ANISOTROPIAS DA RADIAÇÃO CÓSMICA DE FUNDO Renan Alves de Oliveira (Bolsista IC/UEL), Thiago dos Santos Pereira, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Física/CCE. Área e sub-área do conhecimento: Astronomia/Astrofísica Extragaláctica. Palavras-chave: Radiação Cósmica de Fundo; Espectro de Potências; Anisotropias. Resumo Será apresentado neste trabalho de forma qualitativa as variáveis para se obter o espectro de potências observado, no qual se ajusta ao modelo cosmológico padrão (ΛCDM). A partir do estudo das flutuações intrínsecas de temperatura da Radiação Cósmica de Fundo, é possível extrair informações relacionadas a quantidade percentual dos constituintes do universo, a curvatura espacial, idade do universo, dentre outras características. Introdução A Radiação Cósmica de Fundo (RCF) carrega boa parte da informação relacionada ao universo primordial. Essa radiação térmica foi descoberta em 1964 pelos radio astrônomos Arno Penzias e Robert Wilson (PENZIAS, WILSON, 1965). É possível medir três propriedades deste tipo de radiação: frequência, temperatura e os modos de polarização. O foco deste trabalho está na temperatura. Antes de começarmos a trabalhar com a informação de temperatura obtida, faremos um breve comentário a respeito ao que foi obtido no espectro de frequência. Os resultados do experimento WMAP apontaram que a RCF se comporta como um corpo negro e a sua temperatura média é 2,72548 ± 0,00057K para altas frequências (FIXSEN, 2009). Porém essa é a temperatura medida hoje (aproximadamente 14 bilhões de anos após o Big Bang). Espera-se que no universo primordial esta temperatura fosse muito maior. Entretanto, muito das propriedades primordiais do universo são extraídas medindo a temperatura da RCF em diversas posições do espaço. Ao medir a temperatura da RCF, notou-se a existência de flutuações intrínsecas da ordem de 10-5K. Todas as propriedades relacionadas a homogeneidade e isotropia do universo são extraídas analisando essas flutuações de temperatura que também são chamadas de anisotropias (DODELSON, 2003). Além disso, estudando-se as anisotropias é possível estimar por exemplo a idade do 1 universo, a constante de Hubble, as densidades de bárions, matéria escura e energia escura, o índice espectral, a época da re-ionização e a curvatura do universo. Fundamentação Teórica Para se medir a temperatura em todas as direções, foram lançados diversos satélites onde o mais recente e mais preciso foi o satélite Planck. A imagem abaixo mostra as anisotropias da RCF que foram obtidas. Figura 1 - Anisotropias da Radiação Cósmica de Fundo. Fonte: Agência Espacial Europeia/Colaboração Planck. Na Figura 1 foram retiradas as possíveis contaminações de temperatura oriundas da vizinhança do sistema solar e da Via Láctea fazendo com que a figura acima mostre somente as anisotropias intrínsecas que são ordem de µK. Estas flutuações são expandidas em uma esfera utilizando os harmônicos esféricos. Fazendo a correlação de temperatura para dois ângulos ou pontos distintos no espaço, é possível definir o Espectro de Potências (CL). Como as flutuações de temperatura são gaussianas, os coeficientes da expansão dessas flutuações (aLM) tem média nula para l’s iguais e a função de correlação para l’s diferentes é CLδLL’δMM’=<aLMa*L’M’>. Portanto, devido a essa gaussianidade, toda a informação relacionada as anisotropias estão contidas nos coeficientes de CL. O espectro de potências que foi obtido pelo experimento Planck (ADE et al., 2014) está mostrado na Figura 2. O modelo utilizado que se ajusta com os dados observados (pontos com as barras de erro) foi o ΛCDM ou Lambda Cold Dark Mater (linha contínua). Este modelo leva em conta que o universo está se expandindo rapidamente e dominado por energia escura. Para que o modelo se ajuste com o observado, é 2 necessário fazer uma suposição do que constituí o universo: átomos ou matéria bariônica, matéria escura e energia escura. A partir disso, determina-se também a curvatura do universo. Leva-se também em conta o valor atual do parâmetro de Hubble, o índice espectral, e o desvio para o vermelho (redshift) da re-ionização. Analisando o redshift de galáxias e supernovas (TONRY et al., 2003) juntamente com o espectro de potências observado (SPERGEL et al., 2003; ADE et al., 2013) é determinado os constituintes do universo tais como os átomos, a matéria escura e a energia escura. Assim, sabe-se que o universo é composto majoritariamente de energia escura 74%, matéria escura 22% e apenas 4% de matéria bariônica. O fato de que o universo está se expandindo aceleradamente (RIESS et al., 1998) é explicado pela presença da energia escura. Os valores da constante de Hubble e da idade do universo são calculados baseados nas porcentagens dos constituintes do universo. O índice espectral relaciona a frequência com a densidade de fluxo radiado que de maneira geral é uma forma da medida da intensidade do sinal de radiação. No caso da RCF, o índice espectral é 0,95 (ADE et al., 2013). A re-ionização foi a época na qual o universo se tornou “luminoso”, ou seja, foi o período em que as primeiras fontes de radiação luminosa surgiram. Essas fontes são por exemplo as estrelas e galáxias. Portanto, observando os parâmetros mencionados acima, é possível obter o mesmo espectro de potências que foi obtido pelo Planck e por outros satélites. Figura 2 - Flutuações de Temperatura da RCF. Fonte: Agência Espacial Europeia/Colaboração Planck. 3 Conclusões Neste trabalho foram apresentados os principais parâmetros que são utilizados no modelo ΛCDM. Assim, fazendo a observação de redshifts de galáxias e supernovas é possível determinar diferentes quantidades tais como a porcentagem de átomos, matéria e energia escura afim de se obter o espectro de potências observados por diversos satélites tais como o Planck e o WMAP. Referências PENZIAS, A. A.; WILSON, R. W. A Measurement of Excess Antenna Temperature at 4080 Mc/s. The Astrophysical Journal, v. 142, p. 419–421, 1965. FIXSEN, D. The temperature of the cosmic microwave background. The Astrophysical Journal, v. 707, n. 2, p. 916, 2009. DODELSON, S. Modern cosmology. [s.l.] Academic press, 2003. ADE, P. et al. Planck 2013 results. I. Overview of products and scientific results. Astronomy & Astrophysics, v. 571, p. A1, 2014. TONRY, J. L. et al. Cosmological results from high-z supernovae. The Astrophysical Journal, v. 594, n. 1, p. 1, 2003. SPERGEL, D. N. et al. First-year Wilkinson Microwave Anisotropy Probe (WMAP) observations: determination of cosmological parameters. The Astrophysical Journal Supplement Series, v. 148, n. 1, p. 175, 2003. RIESS, A. G. et al. Observational evidence from supernovae for an accelerating universe and a cosmological constant. The Astronomical Journal, v. 116, n. 3, p. 1009, 1998. 4