Os Negros, Foto: Vantoen Pereira Jr. um “cast” afro-brasileiro em cena Faces - Parte do elenco de Os Negros: a partir da esquerda, Patrícia Costa, Sérgio Menezes, Nívea Helen, Maurício Gonçalves e Sarito Rodrigues. Durante a promoção da 1ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, os brasilienses assistiram à histórica montagem de Os Negros, um dos mais importantes textos para teatro do francês Jean Genet, sob direção do diretor Luiz Pilar. A peça foi encenada durante dois finais de semana no teatro do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil). Veio completa do Rio de Janeiro, onde estreou em abril e teve 60 apresentações. Primeira montagem brasileira, já faz parte da história do teatro nacional. Para o diretor, “foi muito importante ter apresentado a obra durante a Conferência por conta de atingirmos um público bem mais diversificado, vindo de todo o Brasil e abordarmos a questão da igualdade racial por meio do teatro”, disse Pilar, um dos únicos diretores negros que conseguiram espaço para atuar na grande mídia. Segundo ele, muita gente fora do eixo Rio-São Paulo teve a oportunidade de conhecer o trabalho. A peça volta a ser encenada em setembro na abertura do Festival de Teatro de Porto Alegre. Em outubro, segue para uma temporada em São Paulo. Formado por um estelar grupo de atores negros, o elenco é composto por Sergio Menezes, Iléa Ferraz, Maurício Gonçalves, Maria Ceiça, Ro- 92 meu Evaristo, Patrícia Costa, Nívia Helen, Sarito Rodrigues, Deoclides Gouvêa, Jozé Araújo, Audri da Anunciação, Lincoln Oliveira e Jorge Lucas. O palco, além de todas as estrelas, teve cenografia, figurino e iluminação especiais. “O mercado de trabalho para o negro já não é fácil, imagine então a situação dos que escolhem o caminho do mundo das artes?” pergunta Pilar. Para ele, as condições de trabalho nesta área sofreram deterioração nos últimos anos por conta de um discurso de responsabilidade social e politicamente correto feito pelos produtores. “Agora até os papéis que eram ocupados pelos artistas negros já não são mais garantidos”, explica. A Peça: escrita em 1958, Os Negros apresenta uma estrutura pouco convencional: não se trata de um texto com começo, meio e fim. Os 13 atores negros dividem-se em dois grupos: os que aparecem como eles mesmos e aqueles que aparecem mascarados para representar homens brancos. Para realçar essa atmosfera peculiar, foram concebidos toda a cenografia e os figurinos. Jean Genet: Nascido em 19 de dezembro de 1910, em Paris, Jean Genet foi abandonado pela mãe e adotado por uma família camponesa. O futuro escritor conheceu desde a infância os mais sórdidos aspectos da sociedade. Aos dez anos de idade foi acusado de roubo e internado num reformatório. A partir de 1930 levou uma vida de vadiagem, entregue a atividades delituosas. Na prisão, condenado por roubo, escreveu o romance Nossa Senhora das Flores (1944), cuja qualidade chamou a atenção de escritores como Jean Cocteau e Jean-Paul Sartre. A polêmica sobre Genet aumentou com o romance Querelle (1947), que Fassbinder transformou em filme e com a autobiografia Diário de um Ladrão (1949), cuja escabrosa franqueza - o autor se proclamava abertamente homossexual causou escândalo. Depois de escrever alguns romances e peças teatrais curtas que mostravam a influência do existencialismo de Sartre, a peça As Criadas (1947) revelou em Genet o dramaturgo de profundidade intelectual, que dispensava aos problemas de identidade no mundo moderno um tratamento precursor do teatro do absurdo. SAIBA MAIS Peça: Os Negros Direção: Luiz Antonio Pilar Cenário: Doris Rollemberg Figurino: Nello Marrese Iluminação: Daniela Sanches Trilha sonora: Gabriel Moura Programação visual: Maria Julia Ferreira Produção executiva: Celso Lemos Direção de produção: Norma Thiré