Resumo das aulas do evento de setembro/2008 - SBPT: “Diretrizes sobre DPA: Cuidados Domiciliares e Ambulatoriais” – Obs. – as aulas estarão brevemente disponíveis em áudio-visual no site www.sbpt.org.br Aula 1: Bases conceituais da DPA – somente áudio-visual Dr. Menna Barreto Aula 2: Razões clínicas e econômicas para a criação de Serviços de DPA Dr. José Alberto Neder Fundamentação clínica A doença pulmonar crônica avançada (DPA) caracteriza-se pelo desenvolvimento de diversas anormalidades estruturais e funcionais pulmonares e sistêmicas com baixo potencial de reversibilidade, a despeito do tratamento instituído. Clinicamente, pacientes com DPA podem apresentar um ou mais dos seguintes sintomas e sinais centrais: 1. Dispnéia, associada ou não com outros sintomas respiratórios. 2. Intolerância aos esforços 3. Hipoxemia e/ou hipercapnia 4. Desnutrição e/ou caquexia 5. Ansiedade e/ou depressão O manuseio clínico desta síndrome é melhor realizado por uma equipe multiprofissional e pode envolver condutas farmacológicas (broncodilatadores, corticosteróides, opiáceos) e não-farmacológicas (oxigenoterapia, ventilação não-invasiva, atividade física, suporte psicossocial). Adicionalmente, há a necessidade do estabelecimento de condutas padronizadas para o cuidado paliativo e de final da vida, as quais devem envolver o paciente, o médico atendente, a equipe de saúde e os cuidadores informais. Fundamentação econômica O tratamento da DPA, especialmente dos portadores de DPOC, constitui parcela significativa dos custos relacionados à saúde em pacientes com pneumopatia crônica. Diversos grandes estudos retrospectivos e, mais recentemente, prospectivos, demonstraram que até 60-70% do custo total da DPOC concentra-se nos mais graves, notadamente nos períodos de exacerbação. Embora poucos dados estejam disponíveis para outras causas de DPA, estudos preliminares sugerem o mesmo para o grupo das doenças intersticiais pulmonares fibrosantes e a hipertensão pulmonar. Considerações adicionais devem ser levantadas em nosso meio, especialmente as relacionadas às seqüelas de doenças infecciosas crônicas, como a tuberculose pulmonar e a paracoccidioidomicose. O estabelecimento de programas de atendimento multiprofissional para DPA em outros países tem se mostrado eficaz em reduzir a taxa de exacerbações da doença crônica, racionalizar os gastos públicos e estabelecer rotinas eficazes de manuseio das principais complicações e co-morbidades associadas às DPA. Neste contexto, com o surgimento de centros especializados de atenção a estes pacientes no Brasil, há a necessidade de rigorosa padronização das rotinas de avaliação e conduta acompanhada por análise dos riscos e custos direto-indiretos. O objetivo inerente é o de documentar a validade econômica da iniciativa, garantindo linhas robustas e contínuas de financiamento público e privado. 1 REFERÊNCIAS 1- Wryobeck J M, Lippo G, McLaughlin V, Riba M, Rubenfire M. Psychosocial Aspects of Pulmonary Hypertension: A Review. Psychosomatics, 2007; 48(6): 467 - 475. 2- Dyspnea. Mechanisms, Assessment, and Management: A Consensus Statement. Am J Respir Crit Care Med 1999; 159: 321–340. 3- Hofer H. Advanced chronic lung disease: need for an active interdisciplinary approach. Swiss Med Wkly 2007; 137: 593-601. 4- Seamark DA, Seamark CJ, Halpin DMG. Palliative care in chronic obstructive pulmonary disease: a review for clinicians J R Soc Med, 2007; 100(5): 225 - 233. 5- Simonds AK. Ethics and decision making in end stage lung disease Thorax, 2003; 58(3): 272 - 277. 5- Curtis JR, Wenrich MD, Carline JD, Shannon SE, Ambrozy DM, Ramsey PG. Patients' Perspectives on Physician Skill in End-of-Life Care: Differences between Patients with COPD, Cancer, and AIDS. Chest, 2002; 122(1): 356 - 362. 6- Andersson F, Borg S, Jansson SA, Jonsson AC, Ericsson A, Prütz C, Rönmark E, Lundbäck B. The costs of exacerbations in chronic obstructive pulmonary disease (COPD). Respir Med. 2002; 96(9):700-8. 7- Simoens S, Decramer M, De Coster S, Celis G, Laekeman G. Clinical and economic analysis of antimicrobial therapy of chronic obstructive pulmonary disease exacerbations. Int J Clin Pract. 2007; 61(2):200-6 8- Oostenbrink JB, Rutten-van Mölken MP. Resource use and risk factors in high-cost exacerbations of COPD. Respir Med. 2004; 98(9):883-91. Aula 3: Características clínicas e fisiopatológicas comuns aos pacientes com DPA Dr. Alberto Cukier Definição Doenças pulmonares crônicas, não neoplásicas, que acarretam deterioração pulmonar irreversível. Classificação Doenças pulmonares obstrutivas (DPOC, fibrose cística, bronquectasias), doenças pulmonares restritivas (fibrose pulmonar idiopática, sarcoidose, seqüelas de tuberculose, doenças pleurais e reumatológicas), doenças vasculares (hipertensão pulmonar arterial primária ou secundária) e neuromusculares. Manifestações clínicas Dispnéia e fadiga incapacitantes, decorrentes da redução progressiva da função pulmonar. Complicações, exacerbações, co-morbidades. - Pulmonares Infecções (bacterianas, virais e fúngicas), carcinoma broncogênico, cor pulmonale, pneumotórax, embolia pulmonar. - Cardiovasculares Insuficiência coronariana, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial sistêmica, acidente vascular cerebral. - Relacionadas ao tratamento Corticóides sistêmicos, imunosupressores, outros. - Outras 2 Infecções não pulmonares, complicações gastrointestinais (refluxo gastroesofágico, úlcera, moléstia diverticular dos cólons, hepatopatias secundárias ou associadas à doença primária), osteoporose, diabete, descondicionamento físico, anemia, caquexia, desnutrição. - Psico-emocionais – ansiedade, pânico, depressão. REFERÊNCIAS 1- Manning HL, Schwartzstein RM. Mechanisms of diseases: pathophysiology of dyspnea. NEJM 1995; 333: 1547-1553. 2- Dyspnea. Mechanisms, Assessment, and Management: A Consensus Statement. Am J Respir Crit Care Med 1999; 159: 321–340. 3- Hofer. Advanced chronic lung disease: need for an active interdisciplinary approach. Swiss Med Wkly 2077; 137: 593-601. 4- Luce JM, Luce JA. Management of dyspnea in patients with far-advanced lung disease. JAMA 2001; 285: 1331-1337. 5- Periyakoil VS, Skultety K, Shikh J. Panic, anxiety, and chronic dyspnea. Journal of Palliative Medicine 2005; 8: 453-459. Aula 4: Estratégias de avaliação funcional do paciente com DPA Dr. José Roberto Jardim Exercícios físicos fazem parte do núcleo central de atividades da reabilitação pulmonar em pacientes com pneumopatias graves. É reconhecido que os pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica têm uma vida mais sedentária que os indivíduos da mesma idade. Acredita-se que o mesmo ocorra com os outros pneumopatas graves. A avaliação da condição física do paciente permite que se possa estabelecer uma carga de exercício adequada (baseada no limiar anaeróbio, freqüência cardíaca ou na carga alcançada) e comparar a evolução após certo período de treinamento. Os objetivos são: - discutir todas as modalidades de avaliação de capacidade física de pacientes com pneumopatias graves - hierarquizar os testes em função do custo-efetividade, considerando a necessidade de pessoal técnico especializado, custos de equipamentos, possíveis riscos, informações úteis para o seguimento do paciente. Itens a discutir em cada modalidade dos testes de capacidade física: 1) Teste ergométrico cardio-pulmonar Há diferenças entre os equipamentos, qual escolher? Realizar o teste na esteira ou bicicleta? Qual o pessoal necessário? Que parâmetros medir? Qual o teste a realizar, máximo e/ ou submáximo? Qual protocolo empregar (Harbor?)? Quantos testes realizar? Centros onde são realizados testes cardio-pumlmonar Como avaliar o componente limitante ventilatório, cardíaco e periférico? 3 É possível avaliar o consumo máximo de oxigênio em paciente em uso de oxigênio suplementar? É sempre necessário mensurar o consumo de oxigênio? Como considerar uma melhora significante entre dois testes? Como orientar o paciente sobre o teste? 2) Teste da caminhada de 6 minutos (TC6M) Este teste é padronizado? Importância como preditor de morbidade e mortalidade O TC6M substitui o teste ergométrico cardio-pulmonar? Quantos testes realizar? Quanto tempo esperar entre dois testes? Qual a distância da pista (reta, oval)? Quais condições da pista (coberta, plana)? O TC6M pode ser realizado em esteira? Que parâmetros medir e em que momentos? Como incentivar o paciente durante o teste? Quais os fatores de variabilidade no TC6M? É necessário realizar uma caminhada para treinamento? É interessante calcular o trabalho desenvolvido durante o teste? Como orientar o paciente sobre o teste? Como suplementar oxigênio durante o teste, qual a SpO2 para a suplementação? Com considerar uma melhora significante na distância caminhada? 3) Teste do degrau Este teste é padronizado? Qual a altura do degrau? Como subir e descer no degrau? Teste de 5 ou 6 minutos? O teste do degrau substitui o TC6M? Quantos testes realizar? Quanto tempo esperar entre dois testes? Que parâmetros medir e em que momentos? Como incentivar o paciente durante o teste? Quais os fatores de variabilidade no teste do degrau? É interessante calcular o trabalho desenvolvido durante o teste? Como medir o desempenho durante a realização do teste (contagem das subidas)? Como orientar o paciente sobre o teste? Como suplementar oxigênio durante o teste, qual a SpO2 para a suplementação? Com considerar uma melhora significante no teste do degrau? 4) Teste shuttle Como realizar o teste? Que vantagens este teste tem sobre o TC6M? Que desvantagens este tem sobre o TC6M? Este teste é padronizado? Como realizá-lo? Que material é necessário? 4 Como orientar o paciente sobre o teste? 5) Teste de força muscular É necessário realizar em todos os pacientes? Que músculos devem ser testados? Qual método a ser empregado Que equipamento é conveniente? 6) Teste de estimulação elétrica muscular É um teste de realização rotineira? Que informações eles nos trazem? Como realizar o teste? Que equipamentos devem ser utilizados? Que músculos devem ser avaliados? Como treinar o pessoal técnico necessário? 7) Teste de membros superiores Por que realizá-los? Quais os métodos indicados? Quanto tempo para a sessão de treinamento? Discussão geral para todos os testes Quais as contra-indicações para a realização de um teste de capacidade física? É necessário ter material de atendimento em caso de emergência, que material? Quais as causas para interromper o teste? Como orientar o paciente sobre o teste? Paciente com DPOC deveria receber broncodilatador antes do teste? Que orientações devem ser dadas sobre os seus medicamentos rotineiros? Orientação sobre alimentação no período pré-teste Aula 5: Cuidados Integrados para pacientes com DPA Dra. Christina Machado Definição de Cuidados Integrados Cuidados integrados podem ser definidos como um conjunto de ações sinérgicas realizadas por uma Equipe multiprofissional de Saúde que objetivam otimizar o tratamento de doenças crônicas e de suas comorbidades associadas, incorporando protocolos que auxiliam estas ações na prática clínica e que resultam em significante melhora na qualidade de vida e na diminuição das internações que pacientes com doenças crônicas apresentam. Objetivos dos Cuidados Integrados na DPA 1- Melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevida de pacientes com DPA. 2- Diminuir as internações recorrentes que estes pacientes apresentam. 3- Manter um programa de educação continuada para profissionais de Saúde, para reforçar a importância do controle da doença e da adesão do paciente aos protocolos clínicos. 4- Incentivar um melhor controle destas ações pelos provedores destes Serviços. 5 A aplicação de um programa educacional (PE) para pacientes e familiares visa não só a não descontinuidade do tratamento, mas a garantia de sua manutenção contínua. A base de um programa de cuidados coordenados é o PE, que engloba aulas para pacientes e familiares (sobre a doença e seu tratamento como um todo), ensino do automanejo dos sintomas sob orientação médica e realização de um planejamento antecipado sobre possíveis intervenções que poderão ou não ser realizadas, quando a DPA evolui para uma fase terminal. Locais onde os Cuidados Integrados podem ser realizados 1. Nos hospitais - na vigência da alta hospitalar 2. Nos Serviços de Referência ambulatoriais para tratamento de DPA - durante as consultas 3. No domicílio – pelo Home-Care ou pelos programas de Saúde da Família e de internação domiciliar 4. Nos Hospices – oferece uma abordagem multidisciplinar para amenizar o sofrimento de pacientes com DPA e podem dar apoio aos familiares antes e após a morte do paciente. Hospices são programas organizados que oferecem serviços de suporte para pacientes com doenças em fase terminal e suas famílias e que são realizados 24 horas/dia no domicílio do paciente. Embora os hospices sejam indicados para qualquer paciente que esteja morrendo, evidencias sugerem que estes programas são subutilizados por pacientes com doenças não neoplásicas na fase terminal. Principais componentes do Programa de Cuidados Integrados 1- Equipe multiprofissional composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais (do Hospital, do Serviço de Referência ambulatorial, do Home-Care ou de Hospices). 2- suporte para o automanejo da doença e educação do paciente/familiar 3- seguimento clínico estruturado e manejo individualizado de cada caso 4- aplicação de protocolos clínicos multidisciplinares e controle das ações 5- checagem das ações 6- educação para profissionais destas Equipes 7- Planejamento estratégico entre profissionais dos sistemas de saúde (primários e secundários), que são os provedores destes cuidados. REFERÊNCIAS 1- Hofer M. Advanced chronic lung disease: a need for an active interdisciplinary approach. Swiss Med Wkly 2007, 137:593-601. 2- Ouwens M, Wollersheim H, Hermens R, Hulscher M, Grol R. Integrated care programmes for chronically ill patients: a review of systematic reviews. 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Randomised controlled trial of home based care of patients with chronic obstructive pulmonary disease. BMJ 2002; 325: 938. 13- Ram FSF, Wedzicha JA, Wright J, Greenstone M. Hospital at home for patients with acute exacerbations of chronic obstructive pulmonary disease: systematic review of evidence. BMJ 2004; 329: 315. 14- Taylor SJC, Candy B, Bryar RM, et al. Effectiveness of innovations in nurse led chronic disease management for patients with chronic obstructive pulmonary disease: systematic review of evidence. BMJ 2005; 331: 485. Aula 6: Recursos humanos para um programa de atendimento ao paciente com DPA Dra. Irma de Godoy - somente áudio-visual Aula 7: Infra-estrutura dos Serviços de Atendimento para DPA Dr. Luis Carlos Sell Introdução As perspectivas atuais para o atendimento de pacientes com DPA ainda são ruins, tendo em vista a falta de Serviços de Referência para DPA no nosso país, dificuldade de acesso aos Serviços existentes e atendimento dos mesmos por não especialistas nas urgências. Necessidades identificadas Para o atendimento adequado desta população com DPA, é necessário o desenvolvimento de ações em três níveis distintos: no atendimento referenciado em ambulatórios, no atendimento no domicílio e nas populações atendidas por planos de saúdes privados ou na rede pública pelo Programa de Saúde da Família (PSF) ou pelo Programa de Assistência Domiciliar (PAD), para a realização de um trabalho de identificação e de prevenção destas doenças. Infra-estrutura dos Serviços Ambulatoriais Para se estruturar adequadamente o atendimento ambulatorial para pacientes com DPA, faz-se necessário a identificação de um local adequado para este atendimento, o qual necessita ter fácil acesso, ter fontes de oxigênio e que seja um local amplo para facilitar a locomoção destes pacientes cadeirantes ou não. São necessários equipamentos específicos nesses locais como: cadeira de rodas, fontes de oxigênio, oxímetros de pulso, aparelho para medir o pico de fluxo expiratório (PFE), espirômetros e materiais 7 descartáveis. Além disso, também são necessários uma secretária, telefax e computadores, para facilitar a realização de agendamentos e para monitoramento à distância de pacientes no domicílio. A equipe multiprofissional (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, técnicos em espirometria e etc.) que faz este atendimento, deve ser treinada e apta para realizar o atendimento especializado para pacientes com DPA, mas a coordenação do Serviço deve ficar a cargo de um pneumologista. Infra-estrutura dos Serviços Domiciliares O tratamento domiciliar (Home Care) necessita de uma estrutura mais complexa, pois além de precisar ter uma Equipe multidisciplinar precisa manter atualizado o estoque de suprimentos e medicamentos, com reposições periódicas. As prescrições devem ser centralizadas em uma unidade, realizadas por médicos nas residências e encaminhadas à central por via eletrônica. O transporte das medicações e materiais é feito por carro próprio ou por motoboys. O lixo hospitalar gerado no domicílio é adequadamente embalado e recolhido por veículos específicos para este fim, até o destino final (incineração). Existem três formas de atendimento domiciliar. A primeira é para casos de alta complexidade, como para atendimento a pacientes que estão sob ventilação mecânica no domicílio. A segunda forma é para casos de média complexidade e uma terceira para de baixa complexidade. Considerações finais Por último, será mostrada uma nova forma de identificação, seleção e de ações pró-ativas para identificar populações que possuem planos de saúde privados e até mesmo para pacientes que estejam sendo atendidos no SUS pelo PSF ou PAD. Aplicando-se estas novas ações, somos capazes de identificar as populações de risco que ainda não são consideradas clinicamente doentes, os já portadores de doenças crônicas e até mesmo aqueles com doenças em fase avançada e em situação terminal. Os pacientes assim identificados podem receber as ações de saúde, desde a promoção, prevenção e até mesmo a internação domiciliar ou hospitalar. Essas ações são cuidadosamente planejadas por uma equipe multiprofissional treinada. REFERÊNCIAS 1- Statement on Home Care for Patients with Respiratory Disorders. Am J Respir Crit Care Med 2005, 171: 1443-1464. 2- Palliative Care for patients with Respiratory Diseases and Critical Illnesses. Am J Respir Crit Care Med 177; 912-927, 2008. 3- Multi- disciplinary Care of the Patient with Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Advanced Chronic lung disease: need for an active interdisciplinary approach. Proc Am Thorac Soc 2008, 5:567571. 4- Apostila do Ambulatório de Doença Pulmonar Avançada da Unifesp sobre DPA/ODP – 2007Disciplina de Pneumologia da UNIFESP. 5- Hofer H. Advanced chronic lung disease: need for an active interdisciplinary approach. Swiss Med Wkly 2007; 137: 593-601. 8 Resumos do Trabalho dos Grupos de Estudo do evento: “Diretrizes sobre DPA: Cuidados Domiciliares e Ambulatoriais” 1- Comorbidades na DPA – Coordenador: Dr. Menna Barreto Comorbidades são definidas como doenças crônicas que secundariamente estão associadas a uma determinada doença e frequentemente estão presentes na doença pulmonar avançada. Com o envelhecimento da população, há um aumento da prevalência de doenças crônicas e sabemos que a DPA comumente acomete indivíduos idosos. As doenças crônicas mais prevalentes, segundo estatísticas mundiais, são as doenças cardiovasculares (30% da mortalidade mundial estimada em 2005), câncer (13%), doenças respiratórias crônicas (7%) e diabetes (2%). As comorbidades mais freqüentemente encontradas na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), que é a DPA mais prevalente, são: caquexia, anormalidades músculo-esqueléticas, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, coronariopatias, insuficiência cardíaca, infecções pulmonares, câncer e doença vascular pulmonar. A DPOC é uma causa importante de internações recorrentes em adultos, especialmente em idosos. Na DPOC avançada, as causas destas internações geralmente são as comorbidades, ou elas contribuem de forma indireta para que estas internações ocorram. O tabagismo (atual ou pregresso), que frequentemente está presente na história de pacientes com DPA, é o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer e de doenças respiratórias crônicas. O tabagismo causa inflamação sistêmica e pulmonar, estresse oxidativo sistêmico, alterações na função endotelial e vasomotora e aumento da concentração de inúmeros fatores pró-coagulantes no sangue circulante. Além do tabagismo, outro importante fator de risco para o desenvolvimento de comorbidades crônicas é a obesidade. Estes dois fatores de risco interagem sinergicamente e estão relacionados com estresse oxidativo, resistência à insulina, aumento da concentração de várias citoquinas e de marcadores inflamatórios, que também se associam com disfunção endotelial e doenças cardiovasculares. Sabidamente, pacientes com DPOC avançada têm níveis sanguíneos elevados de proteína C reativa (PCR), que é um bom marcador de inflamação sistêmica. As doenças crônicas mais prevalentes na prática clínica frequentemente encontram-se associadas. Como exemplo, na DPOC avançada a insuficiência cardíaca pode coexistir em ≥20% dos pacientes. Pacientes com DPA freqüentemente também apresentam um ou mais componentes da síndrome metabólica (obesidade abdominal, níveis de triglicérides elevados, dislipidemia aterogênica, hipertensão arterial sistêmica, hiperglicemia ou resistência à insulina) e osteoporose. Além disto, a inflamação sistêmica pode induzir a perda da resposta orgânica à suplementação nutricional, o que com o passar do tempo, contribui para a instalação de caquexia nestes pacientes. Embora os livros textos já tenham reconhecido que as comorbidades são importantes e que frequentemente estão presentes na DPA, o fato das doenças crônicas raramente se apresentarem de forma isolada na prática clínica (particularmente em idosos), ainda é extremamente ignorado. Em suma, as comorbidades são freqüentes na DPA. Elas podem ser causadas pela doença de base propriamente dita, por fatores de risco comuns nesta população (como o tabagismo), ou por efeitos secundários do próprio tratamento. 9 COMORBIDADES COMUNS NA DPA Complicações cardiovasculares Coronariopatias Insuficiência cardíaca esquerda Hipertensão arterial sistêmica Acidente vascular cerebral Complicações relacionadas ao tratamento Uso crônico de corticóides sistêmicos Imunossupressores Novas drogas (IPF, PAH) Outras complicações Infecções extra-pulmonares Complicações gastro-intestinais – Relacionadas à doença de base (como hipertensão portal na FC) – Refluxo gastro-esofágico, úlcera péptica, doença diverticular do colon. Osteoporose Descondicionamento físico Desnutrição/ Caquexia Outras Alterações psico-sociais REFERÊNCIAS 1. Hadley EC, Lakatta EG, Morrison-Bogorad M, Warner HR, Hodes RJ. The future of aging therapies. Cell 2005; 120:557–567. 2. Horton R. The neglected epidemic of chronic disease. Lancet 2005; 366:1514. 3. 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Eur Heart J 2005; 26:1115–1140. 2- Terapia física domiciliar – Coordenador: Dr. Jardim O objetivo dos programas de reabilitação pulmonar é melhorar a capacidade física e a qualidade de vida do paciente com alteração respiratória, de modo que tenha mais independência nas atividades de vida diária. Bases científicas comprovam a eficácia do programas de reabilitação pulmonar como meio de aliviar os sintomas e otimizar a função dos pacientes com doenças pulmonares crônicas. Um Programa de Reabilitação Pulmonar deve englobar treinamento físico das extremidades inferiores com esteira ergométrica, cicloergometro ou caminhadas; extremidades superiores com halteres, faixas 12 elásticas ou cicloergômetro de braço; educação incluindo, exercício, farmacoterapia, nutrição, prevenção e cessação do tabagismo, conservação de energia; oxigenoterapia e intervenção psicossocial e comportamental. Um programa de exercício físico deve atingir, pelo menos, 30 minutos de exercício ativo, tempo mínimo para que haja condicionamento das fibras musculares. Estes exercícios devem incluir todos os músculos que sejam necessários para as atividades da vida diária. Atualmente já se sabe que a associação de exercícios de resistências associados aos de força trazem mais benefícios que eles isolados. É impossível ter número suficiente de centros de reabilitação para todos os pacientes pneumopatas graves. O ideal é que se pudesse disponibilizar um Programa de Reabilitação Pulmonar realizado no domicílio ao maior número possível de pacientes com insuficiência respiratória. O objetivo deste Grupo de Estudo é o de discutir quais os melhores métodos de terapia física para estes pacientes, de modo que seja custo-efetivo. Há duas políticas a serem discutidas: 1- qual a estrutura de um Centro de Reabilitação Pulmonar ideal; 2- desenvolver um Programa de Reabilitação Pulmonar Domiciliar eficiente e de baixo custo. A finalidade em qualquer dos Programas é promover melhora na qualidade de vida e na capacidade física em pacientes com pneumopatia grave. REFERÊNCIAS 1- Baudolf, G.S., Hoffman, L.A., Sciurba, F., Zullo, T.G. Home-based, upper-arm exercise training for patients with chronic obstructive pulmonary disease. Heart Lung 1996; 25:288-94. 2- II Consenso Brasileiro Sobre Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC. J Bras Pneumol, 2004; vol.3. 3- Ferrarri, M., Vangelista, A., Vedoci, E., Falso, M., Segattini, C., Brigo, B., Lo Cascio, V. Minimally supervised home rehabilitation improves exercise capacity and health status in patients with COPD. 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Thorax 1995; 50:824-828. 13- American Thoracic Society/European Respiratory Society Statement on Pulmonary Rehabilitation Am J Respir Crit Care J 2006; 173: 1390-1413 3-Programa Educacional na DPA – Coordenadora: Dra. Christina Machado. O programa educacional para pacientes com DPA tem como principal objetivo otimizar o tratamento global destes pacientes, visando à melhoria da saúde, melhor controle da doença e diminuição das internações. Todos os esforços da equipe devem se voltar para que o paciente não falte às consultas, que utilize de forma correta e regular os medicamentos e o oxigênio prescritos e siga corretamente as orientações dadas no programa educacional, tornando-se um parceiro dos profissionais de saúde no seu tratamento. Muitas doenças pulmonares crônicas podem causar dano pulmonar progressivo e irreversível na sua evolução, o que frequentemente leva a incapacidade e morte. Infelizmente, para a maioria destas doenças ainda não existem opções terapêuticas que consigam modificar tal evolução. Portanto, o tratamento para estes doentes deve objetivar a melhoria do estado funcional, o alívio paliativo dos sintomas e a aplicação de um programa educacional, objetivando tornar o paciente um parceiro atuante neste processo. A cessação do tabagismo, o uso de ventilação não-invasiva nas exacerbações da DPA, a oxigenoterapia domiciliar prolongada e a cirurgia redutora do volume pulmonar nos casos selecionados de DPOC, comprovadamente aumentam a sobrevida destes pacientes. Já a atual terapêutica farmacológica que dispomos, além do transplante pulmonar e da reabilitação pulmonar (RP), melhoram a qualidade de vida destes doentes. Apesar de que muitos pacientes com DPA quando encaminhados para realização de RP clássica: 1- não conseguem cumprir adequadamente o programa de exercícios físicos, 2- apresentam reais dificuldades para sair de casa regularmente três vezes por semana e 3 - costumam ter exacerbações da doença durante o período de RP (as quais implicam na descontinuidade desta terapia), existem benefícios reais com a RP. A solução para driblar estas dificuldades seria a aplicação de um programa de RP domiciliar (RPD) específico para portadores de DPA, mas isto demanda tempo e custos para normatizar condutas, treinar equipes e deslocá-las ao domicílio para atendimento. Atualmente a literatura médica considera que, especificamente para pacientes com DPA, um programa educacional traga benefícios semelhantes aos da RPD. Programa educacional propriamente dito O programa educacional para DPA deve ser realizado individualmente e deve ser centrado no paciente e seus familiares/cuidadores. Ele engloba: aulas sobre a doença pulmonar de base, oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP), automanejo da doença sob orientação médica, exercícios localizados de membros superiores e inferiores, manobras de higiene brônquica, técnicas de relaxamento e de conservação de energia (todos orientados na clínica para serem realizados em casa), orientações nutricionais e suporte psicológico. O material didático do programa educacional deve ser distribuído para pacientes e familiares/cuidadores sob a forma de cartilhas, as quais devem conter informações sobre os temas do programa educacional para DPA. Sabidamente o paciente com doença pulmonar avançada possui limitações para realizar as tarefas rotineiras de vida diária devido à fadiga e dispnéia que apresentam ao realizar pequenos esforços. 14 Como conseqüência, isto gera ansiedade e depressão, que podem ser minimizadas ou revertidas com medicações e orientações, muitas vezes simples, que são dadas no programa educacional. A ODP aumenta a sobrevida de pacientes com DPOC, benefício também compartilhado por outras pneumopatias hipoxêmicas. Os principais efeitos benéficos do oxigênio suplementar no organismo são: diminuição do trabalho ventilatório e melhora do metabolismo orgânico, com conseqüente melhora das funções cardiovascular e muscular. A ODP também estabiliza as complicações sistêmicas da hipoxemia crônica, diminui as internações, reverte a policitemia secundária a hipóxia crônica, aumenta o peso corporal, estabiliza o cor pulmonale, melhora o sono, o desempenho em testes neuropsicológicos e a capacidade de realizar as atividades de vida diária. A oxigenoterapia está indicada para uso contínuo e com baixos fluxos na DPOC e em outras pneumopatias hipoxêmicas. A titulação da dose ideal de oxigênio deve ser constantemente refeita e individualizada durante a evolução, conforme as necessidades em repouso, esforços e durante o sono. A gasometria arterial em ar ambiente é imprescindível para a prescrição de ODP e deve ser realizada durante doença estável. As indicações clássicas da ODP são: PaO2 ≤ 55mmHg ou saturação ≤ 88% em repouso, ou PaO2 entre 56 e 59mmHg com evidências clinicas de cor pulmonale ou policitemia (hematócrito ≥56%). A prescrição do fluxo ideal de oxigênio deve ser feita por titulação individual, usando-se um oxímetro de pulso no dedo ou lóbulo da orelha, até obter-se saturação de pulso da oxihemoglobina ≥ 90% (SpO2 ideal 90-92%). Recomenda-se que se adicione 1L a mais de oxigênio ao fluxo usado durante o dia em repouso para uso durante o sono e que o fluxo de O2 para os esforços seja titulado durante simulação das atividades de vida diária. Antes de se matricular um paciente no programa de ODP devemos realizar nova avaliação gasométrica 45 a 90 dias após uma exacerbação da doença de base (ou seja, durante doença estável), pois já foi documentado que a hipoxemia pode ser transitória em aproximadamente 30-50% dos casos nestas reavaliações. O suporte ventilatório não invasivo usando-se ventilação mecânica não invasiva com pressão positiva (VNIPP) está indicado nas doenças neuromusculares crônicas. Alguns autores preconizam a VNIPP domiciliar em portadores de DPOC hipercápnica que a tolerem e que apresentem reais benefícios clínicos, mas a VNIPP domiciliar ainda não está universalmente indicada na DPOC hipercápnica estável. Na DPA orienta-se que o automanejo seja prontamente instituído pelo cuidador se ocorrer súbita modificação nos sintomas do paciente. Por exemplo, nas freqüentes exacerbações infecciosas da DPOC avançada (quando há aumento da dispnéia, da quantidade de secreção brônquica e/ou presença de secreção purulenta), preconiza-se o uso de um breve curso de antibióticos e corticóide oral por 7 a 14 dias e aumento do uso de broncodilatadores inalatórios, orientando-se a procura de atendimento caso não melhore em 24horas. Recentes estudos comprovaram que o automanejo tem impacto positivo na prevenção de exacerbações graves da DPOC avançada (que costumam necessitar de internações em UTI), com diminuição da mortalidade nestes pacientes. As exacerbações da DPOC também predispõem o paciente a constante má qualidade de vida e maior risco de morte nos 12 meses seguintes a um episódio de exacerbação grave. Por todas estas razões, a prevenção e o tratamento agressivo e precoce das exacerbações da DPA são considerados mandatórios. Com a aplicação do programa educacional, o doente ganha uma estabilização satisfatória da doença, com redução de internações e melhora clínica global. Ganha ainda um sono mais reparador, a sensação de ser um parceiro atuante no processo global do tratamento, uma alimentação mais nutritiva e é claro uma vida familiar com menos atribulações. 15 REFERÊNCIAS 1.Davis RM, Wagner EG, Groves T. Advances in managing chronic disease. BMJ 2000; 320; 525-526. 2.Holman H, Lorig K. Patients as partners in managing chronic disease. Partnership is a prerequisite for effective and efficient health care. BMJ 2000; 320:526-527. 3.Wagner EG, Groves T. Advances in managing chronic disease. Research, performance measurement, and quality improvement are key. BMJ 2000; 320:525-526. 4.Wagner EH. The role of patient care teams in chronic disease management. BMJ 2000; 320:569-572. 5.Grumbach K, Bodenheimer T. Can Health Care Teams Improve Primary Care Practice? 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Irma de Godoy A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é condição inflamatória crônica e apresenta manifestações sistêmicas que interferem com o prognóstico. A desnutrição é uma destas manifestações e pode ser definida por meio dos valores de índice de massa do corpo (IMC) <21 kg.m2; entretanto, pacientes com o mesmo valor de IMC podem apresentar diferenças de composição corporal. Por esta razão, a proposta atual é que a desnutrição em pacientes com DPOC seja definida com base no índice de massa magra do corpo (IMMC). Valor de IMMC <16 kg.m2, para homens, e <15 kg.m2, para mulheres, caracteriza a depleção de MMC. A prevalência de desnutrição depende do parâmetro nutricional e do ponto de corte utilizados; entretanto, na maioria dos estudos os valores variam entre 20-40% dos pacientes com DPOC. As alterações nutricionais são mais prevalentes entre os pacientes com doença mais grave. 16 A importância prognóstica da desnutrição foi verificada em vários estudos. Pacientes com DPOC desnutridos apresentaram sobrevida média aproximadamente 2-4 anos menor que os pacientes com a mesma gravidade de doença sem alteração nutricional. Estudo que avaliou os fatores de risco para mortalidade na cidade de Copenhagen (Copenhagen City Heart Study) verificou que pacientes com DPOC grave que perderam peso (> 3unidades de IMC), no período de cinco anos, apresentaram maior risco de morte. O IMMC e os indicadores da massa magra localizada de membros inferiores e superiores também estão associados com a mortalidade em pacientes com DPOC independentemente dos valores de gordura corporal. Além disso, a depleção da MMC contribui para a diminuição da força muscular periférica e da capacidade funcional e estas condições estão associadas com maior utilização dos serviços de saúde, hospitalização e mortalidade em pacientes com DPOC. A etiologia da desnutrição nos pacientes com DPOC é provavelmente multifatorial e está associada com o desequilíbrio entre a ingestão e a demanda energética. Atrofia muscular devido ao descondicionamento físico, a hipoxemia crônica, a inflamação sistêmica, a insuficiência hormonal e a sarcopenia são outros fatores envolvidos na fisiopatologia da desnutrição. A intervenção nutricional como parte de abordagem integrada ao paciente desnutrido é recomendada embora os resultados dos estudos sejam inconsistentes. Os benefícios do uso de estimulantes de apetite e suplementos específicos como creatina e anabolizantes não estão estabelecidos na literatura. A maioria das informações sobre as características e as conseqüências das alterações nutricionais foi obtida em pacientes portadores de DPOC; entretanto, outras doenças pulmonares crônicas (neoplasia, bronquiectasias, fibrose cística e doenças intersticiais) também estão associadas com alterações nutricionais significativas. O documento final do “Primeiro Encontro de Doença Pulmonar Avançada (DPA)”, no tema “Nutrição”, o documento final deverá: Propor instrumentos e técnicas que serão utilizadas para avaliar o estado nutricional dos pacientes com DPA. Propor as intervenções nutricionais que serão realizadas nos pacientes com DPA. REFERÊNCIAS 1. Schols A, Broekhuizen R, Weling-Scheepers CA, Wouters EF. Body composition and mortality in chronic obstructive pulmonary disease. Am J Clin Nutr 2005; 82(1):53-9. 2. Fabbri LM, Rabe KF. From COPD to chronic systemic inflammatory syndrome? Lancet 2007; 370(9589):797-9. 3. Wagner PD. Possible mechanisms underlying the development of cachexia in COPD. Eur Respir J 2008; 31(3):492-501. 4. Anker SD, John M, Pedersen PU, et al. ESPEN guidelines on enteral nutrition: Cardiology and pulmonology. Clin Nutr 2006; 25(2):311-8. 5. MacIntyre NR. Muscle dysfunction associated with chronic obstructive pulmonary disease. Respir Care 2006; 51(8):840-8. 6. 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Ilma Paschoal Qualquer circunstância que impeça o pulmão de desempenhar suas funções relacionadas à hematose (captação de oxigênio a partir do ar atmosférico e eliminação de gás carbônico do sangue) leva à insuficiência respiratória. Para que a hematose aconteça, a renovação do ar alveolar deve ser regular, proporcional à freqüência respiratória e adaptada às necessidades do organismo. Esta função, também chamada de ventilação, depende de mecanismos neurais íntegros, músculos contraindo de modo apropriado e com a força necessária, e ainda, conformação torácica normal. O músculo mais importante para a ventilação é o diafragma. Ele é responsável por 70% do volume corrente (volume de ar que entra nos pulmões a cada movimento inspiratório) e, ao se contrair, reduz sua convexidade no interior do tórax, aumentando assim o diâmetro crânio-caudal da caixa torácica. Este aumento do volume do tórax faz com que a pressão intratorácica, que já é subatmosférica fique ainda mais baixa e o ar é aspirado para o interior das vias aéreas. Qualquer interferência neste processo pode interromper ou diminuir a renovação do ar dos alvéolos. 18 Outro aspecto fundamental da hematose é a distribuição proporcional de ar e sangue para cada um dos milhões de alvéolos. Falhas nesta proporcionalidade levarão ao aparecimento de alvéolos pouco ou não ventilados, porém perfundidos, defeitos estes denominados efeito shunt pulmonar (nas alterações relativas, com pouca ventilação e perfusão normal) e shunt pulmonar verdadeiro (nas alterações absolutas, com total ausência de ventilação). De modo similar, a perfusão sanguínea nos alvéolos pode estar ausente ou relativamente diminuída, produzindo as alterações identificadas como efeito espaço morto funcional e espaço morto funcional. Parece haver uma resistência ao reconhecimento da insuficiência respiratória crônica como uma entidade identificável por meio de um sistema de padrões. Mas estes padrões existem e podem auxiliar bastante o raciocínio diagnóstico e a escolha do tratamento, que varia de acordo com o tipo da insuficiência respiratória. Erros graves, de conseqüências trágicas para o paciente, são cometidos com relativa freqüência quando se desconhecem as nuances que caracterizam os diferentes grupos de portadores de Insuficiência Respiratória Crônica. A capacidade do ser humano de se adaptar à hipoxemia é surpreendente, desde que ela se estabeleça de modo gradual. Pouco se conhece a respeito dos mecanismos de que o organismo lança mão para manter a homeostase em situações de hipoxemia crônica grave (PaO2 < 55 mmHg). Deve haver sistemas orgânicos mais sensíveis à falta de O2 e é provável que exista uma escala de prioridades para a produção de energia que preserve algumas funções essenciais em detrimento de outras. Trabalhos experimentais em condições hipobáricas extremas, que simulam uma altitude de 8.848 m (a altura do Monte Everest), mostraram que alterações orgânicas importantes acontecem mesmo com exposições mais curtas a baixas concentrações de O2 do que aquelas que se pensava serem necessárias para produzir efeitos considerados típicos da hipoxemia crônica. Green e cols. (7) em um destes estudos em câmara hipobárica submeteram oito indivíduos saudáveis a uma descompressão progressiva durante 40 dias, dos quais os sete últimos dias se passaram a uma pressão atmosférica total de 282 mmHg, pressão esta semelhante à encontrada no alto do Monte Everest e que resulta em uma PO2 inspirada de 43 mm Hg. Seis dos oito indivíduos foram até o final do experimento e saíram da câmara com 8,9%, em média, a menos do seu peso inicial. A tomografia computadorizada demonstrou que a perda de massa muscular foi a principal responsável pela redução de peso. Outros fatos significativos detectados em biópsias de músculo, realizadas em diferentes patamares de pressurização, foram a redução da atividade das enzimas do ciclo do ácido cítrico (metabolismo mitocondrial) e a expressiva diminuição das fibras musculares tipo 1 (oxidativas lentas). A diminuição gradual no oxigênio disponível para atividades celulares essenciais deve desencadear uma cadeia de eventos ainda pouco conhecida, provavelmente pelo fato de ser ainda pouco investigada. Contribui bastante para esta situação o fato de ser infrequente a abordagem da Insuficiência Respiratória Crônica (IResC) como uma síndrome, na qual vários padrões fisiopatológicos, clínicos e terapêuticos podem ser identificados. Muitas doenças pulmonares e extrapulmonares podem levar a uma incapacidade de manutenção de trocas gasosas adequadas que perdura por meses ou anos (eventualmente, muitos anos). Estes pacientes conseguem encontrar um novo estado de equilíbrio dinâmico e permanecerem vivos, apesar das grandes limitações impostas pela doença. Na maioria das afecções que acometem especialmente o parênquima pulmonar o principal sintoma costuma ser a dispnéia, de início, em situações que exigem aumento da captação de oxigênio, como, por exemplo, no exercício. A progressão da doença pode fazer com que o indivíduo acometido tenha dispnéia até durante as atividades da vida diária. Pelo caráter progressivo do acometimento respiratório, nestes casos existe uma fase da doença em que o paciente pode ainda não ter insuficiência respiratória em repouso (gases sanguíneos normais), situação que ressalta a importância de se avaliar o paciente durante atividade física (teste de exercício em esteira ou bicicleta ergométrica ou teste da caminhada de 6 minutos). 19 Doenças neuromusculares de instalação gradual geralmente não têm a dispnéia como queixa principal, pelo fato de os pacientes terem sua capacidade de exercício e até de deambulação já prejudicados pela afecção primária e estarem relativamente “protegidos” de solicitações de aumento da ventilação para suprir as demandas de uma atividade muscular aumentada. Nestes casos a hematose deficiente (por hipoventilação) produz sintomas mais vagos, tais como sono agitado e não reparador, cefaléia matinal, anorexia, perda de peso, intensificação da fraqueza muscular, para os quais o médico deve estar muito atento se quiser ajudar seu paciente. Doenças da rede vascular pulmonar, tais como a hipertensão pulmonar primária e a hipertensão pulmonar secundária a fenômenos tromboembólicos de repetição são causas de insuficiência respiratória crônica difíceis de serem identificadas, muitas vezes pelo fato de não se pensar nelas. A queixa inicial de limitação da capacidade de exercício, com espirometria normal, radiograma de tórax (quase) normal e coração esquerdo sem alterações detectáveis devem levantar a possibilidade de doença da vasculatura pulmonar. Os gases sanguíneos adequados em repouso não afastam o diagnóstico, sendo essencial a avaliação do desempenho durante atividade física. Os resultados da primeira avaliação clínica do provável portador de IResC geralmente permitem o enquadramento do paciente em uma das seguintes categorias : 1. Insuficiência Respiratória Crônica Obstrutiva: deste grupo fazem parte os indivíduos com DPOC, bronquiectasias e outras bronquiolites; Insuficiência Respiratória Crônica Restritiva a) com freqüência respiratória aumentada: deste grupo fazem parte os indivíduos com doenças intersticiais pulmonares, tais como fibrose pulmonar idiopática, pneumoconioses fibrogênicas; b) com hipoventilação: deste grupo fazem parte os indivíduos com doenças neuro-musculares e pacientes com deformidades torácicas; Insuficiência Respiratória Crônica por doença vascular pulmonar: aqui se encaixam os pacientes com hipertensão pulmonar primária e outras formas de hipertensão pulmonar pré-capilar (por acometimento dos vasos pulmonares antes da rede capilar) doença veno-oclusiva pulmonar, tromboembolismo pulmonar crônico. A primeira opção de tratamento nos pacientes portadores de insuficiência respiratória crônica obstrutiva é sempre a oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP). Evidências categoria A estão disponíveis para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), a causa mais freqüente de Insuficiência Respiratória Crônica Obstrutiva. No entanto, outras doenças de vias aéreas, potenciais causadoras de IresC, tais como as bronquectasias, não foram sistematicamente avaliadas quanto a resposta à oxigenoterapia, muito embora se saiba que 50% dos pacientes com DPOC grave apresentam bronquectasias na tomografia computadorizada de alta resolução do tórax. A fibrose cística, que usualmente leva indivíduos jovens à insuficiência respiratória crônica, também não teve sua resposta à ODP avaliada de modo a permitir conclusões adequadas. Como a ODP é um procedimento terapêutico de alto custo, todos os esforços devem ser feitos no sentido de se obter evidências que orientem a prescrição para os pacientes que maiores chances tiverem de se beneficiar dele. A prescrição de oxigenoterapia deve sempre seguir as recomendações internacionais e também obrigatoriamente incluir a fonte de oxigênio a ser utilizada, o método de fornecimento, duração do uso e o fluxo em repouso, atividade física e sono. A oxigenoterapia em pacientes normoxêmicos em repouso, mas que dessaturam durante o exercício ainda é controversa. Estudos randomizados não conseguiram demonstrar benefícios para a qualidade de vida na oxigenoterapia portátil em pacientes com DPOC que não atendem os critérios internacionais de prescrição de ODP. No entanto, a hipóxia crônica intermitente leva a várias situações patofisiológicas de conseqüências importantes, tais como hipertensão arterial pulmonar, hipertensão sistêmica, infartos cerebrais e miocárdicos e disfunção 20 cognitiva. O exemplo mais estudado de hipóxia intermitente é a apnéia obstrutiva do sono, mas qualquer outra doença que cause hipoxemia durante o exercício ou sono leva ás mesmas alterações. Um dos aspectos não esclarecidos da ODP se relaciona à possibilidade de a terapêutica aumentar a lesão por radicais oxidantes. Muito oxigênio eleva a produção destes radicais, fato bem documentado no tratamento da insuficiência respiratória aguda com FiO2 elevadas. Os fluxos normalmente utilizados para a ODP são baixos e, no máximo, elevam a fração inspirada de O2 para 32%. Pouco oxigênio também aumenta a produção de radicais livres e a suplementação de O2 em hipoxêmicos reduz o estresse oxidativo induzido pelo exercício. Nas doenças que produzem IresC restritiva com freqüência respiratória aumentada a primeira opção no tratamento da insuficiência respiratória também parece ser a ODP. Novamente, no entanto, não há evidências concretas de benefícios em longo prazo, muito embora os pacientes só suportem a hipoxemia grave, no período de aceleração da doença, com a suplementação de oxigênio. O mesmo acontece com as doenças da rede vascular pulmonar, nas quais se usa oxigênio quando a saturação da hemoglobina cai abaixo de 90%. As indicações de oxigenoterapia para outras doenças que não a DPOC seguem os critérios estabelecidos para esta síndrome, muito embora se possa questionar severamente esta conduta, já que as doenças intersticiais e as doenças da rede vascular pulmonar têm padrão de evolução muito diferente da evolução da DPOC. Mesmo dentro da própria DPOC, a bronquite crônica tabágica obstrutiva e o enfisema pulmonar parecem ter evolução muito diferente no que se refere à época de aparecimento da hipoxemia em repouso e à evolução, após a instalação desta hipoxemia em repouso. Doenças nas quais a causa da hipoxemia é a hipoventilação devem ser tratadas primariamente por meio de algum procedimento terapêutico que melhore a renovação do ar alveolar, seja ele não invasivo ou invasivo. Doenças neuromusculares e a insuficiência respiratória crônica desencadeada por deformidade da caixa torácica respondem muito bem ao Suporte Pressórico não Invasivo, muito embora estudos controlados não estejam disponíveis, já que o uso de controles não tratados não seria eticamente justificável. Doenças obstrutivas exacerbam periodicamente e vão progressivamente progredindo no comprometimento da função pulmonar. Durante as exacerbações, especialmente no caso de pacientes com DPOC, o uso de suporte pressórico não invasivo com dois níveis de pressão já foi demonstrado eficiente em prevenir intubações orotraqueais e acelerar a recuperação. O uso deste tipo de suporte em pacientes estáveis, já em ODP, mas com piora da função pulmonar e hipercapnia não tem evidências categoria 1 para justificá-lo. No entanto, parece ser a última medida terapêutica capaz de evitar a intubação orotraqueal em um paciente sem chance de recuperação. REFERÊNCIAS (1) Report of the Medical Research Council Working Party. Long-term domiciliary oxygen therapy in chronic hypoxic cor pulmonale complicating chronic bronchitis and emphysema. Lancet 1981; 1:681-686. (2) Nocturnal oxygen therapy trial. Continuous or nocturnal oxygen therapy in hypoxemic chronic obstructive lung disease ( a clinical trial ). Ann Intern Med 1980; 93:391-398. (3) Patel IS, Vlahos I, Wilkinson TMA, Lloyd-Owen SJ, Donaldson GC, Wilks M et al. 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Dagoberto e Rossane de Godoy Pacientes portadores de doenças avançadas, capazes de causar-lhes a morte, usualmente deparam-se com os seguintes problemas: isolamento, solidão, medo, ansiedade, depressão, sensação de vulnerabilidade, alteração da imagem corporal, incapacidade para realizar atividades da vida diária, preocupação sobre o futuro dos seus dependentes e redução da auto-estima. O complexo quadro psicológico vivido por essas pessoas pode não infreqüentemente, despertar-lhes o desejo de morte para que o sofrimento cesse. Ao contrário do senso comum, em portadores de doença grave terminal não é a dor que leva os pacientes à solicitarem a eutanásia ao médico assistente, mas sim a depressão e a desesperança. Após o tratamento do quadro depressivo, mesmo com a persistência do quadro doloroso, a solicitação de eutanásia não é mantida. Depressão e ansiedade são detectadas com grande freqüência em portadores de DPA. No entanto, essas condições comórbidas são subdiagnosticadas e subtratadas, pois os médicos atuais estão mais bem preparados para identificar e manejar achados objetivos do que perturbações psicológicas e sentimentos alterados em seus pacientes. Essa abordagem parcial de pacientes com PDA pode conduzilos a um grau de sofrimento intenso, capaz de interferir muito negativamente na qualidade de vida e nos desfechos clínicos desses indivíduos. Pessoas ativas profissionalmente têm que descontinuar o trabalho, obrigando-se a ter uma invalidez profissional precoce. Esse aspecto, em especial, é muito difícil de ser suportado e aceito, visto que muitos pacientes encontram-se no ápice de sua vida economicamente ativa. Além do trabalho configurar um dos sentidos de utilidade da pessoa, também torna-se uma maneira de preenchimento do dia a dia. Com a aposentadoria precoce, além da reorganização exigida para preencher o tempo livre, a pessoa carrega o estigma da inaptidão, da invalidez. Em pacientes asmáticos, numa análise ajustada para condições sócio-econômica-ambiental e geral de saúde, a depressão (como estado comórbido) teve um impacto negativo sobre o estado de saúde muito maior do que a presença de angina pectoris, artrite reumatóide ou diabete mélito. Depressão é muito comum em DPOC, embora, algumas vezes, possa ser considerada desprovida de importância. Não obstante, distúrbios depressivos estão presentes em 27% a 79% destes indivíduos. Ansiedade tem sido identificada em pacientes com DPOC em taxas variando de 21% a 96%. A ansiedade no paciente com DPOC geralmente surge como conseqüência da doença, associada à sintomatologia física, principalmente relacionada à intensa dispnéia. A prevalência de transtorno do pânico em portadores de DPOC é cerca de 10 vezes superior ao da população em geral. Recentemente demonstrou-se que a sensibilidade a cargas inspiratórias aumentadas está exacerbada em portadores de DPOC e crises de pânico. É necessário que o pneumologista que se proponha a tratar de pessoas portadoras de DPA desenvolva a aptidão para detectar e tratar os distúrbios psicossociais mais prevalentes nesse grupo de pessoas, bem como saiba valer-se do aporte de outros profissionais, como psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais. 23 REFERÊNCIAS 1- Billings JA. Care of dying patients and their families. In: Goldman L, Ausiello D. 2-Cecil Medicine, 23th ed. Philadelphia: Saunders – Elsevier. 2008. p.11-16. 3- Emanuel EJ. Bioethics in the practice of medicine. In: Goldman L, Ausiello D. Cecil Medicine, 23th ed. Philadelphia: Saunders – Elsevier. 2008. p. 6-11. 4- Lanken PN, Terry PB, DeLisser HM, Fahy BF, Hansen-Flaschen J, Heffner JE, et al. An Official American Thoracic Society Clinical Policy Statement: palliative care for patients with respiratory diseases and clinical illnesses. Am J Respir Crit Care Med 2008; 177: 912-27. 5- Livermore N, Butler JE, Sharpe L, McBain RA, Gandevia SC, McKenzi DK. Panic attacks and perception of inspiratory resistive loads in chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Cit Care Med 2008; 178: 7-12. 6- Moussavi S, Chatterji S, Verdes E, Tandon A, Patel V, Ustun B. et al. Depression, chronic diseases, and decrements in health: results from the World Health Surveys. Lancet 2007; 370: 851-58. 7- Cuidados Paliativos na DPA – Coordenadora: Dra. Veruska M. Hatanaka Alguns estudos sugerem que a qualidade dos cuidados no final da vida para pacientes com doença pulmonar crônica é pior, comparativamente a dos pacientes com câncer. Muitos pacientes com doença pulmonar avançada (DPA) ainda morrem em unidades de terapia intensiva recebendo ventilação mecânica invasiva devido a dispnéia (insuficiência respiratória crônica reagudizada), apesar de que as preferências terapêuticas da maioria destes pacientes usualmente encontram-se voltadas para o conforto quanto ao prolongamento da vida. Ainda, verificou-se que pacientes com DPA [principalmente aqueles com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) que é a DPA mais prevalente], são pouco referendados para Serviços de cuidados paliativos e morrem menos no domicílio do que pacientes com neoplasia pulmonar. Freqüentemente os cuidados de saúde para pacientes com DPA são deflagrados por exacerbações agudas, ao invés de serem baseados em planejamentos antecipados desenvolvidos para o melhor manejo destas doenças. Cuidados paliativos podem e devem ser disponibilizados concomitantemente aos cuidados curativos/ restaurativos para pacientes após decisões com a família do paciente sobre a limitação/ retirada de tratamentos que prolonguem a vida e que estão relacionados à morte do mesmo. No entanto, pacientes com doença pulmonar avançada não neoplásica ainda encontram dificuldades neste encaminhamento para receberem cuidados paliativos. A indefinição do prognóstico na DPA, a inabilidade ou mesmo ausência de treinamento médico para reconhecer ou comunicar ao paciente a proximidade da morte, o desconhecimento médico quanto à disponibilidade de cuidados paliativos para pacientes não oncológicos e dos critérios de elegibilidade para estes cuidados, 8 constituem barreiras que impedem o adequado suporte clínico para pacientes com DPA no final da vida. O controle inadequado dos sintomas e seu impacto na vida destes pacientes/ cuidadores, a urgência por informações adequadas e o suporte espiritual, constituem temas emergentes ao se considerar as necessidades destes pacientes com DPA. Neste sentido, a natureza interdisciplinar na provisão de cuidados paliativos estimula os pacientes com DPA a exercerem um papel ativo no auto-cuidado, oferecendo oportunidade para uma melhor comunicação entre pacientes, profissionais da saúde e familiares, permitindo com isso planificar estratégias terapêuticas apropriadas que incluem um plano de cuidados que contemple as preferências do paciente com respeito às decisões no final de suas vidas. O alívio de sintomas físicos encontra-se atrelado ao suprimento das necessidades psicológicas, espirituais e psicossociais, visando melhorar a qualidade de vida destes pacientes. 24 Apesar das intervenções disponíveis para o alívio da dispnéia, somente 50% dos pacientes com DPOC em estadio final se beneficiam com as intervenções comumente instituídas, e muitos vivem e morrem com dispnéia incapacitante. Ao lado de medidas convencionais, como o uso de broncodilatadores e oxigenoterapia para pacientes hipoxêmicos, intervenções adicionais devem ser implementadas mediante evidências empíricas que suportem seu uso. Os opióides constituem um arsenal terapêutico importante para pacientes com DPA e dispnéia incapacitante, que estejam em uso de broncodilatadores e/ou de outras terapêuticas otimizadas, pois estudos sugerem que existe efetividade na sua administração oral e parenteral, 16 embora a nebulização dos mesmos seja inefetiva. Pacientes com DPA necessitam de informações sobre o processo diagnóstico e sua doença, opções terapêuticas disponíveis, prognóstico, o morrer e o planejamento dos cuidados avançados. Apesar disto, atualmente tais discussões atingem um pequeno número de pacientes, determinando deficiências no processo decisório e na qualidade de vida da maioria dos portadores de DPA. O acesso aos cuidados paliativos necessita e deve ser disponibilizado no início da progressão da DPA antes da fase final e não apenas quando a dispnéia se torna intratável nos estadios terminais, visando uma integração sinérgica entre paciente/família/equipe de cuidados paliativos, que objetiva a otimização terapêutica global e a melhora da qualidade de vida destes pacientes com DPA. REFERÊNCIAS 1. Lynn J, Ely EW, Zhong Z, et al. Living and dying with chronic obstructive pulmonary disease. J Am Geriatric Soc 2000; 48: S91-S100. 2. Claessens MT, LynnJ, Zhong Z, et al. 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Meier DE, Morrison RS, Cassel CK. Improving palliative care. Ann Intern Med 1997; 127:225230. 8. Brickner L, Scannell K, Margaret S, Ackerson L. Barriers to hospice care and referrals: survey of physicians´ knowledge, attitudes, and perceptions in a health maintenance organization. J Palliat Med 2004; 7:411-418. 9. Curtis JR, Engelberg RA, Nielsen EL, Au DH, Patrick DL. Patient-physician communication about end-of-life care for patients with severe COPD. Eur Respir J 2004; 24:200-205. 10. Rocker G, Heyland D, Groll D, Dodek P, Kutsogianis D, Lazar N. Meeting the needs of patients with end stage COPD: A multicentre study. Am J Respir Crit Care Med 2004; 169: A50. 11. Edmonds P, Karlsen S, Khan S, Addington-Hall J. A comparison of the palliative care needs of patients dying from chronic respiratory diseases and lung cancer. Palliat Med 2001; 15:287-295. 25 12. Jones I, Kirbi A, Ormiston P, Loomba Y, Chan KK, Rout J, Nagle J, Wardman L, Hamilton S. 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Estas correspondem a 85% dos procedimentos realizados no mundo, e os 15% restantes são realizados em pacientes com linfangioliomiomatose, histiocitose das células de Langherans, silicose, retransplante e outros. Os candidatos ao transplante, usualmente apresentam sintomas que limitam as atividades diárias e uma expectativa de vida de dois anos ou menos. Além disso, o candidato ideal não deve apresentar disfunção de outros órgãos ou manifestação sistêmica de doença extrapulmonar. Diretrizes para a seleção do receptor foram desenvolvidas pela ATS (American Thoracic Society) e pela ISHLT (International Society of Heart and Lung Transplantation) Indicações gerais Doença grave do ponto de vista clínico e fisiológico Tratamento médico inefetivo ou não disponível Expectativa média de vida menor do que 2 a 3 anos devido à doença pulmonar Capacidade de realizar reabilitação ambulatorial Estado nutricional aceitável, peso corporal de 80 a 120% do previsto (IMC<30 Kg/m2) Perfil psicossocial e suporte satisfatório Cobertura financeira adequada para o procedimento e cuidados pós-operatórios 26 Limite de idade: transplante de coração-pulmão ~ 55 anos; transplante pulmonar unilateral ~ 65 anos e transplante pulmonar bilateral ~ 60 anos. Contra-indicações Paciente com doença extra-pulmonar aguda ou clinicamente instável Infecção pulmonar ou extra pulmonar intratável ou não controlada Neoplasia nos últimos dois anos Disfunção irreversível de órgão vital, especialmente rim, coração, fígado, CNS Doença coronariana importante ou disfunção de VE com FE<50% Deformidade da parede torácica ou da coluna vertebral Infecção por HIV TBC em atividade Tabagismo ativo Hepatite viral B e C em atividade Problemas psicossociais ou não aderência ao manejo médico Fatores clínicos que podem ser agravados pelo tratamento pós transplante devem ser avaliados individualmente. Estes incluem dependência de ventilação mecânica, estado nutricional, antecedente de cirurgia cardiotorácica e doenças pré - existentes como coronariopatias, HAS, diabetes, osteoporose e uso crônico de corticosteróides. Considerações referentes à doença pulmonar de base A doença pulmonar de base é um importante fator na decisão do tipo de transplante pulmonar a ser realizado e os critérios utilizados para a sua indicação. Doenças pulmonares obstrutivas Doença pulmonar obstrutiva crônica associada ao tabagismo Enfisema por deficiência de alfa 1 - antitripsina Bronquiolite obliterante Critérios para indicação VEF1 < 25% do previsto, após broncodilatador. Hipoxemia em repouso PaO2 < 55 mm Hg Hipercapnia Hipertensão pulmonar Rápida deterioração clínica ou exacerbações freqüentes e de mais difícil controle Doenças pulmonares restritivas Fibrose pulmonar idiopática Fibrose pulmonar de outras causas Doenças vasculares do colágeno Sarcoidose Granuloma eosinofílico Linfangioliomiomatose Outras Critérios para indicação Capacidade vital forçada < 60-65% do previsto Hipoxemia em repouso PaO2 < 55 mm Hg Doenças pulmonares sépticas 27 Fibrose cística Bronquiectasias não associadas à fibrose cística Critérios para indicação VEF1 < 30% do previsto após broncodilatador Hipoxemia em repouso PaO2 < 55 mm Hg Hipercapnia > 50mmHg Rápida deterioração clínica ou exacerbações freqüentes e de mais difícil controle Doenças pulmonares vasculares Hipertensão arterial pulmonar idiopática Síndrome de Eisenmenger Hipertensão pulmonar tromboembólica Doença veno-oclusiva Critérios para indicação Classe funcional da NYHA III ou IV Pressão média da artéria pulmonar >50 mm Hg Pressão média do átrio direito >10 mm Hg Índice cardíaco < 25 L/min/m² Falha de resposta ao tratamento clínico com vasodilatadores Tipos de transplante de pulmão Transplante de pulmão unilateral Transplante de pulmão bilateral Transplante de pulmão lobar bilateral (split) Transplante de pulmão lobar intervivos Transplante coração-pulmão 28 REFERÊNCIAS: 1.Trulock, EP, Christie, JD, Edwards, LB, et al. 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Algumas formas de tratamento cirúrgico, como bulectomia para bolha gigante, pneumoplastia ou cirurgia redutora de volume pulmonar e transplante de pulmão são opções de tratamento, aplicáveis para um pequeno número de pacientes com esta doença. The National Emphysema Treatment Trial (NETT), o maior estudo multicêntrico, randomizado mundial, foi realizado com o objetivo de comparar a eficácia de duas modalidades terapêuticas distintas para pacientes com enfisema: o tratamento clínico máximo com a cirurgia redutora de volume pulmonar (CRVP). Este estudo avaliou a sobrevida, resposta ao exercício, função pulmonar, sintomas e qualidade de vida. Algumas questões ainda são controversas, necessitando de respostas para que a CRVP tenha seu papel bem definido no tratamento do enfisema: Por que recomendar a CRVP? Quando recomendar a CRVP? Qual o tipo de paciente é candidato? Quais são as dificuldades para a realização da CRVP? De acordo com o NETT, a CRVP deve ser considerada como uma opção terapêutica, somente para pacientes com enfisema avançado após atingir tratamento clínico otimizado, incluindo farmacoterapia, oxigenoterapia e reabilitação pulmonar. O objetivo da CRVP é ser um tratamento seguro, efetivo, com melhora paliativa, mas durável para a dispnéia em pacientes com enfisema avançado. A seleção apropriada do paciente e a preparação pré-operatória são pré-requisitos para o sucesso da CRVP. Um programa de CRVP requer a participação e comunicação entre especialistas da pneumologia, cirurgia torácica, anestesiologia torácica, terapia intensiva, reabilitação, radiologia do tórax e enfermagem. Critérios para indicação da CRVP Evidência radiográfica de enfisema, especialmente comprometendo os lobos superiores. Hiperinsuflação VEF1 >20% e <45% do previsto (após broncodilatador) DLCO >20% do previsto Dispnéia importante Restrição às atividades diárias Piora na qualidade de vida Abstinência ao tabaco Critérios de exclusão para CRVP Tabagismo ativo Bronquiectasias Produção diária excessiva de escarro Necessidade de avaliação de nódulo pulmonar Toracotomia prévia Doença pleural evidente Doença coronariana ativa ou induzida Hipertensão pulmonar FEVE <45% Obesidade Uso de >20mg/dia de prednisona Indicações para CRVP unilateral Enfisema nitidamente assimétrico ou unilateral 31 Pleurodese contralateral Toracotomia contralateral com ou sem ressecção pulmonar Instabilidade hemodinâmica durante o primeiro lado da CRVP bilateral Importante fuga aérea durante o primeiro lado da CRVP bilateral Hiperinsuflação do pulmão nativo após transplante de pulmão para enfisema REFERÊNCIAS 1. Cooper JD, Trulock EP, Triantafillou AN, Patterson GA, Pohl MS, Deloney PA, Sundaresan RS, Roper CL. Bilateral pneumectomy (volumereduction) for chronic obstructive pulmonary disease. J Thorac Cardiovasc Surg 1995; 109:106–116. 2. McKenna RJ Jr, Brenner M, Gelb AF, Mullin M, Singh N, Peters H,Panzera J, Calmese J, Schein MJ. A randomized, prospective trial of stapled lung reduction versus laser bullectomy for diffuse emphysema. J Thorac Cardiovasc Surg 1996; 111:317–321. [Discussion, p. 322.] 3. McKenna RJ Jr, Brenner M, Fischel RJ, Gelb AF. Should lung volumereduction surgery be unilateral or bilateral? J Thorac Cardiovasc Surg 1996; 112:1331–1339. [Discussion, pp. 1338– 1339.] 5. Cooper JD, Patterson GA, Sundaresean RS, Trulock EP, Yusen RD, Pohl MS, Lefrak SS. Results of 150 consecutive bilateral lung volume reduction procedures in patients with severe emphysema. J Thorac Cardiovasc Surg 1996; 112:1319–1330. [Discussion, pp. 1329–1330.] 6. Miller JI Jr, Lee RB, Mansour KA. Lung volume reduction surgery: lessons learned. Ann Thorac Surg 1996; 61:1464–1469. [Discussion, pp. 1468–1469.] 7. Healthcare Finance Administration. Report to Congress. Lung volume reduction surgery and Medicare coverage policy: implications of recently published evidence. Washington, DC: Department of Health and Human Services; 1998. 8. National Emphysema Treatment Trial Research Group. Rationale and design of the National Emphysema Treatment Trial: a prospective randomized trial of lung volume reduction surgery. Chest 1999; 116: 1750–1761. 9. National Emphysema Treatment Trial Research Group. A randomized trial comparing lungvolume-reduction surgery with medical therapy for severe emphysema. N Engl J Med 2003; 348:2059–2073. 10. Naunheim KS, Wood DE, Mohsenifar Z, Sternberg AL, Criner GJ, DeCamp MM, Deschamps CC, Martinez FJ, Sciurba FC, Tonascia J, et al.; National Emphysema Treatment Trial Research Group. Long-term follow-up of patients receiving lung-volume-reduction surgery versus medical therapy for severe emphysema. Ann Thorac Surg 2006; 82:431–443. 11. Ries A, Make B, Lee S, Krasna M, Bartels M, Crouch R, Fishman A; National Emphysema Treatment Trial Research Group. The effects of pulmonary rehabilitation in the National Emphysema Treatment Trial. Chest 2005; 128:3799–3809. 12.Criner GJ, Sternberg AL, and for the National Emphysema Treatment Trial Research Group. A Clinician's Guide to the Use of lung Reduction Surgery. The Proceedings of the American Thoracic Society 2008; 5:461-467. 13. Patel N, DeCamp M, Criner GJ. Lung Transplantation and Lung Volume Reduction Surgery versus Transplantation in Chronic Obstrutive Pulmonary Disease. The Proceedings of the American Thoracic Society 2008; 5:447-453. (8.2) Protocolos para avaliação pré-operatória na DPA – Coordenadora: Dra. Sonia Faresin Vários estudos apontam a DPOC como fator de risco considerável a ocorrência de complicações cárdio-pulmonares no pós-operatório de procedimentos operatórios dentro da cavidade torácica ou abdominal, principalmente sob anestesia geral. 32 A esperada atelectasia das porções dependentes dos pulmões decorrentes do processo anestésico, do colabamento pulmonar necessário em procedimentos torácicos e da manipulação das vísceras do abdome superior ou do mediastino, são capazes de reduzir a capacidade vital em até 25-30%. Apesar de transitória, esta perda de capacidade funcional em um pneumopata pode acarretar em dificuldades no desmame da ventilação mecânica e necessidade de suporte mecânico não invasivo, além de maior necessidade de oxigenoterapia. No doente portador da DPOC estádios 2 e 3, além da função pulmonar, outros pontos merecem atenção como a hiperresponsividade das vias aéreas e o maior risco de infecções respiratórias. Um estudo avaliando portadores de DPOC com VEF1 < 50% do previsto encontrou 29% de complicação pulmonar após cirurgia geral, 56% após cirurgia abdominal e 60% após revascularização miocárdica (Nível de evidência C). O tempo cirúrgico foi estratificado em inferior a 1 hora, de 1 a 2 horas, de 2 a 4 horas e acima de 4 horas, e as taxas de complicação ascenderam conforme aumentou o tempo cirúrgico, sendo respectivamente de 4%, 23%, 38% e 73%. Outro estudo também em portadores de DPOC com VEF1 < 50% do previsto evidenciou 37% de complicações pulmonares e 6,7% de mortalidade. (Nível de evidência C) Interessante estudo revelou que as infecções pulmonares pós-operatórias além de prejudicarem a recuperação da função pulmonar, podem reduzí-la definitivamente. Procedimentos ambulatoriais e de pequeno porte realizados com anestesia local oferecem pouco risco pulmonar. Entretanto, a tosse crônica do portador da DPOC pode comprometer o resultado final de procedimentos oftalmológicos e otorrinolaringológicos. Devido à transmissão de pressão nas vias aéreas superiores e ao aumento da pressão intra-ocular durante a tosse, potencialmente pode haver deslocamento de lentes intra-oculares e sangramentos de diversos graus. Procedimentos sob anestesia regional, porém periféricos, principalmente ortopédicos, apesar de oferecerem risco menor a função pulmonar no intra-operatório, por suas características próprias, comprometem a deambulação e aumentam o tempo de permanência no leito no pós-operatório. Neste grupo de doentes as infecções respiratórias e o tromboembolismo venoso são as principais causas de mortalidade. Procedimentos intra-torácicos com ressecção de parênquima pulmonar em portadores de DPOC estádios 2 e 3, principalmente os oncológicos, ficam limitados a no máximo lobectomia ou ressecção de 2-3 segmentos pulmonares. O cálculo da reserva funcional no pós-operatório é complexo, oneroso e muito pouco exato, pois o VEF1 pós-operatório destes doentes pode reduzirse pouco, não se modificar, e até, aumentar. Bulectomias e procedimentos redutores do volume pulmonar beneficiam poucos doentes por um intervalo de tempo relativamente curto e a seleção dos doentes deve ser bastante criteriosa. Independente do procedimento proposto faz-se absolutamente necessário uma avaliação cardiológica cuidadosa, porque o doente portador de DPOC frequentemente apresenta, concomitantemente, doenças cárdio-vasculares cujas complicações são igualmente graves e até incapacitantes. REFERÊNCIAS 1-Wong DH, Weber EC, Schell MJ, Wong AB, Anderson CT, Barker SJ. Factors associated with postoperative pulmonary complications in patients with severe chronic obstructive pulmonary disease. Anesth Analg 1995; 80:276-84. 2-Medeiros RA, Faresin SM, Jardim JR. Complicaciones pulmonares y mortalidad em el postoperatorio de pacientes com enfermedad pulmonar obstructiva crónica leve y moderada sometidos a cirurgía general electiva. Arch Bronconeumol 2001; 37(5):227. 3-Brunelli A, Al Refai M, Monteverde M, Sabbatini A, Xiumé F, Fianchini A. Predictors of early morbidity after major lung resection in patients with and without airflow limitation. Ann Thorac Surg 2002; 74: 999-1003. 33 4-Varela-Simó G, Barberà-Mir JA, Cordovilla-Pérez R, Duque-Medina JL, López-Encuentra A, Puente-Maestu L. Guideline for the evaluation of surgical risk in bronchogenic carcinoma. Arch Bronconeumol 2005; 41: 686-97. 5-Colice GL, Shafazand S, Griffin JP, Keenan R, Bolliger CT. Physiologic evaluation of the patient with lung cancer being considered for resectional surgery: ACCP evidenced-based clinical practice guidelines (2nd Edition). Chest 2007; 132: 161-77. 34