O CONCEITO DE BIOPOLÍTICA EM ROBERTO ESPOSITO Bruna Rodrigues Eziquiél (Bolsa Fundação Araucária/Inclusão Social), Marcos Alexandre Nalli, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/ Departamento de Filosofia/CCH. Área e sub-área do conhecimento: Filosofia/Ética. Palavras-chave: Biopolítica; Morte; Esposito. Resumo O presente estudo teve como objetivo reconstruir e analisar os principais argumentos do filósofo italiano Roberto Esposito sobre o conceito de biopoder e investigar o extremo limite da utilização desse poder ao gerar a morte. Desse modo, foi proposta uma investigação para compreender suas reflexões em contraponto com o filósofo Michel Foucault, de modo a identificar as semelhanças e diferenças de interpretação sobre o tema da biopolítica. Introdução e objetivo Em 1976, Michael Foucault apresenta como uma nova abordagem para análise das relações de poder: o conceito de Biopolítica. Foucault trata sua analítica sobre o tema Biopoder em dois principais textos “Em Defesa da Sociedade” (1997) em sua aula de 17 de março, uma lição de um dos seus cursos em Collège de France, e no livro “A Vontade de Saber” (1988). Foucault ao abandonar suas investigações demasiadamente no poder disciplinar, descreve o conceito de biopoder como complemento deste poder que durou até o final do século XVIII, mas que possui uma nova estratégia. Não mais centrando no adestramento do corpo do individuo, o biopoder tem como alvo gerar e sustentar o homem como espécie, ao nível de população. Para isso, o biopoder vai criar estratégias para promover a vida, porém consequentemente criará um paradoxo, pois para garantir a vida da população, também pode produzir morte. Essa nova técnica de poder que se instaura na segunda metade do século XVIII, irá explorar seu poder e tomar suas decisões visando esse novo ser politico: a população. Dessa forma, todos os mecanismos se centralizam nos processos de natalidade, de longevidade, de mortalidade, doenças, em questões econômicas e entre outros pontos que são atribuídos a vida da população. A administração do biopoder, paradoxalmente, também produz a 1 morte. A morte não será evitada na sua totalidade, mas será evitada no nível do aceitável. Nessa faceta dual do biopoder, Roberto Esposito em seu livro Bíos, biopolítica e filosofia (2004), crítica Foucault por essa interpretação onde ele não resolve o que Esposito nomeou de “enigma da biopolítica”, no fato: de como a biopolítica que tem por finalidade a proteção da vida, como ela pode gerar morte, sendo a morte o extremo limite do seu poder. Apesar de ser Foucault quem deu a definição do conceito de Biopolítica, vamos focar no filosofo italiano Roberto Esposito, na sua obra “Bíos, biopolítica e filosofia” de 2004 para responder a nossa questão. E iremos analisar algumas obras de outros filósofos. Em relação ao Michael Foulcault se tenta compreender a sua relação com a morte na biopolítica. Já em Roberto Esposito, iremos analisar o que ele chamou de “paradigma imunitário” e defende que é “proteção negativa da vida”. Para que a biopolítica se apresente como uma filosofia de vida e não como tanatopolitica e entender como a morte cabe no nível do aceitável nesse campo. Sendo assim, o objetivo do estudo é compreender e analisar como o conceito de biopoder se dá nos trabalhos de Roberto Esposito e de Michel Foucault, identificando seus pontos de contato e suas singularidades conceituais e argumentativas. Procedimentos metodológicos A metodologia empregada foi revisão bibliográfica realizada através de leitura, fichamento e análise textual. Resultados e discussão No livro Biós, Biopolítica e Filosofia (2004) de Esposito, trabalhado durante a vigência do projeto, segundo o pensador italiano, Foucault teria passado e não resolvido pelo problema e “enigma da biopolítica”, como chama Esposito. Para ele a interpretação Foulcaultiana seria dual, pois como a biopolítica que tem por finalidade proteger e gerar vida, também pode produzir morte. Conclusão Roberto Esposito defende a tese de que a biopolítica se articula em torno da categoria da imunidade. A imunização é um processo biológico que defende o corpo de resistência natural ou adquirida de um organismo vivo a um agente de proteção introduzindo aquilo contra o que se defende. O filosofo italiano mostra 2 que as sociedades modernas são sociedades imunitárias porque injetaram nas relações sociais o princípio do “próprio”, da propriedade e o direito de apropriação como manutenção e defesa da vida contra o outro. Isso funciona nas sociedades modernas como “antídoto” biopolítico contra o perigo do outro/algo. Mas uma consequência inevitável da imunização contra o outro é que a única garantia do direito é a pratica da violência. O direito a violência torna-se o dispositivo imunitário que defende com o mesmo objeto que o ameaça. A solução que ele apresenta seria o que ele denominou “paradigma imunitário”: tal como o sistema imunológico de um organismo, a imunização política é uma “proteção negativa da vida” (Esposito, 2004: XIII; 2010b: 24). Esposito acredita que na biopolítica a relação entre vida e morte se encontra ligado de modo íntimo e necessário, é inerente entre uma e outra. O aparente paradoxal e enigma, a partir desse quadro de necessidade recíproca apresentado por Esposíto, a morte é vista como um fenômeno da vida, consequência imanente do exercício da biopolítica. E pode ter caráter técnico, não seria um fenômeno natural da biopolítica, mas um efeito e produto, dessa maneira pode se ter múltiplas estratégias de poder. E nesse caso, a biopolítica, é entendida biotécnica, a vida como objeto útil do governo. O desafio da biopolítica em nossa contemporaneidade são estudos de pesquisa dos dispositivos de poder e suas técnicas violentas e se apenas geram vítimas. Dessa forma, a biopolítica ainda as justifica (a violência) como potencialidade de bem estar da vida e como gerador da mesma. Agradecimentos Agradeço ao orientador e à Fundação Araucária/Inclusão Social, pelo incentivo e oportunidade. Referências ESPOSITO, Roberto. Bíos: biopolitica e filosofia. Torino: Einaudi, 2004. FOUCAULT, Michel. Il faut défendre la société. Paris : Gallimard ; Seuil, 1997. FOUCAULT, Michel. A Vontade de Saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988. RUIZ, Bartolomé Castor. Genealogia da biopolítica. Legitimações naturalistas e filosofia crítica. Disponível em: <http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article &id=4308&secao=386>. Acesso em: 17/11/2014 3