UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ALINE JUVÊNCIO PATRÍCIO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CATARATA E UVEÍTE EM CÃO – RELATO DE CASO CURITIBA 2015 ALINE JUVÊNCIO PATRÍCIO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CATARATA E UVEÍTE EM CÃO – RELATO DE CASO Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Medicina Veterinária, da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Médico Veterinário. Orientadora: Prof. MSc. Mariana Scheraiber. CURITIBA 2015 REITOR Luiz Guilherme Rangel dos Santos PRÓ-REITOR ADMINISTRATIVO Carlos Eduardo Rangel dos Santos PRÓ-REITORIA ACADÊMICA Prof. Dra. Carmen Luiza da Silva DIRETOR DE GRADUAÇÃO João Henrique Faryniuk COORDENADOR DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Prof. Dr. Welington Hartmann COORDENADOR DO ESTÁGIO CURRICULAR Prof. Dr. Welington Hartmann ORIENTADORA DO ESTAGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO Profa. Msc. Mariana Scheraiber ORIENTADOR PROFISSIONAL NO HOSPITAL VETERINÁRIO Médico Veterinário Humberto Dias Filho CAMPUS PROF. SIDNEY LIMA SANTOS Rua Sidney A. Rangel Santos, 238 – Santo Inácio CEP: 82010-330 – Curitiba – Paraná Telefone: 3331-7700 TERMO DE APROVAÇÃO ALINE JUVÊNCIO PATRÍCIO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CATARATA E UVEÍTE EM CÃO – RELATO DE CASO Este trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Médica Veterinária pela banca examinadora do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Presidente: Prof. Mariana Scheraiber Prof. Vinícius Caron Prof. Thayane Cristine Vieira dos Santos Curitiba, 26 de novembro de 2015. APRESENTAÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, Campus Prof. Sydnei Lima Santos (Barigui), pela universitária Aline Juvêncio Patrício, como requisito parcial para a obtenção do título de Médica Veterinária, é composto de Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas e relato de caso sobre catarata em cão, durante o período de 03 de Agosto de 2015 até 09 de Outubro de 2015, na Clínica Veterinária Nossos Bichos, situado no município de Curitiba – Paraná. Eu dedico a você Pai, mesmo não presente, te sinto em meu coração. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, pelos caminhos que me instruiu até aqui, nesta etapa que se cumpre. Mas não menos importante aos meus pais, do qual se dedicaram muito para que esse sonho seja realizado, não somente em min, mas neles. Agradeço com muito carinho ao meu amado, pela atenção, pelo apoio em todos os momentos; Ao meu filho, pelas “injeções” de ânimo. A todos os meus familiares que de alguma forma, em algum momento me ajudaram nesta etapa longa, porém com seu fim marcado. Meu muito obrigada. Em especial agradeço a minha orientadora Mariana Scheraiber, que me deu um norte, no meio da tempestade que se instalou. E todos os professores, mestres, doutores, e profissionais da área que contribuíram para minha formação de alguma forma. Muito obrigada. “O saber a gente aprende com os mestres e os livros. A sabedoria, se aprende é com a vida e os humildes.” Cora Coralina RESUMO A catarata e uveíte tem acometido muitos animais nos dias atuais, pois a idade dos pets vêm se prolongando cada vez mais. Este trabalho tem objetivo de explanar sobre a catarata e a uveíte, assim como suas consequências e tratamento. O trabalho discorre através de análise bibliográfica desde a anatomia, fisiologia do olho, assim como o exame semiológico oftálmico. Em um segundo momento sobre a fisiopatologia da catarata, como ela atinge os pacientes, raças predispostas, tratamentos e possíveis consequências, entre elas uveíte. O relato de caso exposto trata-se de um paciente poodle de 12 anos, que já apresentava catarata em ambos os olhos. O paciente também apresentava uveíte, onde se iniciou um tratamento. Com este estudo observa-se que esta doença acomete cada vez mais os pacientes, sendo que em muitos casos não tem o diagnóstico claro, prejudicando assim um possível tratamento. Palavras-chave: animais de companhia; oftalmologia; clínica médica. ABSTRACT Cataract and uveitis has affected many animals today, because the age of the pets is extending more and more. The aim of this study is to explain about cataracts and uveitis, as well as its consequences and treatment. The study is about literature review from anatomy, physiology of the eye and as the semiotic ophthalmic examination. After, pathophysiology of cataracts, how it affects patients, prediposed races, treatments and possible consequences, including uveitis. The case report is about a 12 years old poodle, which already had cataracts in both eyes. The patient also presented uveitis, which started treatment. With this study, it was observed that this disease increasingly affects patients, and in many cases have no clear diagnosis, thus hampering a possible treatment. Keywords: companion animals; medical clinic; ophthalmology. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS OSH Ovariosalpingohisterectomia PIO Pressão intraocular LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1: PORCENTAGEM DE CONSULTAS E CASUISTICAS DOS DIFERENTES SISTEMAS ATENDIDOS...................................... 18 FIGURA 2: ROTINA DE INTERNAMENTO.................................................... 20 FIGURA 3: ANATOMIA DO OLHO................................................................. 21 FIGURA 4: REPRESENTAÇÃO DA LENTE................................................... 23 FIGURA 5: TESTE DE SCHIRMER EM CÃO................................................. 25 FIGURA 6: TESTE OFTÁLMICO DE FLUORESCEÍNA EM CÃO................... 26 FIGURA 7: ELETRORRETINOGRAFIA EM CÃO.......................................... 27 FIGURA 8: FUNDOSCOPIA/ OFTALMOSCOPIA DIRETA............................ 28 FIGURA 9: CÉLULAS DA RETINA................................................................. 29 FIGURA 10: VIAS VISUAIS.............................................................................. 30 FIGURA 11: CATARATA INCIPENTE EM CÃO............................................... 32 FIGURA 12: CATARATA MADURA (A) E CATARATA HIPERMADURA (B) EM CÃO....................................................................................... 33 FIGURA 13: VARIAÇÕES ANATOMICAS DA LENTE DE ACORDO COM O TIPO DE CATARATA................................................................... FIGURA 14: FUNDO DE OLHO DE CÃO JOVEM (A) E ADULTO (B)............ 34 36 FIGURA 15: FACOEMULSIFICAÇÃO.............................................................. 37 FIGURA 16: ASPECTO CLÍNICO DA UVEÍTE EM CÃO.................................. 40 FIGURA 17: PACIENTE COM SINAIS CLÍNICOS DE CÃO CATARATA E UVEÍTE........................................................................................ 43 FIGURA 18: OLHO ESQUERDO APRESENTANDO UVEÍTE E CATARATA MADURA...................................................................................... FIGURA 19: OLHO DIREITO APRESENTANDO UVEÍTE E CATARATA....... 44 45 LISTA DE TABELAS TABELA 1 – RAÇAS PREDISPOSTAS À CATARATA.................................. TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DA UVEÍTE DE ACORDO COM 31 A LOCALIZAÇÃO............................................................................ 38 TABELA 3 – AGENTES ETIOLÓGICOS DA UVEÍTE...................................... 39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 16 2 RELATÓRIO DE ESTÁGIO................................................................... 17 2.1 ESTRUTURA DA CLÍNICA.................................................................... 17 2.2 PROFISSIONAIS DA CLÍNICA.............................................................. 17 2.3 CASUÍSTICA......................................................................................... 17 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................................. 20 3.1 ANATOMIA DO OLHO........................................................................... 20 3.2 SEMIOLOGIA DO OLHO....................................................................... 23 3.2.1 Exame Físico......................................................................................... 24 3.2.2 Teste de Schirmer.................................................................................. 24 3.2.3 Exames microbiológicos........................................................................ 25 3.2.4 Tanometria............................................................................................. 25 3.2.5 Corantes................................................................................................ 25 3.2.6 Exame neurológico................................................................................ 25 3.2.7 Gonioscopia, Eletrorretinografia, Fundoscopia...................................... 26 3.2.8 Exames Complementares...................................................................... 28 3.3 FISIOLOGIA DO OLHO......................................................................... 28 3.4 CATARATA............................................................................................ 30 3.4.1 Animais Predispostos............................................................................ 31 3.4.2 Classificação da Catarata...................................................................... 32 3.4.3 Características Clínicas......................................................................... 35 3.4.4 Diagnóstico............................................................................................ 36 3.4.5 Tratamento............................................................................................. 37 3.5 UVEÍTE.................................................................................................. 38 3.5.1 Classificação da uveíte.......................................................................... 38 3.5.2 Comportamento Clínico......................................................................... 39 3.5.3 Diagnóstico............................................................................................ 40 3.5.4 Tratamento............................................................................................. 41 4 RELATO DE CASO............................................................................... 43 4.1 ANAMNESE........................................................................................... 43 4.2 EXAME FÍSICO..................................................................................... 43 4.3 DIAGNÓTICO........................................................................................ 44 4.4 TRATAMENTO...................................................................................... 45 5 CONCLUSÃO........................................................................................ 46 6 REFERÊNCIAS..................................................................................... 47 16 1 INTRODUÇÃO De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da saúde) cerca de 47,8% dos idosos seres humanos são afetados com catarata, independentemente de sua etiologia (BRASCRS, 2015). Da mesma forma, esta doença também afeta os animais. Com o avançar da Medicina Veterinária, os cuidados com os pets têm sido cada vez mais rigorosos e modernos, com o objetivo de proporcionar a estes animais uma vida longa e de boa qualidade. Porém, as doenças em animais sênior, em que anos atrás eram desconhecidas, tornaram-se comuns na rotina clínica. Como exemplo, a catarata e uveíte. A catarata pode apresentar várias etiologias e apesar de muitos pacientes apresentarem a condição, poucos são submetidos ao tratamento de eleição devido ao alto custo do procedimento. A catarata consiste em opacidade da lente ou cristalino, afetando a entrada da luminosidade através deste, podendo ou não apresentar alterações na visão. Outra enfermidade que acomete os animais portadores de catarata é a uveíte, podendo ou ser uma causa secundaria a catarata, tente-se atenção especial por conta da gravidade, podendo ter várias causas, o fechamento do seu diagnóstico é importante para um tratamento eficaz. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre o assunto, explanando os principais tratamentos clínicos, assim como relatar o caso de um animal atendido em uma clínica particular de Curitiba. 17 2 RELATÓRIO DE ESTÁGIO 2.1 ESTRUTURA DA CLÍNICA A Clínica Veterinária Nossos Bichos, localizada na rua Presidente Arthur Bernardes, no bairro do portão, está situada neste local há aproximadamente 15 anos. Nos dias atuais a clínica dispende de uma estrutura com consultórios para atendimento, internamento, sala de raio-x, sala de cirurgia, laboratório, farmácia, sala de desinfecção, estoque de produtos, loja acoplada com farmácia veterinária, e banho e tosa. 2.2 PROFISSIONAIS DA CLÍNICA O corpo de Médicos Veterinários conta com seguinte estrutura: três médicos veterinários; Humberto Dias – médico veterinário clinico geral, cirurgião geral e dermatologista; Humberto Dias Filho – médico veterinário anestesiologista, medicina intensiva, neurologista; Matheus Cezar – médico veterinário clínico geral e especialista em diagnóstico por imagem. E outros médicos especialistas como cardiologista, oftalmologista, fisioterapeuta, e Médicos Veterinários plantonistas. 2.3 CASUÍSTICA A rotina clinica é intensa principalmente nos atendimentos e no internamento de pacientes, no período de cinquenta dias, acompanhou em torno de duzentos atendimentos. Nas consultas (figura 1) observa-se uma maior incidência de casos relacionados ao sistema tegumentar. Nesta classificação foram encontradas, piodermites, dermatites alérgicas, dermatites por lambedura, e também otites. Em muitos casos os tratamentos relacionados a pele são de longa duração, com isso ocorre muitos casos de recidiva dos sinais clínicos, muitas vezes mais graves que no primeiro momento da doença. 18 FIGURA 1 – PORCENTAGENS DE CONSULTAS E CASUÍSTICAS DOS DIFERENTES SISTEMAS ATENDIDOS. CONSULTAS Oftalmologia 4% Odontologia 5% Outros Trauma 5% 5% S. Tegumentar 23% Vacinação 13% Coleta de Exames 17% S. Respiratório 4% S. Cardiovascular 3% S. Gastrointestinal 13% S. Neurológico 3% S. Musculo Esqueletico 5% Fonte: A autora, 2015. O acompanhar as consultas e vários pacientes que apresentaram esta característica de recidiva, observa-se a falha no tratamento em relação a conduta do proprietário, passando da negligência ao medicar o paciente (horários errados, não medicação; dosagem errada, interrupção da terapia sem orientação médica), assim como a desistência do tratamento e o não retorno para reavaliação, o que muitas vezes comprometia o tratamento sugerido pelo médico veterinário. As colheitas de exames também têm uma grande importância dentro da rotina clínica. As colheitas eram realizadas preferencialmente pela manhã, nos primeiros horários; (seriam feitas as colheitas de sangue para exames pré cirúrgicos, remoção de cálculo dental, controle (check up) e mensuração de fenobarbital). Alguns destes exames eram feitos no próprio laboratório da clínica, os demais eram mandados para laboratórios parceiros. 19 Um dado alarmante são os casos de gastroalimentares, muitos pacientes depois da consulta clínica foram rapidamente encaminhados para internamento. Os casos relacionados ao sistema gastrointestinal estavam diretamente ligados a alimentação inadequada dos pacientes; os proprietários ofertavam alimentação humana e petiscos (salsichas, presuntos, biscoitos, pães, bolos, entre outros). Pacientes em excesso de peso também eram rotina dentro da clínica. O maior motivo, relatado pelos responsáveis, era a alimentação em excesso. Junto com os problemas gastrointestinais, as doenças músculo-esqueléticos e sistêmicas também eram diagnosticadas. A rotina do internamento (Figura 2) na clínica passava desde internamentos rotineiros de pós-operatórios como ovariosalpigohisterectomia (OSH), problemas de desidratação, gastroenterites, controle de dor nos casos de câncer a problemas mais graves como osteomusculares, controle de glicemia, pacientes cardiopatas com quadros graves de edema pulmonar, problemas renais – desde rins policísticos, obstruções por cálculos renais, alterações no padrão de urinálise, entre outros. Os pacientes internados passavam por monitoração a cada 4 horas, com acompanhamento dos parâmetros vitais, e administração de medicações solicitadas. FIGURA 2 – ROTINA DE INTERNAMENTO. 20 Outros 9% Trauma 11% S. Respiratório 5% Diabetes 11% S. Gastrointestinal 12% S. Neurológico 8% D. Infecciosas 9% S. Músculo Esquelético 3% OSH/ Piometra 13% S. Urinário 14% S. Cardiovascular 5% Fonte: A autora, 2015. 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 ANATOMIA DO OLHO O olho é um órgão que evoluiu de estruturas primitivas, capaz de captar a luz e transformar estímulos elétricos em informações. Durante esta evolução, o órgão sensorial se diferenciou entre as espécies e mesmo entre os indivíduos (KÖNIG, 2011). Este complexo sistema pode se dividir para melhor compreensão da divisão anatômica do órgão da visão em: bulbo do olho, anexos, área visual do córtex cerebral, nervo óptico. E uma segunda classificação como câmara anterior, câmara posterior e câmara vítrea, essa é a divisão do bulbo ocular. A câmara anterior e a posterior se comunicam através da pupila; que são preenchidas por humor aquoso. A câmara vítrea é ocupada pelo corpo vítreo (KÖNIG, 2011). Na figura 3, é possível observar as estruturas anatômicas do olho. 21 FIGURA 3 – ANATOMIA DO OLHO Fonte: König, 2011. O bulbo ocular, possui variações entre as espécies e indivíduos, possuindo três túnicas que formam uma espécie de lâmina que envolvem o bulbo ocular. São denominadas de túnica externa ou fibrosa, túnica média ou vascular e túnica interna ou nervosa (DYCE, 2004). A túnica fibrosa do bulbo do olho é formada por tecido de colágeno denso e tem como finalidade o formato do olho (KÖNIG, 2011). Em sua porção mais opaca e branca denomina-se esclera, e na porção mais transparente denomina-se córnea (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). A esclera ajuda a manter a resistência de pressão do olho (KÖNIG, 2011). Já a córnea tem a função de sustentação dos conteúdos, refração e transmissão da luz – a refração ocorre por conta da curvatura e a transmissão por causa de sua transparência quando integra (GELLAT, 1998). A coroide, o corpo ciliar e a íris, são os componentes da túnica vascular do bulbo ou úvea. A coróide é uma camada pigmentada, pois tem maior vascularização e está mais posterior ao bulbo do olho. Composta por diversas lâminas dentre elas: 22 lâmina supracorioide, lâmina vascular, lâmina coroidocapilar, lâmina basal (KÖNIG, 2011). O tapete lúcido é uma estrutura formada entre o lâmina vascular e lâmina corioideocapilar, porém é avascular, localizada no fundo da coróide, mais dorsalmente. Está presente em mamíferos exceto nos suínos, que auxilia na visão ao amanhecer e a noite responsável pela aparência iridescente do olho do animal (KÖNIG, 2011, DYCE, 2004) No corpo ciliar podemos encontrar o músculo ciliar, que auxilia na distensão da coróide, e na redução da tensão do cristalino, este acomodação visual serve para melhor focalizar os objetos (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). A íris nada mais é que a continuação do corpo ciliar; é altamente vascularizada, e possui células pigmentadas pela melanina, protegendo a retina da intensa luminosidade. Na íris encontramos a delimitação da pupila; esta é controlada por músculos que regulam a quantidade de luz que atinge a retina (KÖNIG, 2011). Ainda segundo König (2011), a retina ou túnica interna do bulbo do olho como, possui uma parte óptica e uma parte cega. Na porção cega se encontra células fotorreceptoras, interneurônios, células ganglionares. Já parte óptica a camada externa é pigmentada, nesta região podemos encontrar a ora serrata, que é responsável pela transdução de energia fótica em energia química e por fim em estimulo elétrico direcionando para o nervo óptico até os centros visuais no encéfalo. A camada interna é nervosa e formada por fotorreceptores, interneurônios, células ganglionares, células de Müller e neurônios retinianos (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). Os anexos dos olhos, são componentes que ajudam no complexo sistema de visão. São as pálpebras, a órbita, o aparelho lacrimal, os músculos, vascularização e inervação (GELLAT, 1998). O cristalino ou lente (figura 4) como é chamado, é um corpo convexo que não possui vascularização, transparente e possui dois polos; o polo anterior e o polo posterior. Estes polos são delimitados por uma linha denominada equador, nesta região do equador encontramos os ligamentos suspensos (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2004). Os quais são responsáveis pelo fenômeno de acomodação (SLATTER, 2005). 23 FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DA LENTE Fonte: SLATTER, 2005. Para que o sistema fisiológico da lente funcione corretamente é necessário oxigênio e metabolitos, para manter a produção de células lenticulares, elasticidade corpuscular e transparência lenticular. A composição pode variar entre as espécies, mas basicamente gira em torno de 65% de água e 35% e proteínas; e a energia necessária para a lente é proveniente do metabolismo da glicose (SLATTER ,2005). 3.2 SEMIOLOGIA DO OLHO O médico veterinário clínico geral possui uma gama de conhecimento amplo em relação ao organismo do paciente, mas em determinadas situações, o conhecimento específico é determinante para um bom prognóstico. Com isso, algumas doenças que acometem os pacientes, assim como alguns sinais clínicos específicos, devem ser atendidas pelo médico veterinário especialista, neste caso o oftalmologista (FEITOSA, 2008). Os proprietários queixam-se com mais frequência de pacientes com secreção ocular, alteração na coloração dos olhos, dor, desconforto, mudança no tamanho e formato tanto da pupila quanto do globo ocular e até mesmo a perda de visão (MARTINS, 2011). 24 A anamnese é uma ferramenta importante tanto no diagnóstico e prognóstico da queixa inicial, assim como muitas vezes a descoberta de uma doença primária que posteriormente originou problema oftálmico (FEITOSA, 2008). Muitas espécies têm suas particularidades. Os gatos, por exemplo, apresentam sequestro córneano ou ceratites por exposição. Já em cães braquicefálicos, algumas alterações como ceratoconjuntivite seca. A idade também pode influenciar no aparecimento de patologias oftálmicas, como protrusão de terceira pálpebra em animais jovens (GALERA, 1998). 3.2.1 Exame físico Para a realização do exame físico na oftalmologia, é necessária a utilização de alguns equipamentos específicos. A avaliação do bulbo ocular deve ser completa, e deve ser examinado juntamente as estruturas extraoculares, como as porções externas e internas do bulbo ocular. Os equipamentos específicos, incluem: fonte de luz artificial; transiluminador; oftalmoscópio direto e indireto; lente de 20 dioptrias; tonômetro de identação e aplanação; lente para gonioscopia; teste de schirmer; colírio à base de corante vital de fluoresceína; rosa bengala; colírio anestésico; colírio ciclopégicos (midriáticos); espátulas ou escovas para colheita de citologia; e suabes estéreis (FEITOSA, 2008). O mesmo autor supracitado também enfatiza que o exame semiológico do bulbo ocular consiste em avaliar não somente este, mas as estruturas extra oculares, e as porções externas e mais internas do bulbo ocular. 3.2.2 Teste de Schirmer O teste de Schirmer (figura 5) é realizado com a finalidade de mensurar a porção aquosa do filme lacrimal, pré-corneal. Para a realização do teste é colocado no saco conjuntival inferior, uma tira de papel estéril. A leitura é feita através da medida da extensão do filtro de papel que ficou úmida. Não é necessário anestésico tópico (PIGATTO, 2007). 25 FIGURA 5 – TESTE DE SCHIRMER EM CÃO. Fonte: http://www.oftalmologianimal.com.br/2009/05/ceratoconjuntivite-seca.html. 3.2.3 Exames Microbiológicos Exames microbiológicos podem ser realizados para a identificação dos agentes, os quais podem causar sinais clínicos como: lesões corneais ou de conjuntiva, secreção mucopurulenta, úlceras corneais profundas, ceratomalácia, dermatite periocular e severa blefarite. Para a colheita deste material pode ser utilizado as escovas de citologia, bisturi, e espátula de Kimura (MARTINS, 2011; FEITOSA, 2008). 3.2.4 Tonometria A tonometria, tem como objetivo mensurar a PIO (pressão intraocular). Podem ser utilizados dois tonômetros: de identação, porém é necessário o uso de colírios anestésicos, e o tonômetro de aplanação que é mais utilizado na medicina veterinária, e não utiliza o colírio anestésico (MARTINS, 2011). 3.2.5 Corantes Existem dois corantes mais utilizados na oftalmologia que são imprescindíveis no exame clínico para determinar algumas doenças (FEITOSA, 2008). A fluoresceína (figura 6) é utilizada no exame oftálmico com a finalidade de detectar úlceras de córneas (SOUZA, 2014). É solúvel em água, logo não ultrapassando a barreira hidrofóbica; quando o epitélio desta barreira não está em 26 perfeita integridade, ao aplicar o corante no bulbo ocular observa-se que a fluoresceína ultrapassa esta barreira do estroma córneano pigmentando a região afetada (SLATTER, 2005). O rosa bengala é usual em casos de suspeitas de regiões necróticas e com muco. Este corante é muito utilizado no diagnóstico de ceratoconjuntivite seca, usado também para detectar úlceras por herpesvírus em gatos (SOUZA, 2014). FIGURA 6 – TESTE OFTÁLMICO COM FLUORESCEÍNA EM CÃO. Fonte: http://www.olharvet.com.br/oftalmologia-veterinaria. 3.2.6 Exame neurológico Para a realização do exame oftálmico porção neurológica é necessário realizar alguns testes. Que irão avaliar os nervos cranianos (nervo óptico, nervo oculomotor, nervo troclear, nervo trigêmeo, nervo abducente, nervo facial, nervo vestibular), os quais são responsáveis pelo sistema visual no aspecto neuroanatômico (FEITOSA, 2011). Para esta avaliação, segundo Feitosa (2011) são realizados os seguintes testes: teste de reflexo de ameaça visual; teste de reflexo pupilar direito e consensual; teste do reflexo palpebral; teste do reflexo corneal; e teste do reflexo vestibular. 3.2.7 Gonioscopia, Eletrorretinografia, Fundoscopia Alguns exames são específicos, como a gonioscopia, que, além de mensurar o ângulo de filtração, também é recomendada em casos de suspeita de glaucoma, 27 massas neoplásicas e inflamações em áreas como limbo, corpo ciliar ou na base da íris (FEITOSA, 2011). A eletrorretinografia (figura 7) é um exame com diagnóstico preciso e recomentado em animais com catarata. Este exame permite a avaliação da função da retina, detectando as possíveis lesões nas camadas mais externas, já que a oftalmoscopia é impossibilitada (SLATTER, 2005). O exame da eletrorretinografia ocorre por meio da estimulação luminosa da retina e a avaliação da resposta (GOMES, 2013). FIGURA 7 – ELETRORRETINOGRAFIA EM CÃO. Fonte: http://www.oftalmologianimal.com.br/ A avaliação de vasos sanguíneos da retina (artérias e veias) e nervos se dá através do exame de fundo de olho, denominado fundoscopia (figura 8) ou oftalmoscopia (ABC.MED.BR, 2013). Na realização do exame de fundo de olho é observada a localização do disco óptico, além da coloração, aparência e tamanho dos vasos. E na avaliação da retina, observa-se a coloração, calibre e trajeto dos vasos sanguíneos (MARTINS, 2011). Martins (2011) ainda explica que o exame pode ser feito por oftalmoscopia direta, onde apenas uma região do fundo do olho é avaliada, sendo necessário reposicionar o paciente. Já a oftalmoscopia binocular indireta possibilita maior visualização da área do fundo do olho, com rápido panorâmico da retina. FIGURA 8 – FUNDOSCOPIA/OFTALMOSCOPIA DIRETA. 28 Fonte: http://cavetrp.blogspot.com.br/2010/05/exame-oftlamologico-em-caes.html. 3.2.8 Exames Complementares Vários exames complementares, podem ser necessários para um melhor diagnóstico, os quais incluem: exames de imagem (ultrassonografia, raio x, tomografia computadorizada, ressonância magnética), a angiografia com fluoresceína, exames histológicos, exames bioquímicos (MARTINS, 2011). 3.3 FISIOLOGIA DO OLHO A focalização de imagens pelo bulbo ocular se dá através de uma mudança anatômica no cristalino/lente. Esta alteração anatômica ocorre da seguinte forma: quando o olho está relaxado ocorre uma tração na região do equador, pelos ligamentos suspensores, ocasionando um achatamento do cristalino, diminuindo a refração de luz; isso ocorre para uma visão a distância. Em casos de objetos mais próximos ocorre também a contração dos músculos do corpo ciliar, diminuindo seu diâmetro; e os ligamentos suspensores logo relaxam e diminuem a tração na região equatorial (CUNNINGHAN, 2008). A retina dos vertebrados é originada do neuroectoderma, e nela podemos definir cinco tipos celulares (figura 9). As células fotorreceptoras são compostas de bastonetes e cones. Os cones e bastonetes possuem três regiões em suas células, 29 os quais são denominados: terminal sináptico, segmento interno e segmento externo. No segmento externo à uma região especializada em fotorrecepção, contendo fotopigmento visual, que quando estimulado com a luz, desencadeia uma série de reações bioquímicas transformando a luz em estímulos neurais (CUNNINGHAN, 2008). FIGURA 9 – CÉLULAS DA RETINA. Fonte: CUNNINGHAN, 2008. Os bastonetes possuem um sistema de visão noturna, logo não é aprimorado para discernir imagens como o sistema de cones. Já o sistema de cones funciona com altos níveis de luminosidade e possui fotopigmentos com maior variação a luz, fazendo com que o cones sejam responsáveis pela visão colorida (CUNNINGHAN, 2008). As células amácrinas possuem vários subtipos, e são interneurônios da retina, podem trabalhar em duas direções com as células bipolares para as células ganglionares ou internamente, com os axônios das células bipolares e dendritos das células ganglionares (GUYTON & HALL, 2002). A transmissão de sinal elétrico da retina (figura 10) passando pelo nervo óptico e a sua chegada ao encéfalo, ocorre por conta das células ganglionares (GUYTON & HALL, 2002). Estas células participam de três vias importantes no sistema da visão, são elas: a via retinogeniculo-estriada que está relacionada com a visão de formas, core, movimento, orientação e profundidade. A via retinolateral responsável em 30 reflexos pupilares, reflexos de orientação em relação ao alvo e a via retino hipotalâmica que regula os ciclos de claro e escuro, de uma maneira fisiológica (CUNNINGHAN, 2008). E por fim as células horizontais são responsáveis em transmitir os impulsos para camada plexiforme externa (GUYTON & HALL, 2002). Para que a imagem chegue ao córtex visual, depois da luminosidade atingir a retina, ela chega até o núcleo geniculado lateral (localizado no tálamo) através das células do núcleo geniculado, essas que iram transmitir as informações visuais do trato óptico ao córtex visual. Em seguida atinge o córtex visual primário (localizado no lobo occipital) e chegando aos lobos parietais e occipitais para melhores interpretações (GUYTON & HALL, 2002, CUNNINGHAN, 2008). FIGURA 10 – VIAS VISUAIS. Fonte: Gomes, 2013. 3.4 CATARATA A catarata é a desorganização das fibras lenticulares, ocasionando a perda da transparência (CRIVELLENTI, 2012). Esta perda de transparência logo irá interferir na qualidade de luminosidade que atravessa, sendo assim prejudicando a formação de imagens neurais. Para que a lente perca a sua transparência, ocorrem alterações bioquímicas que podem estar ligadas à nutrição da lente, ao metabolismo proteico ou energético, o equilíbrio osmótico; variando assim de acordo com a sua etiologia (GOMES,2013). 31 A catarata pode ter várias origens desde hereditária, de acordo com a idade, ou ainda de diferentes agentes etiológicos (SLATTER, 2005). 3.4.1 Animais predispostos Algumas raças de cães são mais predispostas a terem catarata. Na tabela 1 é possível observar as diferentes raças de cães e as patologias oftálmicas para os quais são acometidos: Tabela 1 – Raças pré-dispostas a catarata. Raças Afegan hound Herança Autossômica Recessiva Autossômica Recessiva/ Poligênica ? Idade 6-12 meses Autossômica Recessiva ? Congênita Chesapeake Bay Retrivier Cocker Spaniel Inglês Dominante Incompleta 6meses-6 anos ? Congênita Cão Montanhês de Entelbucher Pastor Alemão Autossômica Recessiva Dominante Incompleta Autossômica Recessiva 1-2 anos Dominante Incompleta² Dominante Incompleta 6 meses ou mais Congênita 6 meses ou mais Congênita 2-6 anos Congênita Cocker Spaniel Americano Terrier Australiano Terrier Boston Golden Retrivier Labrador Retrivier Poodle Toy Schenauzer Mini Norwegian Buhund Old English Sheepdog Rottweiler ? Autossômica Recessiva Autossômica Recessiva Autossômica Dominante Autossômica Recessiva Desconhecido 6 meses ou mais 3-6 anos 3-4anos 8 anos ou mais 8 Semanas 6meses ou mais Congênita Congênita á 2 anos Mais de 10 meses Localização Inicial Equatorial/ córtex posterior Córtex anterior/ posterior Estrias/ Fissuras corticais Nuclear/ suturas posteriores Equador, córtex anterior Córtex/ nuclear Capsular anterior bilateral Córtex posterior Córtex/ Suturas posteriores Suturas posteriores, nuclear, catarata cortical em torno de 2 anos Subcapsular posterior (triangular) Subcapsular posterior (triangular) Cortical Nuclear/ Córtex posterior Córtex posterior Nuclear/ Cortical acima de 4 anos Córtex Nuclear Polar anterior/ posterior, cortical 32 Staffordshire Bull terrier Poodle Standard Welsh Speringer Spaniel West Highlad White Terrier Autossômica Recessiva Autossômica Recessiva Autossômica Recessiva Autossômica Recessiva 6 meses ou mais 1 ano ou mais Congênita Congênita Suturas/ Córtex posterior Córtex equatorial Nuclear/ Córtex posterior Nuclear/ Suturas Posteriores Fonte: Slatter, 2005. 3.4.2 Classificações da catarata A catarata pode ocorrer de acordo com a etiologia e/ou aspecto morfológico da lente (JONES; HUNT; KING, 2000). A classificação de acordo com estágio de desenvolvimento (imatura, incipiente, madura, hipermadura, morganiana) é a mais utilizada (GELLAT, 2003). A catarata denominada incipiente (figura 11) ocorre uma opacidade porém não altera a visão do animal. Já a imatura a opacidade é mais predominante em relação a incipiente, mas ainda incompleta. A visão já apresenta sinais de comprometimento e o aumento de volume da lente pode ou não estar presente, em casos de bilateralidade pode apresentar uma deficiência visual (SLATTER, 2005). FIGURA 11 – CATARATA INCIPIENTE EM CÃO. Fonte: CAMARATTA, 2009. Quando classificado como madura, a catarata já apresenta opacidade total da lente, e a cegueira está presente; o exame do fundoscópio é inviável. Com sua 33 evolução pode-se apresentar o estágio de catarata hipermadura, que ocorre por conta da proteólise (figura 12) (SLATTER, 2005). FIGURA 12 – CATARATA MADURA (A) E HIPERMADURA (B) EM CÃO. (A) (B) Fonte: CAMARATTA, 2009. Em alguns casos o núcleo pode se liquefazer, sendo depositado no interior da lente, onde o córtex já está liquefeito, este fenômeno é denominado de catarata morganiana (SLATTER, 2005). Quando isso ocorre, podemos observar casos de inflamação, em partes especificas como a iridociclite facolítica, a uveíte facoanafilática, uveíte facogênica e uveíte (PONTES, 2011). A intumescente é quando a lente aumenta seu tamanho; este aumento de tamanho deixa favorável para um glaucoma de ângulo fechado, e uveíte induzida pela lente por conta de um bloqueio pupilar e perda de proteínas (SLATTER, 2005). Na figura 13 é possível observar as variações anatômicas da lente de acordo com diferentes tipos de catarata. 34 FIGURA 13 – VARIAÇÕES ANATÔMICAS DA LENTE DE ACORDO COM O TIPO DE CATARATA. Fonte: SLATTER, 2005. Quando relacionada ao tempo de desenvolvimento temos as seguintes classificações: Congênita: Com o início na vida fetal, podem progredir ou não, serem herdadas ou não, secundárias ou de anormalidades do próprio desenvolvimento, como por exemplo persistência de membrana celular, persistência de artéria hialoide, microftalmia ou anormalidades oculares múltiplas. Adquirida: Este tipo de catarata afeta primariamente o córtex e depois o núcleo, surgindo entre 01 e 06 anos de idade e possui várias etiologias. 35 Senil: Ocorre por conta do envelhecimento, podendo iniciar-se no córtex ou núcleo e apresenta uma esclerose nuclear. A catarata cortical senil típica tem início na região equatorial profunda. Além da classificação por idade, as cataratas também podem ser classificadas em: cataratas do tipo aparência que são as brunescente – catarata negra, cerúlea, coronária, coraliforme, cuneiforme, cupuliforme, discóide, floriforme, fusiforme, membranosa, pontilhada, piramidal, lanciforme, estrelada, sutural (SLATTER, 2005). As cataratas são comuns no meio clínico entre elas a causado por causa metabólica como por exemplo diabetes mellitus, que ocorre devido à perda de proteínas lenticulares e tumescência. Esta condição leva a outras complicações como a degeneração vítrea, a uveíte, luxação da lente, glaucoma e deslocamento de retina. (FREITAS et al, 2010). Outros tipos de cataratas patogênicas também são descritas em literatura: como secundária, que nada mais é quando a cápsula posterior ou mesmo a lente remanesce após a correção da catarata, a elétrica que ocorre devido a uma eletrocussão; a complicada que ocorre por conta de outras doenças oculares envolvidas; a toxica muito comum também na clínica veterinária causada por substâncias toxicas, e/ou aplicação de fármacos sem a devida orientação do médico veterinário oftalmologista causando danos a visão (SLATTER, 2005). 3.4.3 Características clínicas Camaratta (2009) relata que os responsáveis buscam o consultório veterinário relatando que seus animais apresentam mudança de comportamento, batem em objetos, alguns ficam mais confortáveis com a luminosidade mais baixa. Já outros pela alteração anatômica dos olhos, sejam esbranquiçados, com aumento de volume. Para que o diagnóstico seja eficiente em relação a catarata são realizados os seguintes testes: teste de reflexo pupilar, teste de ameaça, teste de Schirmer, mensuração da pressão intraocular (PIO), oftalmoscopia direta e indireta (CAMARATTA, 2009). 36 3.4.4 Diagnóstico O exame oftalmológico deve ser realizado cuidadosamente, com eficiência e rapidez. Para que o exame seja eficaz após anamnese completa do paciente, e a avaliação dos demais componentes do olho – em especial para os animais com suspeita de catarata, observa-se na lente algumas características como: O tamanho da lente, a qual pode estar ausente (afacia), pequena (microfacia), lente esférica (esferofacia), lente em forma de cone ou globóide (lenticone ou lentiglobo). Sua posição – podendo variar de luxada, subluxada, posterior, catarata e a presença ou não de rupturas e lacerações de capsula articular (SLATTER, 2005). No auxílio do diagnóstico da catarata é utilizado a lâmpada de fenda, que uma vez incidida sobre o olho do paciente, pode-se observar o fundo do olho (figura 14) e demais estruturas, em pacientes com catarata esta visão são é possível. A catarata deve ter um diagnóstico diferencial para a esclerose lenticular, que é um processo natural. A esclerose lenticular é diagnosticada também com a lâmpada de fenda, mas juntamente com alterações bioquímicas (SLATTER, 2005). FIGURA 14 – FUNDO DE OLHO DE CÃO JOVEM (A) E ADULTO (B). (A) Fonte: KÖNIG, 2011 (B) 37 3.4.5 Tratamento O tratamento para a catarata de eleição é o procedimento cirúrgico, pois não há substâncias químicas que possam devolver a integridade do cristalino quando alterado por alguma forma. Porém ainda existe uma certa dificuldade em realizar este procedimento, devido ao alto custo, com pouco adesão pelos proprietários (PONTES, 2011). Dentre algumas técnicas, a mais moderna é a facoemulsificação (figura 15), permitindo um tempo reduzido no procedimento e a recuperação do paciente ser mais rápida (PONTES, 2011). FIGURA 15 – FACOEMULSIFICAÇÃO. Fonte: http://www.oftalmologiacampobelo.com.br/catarata. Outras três técnicas cirúrgicas são descritas: discisão, a qual consiste na abertura da córnea e da capsula anterior da lente, com a intenção da remoção do conteúdo interno da capsula. Este método é restrito a pacientes jovens e com a catarata ainda líquida e a pacientes muito pequenos, onde o manuseio de instrumentos cirúrgicos oftálmicos são complicados (CAMARATA,2009). A extração intracapsular consiste em remover a lente e a cápsula através de uma incisão na córnea; este método é utilizando somente em casos de lente luxada. Já a extração extra cápsular consiste na remoção do córtex, núcleo e uma porção da capsula anterior (MOTA, 2010) O tratamento medicamentoso não tem sua eficácia comprovada, porém há indicações de substâncias como selênio, vitamina E, orgoteína, extrato de 38 Actinomyces bovis, ascorbato de zinco, carnosina. Porém, alguns destes compostos podem apresentar complicações secundárias (SLATTER, 2005). A glutationa (Sitalan®) tem sido descrita como eficaz no tratamento inicial de catarata, com o intuito de retardar a sua evolução (MORRAILLON, 2013). 3.5 UVEÍTE A úvea é composta por corpo ciliar, íris e coroide. Frequentemente, na medicina veterinária, pode-se observar distúrbios no sistema uveal (SLATTER, 2005). A uveíte é a inflamação na região da túnica vascular, que ocorre por um rompimento da barreira hematoaquosa ou hematorretiniana (RIBEIRO, 2015). 3.5.1 Classificação da uveíte A classificação da uveíte dá através da localização, conforme mostrado na tabela 2, patológica (supurativa ou não supurativa) e de acordo com o agente etiológico (tabela 3) (SLATTER, 2005). TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DA UVEÍTE DE ACORDO COM A LOCALIZAÇÃO. Classificação Localização Uveíte Inflação da úvea Irite Inflamação da íris Coroidite Inflamação da coroide Ciclite Inflamação do corpo ciliar Iridociclite Inflamação da íris e do corpo ciliar Uveíte anterior Inflamação da íris e corpo ciliar Uveíte posterior Inflamação do Coróide e corpo ciliar Coriorretinite Inflamação primária do Coróide e depois retina Retinocoroidite Inflamação primária da retina e depois do coróide Panuveíte Inflamação de todos os componentes uveais. Fonte: Adaptado de Slatter, 2005 39 TABELA 3 – AGENTES ETIOLÓGICOS DA UVEÍTE. Classificação Agente etiológico Algas Prototheca sp Bactérias Brucella canis,Borrelia burgdorferi, Leptospira sp, Septicemia Fungos Blastomyces dermatitidis, Coccidioides immitis, Cryptococcus neformans, Histoplasma capsulatum, Imunomediadas Catarata – lente induzida; Trombocitopenia imunomediada, Vasculite imunomediada, Uveíte facoclastica, síndrome uveodermatologica. Metabólicas Diversas Diabetes, Hiperlipidemia, Hipertensão sistêmica. Coagulopatias, Idiopática, Radioterapia, Trauma, Toxemia, Ceratite ulcerativa, induzida por fármacos, uveíte pigmentar, Parasitas Filariose ocular, Larva migrans ocular, oftalmomiíase interna posterior. Neoplasias Sindrome de hiperviscosidade, meningoencefalite granulomatose, melanoma, linfossarcoma, doença histiocítica proliferativa. Protozoários Leishmania donovani, Toxoplasma gondii, Riquétsias, Erlichia canis ou platys. Vírus Adenovirus, Cinomose, Raiva, Herpesvírus. Fonte: Adaptado de SLATTER, 2005. Na rotina clínica observa-se uma maior incidência de uveíte em cães e gatos causados por cirurgia intraocular, trauma, ceratites ulcerativa, feridas penetrantes, parasitárias, infecciosas (Toxoplasma gondii, Bartonella spp, babesia, Erlichia spp), neoplásicas, lente induzida (catarata) (RIBEIRO, 2015). 3.5.2 Características Clínicas Os sinais clínicos da uveíte são: hiperemia conjuntival, flare (aumento de turbidez do humor aquoso), edema de córnea, diminuição da pressão intraocular, acuidade visual, hifema (hemorragia intraocular), hipópio (presença de células na câmara anterior), precipitados ceráticos, miose, blefaroespasmo, epífora, alterações na íris (RIBEIRO, 2015). Em alguns casos pode ocorrer um agravamento da uveíte, trazendo complicações como o glaucoma, que ocorre por conta da obstrução do ângulo 40 iridocorneal, por protrusão da íris, acúmulo de células ou proteínas que se utilizam da via do humor aquoso para excreção (MORRAILON, 2013). A figura 16 mostra o sinal clínico de uveíte anterior fibrinosa em cão. FIGURA 16 – ASPECTO CLÍNICO DA UVEÍTE EM CÃO. Fonte: WALDE, 1998. 3.5.3 Diagnóstico Para que o diagnostico seja confirmado é necessária acuidade dos sinais clínicos, exame físico, histórico do paciente, classificação e testes complementares para definir a etiologia. Muitas vezes a causa inicial não fica muito clara, sendo tratado somente a inflamação de início (SLATTER, 2005). Segundo Slatter 2005, o diagnóstico diferencial é importante, por conta de um tratamento mais preciso, e de acordo com a gravidade da doença. Em casos de uveítes anteriores deve-se diferenciar de conjuntivite, ceratites superficial e glaucoma. Alguns exames são prescindíveis para a identificação do agente etiológico como por exemplo: hemograma, perfil bioquímico, exame de urina, provas diretas e indiretas para identificação do agente infeccioso, exames de imagem, citologia, paracentese de câmara (TEIXEIRA, 2011). 41 3.5.4 Tratamento O tratamento da uveíte, é de acordo com sua gravidade, assim como de acordo com o agente etiológico, mas pode ser direcionado em quatro passos, conforme descrito por Slatter (2005): 1. Definir o agente etiológico: Juntamente com a anamnese do paciente e a sua avaliação médica. 2. Remoção do agente etiológico: Depois de identificado o agente, tomar as medidas necessárias para sua remoção; 3. Controlar os sinais clínicos é primordial para o sucesso do tratamento. Um dos sinais clínicos mais persistentes é a inflamação que pode ser tratada com corticosteróides, anti-inflamatórios não esteroidais, ciclopégicos e agentes imunossupressores; 4. A redução da dor: com medicamentos específicos e medidas necessárias para o bem-estar do paciente. O uso de anti-inflamatórios não esteroidais possui baixa eficiência, podendo apresentar sinais de melhora em casos de uveíte anterior, e também são indicados nos casos que não é recomendado o uso de corticosteroides. No uso tópico são utilizados: indometacina, flurbiprofeno, suprofeno, diclofenaco, já no uso sistêmico é utilizado flumexin meguline e carprofeno (PONTES, 2006). Pontes (2006) também enfatiza que os corticosteroides são necessários em casos de uveítes severas e posteriores. Não são indicados em casos onde há presença de úlcera de córnea seja tanto na aplicação tópica ou subconjuntival. Também não é indicado em pacientes portadores de diabetes mellitus. Os fármacos utilizados são a prednisolona ou a dexametasona tópicas. Para o uso sistêmico, a prednisolona (sendo não indicado em pacientes diabéticos, com micoses ou úlceras córnea), e por fim para o uso subconjuntival o acetonido de triancinolona, metilprednisolona, betametasona ou dexamentasona. Os agentes imunossupressores são utilizados em casos de uveítes que não correspondem a tratamentos iniciais, o fármaco de eleição utilizado é a azatioprina. Os ciclopégicos são utilizados para dilatar a pupila relaxando a musculatura ciliar para diminuição da dor, o mais utilizado é a atropina, podendo ser associado com 42 analgésicos sistêmicos como, carprofeno, petidina, morfina oral ou butorfanol (SLATTER, 2005). 43 4 RELATO DE CASO 4.1 ANAMNESE O paciente Ygor, poodle castrado, macho, com aproximadamente 12 anos foi examinado pelo Médico Veterinário Leandro Lima, oftalmologista, A queixa do proprietário relatando foi um avermelhamento do olho esquerdo há aproximadamente 1 semana (figura 17). FIGURA 17 – PACIENTE COM SINAIS CLÍNICOS DE CATARATA E UVEÍTE. Fonte: A autora, 2015. 4.2 EXAME FÍSICO No exame físico o animal teve seus parâmetros vitais mensurados, observase normalidade dentre eles. No exame semiológico oftálmico o animal refere dor, congestão episcleral, hifema, blegaroespasmo, dificuldade de orientação visual em relação ao local. 44 4.3 DIAGNÓSTICO Depois de um detalhado exame físico e anamnese com grande coleta de informações, o paciente foi diagnosticado com catara no olho esquerdo, uveíte e hifema (figura 18) e catarata no olho direito (figura 19) com início de um processo inflamatório na conjuntiva. De acordo com os dados clínicos adquiridos durante a anamnese, em um primeiro momento, a uveíte é decorrente de trauma pela falta de visão do paciente. FIGURA 18 – OLHO ESQUERDO APRESENTANDO UVEÍTE E CATARATA MADURA. Fonte: A autora, 2015. FIGURA 19 – OLHO DIREITO APRESENTANDO UVEÍTE, CATARATA E HIFEMA. 45 Fonte: A autora, 2015. 4.4 TRATAMENTO Foi receitado ao paciente colírio de acetato de prednisolona 6 vezes ao dia, durante 15 dias. O retorno foi marcado para o 16o dia de tratamento, porém, o paciente não retornou para nova avaliação. O contato telefônico foi realizado e por meio deste o responsável informou melhora no quadro clínico do animal. A catarata do paciente já havia sido diagnosticada há algum tempo por outro profissional, porém não trazendo maiores informações para o responsável de como poderia proceder. Na consulta para o tratamento da uveíte, fora confirmado novamente o diagnóstico de catarata, porém não tendo mais indicação cirúrgica. Pois, de acordo com o profissional, a idade do paciente, e o grau da catarata não era mais indicado cirurgia. 46 5 CONCLUSÃO A catarata é uma doença que acomete cães adultos a idosos, e tem como principal característica a opacidade da lente e perda da visão. Juntamente com esta doença, o animal pode ser acometido pela uveíte, que é a inflamação da úvea. Com isso, é fundamental que o Médico Veterinário oftalmologista faça um acompanhamento regular do paciente, a fim de evitar possíveis complicações, como a perda da visão e também para que o tratamento correto seja realizado. 47 6 REFERÊNCIAS ABC.ME.BR. Fundo de Olho ou Fundoscopia: como é realizada? Quem deve fazer? O que este exame pode diagnosticar? Disponível em: http://www.abc.med.br/. Acesso em: 27 de Outubro de 2015. BRASCRS. O que é a Catarata. Disponível em:<http://www.brascrs.com.br/.> Acesso em: 27 de Outubro de 2015. CAMARATTA, P.R. Catarata em cães. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 60f. 2009. CRIVELLENTTI, L.Z., CRIVELLENTTI, S. B., Casos de rotina em medicina veterinária de pequenos animais. MedVet. 2012 CUNNINGHAM, J.G., KLEIN, B.G. Tratado de fisiologia Veterinária. O sistema visual. 4ed. 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