0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN CAMPUS AVANÇADO “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA” –CAMEAM DEPARTAMENTO DE LETRAS - DL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS - PPGL MESTRADO ACADÊMICO EM LETRAS A ANÁLISE LINGUÍSTICA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO 9º ANO: UMA INVESTIGAÇÃO FUNCIONALISTA Rosângela Ferreira de Lima Souza Pau dos Ferros 2013 1 ROSÂNGELA FERREIRA DE LIMA SOUZA A ANÁLISE LINGUÍSTICA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO 9º ANO: UMA INVESTIGAÇÃO FUNCIONALISTA Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-graduação em Letras (PPGL), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Campus Avançado “Prof.ª Maria Elisa de A. Maia” (CAMEAM), para obtenção do grau de Mestre em Letras. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Rosângela Maria Bessa Vidal Pau dos Ferros 2013 2 ROSÂNGELA FERREIRA DE LIMA SOUZA A ANÁLISE LINGUÍSTICA NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA DO 9º ANO: UMA INVESTIGAÇÃO FUNCIONALISTA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Letras (PPGL), da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Campus Avançado “Prof.ª Maria Elisa de A. Maia”- (CAMEAM) para obtenção do grau de Mestre em Letras. BANCA EXAMINADORA Prof.ª Dr.ª Rosângela Maria Bessa Vidal - UERN Presidente da Banca Prof. Dr. Valdecy de Oliveira Pontes- UFC 1º Examinador Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Maia Fernandes Barbosa - UERN 2ª Examinadora Prof. Dr. João Bosco Figueiredo Gomes - UERN Suplente Pau dos Ferros 2013 3 Língua é um sistema de signos específico, histórico e social, que possibilita a homens e mulheres significar o mundo e a sociedade. Aprendê-la é aprender não somente palavras e saber combiná-las em expressões complexas, mas apreender pragmaticamente seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais as pessoas entendem e interpretam a realidade e a si mesmas. (BRASIL, 1998) 4 DEDICATÓRIA Dedico o presente trabalho a todas as pessoas que acreditaram na minha aprovação no Mestrado em Letras, principalmente, ao meu irmão ROSÁLIO (in memoriam), pelos pulos de alegria que deu quando soube da minha aprovação, pois ele sonhava junto comigo, pena que não está aqui em vida, para compartilhar a concretização desse sonho. Dedico também a todos da Escola Manoel Raimundo, alunos, professores, gestão, colegas de trabalho, enfim, a todos, por ser minha inspiração de estudo. Dedico ainda a todos os professores de Língua Portuguesa, por compartilhar comigo a responsabilidade de tornar os alunos seres mais aptos e preparados para usar a língua de forma adequada, nas mais diversas situações de comunicação que se deparam cotidianamente. Enfim, dedico a todos que colaboraram de forma direta ou indireta para que eu chegasse a mais essa conquista. 5 AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos sinceros vão para: Os familiares, amigos, amigas e mestres... Escrevo essas linhas para falar da minha satisfação em concluir esse trabalho, pois é uma realização pessoal, profissional e um fazer científico, sei que sem dúvida trará uma valiosa contribuição para a minha vida. Por isso, agradeço a cada um que caminhou comigo, ou que de alguma forma tornou meu caminho mais fácil de ser trilhado, seja com uma ajuda prática ou com um incentivo, tão necessária em alguns momentos. Agradeço em primeiro lugar A DEUS, força invisível e inexplicável, que nos dá coragem, sabedoria, força, ânimo e muitos outros sentimentos e energias para superarmos os medos e entraves que surgem no meio do caminho Agradeço também à MINHA FAMÍLIA, que é meu porto seguro, pois acredito que sem a família não seríamos completos, nos faltaria a capacidade de amar e ser amado. Por tudo isso, agradeço do fundo do meu coração a Gessenildo (esposo), a Keyte Bel (filha), a João (meu pai), a Iranir minha (mãe), aos meus queridos irmãos Renato, Rosélia, Maria, Leivinha, Lúcia, Rodrigo, Tarcísio e Rosálio (In memoriam). Ao meu irmão Rosálio agradecimento especial, pois através de palavras não consigo descrever tamanha a dificuldade enfrentada no decorrer dessa jornada, tive que superar a morte desse irmão amado e grande incentivador nos meus estudos. Consegui a conquista do tão sonhada, o mestrado, no entanto, não consegui compartilhar essa conquista com você, por esse motivo, minha felicidade não é completa. À professora Rosângela Maria Bessa Vidal, minha orientadora, que se dispôs a orientar este trabalho, me ajudou a escrever, a delinear os passos da pesquisa e a definir o melhor caminho a ser seguido. Agradeço ainda aos colegas do mestrado em Letras. Tantas foram as aulas que assistimos, as teorias discutidas e as experiências trocadas. Esses momentos, com certeza se tornaram especiais e farão parte das lembranças da vida de cada um. 6 De forma bem especial, agradeço a Celina e a Iêda, pelo companheirismo e pelas ajudas que me deram, quando precisei, pelas vezes que dividi as minhas angústias e dificuldades. Vocês são ótimas amigas. Agradeço também aos professores que estiveram nas bancas da qualificação e da conclusão, pelas sugestões, pela disponibilidade e pelos ensinamentos. Minha gratidão. Por último, agradeço a todos aqueles que estivarem comigo na travessia de mais um percurso, que exigiu grande esforço e dedicação. Posso dizer que valeu a pena. 7 LISTA DE SIGLAS AL: Análise Linguística CNLD: Comissão Nacional do Livro Didático COLTED: Comissão do Livro Técnico e Livro Didático EF: Ensino Fundamental FNDE: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação FAE: Fundação de Assistência ao Estudante INL: Instituto Nacional do Livro LD: Livro Didático LDP: Livro Didático de Português MEC: Ministério da Educação PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais PCNLP: Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa PNLD: Programa Nacional do Livro Didático PNLD-EJA: Programa Nacional do Livro Didático para a Educação de jovens e Adultos PNBE: Programa Nacional Biblioteca da Escola PLI- Programas do Livro USAID: Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional UN: Unidade 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................12 CAPÍTULO I: PUXANDO OS FIOS DA TEORIA: UM BREVE PASSEIO PELO FUNCIONALISMO, COM ÊNFASE NA VERTENTE NORTE-AMERICANA E SUA CONCEPÇÃO DE GRAMÁTICA...............................................................................17 1.1 Contextualização histórica: foco no Funcionalismo Norte-Americano........17 1.2 O Funcionalismo Norte-Americano e sua base epistemológica....................22 1.3 A concepção de gramática da corrente funcionalista norte-americana.......29 CAPÍTULO II: ALGUNS ESTUDOS SOBRE ANÁLISE LINGUÍSTICA....................35 2.1 Análise Linguística: alguns estudos, algumas possibilidades no Nível Fundamental II..........................................................................................................35 CAPÍTULO III: CONTINUANDO A TRILHA DA TEORIA: FIOS QUE SE CRUZAM, RELAÇÕES QUE SE ESTABALECEM, COM OS POSTULADOS SOBRE GRAMÁTICA, PCNs, LIVRO DIDÁTICO E PRÁTICAS DE PROFESSORES.........46 3.1 A gramática e suas implicações no ensino de Língua Portuguesa..............46 3.2 A interface entre o Funcionalismo Norte-Americano e o PCNs de Língua Portuguesa................................................................................................................48 3.3 Livro Didático: história e contextualização dentro do ensino de Língua Portuguesa................................................................................................................52 3.3.1 Algumas pesquisas sobre o Livro Didático..................................................57 3.4 Práticas de professores de Língua Portuguesa: uma discussão necessária.................................................................................................................58 CAPÍTULO IV: TRAJETO METODOLÓGICO DA PESQUISA.................................62 4.1 Descrição e apresentação do Livro Didático...................................................62 9 4.2 Procedimentos de análise.................................................................................64 4.3 As atividades de gramática no livro “Projeto Radix” – 9º ano: algumas informações que merecem ser discutidas.............................................................67 CAPÍTULO V: ANÁLISE DO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO: LIVRO DIDÁTICO..................................................................................................................70 5.1 Análise das atividades: exposição, descrição e comentários......................70 5.1.1 Atividade 1.........................................................................................................71 5.1.2 Atividade 2.........................................................................................................74 5.1.3 Atividade 3.........................................................................................................78 5.1.4 Atividade 4.........................................................................................................83 5.1.5 Atividade 5.........................................................................................................86 5.1.6 Atividade 6.........................................................................................................89 5.2 Confrontando as atividades 1, 2, 3, 4, 5, 6: algumas constatações.............93 CONCLUSÃO..........................................................................................................100 REFERÊNCIAS........................................................................................................105 10 SOUZA, R. F. de L. A análise linguística no livro didático de língua portuguesa do 9º ano: uma investigação funcionalista. 109 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Letras) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Pau dos Ferros, 2013. RESUMO O livro didático e a gramática destacam-se como objeto de estudo em inúmeras pesquisas na área da linguística, com o intuito de investigar o trabalho com esses aspectos nas aulas de Língua Portuguesa e na tentativa de acrescentar elementos a esse processo de reflexão, a presente pesquisa objetiva analisar as atividades de análise linguística no livro didático, procurando investigar os encaminhamentos propostos para a gramática. Para tanto, adotamos a teoria funcionalista da corrente norte-americana como aparato teórico, enfatizando as proposições de Givón (1995), Hopper e Thompson (1980), Furtado da Cunha (2008), bem como autores que direcionam seus estudos para o ensino de Língua Portuguesa, para a gramática e para o livro didático, dentre eles, podemos citar: Antunes (2007), Geraldi (2002) Mendonça (2006), Bagno (2001), Gomes (2009), Furtado da Cunha (2008), Furtado da Cunha; Tavares (2007), Travaglia (2003, 2009), Neves (1997, 2004, 2007). O material escolhido para análise é o livro didático para o 9º Ano do Ensino Fundamental da coleção Radix. A análise do corpus foi iniciada com a seleção de 06 (seis) atividades de gramática apresentadas no decorrer do livro. Feita a seleção, direcionamos o estudo analisando o trabalho proposto para o aspecto gramatical no decorrer dos exercícios, averiguando como as atividades colaboram para o desenvolvimento das habilidades e competências linguísticas dos alunos. Os resultados encontrados evidenciam exercícios pautados ainda pela predominância da gramática descontextualizada, não sendo direcionada à prática de análise linguística nas propostas. Constatamos, assim, que o livro didático em estudo privilegia em sua constituição uma concepção de ensino de língua que não prioriza a funcionalidade dos fenômenos linguísticos, se distanciando assim da concepção adotada na prática de análise linguística, que por sua vez, busca trazer na essência dos seus trabalhos uma concepção de língua como forma ou processo de interação. Ainda acontece uma separação entre estudo do texto e da gramática, deixando assim de se realizar um ensino interativo e integrado entre os eixos de leitura, escrita e gramática. PALAVRAS-CHAVE: Língua Portuguesa. Gramática. Análise Linguística. Livro didático. Funcionalismo 11 SOUZA, R. F. de L. A análise linguística no livro didático de língua portuguesa do 9º ano: uma investigação funcionalista. 109 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Letras) – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Pau dos Ferros, 2013. ABSTRACT The textbook and grammar stand out as an object of study in numerous researches in the area of the linguistics, with the intention of investigating the work with these aspects in Portuguese Language classes and attempting to add elements to this process of reflection, this research aims to analyze the activities of linguistic analysis in textbooks, looking for investigating the solutions proposed for grammar. Therefore, we adopt the functionalist American chain theory as theoretical apparatus, emphasizing the propositions of Givón (1995), Hopper and Thompson (1980), Furtado da Cunha (2008), as well as authors who direct their studies to the teaching of Portuguese language, for grammar and the textbook, among them we can mention: Antunes (2007), Geraldi (2002) Mendonça (2006), Bagno (2001), Gomes (2009), Furtado da Cunha (2008), Furtado da Cunha; Tavares ( 2007), Travaglia (2003, 2009), Neves (1997, 2004, 2007). The material chosen for analysis is the textbook for the 9th year of the collection Radix Elementary School. Corpus analysis began with the selection of 06 (six) grammar activities presented throughout the book. Made the selection, we direct the study analyzing the proposed work to the grammatical aspect during the exercises, examining how activities contribute to the development of the abilities and the linguistic competences of the students'. The results found, evidence exercises guided by the predominance of grammar without contextualization, not being directed to the practice of linguistic analysis of the proposals. We verified, therefore, that the text book in study privileges in its constitution a conception of language teaching that doesn't prioritize the functionality of the linguistic phenomena, thus moving away from the concept adopted in the practice of linguistic analysis, which on the other hand, search to bring in the essence of their works a language conception as form or interaction process. Still a separation happens between study of the text and of the grammar, thus leaving to realize an integrated and interactive teaching among the axes of reading, writing and grammar. KEYWORDS: Portuguese Language. Grammar. Linguistic Analysis. Textbook. Functionalism. 12 INTRODUÇÃO O ensino de Língua Portuguesa, atualmente, ainda é questão de muitos debates e questionamentos, principalmente no trabalho realizado com a gramática em sala de aula. Isto porque, ainda não chegamos a um trabalho que possa integrar o aspecto gramatical ao funcionamento efetivo da língua, sendo realizado na maioria das vezes, um ensino prescritivo da gramática dentro das escolas. Em meio a essa realidade, em que há uma necessidade constante de se repensar a forma de explorar o aspecto gramatical nas aulas de língua, surge então à prática de análise linguística, como uma nova perspectiva de ensino da estrutura gramatical, pois essa prática sugere que os alunos aprendam a partir de textos reais e concretos, e não a partir de moldes prontos ou cópias e repetições, que levam o alunado a construir sentidos sobre os enunciados que estudam. Pautados nesse contexto, nossa pesquisa se propõe ao estudo da Análise Linguística no LD do nível Fundamental, fazendo uma correlação com o Funcionalismo Norte-Americano, pois reconhecemos que esse paradigma apresenta concepções que podem ajudar na realização de uma prática em sala de aula, que garanta aos alunos acesso aos saberes linguísticos necessários para o exercício da cidadania e para adequar as regras da estrutura ao exercício do bem falar e escrever. Posto que desejamos para o ensino de Língua Portuguesa levar os alunos a adequar os recursos expressivos, a variedade da língua e o estilo às diferentes situações comunicativas, isto é, levá-los a aprender coordenar satisfatoriamente o que falam ou escrevem, saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção enunciativa, dado o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. (BRASIL, 1998). É importante destacar que nem sempre esse objetivo é alcançado, visto que, na maioria das vezes, nos deparamos com situações nas quais o aluno tem pouco conhecimento sobre leitura, escrita e gramática. Com vista a isso, inúmeras são as pesquisas direcionadas a essas temáticas. Há uma procura incessante de saber quais os motivos que levam o ensino a apresentar um quadro de resultados, muitas vezes, desanimador no que se refere a esses saberes. 13 Tendo como pressuposto essa realidade, nossa pesquisa direciona seu foco para o estudo das atividades de gramática no LD do 9º ano, por considerarmos esse recurso pedagógico relevante para a construção de saberes sobre aspectos de leitura, escrita e também sobre gramática, uma vez que as pessoas estão constantemente usando seus saberes gramaticais para elaborarem seus enunciados para se comunicarem. Refletindo sobre isso, cabe retomarmos as discussões em torno das propostas elaboradas pelo LD no tocante à gramática, uma vez que o trabalho realizado com a mesma ajuda o aluno a ampliar o domínio ativo de seus discursos nas diversas situações de comunicação, nas mais diferentes instâncias públicas de domínio da linguagem. Como sabemos, a gramática representa, dentro do ensino, um saber necessário, por isso, deve ser entendida não como teoria linguística, mas como o conjunto de conhecimentos linguísticos que o usuário da língua tem internalizado, para o uso efetivo em situações concretas de interação comunicativa. (Cf. TRAVAGLIA, 2003). Assim sendo, a sala de aula apresenta-se como o lugar ideal para que seja sistematizado esse conjunto de conhecimentos que o aluno tem. Para tanto, é imprescindível colocar a seu dispor recursos, mecanismos, estratégias que o leve a um melhor desempenho linguístico. É exatamente por isso que o Funcionalismo Linguístico Norte-Americano explica as estruturas gramaticais procuradas a partir do uso. Em outras palavras, para essa corrente, deve ser descartado aquele tipo de pensamento em que a gramática não seja fundamentada em análise linguística centrada metodologicamente nos componentes textual e discursivo. Assim, a proposta é que sejam abordados, nas aulas de língua portuguesa, aspectos gramaticais tomados como fenômenos emergentes e variáveis, cujo estudo é indissociável do discurso, o discurso1 que está em todos os lugares, em todas as conversas, em todos os textos, escritos ou não, que circulam no meio social. Esse meio social onde a língua se materializa se torna histórica e patrimônio cultural de seus falantes. 1 O discurso para o funcionalismo norte-americano é entendido como um conjunto de estratégias criativas utilizadas pelo falante para organizar seu texto, emitido para um ouvinte determinado, dentro de uma situação comunicativa determinada. Assim, gramática e discurso são conceitos que caminham juntos, uma vez que alguns teóricos funcionalistas, como por exemplo, Givón (1979) diz que a gramática tem origem no discurso. 14 Sendo assim, a justificativa da nossa pesquisa está relacionada à vontade de estudar como a gramática que está explorada no LD, nas atividades de análise linguística, procurando ver se essas atividades estão contribuindo para um ensino que forme bons leitores, bons escritores, pesquisadores e conhecedores do nosso sistema linguístico, com capacidade para adequar os enunciados falados e escritos a cada situação vivenciada. Entendemos que essa pesquisa tem grande relevância social e acadêmica, uma vez que traz reflexões, indagações e análises sobre como a gramática é trabalhada no LD, colaborando desse modo com uma prática pedagógica dentro do ensino de Língua melhor pensada, planejada e executada no que se refere a esses aspectos em sala de aula. Torna-se importante também, no universo acadêmico, pois as discussões mostradas no decorrer desse estudo, abrirão um leque de ideias e sugestões para outros pesquisadores realizarem novos estudos que envolvam essa temática, ampliando, assim, os conhecimentos teóricos necessários para um fazer pedagógico que forme realmente falantes e usuários da Língua Portuguesa, tornando-os mais competentes para usar essa língua de forma eficiente nas mais diversas situações de comunicação. Dentro desse contexto, procuramos responder às seguintes questões de pesquisa: As atividades de análise linguística no LD apresentam encaminhamentos para uma integração entre os estudos do texto e da gramática? A proposta de estudo com a gramática, no LD, ajuda na ampliação das competências, discursiva, textual e gramatical dos alunos? Há uma relação entre a proposta de estudo com a gramática dos autores funcionalistas com a dos autores do livro? Com base nessas questões, elaboramos os seguintes objetivos para respondê-las: Objetivo geral: Investigar as atividades de análise linguística no LD do 9º Ano do Ensino Fundamental. Específicos: Analisar os encaminhamentos propostos para as atividades da análise linguística; Averiguar se há uma interação entre texto e gramática nos exercícios do livro estudado; comparar as aproximações entre a gramática proposta pelos estudos funcionalistas e a do LD analisado; Verificar se as atividades de gramática do livro pesquisado contribuem para a ampliação das competências discursiva, textual e gramatical dos alunos. Debruçamo-nos sobre os estudos de pesquisadores que se dedicam à temática do Funcionalismo Norte-Americano: Hopper e Thompson (1980), Heine 15 (1991), Givón (1995) e outros, aos estudos relacionados ao ensino de língua portuguesa e à prática de formação de professores, com Bagno (2001), Dutra (2004), Antunes (2007), Gomes (2009), dentre outros. Estão ainda no nosso referencial teórico autores como Geraldi (2002), Furtado da Cunha (2008), Furtado da Cunha; Tavares (2007), Travaglia (2003, 2009), Neves (1997, 2004, 2006), Mendonça (2006), que escrevem sobre a gramática e suas implicações dentro do ensino e aqueles que elaboram teorias sobre o LD. Citamos alguns, como: Guimarães (2003), Bräkling (2003), Salzano (2004), Marcuschi (2005). Delineamos o percurso metodológico da nossa pesquisa a partir da seguinte forma: descrição do material de análise e procedimentos utilizados. Para tanto, partirmos de uma pesquisa documental, em que buscamos investigar as atividades de análise linguística no LD do 9º ano do Ensino Fundamental. Com a amostra, pretendemos realizar uma pesquisa qualitativa. Utilizarmo-nos também, do método indutivo, porque partimos de dados particulares, para chegarmos a constatações mais gerais. Quanto à organização da dissertação, procuramos dividi-la em quatro capítulos, nos quais pretendemos: mostrar o panorama teórico, os procedimentos metodológicos adotados e a análise do material que elegemos como amostra. O primeiro capítulo discorre sobre a contextualização histórica do Funcionalismo, com foco na corrente norte-americana, mostra também a base epistemológica e a concepção de gramática do Funcionalismo da costa norteamericana, esse paradigma que abriga diversos autores, tanto no cenário mundial como brasileiro, aderindo, assim, aos postulados sobre aspectos como da língua e linguagem, que a diferencia de outras correntes linguísticas, como por exemplo, o estruturalismo e o gerativismo. Com referência ao segundo capítulo, esse enfatiza a prática de Análise Linguística (AL), trazendo estudos significativos sobre essa temática no contexto do ensino. Assim, o capítulo discorre sobre AL como uma prática que pode ser possível e produtiva para a aprendizagem dos conhecimentos gramaticais nas turmas de nível Fundamental. Já o terceiro capítulo, continua com a discussão teórica. Abordamos, nesse momento, o ensino de Língua Portuguesa, o trabalho com a gramática, a interface entre o Funcionalismo norte-americano e o PCNs (BRASIL, 1998), como também o 16 LD e a prática de professores. Desse modo, adentramos na abordagem desses temas no universo da educação vigente. No quarto capítulo, delineamos a metodologia da pesquisa, mostramos nesse momento, a descrição e apresentação do LD, os procedimentos usados para análise e ainda, comentamos algumas atividades de gramática existente no manual investigado. O quinto e último capítulo, é dedicado à análise dos dados, partimos das atividades de Análise Linguística propostas pelo livro didático do 9º Ano, da coleção Radix. Procuramos desse modo, investigar a sugestão de trabalho com a gramática nesse manual. Sendo assim, desejamos averiguar, nesse suporte pedagógico, se os encaminhamentos dos autores, nas atividades, ajudam no desenvolvimento das competências textual e gramatical dos alunos. Na conclusão dessa pesquisa, trazemos um resumo dos resultados que consideramos importantes para ajudar em pesquisas futuras que abarquem a temática estudada, isto é, pesquisas que venham também discutir a problemática do LD, quanto à exploração da gramática nas atividades de Análise Linguística, valendo-se da teoria funcionalista como um aporte teórico. Mostramos, assim, o resultado de uma análise que traz contribuições valiosas para melhorar a prática pedagógica no que tange ao trabalho com a gramática e com o LD em sala de aula. 17 CAPÍTULO I: PUXANDO OS FIOS DA TEORIA: UM BREVE PASSEIO PELO FUNCIONALISMO, COM ÊNFASE NA VERTENTE NORTE-AMERICANA E SUA CONCEPÇÃO DE GRAMÁTICA. Entendemos que o Funcionalismo tem muito a oferecer como subsídio para um melhor entendimento do funcionamento linguístico, visto que essa corrente linguística lança um olhar diferenciado sobre a língua, tendo o entendimento da mesma como um instrumento de interação social e o uso como parâmetro para seus estudos, alinhando-se assim, a uma tendência que analisa a relação entre linguagem e sociedade. Tendo essa realidade como base, no presente capítulo, discutimos sobre essa teoria linguística, enfatizando a corrente norte-americana. Será destacado seu surgimento, sua evolução ao longo da história, principais representantes, dentro e fora do Brasil, bem como as implicações e contribuições que esse paradigma vem trazendo para o ensino no momento atual, enquanto uma vertente plural, que traz diferentes teorias e propostas para o estudo do sistema linguístico. 1.1 Contextualização histórica: foco no Funcionalismo Norte-Americano Muitas são as teorias ao longo da história que procuram explicar as línguas naturais. No século XIX, se iniciavam os estudos mais precisos em linguística com as pesquisas de Fernand de Saussure. Esse autor conseguiu lançar a linguística como ciência. Dentro dessa linguística como ciência, prevalece à concepção de linguagem como uma faculdade e autonomia. E, a língua, antes concebida como sendo um produto da história, passa a ser vista também como autônoma, ou seja, autossuficiente, a língua por ela mesma. Dando continuidade aos estudos da linguagem, Chomsky com seu gerativismo avança as pesquisa criando a gramática transformacional. Assim, ele apresenta a famosa noção de falante-ouvinte ideal numa comunidade homogênea, com isso esse teórico fortalece ainda mais os estudos estruturais. 18 No campo do estruturalismo, surgem outras ramificações que ora realizam seus estudos se aproximando da tese base de Saussure, ora se afastando, criando discordâncias na teoria. Foi em meio às diferentes e variadas discordâncias do estruturalismo que surgiu a corrente funcionalista. Esse paradigma tem como grande preocupação explicar as regularidades da língua, observadas no uso interativo e nas condições discursivas que são realizadas esse uso. Por esse motivo, ela diverge das correntes anteriores (o Estruturalismo e o Gerativismo), pois os funcionalistas concebem a linguagem não como um conhecimento específico, mas como um complexo de atividades comunicativas, sociais e cognitivas que se integram à psicologia humana. Com vista a isso, os teóricos dessa corrente ressaltam: O funcionalismo contemporâneo difere das abordagens formalistas – estruturalismo e gerativismo – primeiro por conceber a linguagem como um instrumento de interação social e segundo porque seu interesse de investigação linguística vai além da estrutura gramatical, buscando no contexto discursivo a motivação para os fatos da língua. (FURTADO DA CUNHA, COSTA, CEZÁRIO, 2003, p. 29). Com isso, entendemos que os funcionalistas trabalham na perspectiva de estudar a língua enquanto interação social e explicá-la dentro dos eventos comunicativos, Desse modo, surge para abordar os aspectos que não eram considerados pelos estruturalistas e gerativistas, haja visto que os estruturalistas concebiam a língua como autônoma, concentrando seus estudos na estrutura gramatical. Os gerativistas, por sua vez, explicavam a aquisição da linguagem em termos de capacidade humana específica para a aprendizagem da língua. (FURTADO DA CUNHA, 2008). Essa corrente surge também para se contrapor às correntes anteriores e romper com alguns conceitos elaborados pelas mesmas. Assim, dentro da vertente funcionalista, língua e linguagem e outros aspectos, como a gramática, ganham contornos diferentes daqueles criados pelos estruturalistas e gerativistas. Por esse motivo, Neves (2004) diz que a gramática no funcionalismo está relacionada à cognição, uma vez que a autora considera o postulado de Givón (1995). Por considerar tal postulado, Neves (2004, p.22) afirma: “A gramática é sensível às pressões de uso exatamente por constituir uma estrutura cognitiva, ou, 19 em outras palavras, a partir de núcleos nocionais a gramática é passível de acomodação sob pressões de ordem comunicativa”. Já Votre e Rios (2009) postulam outras trajetórias para discurso, gramática e usuário dentro da perspectiva funcionalista como constatamos em Matraga (2009) a afirmação de que: “o discurso molda a gramática e a gramática molda o discurso”. Portanto, no Funcionalismo, discurso e gramática estão intrinsecamente ligados. A gramática é concebida, segundo Furtado da Cunha; Tavares (2007, p.18) como um “sistema aberto, fortemente suscetível à mudança e intensamente afetado pelo uso que lhe é dado no dia a dia”. No Brasil, o Funcionalismo tem seu início na década de 1980 conforme Furtado da Cunha (2008, p.165): “A formação de grupos de pesquisadores que propõem fatores de natureza comunicativa e cognitiva para interpretar o funcionamento de tópicos morfossintáticos em textos falados e escritos”. Dentre esses grupos, podemos citar: o Peul – UFRJ, no qual estão diversos artigos de Anthony Julius Naro, juntamente com Sebastião Votre, feitos sob a orientação de Givón. Outro grupo significativo é o Discurso e Gramática, representado por Martelotta, Votre e Cezário (1996), Rios de Oliveira (1998), Furtado da Cunha (2000) e Furtado da Cunha, Rios de Oliveira e Martelotta (2003) e sediado em várias Universidades do Brasil. Dentro da corrente funcionalista, cabe dizer que: Diferentemente das teorias formais, o funcionalismo pretende explicar a língua com base no contexto linguístico e na situação extralinguística. De acordo com essa concepção, a sintaxe é uma estrutura em constante mutação em consequência das vicissitudes do discurso, ao qual se molda. Ou seja, há uma forte vinculação entre discurso e gramática: a sintaxe tem a forma que tem em razão das estratégias de organização da informação empregadas pelos falantes no momento da interação discursiva. (FURTADO DA CUNHA, 2008, p. 163). Ressaltamos, pois, que os primeiros escritos sobre o paradigma funcionalista veio por meio do linguista tcheco Vilém Mathesius2 a partir da Escola de Praga em 1926. Ele antecipou uma concepção funcional da sentença, dando origem mais tarde à teoria da perspectiva funcional. 2 Neves (1997, p.149) diz que “é de 1923 o artigo de Vilém Mathesius em que vem apresentada a definição de frase elaborada sobre base funcional, em Praga, na Tchecoslováquia, e que tem seus estudos divulgados, especialmente, na publicação conhecida pela sigla TCLP: Travaux de CereleLinquistique de Praque”. 20 Foi nesse momento que apareceram muitas análises nesta linha, surgindo assim diferentes modelos funcionalistas. Dentre eles: O Funcionalismo Inglês, conhecido também como Linguística Sistêmico-funcional3 - LSF tem como principal representante o linguista Michael A. K. Halliday (1985), na introdução à obra An Introduction to Functional Grammar, o autor explica através de três motivos porque sua gramática é chamada de funcional: a) devido abordar um investigação de como a língua é usada, ou seja, trata-se de uma gramática “natural”; b) os componentes que significam nesse modelo são componentes funcionais: entender o ambiente (ideacional), agir sobre o outro (interpessoal) e dar relevância aos anteriores (textual) e; c) a explicação dos elementos linguísticos é feita com base na referência as suas funções no sistema. A proposta de Halliday é uma teoria sistêmico-funcional do significado como escolha, ou seja, para o linguista os falantes ao utilizarem a língua durante a interação diária realizam escolhas, mesmo que sejam inconscientes, e de acordo com cada uma dessas escolhas são produzidos os significados. Nesse modelo, a língua é concebida como um sistema de significados, seguidos por formas por meio das quais esses significados a cada novo uso pode ganhar um novo sentido. No tocante a linguagem nessa vertente, podemos dizer que é utilizada para promover a interação, por ela nascem e se sustentam as relações interpessoais e a ordem social na qual as relações ocorrem, por isso, que se entende que o interesse maior da LSF é compreender o modo como os falantes usam a linguagem diariamente nas mais diversas situações comunicativas. Por isso, “Ao debruçar-se sobre a língua em uso, a LSF oferece diversas possibilidades de análise do funcionamento de uma dada língua, desde as que conjugam as metafunções, até as mais localizadas [...]”. (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007, p. 24). O funcionalismo Holandês realizado na década de 1970 tem como principal defensor Simon Dik cuja proposta baseasse numa teoria funcional da gramática. De acordo com Nogueira (2006, p.32) essa teoria “caracteriza-se como um modelo formal de gramática funcional, como um modelo gramatical da competência comunicativa, em que funções e regras gramaticais são vistas como instrumentais com relação à pragmática”. 3 Essa teoria foi desenvolvida por Halliday e seus seguidores a partir dos trabalhos do antropólogo Malinowiski e do linguista Firth. 21 Dik tem como postulado mais pertinente na sua gramática funcional, a posição ocupada pelo usuário da língua, pois para ele o usuário deve ocupar um papel central num paradigma funcionalista. Logo, sua investigação fixa-se na tentativa de explicar como o falante e o destinatário comunicam-se um com o outro na interação verbal, de forma competente através da expressão linguística. Dessa forma, o autor une à teoria da gramática funcional a teoria do usuário da língua4. Dik (1989) adentra num modelo de gramática funcional em que, dentro de uma teoria pragmática, é desenvolvida a teoria da sintaxe e da semântica, abarcadas dentro da interação verbal. O Funcionalismo norte-americano, a vertente que vamos focalizar, tem como ideia central a de que a língua é usada para satisfazer as necessidades comunicativas, por isso às estruturas gramaticais devem ser procuradas no uso real, dentro de situações concretas de comunicação. Como bem ressalta Furtado da Cunha; Souza (2007, p.17). “Em outras palavras, trabalha-se com a hipótese de que a forma da língua deve refletir, em alguma medida, a função que exerce”. Por isso: As análises linguísticas que seguem essa orientação funcionalista trabalham diretamente sobre o postulado básico – a língua é uma estrutura maleável, sujeita às pressões do uso e constiuída de um código parcialmente arbitrário. Isso significa que a gramática é um “sistema adaptativo” (Du Bois, 1985), uma “estrutura maleável” (Bolinger, 1977) e emergente (Hopper, 1987), que se encontra num processo contínum de variação e mudança para atender a necessidades cognitivas e/ou interacionais de seus usuários. (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007, p.17). Dentro do paradigma funcionalista americano, inspirado nos postulados teóricos de Talmy Givón, Paul Hopper, Sandra Thompson, dentre outros teóricos, a investigação da língua deve ser baseada no uso, na contínua interação entre as pessoas, que se colocam como falantes e ao mesmo tempo ouvintes, pois a função da língua está exatamente integrada nessa interação que ocorre nos diferentes contextos que, por sua vez, condiciona a forma do código linguístico. Nessa perspectiva, é que os teóricos brasileiros tentaram incorporar esse pensamento, elaborando teorias que viessem ajudar no estudo do sistema 4 Para Dik (1989), além da capacidade linguística existe a capacidade epistêmica, capacidade lógica, capacidade perceptual e capacidade social; as quais interatuam umas com as outras, produzindo cada uma delas um output que vem a ser fundamental para que as demais operem. 22 linguístico de forma mais interativa, com base no uso real, em práticas vivas e concretas de situações linguageiras. 1.2 O Funcionalismo Norte-Americano e sua base epistemológica Foi no ano de 1975 que os funcionalistas norte-americanos iniciaram suas análises linguísticas, tendo como pioneiro Dwigh Bolinger, teórico que contribuiu procurando mostrar que os fatores pragmáticos operavam em fenômenos linguísticos, por sua vez, estudados pelos estruturalistas e gerativista. Foi ele quem impulsionou os estudos funcionalistas, com suas análises particulares, bem como com seu estudo voltado para a pragmática da ordenação das palavras na cláusula. Bolinger foi, sem dúvida, um importante teórico para o paradigma funcionalista desse período, pois apesar de não ter realizado um esboço completo de uma Gramática Funcional, ele mostrou análises extremamente relevantes para que outros teóricos funcionalistas também procurassem analisar a estrutura da língua dentro da função comunicativa, pois: Os funcionalistas norte-americanos advogam que uma dada estrutura da língua não pode ser proveitosamente estudada, descrita ou explicada sem referência à sua função comunicativa, o que, aliás, caracteriza todos os funcionalismos [...]. (FURTADO DA CUNHA, 2008, p.163) Dando continuidade aos trabalhos de cunho funcionalista, outros autores também se destacaram, dentre eles podemos citar: Sandra Thompson5 e Paul Hopper que formularam a proposta de análise da transitividade, entendida como uma propriedade contínua, escalar, não inerente ao verbo, mas manifestada na totalidade da oração. Thompson, de forma particular ou coletiva, fez trabalhos que ficaram como marcos na análise funcionalista. No Funcionalismo Norte-Americano Givón (1979) postulou uma nova perspectiva para representar os processos diacrônicos de regularização do uso da língua, inaugurando uma perspectiva para o entendimento da gramática. O autor defende uma intervenção pragmática no processo de gramaticalização, processo 5 Conforme postula Furtado da Cunha (2008), Thompson produziu alguns trabalhos importantes, como as passivas em inglês, juntamente com Hopper produziram o conceito tradicional de transitividade como uma propriedade escalar constituída de dez parâmetros sintático-semântico independentes e co-variantes. 23 esse que se configura numa reanálise tanto do material lexical em material discursivo, como dos padrões discursivos em padrões gramaticais. A sintaxe é então concebida como efeito da cristalização ou regularização de estratégias discursivas recorrentes, na linha de Givón (1979), que afirma que a linguagem humana evolui de modo pragmático (ligação frouxa entre as palavras, ausência de morfologia gramatical, estrutura de tópicocomentário) para o modo sintático (subordinação rígida, uso elaborado de morfologia gramatical, estrutura de sujeito-predicado). (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007, p.19). Outro teórico reconhecido nos estudos funcionalistas norte-americano foi Heine (1991), formulando conceitos sobre a gramaticalização, sob a ideia de um “processo pelo qual um item lexical, ou uma estrutura lexical, passa em certos contextos, a exercer uma função ainda mais gramatical ou um item já gramatical passa a exercer uma função ainda mais gramatical”. (HEINI, apud. PEZATTI 2007, p.196). Também podemos citar Traugott e König (1991) com a formulação de que a gramaticalização é um processo diacrônico e unidirecional mediante o qual, na evolução temporal, um item lexical adquire um estatuto gramatical. As análises linguísticas propriamente ditas da teoria funcionalista de vertente norte-americana foram marcadas com a publicação do texto The Origins of Syntax in Discourse: a case study of Tok Pisin relatives de Gillian Sankoff e Penelope Brown em 1976. Nesse texto, as autoras verificaram as estruturas sintáticas de sentenças observadas no Tok Pisin6. Em 1979, dando continuidade às descobertas de Sankoff e influenciado por elas, Talmy Givón publica From discourse to syntax: Grammar as a processing stratgy, texto “antigerativista”, que ratifica que a sintaxe é determinada pela função que exerce. E Thompson, em co-autoria com Paul Hopper, publicam Transitivity in grammar and discourse (1980), neste célebre artigo as autoras renovam a concepção de transitividade, tirando-a do domínio estrito do verbo para inseri-la no discurso. Esses textos serviram de inspiração para estudos e pesquisas realizados no decorrer do tempo, sendo embasamento teórico para todos aqueles que se interessa por investigar a língua em uso. Foram alguns autores desses textos juntamente com outros estudiosos, como Heine, Traugott, que criaram os cinco princípios e categorias para o estudo da língua. A Gramaticalização, a Iconicidade, a Informatividade, a Transitividade e Plano Discursivo. 6 Língua de origem pidgin falada na Papua-Nova Guiné, ilha situada ao norte da Austrália. 24 A gramaticalização um dos princípios da corrente funcionalista norteamericana, no qual alguns autores como, Traugott e König (1991), Heine (1991), Hopper; Traugott (1993) dentre outros apresentam conceitos sobre a ideia de um processo pelo qual um item lexical, ou uma estrutura lexical, passa em certos contextos, a exercer uma função gramatical ou um item já gramatical passa a exercer uma função ainda mais gramatical, tudo isso em meio ao contexto de uso adotado pelos falantes. A emergência desse paradigma no contexto da linguística funcionalista norte-americana deu-se a partir dos anos 70, com um resgate do papel das transformações diacrônicas da sintaxe. O texto que motivou sua origem foi The origins of syntax in discourse dos autores Sankoff e Brown. Tal texto teve eco no ciclo de Givón (1979): Discurso>sintaxe>morfossintaxe>morfofonêmica>zero.(MARTELOTTA 2003). Para Traugott e König (1991), a gramaticalização caracteriza-se como um processo dinâmico, unidirecional e diacrônico sob o qual, na evolução temporal, um item lexical adquire um estatuto gramatical. Heine (1991) dentro desse princípio de estudo dos fenômenos linguísticos, apresentou a escala em que expõe uma regularidade no processo de extensão semântica, a qual é elucidada numa escala unidirecional que indica: PESSOA > OBJETO > ATIVIDADE > ESPAÇO > TEMPO > QUALIDADE As categorias conceptuais dessa escala apresentam grau crescente de abstratividade e constituem entidades prototípicas que, para estruturação de nossa experiência, representam domínios importantes. Sobre a escala, vejamos ainda três pontos importantes: i) relação entre suas categorias tem de ser metafórica; ii) diz respeito à unidirecionalidade iii) essa escala tem um caráter translinguístico. Segundo pontua Furtado da Cunha (2008, p.173): “A gramaticalização é um fenômeno relacionado a essa necessidade de se refazer que toda gramática apresenta”. Por isso, cabe enfatizar que esse princípio encontra abrigo privilegiado no funcionalismo, porque busca refletir influência do sistema gramatical do funcionamento discursivo, isto é, procura obter explicação na interação entre as motivações internas ao sistema e as motivações externas a ele. 25 De modo geral, a definição de „gramaticalização‟ na visão funcionalista implica a ideia de um processo pelo qual um item lexical, ou uma estrutura lexical, passa, em certos contextos, a exercer uma função gramatical ou um item já gramatical passa a exercer uma função ainda mais gramatical. Assim a gramaticalização (termo introduzido por Meillet), pode ser encarada como uma necessidade de se refazer apresentada pelas gramáticas. Já a iconicidade consiste em estudar a correlação natural e motivada entre o código linguístico que corresponde à expressão e seu significado que, por sua vez, corresponde ao conteúdo, forma e função. Esse princípio parte da ideia de que o funcionamento da mente revela-se pela estrutura linguística. Os linguistas funcionais defendem a ideia de que a estrutura da língua reflete a estrutura da experiência. Como a linguagem é uma faculdade humana, a suposição geral é que a estrutura linguística revela as propriedades da conceitualização humana do mundo ou as propriedades da mente humana. (FURTADO DA CUNHA, COSTA; CEZÁRIO, 2003). Com o filósofo Peirce, a iconicidade foi estabelecida em dois tipos, a imagética e a diagramática, a primeira está relacionada com a estreita relação entre um item e o seu referente, já a segunda mostra um arranjo icônico de signos, sem necessária Intersemelhança. Entretanto, vale lembrar que foi com Bolinger7 que o isomofismo linguístico revelou seu lado mais radical, pois nesse momento vemos que a condição natural da língua é preservar uma forma para um sentido e viceversa. Essa versão foi reformulada quando se constatou que, na língua, há duas ou mais maneiras de dizer a mesma coisa, havendo assim correlação natural entre uma forma e várias funções, ou entre uma função e várias formas. Isso pode ser constatado no uso do sufixo – inho.8 . Situações como esta deixa bem evidente que, na língua, pode acontecer sim essa correlação entre forma e função e vice-versa. Na versão mais branda foram estabelecidos três subprincípios para manifestar o princípio da iconicidade, pois 7 Bollinger (1997) foi responsável por renovar os estudos da iconicidade, ao considerar a função comunicativa desempenhada por cada forma. 8 Esse sufixo pode ser usado para o diminutivo, em florzinha, para marcar afetividade em amorzinho, em caso pejorativo, gentinha, com valor superlativo, em devagarinho, entre outras situações que possam surgir. 26 estes se relacionam à quantidade de informação, ao grau de integração dos constituintes da expressão e do conteúdo e à ordenação linear dos segmentos. O Subprincípio da quantidade: corresponde à quantidade de informação; à construção gramatical e a estrutura do conceito expresso; são equivalentes. Belo > Beleza> Embelezar > Embelezamento O Subprincípio da integração: estabelece que quanto mais próximos estejam os conteúdos cognitivos, mais próximas estarão as formas no nível da codificação. Existirá uma íntima relação entre a mente e a sintaxe. Maria ordenou: fiquei aqui. Maria fez a filha ficar ali. A filha não queria ficar ali. O subprincípio da ordenação linear: diz que a informação mais importante tende a ocupar o primeiro lugar da cadeia sintática, de modo que a ordem dos elementos no enunciado revela a sua ordem de importância para o falante. Exemplo: “vim, vi, venci”. Outra categoria é a marcação. A Escola de Praga foi responsável por introduzir na linguística os termos “marcado” e “não-marcado” – um entre dois termos que se opõem é tido como marcado se apresentar uma propriedade que é ausente no outro, não-marcado. Furtado da Cunha (2008) diz que as formas não-marcadas apresentam várias características, como: a) maior frequência de ocorrência nas línguas em geral e em uma língua particular; b) contexto de ocorrência mais amplo; c) forma mais simples ou menor; d) aquisição mais precoce pelas crianças. Foi Givón (1995) que estabeleceu três critérios principais para distinguir categorias marcadas e não marcadas, em um contraste gramatical binário. Esses critérios são: a) complexidade estrutural: a estrutura marcada tende a ser mais complexa (ou maior) que a estrutura não-marcada correspondente; b) distribuição de frequência: a estrutura marcada tende a ser menos frequente do que a estrutura não-marcada correspondente; (c) complexidade cognitiva: a estrutura marcada tende a ser cognitivamente mais complexa do que a estrutura não-marcada correspondente. Incluem-se aqui, fatores como esforço mental, demanda de atenção e tempo de processamento. (FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007 p.21). 27 Dentro da sintaxe, no uso da língua, o conceito de marcação também apresenta consequências interessantes. Vejamos os exemplos abaixo: a) Eu uso esta roupa. b) Esta roupa eu uso. A reflexão dessas sentenças mostra a importância do conceito de marcação para a língua. Ou seja, a forma mais frequente será menos expressiva, pois é conceptualizada de maneira mais automática pelo usuário da língua. Assim, a forma mais marcada é um recurso dos falantes quando querem ser mais expressivos. Segundo pontua Givón, (1995) apud Furtado da Cunha; Costa; Cezário, (2003) uma mesma estrutura pode ser marcada num dado contexto e não marcada em outro. Sendo assim, a marcação é um fenômeno que depende do contexto. Dessa maneira, pode ser explicada com base em fatores comunicativos, socioculturais, cognitivos ou biológicos, podendo também se estender para fenômenos como, o discurso formal e a conversação espontânea, não ficando restritas somente às categorias linguísticas. Portanto vale aqui ressaltar que a marcação que caracteriza uma forma linguística é relativa, porque o contexto em quem pode definir a marcação ou não marcação de uma sentença. (Cf. FURTADO DA CUNHA 2008). A informatividade e plano discursivo, também, estão inclusas nas categorias de análises linguísticas do Funcionalismo Norte-Americano. A primeira focaliza o conhecimento que os interlocutores compartilham, ou supõem que compartilham, na interação verbal. A aplicação desse princípio tem se voltado para o exame do status informacional dos referentes nominais. Desse modo, um sintagma nominal pode ser classificado como: dado (pode ser dado ou velho se já tiver ocorrido no texto); novo (quando é introduzido pela primeira vez no discurso); disponível (se já estiver na mente do ouvinte é chamado disponível); inferível (quando é identificado através de um processo de inferência). Ela também se ocupa em classificar uma informação como tema e rema, uma informação velha é denominada de tema, já aquela informação nova é classificada como rema. (FURTADO DA CUNHA; COSTA; CEZÁRIO, 2003). O estudo e as pesquisas sobre a descrição do status informacional dos nomes em várias línguas foi introduzido por Prince. Está incluído, nos seus trabalhos, também aqueles que fez no português. Depois disso, outros estudiosos 28 aprofundaram as pesquisas, que trouxe muitas contribuições sobre como se trata o tema/rema. Contudo, plano discursivo está diretamente aplicado ao estudo das narrativas, compreendendo as dimensões figura/fundo. Figura pode ser entendida como uma porção do texto narrativo que mostra uma sequência temporal de eventos concluídos. Já fundo corresponde a descrições de ações, de estado e localização dos participantes da narrativa e dos comentários avaliativos. Observemos isso no exemplo9 a seguir: “... aí quando vinha ali no rio Tietê... num sei se você conhece... já ouviu falar... lá de São Paulo... quando vinha lá do rio Tietê... tava chovendo muito... a pista escorregadia... nê? Aí o carro perdeu o controle... o motorista perdeu o controle... nê?... aí quando ele viu que o carro ai cair dentro do rio... aí ele... colocou o carro num... pra cima de outro carro... que tava um casal de namorado assim... namorando...”. No exemplo acima, os enunciados que estão negritos são classificados por figura, porque apresenta o evento realizado com verbos punctuais (perdeu e colocou), e as demais sequências são classificadas como fundo, pois elas apenas contextualizam os eventos narrados. Já em termos de discurso as palavras chaves são central e periférico. Para que a comunicação se processe satisfatoriamente, ou seja, para que os interlocutores possam partilhar a mesma perspectiva, o emissor orienta o receptor sobre o grau de centralidade e de perifericidade dos enunciados que constituem seu discurso. A última categoria que citaremos é a transitividade. A proposta de Hopper e Thompson 10 (1980) não opõe binariamente verbos transitivos a intransitivos, mas trata a transitividade como uma propriedade escalar que focaliza diferentes ângulos, as transferências da ação de um agente para um paciente em diferentes porções da oração. Os autores associam a transitividade a uma função pragmática, a uma noção contínua escalar, a uma noção discursivo-comunicativa. Para eles não há 9 O exemplo citado é do corpus D&G/Natal, p.222 e está em FURTADO DA CUNHA, M.A. COSTA; M. M. CEZÁRIO. Pressupostos teóricos fundamentais. In: FURTADO DA CUNHA, M.A.; RIOS DE OLIVEIRA, M. MARTELOTTA, M. E. (org.) Linguística Funcional – teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A/FAPERJ, 2003. 10 Os dois teóricos da linguística funcional norte-americana estão citados em FURTADO DA CUNHA, OLIVEIRA, RIOS (Org.), (2003). 29 necessidade da ocorrência dos três elementos – sujeito, verbo, objeto, para que uma oração seja transitiva. A transitividade é entendida não como uma propriedade categórica do verbo, como defende a gramática tradicional, mas como uma propriedade contínua, escalar (ou gradiente), da oração como um todo. É na oração que se podem observar as relações entre o verbo e seu(s) argumento(s) – a gramática da oração. (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007, p.29). As autoras dizem que a transitividade dentro da abordagem funcionalista é uma propriedade contínua escalar, no entanto, para se chegar a essa noção, Hopper e Thompson (1980) apresentam um complexo de dez parâmetros sintáticosemânticos que contribuem para a ordenação das orações na escala da transitividade. De um modo geral, a transitividade fornecida pelos teóricos norteamericanos, principalmente por Givón, Hopper, Thompson e Chafe, é vista de uma forma que privilegia não somente uma propriedade categórica do verbo, mas vai muito além. Ela extrapola o conceito de transitividade da gramática tradicional, entendendo-a como uma propriedade contínua escalar da oração como um todo. 1.3 A concepção de gramática da corrente funcionalista norte-americana O Funcionalismo Norte-Americano traz concepções diferenciadas para vários aspectos linguísticos, dentre eles inclui-se a gramática, uma vez que esta, logo nas primeiras teorias elaboradas pelos autores dessa corrente, aparece não como algo fora da comunicação real dos falantes, mas, pelo contrário, ela surge como um recurso que está intimamente ligado ao uso que os falantes fazem da língua na sua vida cotidiana. Assim sendo, podemos dizer que, nas diferentes vertentes funcionalistas, a gramática é interpretada como resultante da interação dos falantes linguísticos, tendo dessa maneira por parâmetro o uso real da língua. Para tanto a gramática funciona a partir de estratégias discursivas. Como afirma Vidal (2009, p.214): “A gramática passa a existir como fixação das estratégias discursivas adotadas pelos falantes no processo de comunicação, no seu percurso para a regularização, em que tomam parte pressões do uso e forças cognitivas”. 30 Esses novos postulados sobre o aspecto gramatical teve como momento crucial a Escola linguística de Praga, momento em que vários pesquisadores europeus inspirados nos trabalhos de outros (como Vilém Mathesius, Nikolai Trubetzkoy e outros), procuraram ampliar o pensamento e a pesquisa que tinha como parâmetro a linguagem como instrumento de interação social, a língua como algo que reflete as adaptações dos falantes em diferentes situações comunicativas e a gramática como um conjunto de convenções de natureza distinta, em que sobressaem as pressões de uso, fazendo com isso nascer o funcionalismo. Neves (2006) destacou algumas elaborações significativas e lições básicas de uma gramática funcional com os autores abaixo. Dentre elas, enfatizamos: A língua (e a gramática) não pode ser descrita nem explicada como um sistema autônomo (Givón, 1995). A gramática é suscetível às pressões de uso (Du Bois, 1993), ou seja, às determinações do discurso (Givón, 1979b) [...] A gramática resolve-se no equilíbrio entre forças internas e externas ao sistema (Du Bois, 1985). (NEVES, 2006 p.16). O grupo de teóricos mencionados por Neves colocou o funcionalismo como expoente, dentro da linguística moderna, tornando essa corrente um veículo ideal para investigar a língua no seu contexto linguístico e também em situações extralinguísticas, pois a sintaxe passa a ser mutante e adaptável ao discurso. Assim podemos dizer que, na Linguística Funcional Norte-Americana também a explicação para as estruturas gramaticais deve ser procurada no uso real a que elas se prestam na situação de comunicação (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007). Isto porque, essa corrente defende a ideia de que a investigação da língua deve ser baseada no uso, observando o contexto linguístico e as situações extralinguísticas. A inspiração desse pensar a gramática como dinâmica e adaptável às pressões internas e externas do sistema linguístico, dentro da corrente funcional da costa norte-americana, veio de teóricos como Givón (1995), Paul Hopper (1993), Sandra Thompson (1980) entre outros, que deram contribuições significativas para a elaboração de uma gramática que se encontra num processo contínuo de variação e mudança, para atender as necessidades cognitivas e/ou interacionais de seus usuários. 31 No tocante aos postulados de Talmy Givón sobre gramática funcionalista, podemos dizer que esse teórico coloca em jogo pontos centrais como: o uso da língua em relação a todo o sistema, o significado em relação às formas linguísticas e o social em relação às escolhas individuais do falante (Cf. NEVES, 2004). Nesse sentido, a produção do discurso do falante é uma intrincada interação linguística, em que estão envolvidos diversos fatores como: o contexto, as informações pragmáticas (tanto do falante, como as que ele julga que o ouvinte possui), o planejamento, entre outros, sendo as variações e desvios da gramática normativa imprescindíveis no ato comunicativo. (GIVÓN apud NEVES, 2004), defende ainda que a língua não pode ser descrita como um sistema autônomo, pois há a uma interdependência entre a gramática e parâmetros como: cognição e comunicação, processamento mental, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução. Já outros teóricos como Dubois, Bolinger e Hopper trazem para o conceito de gramática, palavras que a coloca como um sistema adaptativo. Assim, suas análises são fundadas a partir de uma estrutura maleável e emergente, podendo, dessa maneira, se moldar a partir das regularidades observadas no uso interativo da língua. Dentro dessa perspectiva, “parte-se do princípio de que a gramática de uma língua natural é dinâmica, adaptando-se a pressões internas e externas ao sistema linguístico, que continuamente interagem e se confrontam”. (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007, p.17). Sendo assim, o postulado básico segue a seguinte orientação de gramática, um “sistema adaptativo” (DU BOIS, 1985), uma “estrutura maleável” (BOLINGER, 1977), e “emergente” (HOPPER, 1987). Tendo como base os postulados teóricos dos autores mencionados, os funcionalistas que deram continuidade aos trabalhos a partir de uma gramática funcional, também se baseiam em uma gramática que não abriga somente as palavras ou construções gramaticais, mas quaisquer porções linguísticas recorrentes, que se encontrem no vocabulário falado ou escrito dos falantes nas suas diversas formas de situação de comunicação. Por isso, estudar a gramática, no paradigma funcional norte-americano, é o mesmo que estudar a língua em funcionamento, ou seja, estudar a língua indo além da estrutura gramatical. Isto porque, na ótica da corrente funcionalista a gramática está intrinsecamente ligada à competência comunicativa dos falantes, a 32 competências que eles têm para se comunicarem e se expressarem no meio social, por isso Neves destaca: Quando se diz que a gramática funcional considera a competência comunicativa, diz-se exatamente que o que ela considera é a capacidade que os indivíduos têm não apenas de codificar e decodificar expressões, mas também de usar e interpretar essas expressões de uma maneira interacionalmente satisfatória. (NEVES, 1997 p.15) A partir da afirmativa de Neves (1997), podemos ver nitidamente que as análises que seguem esse modelo funcionalista lançam um olhar diferenciado para o estudo da gramática, haja visto que essa teoria analisa a estrutura gramatical tomando como referência a situação comunicativa inteira: o propósito do ato da fala, seus participantes e seu contexto discursivo. Assim, a língua passa a ser vista não mais como um objeto autônomo, mas como uma estrutura submetida às pressões provenientes de situações comunicativas, que exercem grande influência sobre a construção linguística. Dentro dessa perspectiva as expressões linguísticas não pensadas como objetos isolados, mas como instrumentos usados pelos falantes para estabelecer a comunicação dentro de um contexto de uso. Isso significa que as regras abrigadas na visão funcionalista não são apenas as que governam a constituição das expressões linguísticas, mas também aquelas que estabelecem os padrões de interação verbal, esse tipo de gramática foi pensada por Givón (1995) e outros teóricos funcionalistas. Com base nessas proposições, Neves diz que: Uma gramática funcional faz, acima de tudo, a interpretação dos textos, que são considerados as unidades de uso – portanto, discursivo-interativas-, embora, obviamente vá a interpretação dos elementos que compõem as estruturas da língua (tendo em vista suas funções dentro de todo o sistema linguístico) e à interpretação do sistema (tendo em vista os componentes funcionais). (NEVES, 2006 p.26). Com isso, vemos que a corrente norte-americana se volta para o estudo da estrutura dentro da interação verbal, pois é na interação que os falantes se exercitam na atividade constitutiva da linguagem. Nela, aprendem a interagir como locutores e interlocutores para assim construir seus conhecimentos linguísticos e discursivos a partir de atividades linguageiras. 33 No dizer de Furtado da Cunha (2008, p.157): “O funcionalismo se preocupa em estudar a relação entre estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos em que elas são usadas”. E a autora ainda completa: ”A abordagem funcionalista procura explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua, analisando as condições discursivas em que se verifica esse uso”. Dentro desse propósito, essa abordagem não explica os fenômenos linguísticos a partir de frases que não estão no contexto real dos usuários da língua, frases criadas e totalmente descontextualizadas, como fazem as gramáticas normativas tradicionais, mas trabalham como textos reais e concretos emitidos pelos falantes nas mais diversas situações de comunicação existentes. Isso nos leva às duas propostas básicas do modelo de análise funcionalista americana, de acordo com Furtado da Cunha (2008, p.158): “a língua desempenha funções que são externas ao sistema linguístico em si; as funções externas influenciam a organização interna do sistema linguístico”. Em razão desses fatos, a gramática na abordagem funcionalista não se interessa apenas pelo estudo das construções consideradas como importantes para o âmbito da estrutura, mas também qualquer enunciado oriundo da língua em uso, do discurso, das experiências com a interação linguística realizada pelos seres humanos ao longo de suas vidas. Assim, entendemos com facilidade a afirmativa dos autores funcionalistas como Givón, Hopper e outros quando priorizam o estudo da linguagem em uso. Pezzatti (2007, p.168) reafirma a ideia de que toda explicação linguística deve ser buscada na relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social, pois isso torna a tarefa de explicar o fenômeno linguístico muito mais produtivo e prazeroso. É exatamente esse o interesse da Linguística Funcional americana: procurar explicar os acontecimentos linguísticos observando as pressões de ordem internas e externas, com base também nas condições discursivas acontecidas dentro das interações sócio-comunicativas. Nesse sentido, dentro do funcionalismo americano, a estrutura é uma variável dependente dos usos da língua ao longo do tempo e no decorrer da história, sendo também não-arbitrária, motivada, icônica, servindo a funções cognitivas e comunicativas. 34 Sendo assim, o ensino de língua, nesse contexto moderno e dinâmico, mostra que não pode apenas limitar-se à codificação e decodificação de um sistema de escrita, de maneira banal e mecânica, precisa ir além, precisa estar ligado à recuperação de sua função social, no desvelamento de sua realidade e na possibilidade de sua construção. Por esse motivo, os funcionalistas da corrente americana propõem que o estudo da língua ultrapasse os limites da estrutura, sendo nessa configuração, um estudo que considere tanto o contexto linguístico quanto as situações extralinguística. Podemos ver que o modelo teórico traz grandes contribuições para o estudo da língua centrado no uso, isto porque, nessa teoria, a língua é uma estrutura maleável e emergente, e o seu estudo precisa estar aberto as suas mutações e complexidades, e a gramática, por sua vez, deve ser usada como uma ferramenta que auxilie o estudo da língua em funcionamento, já que ela, além de ser condicionada por fatores cognitivos inatos, também é uma consequência da interação dos usuários da língua. Questões como essas são bem frisadas na prática de Análise Linguística, assunto tratado no próximo capítulo. 35 CAPÍTULO II: ALGUNS ESTUDOS SOBRE ANÁLISE LINGUÍSTICA Esse capítulo discorre sobre a prática de Análise Linguística, mostrando os estudos de autores como Geraldi (2002) e Mendonça (2006), apresentando também a proposta dos PCNs (BRASIL, 1998) e as contribuições do funcionalismo para a realização dessa prática no nível Fundamental. 2.1 Análise Linguística: alguns estudos, algumas possibilidades no Nível Fundamental II A expressão Análise Linguística surgiu a partir dos inúmeros questionamentos sobre o ensino de língua portuguesa, e, especialmente, sobre o tratamento dado ao aspecto gramatical nas aulas de língua. Desse modo, emergiu quando cada vez mais sentimos a necessidade de um trabalho com a gramática sob a perspectiva discursivo-textual, isto é, um trabalho que ultrapassasse a fronteira do tradicionalismo, um trabalho que não seja centrado apenas na metalinguagem. Assim sendo, AL denomina uma nova perspectiva de reflexão sobre o sistema linguístico e sobre os usos da língua, com vistas ao tratamento escolar de fenômenos gramaticais, textuais e discursivos. (MENDONÇA, 2006). Nesse sentido, essa prática se caracteriza como um trabalho de reflexão sobre os modos de funcionamento dos recursos expressivos da língua, em que o ponto de partida seria o texto e sua construção. Assim, a partir da AL, os alunos têm a oportunidade de estudar aspectos sistemáticos da língua portuguesa centrados no uso. Essa nova perspectiva de trabalho com a gramática conjuga também com a proposta do funcionalismo norteamericano, que a partir dos postulados de Givón (1995), vemos que a gramática não pode se explicada como um sistema autônomo, porque ele é sensível às pressões de uso. Por isso, não podemos pensá-la fora do contexto de uso (DU BOIS, 1993). Foi nessa perspectiva que Geraldi (2002) procurou realizar estudos que viessem se contrapor ao ensino tradicional da gramática, vislumbrando uma nova prática pedagógica com o aspecto gramatical, em sala de aula, apresentando desse 36 modo, no seu livro “o texto na sala de aula”, um artigo sobre a análise linguística11, que mostra encaminhamentos de como realizar atividades que não privilegiem só a palavra ou da frase, mas o texto e sua construção. Geraldi (2002) então escreve o que para ele vem ser a análise linguística (AL): O uso da expressão “prática de análise linguística” não se deve ao mero gosto por novas terminologias. A análise linguística inclui tanto o trabalho sobre questões tradicionais da gramática quantas questões amplas a propósito do texto, entre as quais vale a pena citar: coesão e coerência internas do texto; adequação do texto aos objetivos pretendidos; análise dos recursos expressivos utilizados (metáfora, metonímia, paráfrase, citações, discursos direto e indireto, etc.); organização e inclusão de informações; etc. Essencialmente, a prática de análise não poderá limitar-se à higienização do texto do aluno em seus aspectos gramaticais e ortográficos, limitando-se as “correções”. Trata-se de trabalhar com o aluno o seu texto para que ele atinja seus objetivos junto aos leitores a que se destina (GERALDI, 2002 p.74). Apoiados no dizer de Geraldi (2002), podemos dizer que a expressão, “prática de análise linguística” pode ser usada para denominar um trabalho que envolva tanto questões tradicionais da gramática, quanto questões amplas a propósito do texto, isto é, questões que leve os alunos a compreenderem os fenômenos linguísticos que estão intrinsicamente ligados ao texto e à gramática. Por isso, a AL está no eixo da reflexão dos PCN (BRASIL, 1998). Esta não é uma nova denominação para o ensino de gramática. Segundo esse documento, quando se toma o texto como unidade de ensino, há aspectos a serem considerados que não se referem somente à dimensão gramatical, além dos aspectos ortográficos e sintáticos. Consideram-se também aspectos semânticos e pragmáticos que enquadram o texto em determinado gênero discursivo/ textual. Mediante as colocações discutidas até o momento, entendemos que a prática de AL não é aquela cristalizada nas gramáticas normativas, mas é uma prática que se integra aos outros dois eixos do ensino de língua: os eixos da leitura e da produção de textos. Como bem frisa Cunha (2008), devemos explicar as regularidades observadas no uso interativo da língua, analisando as condições discursivas em que se verifica esse uso. 11 Foi Geraldi (2002) quem usou o termo Análise Linguística pela primeira vez, procurando firmar um novo espaço e uma nova perspectiva pedagógica para o trabalho com o aspecto gramatical. Isso ocorreu nos anos 90. 37 Entretanto, a AL não dispensa o estudo da gramática, como muitos pensam, ao contrário, na AL a gramática interage ao estudo do texto, pois, para Antunes (2003, p.45), “O que é gramatical é textual e, vice-versa, que tudo o que é textual é gramatical. Assim, quando se estudam aspectos gramaticais de uma língua, estão estudando os recursos de que a língua dispõe para que o falante/escritor constitua seus textos” [...]. “O grande mal não é o ensino de gramática em si, como foi trabalhada”. (MARTINS, 2006, p.113). Com isso, compreendemos que há algumas divergências entre ensinar gramática e realizar a prática de AL, em sala de aula. Dentro das dissensões apresentadas, estão as concepções de língua e linguagem. Ao assumir uma concepção de língua como uma ação interlocutiva entre os sujeitos, consequentemente, está se adotando uma metodologia reflexiva, baseada na construção e (re)construção, dos alunos, assim dispensando um trabalho fragmentado, repetitivo que valoriza apenas a norma culta padrão e as concepções de linguagem enquanto expressão do pensamento e instrumento de comunicação12. O ensino tradicional da gramática e a AL se diferenciam, em vários aspectos, conforme mostra Mendonça (2006)13. Dentre essas diferenças, destacamos algumas: Quadro 1 ENSINO DE GRAMÁTICA Concepção de língua como sistema, estrutura inflexível e invariável. Metodologia transmissiva, baseada na exposição dedutiva (do geral para o particular, isto é, das regras para o exemplo) + treinamento. Privilégio das habilidades metalinguística. Ênfase nos conteúdos gramaticais como objetos de ensino, abordados isoladamente e em sequência mais ou menos fixa. Centralidade da norma-padrão. Unidades privilegiadas: a palavra, a frase, e o período. Quadro 2 PRÁTICA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA Concepção de língua como ação interlocutiva situada, sujeita às interferências dos falantes. Metodologia reflexiva, baseada na indução (observação dos casos particulares para a conclusão das regularidades/regras). Trabalho paralelo entre atividades metalinguísticas epilinguística Centralidade dos efeitos de sentido. 12 Cf. as três concepções de linguagem (enquanto expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como forma ou processo de interação). Travaglia, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática. São Paulo: Cortez, 2009. 13 A tabela com as diferenças entre ensino de gramática e a prática de Análise linguística está em BUZEN, C.; MENDONÇA, M. (Org.). Português no ensino médio e formação de professor. São Paulo: Parábola editorial, 2006 p.207. 38 Ênfase nos usos como objetos de ensino (habilidades de leitura e escrita), que remetem a vários outros objetos de ensino (estruturais, textuais, discursivos, normativos), apresentados e retomados sempre que necessário. Centralidade dos efeitos de sentido. Unidade privilegiada: o texto. Quadros adaptados da tabela de Mendonça (2006, p.207) Diante disso, observamos que a AL favorece uma reflexão sobre a linguagem, haja visto que, nessa prática, buscamos fazer um trabalho recorrente e organizado, que direciona para a produção de sentidos e para uma compreensão ampliada dos fenômenos linguísticos, com a finalidade de formar verdadeiros leitores e escritores de textos diversificados. Esse é exatamente o grande distanciamento entre AL e ensino de gramática. A AL aponta, na verdade, para a necessidade de a escola possibilitar ao aluno conhecer e valorizar as diferentes variedades do Português, de modo articulado e simultâneo, no desenvolvimento de práticas de produção e recepção de textos e, não somente, dá preferências para atividades estruturais e mecânicos, porque, nessa prática, há uma preocupação em promover atividades significativas que levem ao acesso à cultura letrada, garantindo a permanência e a circulação autônoma dos indivíduos em uma sociedade, para isso, as práticas reflexivas sobre atividades de uso da língua e da linguagem são valorizadas em sala de aula, porque se procura contribuir para formar alunos aptos a participarem de eventos de letramento com autonomia e eficiência. Nesse sentido, a AL é parte das práticas de letramento escolar e, por isso, constitui-se como uma reflexão explícita e sistemática da constituição e funcionamento da linguagem nas dimensões sistêmica (ou gramatical), textual discursiva e também normativa, com o fim de desenvolver as habilidades de leitura, produção de textos tanto orais como escritos, bem como a sistematização dos fenômenos linguísticos. (Cf. MENDONÇA, 2006). A escuta, a leitura, a produção de textos e as atividades epilinguísticas são necessárias, porque nas aulas, além de tudo, é preciso enfocar um trabalho que envolva manifestações sobre língua e suas propriedades, por meio do qual possa se construir explicações para os fenômenos linguísticos característicos das práticas discursivas. (BRASIL, 1998) 39 Baseados na afirmativa dos PCNs (BRASIL, 1998), podemos então dizer que está entranhado, nesse jogo, a metodologia que o professor adota na realização das atividades. Pensando nisso, Geraldi (2002) apresenta direcionamentos para o trabalho com AL em quatro turmas do ensino fundamental. O autor, no seu artigo, orienta como trabalhar com AL e o que trabalhar, para que se faça não um ensino de gramática, mas se faça da gramática uma ferramenta para a melhoria da qualidade do ensino14. Inicialmente, o autor dá dicas para o professor planejar sua aula. Assim pontua algumas estratégias de trabalho, dizendo que o ponto de partida deve ser o texto do próprio aluno, e não aquele texto selecionado pelo LD. Nesses termos o professor, para cada aula, deve selecionar apenas um problema, apresentado nos textos produzidos pelos alunos, pois não adianta querer solucionador de uma vez todos os problemas; propõe ainda a leitura e a reescrita das produções dos discentes. Para Geraldi (2002, p.74), o fundamento da prática de AL é o princípio: “partir do erro para a autocorreção”. Com isso, esse teórico apresenta, nas suas escritas, sugestões de como realizar atividades práticas e produtivas de análise linguística com os alunos, em sala de aula, de modo que os tornem capazes de compreender os eventos linguísticos de forma mais satisfatória, garantindo, assim, seu enquadramento no mundo letrado de modo mais rápido e eficiente. Na perspectiva de conduzir procedimentos metodológicos, para um ensino de língua mais viável à aprendizagem e avanço das habilidades e competências linguísticas do alunado no nível fundamental, o estudioso ainda completa seu ponto de vista dizendo: O que me parece essencial na prática de análise linguística é a substituição do trabalho com metalinguagem pelo trabalho produtivo de correção e autocorreção de textos produzidos pelos próprios alunos. Essa é a intenção da proposta. Nesse sentido, muitos trabalhos poderão ser feitos, e a cada experiência acumula-se também nossa compreensão do fenômeno linguístico. (GERALDI, 2002 p.79). 14 O passo a passo de como proceder nas aulas de AL de quinta a oitava série, (ou 6º a 9º ano do Ensino Fundamental), está em GERALDI. J. W. O texto na sala de aula. São Paulo. Ática, 2002. p. 75-79. Em que o autor aborda a AL, feita a partir dos textos dos alunos, objetivando a reescrita. 40 A afirmativa do autor deixa bem claro que os docentes de língua devem assumir um fazer pedagógico que contemple a junção entre os três aspectos básicos: leitura, escrita e AL, dando preferência a questões abertas e subjetivas, que leve ao raciocínio e à reflexão, a atividades de pesquisa, que exijam comparação sobre a adequação e efeitos de sentido, esquecendo, desse modo, os exercícios estruturais e classificatórios, em que são usados, somente, palavras ou frases soltas, desarticuladas do contexto. Isso porque refletir sobre os usos da forma linguística requer dos professores uma mudança na postura em relação ao ensino de Língua Portuguesa. (MARTINS, 2006). Já os PCNs (BRASIL, 1998) sugerem como metodologia para o ensino de Língua Portuguesa, atividades que envolvam o uso da língua, como produção e compreensão de textos orais e escritos, em diferentes gêneros discursivos/ textuais, seguidas de atividades de reflexão sobre a língua e a linguagem, a fim de aprimorar as possibilidades de uso. Dessa forma, os referenciais assumem uma perspectiva contrária à tradição gramatical, que analisa unidades menores como fonemas, classes de palavras, frases, onde raramente se chega ao texto. A atividade mais importante, segundo o parâmetro curricular, é a de criar situações em que os alunos possam operar sobre a própria linguagem [...]. É a partir do que os alunos conseguem intuir, nesse trabalho epilinguístico, tanto sobre os textos que produzem, quanto sobre os textos que leem que poderão falar e discutir sobre a linguagem, registrando e organizando essas intuições: uma atividade metalinguística, que envolve a descrição dos aspectos observados por meio da categorização e tratamento sistemático dos diferentes conhecimentos construídos. (BRASIL, 1998). As orientações metodológicas dadas pelos PCNs (BRASIL, 1998) só terão sentido se os professores assumirem uma postura didático-pedagógica que ajude os alunos a vencerem suas dificuldades. Afinal, isso é o que ajuda a fazer o diferencial dentro do ensino, haja vista que, sendo o docente o interlocutor direto no ensinoaprendizagem, é ele também quem deve eleger a melhor proposta didática para suas aulas. Sobre essa realidade os PCNs afirmam: Ao professor cabe planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar o esforço de ação e reflexão do aluno, procurando garantir aprendizagem efetiva. Cabe também assumir o papel de informante e de interlocutor privilegiado, que tematiza 41 aspectos prioritários em função das necessidades dos alunos e de suas possibilidades de aprendizagem. (BRASIL, 1998 p.22). Desse modo, entendemos que as exigências apontam para a necessidade urgente da escola possibilitar ao aluno o domínio apropriado da leitura, da escrita, bem como da estrutura gramatical, uma vez que esse aspectos se apresentam em todos os textos falados e escritos que os falantes emitem cotidianamente. Dentro dessa perspectiva, a escola precisa relacionar o estudo da língua às práticas sociais em que se materializam esses textos. Por isso, O ideal é que o professor planeje atividades que permitam aos alunos perceber a adequação das diferentes formas de expressão da intensificação às situações de uso, levando-os a refletir sobre formas que podem ser ou não usadas nos mesmos co-textos e contextos. (FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007 p.160) A consequência dessa dinâmica de trabalho se reflete na aprendizagem e no avanço progressivo das habilidades e competências linguísticas dos alunos, bem como, na capacidade dos mesmos de usarem a língua (e consequentemente a gramática) de forma satisfatória nas mais diversas situações de comunicação em que se deparem cotidianamente. Tanto Geraldi (2002) como os PCN (BRASIL, 1998) explicitam que as atividades de AL têm o texto como unidade de ensino e também podem ser classificadas quanto aos seus fins em duas categorias: atividades epilinguísticas e atividades metalinguísticas, tomando assim determinadas características da linguagem como reflexão. Isso pressupõe alguns pontos a serem considerados pelos professores no planejamento de suas aulas. Dentre eles, podemos focar alguns baseados em Mendonça (2006) e Geraldi (2002): o Utilização de gêneros textuais diversos, para serem lidos, escritos e reescritos pelos alunos. Já que analisar os gêneros lidos, segundo Mendonça (2006) proporciona conhecer suas características e então produzi-los. o Ter a reescrita como prioridade em sala de aula. Porque de acordo Geraldi (2002), a reescrita deve ser tema nas aulas. o Selecionar vários materiais para a execução das aulas, como cadernos, gramáticas, dicionários, dentre outros. Pois, material necessário para as 42 aulas de análise linguística é: os cadernos de redações; um caderno para anotações; dicionários e gramática. (Cf. GERALDI, 2002). o Enfim, fazer um trabalho reflexivo da língua, posto que a AL deve ser exatamente isso, “um trabalho que reflita os modos de funcionamento dos recursos expressivos da língua, em cuja centro estariam o texto e suas operações de construção”. (MENDONÇA, 2006, p. 229). Posto que o estudo da gramática deva ser ancorado no texto e não usar os textos como pretexto. (Cf. NEVES, 2012). Destacamos ainda algumas características essenciais da AL, que deve ser pensado pelos professores nas suas aulas de língua: Integração da AL com a leitura e a produção de texto; Trabalho de reflexão sobre o uso dos recursos linguísticos a partir da análise De casos particulares identificados em textos; Ênfase nos efeitos de sentidos associados aos gêneros textuais; Associação entre habilidades epilinguísticas (reflexão sobre o uso) e metalinguísticas (reflexão voltada para a descrição). (TEIXEIRA, 2011 p.169) Acreditamos que sendo adotada a prática de AL, nas aulas de língua, o ensino teria inúmeros e incontáveis benefícios, um deles, seria o repúdio dos alunos pela gramática, constantemente nos deparamos com depoimentos de alunos dizendo que a gramática é difícil, enfadonha, o fato é que, isso se deve na maioria das vezes a forma como a mesma é trabalhada nas aulas, sendo, por vezes, explorada somente através de exercícios preestabelecidos, a partir de moldes prontos, em que não instiga o raciocínio, a inquietude e a imaginação do aluno e, sobretudo, os fatos linguísticos que os cerca. Na realidade, ainda não se chegou a um consenso entre todos que trabalham com a língua, em relação à gramática, persistem as divergências. Alguns professores ainda defendem o seu ensino sistemático; outros, o abandono deste, principalmente nas séries iniciais; uns procuram dar-lhe uma perspectiva “textual”, mas acabam utilizando o texto apenas como “pretexto” para uma análise metalinguística. Por isso, vale fazer a seguinte ressalva: Com relação à leitura e à escrita, já está claro que se deve privilegiar, nas aulas, a prática de análise e produção contextualizada dos diferentes 43 gêneros textuais; no entanto, ainda permanecem dúvidas e contradições quando o assunto é o estudo da gramática. (TEIXEIRA, 2011 p. 163) Podemos dizer que existe, entretanto, um considerável número daqueles professores que são conscientes do seu papel de mediador de conhecimentos, por isso, procuram habilitar os alunos a usarem adequadamente os recursos linguísticos, adotando uma abordagem mais produtiva, em sala de aula, incluindo no seu fazer pedagógico diário práticas como a AL. Segundo frisa os PCNs a partir dessa prática atingimos os seguintes objetivos básicos com o alunado: Constitua um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento da linguagem e sobre o sistema linguístico relevante para as práticas de escuta, leitura e produção de textos; Aproprie-se dos instrumentos de natureza procedimental e conceitual necessários para a análise e reflexão linguística (delimitação e identificação de unidades, compreensão das relações estabelecidas entre as unidades e das funções discursivas associadas a elas no contexto); Seja capaz de verificar as regularidades das diferentes variedades do Português, reconhecendo os valores sociais nelas implicados e, consequentemente, o preconceito contra as formas populares em oposição às formas dos grupos socialmente favorecidos (BRASIL, 1998, p.52). Entendemos que é partindo desses objetivos e da consciência de se fazer um trabalho com a gramática de forma responsável e consciente, adotando uma postura pautada na reflexão e na funcionalidade linguística, que chegamos a um ensino que melhore o desempenho linguístico dos alunos. A questão não é abolir a gramática de sala de aula, mas adentrar na prática de AL, procurando privilegiar a produção contextualizada de diferentes gêneros textuais (Cf. TEIXEIRA, 2011), haja visto que todos os enunciados construídos no dia a dia, são textos, sejam eles falados ou escritos. Esses textos, por sua vez, são construídos e organizados através da estrutura gramatical. Contudo, devemos partir do princípio de que não dá para aprender gramática, fora do texto. Por que: Os diferentes gêneros abrigam diferentes inserções das possibilidades de produção linguística, e, embora seja inatingível a lida com todas as possibilidades, a simples visão de que é assim que a linguagem funciona já constitui abertura para uma percepção reflexiva da gramática da língua. (NEVES, 2012 p.204). 44 Não devemos pensar que a AL pode resolver todos os problemas de aprendizagem dos alunos, no entanto pode auxiliar num trabalho mais interativo, em que se diferencie do ensino tradicional da gramática em vários aspectos, pois vislumbra uma nova perspectiva de reflexão sobre o sistema linguístico e sobre o uso da língua, com vistas aos fenômenos gramaticais, textuais e até discursivos. Isso, podemos considerar já como um grande diferencial no ensino-aprendizagem da língua. Para fazer um trabalho mais aprofundado e sistemático de AL, o professor pode buscar um respaldo teórico nos PCNs, isto porque esse documento ajuda nas escolhas dos conteúdos, como exemplo, elegemos algumas sugestões de atividades ligadas diretamente à descrição gramatical: [...] Reconhecimento das marcas linguísticas específicas (seleção de processos anafóricos, marcadores temporais, operadores lógicos e argumentativos, esquema de tempos verbais, dêiticos etc.); Sistema pronominal (diferentes quadros pronominais em função do gênero): preenchimento da posição do sujeito, extensão do emprego dos pronomes tônicos na posição de objeto, desaparecimento dos clíticos, emprego dos reflexivos etc.; Emprego de elementos dêiticos e de elementos anafóricos sem relação explícita com situações ou expressões que permitam identificar a referência; Casos mais gerais de concordância nominal e verbal par recuperação da referência e manutenção da coesão [...] (BRASIL, 1998 p. 59-61). Seriam incontáveis as vantagens para o ensino se fosse adotada a AL, tanto na prática dos professores, como nos materiais pedagógicos, sobretudo, do LDP. Teixeira (2001, p.172) ressalta que os materiais didáticos ainda estão iniciando a adequação à nova perspectiva de ensino, muita ainda continuam na proposta tradicional. Já Mendonça (2006, p. 225) diz que a mudança é gradual, com passo adiante e atrás. No entanto, o momento sugere mudanças, sugere que sigamos uma abordagem de critérios estruturais ao lado de critérios discursivos. Trilhando esse percurso, a escola efetivamente desenvolverá as competências textuais e discursivas dos alunos, tornando-os mais proficientes e capacitados a usar a língua nas diferentes esferas sociais. Essa, acreditamos ser a maior contribuição trazida pela prática da AL. Diante da discussão levantada, esperamos ter conseguido responder todas as questões sobre a AL. Essa nova estratégia de trabalho apresentada para a gramática, ainda pouco explorada, digamos assim, entretanto, vemos que, dentro do 45 ensino, há uma urgência em começarmos a realizar essa nova proposta, a fim de realizarmos um trabalho mais diferenciado, amplo e plural com a gramática. Procurando, ao invés de tratá-la como um aspecto estável, imutável, pensá-la dentro da dimensão do uso, ligando-se ao conceito de “gramática emergente” de (HOPPER, 1987), planejando, assim, atividades reflexivas da língua e da linguagem, que por sua vez, apresentam-se como fundamentais no ensino vigente, pois garantem a autonomia e o domínio do sistema linguístico, oportunizando uma vida melhor, mais digna e consciente aos indivíduos. Mediante as considerações feitas sobre AL, concluímos que essa prática não propõe simplesmente um ensino da gramática normativa aos alunos, mas faz uma proposta e um convite à mudança total do ensino tradicionalmente utilizado nas aulas de português no ensino. Práticas essas, cuja tradição determina o ensino da gramática normativa como foco principal, muitas vezes, deixando de lado o desenvolvimento das habilidades de ler e escrever, imprescindíveis à formação do aluno. Entendemos que o apelo é para que sejam abandonados esses métodos e técnicas, em detrimento de práticas de ensino que focalizem a reflexão sobre a língua da qual os alunos são falantes. A partir da AL, a gramática não será ensinada como um fim que se esgota em si mesmo. Ela será ensinada para que os alunos possam operacionalizar os conhecimentos linguísticos, para que, por meio dessa operacionalização, possam se tornar, de fato, leitores e escritores. O desafio está lançado. Precisamos encará-lo. Entretanto, para encarar esse desafio torna-se necessário sempre refletirmos sobre o ensino, esse ensino que coloca em foco várias temáticas, dentre elas enfatizamos algumas no III capítulo. 46 CAPÍTULO III: CONTINUANDO A TRILHA DA TEORIA: FIOS QUE SE CRUZAM, RELAÇÕES QUE SE ESTABALECEM, COM OS POSTULADOS SOBRE GRAMÁTICA, PCNs, LIVRO DIDÁTICO E PRÁTICAS DE PROFESSORES. Esse capítulo é dedicado às discussões sobre o papel da gramática no contexto do ensino, sobre a relação estabelecida entre as teorias dos PCN (BRASIL, 1998) e os postulados do Funcionalismo Norte-Americano, sobre a história e evolução do livro didático no decorrer do tempo, caracterizando-se nos dias atuais como um recurso didático pedagógico constante em sala de aula. Levantamos ainda questionamentos pertinentes sobre práticas de professores. 3.1 A gramática e suas implicações no ensino de Língua Portuguesa A abordagem funcionalista norte-americana argumenta a favor de uma linguística que tenha no ensino de língua portuguesa uma prática baseada no uso real de uma língua historicamente construída, feita com base em reflexão sobre dados concretos do próprio funcionamento da linguagem, excluindo, assim, qualquer atividade de moldes prontos, ou seja, de enunciados metalinguísticos alheios ao funcionamento linguístico. Assim sendo, “o exame do fenômeno linguístico no referencial funcionalista tem por parâmetro o uso real da língua, e a gramática é interpretada como resultante da interação dos falantes” (VIDAL, 2009 p. 214). Com isso, fica claro que essa perspectiva funcional coloca em evidência a necessidade da escola trabalhar conteúdos significativos com seus alunos, deixando, assim, para traz o ensino prescritivo de normas e regras da gramática normativa. Nesse sentido, a gramática deve ser usada como um recurso estratégico adotado pelos professores para explorar as rotinas linguístico-discursivas, nos eventos comunicativos, em sala de aula. A gramática é, pois, o resultado da cristalização ou regularização de estratégias discursivas recorrentes, que decorrem de pressões cognitivas e, sobretudo, de pressões de uso. As regularidades observadas no uso interativo da língua são explicadas com base nas condições discursivas em que se verifica esse uso (FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007 p. 116). 47 No dizer de Marcuschi (2000, p. 83), “A questão do papel da gramática no contexto do ensino de língua é sempre um tema complexo e polêmico”. O que o teórico questiona é a gramática ser vista, na maioria das vezes, como vilã dentro do ensino de língua, isso porque, muitas vezes, ela é explorada de forma isolada sem que seja estudada com a prática da língua em uso. Por isso cada vez mais surge a necessidade da gramática ser entendida como uma construção interativa em processo através do tempo e espaço dentro das salas de aulas. Pois: O ensino de gramática, sob este ponto de vista, deixa de ser apenas um conjunto de regras prescritivas ou normativas, para transformar-se em uma explicitação das regras de uso da língua, em situações significativas. (MURRIE, 2001, p. 66). Assim sendo, o Funcionalismo Norte-americano tem muito a contribuir para o fazer pedagógico dos professores de língua, uma vez que essa corrente discute uma postura didática mais dialética que tenha por base o uso vivo da língua em suas variações. Nesse universo, a gramática se apresenta como uma ferramenta na formação de sujeitos mais capacitados para usar a língua, descrevendo e sistematizando de forma mais satisfatória os processos de pensamento articulados pela linguagem. Cabe, dessa maneira, ao professor responder o desafio de, em sala de aula, disponibilizar alternativas adequadas de aprendizagem da língua, abordando aspectos gramaticais da língua portuguesa, como fenômenos emergentes e variáveis, cujo estudo é indissociável do discurso, isto é, da língua posta em uso. (Cf. FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007). Nas palavras de Travaglia (2003), a gramática não é algo singular, e sim plural, por isso, é necessário, dentro do ensino, uma abordagem que tenha essa finalidade na sua metodologia. Assim, o autor ressalta: A gramática não é um fato ou fenômeno singular, mas um fato ou fenômeno plural. Assim sendo, seu ensino nunca poderá ser algo que tem uma abordagem, finalidade ou metodologia única, o ensino de gramática é plural e, como profissionais da língua (linguistas, gramáticos ou professores de língua materna ou estrangeira, etc.), precisamos estar preparados para trabalhar com esta pluralidade, com os muitos aspectos sociais, ideológicos, científicos, epistemológicos, políticos, educacionais envolvidos, entre outros. (TRAVLAGIA, 2003, p. 09). 48 Essa proposta conjuga com as do funcionalismo americano, pois na sua base, esse paradigma liga-se aos fins a que serve as unidades linguísticas, o que é o mesmo que dizer que o funcionalismo se ocupa, exatamente, das funções dos meios de expressão. (Cf. NEVES, 2006). Considerando esse contexto, entendemos que o estudo da gramática, nesse sentido, exclui totalmente qualquer atividade de moldes pré-fabricados, de entidades metalinguísticas alheias aos processos reais de funcionamento linguístico. De todo modo, a grande marca, hoje, da Gramática Funcional esboçada pelo Funcionalismo Norte-Americano é aquela que está em constante mutação, elástica, que faz e se refaz, em meio ao uso diário de seus falantes, nas suas diferentes formas de se comunicar através da linguagem. É aquela que se orienta num “sistema adaptativo” (DU BOIS, 1985), numa “estrutura maleável” (BOLINGER, 1977), e na gramática “emergente” (HOPPER, 1987). 3.2 A interface entre o Funcionalismo Norte-Americano e o PCNs de Língua Portuguesa A abordagem funcionalista dos autores norte-americanos apresenta uma construção teórica que procura estudar a língua portuguesa dentro de contexto linguístico, de situações linguísticas diversificadas e contextualizadas no tempo e no espaço. Podemos assim pressupor que as ideias funcionalistas comungam com as dos PCNLP, uma vez que esse documento traz contribuições para que estudar a língua seja algo formador de sujeitos ativos e críticos. Assim, um ensino produtivo de acordo com os PCN (BRASIL, 1998) será aquele que coloque a língua como uma atividade discursiva, o texto como uma unidade de ensino e a noção de gramática como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua própria linguagem. Dentro dessa perspectiva, as atividades curriculares de língua portuguesa devem corresponder, principalmente, a: Uma prática constante de escuta de textos orais e leituras de textos escritos e de produção de textos orais e escritos, que devem permitir, por meio de análise e reflexão sobre os múltiplos aspectos envolvidos, a expansão e construção de instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, ampliar sua competência discursiva. (BRASIL, 1998, p. 27). 49 Assim também, no panorama social em que os autores funcionalistas norteamericanos desenvolvem seus ideais, a língua, linguagem, falantes, dentre outros aspectos, ganham um novo contorno e uma nova visão, exigindo, dessa maneira, que o ensino se abra para as suas mutações e complexidades que o sistema linguístico adquire no uso social, pois: A linguagem é um instrumento de comunicação social pela qual o indivíduo exterioriza o pensamento como também mantém a intercomunicação, de forma ativa, com vistas a produzir no outro algum efeito de sentido dentro de um contexto social, cultural e histórico numa situação específica de produção. Propomos que a língua viva, com suas variações, seja objeto de reflexão nas salas de aula. (FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007, p. 80). A citação das autoras só reforça a ideia de que o ensino de língua deve ser pautado em teorias e práticas que priorize a língua em funcionamento, explorando, assim, as inúmeras possibilidades que uma palavra, ou uma expressão, pode assumir de acordo com o contexto que está empregado. Para isso, é necessário serem considerados as seguintes concepções: A linguagem é uma atividade sociocultural; A estrutura serve a funções cognitivas e comunicativas; A estrutura é não-arbitrária, motivada, icônica; Mudança e variação estão sempre presentes; O sentido é contextualmente dependente e não-atômico; As categorias não discretas; A estrutura é maleável e não rígida; As gramáticas são emergentes; As regras de gramática permitem algumas exceções. (GIVÓN, apud MARTELOTTA; AREAS, 2003, p.28) Partindo das concepções formuladas por Givón (1995), compreendemos que há uma estreita relação entre as teorias do funcionalismo norte-americano e os PCNLP, porque há um desejo de mostrar maneiras mais viáveis de abordar os fenômenos linguísticos, em sala de aula, apresentando o uso como um elemento a ser considerado nas aulas. Isto porque, os alunos precisam compreender que a língua é um sistema linguístico amplo, plural. A língua é muito mais que isso tudo. É parte de nós mesmos de nossa identidade cultural, história, social. É por meio dela que nos socializamos 50 que interagimos que desenvolvemos nosso sentimento de pertencente a um grupo, a uma comunidade. É a língua que nos faz sentir pertencendo a um espaço. É ela que confirma nossa declaração: Eu sou daqui. Falar, escutar, ler, escrever reafirmar, cada vez mais, nossa condição de gente, de pessoa histórica, situada em um tempo e em um espaço. Além disso, a língua mexe com valores. Mobiliza crenças, institui e reforça poderes. (ANTUNES, 2007 p. 22). Estando a língua em meio a esses contornos sociais, culturais e históricos, não tem sentido realizarmos um estudo fora do contexto de uso, sobretudo, o estudo da gramática, pois ela está inserida nos textos. Ao elaborarmos textos orais e escritos estamos nos utilizando dos recursos gramaticais. Concordamos com Brasil (1998, p. 28) quando afirma: “Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical desarticulado das práticas de linguagem”. “Isso significa que a escola não pode criar no aluno a falsa e estéril noção de que falar e ler ou escrever não tem nada que ver com a gramática”, como afirma Neves (2000 p. 52). Por isso, os professores devem adotar um ensino de gramática dentro de uma perspectiva textual, contextualizada, limitada por uma análise linguística dialética do processo de construção sócio-histórico da língua. Quando os funcionalistas norte-americanos como Givón, Hopper, Bolinger e outros propuseram análises linguísticas baseadas no postulado de que a língua é uma estrutura maleável, que sofre pressões de uso, constituída de código parcialmente arbitrário (Cf. CUNHA; SOUZA, 2007), estavam alertando, assim como os PCNLP, que a gramática não abriga apenas as palavras e construções tradicionais consideradas como pertinentes, mas também quaisquer porções linguísticas. Se a gramática é constituída nos contextos específicos de uso da língua, para compreendê-la é preciso levar em conta a perspectiva discursivotextual. Buscamos, portanto, explicar a forma da língua a partir das funções que ela desempenha na comunicação. (FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007, p.19). Pensando desse modo, Vidal (2009, p. 214) assegura que “o exame do fenômeno linguístico no referencial desse funcionalismo tem por parâmetro o uso real da língua, e a gramática é interpretada como resultante da interação dos falantes”. 51 Os PCNPL (BRASIL, 1998 p. 34) reforçam também esse pensamento de que o ensino de Língua Portuguesa deve se dar num espaço em que as práticas de uso da linguagem sejam compreendidas na dimensão histórica, e a sistematização dos conhecimentos linguísticos decorra dessas mesmas práticas. Por isso, Brasil (1998, p. 29) completo: “deve-se ter claro, na seleção dos conteúdos de análise linguística, que a referência não pode ser a gramática tradicional”. Com isso fica claro que esse documento coloca em evidência a necessidade da escola trabalhar conteúdos significativos com seus alunos, deixando, assim, para traz o ensino prescritivo de normas e regras da gramática normativa. A gramática deve ser usada como uma ferramenta eficaz, que auxilie o estudo da língua em funcionamento já que ela, além de ser condicionada por fatores cognitivos inatos, também é uma consequência da interação dos usuários da língua. Desse modo, compreendemos que o estudo da gramática isolada, fora do contexto de uso, deve ser freado pelos professores de língua, pois o trabalho com a gramática sob a perspectiva da interação e do funcionamento textual discursivo torna o estudo de língua mais interessante para os alunos. Aprimorando a aprendizagem e o seu modo de viver e se comunicar com os seus semelhantes, melhorando, assim, sua qualidade de vida15. Tanto os PCN (BRASIL, 1998) como o Funcionalismo Norte-Americano, enfatizam que nas aulas de língua, os alunos precisam compreender que a gramática está inserida nos textos e que, quando elaborarmos textos orais e escritos, estamos utilizando os recursos gramaticais. Por isso, vários são os teóricos16 que procuram dedicar suas pesquisas para o funcionalismo e ensino, procurando observar como essa teoria assim como os PCNPL, estão embasando o ensino da língua, dentro das escolas, pois não há dúvidas de que o paradigma funcionalista pode e muito colaborar com um ensino mais significativo para todos aqueles que estudam a língua pautada num sistema linguístico, adquirido em vivências reais de uso. Tendo o estudo da gramática explorado nos diversos textos (orais e escritos) e contextos existentes no meio 15 Consideramos como o ensino de gramática pode ter uma dimensão político-existencial ao evidenciar que as pessoas com maior competência comunicativa tem melhor qualidade de vida à medida que conseguem se mover de maneira mais adequada e eficiente na sociedade, não só pela possibilidade de consciência dos sentidos que se dá ás coisas ou que elas podem ter, mas também pela possibilidade de trabalhar com tais sentidos. (TRAVAGLIA, 2003 p.10) 16 Como por exemplo: Furtado da Cunha; Tavares (2007). 52 social. Sendo assim as próprias criações léxicas dos falantes são instrumentos de estudo em sala de aula. Partindo desse pressuposto e das discussões levantadas pelos PCNLP e pelo funcionalismo da costa norte-americana, não resta dúvida de que o ensino deve colocar a língua não somente como uma questão de certo e errado, ou como um conjunto de palavras ou expressões pertencentes a uma determinada classe de palavras, mas como uma língua que vai além de tudo isso. De um modo geral, podemos dizer que o objetivo do ensino de Língua Portuguesa proposto pelas teorias funcionalistas e pelos PCNPL é o de formar usuários competentes da língua, capazes de, em situações específicas de interações comunicativas, produzir textos (orais e ou escritos), que sejam adequados à produção de determinados efeitos de sentido e, ao mesmo tempo, compreender textos que estabelecendo/percebendo sentidos adequados à forma como cada texto se apresenta ao contexto histórico-ideológico e à situação de comunicação em que ele está sendo utilizado como instrumento para a comunicação. (Cf. TRAVAGLIA, 2003). 3.3 Livro Didático: história e contextualização dentro do ensino de Língua Portuguesa. Para começarmos a falar sobre o Livro Didático, consideramos relevante fazer um relato sobre os inúmeros programas que fizeram e fazem parte da sua evolução ao longo do tempo. Conforme consta no módulo do programa PLIProgramas do Livro, (BRASIL, 2011), tudo começou com o Instituto Nacional do Livro (INL), criado em 1929. Em seguida, foi criada a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD), quase uma década depois. Essa Comissão passou a estabelecer, no país, uma política de Legislação, regulamentando a produção, bem como a qualidade do que seria distribuído. Em 1966, o MEC e a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) criaram a Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (colted), para coordenar, produzir, editar e distribuir 51 milhões de livros naquele ano. Na década de 70, a política do livro efetivada pelo Programa do Livro Didático, era coordenada pela Fundação Nacional do Material Escolar. Iniciou-se 53 uma ação mais ampliada de assistência ao estudante, promovida pelo (FAE) Fundação de Assistência ao Estudante. No ano de 1985, foi criado o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino, assim como a formação de leitores. Esse programa ainda hoje persiste no contexto da política brasileira voltada para o livro didático. Em meados da década de 90, houve a inserção do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE na história do livro, pois com a extinção da FAE, em 1997, a responsabilidade pela política de execução do PNLD foi transferida integralmente para o FNDE. (BRASIL, 2011) Nos dias atuais, o FNDE tem a responsabilidade de distribuir livros a todos os alunos da Educação Básica, isto é, desde a Alfabetização ao Ensino Médio. Essa, na verdade foi uma das mudanças mais expressivas e um grande solto de qualidade na história do LD, em nosso país, pois os alunos dos ensinos Fundamental e Médio atualmente recebem livros didáticos de quase todos os componentes curriculares, para serem usados durante 03 (três) anos, servindo assim como um subsídio de ensino para os professores e um veículo de aprendizagem para os alunos. Por isso, é que, no contexto contemporâneo, ao falarmos em programa do livro utilizamos o plural, pois mais de um integra as ações complementares do FNDE, proporcionando a construção do conhecimento pelo incentivo à leitura e visando à formação cidadã. As ações dos programas do livro são: PNLD, PNLD-EJA e PNBE. (BRASIL, 2011). Segundo módulo do PLI, (BRASIL, 2011, p.21), os professores são atores sociais na política de gestão democrática que envolve os programas do livro, porque eles tomam parte no processo, decidem com qual obra preferem trabalhar. Sendo assim, os docentes têm participação direta na escolha do manual que chegará á sua escola, tendo também parte no alcance dos objetivos17 dos programas para ensino. 17 I- Melhoria do processo de ensino e aprendizagem nas escolas públicas, com a consequente melhoria da qualidade da educação. II Garantia de padrão de qualidade do material de apoio à prática educativa utilizado nas escolas públicas; III- Democratização do acesso às fontes de informação e cultura; IV-Fomento à leitura e o estímulo à atitude investigativa dos alunos; e V- Apoio a utilização e ao desenvolvimento profissional do professor. (BRASIL 2011, p.21). 54 Hoje, LD se caracteriza ainda como um forte aliado na prática dos professores do ensino básico da educação pública brasileira, pois esses profissionais têm a seu dispor um instrumento pedagógico que os auxilia tanto em sala de aula, como fora dela, nos planejamentos diários e propostas de trabalho bimestrais ou anuais. Apesar de ainda haver inúmeras discussões acerca da qualidade desses manuais, o fato é que, não podemos negar a sua importância, no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que ele apresenta-se como um dos recursos didático-pedagógico mais utilizado pelos professores dos ensinos Fundamental e Médio. Dessa maneira o livro caracteriza-se como um fio condutor na relação professor/aluno no processo de ensinar. Ele é muitas vezes a única referência de trabalho do professor, passando a assumir o papel de currículo e definidor de estratégias de ensino. (VOLMER; RAMOS, 2009). De acordo com o pensamento de Bräkling (2003), Os livros são ferramentas de trabalho por meio dos quais sentidos e significados são produzidos no processo de constituição dos sujeitos, da língua e da linguagem, eles definem conteúdos efetivamente abordados e, dessa forma, determinam possibilidades de aprendizagem aos sujeitos dentro de sala de aula. Nesse sentido, o LD apresenta vantagens dentro do ensino. Entretanto, há uma intensa discussão entorno das vantagens e desvantagens trazidas pelo uso do LD na prática de sala de aula. Isso porque, essa ferramenta de trabalho do professor nem sempre agrada a todos os envolvidos no ensino-aprendizagem. No que tange ao ensino de língua portuguesa, o livro sempre esteve presente desde o seu surgimento, em todas as mudanças ocorridas, até mesmo na nomenclatura da disciplina18, como um material a ser trabalhado, em sala de aula, posto que o LDP, na maioria das vezes, é quem intermedia o ensino e efetiva aprendizagem, uma vez que envolve dados referentes à metodologia e procedimentos, dentre os quais resultam os exercícios usados na situação pedagógica. (Cf. SALZANO, 2004). Entretanto, podemos dizer que houve inúmeras mudanças no material ao longo do tempo, segundo Fregonesi, apud. Volmer; Ramos (2009), nos anos 60, havia dois tipos de materiais didáticos: uma antologia com coletânea de textos sem 18 Várias foram as mudanças ocorridas nome da disciplina, Português, Comunicação e Expressão, Língua Portuguesa. 55 indicações metodológicas nem exercícios e uma gramática, com exercícios elaborados, especialmente, para os alunos. Nos anos 70, aconteceram algumas mudanças no LDP. Ele trazia uma infinidade de exercícios com o objetivo de fazer os alunos reproduzirem modelos. Ao professor, cabia a tarefa de controlar a aprendizagem. Nessa época, a concepção que regia a maioria das propostas educacionais era behaviorista, a qual acredita que a aprendizagem acontecia por meio de repetições. Assim, as práticas pedagógicas priorizavam estruturas isoladas (Cf. VOMER; RAMOS, 2009). Nos anos 80, ocorreram mudanças significativas com o avanço das pesquisas na área de linguística. Nesse momento, foram redimensionados os objetivos para o ensino de Língua Portuguesa. Passou-se a rejeitar o ensino da gramática tradicional, descontextualizado, para o estudo da inserção da língua em contextos sociais e nas diversas formas de representação e manifestação da linguagem. Tudo isso pode ser constatado nos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa – PCNLP Brasil (1998, p.18) quando ressalta: “As propostas de transformação do ensino de Língua Portuguesa consolidaram-se em praticas de ensino em que tanto o ponto de partida quanto o ponto de chegada é o uso da linguagem”. A partir daí, o ensino de língua passou a ser questionado quanto aos conteúdos, metodologia e instrumentos de trabalho usados pelos profissionais da área, estando diretamente inserido, nesse contexto, LD. Sendo vislumbrado para o ensino, agora novos objetivos e perspectivas, consequentemente os materiais pedagógicos também necessitariam de serem repensados para atender as exigências do sistema educacional vigente. Nas palavras de Marcushi (2005, p. 48), o LDP não satisfaz as exigências do momento, ele assim postula: É sabido que o manual de Língua Portuguesa (LP) usado hoje seja no ensino fundamental ou no médio, de um modo geral não satisfaz. Muitas são as razões desse estado de coisas. Entre as principais estão sua desatualização em relação às necessidades de nossa época e a falta de incorporação dos conhecimentos teóricos acerca de língua hoje disponíveis. (MARCUSHI, 2005, p.48) 56 A partir do pensamento do autor, entendemos que para acompanhar as mudanças ocorridas dentro do ensino de Língua Portuguesa, nos últimos anos, fazse necessário que os autores que organizam o LDP, repensem toda organização desse material desde a escolha de textos aos tipos de exercícios propostos, para que, dessa maneira, os manuais acompanhem as exigências do ensino atual, que é um estudo da língua enquanto sistema de signos específicos, histórico e social (Cf. BRASIL, 1998). Na concepção de Guimarães (2003, p.166), estamos vivendo um momento de transição, tentando descentralizar o papel da gramática, no ensino de língua, para dar a ela outra dimensão, que é trabalhar a gramática do texto, no texto e pelo texto, mas esse ainda é um desafio, que todos nós precisamos enfrentar juntos. Por isso, a autora ressalta: Não se trata, entretanto, de menosprezar ou negar o ensino de gramática, mas de proporcionar-lhe um lugar no ensino de Língua Portuguesa que permita aos alunos do ensino fundamental refletir a respeito de seu uso, de sua importância na constituição do significado do texto, como um dos aspectos da situação discursiva. (GUIMARÃES, 2003, p.166) No que tange às atividades de AL no LDP, vemos que essas devem ser usadas como instrumentos de apoio para a discussão dos aspectos da língua que o professor seleciona e ordena no curso do ensino-aprendizagem. (BRASIL, 1988). Assim, os aspectos que precisam ser tematizados nos exercícios são as necessidades apresentadas pelos alunos nos momentos de leitura, escuta e produção de textos. Por tudo isso, o livro didático passou a ser instrumento de análise de inúmeras pesquisas, que buscam entender quais as contribuições que esse subsídio está dando tanto para os professores, quanto para os alunos, no tocante a aprendizagem de leitura escrita e da estrutura gramatical, conhecimentos extremamente necessários para que sejam formados seres com capacidade para falar e escrever bem em qualquer situação comunicativa. Isto porque muitas falhas apresentadas, no LD, podem ser sanadas a partir da interação professor e aluno, pois essa interação pode levar a um bom uso do material. Para tentar modificar os exercícios mal formulados, o professor deve mostrar-se como uma força mediadora, 57 a fim de proporcionar alternativas que possibilitem aprendizagem por meio da interação. De um modo geral, não é exagero dizer, que o livro didático de língua portuguesa tornou-se fonte de pesquisas inesgotável, pois no seu conteúdo, tem muito que se estudar, no que se referem às propostas de ensino para o estudo da língua e da gramática. 3.3.1 Algumas pesquisas sobre o Livro Didático O livro didático está entre os temas que gera inúmeras controvérsias no âmbito da educação brasileira, a despeito disto, o que se observa é que, muitas pesquisas no contexto vigente, estão apontando seu foco para o estudo desse subsídio, considerando os diversos questionamentos que subjaz esse material didático, da sua construção ao seu uso. Essa mesma realidade acontece com o trabalho que é feito com a gramática nas aulas de língua, pois nos dias atuais há uma imensa gama de trabalhos acadêmicos, livros, artigos, dentre outras produções, que direcionam pesquisas sobre o ensino de gramática e prática de análise linguística. Cada vez mais essas temáticas vêm adquirindo espaço nas discussões e reflexões dentro do ensino de Língua Portuguesa. Sobre na forma como esses aspectos são explorados em sala de aula. Com visto a isso elegemos algumas pesquisas que envolvem o LD e a prática de AL para apresentarmos nesse tópico da nossa pesquisa. Com o intuito de mostrar os pontos abordados nesses trabalhos, que se diferencia do estudo que ora apresentamos. o O primeiro trabalho19 diz respeito, “A análise linguística no livro didático: contribuições para melhor compreensão do trabalho realizado em sala de aula por professores que estão buscando inovar sua prática de ensino de gramática”. Esse estudo coloca em evidência AL e LD, tendo como referência a prática do professor. 19 Autora: Ana Sílvia Moço Aparício - Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) 58 o Já o segundo20: “Análise linguística e livro didático de língua portuguesa: uma análise a partir das resenhas do guia do livro didático”. Direciona a análise tendo como ponto de partida o guia do LD. o O terceiro trabalho21, “A prática de análise linguística: estratégias de diálogo com os gêneros do discurso no livro didático”. Vemos que esse estudo coloca em foco LD, AL e gêneros textuais. Citamos apenas esses três trabalhos como exemplo, no entanto, sabemos que há uma diversidade de pesquisas relacionadas aos temas que enfocamos, isto é, AL e LD. Isso mostrar a grande relevância da temática enfocada para o momento atual. 3.4 Prática de professores de Língua Portuguesa: uma discussão necessária Entendendo que o sucesso e a qualidade do ensino passam pelo saber fazer dos professores, compreendemos que a sua formação é uma questão extremamente relevante para que haja avanço dos estudantes no processo de ensino aprendizagem. Isto porque a formação competente dos alunos depende diretamente da qualidade de cada uma das aulas que estão sendo dada pelos professores, e, consequentemente, a qualidade das aulas depende da formação e do empenho do professor, no seu preparo, na sua execução e na avaliação. (VASCONCELLOS, 2000). No tocante ao ensino de língua Portuguesa, vemos com clareza que os docentes que lecionam essa disciplina precisam ter uma visão ampla do que necessitam trabalhar com o seu alunado, uma vez que o ensino agora busca uma formação sólida, passível de ser atingida pela aquisição de um significativo conjunto de competências, que possibilite a atuação do uso linguístico de forma satisfatória, nas diversas situações de comunicação em que os sujeitos se deparem no seu convívio diário. Dentro desse contexto, entra em jogo questões essenciais para a realização de uma boa prática pedagógica, dentre elas, o saber planejar de modo que 20 Autora: Karla Simone B. Cavalcanti -UFPE/CAA Autora:Gulart, Karla Daniele de Souza Araújo- UFPB 21 59 realmente venha melhorar a aprendizagem, porque a questão do planejamento não pode jamais ser desvinculando das especificidades da escola e das necessidades dos alunos. Como frisa Vasconcellos (2000, p. 133): “O objetivo principal do planejamento é possibilitar um trabalho mais significativo e transformador, consequentemente, mais realizador, na sala de aula, na escola e na sociedade”. Sendo assim, vale lembrar que: O processo de planejamento não pode ser encarado como uma técnica desvinculada da competência e do compromisso político do educador. O bom plano é aquele que conta com o respaldo da competência do sujeito que o desenvolve. O bom plano é aquele que se molda dialeticamente ao real, transformando-o (VASCONCELLOS, 2000 p.109). Nessa perspectiva, dentro do ensino de Língua Portuguesa, o professor deve elaborar planos de aula que vise ao desenvolvimento do potencial crítico dos alunos, bem como da percepção das múltiplas possibilidades de expressão linguística, sem perder de vista a capacitação de leitor efetivo. Assim sendo, esses docentes necessitam ter uma política de mudança nas suas salas de aulas, isto é, mobilizar as inúmeras formas de materiais curriculares, pois esses materiais ajudam os professores a responder os problemas concretos no planejamento e execução da aula. Assim, um planejamento deve ser aquele como previsão das intenções e como plano de intervenção, sendo entendido como um marco flexivo para orientações do ensino. (Cf. ZABALA, 1998). Segundo colocam as teorias atuais e, de modo particular, os PCNs (BRASIL, 1998), os professores devem procurar ter em vista o desenvolvimento das três competências essenciais para seus alunos: a competência interativa, textual e gramatical. No entanto, vale lembrar que o desenvolvimento dessas três competências não se dar de forma isolada, mas pressupõe um processo de reinvenção e aprendizagens constantes, partindo de diferentes e diversas atividades com a utilização da língua. Dentro dessa perspectiva de trabalho, o professor deve apoiar-se em práticas dinâmicas e significativas, que possa impulsionar o sucesso de seu trabalho em sala de aula. Para tanto, ele deve se caracterizar como um pesquisador frente aos alunos, deve produzir conhecimentos que os possibilite a descobrir e redescobrir o aprendizado do sistema linguístico sempre. Deve formar-se leitor para formar 60 leitores, deve dar a palavra ao aluno para que ele conte sua história contida e não contada (Cf. GUEDES, 2006). No caso do professor de língua, ele deve proporcionar, em sala de aula, uso efetivo da língua, explorar a gramática para além da memorização mecânica de regras da gramática normativa. É exatamente nesse momento que está o desafio da prática pedagógica, pois o trabalho agora exige essa outra perspectiva de trabalhar a linguagem, refletindo-a dentro e fora da escola, ao longo de nossa vida. Fazendo, assim, uma análise da prática, da atividade profissional. (ZABALLA, 1998). A questão que se coloca é: em como reside e se dá essa reflexão na escola, com que objetivos e com que base esse trabalho está sendo feito. (BUNZEN E MENDONÇA, 2006). Todas essas questões passam pela formação do professor que, na escola, está atuando, isto porque o modo como o professor repassa seus conhecimentos e conceitos para sua clientela implica, de forma direta, na concepção que estes sujeitos terão sobre a língua, sobre meio social, sobre a sua própria vida ou até mesmo sobre outros aspectos que estão inseridos na dinâmica das relações entre os sujeitos e a sociedade. Segundo Libâneo (1994, p. 21): “A prática educativa, portanto, é parte integrante da dinâmica das relações sociais, das formas de organização social”. Sendo o trabalho docente manifestação dessa prática educativa, então podemos dizer que ele movimenta interesses de toda ordem: políticos, econômicos, culturais, sociais e linguísticos. Por isso o professor, muitas vezes, é visto como um artista profissional, que tem de desenvolver sua sabedoria e sua criatividade para enfrentar situações únicas, ambíguas, incertas e conflitantes que configuram a vida da aula (Cf. GOMÉZ, 1998). Assim, o conjunto de princípios que forma os alunos dentro da escola vem também das implicações pedagógicas que eles aprendem em sala de aula, passa assim pela formação de seu/sua professor (a), pois o ato de ensinar e formar, embora tenha características individuais, é sempre um trabalho coletivo, porque a ação do professor na escola é construída na relação que estabelece no ambiente escolar. “Os professores em seu ambiente de trabalho lidam com questões de natureza ética, afetiva, social, ideológica e cultural” Feldmam (2009, p. 78). Tendo como parâmetro essa afirmativa, vemos que os docentes necessitam ter uma ideia bem formada do modo como lidar com essas questões nas suas aulas, em se 61 tratando do ensino de língua portuguesa, fazendo acontecer articulações significativas de todos esses aspectos com a heterogeneidade da língua quando posta em funcionamento. Sendo assim, cabe enfatizarmos uma importante colocação: O ser humano é capaz de refletir sobre a linguagem e analisá-la, e a linguagem é o próprio instrumento para essa reflexão. Sendo assim, atividades de reflexão e análise sobre a língua, em seus diversos aspectos e em seus variados níveis, é um recurso didático de muito valor para o ensino e aprendizagem da língua [...] (GOMES, 2009, p.152). No que se refere à prática pedagógica nas aulas de gramática, Antunes (2007), diz que os professores devem atribuir à nomenclatura gramatical uma função apenas suplementar, embora de alguma relevância como parte de um saber metalinguístico que, por sua vez, também é parte do patrimônio cultural da comunidade. Partindo desse pensar, notamos que o autor recomenda um ensino de gramática que deixe explícito que as regras e nomenclatura também têm sua importância no uso da língua, entretanto saber gramática vai muito além de saber somente essa nomenclatura; saber gramática é saber utilizar os diferentes recursos linguísticos em situações diversas. Para finalizar, cabe dizer que as condições pedagógicas que devem estar em evidência no ensino de gramática e, consequentemente, na prática docente de cada professor de língua portuguesa é uma gramática que tenha como referência o funcionamento efetivo da língua, o qual, como se sabe, acontece não através de palavras e frases soltas, mas apenas mediante a condição do texto. Terminado a discussão teórica, o capítulo IV, próximo, aborda o percurso metodológico da pesquisa. 62 CAPÍTULO IV: TRAJETO METODOLÓGICO DA PESQUISA O presente capítulo é dedicado ao trajeto metodológico do nosso estudo, esse momento reservamos para a apresentação e descrição do instrumento de análise, no caso, o livro didático. Ressaltamos, a forma como o mesmo está estruturado em seus capítulos e módulos, descrevendo o que contém nos mesmos. Em seguida, mostramos a forma que procedemos para a realização da análise, por último, trazemos algumas informações e comentários sobre os exercícios de exploração da gramática no manual, seção pela qual foi retirada as atividades para análise. 4.1 Descrição e apresentação do Livro Didático Descrevendo o livro que escolhemos para analisar, afirmamos que o mesmo é de Língua Portuguesa do 9º Ano, do Ensino Fundamental, organizado pelo autor Ernani Terra e pela autora Floriana Toscano Cavallete, da coleção Projeto Radix: Raiz do conhecimento, editora Scipione, 2009. A obra está estruturada da seguinte forma: módulos e capítulos, sendo 08 módulos, cada um é identificado por uma cor. Neles estão os 12 capítulos, divididos desse modo: módulo 1 (capítulos 1 e 2), módulo 2 (capítulo 3), módulo 3 (capítulos 4 e 5), módulo 4 (capítulo 6), módulo 5 (capítulos 7 e 8), módulo 6 (capítulo 9), módulo 7 (capítulos 10 e 11), módulo 8 (capítulo 12). Cada capítulo traz um tema para ser refletido no seu decorrer, são eles: Capítulo 1: Água, fonte de vida. Capítulo 2: O homem e a natureza. Capítulo 3: Penando aqui na terra. Capítulo 4: Terra: fonte de vida. Capítulo 5: Trabalho: direito de todos. Capítulo 6: Trabalhadores. Capítulo 7: O trabalho e as crianças. Capítulo 8: Empregados e empregadores. Capítulo 9: Adolescência. 63 Capítulo 10: Gravidez na adolescência. Capítulo 11: Encontros e desencontros. Capítulo 12: Um mundo de contrastes. Alguns pontos compõem a organização de cada capítulo. Enfatizamos os mesmos a seguir, explicando o que contém em cada um. Para começar: São apresentados textos verbais, visuais ou verbos-visuais acompanhados de questões para serem reflexões iniciais sobre o tema a ser tratado no discorrer de todo o capítulo. Hora do texto: Traz textos de gêneros variados, suportes e esferas de circulação. Uma diversidade de autores representativos de nossa cultura aparece nessa seção, com temas atuais e relevantes para incentivar a leitura dos textos destacados. Expressão oral: sugere atividades com gêneros orais, em especial, os de uso público, como debate, entrevista, seminário, dramatização, dentre outras. Expressão escrita: Atividades de interpretação e reflexão de cada texto apresentado, ampliando a compreensão do aluno sobre o texto lido. Gramática no texto: Foca os aspectos linguísticos, divididos em três momentos: discussão sobre ocorrências linguísticas peculiares ao texto lido, formalização e sistematização dos aspectos discutidos e, por último, as atividades variadas. Atividades: Nas atividades são apresentadas propostas que incluem observação, análise, comparação, para ampliar os tópicos estudados nos capítulos. Ainda há estudo do vocábulo. Para além do texto: Sugestões de atividades extratexto que incluem pesquisas, entrevistas, exposições, dentre outras. Sugestões de leitura: Indicações de livros com temáticas relacionadas aos textos dos capítulos. A linguagem dos textos: traz questionamentos sobre cada texto, como: intenção em que os textos são escritos, situação em que é utilizado, a quem se dirige e outros. Produzindo texto: É o momento em que sugere a escrita de diversos gêneros, processo de autoavaliação. 64 Depois dos estudos dos 12 capítulos, vem o caderno de atividades, em que são apresentados outros exercícios extras de exploração dos conhecimentos gramaticais, com a finalidade de oferecer um suporte maior nos estudos que envolvem a gramática. Nesse caderno, são expostas outras atividades que podem ser feitas com base no tema mostrado em cada capítulo com referência somente aos conteúdos gramaticais que cada capítulo dispõe. Desse modo são apresentados textos e partindo desses textos são estruturadas as atividades. Para finalizar a obra, são expostas outras sugestões de livros, filmes e sites, além daquelas que existe em cada capítulo, para que o aluno possa ampliar seus conhecimentos sobre as temáticas abordadas em cada capítulo. Por último, são listados às referências. 4.2 Procedimentos de análise O nosso estudo caracteriza-se como uma pesquisa documental, pois analisamos um Livro Didático, instrumento de trabalho dos professores que lecionam no 9º ano do Ensino fundamental, procurando observar como são propostas as atividades de Análise Linguística apresentadas na obra e a teoria discutida no decorrer do nosso estudo. Sendo assim, o método que utilizamos é aquele que nos dá um aparato necessário para identificarmos os processos pesquisados. Para tanto, partimos do método indutivo, porque utilizamos dados particulares, no caso, um recurso pedagógico para chegarmos a um princípio mais geral. Utilizamos uma amostragem para realizar um exame da teoria proposta para a sala de aula. Nesse sentido, nossa pesquisa caracteriza-se de cunho qualitativo, ou seja, pesquisas qualitativas. Nela fazem uma obtenção de dados descritivos, mediante o contato direto e interativo do pesquisador com o objeto de estudo. Procurando com isso, entender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes, da situação estudada, situando, dessa maneira, a interpretação nos fenômenos estudados. Objetivamos ainda com o material analisado fazer um contraponto entre as atividades de AL propostas no decorrer do livro investigado, o Funcionalismo NorteAmericano e PCNs, procurando entender à forma como essas atividades colaboram para a aprendizagem, desenvolvimento e ampliação das competências discursiva, 65 textual e gramatical dos alunos, uma vez que a prática de análise linguística denomina uma nova perspectiva de reflexão sobre o sistema linguístico e sobre os usos da língua, com vistas ao tratamento escolar de fenômenos gramaticais, textuais e discursivos. Esse é um postulado de Mendonça (2006), para propor um ensino inovador e produtivo de gramática e não exclusão, na escola, do ensino de gramática tradicional. Entendemos que um estudo sistemático do sistema linguístico com bons resultados acontece quando inserimos, nesse estudo, propostas de atividades para práticas de ensino mais interativas, pois é no ensino, partindo de estratégias didáticas pedagógicas com base na funcionalidade linguística, que a aprendizagem pode acontecer de forma mais rápida e eficaz, por que leva o aluno a refletir sobre os efeitos de sentidos dos enunciados elaborados para a comunicação. Com referência à análise, a mesma foi feita considerando as teorias dos estudiosos nos quais estamos amparados, observando a proposta de trabalho do livro com a gramática na turma estudada, observando também como a teoria funcionalista da costa norte-americana se apresenta nesse instrumento pedagógico, sem perder de vista como a AL está apresentada através dos exercícios que envolvem a gramática. Sendo assim, a qualidade das atividades de análise linguística elaboradas, no LD, também é alvo para nossa investigação. Dentro dessa perspectiva, delineamos as análises a partir das seguintes etapas, sendo o primeiro passo a escolha do nível de ensino, sendo o Fundamental II, por ser nessa etapa em que os alunos estão sistematizando seus conhecimentos linguísticos e ampliando suas competências textual e gramatical, conforme pontua os PCN (BRASIL, 1998). Essa, entendemos ser uma etapa extremamente importante para que seja realizado não um ensino de gramática, mas uma verdadeira prática de análise linguística (Cf. MENDONÇA, 2006), conseguindo, assim, inserir o aluno na cultura letrada de forma satisfatória. Em seguida escolhemos a série, 9º Ano, tendo em vista que nesse momento os alunos estão se preparando para ingressar no Ensino Médio, por isso a escola precisa se preocupar em prepará-los para esse ingresso, para que eles consigam sistematizar seus conhecimentos e desenvolver de forma competências linguísticas que necessitam no nível em que estão. satisfatória as 66 Depois escolhemos o livro a ser analisado. A escolha foi pelo Projeto Radix, livro adotado pelas escolas municipal e estadual da cidade onde reside a autora da pesquisa. A inquietação surgiu pelo fato de saber por que o livro foi adotado tanto no âmbito municipal como estadual de nossa cidade. Desse fato surgiu a curiosidade de saber quais as vantagens desse livro em relação aos demais oferecidos pelas editoras. Sendo assim, foi utilizado também como critério, o fato de que esse livro estava disponível para a nossa investigação, sendo de fácil acessibilidade, uma vez que tinha vários exemplares nas escolas estadual e municipal o nosso dispor. Sendo também uma obra atual, sua publicação foi após criação dos PCNs e a realização de pesquisas funcionalistas aplicadas ao LD e a AL. Além disso, o livro escolhido traz um diferencial dos demais de Língua Portuguesa, pois o mesmo tem um grande número de exercícios envolvendo a gramática, traz ainda no final do exemplar várias outras atividades complementar as outras apresentadas nos capítulos. Vale salientar que o critério usado para a escolha das atividades foram as seis primeiras, expostas nos seis primeiros capítulos do livro. No livro optamos por 06 (seis) atividades que exploram conhecimentos gramaticais. Procuramos, pois, verificar nas mesmas os seguintes pontos: o A proposta de trabalho com a gramática para o 9º ano; o Observar se o manual propõe exercícios que se encaixem na prática de análise linguística; o Averiguar a relação entre o estudo da gramática apresentado no LD tem relação com o tipo de estudo gramatical proposto pelos autores do Funcionalismo Norte-Americano; o Analisar se o estudo dos conhecimentos gramaticais se dá partindo de texto, ou se é de forma isolada; o Procuramos ainda verificar se as atividades de gramática do livro pesquisado contribuem para a ampliação das competências: discursiva, textual e gramatical dos alunos da turma pesquisada. Tendo como referências esses pontos, realizamos a nossa análise com vista a encontrar respostas para as nossas indagações e curiosidades. Procurando, a partir das descobertas, avaliar a proposta de trabalho com a gramática no LD, se é produtiva ou não para a aprendizagem dos alunos dessa etapa do Ensino Fundamental. 67 4.3 As atividades de gramática no livro “Projeto Radix” – 9º Ano: algumas informações que merecem ser discutidas O livro analisado tem inúmeros exercícios em que aparecem as atividades de conteúdos gramaticais, no decorrer dos 12 (doze) capítulos, encontramos 24 (vinte e quatro) atividades, pois há em cada capítulo duas. Localizamos também inúmeras atividades dessa natureza do final do livro, posto que há uma seção exclusiva para esses exercícios no LD investigado. Essa parte do LD, é titulada como caderno de atividades, apresenta diversos exercícios complementares de cada capítulo, pondo, assim, em evidência a exploração da gramática. Esse é um ponto a ser considerado como uma diferença dos demais LD do EF, porque os outros não trazem essa novidade, ficando as atividades expostas apenas no decorrer do livro. Esse fator deixa evidente que o autor e a autora da obra dedicam uma atenção especial às atividades de exploração dos conhecimentos gramaticais. Os PCNLP (Brasil, 1998), por sua vez, citam o saber gramatical como conhecimento importante e necessário para ser desenvolvido no EF. Assim, partimos da hipótese de que, no decorrer do LD de Terra e Cavallete, os exercícios que envolvem a gramática aparecem com bastante frequência, entretanto, se esses exercícios apresentados pelos autores contribuem para o entendimento de uma gramática que integra a interpretação dos textos, que são considerados as unidades de uso, e também à interpretação do sistema (tendo em vista os componentes funcionais) (NEVES, 2006). Só constatamos com a análise das atividades. Para Marcuschi (2005), os LDP usados hoje, no ensino Fundamental e Médio, não satisfazem as exigências do ensino. As atividades dos mesmos não incorporam os conhecimentos necessários sobre a língua, sendo assim, não rendem os frutos esperados. Questões como essas, levantadas pelo autor, consideramos relevantes para serem pesquisadas no livro investigado, dentro das atividades analisadas. O que parece ser essencial é a substituição do trabalho com metalinguagem pelo trabalho produtivo de correção e autocorreção de textos produzidos pelos próprios alunos (GERALDI, 2002), porque vemos com clareza que a língua (e a gramática) não pode ser descrita nem explicada como um sistema autônomo. (Cf. GIVÓN, 1995). 68 Os LDPs são os instrumentos pedagógicos mais utilizados pelos professores, em sala de aula, na maioria das vezes. Desse modo, compreendemos que eles são aliados dos docentes de Língua Portuguesa, na construção de saberes linguísticos, por isso a forma como os autores encaminham os textos lá dispostos e as atividades propostas são relevantes para o avanço dos alunos. Nesse contexto entra em jogo também o planejamento para sala de aula, uma vez que a maioria dos planos são feitos com base no LD. Sendo assim, o professor precisa ser um mediador, entre o conteúdo apresentado no livro e o fazer de sala de aula. Por isso, deve elaborar um bom plano. Segundo Vasconcellos (2000 p.109), “O bom plano é aquele que se molda dialeticamente ao real, transformando-o”. Assim, entendemos que o docente deve fazer um plano que possa redimensionar as atividades do LD que não condiz com realidade de sua turma. Com isso, percebemos que, no ato de planejar o professor precisa ter a capacidade de melhorar aquelas atividades trazidas pelo LD que não condizem com a realidade do aluno, redimensionando-as de forma que venham satisfazer o aprendizado. Por esse motivo, é que Goméz (1998) caracteriza o professor como um artista profissional, porque ele tem de desenvolver sua sabedoria e sua criatividade para enfrentar situações únicas, ambíguas, incertas e conflitantes que configuram a vida da aula, modificando o desenrolar do seu plano e da sua aula quando preciso. Estando o LDP inserido, nesse contexto, em que envolve ensino e aprendizagem da língua e, consequentemente, da gramática, convém analisarmos as atividades de AL, para compreendermos como esses conhecimentos estão sendo construídos pelo projeto Radix, 9º ano, EF, essa etapa em que deve formar conhecimentos para serem acrescentados, em momentos posteriores, no itinerário do estudo. Isso porque o ser humano no EF já é capaz de refletir sobre a linguagem e analisá-la, e a linguagem é o próprio instrumento para essa reflexão. Nessa perspectiva, as atividades de reflexão e análise sobre a língua, em seus diversos aspectos e em seus variados níveis, é um recurso didático de muito valor para o ensino e aprendizagem da língua [...] (Cf. GOMES, 2009). Nessa perspectiva, trabalhamos com a pretensão de responder as questões de pesquisas e alcançar os objetivos feitos para esse estudo, conseguindo, desse 69 modo, realizar uma pesquisa de qualidade, que traga contribuições para aqueles que têm interesse pela temática pesquisada. No capítulo que se segue procedemos com a análise. 70 CAPÍTULO V: ANÁLISE DO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO: LIVRO DIDÁTICO Temos como propósito, neste capítulo, discutir os resultados encontrados no material analisado, para alcançar o objetivo de compreender como as atividades de Análise Linguística estão contribuindo para a ampliação das competências: discursiva, textual e gramatical dos alunos, no Ensino Fundamental, bem como, fazer uma correlação entre a gramática dos estudos da corrente funcionalista norteamericana, a do livro, dos PCNs e dos autores que direcionam seus estudos para o ensino de Língua Portuguesa. Por isso faz-se necessário lançarmos um olhar mais apurado para os encaminhamentos propostos nessas atividades. Partimos, assim, para a análise das 06 (seis) atividades escolhidas, na perspectiva de alcançar os objetivos elaborados para esse estudo. Esperamos desse modo, encontrar nesse material pedagógico usado pelos docentes, na sua vivência de sala de aula, as respostas para as questões de pesquisa levantadas no percurso desse estudo. Para realizarmos essa análise, fomos buscar respaldo em teorias do funcionalismo norte-americano, nas teorias que trazem novas sugestões para o ensino de língua e de gramática e para o uso do LD, pois são exatamente esses pressupostos teóricos que nos dão alicerce para podermos, a partir dos dados, investigar, averiguar, comparar, indagar e tirar conclusões, chegando dessa maneira a concretizar os objetivos almejados. Organizamos esse capítulo da seguinte forma: Expomos as atividades, comentamos as mesmas á luz do referencial teórico que fundamenta nosso estudo, e, por último realizamos um confronto entre as seis atividades analisadas. 5.1 Análise das atividades: exposição, descrição e comentários No que se segue, apresentamos, comentamos e confrontamos as seis atividades que escolhemos como amostra para análise da nossa pesquisa. Para tanto, buscamos investigá-las pelo viés do Funcionalismo Norte-Americano e das outras teorias que nos embasa. 71 5.1.1 Atividade 1 1-Observe o adjetivo, neste trecho: “E depois dormem tranquilas/ No leito dos lagos, no leito dos lagos”. No caderno, acrescente um prefixo a esse adjetivo, formando uma palavra para caracterizar as águas que caem das pedras; depois, redija uma frase ou um pequeno texto empregando essa palavra. 2-Reescreva os versos a seguir no caderno, trocando o substantivo em destaque por um verbo que possua o mesmo radical. Faça as modificações que julgar necessárias. “Águas escuras dos rios Que levam fertilidade ao sertão” 3-Escreva em seu caderno uma frase com um substantivo derivado do verbo destacado acrescido de um sufixo. “Água que o sol evapora Pro céu vai embora” 4- Que verbos possuem o mesmo radical dos substantivos em destaque nestes versos? “Gotas de água da chuva Alegre arco-íris sobre a plantação Tão tristes são lágrimas na inundação” 5- Forme palavras de valor diminutivo usando os seguintes sufixos: -ebre,- ejo, -culo(a). Escreva, no seu caderno, frases empregando as palavras que você formou. 6-Leia: “Com a chegada do inverno, estão de volta, com mais intensidade, as doenças de todos os anos: resfriados, gripes, sinusites, renites, laringites, amigdalites, e otites”. (O estado de S. Paulo, São Paulo, 25 de maio 2000, suplemento doenças de inverno, p.1.) a) De acordo com o texto, com a chegada do inverno algumas doenças voltam. Das doenças apontadas, escreva em seu caderno aquelas que apresentam um sufixo que indica inflamação. b) Forme outras palavras no caderno, utilizando o sufixo- ite. Escreva também seu significado. Atividade exposta no capítulo 1, p. 17, Projeto Radix- 9º ano Ensino Fundamental, de Terra e Cavallete, 2009. A atividade, em análise, é elaborada a partir de versos do poema utilizado na seção hora do texto, com ressalva apenas para a questão (06), em que o trecho foi retirado do jornal, Folha de São Paulo. 72 “E depois dormem tranquilas/ No leito dos lagos, no leito dos lagos”. “Águas escuras dos rios Que levam fertilidade ao sertão” “Água que o sol evapora Pro céu vai embora” “Gotas de água da chuva Alegre arco-íris sobre a plantação Tão tristes são lágrimas na inundação” Na questão (01), em que o autor trabalha análise mórfica, ele encaminha a mesma solicitando que observe o adjetivo destacado e acrescente um sufixo, depois manda escrever uma frase empregando esse adjetivo e, em seguida, um texto. Entretanto, vemos com clareza que a questão é feita, exclusivamente para explorar uma palavra dentro de uma frase ou de um texto, sendo dispensado o processo de leitura/escrita existente na produção textual que, por sua vez, estão intrinsecamente ligados aos saberes gramaticais, também usados para escrever o texto. Conforme Furtado da Cunha (2008, p.157): “O funcionalismo se preocupa em estudar a relação entre estrutura gramatical das línguas e os diferentes contextos em que elas são usadas”. Por isso, uma atividade que propõe que o aluno explore uma palavra solta dentro de texto ou frase, pouco acrescentará para a ampliação dos seus saberes textual e gramatical. As questões (2), (3), (4) e (5) também são direcionadas da mesma forma, em que dentre os versos destacados, são exploradas palavras isoladas, fora do contexto. Esse tipo de exercício com a gramática não se caracteriza como análise linguística, uma vez que essa prática denomina uma perspectiva de reflexão sobre o sistema linguístico e sobre os usos da língua, com vista ao estudo dos fenômenos gramaticais, textuais e discursivos. (MENDONÇA, 2006). Sendo realizados de forma integrada O exercício (5) apresenta uma questão que merece ser observada de forma mais criteriosa, pois pede para os alunos formar frases com valor diminutivo utilizando os sufixos (ebre, ejo, culo(a) que, geralmente, não são usados com valor 73 de diminutivo. Em várias outras palavras, esses sufixos não indicam diminutivo. Sabemos que inho(a) é o sufixo mais comum para indicar palavras no diminutivo, embora os estudos da iconicidade venham mostrar que nem, sempre, esse sufixo indica diminutivo, deixando evidente a elasticidade da gramática. Também não se confirma com o que postula Furtado da Cunha; Tavares (2007, p.19), para as autoras a gramática é constituída nos contextos específicos de uso da língua, para compreendê-la é preciso levar em conta a perspectiva discursivo-textual. “Buscamos, portanto, explicar a forma da língua a partir das funções que ela desempenha na comunicação”. (FURTADO DA CUNHA, TAVARES, 2007, P.19) A proposta para a tarefa (6), é que os alunos leiam o fragmento e retire uma palavra com sufixo que indique inflamação, depois forme outras palavras, no caderno, utilizando o mesmo sufixo e, em seguida, escreva o significado das mesmas. Novamente as palavras são trabalhadas fora do contexto, sendo, dessa forma, os textos utilizados como pretexto para o estudo de regras da gramática normativa. Para os PCN (BRASIL, 1998) um ensino produtivo será aquele que coloque a língua como uma atividade discursiva, o texto como uma unidade de ensino e a noção de gramática como relativa ao conhecimento que o falante tem de sua própria linguagem. Diante disso, entendemos o LD como um forte aliado do professor, no trabalho com a articulação da língua aos saberes textuais e gramaticais, uma vez que este manual é um recurso pedagógico usado constantemente pelos docentes, em sala de aula, sendo, dessa maneira, caracterizado como objeto que está diretamente envolvido no fazer pedagógico na formação de alunos mais proficientes, ou não, nos conhecimentos da leitura, escrita e gramática. Os livros são ferramentas de trabalho por meio dos quais sentidos e significados são produzidos no processo de constituição dos sujeitos, da língua e da linguagem, por isso abordam conteúdos determinantes para a aprendizagem dos sujeitos na sala de aula. (Cf. BRÄKLING, 2003). Assim, devem abordar também para explorar uma gramática como um fenômeno plural, porque precisamos estar preparados para trabalhar com esta pluralidade, com os muitos aspectos sociais, ideológicos, científicos, 74 epistemológicos, políticos, educacionais envolvidos na aprendizagem do sistema linguístico, entre outros, como postula Travaglia (2003). Nessa perspectiva, compreendemos que o ensino de LP não deve priorizar os fenômenos linguísticos a partir de frases que não estão no contexto real dos usuários da língua, frases criadas, totalmente descontextualizadas, mas trabalhar com textos reais e concretos emitidos pelos falantes nas mais diversas situações de comunicação existentes. Pois como postula os autores como,Traugott e König (1991), Heine (1991), Hopper; Traugott (1993) dentre outros por meio da gramaticalização, os itens gramaticais, em meio ao contexto de uso, mudam e adquirem novas funções. De acordo com Furtado da Cunha (2008, p.173), esse princípio está relacionado a essa necessidade de se refazer que toda gramática apresenta. Considerando esse fato, entendemos que o ensino não pode se distanciar das situações de uso, explorando a gramática de forma artificial, deve enfocar os aspectos centrais como forma e função em meio a gama de fatores existentes em cada situação comunicativa. 5.1.2 Atividade 2 1-Leia: “Mas uma espécie como a nossa, capaz de realizações magníficas no campo das artes, das ciências e da filosofia, deverá saber organizar-se e encontrar soluções adequadas para garantir sua permanência na terra”. A palavra filosofia é formada pela junção de dois radicais que não têm vida autônoma na língua: filo sofia. Pesquise e escreva no caderno o que significam esses radicais. 2-O radical –logia, significa estudo. Com base nisso escreva em seu caderno o sentido de: a) biologia b) fonologia c)zoologia d)antropologia 3-Usando prefixos e sufixos, forme no caderno palavras derivadas de: a) consumir b) ambiente c) avaliar d) trabalho e) adaptar 4- Baseando-se apenas nos elementos mórficos e sem consultar o dicionário, escreva no caderno o que significam as palavras ecoturismo e biodiversidade. 5- Pelo processo de derivação parassintética, forme palavras a partir dos seguintes vocábulos: a) velho b) ferver c)podre d) alto e) noite 75 6- Pelo acréscimo de afixos, podemos derivar palavras não somente a partir de primitivas, mas também de outras já derivadas ou de compostas, que, nesse caso, passam a ser primitivas em relação às que derivam dela. Por exemplo: subempregado é derivada de empregado, que, por sua vez, é derivada de empregar. Após ler o trecho a seguir, comente no caderno a formação das palavras em destaque. “O número de habitantes do planeta, porém, cresce sem parar, e muitas áreas produtivas da terra já foram, e continuam sendo, ocupadas sem planejamento e exploradas de modo inadequado”. 7-Leia esta estrofe de uma conhecida canção popular do compositor Peninha: Às vezes no silêncio da noite Eu fico imaginando nós dois Eu fico ali sonhando acordado Juntando o antes, o agora e o depois Responda: a) A que classe de palavras pertencem as palavras antes, agora e depois, no texto? b) Normalmente, a que classe elas pertencem? Atividades exposta no capítulo 2, p. 32, Projeto Radix- 9º ano Ensino Fundamental, de Terra e Cavallete, 2009. Tendo como referência a atividade (2), observamos que o estudo da gramática para esse momento também é proposto a partir de fragmentos e palavras soltas, os exercícios de (1) a (6) da atividade, são apresentados excetos do texto exposto no capítulo, entretanto, olhando atentamente, podemos ver, na questão (1), que o parágrafo mostrado é feito com uma única intenção de explorar a palavra filosofia que nele está inserida, como podemos observar: “A palavra filosofia é formada pela junção de dois radicais que não têm vida autônoma na língua: filo sofia. Pesquise e escreva no caderno o que significam esses radicais”. Partindo dessa palavra, são encaminhados os exercícios 2 e 3, com a utilização de palavras isoladas para a construção de significados e formação de outros vocábulos que também estão fora do contexto. Esse tipo de exercício deixa transparecer que a língua ainda não é tratada no LDP analisado enquanto sistema vivo, ou seja, um sistema de organização do mundo, enquanto instrumento que serve para compreender a imensa complexidade 76 da realidade que nos cerca. E nem a gramática é considerada como uma competência comunicativa, em que os indivíduos têm a capacidade não apenas de codificar e decodificar expressões, mas também de usar e interpretar essas expressões de uma maneira interacionalmente satisfatória. (Cf. NEVES, 1997). Concepção defendida pela corrente funcionalista norte-americana, pois Givón apud Neve (2004) defende que a língua não pode ser descrita como um sistema autônomo, pois há a uma interdependência entre a gramática e parâmetros como: cognição e comunicação, processamento mental, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução. Desse modo, percebemos que o conceito de gramática que deve ser trazido para os estudantes da LP é aquele em que coloca essa gramática como um sistema adaptativo. Assim, suas análises devem ser fundadas a partir de uma estrutura maleável e emergente, podendo, dessa maneira, se moldar a partir das regularidades observadas no uso interativo da língua. Para Guimarães (2003, p. 166), “estamos procurando descentralizar o papel da gramática no ensino de língua. Essa tentativa está sendo feita também nos LDs”, entretanto, é um processo que ainda está em construção, pois trabalhar a gramática do texto, no texto e pelo texto ainda é um desafio de linguistas e professores. Assim sendo, vemos que a atividade (2) não incorpora o estudo da gramática do texto, no texto e pelo texto, como sugere a autora, bem como a prática de AL. Já para Geraldi (2002) o que parece ser mais essencial, na prática de Análise Linguística é um trabalho produtivo, partindo dos textos dos próprios alunos. Assim, a escuta, a leitura, a produção de textos e as atividades epilinguísticas são necessárias, porque é preciso enfocar um trabalho que envolva manifestações sobre língua e suas propriedades, para se construir explicações para os fenômenos linguísticos característicos das práticas discursivas (Cf. BRASIL, 1998). Voltamos o nosso olhar para a questão (6), em que propõe: “Pelo acréscimo de afixos, podemos derivar palavras não somente a partir de primitivas, mas também de outras já derivadas ou de compostas, que, nesse caso, passam a ser primitivas em relação às que derivam dela. Por exemplo: subempregado é derivada de empregado, que, por sua vez, é derivada de empregar. Após ler o trecho a seguir, comente no caderno a formação das palavras em destaque”. 77 “O número de habitantes do planeta, porém, cresce sem parar, e muitas áreas produtivas da terra já foram, e continuam sendo, ocupadas sem planejamento e exploradas de modo inadequado”. Percebemos que a atividade mostra o processo de formação de palavras a partir de outras. Entendemos que, nesse processo se enquadra o princípio de gramaticalização, embora o LD não aborde e nem leve o aluno a atentar para o fato de que no decorrer do tempo novas palavras surgem, formando outras, via processo de gramaticalização. Essa realidade fica bem explícita no exercício, quando são apresentadas as palavras, empregado e subempregado, derivada de empregar. Assim como esse exemplo mostra, outros inúmeros vocábulos também vão aparecendo em meio a funcionalidade linguística. . Amparados em Traugott e König (1991), quando enfatizam que a gramaticalização é um processo dinâmico, mediante o qual, na evolução temporal, um item lexical adquire um estatuto gramatical, podemos então fazer uma relação entre a afirmativa dos autores e esse processo de formação de palavras enfatizado na questão (6). Diante disso, logo compreendemos que a atividade poderia ser mais plural e ampla, no que se refere à funcionalidade linguística, levando, dessa maneira, o aluno perceber a influência do sistema gramatical no funcionamento discursivo. (Cf. FURTADO DA CUNHA, 2008). Na questão (7), é exposta uma estrofe de uma música, visando ao estudo da classe de três palavras, antes, agora e depois, desarticuladas do contexto, deixando assim de serem considerados os elementos de coerência e coesão, que por sua vez, estão articulados para a construção de sentido do texto. Outro ponto interessante que podemos questionar, é sobre a mudança de classe gramatical das três palavras antes, agora e depois, dentro do texto. Como sabemos, pelas regras da gramática normativa, normalmente, são empregadas como advérbio de tempo, entretanto, nesse momento, elas estão exercendo a função de substantivo, precedidas pelo artigo (o). Isso mostra que, de acordo com o uso, as palavras podem mudar de classe gramatical, deixando evidente que os autores, Traugott e König (1991) e outros quando formularam o princípio da gramaticalização, tinham razão em ver que a gramática é mutável e não estanque e que as palavras pode assumir outras funções de acordo com o contexto. 78 Considerando esses aspectos focalizados nas questões da atividade (2), verificamos que ainda há uma ênfase no estudo da direção frase-palavra, palavrafrase, colocando, dessa maneira, a gramática como um aspecto deslocado dos textos emitidos cotidianamente pelos usuários e que, por sua vez, devem ser usadas para o entendimento do sistema linguístico. Isto porque, nas aulas de língua, os alunos precisam compreender que a gramática está inserida nos textos e que, quando elaboramos textos orais e escritos, estamos se utilizando-nos dos recursos gramaticais. Confirmando isso, PCNs (BRASIL,1998, p.28) assegura: “Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical desarticulado das práticas de linguagem”. No entendimento de Neves (2000), isso significa que a escola não pode criar no aluno a falsa e estéril noção de que falar e ler ou escrever não são atividades que colocam em exercício os conhecimentos da gramática. Nesse sentido, as atividades de AL, no LDP, precisam mostrar um perfil didático-pedagógico que aborde os eixos de leitura/escrita/gramática de forma integrada, promovendo a reflexão dos diversos componentes de língua e linguagem e sua funcionalidade nos diferentes contextos de uso. Como bem pontua Teixeira (2011), deve haver uma integração da AL com a leitura e a produção de texto. Entretanto, sabemos que essa não é uma tarefa fácil a ser alcançada por aqueles que organizam os LDs, de acordo com Volmer e Ramos (2009), os primeiros passos para o avanço da rejeição a um ensino de gramática fragmentado e descontextualizado. Foi com a elaboração dos PCN (BRASIL, 1998), que se procurou visar à expansão das possibilidades de uso da linguagem, relacionando quatro habilidades básicas falar/escutar/ler/escrever. No entanto, ainda há um longo e árduo caminho a ser percorrido, para que cheguemos a um LDP que se adeque a um trabalho que oriente a apreensão de conhecimentos gramaticais intercalados a práticas reais de uso do sistema linguístico, no meio social, adotando assim a AL. 5.1.3 Atividade 3 1-Leia os versos a seguir e responda no caderno ao que se pede. “Meu sertão continua ao deus-dará Mas se existe Jesus no firmamento 79 Cá na terra isto tem que se acabar. a) Que tipo de relação é estabelecida pela conjunção mas? b) Que outra conjunção poderia ocupar o lugar de mas sem alterar o sentido do texto? 2-Nas questões que se seguem, ocorrem duas frases isoladas. Siga o exemplo abaixo e, em seu caderno, estabeleça entre elas uma relação de coordenação, indicando o tipo de relação. Faça as modificações que julgar necessárias. Muita gente se arvora a ser Deus. Muita gente promete tanta coisa pro sertão. Relacionando: Muita gente se arvora a ser Deus e promete tanta coisa pro sertão. Tipo de relação: adição a) b) c) d) Ele prometeu um vestido para Maria. Ele não cumpriu a promessa. As pessoas acompanham a procissão. As pessoas acreditam nas coisas. Lá do céu. Vá na frente. Irei depois. Presta atenção. Trata-se de um assunto muito importante. 3-Apresentamos, a seguir, pequenos textos cujos elementos de conexão entre as orações coordenadas foram suprimidos. Sua tarefa será reorganizá-los, restabelecendo as relações de coordenação. a) O trânsito estava caótico./ Ninguém chegou atrasado à reunião. b) Por favor, devolva-me o livro./ Estou precisando dele. c) “Há muitos tipos de colírios destinados ao tratamento de diferentes doenças dos olhos. Os olhos são órgãos de muita sensibilidade. O uso de qualquer tipo de colírio, sem orientação e controle médico, poderá causar mais problemas do que resultados positivos”. (Manual da boa visão, Imesp. P.6) d) “Nunca me esqueço de um consórcio de moto que fiz quando tinha 17 anos. Estava começando a ganhar dinheiro. Acabei gastando mais do que podia. A cada mês o valor aumentava. Fui sorteada, tirei a moto. As parcelas nunca mais acabavam. Hoje os consócios podem ter mudado. Eu nunca mais fiz um”. (Meu dinheiro, maio 2001, p. 11). 4-As orações coordenadas sindéticas são introduzidas por conjunções coordenativas. Muitas vezes, no entanto, a conjugação aparece no meio ou até mesmo no final da oração. Sem alterar-lhes o sentido, reescreva as frases, mudando a posição da conjugação. a) Ele fazia promessas com entusiasmo, todavia ninguém acreditava nele. b) As pessoas acreditam nas coisas lá do céu; portanto, são religiosas. 5- No quadro a seguir aparecem orações coordenadas. Forme períodos compostos por coordenação juntando orações das duas colunas de modo que o todo faça sentido. Ou vocês conseguem uma autorização... Aquela empresa triplicou suas exportações para o exterior... Vá diretamente à bilheteria do teatro... Era formado em odontologia... Vivia dizendo mentiras... Mal conhece a cidade... O banco fecha ás quatro horas, corra, Leve o guarda-chuva que ainda dá tempo de pagar as contas no entanto insiste em sair sozinho. porque está ameaçando chover. por isso ninguém mais acredita nele. ou não poderão viajar sozinhos. que lá você ainda encontrará ingressos não é verdade, portanto, que esteja em crise. todavia nunca exerceu a profissão. 80 6– Leia: “Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas”. Ramos, Graciliano, Vidas Secas, 80, ed. Rio de Janeiro: Recorde, 2000, p.9. O trecho que você acabou de ler, do romance Vidas secas, é um período composto. No caderno, reescreva-o delimitando as orações que o formam. Atividade exposta no capítulo 3, p. 45-46, Projeto Radix - 9º ano Ensino Fundamental, de Terra e Cavallete, 2009. Travaglia (2003 p.45) faz uma ressalva afirmando o que é gramatical é textual e, vice-versa, tudo o que é textual é gramatical. Assim, quando estudamos aspectos gramaticais de uma língua, estamos estudando os recursos de que a língua dispõe para que o falante/escritor constitua seus textos para produzir o(s) efeito(s) de sentido. E quando são estudados aspectos textuais da língua, estamos estudando como esses recursos funcionam na interação comunicativa. Tendo como parâmetro a ideia do autor, procedemos com a análise do LD, agora atentando para a terceira atividade de AL no manual do 9º ano. As questões (1) e (2) são dirigidas a partir de versos extraídos do texto da unidade, todavia, podemos ver nitidamente que os excetos do poema são usados com a única finalidade: explorar as conjunções coordenativas mas/e. Ainda com relação ao exercício (2), notamos que é apresentado um modelo para que os alunos sigam fazendo nas orações abaixo. Isso fica bem frisado quando o autor coloca: “siga o exemplo abaixo”. Muita gente se arvora a ser Deus. Muita gente promete tanta coisa pro sertão. Relacionando: Muita gente se arvora a ser Deus e promete tanta coisa pro sertão. Tipo de relação: adição Compreendemos essa tarefa como pouco produtiva para o desenvolvimento das habilidades linguísticas dos alunos, uma vez que o ensino de língua voltado para modelos prontos, dados, não levam o aluno a pensar a linguagem como um instrumento de interação social. Furtado da Cunha, Costa, Cezário, (2003 p. 29). Nem a gramática como um aspecto que ultrapassa a estrutura linguística. Neves 81 (2012) também se posicionam dizendo que o estudo da gramática deve ser ancorado no texto e não usando os textos como pretexto. Por isso, os funcionalistas norte-americanos advogam que uma dada estrutura da língua não pode ser proveitosamente estudada, descrita ou explicada sem referência à sua função comunicativa [...] Furtado da Cunha (2008). Nesse sentido, entendemos a importância do LD apresentar uma proposta de análise linguística voltada para uma gramática compreendida como um sistema flexível, dinâmico, suscetível às mudanças, e fortemente afetado pelo uso no meio da sociedade. Ou seja, uma gramática que mobiliza não só um conjunto de regras, mas uma séria de recursos para descrever, interpretar e fazer significado. Como sugere Furtado da Cunha; Souza (2007). Nos exercícios (3) e (4), Terra e Cavallete propõem que os alunos reorganizem pequenos textos e façam a reescrita de frases. Essas duas tarefas são interessantes para a aprendizagem, pois os aprendizes, nesse momento, tem a oportunidade de ativar os conhecimentos gramaticais que eles já têm e ainda ampliá-los. Essas duas atividades, de organização de texto e reescrita, colaboram na ampliação das competências textual e gramatical que, por sua vez, são essências para o alunado do Ensino Fundamental (Cf. BRASIL, 1998). Cumpre ressaltarmos que a desvantagem encontrada, nos exercícios, é que são mostrados frases e textos que levam à inexistência do contexto e, dificilmente, o aluno apreende a verdadeira mensagem que deveria ser inferida, dificultando, assim, as atividades de organização e reescrita. Exemplos retirados da questão (3) e) O trânsito estava caótico./ Ninguém chegou atrasado à reunião. f) Por favor, devolva-me o livro./ Estou precisando dele. g) “Há muitos tipos de colírios destinados ao tratamento de diferentes doenças dos olhos. Os olhos são órgãos de muita sensibilidade. O uso de qualquer tipo de colírio, sem orientação e controle médico, poderá causar mais problemas do que resultados positivos”. (Manual da boa visão, Imesp. P.6) A mesma situação que se repete na questão (5), Ou vocês conseguem uma autorização... Aquela empresa triplicou suas exportações para o exterior... Vá diretamente à bilheteria do teatro... Era formado em odontologia... Vivia dizendo mentiras... que ainda dá tempo de pagar as contas no entanto insiste em sair sozinho. porque está ameaçando chover. por isso ninguém mais acredita nele. ou não poderão viajar sozinhos. 82 Mal conhece a cidade... O banco fecha ás quatro horas, corra, Leve o guarda-chuva que lá você ainda encontrará ingressos não é verdade, portanto, que esteja em crise. todavia nunca exerceu a profissão. E na alternativa (6), na qual é exposto excerto do livro “Vidas Secas”, Graciliano Ramos, apenas como pretexto para trabalhar o período composto. “Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas”. Ramos, Graciliano, Vidas Secas, 80, ed. Rio de Janeiro: Recorde, 2000, p.9. Conforme postulam os PCNs (BRASIL, 1998) e teóricos, como por exemplo, Pezatti (2007), toda explicação linguística deve ser buscada na relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social, pois, isso torna a tarefa de explicar o fenômeno linguístico muito mais produtivo e prazeroso. Esse pensar também é conjugado com o Funcionalismo Norte-Americano22, porque frases que estão fora do contexto não acrescentam em nada os conhecimentos dos alunos. Neves (2012) acrescenta que gêneros diversos abrigam diferentes inserções das possibilidades de produção linguística a simples visão de que é assim que a linguagem funciona já constitui abertura para uma percepção reflexiva da gramática. No pensamento de Salzano (2004), muitas falhas, nos exercícios mostrados no LD, podem ser sanadas a partir da interação professor e aluno, pois essa interação pode levar a um bom uso do material, para tentar modificar os exercícios mal formulados. O professor deve entrar como força mediadora, a fim de proporcionar alternativas com confronto de opiniões, debates, os quais possibilitam aprendizagem por meio da interação. Os PCNs (BRASIL, 1998) ainda ressaltam que, cabe ao professor planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas, com o objetivo de desencadear, apoiar e orientar a reflexão do aluno, procurando garantir aprendizagem efetiva. Deve assim assumir o papel de informante e de interlocutor privilegiado, que tematiza 22 Talmy Givón (1995) é dos teóricos desse paradigma, que pensa a gramática funcionalista como um aspecto que coloca em jogo pontos central como: o uso da língua em relação a todo o sistema, o significado em relação às formas linguísticas e o social em relação às escolhas individuais do falante (NEVES, 2004). Nesse sentido, a produção do discurso do falante é uma intrincada interação linguística, em que estão envolvidos diversos fatores como: o contexto, as informações pragmáticas (tanto do falante, como as que ele julga que o ouvinte possui), sendo as variações e desvios da gramática normativa imprescindíveis no ato comunicativo. Por isso o discurso deve ser o ponto de partida para os estudos da língua em sala de aula. 83 aspectos prioritários em função das necessidades dos alunos e de suas possibilidades de aprendizagem. Acreditamos que essa alternativa pedagógica adotada pelo professor poderia ajudar muito a superar, na aula, a insuficiência do LD, no que tange aos exercícios gramaticais, porque é o professor quem ativa o processo de aprendizagem, cabendo-lhe estabelecer perguntas e direcionar resposta, quando faz uso do LD em sua aula. Para Martins (2006) refletir sobre os usos da forma linguística requer dos professores uma mudança na postura em relação ao ensino de Língua Portuguesa. 5.1.4 Atividade 4 1-Reescreva o período a seguir no caderno, substituindo o verbo haver pelo existir. Faça as modificações que julgar necessárias. “Por vezes há cachorrinhos que tetas, se não houver quem ajude, os mais fracos morrem de fome.” 2-Copie a frase abaixo, eliminando os adjuntos adverbiais. “Os bichos e os homens vão então procurar comida na natureza.” 3-Transcreva esta frase em seu caderno, apontando os adjuntos adnominais e indicando o substantivo ao qual se relacionam. “Nossos antepassados pré-históricos saíam pelos campos e florestas procurando frutas, ervas e raízes [...]”. 4- Copie os sujeitos e os termos que funcionam como predicativo no trecho abaixo. “Supermercado e geladeira não são seios de mãe. Seio de mãe é gratuito.” 5-Leia: “Faz-se um buraco na terra e, dentro desse buraco, coloca-se uma semente.” Essa frase está na voz passiva sintética (ou pronominal). Se o autor tivesse preferido à voz passiva analítica, como ele a teria redigido? Registre sua resposta no caderno. 6- Nesse trecho, o pronome ele funciona como sujeito de deveria mostrar. Qual substantivo o pronome ele está substituindo? 84 “Armando uma arapuca e pegando um passarinho eu me sentia - sem saber- como um caçador pré- histórico ou um indiozinho que consegue flechar seu primeiro pássaro. Com que orgulho ele deveria mostrar seu feito a seus pais! Estava ficando grande! Estava se tornando capaz de encontrar alimento”. Atividade exposta no capítulo 4, p. 62, Projeto Radix - 9º ano Ensino Fundamental, de Terra e Cavallete, 2009. Os exercícios que compõem essa atividade são todos planejados a partir da crônica de Rubem Alves, “a terra”, ou seja, são mostradas porções do texto para o estudo dos seguintes conteúdos gramaticais: adjunto adverbial, adjunto adnominal, predicativo e vozes do verbo. Desse modo, compreendemos que a interação entre o texto a gramática não ocorreu. Percebemos pouca produtividade, na sequência dos exercícios, porque fragmentos ou parágrafos fora do contexto são usados como moldes, para que alunos exercitem seus conhecimentos da estrutura gramatical, entretanto, sabemos que a gramática não é esse aspecto que está à margem dos textos ou do funcionamento linguístico. A gramática é um agregado maleável vinda da funcionalidade da língua. Ela é o resultado da cristalização ou regularização de estratégias discursivas recorrentes, que decorrem de pressões cognitivas e, sobretudo, de pressões de uso. Como destaca Furtado da Cunha; Tavares, (2007). Por isso, as regularidades observadas no uso interativo da língua devem ser explicadas com base nas condições discursivas em que se verifica esse uso. Nessa perspectiva, o ensino de gramática, dentro da escola, deixa de ser apenas um conjunto de regras prescritivas ou normativas, para transformar-se em uma explicitação das regras de uso da língua, em situações significativas. (Cf. MURRIE, 2001). É exatamente esse tipo de ensino que deve ser abordado pelo LD, uma vez que esse material precisa acompanhar as mudanças ocorridas no estudo da língua, nos últimos anos, porque junto com o professor o LDP também atua como orientador do processo de construção do saber gramatical dos alunos, criando, a partir de suas propostas de estudos, oportunidades para a aprendizagem e o refinamento das competências necessárias para o domínio do sistema linguístico. 85 É por esse motivo que há uma necessidade do LD incorporar a gramática como maleável, aberta, mutável, isto é, a gramática sugerida nos estudos da corrente funcionalista norte-americana, posto que, segundo Dutra (2004, p.128), “descrever relações gramaticais sem considerar situações reais de uso resulta na formulação de texto, escrita, embora possam ser úteis como ferramentas iniciais, não apresentam, por definição o que o falante manipula na construção do discurso (...)”. Sendo assim, cabe colocarmos que estudar adjunto adverbial, adjunto adnominal, predicativo, vozes do verbo ou qualquer outro conteúdo gramatical desarticulado dos textos oriundos do cotidiano e da vida dos alunos, como verificamos na atividade (4), torna muito mais difícil e enfadonho na realização do estudo da gramática para os alunos. Por isso Mendonça (2006) esclarece que AL constitui-se uma reflexão explícita e sistemática da constituição e funcionamento da linguagem nas dimensões sistêmica (ou gramatical), textual discursiva e também normativa, com o fim de desenvolver as habilidades de leitura, produção de textos tanto orais como escritos, bem como a sistematização dos fenômenos linguísticos. Com isso, ela procura alertar para que seja adotada essa prática no ensino de língua. Conforme postulam os PCNs (BRASIL, 1998), nas aulas de Língua Portuguesa, deve haver uma prática constante de escuta de textos orais e leituras de textos escritos, de produção de textos orais e escrita, por meio de análise e reflexão sobre os múltiplos aspectos envolvidos na estrutura da língua, levando a construção de instrumentos que permitam ao aluno, progressivamente, ampliar sua competência discursiva. Julgamos, portanto, que é exatamente essa proposta que também deve ser abordada pelo LD, para que a gramática comece ser encarada dentro de sala de aula, como um conhecimento necessário, indispensável e integrado na língua e no seu funcionamento. Até porque, o desafio da prática pedagógica agora, exige essa outra perspectiva, de trabalhar a linguagem, refletindo-a, dentro e fora da escola, ao longo de nossa vida (Cf. ZABALA, 1998). Estando o LD inserido, diretamente, nessa prática pedagógica, entendemos que ele deve ser elaborado vislumbrando essa perspectiva. Para que o professor planeje atividades que permitam aos alunos perceber a adequação das diferentes formas de expressão da língua, levando-os a refletir sobre formas que podem ser ou não usadas nos textos e contextos. 86 5.1.5 Atividade 5 1-As frases a seguir são formadas por uma oração {período simples}. Observando o termo destacado, reescreva-se no caderno de modo a transforma-las num período composto por subordinação. Veja exemplo: Esperamos proteção de nossos direitos.------ Esperamos que nossos direitos sejam protegidos. a) todos os trabalhadores são pessoas merecedores de respeito. b) necessitamos da compreensão de todos. c) minha esperança é a mudança dessa situação. d) temos necessidade do apoio da sociedade. e) o trabalho é necessário para a preservação da dignidade humana f) hoje em dia são outros os critérios para a conquista de prestígio. g) todos os trabalhadores merecem respeito, seja qual for trabalho executado. h) todos devem contribuir para o atendimento das necessidades básica das outras pessoas. 2 - Nos itens a seguir, transforme o adjetivo em destaque em uma oração subordinada. Veja o exemplo: O aluno estudioso aprende. ------ O aluno que estuda aprende. a) b) c) d) O homem trabalhador vence na vida. O diretor tem uma letra ilegível. Foi uma cena inimaginável. É uma atitude incompreensível. 3- Apresentamos a seguir cinco pares de frases isoladas. Reúne cada par em um único período composto por subordinação. Faça as alterações necessárias. a) b) c) d) e) Chegamos ao acampamento. Eram dez horas. Chegamos atrasados. Saímos tarde. Chegamos atrasados. Saímos cedo. Correu tanto. Ficou cansado. Saiu cedo. Não chegar atrasado. 4 - Leia este texto e responda ás questões. Ovelha empalhada A ovelha Dolly, primeiro animal clonado de um mamífero adulto, não corre o risco de cair no esquecimento. Após ter sido sacrificada em fevereiro, aos 6 anos de idade, por conta de problemas pulmonares, ela foi empalhada e está exposta no Museu Nacional da Escócia, em Edimburgo, onde pode ser apreciada. Responsáveis pelo museu brincam que ela foi imortalizada com a mesma expressão que costuma fazer ao receber os curiosos. 87 Galileu. São Paulo: Globo, n.142, maio 2003, p.7. a) Qual é a função sintática de “primeiro animal clonado de um mamífero adulto”? b) A que termo se refere à oração “de cair no esquecimento”? Que função sintática ela desempenha? c) Que circunstância é expressa pela oração “após ter sido sacrificada em fevereiro”, que inicia o segundo período? d) Sem alterar o sentido, reescreva o segundo período do texto, substituindo as expressões “aos 6 anos de idade”e „em Edimburgo” por orações. Atividade exposta no capítulo 5, p. 81, Projeto Radix- 9º ano Ensino Fundamental, de Terra e Cavallete, 2009. Nessa atividade, observamos claramente que as questões (1) e (2) foram planejadas para os estudantes responderem seguindo o modelo mostrado acima. Isso fica bem frisado quando, no enunciado, é colocado: “veja o exemplo”: Esperamos proteção de nossos direitos.------ Esperamos que nossos direitos sejam protegidos. Depois disso, é exposta uma lista de orações para que o aluno continue seguindo o exemplo. a) b) c) d) O homem trabalhador vence na vida. O diretor tem uma letra ilegível. Foi uma cena inimaginável. É uma atitude incompreensível. Esse exercício pode ser definido como uma tarefa da língua com caracteres repetidos e com conteúdos metalinguisticamente marcados. A questão não é abolir a gramática de sala de aula, mas adentrar, na prática de AL, procurando privilegiar a produção contextualizada de diferentes gêneros textuais (TEIXEIRA, 2011). Essa atividade se encaixa na clássica prática “siga o modelo”. Entendemos que a atividade considera a gramática implícita do aluno, não expande para a possibilidade de testá-la no seu uso, e nem se dirige para uma reflexão sobre ela. Isso não contribui para o desenvolvimento de suas possibilidades e capacidades de aprendizagem, pois um aluno bem letrado pode fazê-la mecanicamente, sem até mesmo precisar da orientação do professor. No dizer de Bagno (2001) é preciso ser abordado dentro da escola o painel multifacetado, complexo e rico da realidade linguística brasileira e não se limitar a 88 oferecer como um único modelo a ser imitado. A escola tem de se abrir a todos os gêneros em que pode concretizar o uso da língua. Diante disso, compreendemos que, no LDP, é necessário também, uma abertura para essa complexidade linguística, a partir de uma abordagem produtiva da estrutura linguística nas suas atividades propostas e não apenas fixar conteúdos, tornando, dessa maneira, a gramática inerente ao aprendizado da língua. Isso porque, a língua é um sistema de signos específico, histórico e social, que possibilita a homens e mulheres significar o mundo e a sociedade. (Cf. BRASIL, 1998). Por isso, cumpre assinalar que as aulas de Língua Portuguesa devem ser planejadas com vista a esse pensamento, tendo a concepção de linguagem como uma forma de interação, em que possibilita não só uma transmissão de informação, mas uma verdadeira interação entre emissor e receptor. Pensando desse modo, é que o funcionalismo tem por parâmetro o exame do fenômeno linguístico a partir do uso real da língua (Cf. VIDAL, 2009). Outro ponto que consideramos necessário comentar é a respeito da questão (4), em que o texto sobre a ovelha Dolly é inserido no exercício para o estudo das alternativas da (a) a (d). Apesar da maioria das questões serem relacionadas ao estudo das orações, vemos que a (d) sugere uma reescrita: d)Sem alterar o sentido, reescreva o segundo período do texto, substituindo as expressões “aos 6 anos de idade” e „em Edimburgo” por orações. A atividade de reescrita que, por sua vez, é bastante produtiva para a aprendizagem e ampliação das competências linguísticas, entretanto, esse processo de reescrita, nessa questão, tornou-se uma tarefa um pouco complicada, porque a sugestão pede que seja feita a reescrita apenas nas orações isoladas e não no texto como um todo. Sabemos que reescrever apenas uma ou duas orações, dentro de um texto, pode comprometer o sentido do mesmo, pois não dá para colocar orações no texto, sem comprometer seu significado de um modo geral. Podemos citar ainda outra questão interessante na alternativa (4). De todas as atividades analisadas, essa é a única em que foi elaborado com um texto completo, uma vez que as demais foram encaminhadas com fragmentos do texto da unidade ou de fragmentos de outros gêneros trazidos para o exercício. 89 Isso mostra que, no LD, ainda há pouca integração entre texto e gramática nas atividades, pois o enfoque maior, no LDP recai sobre o estudo da estrutura sem contextualização. O aluno para ter êxito dever inferir a reconstrução. Não havendo a contextualização, esses exercícios podem tornar-se simples repetição de respostas já dadas, comprometendo, assim, a aprendizagem dos conhecimentos linguísticos dos estudantes, já que para Salzano (2004) o discente é o sujeito que deve dar respostas, a partir de estímulo (texto escrito e exercícios), bem como aquele que deve reforçar a aquisição do conhecimento. Para tanto, o aluno realiza verdadeiramente sua aprendizagem quando há, no material usado, e no docente, uma intermediação dos fatos da língua à prática de sala de aula, e não apenas através da fixação e memorização de conteúdos. É preciso, portanto, ter por parâmetro um fazer pedagógico que se destine à leitura, à escrita, e à compreensão de gêneros textuais variados que circulam socialmente, posto que estudar o texto é também estudar a gramática, pois é neles que ela se encontra, se apresenta se constrói, e, se reconstrói. 1.1.6 Atividade 6 1- complete, no caderno, o sentido dos trechos abaixo com uma oração subordinada substantiva. A seguir, classifique as orações substantivas formadas. a) b) c) d) e) f) g) Era necessário. Espera-se. Temos certeza. Nosso maior desejo era. Esperamos. Sou favorável. As pessoas sempre se esquecem. 2 - Observe estas frases do texto: “Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.” “Mas desejo requerer minha aposentadoria.” Indique, no caderno, a função sintática das orações “a sorrir”, “a agradecer ao chefe” e “requerer minha aposentadoria”. 3-Observe os períodos abaixo: “Não havia necessidade de muita roupa.” 90 Não havia necessidade de usar muita roupa. Indique, no caderno, quantas orações formam esses períodos e a função sintática de “de muita roupa” e “de usar muita roupa”. 4-leia: “ E sua função, a partir de amanhã, será a de limpador de nossos sanitários”. a) Indique, no caderno, a função sintática de “a de limpador de nossos sanitários”. b) Reescreva a frase acima no caderno substituindo limpador por um verbo que tenha o mesmo radical. Faça as modificações necessárias. 5-Nos enunciados a seguir, substitua o trecho em destaque por uma oração, indicando a função sintática que ela exerce. a) Esperava aumento de salário. b) Necessitava do apoio da empresa. c) Seu desejo era um aumento de salário. d) É indispensável a contratação de outro funcionário. e) Havia a necessidade da substituição do chefe. 6-As orações subordinadas substantivas são geralmente introduzidas pelas conjunções integrantes {que e se}. Nos períodos a seguir, temos orações substantivas que exercem a mesma função {objeto direto}. Comente a diferença de sentido entre elas. º Sei que ele será despedido. º Não sei se ele será despedido. 7-No caderno classifique as orações destacadas. a) A verdade é que ele não gosta do emprego. b) O chefe fez questão de que nos retirássemos. c) Ele sempre queria a mesma coisa: que a sua presença fosse notada. d) Ninguém duvida de que ele seria demitido. e) Sabemos que o senhor é um funcionário esforçado. 8- Reescreva no caderno os períodos composto abaixo, transformando-os em períodos simples. Para isso, substitua a oração subordinada destacada por um substantivo. Faça as modificações necessárias. Observe o exemplo: Queria que ajudasses. ----- Queria a tua ajuda. a) b) c) d) e) Era urgente que diretor chegasse. Ninguém temia que o professor saísse. A torcida esperava que o time reagisse. Percebeu que os homens oprimiam. Necessitávamos de que os amigos nos auxiliassem. Atividade exposta no capítulo 6, p. 97-98, Projeto Radix - 9º ano Ensino Fundamental, de Terra e Cavallete, 2009. Ao examinar tudo que foi proposto pelos autores do LD, na atividade (6), todavia, verificamos que tal atividade segue o mesmo parâmetro das anteriores, não 91 acontecendo nos exercícios a interação entre estudo do texto e da gramática. Essa situação fica constatada quando vemos, nas questões de (1) a (8), em que nenhuma delas foi apresentado um texto para estudo, somente orações ou períodos isolados. Nessa atividade, a maioria das questões apresenta uma listagem de orações e períodos para serem respondidos pelos alunos, como podemos constatar nos exemplos das questões (5) e (7): 5-Nos enunciados a seguir, substitua o trecho em destaque por uma oração, indicando a função sintática que ela exerce. a) Esperava aumento de salário. b) Necessitava do apoio da empresa. c) Seu desejo era um aumento de salário. d) É indispensável a contratação de outro funcionário. e) Havia a necessidade da substituição do chefe. 7-No caderno classifique as orações destacadas. a) A verdade é que ele não gosta do emprego. b) O chefe fez questão de que nos retirássemos. c) Ele sempre queria a mesma coisa: que a sua presença fosse notada. d) Ninguém duvida de que ele seria demitido. e) Sabemos que o senhor é um funcionário esforçado. Esse tipo de exercício pode ser definido como uma tarefa com repetição, que não introduz elementos novos no processo de aprendizagem, apenas fixa conteúdos através de um estudo mecânico. No pensar de Givón (1995), a língua (e a gramática) não pode ser descrita nem explicada como um sistema autônomo. Vemos assim, que é preciso inserir o seu estudo dentro da funcionalidade, como propõe o Funcionalismo NorteAmericano, pois essa vertente advoga que a estrutura da língua não pode ser proveitosamente estudada, sem referência à sua função comunicativa (Cf. FURTADO DA CUNHA, 2008, p.163). Dessa maneira as análises linguísticas que adotam essa orientação funcionalista trabalham diretamente sobre o postulado básico – a língua é uma estrutura maleável, sujeita às pressões do uso e constituída de um código parcialmente arbitrário. Assim, significa dizer que a gramática é um “sistema adaptativo” (DU BOIS, 1985), uma “estrutura maleável” (BOLINGER, 1977) e emergente (HOPPER, 1987), que se encontra num processo contínum de variação e 92 mudança para atender a necessidades cognitivas e/ou interacionais de seus usuários. (FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007, p.17). Partindo desse pressuposto, compreendemos que a atividade proposta, na questão (8), Não está de acordo com a proposta de reescrita que pode ser encarada positiva, porque não sugere encaminhamentos cabíveis para o aluno desenvolvê-la, ou seja, limita a reescrita somente a orações. Vejamos: 8- Reescreva no caderno os períodos composto abaixo, transformando-os em períodos simples. Para isso, substitua a oração subordinada destacada por um substantivo. Faça as modificações necessárias. Observe o exemplo: Queria que ajudasses. ----- Queria a tua ajuda. f) g) h) i) j) Era urgente que diretor chegasse. Ninguém temia que o professor saísse. A torcida esperava que o time reagisse. Percebeu que os homens oprimiam. Necessitávamos de que os amigos nos auxiliassem. Sabemos que a atividade de reescrita mobiliza inúmeras habilidades, nos alunos, porque envolve pontuação, concordância, aspecto da coerência e coesão do texto, o que amplia as possibilidades de interpretação e uso da linguagem, não indo, portanto, da gramática ao texto, mas ao contrário, do texto a gramática, pois é na prática constante de escuta, leituras e produção de textos orais e escritos, que o aluno, aprende sobre os múltiplos aspectos da língua. (Cf. BRASIL, 1998). Antunes (2007) postula que nas aulas de língua a nomenclatura gramatical deve ter uma função apenas suplementar. Entendemos com isso que, o saber metalinguístico deve está integrado aos outros saberes, apesar da nomenclatura também ter sua importância no uso da língua. Entretanto, saber gramática vai muito além de saber somente essa nomenclatura. Saber gramática é saber utilizar os diferentes recursos linguísticos em situações diversas. O que também é um dos postulados do Funcionalismo Norte-Americano. Outro ponto a ser observado e comentado nessa atividade é que ela trata da classificação das orações, dos elementos sintáticos, objeto direto ou indireto. Como exemplo, apresentamos a atividade (2): 2- Observe estas frases do texto: 93 “Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe.” “Mas desejo requerer minha aposentadoria.” Indique, no caderno, a função sintática das orações “a sorrir”, “a agradecer ao chefe” e “requerer minha aposentadoria. Nesse exercício, o LD trata da classificação do objeto direto e indireto, tendo como parâmetro somente o verbo. Percebemos uma contradição com as ideias dos autores norte-americanos, como a transitividade fornecida pelos teóricos norteamericanos, principalmente por Givón, Hopper, Thompson, que é vista de uma forma que privilegia não somente uma propriedade categórica do verbo, mas vai muito além. Ela extrapola o conceito de transitividade da gramática tradicional, entendendo-a como uma propriedade contínua escalar da oração como um todo. A transitividade não pode ser entendida como uma propriedade categórica do verbo, como defende a gramática tradicional, mas como uma propriedade contínua, escalar (ou gradiente) da oração como um todo. É na oração que podemos observar as relações entre o verbo e seu(s) argumento(s) – a gramática da oração (Cf. FURTADO DA CUNHA; SOUZA, 2007). 5.2 Confrontando as atividades 1, 2, 3, 4, 5, 6: algumas constatações. As tabelas expostas no que se segue, apresenta um confronto dos dados apresentados nas seis atividades analisadas, para tanto, criamos as terminologias das tabelas 1, 2 e 3, para melhor explicar os resultados nos quais chegamos, com referência ao estudo da AL no Livro do 9º ano do ensino Fundamental II. 94 TABELA 1 ATIVIDADES Apresentou questões partir Apresentou a questões de partir Apresentou a questões Apresentou a questões de partir gêneros fragmentos textuais do texto da extras completos UN partir fragmentos a períodos ou orações, ou palavras soltas inserido nos exercícios ATIVIDADE 1 x x ATIVIDADE 2 x x ATIVIDADE 3 x x ATIVIDADE 4 x x ATIVIDADE 5 x x ATIVIDADE 6 x x TABELA 2 ATIVIDADES Expõe lista de Apresentou Mostrou orações ou exemplos a proposta períodos serem reescrita seguidos texto Mostrou de proposta de reescrita apenas orações períodos ATIVIDADE 1 ATIVIDADE 2 ATIVIDADE 3 x x ATIVIDADE 4 X x x ATIVIDADE 5 x x x ATIVIDADE 6 x x x de de ou 95 TABELA 3 ATIVIDADES Apresentou o Explorou Apresentou estudo da conteúdos proposta gramática gramaticais integrada ao fora do contexto texto de reflexão da língua em uso, ou seja, AL ATIVIDADE 1 x ATIVIDADE 2 x ATIVIDADE 3 x ATIVIDADE 4 x ATIVIDADE 5 x ATIVIDADE 6 x Mediante os dados observados, nas tabelas, podemos constatar que a tabela 1 mostra que, na maioria das atividades, as questões foram formuladas a partir dos textos das unidades, cinco delas. Três atividades trouxeram outros fragmentos e três foram elaboradas questões com palavras ou frases soltas. Apenas uma atividade expõe um texto completo. Já na tabela 2, os dados expostos evidenciam que três das atividades pedem para o aluno seguir exemplos e mostra listagem de orações ou períodos, e a maioria apresentou proposta de reescrita, mas só de orações e períodos, deixando assim de utilizar o texto como um todo, usando-o apenas como pretexto. A tabela 3 deixa bem evidente o estudo dos conteúdos gramaticais fora do contexto. Diante dos quadros, cabe enfatizarmos os seguintes pontos: o Nas análises, observamos que todas as atividades apresentaram frases e textos fora do contexto. Os autores do funcionalismo norte-americano, Givón (1995), Hopper (1980), Trauggot (1993), dizem que frases que estão fora do contexto não acrescentam em nada os conhecimentos dos alunos. Por isso, Pezzatti (2007, p.168) diz que toda explicação linguística deve ser buscada 96 na relação entre linguagem e uso, ou na linguagem em uso no contexto social. o Verificamos ainda, que os fragmentos dos textos presentes nas unidades das seis atividades foram utilizados apenas para explorar as regras gramaticais, deixando de ser visto o texto como construtor de sentido e formador de opiniões. Para os PCNs (BRASIL, 1998) e o Funcionalismo Norte-Americano, nas aulas de língua, os alunos precisam compreender que a gramática está inserida nos textos e que, quando se elaborar textos orais e escritos está se utilizando dos recursos gramaticais. Os PCNs (1998, p.28) asseguram: “Assim, não se justifica tratar o ensino gramatical desarticulado das práticas de linguagem”. o Também não foi averiguado um estudo integrado entre texto e gramática, uma vez que as teorias atuais e os PCNs (BRASIL, 1998) colocam que deve haver um estudo interativo da língua; o Na atividade (3), constatamos questões em que propõe modelo a ser seguido. o As atividades pouco colaboram para a ampliação das competências linguísticas dos alunos, isto porque a gramática estudada ainda é uma estrutura fechada. Se a gramática é constituída, nos contextos específicos de uso da língua, para compreendê-la é preciso levar em conta a perspectiva discursivo-textual. “Buscamos, portanto, explicar a forma da língua a partir das funções que ela desempenha na comunicação”. (FURTADO DA CUNHA; TAVARES, 2007, p.19). o Em apenas uma atividade, foi utilizado outro gênero textual, além do gênero da unidade. Entretanto, também o estudo se restringe apenas à estrutura gramatical, não acontecendo à interação entre texto e gramática no exercício. A escola não pode criar, no aluno, a falsa e estéril noção de que falar e ler ou escrever não tem nada que ver com a gramática. (NEVES, 2000 p. 52). Sendo assim, vemos que os autores do LDP também devem adotar um ensino de gramática dentro de uma perspectiva textual, contextualizada, limitada por uma análise linguística dialética do processo de construção sóciohistórica da língua. Ressaltamos, portanto, que nas atividades de AL analisadas, observamos que as mesmas apresentam questões na maioria objetivas, em que encontramos enunciados com os verbos: copiar, ler, escrever, completar, responder, observar, 97 dentre outros. Detectamos apenas duas atividades (2), (6) (na questão 6 de cada UN) em que é solicitado que o aluno faça um comentário. Entretanto, esses comentários devem ser feitos apenas sobre a formação de palavras ou de relação estabelecida entre orações. No que se segue, apresentaremos alguns exemplos de alternativas em que são colocados verbos indicando comando, em que não sugere raciocínio dos alunos, tampouco amplia seus conhecimentos linguísticos. . Exemplos com o verbo copiar: “Copie a frase abaixo, eliminando os adjuntos adverbiais” (Atividade 4, p.62) “Copie os sujeitos e os termos que funcionam como predicativo no trecho abaixo”. (Atividade 4, p.62). Exemplos com o verbo ler: “Leia os versos a seguir e responda no caderno ao que se pede”. (atividade 3, p.45) “Leia”: “O trecho que você acabou de ler, do romance Vidas Secas, é um período composto. No caderno, reescreva-o delimitando as orações que o formam”. (atividade 3, p.45) Exemplos com o verbo escrever: “Escreva em seu caderno uma frase com um substantivo derivado do verbo destacado acrescido de um sufixo”. (atividade 1, p.17) “Escreva, no seu caderno, frases empregando as palavras que você formou”. (atividade 1, p.17) Exemplo com o verbo completar: “Complete no caderno, o sentido dos trechos abaixo com uma oração subordinada substantiva. A seguir, classifique as orações substantivas formadas”. (atividade 6, p.97-98) Exemplo com o verbo responder: Responda: a) A que classe de palavras pertence as palavras antes, agora e depois, no texto? b) Normalmente, a que classe elas pertencem? (atividade 2, p.32) Exemplo com o verbo observar: Observe o adjetivo, neste trecho (atividade 1, p. 17) 98 A partir das amostras apresentadas sobre os tipos de atividades propostas com verbos de comando, cabe então refletirmos sobre as afirmativas de alguns autores, procurando fazer uma relação com essas atividades. Atentemos para a afirmativa de Guedes (2006), quando diz que deve formarse leitor para formar leitores, deve dar a palavra ao aluno para que ele conte sua história contida e não contada. Vemos nitidamente a contradição entre a afirmativa e as atividades propostas, em que simplesmente direciona para a repetição mecânica. Já Fregonesi, apud. VOLMER; RAMOS (2009) afirma que nos anos 60, havia dois tipos de materiais didáticos: uma antologia com coletânea de textos sem indicações metodológicas nem exercícios, e uma gramática, com exercícios elaborados, especialmente para os alunos. Apesar do contexto vigente não apresentar mais essa divisão, detectamos que os procedimentos, na maioria das vezes, são os mesmos. Por isso o professor, de acordo com Goméz (1998) é visto como um artista profissional, que tem de desenvolver sua sabedoria e sua criatividade em sala de aula. Muitas vezes, redimensionando as atividades do LD que não traz contribuição para o aprendizado do aluno, para que a pratica educativa seja parte integrante das relações sociais e das formas de organizar o mundo. Situação frisada por Libâneo (1994). De um modo geral, entendemos que o ensino de Língua Portuguesa deve sugerir aos discentes o estudo das inúmeras possibilidades de uso linguístico, uma vez que as formas linguísticas se renovam a cada momento da comunicação. Diante dessa realidade, o ensino não deve ser artificial, e sim, real, com ênfase no funcionamento da língua. Isso pressupõe também uma mudança nos materiais didáticos. Neste caso, os LDPs. Isso pressupõe aulas planejadas a partir de práticas de AL, com isso entendemos que o LD tem um papel relevante nessa questão, porque esse é um dos materiais pedagógicos mais utilizados pelos professores, em sala de aula, sendo assim tem grande influência no sucesso ou insucesso do ensino aprendizagem. Diante da análise feita constatamos que as atividades que envolvem a gramática pouco contribui para o avanço significativo das competências e 99 habilidades dos falantes, porque elas ainda centram-se no estudo da regra pela regra, em que é dispensado o uso. 100 CONCLUSÃO Face ao exposto, podemos concluir ressaltando que buscamos produzir uma pesquisa científica favorável ao crescimento intelectual e profissional dos estudantes da área de Letras. Procuramos ainda possibilitar o avanço significativo na produção científica, na área da linguística, podendo impulsionar outros estudos sobre essa temática que, por sua vez, é extremamente importante para os estudos linguísticos, para os profissionais que trabalham com o ensino de língua portuguesa, enfim para todos interessados no assunto. Foi com a finalidade de estudar o LD do 9º ano de Língua Portuguesa, no Nível Fundamental, no tocante ao aspecto da gramática e, com o desejo de trazer valiosas contribuições para o ensino que esse trabalho foi idealizado e realizado. É por compreender o trabalho com a gramática, em sala de aula, como um fator relevante para que os alunos possam, ou não, conseguir sucesso, no desenvolvimento de suas habilidades e competências, que nos propusemos estudar as atividades de AL direcionadas pelo LD, tendo como base teórica o Funcionalismo Norte-Americano. Essa vertente teórica que traz propostas valiosas que podem ser adotadas no ensino de língua. Pois, o Funcionalismo excede a estrutura gramatical, indo buscar, na situação comunicativa e no contexto discursivo, os pressupostos centrais para seus estudos. Com essa finalidade os funcionalistas direcionam seus trabalhados com textos falados e escritos, observados no uso real, deixando assim de lado o estudo das frases soltas, criadas que, por sua vez, são dissociadas da interação. O LD, instrumento de análise da nossa pesquisa, também desempenha um importante papel, no processo de ensino-aprendizagem, estando no contexto do Ensino Fundamental caracterizado como um material pedagógico norteador da prática dos professores, por ser, na maioria das vezes, única referência do trabalho docente que leciona a disciplina de Língua Portuguesa do 6º ao 9º Ano, passando a assumir a função de definidor de estratégias de ensino. Sendo assim, entendemos que esse material está intrinsecamente ligado ao processo de formação e ampliação das competências e habilidades linguísticas dos alunos. Por isso, julgamos ser de grande importância nossa investigação. Com um olhar mais apurado sobre as atividades de AL do manual do 9º Ano, pudemos 101 avaliar a proposta do LD para esse nível escolar que, de acordo com os PCN (BRASIL, 1998), os alunos já devem estar proficientes, nos aspectos de leitura, escrita e gramática, uma vez que estão se preparando para ingressar no Ensino Médio. Com base nas atividades analisadas, pudemos ver que o estudo da gramática ainda tem a predominância de exercícios feitos a partir de modelos prontos, seguidos de exemplos a serem copiados, exigindo do aluno pouca capacidade para pensar, questionar e refletir sobre o sistema linguístico, porque os textos utilizados, nos exercícios, são na sua maioria explorados somente a estrutura, sendo dispensado o seu sentido. Desse modo, são usados apenas como pretexto para o estudo das regras e normas da gramática normativa. Vimos com bastante frequência a exposição de frases e recortes de textos descontextualizados que, por sua vez, dificulta a construção de sentido e inferências por parte dos estudantes. Nas seis atividades analisadas, percebemos que não há um estudo integrado entre o texto e conhecimentos gramaticais, pois a estrutura é explorada fora do estudo do texto. Essa realidade fica bem explícita quando, no livro, é colocado um exercício para estudar o sentido do texto, intitulada “expressão escrita” e outra para estudar regras gramaticais, intitulado “atividades”. Sabemos que os estudos linguísticos não se esgotam na forma estrutural, mas vai além, pois a língua, na sua funcionalidade, heterogeneidade e no contexto social, torna-se complexa, por isso, faz-se necessário um estudo que integre forma e função, que leve em consideração as funções externas do sistema linguístico. Essa realidade fica a desejar no livro pesquisado. Um dos postulados principais do Funcionalismo é que a língua não deve ser analisada como um sistema autônomo, a serviço dos falantes (GIVÓN, 1995), mas afetada pelo uso que os falantes fazem dela no contexto das interações comunicativas, pois são essas interações comunicativas que permitem descobrir as regularidades que caracterizam a gramática da língua. Esse pensamento e pressuposto da corrente funcionalista norte-americana, também, não foi detectado nas seis atividades analisadas. Isso mostra um distanciamento entre a gramática proposta pelos estudos da corrente funcionalista norte-americana e a gramática propostas nos exercícios averiguados no livro da coleção Radix. 102 Tudo isso deixa claro que o trabalho com a gramática deve ser repensado, no manual didático investigado, porque o contexto vigente exige que o ensino de língua seja feito com a predominância da língua em uso, para que assim tenhamos um ensino mais produtivo para os alunos, levando-os ao avanço de suas competências e habilidades linguísticas. Nesse sentido, o livro trabalhado pelo professor precisa trazer encaminhamentos que colabore num fazer pedagógico mais interativo, que mobilize a língua na sua multifuncionalidade, porque as pessoas, quando falam, não têm a liberdade de inventar as palavras que pronunciam em qualquer lugar ou de qualquer jeito, falam conforme as regras da gramática de sua própria língua, isso porque toda língua tem seu conjunto de regras, uma vez que não existe língua sem gramática. (Cf. ANTUNES, 2003). É, exatamente, essa gramática oriunda da comunicação que fica como sugestão para ser explorada nos livros usados pelos alunos nas aulas de língua portuguesa. Adotando, pois, essa prática o ensino deve alcançar o seu objetivo mais pertinente, que é desenvolver a competência comunicativa do falante, ou seja, possibilitar que ele seja capaz de utilizar, de modo adequado, as variedades da língua em que ele não tenha competência ou tem competência limitada, levando-o a usar adequadamente cada vez mais um número de recursos disponíveis na língua para a produção de efeitos de sentido. Mediante as considerações feitas sobre análise linguística, baseados nas amostras analisadas, constatamos que a maioria das questões do LD, propõe simplesmente o ensino de gramática normativa aos alunos de forma não lúdica e tradicional. Há, desse modo, uma prioridade em exercícios cuja tradição determina o ensino da Gramática Normativa como foco principal, muitas vezes, deixando de lado o desenvolvimento das habilidades de ler e escrever, imprescindíveis à formação do aluno. Essa realidade sugere um convite à mudança na forma de tratar a gramática nesse instrumento pedagógico (LD), abandonando, assim, o ensino prescritivo em detrimento de práticas que focalizem a reflexão sobre a língua da qual os alunos são falantes, buscando assim priorizar a AL. Essa prática que pode levar os alunos a operacionalizar os conhecimentos linguísticos e, por meio dessa operacionalização, se tornarem, de fato, leitores e escritores. 103 Diante de tudo isso, fica visível a necessidade de um trabalho, no processo de ensino-aprendizagem da língua, que proporcione aos alunos analisar as unidades gramaticais, em suas múltiplas possibilidades e que as analisem onde, de fato, as utilizam, isto é, em textos. Também reconhecemos que é de suma importância que os conteúdos ou tópicos gramaticais eleitos como alvo de estudo, nas escolas, bem como no LD, correspondam às necessidades específicas dos alunos, em cada nível ou turma que se encontrem, favorecendo, desse modo, o refinamento de sua competência comunicativa oral e escrita. Segundo os princípios teóricos da orientação funcionalista, a gramática é múltipla. Através da gramaticalização, as formas mudam e adquirem novas funções, por isso é essencial que nem formas, nem funções sejam recortadas e estudadas de forma estanque, mas sempre inter-relacionadas, vivenciadas e investigadas pelos próprios alunos. Adotando essa postura chegamos a um ensino de mais qualidade, com alunos mais capacitados para usar a língua em diferentes situações comunicativas. Assim, vale lembrarmos que cabe ao professor, aos materiais didáticos pedagógicos e a escola de um modo geral, abordar o uso dos itens gramaticais, em suas diferentes funções, estimular a produção de gêneros textuais variados, orais e escritos, formais e informais e, além disso, possibilitar a reflexão e desafiar o senso crítico dos alunos, com a finalidade formar usuários competentes da língua. Acreditamos ter realizado uma pesquisa significativa, porque apresentamos uma discussão pertinente sobre dois eixos temáticos, extremamente, questionados no contexto educacional: o LD e a gramática. Esperamos ter fomentado o desejo, em outros pesquisadores, para realizar estudos envolvendo a temática em questão, em que tenha como foco a AL no LD, tanto no nível Fundamental como no nível Médio. Uma vez que o LD ainda deixa muitas lacunas no tocante aos exercícios que envolvem os estudos gramaticais, pois algumas pesquisas apresentam como resultado ainda no LD um estudo da gramática voltado para o tradicionalismo, em que não tem o texto como ponto de partida para a exploração da estrutura gramatical. Esse fato, acreditamos ser uma questão que pode trazer muitas inquietações, e, por isso, pode ser estudado em pesquisas futuras, que podem 104 abordar questionamentos do tipo: como o texto utilizado no LD está contribuindo para o estudo da gramática? A AL já está incorporada ao LD no nível Fundamental e Médio? Sabemos que há inúmeras questões a serem estudadas, para que possamos trazer verdadeiras contribuições para o ensino de Língua Portuguesa. E, assim, haja uma melhoria no trabalho do professor em sala de aula, no que se refere à exploração da gramática. Vale ressaltar que esse estudo não está terminado, visto que, no universo do ensino e os aspectos enfocados, sempre haverá questões a inquietar, levando-nos a buscar soluções para as curiosidades e inquietações surgidas. 105 REFERÊNCIAS APARÍCIO. A. S. M. A análise linguística no livro didático: contribuições para melhor compreensão do trabalho realizado em sala de aula por professores que estão buscando inovar sua prática de ensino de gramática. Tese de Doutorado. Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). 2009. Modo de acesso: http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/volumes/38/EL_V38N2_06.pdf ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007. ANTUNES, I. Aula de português: Encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003. BAGNO, M. Dramática da língua portuguesa: tradição gramatical, médio exclusão social. São Paulo: Loyola, 2001. BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. 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