LAZER E POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DO MEIO RURAL NA

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INSTITUTO DE GEOGRAFIA – IG
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II ENCONTRO DE GRUPOS DE PESQUISA
LAZER E POTENCIALIDADES TURÍSTICAS DO MEIO RURAL NA REGIÃO
SERRANA CATARINENSE: o exemplo do município de Urubici
Walquíria Krüger Corrêa i
Rafaella Krüger Corrêa ii
Resumo
Este trabalho objetivou conhecer e analisar as atividades de lazer e as potencialidades
turísticas no ambiente rural, bem como suas possibilidades de desenvolvimento na Região
Serrana de Santa Catarina, usando como exemplo o município de Urubici. Constatou-se que
a área em questão possui recursos naturais e culturais singulares, possibilitando o
desenvolvimento de várias atividades econômicas, entre elas o lazer e o turismo. O turismo
rural não constitui a solução para os problemas que afetam as atividades agropecuárias.
Mesmo assim, o rural vem desempenhando novas funções econômicas e, seu patrimônio
natural é a nova “mercadoria” simbólica crescentemente procurada e valorizada pela
população urbana. Torna-se então vital, a adoção de políticas públicas buscando a
manutenção da qualidade ambiental e a preservação das belezas cênicas do lugar.
Palavras Chave: Turismo, Lazer, Espaço Rural.
INTRODUÇÃO
O espaço rural brasileiro possui notável potencial turístico que está evidenciado,
principalmente, na diversidade de paisagens e de patrimônios históricos sócio-culturais.
Nos últimos anos, estes elementos estão sendo (re)valorizados, surgindo, com isso, novas
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configurações espaciais e territoriais, estabelecidas por forças hegemônicas (econômicas e
políticas). Este fenômeno é resultado de novas relações entre o espaço urbano e o rural em
diferentes dimensões e escalas.
Neste estudo, se procurou evidenciar as múltiplas dimensões do espaçoiii rural e,
como ele vêm respondendo as novas demandas da sociedade. Admite-se que o patrimônio
natural e o cultural são atributos específicos de cada lugar e que se encontra em curso um
processo de valorização do ambiente rural. Todavia o que está sendo questionado é se a
crise que incide sobre a economia dos municípios alicerçados em atividades agropecuárias
pode ser resolvida com a atividade turística.
Este ensaio pretende contribuir para o debate a cerca da emergência de atividades
não agrícolas no meio rural, usando como base o turismo e o lazer. Neste sentido, torna-se
importante desvendar as potencialidades e o papel destas atividades no desenvolvimento
econômico local.
No estado de Santa Catarina, o Planalto Sul, conhecido como Região Serrana, com
tradição agropecuária, é dotado com paisagens de rara beleza, clima de montanha e cultura
campeira, que representam potenciais de grande valor para o desenvolvimento de atividades
relacionadas ao lazer e ao turismo. Inserido-se neste contexto, o município de Lages
implanta, em 1986, o turismo rural, experiência pioneira que lhe confere o rótulo de
“capital do turismo rural” no território nacional. As iniciativas multiplicam-se em todo pais,
particularmente nos Estados da Região Centro Sul, alcançando, mais recentemente Urubici,
também localizado na Serra Catarinense. Este município, integra-se ao circuito turístico da
região que explora a rota do frio e dos “campos de cima da serra”. Assim,, o presente
trabalho objetivou analisar as potencialidades turísticas e de lazer no espaço rural
urubiciense, bem como as possibilidades de seu desenvolvimento no âmbito local/regional.
Os resultados apresentados conjugam, além de pesquisa bibliográfica
sobre o tema e a área de pesquisa, observações de campo e entrevistas com os
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proprietários dos meios de hospedagem (Corrêa, 2002) e funcionários da
administração pública municipal (2005).
Na área objeto de estudo, observa-se que o espaço rural está assumindo novas
funções econômicas, seu patrimônio paisagistico e cultural, desponta como uma nova
“mercadoria” simbólica que vem sendo crescentemente valorizada e consumida pela
população urbana. A atividades relacionadas a turismo e lazer no espaço rural, no
município em questão, envolvem principalmente a população residente no centro urbano e,
empreendedores externos. Mesmo assim, tais práticas requerem novos objetos técnicos,
altera-se a configuração sócio-espacial local, contribuindo para dinamizar e revitalizar a
economia em diferentes escalas.
MUNDO RURAL, TURISMO E LAZER: ALGUMAS REFLEXÕES
Nas últimas décadas, novos contornos políticos organizados em escala planetária,
associados usualmente à expressão globalização, segundo Santos (1999, p.9), “estão
criando um verdadeiro novo mundo, do qual um dos aspectos marcantes são as novas
configurações espaciais”.
Sem pretender entrar na polêmica conceitual da globalização, aceita-se a premissa
de que o desenvolvimento local/regional não é incompatível com a globalização financeira,
como assinala Azevedo Lopes (2002). Este fenômeno, bem administrado pelo capital, vem
abrindo, no
período
recente,
múltiplas
possibilidades
para
aproveitamento
de
potencialidades naturais e sociais no espaço rural.
O mundo rural brasileiro com suas amenidades diferenciadas, participa do ambiente
de reestruturação produtiva e da diversificação de atividades promovida pelo sistema
capitalista, que opera desigualmente no espaço geográfico. Em que pese os efeitos
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positivos, a modernização agrícola, difundida no território nacional nas últimas décadas,
deixa um lastro negativo expresso em diversos indicadores relacionados a aumento da
concentração de terras, desemprego, pobreza, degradação ambiental, com agravantes não só
no campo, mas também nas cidades.
No mesmo período, o setor industrial também se reestrutura reduzindo as
oportunidades de ocupação da mão de obra no meio urbano. Os impactos sócio-espaciais
deste fenômeno, são registrados em todos os lugares, porém, apresentam-se mais
dramáticos nos países em vias de desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
Reconhece-se que o espaço rural possui especificidades, resultantes da formação e
evolução sócio-espacial, ecológica, cultural e política. Esses elementos em conjunto,
possibilitam reconstruir a história e os diferentes estágios do desenvolvimento do modo de
produção capitalista. Nesta perspectiva,, como bem assinala Wanderley (2000), o rural deve
ser concebido não apenas como espaço físico (território ocupado e seus símbolos), mas
como lugar onde se vive e onde se vê o mundo.
É importante salientar que o rural por ser também espaço sócio-econômico e
histórico, vem se ajustando não só ao contínuo crescimento do espaço urbano, mas também,
às demandas do mercado e aos avanços técnicos de todos os tempos. Por isso, como bem
assinala Galvão (1995), o entendimento da organização e da dinâmica do espaço agrário,
deve ser buscado fora de seus próprios limites, ou seja, nas relações com a cidade e por
meio dela, com os vários vetores da economia e da sociedade em diferentes escalas.
A processualidade do modo de produção capitalista vem difundindo, no período
recente, novas tecnologias e informações. Como o rural numa determinada escala
representa uma fração do espaço geográfico, suas formas naturais, juntamente com o meio
técnico científico informacional, emergem como possibilidades para o trabalho humano.
Assim, em meio a várias ações que envolvem um complexidade de relações, o rural
incorpora novas atividades como é, por exemplo, o caso do turismo e do lazer.
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A semelhança do que ocorreu nos países europeus, em algumas regiões do Brasil o
rural também apresenta novas atividades econômicas, agropecuária tradicionais, vêm
deixando de responder pela manutenção do emprego no meio rural. No processo, as
práticas sociais e econômicas vão sendo redefinidas, constituindo-se uma dinâmica
marcada fundamentalmente pela multiplicação de atividades agrícolas e não agrícolas
indicando, na expressão de Graziano da Silva (1999), a constituição de um “novo” rural.
Mas é Alentejano (2000 p.102), que melhor expressa o teor das mudanças quando assim se
manifesta: “ [...] apesar das inegáveis transformações sociais e econômicas, o rural nunca
deixou nem deixará de existir, apenas teve e está tendo seu significado alterado”.
Os municípios da Região Serrana Catarinense, também participam deste contexto.
Com tradição nas atividades agropecuárias, a área em questão possui recursos naturais e
culturais singulares podendo favorecer o desenvolvimento de atividades relacionadas ao
lazer e ao turismo.
A literatura nacional e internacional que aborda o turismo no espaço rural indica que
esta atividade econômica é relativamente nova e apresenta diversas características
indicando que existe diferentes possibilidades para seu desenvolvimento.
O leque de atividades associadas a lazer/turismo rural é amplo e elas sofrem
variações de acordo com as potencialidades de cada lugar. No Brasil e, particularmente nos
Estados do Centro Sul, destacam-se: caminhadas, esportes na natureza, festivais, rodeios e
shows regionais, contemplação de paisagens cênicas (fauna, flora e relevo), artesanato,
sítios e condomínios rurais, considerados como segunda residência, dentre outros.
Diante deste rol de atividades, o turismo no espaço rural engloba modalidades
específicas como: ecoturismo, turismo verde, turismo cultural, turismo esportivo,
agroturismo, e turismo de aventura. Estas segmentações não são excludentes mas
complementares entre si e elas vem se desenvolvendo na Região Serrana Catarinense.
A diversidade de atividades se reflete nos conceitos sobre turismo/lazer no espaço
rural produzindo ambivalência e polissemia nos enunciados, conforme assinala Rodrigues
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(2001). Não se tem a pretensão de entrar no mérito da polêmica conceitual, mas é
importante registrar que lazer/turismo são fenômenos são complexos, se processam e
envolvem
diversos
condicionantes
(sócio-econômicos
e
políticos),
produzindo
transformações sócio-espaciais diferenciadas.
Considerando os objetivos propostos para esta pesquisa, torna-se necessário
explicitar o que se entende por turismo no espaço rural. Apoiando-se na concepção de
Graziano da Silva, Vilarinho e Dale (1998), no presente estudo iremos utilizar os termos
turismo em áreas rurais ou turismo no espaço rural como sinônimo para englobar tanto as
atividades que se desenvolvem no interior das propriedades, como também o lazer que se
faz na zona rural, fora das propriedades.
A atividade turística é permeada por um conjunto de relações ou seja, conta com a
participação de diversos agentes, envolve a dimensão local-global articulando de forma
crescente os espaços rurais e urbanos. Nesta perspectiva, como bem assinala Veiga (2002),
o mundo rural tende a ser cada vez mais valorizado pela população urbana por tudo o que
se opõe ao artificialismo das cidades, sobressaindo-se paisagens silvestres ou cultivadas,
água limpa, ar puro e silêncio.
Já a origem do lazer, e dos espaços destinos a ele, de acordo com Mendes (1996
p.75), “(...) decorrem de uma necessidade presente nos indivíduos de se desligarem do local
da produção ou da moradia para usufruir do tempo livre”. Cabe então destacar, que existe
uma infinidade de atividades que podem ser enquadradas na prática do lazeriv. Neste
contexto, o tempo de “não trabalho”, ou seja, o tempo livre destinado para a realização
pessoal, também pode ser utilizado para viagens, encontros, diversão, esporte, estudo,
descanso, ou ainda, para desenvolver a sua formação de modo descontraído.
O interesse e a procura pelo meio rural tem aumentado de forma notável nos últimos
anos, ampliando-se cada vez mais, a medida em que a população se urbaniza
(RODRIGUES, 2001). Vale salientar, que as atividades turísticas e de lazer podem se
desenvolver de forma complementar ou independente das atividades agropecuárias
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(pequenas e grandes propriedades), envolver produtores rurais ou empreendedores urbanos
Em que pese as diferenças, em qualquer modalidade se constituem novos arranjos
produtivos indicando a plurifuncionalidade do espaço rural.
A atividade turística requer investimentos em infra-estrutura de meios de
hospedagens e de lazer. Como se sabe, estes objetos técnicos juntamente com o quadro
sócio ambiental, caracterizam os lugares turísticos e podem favorecer o seu
desenvolvimento. Neste contexto, o turismo passa a ter papel fundamental na produção do
espaço e na valorização do rural, podendo também melhorar a condição de vida da
população local. Entretanto, para que as comunidades possam usufruir dos benefícios
gerados pela atividade turística, torna-se necessário preservar não apenas os atrativos
naturais, mas também a cultura da população local.
Em função disso, como outros empreendimentos econômicos, as atividades
relacionadas a lazer/turismo, também requerem apoio do poder público em diferentes
escalas, principalmente no que diz respeito a melhoria da infra-estrutura viária, divulgação,
elaboração de normas para regulamentar a atividade, bem como a sua fiscalização.
Portanto, seu desenvolvimento deve estar alicerçado na interação de diferentes atores, tanto
público quanto privado, envolvendo as escalas local/regional, nacional/global.
RESULTADOS/ DISCUSSÃO
O município de Urubici está localizado no Planalto Sul de Santa Catarina e integra a
Microrregião dos Campos de Lages, constituída por 18 municípiosv. Distante 180 Km de
Florianópolis, Urubici possui uma área correspondente a 1.017,5 km2. O relevo é
acidentado o que confere uma paisagem marcada por serras, morros e vales encaixados com
vertentes abruptas.
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Este município, assim como todo o Planalto Sul Catarinense, tem sua economia
alicerçada predominantemente nas atividades primárias. Urubici, possui a tradição agrícola
e as explorações familiares são numericamente dominantes e elas estão distribuídas ao
longo do vale do rio Canoas. Com estas características, a semelhança de outros lugares do
país, nas últimas décadas, as atividades agropecuárias incorporaram o modelo de
modernização tecnológico e seu território passou por transformações relevantes na estrutura
e na organização da produção como demonstrou Israel (1991). Em efeito, desenvolveramse especializações - fumo, hortaliças, maçã, leite e mel –, comercializados nos mercados
interno e externo.
Em que pese os efeitos positivos do modelo agrícola tecnológico difundido no
Brasil nas últimas décadas, sobretudo no que diz respeito ao aumento da produtividade,
com a crise financeira do Estado (pós 1980), os mecanismos (crédito subsidiado, garantia
de preços) criados para difundir a modernização na agricultura não foram sustentados,
desencadeando-se uma crise no setor agrícola. Se isto não bastasse, na década de seguinte,
com a política neoliberal e o Plano Real, agravaram-se os problemas relacionados a
agricultura.
O território urubiciense também foi afetado negativamente por estes fatos. Os
produtores rurais se descapitalizaram, a movimentação comercial das mercadorias oriundas
da zona rural reduziu, e os serviços e o comércio local perderam dinamismo. Não se pode
deixar de mencionar que até bem pouco tempo, a araucária considerada principal riqueza
econômica do Planalto Sul Catarinense e também de Urubici, havia estimulado a instalação
de numerosas serrarias que dinamizaram temporariamente a economia local/regional. Mas
esta atividade entrou em declínio e no final da década de 1980 se extinguiu. Com isso,
significativa parcela da população perdeu o emprego, restando como alternativa a
emigração e a busca de novas oportunidades de trabalho, no rural ou no urbano de outros
municípios, do Estado ou do País.
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Na década de 1990 a economia regional e a local, em particular, entrou em processo
de estagnação, sendo necessário encontrar novas oportunidades de emprego e de renda para
a população. Neste contexto, o turismo e o lazer emergiram como alternativas para
amenizar os problemas socio-econômicos da área.
De acordo com informações do secretário de turismovi, a prefeitura local em
conjunto com o SEBRAE, elaborou um projeto turístico que começou a ser implementado
em 1997. A primeira tarefa executada teve como marco o levantamento das potencialidades
naturais do município, sendo catalogados 42 pontos turísticos.
Considerando as características geológicas e geomorfológicas, o relevo do
município pode ser dividido em duas unidades que integram o Planalto Catarinense. Assim,
parte do território de Urubici integra o Planalto de Lages, em que o rio Canoas escavou um
vale bastante profundo, com exposição de arenitos, siltitos, argilitos. O restante integra o
Planalto Ocidental, também conhecido por Planalto Basáltico-Arenítico, na parte leste, em
que o relevo é marcado por uma escarpa abrupta, pertencente a Serra Geral, que recebe
denominações locais como Serra do Corvo Branco e Campo dos Padres. O relevo na porção
oeste forma paisagens que apresentam uma sucessão de patamares, conforme salientado por
Israel (1991).
A seqüência dos derrames basálticos sob a ação erosiva originou um cenário de rara
beleza natural. Aí encontram-se as maiores altitudes de Santa Catarina e do Brasil, sendo
destaque o Morro da Boa Vista, com 1.827 metros que serve de divisa com Bom Retiro.
Nessa seqüência encontra-se o Parque Nacional de São Joaquimvii, considerado uma das
mais expressivas áreas de preservação permanente no Sul do país. É importante notar que
aproximadamente 70% da área desta unidade de conservação encontra-se no território
urubiciense.
Nesse parque também encontra-se o Morro da Igreja, com 1.822 metros de altitude.
No seu topo, dentro do Parque São Joaquim, a aeronáutica instalou a base do Centro
Integrado da Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo – Cindacta –, que faz o
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monitoramento do espaço aéreo na região sul do Brasil. Com a instalação do radar, em
1987, o acesso ao pico foi facilitado pela pavimentação dos 16 km da estrada. De lá, em
dias de sol e céu azul, é possível contemplar o litoral sul, na altura de Laguna. Na mesma
área encontra-se a Pedra Furada, uma escultura da natureza que desponta da extensa cadeia
de montanhas, cânions, vales e nascentes dos rios Canoas e Pelotas, formadores da bacia do
Rio Uruguai.
Outra forma rochosa expressiva é o Morro do Campestre, onde a partir de seu topo e
através de uma fenda natural construída pela erosão nas rochas areníticas, avista-se o rio
Canoas, com seu traçado serpenteando o vale.
A especificidade do relevo aliada a posição geográfica de Urubici se reflete no
clima, que é marcado pela subtropicalidade. A temperatura média anual é de 14,3ºC, e
janeiro, o mês mais quente, apresenta uma média de apenas 18,6ºC; o mês de julho, a
temperatura média é de 8,7ºC, na estação meteorológica do município. Nas áreas com
maiores altitudes as temperaturas são ainda bem mais baixas. Portanto, nos meses de
inverno, quando as temperaturas atingem valores próximos de 0ºC ou mesmo valores
negativos, é comum a formação de geadas em todo o município e, ocasionalmente também
ocorre a formação de neve nas áreas mais elevadas.
Outros cenários naturais que merecem referência são as quedas d’água, com
destaque para a Cascata do Rio dos Bugres (aproximadamente 120 metros de altura),
Cascata Avencal (com cerca de 100 metros) e Cascata Véu de Noiva. Como potencial
turístico, ainda se sobressaem as Cavernas do Morro Pelado com inscrições rupestres e as
Cavernas do Rio dos Bugres.
Não se pode deixar de referenciar também o ponto onde está localizada a repetidora
de TV, na subida do Morro Avencal, no caminho para São Joaquim (SC - 430), onde daí se
tem uma vista panorâmica do centro urbano municipal.
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Este cenário natural exuberante representa um forte potencial para o turismo, mas os
fatores humanos não podem ser desconsiderados. Neste sentido, vale salientar que existem
poucos registros sobre a colonização do vale do Rio Canoas.
A história revela que no início do século XX, a notícia de terras férteis, propícias às
práticas agropecuárias chegou a colonos descendentes de imigrantes alemães e italianos,
instalados nas encostas das serras costeiras catarinense. Desde então, o território
urubiciense atraiu descendentes de luso-brasileiros, negros, alemães, italianos e letos.
Segundo dados do IBGE (2000), a população do município totaliza 10.230
habitantes. A heterogeneidade étnica dos urubicienses se expressa na variada gastronomia,
nas tradições ligadas às atividades agropastoris, festas religiosas, rodeios e a festa das
hortaliças (Fenahort).
O clima e a qualidade das águas favoreceram a implantação e
desenvolvimento de criação de trutas, representando atualmente o segundo maior
produtor deste tipo de pescado no Brasil. Além disso, destaca-se como pólo de
pesca esportiva e dela se envolvem também os municípios de Bom Jardim, Lages
e São Joaquim.
A atividade industrial é pouco expressiva com destaque para a Ervateira Urubici,
localizada no bairro Fetti, e a Sementeira Agro-industrial, instalada nas dependências do
antigo Mercado do Produtor, na sede do município, onde funcionam algumas agroindústrias
de pequeno porte relacionadas a laticínios, apicultura e beneficiamento de trutas.
Enfim, em meio ao processo de revalorização do mundo rural pela sociedade, como em
outros lugares do Brasil, na Região Serrana Catarinense, incluindo-se aí Urubici, firmou-se
o ideário de desenvolver o turismo como alternativa econômica. A prefeitura municipal
desempenhou um papel ativo neste sentido, organizou palestras e cursos para mobilizar a
população. Desde então, os serviços de hospedagem e alimentação cresceram
significativamente.
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Vale ressaltar que no final da década de 1990, Urubici possuía apenas dois hotéis. Em
2005, conforme cadastro da Secretaria de Turismo estão registrados 28 meios de
hospedagem instalados em diferentes pontos do município. No meio rural encontram-se
pousadas, hospedaria rural e hotéis-fazenda (14), que disponibilizam 262 leitos no
conjunto, enquanto que na área urbana os hotéis e as pousadas (14) totalizam 216 leitos.
Estes meios de hospedagem apresentam características distintas no que diz respeito aos
serviços. Na área rural, algumas hospedarias possibilitam o envolvimento dos hóspedes nas
lidas diárias da propriedade, ou seja, a participação em atividades como pescaria,
ordenhamento das vacas, e tomar o Camargoviii, entre outras.
É importante salientar que os meios de hospedagens instalados na sede são de pequeno
porte e pertencem na grande maioria às famílias do próprio município. Contudo, no espaço
rural apenas três propriedades com tradição agropecuária estão envolvidas com o turismo;
as demais (11), pertencem a empreendedores urbanos externos, oriundos de outros lugares
do Estado, do país e até do exterior.
Ainda em relação ao setor hoteleiro, verifica-se que os hotéis e pousadas de
empreendedores externos, tanto no meio rural como na sede, apresentam um padrão mais
requintado se comparado com os que são de propriedade dos urubicienses. Este contraste
das instalações pode ser justificado pela menor capacidade econômica da população local.
Além das belezas naturais e das hospedarias os turistas podem usufruir de outros
atrativos e eventos. Neste sentido, destaca-se: o Centro de Tradições Gaúchas (CTG),
localizado a três quilômetros da sede municipal, está sediado dentro do Parque de
Exposições “Manoel Prá”. Dotado de grande espaço físico, o CTG, possui boa infraestrutura como luz elétrica, banheiros, chuveiros, salão para festas, além de possuir área
para camping, churrasqueiras, estacionamento e bar. Neste local, em determinadas épocas
do ano se reúnem milhares de pessoas, atraídas por festas, bailes e rodeios.
A horticultura é uma das atividades econômicas mais representativas de Urubici.
Em função disso, na década de 1970, o município recebeu o título de “capital das
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hortaliças”. Surgiu assim, a principal festa do município – Fenahort – que também é
realizada no Parque de Exposições. Além da exposição dos produtos da horticultura, a festa
possui atrações variadas, merecendo referência gastronomia, artesanato, feira de gado,
seminários agropecuários, rodeios, shows musicais, e apresentações tradicionalistas.
A Gruta Nossa Senhora de Lourdes é outro ponto de atração. Situada na localidade
de Santa Tereza e distante cerca de nove quilômetros da sede, o santuário recebe romeiros
ao longo do ano, sobressaindo a romaria da penitência, realizada no mês de outubro.
Ressalta-se também a Igreja Matriz Nossa Senhora Mãe dos Homens, um dos
maiores e mais modernos templos religiosos de Santa Catarina em estilo arquitetônico
Gótico Moderno, localizada na sede do município.
Com o elenco de potencialidades naturais, Urubici está se tornando um ponto de
encontro para adeptos do ecoturismo ou turismo de aventura, sobressaindo as seguintes
modalidades: trekking, rapel, canoagem, parapente, asa delta, moto-cross e jeep.
A soma de esforços públicos (município e estado) e privados para divulgar as
potencialidades de Urubici na mídia vem dando resultados positivos. Como assinala o
secretário de turismo, nos últimos anos “temos recebido expressivo número de visitantes”,
que buscam não apenas as belezas naturais e bucólicas, tranqüilidade e clima ameno, mas,
sobretudo, acolhimento humano e hospitalidade.
O território urubiciense tem se tornado atrativo para empreendedores nacionais e de
outros países (França, Argentina, Uruguai), que estão adquirindo propriedades, instalando
serviços ligados ao turismo (hospedagem e alimentação), formando condomínios rurais,
sítios de lazer ou mesmo deixando a terra como reserva de valor. Como resultado da
procura, os terrenos estão sendo muito valorizados e isto vem contribuindo para a
especulação imobiliária.
Os serviços de alimentação também vêm se expandindo e atualmente Urubici conta
com cerca de 20 estabelecimentos. Segundo Informações obtidas na Secretaria Municipal
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de Turismoix, o lazer e a atividade turística geram cerca de 500 empregos diretos e estas
atividades “já correspondem a uma fatia considerável da economia local”.
A administração pública, apesar das dificuldades financeirasx, tem agido no sentido
de melhorar a sinalização tanto dos logradouros urbanos, como da localização dos atrativos
turísticos, e também para a proteção daqueles que os freqüentam principalmente os locais
de grandes altitudes.
Por fim, não se pode deixar de assinalar que alguns fatores ainda restringem o
desenvolvimento do turismo no município, merecendo destaque a falta de verbas. A maior
parte das instalações é simples e de pequeno porte, por isso elas não comportam a
realização de eventos de grande porte; limite este, que segundo o secretário de turismo do
município, será solucionado gradualmente, com a pressão da demanda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mundo rural possibilita o desenvolvimento de diversas atividades incluindo-se aí,
o lazer e o turismo. O rural está assumindo novas funções econômicas, seu patrimônio
natural se tornou “mercadoria” simbólica crescentemente procurada e valorizada pela
população urbana. Assim, o desenvolvimento de atividades relacionadas ao lazer e ao
turismo exercem notável importância na produção do espaço e do território, como foi
exemplificado no município de Urubici.
O lazer e o turismo pela sua capacidade de gerar empregos e renda estão assumindo
importância notável na dinamização da economia local/regional. Muito embora as
atividades agropecuárias continuem predominando, o envolvimento dos produtores rurais
de base familiar com o turismo ainda é pouco expressivo.
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Embora se reconheça a importância dos órgãos públicos na mobilização da população
local e os efeitos positivos advindos até o momento com o turismo, em Urubici, constatouse também que a presença de agentes externos e com interesses variados podem
comprometer os interesses do município e a busca por um turismo mais representativo da
cultura do lugar.
As atividades relacionadas ao lazer ao turismo em Urubici vem se expandindo de
forma notável nos últimos anos, impulsionadas pelos atrativos de sua paisagem natural,
fortemente valorizada nos dias atuais. Assim, torna-se vital a adoção de políticas públicas
que procurem aliar a manutenção da qualidade ambiental e a preservação das belezas
cênicas com uma melhor qualidade de vida para as pessoas que buscam Urubici para passar
algum tempo, e principalmente para aqueles que elegeram o município um lugar para
morar.
Notas:
i
Professora do PPGG (UFSC) – Email: [email protected]
ii
Mestranda do PPGG (UFSC) – Email: [email protected]
Segundo Santos (1994 p.26) “o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de que
participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e, de outro, a vida que os anima,
ou seja, a sociedade em movimento”.
iii
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iv
Físicas, manuais, sociais, intelectuais, artísticas, etc.
Anita Garibaldi, Bocaina do Sul, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro
Negro, Correa Pinto, Lages, Otacílio Costa, Painel, Palmeira, Ponte Alta, Rio Rufino, São Joaquim, São José
do Cerrito, Urubici e Urupema.
vi
Entrevista realizada em 2005.
vii
Criado em 06/07/1967, com uma superfície de 49.300 ha, com a finalidade de preservar a diversidade de
espécies vegetais e animais típicas dessa área do planalto.
viii
Café guarnecido com leite de vaca tirado na hora, o que produz uma bebida quente e
espumante.
ix
Em 2005.
x
De acordo com o Secretário de Turismo.
v
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