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ESTUDO GEOGRÁFICO COM ÊNFASE EM GEOMORFOLOGIA URBANA: BAIRRO
DE SÃO BRÁS
Rosana Amorim COELHO; Carmena Ferreira de FRANÇA
ESTUDO GEOGRÁFICO COM ÊNFASE EM GEOMORFOLOGIA URBANA:
BAIRRO DE SÃO BRÁS
Rosana Amorim COELHO 1
Carmena Ferreira de FRANÇA2
Resumo
O bairro de São Brás é um dos que constituem o Distrito Administrativo de Belém
(DABEL), sua estrutura urbana caracteriza-se por ruas amplas e asfaltadas, residências e
grande número de pontos comerciais, praças, terminal rodoviário, ponto turístico, além
da diversidade de serviços, atrativos para um grande fluxo de pessoas e mercadorias,
elementos que o fazem ser, também, um dos bairros mais valorizados de Belém. Por sua
dinâmica urbana, considera-se um bairro central e também conector, haja vista que
abarca as principais avenidas da cidade e a maior parte das linhas de transporte público
circula pelo mesmo. Assim, diante do significado e da importância da geomorfologia
urbana para o estudo ambiental e o planejamento das cidades, o objetivo deste trabalho
é a caracterização do sítio urbano do bairro de São Brás com base em critérios
morfométricos e morfográficos, utilizando alguns conceitos e abordagens mais
empregados com base na revisão bibliográfica de algumas obras que contemplam o
assunto, juntamente com informações coletadas em campo e trabalho de laboratório. A
estrutura urbana do bairro está assentada em um relevo predominantemente aplainado e
com cotas topográficas elevadas (no contexto do DABEL), o que favoreceu a ocupação
e a instalação da infraestrutura urbana, fazendo também com que sejam raras
ocorrências de alagamentos.
Palavras-Chave: Sitio Urbano, Topografia, Relevo.
Abstract
The district of São Brás is one of the constituencies of the Administrative District of
Belém (DABEL), it is urban structure is characterized by wide and paved streets,
residences and a large number of commercial points, squares, bus terminal, tourist
point, besides the diversity of services, attractive for a great flow of people and goods,
elements that make it also one of the most valued neighborhoods of Belém. Because of
it is urban dynamics it is considered a central neighborhood and also a connector, since
it covers the main avenues of the city and most of the public transport lines circulate
through it. Thus, in view of the significance and importance of urban geomorphology
for the environmental study and planning of cities, the objective of this work is to
characterize the urban site of the São Brás neighborhood based on morphometric and
morphographic criteria, using some concepts and approaches employees based on the
bibliographic review of some works that contemplate the subject, together with
information collected in the field and laboratory work to give focus to the neighborhood
of São Brás. The urban structure of the neighborhood is based on a predominantly
flattened relief and with high topographic dimensions (in the context of DABEL), which
1
Graduanda em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e bolsista do Programa de
Educação Tutorial – PET Geografia.
2
Licenciada em Geografia pela UFPA (1986), mestre em Geografia Física pela USP (1995), doutora em
Geologia pela UFPA (2003), Docente da Faculdade de Geografia e Cartografia (FGC) e tutora do
Programa de Educação Tutorial do Curso de Geografia (PET Geografia) da UFPA; [email protected]
Boletim Amazônico de Geografia (ISSN: 2358-7040 - on line), Belém, v. 03, n. 06,
p. 79-91. jul./dez. 2016.
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favored the occupation and installation of urban infrastructure, also causing rare
occurrences of flooding.
Key-words: Urban Site, Topography, Relief.
INTRODUÇÃO
O bairro de São Brás é um dos bairros que fazem parte do Distrito
Administrativo de Belém (DABEL). Sua área abrange aproximadamente 163 hectares,
ocupando em torno 0,32 % do total do município. Localiza-se entre as coordenadas 48°
28’ 00” W a 48° 28’ 30” de longitude oeste e 1º 27’ 00” S a 1º 27’ 30” de latitude sul.
Faz limite com os bairros do Umarizal e Fátima, ao norte, Guamá e Cremação, ao sul,
Nazaré a leste e Marco e Canudos, a oeste. O acesso aos bairros vizinhos se dá através
de grandes avenidas, como por exemplo, Alcindo Cacela, Gov. José Malcher,
Magalhães Barata, José Bonifácio, Ceará, Almirante Barroso, Gentil Bitencourt,
Conselheiro Furtado e Cipriano Santos; e de travessas, como Castelo Branco, 09 de
Janeiro, 14 de Abril e Nina Ribeiro. (Figura 1).
Figura 1 – Localização do bairro de São Brás, em Belém-PA.
Uma peculiaridade de sua localização é que o bairro de São Brás não está
situado às margens da baía de Guajará ou do rio Guamá, como acontece com a maioria
dos bairros do DABEL. Isso significa que o bairro está inserido em setores topográficos
mais elevados, portanto, livres da influência hidrodinâmica das marés, exceto nas áreas
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marginais aos canais da Gentil Bitencourt, Nina Ribeiro e Três de Maio. A situação
topográfica pode justificar o fato de ter uma estrutura constituída por quarteirões e vias
de tamanhos regulares, receber investimentos públicos e de ser um dos bairros mais
valorizados de Belém.
Em função do contexto urbano, considera-se como um bairro central. Neste
aspecto, leva-se em conta a posição geográfica, a presença de importantes vias que dão
acesso a outros bairros e municípios da Região Metropolitana de Belém, além do
Terminal Rodoviário de Belém e da faixa do BRT (Bus Rapid Transport). Esses fatores
fazem convergir para São Brás um fluxo significativo de transporte coletivo,
convencional e alternativo, que congrega várias linhas com itinerário urbano e
interurbano. Trata-se de uma estrutura que proporciona um maior aporte de pessoas,
mercadorias e serviços. É um cenário urbano que apresenta três importantes funções:
residencial, comercial ou de serviços e de circulação.
Diante do exposto, surgem alguns questionamentos como: Quais as
características morfométricas e morfográficas do sítio urbano do bairro de São Brás?
Qual a influência das características físicas com a distribuição das funções, dos serviços
e da rede viária do bairro? Logo, o objetivo do trabalho é a caracterização do sítio
urbano do bairro de São Brás e sua relação com a infraestrutura.
A metodologia de pesquisa consistiu de três etapas: 1.ª etapa: revisão e
atualização bibliográfica acerca dos fundamentos da Geomorfologia Urbana, tendo
como principais materiais de estudo as obras Ab’Sáber (1952; 1953; 1956,1965, 2010),
Cunha e Guerra (2005), Rocha e Nunes (2008), relativas a sítios urbanos, alterações e
impactos ambientais. Nesta revisão, foram demarcados o conceito de sítio urbano, os
elementos de caracterização e o método de análise e interpretação. Para subsidiar e dar
foco à cidade de Belém, foi utilizado o geógrafo paraense Eidorfe Moreira (1966); 2.ª
etapa: trabalhos de campo realizados nos anos de 2015 e 2016 para levantamento de
informações de infraestrutura urbana (serviços, saneamento, coleta de lixo, situação dos
canais urbanos, pontos de alagamento); 3.ª etapa: levantamento de dados topográficos
com base em carta planialtimétrica do Levantamento Aerofotogramétrico da Região
Metropolitana de Belém (1977/78), escala 1:10.000 (acervo da CODEM/PMB),
confecção de perfis topográficos, cálculo de gradientes topográficos e classificação de
processos morfodinâmicos.
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GEOMORFOLOGIA E SÍTIO URBANO
A geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo. Sendo este seu
objeto, analisa, portanto, as formas e os processos que constituem o sistema
geomorfológico (CHRISTOFOLETTI, 1980).
Na geomorfologia, há uma subdivisão que enfoca/analisa vários elementos,
como o substrato físico no qual se instala a cidade, as alterações no meio físico causadas
pela ocupação urbana, assim como a relação entre os fatores do meio físico e os
impactos provocados pela ocupação. Esse enfoque é realizado pela geomorfologia
urbana, que contribui para o estudo do sitio urbano, em que se procuram analisar a
topografia sobre a qual a cidade foi erguida, os processos geomorfológicos alterados
pela urbanização, assim existindo a possibilidade de diagnosticar futuras mudanças
geomorfológicas (CHRISTOFOLETTI, 2008 apud ARAÚJO JÚNIOR, 2013).
Para além, os estudos de geomorfologia urbana podem contribuir com a
ampliação de uma base de dados sobre a temática; para a avaliação da qualidade do
ambiente urbano;
para a elaboração de diagnósticos e prognósticos, prevendo e
propondo soluções para possíveis problemas ambientais e, também, para o
planejamento das cidades (JORGE, 2011). Segundo OLIVEIRA (2011), no âmbito da
geomorfologia urbana, são enfocados os seguintes aspectos: (a) os elementos que
constituem o substrato físico no qual se instala a cidade; (b) as alterações no meio físico
causadas pela ocupação urbana (impactos ambientais); e (c) as limitações impostas
pelos fatores do meio físico à ocupação (capacidade de suporte).
O método mais utilizado para tais análises é o sistemismo, pautado numa
concepção integrada e global. Este tipo de interpretação da realidade privilegia o
enfoque da estrutura ou arranjo espacial e do dinamismo ou funcionamento do sistema
urbano, associado ao quadro físico.
Segundo Ab’Sáber (1950), o sítio urbano é o quadro de relevo que aloja um
organismo urbano, é o conjunto de todos os elementos naturais que compõem o
assoalho de uma cidade. Contudo, considera-se também o sítio urbano como substrato
físico onde a cidade se instala, o meio físico da mesma, contendo elementos além do
quadro de relevo, tais como a topografia, o conjunto hidrográfico, as coberturas
superficiais e a estrutura geológica.
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A cidade de Belém caracteriza-se por apresentar os mais baixos níveis de terras
firmes da Amazônia Brasileira. A topografia de Belém distribui-se pelas cotas de 0 a 05
m nas várzeas e igapós, de 05 a 15 m nos baixos platôs e 15 a 20 m nos tabuleiros
(AB’SÁBER, 1956; FURTADO; PONTE, 2013). Configuram-se, desse modo, baixos
platôs escalonados e de suaves gradientes topográficos. Apesar das baixas cotas
topográficas, Belém apresenta sensíveis variações que permitem distinguir os vários
níveis de planaltos e os níveis alagáveis das várzeas e igapós. O conjunto das planícies
inundáveis, situadas em cotas abaixo de 5 metros, abrangia cerca de 40% da Primeira
Légua Patrimonial de Belém (FERREIRA, 1995).
Hoje, com o processo de expansão da cidade e de consolidação de sua
urbanização, essas planícies de inundação foram aterradas em quase toda sua totalidade.
Sofrendo aterramento ao longo dos séculos XIX e XX, o que resultou em alteração
topográfica e hidrológica.
Segundo Penteado (1968), o sitio urbano de Belém, graças à sua localização,
possui características de cidade de península fluvial, embora seu sítio esteja realmente
edificado sobre terraços, entalhados pela rede de drenagem local, em reduto sedimentar
pouco resistente. Logo, a morfologia do sítio urbano de Belém, do ponto de vista
topográfico, reflete uma estrutura tabular caracterizada pela singeleza das formas de
relevo, evidenciando a presença e a preponderância das plataformas interfluviais,
localizadas em altitudes que podem alcançar 12 a 18m acima do nível do mar, isso
devido às argilas e areias pliopleistocênicas (terrenos sedimentares) (PENTEADO,
1968).
Com base no Levantamento Aerofotogramétrico da Região Metropolitana de
Belém (1977/78), escala 1:10.000 (acervo da CODEM/PMB, 1977, 1978, 1979), a
cidade de Belém apresenta um relevo compartimentado em três unidades morfológicas:
planícies alagáveis, baixos platôs e tabuleiros. Cada forma de relevo possui
especificidades morfométricas e hidrológicas, que influenciam a estrutura dos bairros.
Por outro lado, a expansão urbana propicia alterações que adaptam o sítio às
necessidades da ocupação, sobretudo as transformações na topografia e na rede de
drenagem.
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CARACTERÍSTICAS DO SÍTIO URBANO DO BAIRRO DE SÃO BRÁS,
BELÉM-PA
Com base na classificação taxonômica, proposta por Ross e Fierz (1990; 2005),
para o relevo terrestre, há dois compartimentos de relevo (unidades de 4.º táxon)
presentes no sítio urbano do bairro de São Brás, são eles: a) Planícies urbanizadas
parcialmente alagáveis, correspondentes a níveis topográficos mais baixos, onde se
verificaram cotas topográficas de 0 a 4 m; e b) Baixo Platô 1, correspondente a níveis
topográficos mais elevados, identificando-se áreas com cotas topográficas de 4 a 10 m
(Figura 2).
Figura 2 – Compartimentação do relevo do bairro de São Brás, Belém-PA. Elaborado com base no
Levantamento Aerofotogramétrico da Região Metropolitana de Belém (1977/78), escala 1:10.000 (acervo
da CODEM/PMB, 1977, 1978, 1979).
A maior parte do bairro é composta por ruas com boa estrutura de drenagem
pluvial. São ruas e avenidas dotadas de sarjetas, bueiros e galerias que recebem as águas
pluviométricas e águas residuárias dos estabelecimentos residenciais e comerciais. Os
pontos onde eventualmente ocorrem alagamentos em São Brás se dão nas áreas antes
ocupadas por planícies alagáveis. A maior parte do bairro localiza-se nas porções mais
elevadas topograficamente do município de Belém, exceto as áreas próximas aos canais
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da Gentil, Nina Ribeiro e Três de Maio, setores onde a topografia caracteriza-se pelo
baixo gradiente.
Através de perfis topográficos, pode-se identificar e classificar os tipos de topos,
vertentes e fundos de vale (unidades de 5º táxon) presentes no bairro. O resultado da
analise, como mostra os perfis abaixo, apontou a presença predominante de topos do
tipo convexo, vertentes do tipo retilínea e fundos de vale em rampa (Figura 3).
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Figura 3 – Perfis topográficos e morfológicos do bairro de São Brás.
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Os gradientes topográficos das unidades morfológicas têm relação com as
características
morfodinâmicas
do
bairro.
A
interpretação
dos
processos
morfodinâmicos baseou-se na comparação entre os gradientes calculados e o modelo de
vertente desenvolvido por Dalrymple, Blong e Conacher (1968) apud Christofoletti
(1980). A partir dessa relação, os processos morfodinâmicos, que caracterizam o meio
físico do bairro de São Brás são os seguintes, desconsiderando-se a ocupação, levandose em conta apenas os dados físicos: a) processos pedogênicos associados com
movimento vertical da agua superficial; b) deposição aluvial, processos oriundos do
movimento superficial da água, c) eluviação mecânica e química pelo movimento da
água subsuperficial; e d) reptação e formação de terracetes. Os perfis E-F e G-H
mostram apenas a ocorrência de processos pedogênicos associados com movimento
vertical da água superficial. É importante ressaltar que todos os processos
morfodinâmicos estão alterados ou eliminados devido à urbanização, que resulta na
impermeabilização de superfícies, na redução da cobertura vegetal, na retificação de
canais e mudança da circulação hídrica das vertentes. Diante disso, persistem apenas os
processos ligados à deposição dentro dos canais urbanos e ao escoamento superficial da
água da chuva.
A ESTRUTURA URBANA DE SÃO BRÁS E SUA RELAÇÃO COM O SÍTIO
A estrutura urbana de São Brás caracteriza-se por ruas amplas e asfaltadas,
residências e grande número de pontos comerciais, praças, terminal rodoviário, ponto
turístico, além da grande oferta de serviços de diversas áreas, tais como: hotéis,
restaurantes, bares, postos de gasolina, salões de beleza, escolas, faculdades, clínicas
hospitalares, lojas varejistas, supermercados, redes de farmácias, bancos, bem como
serviços ligados à economia informal. Escolas e faculdades, por sua vez, ofertam
serviços que atraem atividades complementares, como por exemplo, venda de itens
escolares, cópias reprográficas e outras, caracterizando uma coesão de serviços. Toda
essa gama de serviços presentes no bairro torna-se atrativo de um grande fluxo de
pessoas e mercadorias, elementos que o fazem ser também um dos bairros mais
valorizados de Belém. Por sua dinâmica urbana, considera-se um bairro central e
também conector, haja vista que abarca as principais avenidas da cidade e a maior parte
das linhas de transporte público. A diversidade dos serviços e o caráter de centralidade
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do bairro são reforçados pelas características morfológicas e morfográficas, uma vez
que as atividades distribuem-se por áreas desprovidas de obstáculos topográficos e
livres de inundação, alagamento ou enchente.
No bairro, predominam as áreas de baixo platô 1 em relação a áreas de planícies
urbanizadas parcialmente alagáveis, fator que demonstra que o sítio está assentado em
sua maior parte em uma área com cotas topográficas de 4 a 10 m, o que também
justifica a baixa ocorrência de pontos de alagamentos. Contudo, nas travessas 3 de Maio
e Nina Ribeiro, bem como na avenida Gentil Bitencourt, estão presentes os canais de
mesmo nome, o que eventualmente promove a ocorrência de alagamentos devido a
fatores como: a) insuficiência da rede coletora de águas residuárias; e b)
entupimento/assoreamento da rede por resíduos sólidos e/ou ausência de manutenção
aliado ao período chuvoso (Figura 4).
A
B
Figura 4 – A) Canal da travessa Nina Ribeiro, entre as ruas Dr. Américo Santa Rosa e Silva Rosado; B)
Canal da avenida Gentil Bitencourt com travessa Deodoro de Mendonça, que se estende desde o bairro de
São Brás até o bairro da Terra Firme (Montese). Foto: LOPES, 2015 .
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B
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O sítio do bairro favorece as formas de uso e ocupação urbanas, sendo propício
à implantação de diversos tipos de construção e de infraestrutura de saneamento, de
circulação, de eletrificação. Contudo, há exceção nas áreas de planícies urbanizadas
parcialmente alagáveis, nas quais os baixos gradientes topográficos e a possibilidade de
alagamentos e/ou enchentes constituem fatores que limitam o tipo de construção e de
infraestrutura. Nas vias que percorrem áreas de baixo platô 1, tem-se um aporte de
infraestrutura mais completa, com predominância de prédios com valor imobiliário
elevado e imóveis voltados, em sua maioria, para prestação de serviços. Localizam-se,
também, agências bancarias nacionais, redes de farmácias, colégios privados entre
outros serviços privados e públicos oferecidos. Já nas áreas de planícies urbanizadas
parcialmente alagáveis, verifica-se um investimento menor em infraestrutura,
encontrando-se com mais facilidade focos de acúmulo de resíduos sólidos e
pavimentação degradada. Diferente da porção central do bairro, os investimentos em
infraestrutura e em outros âmbitos, por parte tanto do setor público como do privado,
são menos expressivos, verificando-se também um aumento de imóveis residenciais, no
geral com características mais modestas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A geomorfologia urbana tem como um dos seus enfoques as características
físicas dos sítios urbanos. Diante da crescente preocupação com os problemas
ambientais urbanos, as obras revisadas, neste trabalho, possibilitaram apreender
conceitos e metodologias a respeito dos estudos dos sítios urbanos, bem como aplicá-los
ao bairro de São Brás, em Belém-PA. As cartas topográficas constituíram-se em
ferramentas fundamentais para a análise e interpretação do sítio, permitindo identificar
as formas de relevo e os processos morfodinâmicos, bem como relacioná-los à estrutura
urbana.
Diante da compartimentação do relevo, o bairro de São Brás está assentado, em
sua maior porção, em uma área caracterizada por cotas topográficas entre 4 e 10 metros.
Isto é, o baixo platô ocupa cerca de 80 % do território do bairro. O restante é ocupado
por planícies alagáveis urbanizadas. Nessas áreas, há presença de canais urbanos que
produzem alagamentos periódicos, sobretudo nos meses de alta pluviosidade. Fatores
antrópicos, também, concorrem para a ocorrência de alagamentos ou enchentes, tais
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como o despejo de resíduos sólidos e a falta de manutenção da infraestrutura de
drenagem. Assim, a situação topográfica justifica o fato de se ter uma estrutura urbana
constituída por quarteirões e vias de tamanhos regulares, propícios para ocupação
urbana, para os investimentos públicos e privados no que se refere ao saneamento
básico, à oferta de atividades terciárias e à valorização no mercado imobiliário.
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