EM DIREÇÃO A UM MODELO BÍBLICO DE DISCIPULADO: Por Boubakar Sanou, Ph.D. Tradução: Mateus Dourado © Stokkete | Adobe Stock UM ESTUDO DE CASO DA IGREJA DA COMUNIDADE WILLOW CREEK DISCIPULADO Introdução Em Mateus 28:18-20, Jesus estabeleceu deveres para a igreja. Em uma espécie de discurso de despedida, Ele disse aos Seus discípulos: Toda a autoridade do céu e da terra foi dada a Mim. Ide, pois e façam discípulos em todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo o que vos tenho ordenado. E eis que Eu estou convosco todos os dias até o fim dos tempos. (Mt 28: 18-20) Este chamado para discipular todas as nações tem sido interpretado e aplicado de maneiras diferentes ao longo dos séculos. Hoje, há uma ênfase renovada no discipulado em muitos círculos cristãos. Este artigo analisa a abordagem de discipulado centrada no interessado utilizada pela Igreja Comunitária de Willow Creek e, em seguida, mostra algumas implicações para o desenvolvimento de um modelo de discipulado eficaz. O Modelo Discipulado Voltado Para O Membro: A História De Willow Creek Fundado em 12 de outubro de 1975 por Bill Hybels e amigos, a Igreja Comunitária de Willow Creek é uma igreja cristã não-denominacional localizada no Sul de Barrington, Illinois. De acordo com o Instituto Hartford para Pesquisas Religiosas (Hartford Institute for Religious Research), a igreja de Willow Creek é a terceira mais influente na América do Norte, com uma audiência semanal de aproximadamente 25.000 pessoas. Somente a igreja de Lake Wood, no Texas (43.500) e a de North Point, na Geórgia (30.600) têm uma audiência maior. Bill Hybels e seus amigos fundaram a igreja de Willow Creek com a seguinte visão: “um culto semanal que forneceria um lugar seguro e informativo em que as pessoas sem igreja poderiam vir para obter mais informações sobre o cristianismo” (Hybels e Hybels 1995:41). Como a sua paixão era ver as pessoas sem igreja tornando-se seguidoras de Jesus, eles pro- jetaram programas e instalações a fim de satisfazer as necessidades de quem pretende saber mais sobre o cristianismo. “A liderança da igreja acreditava que esta abordagem atrairia pessoas que estavam em busca de respostas, traria elas para um relacionamento com Cristo, e então utilizaria o fervor contagioso destas pessoas para evangelizar outros” (Branaugh, 2008). Dessa forma, a sua abordagem foi altamente programada, orientada e culturalmente atualizada. Com sua ênfase e sucesso em atrair um grande número de fiéis, a Willow Creek ajudou a moldar a eclesiologia de muitos líderes da igreja nas últimas quatro décadas. Embora eles não estejam desistindo de sua abordagem voltada para o interessado, a Willow Creek agora realiza “seus cultos de fim de semana em direção aos crentes maduros que buscam crescer na fé” (Branaugh, 2008). Esta mudança na abordagem ao discipulado foi influenciada pelo resultado de um processo de estudo de três anos entre 2004 e 2007, focado em como os membros da Willow Creek estavam crescendo espiritualmente (Hawkins et. Al 2007). O objetivo do estudo foi “encontrar evidências de crescimento espiritual nas pessoas, e depois descobrir que tipos de atividades ou situações desencadeiam o crescimento espiritual” (Hawkins et al 2007:19). Com base em Mateus 22:37-40, eles definiram o crescimento espiritual como “um amor cada vez maior a Deus e às outras pessoas” (Hawkins et al 2007:19, grifos no original). Eles embarcaram em seu estudo guiado FOCO NA PESSOA 13 www.foconapessoa.org.br por três hipóteses (Hawkins et al 2007:31): Hipótese 1 – Existe um caminho para o crescimento espiritual baseado nas atividades da igreja, isto é, quanto mais as pessoas estão envolvidas nas atividades da igreja, mais elas se aproximam de Cristo. Hipótese 2 – A ferramenta de evangelismo mais eficaz é a conversa espiritual, ou seja, colocar uma ênfase crescente sobre temas espirituais, combinados com o uso de vários estilos evangelísticos, aumentaria o desejo dos fiéis pelo evangelismo pessoal. Hipótese 3 – As relações espirituais são um motor essencial do crescimento espiritual, isto é, as relações espirituais profundas no contexto das reuniões de pequenos grupos podem desencadear o crescimento espiritual. Em seguida, eles testaram suas hipóteses por meio da análise de 6000 pesquisas feitas por pessoas que frequentavam a Willow Creek, 300 pesquisas feitas por ex-membros da Willow Creek, 5000 pesquisas adicionais preenchidas pelos fiéis na Willow Creek e seis outras igrejas dos Estados Unidos, mais de 120 entrevistas pessoais sobre a vida espiritual, estudo das Escrituras, livros e artigos sobre crescimento espiritual e desenvolvimento humano e consulta com especialistas na área de crescimento espiritual (Hawkins et al 2007:. 23). Cinco principais descobertas foram feitas como resultado desse processo de estudo de três anos: 1. A participação nas atividades da igreja não prevê ou impulsiona o crescimento espiritual a longo prazo. Embora o estudo mostrou algum aumento nos comportamentos espirituais (por exemplo, devolver o dízimo, evangelismo e adoração), havia muito pouca correlação entre os níveis de participação nas atividades da igreja e nas atitudes espirituais (crescente amor por Deus e por outras pessoas). As pessoas FOCO NA PESSOA 14 www.foconapessoa.org.br com maior envolvimento nos programas da igreja não expressaram um amor maior a Deus do que as pessoas que estavam menos envolvidas nos mesmos programas. Assim, apenas a participação nas atividades da igreja não causou nenhum impacto direto no crescimento espiritual. 2. O crescimento espiritual está totalmente relacionado ao aumento da proximidade de Cristo. Em outras palavras, apenas se aproximando de Cristo é que as pessoas irão começar a ver mudanças na maneira em como elas vivem e aumentarão o seu amor a Deus e as outras pessoas. 3. Práticas espirituais pessoais são os blocos que constroem uma vida centrada em Cristo. São as disciplinas espirituais pessoais (por exemplo, oração, reflexão, estudo das Escrituras), que se tornam a força motriz por trás do crescimento de uma pessoa em sua relação com Cristo. Assim, “uma vida centrada em Cristo autêntica é fundamentalmente o resultado de um forte compromisso de um relacionamento pessoal crescente com Cristo” (Hawkins et al 2007:45). 4. Os evangelistas, voluntários e doadores mais ativos da igreja fazem parte daqueles que estão espiritualmente mais avançados. Segundo a pesquisa, “à medida que as pessoas crescem espiritualmente, elas demonstram o aumento da fé através de suas ações. Quanto mais longe que vão em sua comunhão espiritual, mais elas expressam sua fé aos outros e doam tempo e recursos para a igreja” (Hawkins et al 2007:45). Embora uma maior participação nas atividades da igreja não equivala automaticamente ao crescimento espiritual, quanto mais uma pessoa cresce no amor a Deus e às outras pessoas, mais ela se envolve e se compromete a servir, devolver o dízimo e evangelizar. 5. Mais de 25 % dos entrevistados se descreveram como espiritualmente “estagnados” ou “insatisfeitos” com o papel da igreja no seu crescimento espiritual. Os que estavam estagnados na jornada de fé estavam nos estágios iniciais-médios de crescimento espiritual e estavam lutando com vícios, relacionamentos impróprios, problemas emocionais e com a falta de priorização da vida espiritual. O grupo de insatisfeitos incluía pessoas que pertenciam ao segmentos dos que tinham crescimento espiritual mais avançados e pareceram completamente alinhados com as atitudes e comportamentos relacionados a uma vida centrada em Cristo, e também exibiam todos os sinais de devoção completa: elas participavam regularmente dos cultos de fim de semana, pequenos grupos, se voluntariavam na igreja, ajudavam pessoas em necessidade, devolviam os dízimos e eram diligentes nos seus esforços pessoais para crescer espiritualmente. Enquanto os 25 % “estagnados” estavam considerando deixar a igreja por causa de barreiras significativas para o crescimento espiritual, 63 % do grupo “insatisfeito” estavam considerando abandonar a igreja devido à sua insatisfação, por ela não fazer o suficiente para mantê-los no caminho certo (desafiando-os a continuarem crescendo ou estabelecendo padrões que devem ser observados) ou ajudando-os a encontrar um mentor espiritual. 25 % dos entrevistados se descreveram como espiritualmente “estagnados” ou “insatisfeitos” Implicações para o Desenvolvimento de um Modelo Eficaz de Discipulado O que a abordagem voltada para o interessado de Willow Creek nos ensina sobre o discipulado? Quais implicações podemos extrair de uma avaliação objetiva desta abordagem? Antes de fazer isso, é essencial que tenhamos uma compreensão bíblica clara do que é um discípulo. Minha pesquisa sobre a literatura do discipulado (Wilkins, 1988; Hull, 2006; Sparks et al, 2014; Hirsch, 2006; Harrington e Absalom, 2016; Melbourne, 2007, Barna, 2001) revelou três dimensões essenciais de cada modelo eficaz de discipulado: racional, relacional e missionária. A dimensão racional (da aprendizagem) do discipulado é aquela em que um crente aprende intencionalmente sobre Jesus. No seu contexto original, “discípulo” (mathetes) se referia a “alguém que era aprendiz em um comércio ou aluno de um professor” (Harrington e Absalom, 2016:20). Essa pessoa se uniria a um professor com a finalidade de adquirir conhecimento teórico e prático (Colin Brown, 1975:484). O foco da dimensão racional é a necessidade de uma contínua transformação e crescimento, mesmo para aqueles que já se tornaram discípulos. Uma vez que “ensinar” em Mateus 28:19 é um processo contínuo, a dimensão racional de discipulado refere-se a “um tipo de evangelismo que não para depois que alguém faz dela uma profissão de fé” (Blomberg, 1992:431). No entanto, o objetivo deste aprendizado contínuo não é transmitir conhecimento apenas, mas despertar um compromisso total com Jesus (Wilkins, 1988:159). FOCO NA PESSOA 15 www.foconapessoa.org.br A dimensão relacional (de comunidade) do discipulado se desenvolve no contexto de uma comunidade de apoio, em que a prestação de contas pode acontecer. Para o apóstolo Paulo, ser um discípulo não era sinônimo apenas de aceitar uma verdade proposicional abstrata sobre Jesus. Para ele, ser um discípulo de Cristo era aprender sobre Jesus e modelar a vida em relação ao que uma pessoa sabia sobre Ele. Em seus escritos, há um constante convite a imitá-lo, enquanto ele imita Cristo. Aos Coríntios, ele escreve: “Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo” (1 Cor 11:1). Assim, “o discipulado envolve não somente o que um cristão faz em nome de Cristo, mas também como o discípulo representa Cristo no mundo” (Melbourne, 2007:10). A dimensão missionária (partilhar a fé) se preocupa com a compreensão do chamado de “fazer discípulos” (mathēteusate) em Mateus 28:19 como essencialmente um chamado para participar na missão e duplicar a si mesmo. Esta é a ordem principal da Grande Comissão e deve continuar a ser a principal responsabilidade da Igreja em todos os contextos. A missão no contexto da Grande Comissão é mais do que um chamado para compartilhar o evangelho com aqueles que não conhecem a Cristo. É um chamado para discipular as nações (grupos de pessoas), indo até elas. Assim, o Novo Testamento usa a palavra discípulo para indicar um relacionamento com entrega total a Cristo. Essa relação e compromisso com Cristo vêm como resultado de ser mudado constantemente e de crescer no conhecimento de Jesus Cristo (2 Pedro 3:18), vivendo uma vida de total submissão ao Seu senhorio (Fp 3:8) e de ajudar outros a começar confiar e seguir a Jesus (2 Timóteo 2:2). Abaixo estão oito sugestões para o desenvolvimento de um modelo de discipulado eficaz que leva em consideração todos os componentes essenciais do discipulado: 1. Priorizar compromissos pessoais para desenvolver um relacionamento crescente com Deus apenas com a participação em programas da igreja. Embora o envolvimento em programas da igreja possa influenciar os comportamentos espirituais, a verdade é que somente Deus transforma o coração humano. Bill Hybels admite que, no caso de Willow Creek, “a igreja e sua miríade de programas assumiram muita responsabilidade para com o crescimento espiritual das pessoas” (2007:4). O objetivo de qualquer abordagem para o discipulado não deve ser manter os membros da igreja ocupados por uma infinidade de atividades, mas sim ajudá-los a embarcar em uma busca de um crescimento de relacionamento com Cristo (João 15:1-8). Além disso, para ser eficaz, o impacto dos cultos e dos outros programas da igreja têm que ser expandido pra alcançar as pessoas que estão vivendo em diversas fases do processo de crescimento espiritual, desafiando-as e sugerindo-lhes práticas, maneiras e ferramentas que as ajudem a darem o próximo passo em sua jornada espiritual. 2. Membresia e frequência não devem ser os únicos critérios para avaliar o sucesso no processo de discipulado. O número de membros e a frequência aos cultos não são suficientes para definir se as pessoas estão se tornando ou não mais semelhantes a Cristo. A saúde de uma igreja “não está apenas relacionada aos números. Está relacionada ao movimento das pessoas em direção a Cristo, (Hawkins et al 2007:8) em direção ao desenvolvimento de um profundo amor a Deus e um genuíno amor pelos outros”. Maior nem sempre é melhor. No discipulado, o crescimento numérico e espiritual não são coisas diferentes e separadas. Embora a pergunta “Quantos?” ajude a avaliar o impacto estatístico de uma atividade, é a pergunta “Como eles estão espiritualmente?” que irá ajudar medir o impacto espiritual da mesma atividade. Como dito antes, estas não são coisas que devem ser tratadas diferentemente. Foi o mal-entendido da correlação entre evangelismo e discipulado que “deu origem às igrejas que produzem grande número de convertidos com pouca profundidade, convertidos que FOCO NA PESSOA 16 www.foconapessoa.org.br dificilmente poderiam ser chamados de discípulos de Jesus Cristo... Por outro lado, há também muitas igrejas que enfatizam o grande ensinamento e a profundidade teológica, mas não conseguem ver Deus usá-las para trazer muitos, ou alguns, novos crentes à fé em Cristo” (Rainer, 2016:11). Uma abordagem biblicamente fiel procura encontrar um equilíbrio entre a atração e a quantidade ao mesmo tempo, ajudando esses números a crescerem até a maturidade em Cristo. 3. Equilibre qualquer abordagem voltada para os interessados com uma preocupação com o crescimento espiritual dos fiéis. Embora “as igrejas deveriam remover todas as barreiras possíveis que impeçam o ingresso dos interessados, mesmo assim não é preciso colocar o foco inteiramente neles” (Hull, 2006:257). Dessa forma, a relevância cultural, a coerência bíblica e o crescimento espiritual de todos os membros devem andar de mãos dadas em cada congregação focada no discipulado. As pessoas precisam ser ensinadas exaustivamente sobre tudo o que Jesus ordenou e ensinou (Mateus 28:19) e não necessariamente sobre o que elas querem ouvir ou o que vai fazê-las se sentirem bem. Isto é importante porque quando as energias primárias de uma congregação são gastas na produção bem trabalhada de programas focados em satisfazer as necessidades das pessoas que ainda estão explorando o que elas acreditam sobre Jesus e o cristianismo, apenas energias secundárias são deixadas para ajudar os outros membros da congregação a crescer em sua jornada espiritual. Por vezes, torna-se muito difícil ajudar os exploradores religiosos que estão acostumados aos grandes eventos a encontrarem Deus em outros encontros “menos significativos” se os programas da igreja de alguma maneira já lhes passam a mensagem de que Deus é encontrado somente através de programas semanais sofisticados (Sparks et al, 2014: 78). 4. Aborde o discipulado como um processo de toda a vida. Ser discípulo de Cristo é um processo de toda a vida, não um evento passageiro. Trata-se de “tornar-se um discípulo ao invés de ter sido feito um discípulo” (Hull, 2006:35, itálico no original). Como um processo de se tornar parecido com Cristo, o “discipulado não é um programa ou evento, é um modo de vida. Não é por um período limitado de tempo, mas para toda a vida. Discipulado não é para principiantes somente; é para todos os crentes e para todos os dias da sua vida” (Hull, 2006:24). Uma vez que “o caminho para a maturidade espiritual não está correlacionado com a idade” (Hawkins et al 2007:33), cada membro da igreja precisa ser constantemente desafiado a crescer em seu amor a Deus e às outras pessoas. Atenção adequada e recursos devem estar disponíveis às pessoas em todas as fases do processo de crescimento espiritual, a fim de ajudá-las a permanecerem crescendo em Cristo. 5. Torne o mentoriamento espiritual um componente essencial do processo de discipulado. Uma vez que o chamado de “fazer discípulos” (mathēteusate) em Mateus 28:19 é essencialmente um chamado para duplicar a si mesmo, a orientação é inseparável do discipulado. Um mentor é definido como alguém que está comprometido com uma relação espiritual saudável com outra pessoa para o propósito de responsabilização mútua e crescimento em Jesus Cristo. Um modelo bíblico bastante relacionado com a orientação espiritual como o discipulado é encontrado em 1 Tessalonicenses 2:7-13, em que o discipulado é retratado como um processo de paternidade espiritual. A orientação espiritual como discipulado pode ajudar a alcançar quatro coisas: um compromisso a longo prazo para o bem-estar espiritual e crescimento dos crentes; atenção pessoal às necessidades de crescimento espiritual dos crentes; modelar uma caminhada espiritual FOCO NA PESSOA 17 www.foconapessoa.org.br para os que estão sendo mentoriados e o ensino da verdade bíblica. Juntamente com os programas formais da igreja, os mentores espirituais deveriam estar disponíveis para partilhar a sua jornada espiritual e experiências (positivas e negativas) com os outros. Este tipo de relação espiritual pode ajudar a manter tanto o mentor quanto o mentoriado no rumo certo à medida que eles se tornam responsáveis um perante o outro. 6. Dê a devida atenção às disciplinas espirituais no processo de crescimento espiritual. As disciplinas espirituais referem-se deliberadamente a hábitos espirituais autoimpostos com o fim de nutrir a saúde espiritual, promovendo assim o crescimento e maturidade espiritual. Constituem expressões concretas da nossa decisão de nos colocar diante de Deus para que Ele possa nos mudar à Sua semelhança (Calhoun, 2015; Whitney, 2014, Dybdahl 2008). As disciplinas espirituais ajudam a protegermos nossa vida espiritual contra as toxinas (Groeschel, 2012). Exemplos de disciplinas espirituais incluem o estudo, memorização e meditação da Escritura, oração, jejum, serviço, etc. Uma palavra de cautela sobre a prática de disciplinas espirituais é que elas não resultarão automaticamente no crescimento espiritual. Ao abrir nossos olhos, nosso coração e nossa mente ao poder purificador do Espírito e à verdade de Deus, as disciplinas espirituais nos colocam diante de Deus, o único lugar em que a transformação genuína pode acontecer. 7. Aborde a missão como discípulos fazendo outros discípulos. Ao ordenar seus discípulos a “fazer discípulos em todas as nações” (Mt 28:19), Jesus disse-lhes basicamente “para fazer mais do que eles mesmos são” (Wilkins, 1988:162). O foco principal de uma congregação não deve ser sobre o que acontece em suas instalações. Ao encontrarmos o método de evangelização “vinde e vede” no Novo Testamento (João 1:39), era como se esperasse que a igreja saísse, se misturasse com as pessoas e semeasse as sementes do evangelho. A ênfase no “vinde e vede” coloca a responsabilidade sobre as pessoas de vir e ouvir o evangelho, em vez de a igreja levar o evangelho a elas (Hirsch, 2006:275). “Quando Jesus entregou a Grande Comissão, Ele revelou o plano de Deus para a sua igreja, bem como para os discípulos individuais. Ele deu a responsabilidade à igreja de para ir para o mundo, porque o mundo não tem nenhuma razão de ir à igreja” (Hull 2006:254). De acordo com a parábola da ovelha perdida, é a igreja, não os sem-igreja, que deveriam ser os “buscadores” (Lucas 15:1-7). Como tal, “não devemos esperar que as almas venham a nós; devemos procurá-las onde elas estão [porque] existe uma multidão que nunca será alcançada pelo Evangelho a menos que este chegue até eles” (White, 1900:229 – tradução nossa). 8. Esforce-se para se tornar uma congregação genuinamente acolhedora e amorosa. As pessoas eram irresistivelmente atraídas a Jesus por causa do amor e preocupação altruísta com que Ele as tratava. Da mesma forma, comunidades cristãs sinceras e amorosas podem se tornar um terreno fértil no qual as pessoas estarão aptas a crescer na sua relação com Cristo. Uma vez que “o mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão amoroso e amável” (White, 1909:470 – tradução nossa), é certo dizer que são os crentes, e não os programas, que são as pontes mais eficazes para Cristo. Como uma comunidade de amor, a igreja torna-se não só um verdadeiro reflexo de Jesus Cristo, mas também uma resposta à Sua oração pela unidade entre os Seus seguidores (João 17:11, 20-23). Enquanto a vida se tornou tão politizada em torno de identidades étnicas, raciais e nacionais, a igreja, através de relações genuínas e amorosas entre os seus membros, é capaz de mostrar irrefutavelmente ao mundo fragmentado que “uma comunidade de pessoas diferentes podem viver reconciliadas em relacionamento umas com as outras porque elas vivem da mesma forma com Deus” (Van Gelder, 2000:109). Conclusão A ordem primária da Grande Comissão é fazer discípulos entre todos os grupos de pessoas. Este artigo defende que a frequência à igreja, aos programas ou a arrecadação não são as únicas dimensões a serem consideradas ao medir o sucesso na tarefa de cumprir a Grande Comissão. A perspectiva bíblica sobre o discipulado indica que o sucesso do ministério também se relaciona com a qualidade espiritual da vida dos congregados (Barna, 2001:95). Portanto, a prioridade de cada abordagem bíblica para o discipulado deve ser visar proporcionar nutrição espiritual abrangente para os interessados, bem como para os crentes. Este foi o modelo de discipulado de Cristo, como expresso por Ellen White: “O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’. João 21:19.” (1909:143). Nós podemos ter certeza de que essa abordagem “não, não pode ficar sem frutos” (White, 1909:144 – tradução nossa). FOCO NA PESSOA 18 www.foconapessoa.org.br Obras Citadas BARNA, George. Growing True Disciples: New Strategies for Producing Genuine Followers of Christ. Colorado Springs, CO: WaterBrook Press. 2001. BLOMBERG, Craig L. The New American Commentary Vol. 22: Matthew. Nashville, TN: Broadman. 1992. BRANAUGH, Matt. “Willow Creek’s ‘Huge Shift’”, 15 de maio de 2008. http://www.christianitytoday.com/ct/2008/june/5.13. html (acessado em 4 de setembro de 2016). BROWN, Colin, ed. Disciple. The New International Dictionary of the New Testament Theology, vol. 1. Grand Rapids, MI: Zondervan. 1975. CALHOUN, Adele Ahlberg. Spiritual Disciplines Handbook: Practices That Transform Us. Downers Grove, IL: InterVarsity. 2015. DYBDAHL, Jon L. Hunger: Satisfying the Longing of Your Soul. Hagerstown, MD: Review and Herald. 2008. GROESCHEL, Craig. Soul Detox: Clean Living in a Contaminated World. 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