UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CURSO DE TURISMO Andréia Rocha Feitosa TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL: um estudo sobre as contribuições do marketing social para a inclusão das pessoas com deficiência no usufruto do turismo no Brasil Natal 2010 Andréia Rocha Feitosa TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL: um estudo sobre as contribuições do marketing social para a inclusão das pessoas com deficiência no usufruto do turismo no Brasil Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação de Graduação em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Turismo. Orientadora: Lissa Valéria F. Ferreira, D. Sc. Natal 2010 Andréia Rocha Feitosa TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL: Um estudo sobre as contribuições do marketing social para a inclusão das pessoas com deficiência no usufruto do turismo no Brasil monografia apresentada à Coordenação de Graduação em Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para a obtenção do título de Bacharel em Turismo. Natal, 18 de junho de 2010. Banca Examinadora: _______________________________________________ Prof.ª Lissa Valéria Fernandes Ferreira, D.Sc. Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte _______________________________________________ Prof.ª Patrícia Daliany Araújo do Amaral, M. Sc. Examinador( a) Universidade Potiguar _______________________________________________ Prof.ª Andréa Virgínia Sousa Dantas, M. Sc. Examinadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte AGRADECIMENTOS A Deus por ter me dado um corpo são para me dedicar aos dias e noites de estudo e paz para permitir minha concentração e dedicação nesta tarefa. A minha família e aos meus amigos, que sempre me deram forças e estímulo nos momentos mais difíceis da minha vida acadêmica. Em especial, aos meus pais, por terem me oferecido uma educação de qualidade e ao meu esposo, que em todas as ocasiões deste estudo foi a figura que mais me deu estímulo e motivação para enfrentar os obstáculos e seguir em frente. Á minha orientadora, Lissa Ferreira, por ter me apoiado e confiado inteiramente em meu potencial, sempre estando pronta a me ajudar, à coordenadora do Curso de Turismo, Andréa Virgínia Dantas, pela sua postura crítica, porém construtiva, contribuindo, desta forma, para o meu engrandecimento pessoal e profissional; bem como à querida professora Patrícia Dalyane por ter aceitado compor à banca examinadora. Em outro momento, agradeço a todos os entrevistados, pelo comprometimento com o presente estudo, mesmo tendo uma ampla agenda de compromissos a seguir. Agradeço a Sra. Cristiane Ecker da equipe técnica da Avape por ter me cedido material sobre o tema, a Sra. Mosana Cavalcante, técnica da SETUR-PE por ter me enviado a Cartilha Pernambuco sem Barreiras, a vereadora de São Paulo, Mara Gabrili e sua assessora, Adriana Milani, por terem me repassado contatos de nomes influentes para compor a amostra, ao Sr. Miguel Fontes, por ter me esclarecido dúvidas pertinentes aos conceitos de marketing social. Enfim; o meu muito obrigada a todos que contribuíram de alguma forma para a realização desta pesquisa tão importante para o desenvolvimento do turismo acessível no Brasil. “Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente, ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro”. José Saramago FEITOSA, Andréia Rocha. TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL: um estudo sobre as contribuições do marketing social para a inclusão das pessoas com deficiência no usufruto do turismo no Brasil. 2009.150f. Monografia (Graduação em Turismo) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal/RN. RESUMO As pessoas com deficiência ainda enfrentam sérios obstáculos no combate à exclusão social no turismo. A inacessibilidade em infra-estrutura dos estabelecimentos turísticos somados à falta de atendimento adequado representam os principais obstáculos ao livre direito de ir e vir com autonomia e dignidade destas pessoas. Com base nesses apontamentos, o objetivo deste trabalho foi retratar, a partir de diferentes percepções (poder público e terceiro setor), como se encontra o quadro atual do turismo acessível no Brasil e, principalmente, investigar se as técnicas de mudanças comportamentais utilizadas pelo marketing social podem mudar o comportamento dos empreendedores do turismo em face da situação de descaso quanto à falta acessibilidade em seus serviços. Para isto, foi desenvolvida uma pesquisa com abordagem qualitativa, exploratória e de caráter descritivo; realizada através de um questionário aberto direcionado a doze especialistas nas áreas de inclusão social e/ou turismo. O resultado das análises revelou que mesmo de forma lenta, as políticas públicas em turismo inclusivo já estão se tornando mais atuantes, entretanto, no que concerne aos empreendedores do turismo, estes ainda não despertaram para as necessidades, gostos e preferências das pessoas com deficiência enquanto consumidores turísticos. Diante disto, comprovou-se a concordância pela aplicabilidade do marketing social como forma de atenuar ou até mesmo reverter este quadro na medida em que com suas técnicas de transformação social, os empreendedores do turismo poderão se sensibilizar e perceber o quanto é gratificante a adoção de uma causa que contemple a valorização das diferenças como fator condicionante para a qualidade de vida de toda uma comunidade. Palavras Chave: Turismo; Inclusão Social; Pessoas com Deficiência; Marketing Social. FEITOSA, Andréia Rocha. TOURISM AND SOCIAL INCLUSION: a study of the social marketing contribuies for inclusive of people with disabilities in the enjoyment of tourism in Brazil. 2009.152f Monograph (Graduation in Tourism) – North Rio Grande Federal University, Natal/RN ABSTRACT People with disabilities still face serious obstacles in the fight against social exclusion in tourism. The inaccessibility of infrastructure in the tourism establishments added to the lack of adequate services represent the main obstacles to the free right to come and go with independence and dignity of these people. Based on these notes, the aim was to portray, from different perceptions (public and third sector), as is the current frame of accessible tourism in Brazil, and especially to investigate whether the behavioral change techniques used by marketing can change the social behavior of tourism entrepreneurs in the current situation of neglect about the lack accessibility in its services. For this, we developed a survey with a qualitative, exploratory and descriptive; performed through an open questionnaire directed to twelve experts in the areas of social inclusion and / or tourism. The results of analysis revealed that even in a slow, public policies on inclusive tourism are already becoming more active, however, with regard to tourism entrepreneurs, they have not yet awakened to the needs, tastes and preferences of people with disabilities as tourist consumers. Given this, it proved the agreement by the applicability of social marketing as a way to mitigate or even reverse this situation in that with their techniques of social transformation, the tourism entrepreneurs may be sensitive and realize just how rewarding the adoption of a cause that encompasses valuing differences as risk factor for the quality of life of an entire community. Keywords: Tourism; Social Inclusion, People with Disabilities, Social Marketing. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01: As variáveis da exclusão social................................................................13 Figura 02: Tratamento destinado às pessoas com deficiência ao longo dos anos....18 Figura 03: Modelo Caritativo da Deficiência e as idéias associadas .........................21 Figura 04: Modelo Médico da Deficiência e as idéias associadas.............................21 Figura 05: Modelo Social da Deficiência e as idéias associadas ..............................22 Figura 06: A deficiência condicionada pelas barreiras físicas e de atitude................23 Figura 07: As dimensões da sustentabilidade no turismo. ........................................24 Figura 08: As dimensões – instrumento da sustentabilidade social. .........................25 Figura 09: Os diferentes tipos de acessibilidade. Fonte: (Elaboração própria, 2010)29 Figura 10: A diferença entre o marketing social e o marketing de causas sociais. ...35 Figura 11: A diferença entre marketing social e merchandising social......................37 Figura 12: Campanha de mudança cognitiva, induzindo práticas de higiene............39 Figura 13: Campanha de mudança cognitiva, demonstrando os perigos da poluição ao meio ambiente. .....................................................................................................39 Figura 14: Campanha de mudança ação, incentivando quanto à doação de órgãos....39 Figura 15: Campanha de mudança ação, alertando quanto aos cuidados com a mama. .......................................................................................................................39 Figura 16: Campanha de mudança comportamento, alertando os perigos da ingestão de álcool durante a gravidez.......................................................................................40 Figura 17: Campanha para mudança de comportamento, indicando sugestões de convívio com as pessoas com deficiência. ..................................................................40 Figura 18: Campanha de mudança valor, condenando a prática do aborto. ................41 Figura 19: Campanha de mudança valor, defendendo a aceitação do aborto na sociedade...................................................................................................................41 Figura 20: Campanha para mudança de valor, mostrando a importância da acessibilidade para a qualidade de vida das pessoas com deficiência. ........................41 Figura 21: Cronologia das políticas públicas com vistas à inclusão social................51 Figura 22: Cronologia das políticas públicas inclusivas no turismo segundo o Sr. Romeu Sassaki. ........................................................................................................55 Figura 23: Percepção dos entrevistados quanto ao interesse do Estado por políticas públicas inclusivas ....................................................................................................57 Figura 24: Percepção dos entrevistados quanto aos fatores que exercem maior influência durante a escolha de um destino turístico por uma PCD. .........................64 Figura 25: As cidades mais acessíveis do país.........................................................65 Figura 26: Motivos do desinteresse da iniciativa privada quanto aos investimentos em acessibilidade turística. Fonte: Dados da pesquisa, 2010...................................67 Figura 27: Os benefícios sociais e econômicos gerados aos destinos turísticos ......70 Figura 28: Conclusões sobre a aplicabilidade do marketing social para a valorização da acessibilidade turística no Brasil. .........................................................................74 Figura 29: Etapas fundamentais na elaboração de um plano de marketing social....75 Figura 30: Segmentação dos Públicos......................................................................76 Figura 31:Relações existentes no Mercado Social....................................................77 Figura 32: Fluxo da Cadeia Produtiva do Turismo(BRASIL, 2009, p.14) .................78 Figura 33: Pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida ..............................79 Quadro 01: Acessibilidade arquitetônica dos estabelecimentos turísticos. ...............31 Quadro 02: Tipos de deficiência e seus devidos conceitos.......................................80 Quadro 03: População com deficiência no Brasil ......................................................81 Quadro 04: População com deficiência por região do país. ......................................81 Quadro 05: População total das PCDs por estado da federação ..............................82 Quadro 06: Os 4 P’s do Marketing Social..................................................................87 Quadro 07: Os 4 P’s do Marketing Social e as PCD no turismo................................88 Quadro 08: Questionário Definitivo - pós-teste e suas finalidades. ...........................49 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABAV – Associação Brasileira de Agências de Viagem ABETA – Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura AVAPE – Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde CONADE – Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência CORDE – Coordenadoria para Integração das Pessoas com Deficiência IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Mtur – Ministério do Turismo ONU – Organização das Nações Unidas OMT – Organização Mundial do Turismo OMS – Organização Mundial da Saúde ONG – Organização não Governamental PCD – Pessoas com deficiência SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio ao Empreendedor e Pequeno Empresário SIA – Símbolo Internacional de Acessibilidade SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................13 1.1 Problemática...............................................................................................13 1.2 Justificativa.................................................................................................15 1.3 Objetivos .....................................................................................................17 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS.........................................................................18 2.1 O Tratamento Destinado às Pessoas com Deficiência ao Longo dos Anos ................................................................................................................18 2.2 O Turismo, Inclusão Social e Pessoas com Deficiência.........................23 2.2.1 A acessibilidade no processo de inclusão social............................................. 29 2.3 Considerações sobre o Marketing Social ................................................32 2.3.1 A evolução do conceito..........................................................................32 2.3.2 As peculiaridades do marketing social...................................................33 2.3.3 A diferença entre os conceitos relacionados..........................................34 2.3.4 O comportamento humano em face das mudanças sociais...................37 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .........................................................42 3.1 Caracterização do Estudo .........................................................................42 3.2 População e Amostra.................................................................................42 3.3 Instrumentos da Pesquisa.........................................................................45 3.4 Coleta dos Dados .......................................................................................49 3.5 Análise dos Dados .....................................................................................49 4 RESULTADOS .................................................................................................51 4.1 Diagnóstico das Políticas Públicas Inclusivas no Brasil........................51 4.2 O Brasil como Destino Turisticamente Acessível às PCDs....................57 4.2.1 Regiões mais promissoras.....................................................................58 4.2.2 Barreiras que impedem o desenvolvimento...........................................59 4.2.3 A iniciativa privada e o desinteresse pela acessibilidade turística .........65 4.3 Os Benefícios Sócio-Econômicos Gerados aos Destinos Acessíveis ..68 4.4 O Marketing Social e suas Contribuições ao Turismo Acessível ..........71 4.5 Construindo um Plano de Marketing Social com foco na Inclusão das Pessoas com Deficiência no Turismo ...................................................75 4.5.1 Definição dos objetivos da causa social pretendida...............................76 4.5.2 Segmentação dos públicos ....................................................................76 4.5.3 Público-alvo: empreendedores do turismo.............................................78 4.5.4 Análise da situação - estudo da demanda .............................................79 4.5.5 Análise Concorrencial – exemplos a serem seguidos............................83 4.5.6 As Variáveis Estratégicas – Os 4Ps do marketing social.......................86 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................89 REFERÊNCIAS ...................................................................................................92 APÊNDICES ........................................................................................................99 APÊNDICE A: Questionário da pesquisa de campo (fase de pré-teste) ..........100 APÊNDICE B: Questionário da Pesquisa de Campo (fase de pós-teste) ........102 APÊNDICE C: Questionário Eletrônico de Andréa Schwarz ............................104 APÊNDICE D: Questionário Eletrônico de Cristiane Ecker ..............................106 APÊNDICE E: Questionário Eletrônico de Dadá Moreira.................................108 APÊNDICE F: Questionário Eletrônico de Mara Gabrili ...................................111 APÊNDICE G: Questionário Eletrônico de Mosana Rodrigues Cavalcanti ......114 APÊNDICE H: Questionário Eletrônico de Rebecca M. Nunes Bezerra ..........116 APÊNDICE I: Questionário Eletrônico dos Representantes da CORDE/RN....118 APÊNDICE J: Questionário Eletrônico de Ricardo Shimosakai .......................120 APÊNDICE K: Questionário Eletrônico de Romeu Kasumi Sassaki ................123 APÊNDICE L: Questionário Eletrônico de Sáskia Freire Lima de Castro.........128 APÊNDICE M: Questionário Eletrônico de Sávio Vieira Ramos ......................131 APÊNDICE N: Questionário Eletrônico de Viviane Panelli Sarraf ....................134 ANEXOS............................................................................................................137 Anexo A: Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência..138 Anexo B: Dicas de Relacionamento com as Pessoas com Deficiência............143 Introdução 1 INTRODUÇÃO 1.1 Problemática Mesmo diante de um quadro de democracia avançada no qual pressupõe o envolvimento de todos os atores sociais nas questões que versam sobre saúde, alimentação, trabalho, educação, habitação e, até mesmo, das necessidades que, embora não sendo básicas, promovem satisfação pessoal e qualidade de vida; as pessoas com deficiência1 ainda enfrentam sérios desafios no combate à exclusão social. No Brasil, a grande maioria [...] das pessoas com deficiência tem sido excluída de todos os setores da sociedade, sendo-lhes negado o acesso aos principais benefícios, bens e oportunidades disponíveis às outras pessoas em todas as áreas de atividade, tais como educação, saúde, mercado de trabalho, lazer, desporto, turismo, artes e cultura. (SASSAKI, 2004) De acordo com o Atlas da Exclusão Social no Brasil, em 2000, dos 170 milhões brasileiros, 47,3%, encontra-se em situação de exclusão social. Este número levou em consideração, variáveis decorrentes de ações isoladas ou combinadas dos indicadores da “velha exclusão”, como também, da “nova exclusão” (POCHMANN e AMORIM, 2003). VELHA Analfabetismo Analf. Pobreza Funcional Famílias Preconceito migrantes e Violência numerosas Desemprego NOVA EXCLUSÃO SOCIAL Figura 01: As variáveis da exclusão social 1 Neste trabalho, pessoas com deficiência será o termo adotado para se referir a este público, uma vez que, as próprias PCDs vêm ponderando que elas não são portadoras de deficiência (PPDs). A palavra "portadora" sugere uma agregação à pessoa, assim a deficiência passa a ser um detalhe da pessoa. © Andréia Rocha Feitosa 13 Introdução Fonte: (POCHMANN e AMORIM, 2003). Elaboração própria. Diante disto, é válido ressaltar que o quesito pobreza (baixa renda) já não é mais o único fator preponderante para a exclusão de um indivíduo na sociedade. O preconceito e a apartação social também são condicionantes para este quadro. Embora relacionados, e por vezes de forma muito estreita, poderá haver casos no qual haja exclusão social sem que, com isso, ocorra necessariamente pobreza. É o caso das pessoas com deficiência que são excluídas não por sua capacidade de renda, mas sim, pelas limitações impostas pela estrutura social ao longo da vida. A pessoa pode ter escolaridade, alimentação, mas não ter emprego. Ou mesmo, ter escolaridade, um emprego onde ganha um salário mínimo e ainda assim, não poder se alimentar adequadamente - exemplificou Em muitos casos, há cidadãos que se encontram em situação de emprego (formal ou informal), são alfabetizados, tem acesso a alimentação, mas não possuem perspectivas de alcançar melhorias na sua condição social e de qualidade de vida. “Os indicadores da exclusão, hoje, são mais complexos”, afirmou o acadêmico (POCHMANN, 2003 apud UECHI, 2009) Com base nestes pressupostos, discute-se neste trabalho, a exclusão das pessoas com deficiência nas experiências turísticas que, de certa forma, é condicionada pela falta de compromisso dos empreendedores do turismo no que tange aos investimentos em acessibilidade arquitetônica (estruturas físicas) e atitudinal (estrutura das atitudes); atributos estes, indispensáveis na construção de um turismo que contribua para a qualidade de vida, no qual as pessoas com deficiência tenham acesso a serviços turísticos de qualidade e infra-estrutura adequada às suas limitações físicas ou sensoriais. O estudo também propõe ir mais além do que apontar o problema, ou seja, estudo busca identificar meios que possa solucioná-lo ou pelo menos amenizá-lo. Mas, como mudar esta conduta de descaso? Como alterar o comportamento dos empreendedores do turismo quanto a esta questão? Surge então o marketing social que pode ser entendido como uma ampliação do conceito de troca estabelecida pelo marketing tradicional (consumo de bens comerciais x dinheiro), ou seja, as técnicas utilizadas para vender produtos e serviços; no marketing social, são utilizadas para vender idéias, ou seja, induzir voluntariamente mudanças de valores e comportamento em um determinado público alvo, que neste caso, representam os empreendedores do turismo no Brasil. © Andréia Rocha Feitosa 14 Introdução É o que confirma Ferreira (2004, p.23) quando define as características estabelecidas no marketing social: Como filosofia é uma postura mental, uma atitude, uma forma atual de se conceber a função comercial inserida na relação de troca por parte da empresa ou entidade que oferece seus produtos ao mercado (...), como técnica, o marketing é o modo específico de executar ou levar a cabo a relação de troca (grifo nosso), que consiste em identificar, criar, desenvolver e servir a demanda. (FERREIRA, 2004, p.23) Enfim, o escopo deste estudo, além de apresentar o quadro atual que se encontra o turismo para as pessoas com deficiência; propõe a utilização da gestão de marketing social como forma de mitigar os entraves que impossibilitam as PCDs desfrutar das experiências turísticas com autonomia e dignidade Considerando estes apontamentos, e a relevância da relação marketing / turismo /inclusão social aqui apresentada, o tema central do estudo constitui-se no seguinte questionamento: As estratégias de marketing social podem ser utilizadas, pelo poder público, como forma de sensibilizar os empreendedores do turismo quanto ao compromisso pela acessibilidade e inclusão social? 1.2 Justificativa O interesse por estudar este referido assunto, vem do fato de que, ainda há enraizado na sociedade brasileira certo descaso no que se refere ao acesso às experiências turísticas para as pessoas com deficiência. Mesmo com alguns avanços em políticas públicas na defesa dos direitos deste público, o Brasil ainda carece de ações mais conjuntas entre poder público e privado no sentido amenizar as perdas atribuídas a estas pessoas durante as épocas em que não havia a menção sobre inclusão social. É certo que a acessibilidade arquitetônica nos espaços públicos (calçadas adaptáveis, sinalização sonora, rampas de acesso, estacionamentos privativos, etc.) constitui fator preponderante para a autonomia destas pessoas no turismo, porém de nada adianta adaptações em espaços públicos se os empreendedores do turismo se fazem indiferentes e não se mobilizam conjuntamente com o Estado. © Andréia Rocha Feitosa 15 Introdução Os empreendedores do turismo devem perceber a atividade não somente como um setor de rentabilidade econômica, mas também, começar a direcionar os olhares para o homem e seu entorno, ou seja, pensar no turismo como um meio de desenvolvimento econômico, porém tendo como prioridade o desenvolvimento social. Enfim; um modelo que contemple a equiparação das oportunidades e o respeito às diferenças. Diante disto, presume-se que a situação de deficiência das PCDs é em parte condicionada pela falta de conscientização do empresariado, em adaptar a infraestrutura e o atendimento em seus estabelecimentos para as necessidades deste público. Estes, ainda não despertaram para lógica de que quando os interesses sociais sobrepõem-se aos interesses de mercado todos os lados se beneficiam com isto: o social; em virtude da promoção da qualidade de vida e o mercado; em decorrência da rentabilidade econômica estimulada pela valorização da imagem do destino. Conforme Fontes (2010), o marketing social pode ser perfeitamente utilizado como meio de sensibilizar os empreendedores do turismo quanto a esta problemática, apontando ainda as estratégias necessárias ao alcance de tal objetivo: O marketing social pode, com certeza, ser utilizado para conscientizar empreendedores do turismo. Na verdade, mais do que um conceito, o marketing social oferece um conjunto de técnicas de pesquisa, definição de marketing mix social, segmentação, levantamento de necessidades e demandas que contribuem para a estruturação de seus investimentos em temas ou causas sociais. Nesse caso, teríamos que definir claramente, por exemplo, qual o conhecimento, atitude e prática (CAP) que queremos e podemos transformar dos empreendedores do turismo. É necessário um levantamento inicial, com a utilização de técnicas de grupo focal ou pesquisa quantitativa, sobre o atual nível de “sensibilização” e 2 "conscientização” dos empreendedores do turismo. (informação verbal) Do ponto de vista acadêmico, a realização deste trabalho justifica-se por duas razões: Devido à escassez de estudos envolvendo o marketing social como indicador para solução de problemas sociais que envolvem a prática da atividade turística; Os resultados obtidos com o trabalho darão suporte para que o poder público do país possa atentar para essa alternativa de marketing como forma de sensibilizar o trade turístico no que concerne aos direitos das pessoas com deficiência. 2 Informação concedida por meio de correio eletrônico no dia 22 de abril de 2010. © Andréia Rocha Feitosa 16 Introdução 1.3 Objetivos 1.3.2 Geral: Investigar, a partir da ótica de especialistas na área de inclusão social e turismo, as reais contribuições do marketing social para a inserção das pessoas com deficiência nas experiências turísticas. 1.3.3 Específicos: Traçar um diagnóstico da situação das políticas públicas inclusivas no Brasil, sobretudo, na área do turismo; Analisar o quadro atual do turismo acessível no Brasil, suas potencialidades e dificuldades existentes; Elaborar uma prévia de plano de marketing social voltado para a inclusão das PCDs no usufruto do turismo no Brasil. © Andréia Rocha Feitosa 17 Pressupostos Teóricos 2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 2.1 O Tratamento Destinado às Pessoas com Deficiência ao Longo dos Anos Segundo Sassaki (2003) o tratamento destinado às pessoas com deficiência, ao longo dos anos, assumiu três diferentes fases, a saber: 1ª Fase (Segregação Social) 2ª Fase (Integração Social) 3ª Fase (Inclusão Social) Figura 02: Tratamento destinado às pessoas com deficiência ao longo dos anos. Fonte: Elaboração própria, (2010). A primeira correspondeu ao período entre o final do século XIX até a década de 1940, conhecido como a fase de segregação social, na qual se caracterizava pelo assistencialismo médico-social nas grandes instituições filantrópicas, como também, pelo aumento da quantidade de abrigos que estimulava ainda mais atividades segregadoras. A segunda fase foi identificada entre as décadas de 50 e 80 do séc. XX e recebeu o nome de reabilitação e integração social. Neste período, a pessoa com deficiência deveria ajustar-se aos padrões determinados pela instituição que, com isso, julgava estar ajustando esta pessoa a uma sociedade supostamente correta e pronta. Foi, portanto, no decorrer da década de 1980 que começaram a surgir às premissas com vistas à inclusão social. A primeira foi à conscientização e disseminação de informações sobre os problemas, situações, necessidades, direitos e deveres das pessoas com deficiência. A segunda, partiu da mobilização, ou seja, foram criadas organizações de pessoas com deficiência, elaboração e aprovação de leis específicas, além da inserção de preceitos específicos dentro da Constituição de cada país latino-americano. Como terceiro aspecto, houve a formulação de reivindicações quanto ao atendimento descentralizado, através de centros regionais de reabilitação, projetos de © Andréia Rocha Feitosa 18 Pressupostos Teóricos reabilitação baseada na comunidade e/ou serviços básicos de reabilitação nas redes oficiais e particulares de hospitais. Finalmente entre a década de 1990 e início do século XXI, começou-se pensar formas de atendimento que contemplassem a autonomia destas pessoas, nos contextos da família e da comunidade. Nasce então a concepção de inclusão social, na qual tinha como pressuposto o re-ordenamento de cidades continuamente construídas e moldadas para todas as pessoas, com ou sem deficiência. Na década de 1990, segundo Sassaki (op.cit.), destacam-se dentre outros avanços, para o alcance da inclusão: A implementação de projetos e planos de equiparação de oportunidades, para consolidar o ideal de inclusão social com a participação plena das pessoas com deficiência em todos os aspectos da vida comunitária. Reivindicação do cumprimento da legislação conquistada na década de 80; Conquistas no campo da reabilitação provenientes dos avanços na ciência e da tecnologia. Quanto ao significado do termo (deficiência) a Organização Mundial da Saúde (OMS), através do manual de Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) publicada em 1980, realizou além de um trabalho descritivo dos conceitos, uma revisão semântica a partir da separação radical entre lesão e deficiência: a primeira considerada o objeto da discussão sobre saúde, enquanto a segunda, identificada como uma questão da ordem dos direitos e da justiça social e, portanto, essencialmente normativa. Com ela, a deficiência deixou de ser mera conseqüência de doenças para se tornar uma questão pertencente aos domínios da saúde. Neste sentido, a deficiência e a incapacidade são conceituadas pela OMS da seguinte forma: a. Deficiência: Significa uma perda ou anormalidade3de uma estrutura do corpo ou de uma função fisiológica (incluindo funções mentais). Do ponto de vista médico, deve-se ter em mente que as deficiências não são equivalentes às patologias subjacentes, mas sim a manifestações dessas patologias. Por esta razão, elas representam uma 3 O term o anormalidade refere-se estritamente a uma variação significativa das normas estatisticam ente estabelecidas (i.e. como um desvio de uma média na população obtida usando normas padronizadas de medida) e deve ser utilizado apenas neste sentido. © Andréia Rocha Feitosa 19 Pressupostos Teóricos condição de saúde, mas não indicam, necessariamente, a presença de uma doença ou que o indivíduo deva ser considerado doente. Segundo Diniz (2007), a lesão seria a ausência parcial ou total de um ou mais membros, e a deficiência a desvantagem ou restrição de atividade provocada pela organização social contemporânea que pouco ou nada considera aqueles que possuem lesões físicas e os exclui das principais atividades da vida social. b. Incapacidade: Termo genérico (“chapéu”) para deficiências, limitações da atividade e restrições na participação. Ele indica os aspectos negativos da interação entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e seus fatores ambientais e pessoais, ou seja, as percepções culturais e de atitudes em relação à deficiência, como também, o quadro de disponibilidade de serviços e de legislação. Preocupados também em não estigmatizar e rotular os termos utilizados na classificação, a OMS optou por abandonar totalmente o termo “desvantagem”, devido às suas conotações pejorativas, tendo como substituto, o termo “restrição na participação“ que reflete os problemas que um indivíduo pode enfrentar, em decorrência da deficiência e incapacidade, quando está envolvido em situações da vida real. Além disso, a CIF também não classifica a pessoa nem estabelece categorias diagnósticas, passando antes a interpretar as suas características, nomeadamente as estruturas e funções do corpo, incluindo as funções psicológicas, e a interação pessoa-meio ambiente (atividades e participação). Nessa revisão, toda e qualquer dificuldade ou limitação corporal, permanente ou temporária, é passível de ser classificada como deficiência. De idosos a mulheres grávidas e crianças com paralisia cerebral, a International Classification of Functioning, Disability and Health (Classificação Internacional de Funcionamento, Deficiência e Saúde) propõe um sistema de avaliação da deficiência que relaciona funcionamentos com contextos sociais, mostrando que é possível uma pessoa ter lesões sem ser deficiente (um lesado medular em ambientes sensíveis à cadeira de rodas, por exemplo), assim como é possível alguém ter expectativas de lesões e já ser socialmente considerado como um deficiente (um diagnóstico preceptivo de doença genética, por exemplo). (MEDEIROS e DINIZ, p.113) Já a Handicap International por meio da publicação intitulada como “A Dimensão Inclusiva do PRSP4” contribui para a compreensão do conceito a partir de 4 PRSP é a sigla inglesa do Documento de Estratégia para a Redução da Pobreza, conceito desenvolvido pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1999. © Andréia Rocha Feitosa 20 Pressupostos Teóricos uma interpretação sistemática sobre três modelos, a saber: o caritativo, o médico e o social. a. Modelo Caritativo Rancoroso, perverso, agressivo... Triste, trágico, passivo. Precisa de cuidados . Valente, corajoso, inspirador... Não anda, não fala, não vê... Desperta compaixão... Precisa de caridade, simpatia, serviços e escolas especiais, assistência social... Figura 03: Modelo Caritativo da Deficiência e as idéias associadas Fonte: Elaborado a partir de Harris e Enfield, (2003) As pessoas com deficiências são consideradas como vítimas da sua incapacidade, sendo, desta forma, condicionadas à tragédia e ao sofrimento. Por estas razões, necessitam de serviços especiais, instituições especiais, etc., porque são diferentes. Às vezes, as próprias pessoas com deficiências adotam este conceito, pois, normalmente sentem-se incapazes e têm auto-estima baixa. b. Modelo Médico Hospitais Instituições e escolas especiais especiais Caso médico, cura, cuidados. Transportes especiais Profissionais de saúde, terapeutas e especialistas Assistentes sociais Emprego protegido Figura 04: Modelo Médico da Deficiência e as idéias associadas. Fonte: Harris e Enfield, (2003) © Andréia Rocha Feitosa 21 Pressupostos Teóricos O Modelo Médico (ou Individual) vê as pessoas com deficiências como pessoas que têm problemas físicos e que precisam ser curadas. Isto impele as pessoas com deficiências para o papel passivo de pacientes. O objetivo desta abordagem é «normalizar » as pessoas com deficiências, o que naturalmente implica que sejam de um modo ou de outro, anormais. A questão da deficiência fica limitada à problemática individual: é a pessoa com deficiência que precisa mudar não a sociedade ou o meio ambiente. c. Modelo Social Prédios inacessíveis Desemprego Pobreza e dependência econômica Isolamento, segregação. . Passividade , Serviços inadequados Figura 05: Modelo Social da Deficiência e as idéias associadas Fonte: Harris e Enfield, (2003) Caracteriza como sendo a deficiência o resultado da discriminação da sociedade perante as pessoas com deficiência, podendo ser identificada de três tipos: Deficiência Comportamental - expressada pelo medo, ignorância e baixas expectativas que a sociedade possui perante as pessoas com deficiência; Deficiência Institucional - procedente de discriminações de caráter legal (por ex., não poder casar e ter filhos), exclusão das escolas, etc. Deficiência Ambiental - resultante da inacessibilidade física que afeta todos os aspectos da vida (lojas, prédios públicos, templos, etc.) © Andréia Rocha Feitosa 22 Pressupostos Teóricos Figura 06: A deficiência condicionada pelas barreiras físicas e de atitude Fonte: Elaborado a partir de Harris e Enfield, (2003). De acordo com o modelo social, o “status”de deficiência incorporado às pessoas que sofrem uma lesão, está mais relacionado com as barreiras físicas e de atitude que lhes são impostas do que sua própria condição de limitação. Fato este que já comprova a urgência pela transformação de uma sociedade mais sensibilizada e informada com esta questão. 2.2 O Turismo, Inclusão Social e Pessoas com Deficiência As atividades turísticas nasceram sob a égide do capitalismo e com isso estabeleceram traços puramente mercantilistas em que o lucro faz-se imperante sobre as outras questões, dificultando desta forma a preocupação com o social e a ampliação do bem estar a todos os setores da sociedade. O turismo é influenciado pela prática social na chamada pós-modernidade, explicitando, em sua fenomenologia, os conflitos e contradições do pensamento capitalista, assim, os padrões ideológicos do seu funcionamento passam a ser dirigidos pelo sistema de consumo, trazendo em seu bojo alienação e fetichismo (BENEVIDES, 2002 apud RESENDE, 2005). Contudo, em face das transformações provocadas pelo avanço da democracia e das novas tecnologias que pressupõem maior envolvimento dos atores sociais com os problemas que versam sobre educação, saúde, trabalho e, sobretudo, com as possibilidades de entretenimento, lazer e cultura aos menos © Andréia Rocha Feitosa 23 Pressupostos Teóricos beneficiados; faz-se necessário o envolvimento do turismo com foco na satisfação das necessidades sociais e não somente nas mercadológicas. Álvares (2008) explica que o desenvolvimento sustentável somente será alcançado através da promoção de mudanças profundas nas formas de pensar, agir, produzir e consumir do ser humano, ou seja, as questões éticas devem se sobressair aos interesses de âmbito estritamente econômico, e não o contrário. Corroborando com Álvares, Beni (2006) afirma que a sustentabilidade no turismo envolve o alcance das dimensões que ele traduz como sendo de objetivo e de instrumento. As dimensões-objetivo são caracterizadas a partir do propósito de desenvolvimento sustentável, e isto implica a geração de benefícios não somente econômicos, mas também culturais, ecológicos e sociais. Já as dimensõesinstrumento, mesmo não constituindo a finalidade dos esforços de desenvolvimento, como é o caso das dimensões-objetivo, possuem fundamental relevância na medida em que servem de pressupostos para o seu alcance. Figura 07: As dimensões da sustentabilidade no turismo. Fonte: Beni (2006). Elaboração própria No caso da sustentabilidade social, base fundamental do presente estudo, a figura 07 elucida perfeitamente esta combinação de esforços. As extremidades seriam exemplos de dimensões-instrumento (parceria público-privada) enquanto o centro faz referência à dimensão-objetivo (sustentabilidade social): © Andréia Rocha Feitosa 24 Pressupostos Teóricos Figura 08: As dimensões – instrumento da sustentabilidade social. Fonte: Elaboração própria, a partir de Beni (2006) A importância da sustentabilidade social5 encontra-se no fato de que esta realça o papel dos indivíduos e da sociedade, estando intrinsecamente relacionada com noção de bem-estar. Seus princípios têm por objetivo a estabilidade social, garantindo assim benefícios para as gerações futuras. Entre eles estão: A garantia de segurança e justiça através de um sistema judicial fidedigno e independente; A luta constante pela melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, que não deve ser reduzida ao bem-estar material; A promoção da igualdade de oportunidades; A inclusão dos cidadãos nos processos de decisão social, a promoção da autonomia da solidariedade e da capacidade de auto-ajuda dos cidadãos; A garantia de meios de proteção social fundamentais para os indivíduos mais necessitados. Corroborando com os demais autores, (KOTLER; HAIDER; REIN; 1994; VAZ, 1995) apud Resende (2005) explicam que antes mesmo de desenvolver e atrair a atividade turística, os destinos devem primeiramente agregar vantagem competitiva 5 O termo ora empregado remete não som ente à perspectiva do turismo, mas também nas demais áreas sociais. Disponível em: http://www.consumoresponsavel.com/wp-content/rncr_fichas/RNCR_Ficha_C.pdf © Andréia Rocha Feitosa 25 Pressupostos Teóricos e ampliar seus fatores motivacionais, e isto implica, o empreendimento de esforços na tentativa de eliminar ou atenuar as carências da sociedade, combinando considerações políticas, econômicas, ambientais e sociais, todas com vistas a um dos pilares da sustentabilidade; a equidade social. Vale lembrar que de acordo com Valls (2006), o planejamento de um destino turístico de forma integrada é capaz de atender os interesses de todos os envolvidos no turismo (comunidade local, trade e visitantes) na medida em que, com a elaboração, são articuladas estratégias e diretrizes em prol das necessidades de cada componente. O valor turístico sob esta análise encontra no segmento do Turismo Social um forte aliado, na medida em que seus esforços estão concentrados no sentido de proporcionar experiências turísticas a todos os cidadãos, e isto implica o compromisso pelo social. As origens da prática do Turismo Social surgiram na Europa entre os anos de 1920 e 1940, mais precisamente por ONGs e Sindicatos da Itália e Alemanha. O objetivo inicial concentrava-se na criação de infra-estruturas e incentivos para que os trabalhadores de baixa renda fizessem turismo coletivo. Entretanto, o atual conceito é atribuído à França com a criação em 1937 da Tourisme – Vacanes Pour Tours, uma instituição administrada por trabalhadores na qual se estimulava o turismo em grupo e com valores bem acessíveis. Posteriormente, em 1963 nasceu, na Bélgica o Bureau Internacional de Turismo Social – BITS, uma entidade filantrópica internacional que tem por objetivo promover o Turismo Social sem fins lucrativos (OLIVEIRA, 2008). Em 1996, no Congresso do Bureau Internacional de Turismo Social, ficou registrada a Declaração de Montreal: Todos os seres humanos têm direito a descansar, a um tempo de ócio, a um limite de horas trabalhadas e a férias pagas (...) o objetivo primário de todas as iniciativas de desenvolvimento turístico deve ser a realização plena das potencialidades de cada indivíduo, como pessoa e como cidadão” (BRASIL, MINISTÉRIO DO TURISMO, 2004, p.5) Segundo o Código Mundial de Ética do Turismo, o Turismo Social representa o segmento mais próximo da sustentabilidade social, tendo como objetivo “promover um turismo responsável, sustentável e acessível a todos, no exercício do direito que © Andréia Rocha Feitosa 26 Pressupostos Teóricos qualquer pessoa tem de utilizar seu tempo livre em lazer ou viagens e no respeito pelas escolhas sociais de todos os povos”. Para o Ministério do Turismo, o “turismo social é a forma de conduzir a atividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva de inclusão social". (BRASIL, 2004, p.6). Vale lembrar que, para o Mtur, o público-alvo do segmento de Turismo Social no Brasil é o cidadão viajante “pertencente a determinadas classes de consumidores com renda insuficiente para usufruir da experiência turística de qualidade, ou a grupos em situação de exclusão que, por motivos diversos, têm suas possibilidades de lazer limitadas.” (BRASIL, 2006, p.5-6) Neste raciocínio, inserem-se as pessoas com deficiência, uma parcela da população que apesar de nem sempre se encaixarem economicamente nas camadas mais populares, enfrentam freqüentes obstáculos no momento da realização de suas experiências turísticas. O crescimento das viagens de turismo ainda não permitiu que todos os segmentos da população fossem beneficiados para desfrutar do turismo de lazer. Pessoas com deficiência de diferentes tipologias e pessoas com mobilidade reduzida, tais como idosos e obesos, também poderiam ser incluídos nas estatísticas de exclusão social do turismo, pois encontram dificuldades para se adaptarem às instalações e equipamentos nas edificações turísticas e espaços de lazer, ao mesmo tempo em que encontram prestadores de serviços sem qualificações específicas para um atendimento diferenciado. (BRASIL, 2009, p.9). Diante desta problemática, mitigar os problemas de acessibilidade das pessoas com deficiência passa a ser tarefa essencial dos destinos que almejam a inclusão social como forma de desenvolvimento. A inclusão social consiste no processo através do quais os sistemas gerais da sociedade — tais como o ambiente físico e cultural, a habitação e os transportes, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades educacionais e de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações esportivas e recreativas — são feitos acessíveis para todos. (ONU, 1982, § 12). . Sassaki (1999) explica que somente a partir da década de 1970 é que começaram a surgir os primeiros passos rumo à inclusão social das pessoas com deficiência nas experiências turísticas, e assim mesmo em países desenvolvidos. © Andréia Rocha Feitosa 27 28 Pressupostos Teóricos As primeiras excursões turísticas organizadas por agências de viagens para pessoas com deficiência (inicialmente só quem usava cadeira de rodas) apresentavam dificuldades imensas devido às péssimas condições em acessibilidade tanto nos destinos turísticos quanto nos serviços. A partir da década de 1980, sob a influência da mobilização mundial em torno do lema “Participação Plena e Igualdade”, é que o problema começou a ganhar espaço. As atividades turísticas começaram a ter um desenvolvimento maior para todos os tipos de deficiência, porém, ainda com muitos sacrifícios devido aos preconceitos e barreiras ambientais que ainda existiam. Em 1993, o DAC (Departamento de Aviação Civil) a pedido da CORDE Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência realizou a Câmara Técnica sobre Regulamentação da Segurança de Vôo para o Transporte Aéreo de Pessoa Portadora de Deficiência Física em Aeronaves Civis Brasileiras. A nova norma do DAC entrou em vigor em janeiro de 1996 dando o prazo de seis meses para que as empresas aéreas se adaptassem para cumpri-la. (SASSAKI, 1999). Mesmo com algumas conquistas no período que corresponde à década de 1980 e o final do século XX: maior espaço na mídia, maior contato social, adaptações arquitetônicas, melhoria na qualidade de vida, etc., a integração social destas pessoas não ocorreu com vistas à inclusão na sociedade, mas sim, de forma segregadora. Sassaki aponta três situações que ajuda a compreender esta segregação, são elas: Programas de lazer e recreação exclusivos para pessoas com deficiência; Programas de passeios e excursões educativas ou turísticas, organizados exclusivamente para grupos de pessoas com deficiência e suas famílias; Práticas esportivas e campeonatos, exclusivamente para pessoas com deficiência. Entretanto, foi somente ao longo dos últimos dez anos (1990-2010) que a sociedade passou a entender melhor a questão da deficiência, passando a ser explicada com base nos conceitos da diversidade e pelo entendimento de que a deficiência não é sinônima de incapacidade, mas sim de limitação. Como conseqüência, os direitos ao estudo e ao trabalho passaram a se tornar práticas, e, quanto ao turismo, mesmo que ainda de forma precoce, alguns avanços vêm se © Andréia Rocha Feitosa Pressupostos Teóricos percebendo – principalmente no que se refere às edificações públicas, aos serviços de transportes e atrações. (SCHWARZ E HABER, 2009). 2.2.1 A acessibilidade no processo de inclusão social Hoje, é sabido que a plena inclusão no turismo das pessoas com deficiência somente será concebida através da utilização dos espaços junto com as pessoas sem deficiência e, para que isto ocorra, faz-se necessário à noção de acessibilidade: O paradigma da inclusão social consiste em tornarmos a sociedade toda, um lugar viável para a convivência entre pessoas de todos os tipos e condições na realização de seus direitos, necessidades e potencialidades. Neste sentido, os adeptos e defensores da inclusão, chamados de inclusivistas, estão trabalhando para mudar a sociedade, a estrutura dos seus sistemas sociais comuns, as suas atitudes, os seus produtos e bens, as suas tecnologias etc. em todos os aspectos: educação, trabalho, saúde, lazer, mídia, cultura, esporte, transporte, etc.(SASSAKI, 2004). Sassaki (2003) explica que a aplicação da acessibilidade nas diversas áreas citadas acima, não se limita apenas à eliminação das barreiras físicas nos espaços públicos e privados, o qual o autor define como sendo acessibilidade arquitetônica. Além desta, existem mais cinco campos de abrangência: a atitudinal, a programática a comunicacional, a metodológica e a instrumental, a saber: Acessibilidade Arquitetônica Atitudinal Programática Comunicacional Metodológica Instrumental Sem barreiras nas edificações e mobiliário urbano Sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações Sem barreiras invisíveis embutidas nas políticas públicas, em regulamentos e normas em geral nas quais perpetuam a exclusão Sem barreiras na comunicação interpessoal, escrita e virtual Sem barreiras nos métodos e técnicas de estudo Sem barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de estudo (escolar), de trabalho (profissional), de lazer e recreação (comunitária, turística, esportiva etc.). Figura 09: Os diferentes tipos de acessibilidade. Fonte: (Elaboração própria, 2010) © Andréia Rocha Feitosa 29 Pressupostos Teóricos Neste trabalho, discute-se com mais detalhes a importância da acessibilidade arquitetônica e atitudinal, visto que, para o acesso ao turismo, estas se tornam fundamentais. A legislação nacional, especificamente a lei nº. 10.098 de 19 de dezembro de 2000, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, expressando em seu artigo 2º um conceito da acessibilidade arquitetônica defendida por Sassaki (2003): [...] acessibilidade é a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. Em outras palavras, Schwarz e Harber (2009) consideram ser acessibilidade: [...] um cego que cruza a rua, sozinho, porque o semáforo emite um sinal sonoro, avisando-o que pode atravessar, é um cadeirante que pode se locomover por conta própria, numa cidade sem buracos e sem obstáculos, é uma criança surda ter à disposição intérpretes de Libras nas escolas públicas. Enfim, acessibilidade é o pleno direito de ir e vir – e permanecer. (SCHWARZ E HABER, 2009, p. 308). Definições como estas remetem à importância da acessibilidade arquitetônica nos espaços públicos que, somadas com as produzidas nos estabelecimentos turísticos, garantem a pessoa com deficiência, quer seja física ou sensorial, uma maior motivação por viajar a lazer. De acordo com Aguirre (2003) para que os estabelecimentos turísticos se tornem acessíveis arquitetonicamente faz-se necessário o preenchimento de alguns requisitos, a saber: Estabelecimento Requisitos Necessários Comercialização e informação de serviços turísticos Acessos (estacionamento, desníveis e portas), circulação interior (desníveis e passagens livres, iluminação e revestimentos), mobiliário (mesa, balcões e expositores), informação e sinalização acessível, e comunicação do Símbolo Internacional de Acessibilidade (SIA); © Andréia Rocha Feitosa 30 Pressupostos Teóricos Serviços de Hospedagem Serviços de restauração Serviços de lazer e recreação Acessos (estacionamento, percurso até o edifício, zona de manobra, desníveis e portas de entrada e saída), circulação interior (passagens e percursos, zonas de manobra, elevadores e revestimentos), dormitórios, banheiros e cozinhas (dimensões, zona de manobra, porta de acesso), uso de sanitários (acessórios, comandos, ajudas técnicas, revestimento, alarmes), mobiliário (mesa e cadeiras, camas e armários), instalações (telefone, televisão, iluminação e temperatura – comando e controles), informação e sinalização acessível, e comunicação do SIA Acessos (igual aos anteriores), circulação interior (distribuição do espaço, passagens entre movéis e desníveis), sanitários (acesso e área de manobra, acessório, comandos, ajuda técnicas, revestimentos e alarmes), mobiliário (mesa, cadeiras, barras e balcões), informação e sinalização acessível, e comunicação do SIA; Acessibilidade individual a cada elemento e a acessibilidade ao conjunto geral. Quadro 01: Acessibilidade arquitetônica dos estabelecimentos turísticos. Fonte: (Elaboração própria, 2010) Em contrapartida, enquanto a acessibilidade arquitetônica diz respeito às barreiras físicas; a acessibilidade atitudinal irá tratar a eliminação das barreiras invisíveis que a própria sociedade impregnou ao longo dos tempos. No caso do turismo, as barreiras invisíveis são refletidas com a despreparação do atendimento destinado às PCDs. Os relatos de turistas e de executivos com deficiência que viajam a negócios costumam ser parecido: a maioria dos hotéis, restaurantes, bares e atrações dos destinos visitados ainda não está qualificada para receber bem a esse público. Ou tão bem como recebe aqueles que não apresentam deficiências. Já na recepção, é comum encontrar funcionários despreparados para interagir, por exemplo, com cadeirantes ou cegos. Ao se darem conta de que o cliente tem deficiência, se atrapalham. Começam a falar alto, como se entendessem que todo deficiente possui baixa audição, ou é surdo. Começam a falar alto, como se entendessem que todo deficiente possui baixa audição, ou é surdo. (SCHWARZ E HABER, 2009, p.320). Schwarz e Haber (2009) elencam algumas formas de como atender bem aos clientes com deficiência, são elas: Analisar a pessoa com deficiência como um cliente igual aos demais, Compreender que a falta de um sentido, quase sempre, estimula o desenvolvimento do outro, © Andréia Rocha Feitosa 31 Pressupostos Teóricos Não carregar nos gestos e expressões faciais excesso uma atenção invasiva, Esperar que o cliente peça ajuda em vez de aturdi-lo com gentilezas mal colocadas. Diante disto, vale lembrar que investimentos em capacitação profissional garantirão aos funcionários que trabalham na atividade turística uma maior habilidade no tratamento com as PCDs, evitando desta forma constrangimentos desnecessários. 2.3 Considerações sobre o Marketing Social 2.3.1 A evolução do conceito Em 1951, Wiebe propôs a primeira interpretação de marketing social que se tem notícia no qual assimilava o conceito diretamente com ações de fraternidade e filantropia. Entre os anos de 1960 e 1970, suas primeiras aplicações práticas ficaram concentradas primeiramente na área da saúde pública mais precisamente no planejamento familiar. Logo depois, outros trabalhos foram paulatinamente sendo colocados em pratica, distanciando-se um pouco de temáticas de saúde como racionamento de energia e segurança no trânsito (FERREIRA, 2004). Em 1971, os professores Phillip Kotler e Gerald Zatiman expandiram o conceito atribuído por Wiebe, atrelando-o às técnicas empregadas no marketing comercial, formulando assim, o mais respeitado conceito que se tem hoje sobre o tema: “Marketing social é o projeto, implementação e o controle de programas que procuram aumentar a aceitação de uma idéia ou a prática social num grupoalvo. Utiliza conceitos de segmentação de mercado, de pesquisa de consumidores, de configuração de idéias, de comunicações, de facilitação de incentivos e a teoria da troca a fim de maximizar a reação do grupo-alvo” (PHILLIP KOTLER, 1978, p.288) Baseado no exposto acima, o Socialtec (Fórum de Marketing Social) define marketing social da seguinte forma: [...] gestão estratégica do processo de inovações sociais a partir da adoção de comportamentos, atitudes e práticas individuais e coletivas, orientadas por preceitos éticos, fundamentados nos direitos humanos e na eqüidade social. O termo é empregado para descrever o uso sistemático de princípios © Andréia Rocha Feitosa 32 Pressupostos Teóricos e técnicas orientadas para promover aceitação de uma causa ou idéia. Tem como objetivo principal transformar a maneira pela qual um determinado público-adotante percebe uma questão social e promover mudanças comportamentais visando melhorar a qualidade de vida de um segmento populacional. Entre as características em comum, destacam-se as mencionadas por Ferreira, (2004): A orientação é direcionada para o cliente/destinatário; O benefício percebido tem que ser superior ao custo percebido; Utilizam pesquisa de informação e estudo do mercado-alvo; Os públicos-alvos são segmentados; Os programas devem ser cuidadosamente pensados e não articulados por meio de ações casuais; As trocas de valores devem ser necessariamente voluntárias (alternativa contrária à força) A escolha da oferta está direcionada com base nas necessidades do consumidor e não do vendedor; Utilizam da mistura de um conjunto de instrumentos chamados de “composto de marketing”: produto, preço, promoção e praça. Enfim, o marketing social pode ser considerado uma forma de ampliação do marketing comercial, já que em seu planejamento são adotadas as mesmas técnicas utilizadas no marketing comercial. 2.3.2 As peculiaridades do marketing social Com já visto, o marketing social, por ser uma ampliação do conceito de troca proferido pelo marketing comercial, apresenta algumas peculiaridades que o distingue. A maioria dos autores considera que o elemento chave que diferencia o marketing social das outras atividades de marketing esta no produto (grifo nosso), já que neste caso se trata de promover uma idéia social, e, apesar dos anos, esta definição tem sido aceita por um bom número de autores. (FERREIRA, 2004, p.27) Quanto aos objetivos, Kotler (1978) acredita que sua diferença está na sua forma de articulação, isto é, se o objetivo da ação de marketing for à geração de © Andréia Rocha Feitosa 33 Pressupostos Teóricos lucro pode-se inferir que se trata de um processo gerencial (marketing comercial), caso contrário, se os objetivos estiverem concentrados em prol das necessidades da coletividade, na busca de valores e mudanças sociais, estaremos diante de um processo social (marketing social). Outra peculiaridade refere-se à complexidade dos objetivos do marketing social frente aos do marketing comercial: . O Marketing social opera num ambiente bem mais complexo que o do Marketing comercial e seus objetivos são infinitamente mais ambiciosos. Eis algumas diferenças: os produtos sociais são mais complexos que os comerciais; os produtos sociais freqüentemente são mais controversos que os comerciais; trazem menos satisfação imediata dos consumidores; normalmente, o público do Marketing social tem menos recursos que a média da população; e os programas sociais requerem resultados espetaculares. (ARAÚJO, 1997, P.9) Conforme citado, esta dificuldade em executar as estratégias de marketing social refere-se à especificidade atribuída ao produto exposto ao público alvo, ou seja, uma ação de marketing formulada com ênfase na assimilação da compra de um “perfume” possui uma complexidade bem menor do uma ação que contemple a venda de “mudanças nos hábitos alimentares”, por exemplo. 2.3.3 A diferença entre os conceitos relacionados Um dos principais problemas enfrentados pelo marketing social concentra-se na diversidade dos entendimentos sobre seu conceito. Ainda não há um consenso sobre as diferenças existentes entre marketing social e outras práticas sociais praticadas pelas organizações como a responsabilidade social, marketing de causas e merchandising social. É o que confirma Aduls, (2004) quando diz que o marketing social geralmente é confundido com ações de responsabilidade social das empresas e ainda reforça que: A noção de marketing social não se aplica as empresas que utilizam instrumentos de marketing apenas para divulgar suas ações sociais, tornar pública sua postura socialmente responsável ou mesmo melhorar sua imagem junto à sociedade, pois estas ações não têm o objetivo de promover mudanças sociais. As tentativas recentes que têm identificado como "marketing social" ações de responsabilidade social das empresas apenas geram maior confusão e dificultam a compreensão de conceitos distintos. (ADULS, 2004) © Andréia Rocha Feitosa 34 Pressupostos Teóricos Sobre o marketing de causas sociais: Pringle e Thompson (2000, p.3) explicam sua atuação como sendo uma filosofia que as empresas praticam para serem socialmente responsáveis e com isso agregar mais valor competitivo: Marketing de causas sociais é uma forma efetiva de melhorar a imagem corporativa, diferenciando produtos e aumentando tanto as vendas quanto a fidelidade. (...) É o esforço que as empresas fazem para associar suas atividades – diretamente ou em parceria com instituições de caridade – a uma causa social aprovada por grande parte da sociedade e, portanto, dos consumidores. (PRINGLE, THOMPSON, 2000, p, 3) É importante ressaltar que a diferença entre as duas orientações de marketing concentra-se principalmente em seus objetivos, ou seja, enquanto no marketing de causas sociais o foco está no lucro gerado pela imagem socialmente responsável; no marketing social o objetivo de suas ações não se resume em fins mercadológicos, mas sim, em promover mudanças comportamentais com foco na qualidade de vida (FONTES, 2001 apud ADULS, 2004). MARKETING SOCIAL Mudanças comportamentais com foco para a qualidade de vida X Objetivos DE CAUSAS SOCIAIS Imagem social atrelada à marca da empresa, e conseqüente rentabilidade financeira (lucro) Figura 10: A diferença entre o marketing social e o marketing de causas sociais. Fonte: (Elaboração própria, 2010). Com base nestas considerações, pode-se perceber que a gestão de marketing social não se aplica às empresas que utilizam instrumentos de marketing apenas para divulgar suas ações sociais, tornar pública sua postura socialmente responsável ou mesmo melhorar sua imagem junto à sociedade, uma vez que não têm o objetivo de promover mudanças sociais, mas sim, de auferir lucros futuros. A assimilação do “marketing social” com ações de responsabilidade social das © Andréia Rocha Feitosa 35 Pressupostos Teóricos empresas apenas gera maior confusão e dificultam a compreensão de conceitos distintos. (ADULS, 2001). Isto não significa dizer que empresas com fins lucrativos não podem aplicar a gestão de marketing social. Conforme Fontes6 (2009), não há restrições da utilização do marketing social pelas empresas; contanto que o foco da ação seja na transformação social e não somente no intuito de agregar valor social a sua marca ou produtos, segundo ele: “há trabalhos de marketing social com funcionários para racionalizar, por exemplo, o uso de energia elétrica” (informação verbal). Outra relação bastante confundida refere-se aos conceitos de “marketing social” e “merchandising social”. De acordo com Costa et. al. (2009, p.3), o merchandising é uma “ferramenta de comunicação do marketing, que serve de apoio para a propaganda e a promoção de produtos, bens e serviços”. Assim como o marketing, o merchandising pode assumir propostas com vistas à qualidade de vida da sociedade (causas sociais), daí o conceito de merchandising social a ele empregado. (Ibid., 2009). O Merchandising Social surge em meio ao entretenimento apresentado pelas novelas (grifo nosso), como uma forma estratégica e intencional, para alertar os telespectadores sobre questões sociais, a partir de temas que são expostos de forma educativa e acessível aos conhecimentos das diversas camadas sociais. A exploração desses temas é inserida dentro das tramas e os personagens são emissores destas temáticas. A inserção do Merchandising Social não se limita apenas às problemáticas sociais, mas também fornece possíveis formas de solução para as situações apresentadas se valendo ainda de uma linguagem de fácil compreensão. A trama é fictícia, no entanto, os temas são inspirados no cotidiano da população em seus diferentes contextos, assim o esclarecimento permeia naturalmente em meio à sociedade. (COSTA, et.al, 2009, p.6) Entretanto, mesmo com definições por vezes parecidas, ocorre uma limitação do merchandising social frente ao marketing social. Enquanto este se utiliza de todos os processos de planejamento de marketing (promoção, produto, praça e preço); aquele se concentra apenas na ferramenta do marketing mix utilizada para a propagação e divulgação da causa social (a promoção). 6 Miguel Fontes é Doutor em Saúde Pública pela Universidade Johns Hopkins e mestre em desenvolvimento social, econômico e político da América Latina e Caribe pela Escola de Relações Internacionais e Economia (SAIS) da Universidade John Hopkins. Atualm ente é o diretor da John Snow Brasil Consultoria, como também, autor de diversas publicações sobre Marketing Social, entre elas o livro \"Marketing Social – novos paradigmas\" © Andréia Rocha Feitosa 36 Pressupostos Teóricos MERCHANDISING SOCIAL MARKETING SOCIAL X Utiliza-se de todas as ferramentas do marketing mix (produto, preço, promoção e praça) para a transformação das questões sociais com foco na qualidade de Utiliza-se da ferramenta da (promoção), estratégica e intencionalmente, como forma de alertar os telespectadores das novelas sobre questões sociais vida. Figura 11: A diferença entre marketing social e merchandising social Fonte: (Elaboração própria, 2010). 2.3.4 O comportamento humano em face das mudanças sociais Além do marketing social, existem outras formas de mudar o comportamento humano, tais como, o tecnológico, o econômico, o político-legal e o educacional. Veja as definições extraídas da obra de Kotler e Roberto, (2002): a. O Tecnológico Quando as inovações tecnológicas ou auxiliam na intensificação do grau da mudança de comportamento ou contribuem significativamente para isso. b. O Econômico Acontece quando o comportamento é modificado tanto em decorrência de pressões econômicas quanto de incentivos fiscais. c. O Político-Legal Serve para tratar, através das leis, situações mais difíceis de gerarem mudanças voluntárias, desta forma, o individuo passa a ser obrigado a cumprir as orientações sob pena de ser penalizado através de multas ou detenções. d. O Educacional Mesmo a educação sendo uma ferramenta útil para o marketing social, ainda não trabalha sozinha. Na maioria das vezes, a educação é utilizada para transmitir informações e / ou construção de competências, mas ela não dá a mesma atenção e © Andréia Rocha Feitosa 37 Pressupostos Teóricos foco para criar e sustentar a mudança de comportamento como também, se utiliza apenas de um dos quatro instrumentos do marketing, a promoção. Contudo, alterar um comportamento humano, ou seja, aceitar uma causa social não consiste em tarefa fácil de alcançar, uma vez que requer um convencimento dos destinatários quanto às vantagens que o novo comportamento pode gerar em detrimento dos custos para a respectiva alteração. Para Kotler e Roberto (2002), a vantagem de se optar pelo marketing social como estratégia de mudança comportamental, está no fato de que este engloba, todas as outras formas de convencimento já citadas, tornando-se a causa social com maior probabilidade de ser atingida. Corroborando com os argumentos acima, Minciotti (1983) exemplifica tal entendimento ao retratar o desinteresse do Estado em optar pelas alternativas de marketing social em seu sua postura governamental para as mudanças de comportamentos, em que, na maioria das vezes decide por assumir uma postura coercitiva ao invés de induzir voluntariamente este comportamento. Muito melhor teria sido o resultado se, em vez de proibir a venda de combustível nos finais de semana, o Governo tivesse desenvolvido um programa de marketing social, objetivando alterar o padrão comportamental da população em face da crise energética, educando-a e motivando-a. Podemos entender este raciocínio a outras causas, como: a) redução de acidentes de trânsito; b) redução da mortalidade infantil; c) controle da natalidade em determinados segmentos da população; d) habitação para todos; e) aumento da produtividade; f) fixação do homem a terra; g) ocupação da Amazônia; h) combate a corrupção e sonegação de impostos; i) combate à cárie; j) velocidade-limite nas estradas e uso de cinto de segurança; k) programa de interação comunitária (grifo nosso); e , enfim, tantos outros. (MINCIOTTI, 1983, p.55) Por sua vez, Kotler (1978) identifica diversas causas sociais a partir de seus objetivos, que nada mais são do que gerar mudanças quer seja cognitiva, de ação, de comportamento ou de valor. 2.3.4.1 Mudança cognitiva Utiliza-se de campanhas de informações ou educação pública. São razoavelmente fáceis, pois não procuram modificar quaisquer atitudes ou comportamentos profundamente enraizados; Dentre elas estão: as campanhas para explicar o valor nutritivo de diferentes alimentos; campanhas para explicar o trabalho de órgãos governamentais voltados à © Andréia Rocha Feitosa 38 Pressupostos Teóricos saúde pública; campanhas para chamar a atenção aos problemas sociais, como a pobreza, a intolerância ou a poluição. Figura 12: Campanha de mudança cognitiva, induzindo práticas de higiene. Fonte: kotler, Roberto e Lee (2002) Figura 13: Campanha de mudança cognitiva, demonstrando os perigos da poluição ao meio ambiente. Fonte: Internet 2.3.4.2 Mudança de ação As campanhas tentam fazer com que um número máximo de pessoas realize uma ação específica. São mais difíceis do que as mudanças cognitivas porque as pessoas terão que aprender uma coisa nova e efetuar uma ação específica com base neste novo aprendizado; São utilizadas para influenciar pessoas a comparecer a uma imunização em massa; campanha para atrair mulheres acima de quarenta anos a realizar exames de prevenção de câncer; campanha para atrair novamente às escolas, os estudantes que deixaram de estudar; campanhas para levantar grandes quantidades de dinheiro para fins de caridade; campanhas para atrair doadores de sangue ou doação de órgãos. Figura 14: Campanha de mudança ação, incentivando quanto à doação de órgãos. Fonte: internet. Figura 15: Campanha de mudança ação, alertando quanto aos cuidados com a mama. Fonte: internet. © Andréia Rocha Feitosa 39 Pressupostos Teóricos 2.3.4.3 Mudança de comportamento São as que induzem ou ajudam as pessoas a modificar algum aspecto de seu comportamento. Estas são mais difíceis que as duas anteriores porque a pessoa deve estar consciente dos efeitos prejudiciais de seus hábitos de consumo e não há uma ação que ele possa adotar a fim de terminar, definitivamente, com as tentações a que ele está sujeito. Essas causas incluem esforços para diminuir o vício de fumar, esforços para desencorajar o consumo de álcool, esforços para desmotivar o uso de entorpecentes, esforços para mudar hábitos alimentares, entre outros. Figura 16: Campanha de mudança comportamento, alertando os perigos da ingestão de álcool durante a gravidez Fonte: Kotler, Roberto e Lee (2002, p.5). Figura 17: Campanha para mudança de comportamento, indicando sugestões de convívio com as pessoas com deficiência. Fonte: ONG – Espaço da Cidadania: 2.3.4.4 Mudança de valor Procuram alterar profundamente as crenças ou valores que um determinado grupo possui em relação a alguns objetos ou situações. É considerada a mais difícil, porque o sentido de identidade e bem-estar de um indivíduo está enraizado em seus valores básicos. Compreende esforços para alterar as idéias que as pessoas têm sobre o aborto; esforços para modificar a postura em relação ao número de filhos que deveriam ter; esforços para aumentar a participação e o respeito ao trabalho feminino; esforços voltados à preservação dos bens públicos por parte das pessoas; © Andréia Rocha Feitosa 40 Pressupostos Teóricos e outros que lidam com os aspectos práticos da intolerância e da baixa qualidade de participação do cidadão na comunidade, compreendendo as causas mais difíceis de serem levadas a efeito. Figura 18: Campanha de mudança valor, condenando a prática do aborto. Fonte: internet Figura 19: Campanha de mudança valor, defendendo a aceitação do aborto na sociedade. Fonte: Internet Figura 20: Campanha para mudança de valor, mostrando a importância da acessibilidade para a qualidade de vida das pessoas com deficiência. Fonte: CONADE Nota-se então duas características sobre as mudanças sociais; a primeira refere-se ao grau de aceitação da idéia, ou seja, enquanto a mudança cognitiva torna-se a mais fácil de ser alcançada, o mesmo não se pode dizer sobre a mudança de valor, visto que são debatidas idéias que já estão enraizadas nos valores de cada indivíduo. Outro ponto a ser destacado, relaciona-se com a capacidade da causa social agregar em seu conteúdo mais de um tipo das mudanças citadas. A causa social pretendida neste trabalho é prova disto, uma vez que adota tanto as características das mudanças comportamentais quanto as mudanças de valor. © Andréia Rocha Feitosa 41 Procedimentos Metodológicos 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Nesta etapa, descreve-se a metodologia utilizada, apresentando os devidos procedimentos metodológicos empregados na elaboração do estudo em questão. 3.1 Caracterização do Estudo Para Gil (1999), os métodos científicos constituem uma ferramenta indispensável à ciência, auxiliando-a no alcance da veracidade dos fatos. Segundo Triviños (1987), a pesquisa qualitativa torna-se de fundamental importância para o desenvolvimento das praticas sociais, uma vez, que possibilita uma análise implícita do que será investigado. Um trabalho é de natureza exploratória quando envolve levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas que tiveram (ou têm) experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Possui ainda a finalidade básica de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias para a formulação de abordagens posteriores. Dessa forma, este tipo de estudo visa proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores (GIL, 1999, p. 43). Neste estudo, o método ora utilizado consiste na pesquisa qualitativa com abordagem exploratória e descritiva, uma vez que além de descrever as características das pessoas com deficiência no Brasil; buscou-se discutir e explorar o problema enfrentado pelas mesmas enquanto turistas (inacessibilidade) como também identificar alternativas para a solução do problema (marketing social), facilitando, desta forma, o aprofundamento do tema para trabalhos posteriores. 3.2 População e Amostra População é a soma de todos os elementos que compartilham algum conjunto comum de características, conformando o universo próprio para o propósito do problema da pesquisa. Já amostra é caracterizada, segundo Silva e Menezes (2001, © Andréia Rocha Feitosa 42 Procedimentos Metodológicos p.32), como “parte da população ou do universo, selecionada de acordo com uma regra ou plano". A população desta pesquisa tem abrangência nacional com destaque para a região sudeste. Quanto à amostra, caracteriza-se como não-probabilística, dando prioridade para àqueles que além de possuírem especialidade em assuntos das áreas de inclusão social e/ou turismo, também detinham conhecimento de causa, ou seja, declaravam-se pessoas com deficiência. Tal medida teve o intuito de apontar análises com maior profundidade, visto que, nada melhor para expor um problema, do que aquele que o vivencia. Vale ressaltar que a maioria dos entrevistados da amostra foi selecionada com base na lista de palestrantes do 1º e 2º Congresso de Turismo Muito Especial, ocorrido no Estado de Pernambuco nos anos de 2008 e 2009, respectivamente, com exceção de Andréa Schwarz, Mara Gabrili, Romeu Kasumi Sassaki e os representantes da CORDE-RN cujos nomes foram descobertos por pesquisa feita em sites via internet. Contribuíram com a pesquisa doze especialistas do campo da inclusão social e/ou turismo cujos nomes e funções estão listados a seguir: 1. Andréa Schwarz (paraplégica) Formada em fonoaudiologia, autora do livro guia Brasil para Todos e há dez anos atua na área de responsabilidade social com foco nas pessoas com deficiência; 2. Cristiane Ecker Fornazieri Executiva Social da Federação Nacional das AVAPEs (Fenavape) desenvolve consultoria de acessibilidade para empresas públicas e privadas, e é responsável pelo Convênio Socorro Acessível em parceria com o Ministério do Turismo. 3. Dadá Moreira (possui ataxia) Jornalista, fotógrafo, esportista e consultor e fundador da ONG Aventura Especial, que trabalha para a inclusão da pessoa com deficiência no ecoturismo e no turismo de aventura. 4. Mara Gabrili (tetra paraplégica) Publicitária, psicóloga, ex-secretária da Pessoa com Deficiência da Prefeitura de São Paulo e vereadora de São Paulo, empreendedora social do Instituto Mara © Andréia Rocha Feitosa 43 44 Procedimentos Metodológicos Gabrilli, ONG que apóia atletas com deficiência, promove o Desenho Universal e fomenta pesquisas científicas desde 1997. 5. Mosana Cavalcanti (Paraplégica) Bacharel em Turismo e técnica da SETUR-PE, atualmente colaboradora do programa estadual: Turismo Acessível – Pernambuco sem Barreiras. 6. Rebecca Monte Nunes Bezerra Promotora de justiça da Comarca de Natal (RN), com atribuição na área de direitos da pessoa com deficiência e do idoso. Co-autora dos livros: "Deficiência no Brasil: uma abordagem integral dos direitos das pessoas com deficiência", "Manual da Cidadania para Educadores" e "Estatuto do Idoso Comentado". Co-autora da cartilha de bolso "Acessibilidade: um direito de todos – Cartilha de Orientação". É autora do roteiro da revista em quadrinhos "Uma Sociedade para Todos", 1ª e 2ª edições. 7. Representantes da CORDE/RN Neste caso estamos considerando como uma só opinião, visto que o preenchimento do questionário foi de forma conjunta, desta forma, participaram da realização da pesquisa o arquiteto e urbanista, José Gesy de Brito Sousa, a engenheira civil, Maria Antonia Melo Germano e a estagiaria em arquitetura da subcoordenadoria, Louise Caroline Linhares de Freitas. 8. Ricardo Shimosakai (Paraplégico) Bacharel em Turismo e especialista em acessibilidade e inclusão no turismo. Sócio-fundador da ONG Turismo Adaptado, que realiza ações em diversos campos envolvendo o turismo e a deficiência. 9. Romeu Kazumi Sassaki Consultor de inclusão social, autor dos livros Inclusão: Construindo uma Sociedade para Todos e Inclusão no Lazer e Turismo: em busca da qualidade de vida e presidente do Instituto Sociedade Inclusiva (ISI). 10. Sáskia Freire Lima de Castro Bacharel em turismo pela Universidade de Fortaleza e especialista em Ecoturismo, com ênfase em Interpretação e Educação Ambiental, pela Universidade Federal de Lavras. Atualmente está à frente da Coordenação-Geral de Segmentação do Ministério do Turismo. © Andréia Rocha Feitosa Procedimentos Metodológicos 11. Sávio Vieira Ramos Graduado em turismo pelo Centro Universitário de Goiás – Uni-Anhanguera e pós-graduando em gestão do turismo ambiental e cultural. Atua principalmente nos seguintes temas: ecoturismo, cidadania, responsabilidade social, impactos ambientais e turismo. Autor do projeto de implantação de trilhas para deficientes visuais em ambientes naturais e capacitação de guias de turismo para atuarem com deficientes. Atualmente é consultor da Araraúna Turismo e Negócios. 12. Viviane Panelli Sarraf Consultora de Acessibilidade Cultural, graduada em Artes pela FAAP, especialista em Museologia pelo Curso de Especialização em Museologia do MAEUSP, Mestranda do Programa de Ciência da Informação da ECA-USP e diretora fundadora da instituição Museus Acessíveis e Fundação Dorina Nowill para Cegos. Atua em projetos de inclusão de pessoas com deficiências em museus e instituições culturais desde 1998 3.3 Instrumentos da Pesquisa O instrumento utilizado para a pesquisa constitui-se de um questionário com dez questões abertas no quais os respondentes declaravam suas opiniões acerca da problemática em questão. Devido à abrangência nacional da amostra e a falta de recursos financeiros que impossibilitava o deslocamento da pesquisadora até o domicilio dos entrevistados, não foi possível a realização de entrevistas “in loco”, desta forma, optou-se pela comunicação através da internet, mais precisamente pelo correio eletrônico (e-mail). Diante disto, foi necessário à realização de um questionário pré-teste (em anexos) com a finalidade de descobrir se de fato as perguntas estavam sendo bem interpretadas pelos depoentes, ou seja, este primeiro questionário explorou e identificou perguntas-problema que justificassem uma modificação da redação, alteração do formato ou mesmo serem eliminadas da versão final. Aaker et al. (2001) explica que alguns critérios devem ser levados em consideração depois da aplicação de um pré-teste. São indícios que permitem © Andréia Rocha Feitosa 45 Procedimentos Metodológicos aperfeiçoá-lo e avaliar se de fato houve equívocos na elaboração, abrindo espaço para um entendimento confuso e dúbio. Dentre eles, estão: A interpretação do respondente é a mesma do pesquisador? Há duplicidade de pergunta, mesmo que sendo com interpretações diferentes? O vocabulário é simples, direto e familiar a todos os respondentes? Alguma palavra do texto tem sentido vago ou ambíguo? Há perguntas condutoras ou tendenciosas? As perguntas têm o tamanho apropriado? A pergunta é aplicável a todos os respondentes? Com base nestas perguntas e depois de coletados os dados dos questionários eletrônicos das Sras. Andréa Schwarz, Mara Gabrili, Rebecca Monte Nunes Bezerra e dos representantes da CORDE/RN, identificou-se algumas interpretações equivocadas, conforme seguem: Houve incompatibilidade na interpretação do pesquisador e do respondente no que se refere à 1ª questão. Quando se pergunta quais as áreas mais privilegiadas em políticas públicas, espera-se um entendimento a cerca dos setores da educação, saúde, habitação, esporte, turismo, etc. voltados para as pessoas com deficiência, porém, uma respondente interpretou como sendo entre as áreas do turismo, ou seja, os segmentos mais privilegiados (aventura, religioso, sol e praia, etc..) Também foi identificado nas questões 6, 8, 9 e 10 um texto de sentido vago, uma vez que, não possibilitou uma resposta mais aprofundada, dando deixas para que um respondente concluísse a pergunta com “apenas” um sim ou não. Está faltando à expressão: “justifique”. Outro ponto detectado foi à presença de perguntas que indiciam em duplicidade e tendenciosas, ou seja, na questão 3 o pesquisador já induz que o Brasil não tem acessibilidade turística para as pessoas com deficiência (Quais são as principais barreiras que não permitem o Brasil se igualar aos principais destinos turísticos?), na questão 7 a pergunta já afirma que precisa de melhorias na infraestrutura turística e acessibilidade nos serviços (A melhoria nas condições de acessibilidade arquitetônica (infra-estrutura do destino) e na qualidade dos serviços © Andréia Rocha Feitosa 46 Procedimentos Metodológicos prestados...) e por fim, as questões 6 e 8 foram percebidas pelos respondentes como sendo em duplicidade, pois de maneiras diferentes elas induzem respostas iguais: . Por fim, quando perguntado se o Brasil tem condições em infra-estrutura e serviços, a resposta também responde a questão 8, pois se um destino tem condições, ele certamente tem interesse em atender o público em estudo. Com isso, constata-se que quando se trata de um questionário cuja aplicação não se dá juntamente com o pesquisador, este, deve ser claro e bem explicado para que não ocorram desvios de interpretações como esse. O pesquisador deve lembrar que não estará no momento do preenchimento do questionário para explicar aos respondentes aonde ele quer chegar. Depois de realizada as devidas correções têm-se, a seguir, o questionário definitivo. 1- QUESTIONÁRIO DEFINITIVO (PÓS – TESTE) QUESTÕES (Q) FINALIDADES Q1: Como o Sr. (a) analisa o quadro de Identificar quais os setores (educação, evolução das políticas públicas voltadas saúde, para privilegiados no que se refere aos direitos os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional? Quais as áreas mais privilegiadas: esporte, turismo...) mais das pessoas com deficiência. educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Q2: De que forma o Sr (a) analisa o Com já se inferia a não identificação da interesse público por ações que primam área do turismo como sendo prioritária das pela acessibilidade arquitetônica (prédios ações do governo, procurou-se perceber a públicos, vias públicas e mobiliário urbano) opinião dos respondentes a partir de uma dos destinos turísticos no Brasil? questão mais específica. Q3: Em sua opinião, o Brasil pode ser Identificar se o Brasil possui uma imagem considerado, da satisfatória no que tange à acessibilidade Europa, como um destino turisticamente turística quando comparado a países do acessível às pessoas com deficiência? exterior. assim como países Justifique sua resposta? Q4: O Sr econômicos (a) e identifica sociais nos benefícios destinos turísticos que se preocupam com o tema Perceber se um destino turístico acessível pode influenciar positivamente na qualidade de vida da sociedade e gerar © Andréia Rocha Feitosa 47 Procedimentos Metodológicos da acessibilidade e inclusão? Justifique dividendos econômicos para o mesmo. Q5: Qual região brasileira possui mais Questão baseada na transcrição da Sra. condições de acessibilidade arquitetônica Mara Gabrili e de fundamental importância (adaptações para investigar se há e quais são os em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações exemplos de em infra-estrutura e na qualidade dos região do país. destinos acessíveis por serviços) Q6: Qual a percepção do Sr.(a) quanto ao Descobrir se estas pessoas representam perfil da demanda (turistas/pessoas com uma demanda com recursos financeiros deficiência) no Brasil? Este público pode suficientes ser serviços turísticos considerado como um nicho de para consumir produtos e mercado promissor? Q7: Que fator exerce maior influência para Saber o que é mais importante para uma a pessoa com deficiência no momento da pessoa com deficiência quando turistas: escolha de um destino turístico como acessibilidade opção (arquitetônica) ou privados (arquitetônica e de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e em espaços públicos atitudinal) mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infraestrutura e pessoal qualificado)? Justifique. O Sr (a) identifica, no contexto Apontar a opinião sobre o interesse da nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada em alocar recursos em iniciativa do adaptações para pessoas com deficiência turismo) no que se diz respeito à alocação poder usufruir de seus produtos e serviços. Q8: privada (empreendedores de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? Q9: Em sua opinião, a gestão de marketing Perceber se a gestão de marketing social social pode ser utilizada como instrumento pode contribuir para a valorização do de difusão do Turismo Social no Brasil? Turismo Social no Brasil, e isto implica , o respeito pela inclusão social. Q10: O Sr. (a) acredita na aplicabilidade Perceber se o marketing social pode ser das campanhas de marketing social para utilizado para mudar os valores dos sensibilizar e conscientizar a sociedade, empreendedores do turismo em face da © Andréia Rocha Feitosa 48 Procedimentos Metodológicos mais precisamente a iniciativa privada do acessibilidade turística no Brasil turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? Quadro 08: Questionário Definitivo - pós-teste e suas finalidades. Fonte: Elaboração própria. 3.4 Coleta dos Dados De acordo com Santos (2004), a coleta de dados é de grande relevância e deve ser conduzida cuidadosamente, pois terá reflexos diretos na análise dos dados. A coleta de dados secundários foi realizada através de informações extraídas em livros como também em bibliografias contemporâneas encontradas na internet, tais como, dissertações, teses, artigos e sites institucionais. Já a coleta de dados primários ocorreu entre os dias 03 de fevereiro e 25 de março, como já comentado, através de um questionário enviado aos respectivos emails dos especialistas escolhidos para compor a amostra. Nesses quase dois meses de coleta, foram enviados 38 questionários, sendo que deste total, obteve-se respostas de 12 especialistas. Fato este que possibilitou a concretização da pesquisa de forma satisfatória. 3.5 Análise dos Dados De acordo com a natureza e tipo de pesquisa, a técnica utilizada para análise dos dados desta pesquisa foi à análise de conteúdo. Segundo Machado (1991, p. 53), atualmente essa técnica é cada vez mais empregada para análise de material qualitativo. Bardin (1977, p. 42) conceitua a análise de conteúdo como um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. © Andréia Rocha Feitosa 49 Procedimentos Metodológicos A finalidade da análise de conteúdo é produzir inferências, trabalhando com vestígios e índices postos em evidência por procedimentos mais ou menos complexos (PUGLISI; FRANCO, 2005, p. 25). © Andréia Rocha Feitosa 50 Resultados 4 RESULTADOS 4.1 Diagnóstico das Políticas Públicas Inclusivas no Brasil De acordo com os dados coletados, foi possível constatar que o interesse por programas de ação governamentais que estimulem a inclusão social das pessoas com deficiência já se encontra bem evoluído nas áreas da saúde, educação e trabalho, entretanto, no caso do turismo, esta preocupação ainda se encontra em caráter inicial. Conforme o Sr. Romeu Kasumi Sassaki, presidente do Instituto Sociedade Inclusiva – ISI e referência nacional na área de inclusão social das pessoas com deficiência, as premissas das políticas públicas inclusivas foram verificadas a partir da década de 1950 com a elaboração das primeiras leis em defesa dos direitos das PCDs. Entretanto, foi somente nos últimos vinte anos que estas políticas começaram a surgir de fato no Brasil. Ver quadro cronológico, a seguir: Evolução das Políticas Públicas em prol da Inclusão Social 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Elaboração das primeiras Criação das primeiras leis federais voltadas para as políticas públicas áreas da SAÚDE, focadas na plena EDUCAÇÃO E TRABALHO. participação na sociedade, igualdade em direitos e dignidade Educação Inclusão social, inclusiva, equiparação de trabalho oportunidades decente, em todas as acessibilidade áreas através da arquitetônica e implantação de comunicacional, medidas das artes, esportes, acessibilidades lazer e turismo arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, Figura 21: Cronologia das políticas públicas com vistas à inclusão social Fonte: Dados da pesquisa, 2010. É o que também afirma a citação de Sassaki no referencial teórico (pág 19) : Finalmente entre a década de 1990 e início do século XXI, começou-se pensar formas de atendimento que contemplassem a autonomia destas pessoas, nos contextos da família e da comunidade. Nasce então a concepção de inclusão social, na qual tinha como pressuposto o reordenamento de cidades continuamente construídas e moldadas para todas as pessoas, com ou sem deficiência. © Andréia Rocha Feitosa 51 Resultados A opinião da Sra. Saskia Freire, Coordenadora Geral de Segmentação do Ministério do Turismo, infere que este processo de inclusão social ocorrido nas últimas duas décadas é conseqüência do interesse do Estado pelo desenvolvimento de políticas públicas mais inclusivas. No referencial teórico há uma menção sobre este assunto da seguinte forma: Foi somente ao longo dos últimos dez anos (1990-2010) que a sociedade passou a entender melhor a questão da deficiência, passando a ser explicada com base nos conceitos da diversidade e pelo entendimento de que a deficiência não é sinônima de incapacidade, mas sim de limitação. Como conseqüência, os direitos ao estudo e ao trabalho passaram a se tornar práticas, e, quanto ao turismo, mesmo que ainda de forma precoce, alguns avanços vêm se percebendo – principalmente no que se refere às edificações públicas, aos serviços de transportes e atrações. (SCHWARZ E HABER, 2009). A Sra. Sáskia ainda destaca a importância da criação do CONADE7 Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que segundo ela, serve para o acompanhamento da sociedade das ações do governo, garantindo desta forma mais transparência e comprometimento sobre o assunto. Os últimos vinte anos foram marcados pela publicação da maioria das leis e decretos que hoje existem sobre os direitos da pessoa com deficiência.Também foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que tem como objetivo que a sociedade civil faça o acompanhamento das políticas públicas voltadas para a Pessoa com deficiência.A legislação e os programas de governo se estenderam para as áreas de trabalho, educação, saúde, turismo, porém ainda existe muito a ser feito em todas estas áreas. (SÁSKIA FREIRE, 2010) Corroborando com a Sra. Sáskia Freire outros entrevistados também mencionaram o interesse do Estado por políticas públicas inclusivas. Afirmam que mesmo de forma lenta, estas, vêm evoluindo no país, com destaque para a atuação do Ministério Público, da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência8 – CORDE e do CONADE. 7 O Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência - CONADE foi criado pela Medida Provisória nº. 1.799-6 de 10 de julho de 1999, no âmbito do Ministério da Justiça, como órgão superior de deliberação colegiada, ao qual compete, principalmente, o acompanhamento e a avaliação da Política Nacional da Pessoa Portadora de Deficiência e das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer, política urbana, no que concerne à pessoa portadora de deficiência. Informação disponível em: http://www.apaebrasil.org.br/artigo. phtml/65. 8 Órgão de Assessoria da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, responsável pela gestão de políticas voltadas para integração da pessoa portadora de deficiência, tendo como eixo focal a defesa de direitos e a promoção da cidadania, o CORDE compõe o CONADE e garante o funcionamento e a secretaria executiva deste Conselho. © Andréia Rocha Feitosa 52 Resultados O CONADE, a CORDE e o MP tem desenvolvido várias ações, pleiteando os direitos da pessoa com deficiência na sociedade. (CRISTIANE ECKER, 2010). Temos visto uma evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência. Lamentavelmente, estão elas mais restrita ao âmbito da União (Ministérios e Secretarias Especializadas). (REBECCA MONTE NUNES BEZERRA, 2010). Em nível nacional, o que vejo sendo feito são ações de alguns Ministérios e também por secretarias como o CONADE (RICARDO SHIMOSAKAI, 2010). Por sua vez, quando lhes perguntado sobre quais setores vem se percebendo maiores avanços sociais , metade dos entrevistados esboçou suas opiniões, alegando ser o TRABALHO, a EDUCAÇÃO e a SAÚDE as questões mais prioritárias. [...] As áreas mais privilegiadas é a questão de cotas de emprego (grifo nosso) para pessoas com deficiência (ANDRÉA SCHWARZ, 2010). [...] A área mais privilegiada é o trabalho (grifo nosso) (CRISTIANE ECKER, 2010). [...] Entendo que as áreas que têm sido prioritária são a educação (grifo nosso) e a acessibilidade (REBECCA MONTE NUNES BEZERRA, 2010). [...] Não sei se podem dizer as mais privilegiadas, mas aquelas que têm mais atenção são: a educação, trabalho, saúde (grifo nosso) e direito (RICARDO SHIMOSAKAI, 2010). [...] A legislação e os programas de governo se estenderam para as áreas de trabalho, educação, saúde (grifo nosso) e turismo, porém ainda existe muito a ser feito em todas estas áreas (SÁSKIA FREIRE, 2010) Certamente as áreas mais beneficiadas no que dizem respeito às políticas públicas de direitos das pessoas com deficiência atualmente são: saúde, educação, trabalho (grifo nosso) e edificações públicas [...] (VIVIANE PANELLI SARRAF, 2010). Os outros discursos, ou não quiseram opinar, ou adotaram opiniões extremas. Como exemplo, transcreve-se as respostas do Sr. Romeu Sassaki, do Sr. Dadá Moreira9 Presidente da ONG Aventura Especial e do Sr. Sávio Vieira Ramos, Consultor em Turismo da empresa Araraúna Turismo e Negócios a cerca desta questão. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/dh/cc/a_pdf/modulo3-tema5-aula5.pdf 9 O Sr. Dada Moreira, mesmo sendo portador de Ataxia, problema neurológico que afeta o equilíbrio, a coordenação motora fina, fala e visão, não desistiu de trabalhar com a pratica de esportes de aventura , apenas, decidiu adaptá-los às pessoas com deficiência. Hoje, seu projeto de Aventura Especial é considerado um dos segmentos referência para o Ministério do Turismo. © Andréia Rocha Feitosa 53 Resultados O Sr. Romeu Sassaki partiu para uma abordagem mais didática sobre o assunto, optando por aderir a uma linguagem imparcial: As áreas contempladas por políticas públicas se diversificaram ao longo das décadas subseqüentes até os dias de hoje. A saber: Década de 80 – plena participação na sociedade, igualdade em direitos e em dignidade. Década de 90 – educação inclusiva, trabalho decente, acessibilidade arquitetônica e comunicacional, artes, esportes, lazer e turismo. Primeira década do século 21 – inclusão social, equiparação de oportunidades em todas as áreas através da implantação de medidas das acessibilidades arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática e atitudinal, permeadas pela acessibilidade digital e tecnológica (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) Para o Sr. Sávio Vieira Ramos as políticas públicas vêm evoluindo de forma democrática (igual para todos os setores) devido principalmente aos meios de comunicação que veiculam o conhecimento sobre o assunto e conseqüente mobilização social, apenas faz queixas quanto à forma de distribuição destas ações: A cada dia que passa as políticas publicas envolvendo os direitos das pessoas com deficiência ganha mais adeptos devidos os meios de comunicação que vem sempre abordando esta temática, e com isso as pessoas que necessitam destes direitos como um direito de ser cidadão comum vem crescendo e lhes ajudando nesta dura batalha da acessibilidade para todos. Em minha opinião, esta bem democrático as áreas mais privilegiadas colocadas (educação, saúde, trabalho, turismo, esporte, etc.) o que esta acontecendo é que estão mal distribuídas em todas as áreas por todo o nosso país. (SÁVIO VIEIRA RAMOS, 2010). Já o Sr. Dadá Moreira critica as políticas do governo ao mencionar as ínfimas evoluções ocorridas em âmbito nacional, afirmando ser o poder público conivente com o descumprimento das leis, destarte, lamenta não presenciar privilégios para nenhum setor. Prosseguindo com as interpretações dos dados, foi questionado sobre a exeqüibilidade das políticas públicas inclusivas no turismo, especialmente em acessibilidade turística. Dentre os respondentes, metade concordou com a preocupação do Estado pelo fomento do turismo acessível no país, dois foram categóricos quanto ao total desinteresse do Estado e os demais não quiseram ou não souberam opinar. O discurso do Sr. Romeu Sassaki foi bastante otimista, afirmando está o país vivenciando a fase inicial da inclusão social no turismo: © Andréia Rocha Feitosa 54 Resultados Esse interesse público evoluiu ao longo do tempo. Na área da atividade turística, ocorreram os mesmos fenômenos que caracterizaram as áreas de educação, trabalho, esporte e outras. Ou seja, a exclusão, a segregação, a integração e a inclusão – nesta ordem. [...] Já entramos no paradigma da inclusão: a etapa mais evoluída na prática do turismo por pessoas com deficiência. [...] Mas esta inclusão está ainda na fase inicial. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) Afirmação esta, já mencionada no referencial teórico (págs. 27-29) e bastante defendida pelo autor em sua obras sobre inclusão social, turismo e lazer. 1980 EXCLUSÃO Pessoas com deficiência não praticavam turismo, eram ignoradas 2000 SEGREGAÇÃO As atividades turísticas eram exclusivas para as pessoas com deficiência e restrita a poucos espaços acessíveis INTEGRAÇÃO Evolução para o turismo adaptado, no qual algumas medidas de acessibilidade, principalmente arquitetônica, foram implementadas para a prática, individualmente ou em grupo, ainda à parte dos turistas em geral. 2010 INCLUSÃO SOCIAL Etapa mais evoluída na prática do turismo por pessoas com deficiência. Ou seja, pessoas com e pessoas sem deficiência participando juntas nas mesmas atividades, nos mesmos espaços e nos mesmos momentos Figura 22: Cronologia das políticas públicas inclusivas no turismo segundo o Sr. Romeu Sassaki Fonte: Dados da pesquisa, 2010. A Sra. Mara Gabrili10 vereadora do Estado de São Paulo e empreendedora social de uma ONG com seu mesmo nome, considera que apesar do pouco interesse público pelo fomento do turismo acessível no país, parte da sociedade já discute a equiparação das oportunidades com mais propriedade do que anos atrás: Por muito tempo as pessoas com deficiência foram tratadas apenas por meio de políticas públicas de assistência social, ou seja, turismo não era um assunto que fazia parte do nosso universo. Só por este motivo, já dá para perceber o quão lenta foi esta evolução. Hoje, parte da sociedade já entende que, temos as mesmas necessidades e os mesmos anseios. 10 A Sra. Mara Gabrili, além de possuir conhecimento profissional sobre o assunto, ainda dispõe de conhecimento de causa, devido a um acidente de carro que a deixou tetraplégica. © Andréia Rocha Feitosa 55 Resultados Queremos amar, ser amados. Queremos amigos que sejam testemunhas de nossas vidas e partilhem as deles conosco. E por que não o direito a termos lembranças de uma viagem? (MARA GABRILI, 2010) Outras opiniões positivas foram retratadas pelas senhoras Sáskia Freire, Viviane Panelli Sarraf, consultora em acessibilidade cultural, Mosana Rodrigues Cavalcanti11 e pelos representantes da CORDE/RN. Concordaram que a relação turismo/pessoas com deficiência/inclusão social ainda é um assunto novo e pouco explorado no país, porém, não menos importante na pauta de discussões dos governos: Em relação ao Ministério do Turismo, posso afirmar que desde sua criação temos inserido o tema nas discussões com os destinos turísticos que trabalhamos,nos diversos projetos. Porém, observa-se que alguns destinos despertaram para o tema e entenderam a importância de se pensar o turismo sem barreiras arquitetônicas ou de acessibilidade de uma forma geral. Mas infelizmente, nem todas as leis e normas ainda são cumpridas (SÁSKIA FREIRE LIMA DE CASTRO, 2010). Percebo que a vontade política por parte do Ministério do Turismo moveu algumas mudanças significativas, como programas e incentivos, mas em relação a uma política pública acredito que é necessário avaliar as práticas existentes, diagnosticar problemas/entraves e elaborar planos de ação e incentivo que beneficiem em igual quantidade e qualidade os diferentes pólos turísticos do país. (VIVIANE PANELLI SARRAF, 2010). Com a vinda da Copa 2014, o assunto está cada vez mais sendo debatido [...] (MOSANA RODRIGUES CAVALCANTI, 2010). O Poder Público, principalmente o Ministério Público Estadual (RN), tem buscado tornar os espaços públicos acessíveis a todas as pessoas e também vem trabalhando com o objetivo de que os estacionamentos de hospedagem, de alimentação, de compras e entretenimento em geral possam receber todos os visitantes, independentemente de sua condição de mobilidade (CORDE/RN, 2010). Em contrapartida, a Sra. Andréa Schawarz12 autora do Guia Brasil para Todos e empreendedora social da ONG i.social percebe o desinteresse do poder público, alegando que este ainda não despertou para questão: “Pouco interesse no assunto. Ainda não despertaram para essa questão”, afirma. É o que confirma o Sr Dadá Moreira também ao relatar sua indignação quanto ao descaso dos governantes: Cumprimento de Lei, por que se não cumprir eu denuncio ao ministério publico. Pena que eu não posso visitar todo o Brasil para fazer isso. Posso afirmar que não existe esse interesse espontâneo até por que no 11 A Sra. Mosana Rodrigues Cavalcanti, além de especialista no assunto, é conhecedora de causa devido a um acidente de carro que a deixou paraplégica 12 A Sra. Andréa Schwarz, além de especialista no assunto, é conhecedora de causa devido a uma malformação congênita que a deixou paraplégica © Andréia Rocha Feitosa 56 Resultados desenvolvimento do projeto aventureiros especiais, onde até então não existia esse nicho de mercado tudo sempre foi muito difícil - convencer prefeituras, secretarias, empresários para uma visão inclusive de mercado. (DADÁ MOREIRA, 2010) Assim, considerando os aspectos mencionados, é possível extrair a seguinte conclusão: JÁ EVOLUÍDO RECENTE Maioria das opiniões Metade das opiniões O interesse do Estado por políticas públicas inclusivas SAÚDE TURISMO ACESSÍVEL TRABALHO EDUCAÇÃO POUCO INTERESSE DO PAÍS PELO ASSUNTO. AINDA NÃO DESPERTARAM PARA ESTA QUESTÃO! ANDRÉA SCHAWARZ, 2010 DADÁ MOREIRA, 2010 MUITO DIFÍCIL: CONVENCER PREFEITURAS, SECRETARIAS, EMPRESÁRIOS PARA UMA VISÃO INCLUSIVE DE MERCADO. Figura 23: Percepção dos entrevistados quanto ao interesse do Estado por políticas públicas inclusivas Fonte: Dados da pesquisa, 2010 4.2 O Brasil como Destino Turisticamente Acessível às PCDs De acordo com os dados coletados foi possível constatar que o Brasil não representa um destino turístico acessível às pessoas com deficiência. Muitos entraves devem ser vencidos para que este tipo de experiência seja destinado a TODOS, quer seja suas limitações. Entre as respostas, não se verificou controvérsias quanto ao assunto, ou seja, foi quase unânime a concordância quanto à inacessibilidade turística do Brasil, com exceção do discurso da Sra. Viviane Panelli que optou pela imparcialidade. © Andréia Rocha Feitosa 57 Resultados O Sr. Romeu Sassaki explica que não se pode o Brasil ser considerado acessível, uma vez que esta condição não é percebida na totalidade do país. Segundo ele, “o que temos de turismo acessível são mediadas pontuais, sazonais e de pequena abrangência”. É o que confirma o Sr. Sávio Vieira Ramos ao inferir que deve ser acessível todo o sistema turístico no qual compreende municípios, população, transporte, empreendimento, equipamentos, serviços turísticos e produtos turísticos. Por sua vez, a Sra. Sáskia Freire, mesmo concordando com as opiniões acima, acredita na mudança deste quadro com o advento da Copa 2014 e as Olimpíadas em 2016. Segundo ela, o Ministério do turismo já vem disseminando informações, normas e legislação para garantir uma Copa do Mundo acessível. Corroborando com tal opinião, a Sra. Mosana, representante da SETUR-PE, também aposta que o processo de acessibilidade turística será acelerado com a Copa de 2014 e ainda salienta que em Pernambuco estão de certa se discutindo mais sobre o assunto. 4.2.1 Regiões mais promissoras Também lhes foi perguntado se identificavam em âmbito nacional alguma região brasileira com maiores condições de acessibilidade turística (infra-estrutura e serviços) do que as demais. Entre os resultados, a região Sudeste foi à única categoricamente mencionada pelos respondentes, com exceções da Sra. Mosana Cavalcanti, que também fez destaque para a cidade de Brasília, para a Sra. Cristiane Ecker, para o Recife e da Sra. Mara Gabrili, para a região Sul. No sudeste, apenas as cidades de Socorro, Rio de Janeiro e São Paulo foram mencionadas, havendo um destaque maior para esta última. O Sr. Ricardo Shimosakai afirmou ser São Paulo a localidade mais evoluída e a Sra. Mara Gabrili complementa, dizendo que identifica em certos lugares, arquitetura e serviços acessíveis. A mesma, ainda destaca a acessibilidade da cidade de Curitiba e faz críticas ao descaso das regiões Norte e Nordeste. © Andréia Rocha Feitosa 58 Resultados [...] Podemos dizer que a região Sudeste e a Sul são as mais acessíveis. Cidades como São Paulo e Curitiba possuem em certas regiões, arquitetura e serviços acessíveis. Na nossa capital temos a Avenida Paulista, símbolo de uma das avenidas mais acessíveis do mundo, e na capital paranaense, os ônibus possuem aviso sonoro, um serviço que trouxe autonomia para os cegos viajarem. Parecem pequenas coisas, mas, para uma pessoa com deficiência a diferença é enorme, pois é o que determina ela sair de casa ou não. Quanto as piores condições, cito o Norte e Nordeste do nosso país. (MARA GABRILI, 2010) Contrariando as opiniões dos já citados, como também, da Sra. Andréa Schwarz, têm-se as considerações dos senhores Dadá Moreira e Romeu Sassaki e das senhoras Sáskia Freire e Viviane Panelli. Todos acreditam não haver atualmente no país nenhuma região turisticamente acessível por completo. O que existe, são casos pontuais, nos quais, por si só, não garantem à região “nenhuma” um caráter de referência. O Sr. Romeu Sassaki aponta quatro motivos que justifica sua opinião: Não é justo e nem possível apontarmos a região brasileira que possua mais condições para atender pessoas com deficiência em termos turísticos. Por quê? Em primeiro lugar, nunca houve, no Brasil, políticas públicas inclusivas que tivessem injetado, em âmbito nacional, recursos, insumos e suportes em todos os destinos turísticos. Em segundo lugar, [...], os poucos espaços turísticos verdadeiramente acessíveis são pontuais, sazonais e de reduzido proveito para pessoas com deficiência. Em terceiro lugar, a mídia – tanto a geral como a especializada - continua focalizando apenas os casos isolados de superação (proeza ou coragem individual) por parte de algumas pessoas com deficiência que, por mérito próprio, conseguiram vencer as desafiadoras barreiras ambientais existentes em locais de turismo. Nada contra estas pessoas, pois é ótimo que elas mostrem seu alto rendimento e, com isto, motivem outras pessoas a enfrentar as restrições do ambiente; mas, aqui estamos falando de turismo para todos: todos sem exceção têm direito à inclusão, por mínimo que seja o nível de autonomia física de alguns. Em quarto lugar, as publicações (oficiais ou não) relativas ao turismo inclusivo não trazem todos os exemplos de boas práticas que existem no imenso território brasileiro. Este fato se torna injusto para com os exemplos não-citados e nos deixa impossibilitados de saber qual região seria possuidora de maiores condições para oferecer um turismo acessível. Enfim, pôde concluir com as percepções transcritas que, mesmo com alguns casos de sucesso localizados na região sudeste, ainda não se pode inferir que o país possui uma região acessível, visto que estes casos não são em sua totalidade. 4.2.2 Barreiras que impedem o desenvolvimento Nesta fase de estudo, pôde-se fazer um levantamento das barreiras existentes no Brasil que impedem o acesso às práticas turísticas por pessoas com deficiência. © Andréia Rocha Feitosa 59 Resultados A primeira delas é conseqüência de longos anos de descumprimento legal quanto à acessibilidade arquitetônica dos espaços públicos. Segundo o Sr. Ricardo Shimosakai os órgãos públicos têm obrigação de seguir normas de acessibilidade. Estas, por sua vez, tornam-se essenciais à vida das PCDs em todos os setores, quer seja na educação, no trabalho, na saúde ou no turismo. Diante disto, o Sr. Romeu Kasumi Sassaki aponta os poucos exemplos de acessibilidade turística que se tem no país: Continuamos com pouquíssimos lugares turisticamente acessíveis. Levando em conta as dimensões continentais do Brasil, estamos apenas dando continuidade ao processo de acessibilização dos logradouros (locais públicos) e eventos de turismo, iniciado na década de 80.. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) A segunda barreira refere-se à inacessibilidade arquitetônica nos estabelecimentos turísticos, ou seja, o descaso quanto ao cumprimento das adaptações necessárias para receber com segurança e autonomia os mais diferentes tipos de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. É o que confirma o Sr. Romeu Sassaki ao relacionar o desenvolvimento da inclusão social no turismo não somente com a acessibilidade dos espaços públicos, mas também; dos privados: Não basta que tornemos acessíveis os logradouros (acessibilidade arquitetônica); é necessário executarmos também as demais acessibilidades em todo o entorno de cada local: meios de transporte, hotelaria, lojas, restaurantes, aeroportos, rodoviárias, portos, agências bancárias, cinemas, teatros, museus, centros culturais, zoológicos, aquários, parques temáticos ou ecológicos e outros espaços de lazer, passeios e viagens. Ainda somos iniciantes no desenvolvimento de uma cultura de redes, de sistemas. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) O Sr. Dadá Moreira, corrobora com a opinião do Sr. Sassaki ao acreditar que não há como se pensar em turismo para PCDs se a cadeia produtiva ignora a necessidade de adaptações em infra-estrutura. O Brasil está muito longe de ser destino turístico. Vamos até Santos que tem uma orla acessível, porém, ainda não existe hotéis e restaurantes inclusos no roteiro para a pessoa com deficiência, se a opção for viajar até lá só poderá ficar na orla. Fora isso, imagino a dificuldade de uma mulher ir ao banheiro em qualquer situação. Imagine uma mulher com deficiência. Ninguém quer viajar encontrar um hotel com quarto adaptado e ficar no quarto! (DADÁ MOREIRA, 2010) © Andréia Rocha Feitosa 60 Resultados Destarte, a Sra. Mara Gabrili infere que o turismo acessível no país é em sua essência uma prática exclusiva, no qual, oferece possibilidade de usufruto apenas às pessoas que possuem recursos financeiros suficientes para utilizar os mais caros estabelecimentos turísticos. Isto implica dizer que, no Brasil, as infra-estruturas acessíveis às PCDs são mais evidentes nos estabelecimentos de grande porte, visto que já possuem um sistema de qualidade de referência internacional. Veja relatos de suas experiências turísticas depois do acidente que a deixou tetra paraplégica: Sempre adorei viajar e isso não mudou depois do acidente. O que mudou foram os acessos. Acabei inaugurando muitos destinos como a primeira cadeirante a ser recebida em pousadas, hotéis e restaurantes. É certo que enfrentei algumas dificuldades, mas nunca deixei de freqüentar lugar algum. O que posso dizer é que depois de viajar para diversos locais, inclusive fora do Brasil, percebi que estamos muito longe de um setor turístico acessível. [...] Infelizmente, o turismo destinado às pessoas com deficiência no Brasil está praticamente restrito àqueles que têm dinheiro para pagar hotéis e pousadas caras. O país, em sua maior parte, ainda é carente de equipamentos acessíveis e de espaços inclusivos. (MARA GABRILI, 2010) Dando prosseguimento à análise das barreiras existentes, a terceira delas diz respeito à inacessibilidade atitudinal da cadeia produtiva do turismo. Bastante discutida no referencial teórico, as atitudes de estigma, preconceito e discriminação representam uma das principais barreiras que dificultam a convivência das PCDs na sociedade, e no caso do turismo, este tipo de tratamento vai repercutir diretamente na qualidade do serviço prestado. É o que infere os discursos das senhoras Mosana Rodrigues Cavalcante, Turismóloga e atualmente assistente técnica da Secretaria de Turismo do Estado de Pernambuco (SETUR-PE), a Sra. Andréa Schwarz e a Sra. Rebecca Nunes, promotora de justiça da comarca de Natal – RN: Antes de usar cadeira de rodas viajei bastante pela Europa, ainda não somos acessíveis e educados (grifo nosso) para lidar com as pessoas com deficiência [...] (MOSANA RODRIGUES CAVALCANTI, 2010). Ainda falta investimento em acessibilidade, como também, despreparo da rede turística para receber pessoas com deficiência (questão atitudinal) (grifo nosso) (ANDRÉA SCHWARZ, 2010) © Andréia Rocha Feitosa 61 Resultados Enquanto não houver mudança de cultura no brasileiro (grifo nosso) de que todos são iguais em oportunidade, não tem o Brasil condições necessárias para atender a este público, pois as iniciativas que conhecemos limitam-se a fatos isolados ou a pessoas que apenas cumpriram de forma estrita a lei [...] entendo que é a falta de visão de que tais pessoas são consumidores e, geralmente, estão cercadas de outros consumidores. (REBECCA MONTE NUNES BEZERRA, 2010) Em um segundo momento da pesquisa, foi-se questionado sobre qual tipo de acessibilidade exercia maior importância para a pessoa com deficiência no momento da escolha por um destino turístico. Com isso, pôde-se perceber que metade dos entrevistados considera que as PCDs têm em mente um destino que as ofereça um conjunto de facilidades destinadas a promover a mais segura, autônoma e digna experiência turística, constituindo-se então, a harmonia entre acessibilidade nos espaços públicos e privados, e isto implica na eliminação de barreiras tanto físicas como de atitudes. Autenticando essa idéia, transcrevem-se as opiniões do Sr. Ricardo Shimosakai e das senhoras Andréa Schwarz, Cristiane Ekcer, Rebbeca Monte e Viviane Panelli: Apesar de cada um ter suas dificuldades e habilidades específicas, ambos os fatores são importantes, senão fica um roteiro incompleto. (RICARDO SHIMOSAKAI, 2010) A melhoria nas condições de acessibilidade e atendimento com certeza aumentaria a demanda destes turistas. Os dois fatores mencionados são importantes na escolha de um destino, pois sem eles fica impossível a pessoa com deficiência realizar sua viagem. (ANDREA SCHWARZ, 2010) Acho que é uma mescla de infra-estrutura e capacitação do destino. (CRISTIANE EKCER, 2010) Acho que não há como indicar apenas um dos fatores, pois eles estão totalmente associados. (REBECCA MONTE NUNES BEZERRA, 2010) As duas coisas são necessária estrutura urbana, serviços e profissionais qualificados. Uma coisa não substitui a outra quando se trata de acessibilidade. (VIVIANE PANELLI SARRAF, 2010) Contrapondo o que foi exposto acima, o Sr. Romeu Sassaki considera ser a acessibilidade arquitetônica o fator mais importante na escolha de um destino turístico por uma PCD. Segundo ele, somente satisfeito este quesito, deve-se levar em consideração a acessibilidade atitudinal (qualidade dos serviços): Primeiro fator: acessibilidade em infra-estrutura. (grifo nosso) Segundo fator: acessibilidade em serviços. Geralmente, cada pessoa com deficiência, ao escolher um destino turístico, investiga primeiro se ele oferece infraestrutura acessível para as suas necessidades específicas decorrentes da © Andréia Rocha Feitosa 62 Resultados deficiência que tenha. Para isso, ela utiliza todos os meios possíveis: perguntando a quem já tenha ido a esse destino turístico, consultando publicações, telefonando ao determinado local, navegando pela internet etc. Se a pessoa concluir que o desejado destino turístico é inacessível para ela, esta opção de viagem será simplesmente descartada, mesmo que a pessoa fique sabendo que o local oferece acessibilidade em serviços. Raramente, as pessoas com deficiência adotam o processo inverso. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010). De forma similar, apresentam-se as reflexões das senhoras Mara Gabrili e Mosana Cavalcanti e dos representantes13 da CORDE/RN: É claro que se as duas condições avançarem, a demanda vai aumentar. Mas, o primordial é o acesso (grifo nosso). Se a infra-estrutura não for acessível à pessoa com deficiência já é barrada antes de testar o serviço (MARA GABRILI, 2010) Saber se tem sanitários adaptados, se os apartamentos estão dentro das normas, bares e restaurantes acessíveis e transportes principalmente. Hoje em Recife não possui nenhum táxi adaptado. (MOSANA RODRIGUES CAVALCANTI, 2010). No que se diz respeito ao sistema de transporte e calçadas das cidades (passeios públicos), a nosso ver, são os principais problemas enfrentados para que o país se equipare em termos de destino turístico inclusivo às nações desenvolvidas (CORDE/RN, 2010) Já o Sr. Sávio Vieira Ramos considera ser o serviço das empresas turísticas o fator que mais influencia à PCD na escolha por um destino turístico: “[...] Um dos fatores que possa influenciar a mais, rogo pelo serviço das empresas turísticas, tanto na sua qualificação de serviços humanos, quanto aos locais escolhidos para acomodar este público”. É o que confirma a percepção da Sra. Sáskia Freire: Desconheço dados ou pesquisas que nos dêem essa resposta, mas acredito que tem que ser o conjunto, pois o turista com deficiência precisa ter acesso à infra-estrutura turística (meios de hospedagem, restaurantes, atrativos etc.) e precisa de pessoas capacitadas para realizar os serviços nestes locais(SÁSKIA FREIRE LIMA DE CASTRO, 2010). Levemente contrariando tudo o que foi colocado anteriormente, o Sr. Dada Moreira afirma ser esta escolha muito pessoal e exemplifica: Isso é muito pessoal. Por exemplo, eu não gostaria de ir a Sibéria só por que lá é acessível. Mas posso te afirmar que se eu tivesse que escolher uma praia para ir, iria à Santos por que sei que lá eu posso ser livre. Tem pessoas que abominam mato e água, eu adoro, então ao viajar, vou pesquisar um lugar que tem mato, um lugar que eu possa ir e ser livre (DADÁ MOREIRA, 2010) 13 O questionário da pesquisa foi primeiramente destinado ao subcoordenador da CORDE/RN, Sr. Éliton de Sousa, que posteriormente o repassou para os senhores Sr. José Gesy de Brito Sousa, arquiteto e urbanista, a Sra. Maria Melo Germano, engenheira civil e a estagiária em arquitetura, Sra. Louise Caroline Linhares de Freitas. © Andréia Rocha Feitosa 63 Resultados Por fim, pelo seu posicionamento pôde-se presumir que a pessoa com deficiência, opta por um destino não necessariamente por que este oferece acessibilidade, mas sim, por que se sente motivado em conhecer o lugar devido às suas peculiaridades próprias (natureza, cultura, história, etc.). Desta forma, ele traz para a problemática, um quesito antes não mencionado que são as preferências e gostos de cada pessoa em particular. A seguir, com base no conteúdo das entrevistas, ilustra-se as condições necessárias para fazer do Brasil um país turisticamente acessível às pessoas com deficiência (Figura 29) como também as cidades apresentadas pelos entrevistados como sendo as mais acessíveis do país (Figura 30) ARQUITETÔNICA 1 (Espaços Públicos) C Romeu Sassaki Mara Gabrili CORDE/RN Mosana Cavalcanti A Romeu Sassaki Mara Gabrili Sávio Vieira Sáskia Freitas Mosana Cavalcanti Sávio Vieira Sáskia Freitas B ACESSIBILIDADE ATITUDINAL (Qualidade nos Serviços Turísticos) ARQUITETÔNICA 2 (Estabelecimentos Turísticos) ATITUDINAL + ARQUITETÔNICA 1/2 MUITO PESSOAL, (Vai depender dos gostos e preferências de cada um) D Ricardo Shimosakai Andréa Schawarz Cristiane Ecker Viviane Panelli Legenda: A B C D Percepção dos entrevistados quanto às prioridades em acessibilidade. E Dadá Moreira Figura 24: Percepção dos entrevistados quanto aos fatores que exercem maior influência durante a escolha de um destino turístico por uma PCD. Fonte: Dados da pesquisa, 2010. © Andréia Rocha Feitosa 64 Resultados Figura 25: As cidades mais acessíveis do país Fonte: Dados da pesquisa, 2010. 4.2.3 A iniciativa privada e o desinteresse pela acessibilidade turística Como já abordado na categoria “barreiras existentes”, a situação de inacessibilidade atitudinal e arquitetônica dos espaços privados representa um dos entraves principais para o não desenvolvimento do país como um destino turisticamente acessível. Através dos dados coletados referentes ao quadro atual do turismo acessível no Brasil, procurou-se identificar nos discursos os motivos do desinteresse por parte dos empreendedores do turismo 14 quanto essa questão. O primeiro fator salientado diz respeito à falta de conhecimento dos empresários quanto ao potencial nicho de mercado que as pessoas com deficiência representam. Os senhores Romeu Sassaki e Ricardo Shimosakai e a Sra. Mara Gabrili explicam detalhadamente esta problemática: A falta de interesse (grifo seu) de quem quer que seja (do primeiro, do segundo e do terceiro setores da sociedade) não constitui o fator fundamental que possa impedir ou dificultar a alocação de investimentos em turismo para pessoas com deficiência. O fator fundamental é o 14 Hoteleiros, donos de agências de turismo, de restaurantes, de empresas de recreação, entre outros. © Andréia Rocha Feitosa 65 Resultados desconhecimento (grifo seu), por parte dos três setores, sobre o potencial turístico do segmento das pessoas com deficiência. O desconhecimento é fruto da falta de informações (grifo seu) sobre este potencial e da falta de convivência (grifo seu) com este segmento. Temos testemunhos, depoimentos e relatos de órgãos oficiais e de instituições particulares que, uma vez informados e familiarizados sobre o potencial turístico deste segmento, passaram a investir - com alto interesse - no chamado turismo acessível, turismo inclusivo ou turismo para todos. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) Falta de interesse por vezes sim, pois temos poucos exemplos reais aqui no Brasil para ter uma base de comparação. Porém creio que seja mais falta de informação, em saber que existe esse segmento, ou também pela falta de conhecimento de como se preparar. (RICARDO SHIMOSAKAI, 2010) Falta não só infra-estrutura acessível, mas também, informação clara a respeito do assunto. Muita gente, inclusive do setor turístico, não entende as necessidades e os diferentes tipos de deficiência. Por exemplo: adaptar um quarto para um cego é diferente de adaptar para um cadeirante. É preciso pensar nisso também. (MARA GABRILI, 2010) Veja o depoimento do Sr. Dadá Moreira quanto à relação pessoa com deficiência / consumidor em potencial: Acessibilidade não é caridade e sim um mercado. As pessoas com deficiência trabalham e querem gastar seu dinheiro viajando, jantando num bom restaurante indo a um shopping, cinema, danceteria motel... Por que não???? (DADÁ MOREIRA, 2010) Outro fator importante foi destacado pelo Sr. Sávio Vieira e se refere à falta de fiscalização do poder público quanto ao cumprimento das normas de acessibilidade: No contexto nacional, na minha percepção esse problema vem devido à falta de fiscalização das políticas públicas que não são utilizadas como deveriam ser; além de ter seus direitos ter sido à tão pouco tempo reconhecidas. Onde os empreendedores se recusam em estar intervindo em seus empreendimentos e causando transtorno em seu ambiente neste período, e se mostram se desconhecidos pelas exigências exigidas para receber este público. Segundo a Sra. Sáskia Freire, os empresários costumam utilizar a falsa justificativa do descumprimento da legislação da seguinte forma: Em geral, no Brasil os empresários costumam justificar a falta de investimentos em acessibilidade, devido aos altos custos para as adaptações e a baixa demanda. Mas nós sabemos que se não houver investimentos, os turistas deficientes não buscarão aquele destino ou empreendimento. Então entendo que os empresários precisam ser pro ativos nesta questão. (SÁSKIA FREIRE, 2010). © Andréia Rocha Feitosa 66 Resultados Para os representantes da CORDE/RN os empreendedores do turismo baseiam-se na justificativa de que nunca foram procurados ou nunca receberam um turista com deficiência: Também, a resistência dos empreendedores brasileiros de turismo baseiase numa frase fatal: “Nunca fomos procurados, ou nunca recebemos um turista PPD”. Contudo, pode-se afirmar como contraponto que uma PPD não vai a um lugar se ela não tem certeza se terá acesso para circular e usufruir de tal espaço As demais opiniões foram mais sintéticas, tendo em seus discursos respostas similares as anteriores, entretanto menos explicativas: São pouquíssimas as iniciativas que surgiram do respeito às diferenças. A grande maioria surgiu apenas pela exigência legal. (REBECCA MONTE NUNES BEZERRA, 2010) São raros os casos de agências de turismo que invistam em viagens para destinos acessíveis ou acessibilizados. (VIVIANE PANELLI SARRAF, 2010) Ainda não acordaram para este público. (ANDRÉA SCHARWZ, 2010) Sim, penso que não é o público alvo deles. (MOSANA CAVALCANTI, 2010) As empresas privadas querem e só pensam em lucro, por isso divergem na questão do investimento. (CRISTIANE ECKER, 2010) Considerando todos os fatores mencionados, é possível observar a seguinte ilustração: MOTIVOS DO DESINTERESSE DA INICIATIVA PRIVADA QUANTO AOS INVESTIMENTOS EM ACESSIBILIDADE TURÍSTICA Desconhecimento do potencial nicho de Mercado que representam as PCDs Falta de Fiscalização do poder público quanto às normas de acessibilidade Desinformação sobre o interesse e necessidades das PCDs pelos serviços turísticos. Figura 26: Motivos do desinteresse da iniciativa privada quanto aos investimentos em acessibilidade turística. Fonte: Dados da pesquisa, 2010 Diante do que foi exposto durante o referencial teórico no que concerne às contribuições do marketing social à causa pretendida neste trabalho, observou-se © Andréia Rocha Feitosa 67 Resultados que estratégias de sensibilização e conscientização poderiam amenizar os três motivos, apontados pelos entrevistados como as causas do desinteresse pela acessibilidade turística no Brasil. 4.3 Os Benefícios Sócio-Econômicos Gerados aos Destinos Acessíveis Esta categoria analisa a percepção dos entrevistados no que se refere aos benefícios sociais e econômicos gerados aos destinos turísticos que se preocupam com a inclusão social das pessoas com deficiência. É importante ressaltar que em nenhum momento as respostas dos especialistas apresentaram controvérsias, todos alegaram benefícios salutares nos dois aspectos mencionados. O Sr. Romeu Sassaki afirma ser esta a visão da inclusão e do desenho universal e suas repercussões positivas não beneficiam somente as pessoas com deficiência quando turistas, mas sim, toda a população, residente ou visitante. É o que ele conceitua como sendo medidas inclusivas: [...] Medidas inclusivas são medidas includentes: o que é bom para pessoas com deficiência é bom para as demais pessoas. Ao contrário, as medidas integrativas ou integradoras são aquelas que beneficiam exclusivamente as pessoas com deficiência. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) Corroborando com estas reflexões, o Sr. Ricardo Shimosakai ainda complementa, afirmando que a acessibilidade destina-se também para os idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Quanto aos aspectos econômicos, faz referência ao aumento da demanda propiciada tanto pelas PCDs quanto por seus acompanhantes: “uma pessoa com deficiência visitando o local já é um lucro por si só, mas geralmente ele vai acompanhado de mais pessoas, então este faturamento é multiplicado". Em seu discurso, a Sra. Rebecca amplia mais ainda o leque dos beneficiados, segundo ela; são também as gestantes, obesos e pessoas com limitações físicas temporárias que ganham com a acessibilidade. Já a Sra. Viviane Panelli acrescenta às famílias com crianças pequenas e pessoas em tratamentos de saúde. Outro relato bastante significativo encontra-se presente nas opiniões dos representantes da CORDE/RN quando consideram que a acessibilidade representa um valor de imagem agregado ao destino, acarretando-lhes ganhos econômicos consideráveis: © Andréia Rocha Feitosa 68 Resultados Pensamos que sim, tanto há pontos positivos gerados pelos destinos como também, ficam reflexos salutares após o recebimento dos PPD’S (pessoas portadoras de deficiência). Quem recebe com dignidade, segurança e conforto um turista PPD, certamente terá difundido por terceiros, sua capacidade de acomodação e hospedagem. Para quem vê um PPD usufruindo sem percalços de um ambiente, seja hotel, restaurante, teatro, shopping ou logradouro público em uma cidade, também guardará uma imagem positiva deste lugar. (CORDE/RN, 2010) A Sra. Sáskia Freire exemplifica a assertiva acima ao mencionar o caso do Município de Socorro – SP que, desde quando optou pelo turismo acessível, vem conquistando um considerável retorno financeiro: Atualmente, os destinos que têm tomado à frente nas ações de acessibilidade tem relatado resultados positivos no aumento da demanda turística, de pessoas com ou sem deficiência. Socorro é um grande exemplo disso. Foi um destino que se posicionou no mercado turístico com a imagem de destino acessível e isso tem rendido um retorno fantástico em termos de fluxo turístico e mídia espontânea, conforme relatam os empresários e gestores locais. (SÁSKIA FREIRE, 2010) Para o Sr. Sávio Vieira os meios de comunicação são de fundamental importância para conhecimento do destino e aumento da demanda, resultando em benefícios econômicos para a região. Segundo Dada Moreira e com base nas experiências que assessora; o aumento na demanda equivale a 30% de ocupação no destino, sendo que nos hotéis essa taxa de ocupação supera a marca de 90% durante a semana. Prosseguindo, a Sra. Mara Gabrili afirma que uma sociedade somente se torna inclusiva através da igualdade de acessos e que esta ação, além de garantir benefícios econômicos (lucro) implica também em ganhos sociais (investimento na diversidade, respeito às diferenças e cidadania): [...] o público das pessoas com deficiência representa um potencial econômico forte, além disso, há outros impactos positivos que não dizem respeito apenas ao dinheiro. Uma sociedade só é inclusiva através de igualdade de acessos. Isso faz bem para a imagem social de qualquer cidade turística. (MARA GABRILI, 2010) Destarte, sendo as ações em acessibilidade turística uma prática de inclusão social, não poderia ser diferente a constatação por parte dos entrevistados quanto aos benefícios gerados com tal iniciativa. Com a finalidade de intensificar o esclarecimento dos benefícios sociais e econômicos gerados aos destinos turísticos que optam por investimentos em © Andréia Rocha Feitosa 69 Resultados acessibilidade (pública e privada), ilustra-se a seguir uma síntese de tudo o que foi exposto: Figura 27: Principais beneficiados com a acessibilidade nos espaços públicos e privados Fonte: Dados da pesquisa, 2010 BENEFÍCIOS SOCIAIS Respeito às diferenças Cidadania Qualidade de vida para toda a comunidade Equidade Social proporcionada pela igualdade de acessos ECONÔMICOS IMAGEM Aumento da Demanda e consequente retorno financeiro para as empresas turísticas Figura 27: Os benefícios sociais e econômicos gerados aos destinos turísticos Fonte: Dados da pesquisa, 2010 De acordo com o exposto acima, constata-se que os benefícios conquistados com a aceitação da causa social proposta estão intrinsecamente relacionados com a alavancagem na imagem do destino proporcionada pelo compromisso com a inclusão social. © Andréia Rocha Feitosa 70 Resultados 4.4 O Marketing Social e suas contribuições ao Turismo Acessível O foco da problemática do estudo ora realizado transcendeu a identificação do problema, partindo para a tentativa de solução, a partir da aplicabilidade do marketing social: Diante disto, os entrevistados foram questionados sobre a concordância ou discordância sobre duas questões que somados se complementam em uma análise mais aprofundada. A primeira refere-se à interface existente entre turismo social e marketing social, isto é, investigou-se a opinião dos respondentes quanto à viabilidade da utilização do marketing social como forma de difundir o turismo social no Brasil, mais precisamente com foco nas experiências turísticas das PCDs enquanto turistas. A segunda questão procurou identificar a percepção quanto à eficiência das campanhas de marketing social no sentido de sensibilizar e conseqüentemente alterar o comportamento da iniciativa privada do turismo quanto à causa das PCDs no turismo. De acordo com os dados coletados, pode-se concluir que todos os respondentes concordaram com os dois questionamentos, com exceção da Sra.Cristiane Ecker que na segunda questão referente ao tema, alegou ser mais necessária a criação de campanhas publicitárias que estimule a qualidade no atendimento dos estabelecimentos turísticos do que campanhas de marketing social: “Marketing social não. Temos que desenvolver campanhas de divulgação de uma cadeia produtiva eficiente!”, entretanto, ao analisar seu discurso concluiu-se que a Sra. Ecker não assimilou o conceito de marketing social com seu elemento mais fundamental, a promoção da idéia. Outro ponto a ser destacado nas entrevistas diz respeito à confusão existente entre os conceitos de campanhas de marketing social e campanhas de marketing de causas sociais; O primeiro conceito, Minciotti (1983) explica que está voltado principalmente para atuação do governo, tendo a missão de garantir qualidade de vida a todos os cidadãos, sem com isso, objetivar ganhos mercadológicos. Já o marketing de causas sociais refere-se às estratégias de responsabilidade social utilizadas nas empresas no intuito de garantir a valorização da imagem e conseqüente retorno financeiro. É o que aborda a citação abaixo e já exposta durante o referencial teórico: © Andréia Rocha Feitosa 71 Resultados Marketing de causas sociais é uma forma efetiva de melhorar a imagem corporativa, diferenciando produtos e aumentando tanto as vendas quanto a fidelidade. (...) É o esforço que as empresas fazem para associar suas atividades – diretamente ou em parceria com instituições de caridade – a uma causa social aprovada por grande parte da sociedade e, portanto, dos consumidores. (PRINGLE, THOMPSON, 2000, p, 3) A Sra. Mara Gabrili conceituou perfeitamente o resultado esperado com a aplicação das campanhas de marketing social pela gestão pública: “É claro, pois estas ações fazem com que o setor (do turismo) e a sociedade no geral percebam a necessidade da pessoa com deficiência e a importância de investir em diversidade”. Entretanto, assimilou as campanhas de marketing social com merchandising social a partir do instante em que identificaram em telenovelas exemplos de campanhas de marketing social: “Isso pode ser verificado nas novelas, quando há um apelo social para determinados temas, percebemos que a sociedade no geral se sensibiliza e se vira para o assunto”. O Merchandising Social surge em meio ao entretenimento apresentado pelas novelas (grifo nosso), como uma forma estratégica e intencional, para alertar os telespectadores sobre questões sociais, a partir de temas que são expostos de forma educativa e acessível aos conhecimentos das diversas camadas sociais. A exploração desses temas é inserida dentro das tramas e os personagens são emissores destas temáticas. A inserção do Merchandising Social não se limita apenas às problemáticas sociais, mas também fornece possíveis formas de solução para as situações apresentadas se valendo ainda de uma linguagem de fácil compreensão. A trama é fictícia, no entanto, os temas são inspirados no cotidiano da população em seus diferentes contextos, assim o esclarecimento permeia naturalmente em meio à sociedade. (COSTA, et.al, 2009, p.6) Não que a Sra. Mara Gabrili esteja errada. De fato, conforme Costa et al a o merchandising social possui a capacidade de sensibilizar a sociedade com as questões sociais, entretanto, como já relatadas no referencial teórico, não se pode inferir que estas se tratam de marketing social, pois não envolvem em seu planejamento todas as estratégias e fundamentações utilizadas no marketing social. Reflexão similar a da Sra. Mara Gabrili constata-se no discurso do Sr. Sávio Vieira Ramos ao defender a importância da mídia como disseminador do processo de inclusão social: Hoje vejo a televisão sempre em evidencia em suas novelas, debates, programas abordando temas que mostram o tema da acessibilidade para as pessoas, e com isso fortalecendo o marketing social e sempre se mobilizando em ações para promover e agir em prol da acessibilidade em si, não só apenas da acessibilidade turística, mais sim em todo o sistema que lhe envolve. (SÁVIO VIEIRA RAMOS, 2010) © Andréia Rocha Feitosa 72 Resultados Prosseguindo, no que se refere à segunda questão, em seu discurso, o Sr. Ricardo Shimosakai defende a interface turismo social e marketing social com bastante propriedade: [...] as duas estão fortemente interligadas, pois o marketing social trabalha para a adoção de um conceito ou causa fundamentada nos direitos humanos e na equidade social, e o turismo social pratica a atividade turística baseada em conceitos de inclusão. Os dois têm o mesmo sentido, porém em diferentes plataformas (RICARDO SHIMOSAKAI, 2010) É o que também confirma a Sra. Rebecca Nunes quando relata que o desenvolvimento do turismo social está relacionado com a mudança cultural do brasileiro, e também, o Sr. Dada Moreira quando destaca a educação e conscientização da sociedade gerada pela divulgação das campanhas de marketing social: [...] não só para divulgar como também para educar e envolver a população em denunciar e punir os infratores das leis de acessibilidade. Se o turismo é bom para que venha de fora; imagina para os moradores locais que podem usufruir da mesma infra-estrutura. Ir ao banco, a praça, ao correio, passear enfim, fazer tudo. (DADÁ MOREIRA, 2010) A Coordenadora Geral de Segmentação do Ministério do Turismo, Sra. Sáskia Freire, além de concordar com as mesmas opiniões acima, também acredita que a gestão de marketing social possa ser uma boa estratégia, embora ainda não se tenha no Ministério projetos desse tipo. Outra constatação bastante proveitosa para o entendimento da temática deve-se ao Sr. Romeu Sassaki. Este, por sua vez, mesmo concordando com a eficiência das do marketing social explica que não deve ser ele o único instrumento de difusão do turismo social, mas sim, um dos instrumentos de difusão, salientando com esta afirmação a necessidade do trabalho em equipe: “uma rede de apoios, formada por parcerias e interfaces envolvendo diversos níveis dos três setores: governos, empresas e organizações não-governamentais”. Quando questionado acerca da eficiência e eficácia das campanhas de marketing social em face da causa social defendida neste trabalho, o Sr. Sassaki destaca a importância do conteúdo destas campanhas como também a necessidade da participação das PCDs no processo de criação das mesmas: © Andréia Rocha Feitosa 73 Resultados É preciso deixar claro que, antes de serem eficazes e eficientes, as campanhas de marketing social - assim como os meios de comunicação não são automaticamente boas, corretas e adequadas só porque são campanhas. Pois, uma campanha ruim, incorreta e inadequada poderá, também, ser executada com eficácia e eficiência, o que seria um desastre para o segmento das pessoas com deficiência e para a sociedade como um todo. Portanto, devemos assegurar que as campanhas de marketing social sobre o turismo inclusivo sejam formuladas e montadas com conteúdos bons, corretos e adequados, os quais então deverão ser executados eficaz e eficientemente. Para que existam estas qualidades - o bom, o correto e o adequado -, hoje se exige que o segmento das pessoas com deficiência (público-alvo) seja consultado e ouvido, já na fase de montagem das campanhas de marketing e, em seguida, nas fases de execução, monitoramento, avaliação e reformulação. Hoje se pratica o lema “Nada sobre nós, sem nós”. (ROMEU KASUMI SASSAKI, 2010) Enfim, foram várias as conclusões extraídas com a interpretação das entrevistas e, no sentido de elucidar as compreensões optou-se por apresentar um esquema ilustrativo, conforme segue: As PCDs devem ser consultadas e ouvidas em todas as fases de planejamento das campanhas “Nada sobre nós, sem nós!” Proporciona mudanças de valores enraizados na cultura do brasileiro Facilita a disseminação do conceito de Turismo e Inclusão Social em decorrência da divulgação na mídia Embora eficazes, suas estratégias são desconhecidas pelo Ministério do Turismo Suas campanhas são geralmente confundidas com campanhas de “Marketing de causas Sociais” e “Merchandising Social” MARKETING Suas campanhas conscientizam sobre a noção de diversidade SOCIAL Devem ser formuladas com conteúdos bons, corretos e adequados. Educa a sociedade para que não sejam coniventes com a impunidade na legislação sobre acessibilidade Figura 28: Conclusões sobre a aplicabilidade do marketing social para a valorização da acessibilidade turística no Brasil. Fonte: Dados da pesquisa, 2010. © Andréia Rocha Feitosa 74 Resultados 4.5 Construindo um Plano de Marketing Social com foco na inclusão das Pessoas com Deficiência no Turismo Segundo Kotler (1978), a possibilidade de sucesso das campanhas de marketing social esta atrelada à formulação de um plano de marketing, sendo este capaz de materializar o foco dos objetivos, e com isso, falhar com menor probabilidade. Para Oliveira (1988), o plano de marketing se faz importante na medida em consolida em um documento uma série de procedimentos de análise, reflexão e proposições compreendidos durante o processo de planejamento. A ilustração que se apresenta norteia a seqüência dos passos a serem seguidos durante a materialização do plano de marketing, visando e tem o objetivo de fundamentar a aplicação de metodologias, processos e estratégias com vistas à valorização das pessoas com deficiência em suas experiências turistas. Definição dos objetivos Variáveis estratégicas Produto Preço Segmentação dos públicos Praça Promoção Análise da situação Análise concorrência Figura 29: Etapas fundamentais na elaboração de um plano de marketing social. Fonte: Kotler e Zaltman (1971). Elaboração própria Diante disto, será construída a seguir e com base em dados secundários uma prévia de um plano de marketing focado na causa social estudada neste trabalho. Vale ressaltar que para a formulação do plano de marketing propriamente dito, será necessária uma análise mais detalhada de todos os pontos aqui apresentados. © Andréia Rocha Feitosa 75 Resultados 4.5.1 Definição dos objetivos da causa social pretendida Objetivo principal: Induzir a transformação social na cadeia produtiva do turismo através do resgate e geração de valores. Objetivo secundário: Possibilitar experiências turísticas com autonomia e qualidade para as pessoas com deficiência e isto implica a promoção da acessibilidade arquitetônica e atitudinal. 4.5.2 Segmentação dos públicos Conforme citado por Minciotti, o processo de segmentação se faz importante na medida em que possibilita a identificação do público ao qual será destinado o produto social: Segmentar significa identificar grupos(s) de indivíduos que precisam de um “produto” (idéia, novo hábito, comportamento, etc.) seja porque não o querem, seja porque não o conhecem, não sabem utilizá-lo ou simplesmente por rejeitarem a idéia de seu uso. (MINCIOTTI, 1983, p.57). Na causa das PCDs, estes públicos estão segmentados conforme a ilustração a seguir: PÚBLICOS Parceiros Beneficiários Destinatários Poder Público e Terceiro Setor Pessoas com Deficiência Empreendedores do Turismo Figura 30: Segmentação dos Públicos Fonte: (SILVA, MINCIOTTI, p.5) Elaboração própria. Parceiros: Públicos junto aos quais se procura captar recursos e estabelecer parcerias. No caso em questão, este público corresponde aos gestores estaduais e municipais, assim como às ONGs e associações que lutam pela defesa dos direitos das pessoas com deficiência no Brasil. Beneficiários: Como o nome já diz, são aqueles que serão beneficiados com a ação de marketing social. © Andréia Rocha Feitosa 76 Resultados Destinatários15: Público ao qual é destinada a ação de mudança social no qual o indivíduo ou grupo é convidado ou convencido a adotar um determinado comportamento que irá trazer benefícios para a sociedade. Segundo Inkotte, (2003, p.101), a relação beneficiário/destinatário está inserida no mercado social no qual “os benefícios decorrentes não são revertidos para aquele que deflagra o processo (destinatário), mas para a sociedade (beneficiada) como um todo, pois se refere basicamente a mudanças de comportamento e adoção de novas idéias”. SOCIEDADE Pessoas com Deficiência AGENTE DE MUDANÇA Campanhas Publicitárias ADOTANTE Empreendedores do Turismo Figura 31:Relações existentes no Mercado Social Fonte: ( Elaboração própria, 2010) 15 Nesta ação de marketing social em particular, o destinatário não é o beneficiário, ao contrário do que ocorre na maioria das campanhas de saúde. Mesmo que a ação de mudança, indiretamente, o forneça benefícios econômicos por conseqüência da valorização da imagem do destino, ainda assim o destinatário não assume a posição de beneficiário , sendo esta, destinada as PCDs que terão mais qualidade de vida proporcionada por experiências turísticas com autonomia e segurança. © Andréia Rocha Feitosa 77 Resultados 4.5.3 Público-alvo: empreendedores do turismo CLIENTE AGÊNCIAS DE TURISMO (EMISSIVO) AGÊNCIAS DE TURISMO (RECEPTIVO) PRODUTOS TURÍSTICOS SERVIÇOS Hospedagem, Transporte, Alimentação e Outros EQUIPAMENTOS Condução e Guiamento ATRATIVOS Atrativos e Atividades de Lazer Figura 32: Fluxo da Cadeia Produtiva do Turismo(BRASIL, 2009, p.14) Fonte: (Elaboração própria, 2010) Depois de segmentos os públicos envolvidos na ação de marketing social, o próximo passo será a identificação de qual público pretende-se atingir. Desta forma, o público-alvo destas ações de marketing são os destinatários, ou seja, todos os envolvidos no fluxo da cadeia produtiva do turismo (ver figura) que conforme Souza (2003) apud Zagheni (2004, p.67) representa dois dos três componentes existentes em uma cadeia produtiva de turismo, as empresas líderes e os provedores de serviços, conforme descreve, a seguir: Empresas líderes: meios de hospedagem, agências de viagem, empresas de alimentação turística, empresas de entretenimento, empresas vendedoras de artesanatos e produtos típicos, centros comerciais e galerias de arte; Provedores de serviços: transportadoras, informações turísticas, locadoras de veículos, atendimento a veículos (oficinas), centros de convenções, parques de exposições, auditórios, fornecedores de alimentação, construção civil, artesãos, sistema de comunicação, serviços de energia elétrica; Infra-estrutura de apoio: escolas de turismo, serviços de elaboração de projetos, assistência técnica, infra-estrutura física, instituições governamentais, telecomunicações, sistema de segurança, sistema de seguros, convênio com universidades, representações diplomáticas, casas de câmbio e bancos, equipamento médico e hospitalar, serviços de © Andréia Rocha Feitosa 78 Resultados recuperação do patrimônio público, administração dos resíduos sólidos, preservação do meio ambiente. 4.5.4 Análise da situação - estudo da demanda As ações de marketing social devem ter uma visão de longo prazo e se basear em campanhas contínuas e não isoladas. Para o desenvolvimento das estratégias, deve ser realizada uma análise situacional dos ambientes interno e externo, a fim de identificar o problema social (grifo nosso) e determinar o programa que será desenvolvido. (RIBEIRO, OLIVEIRA, 2006, p.5) Na identificação do problema social, alguns pontos devem ser levados em consideração, tais como “investigações da demanda (identificação dos beneficiários potenciais - consumidores), a estudo da concorrência e campanhas que devem refletir o que o público-alvo necessita para funcionar de maneira eficaz” (KOTLER, ROBERTO, 1992 apud SILVA, MINCIOTTI, p.5). A seguir, será apresentada, uma breve identificação sobre as características da demanda, com base em uma revisão documental do censo 2000 do IBGE. Esta, por si só, não é capaz de dar subsídios mais representativos sobre a análise situacional, necessitando de um aprofundamento da pesquisa. Figura 33: Pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida Fonte: Brasil Acessível – Programa Brasileiro de acessibilidade Urbana (Caderno 3) a) Os Tipos de Deficiência O Decreto Nº. 5.996 de 2 de dezembro de 2004 caracteriza as pessoas com deficiência da seguinte forma: I - pessoa com deficiência, além daquelas previstas na Lei nº. 10.690, de 16 de junho de 2003, aquela que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes categorias: © Andréia Rocha Feitosa 79 Resultados Tipos Física Caracteristicas Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções; Auditiva Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz; Visual Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais o somatório da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; Mental Múltipla Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização dos recursos da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho; Associação de duas ou mais deficiências Quadro 02: Tipos de deficiência e seus devidos conceitos. Fonte: Elaboração própria com base no decreto 5296/04 II - pessoa com mobilidade reduzida, aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção. b) Dados Populacionais: Depois de analisados os dados do Censo 2000, tirou-se as seguintes conclusões sobre o perfil das pessoas com deficiência no Brasil: 24,5 milhões de pessoas com deficiência, o equivalente a 14,5% da população total. Informação esta que condiciona ao país a posição de 7º lugar dentro do ranking mundial, perdendo apenas para países como: Nova Zelândia, Estados Unidos, Austrália, Uruguai, Canadá e Espanha, respectivamente. © Andréia Rocha Feitosa 80 Resultados Uma maior incidência de pessoas com deficiência visual. O alto índice de deficiência visual pode ser explicado pela combinação de dois fatores: o envelhecimento populacional e a própria ampliação do conceito de deficiência visual, que não se restringe apenas a cegueira (incapacidade de enxergar), incluindo, também, grande ou alguma dificuldade permanente de enxergar devido ao fato de que a população está ficando mais velha assim como o próprio conceito sobre deficiência visual uma vez que não corresponde apenas à cegueira, mas sim, grande ou dificuldade permanente em enxergar. (CORDE, 2004, p.13) POPULAÇÃO COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL Mental Física Visual Auditiva Motora16 2 844 937 1 416 060 16 644 842 5 735 099 7 939 784 8,3% 4,1% 48,1% 16,7% 22,9% Quadro 03: População com deficiência no Brasil Fonte: Elaboração própria com base nos dados do IBGE – Censo 2000. Dos 24,6 milhões de pessoas que se declararam portadoras de deficiência (14,5% da população total), 19,8 milhões estavam nas zonas urbanas, e 4,8 milhões nas zonas rurais em 2000. Fato este que ajuda a justificar a adoção de medidas que promovam à acessibilidade nos centros urbanos. Dentre as regiões brasileiras, o sudeste é a região que tem a menor proporção relativa de pessoas com deficiência (13,1%), ficando a região Nordeste, com a maior proporção (16,8%). REGIÕES NORTE NORDESTE SUDESTE SUL C. OESTE Pop. c/ deficiência 1 901 892 8 025 537 9 459 596 3 595 28 1 618 204 Pop. Total 2 911 170 47 782 487 72 430 93 25 110 48 11 638 658 Proporção 13,9% 16,8% 13,1% 14,7% 14,35% Quadro 04: População com deficiência por região do país. Fonte: Elaborado a partir dos dados do Censo IBGE, (2000) O estado da Paraíba concentra o maior número relativo de pessoas com deficiência do país, seguido do Rio Grande do Norte. De acordo com os dados colhidos no último Censo a média nacional é de 12% da população sendo que nestes estados este número sobe para 18,76% e 17,64%, respectivamente. 16 Segundo o Censo 2000, declaram-se como pessoas com deficiência motora toda e qualquer pessoa que tenha grande ou alguma dificuldade de descer e subir escadas, assim como, total incapacidade de descer e subir escadas. © Andréia Rocha Feitosa 81 Resultados São Paulo Roraima Amapá Distrito Federal Paraná Mato Grosso Mato Grosso do Sul Rondônia Acre Santa Catarina Amazonas Goiás Espírito Santo Rio de Janeiro 11.35 % 12.5 % 13.28 % 13.44 % 13.57 % 13.63 % 13.72 % 13.78 % 14.13 % 14.21 % 14.26 % 14.31 % 14.74 % 14.81 % Minas Gerais Rio Grande do Sul Pará Bahia Tocantins Sergipe Maranhão Alagoas Ceará Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Paraíba 14.9 % 15.07 % 15.26 % 15.64 % 15.67 % 16.01 % 16.14 % 16.78 % 17.34 % 17.4 % 17.63 % 17.64 % 18.76 % Quadro 05: População total das PCDs por estado da federação Fonte: Elaborado a partir dos dados do Censo IBGE, (2000) De acordo com números absolutos o estado de São Paulo concentra a maior população de pessoas com deficiência seguido do estado de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Ceará e Pará, respectivamente. Ver números no gráfico a seguir: Gráfico 01: Pessoas com deficiência no Brasil em números absolutos Fonte: Censo 2000, IBGE. Elaboração própria c) Perfil da Renda: © Andréia Rocha Feitosa 82 Resultados [...] com rendimentos médios de R$506,00 até R$ 700,00. A grande maioria possui nível de instrução secundário, conta em bancos, utiliza cartão de crédito e empréstimos pessoais, além de adquirir veículos adaptados com isenção. Do total de pessoas com deficiência, cerca e 2,5 milhões estão empregados com carteira e 2,1 milhões sem carteira, 481 mil são funcionários públicos e outros 2,75 milhões trabalham por conta própria. (BRASIL, MINISTÉRIO DO TURISMO, 2009, p.13) 4.5.5 Análise Concorrencial – exemplos a serem seguidos A análise da concorrência é de suma importância na formulação do plano de marketing, pois analisa o ambiente externo, permitindo avaliar as situações favoráveis e desfavoráveis da devida ação de marketing. (RIBEIRO, OLIVEIRA, 2006) Diante disto, constata-se se que, ao contrário do que ocorre no marketing comercial, a análise concorrencial dentro do marketing social infere uma condição de cooperação amigável no qual o interesse não está concentrado em combater os concorrentes, mas sim, em aprender com eles. A seguir, destacam-se algumas ações em defesa da valorização das pessoas com deficiência quando turistas e que poderiam servir de concorrentes para a ação de marketing pretendida neste trabalho. Campanha Social: Acessibilidade, Siga essa idéia. Um bom exemplo de campanha de marketing social atuante no momento é a campanha: Acessibilidade. Siga essa idéia17, promovida pelo Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência – CONADE. Segundo a Secretaria Executiva do órgão em questão, a campanha de acessibilidade procura promover a sensibilização e mobilização da sociedade para a eliminação de barreiras atitudinais, de informação, arquitetônicas, entre outras que impedem as pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida de participar da vida em sociedade. 17 O prefeito de São Gonçalo do Amarante, Jaime Calado (PR), deu um exemplo de pioneirismo na manhã de ontem (26) ao assinar o termo de adesão da Campanha de Acessibilidade - Siga essa Idéia. O documento formaliza a parceria entre a Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Amarante e o – Conade. Ao aderir à campanha de acessibilidade, São Gonçalo se tornou o primeiro município de Rio Grande do Norte que se compromete em colaborar com o desenvolvimento de programas de acesso das pessoas com deficiência física, sensorial (visual e auditiva), intelectual e múltipla aos seus ambientes. [...]. Matéria na íntegra disponível em:< http://www.correiodatarde.com.br/editorias/correio_estado-50139> © Andréia Rocha Feitosa 83 Resultados Baseado em sua competência regimental, o CONADE busca, por meio da campanha, sensibilizar e mobilizar os empresários, as entidades, os conselhos estaduais e municipais e as pessoas em geral a contribuírem de forma efetiva na implementação do Decreto nº. 5.296/04. Objetiva-se unir esforços e criar uma rede de apoio e de promoção da acessibilidade. (RODRIGUES, 2006, p.3) É destinada aos governos de estado, prefeituras, entidades, escolas de samba, empresas, pessoas físicas e universidades. Sua adesão não é sinônimo de compromissos financeiros uma vez que nenhum órgão é obrigado a contribuir com dinheiro, estes; por sua vez, caso aceitem a adesão serão apenas induzidos a atuar pró - ativamente em direção da construção de uma sociedade inclusiva. Programa de Qualificação a Distância para o Desenvolvimento do Turismo - Curso de Segmentação do Turismo Voltado para os gestores públicos, profissionais do turismo e estudantes o curso desenvolvido pelo Ministério do Turismo promove o entendimento do que vem a ser o segmento de turismo social assim como sua devida importância para a inclusão dos menos beneficiados nas experiências turísticas. Projeto Aventureiros Especiais A ONG Aventura Especial em parceria com o Ministério do Turismo formataram um produto turístico de aventura com foco nas pessoas com deficiência. Primeiramente foi realizada uma pesquisa de campo com PCDs onde estes eram acompanhados por uma equipe multidisciplinar de treze profissionais, entre eles, médicos e fisioterapeutas. Com a pesquisa, foram levantadas as adaptações necessárias para viabilizar a prática das atividades por esse imenso público até então abandonado. Além das adaptações físicas, como o desenvolvimento de uma cadeirinha para técnicas verticais e um colete e uma cadeira para o bote de rafting (específicos para pessoas sem mobilidade no tronco), também foram criados condutas e procedimentos de comunicação alternativa para interagir com as pessoas com deficiências sensoriais, antes e durante as atividades. Programa Aventura Segura Iniciativa do Ministério do Turismo (Mtur), do SEBRAE Nacional com parceria da ABETA. Seu objetivo consiste em consolidar o segmento de aventura no país, © Andréia Rocha Feitosa 84 85 Resultados tendo como prioridades qualificar e educar empreendedores, gestores e profissionais do turismo de aventura para práticas seguras, ambientalmente responsáveis e socialmente justas, e para isto, o programa pretende qualificar a oferta de produtos de turismo de aventura para pessoas com deficiência. Programa Turismo Acessível - Pernambuco sem Barreiras O programa estadual pretende, através de parcerias, adaptar hotéis, bares, restaurantes e táxis cujos profissionais terão que criar condições para atender melhor os turistas com deficiência, com problemas de mobilidade, idosos, mulheres grávidas e crianças. Faz parte da divulgação do projeto a Cartilha TURISMO ACESSÍVEL; PERNAMBUCO SEM BARREIRAS, contendo recomendações técnicas de acessibilidade. Manual Técnico de Acessibilidade Iniciativa do Ministério do Turismo, Associação para Valorização das Pessoas com Deficiência - Avape e Prefeitura de Socorro, o manual é destinado a gestores públicos e iniciativa privada com o objetivo de auxiliá-los na adequação dos destinos turísticos para turistas com deficiência e mobilidade reduzida. O documento reúne em quatro volumes informações sobre a legislação e direitos da pessoa com deficiência, além de normas técnicas e orientações para promoção da acessibilidade em estabelecimentos turísticos. 1° e 2º Congresso Muito Especial de Pernambuco Realizados nos anos de 2008 e 2009 pelo Instituto Muito Especial (ONG) em parceria com o Mtur, os eventos tiveram a proposta de discutir a inserção das pessoas com deficiência no turismo, tendo como foco temas como acessibilidade e inclusão social. Guia Brasil para Todos Primeiro guia turístico para pessoas com deficiência. O resultado do trabalho realizado pela ONG i. social em parceria com o Banco Bradesco forneceu às pessoas com deficiência um leque de informações turísticas, tais como, dicas de passeios acessíveis para deficientes, dicas de restaurantes, hotéis adaptados, entre © Andréia Rocha Feitosa 86 Resultados outras informações importantes sobre os avanços da temática que envolve a acessibilidade. Município de Socorro: Referência em Acessibilidade Turística O Município de Socorro18-SP, estância hidromineral distante 110 km de Campinas, está sendo estruturado pelo Ministério de Turismo para servir como referência de Turismo de Aventura Especial. Tal medida partiu da iniciativa da gestão pública e privada da própria região que através de suas primeiras adaptações conseguiu mobilizar o poder público federal para a alocação de recursos em infra-estruturas acessíveis (acessibilidade arquitetônica), assim como em cursos de qualificação do setor (acessibilidade atitudinal). De acordo com relatos de hoteleiros da região, depois das adaptações, os hotéis tiveram um ganho considerável em sua demanda. Fato que por se só já comprova que as pessoas com deficiência representam um nicho de mercado promissor e que investir em acessibilidade significa investir em um desenvolvimento da atividade turística com vistas a um turismo com envolvimento social19. 4.5.6 As Variáveis Estratégicas – Os 4Ps do marketing social O composto de marketing social contribui significativamente para o sucesso das campanhas, contextualizando-as e incorporando em seu desenvolvimento as verdadeiras necessidades do público beneficiado com a aceitação da causa. Entretanto, Minciotti, (1983) explica que não se pode confundir marketing social com comunicação social (promoção), uma vez que, além da promoção, o 18 Atualmente, Socorro está entre os dez destinos turísticos brasileiros que fazem parte do projeto Destinos Referência em Segm entos Turísticos. Por m eio do projeto, a Estância Hidromineral está sendo estruturada para se tornar referência no segmento Aventura Especial. De 2006 a 2008, o MTur já destinou R$ 1,73 milhão para obras de infra-estrutura turística, cursos de qualificação profissional, adaptações em passeios, dentre outros.[ ] De acordo com o diretor do Conselho de Turismo de Socorro, José Fernandes Franco, o número de serviços turísticos é crescente na região, já que o número de turistas aumenta a cada dia. “Em 2009, houve um aumento de 20% nas operações de Turismo de Aventura em Socorro, com relação a 2008”, afirma. Disponível em: http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20100224-1.html 19 Estimulados pelo projeto do MTur, empresários locais investiram para transformar seus negócios. É o caso dos hotéisfazenda Campos dos Sonhos e Parque dos Sonhos, que recebem em torno de 12 mil visitantes por ano. Depois das adaptações, as taxas mensais de ocupação nos dois empreendimentos tiveram aumento de até 45%. O trabalho realizado rendeu ao proprietário José Fernandes Franco o Prêmio Superação Empresarial 2008 – Categoria Serviços de Turismo, promovido pelo Sebrae/SP e outras entidades. “Os auditores do prêmio disseram que o fator de maior peso na avaliação dos hotéis foi à adaptação para receber deficientes”, contou o empresário. Disponível em: http://deficienteciente.blogspot.com/2009/08/socorro-sera-modelo-para-copa.html © Andréia Rocha Feitosa Resultados marketing social adiciona pelo menos mais três elementos nos quais não são considerados nas campanhas publicitárias: [...] 1) pesquisas de marketing para aprender acerca do mercado e da eficácia de programas alternativos de marketing (preço); 2) desenvolvimento do melhor produto – entendido como programa social a ser desenvolvido para satisfazer as necessidades do mercado (produto); 3)estabelecimento de incentivos para aumentar o nível de motivação, especialmente na área de promoção de vendas de causas sociais (promoção); 4) facilitação, onde tempo e esforço são investidos na consideração de alternativas para tornar mais fácil a adoção de um novo comportamento (praça).(MINCIOTTI, 1983, p.55) Pensando nisto, optou-se por apresentar a partir de um quadro resumo, as teorias de Kotler quanto à utilização do composto de marketing que, segundo o autor, refere-se à delimitação de outras estratégias além da comunicação ou promoção social utilizada nas campanhas publicitárias: Os 4 P’s do Marketing Social PRODUTO PREÇO PONTE DE DISTRIBUIÇAO PROMOÇÃO Mudança social desejada, ou seja, uma idéia oferecida ao público alvo para a sua devida adoção, aquisição ou consumo. Significa o quanto à aceitação da idéia se torna gratificante, sendo que no marketing social, o custo para essa aceitação, nunca pode ser alto demais, pois dificilmente incentivará o comprador em potencial. Identifica como será planejada a distribuição do produto social no mercado, ou seja, identifica de que forma ele poderá ser viável para o consumidor. Forma utilizada para disseminar a idéia no sentido de criar interesse ou desejo pelo produto social. Ela engloba todos os instrumentos do composto de marketing, cujo objetivo principal é a comunicação persuasiva Quadro 06: Os 4 Ps do Marketing Social. Fonte: kotler (1978) Ao adaptar tais conceitos aos objetivos da causa social pretendida neste trabalho, as variáveis estratégicas passam a tomar as seguintes proporções: PRODUTO PREÇO A mudança de comportamento, valores e idéias empreendedores do turismo no que se refere à iniciativa de eliminar as barreiras físicas e de atitude que dificultam o livre acesso das pessoas com deficiência aos destinos turísticos. A garantia de estar contribuindo para a inclusão das pessoas com deficiência nas experiências turísticas, promovendo assim uma maior qualidade de vida para as mesmas. © Andréia Rocha Feitosa 87 Resultados PONTE DE DISTRIBUIÇAO PROMOÇÃO Espaços públicos e privados que forneçam autonomia e segurança às pessoas com deficiência. Neste caso, a ponte de distribuição corresponde ao resultado conquistado através da adesão ao produto social a ser aderido, isto é, a conquista do atributo da acessibilidade. A comunicação através da publicidade (campanhas sociais, programas de ação, mídia, etc.) no sentido de induzir o públicoalvo a aceitação da idéia e compromisso com a mesma. Quadro 07: Os 4 P’s do Marketing Social e as PCD no turismo. Fonte: Elaboração própria (2010) Enfim, como se percebe, as estratégias empregadas no marketing social podem perfeitamente ser adaptadas a grupos focais da área do turismo, isto porque, no marketing social, o que importa é a melhoria da qualidade de vida da sociedade, quer seja em saúde pública, educação ou turismo. © Andréia Rocha Feitosa 88 Considerações Finais 89 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS As pessoas com deficiência, ao longo da história, tiveram que vencer vários obstáculos para o convívio na sociedade. Entre eles, encontra-se o estigma da falsa relação entre doença e deficiência em que por muito tempo pregava-se a idéia de que as pessoas com deficiência eram doentes e por isto tinham que ficar excluídas em clínicas de reabilitação. Em seguida, a busca por uma educação de qualidade, porém, não mais segregada, e sim, conjunta com os demais, no sentido de fazer com que a sociedade convivesse com a limitação destas pessoas desde as primeiras fases de desenvolvimento de um indivíduo, a infância, e com isto, passasse a incorporar desde cedo o respeito pelas diferenças. Como outro aspecto, cita-se à falta de oportunidade ao mercado de trabalho em que se questiona a capacidade desses indivíduos de assumir uma função de responsabilidade, fato este causado de certa forma pela falsa assimilação da pessoa com deficiência a um inválido – um sem valor. É certo que nenhum desses obstáculos foi vencido por completo no Brasil, ainda há raízes de uma cultura repleta de estigmas, preconceitos e discriminações, entretanto, nos últimos vinte anos, a sociedade vem despertando mais para a noção de inclusão social. No que se refere às experiências turísticas, essa noção ainda é mais recente. Primeiramente, estas pessoas eram condicionadas a práticas cada vez mais excludentes, não havendo a menção da diversidade (turismo para todos), mas sim a oferta de produtos e serviços exclusivos para as pessoas com deficiência. Somente nos últimos dez anos é que as políticas públicas no Brasil vêm se tornando mais atuantes nessa questão. Pela primeira vez na história do turismo no país, articula-se a formulação de um plano estratégico de turismo acessível, desenvolvem-se campanhas que alertam sobre a importância da acessibilidade, fomenta-se um segmento turístico destinado às pessoas com deficiência (turismo de aventura) enfim, iniciativas que antes nem se quer eram colocadas em pauta, quiçá, implementadas e executadas. No entanto, percebe-se que o desenvolvimento da atividade turística com vistas à inclusão social, somente será possível a partir de uma ação conjunta entre poder público e privado, pois; de nada adianta o interesse do governo nessa © Andréia Rocha Feitosa Considerações Finais 90 temática se os empreendedores do turismo se fazem indiferente e não se interessam em garantir em seus estabelecimentos um atributo indispensável à autonomia de qualquer pessoa com deficiência, a acessibilidade. Esta por sua vez, não se refere apenas à eliminação de barreiras arquitetônicas (calçadas, degraus, mesas inapropriadas, etc.), embora, representando o primeiro e mais importante entrave a ser vencido; visto que sem a supressão delas, não há se quer possibilidade de locomoção; deve-se também ter em mente a eliminação de uma barreira invisível, identificada na fase de atendimento ao turista com deficiência. São gestos e expressões que não devem ser nem de inferioridade, ou “coitadismo”. Falase então da acessibilidade atitudinal, somente concebida através de uma capacitação profissional especializada para atender este público, como, por exemplo, pessoas treinadas a se comunicar com um surdo, que reconheçam a forma correta de tratar um cego, a hora mais prudente de oferecer ajuda a um cadeirante, enfim; atitudes que agregam valor ao serviço e trazem satisfação, uma vez que evita constrangimentos desnecessários. Com base nestas considerações, conclui-se que o Brasil ainda não pode ser considerado como um país turisticamente acessível e os casos de referência que se tem notícia por si só não justificam essa menção. É preciso que pelo menos os principais destinos turísticos do país possam garantir espaços acessíveis, principalmente àqueles que nos próximos anos sediaram eventos esportivos de caráter mundial (Copa 2014 e Olimpíadas). Os resultados obtidos com a pesquisa demonstraram que as estratégias de marketing social podem ser utilizadas para transformar os valores dos empreendedores do turismo quanto ao interesse em prover a acessibilidade, induzindo-lhes uma mobilização voluntária através da sensibilização. Seria uma alternativa para atenuar ou até mesmo reverter este quadro, pois estaríamos lhe dando com mudanças de comportamento estimuladas pela “conscientização” onde muitas vezes parecem ser bem mais eficazes do que ações coercitivas. Com isso, espera-se ter atingido os objetivos deste trabalho e contribuído de alguma para o entendimento de que as pessoas com deficiência, assim como os demais, são consumidores turísticos que buscam em suas viagens, recordações especiais, cultura, entretenimento e lazer. Deseja-se também que a interface entre marketing social e turismo aqui apresentada, possa estimular pesquisas futuras e © Andréia Rocha Feitosa Considerações Finais 91 atentar o Governo e sociedade civil para essa alternativa de mudança social, promovendo, desta forma, a idéia da igualdade de oportunidades na perspectiva da inclusão. © Andréia Rocha Feitosa Referências REFERÊNCIAS AAKER, D. A.; KUMAR, V; DAY, G. S. Elaboração de Questionário. In: AAKER, Dom (org.) Pesquisa de Marketing. São Paulo: Atlas, 2001. ADULIS, D.. O verdadeiro e o falso marketing social. Disponível em: <http://www.akatu.org.br/central/especiais/2001/12/128> Acesso em: 18 de fevereiro de 2010 ___________ Marketing Social: Usos e Abusos. 2001. Disponível em: <www.lead.org.br/filemanager/.../08c_marketing%20social_D%20Adulis.doc. > Acesso em: 22 de fevereiro de 2010 AGUIRRE, R. S. Recreação e Turismo Para Todos. Rio de Janeiro: Educs, 2003. ÁLVARES, D. F. 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Editora Thomson, 2006. 207 p. © Andréia Rocha Feitosa 98 Apêndices APÊNDICES © Andréia Rocha Feitosa 99 Apêndices APÊNDICE A: Questionário da Pesquisa de Campo (fase de pré-teste) Centro de Ciências Sociais Aplicadas Departamento de Ciências Administrativas Curso de Turismo QUESTIONÁRIO As contribuições do Marketing Social para a inclusão das pessoas com deficiência no usufruto do turismo no Brasil Meus cordiais cumprimentos. Chamo-me Andréia Rocha e falo em nome da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, com o objetivo de levantar dados para um estudo realizado pelo Departamento de Ciências Administrativas, Curso de TURISMO, desta renomada instituição. A sua valiosa participação será de extrema importância para o desenvolvimento sustentável do setor turístico no Brasil. Desde já agradecemos a sua colaboração. NOME DO ENTREVISTADO: INSTITUIÇÃO: CARGO: A seguir lhe faremos algumas perguntas às perspectivas de inclusão das pessoas com deficiência na atividade turística brasileira: 1. Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas? Resposta: 2. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse publico por ações que primam pela inserção das pessoas com deficiência no turismo? Resposta: 3. : Quais são as principais barreiras que não permitem o Brasil se igualar aos principais destinos turísticos? Resposta: 4. Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (passageiros/ turistas/ pessoas com deficiência no Brasil)? © Andréia Rocha Feitosa 100 Apêndices Resposta: 5. O Sr (a) acredita que há impactos positivos gerados nos destinos turísticos preocupados com o tema da acessibilidade e inclusão? Por quê? Resposta: 6. O Brasil, como destino, tem condições necessárias/ suficientes (infra-estrutura, preparação dos destinos, mão-de-obra qualificada) para atender este público? Resposta: 7. A melhoria nas condições de acessibilidade arquitetônica (infra-estrutura do destino) e na qualidade dos serviços prestados (hospedagem, restaurantes, passeios e transportes) influenciaria no aumento da demanda? Qual desses fatores exerce maior influência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem e por quê? Resposta: 8. O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à locação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? Resposta: 9. Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? Resposta: 10. O Sr (a) acredita na eficácia e eficiência das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? Resposta: Desde já agradecemos a sua colaboração! © Andréia Rocha Feitosa 101 Apêndices APÊNDICE B: Questionário da Pesquisa de Campo (fase de pós-teste) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CURSO DE TURISMO Meus cordiais cumprimentos, Chamo-me Andréia Rocha e falo em nome da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, com o propósito de levantar dados para um estudo realizado pelo Departamento de Ciências Administrativas, Curso de TURISMO, desta renomada instituição. O objetivo do questionário, logo abaixo, consiste em investigar como se encontra o interesse do poder público e privado sobre a inclusão social das pessoas com deficiência nas experiências turísticas do país. E principalmente, identificar se as técnicas e ferramentas de Marketing Social podem induzir voluntariamente possíveis mudanças de valores e comportamentos dos empreendedores do turismo no que tange ao comprometimento destes em oferecer serviços acessíveis às pessoas com deficiência. A sua valiosa participação será de extrema importância para o desenvolvimento sustentável do setor turístico no Brasil. QUESTIONÁRIO TURISMO E INCLUSÃO SOCIAL: Um estudo sobre as contribuições do marketing social para a inclusão das pessoas com deficiência no usufruto do turismo no Brasil NOME DO ENTREVISTADO: INSTITUIÇÃO: CARGO: 1. Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional? Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Resposta: 2. De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade turística no Brasil? Resposta: © Andréia Rocha Feitosa 102 Apêndices 3. Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. Resposta: 4. O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. Resposta: 5. Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? Resposta: 6. Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? Resposta: 7. Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. Resposta: 8. O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? Resposta: 9. Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? Justifique. Resposta: 10. O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficiência e eficácia) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? Justifique. Resposta: Desde já agradecemos à contribuição. © Andréia Rocha Feitosa 103 Apêndices APÊNDICE C: Questionário Eletrônico de Andréa Schwarz NOME DO ENTREVISTADO: Sáskia Freire Lima de Castro E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: i. Social Consultoria e Responsabilidade Social LTDA CARGO: Coordenadora-Geral de Segmentação DATA DA ENTREGA: 03 de Fevereiro de 2010. Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Andréa Schwarz: Acredito estarem evoluindo, mas ainda atrasada com relação a outros países. As áreas mais privilegiadas é a questão de cotas de emprego para pessoas com deficiência. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade turística nos prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano dos destinos turísticos do Brasil? A.S: Pouco interesse no assunto. Ainda não despertaram para essa questão. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. A.S: Não. Ainda falta investimento em acessibilidade , como também, despreparo da rede turística para receber pessoas com deficiência (questão atitudinal). A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. A.S: Sim. Estarão atraindo mais um público consumidor. A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? A.S: Sudeste A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? A.S: Enorme. Temos no país mais de 30 milhões de pessoas com deficiência. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas © Andréia Rocha Feitosa 104 Apêndices (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. A.S: A melhoria nas condições de acessibilidade e atendimento com certeza aumentaria a demanda destes turistas. Os dois fatores mencionados são importantes na escolha de um destino, pois sem eles fica impossível da pessoa com deficiência realizar sua viagem. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? A.S: Acredito que sim. Ainda não acordaram para este público. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? M.G: Sim A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? M.G: Sim. © Andréia Rocha Feitosa 105 Apêndices APÊNDICE D: Questionário Eletrônico de Cristiane Ecker NOME DO ENTREVISTADO: Cristiane Ecker E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Federação Nacional das AVAPES - FENAVAP CARGO: Coordenadora Técnica de Acessibilidade DATA DA ENTREGA: 10 de Março de 2010. Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Cristiane Ecker: O CONADE, a CORDE o MP têm desenvolvido várias ações, pleiteando os direitos da pessoa com deficiência na sociedade. A área mais privilegiada é o trabalho. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade turística no Brasil? C.E: Infelizmente o interesse público vem de cima para baixo, através de leis. Dificilmente encontramos ações empreendedoras sem ter uma cobrança do Ministério Público. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. C.E: O Brasil ainda conta com casos isolados de atendimento ao turista deficiente. Se o país investir, desenvolver programas e propiciar financiamentos tem uma grande projeção de mercado. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. C.E: O benefício principal será criar uma rede de parceiros - com a liderança do Ministério do Turismo - destinada a facilitar o desenvolvimento de projetos de turismo acessível. A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? C.E: A região das cidades de Socorro e Recife. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? C.E: Sim, pois são mais de 25 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios © Andréia Rocha Feitosa 106 Apêndices públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. C.E: Acho que é uma mescla de infra-estrutura e capacitação do destino. O destino fica mais humanizado para a inclusão social, causando um impacto positivo de sua imagem. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? C.E: As empresas privadas querem e só pensam em lucro, por isso divergem na questão do investimento. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? C.E: Pode sim, mas o mercado requer qualidade e não ações de responsabilidade social, paternalismo. O produto turístico adaptado é um negócio e não filantropia. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? C.E: Marketing social, não. Temos que desenvolver campanhas de divulgação de uma cadeia produtiva eficiente! © Andréia Rocha Feitosa 107 Apêndices APÊNDICE E: Questionário Eletrônico de Dadá Moreira NOME DO ENTREVISTADO: Dadá Moreira E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Aventura Especial CARGO: Presidente DATA DA ENTREGA: 10 de Março de 2010. Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Dada Moreira: Se levarmos esse assunto para âmbito nacional essa evolução é muito pequena, apesar de muito discutida no geral há conivência do poder publico para descumprimento de Leis (por exemplo, emitir alvará para entidades sem acessibilidade ou reurbanização de vias publica sem acessibilidade). Infelizmente, não vejo privilégios para nenhum setor, apesar de avaliar a lei de cotas ter mobilizado as empresas na contratação da pessoa com deficiência, essa atuação é bem modesta por que se escolhe entre as deficiências quem tem o menor comprometimento, ou até mesmo a pessoa com deficiência não quer deixar o salário mínimo oferecido pelo estado pelo salário mínimo de uma empresa. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) dos destinos turísticos do Brasil? D.M: Cumprimento de Lei, por que se não cumprir eu denuncio ao ministério publico. Pena que eu não posso visitar todo o Brasil para fazer isso. Posso afirmar que não existe esse interesse espontâneo até por que no desenvolvimento do projeto aventureiros especiais, onde até então não existia esse nicho de mercado, tudo sempre foi muito difícil. Convencer prefeituras, secretarias, empresários para uma visão inclusive de mercado. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. D.M: Não, o Brasil está muito longe de ser destino turístico. Vamos até Santos que tem uma orla acessível ainda não existem hotéis e restaurantes inclusos no roteiro para a pessoa com deficiência, se a opção for viajar até lá só poderá ficar na orla. Fora isso imagino a dificuldade de uma mulher ir ao banheiro em qualquer situação. Imagine uma mulher com deficiência. Ninguém quer viajar encontrar um hotel com quarto adaptado e ficar no quarto. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se © Andréia Rocha Feitosa 108 Apêndices preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. D.M: Sim. Acessibilidade não é caridade e sim um mercado. As pessoas com deficiência trabalham e querem gastar seu dinheiro viajando, jantando num bom restaurante indo ao shopping, cinema, danceteria motel... Por que não???? A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? D.M: Nenhuma. Infelizmente. A região sudeste faz um pouco mais de barulho na mídia mas falta ainda educar e sensibilizar a população pois uma rampa deixa de ser útil se um carro estacionar na frente dela. Assim como uma vaga acessível deixa de ser acessível se um analfabeto não ler a placa e estacionar ali. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? D.M: Sim. Posso afirmar pela nossa experiência com os lugares que assessoramos o aumento de 30% de ocupação e em hotéis a taxa de ocupação durante a semana beira os 90%. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. D.M: Isso é muito pessoal. Por exemplo, eu não gostaria de ir a Sibéria só por que lá é acessível. Mas posso te afirmar se eu tivesse que escolher uma praia para ir, escolheria Santos por que sei que lá eu posso ser livre. Tem pessoas que abominam mato e água eu adoro então ao viajar vou pesquisar um lugar que tem mato que eu posso ir e ser livre. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? D.M: Sim. Ainda não sei explicar porque se faz uma escada ou colocam-se degraus ao passo que tudo estivesse ao nível do chão se gastaria menos material e todo mundo poderia passar. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? D.M: Não entendi muito bem a pergunta, mas se o marketing auxilia na difusão do turismo social lógico assim como o novo mercado de turismo de aventura especial reconhecido pelo © Andréia Rocha Feitosa 109 Apêndices ministério do turismo. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? D.M: Sim, não só para divulgar como para educar e envolver a população em denunciar e punir os infratores das leis de acessibilidade. Se o turismo é bom para que venha de fora; imagina para os moradores locais que podem usufruir da mesma infra-estrutura. Ir ao banco, a praça, ao correio, passear enfim, fazer tudo. © Andréia Rocha Feitosa 110 Apêndices APÊNDICE F: Questionário Eletrônico de Mara Gabrili NOME DO ENTREVISTADO: Mara Gabrili E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Câmara dos Vereadores do Estado de São Paulo CARGO: Vereadora DATA DA ENTREGA: 08 de Fevereiro de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas? Mara Gabrili: Por muito tempo as pessoas com deficiência foram tratadas apenas por meio de políticas públicas de assistência social, ou seja, turismo não era um assunto que fazia parte do nosso universo. Só por este motivo, já dá para perceber o quão lenta foi esta evolução. Hoje, parte da sociedade já entende que, apesar das diferenças corporais ou sensoriais, temos as mesmas necessidades e os mesmos anseios. Queremos amar, ser amados. Queremos amigos que sejam testemunhas de nossas vidas e partilhem as deles conosco. E por que não o direito a termos lembranças de uma viagem? Sempre adorei viajar e isso não mudou depois do acidente. O que mudou foram os acessos. Acabei inaugurando muitos destinos como a primeira cadeirante a ser recebida em pousadas, hotéis e restaurantes. É certo que enfrentei algumas dificuldades, mas nunca deixei de freqüentar lugar algum. O que posso dizer é que depois de viajar para diversos locais, inclusive fora do Brasil, percebi que estamos muito longe de um setor turístico acessível. Acredito que as áreas mais privilegiadas, sem dúvida, são aquelas economicamente mais fortes. Podemos dizer que a região Sudeste e a Sul são as mais acessíveis. Cidades como São Paulo e Curitiba possuem em certas regiões, arquitetura e serviços acessíveis. Na nossa capital temos a Avenida Paulista, símbolo de uma das avenidas mais acessíveis do mundo, e na capital paranaense, os ônibus possuem aviso sonoro, um serviço que trouxe autonomia para os cegos viajarem. Parecem pequenas coisas, mas, para uma pessoa com deficiência a diferença é enorme, pois é o que determina ela sair de casa ou não. © Andréia Rocha Feitosa 111 Apêndices A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse publico por ações que primam pela inserção das pessoas com deficiência no turismo? M.G: Infelizmente, o turismo destinado às pessoas com deficiência no Brasil está praticamente restritos àqueles que têm dinheiro para pagar hotéis e pousados caros. O país, em sua maior parte, ainda é carente de equipamentos acessíveis e de espaços inclusivos. Mesmo representando um público com potencial de consumo de 1 bilhão de reais ao ano, a pessoa com deficiência ainda não faz parte das principais ações do governo em relação a esta área. Ou seja, o interesse ainda é muito fraco na atividade turística? A: Quais são as principais barreiras que não permitem o Brasil se igualar aos principais destinos turísticos? M.G: Investimento do Poder Público e da iniciativa privada no setor do turístico acessível A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (passageiros/ turistas) pessoas com deficiência no Brasil)? M.G: Acredito que a faixa etária do público alvo gire em torno de pessoas com até 50 anos e de classe média alta. A: O Sr (a) acredita que há impactos positivos gerados nos destinos turísticos preocupados com o tema da acessibilidade e inclusão? Por quê? M.G: Com certeza! Como disse o público das pessoas com deficiência representa um potencial econômico forte, além disso, há outros impactos positivos que não dizem respeito apenas ao dinheiro, como o investimento na diversidade, no respeito às diferenças e a cidadania. Uma sociedade só é inclusiva através de igualdade de acessos. Isso faz bem para a imagem social de qualquer cidade turística. A: O Brasil, como destino, tem condições necessárias/ suficientes (infra-estrutura, preparação dos destinos, mão-de-obra qualificada) para atender este público? M.G: Em determinados lugares sim. Aliás, em poucos lugares ainda. Falta não só infraestrutura acessível, mas também, informação clara a respeito do assunto. Muita gente, inclusive do setor turístico, não entende as necessidades e os diferentes tipos de deficiência. Por exemplo: adaptar um quarto para um cego é diferente de adaptar para um cadeirante. É preciso pensar nisso também. A: A melhoria nas condições de acessibilidade arquitetônica (infra-estrutura do destino) e na qualidade dos serviços prestados (hospedagem, restaurantes, passeios e transportes) © Andréia Rocha Feitosa 112 Apêndices influenciaria no aumento da demanda? Qual desses fatores exerce maior influência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem e por quê? M.G: É claro que se as duas condições avançarem, a demanda vai aumentar. Mas, o primordial é o acesso. Se a infra-estrutura não for acessível à pessoa com deficiência já é barrada antes de testar o serviço. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à locação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? M.G: Sim. E não é à toa que faltam tantos lugares acessíveis no Brasil, principalmente, no Norte e Nordeste do nosso país. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? M.G: É claro, pois estas ações fazem com que o setor e a sociedade no geral percebam a necessidade da pessoa com deficiência e a importância de investir e diversidade. A: O Sr (a) acredita na eficácia e eficiência das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? M.G: Sim. E isso pode ser verificado nas novelas, quando há um apelo social para determinados temas, percebemos que a sociedade no geral se sensibiliza e se vira para o assunto. © Andréia Rocha Feitosa 113 Apêndices APÊNDICE G: Questionário Eletrônico de Mosana Rodrigues Cavalcanti NOME DO ENTREVISTADO: Mosana Rodrigues Cavalcanti E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Secretaria de Turismo do Estado de Pernambuco – SETUR/PE CARGO: Assistente Técnica em Turismo DATA DA ENTREGA: 22 de fevereiro de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Mosana Rodrigues: não respondeu A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) dos destinos turísticos do Brasil? M.R: Com a vinda da copa em 2014, Pernambuco está com novo olhar para esse segmento do turismo acessível, está de certa forma falando mais no assunto. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. M.R: Não. Antes de usar cadeira de rodas viajei bastante pela Europa, ainda não somos acessíveis e educados para lidar com as pessoas com deficiência, falta transportes, educação, trabalho. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. M.R: Não, esse tema é razoavelmente novo e sem lugar acessível às pessoas não viajam, se houvesse interesse dos empresários eles iriam saber que um deficiente nunca viaja sozinho sempre acompanhado, mas não há preocupação de inclusão e acesso para todos. A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? M.R: Considero São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? M.R: Com certeza será um nicho bem promissor. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha © Andréia Rocha Feitosa 114 Apêndices de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. M.R: Saber se tem sanitários adaptados, se os apartamentos estão dentro das normas, bares e restaurantes acessíveis e transportes principalmente, hoje em recife não possui nenhum táxi adaptado. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? M.R: Sim, penso que não é o público alvo deles A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? M.R: Sim. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? M.R : Sim. Seria uma boa idéia. Se isso acontecesse, talvez mudasse a concepção dos gestores do turismo. © Andréia Rocha Feitosa 115 Apêndices APÊNDICE H: Questionário Eletrônico de Rebecca M. Nunes Bezerra NOME DO ENTREVISTADO: Rebecca Monte Nunes Bezerra E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Ministério Público CARGO: Promotora de Justiça DATA DA ENTREGA: 09 de Fevereiro de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Rebecca Nunes: Temos visto uma evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência. Lamentavelmente, estão elas mais restrita ao âmbito da União (Ministérios e Secretarias Especializadas). Entendo que as áreas que têm sido prioritária são a educação e a acessibilidade. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse publico por ações que primam pela inserção das pessoas com deficiência no turismo? R.N: Baixíssimo. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. R.N: Não. Enquanto não houver mudança de cultura no brasileiro de que todos são iguais em oportunidade, não tem o Brasil condições necessárias para atender a este público, pois as iniciativas que conhecemos limitam-se a fatos isolados ou a pessoas que apenas cumpriram de forma estrita a lei. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. R.N: Claro. A acessibilidade não só beneficia às pessoas com deficiência. Temos também os idosos, gestantes, obesos e pessoas com limitações físicas temporárias. Ademais, a acessibilidade também traz ganhos para as pessoas sem qualquer mobilidade reduzida diante do conforto de propicia. Também, como já dito, o setor turístico ainda não despertou para a fatia do mercado A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? R.N: Tal grupo ainda se limita a àqueles que têm maior espírito de aventura, pois o seu direito de lazer ainda não é respeitado. O turista com deficiência não sabe o que ele vai © Andréia Rocha Feitosa 116 117 Apêndices encontrar em matéria de obstáculos. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. R.N: Acho que não há como indicar apenas um dos fatores pois eles estão totalmente associados. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? R.N: Sim. São pouquíssimas as iniciativas que surgiram do respeito às diferenças. A grande maioria surgiu apenas pela exigência legal. Na área de direitos das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, entendo que é a falta de visão de que tais pessoas são consumidores e, geralmente, estão cercadas de outros consumidores. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? R.N: Sem dúvida, pois estamos lidando com uma mudança cultural da população brasileira. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? M.G: Sim. © Andréia Rocha Feitosa Apêndices APÊNDICE I: Questionário Eletrônico dos Representantes da CORDE/RN NOME DOS ENTREVISTADOS: José Gesy de Brito Sousa; Maria Antonia Melo Germano, Louise Caroline Linhares de Freitas. E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Subcoordenadoria dos Direitos das Pessoas com Deficiência do Estado do Rio Grande do Norte – CORDE/RN CARGO: Arquiteto e urbanista, engenheira civil, estagiária em arquitetura; respectivamente. DATA DA ENTREGA: 10 de Fevereiro de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas? CORDE/RN: De fato há avanços em termos de políticas públicas em defesa das PPD’S, notadamente nas áreas de educação (inclusive esportes), trabalho e acessibilidade ao meio físico construído. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse publico por ações que primam pela inserção das pessoas com deficiência no turismo? CORDE/RN: O Poder Público, principalmente o Ministério Público Estadual, tem buscado tornar os espaços públicos acessíveis a todas as pessoas e também vem trabalhando com o objetivo de que os estacionamentos de hospedagem, de alimentação, de compras e entretenimento em geral possam receber todos os visitantes, independentemente de sua condição de mobilidade. A: Quais são as principais barreiras que não permitem o Brasil se igualar aos principais destinos turísticos? CORDE/RN: No que se diz respeito ao sistema de transporte e calçadas das cidades (passeios públicos), a nosso ver, são os principais problemas enfrentados para que o país se equipare em termos de destino turístico inclusivo às nações desenvolvidas. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (passageiros/ turistas/ pessoas com deficiência no Brasil)? CORDE/RN: A incidência de turistas PPD’S, no volume total do turismo nacional ainda é muito pequena. Intuitivamente, nos parece que o turista PPD que viaja pelo país é sempre de um parente que acompanha a família em viagem de férias. A: O Sr (a) acredita que há impactos positivos gerados nos destinos turísticos preocupados com o tema da acessibilidade e inclusão? Por quê? CORDE/RN: Pensamos que sim, tanto há pontos positivos gerados pelos destinos como também, ficam reflexos salutares após o recebimento dos PPD’S. Quem recebe com © Andréia Rocha Feitosa 118 Apêndices dignidade, segurança e conforto um turista PPD, certamente terá difundido por terceiros, sua capacidade de acomodação e hospedagem. Para quem vê um PPD usufruindo sem percalços de um ambiente, seja hotel, restaurante, teatro, shopping ou logradouro público em uma cidade, também guardará uma imagem positiva deste lugar. A: O Brasil, como destino, tem condições necessárias/ suficientes (infra-estrutura, preparação dos destinos, mão-de-obra qualificada) para atender este público? CORDE/RN: Infelizmente ainda não, principalmente pelos problemas levantados na resposta 3 A: A melhoria nas condições de acessibilidade arquitetônica (infra-estrutura do destino) e na qualidade dos serviços prestados (hospedagem, restaurantes, passeios e transportes) influenciaria no aumento da demanda? Qual desses fatores exerce maior influência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem e por quê? Sim, porém achamos que não é só ter capacidade de acolher o turista PPD que provocará uma situação de ocupação 100%, há ainda a necessidade de se dar conhecimento desta capacidade, daí entra o fator marketing. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à locação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? CORDE/RN: Também, a resistência dos empreendedores brasileiros de turismo baseia-se numa frase fatal: “Nunca fomos procurados, ou nunca recebemos um turista PPD”.Contudo, pode-se afirmar como contraponto que uma PPD não vai a um lugar se ela não tem certeza se terá acesso para circular e usufruir de tal espaço. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? Sim sem nenhuma dúvida, pois as campanhas de marketing atuais são notadamente de grande eficiência em qualquer dos seguimentos atuantes. A: O Sr (a) acredita na eficácia e eficiência das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? CORDE/RN: Sim, está se tornando uma necessidade tendo em vista a atuação do Ministério Público em fazer valer as leis que garantem os direitos aos PPD’S. © Andréia Rocha Feitosa 119 Apêndices APÊNDICE J: Questionário Eletrônico de Ricardo Shimosakai NOME DO ENTREVISTADO: Ricardo Shimosakai E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Turismo Adaptado CARGO: Diretor DATA DA ENTREGA: 04 de março de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Ricardo Shimosakai: Em nível nacional, o que vejo sendo feito são ações de alguns Ministérios e também por secretarias como o Conade. Não sei se pode dizer as mais privilegiadas, mas aquelas que tem mais atenção são a educação, trabalho, saúde e direito. O esporte, lazer e turismo vem ganhando atenção, pela própria evolução e o despertar da pessoa com deficiência perante a sociedade. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) nos destinos turísticos do Brasil? R.S: Prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano é uma questão da infra-estrutura local para que a pessoa com deficiência tenha condições de se incluir na sociedade, e não especificamente do turismo. Algumas construções específicas como hotéis, museus, teatros, parques, etc., também devem ter essa atenção. Alguns são públicos e outros privados. Os públicos têm obrigação de seguir normas de acessibilidade, os privados precisamos sensibilizar os proprietários para que tomem alguma atitude para que implantem acessibilidade no local. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. R.S: Não, pois o próprio turismo no Brasil é pouco explorado, diante ao potencial existente. Além disso, os conceitos de inclusão e as ofertas de equipamentos de acessibilidade é bem maior no exterior. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. R.S: Certamente, pois uma pessoa com deficiência visitando o local já é um lucro por si só, mas geralmente ele vai acompanhado de mais pessoas, então este faturamento é multiplicado. Além disso, a acessibilidade não serve somente a pessoas com deficiência, mas também a idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Praticando a inclusão, se isso © Andréia Rocha Feitosa 120 Apêndices for de forma ampla, se preocupando com a melhor idade, público GLS e outros; além de ampliar o leque também estará colocando uma imagem muito mais hospitaleira perante a sociedade, que com certeza irá responder de forma mais amistosa A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? R.S: O sudeste é a região mais acessível no Brasil, e particularmente considero a cidade de São Paulo a mais evoluída. As principais personalidades e organizações que lutam pelos direitos das pessoas com deficiência estão nessa região. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? R.S: É um nicho de mercado que se explorado corretamente com certeza terá seu retorno. Mas não é somente o turista com deficiência brasileiro, se promover a acessibilidade no mercado turístico também irá atrair os turistas com deficiência estrangeiro. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. R.S: Apesar de cada um ter suas dificuldades e habilidades específicas, ambos os fatores são importantes, senão fica um roteiro incompleto. No Brasil a oferta de empresas turísticas com serviços acessíveis ainda é muito pequena, a Turismo Adaptado é uma das únicas que realiza esse serviço. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? R.S: Falta de interesse por vezes sim, pois temos poucos exemplos reais aqui no Brasil para ter uma base de comparação. Porém creio que seja mais falta de informação, em saber que existe esse segmento, ou também pela falta de conhecimento de como se preparar. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? R.S: Sim claro, as duas estão fortemente interligadas, pois o marketing social trabalha para a adoção de um conceito ou causa fundamentada nos direitos humanos e na equidade social, e o turismo social pratica a atividade turística baseada em conceitos de inclusão. Os © Andréia Rocha Feitosa 121 Apêndices dois têm o mesmo sentido, porém em diferentes plataformas A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? R.S: Sim, qualquer iniciativa de marketing é válida, mas desde que seja feita de maneira correta. Isso tem um efeito conjunto, pois promovendo a acessibilidade no turismo, automaticamente se abre a conscientização da sociedade referente à acessibilidade e inclusão no geral. © Andréia Rocha Feitosa 122 Apêndices APÊNDICE K: Questionário Eletrônico de Romeu Kasumi Sassaki NOME DO ENTREVISTADO: Romeu Kasumi Sassaki E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Instituto Sociedade Inclusiva (ISI). CARGO: Presidente DATA DA ENTREGA: 09 de março de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional?Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Romeu K. Sassaki: Antes da adoção de políticas públicas, aconteceu a luta pela legislação pertinente às pessoas com deficiência. Do período de 1950 a 2010 da história do atendimento a este segmento populacional no Brasil, os primeiros 30 anos (décadas de 50, 60 e 70) foram caracterizados por uma forte preocupação com a incipiente legislação pertinente a este segmento. As primeiras leis (federais, estaduais e municipais) foram voltadas para as áreas de saúde, reabilitação física e profissional, educação especial e trabalho (incluindo o emprego protegido). Somente a partir da década de 80, graças ao impacto das ações inspiradas pelo Ano Internacional das Pessoas Deficientes (1981), ocorreram manifestações pela formulação e execução de políticas públicas sobre os direitos das pessoas com deficiência. As áreas contempladas por políticas públicas se diversificaram ao longo das décadas subseqüentes até os dias de hoje. A saber: Década de 80 – plena participação na sociedade, igualdade em direitos e em dignidade. Década de 90 – educação inclusiva, trabalho decente, acessibilidade arquitetônica e comunicacional, artes, esportes, lazer e turismo. Primeira década do século 21 – inclusão social, equiparação de oportunidades em todas as áreas através da implantação de medidas das acessibilidades arquitetônica, comunicacional, metodológica, instrumental, programática e atitudinal, permeadas pela acessibilidade digital e tecnológica. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) nos destinos turísticos do Brasil? RKS: Esse interesse público evoluiu ao longo do tempo. Na área da atividade turística, ocorreram os mesmos fenômenos que caracterizaram as áreas de educação, trabalho, esporte e outras. Ou seja, a exclusão, a segregação, a integração e a inclusão – nesta ordem. No passado, começamos com a exclusão: as pessoas com deficiência não praticavam o turismo; elas foram ignoradas. Depois, passamos para a prática da segregação: houve atividades turísticas separadas, exclusivamente para este segmento © Andréia Rocha Feitosa 123 Apêndices populacional e apenas em pouquíssimos logradouros considerados utilizáveis por algumas pessoas com deficiência que podiam enfrentar as barreiras arquitetônicas existentes, pois não se pensava em eliminar tais obstáculos. Depois, adotamos o paradigma da integração: houve uma evolução para o turismo adaptado, no qual algumas medidas de acessibilidade, principalmente arquitetônica, foram implementadas para que pessoas com deficiência, independentemente do nível de sua autonomia física, pudessem praticá-lo, individualmente ou em grupo, ainda à parte dos turistas em geral. Já entramos no paradigma da inclusão: a etapa mais evoluída na prática do turismo por pessoas com deficiência. Ou seja, pessoas com e pessoas sem deficiência participando juntas nas mesmas atividades, nos mesmos espaços e nos mesmos momentos - prática esta que exige a aplicação dos princípios do desenho universal no processo de formulação, execução, monitoramento, avaliação e reformulação das atividades turísticas. Mas esta inclusão está ainda na fase inicial. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. RKS: Ainda não. Continuamos com pouquíssimos lugares turisticamente acessíveis. Levando em conta as dimensões continentais do Brasil, estamos apenas dando continuidade ao processo de acessibilização dos logradouros e eventos de turismo, iniciado na década de 80. O que nós temos de turismo acessível são medidas pontuais, sazonais e de pequena abrangência para pessoas com deficiência. Não basta que tornemos acessíveis os logradouros (acessibilidade arquitetônica); é necessário executarmos também as demais acessibilidades (citadas na resposta à pergunta 1) em todo o entorno de cada local: meios de transporte, hotelaria, lojas, restaurantes, aeroportos, rodoviárias, portos, agências bancárias, cinemas, teatros, museus, centros culturais, zoológicos, aquários, parques temáticos ou ecológicos e outros espaços de lazer, passeios e viagens. Ainda somos iniciantes no desenvolvimento de uma cultura de redes, de sistemas. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. RKS: Sem dúvida, sim. E é esta a visão da inclusão e do desenho universal: usufruto dos destinos com benefícios econômicos e sociais para toda a população, não apenas para pessoas com deficiência. Medidas inclusivas são medidas includentes: o que é bom para pessoas com deficiência é bom para as demais pessoas. Ao contrário, as medidas integrativas ou integradoras são aquelas que beneficiam exclusivamente as pessoas com deficiência. A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na © Andréia Rocha Feitosa 124 125 Apêndices qualidade dos serviços)? RKS: Não é justo e nem possível apontarmos a região brasileira que possua mais condições para atender pessoas com deficiência em termos turísticos. Por quê? Em primeiro lugar, nunca houve, no Brasil, políticas públicas inclusivas que tivessem injetado, em âmbito nacional, recursos, insumos e suportes em todos os destinos turísticos. Em segundo lugar, como foi respondido na pergunta 3, os poucos espaços turísticos verdadeiramente acessíveis são pontuais, sazonais e de reduzido proveito para pessoas com deficiência. Em terceiro lugar, a mídia – tanto a geral como a especializada - continua focalizando apenas os casos isolados de superação (proeza ou coragem individual) por parte de algumas pessoas com deficiência que, por mérito próprio, conseguiram vencer as desafiadoras barreiras ambientais existentes em locais de turismo. Nada contra estas pessoas, pois é ótimo que elas mostrem seu alto rendimento e, com isto, motivem outras pessoas a enfrentar as restrições do ambiente; mas, aqui estamos falando de turismo para todos: todos sem exceção têm direito à inclusão, por mínimo que seja o nível de autonomia física de alguns. Em quarto lugar, as publicações (oficiais ou não) relativas ao turismo inclusivo não trazem todos os exemplos de boas práticas que existem no imenso território brasileiro. Este fato se torna injusto para com os exemplos não-citados e nos deixa impossibilitados de saber qual região seria possuidora de maiores condições para oferecer um turismo acessível. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? RKS: Percebo uma demanda composta por pessoas com deficiência desempenhando os seguintes papéis nas 10 interfaces: turistas (usuários de programas e locais de turismo); trabalhadores (profissionais do turismo); empreendedores (executores de obras turísticas); ativistas de direitos (formuladores de políticas públicas de turismo e militantes na luta pelos direitos das pessoas com deficiência); legisladores (elaboradores de leis de turismo); profissionais da mídia (repórteres e jornalistas que fazem cobertura sobre turismo); educadores (professores de cursos de turismo, oficinas de capacitação etc.); projetistas (arquitetos, engenheiros e desenhistas industriais, especializados em construção de ambientes turísticos com desenho universal); webdesigners (especialistas em informação e comunicação on-line acessíveis sobre turismo inclusivo); e pesquisadores (investigadores e estudiosos que mapeiam a realidade do turismo para pessoas com deficiência). Estas interfaces da demanda vêm sendo preenchidas, crescentemente, por pessoas com deficiência. Recomendo que sejam realizados levantamentos sobre o quantitativo dessa demanda junto aos destinos turísticos do Brasil. © Andréia Rocha Feitosa Apêndices A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. RKS: Primeiro fator: acessibilidade em infra-estrutura. Segundo fator: acessibilidade em serviços. Geralmente, cada pessoa com deficiência, ao escolher um destino turístico, investiga primeiro se ele oferece infra-estrutura acessível para as suas necessidades específicas decorrentes da deficiência que tenha. Para isso, ela utiliza todos os meios possíveis: perguntando a quem já tenha ido a esse destino turístico, consultando publicações, telefonando ao determinado local, navegando pela internet etc. Se a pessoa concluir que o desejado destino turístico é inacessível para ela, esta opção de viagem será simplesmente descartada, mesmo que a pessoa fique sabendo que o local oferece acessibilidade em serviços. Raramente, as pessoas com deficiência adotam o processo inverso. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? RKS: A falta de interesse de quem quer que seja (do primeiro, do segundo e do terceiro setores da sociedade) não constitui o fator fundamental que possa impedir ou dificultar a alocação de investimentos em turismo para pessoas com deficiência. O fator fundamental é o desconhecimento, por parte dos três setores, sobre o potencial turístico do segmento das pessoas com deficiência. O desconhecimento é fruto da falta de informações sobre este potencial e da falta de convivência com este segmento. Temos testemunhos, depoimentos e relatos de órgãos oficiais e de instituições particulares que, uma vez informados e familiarizados sobre o potencial turístico deste segmento, passaram a investir - com alto interesse - no chamado turismo acessível, turismo inclusivo ou turismo para todos. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? RKS: Sim, desde que o marketing social seja entendido como “mais um instrumento de difusão” e não “o instrumento de difusão”. É imprescindível trabalharmos como uma rede de apoios, formada por parcerias e interfaces envolvendo diversos níveis dos três setores: governos, empresas e organizações não-governamentais. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficácia e eficiência) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada © Andréia Rocha Feitosa 126 Apêndices do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? RKS: É preciso deixar claro que, antes de serem eficazes e eficientes, as campanhas de marketing social - assim como os meios de comunicação - não são automaticamente boas, corretas e adequadas só porque são campanhas. Pois, uma campanha ruim, incorreta e inadequada poderá, também, ser executada com eficácia e eficiência, o que seria um desastre para o segmento das pessoas com deficiência e para a sociedade como um todo. Portanto, devemos assegurar que as campanhas de marketing social sobre o turismo inclusivo sejam formuladas e montadas com conteúdos bons, corretos e adequados, os quais então deverão ser executados eficaz e eficientemente. Para que existam estas qualidades - o bom, o correto e o adequado -, hoje se exige que o segmento das pessoas com deficiência (público-alvo) seja consultado e ouvido, já na fase de montagem das campanhas de marketing e, em seguida, nas fases de execução, monitoramento, avaliação e reformulação. Hoje se pratica o lema “Nada sobre nós, sem nós”. © Andréia Rocha Feitosa 127 Apêndices APÊNDICE L: Questionário Eletrônico de Sáskia Freire Lima de Castro NOME DO ENTREVISTADO: Sáskia Freire Lima de Castro E-MAIL: Saskia INSTITUIÇÃO: Ministério do Turismo CARGO: Coordenadora-Geral de Segmentação DATA DA ENTREGA: 14 de março de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional? Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Sáskia Freire Lima de Castro: Os últimos vinte anos foram marcados pela publicação da maioria das leis e decretos que hoje existem sobre os direitos da pessoa com deficiência. Também foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que tem como objetivo que a sociedade civil faça o acompanhamento das políticas públicas voltadas para a Pessoa com deficiência. A legislação e os programas de governo se estenderam para as áreas de trabalho, educação, saúde, turismo, porém ainda existe muito a ser feito em todas estas áreas. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) nos destinos turísticos do Brasil? S.F.L.C: Em relação ao Ministério do Turismo, posso afirmar que desde sua criação temos inserido o tema nas discussões com os destinos turísticos que trabalhamos nos diversos projetos. Porém, observa-se que alguns destinos despertaram para o tema e entenderam a importância de se pensar o turismo sem barreiras arquitetônicas ou de acessibilidade de uma forma geral. Mas infelizmente, nem todas as leis e normas ainda são cumpridas. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. S.F.L.C: Acredito que ainda não, pois ainda temos muitas barreiras a serem vencidas. Mas entendo que esse processo poderá ser acelerado com os eventos esportivos que vamos sediar nos próximos seis anos. Os municípios terão que se organizar e se adaptar para receber os turistas com deficiência e mobilidade reduzida, se quisermos ter uma copa acessível. Para isso, estamos disseminando informações, normas e legislação acerca do tema. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. © Andréia Rocha Feitosa 128 Apêndices S.F.L.C: Atualmente, os destinos que têm tomado à frente nas ações de acessibilidade tem relatado resultados positivos no aumento da demanda turística, de pessoas com ou sem deficiência. Socorro é um grande exemplo disso. Foi um destino que se posicionou no mercado turísticos com a imagem de destino acessível e isso tem rendido um retorno fantástico em termos de fluxo turístico e mídia espontânea, conforme relatam os empresários e gestores locais. A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? S.F.L.C: Não existem dados que nos permitam afirmar quais regiões estão melhor adaptadas, existem sim empreendimentos e alguns destinos que, conforme já mencionei, estão fazendo um trabalho muito importante neste tema. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? S.F.L.C: O público das Pessoas com Deficiência soma, segundo o Censo do IBGE de 2000, cerca de 25 milhões de pessoas. Sabemos que este público está cada vez mais se inserindo no mercado de trabalho, o que lhes dar a oportunidade de renda e de períodos de férias. Isso nos leva a crer que a demanda de pessoas com deficiência consumindo produtos turísticos deve aumentar à medida que eles se sintam seguros em viajar, sabendo que terão condições de acesso e autonomia, independente da deficiência que possuem. Os destinos que se atentarem para isso, poderão absorver essa demanda, que só tende a crescer. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. S.F.L.C: Desconheço dados ou pesquisas que nos dêem essa resposta, mas acredito que tem que ser o conjunto, pois o turista com deficiência precisa ter acesso à infra-estrutura turística (meios de hospedagem, restaurantes, atrativos etc.) e precisa de pessoas capacitadas para realizar os serviços nestes locais. © Andréia Rocha Feitosa 129 Apêndices A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? S.F.L.C: Em geral, no Brasil os empresários costumam utilizar justificar a falta de investimentos em acessibilidade, devido aos altos custos para as adaptações e a baixa demanda. Mas nós sabemos que se não houve investimentos, os turistas deficientes não buscarão aquele destino ou empreendimento. Então entendo que os empresários precisam ser pro ativos nesta questão. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? Justifique. S.F.L.C: Acredito que a Gestão do Marketing Social seja uma boa estratégia para o Turismo Social, embora não tenhamos neste Ministério nenhum projeto deste tipo. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? Justifique. S.F.L.C: Acredito sim. © Andréia Rocha Feitosa 130 Apêndices APÊNDICE M: Questionário Eletrônico de Sávio Vieira Ramos NOME DO ENTREVISTADO: Sávio Vieira Ramos E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Araraúna Turismo e Negócios CARGO: Consultor de Turismo DATA DA ENTREGA: 18 de março de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional? Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Sávio Vieira Ramos: A cada dia que passa as políticas publicas envolvendo os direitos das pessoas com deficiência ganha mais adeptos devidos os meios de comunicação que vem sempre abordando esta temática, e com isso as pessoas que necessitam destes direitos como um direito de ser cidadão comum vem crescendo e lhes ajudando nesta dura batalha da acessibilidade para todos. Em minha opinião, esta bem democrático as áreas mais privilegiadas colocadas o que esta acontecendo e que estão mal distribuídas em todas as áreas por todo o nosso país. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) nos destinos turísticos do Brasil? S.V. R: O interesse público pela acessibilidade do turismo acessível ainda não esta ainda na prioridade dos empresários e dos governantes, mais com as leis e atos isolados, através de associações, ONGs, empresários, vem ganhando espaço e mostrando a viabilidade que este segmento do turismo acessível pode ser economicamente rentável para os empreendimentos turísticos. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. S.V. R: Não, pois ainda não temos locais que sejam totalmente acessíveis, onde o que compreende o sistema turístico não seja apenas o produto turístico em si, mais sim em seu todo que lhe compreende sendo ele em cadeia: Município, população, transporte, empreendimento, equipamentos, serviços turísticos e produtos turísticos. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. S.V. R: Sim, pois os empreendimentos aptos às praticas do turismo acessível estão sempre em evidencia nos meios de comunicação do turismo, que primam este seguimentos e resultam a procura deles para usufruir destes locais que são poucos em nosso país. E no © Andréia Rocha Feitosa 131 Apêndices aspecto social as populações e o meio social deste segmento vendo a procura e a rentabilidade deste segmento, procura estar se qualificando para estar recebendo este público, e com isso apresentando serviço de qualidade e que resultam em benefícios econômicos para todo o sistema que lhe envolve. A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? S.V. R: não respondeu A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? S.V. R: Sim com certeza. Este público é um nicho de mercado promissor e já existente, e exigente. Com o uso dos meios de comunicação que vem divulgando esses locais, e com isso vem construindo um público para este nicho onde nele não viaja apenas pessoas com deficiência e sim sua família, que vai onde temos locais acessíveis, vem ampliando e muito significativamente na demanda dos locais turísticos, mostrando a preocupação dos empreendedores destes mercados em se adaptarem e esses clientes. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. S.V. R: Bom, no meu entender por não ser deficiente, esse fator não depende só de uma opção na viagem e sim de um conjunto de influencia em seu destino escolhido, pois no turismo trabalhamos com sonhos, e ser vendedor de sonhos neste caso e muito difícil devido não termos locais totalmente acessíveis. O que vejo é que escolhemos as melhores opções para cada tipo de deficiência e tentamos mobilizar o sistema turístico em prol do público que estará recebendo. Porque hoje nenhum local do Brasil esta pronto para atender uma pessoa que viaja sozinha que seja deficiente, sem ter um aviso prévio para que se prepare para receber este cliente. Mais um dos fatores que possa influenciar a mais rogo pelo serviço das empresas turísticas tanto na sua qualificação de serviços humanos quanto aos locais escolhidos para acomodar este público. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? S.V. R: No contexto nacional, na minha percepção esse problema vem devido à falta de © Andréia Rocha Feitosa 132 Apêndices fiscalização das políticas públicas que não são utilizadas como deveriam ser, além de ter seus direitos ter sido à tão pouco tempo reconhecidas. Onde os empreendedores se recusam em estar intervindo em seus empreendimentos e causando transtorno em seu ambiente neste período, e se mostram se desconhecidos pelas exigências exigidas para receber este público. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? Justifique. S.V. R: Com certeza. Hoje vejo a televisão sempre em evidencia em suas novelas, debates, programas abordando temas que mostram o tema da acessibilidade para as pessoas, e com isso fortalecendo o marketing social e sempre se mobilizando em ações para promover e agir em prol da acessibilidade em si, não só apenas da acessibilidade turística, mais sim em todo o sistema que lhe envolve. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficiência e eficácia) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? Justifique. S.V. R: Sim acredito, pois há 5 anos atrás quase não ouvíamos falar em acessibilidade no turismo, hoje com tudo o que vem acontecendo em prol deste segmento, já temos leis sendo compridas, organizações serias realizando ações que são vistas e colocadas como exemplo para os empreendedores aplicarem nos seus empreendimentos. Sendo que hoje e reconhecido pelo Ministério do Turismo como segmento o turismo acessível, isto e mais que uma vitória para este nicho, e sim um comprimento dos direitos de ser cidadão. © Andréia Rocha Feitosa 133 Apêndices APÊNDICE N: Questionário Eletrônico de Viviane Panelli Sarraf NOME DO ENTREVISTADO: Viviane Panelli Sarraf E-MAIL: [email protected] INSTITUIÇÃO: Museus Acessíveis e Fundação Dorina Nowill para Cegos CARGO: Diretora Fundadora e Consultora de Acessibilidade Cultural DATA DA ENTREGA: 25 de março de 2010 Andréia: Como o Sr (a) analisa o quadro de evolução das políticas públicas voltadas para os direitos das pessoas com deficiência em nível nacional? Quais as áreas mais privilegiadas: educação, trabalho, saúde, esporte, turismo, etc.? Viviane Panelli Sarraf: Certamente as áreas mais beneficiadas no que diz respeito às políticas públicas de direitos das pessoas com deficiência atualmente são: saúde, educação, trabalho e edificações públicas. No turismo as condições são melhores que no acesso à cultura, ainda se encontram em fase inicial, com impasses a serem superados para o pleno exercício dos direitos de viagens e lazer cultural. A: De que forma o Sr (a) analisa o interesse público por ações que primam pela acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias públicas e mobiliário urbano) nos destinos turísticos do Brasil? V.P.S: Percebo que a vontade política por parte do Ministério do Turismo moveu algumas mudanças significativas, como programas e incentivos, mas em relação a uma política pública acredito que é necessário avaliar as práticas existentes, diagnosticar problemas/entraves e elaborar planos de ação e incentivo que beneficiem em igual quantidade e qualidade os diferentes pólos turísticos do país. A: Em sua opinião, o Brasil pode ser considerado, assim como países da Europa, como um destino turisticamente acessível às pessoas com deficiência? Justifique sua resposta. V.P.S: Creio que “o Brasil” é muito extenso e diverso. Existem poucos pontos turísticos razoavelmente acessíveis às pessoas com deficiência, mas que já podem ser considerar uma oferta. No entanto afirmar positiva ou negativamente que o Brasil é turisticamente acessível é muito complicado pelo tamanho e diferenças do país. A: O Sr (a) identifica benefícios econômicos e sociais nos destinos turísticos que se preocupam com o tema da acessibilidade e inclusão? Justifique. V.P.S: Com certeza. A acessibilidade beneficia além das pessoas com deficiência, pessoas com mobilidade reduzida, idosos, famílias com crianças pequenas e pessoas em tratamentos de saúde. Com esses benefícios o interesse pelos destinos acessíveis cresce, gerando mais impacto financeiro e conseqüentemente social para o local. © Andréia Rocha Feitosa 134 Apêndices A: Qual região brasileira possui mais condições de acessibilidade arquitetônica (adaptações em espaços públicos) e acessibilidade em serviços (adaptações em infra-estrutura e na qualidade dos serviços)? A: Acredito que não temos uma região melhor ou pior, já que a acessibilidade no Brasil ainda depende muito de iniciativas isoladas que se espalham de maneira heterogênea pelo país. V.P.S: Existem algumas benfeitorias em SP, RJ, RN, CE, PE, DF, mas ainda não é possível afirmar que os estados em questão ou região tem sua totalidade turística acessível. A: Qual a percepção do Sr (a) quanto ao perfil da demanda (turistas / pessoas com deficiência) no Brasil? Este público pode ser considerado como um nicho de mercado promissor? V.P.S: Acredito que sim. Hoje as pessoas com deficiência estão incluídas em todas as camadas sociais e tem poder de compra. Mas o investimento em produtos e serviços acessíveis ainda é pequeno e restrito, muitas vezes com preços muito elevados desencorajando esse consumidor de classes B, C e D. A: Que fator exerce maior influência para a pessoa com deficiência no momento da escolha de um destino turístico como opção de viagem, acessibilidade arquitetônica (prédios públicos, vias e mobiliário urbano) ou acessibilidade nos serviços das empresas turísticas (infra-estrutura e pessoal qualificado)? Justifique. V.P.S: As duas coisas, são necessários estrutura urbana, serviços e profissionais qualificados. Uma coisa não substitui a outra quando se trata de acessibilidade. A: O Sr (a) identifica, no contexto nacional, alguma falta de interesse da iniciativa privada (empreendedores do turismo) no que se diz respeito à alocação de investimentos voltados para atender com qualidade a demanda de pessoas com deficiência ? Sim, são raros os casos de agências de turismo que invistam em viagens para destinos acessíveis ou acessibilizados. A: Em sua opinião, a gestão de marketing social pode ser utilizada como instrumento de difusão do Turismo Social no Brasil? Justifique. V.P.S: Sim, desde que a oferta corresponda a essa gestão de marketing, não frustrando a demanda com uma oferta insuficiente. Isso é, acho que antes de divulgar é necessário melhorar o setor. A: O Sr (a) acredita na aplicabilidade (eficiência e eficácia) das campanhas de marketing social para sensibilizar e conscientizar a sociedade, mais precisamente a iniciativa privada do turismo quanto ao cumprimento de seus deveres para com os direitos das pessoas com deficiência? Justifique. © Andréia Rocha Feitosa 135 Apêndices V.P.S: Sim, acredito, mas de acordo com os termos da resposta anterior. © Andréia Rocha Feitosa 136 Anexos ANEXOS © Andréia Rocha Feitosa 137 Anexos Anexo A: Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência © Andréia Rocha Feitosa 138 Anexos © Andréia Rocha Feitosa 139 Anexos © Andréia Rocha Feitosa 140 Anexos © Andréia Rocha Feitosa 141 Anexos © Andréia Rocha Feitosa 142 Anexo B: Dicas de Relacionamento com as Pessoas com Deficiência. 143 144 145 146 147 148 149 150