Evangelho segundo S. João 2,1-12. Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: «Não têm vinho!» Jesus respondeu-lhe: «Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» Sua mãe disse aos serventes: «Fazei o que Ele vos disser!» Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. Disse-lhes Jesus: «Enchei as vasilhas de água.» Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa.» E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo e disse-lhe: «Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!» Assim, em Caná da Galileia, Jesus realizou o primeiro dos seus sinais miraculosos, com o qual manifestou a sua glória, e os discípulos creram nele. Depois disto, desceu a Cafarnaúm com sua mãe, os irmãos e os seus discípulos, e ficaram ali apenas alguns dias. S. Máximo de Turim (? - cerca 420), bispo CC Sermão 65 A água transformada em vinho Ao transformar em vinho a água que enchia as talhas, o Salvador fez duas coisas: forneceu uma bebida aos convidados do casamento e quis dizer que, pelo baptismo, os homens iam ficar cheios do Espírito Santo. Aliás, o próprio Senhor o declarou noutro altura ao dizer: “Deita-se o vinho novo em odres novos” (Mt 9,17). Os odres novos significam, com efeito, a pureza do baptismo, o vinho a graça do Espírito Santo. Catecúmenos, prestai uma atenção particular. O vosso espírito, que ignora ainda a Trindade, assemelha-se à água fria. É preciso aquecê-la ao calor do sacramento do baptismo, como um vinho, para transformar um líquido pobre e sem valor, em graça preciosa e rica. Como o vinho, adquiramos bom paladar e aroma doce; então, poderemos dizer com o apóstolo Paulo: “Somos para Deus o bom odor de Cristo” (2Cor 2,15). Antes do seu baptismo, o catecúmeno assemelha-se à água que está imóvel, fria e sem cor…, inútil, incapaz de restabelecer as forças. Conservada por muito tempo, a água altera-se, fica estagnada, torna-se fétida… O Senhor disse: “Quem não renascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). O fiel baptizado é semelhante ao vinho vigoroso e rubro. Todas as coisas da criação se estragam com o tempo, só o vinho melhora ao envelhecer. Ele perde todos os dias a sua aspereza, e adquire um ‘bouquet’ macio, com um rico sabor. De igual modo o cristão, à medida que o tempo passa, perde a aspereza da sua vida pecadora, adquire a sabedoria e a benevolência da Trindade divina. As bodas de Caná – Jo 2,1-11 1. Na Bíblia esta escrito, no Novo Testamento / que em Caná da Galiléia Jesus foi a um casamento / transformando água em vinho e dando ao povo pra beber / mostrando a sua glória, sua graça e seu poder. Por quê? {:Cristo tem poder:]! (3x) Aleluia! Tem poder! [:Cristo tem poder:]! Jesus Cristo é poderoso / Jesus Cristo tem poder! 2. Na cidade de Naim tinha uma mulher chorando / seu filho ia pro túmulo e o povo carregando. / Jesus parou o enterro e o povo reprovou. / Jesus chamou o morto e o morto levantou. Por quê? 3. Jesus curou um cego entrando em Jericó. / Salvou a Samaritana lá no poço de Jacó. / No monte, na Galiléia, seu poder Ele mostrou / cinco pães e dois peixinhos, cinco mil alimentou. Por quê? 4. Jesus fez maravilhas no deserto da Judéia / curou em Samaria e também na Galiléia. / E em Cafarnaum milagre tambem fez. / Curou lá no caminho dez leprosos de uma vez. Por quê? 5. Jesus fez maravilhas, está fazendo e vai fazer. / Não faz em sua vida só porque você não crê. / Ele salva o pecador, dá alegria, gozo e paz. / Cura a enfermidades, e expulsa satanás. Por quê? Cantemos ….. n° 1363 Bento XVI explica como Maria ensina a encontrar Jesus Homilia do Papa durante a Santa Missa na Praça do Santuário de Altotting ALTOTTING, quarta-feira, 13 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a homilia que Bento XVI pronunciou nesta segunda-feira, ao celebrar a eucaristia na praça do Santuário mariano de Altotting. *** Queridos irmãos e irmãs! Na Primeira Leitura, no Salmo Responsorial e no Evangelho de hoje, três vezes e de três formas diferentes, vemos Maria, a Mãe do Senhor, como uma mulher de oração. Nos Atos dos Apóstolos, nós a encontramos em meio à comunidade dos Apóstolos reunidos no quarto superior, rezando para que o Senhor, agora ascendido ao Pai, realize sua promessa: «Dentro de uns dias sereis batizados com o Espírito Santo» (1, 5). Maria lidera a nascente Igreja em oração; ela é, como o fora em pessoa, a Igreja em oração. E assim, com a grande comunidade dos santos e no centro deles, ela permanece inclusive agora diante de Deus intercedendo por nós, pedindo a seu Filho que nos envie seu Espírito mais uma vez sobre a Igreja, e que renove a face da terra. Nossa resposta a esta leitura é cantar com Maria o grande hino de louvor que ela eleva depois de que Isabel a chama de bem-aventurada por causa de sua fé. É uma oração de ação de graças, de alegria no Senhor, de bênção por suas obras poderosas. O teor deste hino é claro desde suas primeiras palavras: «Minha alma magnífica -- engrandece -- o Senhor». Engrandecer o Senhor significa dar-lhe um lugar no mundo, em nossas vidas, e permitir-lhe entrar em nosso tempo e em nossa atividade: finalmente, esta é a essência da verdadeira oração. Onde Deus é engrandecido, os homens e mulheres não são diminuídos: há muitos homens e mulheres que se tornaram grandes e o mundo está cheio de sua luz. Na passagem do Evangelho, Maria pede a seu Filho um favor para uns amigos em necessidade. À primeira vista, isso poderia aparecer com uma conversação inteiramente humana entre uma Mãe e seu Filho e seria, efetivamente, um diálogo rico em humanidade. Maria não se dirige a Jesus como se fosse um mero homem com cuja habilidade e utilidade ela pode contar. Ela confia uma necessidade humana a seu poder -- a um poder que é mais que capacidade e habilidade humanas. Neste diálogo com Jesus, nós a vemos realmente como uma Mãe que pede, que intercede. Como escutamos na passagem do Evangelho, vale a pena ir um pouco mais profundamente, não só para entender melhor Jesus e Maria, mas também para aprender de Maria a maneira correta de rezar. Maria realmente não pede algo de Jesus: ela simplesmente o diz: «Eles não têm vinho» (João 2, 3). As bodas na Terra Santa eram celebradas durante uma semana inteira; todo o povo participava e, por conseguinte, se consumia muito vinho. O casal de noivos se encontrava em problemas, e Maria simplesmente disse isso a Jesus: Ela não lhe disse o que Ele tem que fazer. Ela não lhe pede nada em particular, e certamente não lhe pede realizar um milagre para fazer vinho. Ela simplesmente o faz conhecer o assunto e o deixa decidir aquilo que deve ser feito. Nas diretas palavras da Mãe de Jesus, portanto, podemos apreciar duas coisas: por um lado, sua carinhosa preocupação pelas pessoas, esse carinho maternal que a faz estar atenta aos problemas dos outros. Vemos sua cordial bondade e sua vontade de ajudar. Esta é a Mãe à qual gerações de pessoas vieram visitar aqui em Altotting. A ela confiamos nossos cuidados, nossas necessidades e nossos problemas. Sua maternal disposição para a ajuda, na qual nós confiamos, aparece aqui pela primeira vez nas Sagradas Escrituras. Mas além deste primeiro aspecto, com o qual estamos todos familiarizados, há outro, que poderíamos ver facilmente: Maria deixa tudo ao juízo de Deus. Em Nazaré, ela entregou sua vontade, submergindo-a na de Deus: «Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra» (Lucas, 1, 38). E esta continua sendo sua atitude fundamental. Assim é como ela nos ensina a rezar: não para buscar afirmar nossa própria vontade e nossos próprios desejos ante Deus, mas para permitirlhe que decida aquilo que Ele queira fazer. De Maria nós aprendemos o gosto e disposição para ajudar, mas também aprendemos a humildade e generosidade para aceitar a vontade de Deus, na confiada convicção de que o que for que ele disser como resposta será o melhor para nós. Se tudo isso nos ajuda a entender a atitude de Maria e suas palavras, ainda achamos difícil entender a resposta de Jesus. Em primeiro lugar, não gostamos da maneira como ele se dirige a ela: «Mulher». Por que não lhe diz «Mãe»? Contudo, este título expressa realmente o lugar de Maria na história da salvação. Assinala o futuro, a hora da crucifixão, quando Jesus lhe dirá: «Mulher, eis aí teu Filho. Filho, eis aí tua mãe» (cf. João 19, 26-27). Isso antecipa a hora quando ele fará da mulher, sua Mãe, a Mãe de todos os discípulos. Por outro lado, o título «mulher», recorda o relato da criação de Eva: Adão, rodeado pela criação em toda sua magnificência, experimenta, como ser humano, a solidão. Assim, Eva é criada, e nela Adão encontra a companhia que buscava; e lhe dá o nome de «mulher». No Evangelho de João, dessa forma, Maria representa a nova, a definitiva mulher, a companhia do Redentor, nossa Mãe: o nome, que parecia muito falto de afeto, realmente expressa a grandeza da missão de Maria. Gostamos menos ainda da outra parte da resposta de Jesus a Maria em Caná: «Mulher, que tenho a ver eu contigo? Ainda não chegou minha hora» (João 2, 4). Nós queremos objetar: tu tens muito a ver com ela! Foi Maria que te deu a carne e o sangue, que te deu seu corpo, e não só seu corpo: com seu «sim», que pronunciou desde as profundidades de seu coração, ela te gerou em seu ventre, e com seu amor maternal te deu a vida e te apresentou à comunidade do povo de Israel. Se esta é nossa resposta a Jesus, já vamos por bom caminho para entender a resposta de Jesus. Porque tudo isso deveria fazer-nos recordar que nas Sagradas Escrituras encontramos um paralelismo entre o diálogo de Maria com o Arcanjo Gabriel, no qual diz: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lucas 1, 38). Este paralelismo se encontra na Carta aos Hebreus que, com palavras tiradas do Salmo 40, nos narra o diálogo entre Pai e Filho -aquele diálogo no qual começa a encarnação. O eterno Filho diz ao Pai: «Tu não queres sacrifícios nem oferecimentos, ao contrário me preparaste um corpo... Eu venho... para fazer, Deus, tua vontade». O «sim» do Filho: «Venho para fazer tua vontade», e o «sim» de Maria: «Faça-se em mim segundo tua palavra» -- este duplo «sim», e desta maneira o Verbo se faz carne em Maria. Neste duplo «sim», a obediência do Filho se faz corpo, Maria lhe doa o corpo. «Que tenho eu contigo, mulher?». Aquilo que no profundo tem que fazer um com a outra, é este duplo «sim», em cuja coincidência se realizou a encarnação. É a este ponto de sua profundíssima unidade que o Senhor olha com sua palavra. Aí, neste comum «sim» à vontade do Pai, se encontra a solução. Devemos encaminhar-nos, também nós, para este ponto; aí encontraremos a resposta às nossas perguntas. Partindo desde aí, compreendemos também a segunda frase da resposta de Jesus: «Ainda não chegou minha hora». Jesus não atua jamais sozinho, por si mesmo; jamais para agradar os outros. Ele atua sempre partindo do Pai, e é justamente isso que o une a Maria, porque aí, nesta unidade de vontade com o Pai, quis depositar também ela seu pedido, por isso, depois da resposta de Jesus, que parece rejeitar o pedido, ela surpreendentemente pode dizer aos servos com simplicidade: «Fazei o que Ele vos disser». Jesus não faz um prodígio, não brinca com seu poder em um acontecimento totalmente particular. Ele põe em ação um sinal, com o qual anuncia sua hora, a hora das bodas, da união entre Deus e o homem. Ele não «produz» simplesmente vinho, mas transforma as bodas humanas em uma imagem das bodas divinas, às quais o Pai convida imediatamente o Filho e nas quais Ele doa a plenitude do bem. As bodas se convertem em imagem da Cruz, sobre a qual Deus leva seu amor até o extremo, dando-se a si mesmo no Filho em carne e sangue -- no Filho que instituiu o Sacramento, no qual se doa a nós por todos os tempos. Assim, a necessidade é resolvida de forma verdadeiramente divina, e a pergunta inicial, longamente ultrapassada. A hora de Jesus não chegou ainda, mas no sinal da transformação da água em vinho, no sinal do dom festivo, antecipa sua hora já neste momento. Sua «hora» definitiva será sua volta no final dos tempos. Ele antecipa continuamente esta hora na Eucaristia, na qual vem sempre agora. E sempre de novo o faz por intercessão de sua Mãe, por intercessão da Igreja, que o invoca nas orações eucarísticas: «Vem, Senhor Jesus!» No Cânon, a Igreja implora sempre novamente esta antecipação da «hora», pede que venha agora e se doe a nós. Assim, queremos deixar-nos guiar por Maria, pela Mãe das graças de Altotting, pela Mãe de todos os fiéis, para a «hora» de Jesus. Peçamos-lhe o dom de reconhecê-lo e de compreendê-lo cada vez mais. E não deixemos que o recebê-lo seja reduzido só ao momento da Comunhão. Ele permanece presente na Hóstia santa e nos espera continuamente. A adoração do Senhor na Eucaristia encontrou em Altotting, no velho quarto do tesouro, um lugar novo. Maria e Jesus sempre estão juntos: mediante ela, queremos permanecer em diálogo com o Senhor, aprendendo assim a recebê-lo melhor. Santa Mãe de Deus, rogai por nós, como em Caná rogastes pelos esposos! Guiai-nos sempre até Jesus! Amém! [Tradução realizada por Zenit. © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana] ZP06091330 Santo Efrém (c. 306-373), diácono na Síria, doutor da Igreja Diatessarum XII «Guardaste o vinho bom até agora» No deserto, Nosso Senhor multiplicou o pão, e em Caná, transformou a água em vinho. Habituou assim a boca dos homens ao Seu pão e ao Seu vinho, até ao momento em que lhes deu o Seu corpo e o Seu sangue. Fê-los saborear um pão e um vinho transitórios, para fazer crescer neles o desejo do Seu corpo e do Seu sangue vivificantes... Atraiu-nos com coisas agradágeis ao paladar, para nos conduzir àquilo que vivifica plenamente as nossas almas. Escondeu a doçura no vinho que fez, para mostrar aos convidados que tesouro incomparável se esconde no Seu sangue vivificante. Como primeiro sinal, deu um vinho agradável aos convidados, para manifestar que o Seu sangue alegraria a todas as nações. Se o vinho intervém, com efeito, em todas as alegrias da terra, da mesma forma todas as libertações se prendem com o mistério do Seu sangue. Ele deu aos convidados de Caná um vinho excelente que transformou os seus espíritos, para lhes mostrar que a doutrina de que os iria abeberar transformaria os seus corações. Este vinho, que no princípio não era senão água, foi transformado nos cântaros, símbolo dos primeiros mandamentos enviados por Ele com vista à perfeição. A água transformada é a Lei levada ao seu cumprimento. Os convidados da boda beberam o que tinha sido água, mas sem saborearem essa água. Do mesmo modo, quando ouvimos os antigos mandamentos, saboreamo-los, não no seu antigo sabor, mas no novo. Evangelho segundo S. João 2,13-22. Estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, ovelhas e pombas, e os cambistas nos seus postos. Então, fazendo um chicote de cordas, expulsou-os a todos do templo com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas dos cambistas pelo chão e derrubou-lhes as mesas; e aos que vendiam pombas, disselhes: «Tirai isso daqui. Não façais da Casa de meu Pai uma feira.» Os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devora. Então os judeus intervieram e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de poderes fazer isto?» Declarou-lhes Jesus, em resposta: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» Replicaram então os judeus: «Quarenta e seis anos levou este templo a construir, e Tu vais levantá-lo em três dias?» Ele, porém, falava do templo que é o seu corpo. Por isso, quando Jesus ressuscitou dos mortos, os seus discípulos recordaram-se de que Ele o tinha dito e creram na Escritura e nas palavras que tinha proferido. Orígenes (c. 185-235), padre e teólogo Comentário sobre S. João 10,20 «O Templo de que Ele falava era o Seu corpo» «Destruí este Templo e em três dias eu reerguê-lo-ei»...Um e outro, o Templo e o corpo de Jesus, são a meu ver um símbolo da Igreja... O templo será reerguido e o corpo ressuscitará ao terceiro dia... pois o terceiro dia surgirá num céu novo e numa terra nova (2P 3,13), quando as ossadas, quer dizer toda a casa de Israel (Ez 37,11), se vestirem no grande dia do Senhor, e a morte for vencida. Assim como o corpo de Jesus, sujeito à condição humana vulnerável, foi fixado à cruz e sepultado, e depois foi reerguido, assim também o corpo total dos fiéis de Cristo foi «fixado à cruz com Ele» e «desde então já não vive» (Gl 2,19). Com efeito, como Paulo, cada um deles não se glorifica senão da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que fez dele um crucificado para o mundo e do mundo um crucificado para Ele (Gl 6,14)... «Pois fomos sepultados com Cristo», diz Paulo, que acrescenta, como se tivesse recebido alguma garantia da ressurreição: «E com Ele nos reerguemos» (Rm 6,4-9). Cada um camin ha então numa nova via, mas que não é ainda a ressurreição bem-aventurada e perfeita... Se alguém é agora posto no túmulo, um dia ressuscitará. Santo Hilário (cerca de 315-367), bispo de Poitiers, doutor da Igreja Tratado sobre o salmo 64 «O Templo de que falava era o seu Corpo» O Senhor disse. “Aqui será o meu repouso para sempre” e “escolheu Sião como lugar de sua morada” (Sl 131,14). Mas Sião e o seu templo foram destruídos. Onde se erguerá então o trono eterno de Deus? Onde será o seu repouso para sempre? Onde será o seu templo para que nele habite? O apóstolo Paulo responde-nos: “O templo de Deus sois vós; em vós habita o Espírito de Deus” (1 Co 3,16). Eis a casa e o templo de Deus; eles estão cheios da sua doutrina e do seu poder. São o habitáculo da santidade do coração de Deus. Mas esta morada, é Deus quem a edifica. Construída pela mão dos homens, não duraria, nem mesmo se fosse fundada sobre doutrinas humanas. Os nossos vãos labores e as nossas inquietações não bastam para a proteger. O Senhor resolve as coisas de outra maneira; ele não pôs os seus alicerces sobre terra solta nem sobre areias movediças, mas assentou-a sobre os profetas e os apóstolos (Ef 2,20); ela é incessantemente construída com pedras vivas (1 Pe 2,5) e desenvolver-se-á até à s últimas dimensões do corpo de Cristo. A sua edificação prossegue sem cessar; à sua volta erguem-se numerosas casas que se reúnem numa cidade grande e bem-aventurada (Sl 121,3). S. Leão Magno (? - cerca de 461), papa e doutor da Igreja Sermão 48 "O templo de que Ele falava era o seu corpo" Se considerarmos o que o mundo inteiro recebeu pela cruz do Senhor, reconheceremos que para celebrar a Páscoa é justo que nos preparemos com um jejum de quarenta dias... Não são apenas os bispos ou os padres ou os simples ministros dos sacramentos, mas é todo o corpo da Igreja, é todo o conjunto dos fiéis que deve purificar-se de todas as manchas, para que o templo de Deus, cujo alicerce é o seu próprio fundador, seja belo em todas as suas pedras e luminoso em todas as suas partes... Sem dúvida que não se pode empreender nem completar a purificação deste templo sem a ajuda do seu construtor; e, contudo, aquele que o edificou deu-lhe o poder de promover o seu crescimento a partir do seu próprio trabalho. Porque foi um material vivo e inteligente que serviu para a construção deste templo e é o Espírito de graça que o incita a se aglomerar voluntariamente num só edifício... Portanto, uma vez que todo o conjunto dos fiéis e cada um em particular formam um só e mesmo templo de Deus, este deve ser perfeito em cada um, tal como o deve ser no seu conjunto. Porque se é certo que a beleza não pode ser idêntica em todos os membros, nem os méritos iguais numa tão grande diversidade de partes, o vínculo da caridade obtém contudo a comunhão na beleza. Aqueles que estão unidos por um santo amor, mesmo se não receberam os mesmos dons da graça, alegram-se na verdade com os bens uns dos outros; e o que eles amam não pode ser-lhes estranho uma vez que eles acrescentam as suas próprias riquezas quando se alegram com o progresso dos outros. S. Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja Sermão 5 para a Dedicação Festa da dedicação de uma igreja, festa do povo de Deus Hoje, meus irmãos, celebramos uma grande festa; é a festa da casa do Senhor, do templo de Deus, da cidade do Rei eterno, da Esposa de Cristo... Perguntemo-nos, então, o que pode ser a casa de Deus, o seu templo, a sua cidade, a sua Esposa. Tenho de o dizer com temor e respeito: somos nós. Sim, nós somos tudo isso, mas no coração de Deus. Somo-lo pela sua graça e não pelos nossos méritos... A humilde confissão das nossas penas provoca a sua compaixão. Esta confissão dispõe Deus a vir em socorro da nossa fome como um pai de família e a fazer-nos encontrar junto dele pão em abundância. Somos, portanto, a sua casa onde nunca falta o alimento da vida... "Sede santos, está escrito, porque eu, o vosso Senhor, sou santo" (Lv 11,44). E o apóstolo Paulo diz-nos: "Não sabeis que os vossos corpos são o templo do Espírito Santo e que o Espírito Santo tem em vós a sua morada?" Mas bastará a própria santidade? Segundo o apóstolo, é necessário também a paz: "Procurai, diz ele, viver em paz com toda a gente e também a santidade, sem a qual ninguém verá a Deus" (He 12,14). É esta paz que nos faz viver juntos, unidos como irmãos, é ela que constroi para o nosso Rei uma cidade toda nova chamada Jerusalém, o que quer dizer: visão da paz... Por fim, é o próprio Deus quem nos diz: "Desposei-te na fé, desposei-te no julgamento e na justiça" (a dele, não a nossa), "desposei-te na ternura e na misericórdia" (Os 2,22.21). Não é verdade que ele se comportou como um esposo? Não vos amou como um esposo, com o ciúme dum esposo? Então, como poderíeis não vos considerar como a esposa? Assim, meus irmãos, uma vez que temos a prova de que somos a casa do Pai de família por causa da abundância dos bens que recebemos, o templo de Deus por causa da nossa santificação, a cidade do grande Rei por causa da nossa comunhão de vida, a esposa do Esposo imortal por causa do amor, parece-me que posso afirmar sem receio: esta festa é a nossa festa! Cardeal John Henry Newman (1801-1890), padre, fundador de comunidade religiosa, teólogo «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei!» O Templo judeu, visível e material, estava confinado a um só lugar. Não cabia nele o mundo inteiro, nem mesmo uma nação, mas apenas algumas pessoas da multidão. Mas o templo cristão é invisível e espiritual, e pode ser em qualquer sítio. [...] Jesus diz à Samaritana: «Mas chega a hora - e é já - em que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são assim os adoradores que o Pai pretende» (Jo 4,23). «Em espírito e em verdade», porque, a menos que seja invisível, a sua presença não pode ser real. O que é visível não é o real; o que é material desagregar-se-á; o que está em determinado lugar é um fragmento, apenas. O templo de Deus, no regime cristão, é todo o lugar onde os cristãos se juntam em nome de Cristo; Ele está também presente de forma completa em cada lugar, como se não estivesse em mais nenhuma outra parte. E podemos entrar nesse templo, e juntarmo-nos aos santos que nele moram, à família celeste de Deus, de forma tão real quanto o adorador judeu entrava no recinto visível do Templo. Nada vemos deste nosso templo espiritual, mas é a condição requerida para que ele esteja em todo o lado. Ele não estaria em todo o lado se o víssemos num local específico; nada vemos, então, mas fruímos de tudo. Já os profetas do Antigo Testamento no-lo apresentavam assim. Isaías escreveu: «No fim dos tempos o monte do templo do Senhor estará firme, será o mais alto de todos, e dominará sobre as colinas. Acorrerão a ele todas as gentes» (Is 2,2). O templo cristão foi desvelado a Jacob [...] quando em sonhos viu «uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus» (Gn 28,12), e também ao servo de Eliseu: «O Senhor abriu os olhos do servo e ele viu o monte repleto de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu» (2Rs 6,17). Trata-se de antecipações do que iria ser estabelecido com a chegada de Cristo, que «abriu o Reino de Deus a todos os crentes». Por isso, São Paulo diz: «Vós, porém, aproximastes-vos do monte Sião e da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celeste, de miríades de anjos, da reunião festiva» (He 12,22). Pregador do Papa: Mandamentos não são limites, mas chaves para ser feliz Padre Cantalamessa comenta o Evangelho do próximo domingo ROMA, quinta-feira, 16 de março de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário das leituras da liturgia eucarística do próximo domingo (III de Quaresma) do padre Raniero Cantalamessa OFM Cap --pregador da Casa Pontifícia--, que tem como encargo iniciar na sexta-feira sua série de pregações ao Papa e a seus colaboradores da Cúria Romana com ocasião deste tempo litúrgico. ** III Domingo de Quaresma B (Êxodo 20, 1-17; 1 Corintios 1, 22-25; João 2, 13-25). Os dez mandamentos O Evangelho do terceiro domingo da Quaresma tem como tema o templo. Jesus purifica o antigo templo, expulsando do mesmo, com o chicote de cordas, vendedores e mercadorias, então apresenta a si mesmo como o novo templo de Deus que os homens destruirão, mas que Deus fará ressurgir em três dias. Mas desta vez desejaria deter-me na primeira leitura, porque contém um texto importante: o decálogo, os dez mandamentos de Deus. O homem moderno não compreende os mandamentos; toma-os por proibições arbitrárias de Deus, por limites postos a sua liberdade. Mas os mandamentos de Deus são uma manifestação de seu amor e de sua solicitude paterna pelo homem. «Cuida de praticar do que te fará feliz» (Dt 6, 3; 30, 15s): este, e não outro, é o objetivo dos mandamentos. Em alguns passos perigosos do caminho que leva ao Sinai, onde os dez mandamentos foram dados por Deus, para evitar que algum distraído ou inexperiente saia do caminho e se precipite ao vazio, colocaram-se sinais de perigo, alertas, ou se criaram barreiras. O objetivo dos mandamentos não é diferente disso. Nós mesmos vemos o que passa na sociedade quando se pisoteiam sistematicamente certos mandamentos, como o de não matar ou não roubar... Jesus resumiu todos os mandamentos, e mais, toda a Bíblia, em um único mandamento, o do amor a Deus e ao próximo. «Destes dois mandamentos pendem toda a Lei e os Profetas» (Mt 22, 40). Tinha razão Santo Agostinho ao dizer: «Ama e faz o que quer». Por que, se ama de verdade, tudo o que fizer será para o bem. Inclusive se rejeita e corrige, será por amor, pelo bem de outro. Mas os dez mandamentos há que observá-los em conjunto; não se podem observar cinco e violar os outros cinco, ou inclusive um só deles. Certos homens da máfia honram escrupulosamente seu pai e sua mãe; mas se permitiriam «desejar a mulher do próximo», e se um filho seu blasfema, reprovam-no asperamente, mas não matar, não mentir, não cobiçar os bens alheios são tema à parte. Deveríamos examinar nossa vida para ver se também nós fazemos algo parecido, isto é, se observamos escrupulosamente alguns mandamentos e transgredimos alegremente outros, ainda que não sejam os mesmos dos mafiosos. Desejaria chamar a atenção em particular sobre um dos mandamentos que, em alguns ambientes, transgride-se com maior freqüência: «Não tomarás o nome de Deus em vão». «Em vão» significa sem respeito, ou pior, com desprezo, com ira, em resumo, blasfemando. Em certas regiões, há pessoas que usam a blasfêmia como uma espécie de intercalação em suas conversas, sem ter em absoluto em conta os sentimentos de quem escuta. Também muitos jovens, especialmente se estão em companhia, blasfemam repetidamente com a evidente convicção de impressionar assim as moças presentes. Emprega-se muita diligência para convencer um ser querido de que deixe de fumar, dizendo que prejudica a saúde; por que não fazer o mesmo para convencê-lo de que deixe de blasfemar? [Traduzido por Zenit] ZP06031621 Pregador do Papa: é necessário uma igreja para ser cristão? Meditação por ocasião da Dedicação da Basílica de São João de Latrão CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 7 de novembro de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, OFM Cap. – pregador da Casa Pontifícia –, sobre liturgia do próximo domingo, 9 de novembro, Dedicação da Basílica de São João de Latrão, catedral do bispo de Roma. 9 de novembro: Dedicação da Basílica de São João de Latrão Ezequiel 47, 1-2.2.8-9; Salmo 45; I Coríntios 3, 9-13.16-17; João 2, 13-22 Esta é a casa de Deus! Este ano, no lugar do XXXII domingo do Tempo Comum, celebra-se a festa da dedicação da igreja-mãe de Roma, a Basílica de São João de Latrão, dedicada em um primeiro momento ao Salvador e depois a São João Batista. Que representa para a liturgia e para a espiritualidade cristã a dedicação de uma igreja e a própria existência da igreja, entendida como lugar de culto? Temos que começar com as palavras do Evangelho: «Mas chega a hora (já estamos nela) em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque assim quer o Pai que sejam os que o adoram». Jesus ensina que o templo de Deus é, em primeiro lugar, o coração do homem que acolheu sua palavra. Falando de si e do Pai, diz: «viremos a ele, e faremos morada nele» (João 14, 23). E Paulo escreve aos cristãos: «Não sabeis que sois santuário de Deus?» (1 Coríntios 3, 16). Portanto, o crente é templo novo de Deus. Mas o lugar da presença de Deus e de Cristo também se encontra «onde estão dois ou três reunidos em meu nome» (Mateus 18, 20). O Concílio Vaticano II chama a família de «igreja doméstica» (Lumen Gentium, 11), ou seja, um pequeno templo de Deus, precisamente porque, graças ao sacramento do matrimônio, é, por excelência, o lugar no qual «dois ou três» estão reunidos em seu nome. Por que, então, os cristãos dão tanta importância à igreja, se cada um de nós pode adorar o Pai em espírito e verdade em seu próprio coração ou em sua própria casa? Por que é obrigatório ir à igreja todos os domingos? A resposta é que Jesus não nos salva separadamente; veio para formar um povo, uma comunidade de pessoas, em comunhão com Ele e entre si. O que é a casa para uma família, é a igreja para a família de Deus. Não há família sem uma casa. Um dos filmes do neo-realismo italiano que ainda recordo é «O teto» («Il tetto»), escrito por Cesare Zavattini e dirigido por Vittorio De Sica. Dois jovens, pobres e enamorados, se casam, mas não têm uma casa. Nos arredores de Roma, após a 2ª Guerra Mundial, inventam um sistema para construir uma, lutando contra o tempo e a lei (se a construção não chega até o teto, à noite será demolida). Quando no final terminam o teto, estão certos de que têm uma casa e uma intimidade própria e se abraçam felizes; são uma família. Vi esta história se repetir em muitos bairros de cidade, em povoados e aldeias, que não tinham uma igreja própria e tiveram de construir-se uma por sua conta. A solidariedade, o entusiasmo, a alegria de trabalhar juntos com o sacerdote para dar à comunidade um lugar de culto e de encontro são histórias que valeriam a pena levar às telas como no filme de De Sica... Agora, temos que evocar também um fenômeno doloroso: o abandono em massa da participação na igreja e, portanto, na missa dominical. As estatísticas sobre a prática religiosa são para fazer chorar. Isto não quer dizer que quem não vai à igreja necessariamente perdeu a fé; não, o que acontece é que se substitui a religião instituída por Cristo pela chamada religião «a la carte». Nos Estados Unidos dizem «pick and choose», pegue e escolha. Como no supermercado. Deixando a metáfora de lado, cada um forma sua própria idéia de Deus, da oração e fica tranqüilo. Esquece-se, deste modo, que Deus se revelou em Cristo, que Cristo pregou um Evangelho, que fundou uma ekklesia, ou seja, uma assembléia de chamados, que instituiu os sacramentos, como sinais e transmissores de sua presença e de sua salvação. Ignorar tudo isto para criar a própria imagem de Deus expõe ao subjetivismo mais radical. Neste caso, se verifica o que dizia o filósofo Feuerbach: Deus é reduzido à projeção das próprias necessidades e desejos. Já não é Deus quem cria o homem à sua imagem, mas o homem cria um deus à sua imagem. Mas é um Deus que não salva! Certamente, uma realidade conformada só por práticas exteriores não serve de nada; Jesus se opõe a ela em todo o Evangelho. Mas não há oposição entre a religião dos sinais e dos sacramentos e a íntima, pessoal; entre o rito e o espírito. Os grandes gênios religiosos (pensemos em Agostinho, Pascal, Kierkegaard, Manzoni) eram homens de uma interioridade profunda e sumamente pessoal e, ao mesmo tempo, estavam integrados em uma comunidade, iam à sua igreja, eram «praticantes». Nas Confissões (VIII, 2), Santo Agostinho narra como acontece a conversão do grande orador e filósofo romano Victorino. Ao converter-se à verdade do cristianismo, dizia ao sacerdote Simpliciano: «Agora sou cristão». Simpliciano lhe respondia: «Não creio até ver-te na igreja de Cristo». O outro lhe perguntou: «Então, são as paredes que nos tornam cristãos?». E o tema ficou no ar. Mas um dia Victorino leu no Evangelho a palavra de Cristo: «quem se envergonha de mim e de minhas palavras, desse se envergonhará o Filho do homem». Compreendeu que o respeito humano, o medo do que pudessem dizer seus colegas, o impedia de ir à igreja. Foi visitar Simpliciano e lhe disse: «Vamos à igreja, quero tornar-me cristão». Creio que esta história tem algo a dizer hoje a mais de uma pessoa de cultura. [Tradução: Élison Santos. Revisão: Aline Banchieri]