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Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2010, v. 09, n. 09, p. 01 – 06
NEOPLASIA MAXILAR EM UM CÃO – AVALIACÃO RADIOGRÁFICA FRENTE
AO DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE PERIODONTOPATIA
GOMES, F. S. C.1; GALVES, M. S.1; VIRGINIO, M. J.1; INACIO, L. M. D.1; FREITAS, R. A.1; CRUZ, R. A.2
RESUMO
O presente trabalho visa apresentar o caso de um canino encaminhado ao setor de diagnóstico
por imagens da Clínica Escola para realizar exame radiográfico como parte de sua triagem
pré-operatória para correção de um provável abscesso periodontal na região rostral de maxila.
Ao exame físico, observou-se tumoração endurecida na região e bom estado de periodonto.
Após a realização das radiografias, constatou-se que a imagem obtida sugeria quadro de
neoplasia e presença de metástase pulmonar. A realização deste exame se mostrou eficaz no
planejamento da terapia do paciente, que não foi submetido ao procedimento cirúrgico, sendo
privilegiada a qualidade de vida atual do paciente a melhora de seu estado clínico geral a fim
de, no futuro, realizar-se nova avaliação clínico-cirúrgica.
Palavras-chave: neoplasia, radiografia, cão.
ABSTRACT
This paper aims to present the case of a dog sent to the area of diagnostic images by the
Clinical School to perform radiographic examination as part of their pre-operative screening
for correction of a probable periodontal abscess in the region of rostral jaw. On physical
examination it was found hard tumor in the region and a good state of periodontum. After
conducting X-rays, it was found that the image obtained suggested the presence of cancer and
pulmonary metastasis. The completion of this examination was effective in planning the
therapy of patient, which was not subjected to surgery, insuranced the actual quality of
patient's life and improves the current state of your clinical state for, in the future, take place
a new medical-surgical revaluation.
Key-words: neoplasia, radiography, dog.
1- INTRODUÇÃO
As doenças na região do focinho parecem ter grande incidência e necessitam de
complementação diagnóstica por métodos de imagens, tais quais a radiografia e rinoscopia
(Harvey et al., 1979). Quando se fala de tumores da cavidade nasal, seios paranasais e regiões
periféricas são incomuns no cão, e respondem por cerca de 1 a 2% de todos os tumores
caninos (BRODEY, 1970; Confer & DePaoli, 1978). Dentre os tumores ósseos primários de
cães e gatos, o osteossarcoma é o mais comum (MacEwen, Withrow, Patnaik, 1977). De
1- Acadêmicas de Medicina Veterinária da Universidade Castelo Branco
2- Prof. Assist. de Téc. de Diag. Por Imagens da Universidade Castelo Branco – [email protected]
forma geral, vem sendo descrito como de crescimento rápido, com caráter maligno,
osteoblástico e com grande possibilidade de metástase (ibid).
A utilização da radiografia como exame complementar para fins de planejamento
cirúrgico (quando este indicado ou mesmo possível), estadiamento de neoplasias,
especialmente na localização de focos de metástase, é amplamente conhecida (LAMB, 1997)
e disseminada entre os profissionais de hoje em dia. Contudo, sua forma de indicação, tempo
de utilização e, sobretudo, conhecimento das informações a serem obtidas no exame junto às
limitações do mesmo em termos de execução e diagnóstico conclusivo podem fazer com que
o resultado não seja o mais satisfatório.
O presente trabalho relata o caso de um canino, raça American Cocker Spaniel, fêmea,
13 anos de idade, não ovariosalpingohisterectomizada, que foi encaminhado ao setor de
diagnóstico por imagens da Clínica Escola para realizar exame radiográfico como parte de sua
triagem pré-operatória, para correção de um provável abscesso periodontal na região rostral
de maxila.
No momento do exame, observou-se tumoração endurecida na região e bom estado do
periodonto no mesmo foco. Após a realização das radiografias, constatou-se que a imagem
obtida sugeria um quadro de neoplasia. Ao se realizar a radiografia da cavidade torácica
observou-se a presença de vários focos de metástase, difusos pelos campos pulmonares e de
características radiográficas bem similares entre si.
O objetivo deste relato visa esclarecer o uso da radiografia como método de avaliação
clínica complementar indispensável ao paciente portador de neoplasias ou mesmo de
tumorações indefinidas, a íntima ligação destas, quando de origens carcinomatosas ou
sarcomatosas, com ocorrência de metástases nesta enfermidade, além de ilustrar o padrão
radiográfico habitual esperado nestes casos.
2- MATERIAL E MÉTODOS
Foi avaliado um canino, fêmea, da raça American Cocker Spaniel, de 13 anos de
idade, com estado corporal insatisfatório, sugerindo quadro de caquexia leve a moderado. Este
animal foi então radiografado pela equipe de estagiários em Radiologia Veterinária,
compreendendo este exame a região do crânio em projeções lateral e dorso-ventral, e a região
do tórax em projeções lateral-direita e ventro-dorsal.
2
O exame em técnica intraoral não foi realizado devido ao comportamento indócil do
paciente e na inviabilidade da sedação ser realizada, pois se tratava de um exame
encaminhado por outro colega atuante em clínica fora da Universidade Castelo Branco, que
não autorizou tal procedimento.
As imagens foram obtidas a partir da utilização de aparelho gerador de raios-X da
marca FNX®, rendimento de 90Kvp / 25MA, filmes Kodak GBX® montados em chassis
Konex® providos de écrnas intensificadores Kodak®. Posteriormente estes filmes foram
processados manualmente em tanque de revelação contendo químicos Kodak GBX
3- RESULTADOS
Na observação clínica, verificou-se a presença de tumoração endurecida, de cerca de
3cm de diâmetro, em lado direito da maxila do paciente, na sua porção mais rostral. A
mucosa oral e gengival periférica não mostrou alteração digna de nota.
O relato do
proprietário ao momento desta observação foi de que o paciente não apresentava disfagias,
dores ou alterações de vias aéreas superiores.
A avaliação radiográfica de crânio foi compatível com formação neoplásica,
predominantemente proliferativa (osteoblástica) compreendendo toda a região rostral direita
da maxila do paciente, contudo sem envolvimento de estruturas periodontais (figura 1a).
Figura 1A- imagem radiográfica em projeções lateral e dorso-ventral do crânio do paciente, evidenciando
formação predominantemente osteoblástica e de moderada radiopacidade em região rostral de maxila, à direita
do plano mediano (setas). Percebe-se integridade das estruturas dentais e periodontais periféricas.
Ao se avaliar a região torácica observou-se alterações senis típicas, tais como fibrose
intersticial leve, aumento de opacidade parietal de traqueia e árvore brônquica. Associados a
estes achados habituais para a idade do paciente, havia inúmeros focos radiopacos,
circunscritos e bem definidos, difusamente pelos campos pulmonares (figura 2a). Apesar
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disso, outros achados típicos quando de um quadro avançado de metástase pulmonar tais
como efusão pleural e periostites intercostais não foram observados.
Associando-se estes dados radiográficos com a observação clínica, pode-se até, em
casos de carcinomas obter critérios para o estadiamento clínico sugerido pela Organização
Mundial de Saúde.
Figura 2A- imagem radiográfica em projeções lateral e dorso-ventral do crânio do paciente, evidenciando
formações nodulares e puntiformes em todos os campos pulmonares (setas); observa-se que não há
comprometimento pleural ou mesmo desvios provocados pelos nódulos nas demais estruturas torácicas.
4- DISCUSSÃO
A ocorrência de metástase pulmonar neste caso já seria esperada, pois formações
neoplásicas malignas podem enviar células neoplásicas por vias linfáticas ou até mesmo
hematógena para outros sítios, como assim foi observado neste trabalho e encontra-se de
acordo com o relato de Confer e DePaoli (1978).
No momento da avaliação radiográfica, a tumoração se apresentou endurecida, e este
quadro vai de encontro ao que foi proposto por Harvey e colaboradores (1979), visto que seus
trabalhos indicam uma maior prevalência de imagens radiopacas em neoplasias ósseas com
sinais de malignidade.
A projeção lateral direita se mostrou mais claramente definida no padrão miliar típico
de metástases pulmonares, visto que ambos os campos pulmonares se encontram sobrepostos
ao filme nesta posição radiográfica, de acordo com o que cita Lamb (1994).
Por ter sido o plano mediano da maxila o primeiro local de observação das alterações
clínicas, podemos sugerir após a avaliação do resultado radiográfico que o diagnóstico mais
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compatível seria o de osteossarcoma, pois segundo MacEwen, Withrow e Patnaik, este tipo de
tumor é o mais comuns em ossos de cães e sua aparência radiográfica neste foco difere
daquela em outros locais, tais como úmero e fêmur.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
- O exame radiográfico participa ativamente como fomento ao estadiamento clínico das
neoplasias.
- O conhecimento das características particulares da imagem de cada enfermidade neoplásica
deve ser conhecido, porém, mais que isso, deve-se saber aplicar os conhecimentos de base da
alteração neoplásica óssea a fim de obter o diagnóstico radiográfico mais precoce possível.
- A diferenciação histológica é de suma importância, pois as características radiográficas
habituais podem não estar presente em um exame, ou mesmo apresentar-se de forma anômala,
o que compromete em muito a terapêutica a se implantar, independentemente se
quimioterapia, cirurgia ou ambas combinadamente.
- A avaliação radiográfica precoce deste paciente, quando sua lesão era detectada apenas
como uma elevação discreta do plano nasal, poderia ter informado ao clínico da gravidade do
quadro e este intervindo com mais rapidez e de forma mais adequada, proporcionando um
procedimento cirúrgico mais conservador e com menor chance da ocorrência de metástase
pulmonar.
6- REFERÊNCIAS
ADAMS, W. M.; WITHROW, S. J.; WALSHAW, R.; TURRELL, J. M.; EVANS, S. M.;
WALKER, M. A. and KURZMAN, I. D. 1987. Radiotherapy of malignant nasal tumors in 67
dogs. J. Am. Vet. Med. Assoc. 191: 311-315.
BRODEY, R. S. 1970. Canine and feline neoplasia. Adv. Vet. Sci.Comp. Med. 14: 309–354.
CONFER, A. W. and DEPAOLI, A. 1978. Primary neoplasms of thenasal cavity, paranasal
sinuses, and nasopharynx in the dog. Areport of 16 cases from the files of the AFIP. Vet.
Pathol. 15:18–30.
HARVEY, C. E.; BIERY, D. N.; MORELLO, J.; O'BRIEN, J. A. Chronic nasal disease in
the dog: its radiographic diagnosis. Vet Radiol 1979;20:91-98.
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LAMB. Imagens Diagnóstica do Cão e do Gato. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole, 1997.
MACEWEN, E. G.; WITHROW, S. J.; PATNAIK, A. K. Nasal tumors in the dog: J Am Vet
Med Assoc. 170:45-48, 1977. 24.
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