüentes observam-se características peculiares em cada período. Nessa ótica, a primeira etapa foi provavelmente a era do símbolo e sinais, na qual o homem ainda não falava. Nessa fase ele desenvolvia alguns gestos, sons e outros tipos de sinais de um mesmo padrão, ou seja, aprendidos e compartilhados. Ainda seguindo a linha da teoria de transições, entre 90 e 40 mil anos atrás, o homem começa a falar e ingressa na idade da fala e da linguagem. Essa sociedade ainda não detinha o conhecimento sobre a leitura e escrita, porém já se comunicava oralmente como hoje. Foi há cinco mil anos atrás que o ser humano fez a transição para a era da escrita, o que possibilitou uma evolução muito mais rápida, tendo em vista que a partir desse momento o conhecimento poderia ser registrado e depois consultado por outros membros, e assim infinitamente, proporcionando o compartilhamento de idéias e informações. (DEFLEUR; BALL- 14 ROKEACH,1993) A idade da imprensa foi um marco bem mais recente, foi em torno do ano 1455 que o primeiro livro foi produzido, quase que instantaneamente a tecnologia percorria a Europa. De lá, o modelo seguiu para outras partes do mundo e mudou a maneira que desenvolvemos e nutrimos nossa cultura. Por final ingressamos na Era da Comunicação de Massa, transição essa que teve inicio no século XIX, juntamente com a recém desenvolvida tecnologia dos jornais para pessoas comuns e da mídia elétrica, caso do telégrafo e telefone. Em trecho que trata da teoria de transições, os autores fazem considerações sobre a última etapa: Mais realisticamente, a Era da Comunicação de Massa teve inicio no começo do século XX com a invenção e adoção ampla do filme, do rádio e da televisão para populações grandes. Foram esses veículos que iniciaram a grande transição por nós continuada hoje em dia. (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 24). Não há como não associar o nascimento da propaganda com o processo de comunicação de massa. A propaganda surge em meio a primeira guerra mundial quando era preciso unir o povo em sentimentos de solidariedade, de forma a contribuírem para os esforços de guerra. O meio encontrado para atingir esse ideal foi a propaganda. Mensagens eram elaboradas para sensibilizar a população por meio de noticiários, fotos, filmes, discos, discursos, livros, cartazes, boatos, panfletos, entre outros. Com o conceito de comunicação de massa e seus meios difusores, os responsáveis pela mensagem de ódio à pátria inimiga e de amor a própria pátria, fizeram desses preceitos uma unidade de pensamento. Defleur e Ball-Rokeach (1993), abordando o início da propaganda, traçam um panorama sobre o fenômeno na época, que ainda se mostra atual e conclusivo. Para eles os veículos de comunicação de massa agiam como agente de persuasão direta a respeito de algum assunto, ideal ou produto. Tratando das possibilidades da comunicação social, destacam que após a formulação da teoria da bala mágica, a evolução da mídia como instrumento de difusão de mensagens para grande quantidade de pessoas deu um grande 15 passo. Essa teoria, com o avanço do conhecimento sobre o comportamento social, foi posteriormente descartada. No entanto, naquele momento, levantou fatores relevantes sobre a natureza da mídia: Dada uma visão de uma natureza humana básica e uniforme, com destaque para processos não racionais, mais uma visão da ordem social como sociedade de massa, a teoria da bala mágica, baseada em mecanismos instintivos E-R (Estimulo –Reação) e a crença de que a mídia se compunha de poderosos recursos, parecia inteiramente válida: enunciou que estímulos poderosos eram uniformemente atendidos pelos membros individuais da massa.Tais estímulos drenavam impulsos,emoções ou outros processos íntimos sobre os quais o indivíduo exercia escasso controle voluntário.Devido a natureza herdada desses mecanismos,cada pessoa reagia mais ou menos uniformemente.Outrossim,havia poucos vínculos sociais sólidos para cortar a influência de tais mecanismos porque o indivíduo se achava psicologicamente isolado de laços sociais robustos e de um controle social informal.O resultado foi que os membros da massa podiam ser balançados e influenciados pelos que dispusessem da mídia,especialmente recorrendo a apelos emocionais. (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 183). Logo pode se afirmar que desde sua criação como instrumento de reforço aos ideais de guerra, a propaganda tende a ser efetiva quando aplicada de forma estratégica em um ambiente que propicia comunicação de massa. Atualmente a propaganda é usada em um ambiente que evoluiu em uma linha histórica até a realidade que temos hoje, que permite sua aplicação em infinitos moldes e setores, sendo propulsor nítido de difusão de ideais, produtos e serviços, entre outras mensagens elaboradas previamente. 16 3 O PROCESSO DE ESPETACULARIZAÇÃO Ao explorar o processo de espetacularização e tecer considerações sobre a sociedade do espetáculo não há a intenção de esgotar o assunto, tendo em vista sua vigorosa amplitude, abordagens e interpretações. O intuito maior ao abordar o tema é levantar conteúdo relevante, que permita elaborar uma análise munido de conceitos que possibilitem maior compreensão acerca do assunto em pauta neste trabalho. Nota-se primeiramente, segundo Kellner (2007), a existência da espetacularização desde os tempos pré-modernos, como na Grécia Clássica com o Olimpo, seus festivais de dramaturgia e poesia, suas batalhas retóricas. A Roma antiga com as orgias, a ampla oferta de pão e circo, grandiosas batalhas políticas, o espetáculo do império e suas paradas e os monumentos em honra dos Césares vitoriosos e de seus exércitos. Adentrando na era da industrialização, surge uma nova lógica produtiva e comercial de circulação de matéria e informação. Forma-se um ambiente onde não há mais do que uma simples comunicação paralela. Com a popularização dos meios de comunicação de massa, surge um ambiente peculiar e que requer novas interpretações sobre sua influência e poder sobre a população. Guy Debord (1997) é um dos principais críticos contemporâneos ao modelo de mídia, ou como ele denomina, da sociedade de espetáculo. Ele acredita que os instrumentos de comunicação se convertem em ferramentas que pretendem dissimular o conhecimento histórico com o intuito de fazer crer no que está em voga, sendo disseminada uma verdade superficial com inúmeras dimensões e possibilidades. Essa linha de raciocínio torna-se clara quando o autor cita: O primeiro intuito da dominação espetacular era fazer sumir o conhecimento histórico geral e, em primeiro lugar, quase todas as informações e todos comentários razoáveis sobre o passado recente. Uma evidência tão flagrante não precisa ser explicada. O espetáculo organiza com habilidade a ignorância do que acontece e, logo a seguir, o esquecimento do que, apesar de tudo, conseguiu ser conhecido. O mais importante é o mais oculto. (DEBORD, 1997, p.176) 17 Ainda nessa linha de considerações, o autor levanta questão referente ao difusor espetacular, que vende uma imagem nova, tem o interesse de desfazer a possibilidade de essa nova imagem ser aferida, e tem sucesso nessa empreitada ao difundir um modelo que parece familiar de verdade, como se sempre existisse. Pode se verificar essas afirmações quando o autor cita: Com a destruição da história, o próprio acontecimento contemporâneo logo se afasta para uma distância fabulosa, em meio a narrativas inverificáveis, estatísticas incontroláveis, aplicações inverossímeis e raciocínios insustentáveis [...]. (DEBORD,1997, p.178) Em segundo momento há também a consideração do processo de espetacularização como movimento ilógico, pois vem sempre isolado do ambiente, do passado, das intenções e das conseqüências. Em contraposição ao ilógico haveria o diálogo, que ao permitir o direito de resposta seguiria a lógica, porém não é isso o que se observa no processo de mão única do ambiente espetacular. Pode se ainda fazer considerações mais profundas, como autor propõe em sua obra,Debord (1997, p.189), [...] quando se difunde a reverência por quem fala no espetáculo, que é supostamente importante, rico de prestígio, que é a própria autoridade, também se difunde entre os espectadores a tendência de serem tão ilógicos quanto o espetáculo, para ostentar um reflexo individual dessa autoridade. Segundo Debord (1997), a fusão econômico-estatal se mostra fundamental no emprego do processo de espetacularização. Tal fusão deu forças ao modelo de comunicação modelada que se formou com a possibilidade de comunicação com as massas. O espetáculo não se atém às necessidades e urgências básicas da sociedade enquanto parte do universo e se mostra instrumento perigoso ao ser tomado como verdade absoluta pelo espectador, pois ele não trata de questões como a deterioração da camada de ozônio ou radiações nucleares, 18 para o espetáculo isso não tem importância. A preocupação maior da prática espetacular é discutir datas e doses, com isso tranqüilizando o espectador, coisa antes inimaginável numa sociedade pré-espetacular. Podemos observar esta afirmativa em considerações de Debord (1997, p.191): O indivíduo que foi marcado pelo pensamento espetacular empobrecido, mais do que qualquer elemento de sua formação, coloca-se de antemão a serviço da ordem estabelecida, embora sua intenção subjetiva possa ser o oposto disso. Nos pontos essenciais, ele obedecerá à linguagem do espetáculo, a única que conhece, aquela que lhe ensinaram a falar. Ele pode querer repudiar essa retórica, mas vai usar a sintaxe dessa linguagem. Eis um dos aspectos mais importantes do sucesso obtido pela dominação espetacular. Considera-se que o espetáculo fez o segredo triunfar, e o triunfo tende a cada vez mais pertencer aos especialistas do segredo que pouco se afastam do controle do estado. Explorando o ambiente econômico produtivo, Debord (1997) considera o processo espetacular parte fundamental na circulação de bens de consumo, que integra o modelo atual de concentração de renda, produção, distribuição e consumo. Aquilo que não é difundido pelo espetáculo e pluralizado, logo não tem mais espaço então desaparece, conforme o autor sugere: [...] no momento em que o Estado detém uma parte hegemônica na orientação e produção e em que a demanda de todas as mercadorias depende estreitamente da centralização realizada na informação-incitação espetacular, à qual terão de se adaptar também as formas de distribuição. Este é, portanto, um produto natural do movimento de concentração de capitais, da produção e distribuição. Neste assunto, o que não se amplia desaparece; e nenhuma empresa pode se ampliar senão com os valores, as técnicas, os meios daquilo que hoje constitui a indústria, o espetáculo, o Estado. (DEBORD, 1997, p.221-222) Ainda no âmbito da influência e consumo, o autor faz menções à confirmação que se firmou no século do espetáculo, do gosto peculiar do espectador pela cópia ao original, pela imagem à coisa, pela representação à 19 realidade. Afirmação esta pertinente até os dias de hoje, nos quais vemos cópias de um produto original sendo amplamente consumidas em diversas etnias, culturas e lugares, como por exemplo, calçados que levam o nome dos atletas, mas que não são os realmente usados pelo atleta e sim cópias, sendo muitas vezes copiadas por fabricantes com marcas devidamente registradas, ou, até mesmo, cópias clandestinas. Ainda buscando elucidar vertentes e possibilidades da espetacularização, Debord (1967 apud KELLNER, 2003), sustenta existir hoje uma sociedade de mídia e de consumo organizada em função da produção e do consumo de imagens, mercadorias e eventos culturais. Constata, além disso, que os espetáculos tendem a concentrar a atenção do povo nas suas necessidades mais básicas e inconscientes. Logo, esses eventos, moldados por experts no âmbito psicossocial, satisfazem à grande parte da sociedade, que como verdade absoluta passa a considerá-lo parte de seus anseios, uma vez que atende prontamente seus desejos subjetivos, configurando-se, assim, um ambiente propício para a disseminação de uma possível mensagem préelaborada. Ainda podemos associar esse preceito, a abrangência e crescimento da mídia e às suas extravagâncias, e concluir que o processo de espetacularização se torna algo de magnitude imensurável em relação às suas possibilidades e ameaças, enquanto meio de comunicação, educação, comércio ou ainda, alienação. Acrescentando mais algumas facetas sobre a espetacularização, ainda sobre a ótica de Debord (1997), há na urbanização dos espaços um fator incisivo no processo da espetacularização da cultura. O acúmulo de produtos feitos em série para suprir a demanda dos espaços urbanizados torna-os banalizados e tendem a fazer com que sejam retirados desses espaços os produtos feitos artesanalmente que dispunham de mais qualidade. Esses produtos, feitos em larga escala, tendem a se tornar cada vez mais similares. A modificação rotineira desses subprodutos culturais é constante, de forma a permitir a continuidade do processo de circulação de bens e absorção de conteúdo. Em um pequeno trecho o autor traduz o fluxo subreptício do processo: As idéias melhoram. O sentido das palavras entra em jogo. O plágio 20 é necessário. O progresso supõe o plagio. Ele se achega à frase de um autor, serve-se de suas expressões, apaga uma idéia errônea, a substitui pela idéia correta. (DEBORD, 1997, p.134). Ainda seguindo a linha da lógica espetacular podem se observar fenômenos que reforçam este ambiente em agrupamentos urbanos como, por exemplo, condomínios, sindicatos ou clubes, ambientes onde conjunto de pessoas exerce pseudoatividades similares e formam ambiente propício para os processos de difusão de recortes da cultura do espetáculo. Neles, ela tende a ser transmitida com mais força, do que sobre os indivíduos alocados fora dos grupos. A cultura tende a se tornar o produto principal da espetaculizaração, pois se dá por um processo de produção, distribuição e consumo que segue a lógica dos produtos tangíveis, logo tendo espaço garantido no universo comercial. Debord (1997), em seu livro A Sociedade do Espetáculo, dá indícios da magnitude dessas afirmações quando comenta que a cultura terá o papel motriz na expansão e evolução dos moldes vigentes, assim como ocorreu com a comercialização do automóvel na primeira metade do século XIX. Após a segunda guerra mundial a notoriedade do processo espetacular se expandiu. A chegada das possibilidades tecnológicas constituiu-se um grande rotor do capitalismo onde a fusão econômico-estatal se firmam e trocam ganhos em todos os domínios,sendo essa união um elemento muito favorável ao desenvolvimento do domínio pelo espetáculo. (DEBORD, 1997, p.127) A espetacularização pretende romper com as lembranças do passado e com todo o conteúdo histórico que possa permitir análises críticas dos processos, e enquanto isto acontece, o fenômeno escreve sua própria história, que já soa familiar para muitos. Logo, o conteúdo tende a ser manipulado da forma que melhor convém aos profissionais responsáveis pelo espetáculo. Esses sugerem variados temas, variando conforme o momento e a região a fim de propor novos conceitos e preceitos que sirvam de base para 21 que os receptores tenham a sensação de que tiraram suas próprias conclusões, o círculo se perpetua e a verdade se firma como incontestável. Segundo Debord (1997), fica a cargo do espectador só consumir o que é produzido pela força do espetáculo, cabendo aos profissionais responsáveis pelo conteúdo modelar o que será difundido e conseqüentemente digerido pelo espectador. O campo entre espetáculo e espectador então se mostra propício a criação de novas tendências constantemente, e cabe aos profissionais explorarem essas possibilidades de forma ética e segmentada, atingindo seus objetivos de forma a transferir valor a mensagem sem empobrecê-la. Em sua obra, Avelar et al. (2008) trazem considerações sobre o processo de espetacularização no contexto comunicacional e mercadológico contemporâneo, traduzido como marketing. Em referência à mídia e aos processos de espetacularização, os autores definem o mundo pós-moderno, em que nos encontramos, como quase diabólico por sua capacidade de iludir sentidos e alienar o espírito. Expõem a mídia como instrumento que nos diz a toda hora que podermos ser o que não somos, ter coisas que não precisamos e imitar aqueles que admiramos. Ainda segundo os autores, é nesse ambiente pós-moderno que o marketing evolui, apoiado cada vez mais no mundo de entretenimento, e a partir dessa lógica, os autores tecem considerações sobre o atual ambiente espetacular e, consequentemente, de marketing: Como não poderia deixar de ser, as empresas logo perceberam o potencial de comunicação e de consumo existente nesta nova sociedade, O espetáculo que tanto atrai as massas, tornou-se o denominador comum das novas arenas da comunicação de mercado. Elas incluem a música, sob forma de megashows; o esporte, sob a forma de grandes espetáculos de futebol, automobilismo, tênis e outros esportes; o mundo da moda que desfila nas passarelas e funciona como motor de lançamentos das grandes grifes internacionais; as grandes feiras e eventos, desde o Agrishow de Ribeirão Preto até o salão de automóvel de Paris; o mundo digital, com a internet, os blogs, o e-commerce e a vida paralela do Second Life; o grande varejo, cada vez mais concentrado e poderoso, que transformou os shopping-centers e hipermercados em modernas catedrais de consumo. Novas arenas surgem a cada momento, refletindo a própria evolução econômica e 22 social e todas elas têm um ponto em comum; atraem e divertem, mas também persuadem e vendem. (AVELAR et al., 2008, p. 13) Essas considerações contextualizam o espaço que os espetáculos ocupam enquanto fenômeno social e suas influências sobre a sociedade, tornando-se referencial essencial ao desempenho da atividade publicitária. O espetáculo é um dos ambientes que oferecem condições ideais para a divulgação de mensagens e deve ser utilizado de forma ética e responsável, visando a otimização da qualidade de vida nas sociedades. 23 3.1 A ESPETACULARIZAÇÃO E O ESPORTE Falando sobre a origem do esporte, Dieguez et al. (1985), discorre sobre como conhecemos o esporte hoje, explicando que, após a revolução industrial, com a burguesia em constante crescimento, as escolas públicas da Inglaterra começaram a implantar o esporte em suas grades curriculares. Assim sendo, enquanto os alunos praticavam esportes e gastavam seu tempo e energia neles, não pensariam em mais nada, criando assim a despolitização. Essa atitude garantiu um reinado tranqüilo à Rainha Vitória e deu origem ao esporte moderno, transformando uma atividade, até então tida apenas como lúdica e com poucas restrições, em uma atividade organizada e regida por leis e normas que rapidamente se espalhou pela Europa e pelo mundo. No esporte o preceito “o importante é competir” aparece como slogan protetor da imagem de uma prática apenas lúdica, cenário o qual o esporte pretende se situar. Porém segundo Dieguez et al. (1985), podemos interpretar como ideal principal do esporte, o lema, vencer a qualquer custo. Seguindo o raciocínio dos autores, o esporte tem sido mais um meio que um fim, um meio da sociedade se afirmar, de ter prazer, de se integrar, de vender. Sabe–se que a utilização do esporte como meio de difusão de idéias e virtudes foi freqüente no passado, tanto na sociedade grega, como por Hitler, pelos americanos e também pelos soviéticos. Dessa forma, posiciona-se o esporte como um canal de comunicação influente, ideológico, ou apenas meio de difusão de mensagem a fim de atingir pessoas de uma determinada parcela ou do total da sociedade. Ainda o mesmo autor, explora a problemática do esporte e da publicidade no quarto capítulo da obra e, em dado momento, define o tema de forma sucinta, quando comenta: As relações entre esporte e publicidade, portanto,sempre existiram,mas só nos fins dos séculos XIX tornou-se algo harmonioso e consciente. O segredo da perpetuação destas 24 relações reside no fato do esporte conter apelos irresistíveis e abrangentes. Ele mexe com o gosto pela competição, com a necessidade de afirmação, com o propalado cuidado como corpo, com o desejo de permanecer jovem, a emoção de superar recordes, a representação nacional, a imaginação, o desejo, a paixão. (DIEGUEZ et al., 1985, p. 41). Para uma análise mais profunda a fim de estruturar o tema com objetividade, passamos a abordar o esporte por um âmbito psicossocial, optando por analisar a teoria do processo civilizador de Norbert Elias nos apoiando na obra de Hirata e Pillati (2010). Segundo eles, a teoria de Elias constata que algumas parcelas de um grupo social demonstram sofrer mudanças drásticas em seus modos de conduta e sensibilidade, transformações essas em direção a um domínio mais rigoroso, ou dito de outra maneira, um refinamento nos gestos e condutas. Conforme Gebara (1998 apud HIRATA; PILLATI, 2005, p. 3), [...] o ponto central no qual se apóia a Teoria do Processo de Civilização, é a existência deste processo ‘cego’ (não planejado) e empiricamente evidente. Trata-se do processo de ‘cortenização’ e ou parlamentarização dos guerreiros medievais, isto equivale dizer, em termos práticos: a violência imbricada no cotidiano dos guerreiros cede lugar ao debate e ao refinamento de atitudes dos cortesãos. A solução dos conflitos e o controle da violência passam a ser encaminhados de formas distintas em relação ao uso imediato e explícito da força/violência. Não obstante, longe de constituírem uma antítese violência e civilização são processos complementares, são formas específicas de interdependência. A civilização dependerá do estágio de controle da violência, do monopólio dos impostos que permitem constituir uma força suficientemente efetiva para impor a pacificação interna. Ou seja, o crescimento da economia e o estabelecimento do Estado jogam um papel fundamental neste processo. Segundo a teoria Elisiana, as sociedades buscam em atividades paralelas às que mantêm cotidianamente, aliviar as tensões e estresse provocados pelo esforço de controlar emoções e a violência. Para o autor, percebe-se no esporte uma possibilidade de excitação e resposta a esse tipo de situação. 25 Logo, conclui-se que, segundo a teoria de Elias, o esporte de hoje substitui as violentas práticas de lazer de antigamente, configurando-se alternativa menos violenta mantendo o mesmo intuito, sagrar um vencedor e o outro perdedor. Entenda-se então, o esporte de hoje como um combate simulado que pretende prender o interesse dos participantes e expectadores pela tensão e excitação pelo resultado final, que traz um consagrado vitorioso e um desgraçado perdedor. (HIRATA; PILLATI, 2005). Ainda sustentado pela teoria de Elias, entre outros fatores que devem ser analisados na evolução do esporte ainda enquanto fator psicossocial estão as normas e regras impostas aos praticantes para que o confronto seja gradual e equilibrado, e para que a tensão pelo resultado não se extinga rapidamente. Um bom exemplo disso são lutas como o boxe, sendo as categorias pré-fixadas pelo peso dos competidores, logo um combate tem mais chance de ser instigante e conseqüentemente a atenção do espectador tende a se fixar no espetáculo por mais tempo. A teoria do processo civilizador sustenta ainda a teoria sobre as emoções contidas no universo esportivo, traçando um paralelo entre as emoções e o autodomínio. Elias argumenta que as atividades de lazer tendem a proporcionar aqueles que se expõem a ela um descontrole de emoções agradável e controlado. Podemos citar parte da obra de Hirata e Pillati (2005, p. 5) ,quando traz à tona a materialização do fenômeno: Os gritos e gestos de felicidade de um atleta após uma conquista ou um choro desesperado por um fracasso esportivo, por mais extravagante que possa parecer, são bem aceitas pela sociedade. Em contrapartida, essas mesmas atitude dentro de outro contexto, principalmente na esfera pública, pode conduzir aos espectadores uma noção de desajustamento social. Isso também pode ser aplicado aos espectadores desses espetáculos esportivos. Conclui-se então, segundo a teoria de Elias, que as pessoas buscam em espetáculos a saciedade de impulsos da natureza humana. O esporte e o lazer, com ajuda da mídia, se caracterizaram, pouco a pouco, como apto a nutrir esse tipo de necessidade do ser humano enquanto ser social. 26 O lazer é considerado fator importante no dia-a-dia das pessoas, colaborando para o bem estar e a manutenção de vida saudável. No Brasil a Constituição define o lazer como direito dos cidadãos, estando lado a lado com outros direitos importantíssimos, como o direito a segurança, educação, entre outros, como podemos confirmar em trecho da legislação Brasileira de 1988, capítulo 2; Dos direitos sociais, Art 6o: “São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. (BRASIL, 1988, p. 7). Bourg e Gouguet (2005, p.12) sustentam que o esporte de competição mantém conexão com as necessidades humanas e com o universo econômico: Em toda prática esportiva de competição, o desejo de vencer engendra excessos, comportamentos desviantes que decorreriam assim da própria essência do esporte. A lógica econômica do mercado através da busca sistemática do interesse privado, não faz senão exacerbar essa natureza profunda do esporte que existe em seu estado latente. Segundo Avelar et al. (2008), o esporte ganhou a forma de espetáculo que podemos contemplar hoje somente em meados do século XX. Com a chegada do rádio e da televisão, as competições de boxe, automobilismo, futebol, ciclismo, entre outras, passaram a ser acompanhadas por um grande número de pessoas e deixaram de ter a conotação do local onde eram realizados. Em um segundo momento, com as transmissões via satélite o esporte se tornou algo global, os grandes espetáculos são acompanhados por milhões de pessoas simultaneamente. Neste ambiente peculiar que o esporte se encontra, diferente dos outros conteúdos abordados pela mídia, é que aparecem oportunidades para a comunicação de mensagens. Com a união da atividade esportiva à mídia de massa, surge um ambiente propício para a inserção de conteúdo e processos antes inviáveis de serem agregados ao esporte, fazendo da atividade um canal de comunicação entre comunicador e espectador. Esses processos têm como foco os atletas, eventos, uniformes, quadras, equipamentos e tudo mais que o esporte costuma apresentar. 27 Os autores Marques, Gutierrez e Almeida (2008, p. 5) dão ênfase ao processo de mercantilização que se observa como resultado de atividades planejadas no esporte espetáculo. [...] hoje o esporte tem espaço significativo nos processos cultural e mercantil de produtos, fomentando a produção, distribuição e promoção de produtos ligados a prática do esporte, ou mesmo a simples admiração e fidelidade do consumidor para com sua marca, atleta ou time preferido. Pode-se perceber claramente esta faceta do esporte em ambiente comercial em trecho do artigo de Marques, Gutierrez e Almeida (2008, p.5): A mercantilização do esporte contemporâneo se apresenta sob diversos aspectos, sendo como comércio de possibilidades de prática de lazer, mercado de artigos esportivos ou associados a este fenômeno, meios de informação, ou através do esporte-espetáculo, sendo este último a forma de expressão que exerce mais influência sobre esse processo, difundindo uma cultura esportiva de consumo. Seguindo ainda a mesma linha de considerações pode-se afirmar que o consumidor exposto as ferramentas de comunicação inseridas no esporte não fica restrito a somente consumir produtos, ele consome signos, valores e comportamentos que integram a imagem do produto. Em paralelo a inserção do esporte na programação dos meios de comunicação de massa e ao seu processo de profissionalização e difusão constante, os campos de ação dessas práticas crescem e possibilitam cada vez mais investidas para comercialização de produtos e difusão de ideais e modelos de consumo. Podemos analisar o trecho de artigo dos mesmos autores no qual trazem considerações claras, diretamente ligadas ao assunto: O consumidor de artigos esportivos não consome somente roupas, mas signos, valores e comportamentos identificados com o produto. Nesse sentido, a massificação do esporte tem sido bastante funcional para a expansão dos mercados esportivos e das oportunidades ocupacionais relacionadas ao esporte. (PRONI, 1998 apud MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008, p. 5). 28 Segundo Marchi Junior (2006 apud MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008), a profissionalização do esporte apoiado pela massificação de suas práticas e significados, aumentou caracterizava por sua reunir popularidade. sujeitos O anterior homogêneos esporte socialmente, amador e com se a profissionalização, automaticamente o esporte passa a instigar o próprio consumo, deixando de ter somente seus interesses amadores de diferenciação social, pois o fenômeno toma formas que ultrapassam barreiras sociais. Podemos dizer que o esporte contemporâneo e suas manifestações estão estruturados pelos processos de mercantilização, e de consumo de bens, serviços e entretenimento. Sendo assim, podemos observar no ambiente do esporte e do marketing esportivo, personagens principais que apóiam e dão forma a estes apelos mercadológicos. Alguns desses personagens, cada qual em seu cenário, são mencionados por Marques (2007 apud MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008, p.6) quando levanta considerações a respeito dos coadjuvantes nos processos através do esporte. -Atleta-astro: o esportista profissional que, além de atuar como atleta também tem sua imagem vinculada a outras formas de ganho de capital e, por que não, outras carreiras como modelo fotográfico e diplomacia internacional; -Atleta-produto: o esportista profissional que é negociado entre clubes ou organizações financeiras como uma peça que gera lucros; -Esportista-consumidor: o sujeito que paga tanto para ter acesso à prática esportiva quanto para acompanhar exibições profissionais e produtos vinculados ao esporte-espetáculo; -Esportista-praticante: o amador que pratica esporte efetivamente como forma de atividade física sistematizada, sem compromisso formal e econômico de alta performance; -Esportista-sedentário: o sujeito que se sente atraído pelo esporte, o consome de inúmeras formas, vive seus momentos de lazer em função de manifestações esportivas e de seus produtos, mas não pratica nenhuma modalidade esportiva. Percebe-se, hoje, que no ambiente mercadológico, um apreciador de esportes não precisa praticar o esporte para estar inserido, basta consumir um produto ligado a esse universo, ou ainda interagir de outras formas, acompanhando jogos de um campeonato, comprando revistas especializadas, jornais ou canais de TV especializados. Como resultado destes fatores, o consumidor das imagens produzidas no 29 molde esportivo espetacular adquire hábitos de consumo específicos, que antes não se observava, além da prática esportiva, como Marques, Gutierrez e Almeida (2008, p.6) tratam em trecho de seu artigo: “Nessa dinâmica de mercado nota-se o surgimento de produtos para diversos públicos, como novas modalidades moldadas para o espetáculo, sem origem popular, e também bens esportivos, que são consumidos para inúmeros fins além da prática de atividade física.”. O esporte e seus posicionamentos, inegavelmente são considerados atitudes sadias para a sociedade, o que traduz a pré-disposição à associação positiva dos receptores as mensagens inseridas no ambiente esportivo. Os autores exploram com clareza esta afirmação acerca do universo comercial e o esporte: Nota-se no fenômeno contemporâneo um cenário dicotômico entre o uso comercial do esporte, inclusive de produtos que não necessariamente se ligam à prática de atividade física, e de movimentos ligados ao uso do esporte como fenômeno de melhoria social, tanto voltado à inclusão, como educação ou promoção de saúde. (MARQUES; GUTIERREZ; ALMEIDA, 2008, p.7) Como pode se observar muitos esportes têm se popularizado com os processos de comunicação de massa e de espetacularização. Podemos notar diariamente transmissões de eventos esportivos em canais abertos e por assinatura, onde observamos novos modelos de esportes, novas configurações, e não menos patrocinadores e difusão massificada ou segmentada.Este aspecto alimenta o mercado para profissionais de comunicação, administração, entre tantos outros inclusos no processo, como fabricantes de equipamentos esportivos e tecnológicos (captação de imagens, produtos de performance, arenas, entre outros). Muitas vezes cria-se um modelo de espetáculo esportivo com formato nunca antes visto, e em pouco tempo consegue-se enorme aceitação de público, levando um produto ou marca a faturamentos consideráveis. Seguindo seu modelo, logo em seguida, surgem outras atividades seguindo os mesmos passos, mudando somente identidade e direcionamento da mensagem, a fim de explorar esse ambiente construído e carente de novos investimentos e posicionamentos. 30 4 O MARKETING Abordando um pouco do universo do marketing, a intenção deste item é trazer considerações úteis a posterior análise das facetas e possibilidades de marketing inseridas nos processos sociais e comerciais, análise foco da pesquisa que visa agregar informações para práticas profissionais conscientes e excelentes. Segundo Kotler e Keller (2006), o marketing se apóia nas relações capitalistas existentes dentro da maioria das sociedades. Foi após a revolução industrial que o marketing começou o seu trajeto e hoje se mostra ferramenta fundamental a praticamente todas as atividades comerciais e econômicas, sendo considerado por muitos uma ciência. Ainda segundo os autores, o conceito de marketing pode ser definido de forma simples. Subentende-se que o marketing envolve a identificação e satisfação das necessidades humanas e sociais, ou seja, supre necessidades trazendo lucro. Há também definições mais abrangentes sobre o tema feitas por Kotler e Keller (2006, p. 4): A American Marketing Association oferece a seguinte definição: o marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem criação, a comunicação e a entrega do valor para os clientes, bem como a administração dos relacionamentos com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado. O marketing seleciona o público alvo, constrói valores e dissemina-os entre os consumidores agregando identidade própria a organização. Cultiva o relacionamento com o cliente e procura maximizar os lucros da organização que faz uso de suas ferramentas. Segundo Kotler e Keller (2006), o marketing deve criar, comunicar, e entregar valor aos consumidores. As etapas incluídas nesse processo devem estar integradas, pois existem várias possibilidades para que se atinja um mesmo objetivo. As atividades de marketing podem assumir muitas formas, uma 31 excelente maneira de descrever essas atividades é tomando por base o mix de marketing, que são as ferramentas usadas pela empresa para atingir seus objetivos. Consideramos os elementos desse mix quatro elementos: produto, preço, praça e promoção. Cada elemento do mix de marketing tem grande impacto no plano de marketing de uma empresa, sendo todos eles de fundamental importância. A promoção é um dos elementos que recebe grande investimento das empresas. É através da publicidade e da propaganda que a promoção é contextualizada e divulgada. A promoção engloba mais que o processo de divulgação do produto, ela é responsável em grande parte pelo posicionamento da marca na mente do consumidor, influi diretamente no envolvimento final e no relacionamento dos indivíduos com os anunciantes. A relevância da propaganda para o marketing é explorada por Kotler e Keller (2006, p. 553). A propaganda pode ser utilizada para desenvolver uma imagem duradoura para um produto (os anúncios da coca-cola) ou para estimular vendas rápidas (um anúncio da Sears de uma liquidação de final de semana). Ela pode alcançar com eficácia compradores dispersos geograficamente. Algumas formas de propaganda (anúncios na televisão) podem exigir um orçamento maior, enquanto outros anúncios (anúncios em jornais) podem custar menos. Seu efeito sobre as vendas pode se dar simplesmente pela repetição. Os consumidores talvez acreditem que uma marca muito anunciada ofereça “bom valor”. Como existem muitas formas e utilizações da propaganda, é difícil fazer generalizações. Ainda segundo Kotler e Keller (2006), sobre a propaganda, existem três seguintes qualidades observadas. A primeira delas é a penetração, pois a propaganda emitida permite, muitas vezes, que grande quantidade consumidora receba e compare as mensagens. Por estar sempre em contato com a mensagem, recebem informações positivas sobre o tamanho, poder e sucesso do fornecedor. A segunda das qualidades é o aumento de expressividade, que ocorre quando a propaganda associa a empresa e seus produtos com o meio artístico, com impressões, sons e cores. A impessoalidade é a terceira qualidade citada pelo autor, pois o público não tem obrigação de prestar atenção e interagir com a propaganda, criando assim um relacionamento saudável e duradouro. 32 A glocalização se mostra atualmente tendência estratégica importante no planejamento de marketing de grandes empresas. Empresas adotam estratégia glocal quando os padrões globais são utilizados dentro de um ambiente local com as devidas adaptações as necessidades e peculiaridades. Usando a linguagem global a comunicação se relaciona com indivíduos que estão interagindo localmente. Kotler e Keller (2006, p. 26), trazem breve descrição do termo glocal enquanto tendências e forças de marketing. DE LOCAL PARA GLOCAL (AO MESMO TEMPO GLOBAL E LOCAL) As empresas estão adotando uma combinação de centralização e descentralização para equilibrar melhor a adaptação local e padronização global. A meta é incentivar a iniciativa e o “intra-empreendedorismo” no âmbito local, ao mesmo tempo que se conservam as diretrizes e os padrões globais necessários Podemos notar atitudes de empresas com espírito glocal de diversas formas, como por exemplo, quando uma marca de produtos esportivos distribuída por todo o mundo é associada a um evento esportivo local. O individuo local, que conhece o esporte que também é praticado em âmbito global, entra em contato com o evento local e se depara com influências globais juntamente com esforços de marketing de natureza glocal, momento que propicia os moldes para que os indivíduos estabeleçam valores às marcas e produtos e percebam posicionamentos das empresas anunciantes. O branding, termo que trata da marca, signo ou símbolo que as empresas usam para identificar seu produto e diferenciá-lo dos outros, também é assunto importante quando consideramos os pilares do marketing. A marca é a assinatura de um produto ou serviço oferecido no mercado, é através dela que o consumidor atribui responsabilidade pela produção de um produto. O branding apresenta vários benefícios; permite um melhor manuseio e rastreamento de produtos e ajuda nos registros contábeis e de estoque das empresas, dá amparo legal a prática jurídica, quanto aos aspectos exclusivos do produto. A marca pode ser protegida por registros, patentes e direitos autorais, assegurando os investimentos feitos diretamente em produtos da marca e nela própria. (KOTLER; KELLER, 2006). 33 Além de benefícios internos, as marcas sinalizam determinados níveis de qualidade, trazendo a possibilidade de consumidores satisfeitos voltarem a consumir a marca em segundo momento, identificando-a com facilidade. Ainda segundo Kotler e Keller (2006), a marca também é forte instrumento de comunicação de valor. Um signo de uma empresa associado a algum tipo de mensagem, estará automaticamente agregando aquela informação, previamente escolhida e estrategicamente elaborada a seus valores e posicionamento na mente do consumidor. Uma marca associada a um atleta de esportes radicais, por exemplo, agrega os valores do esporte a sua marca, valores estes associados a sentimentos como adrenalina, superação, velocidade e jovialidade. Assim, o logotipo ou marca da empresa passa a ser um símbolo que transmite valores automaticamente, seja em um patrocínio exposto na TV, em um produto licenciado, ou na própria embalagem do produto no ponto de venda. Kotler e Keller (2006, p.269-270), definem o branding e sua natureza em sua obra. Branding significa dotar produtos e serviços com o poder de uma marca. Está totalmente relacionado a criar diferenças. Para colocar uma marca em um produto, é necessário ensinar aos consumidores “quem é o produto – batizando-o e utilizando outros elementos da marca que ajudem a identificá-lo – bem como a “que” ele se presta e “por que” o consumidor deve se interessar por ele. O branding diz respeito a criar estruturas mentais e ajudar o consumidor a organizar seu conhecimento sobre produtos e serviços, de forma que torne sua tomada de decisão mais esclarecida, e nesse processo, gere valor a empresa. Existem muitas formas de se promover um produto, serviço ou marca, e a aliança do marketing e da publicidade torna esse processo criativo, inovador, instigante e lucrativo, pois a cada dia se observa novas formas de promoção através de novas mídias, que são criadas juntamente com novos segmentos e nichos de mercado. Podemos citar alguns veículos usados para promover as mensagens publicitárias: a TV, rádio, internet, eventos, ponto de venda, eventos esportivos, a própria embalagem entre outros, veículos que se adéquam a cada objetivo específico de marketing. O conceito de marketing segundo Kotler e Keller (2006), segue alguns 34 preceitos básicos que são observados em todo plano de marketing que pretende atingir o sucesso com excelência. O marketing deve se preocupar com as necessidades, desejos e demandas do mercado-alvo. Todos têm a necessidade de se alimentar, se abrigar, se locomover, além disso, observase a necessidade de status social, aceitação pelos outros, e é nesse sentido que o marketing atua, utilizando-se dessas necessidades e desejos, comunicando os valores do produto do anunciante ao consumidor, sempre alimentando o processo mercadológico. Preceito base para um bom plano de marketing é a preocupação com o mercado-alvo, posicionamento e segmentação no mercado em que se pretende atuar, visto que uma empresa atua em diversos mercados e cada um deles pode ter especificidades próprias. Examinando as peculiaridades demográficas, psicográficas e comportamentais dos consumidores é possível aumentar a chance de um produto ter sucesso dentro de seu devido nicho de mercado. O valor e a satisfação do cliente também são lembrados como conceitos básicos no marketing, a oferta deve proporcionar valor e satisfação ao consumidor, esse que percebe de maneira individual cada valor agregado transmitido pelo produto. Grupos podem apresentar percepção de valores semelhantes a determinado estímulo ao qual são expostos, ou seja, se um grupo se identifica com um esporte, por exemplo, e esse produto foi promovido dentro desta atividade esportiva e associado à durabilidade e ao bom desempenho, logo o grupo vai perceber o valor do produto como durável e de bom desempenho, pois além de estar inserido na realidade do consumidor estará sendo tratado como participante do sucesso de determinada prova ou atleta. (KOTLER; KELLER, 2006). Uma investida em marketing para revitalização da marca de um refrigerante traz para a realidade os preceitos de comunicação de valor e segmentação de mercado, atuação que pode ser conhecida no seguinte caso, exposto no livro de Kotler e Keller (2006, p.289): A Pepsi lançou o Mountain Dew em 1969 e o divulgou com o slogan Yahoo Mountain Dew !It’ll tickle your innards, que significa em português: Yahoo Mountain Dew! Fará cócegas na sua barriga. Na 35 década de 1990, a marca enfraquecia nas prateleiras dos mercados apesar da tentativa de expandir sua imagem com cenas de ação em outdoors. Para revigora-lá, a embalagem do Mountain Dew foi atualizada e foram lançados anúncios com um grupo de rapazes anônimos, os “camaradas Dew”, que praticavam esportes radicais como bungee jumping e snowboard enquanto consumiam o refrigerante. O slogan da marca passou a ser “Do the Dew” (Pratique Dew”).A busca bem-sucedida por jovens consumidores de refrigerante levou a marca a desafiar a Diet Coke, tornando-se a maior vendedora de refrigerantes em termos de participação de mercado em 2000. Observa-se neste case do refrigerante norte americano Mountain Dew o uso perfeito dos processos de associação de valor e segmentação para revitalização da marca, faceta essa que também pode ser considerada como estratégia de marketing. Ainda hoje a Mountain Dew utiliza ferramentas parecidas para agregar valor para sua marca, quando investe, entre outras vertentes de publicidade, no patrocínio principal de um evento que leva o nome do refrigerante, o DEW tour, e que acontece todos os anos. O evento é de caráter esportivo e cultural e agrega categorias de esportes radicais como skate e BMX (bicicleta que possibilita manobras) em várias de suas vertentes. Baseado em técnicas, o marketing pode ser entendido como todo o processo de análise de processos sociais e outros fatores relevantes para estruturar estratégias de comunicação que possam levantar interesse ou necessidades latentes para a população acerca de um produto ou serviço, além de trabalhar todos os caminhos para que a mensagem chegue ao receptor da melhor forma, visando atingir os objetivos e metas traçados anteriormente com maior retorno e menor investimento, seja ele qual for. (KOTLER; KELLER, 2006). Ainda segundo os autores, um quesito importante que deve ser levado em conta na realidade explorada, é a comunicação de marketing e o brand equity. A comunicação é o meio que as empresas utilizam para informar, persuadir e lembrar os consumidores sobre seus produtos, marcas ou serviços. É por meio da comunicação de marketing que as empresas se situam na mente do consumidor, gerando experiências singulares promovendo as razões do uso do produto, qual tipo de pessoas fazem uso, quando e onde, incluindo também os incentivos a recompensa pela experimentação ou uso. 36 É através da comunicação de marketing que a empresa conecta sua marca a outras pessoas, lugares, eventos, marcas, experiências, sensações ou objetos, utilizando seu posicionamento adicionado de valores de outra natureza, criando uma imagem para marca, contribuindo para o brand equity. Kotler e Keller (2006, p.149), expõem de forma sucinta e direta a definição de brand equity em sua obra. Brand equity é a avaliação subjetiva e intangível que o cliente faz da marca, acima e além do valor percebido objetivamente. Os componentes do brand equity são conscientização de marca, postura do cliente em relação a marca e percepção do cliente quanto a ética da marca.As empresas usam propaganda, relações públicas e outras ferramentas de comunicação para melhorar esses componentes.O brand equity é mais importante do que os outros componentes de valor do cliente nas situações em que os produtos são menos diferenciados e possuem um impacto emocional maior. Embora a propaganda seja, em geral, parte central principal em um programa de comunicação de marketing, frequentemente não é o único, ou o mais importante enquanto formação do brand equit. Existem seis formatos essenciais que são o composto do mix de marketing. A propaganda, promoção de vendas, eventos e experiências, relações públicas e assessoria de imprensa, marketing direto e vendas pessoais. Como pode-se observar em quadro exposto por Kotler e Keller (2006). 37 Figura 1 - Plataformas comuns de comunicação. Fonte: Kotler e Kellner (2006, p.533-534). De acordo com a tabela, as atividades de comunicação de marketing criam conscientização da marca, utilizando-se de associações pertinentes a imagem da marca na memória dos consumidores, despertando opiniões ou sentimentos positivos, e ou facilitando uma forte conexão com o consumidor. Kotler e Keller (2006, p.534), sintetizam e exemplificam de forma clara e pertinente a pesquisa acerca do brand equity e da comunicação de marketing: 38 De acordo com o conceito de brand equity, o modo com que as associações de marca são formadas não importa. Em outras palavras, se o consumidor faz uma associação forte, favorável e exclusiva da marca Subaru com os conceitos “ar livre”, “ativo” e “rústico” por causa da exibição de um anúncio de TV que mostra o carro percorrendo um terreno acidentado em diferentes épocas do ano, ou se ele cria essas associações pelo fato de a Subaru patrocinar competições de esqui, caiaque e mountain bike, o impacto em termos de brand equity é idêntico, qualquer que seja a causa. A personalidade e auto-imagem se mostram campos importantes para as práticas do marketing. Quando analisamos as escolhas dos consumidores por determinados produtos, muitas dessas escolhas são feitas levando em conta a personalidade da marca em resposta a personalidade do consumidor, seja este usando-se de sua personalidade coerente a sua auto-imagem real (como a pessoa se vê), de sua auto-imagem ideal (como a pessoa gostaria de se ver ) ou ainda pela auto-imagem de acordo com os outros (como ela pensa que os outros a vêem). (KOTLER; KELLER, 2006). Os estilos de vida e valores estão fortemente ligados aos esforços de comunicação de marketing planejados por uma empresa, cada pessoa tem um estilo de vida diferente, encontrar cada estilo de vida que condiz a segmentação de mercado que a empresa pretende atuar é imprescindível. Levando os esforços de comunicação a esse nível as empresas estabelecem ligações entre seus produtos e o estilo de vida do consumidor alvo, gerando mais demanda e fidelidade. Kotler e Keller (2006, p.181), fazem considerações pertinentes a esse respeito: Um estilo de vida é o padrão de vida de uma pessoa expresso por atividades, interesses e opiniões. O estilo de vida representa a “pessoa por inteiro”, interagindo com seu ambiente. As empresas procuram estabelecer ligações entre seus produtos e os grupos de estilo de vida. O marketing não é uma ciência exata e ele evolui de acordo com a evolução sócio-cultural dos consumidores e empresas. Hoje as empresas e suas estratégias estão se direcionando para o relacionamento com base nos anseios do público. A preocupação com a transmissão dos valores e ideais da 39 marca se mostra muito importante. Hoje grandes potências empresariais exploram o atual marketing 3.0, que é orientado diretamente para as pessoas e seus valores, e traz em sua abordagem propostas que interagem com questões sociais complexas diretamente conectadas com seu público alvo. 4.1 MARKETING 3.0 Ao explorar o tema, a principal intenção é trazer considerações a respeito de práticas relevantes e atuais, sem, no entanto explorar com profundidade todos os seus possíveis tópicos. O marketing evoluiu desde seus primeiros passos, e essa evolução deu margem para sua classificação em três etapas, o marketing 1.0, 2.0 e o 3.0. Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), o marketing 1.0 vigorou durante a era da revolução industrial, em que o foco dos esforços era vender todo o produto que as máquinas fabricavam em grande escala, era o marketing focado no produto. O objetivo era aumentar a produção e reduzir os gastos. O marketing 2.0 surge com o fortalecimento das mídias, com o aumento das tecnologias de produção e com as mudanças de postura do consumidor. No modelo 2.0 o profissional de marketing se preocupa diretamente com o consumidor e suas preferências. Os esforços se voltam para a segmentação de mercado e o desenvolvimento de produtos específicos para cada nicho de mercado. É o marketing centrado no consumidor, o qual pressupõe implicitamente que o consumidor seja passivo às investidas de marketing. Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), fomentar a demanda em tempos turbulentos,quando a incerteza é uma constante, exige mais do que apenas os quatro Ps do marketing 1.0 e 2.0. Em trecho da obra há menção breve sobre essas considerações: Gerar demandas em épocas turbulentas, marcadas pela incerteza, era mais difícil, exigindo mais do que apenas os 4 Ps.A demanda 40 era escassa.Alguns produtos foram lançados para competir entre si, a fim de conquistar compradores.Ao longo dessas duas décadas,os consumidores se tornaram compradores mais inteligentes. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010, p.30) Contemporaneamente contemplamos o surgimento do marketing 3.0, a era voltada para os valores. Ao invés de tratar apenas do produto e sua venda, ou do consumidor e seus desejos substantivos, esse tipo de marketing procura satisfazer o cliente de forma que ele fique totalmente alinhado com a missão e valores da marca. O marketing 3.0 traz contribuição significativa à configuração da missão e dos valores apresentado pela marca ou serviço, pois o seu objetivo maior é oferecer soluções para problemas sociais, ou, ao menos, agir para minimizá-los. O marketing 3.0 pode ser compreendido por uma mistura de marketing colaborativo, cultural e espiritual, sendo a era da participação, a era do paradoxo da globalização e a era da sociedade criativa, três grandes forças que moldam sua paisagem. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). No quadro a seguir é possível visualizar a linha de evolução no percurso do marketing. Figura 2 - Comparação entre Marketing 1.0, 2.0 e 3.0. Fonte: Kotler,Kartajaya e Setiawan (2010, p.6). 41 É fato que esse modelo 3.0 não pode ser considerado isolado dos outros modelos de marketing amplamente explorados, este agregando novos conceitos e ferramentas estratégicas aos modelos 1.0 e 2.0. Em determinada parte de sua obra, Kotler, Kartajaya e Setiawan, (2010, p.34), tecem considerações sobre o relacionamento entre as possibilidades e necessidades dos modelos de marketing: O marketing 1.0 e o marketing 2.0 ainda terão alguma relevância. O marketing ainda tem a ver com desenvolver a segmentação, escolher o segmento-alvo, definir o posicionamento, oferecer os 4Ps, e construir a marca em torno do produto.No entanto, as mudanças no ambiente de negócios – recessão, preocupações com o meio ambiente, novas mídias sociais, emporwerment do consumidor, nova onda de tecnologia e globalização – continuarão provocando mudança maciça nas práticas de marketing. Uma grande força citada por Kotler, Kartajaya e Setiawan, (2010) em sua obra sobre marketing 3.0, são as plataformas de mídias sociais, como facebook ,twitter, youtube, criadas com a evolução da tecnologia da informação, permitindo a conectividade e interatividade entre indivíduos e grupos.Seguindo o modelo de marketing 3.0, devido ao baixo custo das mídias sociais, e por serem cenário onde as próprias pessoas se organizam, observa-se tendência de serem delas o futuro da comunicação de marketing. Apoiado pelas mídias sociais, o marketing horizontal é uma constante quando analisamos o corpo da era 3.0. O conceito de horizontalidade referese à multiplicação de informação, que caminha de consumidor para consumidor tomando grandes proporções. Esse tipo de mídia adquire relevância usada em paralelo aos esforços verticais, que se estabelecem entre empresa e consumidor diretamente, como na publicidade em TV, rádio, impressos, onde a comunicação é de mão única. Em trecho da obra Marketing 3.0, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010, p.9), trazem considerações sobre a prática. 42 À medida que as mídias sociais se tornarem cada vez mais expressivas, os consumidores poderão, cada vez mais, influenciar outros consumidores com suas opiniões e experiências. A influência que a propaganda corporativa tem em moldar o comportamento de compra diminuirá proporcionalmente. Além disso, os consumidores estão participando mais de outras atividades como videogames, assistindo a DVDs e usando o computador, portanto, estão expostos a menos anúncios. Os consumidores e seus papéis estão mudando, eles não mais são indivíduos isolados, hoje se conectam e trocam informações. Suas decisões são fundamentadas em sólidas informações e se mostram mais ativos do que passivos, gerando feedback útil para as empresas. Podemos então afirmar que o marketing evolui, na primeira fase o foco eram as vendas. Na segunda fase, o marketing era voltado ao relacionamento com o consumidor, com o objetivo de aumentar suas compras. Na terceira fase a participação dos clientes no desenvolvimento de produtos e difusão de informações a respeito deles é uma realidade. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). Esses elementos abordados são importantes características do marketing colaborativo, citado acima, parcela significativa integrante da realidade na era 3.0. Impulsionada pela força da tecnologia, a globalização se mostra importante no universo do marketing. Ela alcança a todos ao redor do mundo, criando uma economia interligada. A tecnologia e suas possibilidades trazem para a realidade das empresas e pessoas os paradoxos da globalização, em especial o paradoxo sociocultural. Os indivíduos se sentem pressionados para serem cidadãos globais e não mais só locais, e o resultado disso é uma ansiedade gerada pelos valores conflitantes existentes entre as realidades. Há considerações importantes de Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010, p.16), sobre a globalização e a importância de sua compreensão para o marketing 3.0: Para desenvolver uma campanha culturalmente relevante, os profissionais de marketing precisam entender um pouco de antropologia e sociologia. Devem ser capazes de reconhecer paradoxos culturais que talvez não sejam óbvios. Isso é difícil, pois os paradoxos culturais não são algo sobre o qual as pessoas 43 normalmente conversem. Os consumidores afetados pelas campanhas culturais são maioria, mas são uma maioria silenciosa. Sentem os paradoxos, mas não os confrontam, a não ser que uma marca cultural os aborde. O marketing no modelo 3.0 insere questões culturais no âmago do modelo de negócios da empresa, demonstrando preocupação com o bem-estar das comunidades ao seu redor, os consumidores, empregados, parceiros e acionistas. Outro pilar desta era abordada por Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), é a inserção da sociedade criativa como propulsor de negócios e oportunidades no ambiente do marketing. Embora o total de pessoas criativas seja muito menor do que o de pessoas da classe trabalhadora, a função dos criativos na sociedade torna-se cada vez mais dominante. Os autores fazem considerações diretas a respeito dos indivíduos criativos. No mundo colaborativo influenciado pela nova onda de tecnologia, funcionam como eixos centrais que conectam os consumidores entre si. São os consumidores mais expressivos e mais colaborativos que mais utilizam as mídias sociais. Com seu estilo de vida e suas atitudes, influenciam a sociedade de modo geral. Suas opiniões a respeito dos paradoxos da globalização e dos problemas da sociedade moldam as opiniões dos outros. (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010, p.19). Não é difícil observar atitudes neste sentido. Quando uma pessoa produz um vídeo, faz a edição e o veicula na internet, está automaticamente gerando conteúdo criativo, com seus pontos de vistas e gostos pessoais, que tende a influenciar a quem assiste, e caso o espectador esteja alinhado com os valores do produtor, torna-se pré-disposto a absorver e compartilhar o conteúdo. Em parte das produções individuais, sem intuito profissional, pode se observar a inserção espontânea de produtos e marcas. Por exemplo, quando um atleta amador faz um vídeo seu; todos os produtos que estiver usando no momento vão estar visíveis no vídeo, automaticamente associando valor aos produtos, sendo positivo na maioria dos casos, pois esses valores 44 usualmente se alinham aos pretendidos pelas marcas fabricantes dos produtos para prática de tais esportes. Esse conceito de marketing horizontal, alimentado pelas plataformas sociais instiga as marcas a investirem em produções de fotos, aplicativos e em especial vídeos direcionados aos compartilhamentos virtuais. Nesses vídeos a identidade da marca, suas missões e valores procuram estar totalmente alinhados com os anseios do consumidor, e é nesse formato que se observa grandes apostas de empresas do segmento esportivo pelo mundo. Esse modelo além de ser usado por grandes empresas permite que empresas com menos capital para investimento em mídias tracionais (TV, rádio, revistas, outdoors) explorem seus nichos de mercado com investimentos menos vigorosos. Na maioria dos casos esses vídeos e outros materiais adaptados a internet e as redes sociais, são elementos de apoio a outras estratégias de marketing, mas são elas que permitem estreitamento do relacionamento entre o anunciante e patrocinador, com o difusor e possível consumidor dos produtos da empresa. Hoje existem produtoras especializadas em esportes radicais ao redor do Globo, como a VAS Entertainment, Life Cycle, Nwd Films, entre outras, que alimentam esse modelo de produção e difusão 3.0 de entretenimento e mensagem. Os anunciantes que adotam o modelo normalmente são empresas ligadas aos produtos de performance, vestuário, comunicação ,alimentos, bebidas ,eventos, entre outros que procuram se vincular aos valores esportivos.Fortalecendo a prática existem eventos para premiações específicas para produções deste meio, como a que acontece no Brasil,a Rocky espirit , realizado pela editora da revista GO outside e Hardcore, nomes importantes no cenário do esporte outdoor nacional. Esse cenário de compartilhamentos criado pelas interfaces sociais na internet, como o facebook, twitter, youtube, blogs e similares, permite levar a prática da troca de informações, conhecida popularmente como boca-a-boca, a outros níveis. Isso se dá, quando uma pessoa é capaz de compartilhar determinado conteúdo, produzido especialmente com a intenção de que seja compartilhado um a um. Essa técnica, também denominada de marketing viral, é aquele em que um indivíduo tende a informar outro indivíduo a respeito de algum produto,evento ou experiência através de vídeos e imagens 45 produzidos por um produto ou marca, promovendo e disseminando, consequentemente valores e posicionamentos que as marcas envolvidas sustentam. Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010, p.34), exploram objetivamente os fenômenos que sustentam as afirmações acima em trecho de sua obra Marketing 3.0: Hoje, existe mais confiança nos relacionamentos horizontais do que nos verticais. Os consumidores acreditam mais uns nos outros do que nas empresas. A ascensão das mídias sociais é apenas o reflexo da migração da confiança dos consumidores das empresas para outros consumidores. De acordo com a Nielsen Global Survey, menos consumidores confiam na propaganda gerada por empresas. Os consumidores voltam-se para o boca-a-boca como uma maneira nova e confiável de propaganda. Testemunhamos o crescimento do marketing 3.0 hoje. Este cenário só pode ser observado após a evolução de uma série de fatores que influenciaram os consumidores a agirem da forma como agem atualmente. Junto à evolução do consumidor, os profissionais de marketing devem evoluir, e agregar novas estratégias e propostas, de acordo com as necessidades e possibilidades de sua realidade. Em um ambiente como o do marketing, é vital que se considere os fatores culturais e sociais que levam as práticas atuais, buscando estar sempre alinhado com as estratégias atuais, para otimizar as práticas e maximizar o resultados. 46 5 O MARKETING ESPORTIVO O marketing esportivo é uma vertente do marketing, implicitamente ligada aos fenômenos de comunicação de massa e espetacularização, pois o esporte cada vez mais se torna parte desse universo devido a sua grande exposição na mídia de massa juntamente a todas as outras mídias de apoio, criando uma força paralela à mídia convencional. Frente à evolução social e midiática é nesse ambiente que o marketing desenvolve suas atividades no universo esportivo. Neste capítulo pretende-se expor brevemente as facetas que o cenário observado propicia aos profissionais responsáveis pelas práticas publicitárias e comerciais. É possível definir o marketing esportivo de forma sucinta e direta. Segundo Afif (2000), economista e administrador esportivo, seria o marketing esportivo uma composição de todas as estratégias traçadas por uma organização em um planejamento que se utiliza do esporte como meio para alcançar suas metas e objetivos. As possibilidades são várias desde o patrocínio de um clube que estampe a marca da organização na camiseta, o uso da imagem de um atleta famoso para divulgação de uma campanha, licenciamento de produtos com a identidade do clube ou atleta entre outras possibilidades. Ainda acerca da definição do marketing esportivo, segundo Melo Neto (2007), trata-se de um tipo de marketing promocional que tem o objetivo de estabelecer um diferencial capaz de trazer proximidade entre o consumidor e os produtos/marca. Explorando ainda a obra de Afif (2000), podemos afirmar que o marketing esportivo se mostra muito eficaz, por estar atrelado às emoções que o esporte propicia. Isso se explica quando analisamos a estrutura do esporte enquanto prática entendida como atividade lúdica, que em contrapartida se baseia na catarse de um e desgraça do outro, leia-se ganhador e perdedor. Evidencia-se então, ser instrumento de lazer e entretenimento trazendo a emoção do espectador à tona, sentimento esse subjetivo, que alguns produtos, marcas ou posicionamentos podem ser inseridos. Essas inserções 47 das marcas dentro do ambiente esportivo fortalecem os vínculos por estarem ligado aos signos que o esporte representa, justamente no momento de contato da marca ou produto com o receptor/consumidor. A emoção gerada pelo esporte é a mesma que a publicidade televisiva, por exemplo, tem de produzir para anunciar algo, vantagem essa que o esporte já contempla por natureza, evidenciado-se ambiente viável a implantação do marketing. Em trecho de sua obra, Melo Neto (2007, p.34), faz considerações a respeito do ambiente que o esporte espetáculo propicia. “É mais do que sabido que a emoção e a beleza do esporte agregam valor comercial e, sobretudo, estético às marcas dos seus patrocinadores”. Segundo Zouain e Chaitaignier (2008), a práticas acerca do marketing esportivo se dão em duas vertentes principais; o marketing de produtos esportivos e serviços direcionados ao consumidor de esporte e o marketing de outros produtos de consumo, industrial e de serviços, promovidos pelo esporte. O consumidor que se envolve com esporte de forma a praticar, assistir, ouvir, ler, colecionar ou escrever sobre o assunto é considerado consumidor do esporte, e tende a absorver diretamente os conteúdos de promoção vinculados a produtos esportivos, programas e editoriais sobre o assunto. Em segundo momento, outros produtos não diretamente ligados as práticas esportivas, também se utilizam do esporte para comunicar-se com seu público. Ao apostar na associação do produto com times, atletas ou eventos em destaque no segmento, as empresas buscam associar os valores contidos no esporte com o produto, além de multiplicar as inserções da marca ou produto no ambiente do consumidor, agindo assim diretamente na promoção de determinado produto, esta prática sendo considerada o marketing de outros produtos promovidos pelo esporte. Zouain e Chataignier (2008, p.2), fazem considerações em sua obra a respeito do objetivo do marketing inserido no esporte, e a promoção de produtos, marcas ou serviços. O objetivo do marketing esportivo, neste caso, é o de estimular a demanda pelos produtos ou serviços da marca ou da empresa patrocinadora do esporte. E tal fato é então realizado através de 48 visibilidade, quando se procura projetar e reforçar a marca da companhia ou do produto; transfere-se a imagem junto com os atributos do produto, ou seja, tenta-se fazer associações entre o produto que se tem para vender e um determinado esporte, clube ou ídolo. 5.1 A INDÚSTRIA DO ESPORTE Segundo Zouain e Chaitaignier (2008), a indústria do esporte pode ser entendida como o mercado dos produtos oferecidos aos consumidores para prática ou que se relacionam com o esporte, fitness, recreação ou lazer, além de poder incluir atividades, bens, serviços, pessoas, lugares ou idéias. A divisão de segmentos no mercado esportivo é explorado por Pitts, Fielding e Miller (1994 apud ZOUAIN; CHAITAIGNIER, 2008, p.3), que citam a divisão de segmentos no mercado esportivo em três grandes categorias, assim apresentadas: -Performance esportiva: inclui todos os elementos relacionados a assistir eventos ou deles participar, sejam como amador ou profissional.Exemplo: educação esportiva, organizações esportivas ou programas esportivos que não visam lucro. -Produção esportiva: inclui os produtos necessários para a realização da performance esportiva.Alguns dos elementos que compõem esse segmento são equipamentos e trajes esportivos, bem como serviços que otimizem a performance ( treinadores, médicos, terapia esportiva, administração esportiva ); -Promoção esportiva: apresenta segmentos relacionados à promoção do esporte: a mídia esportiva, e o merchandising, os patrocínios e o suporte financeiro a atletas. Segundo Zouain e Chaitaignier (2008), além da óbvia associação dos produtos de performance e produção esportiva ao esporte, a promoção esportiva em outros setores é amplamente observada na atualidade. Devido a prática esportiva ser associada à saúde, o praticante de esporte é tido como individuo saudável e motiva associação positiva e a aprovação social. O ambiente esportivo além de simbolizar elementos de saúde e bem estar tem sido valorizado também por ter característica social, familiar e fraterna. 49 Pode se afirmar que a indústria do esporte é forte e versátil, criando possibilidades benéficas para as empresas que atuam diretamente no segmento ou não. Em busca de sucesso comercial, cabe as empresas inclusas no processo encontrar o filão de esporte mais adequado ao seu objetivo e implementar as estratégias mais viáveis a sua realidade.A respeito das inserções no ambiente esportivo podemos recorrer a Chaitaignier (2004 apud ZOUAIN; CHAITAIGNIER, 2008, p.3), que trazem considerações relevantes ao assunto: “[...] para se saber em que esportes investir, precisa-se, basicamente, procurar um público que coincida com o público-alvo da companhia e onde os atributos daquele esporte sejam compatíveis aos da marca que se quer promover.” 5.2 SEGMENTAÇÃO Segundo Melo Neto (2007), a segmentação é uma estratégia de marketing por meio da qual as empresas identificam partes do mercado para as quais suas ações promocionais devem ser focadas. Ainda segundo o autor, o esporte favorece a abordagem segmentada pelas empresas, por possuir possibilidades amplas, com uma variedade enorme de modalidades, praticadas por diferentes públicos. Se a empresa procura um ambiente com público idoso, existem esportes como o golf, se procura público jovem, pode encontrar em esportes de praia ou de rua. Há ainda possibilidade de segmentação por idade, sexo, renda ou região, pois cada perfil desses costuma praticar esportes peculiares justamente devido aos fatores acima, criando um cenário excelente para comunicação com o público alvo desejado. Em trecho de sua obra, Melo Neto (2007, p.31), faz considerações a respeito da segmentação que o esporte pode oferecer: “[...] a segmentação é a maior vantagem do marketing esportivo. É o que lhe confere atributo de plus, pois ele proporciona um alto grau de segmentação dentro do universo social.” Afif (2000), afirma ainda que o marketing esportivo mostra sua força 50 enquanto estratégia de sucesso, constatando sua prática eficiente e viável quando inserido nas várias modalidades esportivas podendo, assim, atingir o público alvo ao qual a mensagem é destinada, segmentação essa, fundamental a um projeto de marketing. 5.3 ESPORTE COMO MÍDIA Segundo Melo Neto (2007), o marketing esportivo se comporta como comunicação alternativa, porque se apresenta como uma alternativa à propaganda convencional. Quando um patrocinador investe em seu atleta, clube ou evento ele está investindo em mídia e promoção de seus valores, pois o esporte por si só tem espaço reservado em qualquer veículo de comunicação. Ainda explorando suas possibilidades, o marketing esportivo se mostra boa opção à mídia convencional, pois, muitas vezes ao se patrocinar um clube ou mesmo um evento esportivo a marca ou produto anunciado aparece em outros meios de comunicação como televisão, jornal ou revista de forma secundária, devido a vitória do time ou sucesso do atleta, sem ônus adicional ao anunciante, que em contrapartida se tivesse que pagar pelo espaço nas mídias convencionais estaria empenhando verbas muitas vezes muito maiores que as destinadas a campanha enraizada no esporte. (MELO NETO, 2007). A segmentação e regionalização encontradas no marketing esportivo também têm grande importância pois propiciam ao anunciante se posicionar em ambiente fiel ao público que pretende atingir. Melo Neto (2007, p.27), cita as possibilidades cabíveis ao cenário: O segredo do sucesso, no marketing esportivo, é saber compatibilizar a modalidade esportiva adequada a estratégia de mercado da empresa patrocinadora e ao seu perfil institucional. É neste aspecto que reside sua força como mídia alternativa. Os seus custos (cotas de patrocínio, produção e compra de merchandising etc.) são inferiores aos elevados gastos de propaganda através da mídia convencional. 51 5.4 A NATUREZA DO MARKETING ESPORTIVO Segundo Melo Neto (2007), as empresas que investem no marketing esportivo são em sua maioria detentoras de marcas fortes e estão em busca de novos meios de comunicação para seus esforços. O esporte é usado como mídia alternativa para o reforço e disseminação da marca e melhoria de sua imagem. Nessa lógica, os investimentos publicitários na promoção por meio do marketing esportivo resultam em retornos significativos sobre as vendas e associações da marca pelo consumidor. Figura 3 – Retorno publicitário - Divulgação Fonte: Melo Neto (2007, p.28). De acordo com Melo Neto (2007), uma empresa ao associar o seu nome a um ambiente esportivo, torna o posicionamento da marca ou produto elemento chave na estratégia de valorização, divulgação ou rejuvenescimento do serviço ou produto. Logo se observa no esporte um cenário onde a 52 imagem, um elemento importantíssimo para as empresas, pode ser trabalhada com excelência. 5.5 COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA Impulsionado pelos processos comunicação de massa e espetacularização, observamos o esporte como uma mídia alternativa. A marca e ou produto pode ser exposta de diversas formas, seja nos uniformes dos atletas, na publicidade estática inserida nos locais de competição, patrocínio de eventos e através de outras modalidades como merchandising, tendo cada esporte e cada produto suas peculiaridades. Consideramos o esporte como mídia alternativa, pois é uma alternativa à propaganda comercial. (MELO NETO, 2007). 5.6 ATLETAS E A PUBLICIDADE Não é só nas práticas esportivas que o esporte traduz suas possibilidades, a mídia e a publicidade têm carinho especial com os ídolos do esporte, em trecho de sua obra Melo Neto (2007, p.53), cita a relação entre os atletas e a publicidade: Bons atores e bons vendedores. É assim que pensam os publicitários sobre os atletas. Segundo eles, os atletas possuem qualidades que os tornam bons atores e vendedores: são bem articulados, simpáticos, empáticos e, principalmente, estão sempre em evidência. Inúmeros casos de sucesso se observam nos moldes citados acima, 53 mas, em especial um deles, pode-se dizer ser, segundo Melo Neto (2007), o maior exemplo de identificação perfeita entre a imagem do atleta e a imagem do anunciante, que foi o uso da imagem do atleta de F-1 Ayrton Senna como garoto propaganda do banco Nacional. (MELO NETO, 2007, P.56). “O esporte como gancho de campanhas publicitárias é um filão muito bem explorado pelas agências de propaganda e seus clientes, e tudo indica que tal prática vai continuar.” Não são poucas as vertentes as quais o marketing esportivo pode se posicionar. Pode se fazer valer entre outras, de estratégias de suporte, utilizando o esporte e determinada estratégia, traduzindo ações para reforço de lembrança de marca em seus receptores, reforço de imagem institucional, lançamento de produto, rejuvenescimento da marca, entre outras possibilidades. As mídias contribuem muito para o sucesso dessa estratégia de marketing, pois estão intimamente ligadas ao esporte desde muito tempo, inserindo o esporte em sua grade de programação. Tal divulgação abre espaço para ações paralelas ao esporte espetáculo, assim grandes massas são mobilizadas em torno do tema e, conseqüentemente, dos produtos, serviços ou marcas envolvidos. 5.7 O CASO JORDAN Para apoiar e exemplificar a força desse processo podemos analisar um caso de sucesso absoluto, exposto na obra de Afif (2000). Nela revela-se o sucesso da estratégia ligada ao marketing esportivo envolvendo o jogador de basquete da liga nacional norte-americana, (NBA), Michael Jordan, que além de títulos, trouxe milhares de dólares ao seu time, para a própria federação e a seus patrocinadores. Respaldado por grandes investimentos de marketing, Jordan pôde mostrar ao mundo o potencial de um atleta como ídolo e mobilizador de massas. Além de cifras milionárias envolvidas em suas atuações em quadra, o atleta agregou a todo esse universo uma linha variada de artigos com sua marca, observando essa possibilidade, a NIKE, uma das 54 maiores fabricantes de artigos esportivos do mundo, criou em 1997 uma divisão específica para artigos esportivos com o nome do atleta, com sucesso instantâneo rendendo a ela somente com o tênis Air Jordan, por exemplo, 2,6 bilhões de dólares. Mesmo depois de sua aposentadoria o jogador permanece com seu nome em uma linha exclusiva de roupas que continua no topo de vendas no seu segmento. Afif (2000, p.187), aborda o caso do jogador: A realidade é que Michael Jordan é uma poderosa máquina de fazer dinheiro. O filme Space Jam – O jogo do século em que o astro contracenou com personagens de desenho animado como Pernalonga, alcançou faturamento de 230 milhões de dólares com bilheteria e 209 milhões de dólares com a comercialização de vídeos. A história de Jordan em vídeo teve 4 milhões de cópias vendidas, gerando faturamento de 80 milhões de dólares,enquanto as vendas do perfume com sua marca renderam 150 milhões de dólares. Sendo esses dados somente uma parcela do que o astro representa na economia mundial, sabe-se que até hoje o nome do atleta movimenta bilhões de dólares com sua marca e licenciamentos. Tendo em vista uma parcela dos números significantes no sucesso da história comercial e publicitária de Jordan, fica claro que com o uso de estratégias de marketing esportivo, embasadas em grandes esforços e investimento em mídias de massa que valorizam o esporte, como no caso da NBA, pode-se atingir força de mensagem e mobilização suficientemente fortes para trazer muito retorno aos envolvidos no processo. 55 6 APONTAMENTOS FINAIS Entre outros processos, em especial os de comunicação de massa e espetaculizaração, foram responsáveis por formar ao longo do tempo o conteúdo cultural que baseia a percepção do consumidor acerca dos esportes. Essa cultura compartilhada dá subsídios à prática do marketing esportivo com eficácia, portanto compreender os fatores que contribuíram e contribuem para a realidade do marketing esportivo, se mostra importante no desenvolvimento de considerações no ambiente que observamos hoje. Os veículos de comunicação de massa fomentam a cultura que hoje cultivamos. É essa cultura partilhada, passando pelos espetáculos e suas peculiaridades, que contribuiu para o formato de marketing que é praticado hoje. Entender um pouco de Sociologia, Antropologia e dos fenômenos ligados a este ambiente e de fundamental importância para nos situarmos em relação aos processos que podem ser desenvolvidos na sociedade constante e na cultura, por isso o que ontem se observava, hoje pode não se constatar de forma idêntica, porém cada etapa percorrida nessa evolução tem influência em sua etapa posterior. Logo, agregar o máximo de informações específicas acerca, aqui especificamente, do marketing esportivo e de seu ambiente, se mostrou fundamental para levantarmos com clareza, questões atuais relevantes às práticas profissionais e acadêmicas. O ambiente analisado ao longo do processo social e de comunicação se mostra hoje favorável à aplicação de estratégias ao universo comercial de circulação de bens e serviços. É através deste ambiente construído, que a atual economia se movimenta. São inúmeras as possibilidades de formatos para a troca de valor e movimentação de informação com intenção mercadológica e ou de difusão de mensagem. As teorias, inicialmente abordadas neste trabalho, destacam tendências à absorção passiva de mensagem difundida pela comunicação de massa, alienação e esquecimento cultural do público exposto às mensagens produzidas e divulgadas em larga escala. No decorrer da pesquisa, e seguindo o foco do trabalho, constatouse que há em contrapartida, uma preocupação do proposto marketing 3.0 contemporâneo em relação ao ser humano, demonstrada quando se discutiu a 56 evolução do marketing. Constatou-se que não mais o produto, ou o cliente deve ser foco de seus maiores esforços, temos como modelo atual do marketing, a preocupação em elaborar estratégias que alimentem os anseios e ansiedades de bem estar social no marketing 3.0, não menos focado em vendas, porém trabalhando o posicionamento e engajamento da marca em prol de um bem maior, perseguido pelo consumidor, criando valores tangíveis na mente do mesmo, traduzindo os esforços em vendas. Ou seja, a evolução dos meios e conceitos, não mais privilegia a força industrial exclusiva para a venda de produtos. Agora, devido à própria evolução antropológica, histórica e cultural, o marketing se torna socialmente ativo, tendo como estratégia principal o relacionamento transparente e engajado na realidade de cada comunidade. Algumas propostas abordadas se mostram muito alinhadas com as tendências da atualidade, ao elaborar considerações sobre marketing horizontal e o uso das plataformas sociais na internet, constatou-se a grande relevância das mesmas, pois a estratégia se mostra viável a muitos níveis de planejamento de grandes e pequenas empresas, dentro do marketing esportivo ou fora dele, modelo este importante em muitas áreas; comercial, institucional e de promoção de produtos, serviços, marcas ou ideais. O marketing 3.0 e o esporte se mostraram fortemente ligados no decorrer das constatações. Quando o esporte aparece ligado às preocupações sociais do modelo 3.0, fica claro que cada vez mais as duas atividades estão ligadas. Quando por meio do esporte o marketing incentiva bons hábitos, como a prática de exercícios diários, em prol da saúde e controle da obesidade, encontramos forte ligação entre os conceitos. Em eventos esportivos também observamos os ideais de convívio social saudável, integração, respeito e incentivo cultural, preceitos estes condizentes ao modelo de marketing 3.0. A evolução é a constante que norteou esse estudo, como podemos observar muitas empresas praticam o marketing 2.0 em suas realidades. As empresas com visão mercadológica e empreendedora estão, na atualidade, se tornando cada vez mais empresas 3.0, e investindo em seus conceitos e diretrizes. No esporte as tendências são seguidas, pois como constatado, o marketing esportivo se mostra estratégia consolidada para promoção de produtos, serviços ou marcas. Administradores do esporte, profissionais de marketing, estudantes de 57 comunicação, profissionais de sociologia, cada qual em sua prática, encontrarão pontos de relevância significativa nos conceitos aqui expostos. 58 REFERÊNCIAS AFIF, A. A bola da vez: o marketing esportivo como estratégia de sucesso. São Paulo: Gente, 2000. BOURG, J.;GOUGUET,J. 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