OBESIDADE E CÂNCER Dra. Rosângela Passos de Jesus e Cecília Santos Rios A prevalência de sobrepeso e obesidade está aumentando rapidamente em todo mundo, especialmente nos países em desenvolvimento e países em transição para a economia de mercado1. Estudos epidemiológicos têm demonstrado que a obesidade é fator de risco para diversas doenças crônicas não transmissíveis, particularmente o câncer. Evidências científicas apontam para forte associação entre obesidade e risco aumentado de câncer de mama, endométrio, cólon, rins e adenomas esofágicos malignos1,2. Os indivíduos obesos têm 1,5 a 3,5 vezes mais chances de desenvolver estes cânceres quando comparados com indivíduos eutróficos. Estima-se que na Europa, aproximadamente 15 a 45% desses cânceres podem ser atribuídos ao sobrepeso (IMC = 25,0 a 29,9kg/m2) e obesidade (IMC≥30 kg/m2)2. Outros estudos sugerem que a obesidade pode aumentar o risco para outros tipos de cânceres, incluindo o de cárdia gástrico, pâncreas, fígado e vesícula biliar1,2. Os mecanismos fisiopatológicos que justificam o risco aumentado para o câncer como resultado da obesidade ainda não estão totalmente esclarecidos, pois podem variar com a localização do tumor e dependem da distribuição da gordura corporal. O risco de complicações metabólicas aumentado substancialmente, definido pela circunferência da cintura 102 cm no gênero masculino e 88 cm no gênero feminino3, e pela razão cintura:quadril (RCQ 0,95 nos homens ou 0,80 nas mulheres), tem sido correlacionado mais fortemente com certos tipos de câncer do que a obesidade definida pelo índice de massa corpórea (IMC), devido a associação desses dois indicadores com a obesidade abdominal. A circunferência da cintura apresenta uma correlação estreita com a quantidade de tecido adiposo visceral, o qual por sua vez, é considerado metabolicamente mais ativo por secretar maior quantidade de citocinas e hormônios em comparação com o tecido adiposo subcutâneo2. Para identificar a veracidade da hipótese relacionada à adiposidade e câncer, diversos estudos clínicos bem conduzidos foram realizados nos últimos anos e os resultados de algumas pesquisas demonstram uma complexa relação entre obesidade, hiperinsulinemia e níveis plasmáticos dos fatores de crescimento relacionados ao eixo da insulina. Os prováveis mecanismos que relacionam a obesidade ao risco de câncer envolvem a resistência à insulina e conseqüente hiperinsulinemia crônica, produção aumentada de fator de crescimento semelhante à insulina (insulin-like growth factor 1, IGF-1) e biodisponibilidade aumentada de hormônios esteróides2. Os hábitos alimentares também estão relacionados ao estímulo excessivo à síntese de IGF-1. Apesar do consumo de leite de vaca e produtos lácteos ser estimulado nos países ocidentais, sabe-se que o consumo da proteína do leite na idade adulta pode promover efeitos adversos a longo prazo, estando relacionada com maioria das doenças crônicas não transmissíveis como o câncer4. A relação entre dieta e níveis plasmáticos de IGF-1 e IGF-3 em 2.109 mulheres sem diagnóstico de câncer foi identificada em um estudo transversal realizado com os controles de uma pesquisa européia sobre câncer de mama. A dieta habitual foi avaliada por meio de questionários validados para inquérito alimentar, e as concentrações plasmáticas de hormônio foram medidas por métodos enzimáticos. A relação entre os níveis de IGF-1, IGFBP-3 e a ingestão alimentar foi investigada por meio de regressão linear ajustada para quantidade de energia ingerida, idade, IMC, tabagismo e atividade física. Os resultados demonstraram que os níveis plasmáticos de IGF-1 apresentaram relação moderada com a ingestão de proteína, de leite e de queijos, enquanto o nível de IGFBP-3 não sofreu influência da alimentação consumida5. A proteína do leite induz hiperinsulinemia pós-prandial e alterações no eixo hormônio do crescimento / fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), resultando no aumento permanente dos níveis plasmáticos de IGF-1. A sinalização insulina/IGF-1 está envolvida na regulação do crescimento fetal, na maturação de células T no timo, no crescimento linear e na patogênese da obesidade e câncer. Além disso, existe a possibilidade da ingestão de leite durante a gestação prejudicar o início da programação fetal do eixo IGF-1 o que irá influenciar consideravelmente os riscos de doenças que a criança poderá desenvolver na idade adulta4. A maioria das adipocinas são moléculas pró-inflamatórias (leptina, resistina e visfatina), as quais podem promover condições fisiopatológicas como a resistência insulínica e o câncer. Por outro lado, estudos recentes têm mostrado que a adiponectina, molécula antiinflamatória secretada pelos adipócitos, melhora a sensibilização da insulina e possui efeito anticarcinogênico6. A redução da adiponectina pode estar relacionada com o desenvolvimento e progressão de diversas neoplasias malignas7. Em contraste à maioria das proteínas secretada pelos adipócitos, a expressão da adiponectina reduz à medida que o tecido adiposo aumenta e sua concentração plasmática encontra-se reduzida em indivíduos obesos ou resistentes à insulina8. A menor produção de adiponectina pode influenciar o risco de câncer devido aos efeitos negativos sobre a atenuação da resistência insulínica, mas também é possível que a adiponectina atue diretamente nas células tumorais7. A adipocina exerce suas funções fisiológicas principalmente pela ativação da via AMP quinase, por meio dos receptores para adiponectina6. Além disso, diversos tipos de células neoplásicas expressam receptores de adiponectinas que podem mediar os efeitos desta adipocina na proliferação celular7. Trabalhos sugerem que hormônios derivados do tecido adiposo, adipocinas (leptina, adiponectina) e marcadores inflamatórios, podem refletir os mecanismos ligados à tumorigênese nos indivíduos obesos2. A figura 1 apresenta esquematicamente os possíveis mecanismos que explicam a relação entre obesidade e câncer. Observa-se que a concentração de adiponectina plasmática, determinada principalmente por fatores genéticos, nutrição e adiposidade, apresenta-se mais baixa em pacientes com câncer de mama, endométrio, próstata e cólon. Portanto, tem sido proposto que a adiponectina seja um elo biológico entre obesidade, principalmente a central, e maior risco para alguns tipos de câncer7. Apresentaremos a seguir, evidências científicas e os mecanismos fisiopatológicos propostos ou já confirmados, que relacionam a obesidade a diversos tipos de neoplasias. Figura 1. Mecanismo geral da relação entre obesidade e tumorigênese. A obesidade central associa-se independentemente à resistência insulínica e, frente à incapacidade deste hormônio em promover a homeostase da glicose e dos lipídios, resulta em hiperinsulinemia. Estes dois fenômenos metabólicos se relacionam com o aumento da biodisponibilidade do fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), com efeitos carcinogênicos já identificados. A insulina interage com o eixo IGF-1 reduzindo a síntese das proteínas ligadoras de IGF-1 (IGFBPs). Por conseguinte, há elevação da biodisponibilidade do IGF-1 e estímulo à tumorigênese. As adipocinas derivadas do tecido adiposo também estão envolvidas no processo de tumorigênese, uma vez que a resistina contrapõe a ação da insulina, aumentando a RI. Além disso, tanto a leptina como a resistina são agentes promotores do crescimento celular. Obesidade central RI Hiperinsulinemia Est ímulo à proliferação prolifera ç ão celular Adipocinas Adipocinas : leptina e resistina Biodisponibilidade Biodisponibilidade Intera Interação ç ão IGF -1 IGF-1 insul insulínica ínica S íntese Síntese IGFBPs IGFBPs Tumorigênese Adaptado de: PISCHON et al, 20082; WAJCHENBERG, 20009; VASQUES & ALFENAS, 200810. 1. Câncer de Mama A obesidade tem sido consistentemente associada ao risco de câncer de mama na fase pós-menopausa e as proteínas que são secretadas pelo tecido adiposo, ou que estão envolvidas na regulação da massa corporal, podem ter um importante efeito no desenvolvimento do tumor de mama11. No intuito de estabelecer uma associação entre diferentes características antropométricas e câncer de mama, foi realizado um estudo de coorte longitudinal prospectivo que avaliou 69.116 mulheres acompanhadas por três anos e seis meses, sendo 275 com câncer de mama prémenopausa e 860 com mesmo tipo de câncer na pós-menopausa. Não foi observada associação positiva entre peso, IMC, circunferência da cintura e RCQ e maior risco para câncer de mama nas mulheres pré-menopausa. No entanto, houve aumento do risco de câncer de mama nas mulheres pós-menopausa que tinham a forma corporal do tipo andróide (RCQ > 0,87). Neste grupo de mulheres todas as medidas antropométricas corporais foram positivamente associadas com o risco de câncer de mama, mas essa relação não se tornou significativa após ajuste adicional para o IMC. Esses resultados confirmaram que a adiposidade central está positivamente associada ao maior risco para câncer de mama no período pós-menopausa12. De forma a ampliar os conhecimentos sobre a relação da adiposidade com o câncer de mama, foi realizado um estudo brasileiro para avaliar a associação entre IMC, CC e RCQ com o nível dos receptores esteróides em mulheres com carcinoma mamário. Foram analisadas 473 mulheres com câncer mamário, estadiamento I a III. Nesta população, os parâmetros antropométricos foram determinados por procedimentos padrões e a expressão dos receptores de estrógeno e progesterona foi avaliada por ensaio imunohistoquímico. Demonstrou-se que a maioria das mulheres tinha obesidade central e tumores que expressaram ao menos um dos receptores hormonais. No entanto, análises multivariadas não demonstraram relação entre IMC, CC e RCQ acima do ideal com a presença de receptores hormonais nas mulheres em pré ou pósmenopausa, indicando que esses parâmetros antropométricos não são bons preditores da presença de receptores hormonais positivos13. Por outro lado, já foi demonstrado em cultura celular que o IGF-1 promove a proliferação de células epiteliais normais da mama e também já foi demonstrada a associação entre a via IGF e carcinogênese mamária em modelos animais. A análise de 6.912 casos, compostos principalmente por mulheres caucasianas com diagnóstico de câncer de mama e 8.891 controles pareados demonstrou a associação entre a variação genética (polimorfismos) do IGF-1, IGFBP1, do IGFBP3 e os valores plasmáticos de IGF-1 e IGFBP-3. Não foram observadas associações entre esses polimorfismos e o risco do câncer de mama, concluindo que o impacto da variação nos genes do IGF-1 e IGFBP3 sobre o aumento dos níveis circulantes do IGF parece não influenciar substancialmente a evolução do câncer de mama em mulheres caucasianas na idade pós-menopausa14. O período pós-menopausa é marcado por alterações importantes nos hormônios sexuais, fatores de crescimento e citocinas. O tecido adiposo expressa enzimas metabolizadoras de esteróides sexuais presentes na gordura subcutânea (aromatases P450). O aumento da transcrição deste complexo enzimático promove a formação de estrogênio quase que exclusivamente a partir de precursores androgênicos secretados pelas glândulas adrenais. Por outro lado, a hiperinsulinemia relacionada à obesidade inibe a secreção hepática de globulinas ligadoras de hormônios sexuais (SHBG), fazendo com que haja um aumento na biodisponibilidade do estradiol previamente sintetizado e da testosterona livre. Os níveis séricos destes hormônios sexuais estão positivamente relacionados com a incidência de câncer de mama na pósmenopausa, uma vez que podem estimular a proliferação celular, inibir a apoptose e iniciar o processo de tumorigênese2. A figura 2 apresenta esquematicamente estes mecanismos que relacionam a obesidade com maior risco de câncer de mama na pós-menopausa. Figura 2. Carcinogênese de mama em mulheres obesas na pós-menopausa. O período pósmenopausa é marcado por alterações importantes nos hormônios sexuais, fatores de crescimento e citocinas que favorecem a proliferação celular, inibem a apoptose e promovem o processo de tumorigênese, aumentando a incidência de câncer de mama na pós-menopausa. Obesidade Alterações em hormônios sexuais, fatores de crescimento e citocinas Transcrição de aromatases P450 na gordura subcutânea Tecido Adiposo Formação de precursores androgênicos Hiperinsulinemia Síntese de estradiol SHBG Proliferação celular Tumorigênese Inibição da apoptose Biodisponibilidade de estradiol e testosterona livre Adaptado de PISCHON et al, 20082. Outras evidências demonstram que as adipocinas, principalmente adiponectina e leptina, também estejam relacionadas ao desenvolvimento do câncer de mama. Geralmente os níveis plasmáticos de adiponectina estão reduzidos em mulheres com diagnóstico de câncer de mama e ensaios in vitro com linhagens celulares humanas deste tipo de câncer demonstraram a ação antiproliferativa da adiponectina. No entanto, níveis plasmáticos elevados de leptina foram associados com o câncer de mama, especialmente aqueles que expressam receptores estrogênicos. Dentro deste contexto, estudo recente demonstrou que a relação adiponectina:leptina apresentou-se reduzida em mulheres com câncer de mama e especula-se que a relação entre essas duas adipocinas seja mais importante na fisiopatologia deste câncer do que as suas concentrações absolutas15. Estudos prévios in vitro demonstraram efeitos opostos da adiponectina e leptina sobre a proliferação celular, sugerindo que estas adipocinas possam estar relacionadas com a patogênese do câncer de mama. Um desses estudos analisou os efeitos sobre a proliferação de cinco linhagens de células de câncer de mama tratadas com quantidades e concentrações diferentes de adiponectina e leptina. Observou-se a redução da proliferação das linhagens MCF-7 e T47-D após o aumento da relação adiponectina:leptina, enquanto foi observado aumento da proliferação das células MDA-MB-231 e MDA-MB-361 tratadas de forma semelhante. Os efeitos da administração de proporções diferentes das adipocinas podem ter especificidade em relação aos mediadores de proliferação, pois as linhagens celulares exibiram respostas diferenciadas aos tratamentos similares, podendo explicar inconsistências nos resultados anteriores relacionados aos níveis plasmáticos de leptina com o câncer de mama16. Estudo caso-controle, com 648 mulheres com câncer de mama no período pós-menopausa e 659 controles, foi realizado para determinar se genes associados com a obesidade estavam relacionados com o aumento do risco para câncer de mama. Polimorfismos de único nucleotídio (SNPs) foram selecionados para identificar as principais variações dos sete genes candidatos que decodificam proteínas relacionadas à adiposidade [receptor beta–2 e 3–adrenérgico (ADRB2 e ADRB3), grelina (GHRL), 11-beta hidroxiesteróide desidrogenase 1 (HSD11B1), substratos do receptor de insulina (IRS1 e IRS2) e proteína de sinalização e transformação (SHC1)]. Os autores usaram modelos de regressão logística para identificar associação entre cada polimorfismo estudado com o risco de câncer de mama e com as medidas de adiposidade no adulto. Observou-se associação significativa entre dois polimorfismos no gene HSD11B1 e o câncer de mama. Dos 11 locos polimórficos estudados para o gene IRS2, três foram associados com câncer de mama. A variante promotora do gene IRS2 (polimorfismo G/C, rs932335) aumentava até uma vez e meia o risco de câncer de mama, quando ocorria a substituição da guanina pela citosina no domínio descrito. No entanto, quando ocorria a variante C/C (citosina/citosina), observava-se o aumento de quase duas vezes no risco para câncer de mama, em relação ao pareamento G/G (guanina/guanina), considerado adequado para este gene. Esses resultados sugerem que os SNPs nas regiões marcadas do genoma (HSD11B1 e IRS2) podem estar associados com maior risco para câncer de mama e que essas associações, provavelmente são independentes da adiposidade17. Na tabela 1 encontram-se os principais genes e polimorfismos relacionados ao maior risco de câncer de mama, identificados neste estudo. Tabela 1: Principais genes e polimorfismos (SNP) relacionados ao risco aumentado de câncer de mama SNP Alelos rs4393158 G/A G/A ou A/A rs17317033 C/C rs2235543 C/T C/T ou T/T HSD11B1 rs11807619 G/T T/T G/T ou T/T rs932335 G/C C/C G/C ou C/C rs9515118 G/C C/C G/C ou C/C rs4773082 T/C C/C T/C ou C/C rs754204 C/T T/T C/T ou T/T rs7987237 C/T T/T C/T ou T/T IRS2 rs2584136 A/A rs9559648 C/T T/T C/T ou T/T rs9559654 G/A A/A G/A ou A/A rs7997595 G/G C/G ou G/G rs7981705 C/T C/T ou T/T rs4773092 G/A A/A G/A ou A/A Adaptado de Feigelson et al, 200817. Casos Controles Odds Ratio (Risco) Valor P 65 67 61 61 1,10 1,14 0,5 9 4 2,16 0,37 143 154 128 141 1,17 1,14 0,32 197 22 219 159 18 177 1,39 1,34 1,38 0,012 0,008 234 30 264 185 20 205 1,52 1,75 1,55 0,0003 0,0002 201 28 229 201 23 224 1,06 1,28 1,08 0,43 0,54 327 156 483 299 146 445 1,43 1,40 1,42 0,024 0,005 328 159 487 315 142 457 1,33 1,43 1,36 0,022 0,015 156 15 171 149 11 160 1,10 1,50 1,13 0,27 0,35 4 3 1,31 0,96 304 66 370 268 73 341 1,29 1,02 1,23 0,27 0,07 248 67 315 250 59 309 1,05 1,19 1,07 0,39 0,52 19 180 9 179 2,24 1,05 0,34 0,68 190 207 164 183 1,25 1,23 0,09 333 132 465 303 117 421 1,24 1,28 1,25 0,12 0,08 2. Câncer de endométrio A obesidade é um importante fator de risco para câncer endometrial, devido à alta prevalência de níveis de estrógeno em mulheres obesas. Esta condição também está associada com níveis elevados de insulina, hormônio com ação estimulante de mitose18. Com objetivo de identificar a relação entre os níveis plasmáticos da insulina, do IGF-1 e o câncer endometrial, foi realizado um estudo de coorte prospectivo com 93.676 mulheres na pósmenopausa. Durante o acompanhamento foram selecionados 250 novos casos de câncer de endométrio que foram comparados com 465 mulheres sem diagnóstico de câncer. Os resultados demonstraram associação positiva entre os níveis elevados de insulina e adenocarcinoma de endométrio nas mulheres que não utilizavam terapêutica de reposição hormonal, após ajuste para idade e nível de estradiol. O nível plasmático de IGF-1 livre apresentou relação inversa com o risco de adenocarcinoma de endométrio após os ajustes necessários para idade, uso de terapia hormonal e nível de estradiol. Chama a atenção que ambas as associações foram mais fortes nas mulheres com sobrepeso e obesidade, principalmente para a hiperinsulinemia, que foi fortemente associada com maior risco de câncer de endométrio, independentemente dos níveis de estradiol19. Esses resultados reforçam a idéia de que maior adiposidade, hiperinsulinemia e baixos níveis plasmáticos de IGF-1 estão envolvidos nos mecanismos fisiopatológicos do câncer de endométrio. 3. Câncer de Próstata O câncer de próstata está relacionado com a idade, sendo muito raramente diagnosticado em homens com idade inferior a 50 anos. Aproximadamente 85% dos casos ocorrem em indivíduos com idade acima de 65 anos. No entanto, os resultados dos estudos realizados para demonstrar a associação entre obesidade e câncer de próstata tem sido conflitantes2. Estudo epidemiológico realizado com 5.667 homens acompanhados por sete anos identificou que a obesidade, principalmente a abdominal, estava associada com o maior risco para a hiperplasia prostática benigna. Baseado nestas evidências sugere-se que a perda de peso pode ser útil durante o tratamento ou mesmo na prevenção da hiperplasia prostática benigna20. O envelhecimento e a obesidade estão relacionados com maior risco de hiperplasia prostática por reduzir as concentrações de testosterona que, por sua vez, predispõe a deposição preferencial de gordura visceral. O aumento da obesidade abdominal também induz a maior pressão intra-abdominal, o que provoca aumento da pressão venosa ao longo do tempo. A elevação da pressão venosa intra-abdominal de forma crônica provoca uma progressiva incapacidade das válvulas das veias internas, o que caracteriza a insuficiência venosa e promove lesões na próstata. Essas alterações na função venosa podem favorecer e causar doença progressiva crônica da próstata, a qual pode evoluir para hiperplasia prostática21. A relação entre obesidade, níveis plasmáticos de adiponectina, leptina, peptídeo-C e o aumento do risco para hiperplasia prostática benigna sintomática (HPBS) foi pesquisada em 698 homens que participaram de um programa para prevenção do câncer de próstata. Os resultados não demonstraram associação entre os níveis plasmáticos de peptídeo-C e leptina com o risco para HPBS. No entanto, houve associação inversa significante entre os níveis plasmáticos de adiponectina e menor risco para hiperplasia prostática benigna nos pacientes que exerciam atividade física moderada a muito ativa. No entanto, nenhuma associação foi encontrada nos indivíduos sedentários ou pouco ativos. Esses resultados demonstram que concentrações mais elevadas de adiponectina estão associadas com menor risco para hiperplasia prostática benigna, apenas em indivíduos mais ativos, sugerindo que a relação entre obesidade e HPBS envolve uma complexa interação entre os fatores que afetam a captação glicose e sensibilidade à insulina22. Um trabalho clínico identificou que a concentração plasmática de adiponectina em pacientes com câncer de próstata foi significativamente menor quando comparado com controles eutróficos sem câncer de próstata (8,9 x 18,4 mcg/ml). Devido a essas evidências, a adiponectina tem sido apontada como adipocina anti-carcinogênica da próstata23,24. 4. Câncer Cólon-retal A obesidade, sedentarismo e dieta padrão ocidental são fatores associados ao aumento do risco de recorrência e mortalidade para pacientes com câncer cólon-retal ressecado cirurgicamente25. A ingestão excessiva de dietas com alto índice e carga glicêmica induz o aumento da insulina plasmática e aumenta a síntese do IGF1 que, em mulheres obesas, está associado ao maior risco deste tipo de câncer26. Trabalhos indicam uma forte associação positiva entre nível de insulina plasmática e câncer colo-retal, confirmando um aumento de 10 a 40% deste tipo de câncer nos indivíduos com diabetes mellitus27,28. Trabalho retrospectivo realizado com 1.853 pacientes com câncer demonstrou uma proporção significante (50%) de pacientes com idade superior ou igual a 70 anos com diabetes mellitus (DM) no momento do diagnóstico de câncer. Além disso, uma maior percentagem de homens (16,2%) com câncer de cólon tinha diabetes em relação às mulheres com câncer, onde apenas 11,3% apresentavam DM. No entanto, não foi observada relação significativa entre o estadiamento de câncer de cólon e sobrevida com a presença de DM27. Estudo prospectivo transversal, realizado com 299 homens que participaram de um estudo de acompanhamento (coorte) com diagnóstico de pelo menos um adenoma cólon-retal no início do acompanhamento, analisou se os níveis plasmáticos de IGF-1, IGFBP-1 e IGFBP-3 estavam associados com maior risco para recorrência do adenoma. As análises cruzadas demonstraram que os níveis plasmáticos aumentados de IGF-1 apresentaram associação positiva significante com a presença de adenoma. No entanto, observou-se associação inversa entre níveis de IGF-1 e risco de recorrência de adenoma, principalmente nos casos com estadiamento avançado. Estes resultados demonstraram que os níveis plasmáticos elevados do IGF-1 aumentam o risco de adenoma primário no intestino grosso, mas quando o tumor é removido, os maiores níveis de IGF1 reduzem as chances de formação de novas lesões cólon-retais29. A associação entre níveis circulantes de peptídeo-C (marcador sensível da secreção de insulina), IGFBP-1, IGFBP-3 e IGF-1 obtidos no pré-diagnóstico e o índice de mortalidade foi identificada em 373 pacientes com câncer cólon-retal sem metástase. Os resultados demonstraram que, nos pacientes com câncer cólon-retal ressecado cirurgicamente, os níveis plasmáticos elevados de peptídeo-C e reduzidos de IGFBP-1 antes do diagnóstico foram associados com aumento da mortalidade. Portanto, os níveis plasmáticos de insulina e IGFBP-1 plasmáticos podem ser considerados preditores da associação entre indicadores do estilo de vida e mortalidade após ressecção de câncer cólon-retal30. 5. Câncer de Rins A incidência de câncer renal aumentou consideravelmente nos últimos anos31, sendo responsável por 2,5% das causas de morte por câncer em homens e 2,0% em mulheres32. As razões que justificam este fenômeno ainda não estão totalmente esclarecidas, mas certamente incluem os avanços tecnológicos na detecção de tumores assintomáticos e o aumento na prevalência da obesidade. A relação entre IMC, peso corpóreo e risco de câncer renal tem sido examinada em diversos estudos. A maioria deles estabelece a obesidade como fator de risco para este tipo de câncer, mas ainda existe inconsistência em alguns resultados. Trabalhos prévios demonstraram associação positiva entre IMC, peso corpóreo e carcinoma renal, sendo mais forte em mulheres, do que em homens33,34. No entanto, um trabalho de meta-análise realizado posteriormente, encontrou que esta relação é igualmente forte em ambos os sexos35. O mecanismo que estabelece a associação entre sobrepeso, obesidade e carcinoma renal ainda não está totalmente esclarecido, mas provavelmente envolve o aumento da biodisponibilidade de IGF-1. Entretanto, esta hipótese ainda não foi totalmente comprovada em estudos clínicos. A obesidade também está relacionada com o aumento do risco para hipertensão e diabetes, condições que são fatores de risco para carcinoma renal36,37,38. Recentemente, níveis plasmáticos diminuídos de adiponectina foram observados em indivíduos com câncer renal quando comparados com controles saudáveis39. Ressalta-se que esta associação permaneceu significante quando consideradas as diferenças no IMC entre os indivíduos, porém não significante quando considerada a razão cintura:quadril. Portanto, ainda são necessários outros estudos prospectivos para determinar a influência dos principais biomarcadores da obesidade no desenvolvimento do carcinoma renal2. 6. Câncer de Esôfago A incidência de adenocarcinomas esofagianos tem aumentado nas sociedades ocidentais nas últimas décadas, parcialmente devido ao aumento da prevalência da obesidade40. Esta associação foi recentemente confirmada por meta-análise quantitativa que incluiu doze estudos caso-controle e dois estudos de acompanhamento. Os indivíduos com sobrepeso apresentaram maior risco para adenocarcinoma esofagiano, sendo que o risco relativo (odds ratio) foi de 1,8 vezes para homens e 1,5 vezes para mulheres quando comparados a indivíduos eutróficos. Nos indivíduos obesos, observou-se elevação do risco relativo para 2,4 vezes em homens e 2,1 vezes em mulheres quando comparados a indivíduos com peso corpóreo adequado41. Em uma revisão sistemática, a obesidade relacionou-se com refluxo gastro-esofágico (RGE) e esofagite na maioria dos estudos incluídos42. Sabe-se que o RGE é considerado o mais importante fator de risco para adenocarcinoma esofagiano, seja isoladamente ou em combinação com a obesidade43. Além disso, a obesidade está relacionada à esofagite demonstrada por trabalhos clínicos que apresentam dados evidenciando maior proporção de RGE em indivíduos obesos. Essa relação foi confirmada por estudo prospectivo recente, onde a esofagite foi relacionada com fator de risco aumentado em cinco vezes para o desenvolvimento de adenocarcinoma esofagiano44. 7. Câncer de Pâncreas Um número considerável de estudos prospectivos examinou as associações entre medidas da obesidade abdominal (RCQ e circunferência da cintura) e câncer pancreático nos últimos anos45,46. Uma meta-análise recente baseada nos resultados de vinte e um estudos prospectivos independentes, envolvendo um total de 3.495.981 indivíduos e 8.062 pacientes com câncer pancreático, acompanhados por, em média, 13 anos e meio, estimou o risco relativo de desenvolver este tipo de câncer de 1,6 para homens e 1,10 vezes para mulheres a cada aumento de 5 kg/m2 no valor do IMC47. Outro estudo observou associação positiva significante entre as medidas de RCQ, circunferência da cintura e risco para câncer de pâncreas em 438.405 participantes, dos quais 324 desenvolveram o câncer em questão. Neste estudo, o risco relativo foi de 1,13 para o aumento em 10 cm na circunferência da cintura e de 1,24 para o aumento de 0,1 na medida da RCQ48. Uma meta-análise recente envolvendo 32 estudos identificou que indivíduos diabéticos têm risco aumentado em 1,82 vezes de desenvolver câncer de pâncreas quando comparados com indivíduos não-diabéticos, reforçando a hipótese de que o DM está associado com risco elevado de câncer de pâncreas49. Estas evidências demonstram a influência dos fatores relacionados à hiperinsulinemia e hiperglicemia na fisiopatologia do câncer pancreático, porém ainda são necessários mais estudos para determinar os mecanismos desta relação. 8. Obesidade, estresse oxidativo, toxinas e carcinogênese Os indivíduos estão expostos de forma contínua, mas em diferentes níveis, às substâncias químicas com propriedades comprovadamente carcinogênicas ou mutagênicas. A exposição exógena ocorre quando estes agentes estão presentes nos alimentos, no ar ou água, e endogenamente quando as substâncias são produtos do metabolismo ou resultantes de estados fisiopatológicos, como inflamação, associados à obesidade50. As espécies reativas de oxigênio (EROs) são produzidas normalmente no organismo pelo processo de respiração mitocondrial. No entanto, a produção excessiva de radicais livres induzida por xenobióticos, isquemia, ativação de leucócitos e exposição à radiação ultravioleta, com conseqüente estresse oxidativo, tem sido relacionada com um grande número de lesões teciduais envolvidas no mecanismo fisiopatológico de diferentes doenças humanas, incluindo o câncer. Assim, o estresse oxidativo ocorre pelo desequilíbrio entre a produção de EROs e a capacidade de detoxificação dos sistemas biológicos destes intermediários reativos ou do organismo em reparar a lesão resultante. Sabe-se que as EROs podem causar danos nas estruturas protéicas e lipídicas das células, bem como oxidação e mutações no DNA, o que pode induzir a tumorigênese51. Diferentes estilos de vida e exposição ambiental, associados a fatores como tabagismo, dieta, álcool, radiações ionizantes, biocidas, pesticidas e outras condições de saúde como a obesidade e o processo de envelhecimento, podem atuar como agentes prócarcinogênicos por estimularem o estresse oxidativo nas células corporais50,51. A ação excessiva do citocromo P450 2E1, comum na obesidade, promove grande produção de radicais livres e EROs envolvidas na fisiopatologia do câncer. A obesidade per si já é considerada um estado crônico de inflamação, sendo que o tecido adiposo é um órgão metabolicamente ativo que libera citocinas e espécies reativas de oxigênio, como peróxido de hidrogênio, extremamente susceptível à peroxidação lipídica e estresse oxidativo52. Em síntese, na obesidade, o tecido adiposo, principalmente o visceral, está relacionado com a maior incorporação de toxinas e maior produção de radicais livres via citocromo P450, além de estimular o estresse oxidativo e inflamação crônica, condições favoráveis para a ativação de pró-carcinogênicos. 9. Compostos Bioativos, Detoxificação, Metabolismo e Câncer Frutas e verduras contêm diversas substâncias alimentares como vitaminas, sais minerais, fibras e fitoquímicos e compostos fenólicos que podem atuar como agentes anti-carcinogênicos. Estes vegetais podem conter moléculas com ação adiponectina símile ou podem aumentar a biossíntese de adiponectina no organismo humano6. Poucos estudos científicos prospectivos, bem controlados e randomizados abordaram a relação entre dieta, sensibilidade a xenobióticos e maior risco para o câncer, apesar da grande quantidade de compostos químicos e biológicos hepatotóxicos que os indivíduos entram em contato diariamente52. Atualmente sabe-se que diversos componentes alimentares estão associados ao processo de carcinogênese, estimulando ou protegendo contra o desenvolvimento do câncer. Substâncias antioxidantes, incluindo nutrientes específicos como vitaminas D, E, C, zinco, selênio, ácidos graxos ômega 3 (w-3) e fitoquímicos, além da presença de xenobióticos, são também responsáveis pela modulação da expressão de genes específicos, importantes para a síntese de enzimas envolvidas no processo de detoxificação53. Os polimorfismos genéticos podem afetar a função das enzimas de detoxificação e provavelmente estão relacionados à variação individual para o risco de desenvolver câncer. Entretanto, devem-se levar em consideração outros aspectos da genética humana, como a flora bacteriana intestinal e as exposições ambientais. A variação dos genes que expressam UDPglicuronosiltransferases (UGT) e sulfotransferases (SULT) pode contribuir para a variabilidade do clearance e eficácia dos fitoquímicos. Assim, os indivíduos portadores desses polimorfismos podem ficar mais suscetíveis para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis54. A família Glutationa S-transferase (GSTs) catalisa a conjugação de compostos eletrofílicos com a glutationa. Geralmente, ela promove a formação de metabólitos menos reativos e mais solúveis em água, de modo a facilitar a excreção renal e, assim, reduzir riscos de mutações no DNA das células55. A conjugação dos produtos eletrofílicos intermediários da Fase I com a glutationa freqüentemente resulta em produtos menos genotóxicos. Portanto, a indução da GST via alimentação, pode reduzir a exposição do indivíduo aos carcinógenos56,57. Exemplo dessa relação pode ser dado pela ação conjunta da glutationa S-transferase (GST) e isotiocianatos. Estes fitoquímicos quimioprotetores estão presentes nos vegetais crucíferos e são capazes de detoxificar os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos presentes nas carnes grelhadas de modo a reduzir a exposição individual a esses carcinógenos55. Constituintes bioativos de alimentos vegetais como os isotiocianatos, compostos organosulfurados, polifenóis e o selênio podem prevenir a carcinogênese, reduzindo as modificações do DNA e mutações gênicas. As transformações químicas, como metilação, formação de aductos e estresse oxidativo, podem promover modificações na base do DNA. Elas são parcialmente bloqueadas por meio do aumento da expressão ou da atividade das enzimas de biotransformação e mecanismos de destoxificação induzidos por nutrientes e fitoquímicos58. A atividade anti-carcinogênica exercida pelos produtos da hidrólise dos glicosinolatos (isotiocianatos) e selênio, derivados dos crucíferos, ocorre por meio de mecanismos que incluem alteração do metabolismo de estrogênio, proteção contra espécies reativas de oxigênio, indução de apoptose das células tumorais, alteração da detoxificação por indução das enzimas de fase II e redução da ativação das enzimas de fase I59. Recentes dados epidemiológicos demonstram a existência de interações entre fatores dietéticos, metabólicos e variantes genéticas (polimorfismos) das enzimas que metabolizam os xenobióticos com o risco de desenvolver o câncer. Polimorfismos genéticos das Nacetiltransferases NAT1 e NAT2, enzimas de Fase II que promovem a acetilação de drogas ou produtos tóxicos originando substâncias reativas, podem ser também um fator associado à maior suscetibilidade para o câncer de mama entre as mulheres pós-menopausadas 58. O maior risco para câncer cólon-retal nos consumidores de carne vermelha ou processada está associado não somente à maior atividade dos alelos do CYP2E1, como também à atividade reduzida dos alelos para a Glutationa S-Transferase (GSTA1). Por outro lado, os fitoquímicos, como os isotiocianatos, exercem efeito protetor contra o risco de câncer cólon-retal e pulmonar, principalmente em indivíduos com polimorfismos no gene que expressa a GSTA158. Considerando que os isotiocianatos são metabolizados pelas isoenzimas GST e que evidências mostram relação entre polimorfismos do gene GST e ingestão dos isotiocianatos, surge a hipótese de que os polimorfismos genéticos, com conseqüente redução da expressão e/ou da atividade da GST, podem estar associados à maior efetividade da ação protetora dos vegetais crucíferos como repolho, couve-flor, couve-de-bruxelas, rúcula e brócolis60. Estudos clínicos evidenciaram o efeito protetor do consumo de vegetais crucíferos contra o desenvolvimento de câncer de pulmão em homens com deleção homozigota dos genes GSTM1 ou GSTT1 (glutationa S-transferase), com presença detectável de metabólitos do isotiocianato na urina61, e em mulheres com genótipo nulo para o GSTM1 e GSTT1 com elevado consumo de isotiocianato62. A redução do risco de câncer de pulmão observada nestas populações provavelmente relacionou-se à rápida eliminação dos componentes carcinogênicos naqueles indivíduos geneticamente deficientes em GST e com consumo adequado de vegetais crucíferos61. Outro mecanismo possível para esta ação protetora dos isotiocianatos é a redução da expressão gênica relacionada ao complexo enzimático citocromo P450 e indução das enzimas de fase II que detoxificam os metabólitos eletrofílicos residuais, provenientes da fase I63. A GST pode ser induzida pelo butirato, um ácido graxo de cadeia curta (TCC) derivado da fermentação de compostos alimentares vegetais pela microbiota intestinal, que aumenta a acetilação das histonas, configurando uma alteração epigenética que pode silenciar genes promotores do câncer. Portanto, melhorar a expressão da GST no cólon humano poderia, por conseguinte, contribuir para a redução do risco para câncer, mas ainda não se demonstrou a possibilidade de tal mecanismo efetivamente prevenir o câncer de cólon57. A NAD(P)H:quinona óxido-redutase (NQO1) é outra enzima de detoxificação de fase II, a qual protege as células contra mutações causadas por radicais livres e por metabólitos oxigênioreativos gerados nas reações de redução catalisadas principalmente pelas enzimas do citocromo P450. Alimentos vegetais podem induzir a expressão da NQO1, sem modificar a oxidação desta enzima. A indução da NQO1 provavelmente é mediada por elementos genéticos regulamentares existentes na região promotora do DNA, conhecidos como elemento de resposta antioxidante (ARE). Estudo in vitro testou extratos de 30 frutos e legumes consumidos na Espanha para identificar quais continham elementos indutores de NQO1 em duas linhagens celulares de Hepatoma murino (Hepa 1c1c7 e BPRc1). Os resultados demonstraram que, dos alimentos testados, o brócolis, o alho (Allium cepa L.), a cebola verde, repolho verde e roxo ativaram em média quatro vezes mais a expressão da NQO1 na linhagem celular Hepa1c1c7, e quase três vezes mais na linhagem celular BPrC164. A forma biologicamente ativa da vitamina D, a 1alfa,25-dihidroxivitamina D3 desempenha um papel importante na homeostase do cálcio e fósforo e também apresenta atividade pleiotrópica, ou seja, altera a expressão de genes, interferindo na proliferação celular, diferenciação e na atividade do sistema imunitário. Exercendo essas atividades, a vitamina D desempenha papel significativo na prevenção de câncer de cólon, próstata e mama e na redução do risco de doenças auto-imunes. Trabalho experimental demonstrou o efeito de uma dose única de 1,25- dihidroxivitamina D2 sobre a expressão gênica no intestino de ratos com deficiência de vitamina D pela técnica de microarray, a qual identifica genes diferencialmente expressos. Após 6 horas da ingestão de vitamina D, observou-se estímulo para a expressão de vários genes relacionados a enzimas de biotransformação tanto da fase I como da fase II. Foi evidenciado também aumento da expressão de genes relacionados com enzimas antioxidantes, demonstrando que a vitamina D pode ser um nutriente fundamental para o processo de detoxificação e proteção contra toxinas ambientais65. Acredita-se que as isoflavonas sejam componentes biologicamente ativos presentes na soja que executam papel importante na prevenção de doenças crônicas, inclusive o câncer. O modo como as isoflavonas exercem seus efeitos benéficos ainda não está totalmemente estabelecido. Os prováveis mecanismos de ação celular das isoflavonas incluem a habilidade em modular a expressão gênica e os níveis de atividade das enzimas envolvidas na defesa antioxidante e no metabolismo de xenobióticos, incluindo NAD(P)H, NQO1 e GST. Embora haja um aumento das evidências científicas provenientes de estudos com cultura celular de que a genisteína, isoflavona predominante da soja, pode regular a expressão dos genes que codificam as enzimas antioxidantes e de fase II, o efeito destes princípios bioativos da soja ainda não estão totalmente demonstrados in vivo. Ratos alimentados por mais de três semanas com dietas semisintéticas enriquecidas com genisteína (2g/kg) apresentaram aumento dos níveis de RNAm hepático e da atividade da NQO1. Apesar da atividade total da GST não ter sofrido alterações em resposta à dieta suplementada com genisteína, os níveis de RNAm de isoenzimas GST foram diferentemente modulados de forma individual. O nível de RNAm hepático da GSTa2 (classe alfa 2) foi significantemente aumentado, enquanto que os níveis de RNAm da GSTm2 (classe um 2) e GSTp1 (classe PI 1) foram significantemente diminuídos frente à suplementação de genisteína. O nível protéico do Nrf2 (fator 2 relacionado ao NF-E2), um fator de transcrição responsivo ao estresse e envolvido na regulação das enzimas de fase II, não foi alterado pela genisteína dietética. Além disso, a genisteína não afetou a atividade enzimática hepática das enzimas antioxidantes catalase (CAT), glutationa peroxidase (GPx) e superóxido dismutase (SOD), nem a peroxidação lipídica no fígado ou os níveis de glutationa. Assim, a indução da NQO1 pode ser o mecanismo pelo qual a genisteína dietética aumenta a capacidade do fígado em detoxificar carcinógenos66. O fitoterápico isolado da raiz Inula helenium (elecampana) também apresentou potencial indutor de enzimas detoxificantes como a quinona-redutase (QR) e glutationa-S-transferase. Representante do gênero de plantas da família Asteraceae, a I. helenium é uma planta medicinal tradicionalmente usada para tratar alguns tipos de cânceres pela medicina herbária de Yunnan, na China, e contêm inulina, alantol, elenina e ácido alântico67. Estudo experimental realizado para testar o efeito de frações individuais do extrato metanólico da Inula helenium, tais como hexano, diclorometano, butanol e frações hidrossolúveis, demonstrou que a fração hexano apresentou maior atividade indutora da QR e da glutationa-S-transferase de maneira dose-dependente. A injeção intraperitoneal da fração de hexano apresentou o potencial de induzir a atividade das enzimas detoxificantes de fase II no fígado, rins, intestino delgado e estômago dos ratos analisados. Após diversos testes, comprovou-se que os sesquiterpenos isolados da fração hexano, eram os componentes da Inula helenium responsáveis pela indução da QR em cultura de células provenientes de hepatoma (Hepa1c1c7 e BPRc1). Os autores concluíram que os sesquiterpenos, incluindo alantolactona, isoalantolactona e 5-epoxialantolactona, presentes na I. helenium, apresentam atividade antioxidante e merecem maiores investigações, principalmente em trabalhos clínicos, para comprovar a ação destes princípios bioativos como agentes quimioprotetores68. As Isoflavonas são fitoquímicos de ação similar ao estrogênio, encontrado em larga escala nos grãos da soja69. Ao contrário do efeito carcinogênico induzido pelo estrogênio humano administrado para o controle dos efeitos adversos da menopausa, a ingestão de estrogênio derivado das plantas (fitoestrogênio), na idade pré-menopausa, pode estar associada com a menor incidência do câncer de mama70. Entre as isoflavonas, a genisteína é considerada como modulador seletivo de receptores estrogênicos e tem sido proposta como uma alternativa à terapia de reposição hormonal convencional71. Temos que considerar também que estudos mostram que o resveratrol, genisteína, daidzeína e quercetina podem ligar-se aos receptores estrogênicos e induzir a transcrição de genes-alvo, responsivos ao estrogênio de maneira dose-dependente. Esse mecanismo permite que os fitoquímicos citados, estimulam a proliferação celular em baixas concentrações e quando em altas concentrações suprimem a proliferação, por meio da alteração da expressão de proteínas que controlam o ciclo celular e apoptose72. Vale ressaltar que ainda existem controvérsias sobre a ação dos compostos da soja, se eles realmente são quimioprotetores ou se podem induzir resultados adversos relacionados com a carcinogênese de mama. No entanto, parece que a relação entre fitoestrógenos e tumorigênese não está sempre associada à ação protetora e depende de fatores como idade de exposição, adiposidade e balanço hormonal73. A figura 3 apresenta as principais ações dos fitoestrógenos. Trabalho investigou quais os componentes bioativos da soja tinham a capacidade de modular o crescimento tumoral de células mamárias dependentes de estrógeno in vitro e in vivo. A genisteína e genistina aumentaram a proliferação de células de câncer de mama humano dependentes de estrogênio, efeito que foi confirmado em modelo experimental com ratos portadores de câncer de mama induzido quimicamente. Produtos processados à base de soja como o isolado protéico, modulado para conter baixo, médio ou alto teor de isoflavonas, também estimulou o crescimento de células tumorais dependente de estrogênio in vivo de maneira dose dependente. No entanto, estudos in vivo realizados com a farinha de soja contendo quantidades similares de genisteína não apresentaram resultados positivos sobre o crescimento destas células de câncer de mama. Por outro lado, o tratamento dietético com a genisteína pode estimular a expressão de genes alvos do estrogênio como o pS2 (marcador de proliferação), receptor de progesterona e ciclina D, correlacionados com a proliferação de tumores estrogênio-dependentes. Em síntese, a genisteína pode atuar como agonista do estrogênio, resultando na proliferação de células tumorais do câncer de mama hormônio-dependente e esta atividade pode ser modulada pela presença de outros princípios bioativos nos alimentos à base de soja. Diante dessas evidencias não é recomendado a prescrição de produtos e suplementos derivados da soja para mulheres com história familiar ou com diagnóstico de câncer de mama hormônio-dependente69. Figura 3. Resumo das potenciais ações dos fitoestrogênios. As setas indicam possíveis funções destes fitoquímicos. RE: Receptores estrogênicos. Estímulo ao crescimento de tumores existentes Indução à contenção do ciclo celular e apoptose Redução da geração de metabólitos estrogênicos genotóxicos Aumento na diferenciação do tecido mamário Exposição à fitoestrogênios Diminuição do crescimento e proliferação celular mediada por RE-beta Redução da biossíntese de estrogênio Estímulo ao crescimento e proliferação celular mediado por RE-alfa Adaptado de Mense et al., 200873. Outros nutrientes envolvidos com a prevenção ou promoção do câncer são os ácidos graxos. Os ácidos graxos devem ser captados pelas células e metabolizados efetivamente em diferentes classes de lipídios celulares como triglicerídios e fosfolipídios. Para que exerçam efeito metabólico, é preciso que ocorra a incorporação nas membranas celulares e intracelulares74. Trabalho realizado com cultura celular investigou se a captação e o metabolismo dos ácidos graxos oléico, araquidônico e eicosapentaenóico (EPA) pelas células neoplásicas da mama (MDA-MB-231) são influenciados pelos efeitos da insulina e algumas adipocinas. Observou-se que o ácido araquidônico foi predominantemente captado pelas células neoplásicas da mama quando comparado ao EPA e ao ácido oléico. No entanto, a pré-incubação dessas células com TNF- estimulou a captação do EPA em 30%, enquanto que a captação dos demais ácidos graxos foi estimulada apenas em 10-15% em relação ao controle sem o TNF-. A insulina, leptina e adiponectina não adicionaram efeito na captação de ácidos graxos, demonstrando que as células MDA-MB-231 apresentaram maior preferência pela captação de ácido araquidônico e que a atividade desta captação é influenciada pelo TNF-, mas não pela insulina e adipocinas75. Estudo realizado para analisar a redução de peso como tratamento para câncer de mama acompanhou vinte e uma mulheres com câncer de mama relacionado à linfedema. Elas foram randomizadas para receber aconselhamento dietético visando à redução ponderal ou orientação para alimentação saudável por 12 semanas. Os resultados demonstraram redução significante no edema, volume do braço, peso corporal e IMC no grupo de intervenção após o tratamento para redução ponderal76. Estudos bem conduzidos são necessários para identificar interações entre nutrientes e genes relacionados à metabolização ou biotransformação de compostos tóxicos. Estes estudos podem ter grande aplicabilidade para explorar mecanismos, identificando populações ou indivíduos mais vulneráveis, de forma a desenvolver estratégias nutricionais individualizadas preventivas para a saúde humana. 10. Considerações Finais Apesar de inúmeros trabalhos que confirmam a relação entre obesidade e câncer, mecanismos fisiopatológicos subjacentes que explicam o aumento do risco para a maioria dos tipos de câncer ainda não são completamente compreendidos. Estes mecanismos precisam ser analisados mais criteriosamente em estudos experimentais e fortalecidos por estudos observacionais. Desta forma, os resultados poderão ser usados para identificação de biomarcadores e fenótipos da obesidade associados ao desenvolvimento do câncer em seres humanos. Vale ressaltar que atualmente existem evidências científicas suficientes para apoiar a recomendação de manutenção do peso saudável para a prevenção de alguns tipos de câncer. Recomenda-se também a medição da circunferência da cintura, da relação cintura:quadril e manutenção dessas medidas dentro dos valores normais, de forma a reduzir adiposidade, controlar a resistência insulínica e evitar aumento plasmático de adipocinas relacionadas à tumorigênese. Além disso, recomenda-se o consumo de frutas e verduras por conterem diversos micronutrientes e princípios bioativos que, associado à perda de peso e à atividade física, podem ser úteis na prevenção de cânceres relacionados à obesidade. 11. Referências 1. HJARTAKER, A.; LANGSETH, H.; WEIDERPASS, E. Obesity and diabetes epidemics: cancer repercussions. Adv Exp Med Biol; 630:72-93, 2008. 2. PISCHON, T.; NÖTHLINGS, U.; BOEING, H. Obesity and cancer. Proc Nutr Soc; 67(2):128-45, 2008. 3. LEAN, M.E.; HAN, T.S.; MORRISON, C.E. Waist circumference as a measure for indicating need for weight management. BMJ; 311:158-61, 1995. 4. MELNIK, B.C. Milk, the promoter of chronic Western diseases. 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