o rastro da pecuária na amazônia

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O RASTRO DA PECUÁRIA
NA AMAZÔNIA
Mato Grosso:
O ESTADO DA DESTRUIÇÃO
índice
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
como é medido o desmatamento na amazônia?. . . . . .
o avanço do gado sobre a floresta. . . . . . . . . . . . . .
distribuição da infra-estrutura. . . . . . . . . . . . . . .
desmatamento no mato grosso e frigoríficos. . . . . .
o rastro da pecuária na amazônia. . . . . . . . . . . . . .
3
4
5
6
7
8
Nortão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
extremo sul do bioma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
eixo br-163 – alta floresta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
nascentes do rio xingu. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
desmatamento e uso da terra. . . . . . . . . . . . . . . . .
patrimônio florestal ameaçado . . . . . . . . . . . . . . .
a pressão sobre os biomas amazônia e cerrado. . . . .
metodologia do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
alguns motivos para
não trocar a floresta por pasto . . . . . . . . . . . . . . .
o que precisa ser feito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
REFERênciaS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
10
11
12
13
14
14
15
Amazônia Legal Brasileira
Fronteira do estado do Mato Grosso
Limite do Bioma Amazônico
Amazônia ameaçada
A bacia Amazônica ocupa cerca de 5% da superfície terrestre,
uma área de aproximadamente 6,5 milhões de quilômetros
quadrados, distribuídos em nove países da América do Sul.
Abriga a maior rede hidrográfica do planeta, que escoa cerca
de 1/5 do volume de água doce do mundo. Cerca de 60% da
Amazônia (4,1 milhões de km2) se encontram no Brasil 1.
2
A Amazônia Legal brasileira é uma denominação políticoadministrativa e engloba, além de todo o bioma Amazônia no
país, áreas de Cerrado nos estados do Mato Grosso e Tocantins2.
Até hoje, foram desmatados mais de 700 mil quilômetros
quadrados da cobertura original de floresta amazônica no Brasil,
área equivalente à dos estados do RS, SC, PR, RJ e ES juntos3.
limites estaduais: ibge
MAPA Imagem modis: Nasa (modis.gsfc.nasa.gov | bioma amazônia: ibge
LocaLIZAÇÃO DO Mato Grosso NA REGIÃO AMAZÔNICA
IntroduÇÃO
O desmatamento e as mudanças no uso do solo são responsáveis
por 75% das emissões brasileiras de gases do efeito estufa. Desse
total, 59% decorrem da perda de cobertura florestal e queimadas
na região amazônica5, colocando o país como quarto maior
poluidor mundial do clima 6.
O Brasil tem papel fundamental a cumprir para salvar o planeta
dos efeitos das mudanças climáticas. Para isso, deve zerar o
desmatamento até 2015, por meio de metas ambiciosas de redução,
aliando uso responsável dos recursos naturais e conservação da
biodiversidade com geração de emprego e renda. A compreensão
das mudanças no uso da terra é fundamental para que o governo
possa ampliar a governança, controlar a expansão da pecuária, da
agricultura e de outros setores e decidir quais as melhores maneiras
de reduzir e eliminar o desmatamento.
Em 2003, um estudo financiado pelo Banco Mundial8 apontou
a relação direta entre desmatamento e pecuária, bem como a
lógica econômica por trás desse fato. A substituição da floresta por
pastagens seria fruto da lucratividade da atividade, estimulada pelo
baixo custo de terras florestadas.
total DE REBANHOS E DESMATAMENTO
A pecuária, cuja expansão é contínua e crescente desde a década
de 1970, é a principal responsável pelos desmatamentos na
Amazônia. Levantamento do Greenpeace com dados do Censo
2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta
que 79,5% das áreas utilizadas na Amazônia Legal Brasileira
(excetuando-se o Maranhão) estão ocupadas por pastagens9.
desmatamento (x 1.000 km )
O presente estudo do Greenpeace buscou mapear, de forma
inédita, a localização das áreas de pastagem e agricultura na região
Amazônica por meio de análise de dados e imagens de satélite do
sensor Modis (Moderate-resolution Imaging Spectroradiometer).
Inicialmente, optou-se pelo estudo da área do bioma Amazônia
no estado do Mato Grosso, detentor do segundo maior rebanho
bovino do Brasil e recordista em desmatamento acumulado7.
Este documento traz um conjunto de mapas em que a geografia
do uso da terra é comparada com dados de infra-estrutura,
desmatamento e dinâmica regional. Estas informações são
fundamentais para a tomada de decisões em relação ao uso do
solo, financiamento de alternativas e ações de comando e controle
a fim de reduzir e acabar com o desmatamento na Amazônia.
Recentemente, a expansão da pecuária intensificou-se na região,
acompanhando a crescente internacionalização de empresas
brasileiras do setor. Entre 2002 e 2006, das 20,5 milhões de
cabeças de gado adicionadas ao rebanho nacional, 14,5 milhões
encontram-se na Amazônia10.
Segundo dados do IBGE, há cerca de 3 cabeças de gado para cada
habitante na região11,12. Essa presença massiva de gado na Amazônia
decorre de mais de 30 anos de políticas públicas que estimularam
a construção de infra-estrutura (estradas, represas), ocupação do
território (migração induzida) e financiamento da atividade com
fundos públicos da Superintendência do Desenvolvimento da
Amazônia (Sudam) e, mais recentemente, do Fundo Constitucional
do Norte (FNO) e Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
64,1
665
700
2
650
60
55
50
600
45
550
40
35
500
30
25
20
15
450
400
350
65
1988 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 2000 01 02 03 04
gado
gado (x 1.000.000)
D
e 2000 a 2007, o desmatamento na Amazônia brasileira
avançou a uma média anual de 19.368 quilômetros quadrados.
Em termos absolutos, isso significa 154.312 quilômetros quadrados
de florestas completamente destruídos, uma área maior que a do
estado do Acre 4.
10
desmatamento
FONTE IMAZON
O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
3
Como é medido o desmatamento na Amazônia?
Área desmatada
Bioma Amazônia
Brasil
América do Sul
A tendência de queda ou alta no desmatamento na Amazônia
acompanha a variação do preço internacional das principais
commodities agrícolas produzidas na região, principalmente carne
e soja15. Quando os preços de ambos os produtos caem, a redução
no desmatamento no ano seguinte acentua.
TAXA DE DESMATAMENTO ANUAL COMPARADA AOS PREÇOS
DA SOJA E DO GADO
35.000
50
30.000
25.000
40
20.000
30
15.000
20
10.000
10
5.000
julho/1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
gado
soja
desmatamento
FONTE Imazon
4
2
60
área desmatada (km)
esde 1988, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
estima, anualmente, a taxa de desflorestamento na Amazônia
Legal. A partir de 2002, estas estimativas passaram a ser produzidas
por classificação digital de imagens do satélite Landsat, seguindo
a metodologia Programa de Cálculo do Desflorestamento da
Amazônia (Prodes). Após atingir o segundo maior índice da história
em 2004, o desmatamento anual caiu drasticamente até 200713.
Em 2008, o desmatamento voltou a aumentar14.
gado (R$)
D
dados de desmatamento: inpe, prodes
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
áreas de desmatamento mapeadas pelo prodes
o avanço do gado sobre a floresta
expansão da pecuária na amazônia legal entre 1996 e 2006
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
Limite da Amazônia Legal
CABEÇAS DE GADO POR MUNICÍPIO
0 - 50.000
50.001 - 200.000
200.001 - 400.000
400.001 - 1.000.000
1.000.001 - 2.000.000
A
atividade pecuária na Amazônia Legal cresce a um ritmo
vertiginoso: entre os anos de 1990 e 2003, o rebanho bovino
cresceu 140%, passando de 26,6 milhões para 64 milhões de
cabeças de gado. Mato Grosso e Pará juntos concentram 60%
do rebanho bovino da Amazônia16. Esse crescimento vem
acompanhado de constante pressão sobre a floresta para criação
de novas áreas de pastagem. Segundo dados do IBGE, entre os
anos de 1996 e 2006, a área de pastagem aumentou em cerca de
10 milhões de hectares só na Amazônia, o que corresponde ao
território da Islândia17.
dados do rebanho: ibge-sidra
2006
1996
área ocupada por pasto na amazônia legal
(hectaRES)
55.439.553
50.000.000
40.000.000
30.000.000
23.424.117
20.000.000
10.000.000
0
1996
2006
FONTE IBGE: MARANHão Não incluso
O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
5
DISTRIBUIÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA
Municípios
Estradas não-oficiais
Estradas oficiais
Corpos d’água
Bioma Amazônia
E
stradas são os principais vetores de ocupação da Amazônia.
Estudo do Inpe aponta que cerca de 86% do desmatamento
realizado até o ano 2000 estava a menos de 25 quilômetros de
áreas de abertura pioneiras, que começaram a ser ocupadas
economicamente por volta de 197818.
Dois tipos de estradas predominam na região: oficiais e nãooficiais. As primeiras conectam a região Norte ao resto do Brasil
e foram construídas principalmente pelo governo federal na
década de 70. As estradas não-oficiais possuem abrangência local
e em geral não aparecem nos mapas oficiais do Departamento
Nacional de Infra-estrutura e Transporte (DNIT) e do IBGE19.
A grande quantidade de estradas possibilita a produção de carne
em áreas cada vez mais distantes das fazendas de gado.
6
dados da rede de estradas: ibge/sipam (2004)
Frigoríficos
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
FRIGORÍficos e estradas no mato grosso
desmatamento no Mato Grosso e frigoríficos
Estradas principais
Cana-de-açúcar
Agricultura
Pasto
Floresta degradada
A
sobreposição das unidades de frigoríficos com registro no
Serviço de Inspeção Federal (SIF) no mapa de uso do solo
demonstra a distribuição do rebanho bovino em relação às
localidades onde há infra-estrutura para abate. Nota-se uma
forte concentração de desmatamento e pastagens no entorno dos
frigoríficos. Com o apoio das estradas, essa influência estende-se
por centenas de quilômetros. Até mesmo frigoríficos localizados no
Cerrado têm influência sobre vastas áreas do bioma Amazônia.
dados dos frigoríficos: imazon
Frigoríficos
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
uso da terra e frigoríficos no mato grosso
O que é o SIF?
Os frigoríficos com registro no Sistema de Inspeção
Federal (SIF) são aqueles autorizados a vender
para outros estados brasileiros ou exportar. Embora
representem apenas uma parcela dos existentes,
geralmente pertencem a empresas de maior capacidade
de produção. Dentre os 71 frigoríficos com SIF na
Amazônia, 45 estão no Mato Grosso20. Além deles,
há frigoríficos estaduais e municipais, além de uma
parcela não quantificada do abate realizada de forma
clandestina para consumo local.
O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
7
O rastro da pecuária na Amazônia
A análise do uso da terra do Mato Grosso possibilitou identificar as principais áreas de expansão e consolidação da produção
pecuária no bioma Amazônia no estado. Foi possível identificar quatro grandes núcleos dessa atividade, tanto em áreas de
ocupação já consolidada, como nas fronteiras da destruição.
Áreas de expansão da pecuária no bioma Amazônia, no estad
Nortão
A área delimitada pelos municípios de Juína, Juara, Apiacás
e Colniza, no noroeste do Mato Grosso, representa uma
das mais recentes áreas de expansão do desmatamento
para a atividade pecuária na Amazônia brasileira. Nesse
quadrilátero concentra-se a exploração predatória de
madeira, seguida de queimada e desmatamento. Essa área
encontra-se conectada por estradas a regiões consolidadas
de desmatamento, como o estado de Rondônia a oeste, a
rodovia BR-163 a leste e as áreas de produção do bioma
Cerrado, ao sul. Nota-se, nos últimos três anos, uma
aceleração na ocupação no extremo Norte, no entorno
de Colniza, município que já possui comunicação com
outra área de fronteira da expansão da pecuária, o sul do
Amazonas. Nessas regiões de fronteira, a expansão da
pecuária está fortemente associada à atividade madeireira
predatória.
Extremo sul do Bioma
Trata-se de área significativa do bioma Amazônia que se expande
no interior do Cerrado, no formato de uma “península”, contígua
ao estado de Rondônia e à Amazônia boliviana. São áreas de
desmatamento anterior a 2000, com a presença massiva de infra-
8
estrutura como estradas e grandes frigoríficos, destinados ao abate
de animais. Hoje é caracterizada por extensas e contínuas pastagens,
com baixa densidade de animais por hectare. É até difícil acreditar
que ali houve, um dia, floresta Amazônica.
estado do Mato Grosso
Eixo BR-163 – Alta Floresta
As áreas mais próximas à rodovia BR-163, criada nos
anos 1970, têm ocupação consolidada, tendo sido
desmatadas antes do ano 2000. Esta região é usualmente
conhecida pela expansão de plantações de soja no Mato
Grosso. Nota-se, no entanto, acima da cidade de Sinop
e sobretudo no eixo perpendicular à BR que se estende
a Alta Floresta, a predominância da pecuária, embora
seja possível identificar a presença de inúmeros pontos
de agricultura. Também se pode observar a expansão
de desmatamento recente para pecuária no sentido
norte, até a fronteira com o estado do Pará, e a oeste,
conectando-se com a área adjacente.
Áreas de expansão
Capital do estado
Capitais dos municípios
Estradas principais
Áreas indígenas
Áreas de conservação
Floresta degradada
Agricultura
Pasto
Cana-de-açúcar
Corpos d’água
Bioma Amazônia
Nascentes do Rio Xingu
O curso do rio Xingu, no Mato Grosso, encontra-se
protegido, desde sua origem, pelo parque indígena
do Xingu, de 2.642.003 hectares21. As nascentes dos
afluentes desse rio, porém, estão localizadas, em grande
número, fora do parque. É nessa região, na borda
nordeste do Mato Grosso, que se encontra outra das
áreas de desmatamentos recentes destinados à atividade
pecuária. A destruição das florestas no entorno das
nascentes ameaça os mananciais do Xingu, bem como
altera o equilíbrio ecológico que mantém a imensa
biodiversidade e serve como base para o modo de vida
de quase 6.000 indíos de 14 etnias diferentes.
O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
9
desmatamento e uso da terra
Estradas principais
Pasto
Agricultura
55.439.553
Floresta degradada
Limite do Bioma Amazônia
50.000.000
40.000.000
uso da terra na amazônia legal em 2006
uso da terra no cerrado: mma | uso da terra no bioma amazônia: modis, nasa
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
uso da terra em imagem de satélite
30.000.000
uso da terra na amazônia legal e no brasil em 2006
PASTo
AGRICULTURA
20,5%
23.424.117
55.439.553
20.000.000
50.000.000
AMAZÔNIA LEGAL
55.439.553 HA
TOTAL DE PASTOS NO BRASIL
172.333.073 HA
10.000.000
40.000.000
PASTO
79,5%
2006
0
30.000.000
AGRICULTURa
23.424.117
20.000.000
AMAZÔNIA LEGAL
14.272.549 HA
TOTAL DE AGRICULTURA NO BRASIL
76.697.324 HA
10.000.000
source IBGE
10
0
1996
20
Patrimônio florestal Ameaçado
Floresta ombrófila
Limite do Bioma Amazônico
Floresta estacional semidecidual
Limite doestacional
Bioma Amazônico
Floresta
decidual
Floresta ombrófila
Floresta ombrófila
Ecotonos
florestas & savanas
Floresta estacional semidecidual
Floresta
estacional
Formações
pioneirassemidecidual
Floresta estacional decidual
Floresta
estacional
decidualsavanas
Campinarama
& ecotonos
Ecotonos florestas & savanas
Ecotonos
florestas & savanas
Refúgio vegetacional
montana
Formações pioneiras
Formações pioneiras
Campinarama & ecotonos savanas
Campinarama & ecotonos savanas
Refúgio vegetacional montana
Refúgio vegetacional montana
DADOS: ibge
Limite do Bioma Amazônico
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
VEGETAçÃO original no estado do mato grosso
A
Amazônia é a maior floresta tropical do planeta e a região de
maior biodiversidade do mundo22,23. A floresta desempenha
papel fundamental na manutenção dos recursos hídricos, do
ciclo de chuvas e no equilíbrio climático do planeta. A Amazônia
também é lar para mais de 20 milhões de pessoas, incluindo mais
de 200 mil indígenas de 180 povos distintos24, além de milhares
de comunidades tradicionais, como extrativistas, quilombolas e
quebradeiras de côco, entre outras.
O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
11
a pressão sobre os biomas amazônia e cerrado
uso da terra no Mato Grosso
Parque indígena do Xingu
Chapada dos Parecis
Capital do estado
Municípios
Agricultura
Cana-de-açúcar
Pasto
Floresta degradada
A
visualização do uso da terra no Mato Grosso, incluindo agora
as áreas do bioma Cerrado, possibilita verificar o impacto da
monocultura mecanizada, sobretudo de soja, sobre o estado, onde
quatro grandes áreas agrícolas se destacam:
12
•
A região de Lucas do Rio Verde é a de maior produção no Mato
Grosso e sua mancha extravasa o bioma Cerrado, ocupando
vastas áreas no bioma Amazônia.
•
A soja, cultura de uso intensivo de agroquímicos, como o
gado, também ameaça as nascentes do rio Xingu, ocupando
principalmente a área adjacente a sudeste do parque.
•
A região da chapada dos Parecis, entre a “língua” e o restante
do bioma Amazônia, se expandiu, influenciada pelo eixo
exportador Porto Velho – Santarém, pelo rio Amazonas.
•
Novas tecnologias para a produção e correção do solo levaram
a uma grande expansão da agricultura no bioma Cerrado,
como se verifica em todo o sudeste do Mato Grosso.
MAPA Laboratório de Informações Georreferenciadas do Greenpeace
Lucas do Rio Verde
VIROU FUMAÇA
Agosto de 2008
Enquanto as pastagens se expandem
na região Amazônica, a riqueza da
biodiversidade brasileira vira fumaça,
ajudando a agravar o aquecimento global.
METODOLOGIA DO ESTUDO
Este estudo utilizou imagens do sensor Modis (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer), selecionadas a cada 16 dias (num total de 23
imagens de cada área) durante o período de 12 meses. Dessa forma, foi possível obter um panorama da vegetação de todo o estado do Mato
Grosso, em um ano inteiro.
A identificação do uso da terra em cada imagem foi obtida por meio de dois métodos. Inicialmente, as imagens foram separadas de acordo
com seu EVI (Enhanced Vegetation Index), que compara diferentes níveis de atividade fotossintética e a concentração de vegetação. Com este
método, foi possível localizar as áreas agrícolas e aquelas onde houve regeneração de vegetação em locais de desmatamento antigo previamente
detectado pelo Prodes.
Para identificar pastagens, florestas alteradas (por extração madeireira predatória) e áreas degradadas ou secundárias, foi necessário analisar
visualmente cada série de imagens. Ao final, para avaliar a efetividade deste método, foram realizados sobrevôos na região leste do rio Xingu, no
entorno da BR-163, na região de Sinop e ao norte de Alta Floresta.
O QUE PRECISA SER FEITO
pelo GOVERNO BRASILEIRO
•
Adotar medidas urgentes para zerar o desmatamento na Amazônia Brasileira até 2015. Isso
inclui a adição imediata de uma moratória de
cinco anos para o desmatamento, dando tempo para o país desenvolver os instrumentos necessários para atingir o desmatamento zero;
•
Apoiar um forte protocolo de Clima a ser
firmado em Copenhagem em 2009, que
inclua um fundo internacional para reduzir
emissões por desmatamento e degradação
(conhecido como REDD). Para que este mecanismo financeiro tenha credibilidade para
proteger as florestas, ele deve obedecer aos
seguintes princípios:
ALGUNS MOTIVOS PARA
NÃO TROCAR A FLORESTA POR PASTO
•
•
•
Florestas contêm um estoque fundamental de carbono: ecossistemas florestais
armazenam cerca de uma vez e meia a quantidade de carbono atualmente
presente na atmosfera25. O desmatamento de florestas tropicais é responsável por
aproximadamente 20% das emissões globais de gases do efeito estufa, mais do
que todo o setor de transportes no mundo26.
Estima-se que a Amazônia armazene entre 80 e 120 bilhões de toneladas de
carbono27,28. Caso toda a floresta fosse destruída, isso corresponderia a 50 vezes
as emissões anuais dos Estados Unidos29.
A pecuária na Amazônia tem impactos sociais devastadores, com os maiores
índices de trabalho escravo do país. Em 2008, dos 3005 trabalhadores rurais
libertados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, 99% eram mantidos cativos na
região da Amazônia Legal30.
•
Cerca de 20 milhões de pessoas vivem na Amazônia, entre elas 200 mil indígenas de
180 grupos étnicos distintos31, que precisam da floresta para obter alimento, abrigo,
ferramentas e fármacos, além de ter um papel central em sua vida espiritual.
•
Estudos recentes estimam que a Amazônia abrigue cerca de 40 mil espécies de
plantas; 427 mamíferos; 1.294 pássaros; 378 répteis; 427 anfíbios e 3.000 espécies
de peixes32. Muitas outras espécies ainda não foram descobertas.
•
A Amazônia produz cerca de 20% de toda a água doce na superfície da Terra33. A
floresta influencia o ciclo hidrológico local e regionalmente, com o transporte da
umidade produzida por correntes atmosféricas para outras regiões do Brasil e da
América do Sul. A redução da cobertura florestal pode acarretar a diminuição na
precipitação no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, afetando a produção agrícola34.
•
As emissões de metano por animais constituem uma das maiores fontes de
emissões do setor agropecuário (cerca de 30%), o qual contribui com 10 a 12%
das emissões globais de gases do efeito estufa35.
•
Para cada quilograma de carne bovina produzida são emitidos 13 quilogramas
de CO2 equivalente36. Isso significa que, ao comer um quilo de bife, emite-se
aproximadamente a mesma quantidade de gases do efeito estufa que ao se realizar
um vôo de 100 quilômetros (considerando as emissões do vôo por pessoa)37.
14
•
prover imediatamente fundos anuais suficientes para reduzir o desmatamento
em florestas tropicais;
•
ser acessível a todos os países com florestas tropicais, mesmo aqueles com baixas taxas de desmatamento;
•
proteger a biodiversidade e o modo de
vida dos povos indígenas;
•
ser protegido contra manobras contábeis
nacionais e abordagens de redução de
desmatamento;
•
não incluir diretamente a comercialização de títulos de carbono;
•
não encorajar a substituição de florestas
naturais por plantadas e não subsidiar
a expansão da indústria madeireira, do
agronegócio e outras práticas destrutivas
em áreas de floresta;
•
Não permitir alterações no Código Florestal
brasileiro que possibilitem ampliar o desmatamento legalizado;
•
Redirecionar os investimentos hoje destinados
a atividades destrutivas para iniciativas sustentáveis, incluindo uso responsável de produtos
florestais por populações tradicionais;
•
Ampliar os recursos materiais e humanos
destinados a monitorar e controlar os crimes
ambientais, para garantir o cumprimento da
lei e a presença do Estado na Amazônia.
REFERências
pelA indústria
•
Apoiar publicamente o Desmatamento Zero na Amazônia;
•
Interromper a produção e o comércio de produtos relacionados com novos desmatamentos e comunicar aos seus
fornecedores que não comprarão mais de fazendas ou empresas responsáveis por novos desmatamentos;
•
Divulgar amplamente a origem de seus produtos, como
carne ou couro, aos consumidores;
•
Reduzir suas próprias emissões de gases do efeito estufa,
em acordo com os cortes globais de emissões necessários;
•
Exigir publicamente dos governos um forte protocolo do
Clima a ser firmado em Copenhagen em 2009, que inclua
um fundo internacional para proteger as florestas e reduzir
emissões por desmatamento e degradação. Este fundo deve
financiar os serviços ambientais prestados pelas florestas
em terras públicas e privadas.
pelos BANCOS E INVESTIDORES
•
Interromper o financiamento de empresas envolvidas em
desmatamento no bioma Amazônia.
pelos CIDADÃOS
•
Unir-se ao Greenpeace na campanha pelo Desmatamento
Zero na Amazônia até 2015, participando de petições ao
governo brasileiro, governos de outros países e à comunidade internacional, para acabar com o desmatamento;
•
Exigir, junto com o Greenpeace, que governos e empresas
adotem medidas reais para interromper o desmatamento
e salvar o clima do planeta. Em particular, pressionar
governos por um forte acordo para a redução de emissões
em Copenhagen em 2009;
•
Adotar um estilo de vida visando a reduzir suas próprias
emissões de carbono. Isto pode incluir a redução na quantidade de carne consumida ou exigir que comerciantes apresentem a origem dos produtos que vendem.
1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE lança o Mapa de Biomas do Brasil e o Mapa de
Vegetação do Brasil, em comemoração ao Dia Mundial da Biodiversidade. 2004. Disponível em: www.ibge.
gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=169. Acesso em: 26 de nov. 2008.
2 Neste relatório, a floresta amazônica refere-se a todo o bioma – plantas e animais que fazem parte
deste ecossistema.
3 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Estimativas Anuais desde 1988 até 2007. Disponível em:
http://www.obt.inpe.br/prodes/prodes_1988_2007.htm. Acesso em: 26 de nov. 2008.
4 Ibid 3.
5 Ministério de Ciência e Tecnologia. Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de Gases
de Efeito Estufa. 2006.
6 World Resources Institute. Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) Versão 4.0. 2007.
7 Ibid 5.
8 Margulis, S. Causas do Desmatamento da Amazônia Brasileira. 1ª Ed. Brasília: Banco Mundial,2003. 100p.
9 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário 2006. Disponível em: http://www.ibge.
gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/2006/default.shtm. Acesso em: 29 de out. 2008.
10 Ibid 9.
11 Ibid 9.
12 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem da População 2007. Disponível em: http://www.
ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/default.shtm. Acesso em: 29 de out. 2008.
13 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Sistema DETER. Disponível em: http://www.obt.inpe.br/
deter. Acesso em: 4 de nov. 2008.
14 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Estimativas Anuais desde 1988 até 2008. Disponível em:
http://www.obt.inpe.br/prodes/prodes_1988_2008.htm. Acesso em: 16 de dez. 2008.
15 Barreto, P. Porque o desmatamento cai e desce? In: 5º Seminário Técnico-Científico de Análise de
Dados Referentes ao Desmatamento. MMA/INPE. IMAZON, Anápolis. 38p., 2007.
16 Barreto, P.; et al. Pecuária e Desafios para a Conservação Ambiental na Amazônia. O Estado da
Amazônia, n.5, p. 1-4, 2005.
17 Ibid 9.
18 Alves, D. O. Processo de desmatamento na Amazônia. Parcerias Estratégicas, n.12, p.259-275, 2001.
19 Brandão Jr., A. O. et al. Desmatamento e estradas não-oficiais da Amazônia, In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO , 13, 2007, Florianópolis. Anais... INPE, p.2357-2364, 2007.
20 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Disponível em: www.agricultura.gov.br. Acesso
em: 29 de out. 2008.
21 Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral. Anuário Estatístico de Mato Grosso
(2004). Cuiabá: SEPLAN-MT. Central de Texto, 2005. Vol.26. 718p.
22 Ibid 1.
23 Ministério do Meio Ambiente. Brazilian Biodiversity. In: MMA, First national report for the
convention on biological diversity – BRASIL, 1998, 10p. Disponível em: www.cbd.int/doc/world/br/
br-nr-01-p1-en.pdf. Acesso em: 26 nov. 2008.
24 Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – CO IAB. História, 2006.
25 Watson, R. T., et al. Land use, land-use change, and forestry: Special report of the
Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000. 375p.
26 IPCC, 2007: Climate Change 2007: Mitigation. Contribution of Working Group III to the Fourth
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. [B. Metz, O.R.Davidson, P.R.
Bosch, R. Dave, L.A. Meyer (eds)], Cambridge University Press, Cambridge, Reino Unido e Nova York,
NY, EUA. 852p., 2007.
27 Saatchi, S.S., et al. Distribution of aboveground live biomass in the Amazon Basin. Global Change
Biology, 13: 816-837, 2007.
28 Malhi, Y., et al. Climate Change, Deforestation, and the Fate of the Amazon. Science, 319: 169-172, 2008.
29 World Resources Institute (2008) Climate Analysis Indicators Tool (CAIT) Versão 6.0. 2008.
30 Repórter Brasil. Lista suja do trabalho escravo. 2008. Disponível em: http://www.reporterbrasil.
org.br/listasuja/index.php?lingua=en. Acesso em: 3 de nov. 2008.
31 Ibid 24.
32 Rylands, A. B., et al. Amazonia. In: Mittermeier;, R. A., et al. (Eds.) Wilderness: Earth’s last wild
places. Cidade do México: CEMEX, 2002. p. 57-107.
33 Mittermeier, R.A., et al. Wilderness: Earth’s Last Wild Places. 1ª Ed. Washington D.C. , EUA:
Conservation International, 2002. 576p.
34 Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Monitoramento da Cobertura Florestal da Amazônia por
Satélites, São José dos Campos: INPE, 2008. 148p.
35 Bellarby, J., et al. Cool Farming: climate impacts of agriculture and mitigation potential. 2008.
44p. Disponível em: http://www.greenpeace.org/raw/content/international/press/reports/coolfarmingfull-report.pdf. Acesso em: 26 de nov. 2008.
36 World Resources Institute & World Business Council for Sustainable Development. Greenhouse Gas
Protocol Initiative. Disponível em: www.ghgprotocol.org. Acesso em: 26 de nov. 2008.
37 Ibid 35.
O RASTRO DA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA
15
Também defendemos soluções
ambientalmente seguras e
socialmente justas, que ofereçam
esperança para esta e para as futuras
gerações e inspiramos pessoas a se
tornarem responsáveis pelo planeta.
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