O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA – LEITURA COMPLEMENTAR MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 1999. RESUMO Manifestações do pensamento moderno. Marco – séc. SVIII (transformações econômicas, políticas e culturais – mudanças no Ocidente europeu. A Revolução Industrial e a Revolução Francesa – instalação definitiva da sociedade capitalista. A palavra Sociologia – 1830 - desencadeada por essas transformações. Relação entre a Revolução Industrial e a Formação da Sociologia: . triunfo da industria capitalista (conversão das grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuidos; desintegração de costumes e das instituições vigentes (artesão – disciplina) Inglaterra – aparecimento de grandes cidades – industrias que se espalharam pelo mundo. Reordenação da sociedade rural, destruição da servidão, desmantelamento da família patriarcal. Emigração do campo para a cidade – engajou mulheres e crianças em jornadas de 12 horas diárias, sem férias e feriados, com salário de subsistência – modificações radicais. Crescimento demográfico sem moradias, serviços sanitários, de saúde... Aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, de surtos de epidemias... Fato marcante – aparecimento do proletariado e o seu papel na sociedade capitalista. Atos de sabotagem, explosão de oficinas...evoluindo para a criação de associações e sindicatos. As classes operárias começam a se organizar para enfrentar os proprietários dos instrumentos de trabalho. Produção de jornais...críticas ao capitalismo, inclinando-se para o socialismo como instrumento de mudança. O que tais acontecimentos representam para a Sociologia? Os pensadores da época não desejavam produzir mero conhecimento sobre as novas condições de vida geradas pela RI, mas procurava extrair dele orientações para a ação, tanto para manter, como para reformar ou modificar a sociedade de seu tempo. Owen, Thompson, J. Benthan, discordavam entre si, mas concordavam que havia fenômenos inteiramente novos que mereciam ser analisados. A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela Revolução Industrial. O surgimento da sociologia, em parte, prende-se aos abalos provocados pe RI, mas, outra circunstância concorria também para a sua formação: as transformações econômicas que se achavam em curso no Ocidente europeu desde o séc. XVI. A partir daquele momento, o pensamento vai aos poucos renunciando ao sobrenatural, substituindo-o pela indagação racional. A observação e a experimentação. Copérnico – Newton. Observação e experimentação como fonte para a exploração dos fenômenos da natureza. O pensamento filosófico do século XVII (...) popularizou os avanços do pensamento científico. Francis Bacon – a teologia deixou de ser a forma norteadora do pensamento. Para ele, o novo método do conhecimento deveria estar baseado na experimentação e na observação. O emprego sistemático da razão, do livre exame da realidade – traço do pensamento do séc. XVII – racionalismo. Há nessa época a disposição de tratar a sociedade a partir do estudo de seus grupos e não dos indivíduos isolados. Trabalhos de FERGUSON: para o estudo da sociedade era necessário evitar conjecturas e especulações – é a indução e não a dedução que nos revela a natureza do mundo e a importância da observação para obtenção do conhecimento. Franceses (iluministas) – ideólogos da burguesia – nesta época posicionavam-se de forma revolucionária – atacavam os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios das classes dominantes e as restrições que estas impunham aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Os iluministas partiram de Descartes, Bacon, Hobbes e outros. Insistiram no modelo do conhecimento baseado na observação e na acumulação de dados. Combinavam razão e observação – análise dos dados da sociedade. Montesquieu (1689-1755) – observação sobre a população, o comércio, a religião, a moral, etc. Objetivos dos Iluministas: estudar as instituições da época. Demonstrar que elas eram irracionais e injustas (atentavam contra a natureza dos indivíduos e, assim, impediam a liberdade do homem).] Concebiam o indivíduo como dotado de razão com perfeição inata e destinado à liberdade e à igualdade social. Reivindicavam a liberdade do indivíduos de todos os laços sociais tradicionais, tal como as corporações e a autoridade feudal. Conhecer e transformar a realidade era uma só coisa. Essa crescente racionalização: clima propício à constituição de um estudo científico da sociedade. França: conflito entre as novas forças sociais ascendentes e a monarquia – gozava de privilégios...isenção de impostos. 1789 – a burguesia investiu contra os fundamentos da sociedade feudal – autonomia em face da Igreja e incentivo a empresa capitalista. Legislação – coibir os abusos do pai e a igualdade da propriedade. Confisco das propriedades da Igreja, transferência da Educação para o Estado. As mudanças profundas da Revolução Francesa causou espanto a muitos intelectuais – Durkhein, por exemplo, um dos fundadores da sociologia – a partir da RF constitui a noção de ciência social. Outros pensadores: COMTE, contestavam suas reflexões sobre a natureza e as conseqüências da Revolução. Entre seus trabalhos utilizarão expressões como “anarquia”, “perturbação”, “crise”, “desordem”, para julgar a nova realidade > Nutriam certo rancor pela R., principalmente pelos seus dogmas falsos”, como o ideal de igualdade, liberdade e a importância concedida ao individualismo. Tarefas desses pensadores: racionalizar a nova ordem, encontrar soluções para o estado de “desorganização” existente. Era preciso conhecer as leis que regem os fatos sociais, instituindo uma ciência da sociedade. O certo é que a própria burguesia se assustava com a R. Os jacobinos estavam dispostos a aprofunda-la, situando-a além da proposta da burguesia. Seria necessário neutralizar novos levantes revolucionários. Os fundadores da Sociologia buscam a estabilização da ordem. Para COMTE a nova teoria da sociedade, que ele considerava “positiva”, deveria ensinar os homens a aceitar a ordem existente, deixando de lado a sua negação. No séc. XIX, o processo de industrialização na França causa miséria e desemprego. Em resposta, a classe trabalhadora se revolta Trabalho barato de mulheres e crianças, problemas de habitação... Em 1848, a própria burguesia utiliza o aparato de Estado para sufocar as pressões sociais. DURKHEIN, ao discutir a formação da sociologia na França do séc. XIX, refere-se a SAINT _ SIMON da seguinte forma: (...) fundar, sem demora, uma ciência da sociedade. Essa surge com interesse prático. Alguns sociólogos - revalorizar determinadas instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social... (...) autoridade do “chefe da família”, evitando igualdade jurídica entre homens e mulheres, delimitando o papel da mulher às funções de mãe, esposa e filha. Na concepção de seus fundadores, COMTE, a sociologia deveria orientar-se no sentido de conhecer e estabilizar aquilo que denominava leis imutáveis na vida social, abstendo-se da crítica, de qualquer discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar questões de igualdade, justiça e liberdade. COMTE: objeto da sociologia: estudo dos fenômenos sociais, segundo os princípios dos fenômenos astronômicos, físicos...Ou seja, submetidos às leis invariáveis. Sociologia separada da economia política, como base para o conhecimento da realidade social. Não será essa sociologia de espírito positivista que colocará em questão os fundamentos da sociedade capitalista, nem será nela que o proletariado encontrará sua expressão teórica e orientação para suas lutas práticas. A Formação da Sociologia Final do séc. XIX: matemático H. Poicaré – Sociologia: ciência de muitos métodos e poucos resultados. Como deveria ser analisada a sociedade continua afetando os sociólogos contemporâneos. O caráter antagônico da sociedade capitalista impede um entendimento comum por parte dos sociólogos em torno do OBJETO e dos MÈTODOS de investigação dessa disciplina. Os sociólogos conservadores: obras contra a herança dos filósofos iluministas. Sua razão era a sociedade feudal – hierarquia social. Seu ponto de partida: o impacto da RF, que julgavam castigo de Deus à humanidade. Culpavam os iluministas (defensores das instituições religiosas, monárquicas, e aristocráticas. BURKE, BONALD... a sociedade moderna, na visão conservadora, estava em franco declínio – caos social. Crítica à economia industrial, ao urbanismo, a RF – firmavam sua teoria no estudo de instituições como a família, a religião, o grupo social, e a contribuição delas para a manutenção da ordem: hierarquia, tradição, valores morais... É sobre os autores positivistas como SAINT-SIMON, a COMTE e E. DURKHEIN que os conservadores exerceram grande influência. Para SAINT-SIMON, a função do pensamento social neste contexto deveria ser descobrir as leis do progresso e do desenvolvimento social. Admitia os conflitos entre possuidores e não-possuidores. Mas estes seriam resolvidos por medidas repressivas ou normas de conduta impostas destes sobre aqueles. As Ciências Sociais – refrear os ímpetos revolucionários. Influenciou COMTE...que, ao contrário, é inteiramente conservador – defensor sem ambigüidade da nova sociedade. Sua visão: reorganização do caos social não a partir das idéias da nova sociologia nem das idéias iluministas. Seria necessária a criação de um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Princípios (COMTE para nortear os conhecimentos humanos): Filosofia Positiva de COMTE – contestava a filosofia negativa (contestava as instituições sociais). F.P. Reação às tendências iluministas. O espírito positivista: organizar a sociologia – coroamento do conhecimento científico. A partir de procedimentos das ciências naturais, tais como observação, experimentação e comparação. Busca de acontecimentos constantes e repetitivos da natureza. Conciliação entre “ordem” e “progresso”. Para a sociologia positiva a ordem era o ponto de partida para a nova sociedade. Para DURKHEIN a ordem social seria uma preocupação constante. Ocupou-se também em estabelecer o OBJETO da sociologia e seu MÈTODO de investigação. Através dele a sociologia penetrou nas Universidades como disciplina. Para D. a raiz dos problemas de seu tempo não era a natureza econômica, mas sim certa fragilidade moral da época em orientar o comportamento dos indivíduos. Medidas econômicas não contribuíam para solucionar os problemas da época. Encontrar novas idéias morais para guiar a conduta dos indivíduos. A ciência poderia encontrar soluções nesse sentido. Valores morais criam relações estáveis e duradouras. Visão otimista da nascente sociedade industrial. A crescente divisão do trabalho acomodava um aumento da solidariedade entre os homens. D. cada membro da sociedade, com profissão especializada, passava a depender mais do outro. Relação de cooperação. Mas inexistia uma conjunto de idéias capaz de guialos. O que dificultava o “bom funcionamento” da sociedade. Sociologia – disciplina independente (deveria se ocupar com os fatos sociais – exteriores aos indivíduos e coercitivos. O indivíduo ao nascer já encontra a sociedade constituída. O direito, a religião, não foram criadas por ele...são transmitidas. DURKHEIN menosprezou a criatividade dos homens no processo histórico – seres passivos. MÉTODO – ciências naturais. Disposto a estabelecer a saúde da sociedade – criar novos hábitos e comportamentos no homem moderno. Para tanto: moderação nos interesses econômicos, enfatizar a disciplina e o dever, difundir o culto à sociedade, às leis e à hierarquia. Restaurar a “normalidade social” e se converter numa técnica de controle e manutenção do poder vigente. Influenciou o meio acadêmico francês e, mais tarde, por volta de 1930, na Inglaterra e nos EUA. Mas foram dois sociólogos americanos: MERTOM E PARSONS os responsáveis pelo desenvolvimento do funcionalismo moderno e pela contribuição de D. ao pensamento sociológico contemporâneo. Se a preocupação básica do Positivismo foi a manutenção e a preservação da ordem capitalista, é o pensamento socialista que procurará realizar uma crítica radical a esse tipo histórico de sociedade, evidenciando seus antagonismos e contradições. O aparecimento de uma classe revolucionária – o proletariado – cria condições para o surgimento de uma nova teoria crítica da sociedade visando a explicação crítica sobre esta e objetivando a sua superação. O conhecimento sociológico crítico e negador da sociedade capitalista liga-se à tradição de MARX (1818-a883) e ENGELS (1820-1903) Interdisciplinares, unem antropologia, economia, política...para explicar a sociedade como um todo. Seus trabalhos não foram realizados em Universidades, mas no fervor das lutas políticas. O socialismo marxista – complexa operação intelectual, na qual são assimilados de maneira crítica as três principais correntes do pensamento europeu dos séc. XIX e XX, ou seja, o socialismo, a dialética e a economia política. Surgiu paralelo aos sucessivos movimentos revolucionários que iam surgindo no séc. XIX, na Europa Ocidental. Apareceu como uma nova maneira de conceber a sociedade que reivindicava a igualdade para todos os cidadãos. O socialismo pré-marxista (utópico) recebeu maior consistência TEÓRICA E EFETIVIDADE PRÁTICA. Concentravam a atenção em SAINT-SIMON, OWEN E FOURIER. Estes ainda não apontavam as contradições entre a burguesia e o proletariado. Para eles, os socialistas utópicos elaboraram uma crítica à sociedade mas deixaram de apresentar os meios capazes de promover as transformações radicais nesta. Para MARX e ENGELS, isso acontecia em virtude do caráter apolítico desse socialismo. Os utópicos atuavam como representantes dos interesses da humanidade, não reconhecendo em nenhuma classe social o instrumento para a concretização de suas idéias. HEGEL – figura mais expressiva da filosofia alemã da época de MARX, preocupava-se com o pensamento dialético. Ao tomar contato com a dialética hegeliana, eles ressaltaram o seu cráter revolucionário. Mas criticavam o seu caráter idealista. Para H. o pensamento ou o espírito criava a realidade. Para ele as idéias possuíam independência diante do objeto da realidade, acreditava que os fenômenos existentes eram projeções do pensamento. MARX e ENGELS procuraram “corrigi-la”, recorrendo ao materialismo filosófico de seu tempo. A aplicação do materialismo dialético aos fenômenos sociais teve o mérito de fundar uma teoria científica de inegável alcance explicativo: o materialismo histórico. Materialismo Histórico situa o estudo da sociedade a partir da base material – a investigação de qualquer fenômeno social deveria partir da estrutura econômica da sociedade, que constrói a história humana. Ao constatar nos fatos econômicos a base sobre a qual se apóiam ous outros níveis da realidade, como a religião, a arte e a política; Que a análise da base econômica da sociedade deveria ser orientada para a economia política, é que ocorre o encontro deles com os economistas da escola clássica, como ADAM SMITH e RICARDO. Principais críticas dirigidas aos economistas clássicos – eles suporem que a produção dos bens materiais da sociedade era obra de homens isolados, que egoisticamante perseguiam seus interesses particulares. Argumentarão contra essa concepção extremamente individualista – o homem é um animal social – inserido em agrupamentos...tribos, clã, família.. Buscavam o conhecimento da realidade social capaz de se converter em instrumento político e orientar os grupos e as classes sociais para a transformação da sociedade. FUNÇÂO DA SOCIOLOGIA: não era solucionar os “problemas sociais” nem estabelecer o “bom funcionamento” da sociedade. Era contribuir para a realização de mudanças radicais na sociedade. Foi o socialismo marxista que despertou a vocação crítica da sociologia unindo explicação e alteração da sociedade, e ligando-se aos movimentos de transformação da ordem existente. Contrário ao Positivismo que procurou elaborar uma ciência social supostamente “neutra” e “ imparcial”. Marx e seus seguidores deixaram claro a íntima relação entre o conhecimento por eles produzido e o proletariado. Sociologia Positiva: interesse da burguesia – Materialismo Histórico: interesse da classe operária. Pensamento marxista: contradições do capitalismo com um dos seus focos centrais. - Luta de classes – não “harmonia” social, constituía a realidade concreta da sociedade. - Sociologia Positiva: divisão do trabalho – fonte de solidariedade entre os homens; MARX: forma de realizar a exploração, antagonismo e alienação. A dominação econômica e política, na medida em que a burguesia utilizava o Estado e seus aparelhos repressivos, com a polícia e o exército, para impor seus interesses. E estende-se ao plano cultural, pois ao dominar os meios de comunicação, difundia seus valores e concepções ás classes dominadas. Contrariamente à Sociologia Positiva, que concebia a sociedade como um fenômeno “mais importante” que os indivíduos, para o materialismo histórico são os indivíduos que, vivendo e trabalhando, a modificam. MARX WEBER: distinção entre conhecimento científico, fruto de cuidadosa investigação e os julgamentos de valor sobre a realidade Um cientista não tinha o direito de possuir a partir de sua profissão, preferências políticas e ideológicas. Mas, por ser um cidadão, poderia assumir posições políticas apaixonadas, mas jamais defende-las a partir da atividade profissional. Busca da neutralidade científica levou WEBER a estabelecer uma rigorosa fronteira entre o cientista – homem do saber, das análises frias e penetrantes, e o político, homem de ação e de decisão comprometido com as questões práticas da vida. Posição de Weber – isolar a sociologia dos movimentos revolucionários. Como um conjunto de técnicas neutras – manter a autonomia da sociedade em face da burocracia e do Estado alemão da época. Crescimento econômico na Alemanha – classe trabalhadora – mais da metade da população – disciplina rígida nas fábricas, prolongadas horas de trabalho – lutas por direitos políticos e sociais. Weber incorporou algumas idéias de KANT, como a de que todos o ser humano é dotado de capacidade e vontade de assumir uma posição consciente diante do mundo. Compartilhava com Nietzche uma visão pessimista e melancólica dos tempos modernos. Com SOMBART a preocupação em desvendar as origens do capitalismo. Travou conhecimento com Lukásc...forte influência do pensamento marxista, mas não concordava que a economia dominasse as demais esferas da realidade social. Para ele, o indivíduo e sua ação era o ponto chave para a investigação (compreender a ação dos indivíduos e não a análise das instituições ou grupos sociais). Mas não negava o Estado ou as grandes empresas capitalistas, todavia, compreender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam estas situações. Contrário ao Positivismo, que dava maior ênfase aos fatos, ás realidade empírica, transformando o pesquisador num registrador de informações, a METODOLOGIA de WEBER, atribuía-lhe um papel ativo na elaboração de conhecimento. Sua obra abrangia vários temas, como o direito, a economia, a história, a religião, a arte....Foi um dos fundadores da pesquisa empírica na sociedade – trabalhos rurais na Alemanha. Análise da religião – Ao estudar os fenômenos da vida religiosa – influência sobre a conduta econômica dos indivíduos. Sobre a ética protestante e o espírito do capitalismo” (1905): implicações das orientações religiosas na conduta econômica dos homens – avaliar a ética protestante, sobretudo a calvinista, na promoção do moderno sistema econômico. Para WEBER, acumulação econômica – vida familiar rígida – êxito econômico como sistema de bom indício da benção de Deus. Lucros não usufruídos – reinvestimentos em suas atividades. Não que a ética protestante, por si só, fosse causa explicativa do capitalismo – apenas um dos fatores aliado aos político e tecnológicos. Ao contrário de MARX, WEBER não considerava o capitalismo um sistema injustos, irracional e anárquico. Para ele as instituições capitalistas - a empresa – organizavam racionalmente a sociedade – padrão de precisão e eficiência. Capitalismo – expressão da modernização e forma de racionalização do homem ocidental. Mas, reconhecia os altos custos da vida moderna – um mundo cada vez mais intelectualizado e artificial – distante dos aspectos mágicos e intuitivos do pensamento e da existência. A obra de WEBER, assim como Marx, Durkhein, Tocqueville...constituem um momento decisivo para a formação da Sociologia. Seus trabalhos – preciosas informações sobre as condições da vida humana, problemas do equilíbrio e da mudança social, sobre os mecanismos de dominação, sobre a burocratização e a alienação da época. O desenvolvimento da Sociologia tem como pano de fundo a burguesia que se distanciava de seu projeto de igualdade e fraternidade, se comportava no plano político de forma menos liberal e mais conservadora – aparato repressivo e ideológicos para assegurar sua dominação. APARECIMENTO DAS GRANDES EMPRESAS: monopólio de produtos e mercados – eclosão de guerras – organização polítca do movimento operário – revoluções socialistas – mostram o caráter transitório da sociedade moldada pela burguesia. Crise capitalista e a repercussão no pensamento sociológico contemporâneo: - Ciências Sociais passam a produzir um conhecimento útil e necessário à dominação vigente. - Antropologia: dominar as populações colonizadas, a ciência econômica e a ciência política – forneciam conhecimento para a elaboração de estratégias de expansão econômica e militar para as potências. - Sociologia passou também a ser utilizada como técnica de manutenção das relações dominantes. Sociólogos – incorporados à cultura e à política das grandes empresas, do Estado moderno, dos partidos políticos, à luta cotidiana para preservação das estruturas econômicas, políticas e culturais do capitalismo moderno. - Difícil produzir um conhecimento autônomo e crítico. - Nas três primeiras décadas do século XX, a burguesia já mostrava sua tendência conservadora e belicista, defrontando-se com um movimento operário organizado (poder na URSS). O monopólio era menor. A burocratização do trabalho intelectual não era ainda uma realidade viva e concreta capaz de inibir a imaginação dos sociólogos. A Sociologia conheceu uma das suas fases mais ricas em termos de pesquisa. - Pesquisa de campo firmou-se nesta disciplina – levantamento e reflexão originais. - Alguns trabalhos : Marcel MAUSS “ O ensaio sobre o dom” (investigação dos trabalhos primitivos”; - Maurice HALBWACHS – estudos sobre o suicídio como fato social ( a importância dos contextos sociais para os indivíduos) focalizando a questão da memória social. - MANNHEIN – “ Ideologia e utopia” (1929) – origens sociais do conhecimento, procurando estabelecer algumas relações entre ideologia e contextos sócio-histórico ( A sociologia poderia oferecer um conhecimento que possibilitasse uma intervenção racional nos problemas de sua época). - Nos EUA, WILLIAN THOMAS – impacto da urbanização sobre os homens, análise da mudança das formas tradicionais de controle social. - Com Thomas, Robert PARK constitui outra passagem fundamental no desenvolvimento da pesquisa de campo. - LIMITAÇÔES DESSES ESTUDOS: método durkheiniano relegava a segundo plano as classes sociais como elemento explicativo dos fenômenos sociais; - - os estudos empíricos, nem sempre apresentaram clara ligação com a reflexão teórica, resultando às vezes num empirismo pouco revelador em termos explicativos. - - Algumas investigações possuíam sérias implicações ideológicas, pois preocupadas com a “desorganização social”, aceitavam, conscientes ou não, a realidade social como esta se apresentava. - Análises na sociedade européia: análises de Lênin e Rosa de Luxemburgo sobre a questão do imperialismo. Buscavam analisar o capitalismo sob a ótica do marxismo. Procuravam compreender as raízes da política imperialista e extrair uma orientação para a luta prática contra O IMPERIALISMO. - Muitas dessas investigações foram negligenciadas pela sociologia que se desenvolvia nas Universidades; pois o pensamento marxista era considerado, neste meio, como uma doutrina econômica. Desenvolvimento da sociologia na segunda metade do século XX: afetado pelas Guerras mundiais. - Interrupção do intercâmbio de conhecimento entre as nações; - Perseguição de intelectuais e cientistas que procuravam manter uma posição de crítica e independência em face desses regimes. - O fortalecimento dos EUA – dispor de um grande apoio institucional e financeiro e se colocar a frente nos estudos sociológicos A sociologia desenvolveu-se vertiginosamente na sociedade norte-americana (Universidade) Seu desenvolvimento estimulado e sustentado pelo “Estado-do Bem-EstarSocial” – política de conservação da ordem vigente. A Sociologia a partir dos anos 50 – luta de contenção do avanço socialista, neutralização dos movimentos de libertação das nações subjugadas pelas potências imperialistas e pela manutenção da dependência econômica e financeira desses países. As correntes de sociólogos norte-americanos caracterizam-se por um empirismo positivista. Trata-se de um reformismo conservador preocupado com os problemas dos “desajustes sociais”, postura antimarxista, e da adoção de uma ética positivista que separava os julgamentos de fato e os julgamentos de valor. A Sociologia se firmou como uma ciência prática conservadora. Neutralização dos diferentes movimentos revolucionários que passaram a surgir em várias sociedades. Nesse contexto, surge a figura do sociólogo profissional, que passa a desenvolver as suas atividades de correção da ordem, adotando uma atitude científica “neutra” e “objetiva”. Na verdade, a institucionalização da sociologia como profissão e do sociólogo como “um técnico” – promessas de rentabilidade e instrumentabilidade que estes passaram a oferecer a seus empregadores potenciais, como o Estado moderno, as grandes empresas privadas e os diversos organismos internacionais preocupados com a ordem em escala mundial. Mas, alguns sociólogos matem uma posição de crítica e de independência intelectual. O método funcionalista - dimensão importante à postura conservadora. Sua preocupação é o problema da ordem social. COMO É POSSIVEL A ORDEM SOCIAL? O pensamento conservador, representado por MAISTRE, BURKE, entre outros – analisavam a contribuição que determinadas instituições culturais forneciam para a manutenção da solidariedade social e a importância dos valores e das orientações culturais para a integração da vida social. MERTON – funcionalista convicto – adverte que nem todos os elementos culturais ou sociais contribuem para o equilíbrio social. Por mais que alguns sociólogos procurem “corrigir” os excessos do funcionalismo e defende-lo de sua vocação conservadora, esses profissionais jamais colocaram a questão da validade da ordem estabelecida, tomando uma posição favorável à sua preservação e manutenção. No entanto, vários sociólogos tem manifestado uma posição crítica à produção sociológica comprometida com a ordem. Pensadores como W. MILLS, L. GOLDMAN, entre outros têm realizado uma penetrante avaliação das relações entre a sociologia e as relações dominantes. Paralelamente à sociologia que estendeu suas mãos ao poder, deve-se mencionar outras contribuições orientadas para uma perspectiva crítica. Esta sociologia tem permitido compreender a sociedade capitalista atual, as políticas de dominação de os processos históricos que buscam alterar a ordem vigente. Tanto nos países centrais como nos periféricos do capitalismo, têm surgido novas gerações de cientistas sociais que procuram realizar com seus trabalhos uma autêntica crítica à dominação burguesa. Pensadores como KORSH e LUKÁCS e os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, como Adorno, HORKEIMER, MARCUSE, forneceram uma importante contribuição ao estudo crítico da sociologia e da sociedade capitalista. Os pensadores da escola de Frankfurt também desenvolveram uma concepção do marxismo como uma filosofia crítica bastante diferenciada do positivismo sociológico. O marxismo, através da E.F. foi colocado fora da política partidária, assumindo um caráter de crítica geral da cultura burguesa, dirigida, principalmente, a um público constituído em sua grande maioria, por estudantes e intelectuais. Vários teóricos do marxismo contemporâneo, sem negar a importância dos fatores econômicos na explicação da vida social, procuram investigar o papel das ideologias na manutenção da dominação burguesa. Os trabalhos de GRAMSCI, ALTHUSSER, POULANTAS, BOURDIEU e outros, tem possibilitado uma compreensão mais adequada de como se processa o domínio intelectual da burguesia sobre as demais classes sociais. Nos vários países que formam a periferia do sistema capitalista, produz-se uma sociologia questionadora da ordem vigente, principalmente da dominação imperialista. Em grande medida, a função do sociólogo do nosso tempo é liberar sua ciência aprisionada do poder burguês e transforma-la em instrumento de transformação social.