UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS MICHAELLE GERALDA DOS SANTOS TRIAGEM FITOQUÍMICA E ATIVIDADE ANTIPROLIFERATIVA DO EXTRATO DICLOROMETANO-ETANÓLICO DE RAÍZES DE Eriosema crinitum (Kunth) G. Don (Leguminosae) Diamantina 2014 MICHAELLE GERALDA DOS SANTOS TRIAGEM FITOQUÍMICA E ATIVIDADE ANTIPROLIFERATIVA DO EXTRATO DICLOROMETANO-ETANÓLICO DE RAÍZES DE Eriosema crinitum (Kunth) G. Don (Leguminosae) Dissertação apresentada ao curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Área de concentração: Farmacologia de produtos naturais e plantas medicinais. Orientador: Dr. Gustavo Eustáquio Brito Alvim de Melo Diamantina 2014 Ficha Catalográfica - Sistema de Bibliotecas/UFVJM Bibliotecária: Jullyele Hubner Costa CRB-6/2972 S237t 2014 Santos, Michaelle Geralda dos. Triagem fitoquímica e atividade antiproliferativa do extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum (Kunth) G. Don (Leguminosae) / Michaelle Geralda dos Santos. – Diamantina: UFVJM, 2014. 99 p.: il. Orientador: Prof. Dr. Gustavo Eustáquio Brito Alvim de Melo Dissertação (mestrado) – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Faculdade de Ciências Biológicas. Mestrado - Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas, 2014. 1. Eriosema crinitum. 2. Inflamação. 3. Proliferação celular. I. Melo, Gustavo Eustáquio Brito Alvim de. II. Título. CDD 615.321 Elaborada com os dados fornecidos pelo(a) autor(a). Triagem fitoquímica e atividade antiproliferativa do extrato diclorometano-etanólico de Eriosema crinitum (Kunth) G. Don (Leguminosae) Michaelle Geralda dos Santos Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, nível de Mestrado, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. APROVADA EM 21 / 02 / 2014 Prof.ª Edel Fi gueiredo Barbosa Stancioli – UFMG Membro Prof.ª Patrícia Machado de Oliveira – UFVJM Membro Prof. Gustavo Eustáquio Brito Al vim de Melo – UFVJM Presidente DIAMANTINA 2014 AGRADECIMENTOS Ao maravilhoso Deus e à sua bondosa Mãe Nossa Senhora, por terem me concedido saúde, sabedoria e perseverança em todos os momentos e pela graça da concretização desse sonho. À minha querida mãe Douraci, pelo seu amor incondicional, pelo seu exemplo dual de mãe e pai. Com sua fé inabalável, sempre participou de todas as minhas caminhadas. Você é a razão de tudo! Aos meus irmãos Michelle, Júnior e Roberto pela amizade, incentivo, carinho e pelo amor que nos une. À minha avó Judite, minha segunda mãe, sempre presente em minha vida, pelo amor, carinho e pelas suas orações, A todos os meus familiares que estiveram presentes durante esta jornada, em especial, à tia Lourdes por me acolher em sua casa desde a época da graduação; Ao meu tio Serafim Luciano Costa (Finfin) pelo auxílio na coleta da “Pustemeira”; Ao meu namorado, Willian, pela sua presença constante, por todo amor, carinho, dedicação e paciência; Ao meu orientador, Prof. Dr. Gustavo Eustáquio Brito Alvim de Melo, grande exemplo de competência; pelos ensinamentos, confiança, amizade, apoio, respeito e incentivo em todos os momentos da realização desse trabalho. Por me ajudar em meu crescimento científico, profissional e pessoal. Agradeço a oportunidade que me foi dada. Ao pessoal do Herbário Dendrológico Jeanine Felfili, na pessoa do Prof. Dr. Evandro L. M. Machado pela identificação taxonômica da planta que foi objeto desse estudo; Ao Prof. Dr. Luiz Elídio Gregório pela colaboração, por toda atenção, dedicação e por sua participação na análise química do extrato vegetal; À Profa. Dra. Cristiane F.F. Grael pela colaboração e pelo auxílio na confecção do extrato vegetal; À Profa. Dra. Etel Rocha Vieira pela colaboração, atenção e disposição em ajudar; Aos colegas e professores da Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas pela amizade, apoio e bons momentos de convívio. Nós somos os pioneiros! À toda equipe do Bioex, especialmente Rosa, Vinícius e Mariana pela amizade, parceria, dedicação e atenção em todos os momentos; À toda equipe do Labimuno, por terem me acolhido com carinho, pela atenção, dedicação, pela transmissão de conhecimentos e, principalmente pela amizade. Em especial, agradeço à Bethânia e Valéria: presentes de Deus em minha vida. Adoro vocês! Às colegas Bárbhara e Débora, pelo auxílio na realização das reações cromogênicas e da CCDC; Enfim, a todas as pessoas que contribuíram direta ou indiretamente para a conclusão desse trabalho: alunos, professores e funcionários. Meus sinceros agradecimentos! “Change your opinions, keep to your principles; change your leaves, keep intact your roots.” Victor Hugo RESUMO A Eriosema crinitum (Kunth) G. Don é utilizada no Vale do Jequitinhonha como planta antiinflamatória na forma de decocção de suas raízes. Tendo em vista a complexidade do processo inflamatório, o qual envolve a ativação de células do sistema imune e produção de diversos mediadores, o objetivo desse estudo foi realizar uma triagem fitoquímica e avaliar a possível atividade anti-inflamatória, in vitro, do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum, através da avaliação do efeito do mesmo sobre a proliferação de linfócitos, a produção de citocinas e da ciclooxigenase 2 (COX-2). A triagem fitoquímica do extrato foi realizada por meio de reações cromogênicas, fluorogênicas e de precipitação, seguidas da análise em cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a detector de arranjo de diodos (CLAE-DAD). A citotoxicidade do extrato sobre hemácias, após 4 horas de cultura, e sobre leucócitos do sangue periférico humano, após 24 horas ou 5 dias de cultura, foi avaliada por meio do teste de atividade hemolítica e pelo método de exclusão com azul de Tripan, respectivamente. Na avaliação do efeito do extrato sobre a proliferação de linfócitos, por citometria de fluxo, células mononucleares do sangue periférico humano (PBMC) foram incubadas, por 5 dias, em meio de cultura contendo o mitógeno Fitohemaglutinina (PHA), na presença ou ausência do extrato nas concentrações de 25 μg/mL, 12,5 μg/mL e 6,25 μg/mL. Essas mesmas culturas foram realizadas no tempo de 36 horas para análise da citocina IL-2, por ELISA. Para análise da produção das citocinas TNF-α e IFN-γ, culturas de sangue total foram estimuladas com Miristato Acetato de Forbol (PMA) e tratadas com o extrato nas concentrações de 50 μg/mL, 25 μg/mL e 12,5 μg/mL. Essas concentrações foram utilizadas em culturas de sangue total estimuladas com lipopolissacarídeo (LPS) para investigação do efeito do extrato sobre a expressão de COX-2. A produção de citocinas e de COX-2 foi analisada por citometria de fluxo. Os resultados evidenciaram a presença de terpenos e das subclasses dos flavonoides: flavonas e flavonóis no extrato. O extrato, nas concentrações iguais ou inferiores a 50 μg/mL, não foi tóxico para culturas celulares de 24 horas e, para culturas de 5 dias, as concentrações não tóxicas foram iguais ou inferiores a 25 μg/mL. Quanto à ação anti-inflamatória, o extrato não inibiu a produção das citocinas TNF-α e IFN-γ e também não foi capaz de reduzir a expressão de COX-2. No entanto, o extrato inibiu a proliferação de linfócitos e suas subpopulações T CD4 e TCD8, tendo uma eficácia em relação à Dexametasona de 71,65%, 53,14% e 167,94% para linfócitos totais, T CD4 e T CD8, respectivamente. O extrato também reduziu os níveis de IL-2 nas culturas estimuladas com PHA. Esses achados sugerem que o extrato apresenta um efeito inibidor, principalmente sobre a proliferação de células T CD8, associado à inibição na produção de IL-2. Diante dos resultados apresentados, os princípios ativos presentes na planta parecem exercer suas funções anti-inflamatórias regulando a proliferação de linfócitos T, principalmente os linfócitos T CD8. Essa função poderia ser explorada em desordens de natureza inflamatórialinfoproliferativa, bem como prevenção da rejeição de transplantes de órgãos. Para tal, ensaios adicionais são necessários para investigar e identificar os constituintes ativos e os mecanismos moleculares envolvidos na ação inibitória apresentada pelo extrato. Palavras-chave: Eriosema crinitum, inflamação, proliferação celular, IL-2. ABSTRACT The Eriosema crinitum (Kunth) G. Don is used in Jequitinhonha Valley as anti-inflammatory plant in the form of decoction of its roots. Given the complexity of the inflammatory process, which involves the activation of immune cells and production of several mediators, the aim of this study was to perform a phytochemical screening and evaluate the potential antiinflammatory activity, in vitro, the dichloromethane-ethanol extract of the roots of E. crinitum by assessing the effect of the same on lymphocyte proliferation, production of cytokines and cyclooxygenase-2 (COX-2). The phytochemical screening of the extract was performed using chromogenic reactions, fluorogenic and precipitation followed by analysis in high efficiency liquid chromatography coupled with a diode array detector (HPLC-DAD). The cytotoxicity of the extract after 24 hours or 5 days of culture on erythrocytes and leukocytes in human peripheral blood was evaluated by the test of hemolytic activity and the method of exclusion with Trypan blue, respectively. In evaluating of the effect of the extract on the proliferation of lymphocytes by flow cytometry, mononuclear cells from human peripheral blood (PBMC) have been incubated for 5 days in a culture medium containing the mitogen Phytohemagglutinin (PHA) in the presence or absence of extract at concentrations of 25 μg/mL, 12.5 μg/mL and 6.25 μg/mL. These cultures too were performed in the time of 36 hours for analysis of IL -2 by ELISA. To analyze the production of cytokines TNF-α and IFN-γ, whole blood cultures were stimulated with Phorbol Myristate acetate (PMA) and treated with the extract at concentrations of 50 μg/mL, 25 μg/mL and 12.5 μg/mL. These concentrations were used in whole blood cultures stimulated with lipopolysaccharide (LPS) to investigate the effect of the extract on the expression of COX-2. Cytokine production and COX-2 was analyzed by flow cytometry. The results showed the presence of terpenes and subclasses of flavonoids: flavones and flavonols in extract. The extract, in concentration equal or greater than 50 μg/mL was not toxic to cell cultures after 24 hours and in culture after 5 days, non- toxic concentrations were equal to or greater than 25 μg/mL. In relation to the antiinflammatory action, the extract did not inhibit the production of TNF-α and IFN-γ and also was not able to reduce the expression of COX-2. Moreover, the extract inhibited the proliferation of lymphocytes and their subpopulations CD4 and CD8, and its efficacy compared to dexamethasone was 71.65%, 167.94% and 53.14% for total lymphocytes, CD4 and CD8, respectively. The extract also reduced the levels of IL-2 in cultures stimulated with PHA. These findings suggest that the extract has an inhibitory effect, especially on the proliferation of CD8 T cells associated with the inhibition of IL-2. Considering the presented results, the active molecules present in the plant seem to play their anti-inflammatory functions by regulating the T lymphocytes proliferation, mainly T CD8 lymphocytes. This function could be exploited in inflammatory lymphoproliferative disorders, as well as in the prevention of transplant rejection. Further trials are needed to investigate the active constituents and the molecular mechanisms involved in the inhibitory action displayed by the extract. Keywords: Eriosema crinitum, inflammation, cellular proliferation, IL-2. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Eriosema crinitum. Estrutura total da planta (A e B), fruto legume (C) e flor (D)........................................................................................................................................ 29 Figura 2. Extrato diclorometano-etanólico (1:1) de raízes de E. crinitum........................... 39 Figura 3. Sequência de procedimentos utilizados para as análises de proliferação celular pela diluição do VPD450..................................................................................................... 52 Figura 4. Sequência de procedimentos utilizados para a análise do percentual de linfócitos positivos para as citocinas avaliadas.................................................................... 57 Figura 5. Sequência de procedimentos utilizados para as análises de expressão de COX2............................................................................................................................................ 59 Figura 6. Pesquisa de taninos em raízes de Eriosema crinitum........................................... 61 Figura 7. Pesquisa de alcaloides em raízes de Eriosema crinitum....................................... 62 Figura 8. Pesquisa de flavonoides em raízes de Eriosema crinitum pelas reações de Pew e de Shinoda......................................................................................................................... 63 Figura 9. Pesquisa de flavonoides em raízes de Eriosema crinitum pela reação com Cloreto de Alumínio............................................................................................................. 63 Figura 10. Pesquisa de antraquinonas em raízes de Eriosema crinitum.............................. 64 Figura 11. Pesquisa de saponinas em raízes de Eriosema crinitum..................................... 64 Figura 12. Pesquisa de esteroides e terpenos em raízes de Eriosema crinitum................... 65 Figura 13. Cromatografia em Camada Delgada Comparativa (CCDC) para pesquisa de terpenos em raízes de E. crinitum........................................................................................ 66 Figura 14. Cromatograma da análise do extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum por CLAE-DAD, modo Spectrum Max Plot......................................... 67 Figura 15. Cromatograma da análise do extrato em diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum no comprimento de onda de 288nm por CLAE-DAD.......................... 68 Figura 16. Estrutura básica dos flavonoides e as principais subclasses............................... 69 Figura 17. Espectros em UV/Vis (190 – 600 nm) dos picos indicativos da presença de flavonóis no extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum................................................................................................................................ 70 Figura 18. Espectros em UV/Vis (190 – 600 nm) dos picos indicativos da presença de flavonas no extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum................................................................................................................................ 71 Figura 19. Percentual de hemólise em culturas tratadas com diferentes concentrações do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum e com o controle do solvente DMSO 2% (n = 8) após 4 h de cultura................................................................................. 73 Figura 20. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a viabilidade celular, após 24 horas de cultura....................................................................... 74 Figura 21. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a viabilidade celular, após 5 dias de cultura ........................................................................... 75 Figura 22. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) sobre a proliferação de linfócitos...................................................................................................... 77 Figura 23. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) sobre a produção de IL-2.................................................................................................................. 79 Figura 24. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) sobre o percentual de linfócitos TNF-α+ (A) e de linfócitos IFN-γ+ (B)......................................... 80 Figura 25. Análise da intensidade média de fluorescência (IMF) de monócitos COX2+.......................................................................................................................................... 81 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Posição sistemática da espécie Eriosema crinitum................................................. 29 Tabela 2. Mediadores inflamatórios e respostas celulares desencadeadas............................. 31 Tabela 3. Reativos Gerais de Alcaloides (RGA) utilizados na pesquisa da presença de alcaloides nas raízes de Eriosema crinitum............................................................................ 41 Tabela 4. Composição do gradiente de fase móvel utilizado na análise em CLAE-DAD do extrato diclorometano-etanólico de Eriosema crinitum......................................................... 46 Tabela 5. Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para análise de populações linfocitárias, marcação de citocinas e análise da enzima ciclooxigenase............ 53 Tabela 6. Pesquisa de classes de metabólitos secundários em raízes de E. crinitum................................................................................................................................... 66 Tabela 7. Faixa de absorção e intensidade das bandas I e II para identificação das subclasses de flavonoides....................................................................................................... 69 Tabela 8. Caracterização dos voluntários............................................................................... 72 Tabela 9. Índice de proliferação para linfócitos e suas subpopulações em culturas não estimuladas com PHA............................................................................................................ 78 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BSA Bovine serum albumin CFSE Carboxyfluorescein Diacetate Succinimidyl Ester CIPq-Saúde Centro Integrado de Pós-Graduação e Pesquisa em Saúde CLAE-DAD Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com Detector de Arranjo de Diodos COX Ciclooxigenase DE Extrato Diclorometano-etanólico de Eriosema crinitum dL Decilitro DEXA Dexametasona DMSO Dimetilsulfóxido ELISA Enzyme Linked Immunosorbent Assay EUA Estados Unidos FITC Isotiocianato de Fluoresceína fL Fentolitro FR Fator de Retenção FSC-A Forward side scatter – área FSC-H Forward side scatter – altura G Grama HRP Horseradish Peroxidase ICAM-1 Molécula Intercelular de Adesão 1 IE Índice de Espuma IFN-γ Interferon gamma iNOS Óxido Nítrico Sintase induzível IL-1 Interleucina 1 IL-1Ra Antagonista do Receptor de IL-1 IL-2 Interleucina 2 IL-4 Interleucina 4 IL-5 Interleucina 5 IL-6 Interleucina 6 IL-9 Interleucina 9 IL-10 Interleucina 10 IL-12 Interleucina 12 IL-13 Interleucina 13 IL-17 Interleucina 17 IL-18 Interleucina 18 IL-21 Interleucina 21 IL-22 Interleucina 22 IP Índice de Proliferação LPS Lipopolissacarídeo Μg microgramas Μm micrômetro μM Micromolar mAU mili unidades de absorbância MG Minas Gerais mL mililitros Nm Nanômetro MS Ministério da Saúde NK Natural killer OMS Organização Mundial da Saúde PAF Fator Ativador de Plaquetas PBMC Células Mononucleares do Sangue Periférico PBS Tampão Fosfato Salina PBS-W Tampão Fosfato Salina – Wash PBS-P Tampão Fosfato Salina de Permeabilização PE Ficoeritrina PerCP-Cy5.5 Proteína Clorofila Peridinina combinada a Cianina Pg Picograma PHA Fitohemaglutinina PMA Miristato Acetato de Forbol PNPIC Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais RGA Reativos Gerais de Alcaloides PRR Receptores de Reconhecimento de Padrões SP São Paulo SSC-A Side light scatter - área SSC-H Side light scatter - altura SUS Sistema Único de Saúde TFA Trifluoroacético TGF-β Fator de Crescimento Transformante beta TLR Receptores do tipo “Toll” (do inglês: Toll-like Receptors) TMB 3,3’, 5,5’ tetrametilbenzidina TNF-α Fator de Necrose Tumoral alpha UFVJM Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri VCAM-1 Molécula de adesão vascular celular 1 UV/Vis Ultravioleta/Visível VPD450 Violet Proliferation Dye 450 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 22 2 REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................................. 23 2.1 Plantas medicinais......................................................................................................... 23 2.2 A família Leguminosae (Fabaceae) e o gênero Eriosema............................................. 25 2.3 Composição química e investigação de atividades biológicas de espécies do gênero Eriosema ............................................................................................................................. 26 2.4 Eriosema crinitum......................................................................................................... 28 2.5 Resposta inflamatória.................................................................................................... 30 3 JUSTIFICATIVA.................................................................................................................. 36 4 OBJETIVOS.......................................................................................................................... 38 4.1 Objetivo Geral............................................................................................................... 38 4.2 Objetivos Específicos.................................................................................................... 38 5 METODOLOGIA.................................................................................................................. 39 5.1 Material vegetal............................................................................................................. 39 5.1.1 Coleta e identificação taxonômica............................................................................. 39 5.1.2 Preparo do extrato bruto............................................................................................. 39 5.2 Triagem fitoquímica das principais classes de metabólitos secundários presentes nas raízes de E. crinitum............................................................................................................ 40 5.2.1 Pesquisa de taninos..................................................................................................... 40 5.2.2 Pesquisa de alcaloides................................................................................................ 41 5.2.3 Pesquisa de flavonoides............................................................................................. 42 5.2.4 Pesquisa de antraquinonas.......................................................................................... 43 5.2.5 Pesquisa de saponinas e índice de espuma................................................................. 43 5.2.6 Pesquisa de esteroides e terpenos............................................................................... 44 5.3 Análise do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Detector de Arranjo de Diodos (CLAEDAD)................................................................................................................................... 45 5.4 Critérios de inclusão e sujeitos da pesquisa.................................................................. 46 5.5 Amostra biológica......................................................................................................... 47 5.6 Parâmetros hematológicos............................................................................................. 47 5.7 Obtenção das Células Mononucleares do Sangue Periférico (PBMC) humano........... 47 5.8 Avaliação da citotoxicidade do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum, in vitro.................................................................................................................. 48 5.8.1 Avaliação da atividade hemolítica do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum........................................................................................................................... 48 5.8.2 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a viabilidade de PBMC humanas........................................................................................... 49 5.9 Análise do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a proliferação de linfócitos humanos.................................................................................. 50 5.10 Anticorpos utilizados................................................................................................... 53 5.11 Avaliação do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre produção de citocinas por linfócitos humanos, in vitro............................................. 54 5.11.1 Avaliação do efeito extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de IL-2..................................................................................................... 54 5.11.2 Avaliação do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de IFN-γ e TNF-α................................................................................... 56 5.12 Avaliação do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a expressão de COX-2............................................................................................... 58 6 ANÁLISE ESTATÍSTICA.................................................................................................... 60 7 RESULTADOS ..................................................................................................................... 61 7.1 Triagem fitoquímica das principais classes de metabólitos secundários presentes nas raízes de E. crinitum............................................................................................................ 61 7.2 Análise do extrato em diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Detector de Arranjo de Diodos (CLAE-DAD)...................................................................................................................... 67 7.3 Análise de hemogramas dos sujeitos da pesquisa......................................................... 72 7.4 Citotoxicidade do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum............... 72 7.5 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a proliferação de linfócitos humanos..................................................................................... 75 7.6 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de IL-2 por linfócitos humanos........................................................................................... 78 7.7 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de TNF-α e IFN-γ por linfócitos humanos.......................................................................... 7.8 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a expressão 79 de COX-2............................................................................................................................ 81 8 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS..................................................................................... 82 9 CONCLUSÃO....................................................................................................................... 86 REFERÊNCIAS........................................................................................................................ 87 ANEXO A................................................................................................................................. 97 22 1 INTRODUÇÃO As plantas medicinais têm sido utilizadas desde a antiguidade para a cura de diversas doenças. Muitos compostos bioativos foram descobertos a partir de fontes naturais e são hoje utilizados no tratamento de diversas doenças. O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do mundo e o Cerrado contribui relevantemente para essa posição. Porém, estudos acerca das atividades biológicas da grande maioria das espécies vegetais ainda são escassos. Assim, pesquisas que envolvam espécies presentes nesse bioma são de grande relevância para contribuir com a obtenção de respaldo científico na utilização de plantas medicinais pela população, para a valorização da riqueza vegetal e para a possibilidade de descoberta de substâncias bioativas com potencial para o desenvolvimento de novos fármacos. A família Leguminosae (Fabaceae) é uma das famílias mais expressivas em termos de número de espécies no Cerrado. Dentre essas espécies se encontra a Eriosema crinitum (Kunth) G. Don, uma planta que tem sido utilizada há tempos por raizeiros de Diamantina e região para fins anti-inflamatórios. Porém, não existem relatos na literatura sobre a avaliação da composição química ou da bioatividade de extratos dessa planta. Diante disso, iniciamos o presente estudo com o intuito de investigar, primeiramente, a toxicidade do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre hemácias e leucócitos do sangue periférico humano, in vitro. Em seguida, realizamos uma caracterização química preliminar do extrato vegetal de forma paralela à avaliação de seu efeito inibitório sobre a produção de citocinas pró-inflamatórias e sobre a expressão da enzima ciclooxigenase 2 (COX-2), bem como sobre a proliferação de linfócitos do sangue periférico humano, in vitro. 23 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Plantas medicinais A utilização de plantas com fins medicinais para tratamento, cura e prevenção de doenças é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade (RATES, 2001). A Organização Mundial da Saúde (OMS), considerando as plantas medicinais como importantes instrumentos da assistência farmacêutica, tem expressado, por meio de vários comunicados e resoluções, sua posição a respeito da necessidade de valorizar a sua utilização no âmbito sanitário ao observar que 70% a 90% da população nos países em vias de desenvolvimento dependem delas no que se refere à Atenção Primária à Saúde (WHO, 1993; WHO, 2011). Apesar da grande evolução da medicina alopática, a partir da segunda metade do século XX, têm existido obstáculos básicos na sua utilização pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos. Estes motivos, associados à fácil obtenção e à grande tradição do uso de plantas medicinais, contribuem para sua utilização pelas populações dos países em desenvolvimento (VEIGA JÚNIOR, PINTO e MACIEL, 2005). Segundo Calixto (2000a), entre as várias razões que têm proporcionado o interesse da população pelos medicamentos fitoterápicos, pode-se mencionar a preferência por terapias naturais; os efeitos colaterais observados com os medicamentos sintéticos e a crença errônea de que os medicamentos fitoterápicos não possuem efeitos colaterais; a tendência da população em acreditar que os medicamentos fitoterápicos podem ser efetivos nos tratamentos de doenças quando os medicamentos sintéticos falham; a automedicação; a existência de estudos científicos para alguns produtos fitoterápicos e o alto custo dos medicamentos sintéticos. A utilização de componentes químicos derivados de produtos naturais é reconhecidamente importante na produção e desenvolvimento de fármacos (CALIXTO et al., 2000b). Estima-se que cerca de 40% dos medicamentos disponíveis foram desenvolvidos a partir de fontes naturais, sendo que dentre essa porcentagem, aproximadamente 25% são derivados direta ou indiretamente de constituintes químicos vegetais (CALIXTO et al., 2000b; RATES, 2001). 24 Assim, as plantas com finalidades terapêuticas, além de seu uso na medicina popular, têm contribuído, ao longo dos anos, para a obtenção, de forma direta ou indireta, de vários fármacos, até hoje amplamente utilizados na clínica, como a morfina (Papaver somniferum L.), os glicosídeos cardiotônicos digitoxina (Digitalis purpurea L.) e a digoxina (Digitalis lanata Ehr.), os antimaláricos quinina (Cinchona spp) e artemisina (Artemisia annua), bem como vários medicamentos utilizados no tratamento do câncer, como vimblastina e vincristina (Catharanthus roseus), o taxol (Taxus brevifolia), dentre vários outros com funções terapêuticas diversas (CALIXTO, 2001). A pesquisa por novos produtos bioativos de origem vegetal pode ser feita de forma randômica, por observação ecológica ou etnobotânica (BASSO et al., 2005). A pesquisa randômica é extremamente laboriosa e fornece uma taxa muito baixa de sucesso. A observação ecológica consiste em buscar bioatividade a partir de plantas de áreas que indicam a presença de compostos ativos como aquelas em que há ausência de herbívoros, indicando ocorrência de substâncias tóxicas ou através da zoofarmacognosia, em que o alvo são as plantas ingeridas por animais, principalmente primatas, para alívio de sintomas (BERRY et al., 1995). A pesquisa etnobotânica utiliza o conhecimento popular para selecionar as plantas que serão estudadas e, ao contrário da pesquisa randômica, a etnobotânica apresenta uma alta probabilidade de obtenção de compostos com alguma atividade biológica (BASSO et al., 2005). Nos últimos anos, as pesquisas etnobotânicas vêm crescendo, particularmente em países como o Brasil. O enfoque dos trabalhos varia conforme a região, mas o tema predominantemente contemplado aborda o âmbito das plantas medicinais (OLIVEIRA et al, 2009). Tendo em vista que o Brasil se configura como um dos países com a maior biodiversidade do mundo, o país encontra-se em uma posição estratégica para desenvolver uma exploração racional e sustentada de novas substâncias de valor terapêutico (MYERS, et al., 2000; BASSO et al., 2005). Grande parte das plantas nativas brasileiras ainda não tem estudos e muitas espécies são utilizadas sem respaldo cientifico quanto à eficácia e segurança, o que demonstra a existência de uma enorme lacuna entre a oferta de plantas e as poucas pesquisas. Desta forma, considera-se este um fator de grande incentivo ao estudo com plantas, visando sua utilização como fonte de recursos terapêuticos, pois o reino vegetal representa, em virtude da pouca quantidade de espécies estudadas, um vasto celeiro de moléculas a serem descobertas (FOGLIO et al., 2006). 25 A biodiversidade brasileira está distribuída em seis biomas, sendo o Cerrado brasileiro a segunda maior área de plantas nativas do país, sendo considerado um hotspot mundial; uma área que concentra grande biodiversidade e é prioritária para conservação (MYERS et al., 2000; BASSO et al., 2005; JOLY et al., 2011). As plantas encontradas no Cerrado despertam o interesse da indústria de medicamentos, pois estas constituem fontes de compostos bioativos (CARAMORI et al., 2004). Embora haja relatos de atividades biológicas de espécies presentes no Cerrado, sendo muitas plantas utilizadas pela população residente como agentes antimicrobianos, anti-inflamatórios e antifúngicos, dentre outras atividades (BOONCLARM et al., 2006; REBECC et al., 2010; SILVA et al., 2009), existem poucos estudos sobre os efeitos terapêuticos dos extratos brutos, ou compostos isolados, provenientes de plantas deste bioma (NAPOLITANO et al., 2005). 2.2 A família Leguminosae (Fabaceae) e o gênero Eriosema Leguminosae (ou Fabaceae) representa uma das maiores famílias dentre as Angiospermas. É de distribuição cosmopolita e ocorre em diferentes latitudes e altitudes, nos mais variados ambientes (JOLY, 1975). No Brasil ocorrem aproximadamente 200 gêneros e 1.500 espécies (SOUZA e LORENZI, 2005), dos 630 gêneros e 18.000 espécies existentes na família (JUDD et al., 2002). As espécies representantes dessa família destacam-se principalmente por sua importância econômica, pois são amplamente utilizadas na alimentação humana, com espécies como Phaseolus vulgaris L. (feijão) e Arachis hypogaea L. (amendoim), fornecem matéria-prima para medicamentos, fragrâncias, madeiras nobres e óleos, bem como para fins paisagísticos (POLHILL et al., 1981; HEYWOOD, 1993, ALVES, 2008). Em termos taxonômicos, reconhece-se Leguminosae como uma família monofilética dividida em três subfamílias: Caesalpinioideae, Mimosoideae e Papilionoideae (LEWIS et al., 2005, ALVES, 2008). Papilionoideae é considerada a maior subfamília dentre as Leguminosae, abrangendo dois terços dos gêneros e espécies (LEWIS et al., 2005). O gênero Eriosema pertence à subfamília Papilionoideae e foi descrito em 1825 por Auguste Pyramo De Candolle, que tratou o gênero como uma seção do gênero Rhynchosia, com oito espécies, com a ressalva de que poderia ser elevado à categoria genérica (GREAR, 1970). Após revisão por Desvaux, em 1826, foi elevado a gênero com o nome de Euriosma Decand. Porém, devido a dúvidas sobre a ortografia e a autoria do gênero ter gerado confusão, 26 somente no ano 2000 o termo Eriosema foi definido, e finalmente atribuído a Desvaux que publicou a alteração ortográfica (FORTUNATO et al., 2002). Eriosema (DC.) Desv. é um gênero pantropical e inclui cerca de 150 espécies com o centro de diversidade na África. No continente americano está representado por 38 espécies, das quais 30 encontram-se na América do Sul (LEWIS et al., 2005). Grear (1970), no entanto, registrou a ocorrência de 32 espécies somente no Brasil. O gênero Eriosema inclui ervas eretas, ou subarbustos, são, geralmente, perenes, contêm xilopódio ou raízes napiformes ou fusiformes, flores amarelas e fruto legume reto, geralmente pubescente. Podem ser encontradas em campos graminosos até arbustivos, campos rupestres, áreas úmidas, pastagens e áreas degradadas (ROGALSKI e MIOTTO, 2011). 2.3 Composição química e investigação de atividades biológicas de espécies do gênero Eriosema O primeiro estudo fitoquímico com espécies do gênero Eriosema foi realizado por Ma et al. (1995), onde foram isoladas e identificadas nove substâncias no extrato diclorometânico de raízes da espécie E. tuberosum, uma espécie encontrada na Província Yunnan, na China. As substâncias são pertencentes às classes das flavanonas, isoflavanonas, chalconas e cromonas. Cinco das nove substâncias isoladas mostraram atividade antifúngica contra Cladosporium cucumerinum e Candida albicans. Em 1996, Ma et al. isolaram e identificaram seis cromonas (iso-eriosematin, eriosematin A, B, C, D e E) também a partir do extrato diclorometânico de raízes da espécie E. tuberosum. As cromonas eriosematin A, D e E inibiram o crescimento de Cladosporium cucumerinum e de Candida albicans. A partir de repetidas purificações cromatográficas da fração solúvel em butanol do extrato metanólico de E. tuberosum, foram identificadas sete substâncias: cinco isoflavonoides glicosídicos e duas isoflavononas (MA et al., 1998), além de três novos fenólicos glicosídicos e quatro constituintes fenólicos não glicosídicos já conhecidos. Os compostos fenólicos foram tóxicos para o fungo Cladosporium herbarum (MA et al., 1999). Outra espécie do gênero Eriosema, a E. kraussianum, é utilizada na África do Sul para tratamento de impotência sexual em homens. Em um estudo do extrato de raízes dessa planta em mistura de diclorometano e etanol na proporção de 1:1, foram isoladas e identificadas 27 cinco novas pirano-isoflavonas, denominadas Kraussianona 1, 2, 3, 4 e 5. As Kraussianonas 1 e 2 demonstraram atividade de relaxamento do músculo liso comparável àquela encontrada para o citrato de sildenafil (Viagra®) no teste de disfunção erétil em músculo liso de pênis de coelho, no qual esse medicamento foi utilizado como referência para comparação (DREWES et al., 2002). Em 2004, Drewes et al. isolaram outras 2 pirano-isoflavonas (Kraussianona 6 e 7) e demonstraram que as Kraussianonas 3 e 5, isoladas anteriormente e presentes em menor quantidade no extrato de raízes de E. kraussianum, tiveram efeito contrário ao do Viagra® quando realizaram o teste de disfunção erétil como no estudo anterior. Ainda em estudos com E. kraussianum, Ojewole, Drewes e Khan (2006), demonstraram que as Kraussianonas 1 e 2, presentes em extrato hidro-etanólico das raízes dessa planta reduziram os níveis glicêmicos em um modelo experimental com ratos. Em um estudo utilizando um modelo experimental de pré-eclâmpsia com ratas, foram verificados vários efeitos da Kraussianona 2, isolada de extrato diclorometânico das raízes de E. kraussianum, quando essa substância foi administrada a ratas, dentre os quais foram observados: redução da mortalidade fetal, decréscimo da pressão sanguínea e da concentração de dois fatores antiangiogênicos solúveis no plasma, tirosina kinase 1 semelhante a fms (sFlt1) e endoglina (sEng) (RAMESAR et al., 2012). Outra espécie encontrada na África do Sul é a E. glomerata, da qual foram isoladas, a partir do extrato diclorometano-metanólico (1:1), duas novas diidrochalconas, denominadas Erioschalconas A e B. Essas substâncias inibiram o crescimento de quatro microrganismos: Bacillus megaterium, Escherichia coli, Chlorella fusca e Microbotryum violaceum (AWOUAFACK et al., 2008). O extrato etanólico de partes aéreas de E. robustum, espécie encontrada no Leste e área Central da África, apresentou atividade anti-fúngica e antimicrobiana, inibindo o crescimento dos microrganismos Aspergillus fumigatus, Cryptoccocus neoformans, Staphylococcus aureus, Enterococcus faecalis e Escherichia coli (AWOUAFACK et al., 2013). Awouafack, Tane e Eloff (2013) isolaram duas novas flavonas a partir do extrato etanólico de partes aéreas dessa espécie, denominadas robusflavona A e B, as quais exibiram significante atividade antioxidante, sendo que nos estudos de Awouafack et al. (2013) essas substâncias apresentaram moderada atividade anti-fúngica e antimicrobiana. Em um estudo utilizando extratos hexânico e diclorometânico de raízes de E. chinense, uma espécie encontrada na Tailândia, foram isolados oito novos flavonoides prenilados, denominados khonklonginols A-H, dentre os quais alguns demonstraram citotoxicidade sobre 28 linhagens de células humanas de carcinoma de células pequenas do pulmão (NCI-H187) e carcinoma epidermal oral (KB), bem como exibiram atividade contra Mycobacterium tuberculosis H37Ra (SUTTHIVAIYAKIT et al., 2009). Prasad et al. (2013) avaliaram o extrato etanólico das raízes da espécie E. chinense, encontrada no nordeste da Índia, e validaram o potencial antidiarréico dessa planta, o qual foi atribuído pelos efeitos do tipo antimotilidade e antissecretório gastrintestinais associados com atividade antibacteriana contra cepas de bactérias implicadas na diarreia. Nesse estudo, o extrato e sua fração em clorofórmio mostraram-se ricos em flavonoides, fenóis, alcalóides e taninos, sendo que o constituinte isolado que também apresentou atividade antidiarreica é uma flavanona prenilada denominada lupinifolina. Thongnest et al. (2013), também estudaram a espécie E. chinense e, através de métodos espectroscópicos, elucidaram estruturas de seis flavonoides prenilados, uma isoflavona, além de outros 12 substâncias conhecidas a partir dos extratos em hexano, diclorometano e etanol de raízes dessa planta. Alguns dos flavonoides isolados apresentaram atividade antioxidante e antimicrobiana. A espécie E. laurentii, encontrada na África, é utilizada em Camarões para tratamento de infertilidade e outras doenças ginecológicas, bem como para os sintomas relacionados á menopausa. Recentemente, um estudo demonstrou que o extrato metanólico de partes aéreas dessa espécie teve propriedades semelhantes ao estrógeno, pois preveniu a secura e atrofia vaginal e a perda de massa óssea em ratas ovariectomizadas, além de melhorar o perfil lipídico dos animais. Os autores também encontraram que os constituintes majoritários do extrato, sendo provavelmente os responsáveis pela atividade do mesmo, foram os isoflavonoides genistina e genisteína (ATEBA et al., 2013). 2.4 Eriosema crinitum Dentre as espécies do gênero Eriosema, encontra-se a Eriosema crinitum (Kunth) G. Don, uma planta nativa do Brasil, encontrada nos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo (GREAR 1970; FORTUNATO, 1999). Seu habitat consiste de campos secos, arbustivos e campos cerrados, caracterizada por ser uma planta de pequeno porte, ervas eretas com 14 a 17,5 cm de altura, com flores amarelas e raízes fusiformes, de difícil visualização em campo (Figura 1). A posição sistemática da E. crinitum está indicada na Tabela 1. 29 A B C D Figura 1. Eriosema crinitum. Estrutura total da planta (A e B), fruto legume (C) e flor (D). Tabela 1. Posição sistemática da espécie Eriosema crinitum Categoria Reino Divisão Classe Ordem Família Subfamília Tribo Gênero Espécie Nome científico Plantae Tracheophyta Magnoliopsida Fabales Fabaceae/Leguminosae Papilionoideae Phaseoleae Eriosema Eriosema crinitum Popularmente conhecida como “Pustemeira”, E. crinitum é utilizada por raizeiros em Diamantina e região para o tratamento de processos inflamatórios na forma de decocção de suas raízes. No entanto, em levantamento bibliográfico recente, não foram encontrados estudos que tenham avaliado os mecanismos envolvidos na atividade anti-inflamatória atribuída à espécie ou que tenham investigado a composição química das raízes da planta. 30 2.5 Resposta inflamatória A reação inflamatória é um evento complexo que envolve o reconhecimento do agente/estímulo lesivo, para sua posterior destruição ou neutralização, seguido da tentativa de reconstruir o tecido danificado. A presença desse agente lesivo desencadeia a ativação e a amplificação do sistema imune resultando na ativação de células e na liberação de diversos mediadores responsáveis pela resposta inflamatória. No entanto, se a destruição do agente agressor e o processo de reparo não ocorrem de maneira eficiente e sincronizada, a resposta inflamatória pode levar a uma lesão tecidual persistente induzida pelo acúmulo de leucócitos, colágeno e outras substâncias que podem ser prejudiciais ao organismo (NATHAN, 2002). Macroscopicamente a resposta inflamatória é caracterizada pelos sinais da inflamação, descritos por Cornelius Celsus no século I dC, a saber: calor, rubor, tumor e dor. No século XVIII, Rudolf Virchow acrescentou a perda de função aos sinais descritos por Celsus (MEDZHITOV, 2010). Esses sinais refletem, na verdade, as mudanças hemodinâmicas (ou vasculares) e celulares que ocorrem durante a inflamação. As mudanças hemodinâmicas são caracterizadas pela vasodilatação arteriolar e um aumento localizado da permeabilidade microvascular. Todas as etapas que constituem o processo inflamatório, como vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e migração celular, são reguladas pela ação de vários mediadores liberados durante uma lesão tecidual ou na presença de microrganismos patogênicos, alérgenos, compostos tóxicos, corpos estranhos e irritantes. Esses mediadores que orquestram o processo inflamatório são derivados de proteínas presentes no plasma ou produzidos e liberados por células endoteliais, leucócitos infiltrados no sítio inflamatório ou por células residentes. Além disso, podem ser classificados de acordo com suas propriedades bioquímicas em sete grupos (MEDZHITOV, 2008; GILROY et al., 2004), conforme representado na Tabela 2. 31 Tabela 2. Mediadores inflamatórios e respostas celulares desencadeadas Grupo Mediador Resposta 1 Aminas vasoativas (histamina e serotonina). Aumento da permeabilidade vascular, vasodilatação ou vasoconstrição. 2 Peptídeos vasoativos (substância P, cininas, fibrinopeptídeos A e B e produtos da degradação da fibrina). Degranulação de mastócitos Vasodilatação e aumento vascular. 3 Fragmentos do complemento (C3a, C4a e C5a). Recrutamento de granulócitos e monócitos e induzem a degranulação de mastócitos. 4 Mediadores lipídicos (leucotrienos, tromboxanos, prostaglandinas e fator ativador de plaquetas). Vasodilatação (ou vasoconstrição), recrutamento de leucócitos, aumento da permeabilidade vascular e ativação de plaquetas. 5 Enzimas proteolíticas (elastina, catepsina e metaloproteinases da matriz). Defesa do hospedeiro, remodelagem tecidual e migração leucocitária. 6 Quimiocinas. Extravasamento e quimiotaxia de leucócitos. 7 Citocinas da permeabilidade Efeitos locais: indução da expressão de moléculas de adesão e de quimiocinas, facilitando a migração de leucócitos. Efeitos sistêmicos: indução de proteínas de fase aguda levando à febre. Durante o processo inflamatório as células endoteliais que revestem os vasos são ativadas por diversos mediadores inflamatórios (histamina, trombina, fator ativador de plaquetas (PAF) e citocinas) e expressam moléculas de adesão que se ligam a moléculas complementares expressas na membrana celular dos leucócitos promovendo a rolagem e a firme adesão dos leucócitos às células do endotélio e, posteriormente, sua transmigração para o sítio inflamatório. Esses eventos celulares (rolagem, adesão e migração) são propiciados por proteínas expressas na membrana celular endotelial e também nos leucócitos, conhecidas como moléculas de adesão ou adressinas. A expressão dessas moléculas de adesão é regulada pelos vários mediadores inflamatórios (POBER e SESSA, 2007; LANGER e CHAVAKIS, 2009). No tecido, a distinção da infecção/lesão é feita por células do sistema imune inato através de receptores expressos em suas membranas que reconhecem estruturas moleculares do agente agressor, conhecidos como Receptores de Reconhecimento de Padrões. Um exemplo desse reconhecimento é a identificação de patógenos pelos receptores do tipo “Toll” 32 (TLR) expressos nas membranas de macrófagos, células dendríticas e mastócitos residentes no tecido, levando à produção de uma ampla gama de mediadores inflamatórios tais como moléculas quimiotáticas (quimiocinas) e as citocinas Fator de Necrose Tumoral alpha (TNFα), Interleucina (IL)-1 e IL-6 que, por sua vez, agem induzindo a expressão de moléculas de adesão e o aumento da permeabilidade do endotélio de forma a provocar o extravasamento de proteínas plasmáticas e leucócitos (principalmente neutrófilos), que são normalmente restritos aos vasos sanguíneos, para o espaço extravascular onde se encontra o sítio de infecção/lesão (ZENZ et al., 2008; APOSTOLAKI et al., 2010; MEDZHITOV, 2010). Os leucócitos mono e polimorfonucleares do sistema fagocítico efetuam a fagocitose e a eliminação de agentes invasores/agressores e restos celulares durante a inflamação. Portanto, a migração dos leucócitos, antes restritos ao lúmen dos vasos, para o espaço extravascular e subsequentemente para o foco inflamatório é um evento fundamental para uma resposta inflamatória. Essas células são responsáveis por conter e destruir microrganismos patogênicos através da fagocitose e da liberação de espécies reativas de oxigênio, de nitrogênio e enzimas proteolíticas presentes em seus grânulos (YONEKAWA e HARLAN, 2005; MEDZHITOV, 2010). No entanto, essas substâncias não são específicas a ponto de destruir somente o agente agressor e também promovem danos teciduais. Embora os leucócitos sejam críticos para a defesa do hospedeiro, sendo os efetores primários da inflamação e respostas imunes, durante o processo de transmigração da corrente sanguínea para o espaço extravascular, essas células podem lesionar a parede dos vasos, provocando trombose ou promovendo edema. Os leucócitos emigrados podem ainda iniciar e sustentar o dano tecidual através da liberação de diversos mediadores, como oxidantes, proteases, lipídios bioativos e citocinas (YONEKAWA e HARLAN, 2005). Quando a ação do agente inflamatório cessa, um processo de resolução da resposta inflamatória é ativado, no qual há redução da liberação de mediadores, recuperação do estado hemodinâmico original da microcirculação, reparo tecidual e eliminação das células inflamatórias por recirculação sistêmica, drenagem linfática ou por morte celular (GILROY et al., 2004; SERHAN et al., 2011). Entretanto, o processo inflamatório pode seguir outro curso que não a resolução e resultar em fibrose (substituição por tecido conectivo) ou progredir para um processo inflamatório crônico como resultado da persistência do agente agressor (infecções persistentes por certos microrganismos; exposição prolongada a agentes potencialmente tóxicos ou reações autoimunes) ou falhas nos processos de resolução. 33 Assim, os eventos promovidos pelas células do sistema imune inato (neutrófilos, células dendríticas, células natural killer – NK, macrófagos e mastócitos) são importantes para iniciar a cascata inflamatória, porém, é necessário mencionar que a ativação da imunidade adaptativa, que consiste na expansão de um pequeno número de linfócitos antígeno-específicos que participam dos processos tardios da inflamação (BARTON, 2008; CRUVINEL et al., 2010) é crucial para a resolutividade do processo inflamatório. Os linfócitos são os principais componentes celulares da resposta adaptativa, sendo divididos em linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos e linfócitos T, que amplificam a resposta antígeno-específica e contribui para a resposta imune humoral, para a resposta imune mediada por células e para a resposta reguladora (SHERWOOD e TOLIVER-KINSKY, 2004). Quando ativados, diante da exposição ao antígeno, apresentado por células especializadas do sistema imune inato, os linfócitos T reconhecem especificamente o antígeno e secretam a citocina IL-2, a qual atua como um fator de crescimento autócrino nessas células, promovendo expansão clonal e proliferação. Esse evento precede as respostas efetoras dos linfócitos T, as quais são importantemente orquestradas por citocinas, assim como na resposta imune inata (GANGULY; BADHEKA e SAINIS, 2001). As citocinas são polipeptídeos que medeiam e regulam as reações imunes e inflamatórias, podendo atuar de forma autócrina (nas células produtoras), parácrina (nas células próximas) ou endócrina (ação à distância). São sintetizadas pelas células do sistema imune como linfócitos, monócitos/macrófagos, mastócitos, células dendríticas, além de outros tipos de celulares, como as endoteliais e algumas células teciduais e células do sistema nervoso (GONCHAROVA et al., 2007; OLIVEIRA et al., 2011). As citocinas são secretadas por um curto período e em quantidade limitada e são consideradas redundantes quanto às suas fontes e seus efeitos, pois uma citocina pode ser produzida por células diferentes e citocinas distintas podem produzir o mesmo efeito. Já outras citocinas possuem efeito pleiotrópico, ou seja, efeitos múltiplos em diversos tipos celulares (ZHANG e AN, 2007). Frequentemente as citocinas são produzidas em cascata, ou seja, uma citocina estimula suas células-alvo a produzir mais citocinas. Essas substâncias se ligam a receptores específicos, ativando mensageiros intracelulares que regulam a transcrição gênica (ZHANG e AN, 2007). Assim, as citocinas influenciam a resposta, a diferenciação, a proliferação e a sobrevida das células do sistema imune, bem como regulam a secreção e a atividade de outras citocinas (OLIVEIRA et al., 2011), podendo atuar como pró-inflamatórias (aumentam os mediadores inflamatórios) tais como IL-1α, IL-1β, TNF-α, IL-12 e IL-18; e citocinas anti- 34 inflamatórias (atuam diminuindo a expressão de genes inflamatórios) como por exemplo IL10, IL-13, Fator de Crescimento Transformante beta (TGF-β), IL-22, IL-1Ra, Interferon alpha e beta (IFN-α/β) (DINARELLO, 2007). É importante ressaltar que as citocinas exercem um papel importante na regulação da resposta inflamatória e no controle tanto da imunidade inata quanto da adaptativa. Os linfócitos T helper (Th), principais células atuantes na imunidade adaptativa, são classificados de acordo com o padrão de citocinas que secretam, resultando em uma resposta mediada por célula (Th1) associada à secreção de IL-2, IL-12 e IFN-γ, sendo importantes contra patógenos intracelulares, ou uma resposta imune humoral (Th2), associada à secreção de IL-4, IL-5, IL10 e IL-13, sendo efetiva na proteção contra helmintos, principalmente. Além disso, a produção de citocinas caracteriza outras subpopulações de linfócitos T, tais como as células T reguladoras produtoras de TGF-β e IL-10, que suprimem ou modulam a resposta imune. As células T reguladoras são classificadas em naturais (Treg), envolvidas na proteção contra autoantígenos, e adaptativas (Tr1 e Th3), que são requeridas para a imunotolerância. As células Th17 produzem IL-17, IL-21 e IL-22 e fornecem proteção contra patógenos extracelulares, sendo envolvidas em outros processos inflamatórios como artrite reumatóide. Recentemente têm sido apontadas também as células Th9, que produzem IL-9, e são relacionadas à indução de hipersecreção de muco em asmáticos, porém com papel patofisiológico ainda não estabelecido. Por fim, as células Th22, caracterizadas pela produção de IL-22, parecem estar envolvidas na homeostase e patologia da pele (ANNUNZIATO e ROMAGNANI, 2009; JÄGER e KUCHROO, 2010; ARUN, TALWAR e KUMAR, 2011). As citocinas contribuem fortemente para a indução da expressão de moléculas envolvidas com os processos de adesão e migração celular, tais como E-selectina, ICAM-1, VCAM-1, de receptores celulares (como o receptor de IL-2) e pela expressão e ativação de enzimas, como óxido nítrico sintase induzível (iNOS) e ciclooxigenase (COX)-2 (HADDAD, 2002). A enzima COX se apresenta como duas isoformas ativas: COX-1 e COX-2, as quais promovem a síntese de prostaglandinas (PG), importantes mediadores do processo inflamatório. COX-1 é expressa constitutivamente em muitos tecidos e é responsável pela síntese de PG em níveis basais requeridos para a homeostase. COX-2 é uma enzima não detectada na maioria dos tecidos em condições fisiológicas, mas é induzida por fatores próinflamatórios no sítio da inflamação e expressa principalmente por macrófagos. A produção excessiva de prostaglandinas resulta em uma resposta inflamatória exacerbada e produção de 35 dor. Assim, a inibição da expressão e produção desses poderosos mediadores constitui um alvo interessante para substâncias que atuam como anti-inflamatórios (RUITENBERG e WATERS, 2003; ZHOU et al, 2009). Estudos têm demonstrado a ação de extratos de plantas medicinais na redução dos níveis de citocinas pró-inflamatórias, como IL-2, TNF-α e IFN-γ, bem como da expressão e/ou atividade de COX-2 (GANGULY; BADHEKA e SAINIS, 2001; ZHOU et al., 2009; AVELAR et al., 2011; ALMEIDA, 2012; LEE, LEE, KO, 2012; AVELAR-FREITAS et al., 2013; HELLINGER et al., 2013), revelando que a investigação de atividades biológicas a partir de extratos vegetais consiste em uma importante estratégia para a identificação de substâncias que podem fornecer novos fármacos anti-inflamatórios. 36 3 JUSTIFICATIVA O uso de plantas medicinais tem se tornado significativo nos últimos anos, sendo incentivado pela OMS (WHO, 1993; WHO, 2011). No Brasil, país detentor de uma das maiores biodiversidades do planeta, englobando 15 a 25% de todas as espécies vegetais (JOLY et al., 2011), a fitoterapia tem sido o foco de ampla discussão. Vale ressaltar que, em 2006, duas políticas foram publicadas para o setor de plantas medicinais e fitoterápicos. A primeira foi a “Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares” (PNPIC) (Portaria MS nº 971, de 03/05/2006) implantada no Sistema Único de Saúde (SUS) que contempla diretrizes, ações e responsabilidades do governo federal, estadual e municipal para a oferta de serviços do SUS, incluindo a fitoterapia. A segunda, formulada pelo Ministério da Saúde, foi a “Política Nacional de Medicamentos Fitoterápicos” (Decreto Presidencial nº 5.813, de 22/06/2006), com diretrizes que vão além das esferas do setor de Saúde, englobando toda a cadeia produtiva de plantas medicinais e produtos fitoterápicos. Além disso, em 2008, foi publicada a Portaria Interministerial nº 2.960, de 09/12/2008 aprovando o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e criando o Comitê Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Em 2010, a Portaria MS nº 886, de 20/04/2010 instituiu a “Farmácia Viva” no SUS, que, no contexto da Política Nacional de Assistência Farmacêutica, visa atender à população com a fitoterapia, promovendo o resgate e a valorização da cultura popular no que se refere à utilização de plantas medicinais, com a introdução de conhecimentos científicos. Recentemente, a Portaria MS/GM nº 533, de 28 de março de 2012, na qual é estabelecido o elenco de medicamentos e insumos da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais - RENAME acrescentou quatro medicamentos fitoterápicos aos oito já disponíveis. A E. crinitum é uma planta nativa brasileira utilizada em Diamantina e região como uma planta com propriedade anti-inflamatória. Não existem estudos que tenham avaliado as atividades biológicas dessa planta e, como estudos de outras espécies do gênero identificaram constituintes químicos inéditos e apresentaram as mais diversas atividades biológicas, há necessidade de estudos que busquem investigar e demonstrar os mecanismos pelos quais a E. crinitum atue como um anti-inflamatório e que identifiquem os possíveis constituintes químicos responsáveis por essa atividade. Nesse estudo, determinou-se, primeiramente, as concentrações do extrato da planta que são tóxicas às células do sangue periférico, já que a avaliação da toxicidade é de 37 fundamental importância para dar continuidade ou não aos estudos com a planta. Em seguida, avaliou-se os efeitos do extrato de raízes de E. crinitum sobre a proliferação e produção de citocinas por linfócitos do sangue periférico humano, bem como sobre a expressão de COX-2, in vitro. Além disso, realizou-se uma triagem fitoquímica das principais classes de metabólitos secundários presentes no extrato através de reações cromogênicas, fluorogênicas e de precipitação para direcionar a identificação de substâncias através de cromatografia líquida de alta eficiência. Acreditamos que o estudo químico preliminar da planta e o efeito de seu extrato sobre parâmetros imunológicos, possam contribuir para a indicação de uma possível atividade biológica atribuída à E. crinitum na medicina popular e para o conhecimento da tão diversificada e ainda pouco conhecida flora medicinal brasileira. 38 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Realizar uma triagem fitoquímica e avaliar a possível atividade anti-inflamatória, in vitro, do extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum. 4.2 Objetivos Específicos Caracterizar as principais classes de metabólitos secundários presentes no extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum. Determinar as concentrações não tóxicas, in vitro, do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre hemácias e leucócitos do sangue periférico humano. Avaliar o efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a proliferação de linfócitos do sangue periférico humano. Investigar o efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de citocinas pró-inflamatórias IL-2, TNF-α e IFN-γ em linfócitos do sangue periférico humano. Avaliar o efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a expressão de COX-2 em monócitos do sangue periférico humano. 39 5 METODOLOGIA 5.1 Material vegetal 5.1.1 Coleta e identificação taxonômica Os exemplares de E. crinitum foram coletados no município de Datas-MG (S 18º27.318´ W 43º39.764´, altitude 1223 m) no período matutino, em que a temperatura é mais baixa e há menor insolação, no dia 10 de setembro de 2012 . Para a identificação botânica, exemplares contendo flores foram utilizados para confecção das exsicatas, as quais foram arquivadas sob os números de registro 881 e 882, no Herbário Dendrológico Jeanine Felfili do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), sob supervisão do Prof. Dr. Evandro Luiz Mendonça Machado. 5.1.2 Preparo do extrato bruto Após a coleta, raízes de E. crinitum foram incubadas em estufa para secagem a temperatura de 35°C até atingirem peso constante. Em seguida, as raízes foram pulverizadas em moinho de facas (Marconi®) fornecendo uma massa de 450 g. O extrato foi preparado através de maceração de raízes pulverizadas em frascos de vidro âmbar utilizando como solvente uma mistura de diclorometano e etanol na proporção de 1:1. Ao término de 72 horas de maceração, o extrato diclorometano-etanólico foi filtrado em papel filtro, concentrado em evaporador rotativo Fisatom® (40-42o C, sob pressão reduzida) e armazenado em frascos de vidro revestidos com papel alumínio. Após completa evaporação do solvente foi obtida uma massa de 12,1 g de extrato de cor castanha (Figura 2). Figura 2. Extrato diclorometano-etanólico (1:1) de raízes de E. crinitum. 40 Para a condução dos experimentos, o extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum foi dissolvido em Dimetilsulfóxido (DMSO) (Sigma, St. Louis, MO, EUA) a uma concentração de 5 mg/mL. 5.2 Triagem fitoquímica das principais classes de metabólitos secundários presentes nas raízes de E. crinitum A triagem fitoquímica preliminar nas raízes de E. crinitum foi realizada por meio de reações cromogênicas, fluorogênicas e de precipitação conforme Jigna e Sumitra (2007), Silva et al. (2010), Bustamante et al. (2010) e Sociedade Brasileira de Farmacognosia (2013). 5.2.1 Pesquisa de taninos Três testes gerais de identificação de taninos foram realizados, utilizando-se como controle positivo folhas de Hamamelis virginiana (hamamelis). Para confirmar a presença de taninos na amostra, pelo menos duas das três reações realizadas precisam apresentar resultado positivo. Assim, 2,5 g de raízes pulverizadas de E. crinitum e de H. virginiana foram submetidos à decocção por 15 minutos com 50 mL de água destilada. Após esse período, a solução foi filtrada, mantida à temperatura ambiente e chamada de solução extrativa A. Essa solução foi distribuída em 4 tubos de ensaio identificados, sendo que em cada tubo foi realizada uma reação de identificação: tubo 1 - reação com gelatina, tubo 2 – reação com cloreto férrico, tubo 3 – reação com acetato de chumbo e o tubo 4 representou o branco da reação contendo somente o decocto. Na primeira reação, foram adicionadas a 2 mL da solução extrativa A, 2 gotas de ácido clorídrico (HCl) e solução de gelatina a 2,5% p/v gota a gota. A formação de precipitado indica a reação positiva para taninos. Na segunda reação, foram adicionados a 2 mL da solução extrativa A, 10 mL de água destilada e 3 gotas de solução de cloreto férrico (FeCl 3) a 1% em metanol. A formação de cor azul é indicativa da presença de taninos hidrolisáveis ou gálicos e a cor verde é indicativa da presença de taninos condensados ou catéquicos. 41 Na terceira reação, foram adicionados a 5 mL da solução extrativa A, 10 mL da solução de ácido acético a 10% e 5 mL de uma solução de acetato de chumbo a 10%. A formação de um precipitado esbranquiçado indica a presença de taninos hidrolisáveis. 5.2.2 Pesquisa de alcaloides Para a pesquisa de alcaloides, 2 g das raízes de E. crinitum pulverizadas foram adicionados a 20 mL de ácido sulfúrico (H2SO4) a 1% . Essa solução foi fervida por 2 minutos e filtrada em algodão. Após filtração a solução foi dividida em duas porções denominadas A e B, para a pesquisa direta e confirmatória de alcaloides na amostra vegetal, respectivamente. A porção A foi distribuída em 5 tubos para a realização da pesquisa direta de alcaloides encontrados na forma combinada. O primeiro tubo consistiu o branco da reação contendo 2 mL da porção A. Nos demais tubos foram adicionadas 2 gotas de um dos Reativos Gerais de Alcaloides (RGA). A Tabela 3 apresenta os RGA, com o nome, composição e a cor do precipitado formado quando estes reagem com alcaloides. A turvação e/ou formação de precipitado é um indicativo da presença de alcaloides na amostra. Tabela 3. Reativos Gerais de Alcaloides (RGA) utilizados na pesquisa da presença de alcaloides nas raízes de Eriosema crinitum. RGA Preparo Composição Cor do precipitado Dragendorff Carbonato de bismuto 5 g Iodeto de potássio 25 g Iodo bismutato de Alaranjado potássio Ácido clorídrico concentrado 12 mL Água destilada 100 mL Mayer Cloreto de mercúrio 1,35 g Iodeto de potássio 5 g Iodo mercurato de Branco potássio Água destilada 100 mL Bouchardat/ Wagner Iodo 1 g Iodeto de potássio 2 g Iodo-Iodeto de Marrom potássio Água destilada 100 mL Hager Solução de Ácido pícrico a 1% Ácido pícrico Amarelo 42 Com a porção B foi feita a pesquisa confirmatória da presença de alcaloides na forma livre na amostra. Assim, foi adicionada solução de hidróxido de amônio (NH4OH) a 10% a essa porção para tornar o pH básico e, em seguida foram adicionados 7 mL de clorofórmio (CHCl3). Após 10 minutos de extração, a camada clorofórmica foi retirada e mantida em banho-maria até a completa evaporação do solvente. O resíduo foi dissolvido em 5 mL de H2SO4 a 1% e essa solução foi dividida em 5 tubos de ensaio, aos quais foram adicionadas 2 gotas de um dos RGA citados anteriormente. O resultado é considerado positivo quando ocorre turvação ou formação de precipitado. As reações direta e confirmatória também foram realizadas para as folhas de Peumus boldus (boldo do Chile) como controle positivo para a presença de alcaloides. Para que a amostra seja considerada positiva para alcaloides, no mínimo 3 reações confirmatórias da porção B devem apresentar resultado positivo. 5.2.3 Pesquisa de flavonoides Para realizar a pesquisa de flavonoides, 1 g de raiz pulverizada de E. crinitum foi fervida com 10 mL de etanol a 70% por dois minutos. A mistura foi filtrada em algodão, obtendo-se um extrato etanólico. A identificação genérica de flavonoides foi feita por três reações, como descritas a seguir. Na primeira, denominada reação de Shinoda, foram adicionados a 2 mL do extrato etanólico seis fragmentos de magnésio (Mg) e 1 mL de HCl concentrado. O aparecimento de uma coloração rósea a vermelha indica a presença de flavonoides na amostra. A segunda reação foi realizada com cloreto de alumínio. Para isso, um papel filtro foi umedecido em duas áreas diferentes com o extrato etanólico de raízes de E. crinitum e sobre uma das regiões umedecidas foi adicionada uma gota de cloreto de alumínio (AlCl3) a 5%. A reação é considerada positiva se houver aparecimento de fluorescência com mudança de cor para amarelo a amarelo esverdeado. Por fim, fez-se a reação de Pew, em que 3 mL do extrato etanólico foram colocados em uma cápsula de porcelana e levados à fervura em banho de água até que o solvente evaporasse. Ao resíduo foram adicionados 3 mL de metanol, e o conteúdo da cápsula foi transferido para um tubo de ensaio. Neste tubo foram adicionados zinco metálico e 3 gotas de HCl concentrado. A reação é positiva quando há formação de coloração vermelha. 43 A amostra de raízes de E. crinitum seria considerada positiva para flavonoides se, no mínimo, duas das reações descritas apresentassem resultado positivo. Paralelamente, realizouse as reações para flavonoides utilizando folhas de Baccharis trimera (Less) DC (carqueja) como controle positivo. 5.2.4 Pesquisa de antraquinonas Para pesquisa direta de antraquinonas livres adicionou-se 5 mL de NH4OH a 10% em 0,20 g do pó de raízes de E. crinitum. O desenvolvimento de coloração rósea a vermelha indica resultado positivo. Além da pesquisa direta fez-se a reação conhecida como reação de Bornträger com prévia hidrólise ácida, para a análise de glicosídeos antraquinônicos e dímeros. Neste teste, foram adicionados 8 mL de etanol a 25% a 1 g do pó de raízes de E. crinitum. A mistura foi fervida e filtrada em algodão. Em seguida, adicionou-se H2SO4 a 5% à solução e aqueceu-se a mesma levemente. Após o resfriamento, foram adicionados 5 mL de clorofórmio e, após 3 minutos de extração, a fase orgânica foi decantada e retirada. Adicionou-se 5 mL de NH4OH a 10% e a solução foi agitada fortemente e, em seguida, mantida em repouso. O desenvolvimento de coloração rósea ou vermelha na fase aquosa sugere a presença de antraquinonas. A presença de antraquinonas na amostra só é considerada positiva se a reação de Bornträger com hidrólise apresentar resultado positivo; se esta última reação for negativa, o resultado é considerado negativo mesmo se a reação direta for positiva. Para ambas as reações foram utilizadas folhas de Cassia senna L. (sene) como controle positivo para antraquinonas. 5.2.5 Pesquisa de saponinas e índice de espuma Para a pesquisa de saponinas, transferiu-se 1 g de raiz pulverizada de E. crinitum foi transferido para um erlenmeyer contendo 100 mL de água destilada. A mistura foi fervida por 5 minutos e, em seguida foram adicionadas gotas de carbonato de sódio 0,20 M até atingir pH 7. A solução resfriada foi filtrada e transferida para um balão volumétrico, onde o volume foi completado com água destilada para 100 mL. A solução foi diluída com água destilada nas proporções de 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100% em tubos de ensaio (16 x 160 mm). As soluções diluídas foram agitadas vigorosamente no sentido vertical por 15 segundos e, em 44 seguida, o tubo foi mantido em repouso por 15 minutos. Como controle positivo para a presença de saponinas foram utilizadas folhas de Baccharis trimera (Less) DC (carqueja). A amostra é positiva para saponina quando há formação de anel de espuma com altura igual ou superior a 1 cm. O índice de espuma (IE) é calculado para a maior diluição na qual a amostra é positiva para saponinas e é utilizado para comparação entre as espécies ou gêneros vegetais . O índice foi calculado conforme a fórmula abaixo: IE = p x 1000 ------------PxV Em que p = peso da amostra vegetal (1 g); P = percentual da amostra utilizada no preparo do extrato ou teor da planta no extrato em g; V = volume do extrato no tubo de ensaio com formação de espuma de 1cm de altura (sem a diluição, ou seja, volume original em mL). 5.2.6 Pesquisa de esteroides e terpenos Para a realização da pesquisa de esteroides e terpenos, 1 g de raiz de E. crinitum pulverizada foi macerado por 30 minutos em 5 mL de clorofórmio. Em seguida, a mistura foi filtrada e transferida para tubo de ensaio, no qual foi adicionado 1 mL de anidrido acético. A mistura foi agitada suavemente e acrescentou-se, cuidadosamente, algumas gotas de H2SO4 concentrado na parede do tubo. A formação de anel de cor avermelhada entre as camadas clorofórmica e ácida indica a presença de terpenos e anel de coloração azul esverdeada indica que a reação foi positiva para esteroides. Paralelamente, foi realizada a reação para folhas de Ginkgo biloba, que consistiu o controle positivo para terpenos. Além disso, como análise complementar para presença de terpenos, foi realizada uma Cromatografia em Camada Delgada Comparativa (CCDC) utilizando-se uma placa cromatográfica contendo uma camada de 250 μm de sílica gel como fase estacionária (Whatman®, UV 254 nm). Primeiramente, 1 g de raiz de E. crinitum pulverizada foi macerado em 10 mL de diclorometano por 15 minutos em banho-maria a 40°C. Em seguida, filtrou-se a mistura e o filtrado foi levado à secura em banho-maria a 40°C. Adicionou-se 1 mL de clorofórmio ao resíduo e aplicou-se uma gota da amostra com auxílio de um capilar de vidro na cromatoplaca. Foi também aplicada na cromatoplaca, uma gota do extrato diclorometano- 45 etanólico de raiz de E. crinitum e do padrão alfa-bisabolol, ambos dissolvidos em clorofórmio. A cromatoplaca foi colocada em uma cuba contendo a fase móvel constituída de tolueno e de acetato de etila 93:7 (v/v). Ao fim da corrida, observou-se a cromatoplaca em câmara escura sob luz ultravioleta nos comprimentos de onda de 254 nm e 386 nm. A revelação das bandas foi feita após imersão da cromatoplaca em solução de vanilina sulfúrica (1 g de vanilina, 1 mL de ácido sulfúrico e metanol em quantidade suficiente para 100 mL) e secagem da mesma em estufa a 100°C por 10 minutos. Para comparação da amostra com o padrão sesquiterpeno alfa-bisabolol, foi calculado o fator de retenção pela razão entre as distâncias percorridas pelas manchas de coloração violeta e a distância percorrida pela fase móvel. 5.3 Análise do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Detector de Arranjo de Diodos (CLAE-DAD) Uma alíquota de 100 mg do extrato em diclorometano-etanólico de E. crinitum, previamente seco em evaporador rotativo, foi ressuspendida em 10 mL de metanol (JTBaker®, México), com auxílio de sonicador, por 5 minutos à temperatura ambiente. O extrato ressuspendido foi filtrado em filtro de 13 mm de diâmetro com poro de 0,20 μm, com auxílio de seringa de 10 mL. O filtrado obtido foi eluído através de uma coluna contendo 0,50 g de C-18, pré-condicionada com metanol, com o intuito de retirar substâncias que apresentem adsorção irreversível em C-18. O material coletado foi diluído em igual volume de metanol e uma injeção de 20 μL foi realizada no cromatógrafo líquido. Para a análise em CLAE-DAD, foi utilizado um cromatógrafo líquido de alta eficiência (Thermo Scientific®), equipado com uma bomba de quatro canais modelo Accela 600, contendo injetor automatizado Accela, degaseificador on line e detector por arranjo de diodos (DAD) modelo Accela PDA Detector 80 Hz. Os dados foram registrados e analisados utilizando o software ChromQuest 5.0. As condições empregadas foram: fase móvel aplicada em gradiente, conforme descrito na Tabela 4, fluxo de 1 mL/minuto e coluna de fase reversa (Octadecilsílica C-18, Phenomenex Luna C18(2)®) com diâmetro interno de 150 mm x 4,60 mm, diâmetro de partícula de 3 μm e poro de 100 Å, protegida por pré-coluna do mesmo adsorvente e fabricante. A detecção foi realizada na faixa do ultravioleta ao visível (UV/visível) nos comprimentos de onda (λ) entre 190 e 600 nm. 46 Tabela 4. Composição do gradiente de fase móvel utilizado na análise em CLAE-DAD do extrato diclorometano-etanólico de Eriosema crinitum. Tempo (minutos) 0 5 45 50 52* 60* % Fase móvel A 90 90 0 0 90 90 % Fase móvel B 10 10 100 100 10 10 A – água ultrapura contendo 0,1% de ácido trifluoroacético (TFA, Synth® - Brasil) B – acetonitrila (Tedia® – EUA) contendo 0,1% de ácido trifluoroacético (TFA, Synth® - Brasil) *Reequilíbrio da coluna cromatográfica 5.4 Critérios de inclusão e Sujeitos da pesquisa Foram utilizados como critérios de inclusão no estudo: indivíduos com idade entre 18 e 39 anos, que não reportassem doença infecciosa, autoimune, crônico degenerativa ou de hipersensibilidade e que não estavam em uso de anti-inflamatórios esteroidais e/ou não esteroidais, bem como mulheres que, além de preencherem os critérios citados, não fossem gestantes. O recrutamento desses voluntários foi realizado através da abordagem de estudantes da UFVJM nas dependências da universidade. Após serem esclarecidos dos objetivos da pesquisa, aqueles que concordaram e que estavam aptos a participar do estudo, deram seu consentimento livre e esclarecido (Anexo I). O projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), protocolado sob o registro n° 002/09. No total, 36 voluntários participaram do estudo, sendo 13 homens e 23 mulheres, com idade média de 26 ± 4 anos. Os procedimentos experimentais descritos a seguir foram realizados no Laboratório de Imunologia do Centro Integrado de Pós-Graduação e Pesquisa em Saúde (CIPq-Saúde) da UFVJM. 5.5 Amostra biológica A amostra biológica consistiu de 15 mL de sangue venoso, coletados de forma asséptica por punção da veia antecubital mediana, na fossa antecubital, utilizando tubos a vácuo heparinizados. Os procedimentos de coleta foram conduzidos por pessoal treinado e 47 capacitado para tal e obedeceram as Recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial para coleta de sangue venoso (2010). Após a utilização da amostra biológica nas análises descritas a seguir, todo o material remanescente foi descartado adequadamente. 5.6 Parâmetros hematológicos Para obtenção dos valores de leucócitos totais e da série vermelha (hemácias, hemoglobina e hematócrito), foi utilizado o contador automático de células CELM CC-550® (CELM, Baruerí, SP, Brasil). A contagem diferencial de leucócitos foi realizada pela observação em microscópio óptico do esfregaço sanguíneo corado com Giemsa e MayGrunwald, conforme descrito em Carvalho e Silva (1988). 5.7 Obtenção das Células Mononucleares do Sangue Periférico (PBMC) Humano Para a avaliação das concentrações tóxicas do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum, bem como nas análises do efeito desse extrato sobre a proliferação celular, utilizou-se as células mononucleares do sangue periférico (PBMC) a partir do sangue coletado de voluntários hígidos. Assim, 15 mL de sangue periférico venoso, coletados em tubos a vácuo contendo heparina (Vacutainer; Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA), foram diluídos na proporção 1:1 em Tampão Fosfato de Salina (PBS) (NaCl 1,50 M; Na2HPO4 0,08M; NaH2PO4 0,02M, pH 7,20-7,40) e as PBMC foram obtidas por meio de gradiente de densidade durante centrifugação (400 g, 21°C, 30 min) com Ficoll-Histopaque 1077 (Sigma, St. Louis, MO, EUA), conforme descrito por Bicalho et al. (1981). O anel de PBMC, formado após a centrifugação, foi recolhido e lavado 2 vezes em PBS (250 g, 4ºC, 15 min). Em seguida, as células foram ressuspensas em 1 mL de PBS ou RPMI (Gibco, Invitrogen Corporation, Grand Island, NY, EUA). Após ajuste da concentração celular, as células foram novamente centrifugadas e ressuspensas em PBS ou RPMI suplementado com L-glutamina (Sigma, St. Louis, MO, EUA) (2 mM), e coquetel antibiótico/antimicótico (penicilina G 100 UI/mL, estreptomicina 100 µg/mL e anfotericina B 250 ng/mL - Sigma, St. Louis, MO, EUA), em uma concentração de 1x107 células/mL. 48 5.8 Avaliação da citotoxicidade do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum, in vitro Com a finalidade de identificar as concentrações não tóxicas do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum que seriam utilizadas nos demais ensaios, foram conduzidos ensaios de citotoxicidade sobre as hemácias e leucócitos do sangue periférico humano. 5.8.1 Avaliação da atividade hemolítica do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum Para avaliar se o extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum seria capaz de causar lise em hemácias humanas, realizou-se o teste de hemólise in vitro, conforme Montagner (2007) e modificado como a seguir. Preparou-se uma suspensão de hemácias diluídas 1:20, a partir do sangue coletado de 8 indivíduos hígidos, adicionando-se 500 µL de sangue total a 10 mL PBS em um béquer. A suspensão foi mantida sob leve agitação em um agitador magnético durante toda a execução do teste. Em seguida, o extrato da planta, nas concentrações finais de 100 μg/mL, 50 μg/mL, 25 μg/mL e 12,5 μg/mL, foi incubado em PBS na presença de 100 μL da suspensão de hemácias. Culturas contendo 100 μl de suspensão de hemácias na concentração 1:20 e o extrato da planta em suas respectivas concentrações finais, foram submetidas à adição de água ultra pura para fornecer o controle positivo que representasse 100% de hemólise. Para eliminar a interferência da absorbância do extrato na densidade óptica de cada análise, foram confeccionados os respectivos controles (brancos), nos quais o extrato, nas concentrações testadas ou o DMSO foram adicionados ao PBS ou à água. Foram confeccionadas também culturas de hemólise espontânea (controle negativo) que consistiram de PBS e 100 μL de suspensão de hemácias com seu respectivo branco (somente PBS), além de culturas controle do solvente, com adição de DMSO, em substituição ao extrato, acrescidas de 100 μL da suspensão de hemácias. As culturas foram confeccionadas em tubos de poliestireno (Falcon 2059, Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA) e foram incubadas por 4h em estufa úmida a 37°C e 5% de CO2. Após esse período, os tubos foram centrifugados (7 min, a 500 g e 18ºC) e 200 μL do sobrenadante foram transferidos para uma placa de 96 poços de fundo chato. Na sequência, foi realizada a leitura da absorbância em 540 nm, no leitor de placas. Dos valores de absorbância dos testes e controles foram subtraídos os 49 valores de absorbância de seus respectivos brancos e o resultado do teste de hemólise foi obtido como percentual de hemólise de acordo com a equação: Hemólise (%) = Absorbância (extrato) - Absorbância (controle negativo) x 100 Absorbância (controle positivo) - Absorbância (controle negativo) 5.8.2 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a viabilidade de PBMC humanas Com o intuito de verificar se o extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum seria tóxico às PBMC humanas, realizou-se o ensaio de viabilidade celular pelo método de exclusão com azul de Tripan. Assim, isolou-se as PBMC a partir do sangue periférico de 8 voluntários hígidos, como descrito anteriormente, e incubou-se 50 μL de suspensão celular (cerca de 5x104 células) em meio contendo RPMI-1640 (Gibco, Invitrogen Corporation, Grand Island, NY, EUA) acrescido de L-glutamina (2mM) (Sigma, St. Louis, MO, EUA), soro fetal bovino (Gibco, Invitrogen Corporation, Grand Island, NY, EUA) (10%), e coquetel antibiótico/antimicótico (penicilina G 100 UI/mL, estreptomicina 100 µg/mL e anfotericina B 250 ng/mL - Sigma, St. Louis, MO, EUA) o que denominamos de RPMI completo, na ausência (controle) ou presença do extrato diclorometano-etanólico nas concentrações finais na cultura de 100 μg/mL, 50 μg/mL, 25 μg/mL e 12,5 μg/mL. Culturas celulares tratadas com DMSO em substituição ao extrato constituíram o grupo controle do solvente. As culturas foram realizadas em tubos de polipropileno (Falcon 2059, Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA) em duplicata, sendo incubadas por 24 horas ou 5 dias em estufa úmida a 37°C e 5% CO2. Após esse tempo, as células foram removidas dos tubos por lavagem com 2 mL de PBS, transferidas para tubos de poliestireno (Falcon 2059, Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA) e centrifugadas (300 g, 21º C, 10 min). Em seguida, avaliou-se a viabilidade das suspensões celulares pela técnica de exclusão com azul de Tripan através da contagem em câmara de Neubauer após incubação de 10 µL das suspensões celulares com 190 µL azul de Tripan a 0,4%. A viabilidade celular foi determinada pelo percentual de células viáveis (não coradas) no universo de células totais. 50 5.9 Análise do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a proliferação de linfócitos humanos Para essa análise utilizamos a técnica de incorporação e decaimento da fluorescência do Violet Proliferation Dye 450 (VPD450), um corante excitável no laser violeta do citômetro de fluxo e que é funcionalmente similar ao CFSE (do inglês: 5-(and-6)-carboxyfluorescein diacetate succinimidyl ester), conforme descrito por Lyons et al.(1999). Assim, foram 7 isoladas PBMC de 8 voluntários hígidos e 1x10 células foram suspensas em PBS e incubadas com 1 μM de BD Horizon Violet Proliferation Dye 450 (VPD 450) (Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA) por 15 minutos em banho-maria. Em seguida, lavou-se as suspensões celulares por centrifugação (500 g, 10 min., 18°C) com 10 mL de PBS, e descartou-se o sobrenadante. A reação foi interrompida pela adição 10 mL de RPMI completo, seguida de centrifugação (500 g, 10 min, 18°C). Descartou-se o sobrenadante e ressuspendeu-se as células em RPMI-1640. Para avaliar o efeito inibitório do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a resposta proliferativa de linfócitos, foram confeccionadas culturas estimuladas com o mitógeno fitohemaglutinina (PHA) na presença do extrato. Aproximadamente 5x105 células foram incubadas em RPMI completo sendo estimuladas ou não com 10 μL de PHA (Sigma, St. Louis, MO, EUA) (5 μg/mL) na ausência ou presença do extrato nas concentrações finais de 25 μg/mL, 12,5 μg/mL e 6,25 μg/mL ou de DMSO, representando a cultura controle do solvente. Como controle de inibição, células estimuladas com PHA foram simultaneamente tratadas com a dose farmacológica de Dexametasona 8 μg/mL, que corresponde a 15 µM (Fosfato Dissódico de Dexametasona Decadron injetável, 4 mg/mL, Aché Laboratórios Farmacêuticos, Brasil), um antiinflamatório que inibe a ativação de leucócitos (SPIES et al., 2010). Além disso, foram confeccionadas culturas contendo o extrato nas mesmas concentrações citadas acima, mas sem estímulo com PHA, a fim de verificarmos se o extrato, por si só, apresentava algum efeito mitogênico. As culturas foram confeccionadas em placas de 24 poços e foram incubadas por 5 dias em estufa úmida, a 37ºC e 5% de CO2. Após esse período, as células foram retiradas da placa e transferidas para tubos de poliestireno onde foram lavadas duas vezes com PBS gelado (200 g, 4ºC, 10 min). Com o intuito de identificar as subpopulações linfocitárias, incubamos 20 µL de suspensão celular com 1 µL de anticorpos anti-CD4 conjugado com fluorocromo PE e anti- 51 CD8 conjugado com fluorocromo FITC (Tabela 5, página 51) por 15 min a 4º C e ao abrigo da luz. Após lavagem com PBS-W (PBS contendo BSA 0,5% e azida sódica 0,1%, pH 7,27,4), as células foram ressuspensas em PBS e foi feita a determinação da proliferação celular pela medida do decaimento da fluorescência do VPD450 utilizando a citometria de fluxo (FACSCANTO II - Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA) com aquisição de 50000 eventos. Após aquisição dos eventos, foi feita a análise da proliferação celular utilizando o programa FACSDIVA (Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA). Em gráficos de distribuição pontual em função do tamanho celular em área (FSC-A) versus o tamanho celular em altura (FSC-H), selecionou-se a região R1 onde não continham “doublets” celulares, (Figura 3A). Em outro gráfico correspondente aos eventos de R1, através dos parâmetros FSC-A versus a complexidade interna celular em área (SSC-A), a população de linfócitos foi definida pela região R2 (Figura 3B). Os eventos em R2 foram analisados em gráficos pontuais de fluorescência para PE x FITC (CD4 x CD8) (Figuras 3C), nos quais as regiões R3 e R4 foram definidas como aquelas que incluíam os linfócitos T CD4+ e T CD8+, respectivamente. Em seguida, os eventos nas regiões R2, R3 e R4 foram analisados para intensidade de fluorescência do VPD450 utilizando histogramas de fluorescência para VPD450 em função do número de eventos (Figuras 3D a 3I). Os marcadores M1, M7 e M13 foram definidos como o pico de células que não proliferaram na análise de linfócitos totais (Figura 3D), linfócitos TCD4 (Figura 3E) e TCD8 (Figura 3F) corados com VPD450 após estimulação com PHA por 5 dias. Os marcadores M2 a M6; M8 a M12 e M14 a M18 foram definidas de acordo o padrão de marcação para VPD450, correspondente ao perfil proliferativo das células analisadas e representam o número de ciclos de proliferações celulares obtidos ao longo dos 5 dias de estimulação das culturas celulares (Figuras 3D a 3F). Em seguida, esses marcadores foram utilizados para a análise do perfil proliferativo de linfócitos totais (Figura 3G), linfócitos TCD4 (Figura 3H) e TCD8 (Figura 3I) após estimulação com PHA na presença do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (25 μg/mL). 52 Figura 3. Sequência de procedimentos utilizados para as análises de proliferação celular pela diluição do VPD450. O gráfico de distribuição pontual FSC-H x FSC-A foi utilizado para excluir os “doublets” celulares (A), seguido da geração de gráficos de distribuição pontual FSC x SSC utilizados para a seleção da população de linfócitos nas culturas (B). Em seguida foram utilizados gráficos de distribuição pontual PE x FITC para selecionar as regiões R3 e R4, correspondentes às subpoplulações de células TCD4+ e TCD8+ (C). Histogramas de VPD450 x eventos, foram utilizados para definir as regiões M1 a M6, M7 a M12 e M13 a M18, com os quais foi obtido o índice de proliferação (IP) para a população de linfócitos (D e G), e para as subpopulações TCD4 (E e H) e TCD8 (F e I). Os histogramas D a F representam culturas estimuladas com PHA, enquanto G a I representam culturas que foram também tratadas com o extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (25μg/mL). A proliferação foi determinada pelo índice de proliferação (IP), calculado como a seguir: IP = 100 - Y Y sendo, Y (%) = X0 + X1 + X2 + X3 + X4 + X5 + X6 + X7 2 4 8 16 32 64 128 (1) 53 (2) X0 representa a porcentagem de células que não se dividiram (localizadas em M1, M7 ou M13), e X1 a X7 representam os picos de divisão gradual (localizados de M2 a M6; M8 a M12 ou M14 a M18) (ÂNGULO e FULCHER, 1998). 5.10 Anticorpos utilizados Para identificação das subpopulações linfocitárias, marcação das citocinas intracitoplasmáticas e análise da enzima ciclooxigenase, por citometria de fluxo, foram utilizados anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos, cujas especificações estão contidas na Tabela 5. Tabela 5. Anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos utilizados para análise de populações linfocitárias, marcação de citocinas e análise da enzima ciclooxigenase. Anticorpo Especificidade Marca Clone Subpopulação de Linfócitos T-CD4 Subpopulação de Linfócitos T-CD8 Interferon- Fator de necrose tumoral-α Controle de Isotipo BD Biosciences RPA-T4 BD Biosciences RPA-T8 Sigma BD Biosciences BD Biosciences 25723.11 MAb11 X39 e X40 Anti-CD14 marcado com PerCP-Cy5.5 População de monócitos BD Biosciences M5E2 Anti-COX-1 marcado com FITC e antiCOX-2 marcado com PE Enzima ciclooxigenase (COX) dos tipos 1 e 2 BD Biosciences AS70 e AS67 Anti-CD4 humano marcado com PE1 Anti-CD8 humano marcado com FITC2 Anti-IFN- humano marcado com PE Anti-TNF-α humano marcado com PE IgG1 marcado com FITC e IgG2a marcado com PE 1 PE: Ficoeritrina FITC: Isotiocianato de Fluoresceína 3 PerCP- Cy5.5: Proteína Clorofila Peridinina combinada a Cianina 2 54 5.11 Avaliação do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de citocinas por linfócitos humanos, in vitro A dosagem da citocina IL-2 foi realizada pela técnica Enzyme Linked Immunosorbent Assay (ELISA) a partir do sobrenadante das culturas, enquanto a avaliação da produção das citocinas IFN-γ e TNF-α intracelularmente foi feita por citometria de fluxo, conforme descrito abaixo. 5.11.1 Avaliação do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de IL-2 Primeiramente, isolamos PBMC a partir do sangue coletado de 6 voluntários hígidos. Em seguida, aproximadamente 5x105 células foram incubadas em RPMI completo sendo estimuladas ou não com 10 μL de PHA (5 μg/mL) na presença do extrato nas concentrações finais de 25 μg/mL, 12,5 μg/mL e 6,25 μg/mL ou de DMSO, representando a cultura controle do solvente. Como controle de inibição da produção de IL-2, células estimuladas com PHA foram simultaneamente tratadas com Dexametasona (8 μg/mL que corresponde a 15 µM). As culturas foram confeccionadas em placas de 24 poços e foram incubadas em estufa úmida, a 37ºC e 5% de CO2 por 36 horas. Esse tempo foi escolhido tendo em vista a análise do pico de produção de IL-2 nas culturas estimuladas de PBMC, em experimentos de padronização realizados em nosso laboratório (dados não demonstrados). Após esse período de incubação, o sobrenadante das culturas foi retirado para a dosagem de IL-2 por meio da técnica de ELISA. Para quantificação de IL-2, foi utilizado o kit de ELISA DuoSet (R&D Systems, EUA). Os procedimentos experimentais foram realizados conforme orientação do fabricante, conforme descrito a seguir. Para a sensibilização da placa de 96 poços de fundo chato, adicionou-se 100 µL/poço do anticorpo de captura (anticorpo de camundongo anti-IL-2 humano, 720 μg/mL) diluído para uma concentração de 4 μg/mL em PBS (NaCl 137 mM; KCl 2,7 mM; Na2HPO4 8,1 mM; KH2PO4 1,2 mM, pH 7,2-7,4) e incubou-se a placa à temperatura ambiente por 15 horas. Após esse tempo, a placa foi lavada cinco vezes com 300 μL/poço de solução tampão de lavagem (PBS contendo 0,05% de Tween 20, pH 7,2 -7,4), utilizando uma lavadora de microplacas (ELx50, Biotek). O líquido remanescente foi retirado secando-se a placa em papel toalha. O bloqueio dos sítios reativos da placa foi realizado pela adição de 300 µL de 55 solução tampão de bloqueio (PBS contendo 1% de albumina bovina e 0,05% de azida sódica) seguida de 1 hora de incubação à temperatura ambiente. Por fim, a placa foi lavada como descrito anteriormente e o sobrenadante remanescente foi totalmente removido secando-se a placa em papel toalha. Para a quantificação de IL-2 nas amostras, foram adicionados à placa 100 μL/poço do sobrenadante de cada cultura descrita acima, sendo que nas duas primeiras colunas da placa foram adicionados 100 μL/poço do padrão de IL-2 (IL-2 humana recombinante, 60 ng/mL) diluído em PBS para as concentrações de 1000 pg/mL, 500 pg/mL, 250 pg/mL, 125 pg/mL, 62,5 pg/mL, 31,25 pg/mL e 15,625 pg/mL, consistindo de uma curva padrão para o cálculo das concentrações de IL-2 nas amostras analisadas. O padrão de IL-2 e as amostras foram avaliados em duplicata. A placa foi incubada por 2 horas à temperatura ambiente e, ao final desse período, a placa foi lavada com solução tampão de lavagem como citado acima, seguido de completa remoção do sobrenadante em papel toalha. Na sequência, foram acrescentados 100 μL/poço de anticorpo de detecção (anticorpo de cabra anti-IL-2 humano biotinilado, 90 μg/mL) diluído em reagente diluente (solução tampão salina Tris – Trizma base 20mM e NaCl 150 mM – contendo 0,1% de albumina bovina e 0,05% de Tween 20) para uma concentração de 0,5 μg/mL e, após 2 horas de incubação à temperatura ambiente, a placa foi lavada com solução tampão de lavagem, seguida da adição de 100 μL/poço de estreptavidina conjugada com horseradish-peroxidase (Estreptavidina-HRP) diluída 1:200 em reagente diluente. Ao final de 20 minutos de incubação no escuro à temperatura ambiente, a placa foi lavada e adicionou-se 100 μL/poço do substrato TMB (3,3’, 5,5’ tetrametilbenzidina, Sigma, St. Louis, MO, EUA) diluído em tampão citrato (Na2HPO4 0,4 mM e citrato de sódio 0,2 mM, pH 5) contendo 0,005% de peróxido de hidrogênio. A placa foi incubada no escuro à temperatura ambiente por 30 minutos e, em seguida foram acrescentados 50 μL/poço da solução de parada H2SO4 2N. A determinação da densidade óptica foi realizada nos comprimentos de onda de 450 e 570 nm em um leitor de microplacas (SpectraMax 190, Molecular Devices). Para a determinação da concentração de IL-2 em cada cultura, as densidades ópticas em 450 nm foram subtraídas daquelas correspondentes em 570 nm para efeito de correção de imperfeições ópticas da placa de 96 poços. 56 5.11.2 Avaliação do efeito extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de IFN-γ e TNF-α Amostras de sangue de 8 voluntários hígidos foram coletadas em tubos a vácuo contendo heparina, e alíquotas de 500 µL foram adicionadas em tubos de polipropileno contendo 500 µL de meio de cultura RPMI-1640 na ausência (controle) ou presença (controle positivo) de 25 µL de Miristato Acetato de Forbol – PMA (Sigma, St. Louis, MO, EUA) (25 ng/mL), um éster de forbol caracterizado por induzir leucócitos a sintetizarem citocinas próinflamatórias, e 1 µL Ionomicina (Sigma, St. Louis, MO, EUA) (1ng/mL), que atua potencializando a atividade do PMA sobre os leucócitos (PRUSSIN; METCALFE, 1995; SEMPOWSKI et al., 1999). Para avaliar o potencial do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum em inibir a produção de citocinas pró-inflamatórias, culturas contendo os mesmos componentes acima citados, foram acrescidas de extrato nas concentrações finais de 50 µg/mL, 25 µg/mL e 12,5 µg/mL. Como controle de inibição foi utilizado o fármaco Dexametasona (8 μg/mL que corresponde a 15 µM). Além disso, todas as culturas receberam 10 µL de Brefeldina A (Sigma, St. Louis, MO, EUA) (1mg/mL), um metabólito fúngico que inibe a secreção proteica por impedir o transporte de proteínas do retículo endoplasmático para o complexo de Golgi (MISUMI et al., 1986; ZELNICKOVA et al., 2007). As culturas foram incubadas por 4 horas em estufa úmida a 37°C e 5% de CO2. Em seguida, lavou-se as células por centrifugação (250 g, 7 min, 18°C) com PBS-W (PBS contendo 0,5% de BSA e 0,1% de azida sódica, pH 7,2-7,4) e procedeu-se à lise eritrocitária por adição da solução de lise de hemácias e incubando as células por 10 min à temperatura ambiente. Após a incubação, as amostras foram centrifugadas (250 g, 7 min, 18°C), o sobrenadante descartado e as células foram suspensas em PBS-W. As células foram permeabilizadas pela adição de PBS-P (PBS contendo 0,5% de BSA, 0,1% de azida sódica e 0,5% de saponina, pH 7,2-7,4), seguidas de homogeneização por inversão e incubação por 15 min à temperatura ambiente. Em seguida, as amostras foram centrifugadas (250 g, 7 min, 18°C) e o sobrenadante descartado. As células foram lavadas com PBS-W (250 g, 7 min, 18°C) e, após descartar o sobrenadante, as suspensões celulares foram homogeneizadas e distribuídas em tubos contendo anticorpos monoclonais, específicos para as citocinas IFN- e TNF-α e conjugados com o fluorocromo ficoeritrina (PE) e os respectivos controles isotípicos 57 (Tabela 5, página 51). Após incubação por 30 minutos, à temperatura ambiente e ao abrigo da luz, as células foram lavadas com PBS-W (250 g, 7 min, 18°C) e, por fim, foi avaliado o parâmetro de produção de citocinas intracitoplasmáticas, por citometria de fluxo (FACSCANTO II - Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA), procedendo-se a aquisição de 30000 eventos por tubo (BRITO-MELO et al., 2006). Para análise dos dados, utilizamos o programa FACSDIVA (Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA), no qual foram gerados gráficos bidimensionais de distribuição pontual FSCA versus FSC-H, nos quais foi delimitada uma região R1 em que os “doublets” celulares foram excluídos (Figura 4A). A partir desses gráficos, foram gerados novos gráficos de tamanho e complexidade interna celular (FSC-A x SSC-A) que apresentavam os eventos referentes à R1 (Figura 4B). Em seguida, a população de linfócitos foi selecionada (região R2) (Figura 4B) e avaliada em gráficos de distribuição pontual de FSC-A versus fluorescência para PE (que estava conjugado ao anticorpo anti-IFN-γ ou anti-TNF-α) (Figura 4C) permitindo a análise do percentual de células positivas para cada uma das citocinas avaliadas. Figura 4. Sequência de procedimentos utilizados para a análise do percentual de linfócitos positivos para as citocinas avaliadas. Inicialmente, foram gerados gráficos de distribuição pontual FSC-A x FSC-H utilizados para a exclusão de “doublets” celulares na região R1 (A). Em seguida foram utilizados gráficos de distribuição pontual FSC-A x SSC-A para selecionar a população de linfócitos (R2) (B). O terceiro gráfico (C) foi gerado para avaliar a expressão de citocinas em linfócitos. Esse gráfico é referente a uma cultura estimulada com PMA e marcada com anticorpos monoclonais para IFN-γ. 58 5.12 Avaliação do efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a expressão de COX-2 Para avaliar o efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a expressão de COX-2, alíquotas de 1 mL de sangue heparinizado foram adicionadas a tubos de polipropileno. Para induzir a produção de COX-2, adicionou-se 2 μL de LPS (2 μg/mL) (lipopolissacarídeo de Escherichia coli 0127:B8, Sigma, St. Louis, MO, EUA) na ausência ou presença do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum nas concentrações de 50 μg/mL, 25 μg/mL e 12,5 μg/mL. Uma cultura não estimulada com LPS consistiu o controle negativo. Após 4 horas de incubação em estufa úmida a 37ºC e 5% de CO2, alíquotas de 100 μL de cada cultura foram transferidas para tubos de poliestireno contendo anticorpo antiCD14 conjugado com o fluorocromo PerCP-Cy5.5 (Tabela 5, página 51), seguido de incubação por 20 minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Em seguida, foram adicionados 2 mL de solução de lise eritrocitária homogeneizando-se em vórtex e incubou-se os tubos por 10 min à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Após esse tempo, as suspensões celulares foram centrifugadas (5 min, 500 g, 18°C) e o sobrenadante foi descartado. Procedeu-se, então, à permeabilização celular pela adição de 500 μL de PBS-P e incubação por 10 min à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. As células foram lavadas em PBS-W (5 min, 500 g, 18°C) e o sobrenadante foi descartado. Na sequência, as células foram incubadas com 1 μL de reagente contendo anticorpos anti-COX-1, conjugado com o fluorocromo FITC, e anti-COX-2, conjugado com o fluorocromo PE (Tabela 5, página 51) por 30 minutos à temperatura ambiente e ao abrigo da luz. Paralelamente o mesmo procedimento foi realizado para a confecção dos controles isotípicos. Após a incubação, as células foram lavadas em PBS-W (5 min, 500 g, 18°C) e suspensas em PBS para análise da expressão de COX-2 intracitoplasmática, por citometria de fluxo (FACSCANTO II - Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA), procedendo-se a aquisição de 50000 eventos por tubo. Para análise dos dados, utilizamos o programa FACSDIVA (Becton Dickinson, San Jose, CA, EUA), no qual foram gerados gráficos bidimensionais de distribuição pontual em função de FSC-A versus FSC-H, nos quais foi delimitada uma região R1 em que os “doublets” celulares foram excluídos (Figura 5A). Para identificação dos monócitos, os eventos presentes em R1 foram avaliados em gráficos de SSC-A versus fluorescência para PerCP-Cy5.5 (que estava conjugado ao anticorpo anti-CD14), nos quais foi possível selecionar a população de interesse (região R2) (Figura 5B). Para a análise do percentual de 59 monócitos positivos para COX-1 e COX-2, os eventos presentes em R2 foram analisados em gráficos de distribuição pontual de fluorescência para PE versus fluorescência para FITC (conjugados aos anticorpos anti-COX-2 e anti-COX-1, respectivamente) para culturas não estimuladas (Figura 5C) e estimuladas com LPS (Figura 5E). Além disso, a expressão de COX-2, por célula, foi avaliada através da intensidade média de fluorescência (IMF) em histogramas em escala logarítmica de número de eventos versus fluorescência para PE. Para isso, foi posicionado o marcador M1, para estabelecer um limiar de negatividade em função da curva de fluorescência obtida para as culturas não estimuladas (Figura 5D), que serviu de referência para avaliar a intensidade de fluorescência das células marcadas com PE (COX-2) para as demais condições experimentais (Figura 5F). Figura 5. Sequência de procedimentos utilizados para as análises de expressão de COX-2. O gráfico de distribuição pontual FSC-H x FSC-A foi utilizado para excluir os “doublets” celulares (A), seguido da geração de gráficos de distribuição pontual SSC x PerCP-Cy5.5 utilizados para a seleção da população de monócitos nas culturas (B). Em seguida foram utilizados gráficos de distribuição pontual PE x FITC para visualizar os eventos referentes à cada uma das enzimas COX-1 e COX-2 em culturas não estimuladas (C) e estimuladas com LPS (E). Histogramas de PE x número de eventos foram utilizados para definir a região M1 para a cultura controle não estimulada com LPS (D) e para culturas que receberam estímulo com LPS representando o percentual de células que produziram COX-2 (F). 60 6 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados foram expressos como média ± desvio padrão e as análises foram realizadas utilizando o software GraphPad Prism 5 (GraphPad Software Inc., San Diego, CA, EUA). Para análise da normalidade dos dados, utilizamos o teste Shapiro-Wilk e as diferenças entre as variáveis com distribuição normal foram testadas utilizando ANOVA com Post Hoc de Tukey. Para as variáveis com distribuição assimétrica, foi utilizado o teste Kruskall-Wallis com Post Hoc de Dunns. Diferenças estatisticamente significantes foram consideradas quando p<0,05. 61 7 RESULTADOS 7.1 Triagem fitoquímica das principais classes de metabólitos secundários presentes nas raízes de E. crinitum A Figura 6 mostra o resultado da pesquisa de taninos através das reações com acetato de chumbo (Figura 6A), com cloreto férrico (Figura 6B) e com gelatina (Figura 6C) para as amostras de H. virginiana (controle positivo) e raízes de E. crinitum. As três reações realizadas apresentaram resultados negativos nas soluções contendo a amostra vegetal de raízes de E. crinitum, não sendo visualizada a formação de precipitado para as reações com gelatina e acetato de chumbo e o desenvolvimento de cor azul ou verde na reação com cloreto férrico. A B Controle positivo Raiz de E. crinitum Controle positivo C Raiz de E. crinitum Controle positivo Raiz de E. crinitum Figura 6. Pesquisa de taninos em raízes de Eriosema crinitum. Reação negativa para análise de taninos verificada pela ausência da formação de precipitado esbranquiçado na reação com acetato de chumbo (A), ausência da formação da cor azul/verde na reação com cloreto férrico (B) e ausência de precipitado na reação com gelatina (C). Folhas de H. virginiana foram utilizadas como controle positivo para fins de comparação com os resultados obtidos. Para a identificação de alcaloides em raízes de E. crinitum utilizando os Reativos Gerais de Alcaloides (RGA), foram realizadas a pesquisa direta de alcaloides na forma combinada e a pesquisa confirmatória de alcaloides na forma livre. A Figura 7 mostra o resultado da pesquisa de alcaloides para o controle positivo (P. boldus) e para raízes de E. crinitum. Embora tenha sido observado o desenvolvimento de precipitados nos tubos contendo os reativos de Dragendorff (6B), de Mayer (6C) e de Bouchardat (6D), para raízes de E. crinitum, a coloração destes não corresponde àquelas que configuram a reação positiva 62 (Tabela 3). Portanto, a pesquisa direta de alcaloides foi negativa para a amostra vegetal analisada. Além disso, para a reação confirmatória de alcaloides, seria necessário que pelo menos três das reações realizadas fossem positivas para confirmar a presença de alcaloides na amostra vegetal analisada. As amostras de raízes de E. crinitum apresentaram resultado positivo apenas para a reação de Dragendorff onde foi formado um precipitado de coloração alaranjada. Dessa forma, esses resultados descartam a presença de alcaloides em raízes de E. crinitum. Controle positivo Raiz de E. crinitum A B C D E Figura 7. Pesquisa de alcaloides em raízes de Eriosema crinitum. Resultado negativo para análise de alcaloides verificado na reação direta. Não houve formação de precipitados de cor alaranjado, branco, marrom e amarelo nos tubos tratados com os reativos de Dragendorff (B), de Mayer (C), de Bouchardat (D) e de Hager (E), respectivamente na amostra de raízes de E. crinitum, ao contrário do resultado mostrado para os tubos na parte superior da figura, referentes à amostra de P. boldus (controle positivo), onde esses precipitados estão presentes. Os tubos identificados com a letra “A” contêm somente o extrato das folhas de P. boldus (superior) e de raízes de E. crinitum (inferior) para visualização da cor do extrato para fins de comparação com os resultados obtidos. Em todas as reações realizadas para pesquisa de flavonoides a amostra de raízes de E. crinitum foi positiva. A Figura 8 apresenta o resultado positivo para a reação de Shinoda, em que houve desenvolvimento de coloração avermelhada (Figura 8A), e para a reação de Pew em que ocorreu formação de coloração rósea (Figura 8B). Na reação com cloreto de alumínio foi observada emissão de fluorescência sob a luz ultravioleta (Figura 9). 63 B A Controle positivo Raiz de E. crinitum Branco Teste Controle positivo Branco Teste Raiz de E. crinitum Figura 8. Pesquisa de flavonoides em raízes de Eriosema crinitum pelas reações de Pew e de Shinoda. Resultado positivo para análise de flavonoides pela reação de Pew em que flavonoides reagem com zinco metálico em solução ácida exibindo coloração vermelha (A), comparável ao controle positivo (folhas de B. trimera). Na reação de Shinoda (B), houve formação de coloração rósea na presença de magnésio em solução ácida. Foi utilizado um branco das reações, contendo somente o extrato de folhas de B. trimera (controle positivo) e de raízes de E. crinitum, para visualização da cor do extrato, para fins de comparação com o resultado obtido. Controle positivo Raiz de E. crinitum Figura 9. Pesquisa de flavonoides em raízes de Eriosema crinitum pela reação com Cloreto de Alumínio. Resultado positivo para análise de flavonoides pela reação com cloreto de alumínio em que houve aparecimento de fluorescência de cor amarela esverdeada (A), comparável ao controle positivo (folhas de B. trimera). A pesquisa de antraquinonas está demonstrada na Figura 10. Não foram encontradas antraquinonas nas raízes de E. crinitum, uma vez que, tanto a reação direta (Figura 9A), quanto na reação de Bornträger com prévia hidrólise ácida (Figura 10B) foram negativas. 64 A B Controle positivo Raiz de E. crinitum Controle positivo Raiz de E. crinitum Figura 10. Pesquisa de antraquinonas em raízes de Eriosema crinitum. Resultado negativo para antraquinonas evidenciado pela ausência de coloração rósea a avermelhada tanto na pesquisa direta (A) quanto na reação de Bornträger com prévia hidrólise ácida, ao contrário do resultado mostrado para o controle positivo (folhas de C. senna). A pesquisa de saponinas nas raízes de E. crinitum e B. trimera (controle positivo) está demonstrada na Figura 11. Os resultados indicaram a ausência dessa classe química nas raízes de E. crinitum, já que em todas as diluições testadas, a espuma formada apresentou altura inferior a 1cm (aproximadamente 0,4 cm) (Figura 11B). A Controle positivo B Raiz de E. crinitum 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Figura 11. Pesquisa de saponinas em raízes de Eriosema crinitum. Resultado negativo para saponinas verificado pela ausência de espuma persistente com altura igual ou maior que 1 cm em todas as diluições (B). 65 Para fins de comparação com os resultados obtidos, foram utilizadas folhas de B. trimera como controle positivo (A), onde houve formação de espuma com altura acima de 1 cm a partir da primeira diluição (10%). A Figura 12 representa a pesquisa de terpenos em raízes de E. crinitum. Após a reação cromogênica, houve formação de anel de coloração avermelhada, o que sugere resultado positivo para terpenos. Branco Teste Raiz de E. crinitum Figura 12. Pesquisa de esteroides e terpenos em raízes de E. crinitum. Nesta pesquisa as raízes pulverizadas foram submetidas à extração com clorofórmio seguida de adição de anidrido acético e ácido sulfúrico concentrado. A formação de anel de cor avermelhada sugeriu um resultado positivo para presença de terpenos na amostra. Para complementar a pesquisa de terpenos, foi realizada uma Cromatografia em Camada Delgada Comparativa (CCDC), utilizando como padrão o sesquiterpeno alfabisabolol. A Figura 13 representa a análise da cromatoplaca em luz ultravioleta (Figura 13A) e após revelação com vanilina sulfúrica (Figura 13B). Pela análise em luz ultravioleta no comprimento de onda de 254 nm, foi possível observar a presença de manchas referentes às amostras aplicadas (extrato diclorometano-etanólico de raiz de E. crinitum e resíduo do macerado em diclorometano de raiz de E. crinitum). Após revelação com vanilina sulfúrica, foi observada a presença de manchas de coloração violeta em posições semelhantes às manchas de mesma cor apresentadas pelo padrão (Figura 13B). O cálculo do fator de retenção (FR) indicou a presença de terpenos na amostra, tendo em vista que os valores para as amostras analisadas (extrato diclorometano-etanólico - FR = 0,57 - e resíduo de macerado em diclorometano - FR = 0,55 - de raiz de E. crinitum) são próximos ao valor do FR do padrão (0,62). 66 A B 1 2 2 1 P 1 2 2 1 P Figura 13. Cromatografia em Camada Delgada Comparativa (CCDC) para pesquisa de terpenos em raízes de E. crinitum. Utilizou-se cromatoplaca com fase estacionária de sílica gel e a fase móvel constituiu de tolueno e acetato de etila 93:7 v/v. Análise em ultravioleta no comprimento de onda de 254 nm (A) e revelação das manchas com solução de vanilina sulfúrica (B). Amostras aplicadas em duplicata: 1) Extrato diclorometanoetanólico de raiz de E. crinitum ; 2) resíduo do macerado de raiz de E. crinitum em diclorometano; P) Padrão sesquiterpeno alfa-bisabolol. A Tabela 6 apresenta as classes de metabólitos secundários pesquisadas em raízes de E. crinitum e o resultado encontrado para cada uma. Tabela 6. Pesquisa de classes de metabólitos secundários em raízes de E. crinitum. Classe de Metabólito Secundário Resultado Taninos Negativo Alcaloides Negativo Flavonoides Positivo Antraquinonas Negativo Saponinas Negativo Terpenos Positivo Esteroides Negativo 200 7,757 400 7,172 600 0 5 288 nm. 10 53,678 54,031 54,459 54,632 54,871 55,013 55,082 55,159 55,258 55,337 55,659 56,063 56,496 56,425 56,782 56,907 57,008 57,152 57,498 57,909 57,878 58,078 58,155 58,446 58,610 58,849 58,977 59,048 59,108 59,268 59,387 59,512 59,792 800 15 20 25 30 35 40 45 mAU 47,942 45,601 52,312 1600 50 53,269 49,835 46,384 46,762 46,86746,612 46,995 47,269 47,447 47,757 48,490 48,822 38,096 41,940 38,738 1800 41,551 42,164 39,978 35,163 35,437 33,944 Spectrum Max Plot Eriosema crinitum grad 1 191213 2 42,663 4 2,802 42,976 43,235 43,435 43,663 43,827 44,053 44,272 44,487 44,635 44,815 45,046 45,239 45,426 1000 34,528 Retention Time 51,868 34,873 1200 35,757 36,171 35,968 36,540 36,951 37,279 37,512 37,904 38,487 39,212 39,448 39,651 39,780 40,343 40,599 40,746 40,877 41,175 41,369 16,292 16,908 23,857 1400 24,337 24,591 24,758 24,917 25,353 25,583 25,803 26,161 26,70526,449 26,956 27,287 27,491 27,750 27,933 28,393 28,532 28,797 28,944 29,403 29,636 29,927 30,115 30,49730,288 30,936 31,126 31,472 31,909 32,078 32,176 32,303 32,581 32,870 33,127 33,385 33,484 33,628 33,747 34,343 17,195 17,512 17,875 18,348 18,498 18,588 18,783 18,902 19,123 19,420 19,527 19,725 20,023 20,303 20,614 20,814 20,970 21,101 21,308 21,518 21,746 21,884 22,258 22,424 22,861 23,103 23,272 2000 8,831 9,099 9,454 10,023 10,121 9,716 10,207 10,352 9,866 10,489 10,650 10,945 11,045 11,18911,327 11,496 11,710 11,849 12,178 12,295 12,387 12,493 12,589 12,884 13,210 13,033 13,343 13,425 13,607 13,541 13,780 13,998 13,945 14,351 14,529 14,621 14,968 15,059 15,361 15,635 15,550 15,783 2,772 2,965 3,083 mAU 67 7.2 Análise do extrato em diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Detector de Arranjo de Diodos (CLAE-DAD) A Figura 14 apresenta o cromatograma obtido no modo Spectrum Max Plot (absorbância em mAU versus tempo em minutos), gerado a partir de substâncias presentes no extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum que apresentaram absorção máxima nos comprimentos de onda entre 190 e 600 nm. 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 0 -200 55 60 -200 Minutes Figura 14. Cromatograma da análise do extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum por CLAE-DAD, modo Spectrum Max Plot. Tendo em vista que a maioria das substâncias presentes no extrato apresentou absorção máxima, aproximadamente, no comprimento de onda de 288 nm, foi gerado o cromatograma da Figura 15 (absorbância em mAU versus tempo em minutos) monitorado em 68 Figura 15. Cromatograma da análise do extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum no comprimento de onda de 288 nm por CLAE-DAD. Considerando os cromatogramas obtidos, verificamos que o extrato diclorometanoetanólico de raízes de E. crinitum apresenta perfil químico complexo, com substâncias de alta, média e baixa polaridade. As substâncias de alta polaridade são representadas por picos com menores tempos de retenção (Tr), eluídos entre 1 e 20 minutos, resultantes de maior afinidade pela fase móvel. Alguns picos foram eluídos entre 20 e 35 minutos, demonstrando a presença de substâncias de média polaridade. Os picos eluídos tardiamente, entre 35 e 47 minutos, devido à maior afinidade pela fase estacionária apolar (coluna C18), se destacam por apresentarem maior intensidade e serem majoritários em relação aos demais picos, indicando que as substâncias de baixa polaridade predominam no extrato. Os flavonoides apresentam como estrutura básica um núcleo fundamental constituído de 15 átomos de carbono arranjados em três anéis, sendo dois anéis fenólicos substituídos (A e B) e um pirano (cadeia heterocíclica C) acoplado ao anel A (Figura 16) (DORNAS et al., 2007). As substâncias da classe dos flavonoides, quando analisadas por espectros de ultravioleta, apresentam duas bandas de absorção bem características, sendo elas: a Banda II, com absorção máxima entre 240-285nm correspondente ao grupo benzoil (anel A) e a Banda I, com absorção máxima entre 300-550nm correspondente ao grupo cinamoil (anel B) da molécula (ZUANAZZI; MONTANHA, 2007). 69 Flavonol Chalcona Dihidroflavonol 3’ 4’ 2’ B 1 8 9 2 7 A Flavanona 6 6’ C 3 10 5 5’ 1’ 4 Estrutura básica Flavona Isoflavanona Antocianidina Figura 16. Estrutura básica dos flavonoides e as principais subclasses (DORNAS et al., 2007). A análise das Bandas I e II (máximo de absorção e intensidade) pode auxiliar na identificação das subclasses de flavonoides, conforme apresentado na Tabela 7 (MARSTON; HOSTETTMANN, 2006). Tabela 7. Faixa de absorção e intensidade das bandas I e II para identificação das subclasses de flavonoides. Subclasses Banda II (240 - 285 nm) Banda I (300 - 550 nm) Flavonas 240 – 280 305 – 350 (intensa) Flavonóis 240 – 280 350 – 385 (intensa) Dihidroflavonóis 270 – 295 (intensa) Baixa intensidade Flavanonas 270 – 295 (intensa) Ombro Isoflavonas 245 – 270 (intensa) - Chalconas Pequena 340 – 390 Auronas 220 – 270 (intensa) 370 – 430 Antocianidinas 270 – 280 (pequena) 480 – 550 (intensa) de Flavonoides 70 De acordo com nossos resultados, os espectros obtidos em CLAE-DAD apresentaram picos de absorção em regiões características de substâncias da classe dos flavonoides. Esse resultado está de acordo com aqueles encontrados para a triagem realizada por meio de reações cromogênicas, fluorogênicas e de precipitação. A análise de absorção e intensidade das bandas I e II sugere a presença das subclasses flavonóis (Figura 17) e flavonas (Figura 18). Figura 17. Espectros em UV/Vis (190 – 600 nm) dos picos indicativos da presença de flavonóis no extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum. Tr = tempo de retenção. 71 Figura 18. Espectros em UV/Vis (190 – 600 nm) dos picos indicativos da presença de flavonas no extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum. Tr = tempo de retenção. 72 7.3 Análise de hemogramas dos sujeitos da pesquisa A caracterização dos voluntários participantes do estudo, referente aos parâmetros hematológicos, está indicada na Tabela 8. De acordo com os dados obtidos, os voluntários apresentaram hemograma dentro dos limites da normalidade para indivíduos adultos. Tabela 8. Caracterização dos voluntários. Parâmetros (valores de referência*) 3 Hemácias (3,8 a 5,6 milhões/mm ) Hemoglobina (12 a16 g/dL) Média ± DP 4,96 ± 0,65 milhões/ mm3 14,40 ± 1,82 g/dL Hematócrito (36 a 47%) 42,71 ± 4,84% HCM (27 a 34 pg) 28,91 ± 0,12 pg VCM (80 a 100 fL) 86,10 ± 1,34 fL CHCM (32 a 35%) 33,72 ± 0,39% Leucócitos totais (3,5 - 11 x 103/mm3) 7 ± 2 x103/mm3 Neutrófilos (40-70%) 55 ± 8% Linfócitos (20-50%) 41 ± 8% Monócitos (2-20%) 2 ± 1% Eosinófilos (0-8%) 2 ± 2% Basófilos (0-3%) 0 ± 0% *Valores de referência de acordo com Xavier et al. (2010). 7.4 Citotoxicidade do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum Uma vez que os ensaios biológicos para análise do potencial anti-inflamatório de E. crinitum seria conduzido utilizando-se sangue periférico humano, e tendo em vista que a indução de morte celular seria prejudicial para investigação de possíveis atividades biológicas do extrato, decidimos determinar inicialmente quais concentrações do extrato diclorometanoetanólico de raízes de E. crinitum não seriam tóxicas para culturas de células da linhagem vermelha (hemácias) e linhagem branca (leucócitos). A Figura 19 apresenta o percentual de hemólise induzido por diferentes concentrações do extrato. Os resultados demonstram que não houve indução de hemólise quando as culturas foram tratadas com o solvente DMSO ou com o extrato nas concentrações de 12,5 μg/mL (1,63 ± 0,42 %) e 25 μg/mL (2,53 ± 1,88 %). Porém, nas concentrações de 50 μg/mL (16,70 ± 10,00 %) e 100 μg/mL (82,66 ± 9,54 %) o extrato demonstrou efeito hemolítico, sendo o 73 percentual de hemólise para essas culturas estatisticamente significante em relação às culturas controle do solvente. * 100 %Hemólise Hemólise (%) 80 60 40 * 20 0 DMSO 12,5 25 50 100 Extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (μg/mL) concentração do extrato (g/mL) Figura 19 - Percentual de hemólise em culturas tratadas com diferentes concentrações do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum e com o controle do solvente DMSO 2% (n = 8) após 4 h de cultura. Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão. * Diferença em relação ao grupo controle do solvente, p ≤ 0,05. Método estatístico utilizado – Kruskal-Wallis com post hoc de Dunns. O efeito citotóxico do extrato sobre PBMC, após 24 horas e 5 dias de cultura foi avaliado pelo método de exclusão com azul de Tripan. As Figuras 20 e 21 demonstram os resultados para a análise da viabilidade celular após 24 horas e 5 dias de cultura, respectivamente. Após 24 horas de cultura, o extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) nas concentrações de 12,5 μg/mL, 25 μg/mL e 50 μg/mL não reduziu a viabilidade celular (DE 12,5 μg/mL: 97,56 ± 0,32%; DE 25 μg/mL: 95,09 ± 1,71%; DE 50 μg/mL: 93,88 ± 1,46%) quando comparado às culturas controle (96,75 ± 1,49%) e controle do solvente (DMSO: 95,66 ± 1,56%). Houve indução de morte celular quando as culturas foram tratadas com o extrato na concentração de 100 μg/mL (56,60 ± 7,24%). 74 100 Células viáveis (%) 80 a,b 60 40 20 0 Controle DMSO 12,5 25 50 100 Extrato DE de E. crinitum (μg/mL) Figura 20. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a viabilidade celular, após 24 horas de cultura. Percentual de PBMC viáveis nas culturas controle, DMSO e nas culturas tratadas com o extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum em diferentes concentrações, avaliado por exclusão com azul de Tripan utilizando câmara de Neubauer (n = 8). Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão da viabilidade nos diferentes grupos. Diferenças significativas (p≤0,05, Kruskal-Wallis com post hoc de Dunns) são identificadas pelas letras “a” e “b”, para as comparações em relação às culturas controle e DMSO, respectivamente. Após 5 dias de cultura, o extrato em concentração igual ou inferior a 25 μg/mL, não demonstrou efeito citotóxico às PBMC (DE 12,5 μg/mL: 93,56 ± 3,03%; DE 25 μg/mL: 83,75 ± 6,67%) quando comparado às culturas controle (91,50 ± 2,86%) e controle do solvente (DMSO: 85,47 ± 7,75%). Porém, nas culturas tratadas com 50 μg/mL e 100 μg/mL do extrato houve significativa redução da viabilidade celular (DE 50 μg/mL: 65,47 ± 10,37%; DE 100 μg/mL: 54,70 ± 2,90%) (Figura 21). atual DE Eriosema 5 dias 75 100 a,b Células viáveis (%) 80 a,b 60 40 20 0 Ctrl DMSO 12,5 25 50 100 Extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (μg/mL) Figura 21. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a viabilidade celular, após 5 dias de cultura. Percentual de PBMC viáveis nas culturas controle, DMSO e nas culturas tratadas com extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum em diferentes concentrações, avaliado por exclusão com azul de Tripan utilizando câmara de Neubauer (n = 8). Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão da viabilidade nos diferentes grupos. Diferenças significativas (p≤0,05, Kruskal-Wallis com post hoc de Dunns) são identificadas pelas letras “a” e “b”, para as comparações em relação às culturas controle e DMSO, respectivamente. 7.5 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a proliferação de linfócitos humanos Com o intuito de avaliar a possível atividade anti-inflamatória do extrato diclorometano-etanólico de raízes E. crinitum, inicialmente investigamos o efeito do extrato sobre a resposta proliferativa de linfócitos e subpopulações de linfócitos T CD4 e T CD8, estimulados com o mitógeno PHA, conforme demonstrado na Figura 22. Os resultados indicam que o extrato DE nas concentrações de 12,5 μg/mL e 25 μg/mL reduziu de forma significativa o índice de proliferação de linfócitos (DE 12,5 μg/mL 1,21 ± 0,37; DE 25 μg/mL 0,46 ± 0,25) e de linfócitos T CD8 (DE 12,5 μg/mL 1,56 ± 0,39; DE 25 μg/mL 0,45 ± 0,15) quando comparado às culturas tratadas apenas com PHA (Linfócitos: 2,12 ± 0,65; Linfócitos T CD8: 2,99 ± 1,53). Observou-se ainda que essa redução foi dosedependente, ou seja, a maior concentração do extrato promoveu maior redução no índice de proliferação. 76 Além disso, a resposta proliferativa de células TCD4 foi reduzida em culturas tratadas com 25 μg/mL do extrato (0,47 ± 0,29), quando comparado às culturas PHA (2,07 ± 0,77). O solvente DMSO não alterou o índice de proliferação celular para linfócitos totais (DMSO 2,11 ± 0,77) e para as subpopulações de linfócitos TCD8 (DMSO 2,56 ± 1,47) e TCD4 (DMSO 2,26 ± 1,09), quando comparado às culturas PHA. Já a Dexametasona, utilizada como controle de inibição, reduziu de forma significativa o IP de linfócitos (0,33 ± 0,26) e das subpopulações de linfócitos TCD8 (0,76 ± 0,77) e TCD4 (0,24 ± 0,25), comparados às culturas PHA. Deve-se ressaltar que a redução da proliferação pelo extrato na maior concentração testada (25 μg/mL) foi de 4,6; 4,4 e 6,6 vezes para os linfócitos, linfócitos T CD4 e linfócitos T CD8, respectivamente. Além disso, esse efeito foi devido à presença do extrato nas culturas, já que o controle do solvente DMSO não teve efeito sobre a proliferação de linfócitos. 77 LINFÓCITOS A 4 3 * 2 * * 1 0 B LINFÓCITOS T CD8 Índice de Proliferação (%) Índice de Proliferação 5 4 3 * * 2 * 1 0 C LINFÓCITOS T CD4 Índice de Proliferação 4 3 2 * * 1 0 PHA (5 μg/mL) - + + + + + + DE (μg/mL) - - - 6,25 12,5 25 - DMSO (0,5%) - - + - - - - DEXA (8 μg/mL) - - - - - - + Figura 22. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) sobre a proliferação de linfócitos. PBMC foram incorporadas com VPD450 e incubadas por 5 dias na ausência e na presença de PHA e tratadas com extrato DE de E. crinitum nas concentrações 6,25 µg/mL; 12,5 µg/mL ou 25 µg/mL. Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão do índice de proliferação de linfócitos (A) e das subpopulações 78 linfocitárias T CD8 (B) e T CD4 (C) (n = 8). Como controle de inibição foi utilizado Dexametasona (DEXA). * Diferença em relação ao grupo PHA, p ≤ 0,05. Método estatístico utilizado – ANOVA seguida de Tukey. Além disso, verificamos que o extrato DE, por si só, não apresenta efeito mitogênico, tendo em vista que em culturas tratadas com o extrato sem estímulo com PHA não houve aumento na resposta proliferativa dos linfócitos e das subpopulações, conforme dados dos índices de proliferação demonstrados na Tabela 9. Tabela 9. Índice de proliferação para linfócitos e suas subpopulações em culturas não estimuladas com PHA. Índice de Proliferação (%) Culturas Linfócitos Linfócitos T CD4 Linfócitos T CD8 Controle 0,051 ± 0,074 0,034 ± 0,079 0,035 ± 0,079 DMSO 0,023 ± 0,017 0,007 ± 0,004 0,005 ± 0,004 DE 25μg/mL 0,015 ± 0,009 0,007 ± 0,004 0,007 ± 0,004 DE 12,5 μg/mL 0,020 ± 0,007 0,007 ± 0,004 0,005 ± 0,004 DE 6,25 μg/mL 0,015 ± 0,005 0,007 ± 0,004 0,005 ± 0,004 Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão. Diferenças significativas foram consideradas quando p ≤ 0,05 (ANOVA com post hoc de Tukey, para dados com distribuição simétrica; Kruskal-Wallis com post hoc de Dunns, para variáveis com distribuição assimétrica). 7.6 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de IL-2 por linfócitos humanos Tendo em vista que a proliferação de linfócitos em resposta a um estímulo requer a produção da citocina IL-2 por linfócitos ativados e que o extrato DE inibiu a proliferação celular estimulada pelo mitógeno PHA, foi feita a investigação do efeito do extrato sobre a produção de IL-2. A Figura 23 apresenta os níveis de IL-2 detectados em culturas estimuladas com PHA e tratadas com o extrato DE em diferentes concentrações. Os dados demonstram que o extrato reduziu significativamente os níveis de IL-2, novamente de forma dose-dependente, nas culturas tratadas com 12,5 μg/mL (28,01 ± 7,95 pg/mL) e 25 μg/mL (17,02 ± 4,04 pg/mL) comparado às culturas tratadas apenas com PHA (58,77 ± 15,70 pg/mL). Também houve diferença estatisticamente significante para a redução de IL-2 em culturas tratadas com Dexametasona (6,53 ± 10,73 pg/mL) comparado ao PHA. Já o solvente DMSO não foi capaz 79 de inibir a produção desta citocina (DMSO: 39,79 ± 15,7 pg/mL), mostrando que o efeito foi devido à presença do extrato. RESULTADO curva menor 100 IL-2 (pg/mL) IL-2 (pg/mL) 80 60 * 40 * * 20 0 PHA (5 μg/mL) - + + + + + + DE (μg/mL) - - - 6,25 12,5 25 - DMSO (0,5%) - - + - - - - DEXA (8 μg/mL) - - - - - - + Figura 23. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) sobre a produção de IL-2. PBMC foram incubadas por 36 horas na ausência e na presença de PHA e tratadas com extrato DE de E. crinitum nas concentrações 6,25 µg/mL; 12,5 µg/mL ou 25 µg/mL. IL-2 foi quantificada por ELISA e os resultados estão expressos como média ± desvio padrão dos níveis de IL-2 produzidos por linfócitos (n = 6). Como controle de inibição foi utilizado Dexametasona (DEXA). * Diferença em relação ao grupo PHA, p ≤ 0,05. Método estatístico utilizado – ANOVA seguida de Tukey. 7.7 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a produção de TNF-α e IFN-γ por linfócitos humanos A análise do efeito do extrato DE sobre a produção das citocinas pró-inflamatórias TNF-α e IFN-γ por linfócitos humanos constituiu outra forma de investigar uma possível atividade imunomoduladora dessa planta (Figura 24). Os dados mostram que nas culturas tratadas com o extrato DE não houve alteração do percentual de linfócitos que produziram TNF-α (Figura 24A), bem como IFN-γ (Figura 24B). A Dexametasona, utilizada como controle de inibição, reduziu de forma significativa o percentual de linfócitos positivos para TNF-α (13,6 ± 6,92%) quando comparado às culturas tratadas apenas com PMA (35,8 ± 8,76%). Da mesma forma, esse fármaco reduziu significativamente o percentual de linfócitos positivos para IFN-γ (18,00 ± 9,63%), quando comparado à cultura PMA (36,63 ± 8,64%). 80 A TNF-α 50 40 30 * 20 % Linfócitos Citocina + 10 0 B IFN-γ 50 40 * 30 20 10 0 PMA (25 ng/mL) - + + + + + + DE (μg/mL) - - - 12,5 25 50 - DMSO (1%) - - + - - - - DEXA (8 μg/mL) - - - - - - + Figura 24. Efeito do extrato diclorometano-etanólico de E. crinitum (DE) sobre o percentual de linfócitos TNF-α+ (A) e de linfócitos IFN-γ+ (B). Alíquotas de sangue total periférico foram incubadas por 4 horas na ausência e na presença de PMA e ionomicina e tratadas com extrato DE de E. crinitum nas concentrações 12,5; 25 e 50 µg/mL. As citocinas foram analisadas intracelularmente por citometria de fluxo. Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão do percentual de linfócitos citocina+ para n = 8. Como controle de redução da expressão de citocinas foi utilizado Dexametasona (DEXA). * Diferença em relação ao grupo PMA, p ≤ 0,05. Método estatístico utilizado – ANOVA seguida de Tukey. 81 7.8 Efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre a expressão de COX-2 A análise do efeito do extrato DE sobre a expressão da enzima COX-2 por monócitos humanos representou outra forma de investigar a possível ação anti-inflamatória dessa planta. Essa análise foi realizada pela intensidade média de fluorescência (IMF), que permite correlacionar o sinal fluorescente emitido pela célula com a densidade da enzima presente no seu interior. A avaliação da IMF para a COX-2 em monócitos (Figura 25) demonstrou que a estimulação com LPS aumentou 67,85 vezes a expressão de COX-2 por monócitos em cultura de sangue total em relação às culturas não estimuladas (controle: 1,15 ± 1,97%; LPS: 78,03 ± 6,63%). Porém o tratamento simultâneo com o extrato DE nas diferentes concentrações testadas não reduziu tal expressão (DE 12,5 μg/mL: 77,4 ± 11,74%; DE 25 μg/mL: 74,18 ± DE EC 7,36%; DE 50 μg/mL: 77,75 ± 13,75%) quando comparadas às culturas tratadas apenas com LPS. Intensidade Média de Fluorescência 100 80 60 40 20 0 S LP+ DE (μg/mL) -N CO - DMSO (1%) - - LPS (2 μg/mL) - D SO M P+S +L D + E S LP+ 5+ , 12 12,5 - P+S +L E 25 D 25 - S P+ +L E 50 D 50 - Figura 25. Análise da intensidade média de fluorescência (IMF) de monócitos COX-2+. Alíquotas de sangue total periférico foram incubadas por 4 horas na ausência e na presença de LPS e tratadas com extrato DE de E. crinitum nas concentrações 12,5; 25 e 50 µg/mL. A COX-2 foi analisada intracelularmente por citometria de fluxo. Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão para n = 5. Diferença em relação ao grupo LPS foi considerada significativa quando p ≤ 0,05. Método estatístico utilizado – ANOVA seguida de Tukey. 82 8 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A Eriosema crinitum é uma espécie comumente encontrada no Cerrado e é utilizada pela população do Vale do Alto Jequitinhonha para tratamento de condições inflamatórias. Porém, nenhuma informação científica está disponível no que tange a quaisquer tipos de estudos: químicos, biológicos e/ou de toxicidade para essa planta. Dessa forma, inicialmente, realizamos uma triagem fitoquímica seguida de uma análise por CLAE-DAD para caracterizar as principais classes de metabólitos secundários presentes na planta. Em seguida, avaliamos a toxicidade do extrato de raízes de E. crinitum sobre células sanguíneas para identificarmos as concentrações que seriam utilizadas nos ensaios para a investigação de uma possível atividade anti-inflamatória dessa planta. A análise por CLAE-DAD permitiu detectar a presença das subclasses de flavonoides flavona e flavonol no extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum. Esse resultado está de acordo com a triagem fitoquímica, realizada através de reações cromogênicas, fluorogênicas e de precipitação, que direcionou a análise dos espectros. Embora não existam estudos químicos anteriores para a E. crinitum, vários trabalhos que avaliaram outras espécies do gênero Eriosema apontaram substâncias da classe dos flavonoides como as responsáveis pela atividade biológica apresentada por essas espécies. Vale ressaltar que alguns dos flavonoides isolados são moléculas inéditas, tais como as Kraussianonas 1 a7, presentes nas raízes de E. kraussianum (DREWES et al., 2002; DREWES et al., 2004), as Erioschalconas A e B isoladas a partir de E. glomerata (AWOUAFACK et al., 2008), as Robusflavonas A e B extraídas de partes aéreas de E. robustum (AWOUAFACK, TANE E ELOFF, 2013) e os khonklonginols A-H isolados nas raízes de E. chinense (SUTTHIVAIYAKIT et al., 2009). Dessa forma, a possibilidade de que os flavonoides detectados no extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sejam também moléculas inéditas, reforça a necessidade de estudos que busquem identificar a estrutura das mesmas e constitui uma primeira perspectiva do nosso trabalho. Tendo em vista que, dentre as substâncias presentes em extratos vegetais, podem existir aquelas com ações tóxicas que induzem morte celular (VEIGA JÚNIOR, PINTO e MACIEL, 2005), os primeiros ensaios realizados nesse estudo buscaram avaliar a toxicidade do diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum sobre hemácias e células mononucleares do sangue periférico. No teste de atividade hemolítica, a hemoglobina liberada no meio após a ruptura de eritrócitos provocada por uma substância tóxica é detectada pela leitura de 83 absorbância do sobrenadante da cultura (MONTAGNER, 2007). Por meio do teste de atividade hemolítica, observou-se que o extrato na concentração de 100 μg/mL apresentou atividade hemolítica maior que 80%, sendo que na concentração de 50 μg/mL, o percentual de hemólise foi menor que 20%, ou seja, um valor baixo que não comprometeria as culturas celulares de sangue total. A análise de toxicidade sobre PBMC foi realizada pelo método de exclusão com azul de Tripan (TENNANT, 1964; SONG et al., 2012; ZANATTA et al., 2012), onde células que perderam a integridade da membrana retêm o corante no citoplasma enquanto as células vivas permanecem não coradas (TENNANT, 1964). Observamos que para 24 horas de cultura, somente na concentração de 100 μg/mL o extrato mostrou-se tóxico, sendo que quando o tempo de cultura foi de 5 dias, as células perderam a viabilidade quando tratadas com o extrato nas concentrações de 100 μg/mL e 50 μg/mL. Assim, nas culturas de análise do efeito do extrato sobre a produção de citocinas e sobre a expressão de COX-2, em que o sangue total é incubado por 4 horas na presença do extrato, utilizamos as concentrações iguais ou inferiores a 50 μg/mL. Por outro lado, na avaliação da proliferação celular, em que PBMC são mantidas em contato com o extrato durante cinco dias, as concentrações finais do extrato nas culturas foram iguais ou inferiores a 25 μg/mL. Os dados de citotoxidade mostrados aqui podem ser utilizados em investigações futuras e servem de ponto de partida para aqueles estudos que visem avaliar a ação dos constituintes ativos do extrato de E. crinitum sobre parâmetros sanguíneos e que necessitam da confecção de culturas de sangue total ou de células mononucleares do sangue periférico humano (PBMC). A inflamação é um processo complexo que envolve a ativação de células do sistema imune e a produção de mediadores inflamatórios, como as citocinas, que atuam amplificando a resposta inflamatória. Nesse estudo, como parte da investigação da possível atividade antiinflamatória de E. crinitum, foi avaliado o efeito do extrato diclorometano-etanólico de raízes dessa planta sobre a produção das citocinas pró-inflamatórias TNF-α e IFN-γ por linfócitos estimulados com PMA. Os resultados indicaram que o extrato não diminuiu a produção de TNF-α e de IFN-γ. No entanto, por se tratar de um estudo com o extrato bruto, o qual apresenta um perfil complexo de substâncias, comprovado pela análise em CLAE-DAE, é possível que a investigação de frações do extrato, ou até de substâncias isoladas, leve à obtenção de resultados diferentes dos encontrados, pois a concentração de constituintes ativos 84 do extrato em uma determinada fração poderia resultar na redução do número de moléculas interferentes que não contribuem para o efeito anti-inflamatório da planta. Além disso, devemos considerar que existem outras citocinas importantes na manutenção do processo inflamatório e que não foram avaliadas nesse estudo, tais como IL-1, IL-6, IL-12 e IL-17, as quais podem ter sua produção inibida pelo extrato. Em relação às citocinas que atuam de forma a modular a resposta imune, como por exemplo, IL-10 e TGF-β, a indução do aumento na produção dessas citocinas consiste de outro mecanismo pelo qual o extrato poderia exercer seu efeito anti-inflamatório. Com relação à enzima ciclooxigenase 2 (COX-2), uma isoforma produzida por células relacionadas ao processo inflamatório, e responsável pela produção de PGE2, um poderoso mediador inflamatório, sua análise consiste de um importante alvo para drogas antiinflamatórias, tais como os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES) (RUITENBERG; WATERS, 2003). No presente estudo, o extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum não diminuiu a expressão de COX-2 induzida por LPS em monócitos do sangue periférico humano. No entanto, a expressão proteica pode não se correlacionar com a atividade enzimática e os resultados aqui apresentados não significam que a planta não tenha atividade inibidora de COX. A análise da inibição da atividade de COX-2, medida pela diminuição na produção de PGE2, poderia apresentar-se como uma forma adicional para avaliar a função anti-inflamatória do extrato sobre essa via enzimática. O achado principal desse trabalho, em relação à investigação da atividade antiinflamatória do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum, foi a capacidade de o extrato inibir a resposta proliferativa de linfócitos e de suas subpopulações T CD4 e T CD8 em culturas estimuladas com fitohemaglutinina (PHA). A PHA é uma lectina presente em Phaseolus vulgaris e tem forte ação mitógena sobre linfócitos T através da interação com os carboidratos presentes nos receptores para antígenos dessas células, dessa forma ativando e induzindo a proliferação dos linfócitos humanos, in vitro (NOWELL, 1960; KANELLOPOULOS et al., 1985). O efeito antiproliferativo do extrato apresentou-se de forma dependente da dose, ou seja, o índice de proliferação decresceu nas culturas tratadas com o extrato da menor para a maior concentração. Comparada ao fármaco Dexametasona, a eficácia do extrato em inibir a proliferação foi de 71,65% e 53,14% para os linfócitos T e linfócitos T CD4, respectivamente. Para os linfócitos T CD8, o extrato mostrou eficácia de 167,94%, ou seja, o efeito antiproliferativo sobre essas células foi maior que aquele apresentado pela Dexametasona. 85 Além disso, verificou-se que a ação antiproliferativa exercida pelo extrato sobre os linfócitos T foi devido à redução dos níveis da citocina IL-2, sendo que a eficácia em relação à Dexametasona foi de 38,33%. Assim, podemos sugerir que parte da atividade antiinflamatória atribuída à E. crinitum na medicina popular pode ser devida à ação dos constituintes químicos presentes na planta sobre a ativação de linfócitos T. Dessa forma, outra perspectiva seria a busca de frações ativas do extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum para investigações de possíveis vias de sinalização e fatores de transcrição envolvidos na redução da citocina IL-2. A expressão dessa citocina envolve, principalmente, a ativação do fator de transcrição NF-kB. O reconhecimento do antígeno pelo complexo receptor de linfócito T/CD3 juntamente com estímulos coestimulatórios iniciam a ativação da via de sinalização de NF-kB, sendo esse fator de transcrição essencial para a proliferação de células T, produção de citocinas e o desenvolvimento de respostas imunes mediadas por células (GAO et al., 2009). Os flavonoides, classe de substâncias presentes no extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum, tem sido apontados como responsáveis pela inibição da proliferação de linfócitos em outros estudos e tal efeito esteve associado à redução dos níveis de IL-2 em culturas celulares (BROCHADO et al., 2003; KOVAČEVIĆ et al., 2006; CHANG et al., 2008; GAO et al., 2009). A inibição da produção de IL-2 é um mecanismo de ação central de vários imunossupressores como a Ciclosporina A, a qual atua inibindo a transcrição de IL-2 de linfócitos T (SCHREIBER; CRABTREE, 1992). No presente estudo, além da redução dos níveis de IL-2, foi possível identificar que o extrato diclorometano-etanólico de raízes de E. crinitum teve maior efeito inibitório sobre a resposta proliferativa da subpopulação linfocitária T CD8, sendo mais eficaz que o fármaco Dexametasona. As células T CD8, quando ativadas, se diferenciam em células T citotóxicas, as quais tem papel importante na proteção contra infecções virais, câncer e rejeição do transplante de órgãos (GAO et al., 2009). De acordo com nossos resultados, o extrato parece apresentar um forte efeito inibidor, principalmente sobre a proliferação de células T citotóxicas, e pode apresentar-se como uma fonte natural promissora para o desenvolvimento de novos fármacos efetivos em doenças de natureza inflamatória-degenerativa mediadas por células T, bem como na obtenção de novas moléculas úteis na prevenção da rejeição de transplantes de órgãos. 86 9 CONCLUSÃO A avaliação química preliminar do extrato diclorometano-etanólico de raízes de Eriosema crinitum indicou que esse extrato possui perfil complexo quanto à sua composição e sugere a presença de substâncias das subclasses dos flavonoides: flavona e flavonol, as quais podem ser responsáveis, pelo menos em parte, pela atividade biológica do extrato. Em relação à investigação da possível atividade anti-inflamatória de raízes de E. crinitum, os dados sugerem um efeito inibidor do extrato diclorometano-etanólico de raízes dessa espécie sobre a resposta proliferativa de linfócitos e suas subpopulações T CD4 e T CD8, sendo que esse efeito parece estar associado à inibição na produção da citocina IL-2. Esses achados abrem perspectivas para a realização de uma análise química mais detalhada, buscando identificar as substâncias presentes no extrato, bem como para investigações adicionais, partindo do fracionamento do extrato, a fim de caracterizar os constituintes ativos e verificar as vias intracelulares envolvidas na atividade biológica de raízes de E. crinitum. Diante do exposto, os resultados obtidos permitem explicar parte dos atributos terapêuticos da planta na medicina popular, sendo importante mencionar que, mediante busca na literatura, esse trabalho fornece uma contribuição inédita em relação à caracterização química e atividade biológica da espécie E. crinitum. 87 REFERÊNCIAS ALBANESI, C.; FAIRCHILD, H.R.; MADONNA, S.; SCARPONI, C.; PITÀ, O.; LEUNG, D.Y.M.; HOWELL, M. D. IL-4 and IL-13 Negatively Regulate TNF-α and IFN-γ Induced βDefensin expression through STAT-6, Suppressor of Cytokine Signaling (SOCS)-1, and SOCS-3. Journal of Immunology, v.179, p. 984-992, 2007. ALMEIDA, V.G. Efeito citotóxico e potencial anti-inflamatório de Pseudobrickellia brasiliensis (Spreng) R, M. King & H. Rob (arnica-do-campo) em células mononucleares do sangue periférico humano, in vitro. 2012. 72fl. Mestrado Multicêntrico em Ciências Fisiológicas – Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina, 2012. ALVES, F. M. 2008. 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Você está sendo convidado a participar desse estudo por ter idade entre 20 e 39 anos e por não estar tomando remédios. Se você concordar em participar do estudo iremos coletar (tirar) um pouco de seu sangue (15 mL) na veia do braço (da mesma maneira que é coletado quando você faz algum exame de sangue), em dia e horário a combinar. No laboratório vamos fazer testes com seu sangue usando a planta Erva Baleeira e o que sobrar do sangue não será guardado, sendo descartado com todo o cuidado. A coleta do sangue será feita em uma veia de seu braço, podendo causar uma leve dor na hora e uma pequena mancha roxa que desaparecerá em 3 a 4 dias após a coleta. Outros riscos mais raros (não é comum acontecer) de sua participação incluem tontura, enjôo e de contaminação. A coleta será feita por pessoa treinada, em local limpo e reservado, equipado com maca, utilizando material estéril e descartável. Ao doar seu sangue para este projeto você estará contribuindo para os conhecimentos sobre esta planta que é utilizada na medicina popular. Os seus dados serão mantidos em sigilo (segredo) e sua identidade não será revelada. Só os pesquisadores envolvidos no projeto terão acesso aos dados, que serão utilizados apenas para fins de pesquisa e divulgação científica em congressos, livros e revistas, mas sua identidade não será divulgada. Você não receberá qualquer forma de remuneração (pagamento) pela sua participação no estudo e você não terá nenhum gasto (portanto, não está previsto nenhuma forma de ressarcimento). Quaisquer dúvidas que possam surgir durante o andamento deste estudo por parte do voluntário poderão ser esclarecidas junto aos membros da equipe responsáveis pelo projeto, pessoalmente ou por telefone. Se depois de autorizar a coleta, você não quiser que seu sangue seja usado, tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da coleta do sangue, independente do motivo e sem prejuízo na sua relação com os pesquisadores e a UFVJM. Os pesquisadores responsáveis por este projeto podem decidir sobre a sua exclusão do estudo por razões 98 científicas, a respeito das quais você deverá ser devidamente informado. Em caso de qualquer dúvida você deverá e/ou poderá entrar em contato a qualquer hora com a pesquisadora responsável Michaelle Geralda dos Santos pelo telefone (38)9977-9991 ou pelo e-mail [email protected]. Você também poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da UFVJM no Campus JK, Rodovia MGT 367, Km 583, nº 5000, Alto da Jacuba, CEP 39100-000 Diamantina – MG, telefone: (38) 3532- 1240 ou pelo e-mail [email protected] para informações sobre a aprovação do projeto pelo comitê. Termo de livre consentimento pós-informado Eu discuti os riscos e benefícios da minha participação no estudo intitulado “Avaliação da atividade imunomoduladora do diclorometano-etanólico de Eriosema crinitum (Kunth) G. Don (Leguminosae)” com os pesquisadores envolvidos. Eu li e compreendi todos os procedimentos que envolvem esta pesquisa e tive tempo suficiente para considerar a minha participação no estudo. Eu perguntei e obtive as respostas para todas as minhas dúvidas. Eu sei que posso me recusar a participar deste estudo ou que posso abandoná-lo a qualquer momento sem qualquer constrangimento ou prejuízo. Eu também compreendo que os pesquisadores podem decidir a minha exclusão do estudo por razões científicas, sobre as quais eu serei devidamente informado. Não terei nenhuma remuneração e nenhum gasto por participar do projeto. Tenho uma cópia deste formulário, o qual foi assinado em duas vias idênticas e rubricadas. Portanto, aqui forneço o meu consentimento para participar do estudo intitulado “Avaliação da atividade imunomoduladora do diclorometano-etanólico de Eriosema crinitum (Kunth) G. Don (Leguminosae)”, durante todos os testes realizados. Diamantina, Assinatura do voluntário: Testemunha: 99 Testemunha: Declaro que expliquei todos os objetivos, benefícios e riscos deste estudo ao voluntário, dentro dos limites de meus conhecimentos científicos. Pesquisador responsável: Michaelle Geralda dos Santos (38) 9977- 9991 [email protected] Comitê de Ética em Pesquisa da UFVJM Campus JK – Rodovia MGT 367 – Km 583 – nº 5000 – Alto da Jacuba CEP: 39.100-000 Diamantina - MG Coordenação: Profa. Dra. Thais Peixoto Gaiad Machado Vice-coordenação: Profa. Dra. Rosamary Aparecida Garcia Stuchi Secretária: Dione Conceição de Paula Telefone: (38) 3532-1240/3532-1200 E-mail: [email protected]