Boldrini começa a construção do Instituto de Pesquisa do Câncer

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Começa a construção do primeiro
centro de pesquisas para câncer pediátrico do país
Projeto do Boldrini inclui prédio com laboratórios, biotério, salas e
biblioteca para uso de pesquisadores da instituição
Começa o processo de fundação e terraplanagem para a construção do
Instituto de Engenharia Molecular e Celular — primeiro centro de pesquisas do
país para câncer pediátrico. O projeto do Centro Infantil Boldrini — maior
hospital da América Latina no atendimento a portadores de doenças
oncohematológicas, localizado em Campinas — exigirá investimentos da
ordem de 22 milhões de reais na construção. O prazo para a conclusão da
obra é de 18 meses. Inicia com a terraplanagem e a partir de agosto estão
previstas as fundações.
O Instituto de Pesquisas será construído ao lado da sede do hospital e tem
como objetivo aumentar a produção e disseminação de conhecimentos nas
áreas de biologia molecular do câncer pediátrico, além de desenvolver novas
metodologias e reagentes para o diagnóstico e tratamento dos pacientes.
Atualmente, os pesquisadores do Boldrini trabalham em cinco linhas de
pesquisa principais: tumores de leucemia, adrenal, osteosarcoma,
meduloblastoma e retinoblastoma. Com a ampliação, será possível ter 20
frentes de pesquisa.
Segundo a doutora Silvia Brandalise, presidente do Boldrini, no estado de São
Paulo as neoplasias são a primeira causa de morte em crianças de 5 a 14 anos
e em adolescentes com idades entre 15 e 29 anos. Dados do Instituto Nacional
do Câncer (Inca) estimam que em 2014 ocorrerão cerca de 12 mil casos novos
de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos ”, explica a doutora
Silvia.
Segundo o pesquisador José Andrés Yunes, responsável pelo projeto, "grande
parte da pesquisa do câncer tem tratado de aspectos isolados da doença,
desconectados da realidade dos pacientes, e muitas vezes utilizando modelos
experimentais (linhagens celulares) limitados e que não correspondem
perfeitamente às células tumorais obtidas dos pacientes. Esse tipo de trabalho
tem trazido resultados de impacto limitado para a clínica. Assim como vem
sendo feito em outras instituições brasileiras, a ideia do Boldrini é congregar,
em um mesmo instituto, o instrumental tecnológico de ponta e seus
pesquisadores, em estreita parceria com profissionais da clínica. A maior parte
das pesquisas na área da oncologia celular e molecular no Brasil tem focado
no câncer do adulto, particularmente nas neoplasias com incidência
diferenciada no nosso país em comparação a outras partes do mundo. No
Instituto de Engenharia Molecular e Celular, o foco é o câncer da criança e do
adolescente, que em vários aspectos é diferente do câncer do adulto. Além
da geração e difusão do conhecimento, espera-se também trabalhar na
implementação de novos serviços e produtos de aplicação clínica imediata".
O primeiro centro de pesquisas para câncer pediátrico ocupará uma área de
cerca de 4 mil metros quadrados, permitindo também ampliar de 5 para 20 o
número de pesquisadores e de 6 para 130 alunos que poderão atuar nos 13
laboratórios previstos no projeto. O espaço ainda terá biotério, área de uso
comum, que serão utilizadas como salas de freezers, de tanques criogênicos,
de lavagem de material, de material radioativo, de leitores de microplacas, de
sequenciamento de DNA e de microscopia; câmaras fria e escura; além de
salas de reuniões e biblioteca.
Os projetos arquitetônico e estrutural estão sendo elaborados pela
Coordenadoria de Projetos (CPROJ) da Faculdade de Engenharia Civil,
Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. O prédio contará ainda com
laboratórios para o trabalho em sistema de BPL, sigla para “Boas Práticas
Laboratoriais”, necessário para estudos de terapia gênica/imunológica.
Segundo a doutora Silvia, o câncer é uma doença de base genética, em que
ocorrem mutações durante a vida de um indivíduo. Estima-se que dos 21 mil
genes do genoma humano, um grupo de 2 mil são potencialmente
responsáveis pelo câncer, mas até o momento apenas 350 destes foram
associados à doença. Além disso, para o seu desencadeamento é necessário
que ocorram de oito a 12 defeitos cumulativos. Como a frequência de
mutações é baixa e o câncer leva tempo para se manifestar, a doença
acomete pessoas em idade avançada.
“Nessa linha de raciocínio, seria matematicamente impossível que uma
criança tivesse câncer. Dessa forma, o fato de elas terem a doença é um forte
indício da existência de um mecanismo de carcinogênese típico para essa
fase de desenvolvimento. E, por isso, o câncer da criança e do adolescente
merece uma abordagem diferenciada, não só do ponto de vista do
tratamento, mas também no que diz respeito à pesquisa científica. O Instituto
de Engenharia Molecular e Celular será o primeiro centro de pesquisa
específico para o câncer pediátrico”, conclui a doutora.
Pesquisas
Maior hospital da América Latina no atendimento a crianças e adolescentes
portadores de doenças oncohematológicas, o Centro Infantil Boldrini é um
hospital filantrópico localizado em Campinas (SP). Fundado em 1978, ocupa
uma área de 100 mil metros quadrados. Atualmente, estão em tratamento no
Boldrini cerca de 8 mil pacientes, vindos de várias cidades brasileiras e alguns
de países da América Latina, a maioria (80%) atendida pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). O Centro, referência na América Latina, possui alta tecnologia
em diagnóstico e tratamento especializado, com índice de cura de 70% a 80%
dos casos.
Desde 1980, o Boldrini coordena o Protocolo Brasileiro de Leucemia Linfoide
Aguda (GBTLI LLA), fato que mudou a história do câncer infantil no Brasil. Antes
desse estudo clínico, as chances de cura da criança com LLA eram inferiores a
5%. Com a introdução do protocolo LLA-80, vinculado à Sociedade Brasileira
de Hematologia e Hemoterapia (SBHH), as chances de cura saltaram no
primeiro ano para 50%. Consecutivos estudos cooperativos foram
desenvolvidos nessa área, sob a coordenação do Boldrini. No estudo de 1985,
os resultados de tratamento alcançaram índices comparáveis aos do primeiro
mundo: 70% de chances de cura. A partir de 1985, os protocolos foram sendo
desenvolvidos junto à Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope).
O Estudo da Doença Residual Mínima (DRM), em crianças com Leucemia
Linfoide Aguda (LLA), detecta por meio de técnicas de biologia molecular as
células invisíveis ao microscópio, o que se chama DRM. Esse estudo é um dos
diferenciais do Protocolo GBTLI. A LLA é o câncer mais comum na infância,
correspondendo a cerca de 30% de todas as neoplasias que ocorrem até a
idade de 18 anos.
A DRM pode ser mais bem definida como um conjunto de células neoplásicas
que persistem no decorrer do tratamento e que, muitas vezes, devido à
pequena quantidade, não são detectadas pelas técnicas convencionais. “Em
média, aproximadamente 20% a 30% das crianças que atingem a remissão
clínica após a fase inicial de quimioterapia sofrem recaída da doença. Dessa
forma, o estudo da DRM é extremamente importante, pois permite estabelecer
respostas individuais, de forma que cada paciente receba o tratamento mais
ajustado à resposta in vivo”, explica Silvia Brandalise.
Outros estudos que visam o desenvolvimento de novas drogas e anticorpos
monoclonais contra o câncer, além de terapias gênicas para direcionar uma
resposta imune contra o câncer, estão em andamento na instituição.
Recentemente, o Boldrini iniciou um estudo epidemiológico para mapear a
associação de fatores ambientais, culturais, sociais e a ocorrência de câncer
na criança e no adolescente. A meta é construir um banco de dados de
exposições e ocorrência de câncer e outras doenças crônicas não
transmissíveis (DNCT), a partir de uma amostra de 100 mil crianças em
Campinas e região. Esse contingente fará parte de uma amostra total de mais
de um milhão de crianças que serão monitoradas em todo mundo, em um
projeto do International Childhood Cancer Cohort Consortium (I4C), ligado à
Organização Mundial da Saúde.
O propósito é acompanhar as crianças desde a concepção até os 18 anos,
para obtenção de informações sobre exposições potencialmente associadas
ao câncer. Será construído e mantido um biorrepositório com material
biológico das mães e crianças. E será feito, igualmente, através de um Sistema
de Informações Geográficas (SIG), o mapeamento da distribuição de fatores
ambientais de risco da região do estudo.
Mais informações para a imprensa:
Irani de Souza – MTb 15.635
Singular Comunicação
Tels. (11) 5090-0590 / 5093-0226 / 999 855 650
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