Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL Na década de 1970, a crise do petróleo fez com que emergisse para o mundo algo que já vinha sendo gerado no decorrer do século XX, a 3ª Revolução Industrial, também chamada de Revolução tecnocientífica informacional. Esta por sua vez correspondia aos avanços tecnológicos em especial da informação e dos transportes, representado por invenções como por exemplo Internet, e os aviões supersônicos. Os avanços nesses setores tornaram o mundo menor, encurtaram as distâncias e em alguns casos aniquilaram o espaço em relação ao tempo, como o que vemos com a telefonia, dentre tantos outros exemplos. Tudo isso gerou e tem gerado transformações colossais no espaço geográfico mundial, as indústrias buscam a inovação, investem em novas tecnologias, em especial naquelas que poupem mão de obra como a robótica, o desemprego estrutural se expande. Antigas regiões industriais entram em decadência com o processo de desconcentração industrial, surgem novas regiões industriais. Surge a fábrica global, que se constitui na estratégia utilizada pelas grandes empresas internacionais de produzir se utilizando das vantagens comparativas que oferecem os variados países do mundo. A terceirização, também torna-se algo comum, como o que ocorre com empresas de calçados como a Nike, que não tem um único operário em linhas de produção, pois não produz apenas compra de empresas menores. A Terceira Revolução Industrial, também denominada revolução técnico-científica, encontra-se em andamento desde meados dos anos 1970 e deverá desenvolver-se mais plenamente no transcorrer do século XXI. Ela se iniciou tanto nos Estados Unidos, sobretudo na Califórnia (informática, telecomunicações), como no Japão (robótica, microeletrônica) e na Europa ocidental, em particular na Alemanha (biotecnologia, química fina). É marcada pelo predomínio de indústrias altamente sofisticadas, como as mencionadas, e que exigem muita tecnologia e maior qualificação da força de trabalho. Na Segunda e, principalmente, na Primeira Revolução Industrial, a procura por mão de obra barata e sem qualificação era imensa, assim como tinham muita importância as matériasprimas em geral. Agora, com o avanço da revolução técnico-científica, diminui a procura por força de trabalho pouco qualificada, que pode ser substituída por robôs, e também ocorre uma desvalorização das matérias-primas em geral, pelo menos da imensa maioria delas (minérios, produtos agrícolas, etc.). Isso porque aumenta constantemente a reciclagem de produtos, e as indústrias de novos materiais criam novas matérias-primas (novas ligas metálicas, novos materiais para gravação de som e imagem, para a fuselagem de aviões, para os automóveis, etc.), que utilizam produtos mais abundantes e baratos. O importante passa a ser a tecnologia e, consequentemente, as pesquisas científicas e tecnológicas. Metais raros são substituídos por outros mais abundantes, produzem-se novas variedades de gêneros agrícolas e desenvolvem-se fontes de energia em laboratórios, entre tantas outras inovações. Desse modo, em termos relativos diminui a importância da natureza - isto é, o tamanho do território de um país, os seus recursos naturais em geral e aumenta o valor da ciência e da tecnologia com o seu alicerce ou a sua base, que é a educação. Em outras palavras, aumenta www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 1 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça muito o valor dos chamados "recursos humanos" ou, como afirmam alguns autores, do "poder cerebral": novas ideias e técnicas, funcionários qualificados e com maior escolaridade, etc. A Terceira Revolução Industrial utiliza muito mais a ciência e a tecnologia do que as duas anteriores. É por esse motivo que se fala em "revolução técnico-científica" para designá-Ia. No decorrer da História, a humanidade sempre criou e utilizou recursos técnicos – basta lembrar o controle do fogo, a invenção da roda, a domesticação de animais e plantas há milhares de anos, etc. Mas a regra geral era que, primeiro, se conhecesse algo na prática e, depois, viesse a teoria, isto é, a ciência. Nas últimas décadas, isso mudou: os novos setores de ponta em tecnologia e na indústria representam aplicações de conhecimentos científicos - da microfísica, da ecologia, de teorias avançadas da matemática, da genética, etc. -, que, no início, foram considerados "inúteis", ou seja, conhecimento puro e sem aplicação. Além disso, a importância da ciência e da tecnologia avançada mudou radicalmente. Em vez de serem apenas um elemento a mais, até mesmo dispensável, como ocorria anteriormente, elas passaram a ser elementos centrais, aqueles que comandam o ritmo e os rumos das mudanças. Com a Terceira Revolução Industrial, as atividades se tornam mais criativas e exigem mais qualificação, mas, ao mesmo tempo, o horário já não é tão importante. Mais da metade dos trabalhadores nos Estados Unidos, por exemplo, já tem um horário flexível. Eles devem trabalhar seis ou sete horas por dia. O controle do ponto, do horário, já perdeu importância para a qualidade do trabalho. Com isso, a influência dos funcionários aumenta, apesar de diminuir a necessidade da força de trabalho. Precisa-se a cada dia de menos trabalhadores, porém mais qualificados e importantíssimos para o funcionamento da produção flexível. A mão de obra criativa substitui aos poucos a força de trabalho técnica. Por esse motivo, esses funcionários qualificados passam a ser essenciais numa empresa moderna, mais importantes que as matérias-primas ou as fontes de energia. Os tecnopolos Por causa da importância da ciência e da tecnologia, hoje as novas regiões industriais, aquelas de tecnologia de ponta ou de vanguarda, não se localizam mais nas áreas onde existem matérias-primas (carvão, minérios), como ocorria nas velhas regiões ni dustriais. Elas se encontram principalmente nas proximidades de importantes centros de pesquisa e de ensino universitário. Algumas vezes, existe uma coincidência entre as velhas e as novas regiões industriais, ou uma continuação delas, tais como os casos de Paris, Londres, Tóquio ou Milão, mas o importante não é mais a existência de recursos naturais nem mesmo o mercado consumidor local, e sim as universidades e institutos de pesquisas que existem nessas áreas. Há inúmeros exemplos dessas novas regiões industriais de ponta, que reúnem centros produtores de tecnologia e indústrias de informações ou biotecnológicas. Alguns autores chamam essas novas regiões industriais da Terceira Revolução Industrial de tecnopolos. O grande exemplo é o Vale do Silício (Silicon Valley), a 48 km ao sul de São Francisco, no condado de Santa Clara, entre Paio Alto (onde está a Universidade de Stanford, considerada a iniciadora e impulsionadora desse polo tecnológico) e San José, na costa oeste dos Estados Unidos. Outros exemplos importantes de tecnopolos são: a chamada Route 128, perto de Boston e do Instituto Tecnológico de Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos; a região de Tóquio, no Japão; a região Paris-Sud, no sul de Paris, França; o chamado Corredor M4, ao redor de Londres, Reino Unido; a região de Milão, na Itália; as regiões de Berlim e do Vale do Neckar www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 2 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça (onde se encontram a Universidade de Heidelberg e o Instituto Max Plank de biotecnologia), na Alemanha. A ciência e a tecnologia se desenvolvem principalmente em universidades e institutos de pesquisas, que são muito comuns - e de ótima qualidade - nessas regiões, onde há uma integração entre as indústrias de alta tecnologia e esses institutos e universidades. A revolução técnico-científica A ciência, no estágio atual, está estreitamente ligada à atividade industrial e às outras atividades econômicas: agricultura, pecuária, serviços. É um componente fundamental, pois, para as empresas, o desenvolvimento científico e tecnológico é revertido em novos produtos e em redução de custos, permitindo a elas maior capacidade de competição num mercado cada vez mais disputado. As grandes multinacionais possuem seus próprios centros de pesquisa e o investimento científico, em relação ao conjunto da atividade produtiva, tem sido crescente. Em meados da década de 80, por exemplo, a IBM norte-americana possuía cerca de 400 mil empregados em todo o mundo, entre os quais 40 mil (10%) trabalhavam na área de pesquisa. O Estado, por meio das universidades e de outras instituições, também estimula o desenvolvimento econômico, preparando pessoas e capacitando-as ao exercício de funções de pesquisa, na área industrial ou agrícola, assim como no desenvolvimento de tecnologias, transferidas ou adaptadas às novas mercadorias de consumo ou aos novos equipamentos de produção. Nesse sentido, a pesquisa científica aplicada ao desenvolvimento de novos produtos tornou-se parte do planejamento estratégico do Estado, visando ao desenvolvimento econômico. Mesmo no tempo da Guerra Fria, quando o investimento tecnológico estava voltado à corrida armamentista ou espacial, boa parte das conquistas tecnológicas foi adaptada e estendida à criação de uma infinidade de bens de consumo nos países capitalistas. Com a Revolução Técnico-científica, o tempo entre qualquer inovação e sua difusão, em forma de mercadorias ou de serviços, é cada vez mais imediato. Os produtos industriais classificados genericamente como de bens de consumo duráveis, especialmente aqueles ligados aos setores de ponta como a microeletrônica e informática, tornam-se obsoletos devido à rapidez com que são superados pela introdução de novas tecnologias. Os impactos mundiais dos avanços técnico-científicos foram marcantes a partir da Segunda Guerra Mundial. Foi possível delimitar, a partir daí (considerando-se também a relatividade dessa demarcação temporal), o início de uma Terceira Revolução Industrial. A microeletrônica, o microcomputador, o software, a telemática, a robótica, a engenharia genética e os semicondutores são alguns dos símbolos dessa nova etapa. Essa fase tem modificado radicalmente as relações internacionais e os processos de produção característicos do sistema fabril introduzido pela Revolução Industrial, bem como tem possibilitado a criação de novos produtos e a utilização de novas matérias-primas e fontes de energia. Há algum tempo, a indústria vem utilizando muitas matérias-primas sintéticas, como a borracha, as fibras de poliéster, o náilon e novos tipos de ligas que substituem vários metais. Hoje, por exemplo, pode-se utilizar uma nova cerâmica de alta resistência e durabilidade, feita de areia e silicone. Os recursos sintéticos permitem a produção das matérias-primas nos próprios países desenvolvidos. Esse fato é, ao mesmo tempo, alentador e preocupante. Numa perspectiva de preservação da natureza, a exploração de recursos minerais não-renováveis diminuirá. No www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 3 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça entanto, haverá uma consequente queda dos investimentos, em países subdesenvolvidos, por parte de empresas multinacionais ligadas à mineração e a outras atividades extrativas. Além disso, os países fornecedores de matérias-primas perderão, gradativamente, importantes itens de suas pautas de exportação. Esse novo contexto criado pelas novas tecnologias de produção alteram inclusive os antigos critérios de localização industrial. Atualmente a instalação das grandes empresas multinacionais não está necessariamente associada à proximidade de fontes de matérias-primas e de mão de obra barata. Apenas alguns setores industriais, como calçados, têxteis, brinquedos, montagem de aparelhos de TV e eletroeletrônicos, ainda tiram vantagem quanto à sua instalação em regiões onde prevalecem a baixa qualificação e o custo reduzido da mão de obra. Mas esta não é a tendência da economia industrial da Revolução Técnico-científica, cujo pressuposto é produzir cada vez mais, com cada vez menos trabalhadores. Tanto na Primeira como na Segunda Revolução Industriai, a margem de lucro das empresas se elevava à proporção que os salários decresciam. Quanto menor o salário, maior era o lucro retido pela empresa. O processo de expansão das multinacionais intensificou-se a partir da década de 50 em direção aos países periféricos e seguia este mesmo princípio: a elevação das taxas médias de lucro tinha como pressuposto a exploração da mão de obra barata desses países. A Revolução Técnico-científica, movida pela produtividade, ao mesmo tempo em que pode gerar mais riquezas e ampliar as taxas de lucros, é também responsável pelo desemprego de centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Entre os diversos processos de automação industrial, a robotização é o mais avançado. Os países que mais a utilizam são, respectivamente, o Japão e os Estados Unidos. O setor automobilístico apresenta o maior número de robôs da indústria em geral. Nesse setor, no trabalho de solda, atingisse um grau de robotização da ordem de 95% nas fábricas mais modernas do mundo. A reengenharia da produção O sistema de produção em massa disseminou-se da indústria automotiva para outras indústrias e se tornou padrão incontestado em todo o mundo como a melhor maneira de conduzir os assuntos empresariais e comerciais. Enquanto o "método americano" desfrutava de um sucesso irrestrito nos mercados mundiais nos anos 50, uma empresa automobilística japonesa, lutando para recuperar-se da Segunda Guerra Mundial, experimentava uma nova www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 4 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça abordagem à produção – cujas práticas operacionais eram tão diferentes daquelas da produção em massa, quanto esta era dos primeiros métodos artesanais de produção. A empresa era a Toyota e seu novo processo gerencial era denominado de produção enxuta. O princípio básico da produção enxuta é combinar novas técnicas gerenciais com máquinas cada vez mais sofisticadas para produzir mais com menos recursos e menos mão de obra. A produção enxuta difere radicalmente tanto da produção artesanal quanto da produção industrial. Na produção artesanal, trabalhadores altamente qualificados, usando ferramentas manuais, fabricam cada produto de acordo com as especificações do comprador. Os produtos são feitos um de cada vez. Na produção em massa, profissionais especializados projetam produtos que são fabricados por trabalhadores não qualificados ou semiqualificados operando equipamentos caros e de finalidades específicas. Estes produzem produtos padronizados em grandes quantidades. Na produção em massa, a maquinaria é tão cara que o tempo ocioso precisa ser evitado a todo custo. Como resultado, a gerência acrescenta uma "reserva" na forma de estoque extra e de trabalhadores para garantir a disponibilidade de insumos ou para que o fluxo de produção não seja desacelerado. Finalmente, o alto custo do investimento em máquinas impede a sua rápida adaptação para a fabricação de novos produtos. O consumidor beneficia-se de preços baixos em prejuízo da variedade. A produção enxuta, ao contrário, além de combinar a vantagem da produção artesanal e de massa, evita o alto custo da primeira e a inflexibilidade da última. Para alcançar esses objetivos de produção , a gerência reúne equipes de trabalhadores com várias habilidades em cada nível da organização, para trabalharem ao lado de máquinas automatizadas, produzindo grandes quantidades de bens com variedades de escolha. A produção é enxuta porque usa menos de tudo se comparada com a produção em massa – metade do esforço humano na fábrica, metade do espaço físico, metade do investimento em equipamentos. Emprestando o modelo da produção enxuta dos japoneses, as empresas americanas e europeias começaram a introduzir suas próprias modificações na estrutura organizacional, para acomodar as novas tecnologias da informática. Sob o título amplo de reengenharia , as empresas estão achatando suas tradicionais pirâmides organizacionais e delegando, cada vez mais, a responsabilidade pela tomada de decisão às equipes de trabalho. O fenômeno da reengenharia está forçando uma revisão fundamental no modo como os negócios são conduzidos e, com um corte profundo na folha de pagamento e no processo, eliminando milhões de empregos e centenas de categorias de trabalho. Enquanto os trabalhos não qualificados e semiqualificados continuam a ser cortados com a introdução de novas tecnologias de informação e de comunicação, outras posições da hierarquia corporativa também estão sendo ameaçadas de extinção. Com a introdução de novas e sofisticadas tecnologias de computador, esse cargos se tornam cada vez mais desnecessários e caros. As novas tecnologias da informação e da comunicação têm tanto aumentado o volume, quanto acelerado o fluxo de atividade em cada nível da sociedade. A compressão de tempo requer resposta e decisões mais rápidas para continuar competitivo. Na era da informação, "tempo" é uma mercadoria crítica e as corporações, atoladas nos antiquados esquemas gerenciais hierárquicos, não podem esperar tomar decisões com rapidez suficiente para acompanhar o fluxo de informações que requerem resolução. Hoje, um número crescente de empresas está desfazendo suas hierarquias organizacionais e eliminando cada vez mais a gerência média com a compressão de várias funções em um processo único. Também estão usando o computador para desempenhar as funções de coordenação anteriormente executadas por muitas pessoas que, em geral, trabalham em departamentos e locais separados na empresa. Os departamentos criam divisões e fronteiras www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 5 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça que inevitavelmente reduzem o ritmo do processo decisório. As empresas estão eliminando essas fronteiras com a reorganização dos funcionários em redes ou equipes de trabalho. O computador tornou tudo isso possível. Agora, qualquer funcionário, em qualquer ponto dentro da empresa pode acessar todas as informações geradas e dirigidas através da organização. Acesso instantâneo à informação significa que o controle e a coordenação da atividade podem ser exercidos rapidamente e em níveis mais baixos de comando que estão "mais próximos dos acontecimentos". A introdução das tecnologias baseadas em computador permitem que a informação seja processada horizontalmente ao invés de verticalmente, derrubando a tradicional pirâmide corporativa em favor de redes operando ao longo de um plano comum. Com a eliminação da lenta subida e descida na antiquada pirâmide decisória, a informação pode ser processada a uma velocidade comensurável com as capacidades dos novos equipamentos de informática. A revolução da reengenharia atingiu alguns de seus sucessos mais marcantes no setor varejista. Sistemas de resposta rápida estão reduzindo tanto o tempo quanto a mão de obra de todo o processo de distribuição. O código de barras permite que os varejistas mantenham um registro atualizado e minucioso de quais itens estão sendo vendidos e em que quantidades. Os dados no ponto de venda eliminaram erros na definição dos preços e no caixa, além de reduzir significativamente o tempo gasto no etiquetamento dos produtos. A gigantesca cadeia varejista Wal-Mart deve boa parte de seu sucesso ao seu papel pioneiro de tirar proveito dessas novas tecnologias da informação. A Wal-Mart utiliza as informações coletadas por scanners no ponto de venda e as transmite pelo intercâmbio eletrônico de dados diretamente aos seus fornecedores, tais como a Procter&Gamble, que por sua vez, decidem quais itens devem embarcar e em que quantidades. Os fornecedores enviam diretamente para as lojas, sem passar pelo depósito. O processo elimina pedidos de compra, conhecimentos de embarque, grandes estoques e reduz custos administrativos com a eliminação da mão de obra necessária em cada etapa do processo tradicional para manusear pedidos, despachos e armazenagem. Há também, grandes mudanças ocorrendo nos escritórios, transformando as operações de processamento de papel em processamento eletrônico. As mudanças nas operações e nas tecnologias do escritório, têm sido extraordinárias no decorrer da Revolução Industrial. Basta lembrar apenas que o mata-borrão, os lápis com borrachas e as penas de aço foram introduzidos há menos de 150 anos. O papel carbono e a máquina de escrever foram introduzidos nos escritórios na década de 1870. A calculadora de teclado e o tabulador de cartão perfurado seguiram-se ao final da década de 1880. O mimeógrafo foi inventado em 1890. Juntamente com o telefone, esses avanços na tecnologia de escritório aumentaram muito a produtividade dos negócios e do comércio durante o período de crescimento do capitalismo industrial. Agora, à medida que a economia transforma-se pela Terceira Revolução Industrial, o escritório está evoluindo para melhor coordenar e controlar o fluxo acelerado da atividade econômica. O escritório eletrônico eliminará milhões de trabalhadores administrativos até o final da década. A cada dia útil nos Estados Unidos, são produzidos 600 milhões de páginas de relatório de computador, 76 milhões de cartas geradas e 45 folhas de papel são arquivadas por funcionário. Os negócios americanos consomem quase um trilhão de folhas de papel anualmente. Um único disco óptico armazena mais de 15 milhões de páginas de papel. Atualmente, 90% da toda a informação ainda é armazenada em papel, enquanto 5% estão em microfichas e outros 5% em mídia eletrônica. Entretanto, com o novo equipamento de processamento por imagem, os negócios estão começando a converter seus escritórios em ambientes de trabalho eletrônicos. O processo de reengenharia nas corporações está apenas começando e o desemprego já está aumentando; o poder aquisitivo dos consumidores está caindo e as economias domésticas www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 6 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça estão cambaleando em consequência do impacto do achatamento das gigantescas burocracias corporativas. Todas essas inovações são introduzidas no processo produtivo, criando máquinas capazes de realizar não apenas o serviço pesado, mas tarefas sutis e que exigem cálculos complexos e grande precisão. Computadores e robôs, unidos, extraem matéria-prima, manufaturam, distribuem o produto final e realizam serviços gerais. As novas tecnologias eliminam, gradativamente, a necessidade de antigos materiais (como o papel, por exemplo), aceleram a transmissão de informações e estimulam, em graus nunca antes vistos, o fluxo de atividade em cada nível da sociedade. A compressão de tempo passa a exigir respostas e decisões mais rápidas. O tempo e o conhecimento tornam-se mercadorias. As empresas passam a substituir a mão de obra humana por máquinas e computadores. Postos de trabalho são eliminados e, em diferentes ramos da economia, o trabalhador tradicional desaparece. O processo de automação industrial, a cada dia mais acelerado em razão dos avanços da tecnologia, faz com que as empresas consigam produzir mais sem a necessidade de contratar mão de obra na mesma proporção de décadas passadas. Sob o impacto da globalização, as grandes corporações multinacionais ampliaram suas fronteiras, atuando simultaneamente em todo o mundo e impondo forte competição às empresas nacionais. A concorrência estreitou as margens de lucro, e a sobrevivência na economia globalizada passou a exigir produtividade máxima com custo mínimo, metas que afetaram a quantidade de empregos. O investimento em tecnologia de automação, por exemplo, eliminou milhares de postos de trabalho em todo o mundo, com a substituição de homens por máquinas. Outra prática associada à globalização e à estratégia de reduzir custos que reflete sobre o emprego é a terceirização. Com ela, proliferam as pequenas empresas sem empregados (nas quais o "dono" é o único trabalhador), dedicadas à prestação de serviços às grandes companhias, sem nenhum vínculo empregatício. Os problemas do mercado de trabalho nesse início do século XXI não se limitam aos números grandiosos da massa de pessoas sem emprego. Um olhar sobre o contingente de empregados revela outras contradições, como as formas de trabalho informal e, em casos extremos e de ilegalidade flagrante, de trabalho infantil e escravo. O cenário mundial moldado pelo avanço da globalização, no qual faltam empregos e sobram trabalhadores, é marcado também pela sofisticação das empresas, Elas se modernizam sem cessar, muitas com intenção de competir em escala global. Com isso, aumenta a busca por profissionais muito bem treinados. Ocorre que a maioria dos desempregados não tem preparo. Nesse novo cenário, a lógica, segundo a qual a retomada do crescimento econômico automaticamente faz cair o desemprego, já não funciona tão bem como antes. Os setores que mais se expandem estão também entre os mais carentes de profissionais qualificados. Entre os mais dinâmicos estão a indústria do petróleo, o mercado financeiro, a construção civil, a indústria canavieira. Nas usinas de açúcar e de álcool, a mecanização do corte e a informatização dos processos industriais exigem pessoal especializado. No caso da construção civil, existe carência de engenheiros. Há boa quantidade das pessoas formadas pelas faculdades de engenharia, mas a qualidade de quem disputa uma vaga nas construtoras não atende às necessidades atuais. Além de saber cálculo, um engenheiro precisa saber gerenciar obras, atributo pouco comum entre os profissionais disponíveis. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 7 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça Para facilitar as contratações pelas empresas, adeptos do neoliberalismo (corrente econômica contemporânea a favor da redução da interferência do Estado na economia) defendem a desregulamentação do mercado de trabalho. Isso significa alterar a legislação de modo a torná-Ia mais flexível, e assim permitir que empresas contratem funcionários a um custo menor, sem parte dos encargos trabalhistas obrigatórios atualmente. Do ponto de vista neoliberal, empregar alguém é muito caro por causa da quantidade de despesas adicionais ao salário que incidem sobre a contratação. Os sindicatos de trabalhadores recusam a desregulamentação, mas estão numa posição defensiva. Com o enorme acúmulo de mão de obra desempregada, a manutenção do emprego e dos direitos - e não tanto a busca por mais direitos - converte-se na principal bandeira do movimento sindical. Daí a dificuldade para organizar as categorias profissionais nos sindicatos, como ocorria no passado. Fábrica global A expressão fábrica global indica que a produção e o consumo se mundializaram de tal forma que cada etapa do processo produtivo é desenvolvida em um país diferente, de acordo com as vantagens e as possibilidades de lucro que oferece. Na atual etapa do capitalismo, a grande empresa transnacional pode conceber um produto nos Estados Unidos, desenvolver seu projeto na França, fabricar os componentes na Coréia do Sul, realizar a montagem no México e comercializá-lo em todos os continentes. O capital aproveita-se das vantagens que a diversidade do espaço mundial pode oferecer. Com a expansão do comércio e as facilidades da rede mundial de computadores, ocorreu a intensificação do fluxo de capitais entre os países. A busca de maior lucratividade levou as empresas a investir cada vez mais no mercado financeiro, que se tomou epicentro da economia globalizada. A atual mobilidade do mercado mundial permite que grandes empresas façam relocalizações de fábricas - nome que se dá ao fechamento de unidades de produção em um local e sua abertura em outra região ou país. Esse mecanismo é usado para cortar gastos com mão de obra, encerrando a produção em países nos quais os salários são maiores, para organizar a produção onde haja menos custos. Um exemplo são as maquiladoras, companhias abertas no norte do México, perto dos EUA, que apenas montam os produtos com peças fabricadas no exterior, utilizando trabalhadores que recebem salários mais baixos que os pagos aos norteamericanos. Grande parte da recente industrialização da China também ocorre com a abertura de fábricas das multinacionais que se beneficiam dos baixos salários locais. Esse fenômeno ajuda o desemprego estrutural, ou seja, uma elevação do número de desempregados que não é causada por fatores passageiros (como uma recessão), mas por fatores estruturais da própria economia. Contudo, o desemprego estrutural, aquele em que a vaga do trabalhador foi substituída por máquinas ou processos produtivos mais modernos, não se resolve apenas pelo crescimento econômico. Aquele trabalho executado por dezenas de trabalhadores agora só necessita de um operador, ou melhor, dezenas de empregos transformaram-se em apenas um. É claro que se a economia estiver aquecida será mais fácil para estes trabalhadores encontrarem outros postos de trabalho. Não há dúvida de que a tecnologia participa do processo, mas é um equívoco condená-la como a vilã do desemprego estrutural. A invenção do tear mecânico, da máquina a vapor ou do arado de ferro foram marcos que resultaram em um aumento significativo da produtividade e www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 8 Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA – Disciplina: Geografia das Indústrias – Professor: Tibério Mendonça consequente redução de custos, permitindo a entrada de um enorme contingente de excluídos no mercado consumidor. Da mesma forma que sentimos hoje, o emprego sofreu impacto destes inventos de pelo menos 150 anos. Durante o século XX além de novos inventos, vários sistemas econômicos também foram experimentados. É comum associar o desemprego estrutural ao setor industrial. Este setor deixa mais evidente a perda de postos de trabalho para máquinas ou novos processos de produção, porém isto ocorre também na agricultura e no setor de prestação de serviços. Cria-se uma divisão internacional do trabalho na qual os países ricos concentram apenas as empresas de alta tecnologia, de alto faturamento. Hoje, os investidores internacionais podem, pelo acesso ao computador de um banco, retirar milhões de dólares de países nos quais vislumbram problemas econômicos. Quando os países se tornam vulneráveis a esses movimentos bruscos de capitais, organismos internacionais como o FMI liberam empréstimos para que possam enfrentar a sangria de dólares. Em contrapartida, os governos ficam obrigados a obedecer ao receituário do organismo. Além de muitas vezes penalizar as populações carentes, por causada desativação ou desaceleração dos investimentos sociais, essas políticas tendem a frear o crescimento, por força da maior carga tributária, do congelamento de investimentos públicos e da elevação dos juros. Assim, a globalização acenou com perspectivas que não se concretizaram. Imaginou-se um mundo plenamente integrado e sem fronteiras. Pelas previsões de seus defensores, novas tecnologias e métodos gerenciais levariam ao bem-estar dos indivíduos e à redução das desigualdades. Não é isso, porém, o que se vê, pois os últimos anos registram aumento das desigualdades no cenário mundial. Referências Bibliográficas HOBSBAWM, ERIC J. A Era do Capital. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. A Fábrica Global. Disponível em <http://www.urbanocultural.com> Acesso em 08/06/11. A Hegemonia do Novo Liberalismo. Atualidades Vestibular 2008. São Paulo: Abril. 2008. BECKOUCHE, PIERRE. Indústria: um só mundo. São Paulo: Ática, 1995. www.tiberiogeo.com.br – A Geografia Levada a Sério Página 9