O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA Mato Grosso: O ESTADO DA DESTRUIÇÃO índice Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . como é medido o desmatamento na amazônia?. . . . . . o avanço do gado sobre a floresta. . . . . . . . . . . . . . distribuição da infra-estrutura. . . . . . . . . . . . . . . desmatamento no mato grosso e frigoríficos. . . . . . o rastro da pecuária na amazônia. . . . . . . . . . . . . . 3 4 5 6 7 8 Nortão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 extremo sul do bioma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 eixo br-163 – alta floresta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 nascentes do rio xingu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 desmatamento e uso da terra. . . . . . . . . . . . . . . . . patrimônio florestal ameaçado . . . . . . . . . . . . . . . a pressão sobre os biomas amazônia e cerrado. . . . . metodologia do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . alguns motivos para não trocar a floresta por pasto . . . . . . . . . . . . . . . o que precisa ser feito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERênciaS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 11 12 13 14 14 15 Amazônia Legal Brasileira Fronteira do estado do Mato Grosso Limite do Bioma Amazônico Amazônia ameaçada A bacia Amazônica ocupa cerca de 5% da superfície terrestre, uma área de aproximadamente 6,5 milhões de quilômetros quadrados, distribuídos em nove países da América do Sul. Abriga a maior rede hidrográfica do planeta, que escoa cerca de 1/5 do volume de água doce do mundo. Cerca de 60% da Amazônia (4,1 milhões de km2) se encontram no Brasil 1. 2 A Amazônia Legal brasileira é uma denominação políticoadministrativa e engloba, além de todo o bioma Amazônia no país, áreas de Cerrado nos estados do Mato Grosso e Tocantins2. Até hoje, foram desmatados mais de 700 mil quilômetros quadrados da cobertura original de floresta amazônica no Brasil, área equivalente à dos estados do RS, SC, PR, RJ e ES juntos3. limites estaduais: ibge MAPA Imagem modis: Nasa (modis.gsfc.nasa.gov | bioma amazônia: ibge LocaLIZAÇÃO DO Mato Grosso NA REGIÃO AMAZÔNICA IntroduÇÃO O desmatamento e as mudanças no uso do solo são responsáveis por 75% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. Desse total, 59% decorrem da perda de cobertura florestal e queimadas na região amazônica5, colocando o país como quarto maior poluidor mundial do clima 6. O Brasil tem papel fundamental a cumprir para salvar o planeta dos efeitos das mudanças climáticas. Para isso, deve zerar o desmatamento até 2015, por meio de metas ambiciosas de redução, aliando uso responsável dos recursos naturais e conservação da biodiversidade com geração de emprego e renda. A compreensão das mudanças no uso da terra é fundamental para que o governo possa ampliar a governança, controlar a expansão da pecuária, da agricultura e de outros setores e decidir quais as melhores maneiras de reduzir e eliminar o desmatamento. Em 2003, um estudo financiado pelo Banco Mundial8 apontou a relação direta entre desmatamento e pecuária, bem como a lógica econômica por trás desse fato. A substituição da floresta por pastagens seria fruto da lucratividade da atividade, estimulada pelo baixo custo de terras florestadas. total DE REBANHOS E DESMATAMENTO A pecuária, cuja expansão é contínua e crescente desde a década de 1970, é a principal responsável pelos desmatamentos na Amazônia. Levantamento do Greenpeace com dados do Censo 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 79,5% das áreas utilizadas na Amazônia Legal Brasileira (excetuando-se o Maranhão) estão ocupadas por pastagens9. desmatamento (x 1.000 km ) O presente estudo do Greenpeace buscou mapear, de forma inédita, a localização das áreas de pastagem e agricultura na região Amazônica por meio de análise de dados e imagens de satélite do sensor Modis (Moderate-resolution Imaging Spectroradiometer). Inicialmente, optou-se pelo estudo da área do bioma Amazônia no estado do Mato Grosso, detentor do segundo maior rebanho bovino do Brasil e recordista em desmatamento acumulado7. Este documento traz um conjunto de mapas em que a geografia do uso da terra é comparada com dados de infra-estrutura, desmatamento e dinâmica regional. Estas informações são fundamentais para a tomada de decisões em relação ao uso do solo, financiamento de alternativas e ações de comando e controle a fim de reduzir e acabar com o desmatamento na Amazônia. Recentemente, a expansão da pecuária intensificou-se na região, acompanhando a crescente internacionalização de empresas brasileiras do setor. Entre 2002 e 2006, das 20,5 milhões de cabeças de gado adicionadas ao rebanho nacional, 14,5 milhões encontram-se na Amazônia10. Segundo dados do IBGE, há cerca de 3 cabeças de gado para cada habitante na região11,12. Essa presença massiva de gado na Amazônia decorre de mais de 30 anos de políticas públicas que estimularam a construção de infra-estrutura (estradas, represas), ocupação do território (migração induzida) e financiamento da atividade com fundos públicos da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e, mais recentemente, do Fundo Constitucional do Norte (FNO) e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 64,1 665 700 2 650 60 55 50 600 45 550 40 35 500 30 25 20 15 450 400 350 65 1988 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 01 02 03 04 gado gado (x 1.000.000) D e 2000 a 2007, o desmatamento na Amazônia brasileira avançou a uma média anual de 19.368 quilômetros quadrados. Em termos absolutos, isso significa 154.312 quilômetros quadrados de florestas completamente destruídos, uma área maior que a do estado do Acre 4. 10 desmatamento FONTE IMAZON O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA 3 Como é medido o desmatamento na Amazônia? Área desmatada Bioma Amazônia Brasil América do Sul A tendência de queda ou alta no desmatamento na Amazônia acompanha a variação do preço internacional das principais commodities agrícolas produzidas na região, principalmente carne e soja15. Quando os preços de ambos os produtos caem, a redução no desmatamento no ano seguinte acentua. TAXA DE DESMATAMENTO ANUAL COMPARADA AOS PREÇOS DA SOJA E DO GADO 35.000 50 30.000 25.000 40 20.000 30 15.000 20 10.000 10 5.000 julho/1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 gado soja desmatamento FONTE Imazon 4 2 60 área desmatada (km) esde 1988, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estima, anualmente, a taxa de desflorestamento na Amazônia Legal. A partir de 2002, estas estimativas passaram a ser produzidas por classificação digital de imagens do satélite Landsat, seguindo a metodologia Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes). Após atingir o segundo maior índice da história em 2004, o desmatamento anual caiu drasticamente até 200713. Em 2008, o desmatamento voltou a aumentar14. gado (R$) D dados de desmatamento: inpe, prodes MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace áreas de desmatamento mapeadas pelo prodes o avanço do gado sobre a floresta expansão da pecuária na amazônia legal entre 1996 e 2006 MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace Limite da Amazônia Legal CABEÇAS DE GADO POR MUNICÍPIO 0 - 50.000 50.001 - 200.000 200.001 - 400.000 400.001 - 1.000.000 1.000.001 - 2.000.000 A atividade pecuária na Amazônia Legal cresce a um ritmo vertiginoso: entre os anos de 1990 e 2003, o rebanho bovino cresceu 140%, passando de 26,6 milhões para 64 milhões de cabeças de gado. Mato Grosso e Pará juntos concentram 60% do rebanho bovino da Amazônia16. Esse crescimento vem acompanhado de constante pressão sobre a floresta para criação de novas áreas de pastagem. Segundo dados do IBGE, entre os anos de 1996 e 2006, a área de pastagem aumentou em cerca de 10 milhões de hectares só na Amazônia, o que corresponde ao território da Islândia17. dados do rebanho: ibge-sidra 2006 1996 área ocupada por pasto na amazônia legal (hectaRES) 55.439.553 50.000.000 40.000.000 30.000.000 23.424.117 20.000.000 10.000.000 0 1996 2006 FONTE IBGE: MARANHão Não incluso O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA 5 DISTRIBUIÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA Municípios Estradas não-oficiais Estradas oficiais Corpos d’água Bioma Amazônia E stradas são os principais vetores de ocupação da Amazônia. Estudo do Inpe aponta que cerca de 86% do desmatamento realizado até o ano 2000 estava a menos de 25 quilômetros de áreas de abertura pioneiras, que começaram a ser ocupadas economicamente por volta de 197818. Dois tipos de estradas predominam na região: oficiais e nãooficiais. As primeiras conectam a região Norte ao resto do Brasil e foram construídas principalmente pelo governo federal na década de 70. As estradas não-oficiais possuem abrangência local e em geral não aparecem nos mapas oficiais do Departamento Nacional de Infra-estrutura e Transporte (DNIT) e do IBGE19. A grande quantidade de estradas possibilita a produção de carne em áreas cada vez mais distantes das fazendas de gado. 6 dados da rede de estradas: ibge/sipam (2004) Frigoríficos MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace FRIGORÍficos e estradas no mato grosso desmatamento no Mato Grosso e frigoríficos Estradas principais Cana-de-açúcar Agricultura Pasto Floresta degradada A sobreposição das unidades de frigoríficos com registro no Serviço de Inspeção Federal (SIF) no mapa de uso do solo demonstra a distribuição do rebanho bovino em relação às localidades onde há infra-estrutura para abate. Nota-se uma forte concentração de desmatamento e pastagens no entorno dos frigoríficos. Com o apoio das estradas, essa influência estende-se por centenas de quilômetros. Até mesmo frigoríficos localizados no Cerrado têm influência sobre vastas áreas do bioma Amazônia. dados dos frigoríficos: imazon Frigoríficos MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace uso da terra e frigoríficos no mato grosso O que é o SIF? Os frigoríficos com registro no Sistema de Inspeção Federal (SIF) são aqueles autorizados a vender para outros estados brasileiros ou exportar. Embora representem apenas uma parcela dos existentes, geralmente pertencem a empresas de maior capacidade de produção. Dentre os 71 frigoríficos com SIF na Amazônia, 45 estão no Mato Grosso20. Além deles, há frigoríficos estaduais e municipais, além de uma parcela não quantificada do abate realizada de forma clandestina para consumo local. O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA 7 O rastro da pecuária na Amazônia A análise do uso da terra do Mato Grosso possibilitou identificar as principais áreas de expansão e consolidação da produção pecuária no bioma Amazônia no estado. Foi possível identificar quatro grandes núcleos dessa atividade, tanto em áreas de ocupação já consolidada, como nas fronteiras da destruição. Áreas de expansão da pecuária no bioma Amazônia, no estad Nortão A área delimitada pelos municípios de Juína, Juara, Apiacás e Colniza, no noroeste do Mato Grosso, representa uma das mais recentes áreas de expansão do desmatamento para a atividade pecuária na Amazônia brasileira. Nesse quadrilátero concentra-se a exploração predatória de madeira, seguida de queimada e desmatamento. Essa área encontra-se conectada por estradas a regiões consolidadas de desmatamento, como o estado de Rondônia a oeste, a rodovia BR-163 a leste e as áreas de produção do bioma Cerrado, ao sul. Nota-se, nos últimos três anos, uma aceleração na ocupação no extremo Norte, no entorno de Colniza, município que já possui comunicação com outra área de fronteira da expansão da pecuária, o sul do Amazonas. Nessas regiões de fronteira, a expansão da pecuária está fortemente associada à atividade madeireira predatória. Extremo sul do Bioma Trata-se de área significativa do bioma Amazônia que se expande no interior do Cerrado, no formato de uma “península”, contígua ao estado de Rondônia e à Amazônia boliviana. São áreas de desmatamento anterior a 2000, com a presença massiva de infra- 8 estrutura como estradas e grandes frigoríficos, destinados ao abate de animais. Hoje é caracterizada por extensas e contínuas pastagens, com baixa densidade de animais por hectare. É até difícil acreditar que ali houve, um dia, floresta Amazônica. estado do Mato Grosso Eixo BR-163 – Alta Floresta As áreas mais próximas à rodovia BR-163, criada nos anos 1970, têm ocupação consolidada, tendo sido desmatadas antes do ano 2000. Esta região é usualmente conhecida pela expansão de plantações de soja no Mato Grosso. Nota-se, no entanto, acima da cidade de Sinop e sobretudo no eixo perpendicular à BR que se estende a Alta Floresta, a predominância da pecuária, embora seja possível identificar a presença de inúmeros pontos de agricultura. Também se pode observar a expansão de desmatamento recente para pecuária no sentido norte, até a fronteira com o estado do Pará, e a oeste, conectando-se com a área adjacente. Áreas de expansão Capital do estado Capitais dos municípios Estradas principais Áreas indígenas Áreas de conservação Floresta degradada Agricultura Pasto Cana-de-açúcar Corpos d’água Bioma Amazônia Nascentes do Rio Xingu O curso do rio Xingu, no Mato Grosso, encontra-se protegido, desde sua origem, pelo parque indígena do Xingu, de 2.642.003 hectares21. As nascentes dos afluentes desse rio, porém, estão localizadas, em grande número, fora do parque. É nessa região, na borda nordeste do Mato Grosso, que se encontra outra das áreas de desmatamentos recentes destinados à atividade pecuária. A destruição das florestas no entorno das nascentes ameaça os mananciais do Xingu, bem como altera o equilíbrio ecológico que mantém a imensa biodiversidade e serve como base para o modo de vida de quase 6.000 indíos de 14 etnias diferentes. O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA 9 desmatamento e uso da terra Estradas principais Pasto Agricultura 55.439.553 Floresta degradada Limite do Bioma Amazônia 50.000.000 40.000.000 uso da terra na amazônia legal em 2006 uso da terra no cerrado: mma | uso da terra no bioma amazônia: modis, nasa MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace uso da terra em imagem de satélite 30.000.000 uso da terra na amazônia legal e no brasil em 2006 PASTo AGRICULTURA 20,5% 23.424.117 55.439.553 20.000.000 50.000.000 AMAZÔNIA LEGAL 55.439.553 HA TOTAL DE PASTOS NO BRASIL 172.333.073 HA 10.000.000 40.000.000 PASTO 79,5% 2006 0 30.000.000 AGRICULTURa 23.424.117 20.000.000 AMAZÔNIA LEGAL 14.272.549 HA TOTAL DE AGRICULTURA NO BRASIL 76.697.324 HA 10.000.000 source IBGE 10 0 1996 20 Patrimônio florestal Ameaçado Floresta ombrófila Limite do Bioma Amazônico Floresta estacional semidecidual Limite doestacional Bioma Amazônico Floresta decidual Floresta ombrófila Floresta ombrófila Ecotonos florestas & savanas Floresta estacional semidecidual Floresta estacional Formações pioneirassemidecidual Floresta estacional decidual Floresta estacional decidualsavanas Campinarama & ecotonos Ecotonos florestas & savanas Ecotonos florestas & savanas Refúgio vegetacional montana Formações pioneiras Formações pioneiras Campinarama & ecotonos savanas Campinarama & ecotonos savanas Refúgio vegetacional montana Refúgio vegetacional montana DADOS: ibge Limite do Bioma Amazônico MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace VEGETAçÃO original no estado do mato grosso A Amazônia é a maior floresta tropical do planeta e a região de maior biodiversidade do mundo22,23. A floresta desempenha papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos, do ciclo de chuvas e no equilíbrio climático do planeta. A Amazônia também é lar para mais de 20 milhões de pessoas, incluindo mais de 200 mil indígenas de 180 povos distintos24, além de milhares de comunidades tradicionais, como extrativistas, quilombolas e quebradeiras de côco, entre outras. O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA 11 a pressão sobre os biomas amazônia e cerrado uso da terra no Mato Grosso Parque indígena do Xingu Chapada dos Parecis Capital do estado Municípios Agricultura Cana-de-açúcar Pasto Floresta degradada A visualização do uso da terra no Mato Grosso, incluindo agora as áreas do bioma Cerrado, possibilita verificar o impacto da monocultura mecanizada, sobretudo de soja, sobre o estado, onde quatro grandes áreas agrícolas se destacam: 12 • A região de Lucas do Rio Verde é a de maior produção no Mato Grosso e sua mancha extravasa o bioma Cerrado, ocupando vastas áreas no bioma Amazônia. • A soja, cultura de uso intensivo de agroquímicos, como o gado, também ameaça as nascentes do rio Xingu, ocupando principalmente a área adjacente a sudeste do parque. • A região da chapada dos Parecis, entre a “língua” e o restante do bioma Amazônia, se expandiu, influenciada pelo eixo exportador Porto Velho – Santarém, pelo rio Amazonas. • Novas tecnologias para a produção e correção do solo levaram a uma grande expansão da agricultura no bioma Cerrado, como se verifica em todo o sudeste do Mato Grosso. MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace Lucas do Rio Verde VIROU FUMAÇA Agosto de 2008 Enquanto as pastagens se expandem na região Amazônica, a riqueza da biodiversidade brasileira vira fumaça, ajudando a agravar o aquecimento global. METODOLOGIA DO ESTUDO Este estudo utilizou imagens do sensor Modis (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), selecionadas a cada 16 dias (num total de 23 imagens de cada área) durante o período de 12 meses. Dessa forma, foi possível obter um panorama da vegetação de todo o estado do Mato Grosso, em um ano inteiro. A identificação do uso da terra em cada imagem foi obtida por meio de dois métodos. Inicialmente, as imagens foram separadas de acordo com seu EVI (Enhanced Vegetation Index), que compara diferentes níveis de atividade fotossintética e a concentração de vegetação. Com este método, foi possível localizar as áreas agrícolas e aquelas onde houve regeneração de vegetação em locais de desmatamento antigo previamente detectado pelo Prodes. Para identificar pastagens, florestas alteradas (por extração madeireira predatória) e áreas degradadas ou secundárias, foi necessário analisar visualmente cada série de imagens. Ao final, para avaliar a efetividade deste método, foram realizados sobrevôos na região leste do rio Xingu, no entorno da BR-163, na região de Sinop e ao norte de Alta Floresta. O QUE PRECISA SER FEITO pelo GOVERNO BRASILEIRO • Adotar medidas urgentes para zerar o desmatamento na Amazônia Brasileira até 2015. Isso inclui a adição imediata de uma moratória de cinco anos para o desmatamento, dando tempo para o país desenvolver os instrumentos necessários para atingir o desmatamento zero; • Apoiar um forte protocolo de Clima a ser firmado em Copenhagem em 2009, que inclua um fundo internacional para reduzir emissões por desmatamento e degradação (conhecido como REDD). Para que este mecanismo financeiro tenha credibilidade para proteger as florestas, ele deve obedecer aos seguintes princípios: ALGUNS MOTIVOS PARA NÃO TROCAR A FLORESTA POR PASTO • • • Florestas contêm um estoque fundamental de carbono: ecossistemas florestais armazenam cerca de uma vez e meia a quantidade de carbono atualmente presente na atmosfera25. O desmatamento de florestas tropicais é responsável por aproximadamente 20% das emissões globais de gases do efeito estufa, mais do que todo o setor de transportes no mundo26. Estima-se que a Amazônia armazene entre 80 e 120 bilhões de toneladas de carbono27,28. Caso toda a floresta fosse destruída, isso corresponderia a 50 vezes as emissões anuais dos Estados Unidos29. A pecuária na Amazônia tem impactos sociais devastadores, com os maiores índices de trabalho escravo do país. Em 2008, dos 3005 trabalhadores rurais libertados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, 99% eram mantidos cativos na região da Amazônia Legal30. • Cerca de 20 milhões de pessoas vivem na Amazônia, entre elas 200 mil indígenas de 180 grupos étnicos distintos31, que precisam da floresta para obter alimento, abrigo, ferramentas e fármacos, além de ter um papel central em sua vida espiritual. • Estudos recentes estimam que a Amazônia abrigue cerca de 40 mil espécies de plantas; 427 mamíferos; 1.294 pássaros; 378 répteis; 427 anfíbios e 3.000 espécies de peixes32. Muitas outras espécies ainda não foram descobertas. • A Amazônia produz cerca de 20% de toda a água doce na superfície da Terra33. A floresta influencia o ciclo hidrológico local e regionalmente, com o transporte da umidade produzida por correntes atmosféricas para outras regiões do Brasil e da América do Sul. A redução da cobertura florestal pode acarretar a diminuição na precipitação no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, afetando a produção agrícola34. • As emissões de metano por animais constituem uma das maiores fontes de emissões do setor agropecuário (cerca de 30%), o qual contribui com 10 a 12% das emissões globais de gases do efeito estufa35. • Para cada quilograma de carne bovina produzida são emitidos 13 quilogramas de CO2 equivalente36. Isso significa que, ao comer um quilo de bife, emite-se aproximadamente a mesma quantidade de gases do efeito estufa que ao se realizar um vôo de 100 quilômetros (considerando as emissões do vôo por pessoa)37. 14 • prover imediatamente fundos anuais suficientes para reduzir o desmatamento em florestas tropicais; • ser acessível a todos os países com florestas tropicais, mesmo aqueles com baixas taxas de desmatamento; • proteger a biodiversidade e o modo de vida dos povos indígenas; • ser protegido contra manobras contábeis nacionais e abordagens de redução de desmatamento; • não incluir diretamente a comercialização de títulos de carbono; • não encorajar a substituição de florestas naturais por plantadas e não subsidiar a expansão da indústria madeireira, do agronegócio e outras práticas destrutivas em áreas de floresta; • Não permitir alterações no Código Florestal brasileiro que possibilitem ampliar o desmatamento legalizado; • Redirecionar os investimentos hoje destinados a atividades destrutivas para iniciativas sustentáveis, incluindo uso responsável de produtos florestais por populações tradicionais; • Ampliar os recursos materiais e humanos destinados a monitorar e controlar os crimes ambientais, para garantir o cumprimento da lei e a presença do Estado na Amazônia. REFERências pelA indústria • Apoiar publicamente o Desmatamento Zero na Amazônia; • Interromper a produção e o comércio de produtos relacionados com novos desmatamentos e comunicar aos seus fornecedores que não comprarão mais de fazendas ou empresas responsáveis por novos desmatamentos; • Divulgar amplamente a origem de seus produtos, como carne ou couro, aos consumidores; • Reduzir suas próprias emissões de gases do efeito estufa, em acordo com os cortes globais de emissões necessários; • Exigir publicamente dos governos um forte protocolo do Clima a ser firmado em Copenhagen em 2009, que inclua um fundo internacional para proteger as florestas e reduzir emissões por desmatamento e degradação. Este fundo deve financiar os serviços ambientais prestados pelas florestas em terras públicas e privadas. pelos BANCOS E INVESTIDORES • Interromper o financiamento de empresas envolvidas em desmatamento no bioma Amazônia. pelos CIDADÃOS • Unir-se ao Greenpeace na campanha pelo Desmatamento Zero na Amazônia até 2015, participando de petições ao governo brasileiro, governos de outros países e à comunidade internacional, para acabar com o desmatamento; • Exigir, junto com o Greenpeace, que governos e empresas adotem medidas reais para interromper o desmatamento e salvar o clima do planeta. Em particular, pressionar governos por um forte acordo para a redução de emissões em Copenhagen em 2009; • Adotar um estilo de vida visando a reduzir suas próprias emissões de carbono. Isto pode incluir a redução na quantidade de carne consumida ou exigir que comerciantes apresentem a origem dos produtos que vendem. 1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE lança o Mapa de Biomas do Brasil e o Mapa de Vegetação do Brasil, em comemoração ao Dia Mundial da Biodiversidade. 2004. Disponível em: www.ibge. gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169. Acesso em: 26 de nov. 2008. 2 Neste relatório, a floresta amazônica refere-se a todo o bioma – plantas e animais que fazem parte deste ecossistema. 3 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Estimativas Anuais desde 1988 até 2007. Disponível em: http://www.obt.inpe.br/prodes/prodes_1988_2007.htm. Acesso em: 26 de nov. 2008. 4 Ibid 3. 5 Ministério de Ciência e Tecnologia. Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa. 2006. 6 World Resources Institute. Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) Versão 4.0. 2007. 7 Ibid 5. 8 Margulis, S. Causas do Desmatamento da Amazônia Brasileira. 1ª Ed. Brasília: Banco Mundial,2003. 100p. 9 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006. Disponível em: http://www.ibge. gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/default.shtm. Acesso em: 29 de out. 2008. 10 Ibid 9. 11 Ibid 9. 12 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem da População 2007. Disponível em: http://www. ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/default.shtm. Acesso em: 29 de out. 2008. 13 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Sistema DETER. Disponível em: http://www.obt.inpe.br/ deter. Acesso em: 4 de nov. 2008. 14 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Estimativas Anuais desde 1988 até 2008. Disponível em: http://www.obt.inpe.br/prodes/prodes_1988_2008.htm. Acesso em: 16 de dez. 2008. 15 Barreto, P. Porque o desmatamento cai e desce? In: 5º Seminário Técnico-Científico de Análise de Dados Referentes ao Desmatamento. MMA/INPE. IMAZON, Anápolis. 38p., 2007. 16 Barreto, P.; et al. Pecuária e Desafios para a Conservação Ambiental na Amazônia. O Estado da Amazônia, n.5, p. 1-4, 2005. 17 Ibid 9. 18 Alves, D. O. Processo de desmatamento na Amazônia. Parcerias Estratégicas, n.12, p.259-275, 2001. 19 Brandão Jr., A. O. et al. Desmatamento e estradas não-oficiais da Amazônia, In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO , 13, 2007, Florianópolis. Anais... INPE, p.2357-2364, 2007. 20 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: www.agricultura.gov.br. Acesso em: 29 de out. 2008. 21 Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral. Anuário Estatístico de Mato Grosso (2004). Cuiabá: SEPLAN-MT. Central de Texto, 2005. Vol.26. 718p. 22 Ibid 1. 23 Ministério do Meio Ambiente. Brazilian Biodiversity. In: MMA, First national report for the convention on biological diversity – BRASIL, 1998, 10p. Disponível em: www.cbd.int/doc/world/br/ br-nr-01-p1-en.pdf. Acesso em: 26 nov. 2008. 24 Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – CO IAB. História, 2006. 25 Watson, R. T., et al. Land use, land-use change, and forestry: Special report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000. 375p. 26 IPCC, 2007: Climate Change 2007: Mitigation. Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. [B. Metz, O.R.Davidson, P.R. Bosch, R. Dave, L.A. Meyer (eds)], Cambridge University Press, Cambridge, Reino Unido e Nova York, NY, EUA. 852p., 2007. 27 Saatchi, S.S., et al. Distribution of aboveground live biomass in the Amazon Basin. Global Change Biology, 13: 816-837, 2007. 28 Malhi, Y., et al. Climate Change, Deforestation, and the Fate of the Amazon. Science, 319: 169-172, 2008. 29 World Resources Institute (2008) Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) Versão 6.0. 2008. 30 Repórter Brasil. Lista suja do trabalho escravo. 2008. Disponível em: http://www.reporterbrasil. org.br/listasuja/index.php?lingua=en. Acesso em: 3 de nov. 2008. 31 Ibid 24. 32 Rylands, A. B., et al. Amazonia. In: Mittermeier;, R. A., et al. (Eds.) Wilderness: Earth’s last wild places. Cidade do México: CEMEX, 2002. p. 57-107. 33 Mittermeier, R.A., et al. Wilderness: Earth’s Last Wild Places. 1ª Ed. Washington D.C. , EUA: Conservation International, 2002. 576p. 34 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Monitoramento da Cobertura Florestal da Amazônia por Satélites, São José dos Campos: INPE, 2008. 148p. 35 Bellarby, J., et al. Cool Farming: climate impacts of agriculture and mitigation potential. 2008. 44p. Disponível em: http://www.greenpeace.org/raw/content/international/press/reports/coolfarmingfull-report.pdf. Acesso em: 26 de nov. 2008. 36 World Resources Institute & World Business Council for Sustainable Development. Greenhouse Gas Protocol Initiative. Disponível em: www.ghgprotocol.org. Acesso em: 26 de nov. 2008. 37 Ibid 35. O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA 15 Também defendemos soluções ambientalmente seguras e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações e inspiramos pessoas a se tornarem responsáveis pelo planeta. Publicado pelo Greenpeace Brasil Fotos Greenpeace/Daniel Beltrá Mapas Laboratório de informações georreferenciadas do Greenpeace Design Gabi Juns (gabrielajuns.com.br) Greenpeace Brasil São Paulo Rua Alvarenga, 2.331 Butantã - 05509-006 São Paulo - SP - Brasil Tel 11 3035-1155 Fax 11 3817-4600 Campanha Amazônia Av. Joaquim Nabuco, 2367 Centro - 69020-031 Manaus - AM - Brasil Tel 92 4009-8000 Fax 92 4009-8004 © Greenpeace/Alberto César Araújo O Greenpeace é uma organização global e independente que promove campanhas para defender o meio ambiente e a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Nós investigamos, expomos e confrontamos os responsáveis por danos ambientais.