92 - Fundação Cultural Palmares

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Os Negros,
Foto: Vantoen Pereira Jr.
um “cast”
afro-brasileiro
em cena
Faces - Parte do elenco de Os Negros: a partir da esquerda, Patrícia Costa,
Sérgio Menezes, Nívea Helen, Maurício Gonçalves e Sarito Rodrigues.
Durante a promoção da 1ª
Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, os
brasilienses assistiram à histórica montagem de Os Negros,
um dos mais importantes
textos para teatro do francês
Jean Genet, sob direção do
diretor Luiz Pilar. A peça foi encenada durante dois finais de
semana no teatro do CCBB
(Centro Cultural Banco do Brasil). Veio completa do Rio de
Janeiro, onde estreou em abril
e teve 60 apresentações. Primeira montagem brasileira, já
faz parte da história do teatro
nacional.
Para o diretor, “foi muito
importante ter apresentado a
obra durante a Conferência por
conta de atingirmos um público bem mais diversificado, vindo de todo o Brasil e
abordarmos a questão da
igualdade racial por meio do
teatro”, disse Pilar, um dos únicos diretores negros que conseguiram espaço para atuar na
grande mídia.
Segundo ele, muita gente
fora do eixo Rio-São Paulo teve
a oportunidade de conhecer o
trabalho. A peça volta a ser encenada em setembro na abertura do Festival de Teatro de
Porto Alegre. Em outubro, segue para uma temporada em
São Paulo.
Formado por um estelar
grupo de atores negros, o elenco é composto por Sergio Menezes, Iléa Ferraz, Maurício
Gonçalves, Maria Ceiça, Ro-
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meu Evaristo, Patrícia Costa,
Nívia Helen, Sarito Rodrigues,
Deoclides Gouvêa, Jozé Araújo, Audri da Anunciação, Lincoln Oliveira e Jorge Lucas. O
palco, além de todas as estrelas, teve cenografia, figurino e
iluminação especiais.
“O mercado de trabalho
para o negro já não é fácil,
imagine então a situação dos
que escolhem o caminho do
mundo das artes?” pergunta
Pilar. Para ele, as condições de
trabalho nesta área sofreram
deterioração nos últimos
anos por conta de um discurso de responsabilidade social
e politicamente correto feito
pelos produtores.
“Agora até os papéis que
eram ocupados pelos artistas
negros já não são mais garantidos”, explica.
A Peça: escrita em 1958, Os
Negros apresenta uma estrutura
pouco convencional: não se
trata de um texto com começo,
meio e fim. Os 13 atores negros
dividem-se em dois grupos: os
que aparecem como eles mesmos e aqueles que aparecem
mascarados para representar
homens brancos. Para realçar
essa atmosfera peculiar, foram
concebidos toda a cenografia e
os figurinos.
Jean Genet: Nascido em 19
de dezembro de 1910, em Paris,
Jean Genet foi abandonado
pela mãe e adotado por uma família camponesa. O futuro escritor conheceu desde a infância os mais sórdidos aspectos
da sociedade. Aos dez anos de
idade foi acusado de roubo e internado num reformatório. A
partir de 1930 levou uma vida
de vadiagem, entregue a atividades delituosas. Na prisão,
condenado por roubo, escreveu
o romance Nossa Senhora das Flores (1944), cuja qualidade chamou a atenção de escritores
como Jean Cocteau e Jean-Paul
Sartre. A polêmica sobre Genet
aumentou com o romance Querelle (1947), que Fassbinder
transformou em filme e com a
autobiografia Diário de um Ladrão (1949), cuja escabrosa franqueza - o autor se proclamava
abertamente homossexual causou escândalo. Depois de
escrever alguns romances e
peças teatrais curtas que mostravam a influência do existencialismo de Sartre, a peça
As Criadas (1947) revelou em
Genet o dramaturgo de profundidade intelectual, que dispensava aos problemas de
identidade no mundo moderno um tratamento precursor
do teatro do absurdo.
SAIBA MAIS
Peça: Os Negros
Direção: Luiz Antonio Pilar
Cenário: Doris Rollemberg
Figurino: Nello Marrese
Iluminação: Daniela Sanches
Trilha sonora: Gabriel Moura
Programação visual: Maria Julia Ferreira
Produção executiva: Celso Lemos
Direção de produção: Norma Thiré
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