vacinas e vacinações: uso de vacinas como ferramenta

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sanidade
Texto: Marcos Veiga dos Santos
Tiago Tomazi
vacinas e vacinações:
uso de vacinas como
ferramenta para controle
da mastite bovina
A vacinação é uma das formas de aumentar a capacidade de resposta imune da vaca contra um
agente patogênico causador de mastite. Os programas de vacinação podem ser usados para melhorar a resistência das vacas contra um microrganismo específico já que, após a imunização, ocorre
migração mais rápida de células de defesa para o local da infecção e a estimulação da produção de
anticorpos específicos, com o objetivo de inibir o crescimento bacteriano e a produção de toxinas.
A vacinação contra mastite é uma ferramenta auxiliar que visa atingir um ou mais dos seguintes objetivos: prevenir a ocorrência de novas infecções intramamárias, reduzir a gravidade e frequência de sintomas clínicos e auxiliar na eliminação de infecções crônicas. Atualmente, dentre os
patógenos causadores de mastite de maior importância, dois grupos se destacam em relação ao
potencial de aumento da capacidade de resposta imune da glândula mamária por meio da vacinação: coliformes e Staphylococcus aureus.
Vacinação como ferramenta de
sas células, chamadas em conjunto de
mente os micronutrientes, como o se-
controle e prevenção
células somáticas, incluem os neutrófi-
lênio, vitamina E e cobre, que possuem
As atuais medidas de controle de
los, os macrófagos e os linfócitos, que
o efeito de aumentar a capacidade de
mastite em rebanhos leiteiros têm sido
aumentam rapidamente de concentra-
resposta imune do animal contra infec-
recomendadas com base em três prin-
ção na glândula mamária em resposta
ções. Pesquisas recentes indicam que
cípios básicos: eliminação de infecções
à presença de bactérias. O aumento
deficiências de vitamina E e selênio re-
existentes, redução das novas infecções
das células somáticas, observado du-
sultam em aumento da incidência de
e monitoramento da mastite. Grande
rante o início dos quadros de mastite,
mastite. Dessa forma, um adequado
ênfase e esforços de pesquisa têm sido
tem o objetivo de fagocitar e eliminar
fornecimento desses nutrientes é fun-
empregados em medidas de tratamen-
as bactérias. No entanto, essa atividade
damental para aumentar a capacidade
to, preventivas e de higiene do am-
fagocitária é inibida pela fagocitose dos
de resposta imune da vaca.
biente, e durante a ordenha. Contudo,
componentes do leite, entre os quais a
A vacinação é outra das formas de
outro importante enfoque do controle
caseína e a gordura, o que diminui a efi-
aumentar a capacidade de resposta
de mastite é a melhoria da resistência
ciência dessas células.
imune da vaca contra um agente pa-
da vaca e o aumento da capacidade de
Os anticorpos ou imunoglobulinas
togênico. Os programas de vacinação
resposta imune frente aos agentes pa-
constituem outro importante meca-
podem ser usados para melhorar a re-
togênicos. Dessa forma, os mecanismos
nismo de resistência, uma vez que são
sistência das vacas contra um agente
de controle poderiam atuar de forma
específicos contra um tipo de agente
específico já que, após a imunização,
conjunta e mais eficiente, tanto na pre-
causador de mastite. A principal fun-
ocorre migração mais rápida de neu-
venção de novas infecções, quanto na
ção dos anticorpos no leite é marcar as
trófilos para o local da infecção e a es-
eliminação de infecções existentes.
bactérias, facilitando, assim, o reconhe-
timulação da produção de anticorpos
cimento para a fagocitose e eliminação
específicos pelos linfócitos, com o obje-
pelas células do sistema imune.
tivo de inibir o crescimento bacteriano
Quando uma bactéria consegue invadir o canal do teto e adentrar a glândula mamária, as células do sistema
A nutrição da vaca leiteira tem
e a produção de toxinas. Em relação à
imune iniciam uma resposta, na tenta-
também um papel importante sobre a
mastite, as vacinas foram desenvolvidas
tiva de eliminar o patógeno invasor. Es-
saúde da glândula mamária, principal-
contra um agente específico, com obje-
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tivo de prevenção, e não, tratamento da
tenção de níveis elevados de anticorpos
ocorre principalmente entre as orde-
mastite.
no leite, e esquemas de vacinação de-
nhas, embora possa ocorrer também
A vacinação contra mastite busca
ficientes. Atualmente, dentre os pató-
durante as ordenhas e no período seco.
atingir pelo menos um dos seguintes
genos causadores de mastite de maior
As mastites causadas por coliformes
objetivos:
importância, dois grupos se destacam
têm como característica principal a ma-
• Prevenir a ocorrência de novas
em relação ao potencial de aumento da
nifestação clínica aguda, com alguns
infecções intramamárias;
capacidade de resposta imune da glân-
casos de comprometimento sistêmico
• Reduzir a gravidade e frequência
dula mamária por meio da vacinação:
do animal, que pode apresentar endu-
de sintomas clínicos;
coliformes e Staphylococcus aureus.
recimento do quarto afetado, desidra-
• Auxiliar na eliminação de infecções
tação, falta de apetite, febre e toxemia.
crônicas.
Mastite causada por coliformes
A morte ocorre em cerca de 5% dos ca-
Os resultados obtidos nos estudos
Os coliformes são um grupo de bac-
sos. Os sintomas de mastite aguda ocor-
iniciais com vacinas contra mastite
térias gram-negativas, cujos principais
rem em resposta à liberação de toxinas
apresentaram resultados variáveis, em
representantes são: Escherichia coli,
pelos coliformes. A produção é severa-
razão da grande diversidade de micror-
Klebsiella sp e Enterobacter sp. A princi-
mente reduzida e o leite pode apresen-
ganismos causadores, conhecimento
pal fonte destes agentes é o ambiente
tar aspecto aquoso e com presença de
incompleto sobre os fatores de virulên-
da vaca, em locais como esterco, urina,
grumos. Esses sintomas resultam em
cia e imunidade, dificuldade de manu-
barro e camas orgânicas. A transmissão
grandes prejuízos aos rebanhos afeta-
A principal fonte de coliformes é o ambiente da vaca
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para controle da mastite bovina
dos, mas não representam uma garan-
de fundamental importância em siste-
animais vacinados. Além da redução de
tia de que o agente causador sejam os
mas de confinamento. Considerando
70-80% na ocorrência de casos clínicos,
coliformes. Tipicamente, esses casos de
que esses patógenos ambientais estão
o uso dessa vacina diminui a gravidade
mastite ocorrem nas duas primeiras se-
disseminados por todo o ambiente da
dos sintomas clínicos e reduz os riscos
manas após a secagem ou nos três pri-
vaca, é praticamente impossível erra-
de morte e de descarte das vacas com
meiros meses de lactação. Mesmo que a
dicar o tipo de mastite causada pelos
mastite causada por coliformes. As
grande maioria das infecções causadas
mesmos, colocando todas as categorias
perdas de produção de leite de vacas
por E. coli seja de curta duração (menos
animais - vacas em lactação, vacas se-
vacinadas com vacina J5 são 75% me-
de 10 dias), algumas cepas específicas
cas e novilhas - em risco.
nores que as observadas nas vacas não
podem causar infecções crônicas.
vacinadas. O uso da vacina J5 durante
Vacinas contra mastites causadas
a lactação pode reduzir a produção de
nando uma preocupação ainda maior
por coliformes
leite (aproximadamente 5-7%) durante
em rebanhos com rigoroso controle de
Uma importante estratégia de con-
alguns dias após a aplicação.
mastite contagiosa, que leva à redução
trole da mastite causada por coliformes
O uso da vacina J5 deve ser uma re-
da CCS e, consequentemente, ao au-
é o aumento da resistência da vaca
comendação para todos os rebanhos?
mento dos riscos de novas infecções
contra esses agentes por meio da vaci-
Considerando as diferenças de preva-
intramamárias causadas por coliformes.
nação. Diversas vacinas foram testadas
lência dos agentes causadores de mas-
As estratégias atuais de controle de
contra esse tipo de mastite, no entanto,
tite entre os rebanhos, o uso de vacina-
mastite ambiental baseiam-se na redu-
devido à grande heterogeneidade dos
ção somente teria indicação quando
ção da contaminação na extremidade
antígenos desse grupo de bactérias, os
houver risco ou alta ocorrência desse
dos tetos, por meio de um bom manejo
primeiros resultados foram insatisfató-
tipo de mastite. Nesses casos, como a
do ambiente, uma vez que o maior risco
rios. Entretanto, no final da década de
vacina tem o potencial de evitar a mor-
de novas infecções, geralmente, ocorre
1980, com a identificação e isolamento
te de animais, seu uso justifica-se como
no período entre e durante as ordenhas.
de uma cepa rugosa mutante de Esche-
medida de prevenção, principalmente
Dentre as principais medidas de contro-
richia coli, denominada J5, foi possível o
em rebanho mais especializados e com
le, destacam-se o uso de pré-dipping, a
desenvolvimento de vacina com com-
vacas de alta produção. Um estudo in-
redução da quantidade de água utiliza-
provada eficácia contra coliformes. Essa
dicou que a relação custo/benefício do
da durante a ordenha para limpeza da
cepa mutante é capaz de sintetizar um
uso de programas de vacinação contra
vaca e dos equipamentos, e a adequada
antígeno interno (lipopolissacarídeo),
coliformes (Vacina J5) é economica-
manutenção do equipamento de orde-
que estimula a resposta imune da vaca
mente justificável quando a incidência
nha. No momento da secagem, o uso
contra os grupos de coliformes causa-
de mastite clínica causada por esses mi-
de tratamento específico para vacas se-
dores de mastite.
crorganismos é superior a 1% no reba-
As mastites ambientais vêm se tor-
cas, em associação com selante interno
Os primeiros estudos que avaliaram
nho, ou quando há elevada ocorrência
de tetos, auxilia na prevenção de novos
a vacina E. coli J5 foram desenvolvidos
de casos agudos, nos quais há risco de
casos de mastite causados por colifor-
na Califórnia. O uso de 3 doses da vaci-
morte das vacas afetadas.
mes, durante o período seco.
na, administradas na secagem, 30 dias
O correto dimensionamento das
depois, e 10 dias após o parto, reduziu
Por que o controle de mastite
instalações e o uso de camas inorgâni-
a incidência de mastite clínica nos 100
causada por Staphylococcus
cas, com o objetivo de proporcionar ao
primeiros dias de lactação de 12,8%, em
aureus é difícil?
animal um ambiente limpo e seco, são
animais não vacinados, para 2,6%, em
S. aureus é considerado o principal
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A transmissão de S. aureus ocorre principalmente durante as ordenhas
agente causador das mastites conta-
por S. aureus apresentam-se na forma
giosas em vacas leiteiras, uma vez que
subclínica, no entanto, podem ocorrer
apresenta alta prevalência em rebanhos
casos clínicos eventuais. Dentre as ca-
de todo o mundo. Em muitos rebanhos,
racterísticas que tornam esse micror-
cerca de 30 a 50% dos casos de mastite
ganismo um dos principais agentes
têm como causa S. aureus. Esse micror-
causadores de mastite, destaca-se a alta
ganismo é uma bactéria gram-positiva,
capacidade de invasão, que permite
sendo geralmente encontrado coloni-
a infecção de regiões mais profundas
zando a pele e o canal do teto, e o in-
da glândula mamária. Adicionalmente,
terior da glândula mamária. A transmis-
ocorre formação de tecido fibroso, for-
são ocorre principalmente durante as
mando “bolsões” de bactérias que difi-
ordenhas, por meio das teteiras e equi-
cultam a chegada dos antibióticos ao
pamento de ordenha, pelas mãos dos
foco da infecção. Essas características
ordenhadores, e/ou panos e esponjas
explicam porque o S. aureus causa in-
de uso múltiplo. Uma vez no interior da
fecções de longa duração, com tendên-
glândula mamária, esse agente é capaz
cia à cronificação e baixa taxa de cura,
de fixar-se às células epiteliais e iniciar
tanto espontânea quanto com a utili-
uma infecção, a qual tende a se tornar
zação de antibióticos. Os tratamentos
crônica e manter elevada CCS. A infec-
com antibióticos, durante a lactação,
ção intramamária pode causar necrose
apresentam resultados insatisfatórios,
do tecido mamário, com consequente
pois este microrganismo é resistente à
perda de função secretora, o que leva
maioria das bases disponíveis. Parte das
à redução significativa da produção de
falhas de controle do S. aureus ocorre
leite.
em razão das diferenças de virulência
Tipicamente, as infecções causadas
entre as cepas desse microrganismo, o
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Vacinas e Vacinações - uso de vacinas como ferramenta
para controle da mastite bovina
Figura 1. Principais tipos de antígenos utilizados em vacinas contra mastite
causada por S. aureus. Fonte: Adaptado de Wallemacq et al. 2010
mente estudada com vistas à redução
da mastite por S. aureus desde 1970. Os
primeiros trabalhos não obtiveram su-
Vacinas contra S. aureus
cesso, pois foram utilizadas bacterinas
derivadas do crescimento in vitro des-
Bactérias inteiras
Subunidades
se agente, as quais eram, em seguida,
inativadas. Os resultados obtidos com
Lisados celulares
Inativados
Atenuados
Proteína
Polissacarídeos
o uso dessas vacinas apontavam como
vantagens a redução da severidade
dos sintomas, e apresentavam efeitos
Toxinas
Proteínas
de membrana
positivos no aumento da taxa de cura
espontânea, mas não propiciavam redução do número de novas infecções.
que resulta em diferenças na capacida-
vacinação deve ser visto com uma fer-
de de resposta da vaca e nos resultados
ramenta auxiliar, e não como substituto
do tratamento. Além disso, existe gran-
das demais medidas de controle e pre-
Vacinas inativadas
de variação em relação à sensibilidade
venção.
Nas vacinas inativadas, as bactérias
perdem a patogenicidade, mas man-
das cepas de S. aureus aos antibióticos,
destacando-se a resistência à penicilina.
Vacinas contra Staphylococcus
tém seus antígenos, os quais estimu-
Em vacas infectadas com cepas resis-
aureus
lam, principalmente, a resposta imune
tentes, os resultados de tratamento são
O desenvolvimento de vacinas con-
humoral (anticorpos) do animal. Os
insatisfatórios, ainda que as mesmas
tra S. aureus tem sido objeto de estudos
principais estudos com essas vacinas fo-
possam ser sensíveis quando testadas
desde a metade do século passado.
ram feitos na Nova Zelândia, na década
in vitro.
Assim como no caso dos coliformes, os
de 1980. Em um desses estudos, vacas
primeiros trabalhos apresentaram re-
vacinadas com uma bacterina comer-
sultados insatisfatórios.
cial e não-vacinadas foram monitora-
O controle da mastite causada por
S. aureus tem como base a prevenção
da transmissão desse microrganismo
As vacinas desenvolvidas desde en-
das pelo período de duas lactações. Os
das vacas infectadas para as sadias. A
tão podem ser classificadas com relação
resultados indicaram que a incidência
prevenção pode ser feita pela segre-
ao tipo de antígeno utilizado. Existem
de infecção intramamária causada por
gação dos animais infectados, adequa-
vacinas produzidas com o uso de mi-
Staphylococcus aureus foi similar entre
da higiene de ordenha (pós-dipping),
crorganismos inteiros (bactérias vivas
os animais que receberam e os que não
tratamento de vacas secas, e descarte
atenuadas e inativadas, ou extratos
receberam a vacina. No entanto, foi ve-
de vacas com mastite crônica que não
bacterianos totais), e com fragmentos
rificada que a taxa de cura espontânea
respondem ao tratamento com antibió-
ou subunidades bacterianas, como pro-
durante a lactação foi de 62% para as
ticos. O uso de linha de ordenha auxilia
teínas, DNA e polissacarídeos (Figura 1).
vacas vacinadas, e de apenas 21% para
na redução da transmissão de S. aureus,
A forma mais simples de vacina é
as não vacinadas. Esses resultados mos-
sendo recomendado primeiramente
aquela produzida com microrganismos
traram que o uso dessa vacina aumen-
a ordenha das vacas sadias, antes da-
íntegros (vacinas atenuadas ou inativa-
tou os mecanismos de defesa natural da
quelas já identificadas com S. aureus.
das) ou lisados produzidos a partir de
glândula mamária contra S. aureus.
Dentro de um programa de redução de
bactérias, com ou sem adjuvantes. A
Em outro estudo, essa mesma va-
mastite causada por S. aureus, o uso de
utilização de tais vacinas foi extensiva-
cina inativada foi administrada em no-
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vilhas prenhes, antes do parto, confir-
significativo na resposta imune humo-
mando a redução dos sintomas clínicos
ral específica no grupo de animais va-
observados em estudos anteriores. No
cinados, em comparação àqueles não
entanto, nenhuma diferença foi obser-
imunizados. No entanto, após a vacina-
vada quanto à redução das contagens
ção não foi observada diferença na car-
bacterianas individuais a partir da glân-
ga bacteriana do leite ou na imunidade
dula mamária. Além disso, observou-se
específica entre os grupos.
um aumento na produção de imuno-
A utilização de vacinas que contém
globulinas específicas, porém a concen-
microrganismos patogênicos inativos
tração desses anticorpos no leite não
ou atenuados reduz a necessidade de
foi suficiente para permitir proteção
identificar antígenos protetores. No
adequada contra S. aureus.
entanto, esse tipo de imunização tem
Outro trabalho, utilizando vacina
a potencial desvantagem de desviar ou
inativada a base de proteína A, avaliou
diluir a resposta imune protetora contra
um grupo de vacas durante 3 lactações.
antígenos não específicos da mastite,
Os resultados mostraram que a vacina-
além de não serem totalmente seguras.
ção não reduziu o número de infecções
Portanto, se o antígeno protetor for co-
intramamárias causadas por S. aureus,
nhecido, a vacina torna-se mais segura
mas houve aumento da taxa de cura
e eficaz, pois a resposta imune da vaca
espontânea, quando comparada com
atuaria diretamente sobre o alvo de
aquela observada para o grupo não
interesse. Com base nessa informação,
vacinado (83%: proteína A; 47%: não va-
as vacinas desenvolvidas a partir de su-
cinado). Por outro lado, a contagem de
bunidades ou fragmentos bacterianos
células somáticas dos quartos infecta-
passaram a ser estudadas. Esse tipo de
dos foi menor no grupo de animais va-
vacina é obtido por meio da purifica-
cinados. Os resultados desse estudo in-
ção direta de subunidades de bactérias,
dicaram que, ainda que a vacinação não
pela produção de antígenos recombi-
tenha reduzido a incidência de mastite
nantes. Os componentes antigênicos
causada por S. aureus, houve aumento
de vacinas de subunidades bacterianas
da taxa de cura espontânea.
podem ser de natureza proteica (proteína de membrana ou toxina), polissaca-
Vacinas atenuadas
rídea, ou mista (também chamada de
Uma segunda classe de vacinas pro-
vacina conjugada).
duzidas a partir de bactérias inteiras é
Em um estudo realizado na Argen-
formada pelas vacinas atenuadas, que
tina, uma vacina baseada em antígenos
têm como princípio a mimetização de
da pseudocápsula de S. aureus foi tes-
uma infecção natural, já que os micror-
tada em novilhas durante um período
ganismos presentes na vacina possuem
de 7 meses. Um grupo de novilhas re-
capacidade de se multiplicarem na
cebeu duas doses da vacina na 8a e 4a
glândula mamária. Uma vacina desen-
semana antes do parto, e o outro grupo
volvida a partir de uma cepa não-viru-
foi vacinado na 1a e 5a semanas após o
lenta de S. aureus foi avaliada em um
parto. Os resultados demonstraram que
estudo, no qual observou-se aumento
as novilhas vacinadas tiveram redução
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Vacinas e Vacinações - uso de vacinas como ferramenta
para controle da mastite bovina
lência, pois facilitam a adesão do S. aureus ao tecido mamário e inibem a sua
fagocitose pelas células de defesa da
vaca. O objetivo das vacinas de polissacarídeos é a produção de anticorpos,
especificamente dirigidos contra polissacarídeos presentes na superfície do S.
aureus. Em geral, os polissacarídeos não
apresentam um potencial imunogênico considerável, o que torna necessária
sua associação com adjuvantes e proteínas transportadoras. Um grupo de
pesquisadores avaliou o efeito de uma
vacina contendo três polissacarídeos
capsulares de S. aureus com diferentes
adjuvantes sobre a resposta imune e
a produção de anticorpos em vacas
leiteiras. A produção de anticorpos específicos para cada antígeno capsular
das novas infecções causadas por S. au-
produzida com um toxoide elaborado a
aumentou nas vacas vacinadas, indi-
reus de 18,8% para 6,7%. Para a mastite
partir de três cepas bacterianas de S.
cando capacidade de induzir resposta
subclínica, houve redução de 8,6% para
aureus com diferentes padrões de he-
contra os antígenos de polissacarídeos
3%, com o uso da vacina. Essa mesma
mólise. Após a vacinação, os animais
capsulares.
vacina foi testada em vacas adultas
foram desafiados com uma cepa alta-
em dois rebanhos comerciais, também
mente virulenta de S. aureus adminis-
Potencial das vacinas contra
na Argentina. Os resultados indicaram
trada por via intra-mamária. Não foram
mastite causada por S. aureus
uma redução das infecções intramamá-
observados efeitos sistêmicos nas vacas
Ainda que não exista, atualmente,
rias causadas por S. aureus. O índice de
vacinadas ou não vacinadas, no entan-
nenhuma vacina capaz de prevenir com
mastite clínica diminuiu de 2,3% para
to, as vacas vacinadas apresentaram
elevada eficácia novas infecções causa-
0,6%, enquanto a mastite subclínica
proteção de 70% contra a infecção in-
das por S. aureus, em termos gerais, os
foi reduzida de 10,7% para 6,8%, entre
duzida, em comparação com menos de
estudos apontam que, dependendo do
animais não vacinados e vacinados, res-
10% nas vacas do grupo controle. Além
tipo de vacina utilizado e da tecnologia
pectivamente.
disso, todos os quartos desafiados, nas
empregada, podem ser obtidos os se-
vacas vacinadas, exibiram reações infla-
guintes potenciais benefícios:
Vacinas a base de toxóides
matórias muito brandas, identificados
• Moderada redução da prevalência
Vacinas a base de toxóides de S. au-
por CCS <100.000 células/mL.
de mastite clínica e subclínica
reus são produzidas pela atenuação de
causada por S. aureus;
toxinas, as quais perdem a ação tóxica,
Vacinas de polissacarídeos
• Maior taxa de cura espontânea de
mas mantém a ação protetora específi-
Os polissacarídeos, assim como as
infecções causadas por S. aureus;
ca contra a toxina. Um estudo foi desen-
proteínas de superfície ou toxinas, re-
• Redução da gravidade e duração
volvido em Israel para testar uma vacina
presentam um importante fator de viru-
dos casos de mastite causados por
abril | 2012 | REVISTA LEITE INTEGRAL | 26
S. aureus.
mento intramamário com pirlimicina,
Para controlar a mastite causada por
em todos os quartos mamários, durante
S. aureus, deve-se implantar um bom
5 dias consecutivos (do 16º ao 20º). As
programa preventivo, com especial
vacas do outro grupo (23 animais) não
atenção para a segregação dos animais
receberam nenhum tipo de tratamento.
positivos, para o adequado funciona-
Todos os animais foram monitorados
mento do equipamento de ordenha, e
mensalmente, durante três meses após
uso do pós-dipping. O uso de vacinas
o tratamento, para identificação da taxa
contra mastite causada por S. aureus
de cura.
pode ser utilizado em fazendas com alta
A combinação de vacinação e tra-
prevalência desse agente, dando-se ên-
tamento intramamário com pirlimici-
fase ao seu uso em animais jovens, ob-
na resultou em maior taxa de cura das
jetivando aumentar a resistência contra
vacas tratadas (8/20=40%) em compa-
o S. aureus e reduzir os prejuízos causa-
ração com as vacas do grupo controle
dos por este microrganismo.
(2/23=9%). As vacas tratadas apresenta-
Nos rebanhos com alta porcenta-
ram maior número de quartos curados
gem de vacas infectadas por S. aureus, o
(13/28=46%) do que as vacas controle
descarte de todos os animais doentes é
(2/41=5%). A conclusão do estudo indi-
muitas vezes impraticável, em razão do
ca que a combinação entre vacinação e
custo e da perda de material genético.
tratamento antibiótico auxilia na elimi-
Nesses casos, a busca de alternativas
nação de mastite crônica causada por S.
para reduzir os prejuízos causados pelas
aureus, com resultados de redução de
infecções crônicas passa a ser uma ne-
46% dos quartos infectados. Analisan-
cessidade. Entre os diferentes protoco-
do economicamente esse tipo de es-
los desenvolvidos para essas situações,
tratégia de controle, o maior custo é o
podemos citar o uso da vacinação, em
do tratamento intramamário e descarte
conjunto com o tratamento com antibi-
do leite, sendo pequeno o valor das do-
óticos. Com o objetivo de determinar a
ses de vacina em relação ao custo total.
eficácia da combinação de vacinação e
Dessa forma, mesmo que a vacinação
terapia estendida sobre a eliminação de
tenha apenas um benefício limitado
mastite crônica causada por S. aureus,
nessa estratégia, possivelmente a sua
foi desenvolvido um estudo clínico a
utilização seria positiva, em razão do
campo. Inicialmente, foram identifica-
baixo custo.
das, em três rebanhos diferentes, 43 vacas com infecção crônica causada por S.
aureus, as quais foram classificadas em
dois grupos homogêneos, com base
Marcos Veiga dos Santos
Professor Associado da Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia
FMVZ/USP
nos dias em lactação, número de lactações, produção de leite e quantidade
de quartos infectados. Um dos grupos
(20 vacas) recebeu três doses de vacina
comercial contra S. aureus no 1º, 15º e
21º dias do estudo, seguido pelo trata-
Tiago Tomazi
Mestrando em Nutrição e Produção Animal
FMVZ/USP
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