MASTITE PUERPERAL COMPLICADA EM PACIENTE PORTADORA DE IMPLANTE MAMÁRIO. COMPLICATED PUERPERAL MASTITIS IN A PATIENT WITH MAMMARY IMPLANT MYRIAM CARUSO MACDONALD1, GUSTAVO MORELLATO1, LEONELLO ELLERA BOCHESE1, ARTHUR KOERICH d'AVILA2, RODRIGO d'EÇA NEVES3, JORGE BINS ELY4 RESUMO A mamaplastia de aumento com implantes é uma das cirurgias plásticas estéticas mais realizadas no mundo. O grande número de mulheres com implantes em idade reprodutiva, implica no aumento de mulheres implantadas amamentando. A mastite puerperal é uma condição infecciosa comum e pode iniciar com sintomas inespecíficos até casos de formação de abscesso mamário. Este artigo apresenta um caso de mastite puerperal complicada por abscesso em uma paciente portadora de implante mamário. A paciente foi tratada conforme as indicações, com remoção do implante e antibioticoterapia. DESCRITORES: 1. Abscesso; 2. Mastite; 3. Implante. OBJETIVO Apresentar caso de Mastite complicada com abscesso mamário em paciente com implante de silicone e o manejo terapeutico. ABSTRACT The breast augmentation with implants is one of the most performed aesthetic surgeries in the world. The large number of women with implants during reproductive life, leads to a large number of women with implants breastfeeding. The puerperal mastitis is a common infectious condition and it can start with unspecific symptoms until the formation of mammary abscess. This article presents a case of complicated puerperal mastitis by the presence of abscess in a patient with a breast implant. The patient was treated with the removal of the implant and antibioticotherapy. KEYWORDS: 1. Abscess; 2. Mastitis; 3. Implant. INTRODUÇÃO A mamaplastia de aumento com implantes é uma das cirurgias plásticas estéticas mais realizadas no mundo. O aumento no número de 1. Residente do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados HU/UFSC 2. Staff do Serviço de Cirurgia Plastica e Queimados HU/UFSC 3. Chefe do Serviço de Cirurgia Plastica e Queimados HU/UFSC 4. Regente do Serviço de Cirurgia Plastica e Queimados SBCP - HU/UFSC 100 mulheres com implantes em idade reprodutiva, implica no aumento de mulheres implantadas amamentando. A mastite puerperal é uma condição infecciosa que atinge cerca de 10 a 20% das mulheres que amamentam, geralmente nas primeiras 2 a 3 semanas do puerpério. O quadro pode iniciar com sintomas inespecíficos como febre, e evoluir para dor, edema e eritema na mama acometida, até casos de formação de abscesso mamário. O principal agente causador é o Staphylococcus aureus. Apresentaremos um caso de mastite puerperal complicada por abscesso em uma paciente portadora de implante mamário. MÉTODOS RELATO DE CASO: A. B., 34 anos, foi submetida a introdução de implantes mamários de silicone, texturizados, 260cc, há 8 anos, em posição subglandular, por via inframamária, sem complicações. O nascimento do primeiro filho foi por cesareana, sem intercorrências, e a paciente estava amamentando normalmente. Vinte e cinco dias após o parto, apresentou febre, dor, edema e eritema na mama esquerda. Após cinco dias do início do quadro e com piora clínica, a paciente procurou a emergência do Hospital Universitário, onde foi atendida pela equipe de Ginecologia e Obstetrícia, que iniciou cefazolina endovenosa e solicitou exames. O hemograma apresentava anemia (Ht=32,60), sem outras alterações. No quarto dia de internação uma ultrassonografia mostrou volumosa coleção em quadrantes inferiores da mama esquerda, aparentemente em contato com a prótese. A equipe do Serviço de Cirurgia Plática e Queimados do HU/UFSC foi chamada para avaliação do caso, logo após a realização do exame ultrassonográfico. No exame físico, a paciente encontrava-se com queda do estado geral, pressão arterial 120x80 mmHg, pulso 92 bpm e a mama esquerda com volume aproximadamente duas vezes maior que da mama direita, tensa, hiperemiada, quente e com Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 dor intensa à palpação. Foi então indicada cirurgia de urgência pela equipe de Cirurgia Plástica, que realizou acesso inframamário pela cicatriz pré-existente, abertura da cápsula do implante com saída de aproximadamente 600 mililitros de secreção pio-serosa, retirada da prótese, lavagem rigorosa da loja mamária com soro fisiológico, hemostasia, posicionamento de dreno de sucção e fechamento da pele com pontos separados. A paciente recebeu alta 48 horas depois, bem clinicamente e sem dor. O dreno foi retirado no quarto dia de pós-operatório. A cultura da secreção drenada foi negativa. A evolução da paciente no pós-operatório foi satisfatória, sem complicações e amamentando normalmente. A paciente aguarda programação para nova introdução de implante mamário. DISCUSSÃO A mastite puerperal tem início quando o agente causador penetra no tecido mamário, geralmente através de fissuras no complexo aréolo-papilar, e ocorre em 10 a 20% das mulheres que amamentam. Quando o tratamento é instituído no início do quadro, a tendência é a regressão da doença sem maiores complicações. A amamentação deve ser continuada mesmo na vigência do quadro. Esta prática melhora a drenagem mamária e previne a formação de abscesso, sem prejudicar a saúde da criança em aleitamento. Se o tratamento for retardado, a formação de abscesso pode ocorrer de 11 a 20% dos casos. A presença de abscesso deve ser suspeitada quando for observado edema importante, mama tensa e dor intensa e persistente. O exame indicado para diagnóstico de abscesso é a ultrassonografia das mamas, que irá demonstrar uma imagem cística. Na presença de coleção fluida, uma punção guiada pode ser realizada, com a precaução de não causar dano à prótese, para diagnóstico ou tratamento. O exame mostrará ainda se o abscesso está ou não em contato com a prótese. Sinais de infecção na prótese são indicação de remoção do implante. A secreção drenada deve ser enviada para cultura, e esta deve ser mantida por, no mínimo, 14 dias. Se algum tecido for removido, este deve ser enviado para estudo histopatológico. A terapia antibiótica sistêmica deve ser realizada por 10 a 14 dias. A paciente em estudo apresentou um quadro clássico de mastite puerperal. O início do seu tratamento foi retardado, apenas após cinco dias do início do quadro, o que aumentou suas chances de desenvolvimento de abscesso. A presença da prótese foi um complicador, que ainda tem poucos casos descritos na literatura. O tratamento instituído foi correto, com antibioticoterapia sistêmica, drenagem e remoção do implante assim que teve o diagnóstico de abscesso em contato com a prótese e com desfecho favorável. A paciente ainda aguarda a correção da assimetria mamária resultante. Esta deve ser realizada, no mínimo, após seis meses, para resolução completa do quadro e involução da mama em aleitamento. Com o aumento significativo no número de mulheres em idade fértil submetidas a mamaplastia de aumento com implante de próteses de silicone, é de suma importância que os médicos envolvidos nos cuidados do puerpério (obstetras e clínicos gerais) e os cirurgiões plásticos reconheçam os sinais indicativos de mastite e, principalmente, as indicações de intervenção cirúrgica nessas pacientes. REFERÊNCIAS 1 - Semple J L. Breast feeding and silicone implants. Plast Reconstr Surg 2007; Dec Sup I: 123S-8S. 2 - Zuckerman D M. Reasonably safe? Breast implants and informed consent. 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Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012 101 Figura 01 pré-operatório Figura 04 sétimo dia de pós operatório Figura 02 pré-operatório Figura 05 sétimo dia de pós operatório Figura 03 primeiro dia de pós operatório Figura 06 décimo quinto dia de pós operatório ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados Hospital Universitário / Universidade Federal de Santa Catarina CEP: 88040-900 E-mail: [email protected] 102 Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 41 - Suplemento 01 - 2012