Departamento de Economia BOLHA DE CRÉDITO ESTUDANTIL NO BRASIL Aluno: Nicolas Zalcberg Frajhof Orientador: João Manoel Pinho de Mello Introdução A pesquisa baseia-se no estudo do aumento de crédito estudantil e como ele afeta os preços das instituições de ensino superior privadas no Brasil. Os dados utilizadas para o estudo foram disponibilizados pelo Ministério da Educação e pelo Fundo Nacional Da Educação. A coleta dos dados foi possível em função da Lei nº 12.527, a lei de Acesso à Informação. Objetivos Focada principalmente no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a pesquisa tem como intuito analisar os efeitos dos gastos desse programa do Ministério da Educação nos preços da instituições de ensino superior (IES) privadas no Brasil. Assim, o objetivo da pesquisa é responder se existe alguma relação entre os gastos com programas de crédito estudantil e o aumento das mensalidades das instituições de ensino superior supracitadas. Metodologia Utilizando os dados do Fundo de Financiamento Estudantil pode-se analisar o tipo e tamanho dos gastos do Governo Federal com o seu principal programa de crédito estudantil do país, o Fundo de Financiamento Estudantil. O acesso aos dados se deve a Lei nº 12.527, onde, a partir de um pedido de informação, o Fundo Nacional Da Educação envia os dados requisitados. O Fundo de Financiamento Estudantil é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições não gratuitas. Podem recorrer ao financiamento os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. [1] Criado em 1999, o Fies é um importante instrumento do governo para alcançar uma de suas metas do Plano Nacional de Educação, a que prevê a oferta de educação superior até o final do ano de 2010 para 30% dos jovens de 18 a 24 anos. Ademais, o Fies só pode ser solicitado por estudantes com renda familiar de até 20 salários mínimos. A Tabela 1 apresenta o percentual de IES que aderiram ao Fies a partir do ano de 2004 até 2009. Apesar de exibir certa volatilidade, a tabela mostra que o percentual de instituições de ensino não gratuitas que aderem ao Fies é relativamente alto. Os dados comprovam que é significante o número de IES que participam do programa do governo. Assim, assume-se a importância desse instrumento em alcançar o objetivo de aumentar o número de brasileiros em instituições de ensino superior. A tabela, permite concluir que o Fies atinge uma grande parcela das IES brasileiras. Ao fomentar o programa, o Governo brasileiro permite o acesso a educação superior para uma parcela de pessoas que não tinham a acesso ao ensino superior não gratuito. Ou seja, o Fies é uma ferramenta de grande importância na solução da questão educacional brasileira. Departamento de Economia Ano 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Número de IES Participantes do Fies (A) Número Total de IES (B) Percentual de IES que aderiram ao Fies (C)=(A)/(B)*100 1.370 1.560 1.544 1.459 1.332 1.318 1.789 1.934 2.022 2.032 2.016 2.069 76,58 80,66 76,36 71,8 66,07 63,7 Tabela 1 – Número de Instituições de Ensino Superior que adotam Fies. Objetivo do Indicador: Medir o número de IES que participam do Fies. Fonte: Ministério da Educação Em 2010, o Fies passa a funcionar de uma nova forma afim de agilizar e aumentar o número de estudantes financiados. Entre as principais mudanças, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação passou a ser o Agente Operador do Programa e triplicou-se o número de meses de carência. Além disso, os juros para financiamento passaram a ser de 3,4% ao ano para todos os cursos. Por último, cabe ressaltar que a partir de tal ano, é permitido ao estudante a solicitação do financiamento em qualquer período do ano. Em virtude de tais mudanças, o número de estudantes financiados sofreu um grande aumento. A partir da Tabela 2, nota-se que de 1999 a 2009 o número de contratos firmado era de 564.509. Já o período de 2010 a 2013 apresenta novos 599.405 contratos. Ou seja, dada as novas regras, apenas em 3 anos, o número de contratos firmados a partir de 2010 ultrapassa todo o período de 1999 a 2009. Ano e Agente Operador 1999 - CAIXA 2000 - CAIXA 2001- CAIXA 2002- CAIXA 2003- CAIXA 2004- CAIXA 2005- CAIXA 2006- CAIXA 2007- CAIXA 2008- CAIXA 2009- CAIXA SUBTOTAL 2010 - FNDE 2011 - FNDE 2012 - FNDE SUBTOTAL TOTAL Quantidade de Contratos 67.433 35.215 49.812 66.307 50.004 43.160 78.952 58.806 49.083 33.068 32.669 564.509 76.322 154.242 368.841 599.405 1.163.914 Tabela 2 – Quantidade de Financiamentos Realizados pelo Fies. Fonte: FNDE. A partir dos dados, observa-se que houve um aumento significativo de alunos em instituições de ensino superior em um horizonte de tempo bastante curto. A entrada de tal quantidade de alunos pode gerar uma pressão de demanda para as instituições de ensino superior privadas no Brasil, já que a oferta de cursos de ensino superior no curto prazo é fixa. Departamento de Economia O ingresso de novos estudantes representa um aumento nos custos das universidades particulares. Como o setor de ensino pouco sofre com a concorrência externa, é possível repassar o aumento dos custos via preços – ou seja, aumento da mensalidade de tais instituições. Contratos Fies Ano 2004 2005 2006 2007 2008 Ingressos no Ensino Superior não Gratuito Taxa (A) (B) (C)=(A)/(B)*100 43.610 77.212 58.741 49.049 32.384 1.263.429 1.346.723 1.417.301 1.472.747 1.521.191 3,45 5,73 4,14 3,33 2,13 Tabela 3 – Taxa de financiamentos novos do Fies. Objetivo do Indicador: Medir a quantidade de financiamentos novos realizados pelo Fies em determinado período em proporção ao número total de ingressos no ensino superior não gratuito, permitindo a comparação da evolução do indicador entre grandes regiões brasileiras e entre os estados. (1) Fonte: MEC, SIMEC – Programa 1073 – Ação 0579 – Avaliação da Ação (2) INEP, CES – Tabela 4.1 Face ao exposto, o objetivo da pesquisa é responder uma pergunta que até então não apresenta um consenso na literatura acadêmica, se há uma bolha de crédito estudantil no Brasil. Gráfico 1 – Evolução do Valor das Mensalidades no Ensino Superior Privado Brasileiro. Fonte: Análise Setorial do Ensino Superior Privado – Brasil 2012 O Gráfico 1 apresenta a evolução do valor das mensalidades no Ensino Superior Privado Brasileiro. Estes valores se referem à mediana das mensalidades coletadas em pesquisa da Hoper Estudos de Mercado em cursos presenciais, sendo que eles consideram Departamento de Economia igualmente todos os cursos das IES pesquisadas [2]. A trajetória dos preços das matrículas das IES apresentava queda desde o ano 2000, chegando ao piso (R$ 482) no ano de 2010. Porém, a partir de 2010, as mensalidades no ensino superior privado vêm apresentando uma tendência de alta – no ano de 2012 foi de R$ 538. Visto que a partir de 2010, com as mudanças nas regras do Fies, houve uma expansão no número de alunos que ingressaram nos cursos superiores não gratuitos, essa reversão corrobora a tese levantada. Portanto, a ampliação de contratos firmados pelo Fies gerou um número maior de matrículas, o que aqueceu o mercado de ensino superior, aumentando a mensalidade das instituições de ensino superior privado no Brasil. A bolha de crédito estudantil seria um fenômeno financeiro. O governo, ao baixar as taxas de juros e facilitar a solicitação do financiamento em qualquer período do ano, induz a entrada de agentes que apresentam baixa renda em instituições de ensino não gratuitas. Assim, o governo promove o acesso de novos participantes em instituições onde antes esses não tinham a possibilidade de cursar. Portanto, dado que a oferta de instituições de ensino superior tem um limite e é fixa no curto prazo, uma maneira de absorver o grande e abrupto fluxo de novos estudantes é o avanço dos preços das mensalidades. Com o aumento das mensalidades, o governo corre o risco de inadimplência. A inflação causada pelo influxo dos novos alunos pode fazer com que os alunos não consigam honrar suas dívidas com o Agente Operador do Programa. Assim, corre-se o risco de entrar em um ciclo vicioso: o aumento das matrículas gera uma maior dívida ao estudante, esse torna-se incapaz de pagar sua dívida. Logo, haverá um aumento na inadimplência e o governo terá que aumentar os juros do financiamento, o que leva a uma maior inadimplência, etc. Ou seja, é preciso cautela na expansão do financiamento ao crédito estudantil – pois há o risco iminente de estar se criando uma bolha. Portanto, a pesquisa tem como objetivo analisar os possíveis cenários e o novo ponto de equilíbrio da oferta e demanda de ensino superior não gratuito no Brasil. Conclusões O estudo de tal conjuntura e suas possíveis consequências permite uma maior compreensão de um cenário que pode causar sérios problemas no futuro do país. Dessa maneira, é possível preparar-se e apresentar soluções caso a situação se apresente dessa maneira. Diante dos fatos apresentados nota-se um aumento expressivo no número de alunos de baixa renda nas instituições de ensino superior privadas no Brasil. O Governo, principalmente com o Fies, tem grande importância nesse fluxo. Dado as conhecidas deficiências na questão educacional brasileira, é de suma importância a criação de programas que permitam a entrada de novos alunos em instituições de ensino superior. O acesso a educação de qualidade é um dos caminhos para a melhoria e crescimento do país. Por outro lado, é preciso prudência e cuidado ao se tratar de políticas públicas. Como visto, houve um aumento abrupto no ingresso de novos alunos com a mudanças nas regras do Fies. Essas alterações nas normas podem explicar o aumento das mensalidades das instituições de ensino superior não gratuitas no Brasil. Tal política corre o risco de entrar em um ciclo vicioso, o qual deve prejudicar alunos e Governo. Portanto, apesar do lado positivo de permitir a entrada de pessoas em IES que antes não tinham essa oportunidade, é preciso avaliar os riscos que estão sendo incorridos. A melhoria da educação brasileira é imprescindível para um modelo de crescimento sustentável no país, porém é necessário uma certa dose de cautela. Caso realmente seja o caso, o estouro de uma bolha de crédito estudantil pode afetar as gerações presentes e futuras. Logo, essa pesquisa é relevante no atual momento do país. Departamento de Economia Além disso, é de interesse acadêmico tentar responder questões que ainda estão em aberto na literatura. Pois, através da pesquisa é possível expandir a fronteira do conhecimento na ciência econômica. Referências 1 – O que é o FIES?. Disponível em: < http://sisfiesportal.mec.gov.br>. 2 - Aumento das mensalidades em 2011 e 2012: o que significam estes números da Análise Setorial do Ensino Superior Privado?. Disponível em: <http://www.hoper.com.br/bussola_educacional/julho2012/news_destaque.html>.