MATERIA DE APOIO: SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES. Profa.Solange Crespi Bibliografia Básica: CASTRO, Celso Antonio Pinheiro. Sociologia Aplicada à Administraçăo. 2ª ed. Săo Paulo: Atlas, 2003. BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reynaldo Cavalheiro. Sociologia Aplicada à Administraçăo. 5ª ed. Săo Paulo: Saraiva, 2001. Bibliografia Complementar: ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. Săo Paulo: Bomtempo, 1999. AULA 1 – APRESENTAÇÃO O que é Sociologia? A Sociologia é uma das ciências humanas que estuda as unidades que formam a sociedade, ou seja, estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indivíduo na sua singularidade é estudado pela psicologia, a Sociologia tem uma base teórico-metodológica, que serve para estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los, analisando os homens em suas relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da sociologia. Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse apenas de sociólogos. Cobrindo todas as áreas do convívio humano — desde as relações na família até a organização das grandes empresas, o papel da política na sociedade ou o comportamento religioso, a Sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversas outras áreas do saber. Entretanto, o maior interessado na produção e sistematização do conhecimento sociológico atualmente é o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta disciplina científica. 1 Assim como toda ciência, a Sociologia pretende explicar a totalidade do seu universo de pesquisa. Ainda que esta tarefa não seja objetivamente alcançável, é tarefa da Sociologia transformar as malhas da rede com a qual a ela capta a realidade social cada vez mais estreita. Por essa razão, o conhecimento sociológico, através dos seus conceitos, teorias e métodos, podem constituir para as pessoas um excelente instrumento de compreensão das situações com que se defrontam na vida cotidiana, das suas múltiplas relações social e, conseqüentemente, de si mesmas como seres inevitavelmente sociais. A Sociologia ocupa-se, ao mesmo tempo, das observações do que é repetitivo nas relações sociais para daí formular generalizações teóricas; e também se interessa por eventos únicos sujeitos à inferência sociológica (como, por exemplo, o surgimento do capitalismo ou a gênese do Estado Moderno), procurando explicá-los no seu significado e importância singulares. A Sociologia surgiu como uma disciplina no século XVIII, na forma de resposta acadêmica para um desafio de modernidade: se o mundo está ficando mais integrado, a experiência de pessoas do mundo é crescentemente atomizada e dispersada. Sociólogos não só esperavam entender o que unia os grupos sociais, mas também desenvolver um "antídoto" para a desintegração social. Hoje os sociólogos pesquisam macroestruturas inerentes à organização da sociedade, como raça ou etnia, classe e gênero, além de instituições como a família; processos sociais que representam divergência, ou desarranjos, nestas estruturas, inclusive crime e divórcio. E pesquisam os micros processos como relações interpessoais. Sociólogos fazem uso freqüente de técnicas quantitativas de pesquisa social (como a estatística) para descrever padrões generalizados nas relações sociais. Isto ajuda a desenvolver modelos que possam entender mudanças sociais e como os indivíduos responderão a essas mudanças. Em alguns campos de estudo da Sociologia, as técnicas qualitativas — como entrevistas dirigidas, discussões em grupo e métodos etnográficos — permitem um melhor entendimento dos processos sociais de acordo com o objetivo explicativo. Os cursos de técnicas quantitativas e qualitativas servem, normalmente, a objetivos explicativos distintos ou dependem da natureza do objeto explicado por certa pesquisa sociológica: o uso das técnicas quantitativas é associado às pesquisas macro-sociológicas; as qualitativas, às pesquisas micro-sociológicas. Entretanto, o uso de ambas as técnicas de coleta de dados pode ser complementar, uma vez que os estudos micro-sociológicos podem estar associados ou ajudarem no melhor entendimento de problemas macrosociológicos. 2 AULA 2 – As Revoluções Burguesas O Surgimento Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento moderno. Desde Copérnico, a evolução do pensamento era exclusivamente científica. A sociologia veio preencher a lacuna do saber social, surgindo após, a constituição das ciências naturais e de várias ciências sociais. A sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorreram circunstâncias históricas e intelectuais e intenções práticas. O seu surgimento ocorre num momento histórico determinado, coincidente com os últimos momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da civilização capitalista. A criação da sociologia não é obra de um só filósofo ou cientista, mas o trabalho de vários pensadores empenhados em compreender as situações novas de existência que estavam em curso. As transformações econômicas, políticas e culturas verificadas no século XVII, marca de forma indelével a sociologia. As revoluções: industrial e a francesa patrocinam a instalação definitiva da sociedade capitalista. Somente por volta de 1830, um século depois, surgiria a palavra sociologia, fruto dos acontecimentos das duas revoluções citadas. A revolução industrial, à parte a introdução da máquina a vapor e os aperfeiçoamentos dos métodos produtivos, determinou o triunfo da indústria capitalista pela concentração e controle de máquinas, terras e ferramentas onde as massas humanas eram simples trabalhadores despossuídos. Cada passo da sociedade capitalista capitaneava a desintegração e o solapamento de instituições e costumes reinantes, para constituir-se em novas formas de organização social. As máquinas não simplesmente destruíam os pequenos artesãos, como os obrigava à forte disciplina, nova conduta e relação de trabalho até então desconhecidas. Em 80 anos (entre 1780 e 1860), a Inglaterra conseguiu mudar radicalmente a sua face. Pequenas cidades passaram a grandes cidades produtoras e exportadoras. Estas bruscas transformações implicariam em nova organização social, pela transformação da atividade artesanal em manufatureira e fabril, como também pela emigração do campo para a cidade onde mulheres e crianças em jornadas de trabalho desumanas percebiam salários de subsistência e constituía-se em mais da metade da força de trabalho industrial. Estas cidades se transformaram num verdadeiro caos, vez que sem condições para suportar um vertiginoso crescimento, deram lugar a toda sorte de problemas sociais, tais como, surtos de epidemias de tifo e cólera, vícios, prostituição, criminalidade, infanticídio que dizimaram parte das suas populações. 3 Este fenômeno, o da revolução industrial, determinou o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele desempenharia na sociedade capitalista. Os seus efeitos catastróficos para a classe trabalhadora geraram sentimentos de revolta traduzidos externamente na forma de destruição de máquinas, sabotagens, explosão de oficinas, roubos e outros crimes, que deram lugar à criação de associações livres e sindicatos que permitiram o diálogo de classes organizadas, cientes de seus interesses com os proprietários dos instrumentos de trabalho. Estes importantes acontecimentos e as transformações sociais verificadas despertaram a necessidade investigação. Os pensadores ingleses que testemunhavam estas transformações e com elas se preocupavam não eram homens de ciência ou sociólogos profissionais. Eram homens de atitude que desejavam introduzir determinadas modificações na sociedade. Participavam de debates ideológicos onde estavam presentes correntes conservadoras, liberais e socialistas, visando orientação de ações para conservar, modificar radicalmente ou reformar a sociedade de seu tempo. Isto quer dizer que os precursores da sociologia se encontravam entre militantes políticos e entre as pessoas que se preocupavam com os problemas sociais. Entre eles estavam os pensadores: Owen (1771-1858), William Thompson (1775-1833), Jeremy Bentham (1748-1832), etc., cujos escritos foram de importância capital para a formação e constituição de um saber sobre a sociedade. A sociologia constitui uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial, como por exemplo, a situação dos trabalhadores, o aparecimento das cidades industriais, as transformações tecnológicas, a organização do trabalho na fábrica, etc. É a formação e uma estrutura social específica – a sociedade capitalista – que impõe uma reflexão sobre a sociedade, suas transformações, suas crises, e sobre seus antagonismos de classe. A observação e o experimento como fontes da exploração dos fenômenos da natureza propiciaram a acumulação de fatos. O relacionamento entre estes, possibilitaria o seu controle e domínio. O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os avanços do pensamento científico. “A teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade em que se apoiava um dos alicerces da teologia, cederia lugar a uma dúvida metódica que possibilitasse um conhecimento objetivo da realidade” (Francis Bacon 15611626). Para ele o novo método de conhecimento (observação e experimentação), ampliaria infinitamente o poder do homem e deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. O uso sistemático da razão, do livre exame da realidade, representou um grande salto para libertar o conhecimento do controle científico, da tradição, da “revelação” e, conseqüentemente, para a formulação de uma nova atitude intelectual diante dos fenômenos da natureza e da cultura. Se no século XVIII os dados estatísticos voavam, dando conta de uma produtividade desconhecida, o pensamento social também divagava rumo a novas descobertas. Se o processo histórico possui lógica, pode ser 4 compreendido e assim abrir novas pistas para o estudo racional da sociedade (Vico 1668-1744). Para ele é o homem que produz a história. Daí, afirmava que a sociedade podia ser compreendida porque, ao contrário da natureza, ela constitui obra dos próprios homens. Esta postura influenciou os historiadores escoceses da época, como David Hume (1711-1776) e Adam Ferguson (1723-1816), e seria posteriormente desenvolvida e amadurecida por Hegel e Marx. Foi também dessa época a disposição e tratar a sociedade a partir do estudo de seus grupos e não dos indivíduos isolados, a cuja corrente pertencia Adam Ferguson que foi influenciado pelas idéias de Bacon de que é a indução, e não a dedução, que nos revela a natureza do mundo, e a importância da observação enquanto instrumento para a obtenção do conhecimento. É a intensidade dos conflitos entre as classes dominantes da sociedade feudal e a burguesia revolucionária que leva os filósofos, seus representantes intelectuais, a atacarem de forma impiedosa a sociedade feudal e sua estrutura de conhecimento, e a negarem abertamente a sociedade existente. Os iluministas, enquanto ideólogos da burguesia, com posições revolucionárias, atacavam firmemente os fundamentos da sociedade feudal e seus privilégios e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia. Estes iluministas reformularam as idéias e procedimentos de seus antecessores como Descartes, Bacon, Hobbes: ao invés de usarem a dedução como a maioria dos pensadores do século XVII, os iluministas insistiam numa explicação da realidade baseado no modelo das ciências da natureza, influenciados mais por Newton (modelo de conhecimento baseado na observação, experimentação e acumulação de dados), do que por Descartes (método de investigação baseado na dedução). Combinando o uso da razão e da observação, os iluministas analisaram quase todos os aspectos da sociedade (população, comércio, religião, moral, família, etc.).O objetivo do estudo era demonstrar que as instituições eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e impediam a liberdade do homem, por isso deviam ser eliminadas. Para eles o indivíduo possuía razão, perfeição inata e era destinado à liberdade e à igualdade social. Reivindicava a liberação do indivíduo de todos os laços sociais tradicionais, tal como as corporações, a autoridade feudal, etc. O visível progresso das formas de pensar, fruto das novas maneiras de pensar e viver contribuía para afastar interpretações fundadas em superstições e crenças infundadas e abria espaço para a constituição de um saber sobre os fenômenos histórico-sociais. O “homem comum” da época também passou a deixar de encarar, cada vez mais, as instituições sociais, as normas, como fenômenos sagrados e imutáveis submetidos a forças sobrenaturais, percebendo-os como produtos da atividade humana passível de serem conhecidos e mudados. 5 A ferrenha crítica dos iluministas às instituições feudais constituía-se em claro indício da putrefação da luta que a burquesia travava no plano político contra a classe feudal dominante. Na França, as forças burguesas ascendentes colidiam com a típica monarquia absolutista que privilegiava aproximadamente quinhentas mil pessoas em detrimento de vinte e três milhões de habitantes, no final do século XVIII. Estes privilégios incluíam isenção de impostos, direito de receber tributos feudais e impedia a formação de livre-empresa e a exploração eficiente da terra e incapaz de criar uma administração padronizada através de uma política tributária racional e imparcial. A burguesia, ao tomar o poder em 1789, insurgiu-se definitivamente contra os fundamentos da sociedade feudal, ao construir um Estado que assegurasse sua autonomia diante da Igreja e que incentivasse e protegesse a empresa capitalista. Aconteceu aí uma liquidação do regime antigo. Em menos de um ano a velha estrutura e o Estado monárquico estavam liquidados, inclusive abolindo radicalmente a antiga forma de sociedade e suas tradicionais instituições, arraigados costumes e hábitos, promovendo sensíveis alterações na economia, na política e na vida cultural. Neste contexto se situam a abolição das corporações e dos grêmios e a promulgação de legislação que limitava os poderes patriarcais na família, coibindo os abusos da autoridade do pai e forçando-o a uma divisão igualitária da propriedade. Confiscou propriedades da Igreja, suprimiu os votos monásticos e responsabilizou o Estado pela educação. Acabou com antigos privilégios de classe e amparou e incentivou o empresário. O choque da revolução foi tão intenso, que após quase setenta anos de seu triunfo, o pensador francês Alexis de Tocqueville disse dela: “A revolução segue seu curso: à medida que vai aparecendo a cabeça do monstro, descobre-se que, após ter destruído as instituições políticas, ela suprime as instituições civis e muda, em seguida, as leis, os usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até Deus...” Este espanto também foi partilhado por outros como Durkheim, Sant-Simon, Comte, Le Play, etc. A Revolução Industrial “Um relógio é sólido dentro de sua caixa polida inoxidável, à prova de choques até o limite do que lhe for suportável à prova d’água para quem tiver o finíssimo gosto de tomar banho com ele, garantido por uns tantos anos, que poderiam ser muitos, se não viessem as modas rir-se do que compramos ontem; são maneiras de manter a fábrica o seu fluxo de mecanismos e o seu afluxo de dividendos” (Saramago, Levantado do Chão). A industrialização consistiu no fenômeno mais geral que assinalou o século XVIII. Foi qualificada de revolucionária e classificou o período, porque incidiram em atividades renovadoras dentro dos diferentes setores do quadro econômico, social, político e ideológico da época. A rala produção artesanal multiplicou-se 6 rapidamente, com o aparecimento de manufaturas complexas, tecnologias inovadoras e invenções recentes. Localizadas nos centros urbanos, as fábricas logo atraíram trabalhadores do campo, que vinham em busca de melhores oportunidades de serviço. O êxodo rural fez inchar as cidades, incrementou o comércio e incentivou meios de transporte mais avançados. Porém, mão de obra abundante significa igualmente falta de empregos, e os dois fatos, reunidos, produziram o marginal alojado na periferia urbana, os cinturões de pobreza e a elevação dos índices de criminalidade. “Diacho!” respondeu Maheu, “se a gente tivesse mais dinheiro estaria mais folgado... Mesmo assim, é bem verdade que isso não faz bem a ninguém, isto de viver uns sobre os outros. Isso acaba sempre em homens bêbados e moças grávidas”. (...) Não, certamente a vida não era divertida. Trabalhavam-se como verdadeiras bestas num trabalho que em outros tempos era o castigo dos galeotes (...) tudo isso para não ter nem carne à mesa, à noite. Sem dúvida, a gente tinha a sua bóia, a gente comia, mas tão pouco, justinho o necessário para comer sem morrer, aplastado pelas dívidas, perseguido como se a gente roubasse o próprio pão. Quando chegava o domingo, dormia-se de cansaço. Os únicos prazeres eram o de se embebedar ou o de fazer um filho à sua mulher; e ainda a cerveja engordava demais o ventre, e a criança, mais tarde, gozava sua cara. Não, não, isso não tinha graça nenhuma (Zola, Émile; Germinal). O trecho acima descreve a vida de trabalhadores nos últimos 30 anos do século XIX; nesse cenário, estão presentes os grandes pensamentos do Iluminismo e da Revolução; e o trabalho livre é considerado condição natural e auto-reguladora do bem-estar e do progresso material. Mas a auto-regulação não funcionava no sentido de satisfazer a necessidade da justiça social; o que decidia acerca do êxito ou fracasso do indivíduo ou de camadas sociais inteiras não eram somente a inteligência e a aplicação, mas também as condições de partida, as relações pessoais, os acasos da sorte. De certo modo, as promessas da modernidade, do progresso técnico não se cumpriam e não podiam ser cumpridas. À revolução industrial, deflagrada no século XVIII e, desde então, não mais sustada, se associam tanto o crescimento político e financeiro das cidades, como a decadência paulatina do poder rural e do feudalismo remanescente desde a idade média. A urbanização, por seu turno, se faz de modo desigual, refletindo as diferenças sociais: do lado de fora se localiza o proletariado, constituído inicialmente pelas pessoas que haviam se mudado do campo para a cidade; no coração do perímetro urbano, a burguesia, que financia, com os capitais excedentes da exploração das riquezas minerais das colônias americanas ou do comércio marítimo, as novas plantas industriais que se instalam, e a tecnologia necessária a seu florescimento. A burguesia se consolida como classe social, apoiada num patrimônio que não mais se mede em hectares, mas em cifrões. E reivindica um poder político que conquista paulatinamente, procurando evitar confrontos diretos e sangrentos, 7 como o que ocorre na França, em 1789, mas utilizando também essa solução, quando é o caso. Entretanto, é uma camada social pacifista, em princípio. Ou, por outra, procura tornar sua violência menos visível. Para isso, incentiva instituições que trabalham em seu favor, ajudando-a a atingir as metas desejadas. O indivíduo Em outra abordagem sobre o mesmo processo, existem os efeitos sobre o ser humano que, no novo cenário, busca no trabalho não só o necessário para sua sobrevivência, mas a realização de seus sonhos, através do recebimento de um salário que não somente lhe permita comer, vestir-se, mas que lhe permita também ter prazer e conforto em sua classe social. Um homem só é completo quando sente que o seu trabalho não é somente útil para ele, mas também para a sua família e para a sociedade (quando isso não acontece, o homem entra num processo de desinteresse e desestimulação ficando angustiado e deprimido; esse processo muda completamente o comportamento do homem, marginaliza-o). Existe a suposição de que o uso da automação tem permitido que o homem deixe de realizar tarefas mais rudes, penosas que exigem grandes esforços físicos. O uso da alta tecnologia traz a necessidade de nova gestão dos fluxos produtivos que permitem o uso de robôs e a substituição dos operários nas funções executivas. E isso traz mudanças profundas no sistema de postos e de funções dentro de uma indústria metalúrgica. Stuart Mill acreditava que as invenções mecânicas aliviavam o trabalho diário dos seres humanos, ao contrário de Marx que afirmava não ser essa a intenção do capital quando emprega uma máquina. Marx diz: Como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva capitalista, tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho na qual o operário trabalha para si mesmo e, com isso, prolongar a outra parte da jornada de trabalho que ele dá gratuitamente para o capitalista. E complementa: Depois de ter mutilado e estropiado o trabalhador com a divisão do trabalho, depois de tê-la limitado a uma única e maçante operação, o capitalista vai agora nos oferecer um espetáculo mais triste ainda. Ele arrancou das mãos do trabalhador as ferramentas que lhe restavam, liquidando, assim, as únicas recordações de seu antigo ofício, de seu antigo estado de homem completo e o amarra à máquina, exatamente como o capitalista precisa dele (Cafiero, 1990: 48)1. Nas indústrias, a utilização da alta tecnologia utilizada na fabricação de produtos com o intuito de redução de custos, eliminação de erros, melhoria na qualidade dos produtos, e maior rapidez e eficiência na produção reduzem em 1 Carlo Cafiero, O capital, uma leitura popular, 6 ed. São Paulo: Polis, 1990. 8 alta escala a utilização da mão de obra; ou seja, do fator humano. (Oliveira, 1999) A fábrica e a sociedade A reunião dos artesãos em um mesmo espaço - a fábrica - foi imposta pela necessidade do controle, da necessidade da imposição um ritmo de trabalho e de retirar do trabalhador seu saber técnico, sua criatividade individual. Portanto, o sistema de fábrica impõe, sobretudo, a perda do controle do processo de produção pelo trabalhador, colocando em pólos opostos o capitalista – detentor dos meios de produção – e o trabalhador (ou proletário), despossuído destes meios. Além do controle no interior das fábricas, os valores capitalistas eram disseminados fora do espaço fabril. A moral do tempo útil, inspirada na concepção protestante de glorificação do trabalho como caminho para a salvação, condenava as festas populares, as cantorias e as danças. A própria escola passou a inculcar uma cultura disciplinadora do trabalho, das atitudes e dos gestos. Documentos do século XVIII atestam que, quando a criança chegava aos seis ou sete anos, deveria estar acostumada com o trabalho. Nas fábricas, os trabalhadores, reunidos em galpões, passaram a serem vigiados e controlados por meio de uma rígida disciplina que impunha horários de entrada e saída, prazos para cumprimento de tarefas, maior divisão das etapas do trabalho e severa hierarquia. Sem autonomia o trabalhador, tornouse vulnerável. A jornada de trabalho média atingia até 16 horas diárias, sem interrupções para feriados ou férias. Do seu surgimento até fins do século XIX, o espaço fabril era sujo e mal ventilado, sendo freqüentes os acidentes de trabalho. A utilização de mão de obra infantil, principalmente nas tecelagens, vidrarias e minas de carvão, foi outra característica do sistema fabril no período. Documentos de época comprovam a existência de emprego de crianças a partir dos quatro anos de idade. Muitas vezes, eram elas as responsáveis pelo conserto de máquinas quebradas, visto que o espaço era muito apertado para que um adulto as consertasse. Novas perspectivas sobre o trabalho As mudanças provocadas pelo sistema fabril foram interpretadas e analisadas em esferas diferentes - e produziram interpretações contraditórias. O economista clássico inglês Adam Smith (1723 - 1790), ao analisar a eficiência da segmentação do trabalho, descreveu da seguinte maneira a produção de alfinetes: “Um operário desenrola o arame, um outro o endireita, um terceiro o corta, um quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem-se 3 ou 4 9 operações diferentes (…) Assim, a importante atividade de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações distintas(…) ; pode-se considerar que cada [operário] produzia 4.800 alfinetes diariamente. Se porém, tivessem trabalhado independentemente um do outro (…) certamente cada um deles não teria conseguido fabricar 20 alfinetes por dia, e talvez nem mesmo um (…)” Todavia, partindo de outras referências, o pensador alemão Karl Marx (18181883) destacou que justamente esse tipo de trabalho alienava o operário (alienação do trabalho). Para ele, a divisão do trabalho industrial impede que o operário perceba o processo geral da produção, além de ela ser apropriada pelo proprietário. Assim, o produto da criação do trabalho aparece como algo estranho e distante do operário (produtor), alienando - o; e o trabalho surge como algo forçado, que constitui apenas um meio de sobrevivência para quem trabalha. A introdução das máquinas deteriorou as condições de trabalho e de vida dos operários, gerando a chamada “questão social”. Os edifícios das fábricas eram inadequados, com ambientes fechados e insalubres, mal iluminados. Não havia segurança no trabalho, propiciando a ocorrência de acidentes. Muitos dos produtos utilizados causavam danos a saúde. Mal alimentados e mal pagos, os operários habitavam bairros das cidades industriais sem qualquer infraestrutura de água e de esgotos; moravam em cômodos nos quais a família vivia em promiscuidade, convivendo com doenças intestinais, tuberculoses, alergias, asmas, raquitismo etc. . Os trabalhadores europeus, principalmente os ingleses, pioneiros na industrialização, demonstraram de várias maneiras seu inconformismo em relação a essa nova situação que se estabelecia. Lutaram contra a jornada estafante, o alto índice de acidentes, o uso de mão de obra infantil e feminina, contra remunerações aviltantes, a inexistência de garantia ou proteção, em caso de doenças, acidentes, velhice etc. - além dos salários muito baixos. Primórdios das organizações de trabalhadores Mas os trabalhadores discutiam também alguns valores, entre eles a perda dos costumes tradicionais e de sua autonomia. Havia na cultura popular, por exemplo, uma concepção de justiça baseada em valores da cultura medieval, que pregava idéias de solidariedade, consciência coletiva e senso de fidelidade. Assim, os operários iniciaram sua organização e suas formas de luta baseados na memória de um modo de vida que rapidamente se perdia. Organizaram-se muitas vezes em grupos ou sociedades secretas, com rituais e práticas coletivas de solidariedade. Além disso, outras formas de resistência à nova situação, no início da formação da classe operária foram o roubo, a sabotagem, os motins ou agressões coletivas, sem mencionar as greves espontâneas. O 10 trabalhador, transformado em extensão da máquina, controlado pelos contramestres e vivendo ameaçado pelo desemprego e pela miséria, tornou-se um individuo rude, turbulento e beberrão. No século XVIII, na região inglesa de Lancashire, trabalhadores destruíram instalações fabris e máquinas têxteis. Foi o chamado movimento dos “quebradores de máquinas”; ou ludistas, pois seria liderado por um general de nome Ned Ludd, que demonstrou mais abertamente as reações contra o novo sistema produtivo e econômico que se instalava. O sentimento de insegurança e os terrores da miséria convenceram Ludd e seus seguidores da maledicência da máquina, considerada a inimiga principal. Caracterizou-se, no entanto, por ser um movimento de conseqüências localizadas sem força para alterar o processo de mudança no sistema de trabalho da Europa Ocidental, em curso desde do fim da idade média. O movimento ludista na Inglaterra, que atingiu o auge em 1811-1812, começou como um levante dos fabricantes de meias no condado de Nottingham. Em 1811, os operários das meias queixaram-se de que os patrões estavam lançando no mercado, quantidades excessivas de produtos ao mesmo tempo baratas e vistosas e para se manterem em concorrência, diminuía os salários, tornando mais dura a vida dos operários. Estes pediam o regresso aos métodos tradicionais de produção e venda e as tabelas anteriores de pagamento. Estavam tão bem organizados que se podia pensar que um único cérebro planejava todos os movimentos contra os industriais. Assim nas primeiras décadas do século XIX, na Inglaterra, na França, na Bélgica, na Renânia e até na Suíça, trabalhadores destruíram equipamentos, aos gritos de “Quebrai as máquinas!”. Instintivamente, o homem que para viver só contava com seu trabalho pessoal, transferia a culpa de seus males para a máquina, que ele denunciava como uma competidora, responsável pelo desemprego e pelos baixos salários. O impacto nas cidades Antes da invenção da máquina a vapor, as fábricas situavam-se em zonas rurais próximas as margens dos rios, dos quais aproveitavam a energia hidráulica. Ao lado delas, surgiam oficinas, casas, hospedarias, capela, açude e etc…A mão de obra podia ser recrutada nas casas de correção e nos asilos. Para fixarem-se, os operários obtinham longos contratos de trabalho e moradia. Com o vapor, as fábricas passaram a localizar-se nos arredores das cidades, onde contratavam trabalhadores. Elas surgiam tenebrosas e satânicas, em grandes edifícios lembrando quartéis, com chaminés, apitos e grande número de operários. O ambiente interno era inadequado e insalubre, com pouca iluminação e ventilação deficiente. Até o século XVIII, cidade grande, na Inglaterra, era uma localidade com cerca de 5.000 habitantes. Em decorrência da industrialização, a população urbana cresceu e as cidades modificaram-se. Os operários, com seus parcos salários, 11 amontoavam-se em quartos e porões desconfortáveis, sem subúrbios sem condições sanitárias. As cidades tornaram-se feias e negras, envoltas numa atmosfera fumarenta, estendendo por todos os lados seus subúrbios mal construídos.(…) Nelas desenvolveu-se uma vida urbana que a velha Inglaterra não havia conhecido.Era a massa enorme e confusa do proletariado, que ocupava o formigueiro industrial com seu movimento disciplinado; acima dela, dirigindo para o seu lucro todo o mecanismo da grande indústria, a aristocracia manufatureira, a classe poderosa dos capitalistas fundadores e proprietários de fábricas. A velocidade da urbanização resultou num caos social, como ilustra bem o caso de Londres. A água de Londres, na metade do século XIX, provinha de poços e rios contaminados. A cidade era o palco da cólera. A expectativa de vida era de 36 anos. Em Liverpool e Manchester (cidades tipicamente industriais) a situação era pior. A expectativa de vida não passava os 26 anos. Dificuldades de moradia, de abastecimento alimentar, de ocupação do tempo livre (por exemplo, a inexistência de falta de lazer) agravavam esse quadro. Além da falta de infra-estrutura urbana, a classe operária sofria com cruel exploração do trabalho industrial. Como se vê, a urbanização da Revolução Industrial foi uma verdadeira convulsão para a produção das áreas atingidas. No final do século XIX, grande parte dos problemas existentes nas cidades já estava sendo enfrentado com a intervenção dos Estados e, também, com uma atenção maior por parte das próprias empresas capitalistas. Houve uma verdadeira revolução na tecnologia urbana - engenharia, sistema viário, comunicações, saneamento básico -, o que viria a permitir um crescimento ainda maior das cidades. O mundo capitalista A partir da revolução industrial, consolidou-se a sociedade burguesa liberal capitalista, baseada na igualdade jurídica entre os homens, na livre iniciativa e na empresa privada. Os indivíduos deveriam ser livres para comprar, vender, investir e fazer contratos de acordo com seus interesses. O equilíbrio do sistema estava na concorrência entre as empresas, a qual era responsável pelos aperfeiçoamentos tecnológicos e pelo desaparecimento da menos apta. Entretanto, ao lado do aumento da riqueza e da prosperidade da burguesia, dona do capital, cresceu o pauperismo daqueles que perderam seus antigos direitos de uso da terra e que, para sobreviver, transformaram-se em trabalhadores assalariados, no campo e na cidade. Para os defensores do liberalismo, nada poderia ser feito por essa gente, e qualquer lei que visasse diminuir a exploração do trabalho era uma interferência indevida do estado, que somente prejudicaria as relações entre os homens, consideradas livres e iguais. 12 No decorrer do século XIX, a Revolução Industrial avançou e atingiu os países da Europa Ocidental (França, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda) e também os Estados Unidos e Canadá. Criaram-se, nesses países, sociedades fortemente industrializadas e avançadas tecnologicamente, garantindo, até 1914, a hegemonia européia no mundo. Com esses avanços desenvolveu-se também uma nova sociedade - a sociedade capitalista, baseada na divisão dos indivíduos em duas classes: os capitalistas, detentores do meio de produção; e os trabalhadores, homens livres que vendem sua força de trabalho em troca de um salário e uma mentalidade justificadora dessa desigualdade. A Mentalidade Burguesa No decorrer do século XIX, os burgueses europeus passaram a ver o mundo de uma forma completamente diferente daquela dominante no século anterior. A intensidade das mudanças propiciadas pela expansão do capitalismo industrial fortaleceu, entre eles, a idéia que a humanidade caminhava no sentido de uma melhora contínua e incessante; em outras palavras, acreditavam que a história dos homens tendia a um constante progresso. Crescimento industrial, expansão das comunicações, desenvolvimento das artes e das ciências, aumento das atividades comerciais européias e intercontinentais... Tudo parecia comprovar que o mundo progredia e que os europeus do século XIX viviam o auge desse processo. Os burgueses acreditavam que esse progresso - do qual seriam os principais agentes - beneficiava o conjunto da população européia. Em sua concepção na nova sociedade criada pelo capitalismo industrial, todos tinham chance de realização econômica e social, dependendo apenas do talento e do esforço individual. Nesse sentido, viam a competição como algo positivo, pois servia para avaliar os talentos individuais e garantir a vitória dos melhores em cada área, o que acabaria ajudando o conjunto da sociedade. Assim, o talento individual e a competição eram vistos como motores que empurravam a humanidade em direção ao progresso. Muitas dessas idéias surgiram da experiência cotidiana dos burgueses, que acabavam generalizando seu modo de vida e situação particulares para o conjunto da sociedade. Contudo, grande parte desse ideário foi constituída a partir da exposição simplificada que os grandes jornais burgueses faziam do pensamento liberal. A partir dessa época, a imprensa torna-se um veículo cada vez mais importante na divulgação de idéias, valores e opiniões dentro das sociedades. Baseado nas reflexões de filósofos e economistas do século XVII e XVIII - entre os quais destacavam Thomas Hobbes (1588 - 1678), John Locke (1632 - 1704) e Adam Smith (1723 - 1790) - , o liberalismo foi desenvolvido por pensadores do século XIX, entre os quais se destacou David Ricardo (1792 - 1823). Os liberais acreditavam que a humanidade era constituída de indivíduos naturalmente livres e iguais, que buscavam seus próprios interesses por meio 13 da competição entre si. Nessa disputa, em que não devia interferir nenhuma força externa aos concorrentes, seria produzida uma ordem social natural que levaria todos os homens ao conforto, ao bem estar e á felicidade. As diferenças econômicas resultantes dessa competição deviam-se aos talentos e esforços individuais e não eram contraditórios com a crença na igualdade natural entre os homens, que devia ser assegurada pela organização política e pela justiça. Os conceitos liberais foram rapidamente absorvidos pelos burgueses, pois respondiam a sua visão de mundo e serviam como armas poderosas na luta contra o modo de vida aristocrático, que ainda dominava boa parte da Europa no início do século XIX. A idéia da igualdade natural entre os homens negava o cerne da visão aristocrática, baseada nos privilégios obtidos por nascimento; por outro lado, a pregação da liberdade econômica constituía um ataque direto ao intervencionismo econômico levado a cabo pela maioria das monarquias européias. Assim, além de ser a base da nova mentalidade burguesa, o liberalismo foi a base teórica para a grande luta da burguesia européia contra a aristocracia e seu modo de vida e para a dominação dos assalariados. Bibliografia: MARTINS, C.B. O que é sociologia? São Paulo, Brasiliense, 1994. Capitulo Primeiro: o surgimento, pp.10-33. Filmes: Nós que aqui estamos por vós esperamos. Direção: Marcelo Masagão, 1998 (55 min); Tempos Modernos. Direção: Charles Chaplin, 1936 (87min); Germinal. Direção: Claude Berri, 1993 (170 min.) AULA 3 Exercícios: 1.)Por que a Revolução Industrial foi capaz de modificar toda uma sociedade? Explique. 2.) Qual o impacto da Revolução Industrial para o desenvolvimento das cidades? E qual seu reflexo sobre o campo? 3.) O que você entende por “moral do tempo útil”? Essa moral ainda vigora nos dias de hoje? Explique e dê sua opinião. 4.)Como eram as condições de vida do trabalhador nos primórdios da era capitalista? 5.)Compare os direitos trabalhistas atuais com as condições em que trabalhavam as pessoas do século XIX. 6.) Quais as conseqüências do que se pode chamar de “racionalização do trabalho”? 14 7.) Qual o significado, do ponto de vista da criação de um modo de vida, da seguinte afirmação: “Os burgueses acreditavam que esse progresso - do qual seriam os principais agentes - beneficiava o conjunto da população européia. Em sua concepção na nova sociedade criada pelo capitalismo industrial, todos tinham chance de realização econômica e social, dependendo apenas do talento e do esforço individual. Nesse sentido, viam a competição como algo positivo, pois servia para avaliar os talentos individuais e garantir a vitória dos melhores em cada área, o que acabaria ajudando o conjunto da sociedade. Assim, o talento individual e a competição eram vistos como motores que empurravam a humanidade em direção ao progresso.” AULA 4 – A SOCIOLOGIA DO TRABALHO Disponível em: http://www.oswaldocruz.br/download/download_ler.asp?id_conteudo=6792 O ser humano busca no trabalho não só o necessário para sua sobrevivência, mas a realização de seus sonhos, através do recebimento de um salário que não somente lhe permita comer, vestir-se, mas que lhe permita também ter prazer e conforto em sua classe social. Um homem só é completo quando sente que o seu trabalho não é somente útil para ele, mas também para a sua família e para a sociedade. (quando isso não acontece, o homem entra num processo de desinteresse e desestimulação ficando angustiado e deprimido; este processo muda completamente o comportamento do homem, marginaliza-o). Existe a suposição de que o uso da automação tem permitido que o homem deixe de realizar tarefas mais rudes, penosas que exigem grandes esforços físicos. O uso da alta tecnologia traz a necessidade de nova gestão dos fluxos produtivos que permitem o uso de robôs e a substituição no sistema de postos e de funções dentro de uma indústria metalúrgica. Stuart Mill acreditava que as invenções mecânicas aliviavam o trabalho diário dos seres humanos, ao contrário de Marx que afirmava não ser essa a intenção do capital quando emprega uma máquina; Marx diz: Como qualquer outro desenvolvimento da força produtiva capitalista, tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho na qual o operário trabalha para si mesmo e, com isso, prolongar a outra parte da jornada de trabalho que ele dá gratuitamente para o capitalista. E complementa: 15 Depois de ter mutilado e estropiado o trabalhador com a divisão do trabalho, depois de tê-la limitado a uma única maçante operação, o capitalista vai agora nos oferecer um espetáculo mais triste ainda. Ele arrancou das mãos do trabalhador as ferramentas que lhe restavam, liquidando, assim as únicas recordações de seu antigo ofício, de seu antigo estado de homem completo e o amarra à máquina, exatamente como o capitalista precisa dele. (CAFIERO, 1990, p. 48).1 Nas indústrias, a introdução da alta tecnologia utilizada na fabricação de produtos com o intuito de redução de custos, eliminação de erros, melhoria na qualidade dos produtos, e maior rapidez e eficiência na produção reduzem em alta escala a utilização da mão-de-obra; ou seja, do fator humano. _____________ 1. Carlo Cafiero, O Capital, uma leitura popular, 6. ed. São Paulo: Polis, 1990, p. 48. Marx e as Relações entre Capital e Trabalho O fundador do Socialismo Científico é Karl Marx, nascido no século XIX – 1818, em Treves; morto em 1883 em Londres. Sua obra principal, O Capital, reúne as doutrinas fundamentais do socialismo. Contrário a ponto de vista weberiano sobre a origem do capitalismo afirma que o capitalismo é que dá origem ao protestantismo. O seu trabalho representa um imenso desenvolvimento intelectual. Ele possuía total domínio sobre tudo o que a Ciência Econômica tinha realizado antes dele. Marx enriqueceu enormemente o campo da Economia e tornou-se uma das principais figuras surgidas no século XIX, levantando uma estrutura ideológica que se contrapôs ao capitalismo. Com Marx, o século XX é marcado pela Guerra Fria, onde o mundo se dividiu em dois blocos: Ocidental (capitalista) e Oriental (socialista). A partir de suas pesquisas pessoais todos os problemas de Economia foram reestruturados e, justamente os mais difíceis, receberam dele novas soluções. Todo seu espírito, toda sua energia se encontravam de tal forma absorvidos pelo conteúdo que não deu importância à forma. Marx não chegou a perceber que os assuntos econômicos da sua época fossem tão difíceis de serem equacionados, período de Revolução Industrial, início da crise russa (que culminaria na Revolução Bolchevista de 1917) e outros fatores sociais da época que lhe eram familiares e lhe pareciam evidentes, envolviam na realidade maiores dificuldades para os outros estudiosos de Economia e para os governantes. Tanto isso é verdade que Marx não se preocupou em escrever para os leigos, principalmente para os que não possuíam conhecimento acadêmico de Economia e dos fenômenos sociais que envolvem a Economia. 16 Qualquer pessoa que inicie a leitura da obra de Marx precisa ler da primeira à última linha porque os três volumes de seu trabalho são de um só molde, as diferentes partes de sua doutrina econômica dependem estruturalmente uma das outras, e nenhuma seria bem compreendida sem o conhecimento das demais. No volume III, capítulos 1 e 2 Marx mostram que a Economia Política trata do modo pelo qual os homens procuram os bens dos quais têm necessidade para viver. Ao demonstrar a questão da mercadoria, preço e lucro, os homens procuram os bens exclusivamente pela compra e venda de mercadorias. As pessoas tomam posse delas comprando-as com dinheiro, que constitui sua renda. Na análise desse aspecto social o indivíduo satisfaz suas necessidades de adquirir os produtos e Marx mostra formas bastante diversas de renda que podem ser classificadas em três grupos: O capital: rende a cada ano ao capitalista um lucro; A terra: rende ao proprietário rural uma renda fundiária; e A força de trabalho em condições normais e enquanto permanece útil, rende ao operário um salário. Para o capitalista, o capital, para o proprietário rural, a sua terra e para o operário sua força de trabalho, ou melhor: lucro, renda fundiária e salário. Essas rendas todas lhes aparecem como frutos, para consumir anualmente, de um árvore que não morre jamais, ou mais exatamente de três árvores; essas rendas constituem rendas anuais de três classes sociais: Dos capitalistas Dos proprietários rurais (fundiários) Dos operários. No capítulo 11 do volume 1, Marx mostra a estrutura das organizações produtivas, onde a produção capitalista começa quando o capital individual chega simultaneamente a um grande número de operários, quando o processo de trabalho estende seu centro de ação e fornece produtos em grande quantidade. A oportunidade de um número maior de operários, trabalhando ao mesmo tempo e no mesmo lugar, ou seja, na mesma área de trabalho, sob as ordens do mesmo capitalista, visando à produção da mesma espécie de produtos, constitui o ponto de partida histórico e formal da produção capitalista. Ao desenvolver os métodos para o aumento da mais-valia, Marx mostra criticamente que a mais-valia é produzida nas organizações pelo emprego da força de trabalho. O capital compra a força de trabalho e paga em troca o salário. Trabalhando, o operário produz um novo valor, que não lhe pertence e sim ao capitalista. É preciso que ele trabalhe um certo tempo para restituir unicamente o valor do salário. Mas isso feito, ele não pára, trabalha ainda mais. O novo valor que ele vai produzir agora e que passa então ao montante do salário se chama mais-valia. 17 Na época, verificou ainda os efeitos desses progressos na situação da classe operária, hoje vivendo o fantasma do desemprego. Aborda dentre outras teses, o trabalho da mulher e das crianças, suas formas de exploração, do prolongamento da jornada de trabalho. Hoje o mundo capitalista procura reduzir a jornada de trabalho para que não haja aumento do desemprego, monotonia de trabalho, aumento dos acidentes de trabalho e a luta entre os operários e a máquina estão ocupando seu espaço. Karl Marx considera que o valor de um produto final é determinado pela quantidade de tempo socialmente necessário para sua produção, isto é, todo tempo acumulado em todas as fases da produção desde o início das operações. A sociedade possui a infra-estrutura constituída pelas forças econômicas, e a superestrutura, que são as idéias, os costumes, as instituições. Daí afirmar Marx que as formas de produção determinam as formas de consciência. Em a Miséria da filosofia, escreveu: “As relações sociais são inteiramente ligadas às forças produtoras. Adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam seu modo de produção, e, ao modificarem seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, modificam todas as relações sociais. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial”(Apud Piettre, 1969, p. 43). Marx orienta seu pensamento pelo materialismo histórico. As sociedades possuem a estrutura e o desenvolvimento numa base econômica. Max Weber e a Burocracia Os positivistas, teóricos de identidade fundamental entre as Ciências Exatas e as Ciências Humanas, tiveram as suas origens na tradição empirista da Inglaterra que remonta a Francis Bacon, encontrando forte expressão em David Hume e outros. Nessa linha metodológica de abordagem dos fatos sociais se colocaram Auguste Comte e Émile Durkheim. Max Weber nasceu na época em que as primeiras disputas sobre a metodologia das Ciências Sociais começavam a se desenvolver dentro da Europa, principalmente em seu país, a Alemanha. Filho de uma família de classe média alta, Weber encontrou em sua casa uma atmosfera intelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecido advogado e desde cedo o orientou para os estudos das Ciências Humanas. Recebeu excelente educação secundária em línguas, História e Literatura Clássica. Em 1894, Weber tornou-se professor de Economia na Universidade de Freiburg da qual se transferiu para a Universidade de Heidelberg em 1896. Dois anos depois 18 passou a enfrentar períodos difíceis em função de sofrer sérias perturbações nervosas, levando-o a deixar os trabalhos docentes. As respostas encontradas por Weber para intricados e difíceis problemas metodológicos, que ocuparam a atenção dos cientistas sociais do início do século XX, possibilitaram trazer novas luzes sobre vários problemas históricos e sociais e dar contribuições extremamente importantes para as Ciências Sociais. Elas são particularmente relevantes no que diz respeito aos estudos de religião, já esboçada por Émile Durkheim, no seu trabalho As Formas Elementares da Vida Religiosa, 1915. Max Weber busca interpretar as relações entre as idéias e atitudes religiosas por um lado, e as atividades e organização econômica correspondente, por outro. Weber desenvolveu o método tipológico, considerando que a realidade social sendo una, reflete-se em todas suas funções e manifestações. Com base em qualquer tipo social, podemos analisar a sociedade como um todo. Tomando dois tipos – um econômico (capitalismo) e outro religioso (protestantismo) -, expôs-lhes as mútuas implicações na obra A ética protestante e o espírito do capitalismo. Ressalvou a necessidade de apontar o significado do racionalismo ascético em relação a outros componentes da cultura contemporânea. Nas relações entre a ascese protestante e o espírito do capitalismo, apresentadas por Weber destacaram os seguintes pontos: (a) riqueza, (b) lucro, (c) trabalho, (d) ascetismo e racionalização. Riqueza. A riqueza como empreendimento de um dever vocacional é não só moralmente permitida, mas diretamente recomendável. Querer ser pobre equivale a querer ser doente, pois é reprovável da perspectiva da glorificação do trabalho e derrogatório à glória de Deus. Lucro. Quando surge a oportunidade de lucro é uma disposição de Deus. Esse chamado divino deve ser aproveitado como propósito de cumprir a própria vocação. Trabalho. O trabalho constitui o mais alto instrumento de ascese pois é o preventivo específico contra todas as tentações. O trabalho identifica-se com a própria finalidade da vida. A falta de vontade de trabalhar é um sintoma da ausência de estado de graça. Ascetismo e racionalização. O puritanismo baseava-se no ethos da organização racional do capital e do trabalho, adotando a ética judaica somente no que se adaptasse a esse propósito. De acordo com a mentalidade ascética, quanto maiores às posses, maior a responsabilidade de conservá-las 19 integralmente, ou de aumentá-las por meio de infatigável trabalho para a glória de Deus. O ascetismo secular protestante: Considerava a perda de tempo como o primeiro e principal de todos os pecados; Condenava o uso irracional da riqueza; Liberava a aquisição de bens e o desejo de lucro; Levava à conduta racional baseada na idéia de vocação. Segundo a doutrina calvinista, Deus permite que muitos permaneçam pobres sabe que eles não estariam aptos a resistir às tentações que as riquezas podem proporcionar. Nesse caso, a pobreza assegura a obediência a Deus. Essa posição doutrinária teve como resultante as teorias da produtividade por meio de baixos salários. O ascetismo transferido para a vida profissional contribuiu para a formação da ordem econômica moderna e da técnica ligada à produção em série. Conceito da Burocracia Os principais elementos da estrutura burocrática, segundo Weber são: 1)As atividades normais exigidas para os propósitos da organização se encontram distribuídas de maneira estável sob a forma de deveres formais. A rígida divisão do trabalho só permite o emprego de pessoal especializado e, com a globalização, essas especializações tendem a ficar mais exigentes no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e com poucas oportunidades de aproveitamento de grande quantidade da mão-de-obra disponível. Estão sendo delegadas, cada vez mais, para os funcionários das empresas, responsabilidades na execução de suas tarefas em função da busca de qualidade total ou defeito zero. 2) A organização dos cargos nas empresas obedece a princípios hierárquicos com relação ao status e aos papéis a serem desempenhados: quer dizer que cada cargo se encontra sob controle e supervisão de superior. Nessa relação hierárquica, cada funcionário da empresa passa a ser responsável diante de seus superiores pelas decisões e ações de seus subordinados, assim como pelas suas próprias. Atualmente, com a reengenharia das estruturas administrativas, cada um desenvolve as suas próprias diretrizes. Esta autoridade se restringe às funções que desempenha. A utilização de prerrogativa do desempenho dos “papéis” a fim de atender ao controle administrativo dos subordinados além desses limites encontra-se fora do exercício legítimo da autoridade burocrática. 3) O exercício dos papéis ou das atividades é regulamentado por um coerente sistema de regras administrativas abstratas, consistindo na aplicação aos casos particulares. Esse sistema organizacional de normas procura assegurarem a realização uniforme de todas as tarefas, independentemente do número de funcionários 20 ou empregados contidos nela. Envolve, ainda, a supervisão de diferentes trabalhos. Dessa forma, normas e regulamentações explícitas através de atos e portarias administrativas definem formalmente a responsabilidade de cada membro da organização e das formas de interação entre eles, fazendo com que os serviços burocráticos sejam necessariamente simples e rotineiros. Trata-se de uma adesão muito simples, feita por quem procura uma vaga no mercado de trabalho, onde as organizações empresariais possuem muita facilidade em alocar esse tipo de funcionário, que preenche as necessidades da “filosofia” da empresa, através do Departamento de Recursos Humanos. Essa tendência serve tanto para um funcionário que trabalha no setor bares e restaurantes, de hotelaria, de agências de turismo, de bancos e de indústrias, assim como para aqueles que trabalham no gabinete do presidente da República. Na análise da burocracia de Weber, os deveres burocráticos vão de um extremo ao outro. Atualmente, o funcionário ideal é exatamente aquele que possui espírito de liderança, aquele que conhece e tem experiência na função que vai exercer, tem mobilidade e capacidade para exercer outras funções, e, sobretudo, competência e muito esforço. Para dar cumprimento às normas racionais e até certo ponto abstratas, o funcionário deve fazer prevalecer dentro da organização um comportamento ainda de neutralidade, embora a Nova Ordem Mundial esteja mudando esse quadro. Por enquanto, nas organizações, quer sejam elas de iniciativa privada ou públicas, principalmente nas privadas que buscam eficiência, se um chefe desenvolve forte simpatia em relação aos seus subordinados ou clientes, dificilmente poderá atuar se esse sentimento influenciar nas suas decisões formais, tais como, um julgamento injusto na avaliação dos serviços de algum de seus subordinados hierarquicamente, ou até mesmo, na discriminação de algum cliente ou consumidor. 4) Nas organizações burocráticas os cargos classificam-se nos subsistemas abertos tecnicamente, sendo o funcionário protegido de acordo com a legislação trabalhista em vigor, contra as arbitrariedades. O sindicato na sua desesperada luta pela sobrevivência têm procurado fazer de tudo para proteger não mais os cargos, mas muito mais os empregos. O emprego só é considerado uma carreira na medida em que existe um sistema de promoções, promoções estas cada vez mais difíceis em função da nova ordem social nas organizações. A promoção ocorre de acordo com a Antigüidade no serviço, necessidade da empresa ou ainda capacidade do funcionário ou de ambos os critérios. Na realidade, tudo isso se justapõe à redução do quadro de funcionários e à necessidade de cada funcionário executar as tarefas de outras duas ou três pessoas. 21 Atualmente, e sob o ponto de vista sociológico, essas técnicas quebraram o desenvolvimento da lealdade à organização e ao chamado espírito de equipe entre os seus membros. 5) De um ponto de vista essencialmente técnico, a prática demonstra, em seu aspecto universal, que a organização administrativa de tipo burocrático verdadeiramente puro é capaz de proporcionar o mais alto grau de eficiência, como ocorre nas organizações militares, religiosas e hospitalares. Segue-se o ponto de vista de que o aparelho burocrático do Estado ou das organizações civis, totalmente desenvolvidas, comparadas a outras formas de culturas administrativas, é exatamente o mesmo que um computador em relação às formas não-mecânicas de produção vista antes da Revolução Industrial. A empresa é um sistema aberto onde às atividades de cada funcionário, resultado de sua experiência cultural, vivência profissional, frente ao conteúdo do desempenho de seu cargo ou papéis, depende de seu comportamento e das formas de interação entre si e com a empresa. De certa forma, a organização é o meio onde o indivíduo vai procurar dar respostas financeiras às suas necessidades ou não. De acordo com o grau dessa satisfação, para atender às suas necessidades, conforme se demonstra na teoria de Maslow é que dependerá a sua satisfação no desempenho dos seus papéis, sua dedicação ao serviço, produção, eficiência, eficácia, qualidade de vida, enfim, sua sobrevivência pessoal e familiar, ou estará fora do subsistema, procurando sobreviver na economia informal ou vai para a marginalidade ou criminalidade, fenômenos de grande desafio para o século XXI. Weber nos possibilita uma análise funcional da burocracia, onde o seu método de análise demonstra que uma organização social qualquer se explica apontando como cada indivíduo contribui para alcançar os objetivos da corporação. Durkheim e a Teoria Sociológica A Sociologia utiliza a metodologia científica para investigar as leis que regem os fenômenos sociais, analisa as relações de causa e efeito, não generalidades abstratas e sim expressões precisas de relações de descobertas entre os diversos grupos sociais. Durkheim destaca uma compreensão da sociedade como sendo um conjunto de idéias, constantemente alimentadas pelos homens que fazem parte dela. Dentro desse pressuposto e projeto metodológico, em 1895, ao escrever as Regras do Método Sociológico, dando caráter de ciência à Sociologia 22 Durkheim foi levado a investigar a sociedade como um fato sui generis e, conseqüentemente, irredutível a outros. Como resultado, chegou a conceituação de consciência coletiva, vista como o sistema de representações coletivas em uma determinada sociedade. Representações coletivas para Durkheim seriam, por exemplo, a linguagem de um povo ou de uma comunidade, ou de um grupo de trabalho, encontrados em certas sociedades. As representações coletivas desdobram-se nos aspectos intelectual e emocional, sendo possível determiná-las de forma direta e não apenas através dos pensamentos e emoções individuais que irão se refletir na nossa vida pessoal e no ambiente de trabalho. Outro procedimento seria a pesquisa estatística, como o próprio Durkheim realizou, estudando o problema do suicídio, obra quase única em toda a história desse fenômeno social, não como fato psicológico individual, mas como fato social. As expectativas de Durkheim de tornar a Sociologia uma disciplina científica foram muito grandes e acabaram acontecendo. Acreditava que os valores são em geral determinados pela natureza particular das sociedades e que, por essa razão, seria possível desenvolver uma ética social com base no estudo dessas sociedades. Dessa forma, a Sociologia poderia substituir a moral, criticando os valores estabelecidos e esforçando-se para afastar as tendências novas, possivelmente prejudiciais. Dentro das preocupações de caráter científico, Durkheim também desenvolveu teorias educacionais, importantes para a história da pedagogia, onde educar um indivíduo é a forma de prepará-lo ou forçá-lo a ser membro de um ou mais grupos sociais. Especialmente importante dentro das teorias de Durkheim é o conceito de solidariedade social, que o levou à distinção dos principais tipos de grupos sociais; primário ou secundário. Durkheim afirma que a sociedade evolui de um tipo de sociedade original ou mecânica para a solidariedade orgânica. Solidariedade mecânica: vigente nas sociedades segmentaria, isto é, organizadas com base nas similitudes, formada por segmentos homogêneos como os anelídeos. A vida social constitui-se quase somente de crenças e práticas comuns e de adesão unânime a elas. Os indivíduos encontram-se fundidos no grupo. Solidariedade orgânica: vigente nas sociedades diferenciadas, isto é, organizadas com base na coordenação e subordinação recíproca dos elementos sociais, em torno de um mesmo órgão central, dotado de ação moderadora. O meio natural e necessário é profissional. O modo de agrupamento provém da divisão do trabalho. A solidariedade orgânica baseiase na integração das diferenças pessoais. 23 Ao dar os primeiros passos na aplicação da Sociologia nas organizações, Durkheim relata que o que escreveu para tratar das questões dos fatos da vida moral da sociedade, de acordo como método positivo, distanciando-se, entretanto, dos conceitos evolucionistas de Spencer, muito marcantes na época. O ponto central a Divisão do Trabalho é que Durkheim analisa a função do trabalho através da necessidade social e do trabalho correspondente. Para ele, a função de divisão de trabalho é integrar a sociedade moderna, determinando as causas e as conseqüências das quais depende. Teoria da Ação Social A Teoria de Ação Social de certa forma está vinculada à definição objetiva de Durkheim de que o fato social determinaria a ação social a partir da coerção exercida. Max Weber, já veste anteriormente, entendia a ação (humana) ou social como sendo o objeto da Sociologia. Por conseguinte, devemos entender a Sociologia como ciência que pretende interpretar a ação social, e seu aproveitamento ocorreria quando diversas funções sociais se tornassem muito tênues ou intermitentes. Como as sociedades mais complexas são baseadas nas diferenciações, torna-se necessário que as tarefas individuais correspondam a seus desejos e aptidões. Como isso nem sempre acontece, os valores ficam enfraquecidos e a sociedade é ameaçada pela desintegração. O sociólogo e pensador francês, preocupado com as conseqüências políticas e éticas dessa desintegração, resultante da divisão do trabalho social, abre espaço para o desenvolvimento das teorias científicas aplicadas à Administração que viriam com Max Weber, Ford, Taylor, Fayol, Amitai Etizioni e outros abordando de ângulos diferentes a questão do trabalho, tais como: sindicalismo, recursos humanos, liderança e motivação. AULA 5 – Exercícios 1.)Podem ser apontadas como características da revolução industrial: a)o aprimoramento do artesanato, a crescente divisão do trabalho, um forte êxodo urbano e o aumento da produção. b)a substituição da manufatura pela indústria, a invenção da máquinaferramenta, a progressiva divisão do trabalho e a submissão do trabalhador à disciplina fabril. c)a substituição do artesanato pela manufatura e o conseqüente aumento da produção acompanhado pelo retorno da servidão. d)a total substituição do homem pela máquina e o aumento do nível de vida da classe trabalhadora. e)a modernização da produção agrícola, o êxodo rural e uma diminuição do nível geral da produção. 24 2.)Alguns eventos credenciam a “Revolução Industrial” como um marco na história da administração. Não faz parte desse cenário a (o): a)Homogeneização do trabalho e da produção. b)Divisão do trabalho e especialização das tarefas. c)Surgimento do individualismo e concorrência empresarial. d)Minimização da influência estatal e crescimento da economia. e)Substituição do homem pela máquina e adequação do artesão. 3.)Com relação à vida de trabalhadores nos últimos 30 anos do século XIX, é INCORRETO afirmar que: a) o trabalho livre era considerado condição natural e auto-reguladora do bemestar e do progresso material; b) Acreditava-se que seria determinante do êxito ou fracasso do indivíduo ou de camadas sociais inteiras a inteligência e a aplicação, sendo possível mesmo desconsiderar as condições de partida, as relações pessoais, os acasos da sorte; c) estão presentes na formação dos ideais do período, os grandes pensamentos do Iluminismo e da Revolução; d) havia a crença de que a humanidade caminharia no sentido de satisfazer a necessidade da justiça social, a partir da evolução determinada pela nova ordem social burguesa; e) O progresso técnico trazia consigo uma possibilidade redistribuição de renda que se cumpria pelo seu próprio avanço. 4.) Há uma incompatibilidade de conteúdo entre o sentido do texto abaixo e uma das opções que seguem. A indústria moderna assenta-se cada vez mais em potentes mecanismos, em grandes conjuntos de forças e de capitais e, por conseqüência, na extrema divisão do trabalho. Não somente no interior das fábricas as ocupações se separaram e especializaram infinitamente, como cada manufatura é, ela própria, uma especialidade, que supõe outras. Mas a divisão do trabalho não é específica do mundo econômico, pode se observar nas mais diversas áreas da sociedade. As funções administrativas, políticas, judiciárias especializam-se cada vez mais. O mesmo acontece com as funções artísticas e científicas. (E. Durkheim, 1930) a)A divisão do trabalho é um processo sociológico explicativo da transição de sociedades simples para a complexa sociedade industrial. b) A divisão social do trabalho é uma lei natural da sociedade, tendo a função de reparar o debilitamento da coesão social baseada na similitude dos indivíduos (solidariedade mecânica). c) As funções sociais dividem-se e especializam-se, cooperando, entre si, para manterem a sociedade coesa. d) A especialização das funções possibilita, aos indivíduos, um maior desenvolvimento de suas capacidades e potencialidades. 25 e) A intensificação da divisão do trabalho tem levado a uma crescente degradação do trabalho e a maior controle e exploração do capital sobre o trabalho. 5.) Assinale a única opção falsa a partir do conteúdo do texto abaixo. No presente contexto histórico, no qual se observa, nas economias capitalistas, desde os anos 70, a transição da base técnica eletromecânica para a microeletrônica, percebe-se que os vários segmentos da força de trabalho são atingidos de forma diversa quando da introdução de inovações. a) Os trabalhadores menos qualificados são muito mais atingidos em termos de perda de postos de trabalho. b) Os empregos que envolvem atividades rotineiras e repetitivas são menos afetados negativamente pelo processo de inovação tecnológica. c) Trabalhadores cujas qualificações estão passando por um rápido processo de obsolescência são muito mais atingidos em termos de perda de postos de trabalho. d) As inovações de base microeletrônica exigem dos trabalhadores maior capacidade de abstração, de comunicação e de conhecimentos básicos, razão pela quais trabalhadores mais qualificados são menos afetados pelo desemprego tecnológico. e) Um aspecto que poderia contribuir para minorar os efeitos negativos das inovações tecnológicas sobre o emprego está associado à participação dos trabalhadores no processo de incorporação do progresso técnico pelas empresas. 6.) Assinale a única reflexão falsa a partir do conteúdo do texto abaixo: Neste novo mundo organizacional, caracterizado pelo trabalho flexível, não existe tempo ou razão para relacionamentos duradouros. O foco é o curto prazo. Também não há espaço para relações desinteressadas. Tudo deve ter uma finalidade. Afinal, precisamos de resultados rápidos. Se o velho sistema, que permeava as organizações tradicionais, baseava-se no controle rígido e onipresente da supervisão, o novo baseia-se na pressão e no controle exercido pelos pares. (Cf Sennet, 1999) a) A moderna ética do trabalho concentra-se no trabalho de equipe. Celebra sensibilidade aos outros; exigem aptidões delicadas, como ser bom ouvinte e cooperativo; acima de tudo, o trabalho em equipe enfatiza a adaptabilidade às circunstâncias. b) As exigências de polivalência e flexibilidade, a duração cada vez menor e o vínculo cada vez mais tênue das relações de trabalho enfraquecem valores como o compromisso, a confiança e a lealdade, todos fundamentais para a consolidação do caráter. 26 c) Na moderna organização existe uma ficção: trabalhadores e chefes não são antagonistas. O chefe administra o processo de grupo. Ela ou ele é líder. O jogo de poder é jogado pela equipe contra equipes de outras empresas. d) O desenvolvimento do caráter e da identidade depende dos relacionamentos e das ligações que estabelecemos com outras pessoas e com as instituições. O mundo do trabalho atual, caracterizado pela flexibilidade, leva à corrosão do caráter. e) A ética do trabalho afirma o uso auto disciplinado de nosso tempo e o valor da satisfação adiada. Essa disciplina depende, em parte, de instituições suficientemente estáveis para a pessoa praticar o adiamento. AULA 6 – ESTRUTURA SOCIAL A realidade social revela um padrão, ou estrutura, que dá a cada um de nós um sentido para o lugar ao qual pertencemos, o que se espera que façamos, e como nós devemos pensar e sentir. Embora a realidade social não tenha a organização de uma colméia, ela não deixa de ser organizada. Se ela não fosse organizada, não saberíamos como agir, e constantemente ficaríamos incertos quanto às prováveis reações dos outros. Sem estrutura, o mundo social é o caos. Evidentemente, com estrutura demais ele se torna restrito, chato e opressivo, e às vezes acaba por eliminar o papel do sujeito. Desde que os homens deixaram a caça e a colheita como modo de subexistência, eles nunca mais alcançaram o mesmo equilíbrio entre a liberdade e a autonomia, por um lado, e a ordem e a estabilidade, por outro. A vida social é um constante cabo – de – guerra entre o nosso desejo de ser livre e a nossa necessidade de ser parte da estrutura social. Praticamente todo aspecto de nossa existência – pensamento, intuições, sentimentos e comportamento – é influenciado pela participação em estruturas sociais. Estruturas sociais são construídas de status, papéis sociais e rede de status. Cada pessoa revela um conjunto de status, talvez um status mestre e, para cada status ocupado, existe um conjunto de papéis sociais, obrigações do papel social e conflito de papéis. O conflito de papéis resulta, normalmente, da sobrecarga do papel social de um único status ou conflito entre as obrigações de diferente status. As redes de status que compreendem as estruturas sociais variam em termos de dimensões básicas: números de status, número de pessoas em todos os status, natureza de ligações dentre o status. Essas ligações podem ser livres ou densas, envolver poder ou hierarquia, transmitir recursos que variam, e existir durante períodos de tempo variáveis. 27 Estruturas sociais básicas que organizam as populações humanas incluem: Grupos compostos de cadeias relativamente pequenas de pessoas em contato face a face; Organizações que reúnem números grandes de indivíduos e grupos em hierarquias de autoridade; Comunidades que ordenam os indivíduos, grupos e organizações no espaço geográfico; Estruturas institucionais compostas de complexos de grupos e organizações voltadas para as necessidades básicas da existência humana e organização social; Estruturas de categorias nas quais as características semelhantes das pessoas se tornam a base para o tratamento diferenciado; Estruturas de estratificação, nas quais categorias de pessoas recebem parcelas diferentes de recursos valorizados pela sociedade; Porque cada pessoa está encaixada numa matriz de estruturas sociais – de grupos a sistemas intersocietários – pensamentos, intuições, sentimentos, ações e interações sociais são extremamente limitados. EXERCÍCIO: GARCIA, Cynthia. A arte de ser Vuitton. Wish Report,São Paulo, Editora Nova Criação, Ano 1, Número 6 2005pp.65-69. “De agora em diante, um passeio no Champs Elysées não será perfeito sem uma passada na maior loja Louis Vuitton do mundo”, afirma Yves Carcelle, presidente da marca-símbolo do grupo LVMH, sobre a loja de 1800m2 reaberta em outubro deste ano, no coração da Cidade Luz. “O luxo está ligado ao prazer, ao tempo livre. No caso dos produtos, este tempo significa tradição”, explica Fréderic Morelle, presidente da Louis Vuitton América Latina e África do Sul. Para ele, luxo à la française é fundamentalmente um belo produto que conta uma história. Ao mudar-se para Paris, em 1854, o jovem Louis Vuitton (1821-1892) torna-se um layetier, especialista na arrumação dos baús da alta sociedade que, por convenções do período, viajava com uma quantidade gigantesca de roupas e acessórios difíceis de acondicionar nas bagagens, daí a necessidade desses profissionais em organização. A habilidade que tinha em guardar artigos finos leva a fama do rapaz nascido em Lons-le-Saunier aos ouvidos da Imperatriz da França, a bela princesa Eugênia, uma espécie de Lady Diana de seus dias, que passa a contratá-lo para organizar as bagagens de suas viagens e as de suas damas de corte. Com a nobre cliente, segue a nobreza e a burguesia endinheirada, o que acelera o passo seguinte na trajetória de Monsieur Vuitton. Em 1854, ele abre um estabelecimento na Rue Neuve-de-Capucines especializado nos serviços de arrumação de malas, mas acrescenta o de fabricante e o de vendedor de malas, com os dizeres na entrada: l´âme du 28 Voyage (em português, sem “tradutores”: a arte de viajar). Era agora um maletier, do francês maleteiro, fabricante de malas e marroquinerrie (acessórios em couro). Oriundo de uma linhagem de quatro gerações de marceneiros, ele, talentoso e observador, havia transferido a habilidade herdada no desenvolvimento de mobiliário de madeira a uma manufatura de baús de viagens. Louis Vuitton percebera carências no mercado de viagens que se expandia. É um negócio de futuro, deve ter pensado. Conhecia a arte da marcenaria, tornara-se um layetier – conhecia os baús de viagem por dentro e por fora - , era empreendedor, criativo, captava as necessidades do mercado e tinha faro para negócios! Em meio a um século XIX em pleno apogeu da Revolução Industrial, o passo seguinte foi desenvolver baús chatos, que permitiam ser facilmente empilhados nos trens e transatlânticos – os novos meios de transporte. Tão boa foi a fórmula que a concorrência logo estava copiando. Mas seu filho, Georges Vuitton, consegue driblá-la ao ter uma sacada, em 1896, que entraria para a história: estampar no couro do baú as maiúsculas do nome do pai, junto a um jogo de positivo e negativo composto de figuras estilizadas que lembram o naipe de um baralho, como elemento diferencial decorativo. O desenho, aparentemente simples, na tela batizada Monograma, deu à LV a partida para a era do logotipo e da logomania, e uma guinada no destino da empresa do maletier. Em 1860, Vuitton abre uma loja na Rue Scribe e ergue um atelier em Asnières, até hoje a central de produção da marca. Ele, fornecedor de malas dos mais régios viajantes – o rei da Espanha, o sultão do Egito, o czar da Rússia – finca uma loja em Londres, em 1885, e se torna um símbolo por suas contribuições criativas, funcionais e de altíssima qualidade nma arte de viajar. O leito de viagem dobrável (1879). Os fechos com logotipo (1890). O baú Wardrobe com cabideiro e gaveteiro (1907), onde cabiam 5 ternos, 1 casacão, 18 camisas, 4 pares de sapatos, 1 chapéu, 3 begalas e 1 guarda-cheva. Em 1914, o sucesso leva seu filho a inaugurar no Champs Elysées a maior loja de artigos de viagem da Belle Époque, com 1200m2. A marca vai conquistando outros continentes, desenvolvendo produtos impecáveis e edições exclusivas criadas por encomenda (...) Em 1954, a Maison festeja o centenário. No início dos anos 1980, a empresa parte para a implantação da marca no mundo. Sete anos depois, deixa de ser uma empresa familiar e se une à Möet Hennessy criando o grupo LVMH, tendo à frente o todo-poderoso Bernard Arnault. A fusão resultou em várias coisas: o lucro da LV aumentou 49% comparado ao ano anterior e a marca passou a contribuir em ações como o restauro da biblioteca do L´Opera e doações ao Musée dês Arts Décoratifs, ambos em Paris, corridas de barcaso, exposições de arte, além de abertura de lojas mundo afora. Em 1998 outro ano significativo, o designer americano Marcs Jacobs assume o cargo de diretor artístico e lança as linhas prêt-a-porter e calçados masculinos e femininos. A LV se torna uma grife a frente das tendências da moda. Hoje é a marca de luxo mais poderosa do planeta. Tem um faturamento anual de 10 bilhões de dólares e ocupa a 26ª. Posição entre as 100 marcas globais mais valiosas. Uma trajetória de sucesso, uma história de requinte. 29 AULA 7 – GRUPOS E ORGANIZAÇÕES O grupo, composto apenas de algumas pessoas em interação, é a unidade básica das organizações humanas. Mas como as dimensões sociais têm aumentado, os grupos são constituídos a fim de formar organizações mais complexas – tais como empresas, organizações burocráticas e escritórios. Muito de nossa vida diária é gasto em grupos; de fato, tente imaginar qualquer hora em que você não esteja em um grupo ou pensando em pessoas. É essa inserção de grupos em estruturas maiores e mais abrangentes que possibilita aos homens a construção de sociedades complexas e elaboradas. 1.Comportamentos e interações ocorrem dentro de uma estrutura social, ou redes organizadas de status, normas e papeis sociais. 2.O tipo mais elementar de estrutura social é o grupo que, dependendo de seu tamanho, pode classificar-se como primário ou secundário. Os grupos primários são mais íntimos e coesos, envolvendo mais conformidade às normas, do que os grupos secundários. 3.Os grupos têm poder sobre as pessoas, reprimindo e limitando as autoimagens, os valores e crenças, as emoções, as motivações e o estilo de representação de seus integrantes. 4.Os grupos são estruturas altamente dinâmicas, que revelam um número de processos básicos: a)liderança e o aparecimento de líderes de tarefa e socioemocionais; b)tomadas de decisões e desenvolvimento de consenso e “groupthink”; c)coesão e solidariedade quando estes surgem de altos níveis de interação, experiências semelhantes dos membros e fontes externas de ameaça; d)expectativas ou parâmetros de características “difusas” ou desempenhos passados para antecipar o que os indivíduos devem fazer em grupo; e)grupos de referência como parâmetros para orientar os pensamentos e reações em uma situação específica. 5.Quando a sociedade se torna maior e as tarefas mais complexas, os grupos são unidos para formarem organizações que revelam papéis sociais formais, uma clara divisão de trabalho, hierarquias de autoridade, controle de emoções, competência técnica dos encarregados, controle organizacional dos cargos e planos de carreira rumo à hierarquia. 6.Há vários tipos de organizações: a) organizações voluntárias, em que a pessoa livremente reúne certa objetiva e interesses; b) organizações coercitivas, em que os indivíduos são forçados a permanecer separados do resto da população; 30 c) organizações utilitárias, em que os membros racionalmente calculam os custos e os benefícios de sua participação. 7.Uma dinâmica importante das organizações é “ecológica”: as organizações existem em um ambiente de recursos e devem geralmente competir com outras organizações pelos recursos que levam a padrões de crescimento e declínio nos diferentes tipos de organizações da sociedade. 8. Outro conjunto de dinâmica é interno, girando em torno de uma série de processos: a) desenvolvimento de relações informais dentro da hierarquia formal; b) a origem de conflito na distribuição de autoridade; c) natureza dos serviços quando estes refletem as tecnologias e produtos fabricados; d) controle e autoridade que giram em torno de padrões de supervisão externa e compromissos do trabalhador; e) processos culturais nos quais os valores, crenças e normas criam uma “ética” específica sobre como o trabalho deve ser feito; f) “ritual” ou desempenho do trabalho sem consideração dos objetivos de uma organização; g) a alienação decorrente dos serviços chatos e rotineiros; 9. A natureza da organização tem, nas últimas décadas, mudado enormemente sob o impacto da tecnologia e competição econômica mundial, levando à queda dos empregos de produção e ao aumento dos empregados na área de vendas e de prestação de serviços. INSTITUIÇÕES Para sobreviver, os homens tiveram de criar maneiras de lidar com as exigências básicas da vida biológica e social. Tiveram que garantir alimento e sustento suficientes, prover formas seguras de ter e criar filhos, governar-se e lidar com o conflito, educar cada geração, aliviar a ansiedade e a tensão das pessoas, desenvolverem o conhecimento e a inteligência, e curar os doentes. Cada uma dessas exigências desperta o poder criativo dos homens, para criar elaborar estruturas básicas – denominadas instituições sociais – que ajudam a preencher as contingências básicas da existência humana. Quando as sociedades se tornam grandes e complexas, a maioria das instituições é implantada em estruturas sociais sempre maiores, abrigadas em edifícios. Instituições sociais é uma combinação de posições de status e estruturas que buscam resolver problemas fundamentais da espécie humana, uma espécie que se apóia em padrões culturalmente mediados da organização social. Por causa de sua observada importância, a maioria das normas gerais que guiam o comportamento nas estruturas institucionais é bem conhecida e inspirada nos valores e crenças. Família e parentesco são instituições que organizam as relações em torno dos laços do matrimônio e de sangue. Tais organizações são alcançadas através 31 de uma série de normas que guiam a conduta com respeito a casamento, descendência, residência, autoridade, divisão de trabalho, tamanho da família e dissolução. Tais regras regularizam as relações de forma a resolver tais problemas fundamentais encarados pelos homens, como sexo e casamento, suporte social e biológico, socialização e colocação social. O parentesco é dominado por famílias nucleares isoladas. A economia é a instituição que organiza a tecnologia, trabalho e capital para tomar recursos do meio ambiente, transformando-os através da produção em mercadorias e utilidades, e distribuindo essas mercadorias e utilidades aos membros da sociedade. Tem havido um número de formas econômicas básicas na história humana – caça-e-coleta, horticultura, agricultura, industrialização e pós-industrialização. A economia norte-americana é agora completamente pós-industrial, girando em torno da prestação de serviços tanto quanto da fabricação. O governo é a instituição que usa o poder para estabelecer objetivos para uma sociedade e para obter recursos para alcançar esses objetivos. Quando o poder se torna burocraticamente organizado, pode-se dizer que existe um Estado. Estados modernos variam com respeito a racionalidade de sua burocracia administrativa, centralizada do poder de decisão, extensão da intervenção do Estado nas questões internas, nível de democracia na seleção dos seus chefes, divisão de poder entre judiciário, executivo e legislativo, e nível de legitimidade atribuída ao governo. A educação é a instituição explicitamente estabelecida como um conjunto de organizações formais para fornecer socialização de aptidões necessárias, a fim de colocar as pessoas dentro de posições econômicas, armazenarem cultura e gerar inovações. Todos os sistemas educacionais revelam um conjunto de organizações educacionais primária, secundárias e superior. A religião é a instituição que organiza as práticas rituais que invocam as forças sagradas e sobrenaturais na afirmação de certas crenças. A religião parece preencher as necessidades básicas de redução de ansiedade e tensão nas pessoas e para reforçar as normas e valores cruciais. A pratica da medicina é a instituição dedicada a organizar atividades estruturadas para prevenir, tratar e curar doenças. A medicina começa dentro da religião, mas passa a ser uma instituição separada e dominante com a industrialização. Atualmente, a medicina consome porções significantes do PIB de todas as sociedades modernas. A ciência é a instituição dedicada a organizar a pesquisa objetiva para e acúmulo de conhecimento sobre o funcionamento do universo. A ciência tornou-se uma instituição dominante nas sociedades modernas, penetrando todas as instituições básicas e freqüentemente se colocando em conflito com a religião. EXERCÍCIO: 32 Grupos, organizações, instituições. Considerando que a desigualdade social não está restrita à questão da renda, envolvendo fatores tão diversos como privilégios, prestígio, status, oportunidades e perspectivas ocupacionais no mercado de trabalho, e que o conhecimento é elemento importante para a constituição das relações de status, responda as questões abaixo, levando em consideração as práticas destinadas a reduzir o poder dos subordinados2. PRÁTICAS DESTINADAS A REDUZIR O PODER DOS SUBORDINADOS: 1. Tirar partido de a correlação poder, prestígio e salário. 2. Evitar delegação de tarefas que seja ponto de convergência de informações. 3. Evitar que uma única pessoa controle um canal de informações. 4. Contratar vários especialistas, embora um seja suficiente. 5. Dar a impressão de conhecimento técnico elevado (perguntar opinião, sem dar a própria). 6. Distribuir as atividades a fim de balancear o poder entre os subordinados. 7. Evitar a delegação de problemas cuja solução seja de longo prazo. 8. Criar conflitos funcionais e colocar-se como juiz. 9. Tratar pessoalmente da fixação de diretrizes, deixando os aspectos técnicos para os subordinados. 10. Coordenar o trabalho de mais de dois subordinados e dar motivos para que haja competição entre eles. 11. Fazer crer que seus assessores apenas “aconselham”. 1) Você é o proprietário de uma empresa com muitos anos de existência e especializada em vender programas para computadores a firmas e ao governo. Nela, percebe que desejam exercer poder sobre você: A)o programador-chefe, porque tem conhecimentos técnicos que você não possui. B)o chefe de vendas, em função de ter feito amizade com muitos clientes, inclusive pessoas influentes em órgãos governamentais. C)o contador, pelo fato de conhecer “segredos da empresa”. Pergunta-se: Em qual elemento cada um deles se apóia para exercer o poder? Qual deles pode ser demitido por ser fácil encontrar um bom substituto? Qual deles poderá exercer maior poder sobre você, razão pela qual precisa pensar duas vezes antes de demiti-lo? Justifique suas respostas. 2) Para dar imagem de poder ao chefe, é ou não necessário acomodar em uma sala privativa acarpetada, com microcomputador interligado à rede de um hospital: A) o administrador de empresas admitido para chefiar a contabilidade, suprimentos e recursos humanos do hospital. B) o famoso cirurgião que passa a liderar a equipe de médicos e enfermeiras diplomadas para operações de alto risco. Justifique suas respostas. 2 Para maiores informações, ver: Bernardes, C. e Marcondes, R.C. Sociologia aplicada à administração. São Paulo: Saraiva, 2005, pp.78-79. 33 3) Você foi contratado por um hospital para o cargo de Diretor Administrativo, tendo por subordinados o chefe de pessoal e o chefe de contabilidade. Nesse caso, informe: - Qual das quatro medidas seguintes seria melhor adotar com o fim de dificultar a possibilidade de os dois poderem exercer poder sobre você: a) dar a impressão de conhecimentos técnicos elevados; b) evitar que uma única pessoa controle um canal de informação; c) coordenar o trabalho de mais de dois subordinados d) criar conflitos funcionais e colocar-se como juiz. Justifique as suas respostas. AULA 8 DESIGUALDADES: CLASSE, ETNIA E GÊNERO Algumas pessoas conseguem mais do que outras nas sociedades – mais dinheiro, mais prestígio, mais poder, mais vida, e mais de tudo aquilo que os homens valorizam. Tais desigualdades criam divisões na sociedade – divisões com respeito a idade, sexo, riqueza, poder e outros recursos. Aqueles no topo nessas divisões querem manter sua vantagem e privilégio; aqueles de nível inferior querem mais e devem viver em um estado constante de raiva e frustração. Assim, a desigualdade é uma máquina que produz tensão nas sociedades humanas. É a fonte de energia por trás dos movimentos sociais, protestos, tumultos e revoluções. As sociedades podem, por um período de tempo, abafar essas forças separatistas, mas, se as desigualdades persistem, a tensão e o conflito pontuarão e, às vezes dominarão a vida social. A desigualdade em uma sociedade gira em torno da distribuição diferenciada de recursos de valor às variadas categorias de indivíduos – sendo as de classe, étnica e gênero as três mais importantes. A estratificação de classes existe quando a renda, poder, prestígio e outros recursos de valor são dados aos membros de uma sociedade desigualmente e quando, com base nessa desigualdade, variados grupos tornam-se cultural, comportamental distinto. O grau de estratificação está relacionado ao nível de desigualdade, à distinção entre as classes em nível de mobilidade entre as classes e à durabilidade das classes. Existem várias propostas para o estudo da estratificação: a) a proposta marxista, que enfatiza que a propriedade dos meios de produção é a causa da estratificação de classes e mobilização para o conflito, com subseqüente mudança nos padrões de estratificação; b) a weberiana, que enfatiza a natureza multidimensional da estratificação (que gira em torno não apenas da classe, mas de partido e grupos de status também); 34 c) a proposta funcionalista, que argumenta que a desigualdade reflete o sistema de recompensa para encorajar os indivíduos a ocupar posições funcionalmente importantes e difíceis de preencher; d) a evolucionista, que argumenta que, em longo prazo, partindo das sociedades de caça e coleta, as desigualdades aumentaram como refletem as sociedades modernas. A estratificação nos Estados Unidos e no Brasil é marcada por altos níveis de desigualdade com respeito a bem-estar material e prestígio. A desigualdade na distribuição de poder é mais ambígua. A mobilidade é freqüente, mas a maioria das pessoas não consegue grande mobilidade durante a vida. Etnia é a identificação de um grupo como distinto em termos da biologia superficial, recursos, comportamento, cultura ou organização; a estratificação étnica existe quando alguns grupos étnicos conseguem mais recursos de valor em uma sociedade do que outros grupos étnicos. A estratificação étnica é criada e sustentada pela discriminação que é legitimada pelas crenças preconceituosas. A discriminação e o preconceito são embasados pela ameaça (econômica, política, social) apresentada de forma real ou imaginária por um grupo étnico-alvo e são ainda sustentados pelos ciclos de reforço que giram em torno da identificação étnica, ameaça preconceito e discriminação. O gênero é a diferenciação entre homens e mulheres em termos de características culturalmente definidas e status na sociedade. A estratificação de gênero existe quando os homens e as mulheres em uma sociedade recebem efetivamente parcelas desiguais de dinheiro, poder, prestígio e outros recursos. A estratificação de gênero é sustentada pelos ciclos de socialização, que reforçam mutuamente pela identidade de gênero e por crenças relacionadas ao gênero, que, por sua vez, se tornam a base para discriminação e crenças preconceituosas, frutos da ameaça ressentida pelos homens. POPULAÇÃO, COMUNIDADE E MEIO AMBIENTE. A população humana tem crescido em níveis alarmantes, forçando as pessoas a viver nas áreas e a sofrer as conseqüências da poluição. Provavelmente o perigo mais significante à nossa sobrevivência como espécie seja a superpopulação, porque, quanto mais pessoas, significam que os recursos são consumidos mais rapidamente, que as cidades se tornam lugares poluídos e perigosos, e que a doença e a fome se tornam uma condição de vida de grande parte da população mundial. O número de pessoas, sua distribuição e padrões de organização e seus efeitos no meio ambiente estão todos inter-relacionados e são tópicos importantes. 35 A ciência da demografia é o estudo da população, seu tamanho e crescimento, suas características, e seus movimentos. De particular importância são os padrões de crescimento e o funcionamento da transição demográfica. A comunidade é a organização de pessoas para um espaço habitacional, e o processo comunitário mais importante é a urbanização ou o movimento de pessoas para um espaço habitacional concentrado. A sub urbanização e a criação de regiões metropolitanas são asa manifestações mais recentes dos processos de urbanização. Os ecossistemas se formam a partir das relações entre formas de vida e matéria inorgânica, através de uma série de cadeias e fluxos. Padrões da organização humana atual rompem esses processos que sustentam os recursos renováveis, dos quais dependem todas as vidas do planeta. EXERCÍCIO: A FARINHA VITAMINADA A empresa ALIMENTOS BRASILEIROS S/A tem o objetivo de introduzir no mercado de uma região brasileira bastante pobre um alimento que possa combater a subnutrição e, ao mesmo tempo, ser rentável na carteira de produtos gerados pela empresa. Não existe indústria similar no país e o preço do produto importado é muito elevado. A empresa ALIMENTOS BRASILEIROS S/A produziram certo número de fórmulas com base vegetal. Estas fórmulas contêm como principais ingredientes a farinha de milho ou de sorgo, aos quais se podem agregar proteínas provenientes de grãos de algodão ou de soja, e vitaminas, em especial a vitamina A. Para consumir, basta adicionar água para se obter seja uma bebida, seja um mingau. Existem diversos sabores para melhor atender aos gostos dos consumidores. A ALIMENTOS BRASILEIROS S/A teve um trabalho considerável em laboratório e em pesquisas durante doze meses. Quando a empresa sentiu-se segura em contar com uma fonte de aprovisionamento confiável e um produto aparentemente adaptado ao mercado dessa região, ela decidiu lançar o produto com o nome de VITARINHA, que na realidade é uma mistura das palavras “vitamina” e “farinha”. Começou-se a promoção da VITARINHA logo após a disponibilização do produto aos varejistas. A abordagem publicitária consistia em um cartaz que comparava crianças com aspecto doentio e sofrendo de desnutrição com as mesmas crianças meses após, sorridentes e em boa saúde, depois de terem sido alimentadas com um regime à base de VITARINHA. O contraste “antes e depois” era usado para demonstrar que a utilização da VITARINHA era uma questão de vida ou morte. Foi também produzido um filme de cinco minutos, dramatizando o efeito da desnutrição nas crianças. O enfoque da comunicação era coerente com as grandes linhas de publicidade da: ALIMENTOS BRASILEIROS S/A, que buscava através de campanhas polêmicas chamarem a atenção do público de qualquer forma. 36 Agora, para divulgar mais o produto e estimular as vendas, a empresa está cogitando uma atuação em uma ou mais frentes. Uma delas contemplaria o emprego de meios de comunicação clássicos, como rádio, jornal, televisão e publicidade nos pontos de venda. Uma segunda frente mobilizaria uma equipe de demonstradoras e um chefe de vendas, que seriam treinados para promover o produto durante a campanha. Essa equipe utilizaria um caminhão especialmente equipado com gerador de eletricidade, projetor de filmes, gravador e alto-falantes, destinados a mostrar como o produto poderia ser preparado e utilizado. A terceira frente imaginada era recorrer a intermediários influentes na sociedade local - padres, médicos, organizações caritativas, professores - para que eles recomendassem a VITARINHA. O Ministério da Saúde mais o conjunto dos médicos são ardentes defensores da VITARINHA e ofereceram sua ajuda. Um exemplo disso foi que a seção de Nutrição do Ministério da Saúde se comprometeu a treinar e disponibilizar formação para quem viesse a ser demonstrador (a) do produto. Com o objetivo de tornar a VITARINHA bastante acessível às famílias de baixa renda, a política foi a de estabelecer o preço final mais baixo possível. Baseouse em uma estimativa do volume potencial de vendas no plano regional, tendo em conta ainda os custos de matérias-primas, de produção, de comercialização e uma razoável taxa de retorno de investimento. Como os preços deveriam ter uma estreita relação com os gêneros de primeira necessidade, a empresa decidiu que o nível de preços seria fixado pouco acima dos de produtos desse tipo. Nenhum estudo foi feito para analisar a elasticidade da demanda em relação ao preço. A ALIMENTOS BRASILEIROS S/A utilizou somente a comparação com outros produtos alimentícios e o julgamento dos seus dirigentes para estimar a demanda ao valor fixado. Ainda a fim de manter o preço final o mais baixo possível, eram necessárias embalagens mais baratas. Naquela região os consumidores compravam, geralmente, os produtos desse tipo a granel, embalados em sacos pardos menores. Decidiu-se, então, vender a VITARINHA em sacos de 12 kg e 35 kg, e incluir separadamente 500 sacos de papel, que constituirão a embalagem definitiva a ser utilizada pelos lojistas. Esses pequenos sacos têm em uma das faces quatro receitas utilizando VITARINHA. No que diz respeito à estratégia de responsabilidade social, a empresa ALIMENTOS BRASILEIROS S/A se posiciona como uma empresa socialmente responsável, à medida que ela incorpora os seus objetivos sociais em seus processos de planejamentos. Experimenta diferentes abordagens para medir seu desempenho social: Investe recursos financeiros e humanos para resolver problemas sociais da comunidade: Presta assistência a instituições da comunidade que tratam de educação e saúde: Contribui para a melhoria da qualidade geral de vida na sociedade e na redução da degradação ambiental. Quanto à política de Recursos Humanos da empresa, a necessidade por mãode-obra qualificada envolve um desafio na tomada de decisão: a liderança gostaria de recrutar e selecionar empregados da comunidade, onde há uma oferta abundante de pessoal, reduzindo assim os níveis de desemprego e dinamizando a economia regional. Esta prioridade, entretanto, fica afetada pelo 37 fato de que a maioria dos candidatos não possui capacidades para o trabalho, embora tenha aptidão. a) Avalie os aspectos éticos do enfoque publicitário adotado pela empresa para iniciar a promoção da farinha. b) Dentre os vários tipos de meios de comunicação que a empresa está cogitando para divulgação do produto, quais devem ser adotados para melhor atingir o público-alvo e por quê? c) Qual a estrutura de distribuição a ser utilizada, considerando a necessidade de que seja rentável a produção de VITARINHA? d) Analise a estratégia de responsabilidade social da empresa ALIMENTOS BRASILEIRA S/A: 38 AULA 10 DESORDEM, DESVIO E DIVERGÊNCIA http://phpmetar.incubadora.fapesp.br/portal/Faculdade/Sociologia/sociologia%2 0geral. doc A organização dos homens não é como uma colméia bem-ordenada. A superpopulação, a multidão, a desigualdade, a injustiça, a discriminação, a intolerância e outras forças separatistas geram desordem, estimulam o desvio e conduzem as pessoas à revolta. É difícil abrir um jornal hoje em dia sem ver que alguém foi assassinado ou assaltado, algum grupo que está indignado e protestando, alguém que está abertamente se desviando das convenções, ou alguns grupos que se mantêm em conflito declarado ou desafiando a lei. Enquanto podemos censurar esses fatos, ou até mesmo ter medo deles, devemos reconhecer que eles são inevitáveis em uma sociedade grande e urbana, que revela desigualdades, claros padrões de discriminação e notórias injustiças. Sob essas condições, as pessoas ficam indignadas, fazem greve, encontra abrigo no desvio, eles se organizam para protestar, atacam e desrespeitam as convenções, e de diversas maneiras tornam a vida mais caótica e desordenada. A sociedade está sempre em uma situação incômoda, entre as causas que promovem a ordem e aquelas que causam o desvio, o conflito e a desordem. Um número de forças inter-relacionadas inevitavelmente pressiona a desordem: Aumentos no tamanho populacional; Aumento de diferenciação social; Aumento de desigualdade. No nível de todo social, o controle social é promovido por: Uma regulamentação governamental; Trocas de mercado. No nível das pequenas organizações sociais, o controle social é promovido pela: Socialização da personalidade; Sanção mútua; Rituais; Separação de papéis. Cada uma das perspectivas teóricas importantes oferece uma análise sobre as causas do desvio. As teorias funcionalistas enfatizam a tensão estrutural entre os objetivos culturais e a distribuição dos meios. As teorias do conflito argumentam que as leis e os procedimentos da sanção ajudam os mais abastados e trabalham contra o pobre. As teorias interacionistas enfatizam os rótulos dados às pessoas e o processo de socialização. E as teorias utilitaristas enfatizam os cálculos de custos, investimentos, envolvimentos e crenças na origem do desvio ou conformidade. 39 A divergência é o processo de protestar contra certos aspectos de uma sociedade. Tal divergência ou dissidência é gerada por desigualdades, que servem como uma pré-condição básica; e então, a dissidência é intensificada quando as pessoas compartilham queixas, formam redes, comunicam, constituem líderes, articulam crenças e sentem relativa privação. Com essas condições prévias e sua intensificação, um número de teorias tem sido oferecido para explicar as explosões coletivas e comportamento de multidão: a) teoria do contágio, que enfatiza a interação face a face dos indivíduos; b) a teoria da convergência, que enfatiza a preparação prévia de indivíduos para atuar dentro de situações de multidões;. C) teoria da norma emergente, que enfatizam que através da interação as pessoas criam normas e situações de multidão, que então orientam seu comportamento. O comportamento de multidão é iniciado com incidentes catalisadores que galvanizam crenças generalizadas, expressando suas indignações. Para tornar-se um movimento social efetivo, a multidão deve dispor de recursos para sustentar suas atividades de protesto. MUDANÇA SOCIAL http://phpmetar.incubadora.fapesp.br/portal/Faculdade/Sociologia/sociologia%2 0geral.doc Durante a maior parte da história humana – aproximadamente 40.000 anos – mudar era um processo lento. Nossos ancestrais permaneceram caçadores e colhedores, durante milênios. Depois com o desenvolvimento da agricultura, a mudança tornou-se mais comum, mas foi ainda lenta. Agora, durante os últimos trezentos anos, a mudança é constante e incessante. Não pode ser evitada; há poucos lugares para se esconder ou encontrar a “vida mais simples”. Cada geração deve agora viver em um mundo muito diferente do que os anteriores cada vez mais as pessoas mudam de empregos e especialidades durante sua vida. Não podemos mais atingir nossos objetivos com o que aprendemos antes. Tais mudanças rápidas nos obrigam todos a ser diferentes de nossos ancestrais, que puderam desfrutar de uma única forma de viver durante toda a sua existência. Devemos agora nos adaptar a uma nova crença, que foi lançada por nossa cultura e modos de organização. O ritmo da mudança social vem se acelerando dramaticamente no último século. A mudança pode ser cumulativa, mas a história das sociedades humanas revela repentinas inversões. Esse foi, particularmente, o caso na era agrária. A mudança pode ser originar de causas culturais, particularmente de: a) inovações tecnológicas; b) novas crenças ou expectativas; c) difusão de sistemas de símbolos. 40 Tais mudanças culturais estão intimamente ligadas às mudanças nas estruturas, servindo para iniciar as mudanças na estrutura ou, no mínimo, acelerando as mudanças já iniciadas. As estruturas sociais revelam diversas fontes importantes de mudança, incluindo: A desigualdade e o conflito sobre os recursos; Sub culturas que buscam superar desvantagens; Instituições que revelam processos que geram suas próprias transformações. Processos demográficos são também um impulso para a mudança, especialmente transformações no tamanho de uma população, nos padrões de movimento populacional e em sua estrutura etária. O estudo da mudança está no centro da análise sociológica, desde o início da disciplina até o presente. Teorias e análises foram propostas para explicar a mudança, incluindo: Teorias cíclicas que enfatizam o movimento de sociedades entre os pólos opostos; Análise dialética, que demonstram a dinâmica das mudanças inerentes às desigualdades; Análises funcionalistas, que enfatizam a evolução das formas societárias simples para as mais complexas como um evolucionista, para qual a desigualdade é a força motriz da evolução e mudança social; As críticas, quer “pós-industrial” quer “pós-moderna”, sobre as influências da tecnologia e sistemas de informação de ponta, na transformação da sociedade. EXERCÍCIO: Você é gerente de Recursos Humanos de uma média empresa que está preocupada com reivindicações trabalhistas e exigências dos sindicatos. Para prevenir possíveis conflitos, você elabora para a diretoria um programa de enriquecimento de cargos. Na defesa do projeto você argumenta que o enriquecimento do cargo traz vantagens, tanto para a empresa como para o empregado. Descreva sua argumentação. Após trabalhar por mais de 25 anos na Empresa Brasileira de Equipamentos Hidráulicos, o engenheiro Carlos aposentou-se como Gerente do Departamento de Compras. Antes de ingressar nessa empresa, ele já havia trabalhado em outras, por cerca de 11 anos. O afastamento do engenheiro Carlos desencadeou uma série de problemas para o diretor da empresa, Sr. Marcos. Embora houvesse a suposição de que o então assistente do engenheiro Carlos, o engenheiro Fernando, estivesse devidamente preparado para substituí-lo, a realidade revelou o contrário. A fim de solucionar esse problema, a empresa contratou externamente o engenheiro Caldas para gerenciar o departamento de compras, ao mesmo tempo em que o engenheiro Fernando era transferido para outra área da empresa. 41 Com a admissão do engenheiro Caldas, observou-se que, em pouco tempo, o setor voltou a exibir certa eficiência, do ponto de vista técnico. Ocorre, porém, que esse engenheiro nunca havia exercido cargos de natureza administrativa. Conseqüentemente, passou a exibir atitudes altamente controladoras, interferindo no processo de trabalho dos compradores, centralizando decisões, demonstrando certa arrogância diante de seus subordinados. Pouco a pouco, revelou ser técnico competente, mas um péssimo gerente: os funcionários começaram a conflitar entre si, a desmotivação em relação às tarefas passou a ser alta, o absenteísmo aumentou. 0 Sr. Marcos, diretor da empresa, convidou você, na condição de consultor, para explicar os erros que aconteceram na empresa e propor solução para evitar que tais desacertos se repetissem no futuro. Faça isso agora, por escrito. AULA 11 – UMA VISÃO GERAL DA SOCIOLOGIA APLICADA ÀS ORGANIZAÇÕES Aspectos Sociológicos da Nova Ordem Mundial Disponível em: http://www.oswaldocruz.br/download/download_ler.asp?id_conteudo=6792 A base do futuro As empresas estão valorizando o funcionário criativo, flexível, capaz de se adaptar rapidamente às mudanças, um grande desafio para as escolas e faculdades em preparem o aluno para o trabalho. Reproduzir mecanicamente as informações, isso o computador o faz melhor e mais rápido. No campo da Administração / Gestão de Pessoas, exige-se raciocínio lógico, versatilidade e criatividade. São alguns tópicos fundamentais, além do domínio de um ou dois idiomas e da Informática para o ingresso num mercado de trabalho cada vez mais competitivo, exigindo-se do futuro profissional a capacidade de organizar, planejar, dirigir os recursos de que dispõe, muitas vezes, inferiores aos que gostariam de ter. A necessidade de dominar sua área e muito mais: Os estudiosos da Revolução Tecnológica afirmam que somente próximo de 2010 é que teremos uma nítida idéia das profissões que irão morrer e as que irão sobreviver. As empresas tornam-se surpreendentemente interligadas, ganham vida e passam a concorrer socialmente com os trabalhadores e com uma grande vantagem: são gerentes, não possuem direitos trabalhistas, não recebem salários, estão disponíveis a qualquer momento para trabalhar. As novas máquinas possibilitam mudanças nos modos de produção, e pelo que parece não levam em consideração no seu trabalho o capital. Os novos meios de produção do sistema capitalista exigem trabalhadores mais alertas com capacidade de transferir conhecimentos de uma área para outra. Trata-se de tendência para o futuro. É a era da polivalência no Brasil. Está em curso uma rápida transformação em determinadas profissões para as quais antes não se exigia qualquer tipo de formação escolar, como é o caso dos arrumadores de hotel, auxiliares de limpeza, ajudantes de construção, 42 motorista de ônibus e tantos outros profissionais estão exigindo algum grau de escolaridade. Os especialistas afirmam que, no mercado futuro, as profissões que independem de contato com as outras pessoas tenderão a desaparecer gradativamente e a crescer aquelas que envolvem interação entre profissionais e clientes. Diferentemente das épocas anteriores, as empresas, motivadas pela globalização, estão buscando nos jovens outros valores sociais, psicológicos e culturais, tais como: Atitudes – a questão da postura tem sido um ponto crucial entre aqueles que buscam uma vaga no mercado de trabalho e o comportamento esperado por parte da empresa. Geralmente os jovens recém-formados não sabem se comportar, por exemplo, numa entrevista de emprego. Falham na hora de escolher a roupa, erram na maneira desleixada como se sentam, fumam sem autorização, confunde-se nas coisas que dizem. Muitos se comportam de maneira arrogante, esquecendo-se das convenções sociais. Outros tentam ganhar simpatia com piadinhas ou gracejos, numa informalidade imprópria ou inadequada ao momento. Nessas conversas, muitas vezes, a empresa está querendo descobrir se o jovem é capaz de, entre outras coisas, representá-la junto aos seus consumidores e acionistas. Se é capaz de dar uma entrevista à imprensa. Certos vícios adquiridos na Faculdade tais como a apatia, a falta de respeito para com o mestre, o individualismo, a falta de curiosidade em conhecer mais coisas além daquilo que o professor desenvolve em sala de aula, comportamentos inadequados, a falta de interesse, a postura, a gíria são valores negativos que devem ser esquecidos no dia da colação de grau porque nem ela é mais respeitada. Com tudo isso, esses jovens não possuem qualquer chance de serem aproveitados nas empresas, e são fatores de eliminação logo no processo de recrutamento e seleção. Com essa visão conclui-se: a empresa é uma organização conservadora. Cultura geral – há necessidade de ler os clássicos da literatura, revistas especializadas, jornais diariamente. Pesquisas feitas por algumas consultorias como é o caso da Procter & Gamble, têm avaliado que a maioria dos jovens busca poucas informações sobre o que ocorre no exterior, na política nacional e internacional, na Economia, no mundo dos negócios, no ambiente de trabalho. Trabalho em equipe – as empresas têm buscado jovens com capacidade de trabalhar em equipe e com bastante criatividade, dando um fim ao individualismo. Empatia – capacidade de se envolver totalmente com a empresa. Curiosidade intelectual – a Gerência dos altos cargos nas empresas tem prestigiado aqueles profissionais que aprendem a aprender, interessados em descobrir coisas novas e antigas que possam aumentar o seu repertório de conhecimentos e, com isso, aprimorar a sua intelectualidade. Planejamento – preocupação em alcançar objetivos a médio e longo prazo, saber o que precisam em tempo de futuro e quais as novas habilidades que pretende desenvolver. 43 Além do diploma – observam-se novos tipos de comportamento das empresas com relação ao recrutamento e seleção dos novos talentos para comporem os seus quadros de funcionários. O diploma, mesmo o das melhores faculdades, deixou de ser a coisa mais importante, para muitas empresas. Há 10 anos, o lado técnico era o que mais importava. Nessa época, ter um diploma de administração da FGV era garantia suficiente de que o estudante seria perfeito para a empresa, por exemplo. Nos dias de hoje, não é incomum encontrar profissionais recém-formados e também com experiência, desempregados. A maioria dos alunos, por mais inteligente que seja, ainda não percebeu, talvez por imaturidade, afirma a professora Maria Irene Stocco Betiol, professora de Psicologia da FGV de São Paulo, que as empresas estão buscando no novo profissional, além do diploma, habilidade como dominar pelo menos outra língua, com garra, determinação, vontade ilimitada de aprender e de crescer. Além desses fatores, vê Márcio Cypriano, o novo presidente do Bradesco, que para a empresa é importante saber que tipo de experiência possui o recémformado, o grau de sua exposição ao mundo, a sua cultura internacional e o conhecimento de outros países, a história da sua vida, como enfrentou as adversidades. É nesse ponto que os alunos das faculdades menos reverenciadas vêm abrindo espaços que antes estavam fechados para eles, afirma Marli Manfrini, coordenadora dos programas de trainee e MBA do Citibank. Esses estudantes têm de se esmerar para compensar o que o nome da escola não lhes trouxe de benefícios. De classes sociais geralmente menos favorecidas, muitos têm força de vontade oceânica. Saem da cama de madrugada, trabalham o dia inteiro, à noite vão para a faculdade e estudam durante o final de semana. Sem caixa para fazer intercâmbios culturais e se aprimorar no exterior, fazem curso de inglês e espanhol na hora do almoço. Sem computador em casa, escarafuncham o micro da empresa para entender os meandros dos programas. Como sabem que uma faculdade de primeira faz falta no currículo, esforçam-se mais para provar que valem a pena. Pela análise sociológica que envolve esses novos fenômenos sociais, as empresas perceberam que é exatamente isso que está faltando nos alunos bem nascidos das melhores universidades que chegam de “salto alto” para disputar um jogo que é bastante duro. E que muitas vezes acaba em decepção. A Ciência como meio de conhecer as Organizações O interesse dos cientistas do comportamento pelos problemas organizacionais e pelas culturas organizacionais é relativamente recente e tornou-se popular no início da década de 50. Hoje este tipo de abordagem recebe muita atenção na literatura sobre organizações. Podemos defini-lo como o estudo do comportamento humano dentro das organizações, mediante método científico. Trata-se de uma abordagem interdisciplinar, pois ela se apóia na Psicologia, na Sociologia e na Antropologia. 44 A Psicologia Organizacional é um ramo novo que está surgindo em muitas escolas de negócios e de administração pública. Trata especificamente do comportamento humano no ambiente organizacional e examina o efeito das organizações sobre o indivíduo e ação do indivíduo sobre a organização. Os psicólogos preocupam-se com tópicos tais como seleção de pessoal, treinamento, satisfação no trabalho, ânimo e desempenho no trabalho, motivação humana e personalidade. A Sociologia procura isolar, definir e descrever o comportamento humano dos grupos. Esforça-se por fazer generalizações sobre a natureza, a integração social e cultural. Uma das maiores contribuições que os sociólogos deram ao nosso conhecimento sobre organização foi o estudo dos pequenos grupos, estudar suas formas de interação. Aprende-se muito sobre comportamento dos pequenos grupos dentro das organizações; influência dos grupos sobres seus membros e seu impacto sobre a organização. Os sociólogos estudam também a liderança e a estrutura organizacional, enquanto ligadas à eficácia da organização. Vinculam o estudo da organização ao estudo da burocracia, preocupando-se com o comportamento burocrático e com as relações estruturais das organizações burocráticas. Os sociólogos estudam o papel do líder e dos liderados e os padrões de poder e de autoridade nas organizações. A Antropologia estuda todos os comportamentos adquiridos pelo homem, incluindo o comportamento social, técnico e familiar que são parte do amplo conceito de “cultura”. Este é o tema central da Antropologia Cultural, a ciência do comportamento que se dedica ao estudo dos diferentes povos e culturas do mundo primitivo e civilizado, e é um conceito-chave para todas as demais Ciências do Comportamento. Os antropólogos estudam o impacto da cultura sobre as organizações, a personalidade individual e a percepção. O método científico Os principais filósofos da ciência definem “ciência” nos termos do que eles julgam ser seu traço único e universal: o método. A maior vantagem do método científico é que ele tem uma característica que nenhum outro método de aquisição tem: autocorreção. Trata-se de um processo objetivo, controlado e sistemático, com mecanismos de verificação ao longo de toda a via para o conhecimento. Estes mecanismos controlam e verificam as conclusões e atividades do cientista na aquisição do saber, independentemente de seus preconceitos e pontos de vista. Métodos de pesquisa usados pelos cientistas do comportamento São, geralmente, conhecidos como designs de pesquisa. Em termos amplos, há três designs básicos empregados pelos cientistas do comportamento: O estudo de caso – procura examinar as numerosas características de uma ou mais pessoas, geralmente ao longo de amplo período de tempo. Durante anos, os antropólogos estudaram os costumes e o comportamento de vários grupos, vivendo realmente ao meio deles. Alguns pesquisadores 45 organizacionais fizeram o mesmo. Eles trabalharam realmente e viveram em sociedade com os grupos de empregados que estavam estudando. Alguns desses relatórios são em forma de estudo de caso. Estudo de campo – na tentativa de dar mais rigor e realismo ao estudo das organizações, os cientistas das organizações e os cientistas do comportamento desenvolveram várias técnicas sistemáticas de pesquisa de campo, como entrevistas pessoais, observação e levantamentos mediante questionários, técnicas estas que podem ser usado de maneira isolada ou combinado. São usadas para pesquisar os acontecimentos ou as práticas correntes e, diferentemente de outros métodos, o pesquisador pode entrevistar pessoalmente outras pessoas da organização – trabalhadores colegas, subordinados e superiores – para chegar a uma visão mais equilibrada, antes de tirar conclusões. Experimentação – é a mais rigorosa das técnicas científicas. Para que uma investigação seja considerada um experimento, ela deve conter dois elementos – manipulação de alguma variável (variável independente) pelo pesquisador e observação ou medida dos resultados (variável dependente) – mantidos todos os demais fatores constantes. Assim, numa organização, o cientista comportamental poderia mudar um fator organizacional e observar os resultados tentando manter inalterado todo o resto. A experiência dos homens da prática e a pesquisa são as primeiras via pára se chegar ao conhecimento do funcionamento das organizações. Questionamento do papel das organizações O principal desafio das organizações reside não apenas em diminuir o conflito entre objetivos individuais e objetivos organizacionais, mas também, na compatibilização entre os objetivos da organização, os objetivos da sociedade onde a organização se encontra inseridos e os objetivos dos indivíduos que integram a organização. Nos últimos anos tem aumentado consideravelmente a pressão da opinião pública sobre as organizações, com relação à responsabilidade social. Inúmeros casos podem ser citados, entre os quais destaca-se a criação de entidades de proteção aos consumidores, de movimentos comunitários para impedir a instalação de certas indústrias, de sociedades ecológicas ou de secretarias de meio ambiente na estrutura de diversos governos estaduais, de limitações adicionais à livre atuação das organizações por intermédio da legislação, entre outras. Como resultado da busca de novas formas de convivência, muitas organizações tiveram de proceder a modificações em pelo menos algumas de suas prioridades e até mesmo em seus objetivos, em função de políticas governamentais e pressões da opinião pública. Da mesma forma, alguns indivíduos passam a adotar critérios de seletividade quanto ao tipo de organização em que desejam trabalhar recusando-se a ingressar naquelas cuja razão de ser ou filosofia de atuação seja conflitiva com seus valores pessoais. 46 EXERCÍCIO: Uma Ponte entre a Sociologia e a Administração Nas margens do rio São Francisco, em pleno agreste, geólogos de uma fábrica de refratários situada no Sul do país, descobriram uma importante jazida de magnesita. Inicialmente, foram construídas próximas a um vilarejo instalações industriais simples com o fim de extrair e dar uma primeira queima no minério antes de embarcá-lo. Com isso, surgiram oportunidades de trabalho, que passaram a ser uma verdadeira salvação para aqueles sertanejos sujeitos a uma vida de subemprego crônico na atividade pecuária extensiva ou na agricultura marginal. Para as minas foi enviado um gerente sulista com sua capacidade de direção e organização já demonstrada, mas sua administração foi tão falha que nem ele sabia qual a razão de tantos erros. Seu substituto foi ainda mais bem selecionado, mas teve a mesma sorte do antecessor. Foram então mandados dois gerentes, um administrativo e outro técnico, porém o pouco que conseguiram produzir era irregular e de baixa qualidade. Um geólogo, contratado para estudar o problema da qualidade do minério, ao chegar, encontrou ambos bêbados e completamente entregues ao desânimo por não terem conseguido fazer pessoas ávidas por emprego virem a ser produtivas. Aconteceu que, sendo natural do sertão de um Estado do Nordeste, o geólogo percebeu que o não-entendimento dos valores e costumes dos habitantes da região impedia o relacionamento satisfatório administração-empregados, não obstante os trabalhadores estarem interessados no serviço. Assim, coisas simples como o apito para iniciar e terminar a jornada diária não tinha o menor significado para aqueles sertanejos que nunca tiveram hora para o trabalho. Por outro lado, esperavam que o gerente, tal qual faziam os donos de fazendas, os atendesse em seus problemas financeiros, de saúde e até familiares. Depois que os gerentes compreenderam tais aspectos peculiares e sem alterar a estrutura organizacional, foram feitas adaptações nas práticas administrativas, por exemplo, o número de horas de trabalho por dia deixou de ser fixo, pois o apito somente soava no caso de tudo estar efetivamente em condições para o início da jornada ou no fim do turno, se a descarga do forno tivesse sido completada. Com essa e outras medidas, as minas tornaram-se produtivas. Este caso mostra as diferenças de comportamentos relacionados ao desempenho de tarefas, que foram provocadas pela diversidade nos costumes de duas regiões. Não basta, pois, ao administrador conhecer técnicas de planejamento, de estruturação e outros assuntos relativos à organização do trabalho. É preciso, também, entender as pessoas, a principal matéria-prima com que lida diariamente, não só como indivíduos que são, mas principalmente como grupo, já que os serviços são levados a efeito coletivamente. Para isso, a Sociologia pode fornecer um amplo conjunto de conhecimentos, os quais precisam ser “traduzidos” para o administrador em razão deste não ser um cientista e sim um profissional desejoso de saber como enfrentar as dificuldades que lhe surgem no dia-a-dia das empresas. Isso exige uma ponte ligando a Sociologia como ciência à Administração como prática e, naturalmente, com pilares sólidos em ambas as margens. 47 (Adaptado de Bernardes, C. e Marcondes, R.C.. Sociologia Aplicada a Administração. São Paulo, Saraiva, 2005.) Tendo por base o caso verídico dos vaqueiros nordestinos empregados na mina de magnesita, responda, justificando suas respostas: a) Quais aspectos da sociedade nordestina de pastoreio seriam estudados por um sociólogo que fosse enviado pela empresa sulista para as minas de magnesita? b) Pelo exposto, apesar de experientes, que conhecimentos teóricos e suas aplicações práticas faltavam aos administradores sulistas? c) Qual era o cliente externo das instalações industriais implantadas nessa região do nordeste? Quais eram suas necessidades? d) Enumere as necessidades mais importantes que os participantes sertanejos esperavam ver satisfeitas pelo empregador. e) Por que os conhecimentos práticos de Administração não foram suficientes para o administrador profissional gerir o projeto sem problemas? O que lhe faltou? AULA 12As organizações e as empresas http://www.oswaldocruz.br/download/download_ler.asp?id_conteudo=6792 A contínua busca de alimento pelos animais é tão comum que não mais chama a atenção de quem observa pombos e pássaros em liberdade e nem mesmo quem assiste na televisão a filmes sobre o “mundo selvagem”. Certamente, esse também era o procedimento mais importante do Homem no início de sua história, tendo por fim a obtenção de comida para sobreviver. Entretanto, logo percebeu que a satisfação dessa necessidade primordial por meio da caça seria obtida com mais eficiência caso levada a efeito coletivamente, uns espantando os animais, outros dirigindo-os para armadilhas, onde eram mortos por terceiros. Assim, surgiu a divisão de trabalho, com a conseqüente necessidade da coordenação para que a colaboração mútua fosse efetiva. Todavia, as demais hordas também caçavam, umas interferindo nos territórios das outras, razão pela qual ocorreram os primeiros combates e, em decorrência, a especialização para a luta pelos guerreiros. Naturalmente, a caça e a pesca nem sempre eram propícias e as guerras favoráveis, de sorte que se tornou necessário obter a intervenção benigna dos deuses, motivo pelo quais homens se designaram sacerdotes, com a incumbência de intermediar as forças celestes com os desígnios terrenos. Tais fatos sociais fizeram surgir as primeiras organizações, uma reunindo quem caçava, outra quem plantava, uma terceira os que pelejavam pela tribo, naturalmente uma dos que contatavam os deuses e, obviamente a dos dirigentes que deveriam coordenar todas as demais. Em princípio, cada uma dessas organizações destinava-se a suprir, direta ou indiretamente, um tipo de necessidade coletiva exigida para a sobrevivência da espécie. No decorrer 48 dos anos, cada uma delas tornou-se perene e com estrutura bem definida, adquirindo características de uma específica micro-sociedade dentro da tribo, esta como sendo a sociedade mais ampla. Dessa forma, apareceu a organização militar, a religiosa e a política. Com o passar dos séculos, houve um aumento dos conhecimentos e, também, de população, de sorte que as necessidades básicas de sobrevivência foram complementadas por outras delas derivadas, a exemplo de gozar melhor padrão de vida em termos de habitações confortáveis e vestuários mais sofisticados. Tais exigências sociais determinaram a criação de uma quantidade enorme de organizações destinadas a satisfazê-las, como se vê nos dias de hoje, cujas características dependem da necessidade que pretendem suprir e do tipo de sociedade na qual se desenvolveram. Em razão dessa variedade, uma fábrica é muito diversa de uma seita religiosa simplesmente porque busca satisfazer outras exigências de seus clientes. Com base no exposto, pode-se classificar como organização toda e qualquer empresa ou órgão público que conheça. Afinal, como poderia ser definida “organização”? De várias maneiras, caso seja tentado satisfazer aos muitos sociólogos, cada qual com um enfoque diferente. Todavia, podemos escolher uma que esteja mais de acordo com nossos interesses, como a seguinte: ORGANIZAÇÃO é uma unidade social artificialmente criada e estruturada, continuadamente alterada para se manter no tempo, e com a função de atingir resultados específicos que satisfaçam às necessidades de clientes existentes na sociedade e, também, às de seus participantes. O conceito de organização é objeto de análises, motivo pelo qual convém desde já entender claramente qual seu significado: Primeiramente, a palavra tem significado muito amplo, como o termo “ser vivo”, que é aplicável desde ao Homem – um dos entes mais complexos da Terra – até às simples amebas e protozoários, passando por todos os animais e plantas. Por isso, a palavra “organização” precisa ser particularizada em tipos, de acordo com as diversas necessidades que pretende satisfazer, tanto dos segmentos sociais de clientes quanto de seus participantes. Em segundo lugar, pelo fato de toda organização ser formada por um conjunto de pessoas, ela incorpora vários aspectos que são característicos de sociedades mais amplas. Por isso e pelo fato de habitualmente possuírem número limitado de membros, elas costumam ser vistas na forma de microsociedades. Essa é uma das razões de sociólogos interessarem-se pela pesquisa dos fenômenos sociais que nelas ocorrem, como uma extensão do objeto dos estudos de sua especialidade. Em terceiro lugar, as organizações existem para satisfazer às necessidades dos clientes. Neste ponto, pode-se argumentar que essa afirmação é correta quando se trata de hospitais, que atendem pessoas em busca da melhoria de saúde, mas não das repartições públicas coletoras de impostos, pois “inexiste a necessidade de ficar com menos dinheiro...”.Acontece que o cliente dos órgãos arrecadadores de impostos não é o público e sim o próprio governo, seja 49 municipal, estadual e federal. Em princípio, este deveria captar recursos dos cidadãos para a eles devolver sob forma de benfeitorias, pois são eles seus verdadeiros clientes. Finalmente, a organização é um ente abstrato que só existe enquanto seus participantes estiverem emocionais ou fisicamente presentes. Essa afirmação contraria a crença das pessoas, que costumam ver na organização, especialmente na que trabalham ou participam, uma entidade concreta tendo personalidade e até objetivos. Para verificar se tal crença é falsa ou verdadeira, basta observar uma repartição pública ou empresa durante e após o horário de expediente. O movimento de pessoas entrando, saindo e executando diferentes atividades desaparece quando todos os participantes vão embora, ocasião em que prédios, salas, mesas e bancadas de trabalho ficam vazios. A partir desse momento, a micro-sociedade organização deixou de existir. A mesma observação pode ser feita quando uma firma vai à falência e só restam os edifícios abandonados e nem mesmo a marca dos produtos sobrevive. Um tipo de organização deve ser destacado, o que engloba as chamadas empresas. O que significa essa palavra? Como grande parte das definições nas áreas sociais, qualquer tentativa de conceituá-las seria imprecisa e, por isso, passível de críticas. Entretanto, a característica de vender algo se destaca das demais organizações, a qual poderia servir para caracterizá-la. Assim, pode-se dizer que: EMPRESA é um tipo de organização cujos clientes trocam seu dinheiro pelos bens ou serviços que ela produz. Por causa da existência dessas trocas com base monetária é que as empresas costumam serem denominadas “organizações econômicas”. A organização é constituída por partes interligadas A molécula dos compostos químicos é dividida nos átomos dos corpos simples e estes mésons, elétrons e prótons, ou seja, nas partículas atômicas. Da mesma forma, o ser vivo é dividido em aparelhos, a exemplo do respiratório e digestivo, os quais são formados por órgãos, como pulmões e fígado. Estes são compostos por tecidos, entre os quais o epitelial e o muscular. Por sua vez, tecidos são formados pela reunião de células, como as denominadas nervosas, epiteliais e musculares, consideradas a última divisão dos vegetais e animais, por terem vida própria a ponto de serem capazes de gerar novas células. De forma semelhante, as organizações também são entes complexos pelo fato de terem muitas partes. Por isso, costuma-se fazer sua análise subdividindo-as em seus constituintes, como examinado a seguir. Seja uma empresa constituída pelos Departamentos de Produção, Recursos Humanos, Marketing e Finanças entre outros, cada qual com uma função administrativa diferente e específica. Tais departamentos são compostos por Secções, ou seja, grupos formais de pessoas que dividem o trabalho, as quais por sua vez, são os participantes da organização, seja ela empresa, escola, prisão ou clube. Esses participantes são o último elemento das divisões 50 sucessivas, correspondendo às células dos seres vivos, incluindo-se faxineiros, serventes, especialistas, gerentes e até os diretores da cúpula administrativa. Há, assim, uma hierarquia em níveis formada pelas sucessivas subdivisões da totalidade em suas partes. Caso a organização seja vista como um sistema, suas divisões em partes serão os subsistemas, que também admitem ser repartidos no que poderíamos chamar de “subsistemas”, embora esse termo não seja usual. Além disso, em direção contrária ainda é possível fazer a síntese, isto é, a integração de totalidades com sentido inverso ao da análise. Dessa maneira, a organização, seus fornecedores, concorrentes, agentes financeiros e outras entidades comporão o supersistema. A síntese ainda pode ser estendida a mais um nível, por exemplo, os vários supersistemas correspondentes a ramos empresariais, organizações de ensino, seitas religiosas, partidos políticos etc. que, em seu conjunto, formam a sociedade de uma região. O papel das Organizações nas Sociedades Modernas A empresa hoje, por sua importância econômica, assume cinco níveis de relacionamento: Com seus consumidores; Com os trabalhadores em geral; Com a comunidade onde, fisicamente, se situa; Com o governo (enquanto representante da sociedade global); Com as outras empresas. A Empresa e seus Consumidores Embora a base da relação de uma unidade produtora (ou vendedora ou prestadora de serviços) com os consumidores (ou fregueses ou clientes) seja econômica, atualmente cresce cada vez mais a consciência da responsabilidade social da empresa para com aqueles a quem ela atende. O consumidor se organiza, exige, cria órgãos de fiscalização da qualidade dos produtos e serviços que adquire. Hoje, o estágio do mercado é consumidor: ou seja, em rápidas palavras, passamos de um mercado produtor, onde a empresa criava o produto e, depois lançava mão de certas técnicas mercadológicas para torná-lo conhecido e vendê-lo, para um mercado em que primeiro se procura conhecer as necessidades, aspirações e desejos do consumidor (por intermédio de outras técnicas de marketing) para, só então, fabricar o produto, segundo as especificações detectadas entre os futuros compradores desse produto; daí a denominação de mercado consumidor. Dessa forma, se há um consenso sobre a valorização do consumidor, este, por sua vez, relaciona-se com seus fornecedores como parte importante do processo. Em épocas anteriores da História Econômica, a relação produtor/consumidor era mais direta. O artesão da pequena cidade era conhecido por todos. E, também, conhecia individualmente seus fregueses, inclusive seus gostos e preferências. A industrialização quebrou essa relação que se vem restabelecendo, de outra forma, através das pesquisas mercadológicas, 51 atividades de relações públicas e a busca de comunicação em ambos os sentidos. A Empresa e os Trabalhadores A relação da empresa com seus funcionários sofrem as influências do tamanho, da estrutura organizacional e da filosofia de direção adotada. O tipo de relacionamento também apresentou variações ao longo do tempo. O artesão, a pequena oficina, a fabricação de “fundo de quintal”, a micro e a mini-empresa, assim com a empresa familiar tinham, no passado, e têm, hoje, uma relação em alguns aspectos semelhante ao grupo familiar (patriarcal, paternalista e “assistencial”), em que, mais do que a capacidade, é a relação com o “chefe” que determina a função de cada um. Se o artesão se impunha a seus aprendizes e oficiais/diaristas/jornaleiros pelo domínio da técnica e pelo “compromisso de ensinar o ofício”, o “dono” do pequeno negócio exerce o poder econômico e é com base nele que se “impõe”; mas ambos consideram que a relação envolve mais lealdade e interação pessoal do que laços apenas econômicos. A média e a grande empresa, assim com a transnacional, por seu próprio tamanho, não podem desenvolver relações semelhantes. Mas o quanto impessoal elas serão depende da maneira como se organizam e da forma com sãs geridas. No primeiro caso, destaca-se o número de “degraus” de hierarquia entre os trabalhadores e a alta administração e, no segundo, as vias de comunicação. A empresa não se relaciona apenas com seus empregados, mas também com a classe trabalhadora, principalmente através de sindicatos. A relação capital/trabalho é ainda influenciada pela maior ou menor oferta de empregos, pela fixação do níveis salariais, pelo grau de inovações e mecanização, etc. A Empresa e a Comunidade Uma empresa, principalmente de grande porte, quando se instala em uma região, pode gerar riquezas e oportunidades; por outro lado, também fere interesses e cria mudanças nas relações sociais e econômicas existentes anteriormente a sua chegada, o que pode originar atritos. Na realidade, as reações são muito variadas. Uma questão muito atual é a poluição ambiental: a ameaça de sua ocorrência, fundamentada ou não, pode provocar rejeição por parte da população da comunidade e, até, atitudes fortemente agressivas, não obstante a perspectiva da oferta de empregos. Em contrapartida, uma relação positiva entre a organização e a comunidade onde se situa pode ser estabelecida mediante a contínua informação e uma atitude de respeito por parte da empresa para com os moradores da localidade que a abriga. A Empresa e o Governo Enquanto representante da população de uma nação, cabe ao governo defender os interesses dessa sociedade. A partir deste princípio genérico, surgem leis e regulamentos que devem, em teoria, limitar a liberdade de ação 52 das empresas, mas que, na prática, muitas vezes privilegiam interesses específicos da parte da elite dominante, influindo nas normas fixadas pelo governo. O relacionamento das organizações com o governo varia de amplitude segundo o tipo de regime. Países como o Brasil têm forte centralização de poder nas mãos dos governos, enquanto em outros a sociedade civil costuma organizar-se mais diferentemente. Embora nestes últimos também existam controles oficiais, o Estado é menos participante. O melhor exemplo desse caso são os Estados Unidos; no extremo oposto situam-se os ex-países comunistas (assim como a China, Cuba etc.), onde as empresas pertenciam todas ao governo. Os Planos Cruzados I e II, Bresser, Verão e Collor são típicos instrumentos de interferência governamental na vida empresarial do país, visando criar uma economia dirigida. Tendo em vista a importância das questões entre governo e empresa no Brasil, algumas destas últimas possuem um departamento de Relações Governamentais. As autoridades locais (prefeito, vereadores) costumam relacionar-se com as empresas, quer de maneira “positiva” (mediante a concessão de incentivos fiscais, cessão de áreas para construção por preço baixo ou gratuitamente por determinado período etc.), quer “restritiva” , caso considerem (ou sejam levados a considerar pela opinião pública) os interesses do município prejudicados pela presença e/ou comportamento das organizações. Em algumas localidades (o que ainda não é muito comum no Brasil), associações de moradores podem relacionar-se com as empresas e sua atuação apresenta repercussões junto ao governo local. A Empresa e suas Relações com outras Empresas Num sistema capitalista, se, por um lado, a concorrência entre empresas se impõe, por outro lado elas também se unem na defesa de interesses comuns. Surgem associações e sindicatos patronais, federações e confederações. No aspecto econômico, ao lado do monopólio (são poucos no Brasil, destacandose as estatais, como a Petrobrás) encontram-se os oligopólis (em que duas ou umas poucas empresas dominam o setor, determinando preços, salários, política de relacionamentos, inclusive com sindicatos e governos), sendo que neste último os interesses de algumas empresas as fazem aliar-se contra as demais do mesmo ramo. Também com os fornecedores e com compradores (que não sejam consumidores finais, mas outras empresas), cria-se uma relação de interdependência que, embora seja fundamentalmente econômica, adquire um caráter social, à medida que em ambas ou nas três partes há grupos de pessoas que se identificam como “empresas”. EXERCÍCIOS: 1) Após uma entrevista de seleção para a empresa ALFA, João foi informado que não seria admitido para o cargo de gerente, por não possuir habilidades 53 interpessoais e de comunicação fundamentais para desempenhar a função. Assim, quanto a João, a entrevistadora alegou que: (A) o seu conhecimento de erros de propensão em avaliação de desempenho não era suficiente para uma boa auditoria de Recursos Humanos. (B) a sua especialização em Sistemas de Informação não favorecia a comunicação interfuncional na empresa. (C) ele tinha dificuldades em reconhecer questões complexas e resolver problemas para benefício da organização. (D) ele tinha dificuldades em trabalhar em equipe, dividir as informações com os outros e ensinar as pessoas a aprender. (E) ele não conseguia considerar os objetivos e as estratégias gerais da empresa nas interações entre as diferentes partes da organização. 2) Na análise da decisão de fechamento de uma grande fábrica de refrigerantes, a sua diretoria, composta por uma equipe de trabalho coesa, aprovou por unanimidade o projeto. Este grupo de executivos mantinha um padrão de comportamento chamado pensamento grupal, no qual concordar com as opiniões uns dos outros e recusar-se a criticar suas idéias se transformaram em norma. Para que o pensamento grupal não afete a tomada de decisão, em seu grupo de trabalho você deverá alimentar: (A) uma certa intensidade de conflito construtivo. (B) a "ilusão de invulnerabilidade". (C) a "ilusão de moralidade". (D) a "ilusão de unanimidade". (E) a presença de indivíduos com socializações semelhantes. 3) Jack Smith, da General Motors, deixou Wall Street furiosa por não adotar uma posição mais dura com a força de trabalho. Enquanto os investidores queriam custos trabalhistas mais baixos, Smith quis uma força de trabalho que estivesse a favor da empresa, e não contra ela. No seu processo decisório, Smith, uma vez que considerou as possíveis conseqüências das opções, buscou uma estratégia de otimização que resulta: (A) no máximo benefício ao menor custo, com margem de contribuição positiva. (B) no melhor equilíbrio possível entre várias metas. (C) na melhor visão sistêmica do mercado. (D) na escolha de uma alternativa definitiva, com margem de contribuição positiva. (E) na escolha da primeira opção aceitável ou adequada para atingir uma meta ou critério-alvo. 4) Depois de um grande crescimento que durou mais de quinze anos, a empresa Barckley atravessa uma crise que abala profundamente seus funcionários. Todos os planos e esforços canalizam-se para os departamentos operacionais: vendas, produção e marketing. Isso provoca certo amargor nos setores administrativos, de finanças, pessoal e informática. Afinal, foram eles que, nos dois últimos anos, por inúmeras vezes soaram os alarmes para avisar 54 dos perigos em que incorria este ou aquele comportamento e propuseram planos alternativos. Para tratar deste conflito organizacional, o diretor presidente da empresa deverá optar por uma estratégia de intervenção de poder que: (A) considere a causa do conflito, embora ignore metas prioritárias, ou seja, a organização em geral. (B) satisfaça, pelo menos parcialmente, a posição de marketing, embora não trate das causas verdadeiras do conflito. (C) imponha uma solução que, em curto prazo, resolva o problema, mas que provavelmente deixará um resíduo de ressentimento nos funcionários. (D) procure alcançar a harmonia na organização, tratando o problema superficialmente e negando a sua importância para a organização. (E) ignore totalmente o problema, acreditando que, assim, este simplesmente "desaparecerá". 5) Você é gerente de Recursos Humanos de uma média empresa que está preocupada com reivindicações trabalhistas e exigências dos sindicatos. Para prevenir possíveis conflitos, você elabora para a diretoria um programa de enriquecimento de cargos. Na defesa do projeto você argumenta que o enriquecimento do cargo traz vantagens, tanto para a empresa como para o empregado, porque pode: (A) aumentar a motivação do pessoal em face da necessidade de todos os indivíduos de assumir riscos e enfrentar novas oportunidades através da estandardização do processo e dos resultados do trabalho. (B) facilitar o ajustamento mútuo da coordenação do trabalho através de processos simples de comunicação informal, enquanto o controle permanece nas mãos do gerente. (C) gerar menor absenteísmo em virtude do comprometimento e sentimento de responsabilidade no cargo, quando o empregado não se sente explorado pela empresa com a imposição de um trabalho mais difícil. (D) gerar maior rotação de pessoal garantindo a multi funcionalidade e a ambigüidade das funções no nível operacional. (E) gerar maior produtividade diminuindo o conflito íntimo relacionado à dificuldade em assimilar novas atribuições e responsabilidades e facilitando a supervisão direta. 6) Assinale a afirmativa que NÃO se refere a um fator social que tem acentuado as preocupações com a prática participativa na gerência no mundo contemporâneo. (A) A introdução da participação está primordialmente vinculada ao aumento da eficiência e da produtividade: se os trabalhadores participam nos lucros, têm interesse em aumentar este lucro. 55 (B) A democratização das relações sociais ocasiona formas de organização de instituições sociais, que, por sua vez, irão suscitar pressões para democratizar a organização econômica e a produção de bens e serviços. (C) A velocidade e a intensidade com que as mudanças ambientais atingem a organização do trabalho, hoje em dia, desatualizam rapidamente as estruturas estabelecidas, os processos de tomada de decisão e o impacto dessas decisões no ambiente socioeconômico em que a organização opera. (D) O desenvolvimento alcançado pelos meios de comunicação coloca ao alcance de parcelas consideráveis da população economicamente ativa condições de participação e expressão de direitos alcançados por grupos similares. (E) O aumento do nível educacional e cultural determina grande elevação das aspirações profissionais e faz crescer o hiato entre o que o indivíduo conhece e aquilo que faz ou deseja fazer, criando novas demandas na organização do trabalho. AULA 14 – A EMPRESA E O MEIO AMBIENTE UM NOVO DESENHO ORGANIZACIONAL http://www.oswaldocruz.br/download/download_ler.asp?id_conteudo=6792 A globalização e as transformações em andamento estão fazendo surgir um novo conceito de organização e de negócios, fundamentado na apreensão e na compreensão de um contexto e de uma complexidade jamais antes imaginada. O dia-a-dia organizacional vem sendo povoado por um número cada vez maior e diversificado de atores, cada um deles com expectativas, valores, dinâmicas e interesses próprios, muitas vezes contraditórios e incompatíveis quando comparados entre si. Parece não haver mais dúvidas que um novo modelo de organização está nascendo e não mais orientada por uma racionalidade predominantemente instrumental que enxerga tudo pela ótica da lógica, de modo segmentado, hierárquico, parcial, focando exclusivamente as questões da produtividade crescente e do aumento incessante dos lucros. É hora de praticar e aprimorar formas diferenciadas de organização e estruturação do trabalho que não mais limitem a criatividade e a inovação neste contexto de crescentes e complexos desafios. A força crescente de novos atores Para adquirir a necessária mobilidade, flexibilidade e permanecer viva na teia ou rede das complexas dependências e influências, a organização precisam aprender a lidar com a multiplicidade e variabilidade de atores que emergem ou se reestruturam neste novo cenário. São pessoas, entidades, instituições, movimentos, que têm algo investido na organização e algum tipo de interesse por ela. 56 Logo, tratarão de influenciar as suas decisões, estratégias, formas de gestão e atuação. Os atores mais conhecidos que hoje dominam o contexto de atuação das organizações são os acionistas, os conselhos de administração, os empregados ou colaboradores, as equipes de trabalho, os fornecedores, a sociedade e o governo. Mas não há limites na quantidade desses atores ou agentes que podem surgir nestes novos tempos e depositar alguma forma de interesse ou expectativa numa organização. Assim, podemos acrescentar a essa lista os representantes dos movimentos sociais emergentes (defendendo os direitos dos marginalizados e excluídos e lutando pelo resgate da cidadania), os movimentos ecológicos (sejam locais, regionais, nacionais ou internacionais), a globalização e até mesmo as gerações futuras. O ponto chave na idéia do conjunto de novos atores parece residir no fato de que eles próprios definem seus interesses ou suas apostas na organização, procuram envolver as comunidades (ou novos parceiros) em suas causas e formam alianças cada vez mais poderosas. Isso implica que não é mais somente a organização - do ponto de vista de seus acionistas e conselheiros de administração - que define isoladamente a sua missão, visão, valores, estratégias e formas de atuação. Ela precisa considerar, nesse processo, a dinâmica das expectativas, desejos, aversões, crenças, valores e os diferentes graus de influência dos atores participantes ou envolvidos em seu contexto de ação. Isso muda muitas coisas. Como definir a missão e a visão mais adequadas e compatíveis com os interesses particulares ou associativos de seus diversos agentes e parceiros? Como captar, contratar e remunerar a plêiade de profissionais necessários a todas essas demandas e especializações que representam? Como construir parcerias saudáveis e os entendimentos necessários para isso? Como adequar valores e a cultura da organização e flexibilizar os seus processos, de modo a ser possível a realização dos ajustes contínuos exigidos pela dinâmica e evolução dessa rede de novos agentes? Como farão as organizações para integrar as distintas expectativas, necessidades, desejos, aversões, prejuízos, requerimentos desses atores? Como regularão os diferentes e complexos processos ou fluxos cíclicos decorrentes, envolvendo insumos, ganhos mútuos, benefícios, obrigações, posturas? Atender aos interesses e às expectativas de todos, de maneira articulada e diferenciada, requer profundas alterações nas crenças, nos valores e na forma de ser e atuar das organizações, bem como de seus dirigentes e profissionais. Vejamos, a seguir, uma descrição sucinta dos principais atores que povoam o novo cenário organizacional, bem como de suas exigências e progressivo poder de influência. Ética e Responsabilidade Social 57 Exigem-se hoje mais do que nunca um novo "ethos" empresarial. Mais do que em nenhuma outra época, as organizações têm sido chamadas para colaborarem na construção de uma nova sociedade, fundada no respeito, na cidadania, na ética e na melhoria da qualidade de vida de todos. As comunidades esperam das organizações e instituições, soluções eficazes para questões sociais inadiáveis e mal resolvidas pelas instituições vigentes, mediante parcerias ou programas sociais voltados às camadas menos favorecidas ou marginalizadas da população. Esperam também o respeito aos direitos das pessoas enquanto cidadãos e consumidores, o acesso aos serviços e bens culturais, a proteção de sua saúde física e mental e a promoção da melhoria da qualidade de vida, seja na dimensão intelectual, social, profissional, afetiva, emocional e até porque não dizer, espiritual. As empresas, não sem razão, estão investindo em projetos e programas que atendem e harmonizam uma multiplicidade de interesses sociais. Contratam os serviços de profissionais especialistas que se dedicam a estudos e soluções de problemas sociais que estão afetando cruel e injustamente parcelas consideráveis da população. Esses novos profissionais são exímios em conceber, implementar e gerir programas sociais, cuja viabilização depende do envolvimento e do comprometimento de inúmeros outros atores, setores e áreas de atividades e que quase sempre conjugam expectativas e interesses diversos e mesmo contraditórios entre si. Com a contratação desses profissionais e de seus serviços, as empresas esperam que projetos sociais bem conduzidos consigam elevar o nome e os índices de conhecimento e preferência de seus produtos e serviços e, ao mesmo tempo, melhorem significativamente sua imagem junto à comunidade. Organizações "sábias" estão descobrindo que fazer o bem passa a ser importante critério para a aceitação ou a rejeição de seus produtos e serviços pela comunidade, bem como fator para a própria sobrevivência e crescimento. Por essa razão estão buscando criar e compartilhar com a sociedade e seus profissionais uma missão maior e mais nobre, muito além dos organogramas, fluxos de caixa, produção ou vendas. Parece que, além de se constituir em enorme desafio para os executivos e especialistas e para as organizações modernas, fazer o bem, ser transparente, justo, respeitoso e honesto vem se tornando um bom negócio para todos. Além disso, o meio ambiente e a ecologia; o perfil dos profissionais de uma nova geração (muito mais parceiros de negócio do que empregados) e a globalização completam o cenário de exigências que conduzem as empresas para um novo desenho organizacional. O Desafio Ambiental A ecologia ganhou lugar e uma enorme importância em todo o planeta a partir dos anos 90. Embora o comportamento socialmente responsável das organizações ainda sucinta debates quanto a melhor estratégia para harmonizar objetivos sociais com os econômicos e políticos, agir corretamente em termos ambientais tornou-se questão indiscutível e inadiável. Se não agirmos com presteza, dedicação e responsabilidade para proteger e preservar a Mãe Terra, a tecnologia, a responsabilidade social e outras questões organizacionais poderão tornar-se secundárias ou irrelevantes. 58 Muito pouco foi feito, até agora, para colocar em prática a agenda de compromissos estabelecida no Eco 92, principalmente pelos países desenvolvidos. Em um mundo perfeito, a preservação dos recursos naturais em qualquer região ou país seria apoiada globalmente em prol de um benefício maior. Em nosso mundo real e imperfeito, onde em poucas situações a cooperação e a solidariedade acontecem, precisamos de novos atores que nos façam enxergar sempre que o meio ambiente e a natureza representam a base de toda a vida e de tudo o que ser humano produz. Não é pois apenas um interesse específico competindo em importância com outros interesses: é a arena global ou o campo de jogo, onde todos os interesses ganham lugar ou podem ser atendidos. O que as sociedades e os defensores da natureza e do ambiente esperam das organizações está além da simples e óbvia não destruição: as exigências estendem-se até a formação de parcerias para a educação e gestão ambiental ou ecológica contínuas. A responsabilidade social do administrador Embora preparado para ascender na hierarquia das grandes organizações, o administrador como classe profissional ainda tem pouca influência política no Brasil, diferente do que está sucedendo com a classe trabalhadora que, por meio de associações não políticas, a exemplo da Força Sindical, ou políticas, como o Partido dos Trabalhadores (PT), estão cada vez mais influindo no país. A concretização desse fato está na própria Constituição promulgada em 1988, que nos artigos do Capítulo II do Título II concede novos benefícios aos empregados, e nos do Capítulo VII do Título III permite ao funcionalismo público o direito de greve e o da associação sindical, até então proibidas. Além do mais, a empresa sempre foi vista como um bem por promover o desenvolvimento econômico hoje é suspeita de depredar o ambiente. Por isso, a Constituição, em seu Capítulo VI do Título VIII, prevê sanções penais e administrativas a pessoas físicas e jurídicas que causarem danos ao equilíbrio ecológico de qualquer região. Com tudo isso, cada vez mais é cobrada dos administradores pela sociedade a responsabilidade social das organizações, de sorte que já não basta o balanço financeiro para avaliar o desempenho da empresa, pois deverá ser complementado pelo balanço social, avaliando quantitativa e qualitativamente suas contribuições não econômicas para a sociedade. É certo que ainda se procura mascarar os débitos da poluição ambiental causada pelas indústrias com créditos de seus programas de ensino e assistência, admissão de deficientes para trabalhar, abertura do capital para empregados e até manutenção de praças e jardins das cidades. Entretanto, cabe ao administrador perceber esse processo rápido de mudança social e adiantar-se aos novos tempos, pois, caso contrário, será 59 responsabilizado por ter mantido a organização estacionada na era burocrática do isolamento. EXERCÍCIO: A Empresa Centro Norte de Papel e Celulose S/A sempre investiu muito na realização de melhorias em seus sistemas de preservação do meio ambiente, dispondo de uma robusta Estação de Tratamento de Efluentes, de um eficiente e premiado programa de reflorestamento, de potentes filtros com catalisadores e ação de despoluentes dos resíduos gasosos, além de uma política de conscientização e de distribuição gratuita de mudas de diversas plantas para a comunidade. Entretanto, nos últimos 5 (cinco) anos, esta preocupação passou a ter menos relevância no plano de investimentos da empresa. Isto ocorreu em função da necessidade de aumentar a produção, dado o aumento da carteira de clientes, o que implicou a ampliação do parque de máquinas, o reforço no sistema de distribuição, e a criação de uma infra-estrutura de exportação mais qualificada. Paulatinamente, a Empresa Centro Norte desenvolveu novas tecnologias na produção de papel, conquistando novos mercados, tornando-se ainda mais lucrativa e competitiva no segmento e satisfazendo aos acionistas. Contudo, sua política de preservação ambiental acabou definitivamente relegada, tendo sido os investimentos já realizados considerados mais que suficientes, além de, tacitamente, serem tratados como custos elevados e desnecessários neste momento de crescimento da empresa. Uma falha no sistema de tratamento de efluentes permitiu o vazamento de resíduos químicos para um rio piscoso, o qual servia de suporte ao abastecimento de água potável das residências da região em que a empresa estava instalada. Tal fato causou a contaminação generalizada das águas, além da mortandade de peixes. A população, revoltada, exigia providências imediatas, tendo sido a empresa alvo das mais diversas críticas e ações. Na qualidade de Administrador consciente, apresente quatro argumentos que demonstrem como o comportamento socialmente responsável se evidencia como um investimento e não um custo para a Empresa Centro-Norte, considerando a importância de investir na preservação do meio ambiente. AULA 15 – Democracia e Desenvolvimento Econômico Luiz Gustavo Serpa http://www.al.sp.gov.br/StaticFile/ilp/apostil04.pdf 60 A formação de sociedades democráticas como conhecemos atualmente, teve início na passagem do século XVIII (mais especificamente com os eventos ligados à Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos) para o século XIX. Nesse período, começaram a acontecer as primeiras lutas pela conquista de liberdades e direitos políticos que não fossem privilégios de apenas alguns nobres, característica marcante dos regimes políticos construídos ao longo da idade média e mesmo após o fim do feudalismo e início da idade moderna. Em paralelo às conquistas políticas que foram acontecendo nos séculos XVIII e XIX, também era percebido o avanço da luta por liberdades ligadas a forma de condução da economia, como liberdade de produção, de contratos de circulação pelos vários mercados que antes eram protegidos por monopólios etc. Ao conjunto das lutas por todos esses tipos de liberdade está associada uma corrente de pensamento conhecida como liberalismo. As idéias liberais nunca separaram os dois tipos de luta, por liberdades políticas e liberdades econômicas. A reunião dessas idéias também é conhecida como o período de conquistas burguesas, dado que os maiores beneficiados com as lutas pela liberdade foram as pessoas que detinham o controle da produção, do comércio e das atividades econômicas em geral. Durante essa época o avanço do que nós chamamos de capitalismo e o avanço do que nós chamamos de democracia representativa era entendido como algo comum, tanto que essa forma de democracia também é conhecida como democracia liberal. No entanto, a democracia não era entendida como um tipo de organização política da sociedade que pudesse ser implementada em qualquer sociedade, mas somente naquelas que também estivessem passando pelo processo de construção de uma economia capitalista liberal, o que restringia a possibilidade de um país ser democrático a apenas alguns países da Europa e os Estados Unidos. Essa associação de idéias permaneceu aceita pela maioria das pessoas até o século XX. Nesse século ocorreram grandes movimentos sociais que procuraram construir novas formas de organização social apoiadas em idéias que eram concorrentes do liberalismo. As duas experiências mais famosas ocorreram na União Soviética, que seguia a doutrina comunista, e na Alemanha e Itália, que seguiram as idéias nazi-fascistas. Ao final da Segunda Guerra Mundial os países nazi-fascistas haviam sido derrotados e destruídos e os sistemas capitalista e comunista passaram a concorrer, liderados por seus dois grandes representantes, Estados Unidos e União Soviética. Foi dentro desse contexto que a associação entre democracia e desenvolvimento econômico passou a ser mais forte, porque no mundo capitalista acreditava-se que a conversão ao comunismo acontecia devido ao atraso econômico e social das sociedades onde ocorriam as revoluções comunistas, enquanto no mundo comunista acreditava-se que o mau funcionamento econômico e social do capitalismo é que permitia a instalação de sociedades comunistas. De qualquer forma, para ambos os sistemas, a capacidade de desenvolver economicamente as sociedades parecia ser vital para justificar as formas de organização da sociedade e para tentar provar qual era mais eficiente. A preocupação com o desenvolvimento econômico das sociedades e a associação desse desenvolvimento com a possibilidade de existência de 61 democracias estáveis passou a ser a grande preocupação do mundo ocidental depois da Segunda Guerra. Dessa preocupação surgiram vários órgãos que existem até hoje, como o FMI e o Banco Mundial, que pretendiam ajudar o bom funcionamento das economias capitalistas e promover o desenvolvimento econômico em todos os países que fossem simpáticos ao mundo capitalista. Essas idéias tiveram forte impacto na sociedade brasileira, que a partir de 1945 passou a buscar de forma mais consciente o desenvolvimento da economia nacional. Empréstimos estrangeiros oficiais, missões externas que vinham nos ensinar a promover o desenvolvimento econômico, planejamento econômico, órgãos do governo voltados para essas atividades como o BNDE e a SUDENE começaram a ser criados no Brasil ao longo dos anos 50 e várias outras atividades, todas sempre buscando garantir o desenvolvimento econômico do país. Deve ficar claro para todas as pessoas que estudam essa época que as ações tomadas no Brasil e em vários outros países do mundo que buscavam o desenvolvimento econômico partiam do princípio de que era necessário primeiro realizar esse desenvolvimento, para somente depois ter certeza da consolidação da democracia dentro dessas sociedades. As várias teorias que justificavam essa forma de ação política ficaram conhecidas como Teorias da Modernização e o período que se inicia com o final da Segunda Guerra e termina com o Golpe de 1964 ficou conhecido no Brasil como Desenvolvimentista. Grandes avanços econômicos foram obtidos ao longo desse período, como o início da exploração do petróleo pela PETROBRAS, o desenvolvimento da indústria automobilística, vários investimentos na infraestrutura como em rodovias, produção de energia hidrelétrica, transmissão de energia, telecomunicações e outros setores importantes. Por outro lado, o Brasil que após 1945 tinha começado um novo período político com o fim da ditadura de Getúlio Vargas e o início de um período democrático que só foi interrompido em 1964, passou a sofrer crescentes dificuldades em manter seu sistema democrático em funcionamento, devido a problemas causados pela má compreensão da época das prioridades entre desenvolvimento econômico e democracia. Isto porque, como o desenvolvimento econômico era percebido por todos como fundamental para a melhoria das condições de vida de nossa população e ao mesmo tempo como necessário para que a própria democracia pudesse funcionar, ele era priorizado diante da própria democracia. Em outras palavras, cada vez mais naquele período, se fosse preciso escolher entre manter o desenvolvimento econômico ou garantir o acesso de todos a direitos políticos e sociais, a escolha recaia na alternativa de abrir mão do bom funcionamento da democracia em troca da possibilidade de mais desenvolvimento econômico. Essa forma de agir levou a que grande parte da população brasileira não tivesse acesso aos frutos do crescimento econômico e que, ao procurar lutar por esse acesso através de manifestações políticas, fosse rejeitada como um impedimento ao desenvolvimento econômico do país e a própria consolidação da democracia. A conclusão desse processo ocorreu com o Golpe Militar de 1964, que em nome da defesa da democracia e do desenvolvimento econômico do país destruiu o sistema democrático. 62 A aposta feita pelos militares foi a do crescimento econômico como resposta à falta de democracia. A situação era justificada da seguinte maneira: quando o desenvolvimento econômico estivesse consolidado no país não existiriam mais ameaças à democracia e só então ela poderia ser utilizada sem a tutela dos militares. O longo período de ditadura militar (1964-1985) apresentou em seu início um sucesso econômico formidável em conjunto com um progressivo aumento da repressão e destruição das instituições democráticas. O Brasil passou a ser o país que crescia mais rápido no mundo ao mesmo tempo em que abandonava a democracia. Era quase que a inversão da idéia original de 1945, de que o desenvolvimento econômico levaria ao fortalecimento da democracia. As conquistas econômicas foram impressionantes, como industrialização pesada com setores químicos, petroquímicos, mecânicos, elétricos, com o desenvolvimento de indústria de aviação, bélica, de equipamentos eletrônicos etc. Vários outros exemplos poderiam ser citados e não faz sentido negar o desenvolvimento econômico que foi conseguido durante o período militar. Entretanto, grande parte da população se encontrava marginalizada politicamente e mesmo socialmente dos benefícios desse avanço. Porém, o período militar não foi somente de avanço econômico. A partir da segunda metade da década de 70 graves problemas na economia internacional, como a crise do petróleo, explosão das taxas de juro internacionais e o aumento da dívida externa dos países em desenvolvimento levaram o Brasil a parar de crescer. Nesse momento é que apareceu o grande perigo da aposta feita por nós, pois agora estávamos sem desenvolvimento econômico possível e sem democracia. Foi diante dessa situação que os militares foram paulatinamente perdendo legitimidade diante da sociedade brasileira. O processo de redemocratização do Brasil teve eventos importantes, como a reabertura de 1979, e a campanha pelas eleições diretas em 1983-4. Com o final do período militar os governos civis que o sucederam tiveram que enfrentar uma verdadeira herança maldita. Inflação, recessão, desemprego, fome, crise sociais e vários outros problemas sócio-econômicos estavam associados às dificuldades de se recomeçar um sistema democrático. O Brasil passou toda a segunda metade dos anos 80 enfrentando esses problemas sem sucesso. E foi então que uma nova “moda” intelectual internacional surgiu. Ela se chamou consenso de Washington, pois foi elaborada na sede do Banco Mundial que fica naquela cidade, e defendia que várias das ações que o Brasil e outros países haviam tomado buscando seu desenvolvimento econômico desde os anos 50 estavam erradas ou precisavam ser mudadas. Economias fechadas ao comércio internacional, empresas estatais, produção voltada exclusivamente para o mercado interno, desequilíbrio fiscal nas contas dos governos e outras ações / situações desse tipo passaram a ser vistas como as causas da falta de crescimento econômico de países como o Brasil. Nesse momento, agora que não existe mais o desafio comunista devido à queda do mundo socialista entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, a ênfase não é mais na democracia, mas sim no bom funcionamento das economias. Esse bom funcionamento é entendido por muitos como privilegiando de forma exagerada a capacidade dos países de garantirem que os investimentos estrangeiros 63 neles nunca sofram perdas. De qualquer forma, desde o governo Collor o Brasil busca fazer as reformas apontadas pelo consenso de Washington. Muitas delas já foram feitas, mas nosso país nunca mais conseguiu iniciar um novo processo de desenvolvimento econômico como aquele que foi conseguido no período que vai de 1945 a 1975. Ironicamente, hoje o Brasil é uma sociedade mais democrática do que jamais foi. Desde 1985 estamos construindo um processo democrático que está consolidando-se de forma muito rápida. Evidentemente, os desafios que devemos enfrentar são enormes. Nossa sociedade continua muito desigual e injusta, econômica e politicamente. Mas hoje todos temos consciência de que nosso desenvolvimento como sociedade mais justa e próspera passa pelo desenvolvimento da economia e da democracia de forma conjunta. Todos sabem que o Estado brasileiro tem que enfrentar restrições econômicas, que a condução da política econômica não pode ser mais feita. Esses desafios são grandes, mas desfrutando de liberdade democrática podemos esperar que consigamos superar a todos construindo um país bem melhor do que temos atualmente. Bibliografia adicional: BATISTA, Paulo Nogueira (1992). “Nova Ordem ou Desordem Internacional?”, in Política Externa n.1, editora Paz e Terra, junho. CERVO, Amado Luiz e BUENO, Clodoaldo (2002). Historia da Política Exterior do Brasil. Editora da Universidade de Brasília. HOBSBAWM, Eric (1995). Era dos Extremos – O Breve Século XX: 1914-1991. Editora Companhia das Letras. HUNTINGTON, Samuel P. (1999). “A Superpotência Solitária”, in ‘Foreign Affairs’ (edição brasileira), Gazeta Mercantil, 12 de março. JAGUARIBE, Helio (1992). “A Nova Ordem Mundial”, in Política Externa n.1, editora Paz e Terra, junho. 64