EDITORIAIS Nota do Editor: Com esta edição a revista Igreja Luterana atinge seu 50" volume. São 50 anos de muitas e expressivas bênçãos. É um marco significativo a que se pode galgar apenas orvalhado pela graça divina. Poucas são as revistas neste país que chegam, a este pedestal etário, razão pela qual Igreja Luterana ocupa lugar de destaque na história religiosa e no cenário teológico em que vivemos. Porta-voz de um luteranismo sólido e coerente, Igreja Luterana tem-se mantida altaneira em sua posição confessional num contexto marcado por não pouca confusão no pensamento teológico. Cada número desta revista espelha o testemunho de uma total consagração às Sagradas Escrituras e às Confissões Luteranas. Com o passar dos anos Igreja Luterana muda seus editores, renova seu conselho editorial, unifica sua língua sem entretanto comprometer seu fundamento teológico. Um aniversário por natureza começa com reflexão e nisto há sempre um mérito porque previsão sem retrospecção é um empreendimento arriscado e raramente prudente. É nesta convicção que celebramos o passado homenageando figuras proeminentes na história do Seminário Concórdia com um culto especial cujo sermão proferido pelo Prof. Curt Albrecht transcrevemos. A saudosa lembrança de homens santos é estímulo à continuidade na obra do Santo Ministério numa realidade em que o pastor é cada vez mais desafiado a posicionar-se no campo da ética. Em seu estudo sobre "Código de Ética do Pastor" o Dr. Martim C. W a r t h apresenta os resultados submetidos a conciliares em que a ética do ministro de Deus é abordada no prisma da liberdade, valores, propriedade, honra, responsabilidades e autoridade no ambiente social e especialmente na relação com sua congregação e co-pastores. A questão da autoridade é outro assunto que o mesmo autor apresenta sob o tema "A Responsabilidade dos Pais na Educação dos Filhos". Embora aparentemente restrita, esta responsabilidade é tratada de forma abrangente envolvendo diversos segmentos vivenciais do ser humano sob a ótica da Sagrada Escritura e Confissões. A série de artigos encerra-se com. "Prolegômenos à Escatologia do Antigo Testamento" (Prof. Acir Raymann) onde se busca mostrar que a polaridade do binômio "já — ainda não" 2 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 incentiva o Israel de Deus a (re)vivenciar Seus atos salvíficos no mundo enquanto aguarda o plêroma destes atos na dimensão celeste. Com esta edição, em "Auxílios Homiléticos" concluímos o estudo dos Evangelhos da Série Histórica Revisada. A partir do próximo número voltamos ao estudo das perícopes da Série Trienal. Uma abençoada leitura e muito obrigado por celebrar conosco as bênçãos cinqüentenárias do S E N H O R . — AR FÓRUM A CRISTOLOGIA DA PÁSCOA, SEGUNDO I CO 15.20-28 A leitura de I Co 15.20-28 deu ensejo a uma reflexão sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo. Quando Paulo diz que "Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem" (v. 20) ele afirma que Cristo morreu e ressuscitou. Ora, "o salário do pecado é a morte" (Rm 6.23). Só se morre por causa do pecado. Mas Cristo é "o Santo de Deus" (Mc 1.24; Jo 6.69; At 3.14; 4.30), pois Maria deu à luz o "ente santo" (Lc 1.35). Por essa razão se afirma a "perfeita impecaminosidade" (anamartesia) de Jesus Cristo, segundo a natureza humana (Dogmática Cristã, J . T . Mueller, Vol. I, p. 268). Claro, segundo a natureza divina ele é o próprio Santo Deus. Ele era verdadeiramente homem, mesmo sem pecado, pois o pecado não faz parte da essência do homem. A Fórmula de Concórdia chama o pecado de "accidens" (FC, Ep I, 23; SD I, 57). Uma das conseqüências desta impecaminosidade é a imortalidade (athanasia) de Jesus Cristo, também segundo a natureza humana. Assim Jesus Cristo não está sujeito à morte, nem segundo a natureza divina, nem segundo a natureza humana. Como então morreu e ressuscitou dentre os mortos? E v i dentemente não morreu a sua morte, mas a minha. Sua morte foi vicária em lugar de todos os homens. Assim também a ressurreição não foi a sua ressurreição, mas a minha. Sua ressurreição também foi vicária em lugar de todos os homens. Por essa razão Paulo diz que sua ressurreição é "primícias dos que dormem", é vicária em lugar dos que dormem. Quanto consolo: cm Cristo vicariamente já ressuscitei e vou ressuscitar efetivamente para a vida eterna no último dia. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 3 Como aconteceu então a morte e a ressurreição de Jesus Cristo? Evidentemente não morreu segundo a natureza divina, mas segundo a natureza humana no estado da humilhação. Mas, como 0 Concilio de Calcedônia (451) nos ensina, as duas naturezas estão unidas na única pessoa de Cristo de forma inconFusa, imutável, indivisível e inseparável para sempre. Desta forma nem a morte vicária separou as duas naturezas. Assim a natureza divina participou efetivamente da morte vicária de Cristo e lhe conferiu valor eterno. Mas a natureza divina não saiu machucada ou diminuída. Na comunicação de atributos há apenas um gênero majestático, em, que a natureza divina comunica ou cede à natureza humana qualidades divinas. Não há um gênero tapeinótico, em que a natureza humana passaria qualidades humanas à natureza divina, fazendo-a diminuir ou ser humilhada. A humilhação não consistia na humanação, mas no fato de que Cristo não usou sempre e inteiramente as qualidades divinas comunicadas à natureza humana. A natureza humana tinha sempre a posse dessas qualidades divinas, mas na humilhação não fez sempre uso delas, como depois acontece na exaltação. A "forma de Deus" e a "forma humana" de Fp 2.6,7 dizem respeito à natureza humana: ela tinha a posse da "forma de Deus", mas usou a "forma humana" na humilhação para poder assumir a morte vicária por todos os homens. E o que aconteceu na morte e na ressurreição de Jesus Cristo? Na morte não houve a separação das duas naturezas, mas a separação de corpo e alma, que ambos ficaram continuamente unidos à natureza divina. Assim o próprio Cristo deu a sua vida (não a tiraram dele) e a retomou, ressuscitando-se a si mesmo (junto com o P a i e o Espírito Santo) em lugar de todos os homens, unindo novamente corpo e alma. Agora o corpo era glorioso, pois já não estava " n a carne", mas "no espírito" (I Pe 3.18), isto é, já não havia humilhação, mas iniciou a exaltação. Assim "no espírito" desceu ao inferno, antes de aparecer ressuscitado, para mostrar-se vivo e vitorioso sobre a morte e Satanás. Paulo, no entanto, ensina que ainda há muito a vencer na exaltação. Cristo quer vencer todos os inimigos: as forças do mal dentro e fora de nós que conduzem à morte. O diabo já está vencido. O homem já está remido. Falta, porém, vencer a morte. Este é o último inimigo. Até lá Cristo vence continuamente a morte em nós pelo Evangelho do perdão. E quando chegar o último dia e Cristo tiver vencido a morte pela ressurreição geral dos mortos, então a tarefa da humanação estará cumprida. Segundo a natureza humana Jesus Cristo "também se sujeitará àquele que todas as cousas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos" (v. 28). Segundo a natureza humana 4 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 Jesus Cristo recebeu de Deus Pai a sujeição de todas as coisas (Mt 28.18). O juízo final encerra a tarefa de Jesus Cristo, homem. Como homem não é somente o Mediador, mas também o juiz (1 Tm 2.5; II Tm 4.1; Jo 5.22,27). Então Jesus, segundo a natureza humana, devolve a Deus a autoridade que lhe foi confiada por ser "o Filho do homem" (Jo 5.27). Segundo a natureza divina não há nada a devolver, pois nada foi recebido. Na presença de Deus na eternidade os salvos confraternizarão com o Rei Jesus, que é seu irmão amigo e seu Deus para sempre. Até lá os cristãos recebem a presença real do corpo e do sangue de Jesus Cristo na Santa Ceia, o corpo e o sangue dado e derramado vicariamente pelos homens para selar a aliança eterna de Deus com o Seu povo. Pela ressurreição está vivo e garante a nossa vida eterna. Pela Santa Ceia se torna presente na vida dos cristãos para preparar e garantir a ressurreição final. Pela fé esta presença é graciosa e consoladora, pois garante o perdão e a vida para sempre. Que consolo nos dá esta Cristologia da Páscoa! — M . C . W . ETERNA (IN)SATISFAÇÃO Quem poderia dizer, neste momento, que está plenamente satisfeito? Será que ninguém tem nada a reclamar, nada a criticar? Pergunto: Estás satisfeito contigo mesmo, teu relacionamento com os outros, o ambiente em que vives? Duvido muito. Afinal, estamos numa escola. E uma escola, embora o termo originalmente significasse "ócio", "descanso", é hoje sinônimo de atividade. Escola é quase que por definição um viveiro de insatisfeitos. Se cada um de nós estivesse plenamente satisfeito, não estaríamos aqui. Eterna insatisfação. Parece que faz parte da vida. Jesus Cristo, o Messias da linhagem de Davi, observou isso na criançada que brincava na praça de Nazaré. Brincavam de festa de casamento e de enterro. Mas não se entendiam. Tinha um grupo de crianças chatas, despóticas e insuportáveis. Queriam sempre impor a sua vontade. Estavam com a flauta na mão e queriam que todos dançassem conforme a música que eles tocavam. E r a m uns chatos insatisfeitos. Mais tarde, no fogo da controvérsia com os líderes de Israel, Jesus lembrou aquela brincadeira das crianças aos adultos que, em sua atitude diante da visitação definitiva de Deus, mostravam um comportamento idêntico. Contou-lhes a parábola das crianças na praça. João veio da parte de Deus e não comia nem bebia. Isto significa que ele vivia do mínimo necessário. E r a um nazireu, IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 5 um asceta. E r a uma imagem ambulante a pregar a necessidade de profunda conversão face ao juízo que estava por despencar sobre a cabeça do povo. João estava, por assim dizer, em pano de saco e cinza. Estava de luto. Mas os líderes judaicos, que tinham a flauta na mão, queriam fazer João Batista dançar. E porque João não dançou conforme a música deles, foi tachado de louco. Ou, no dizer deles, "tem demônio". Veio Jesus Cristo, o Filho do homem, o Agente escatológico do Pai, que comia e bebia. Isto significa que ele ia a jantares, tanto na casa de fariseus como de publicanos. Jesus sabia o que é se alegrar e até incentiva a alegria dos seus, ao perguntar: "Podem acaso estar tristes os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles?" (Mateus 9.15a) Para Jesus, cada um desses jantares com pecadores era uma parábola viva, uma alegre antecipação tipológica do banquete celestial (mais ou menos como temos hoje na Santa Ceia), pois quem estava reunido à mesa era o Salvador com pecadores arrependidos e perdoados. Mas os líderes judaicos, que tinham a flauta na mão, queriam fazer Jesus bater no peito, em sinal de tristeza e luto. E porque Jesus não dançou conforme a música deles, foi chamado de glutão, beberrão, amigo de publicanos e pecadores. Jesus avalia a situação e se refere àqueles seus contemporâneos insatisfeitos, despóticos, rebeldes, em termos de "esta geração". Esta é uma expressão que vem carregada de juízo e ira de Deus. Em Mateus 12.39 Jesus se refere a ela como sendo "geração má e adúltera". Jesus se dirige a ela com seu pungente " A i de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida!" (Mateus 11.21) Tu e eu podemos até concluir: Que geração aquela! Eternamente insatisfeitos! Mas será que somos diferentes? Não é assim que também nós estamos instalados em nossa cadeira de juiz, emitindo pareceres o tempo todo? Temos a flauta na mão e queremos que todos dancem conforme a nossa música. "Aquele aluno é um desastre." "Professor fulado de tal não está com nada." "Aquele pregador não leva jeito." "O pastor é um desligadão." " A s devoções são uma eterna mesmice, por isso não vou mais." "A lei que aparece nos sermões é muito amarga; prefiro o evangelho." " A s mensagens são muito adocicadas. Demais evangelho. Falta l e i " . Sabemos criticar. Queremos dominar. Todos devem dançar conforme a nossa música. Por isso, também a nós se aplica o ai de vós, pronunciado por Jesus. Também nós fazemos parte desta geração, o que, por certo, nos entristece. No entanto, em meio a esse quadro de juizo, não percamos de vista o grande consolo da palavra de Deus. Mas onde haveria consolo num texto como o nosso, repleto de acusações? Pois o evangelho está exatamente numa das farpas jogadas contra Jesus. Chamam-no, em tom zombeteiro, de amigo de pecadores. 6 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 Amigo de publicanos, de pecadores. Meus amigo. Teu amigo. Amigo daqueles que precisam dele e o recebem, colocando de lado a sua flauta desafinada e ouvindo a música que ele toca no trombone da lei e na flauta doce do evangelho. Jesus, o amigo de pecadores. Nenhum título é tão precioso quanto este. Sempre que Deus, por sua lei, te tirar a flauta desafinada ou te derrubar da cadeira do falso juiz que a todos julga e por ninguém quer ser julgado.. . ao caíres, lembra-te: Jesus, amigo do pecador. Aí terás eterna satisfação. Amém. — VS Devoção proferida no Seminário Concórdia no dia 27 de junho de 1990, sobre Mateus 11.16-19. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 7 ARTIGOS SE VÓS PERMANECERDES NA MINHA PALAVRA, SOIS VERDADEIRAMENTE MEUS DISCÍPULOS Curt Albrecht Em Cristo Jesus, prezados ouvintes! Certa vez "Indo Jesus para as bandas de Cesaréia de F i l i pe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista; outros: Elias; e outros: Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós, continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." Mt 16.13-16. À época da Reforma a situação não era muito diferente. Poucos eram os fiéis que conheciam bem a Cristo Jesus. Em ambas as épocas o evangelho de Cristo estava escondido entre inúmeros preceitos humanos. Hoje — penso — a situação é quase a mesma. Poucos são os fiéis discípulos que realmente sabem quem é Jesus, que crêem nele e que o servem. Mas há aqueles que conhecem e que confessam a "Cristo, o Filho do Deus vivo". Entre os que confessam isso estamos nós. É a seus discípulos, aos que crêem nele, que Jesus diz: SE VÓS PERMANECERDES NA MINHA PALAVRA, SOIS VERDADEIRAMENTE MEUS DISCÍPULOS, pois I — C O N H E C E R E I S A V E R D A D E e II — A V E R D A D E VOS L I B E R T A R Á . I CONHECEREIS A VERDADE Havia uma grande confusão entre os judeus a respeito de Jesus (Jo 7.40-43); confusão que provocou dissensão entre eles. Jesus ia identificando-se nos seus discursos: " E u sou a luz do mundo" (8.12); "Vós sois cá de baixo, eu sou lá de cima; vós sois deste mundo, eu deste mundo não sou" (8.23); "Quando levantardes o Filho do homem, então sabereis que eu sou, e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o P a i me ensinou" (8.28). Os fariseus, os escribas e os principais sacerdotes, justamente aqueles que, por primeiro e melhor, deveriam reconhecer 8 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 em Jesus o verdadeiro Filho de Deus, falharam e não só não o reconheceram como tal, mas ainda o perseguiam e contradiziam, E a multidão ficava confusa. Muitos, no entanto, creram nele. Em nossa perícope, Jesus está falando àqueles judeus que creram nele. Ele lhes diz algo muito importante, lhes diz três coisas importantes: 1) Permanecer na palavra dele é característica do verdadeiro discípulo dele; 2) Permanecer na palavra dele é conhecer a verdade; 3) Conhecer a verdade da palavra dele e permanecer nela é sinônimo de ser e estar libertado da escravidão ao pecado. Isto foi dito aos que creram nele; mas quem lhe retrucou foram os judeus incrédulos. "Somos semente de Abraão." Achavam que. por serem descendentes de Abraão segundo a carne, eram, automaticamente, filhos de Deus salvos e livres: "Jamais fomos escravos de alguém" —disseram para Jesus. Consideravam-se livres de tudo e de todos, senhores de sua própria vida. Pensavam assim de si na qualidade de "semente de Abraão". Jesus, porém, lhes mostra, que não é bem assim, e diz: "Todo o que comete pecado é escravo do pecado". O pecador peca não porque é senhor do erro, mas porque é escravo do erro. Ou teriam aqueles judeus querido dizer que eles não eram pecadores? É ilusão o homem natural pensar que é livre, que é senhor de si, que é autoridade máxima no mundo. Praticar erros é ser escravo do erro, escravo do pecado. É o que Jesus está dizendo. Além disso, escravo não é filho, e filho não é escravo na casa. 0 escravo é passageiro; ele não é da casa; ele não fica para sempre na casa, porque não é senhor; ele é dependente, está à mercê do senhor. Já o filho é da casa, é herdeiro, é senhor. Por isso o escravo depende do filho. Também nós somos, por natureza, escravos do pecado, porque "Não há homem justo sobre a terra que faça o bem, e que não peque" (Ec 7.20); "pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia" (Is 64.6). "Todos pecaram c carecem da glória de Deus" (Rm, 3.23). "ft como confessa o salmista Davi: " E u nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51.5). O escravo do pecado só pode ser libertado pelo Filho de Deus, que é o Senhor da casa. Sem Cristo Jesus todos estão perdidos e condenados. É por causa disso que Jesus disse: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres"! E ele nos libertou, ([liando morreu com e pelos nossos pecados e quando ressuscitou dentre os mortos, "Porquanto Deus enviou seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 9 salvo por ele" (Jo 3.17). Jesus " f o i entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitou por causa da nossa justificação" (Rm 4.25). 0 perdão dos pecados e a conseqüente justificação só são possíveis e são válidos eternamente, porque o próprio "Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação" (II Co 5.19). Esta palavra da reconciliação é a mesma, à qual Jesus se refere em nosso texto, quando diz: " S E VÓS P E R M A N E C E R D E S NA M I N H A P A L A V R A , SOIS V E R D A D E I R A M E N T E M E U S DISC Í P U L O S ; e conhecereis a verdade". Oh! como é de vital importância conhecer a verdade de que Deus, em Cristo, está reconciliado conosco! Conhecer esta verdade e crer nela liberta do pecado, do diabo c da morte eterna, "pois se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres"! Por isso, essa palavra, que traz Cristo como Filho de Deus e Salvador para as pessoas, precisa ser pregada, proclamada, falada ao coração para aqueles que são escravos do pecado. É tarefa nossa fazer isso para os nossos contemporâneos. Lembramos hoje cinco pregadores desta verdade. Lembramo-los, para imitar-lhes a fé que tiveram e também para inspirar-nos no seu zelo, na sua consciência, no seu espírito missionário, na sua dedicação c persistência em proclamar a verdade, que é a palavra de Cristo. E, ao lembrá-los, pelo seu centenário de nascimento, queremos fazê-lo em obediência à recomendação bíblica, que diz: "Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim de sua vida, imitai a fé que tiveram" (Hb 13.7). Estes cinco pastores, formados pelo nosso Seminário Concórdia, permaneceram discípulos e apóstolos fiéis de Cristo até o fim, porque conheciam a verdade e creram na palavra de Cristo. E assim como eles, em sua vida e no seu tempo, levaram outros ao conhecimento da verdade, assim nós, agora, no nosso tempo, precisamos levar outros, nossos contemporâneos, ao conhecimento da verdade, anunciando-lhes perdão dos pecados e vida eterna em Cristo. São válidas para nós as palavras de Jesus em nosso texto: " S E VÓS P E R M A N E C E R D E S NA M I N H A P A L A V R A , SOIS V E R D A D E I R A M E N T E M E U S DISCÍPULOS; e conhecereis a verdade e 10 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 II A VERDADE VOS LIBERTARÁ A partir de 1483 havia uma pessoa no mundo, que, desde tenra idade, viria a ter a grande preocupação de como ser salva, de como libertar-se dos pecados — preocupação rara — convenhamos. Esta pessoa era Martinho Lutero. Nascido a 10/11/1483 e tendo sido batizado no dia seguinte, cresceu em Eisleben, estudou em Mansfeld, Eisenach e Erfurt. Cresceu sem conhecer direito o Salvador Jesus Cristo. Por isso, em plena juventude, fez uma promessa a Santa A n a de entrar para um mosteiro, fazer-se monge, com o fim de adquirir a sua salvação e paz na alma. Tornou-se padre, visitou Roma, aplicou-se ao estudo da Palavra de Deus, foi feito doutor em Teologia e tornou-se professor c pregador na Universidade de Wittenberg. Provocado pela infame venda das indulgências e movido pelo zelo para com a palavra de Deus, afixou Lutero as 95 Teses à porta da igreja, em 31/10/1517, que desencadearam a Reforma luterana e a conseqüente mudança radical na Igreja e no mundo do Ocidente. Começara uma nova era. A Reforma de Lutero recolocou a Palavra de Deus, as Sagradas Escrituras como única regra de fé e de vida cristã para a Igreja. A Reforma luterana proclamou a palavra da verdade que liberta. A Reforma proclamou que Jesus Cristo é o Filho do Deus vivo, único Salvador de cada pessoa. Lutero enfrentou árduas lutas pela defesa e propagação do Evangelho. Sustentou debates teológicos, combateu o erro, exortou as autoridades da sua nação, compareceu à Dieta de Worms diante do imperador; pregou, lecionou, escreveu, cantou e viveu o Evangelho de Jesus Cristo. Aos 42 anos casou-se com Catarina von Bora e foi pai de seis filhos. F o i excomungado da Igreja Romana e proscrito pelo governo imperial; mas morreu de morte natural aos 63 anos. É graças à ação de Deus através de Lutero que nós, hoje, conhecemos a palavra de Cristo que liberta do pecado. " F o i o homem pelo qual Deus purificou ou reformou a Igreja". Mas convém advertir contra o perigo do "somos semente de Abraão" dos judeus incrédulos de nosso texto; contra o perigo de sermos "luteranos tradicionais" apenas; contra o perigo de nos acomodarmos nessa condição de luteranos nominais, não sendo discípulos fiéis de Cristo, evangelizadores, mas escravos do pecado que não permanecem para sempre na casa. "Semente de Abraão" e "luterano por tradição" não liberta ninguém do pecado e da condenação eterna. Aos que invocaIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 11 ram a tradição e a genealogia de Abraão como qualidade de salvação, Jesus lhes disse: "Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe aos desejos" (Jo 8.44a). "Ninguém, será justificado diante dele (de Deus) por obras da l e i " — escreveu São Paulo aos Romanos (3.20). Para ser salvo é preciso permanecer na palavra de Jesus, ser discípulo dele, conhecer a verdade e ser libertado pela verdadeira fé em Cristo. Por isso diz Jesus: "Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres". Jesus Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Quem nele crê torna-se beneficiário da morte e da ressurreição do Senhor. E quem permanece nesta fé, este é discípulo dele, conhece a verdade e esta verdade o libertará da escravidão ao pecado e da condenação eterna. Libertados do pecado pela fé em Cristo e conhecedores da verdade, podemos confessar, cantando com o poeta sacro: " N i n guém nos amou / como o Cristo Senhor, / que as almas guiou / como seu bom Pastor; / na Bíblia nos deu / consolo do céu" ( H L 269.3). Sim, ouvintes, a Bíblia, que Lutero devolveu ao uso na Igreja, traduzindo-a para o povo, ela contém o consolo do céu de que, quem a conhece, nela crê e nela permanece, será libertado por Cristo para a vida eterna. Então, " S E VÓS P E R M A N E C E R D E S N A M I N H A P A L A V R A , SOIS V E R D A D E I R A M E N TE M E U S DISCÍPULOS, e conhecereis a verdade; c a verdade vos libertará". Nós recordamos, hoje, cinco discípulos fiéis de Cristo, que nasceram há um século e que foram pastores apegados à palavra de Cristo e, por conseguinte, aos princípios da Reforma. Hirschmann, Raschke, Hasse, Doege e Flor podem ser imitados nas virtudes de sua fé por nós pastores, para um Ministério eficiente na I E L B . Em si não era errado os judeus lembrarem-se de Abraão, de Moisés e de Davi; pois estes foram discípulos fiéis, porque permaneceram firmados nas promessas de Deus. Também nós podemos alegrar-nos por causa do parentesco que temos com. os cinco pastores fiéis que foram os que hoje são lembrados; alegrar-nos com a história da I E L B , enriquecida por estes cinco obreiros; alegrar-nos também por Lutero, Chemnitz, Gerhard, Walther e tantos outros que se tornaram mais que vencedores por meio daquele que os e a nós amou. E, sobretudo, alegrar-nos com a nossa filiação a Deus por meio de seu Filho, Jesus Cristo, lembrados das palavras do próprio Cristo: " S E VÓS P E R M A N E C E R D E S N A M I N H A P A L A V R A , SOIS V E R D A D E I R A M E N T E 12 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 M E U S . DISCÍPULOS, e conhecereis a verdade; e a verdade vos libertará". Irmãos ouvintes, graças à misericórdia de Deus, temos um Salvador, temos sua palavra, temos a verdade. Temos ao Deusconosco todos os dias conosco! Procuremos conhecer mais e mais esta verdade, para crer nela, permanecer nela, ser discípulos dela. Esta verdade — Cristo — nos libertará para sempre. E saibamos que uma maneira de viver bem nosso cristianismo luterano é não esquecer a história da Igreja, lembrandonos de nossos guias, os quais nos pregaram a Palavra de Deus e nos levaram, assim, ao discipulado de Cristo. Imitemos a fé na verdade da palavra de Deus que nossos antepassados tiveram e continuemos sendo discípulos fiéis de Cristo, esperando a libertação final e total no lar celeste. Mas, enquanto nos é dado viver na Igreja militante, em meio a um mundo confuso, saibamos nós confessar e testemunhar com os apóstolos do Senhor Jesus, que Cristo é o Filho do Deus vivo; que nós cremos nele e somos seus discípulos. Proclamar que Jesus é o Salvador, o único que liberta do pecado e da morte eterna. Amém. Sermão proferido na capela do Seminário Concórdia no dia 26 de outubro de 1990 em culto especial comemorativo à Reforma, aniversário do Seminário e centenário de nascimento dos pastores Ewald Hirschmann, Curt Raschke, Rodolpho Hasse, Wühelm Doege e Benjamin Flor. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 13 CÓDIGO DE ÉTICA DO PASTOR Martim C. Warth O pastor é chamado para pastorear o rebanho de Deus sob o Bom Pastor, Jesus Cristo (1 Pe 5.2,4). Há regras de conduta bem específicas para os obreiros de Deus na Escritura. Elas mencionam a capacidade de trabalho, a motivação pessoal, a conduta social e os proibitivos. Encontram-se em 1 Pe 5.1-4; 1 Tm 3.1-7; 4.16; 2 Tm 2.24-25; 4.2,5; Tt 1.7-9; 2.1,7-8. A. Capacidade de trabalho para cumprir o ministério: a. O ministro deve ser apegado à Palavra e ter cuidado da sã doutrina (não pode ser neófito); b. para pregar a Palavra, instar com integridade, reverência, com, linguagem sadia e irrepreensível; c. ser apto para ensinar e instruir, como evangelista e despenseiro de Deus; d. para exortar, convencer, disciplinar, corrigir, repreender — com mansidão e longanimidade; e. e para suportar aflições. B. Motivações pessoais: a. 0 ministro deve ser piedoso; b. de forma espontânea, de boa vontade; c. que tenha cuidado de si e domínio de si. C. Conduta social: a. O ministro deve ser irrepreensível, com bom testemunho dos de fora; b. deve ter família padrão: uma só mulher, filhos educados; c. deve ser hospitaleiro, amigo do bem, padrão de boas obras, modelo; 14 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 d. deve ser temperante, sóbrio, modesto, cordato, i n i migo de contendas, brando, paciente, justo. D. Proibitivos: 0 ministro não pode ser: constrangido ao ofício, ganancioso (avarento, cobiçoso), dominador, violento, arrogante, irascível, que goste de contenda e de muito vinho. A espiritualidade recebida pela fé está continuamente sob ataque da natureza corrompida. Isto torna também o pastor frágil. Pode sentir-se exausto e sem recursos espirituais, seguido de um sentimento de frustração, fracasso ou revolta. A verdadeira espiritualidade só pode ser dada pela meditação no evangelho que é o poder de Deus que move a fé. A devoção diária com estudo e oração é básica para o pastor. Como espiritual aceita os seguintes princípios de conduta na grande tarefa de equipar o povo de Deus para serviço que são extensivos aos obreiros de todas as categorias dentro da I E L B , inclusive leigos. I. Aceitar Autoridade. — Há um elemento muito sensível que garante a existência da sociedade e que, no entanto, está sob contínuo ataque na rebelião do homem: a autoridade. Como o homem em rebelião não aceita que Deus é Deus, assim ele também não quer servir sob nenhuma autoridade. Mas o "espírito voluntário" (Sl 51.12) do cristão aceita a autoridade. 1. Como cristão e pastor eu aceito pela fé, acima de tudo a autoridade de Deus e de sua Palavra, revelada em lei e evangelho. Minha primeira resposta é a adoração, demonstrada na confissão da fé, na oração e no culto pessoal ao meu Deus. 2. Como cristão e pastor luterano eu aceito a autoridade das confissões luteranas, como estão no Livro de Concórdia de 1580, por serem, a clara e correta exposição da Palavra de Deus. 3. Como cristão e pastor eu aceito a autoridade daqueles que são colocados por Deus acima de m i m nas diferentes ordens sociais: na relação familiar e econômica, no governo, e na igreja. 4. Como pastor aceito especialmente a autoridade daqueles que foram eleitos para governarem na igreja: o presidente e a direção da igreja, os conselheiros, a diretoria da congregação, e outros que receberam esta autoridade. Entendo que também os colegas me foram dados por Deus para mútuo conselho e exortação necessários para um ministério mais espiritual e eficiente. Onde eu mesmo exerço esta autoridade, seja na igreja, na conIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 15 gregação ou na família, entendo que não o posso fazer como dominador (1 Pe 5 3). Entendo que preciso exercer a autoridade recebida como quem serve em humildade ao seu próximo (Jo 13.14-17) de quem recebeu esta autoridade. 5. Como pastor aceito a autoridade de uma paróquia que me chama, e respeito o seu direito de receber uma imediata participação do seu recebimento e uma pronta solução para o chamado. Estando a serviço de outra paróquia ou agência da igreja reconheço o direito desta de opinar comigo sobre o novo chamado. Reconheço que chamado é coisa pública na ordem social da igreja, ficando inclusive sob a autoridade do seu presidente e dos seus conselheiros distritais, com os quais preciso me comunicar. Reconheço que a paróquia ou o segmento da igreja que me chamou também tem o direito de reavaliar o chamado e propor modificações. 6. Como cristão aceito a autoridade de todo aquele que se dirige a m i m por carta ou por outra forma de comunicação pessoal, reconhecendo a necessidade de dar uma resposta adequada dentro do menor prazo possível. 7. Como cristão aceito a autoridade de todos os que vivem comigo na família, com os quais pratico a submissão mútua (Ef 5.21) porque abri espaço com ternura para viverem comigo. Lembro que nem mesmo sou a única autoridade sobre o meu corpo, pois o uni à esposa. II. Aceitar a liberdade e seus limites. — A liberdade sempre é dada: Deus a dá e distribui. Há uma liberdade de mim mesmo que Deus me dá pela fé. Esta liberdade me determina como aquele que está aí para servir o seu Senhor, servindo ao seu próximo. Como o meu próximo tem a mesma liberdade, surge o limite pela vocação de cada um. 8. Como pastor eu aceito a liberdade de filho de Deus e a coloco à disposição do meu Senhor para servir ao meu próximo. 9. Como cristão eu aceito a liberdade de dispor do meu tempo, dos meus bens, da minha nova vida em Cristo para servir sob o reino de Deus. 10. Como cristão eu aceito o limite da minha liberdade, procurando respeitar o tempo, os bens e a vida do meu próximo. 16 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 11. Como cristão eu respeito o direito que meu próximo tem à sua privacidade, afastando-me de qualquer tentativa de especular a respeito de vantagens ou defeitos de meu próximo. 12. Como cristão e pastor eu aceito o direito à privacidade dos congregados, não procurando penetrar curiosamente em seu mundo de erros e ofensas quando não são públicos. 13. Com,o cristão e pastor eu aceito o direito dos outros de modelar a sua vida de acordo com os privilégios éticos que lhes cabem. Nesse sentido procurarei não impor os meus padrões, nem abusar de seu tempo por visitas alongadas, nem sobrecarregando-os com os problemas dos outros. 14. Como pastor lembrarei aos congregados o meu direito de ser consultado em assuntos que dizem respeito à minha paróquiai Nesse sentido falarei com meus colegas para não aceitarem meus paroquianos para aconselhamento, sem que o tenhamos acertado devidamente. Também não aceitarei pessoas de outras paróquias para aconselhamento, sem acerto devido com o colega. 15. Como cristão e pastor eu aceito o direito que meu colega que me precedeu no ministério naquela paróquia tem de ver o seu nome protegido, de falsas interpretações. Nesse sentido procurarei sempre falar bem do colega, interpretando tudo da melhor maneira. 16. Como cristão e pastor aceito o direito de meu colega pastor, não intrometendo-me em sua área de trabalho, nem oficiando em sua paróquia sem autorização clara dele e de sua paróquia. 17. Como cristão e pastor aceito a liberdade de trabalhar em equipe com os outros, tanto com os líderes paroquiais como com os colegas pastores, sem ver neles concorrentes, mas dons de Deus para aperfeiçoamento dos santos (Ef 4.12). Entendo que trabalho em equipe também inclui aceitar admoestação quando eu faltar a compromissos assumidos. III. Respeitar a escala de valores. — Como cristãos nós entendemos que há certas prioridades. Estas precisam estar sempre claramente diante de nós quando precisamos decidir. 18. Como cristão eu aceito uma escala de valores em que o espiritual tem precedência sobre o físico e o material. Lembro-me de que uma pessoa tem mais valor do que todo o IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 17 mundo, e que vem em primeiro lugar o reino e sua justiça, sendo depois acrescentadas as coisas. 19. Como cristão aceito a primazia do reino de Deus sobre as coisas, procurando distribuir meu tempo, meus bens e meus talentos de acordo com esta escala de valores. Assim com "espírito voluntário" (Sl 51.12) buscarei, em primeiro lugar, uma orientação segura na Palavra do Senhor para então fazer a distribuição do meu tempo, meus bens e dos meus talentos nas ordens sociais em que Deus me colocou por sua vocação. E n tendo que equipar os santos é tarefa básica do pastor. 20. Como cristão e pastor eu quero discernir entre tarefas urgentes e outras menos urgentes, entre tarefas necessárias e outras menos necessárias. I V . Defender a honra do próximo. — O mundo entende que é fácil destruir alguém, destruindo a sua honra. Já se matava com a língua em tempos bíblicos. O cristão entende que a honra é quase uma ordem social, pois Deus defende a honra do próximo no oitavo mandamento. 21. Como cristão e pastor eu me comprometo a preciso guardar o segredo confessional. Minha congregação precisa saber que jamais trairei segredos que me foram confiados em confissão ou no aconselhamento pastoral. 22. Como cristão e pastor eu quero falar pelo mudo. Sei que preciso falar sempre quando alguém é acusado injustamente. 23. Como cristão e pastor eu vou procurar cobrir, o quanto possível, os pecados dos irmãos. Nesse sentido quero ser um parácleto: quero estar aí para os! outros, para ajudar a carregar o peso de sua vida. 24. Como cristão e pastor eu quero interpretar tudo da melhor maneira, defendendo os meus colegas no ofício, meu presidente, meu conselheiro, minha diretoria, minha igreja, os membros da minha congregação e meu próximo. 25. Como cristão e pastor quero usar de moderação (epiquéia) ao julgar os outros, sabendo que também eu tenho minhas fraquezas. V. Reconhecer os direitos de propriedade. — Cada um tem, certas coisas que são suas conquistas na vida. Podem ser pro18 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 priedades, invenções, idéias. O mundo reconhece que quem i n ventou pode patentear sua invenção. O cristão também reconhece que o próximo tem direito a sua propriedade. E l a não está simplesmente à minha disposição. 26. Como cristão e pastor eu reconheço o direito do meu próximo sobre a sua propriedade. Desta forma não posso simplesmente invadir a sua propriedade, nem fazer uso dela sem a sua autorização. 27. Como cristão reconheço também que todos os bens que me foram confiados por Deus possuem uma variada qualidade: suprir minhas necessidades, e de minha família, mas também as do próximo como parte do meu culto a Deus. Desta forma não devo utilizar meus bens egoisticamente, mas administrá-los para Deus dentro das ordens sociais. 28. Como cristão e pastor não quero enfeitar-me com "plumas alheias". Assim, quando quero usar pensamentos, sermões, poesias e artigos de outros, e que não são de domínio público, eu quero primeiro verificar se tenho autorização para usá-los. E quando o fizer, eu quero dar crédito ao seu autor, citando as fontes. 29. Como cristão e pastor eu quero valorizar os esforços dos outros que me ajudaram a crescer. Entendo que não me diminui quando reconheço e valorizo a aprendizagem que fiz com alguém. 30. Como cristão e pastor quero ser muito cuidadoso e consciencioso com valores que me foram confiados!. Entendo que preciso administrar os bens que me foram confiados e prestar contas com exatidão a quem mos confiou. VI. Equilibrar responsabilidades. — Quando uma pessoa fica envolvida demasiadamente com um certo assunto, ela pode ficar unilateral em seu julgamento ou em suas ações. Todos nós pertencemos a todas as ordens sociais: família, governo e igreja. Em cada uma temos certas responsabilidades. 31. Como cristão e pastor eu quero cuidar para equilibrar m i nhas responsabilidades como pastor com as demais. Pois reconheço também as minhas responsabilidades como esposo, pai, assalariado, súdito, e como membro da minha sociedade e do meu país. Nesse sentido preciso reavaliar continuamente minha permanência na mesma paróquia ou tarefa por tempo acima ou abaixo do conveniente e produtivo. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 19 32. Como pastor reconheço minha responsabilidade de pastormestre para equipar os santos (Ef 4.12) na paróquia. E n tendo que só assim cada um do povo de Deus poderá desempenhar sua tarefa como membro do corpo de Cristo. Reconheço a responsabilidade de equipar os congregados para viverem sua vida cristã de adoração a Deus em confissão de fé e missão, em oração e culto doméstico e público. Da mesma forma preciso equipar os santos para viverem a sua fé em amor e serviço ao próximo nas inúmeras oportunidades de sua vocação nas diferentes ordens sociais. A i n d a preciso equipá-los para compreenderem a vida sob a cruz na esperança cristã. 33. Como cristão e pastor eu quero dividir bem o meu tempo para atender todos os meus compromissos. Lembro especialmente o meu compromisso de pregar, de escrever devoções e artigos, de estudar, de visitar, de aconselhar, e de instruir para equipar os santos. Para isso preciso buscar energias novas e conhecimentos atualizados em conferências, concílios e outras oportunidades de estudo, na certeza de que não estou caminhando sozinho nesta tarefa sublime. 34. Como cristão e pastor reconheço minha responsabilidade com a sociedade em que vivo, usando a linguagem, os m o dos e os trajes adequados a cada momento de convívio social. Entendo que também tenho responsabilidade com minha saúde pessoal e social, dando um bom exemplo de preparo físico e mental, de limpeza e asseio pessoal, de equilíbrio entre trabalho e lazer, de sensatez e seriedade na administração dos recursos disponíveis, de moderação no comer e no beber, evitando drogas e vícios da sociedade e guardando distância da poluição moral do mundo em que vivemos. VIL Respeitar a responsabilidade dos outros. — A tendência humana é sentir-se o centro do mundo. Achamos que temos soluções para os problemas do mundo. Desta forma muitas vezes tomamos a liberdade de decidirmos pelos outros, não dando-lhes a oportunidade de tomarem a sua decisão ética que Deus requer. 35. Como cristão e pastor quero aprender a incentivar os outros a tomar as suas decisões diante de Deus. Entendo que ninguém pode crer pelo outro, ninguém pode viver pelo outro, e que ninguém, por isso, deveria decidir pelo outro. Pois cada um será responsabilizado diante de Deus. 36. 20 Como cristão e pastor quero ajudar o meu próximo, e especialmente meu congregado, a tomar as suas decisões, enIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 sinando-lhe o processo de decisão. Entendo que o processo de decisão, depois de ter recebido de Deus pela fé um espírito voluntário é o seguinte: 1. conhecer a l e i imutável de Deus, os Dez Mandamentos; 2. conhecer as leis variáveis de Deus, como são verificadas nas diversas ordens sociais e na experiência do povo de Deus; 3. pedir em oração que Deus nos faça decidir bem; 4. fazer a nossa decisão, na certeza de que Deus n,os guia v que quer nos perdoar os erros; 5. agradecer a Deus quando nos permitiu decidir bem; voltar a Deus em arrependimento quando decidimos erradamente; 6. viver a vida com alegria, quando houve boa decisão; fazer nova decisão quando possível, quando esta não foi correta. 87. Como cristão e parácleto quero estar à disposição do meu próximo para aconselhar e ajudar, respeitando, no entanto, a sua responsabilidade de decidir. Mesmo que nem sempre possa concordar com a sua decisão, quero aprender a respeitar a decisão do meu próximo, pois ele será responsabilizado por Deus. 38. Como cristão entendo que não há espaços livres de pecado, porque continuamos a ser simultaneamente justos pelo evangelho e pecadores pela lei. Como, no entanto, pela fé recebemos a verdadeira espiritualidade a minha decisão como cristão será a favor da justiça e contra a injustiça. Isto não garante sempre uma decisão entre certo e errado. Muitas vezes deverá ser uma decisão entre menos e mais prejudicial. Mesmo sabendo que não serei perfeito eu sou chamado a decidir continuamente como um pecador espiritual que recebeu um novo espirito) voluntário pela fé. Apresentado no Concilio Nacional de Obreiros, reunido em Campo Limpo, São Paulo, de 5 a 9 de julho de 1989, com adendos sugeridos pelos conciliares. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 21 A RESPONSABILIDADE DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS Martim C. Warth A. INTRODUÇÃO AOS CONCEITOS Na discussão a respeito do tema destas reflexões a proposta do uso de "responsabilidades" venceu sobre o uso de " d i reitos e deveres". Parecia mais global, pois se refere a uma relação entre pessoas em que uma autoriza e a outra "responde". A autorização sempre é uma vocação em que alguém é autorizado com direitos e deveres a responder convenientemente. Faremos inicialmente uma reflexão a respeito destes conceitos, como eles são usados na linguagem teológica e confessional da igreja luterana. 1, Responsabilidade e Vocação. Na Apologia da Confissão de Augsburgo se confessa que "a educação dos filhos" é uma questão da "vocação da cada qual" (Ap X V , 25) 1 A vocação, que pode ser escolhida, como no caso dos pais, ou imposta, como no caso dos filhos, pode até ser decorrente de um "costume c i v i l " (Ap X V , 47). O próprio casamento e a formação de um lar, embora estabelecidos a partir de instintos naturais (o instinto sexual e o instinto gregário), criados por Deus, são considerados por Lutero "ein weltlich Geschäft", um assunto do mundo. 2 Este "costume c i v i l " se transforma em vocação nas ordens sociais, criadas e ordenadas por Deus. Lutero menciona geralmente três ordens: o "ordo" econômico, que inclui a família; o político, e o eclesiástico. Deus regulamenta a vocação na família pelo primeiro uso da lei, especialmente nos seus 4º e 6º mandamentos. A responsabilidade dos pais na educação dos filhos se resume na aceitação consciente ou inconsciente da sua vocação de pais. A vocação é uma transferência de autoridade. Essa auto22 i .. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 ridade é necessária nas ordens sociais, pois só ela torna a vida possível entre pessoas dentro de uma ordem social. Sem autoridade incia o caos. A última autoridade é do autor último, Deus. Na estruturação das ordens sociais Deus autoriza outros a exercerem autoridade em seu nome. São as "máscaras" de Deus, como diz Lutero, 3 através das quais sempre ainda cumpre ver a autoridade última de Deus. Como "não há autoridade que não proceda de Deus" (Rm, 13.1), isso implica em responsabilidade, tanto dos que exercem a autoridade, como dos que estão sob a autoridade. A Apologia da Confissão de Augsburgo caracteriza a responsabilidade como "obediência na vocação". 4 2. Responsabilidade como Direito e Dever. Responsabilidade pressupõe direitos e deveres. Se há necessidade de "obediência na vocação" está também implícito que alguém nos chamou e nos investiu de direitos. Ser chamado é ser escolhido para exercer o privilégio de representar alguém e de exercer autoridade em seu nome. Significa que alguém, teve confiança em nós e nos honrou com uma distinção sem par. É o privilégio da individuação em relação à massa. Somos alguém porque alguém nos chamou pelo nome e nos autorizou a receber destaque para exercer uma função. Somos "máscaras" daquele que nos chamou. Exercemos um ofício que deve ser reconhecido pelos demais. Este é o grande direito da vocação. É implícito com esta honra que haja "obediência na vocação". A pessoa chamada precisa integralizar a vocação e exercer a tarefa inerente ao chamado. Daí resulta o dever. Precisamos "responder" ao chamado, exercendo-o convenientemente. Os deveres podem ser implícitos ou explícitos, mas eles são inerentes em qualquer posição de responsabilidade. Há o dever de representar bem, aquele que nos chamou. E há o dever de cumprir a tarefa em relação àqueles para os quais se destina o interesse da vocação. Sempre somos chamados para uma relação de privilégio com outros. Os outros têm o direito de esperar o meu cumprimento do dever de ofício a que me levou o chamado. Assim a vocação implica em obediência. A responsabilidade, portanto, se verifica em direitos e deveres, como podemos ver no caso específico da responsabilidade dos pais na educação dos filhos. B. A VOCAÇÃO DOS PAIS: 0 DEVER DOS FILHOS A responsabilidade poderá ser verificada sob diferentes perspectivas. Nos limitaremos a examinar algumas afirmações das Escrituras Sagradas e das Confissões Luteranas, além de verificar como a própria natureza concorda com esta perspectiva. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 23 1. Escritura. Há várias passagens bíblicas que ressaltam a vocação dos pais em relação aos filhos, mas o conceito central está delineado no 4° mandamento. Já na criação Deus fez homem e mulher para que se multiplicassem, criando a vocação de pais, com todas as suas responsabilidades (Gn 1.22). O ofício de pais tinha validade permanente, mas transferia responsabilidades quando os filhos consitituiam sua própria família. O homem "deixa pai e mãe" para se unir à "sua mulher" para aceitar uma nova vocação de pais (Gn 2.24). É uma escolha livre, mas que atende a um chamado da natureza instintiva criada por Deus. A responsabilidade dos pais pelos filhos é totalmente abrangente, pois não envolve apenas a doação e o desenvolvimento da vida física, mas também a educação para a vida. E vida para o filho de Deus engloba a sua relação com Deus pela fé e a vida eterna. Colocar filhos no mundo sem lhes dar a vida eterna é crime pela lei de Deus. Por essa razão Deus requer que os pais ensinem seus filhos a respeito da Páscoa (Ex 12.26-27), dos mandamentos (2 Rs 23.2), e de todas as palavras de Deus (Dt 6.7; 31.12-13). Por essa razão os pais traziam os filhos à presença da congregação para buscarem o Senhor (2 Cr 20.4,13). Não era apenas uma vocação na sociedade patriarcal, mas uma vocação permanente dos filhos de Deus que se tornaram pais. No Novo Testamento continua a mesma advertência para que os pais criem os seus filhos "na disciplina e na admoestação do Senhor" (Ef 6.4). 2. Confissões. Lutero acentua esta responsabilidade nos sobrescritos das diversas partes do Catecismo Menor, mostrando "como o chefe de família deve ensiná-los com toda a simplicidade a sua casa". Ele faz então uma exposição magistral desta responsabilidade dos pais no seu comentário do 4º mandamento do Catecismo Maior. Entende que a vocação dos pais está essencialmente na palavra "honrar", guando o mandamento diz "Honrarás a teu pai e a tua mãe". Com isso Deus distingue o estado paterno e materno de modo especial, acima de todos os estados que estão abaixo de Deus.6 Com o termo "honrar"' Deus separa e destaca pai e mãe acima de todas as outras pessoas na terra e os põe ao lado dele. Pois honrar 24 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 muito mais elevada coisa é que amar. Não abrange apenas o amor, senão modéstia, humildade e reverência como para com uma majestade aí oculta.6 É a vocação em que Deus "separa e destaca" para serem "máscaras" da sua majestade. Esta majestade é oculta no ofício. Os pais ocupam o "lugar mais elevado depois de Deus" e são "representantes de Deus". Claro, não é a pessoa cm si, mas a "autoridade" que os pais receberam pela "vontade de Deus, que assim estabelece e ordena". 7 Podem até nem ser os pais genéticos, mas todos aqueles que estão "em lugar dos pais". 8 Lutero chega a quase desesperar da situação reinante, pois "os pais geralmente nada sabem. Um néscio educa o outro". 9 Mesmo assim o ofício permanece, pois se não tivéssemos pai e mãe, deveríamos, em razão desse preceito, desejar que Deus nos erigisse troncos e pedras a que pudéssemos chamar de pai e mãe.10 Lutero reduz tudo à vocação feita no mandamento. Como "Deus assinou o primeiro lugar a esse estado" e determinou "que seja seu representante na terra"11 é dever dos filhos "demonstrar honra e obediência" e considerar esta "a maior obra que se pode fazer depois do sublime culto divino descrito nos mandamentos anteriores".12 Por causa do mandamento de Deus Lutero vê no pai "um homem diferente, ornado e revestido com a majestade e a glória de Deus". É o mandamento, ou vocação de Deus, é a corrente de ouro que leva ao pescoço, sim a corrente em sua cabeça, que me indica como e porque se deve honrar esta carne c sangue.13 Mas Lutero não é nenhum visionário. pais precisam de auxiliares. E l e sabe que os Quando um pai não pode sozinho educar seu filho, apela para um mestre de meninos que o ensine; se está demasiadamente fraco, pede ajuda de seus amigos ou vizinhos; se falece, encomenda e delega o governo c autoridade a outros, para tal fim ordenados.14 Mas sustenta a tese de que "da autoridade dos pais deflui e se irradia toda outra autoridade". Por essa razão concentra a responsabilidade pela educação dos filhos nos pais, que podem e devem delegar poderes, direitos e responsabilidades da sua próIGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 25 pria vocação a outros. No seu louvor Lutero já inclui, a exemplo de "gente antiga e sábia", os mestres, quando diz: "Deo, parentibus et magistris non potest satis gratiae rependi", isto é: "A Deus, aos pais e aos mestres, nunca se poderá agradecer e recompensar de modo suficiente."15 Nesta perspectiva de Lutero, como a aprendeu da Escritura Sagrada, se nota não somente o compromisso dos pais com respeito a seus filhos, mas também o seu privilégio de decidirem livremente, sob o Senhor Jesus, o tipo de educação que entendem ser necessário darem aos filhos. Ficam os limites, que Lutero coloca da seguinte forma: Se a palavra e a vontade de Deus têm seu curso e são observadas, nenhuma outra Coisa deve valer mais do que a vontade e a palavra dos pais, todavia assim, que essa obediência aos pais fique subordinada à obediência a Deus e não vá de encontro aos mandamentos precedentes.16 Gomo entende que Deus "não quer patifes e tiranos nesse ofício e governação",17 Lutero já havia apelado cinco anos antes aos conselheiros de todas as cidades alemãs para estabelecerem e manterem escolas cristã, reconhecendo neles uma autoridade auxiliar para a educação dos filhos de acordoi com; a vontade de Deus.18 Mesmo assim permanece a tese básica que reconhece os pais como os primeiros e fundamentais responsáveis pela educação dos filhos. Essa perspectiva também foi reconhecida como um direito natural pela humanidade. 3. Os Direitos Humanos. As Nações Unidas aceitaram a tese da responsabilidade dos pais pela educação dos filhos. Com isso apenas confirmaram o humanismo do homem que já traz embutido por natureza o preceito fundamental de Deus da responsabilidade individual dos pais e da liberdade humana de escolher. Claro, esta liberdade o cristão só encontra quando aceita pela fé o único Senhor, Jesus Cristo. Os pais que geram o filho são individualmente responsáveis por ele. Isso diz respeito ao desenvolvimento da vida e da cultura, para habilitar o filho individualmente a afirmar a sua liberdade em relação com aqueles que formam o seu ambiente social e de vida. As teses do "kibbutz" e do socialismo de estado não são inerentes à natureza, mas uma imposição filosófica e política. A natureza do homem tende à preservação da '2(J IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 liberdade individual (pela qual responde a Deus!), enquanto que os interesses do estado procuram uma massificação manejável pelo grupo dominante. A O N U publicou em 1948 a "Declaração Universal dos Direitos Humanos". No art. X X V I , inciso 3, se diz que "os pais têm, com prioridade, o direito de escolher o gênero de educação a dar a seus filhos", confirmando a posição bíblica e confessional. E na "Declaração Universal dos Direitos da Criança", publicada em 1959, se afirma no Princípio 6º que Para o desenvolvimento completo e harmonioso de sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, aos cuidados e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afeto e de segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, a criança de tenra idade não será apartada da mãe.19 No Princípio 7" se diz que "os melhores interesses da criança serão a diretriz a nortear os responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais". Estas declarações, embora feitas num ambiente universal não necessariamente cristão, refletem a lei natural implantada por Deus em toda a humanidade e dada de forma positiva nos 10 Mandamentos. C. A VOCAÇÃO DOS FILHOS: O DEVER DOS PAIS Embora a vocação de ser pai seja uma opção livre, que depois se transforma em responsabilidade, a vocação de ser f i lho é imposta. Ninguém é consultado a respeito da liberdade ou não de ser concebido ou nascer. Quando houve concepção o casal também já não tem opção de serem pais ou não: já são! Logo, chamar um filho à vida é uma vocação que impõe também imediatamente deveres aos pais. A responsabilidade dos filhos é assumir a vida e "honrar" os pais. A responsabilidade dos pais é zelar pela vida que chamaram à existência e se tornarem dignos da "honra" dos filhos. 1. Escritura. Lutero, ao "pregar aos pais, e a quantos lhes fazem as vezes, sobre como devem portar-se com os que a seu governo estão encomendados", reconhece que este assunto "não ficou exarado nos Dez Mandamentos de modo expresso", mas que é "amplamente ordenado em muitos passos da Escritura". 20 A referência básica que Lutero colocou na Tábua dos Deveres do IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 27 Catecismo Menor encontra-se em Ef 6.4: "E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor". Há também uma autoridade oculta nos filhos que precisa ser reconhecida e respeitada. Os pais não podem "irritar" os filhos, mas precisam valorizar a individualidade e a personalidade dos filhos. Precisam ver a sua vocação e respeitá-la. Os filhos têm, um outro chamado de Deus, Talvez ouvem um outro ritmo, que os pais precisam respeitar. Cada filho tem certas ordens seladas pela vocação de Deus, que precisam ser descobertas e desenvolvidas. O importante é que os pais os "criem", eduquem, desenvolvam, respeitem, fazendo-os crescer "na disciplina e admoestação do Senhor". Em última análise, que façam os filhos conhecer e reconhecer sua vocação por Deus e para Deus. O Senhor chamou tanto os pais como os filhos. 0 respeito a essa vocação dos filhos deve ser o objetivo da educação deles. Já que os filhos existem por opção dos pais, confirmada e reconhecida pelo Senhor, os pais precisam respeitar esta autoridade dos filhos e encaminhá-los ao Senhor para que possam desenvolver o seu chamado à vida e à vida eterna. Uma educação que não inclui a fé no Senhor é incompleta, parcial e destrutiva. 2. Confissões. Na exposição do 4" mandamento Lutero lembra esta responsabilidade dos pais. Para ele os pais e "quantos lhes fazem as vezes" devem ponderar no fato de que devem obediência a Deus, c acima de qualquer coisa desempenhar-se-ão, de coração e fielmente, dos encargos de seu ofício, não cuidando apenas do sustento material de filhos, empregados, súditos, etc, porém sobretudo educando-os para louvor e honra de Deus.21 Nesta reflexão de Lutero pais, patrões e governo são vistos Como numa sociedade patriarcal, quase teocrática. Na sociedade moderna já não se entende que "patrões e governo" devam educar "para louvor e honra de Deus". No entanto ainda entendemos que também patrões e governo estão sob a autoridade de Deus e não têm o privilégio de não prestar contas a Deus por seus atos. Toda ação contrária ao reino de Deus se vinga. Há uma retribuição nas próprias ordens sociais, mas há também uma retribuição final pelo autor e Senhor da autoridade. A sociedade que esquece a Deus está com problemas. Dentro dessa perspectiva no Brasil o governo concede liberdade religiosa, auxilia alunos em escolas "particulares c confessionais, c fomenta o ensino 28 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 religioso nas escolas públicas. Nos Estados Unidos da América o princípio de separação de igreja e estado proíbe toda menção de religião em escolas públicas, criando um ensino anti-religioso que deturpa a formação integral da juventude, semelhante a países declaradamente ateus no leste europeu do passado. Lutero entende que isso não é matéria entregue a teu talante e capricho. ,Trata-se, ao contrário, de rigoroso preceito e injunção de Deus, ao qual também terás de prestar contas a esse respeito.22 Os pais precisam compreender quão grande é a necessidade de nos ocuparmos a sério da juventude. Se queremos pessoas excelentes e hábeis tanto para o governo secular como para o espiritual, cumpre deveras não nos poupemos empenho, faina e gastos na tarefa de ensinar e educar os nossos filhos, a fim de que possam prestar serviços a Deus e ao mundo.23 Como os filhos receberam a vocação de Deus, os pais não podem faltar "ao dever de educar" seu filho "de maneira útil e para salvação".24 D. A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO DE PAIS E FILHOS A responsabilidade dos pais na educação dos filhos é tão relevante por causa da importância da relação dos pais com os filhos em vários aspectos do seu desenvolvimento. Podemos enfocar três aspectos: a transferência do modelo, a continuidade do exemplo, e a segurança da alegria de viver. 1. A Transferência do Modelo. Os pais não são apenas "máscaras" de Deus no sentido de serem autoridade em lugar de Deus para os filhos, mas, na realidade, representam a "imagem de Deus". Embora o. homem perdesse a imagem de Deus com a queda dos primeiros pais, ainda permanecem aspectos dessa imagem que são passados aos filhos. Há um relativo conhecimento natural de Deus e uma noção da vontade de Deus como aparece nas leis das ordena e é reconhecido pela consciência moral. No cristão a imagem d i vina começa a ser restaurada pela fé para atingir a plenitude apenas na ressurreição. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 29 Mas neste tempo de restauração a responsabilidade dos pais na educação dos filhos é exatamente a de representar bem o amor de Deus. 0 pai é o modelo do P a i Celestial. A noção de " P a i " com relação a Deus será moldada de acordo com, o modelo de " p a i " que a criança tem diariamente diante de si. É verdade que a fé é um dom de Deus que o Espírito Santo nos dá através do contato com o Evangelho, seja na Palavra ou no sacramento do Batismo. Mas a aprendizagem a respeito da fé, ou a fé que reflete sobre o seu conteúdo (fides reflexa), é moldada a partir dos conceitos e imagens que aprendemos na infância. A criança compreende o amor de Deus quando tem uma relação de amor com o seu pai na família. A justiça e o perdão de Deus são conceitos formados a partir da justiça e do perdão dos pais. O modelo do pai e da mãe é transferido para a compreensão do Pai Celestial, que quer amar semelhante a uma mãe que ama o filho que gerou. Se este amor for convincente, a transferência do modelo para Deus será fácil. 2. A Continuidade do Exemplo. A criança copia modelos. Isso ressalta a grande responsabilidade dos pais na educação dos filhos. Não são apenas as palavras de estímulo e encorajamento ou repreensão que vão moldar o comportamento da criança. São especialmente os exemplos vividos pelos pais que educam e moldam os filhos. Há uma continuidade nesta modelagem de uma geração a outra. Quando o pai aceita a autoridade de Deus, do governo, do patrão, da polícia, o filho poderá copiar o exemplo de obediência à autoridade que o próprio pai representa. Os pais representam exemplos de valores morais, de padrões, de etiqueta, de gentileza, de ternura, de amor, que são copiados pelos filhos. A opinião que os pais têm dos filhos são o padrão para a avaliação que o próprio filho faz de si mesmo. Nós geralmente vivemos de acordo com a reputação que temos. O relacionamento dos pais com a sociedade dará as dicas para o filho se orientar fora do lar. O sucesso ou o fracasso dos pais geralmente são copiados pelos filhos. O modelo sexual dos pais forma a estrutura básica para o relacionamento sexual do filho. O amor dos pais continua normalmente no amor dos filhos. O problema é que o mau exemplo dos pais geralmente se fixa mais profundamente nos filhos do que os exemplos bons, talvez por causa da tendência natural do ser humano para o caos. Isto mostra a importância da relação positiva dos pais como exemplos para os filhos. 3. A Alegria de Viver. V i d a é algo precioso que defendemos por instinto natural. A pessoa humana se realiza mais quando pode sentir a alegria 30 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 de viver. Não há momento mais bonito para viver do que hoje. Este otimismo faz parte da responsabilidade dos pais na educação dos filhos e lhes dá segurança. Os pais que aprenderam a viver com fracassos e deram volta por cima sabem incentivar os seus filhos a olharem com confiança para o futuro. Quando nos sabemos amados apesar de eventuais fracassos então criamos a coragem de fazer tentativas de risco para progredir. Não vamos ganhar sempre, mas os pais podem dar aos seus filhos a alegria de viver e a segurança de viver quando valorizam não apenas as vitórias dos filhos, mas o seu esforço e sua tentativa corajosa de risco calculado. Quando os pais dão a segurança do sen amor e respeito, o filho pode se desenvolver de acordo com o seu próprio ritmo e os dons que recebeu da parte de Deus. O encorajamento dos pais que dizem: "Por que não tenta? Tenho certeza que você pode conseguir!" é melhor do que a critica: " E u lhe falei! Você é o fracasso de sempre!" O filho geralmente vive de acordo com as expectativas que os pais têm dele. Que bom quando os pais entendem a sua responsabilidade na educação dos filhos e fortalecem neles a alegria de viver. E. A TRANSFERÊNCIA DA VOCAÇÃO Não há lugar mais importante do que a família, pois ali aprendemos a viver e a partilhar um com o outro a alegria de viver. Mesmo assim os pais nunca conseguiram convincentemente cumprir sozinhos com todas as responsabilidades na educação dos filhos. Mas formam o núcleo de comando desta educação por causa da vocação de serem os pais. O conceito de "próxim o " é muito importante 11a solução do problema. Deus entende que a vida cristã se realiza no serviço de amor ao próximo. O "amarás o teu próximo como a ti mesmo" implica na presença do próximo que necessita do meu amor. Na sua liberdade ele me vai indicar qual é a melhor forma de amor que existe para lhe servir. Quem me indica quais são as boas obras do momento é o meu próximo. Mas, de outro lado, eu posso ter a certeza de que Deus colocou muitos "próximos" também ao meu redor para me servir e amar. Desta forma posso ficar descansado: a tarefa e obrigação da minha vocação de pai pode ser transferida e compartilhada com os meus "próximos" que Deus me coloca à disposição no seu reino. E Deus ainda me dá a liberdade de escolher o "próximo" que mais corresponde ao meu critério de realização da minha vocação. A autoridade da minha vocação de pai pode ser compartilhada com a escola, o trabalho, o governo, a igreja, sem diminuir a minha autoridade e responsabilidade que tenho diante de Deus. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 31 1. A Escola e o Trabalho. Lutero inclui no 4º mandamento todas as autoridades que completam o ofício dos pais. F a l a da "multímoda obediência aos superiores, que têm a seu cargo mandar e governar". Mas entende que esta autoridade faz parte da autoridade dos pais e não a diminui, "porque da autoridade dos pais deflui e se irradia toda outra autoridade". Para mostrar como entende este "defluir" e "irradiar" da autoridade, ele menciona especialmente a escola e o trabalho, dizendo: "Quando um pai não pode sozinho educar seu filho, apela para um mestre de meninos, que o ensine". E então vê o pai como empresário, pois "além disso deve subordinar também a si domésticos, empregados e empregadas, para o governo da casa". Entende que há outros que estão "em lugar dos pais". E "cumpre que deles (dos pais) recebam poder e autoridade para governar" no "ofício de pai". 25 Em 1580, um ano depois de escrever os catecismos, Lutero escreveu um tratado26 em que prestigia a escola e insiste que os pais compartilhem a sua autoridade com os mestres. Seu argumento é que os filhos não são exclusivamente dos pais, mas de Deus. E Deus os precisa para serem preparados para se tornarem pastores e professores, bem como para ocuparem bem os seus lugares nas ordens sociais. Ele entende que Deus diz aos pais: Tu podes melhorar o convívio humano nas ordens sociais, pois "eu te dei filho e bens para isso". É só prepará-los pela escola!2' E Lutero apela: " E u acho que nunca houve tempo melhor para estudar do que agora!"28 Por isso deixa teu filho estudar, e mesmo que às vezes tenha que pedir pão. Tu estarás dando a Deus uma madeirinha boa, da qual Ele te poderá fazer a escultura de um senhor.29 Acha que estes filhos irão governar o mundo. Considera uma das maiores virtudes na terra o educar fielmente os filhos de outra gente. Lutero mesmo queria ser professor, se não fosse pregador. Entende que a um professor fiel não se pode pagar o suficiente com, nenhum dinheiro, como já dizia Aristóteles.30 Mas são os pais que possuem a autoridade para enviarem; os f i lhos à escola para se tornarem escritores (como Lutero se considera ser), secretários, juristas, médicos, teólogos, pastores, professores, comerciantes, sem esquecer os afazeres do lar e os demais ofícios e trabalhos. No entanto, como os pais não cumprem com o seu ofício de pais, Lutero apela para outra autoridade: "Considero que também o governo tem o dever de obrigar os súditos a enviarem os seus filhos à escola".31 E se o pai for pobre o governo deve usar fundos dos ricos para dar bolsas de 32 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 estudos. Lutero termina o apelo: "Bem, meus queridos alemães, falei que chega: vocês ouviram o seu profeta!" 32 A escola nem sempre era formal no tempo de Lutero, pois podia englobar a aprendizagem com um "mestre" em técnicas é artes, como a aprendizagem nos Senai e Senac de hoje. Ao mesmo tempo já iniciava uma recompensa salarial pelo trabalho feito durante a aprendizagem. Por isso Lutero arrisca uma deixa contra as greves dos sindicatos de hoje, dizendo que os empregados "até que deviam voltar salário e regozijar-se com o fato de poderem receber patrões e patroas".33 2. Governo e Igreja. Lutero transfere a vocação dos pais também para o governo e a igreja. Louva os romanos que chamaram a seus príncipes e magistrados de patres patriae, isto é, pais da pátria, para grande vergonha nossa, que pretendemos ser cristãos, porquanto não os chamamos também assim, nem ao menos os consideramos e honramos como tais.34 Sem esvaziar a autoridade dos pais Lutero transfere toda a autoridade também ao governo. Há necessidade "da obediência à autoridade civil, que, conforme dito, pertence à ordem paterna e é a mais abrangente das relações". Os governantes são pais "tantas vezes quantas forem os habitantes, cidadãos ou súditos". Por intermédio deles "Deus nos dá e conserva alimento, casa e lar, proteção e segurança". Por essa razão "é dever nosso honrá-los e tê-los em alta consideração, como o mais precioso tesouro e jóia na terra".35 Lutero chega a usar os mesmos adjetivos que usou em relação aos pais. No sermão sobre o 4" mandamento de 152536 Lutero argumenta que esta ordem (da obediência) no lar é a primeira regra; é a fonte de toda outra lei ou de governo. . .. Pois o que é uma cidade, senão um grupo de lares? . . . T a m bém, o que é um país todo, senão um grupo de cidades, vilas, e lugarejos? Se os lares forem mal administrados, como pode todo um país ser bem governado?37 Entende que a autoridade dos pais se transfere ao governo, pois que o governo representa a soma da autoridade paterna nos lares. Mesmo assim não esgota a autoridade paterna, mas a reforça. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 33 Lutero inclui ainda os "pais espirituais", que também exercem o "ofício de pai". "Chamam-se pais espirituais apenas aqueles que nos governam e presidem mediante a palavra de Deus."38 E como "são pais, devida lhes é também a honra, até acima de todos os outros".39 Como é dever dos pais educarem os filhos "de maneira útil e para salvação",40 fica clara a importância não só dos mestres, mas também da igreja toda, que precisa providenciar os "pais espirituais" para auxiliarem os pais nesta tarefa abrangente. F. CONCLUSÃO A responsabilidade da educação dos filhos permanece com os pais. Se de um lado têm, o direito de darem e providenciarem aos filhos a educação que corresponde à sua visão de mundo, de outro lado este direito se transforma em dever. Os pais não podem se omitir nesta educação. A escola, o trabalho, o governo, e a igreja são apenas agências auxiliares nesta tarefa dos pais. A autoridade dos pais precisa ser respeitada. Para que isso possa acontecer deve haver uma múltipla escolha para a educação dos filhos, como só um estado democrático pode oferecer, fomentando, além da escola pública, a escola particular e confessional. NOTAS 1As Confissões Luteranas serão citadas pelo Livro de Concórdia. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1980. A Apologia da Confissão de Augsburgo será citada como Ap, o Catecismo Maior como CM. Ap XXVII, 49-50: "Propõe-se o exemplo de obediência na vocação. . . . As vocações são pessoais, da mesma forma como as próprias incumbências variam de acordo com o tempo e as pessoas. Mas o exemplo de obediência é geral. . . . Destarte, perfeição, para nós, é cada qual obedecer com verdadeira fé à sua vocação." Como isto implica em correção e arrependimento, Melanchthon diz: "E nessas coisas colocamos a perfeição cristã e espiritual, se crescem simultaneamente o arrependimento e, no arrependimento, a fé." (Ap IV, 353). 2 "Eiri Traubüchlin für die einfáltigen Pfarrherrn", 1, pág. 528 de Die Bekenntnisschriften der evangelisch-hitherischen Kirche. 4º edição. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1959. 3 W A 31 I, 435. Citação de 626. Der 147.Psalm Lauda Jerusalem ausgelegt. 1532. Se encontra em WA (Weimar) 31 I (427) 430-456 ou W 2 (St. Louis) 5, 1302-1333. — Citado também em Gustav Wingren, Luther On Vocation. Philadelphia: Muhlenberg Press, 1957, pp. 137 a 143. 4 Ap XXVII, 49-50. Ver nota 1. 5 CM I, 105. 6 CM I, 106. 7 CM I, 107-108. 8 CM I, 115. 9 CM I, 124. 34 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 10 CM I, 125. 11 CM I, 126. 12 CM I, 125. 13 CM IV, 20. 14 CM I, 141. 15 CM I, 130. 16 CM I, 116. 17 CM I, 167. 18 676. An die Ratherren aller Städte deutschen Lands, dass sie christliche Schulen aufrichten und halten sollen. 1524. WA 15 (9)27-53; W 2 19, 1468-1473. 19 Ari Herculano de Souza, Os Direitos Humanos. São Paulo: Editora do Brasil, 1989, pp. 31, 35. 20 CM I, 167. 21 CM I, 168. 22 CM I, 169. 23 CM I, 172. 24 CM I, 176. 25 CM I, 141-142. 26 675. Eine Predigt, dass man Kinder zur Schule halten solle. (Matth. 19,14). 1530. WA 30 II, 509f., 517-588; W 2 10, 416-459. Será citado como Eine 27 Predigt. Êíne Predigt, cols. 433 e 445. Edição de St. Louis. 28 Ibid., col. 446. 29 Ibid., col. 452. 30 Ibid., col. 454. 31 Ibid., col. 457. 32 Ibid., col. 459. 33 CM I, 144. 34 CM I, 142. 35 CM I, 150. 36 520. Predigten über das 2. Buch Mose. 1524/1527. Pr. 537 sobre 2. Mose 20 (4.-7.Gebot). 5 November 1525. WA 16, 500-519; W 2 3, 1106-1123. Será citado como Predigten, pela edição de St. Louis. 37 Predigten, col. 1106. 38 CM I, 158. 39 CM I, 160. 40 CM I, 176. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 35 PROLEGÔMENOS À ESCATOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO Acir Raymann Uma perspectiva e confiança futuras perpassam todo o Antigo Testamento. Cada ato salvífico de Deus é visto como prelúdio a atos salvíficos ainda maiores. Promessas do que Deus, fará no futuro são por Ele constantemente reiteradas para criar em Israel esperança em Yahweh. T a l perspectiva futura pode-se observar em cada divisão do cânone hebraico. A começar com, Gênesis 3.15, a promessa no protevangelium é a linha dourada que se estende através do Pentateuco. A promessa a Abraão em Gênesis 12 controla a narrativa da Torah a partir deste capítulo até o final de Deuteronômio. Yahweh reitera essa promessa com freqüência a Abraão (p. ex., Gn 15; 17; 26, 28; 35), a Moisés (p. ex., Ex 3.6-10; 6.2-8; 33) e a Israel (p. ex., Ex 23/23».; Lv 20.22-26; Nm 15.18; Dt 28). Esta promessa consiste basicamente de três partes: Deus dará a seus descendentes a terra de Canaã; muitos serão seus descendentes; estes descendentes serão abençoados de tal sorte que serão transformados em canalizações da bênção divina a todos os povos.1 Lendo o Pentateuco pode-se notar, por um lado, como Deus parcialmente cumpre Sua promessa já com o patriarca. Abraão recebe efetivamente um pedaço da Terra Prometida como um sinal, uma entrada, mesmo que ela, significativamente, sirva apenas de cemitério (Gn 23; 49.29-50.14). Deus lhe concede também descendentes: setenta pessoas descem, ao Egito (Gn 16.8-27); no êxodo sua descendência é uma multidão (Nm 1; 26); e no período da monarquia Davi reina "sobre um povo tão numeroso como o pó da terra" (2 Cr. 1.9). Deus abençoa Abraão e faz dele e de sua descendência instrumentos de Suas bênçãos às nações (Gn 13.2; 24.1; 20.17-18; 41.37-57; Ex 12.38). Não obstante, o cumprimento pleno da promessa abraâmica ainda reside no futuro. Moisés suplica a Yahweh que multiplique e abençoe Israel no futuro (Dt 1.11) e a Terra Prometida 36 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 ainda está por ser herdada de sorte que o Pentateuco conclui perscrutando o horizonte do futuro (Dt 33-34).2 Esta mesma dimensão futura da fé israelita pode-se verificar nos Profetas Anteriores. Em, Josué Deus dá a Israel a Terra Prometida. Contudo, após a Conquista, há ainda muita terra a ser conquistada (cap. 13) e distribuída (cap. 14-22). No período dos Juizes, por mais de três séculos, Israel foi ameaçado por inimigos. O descanso permanente que Yahweh prometera era um "ainda não". O livro de Samuel está centrado em Davi, seu entronamento e a aliança davídica (2 Sm 7; 23.5). A ênfase da aliança davídica é a promessa de que Yahweh irá estabelecer e manter a linhagem e o reino de Davi para sempre. O livro de Reis continua a desenvelopar a promessa divina a Davi. Salomão constrói o Templo e ora para que Yahweh continue a abençoar Israel e as nações pela Sua presença graciosa no Tabernácülo (1 Rs 8). Os Profetas Anteriores encerram com a afirmação de que o rei Joaquim, da linhagem de Davi, é libertado da prisão no exílio babilônico (cap. 25). A promessa davídica permanece ainda intacta; no exílio há ainda esperança para Israel. A mensagem dos Profetas Posteriores está centrada na promessa divina pelo futuro. Embora o juízo de Deus sobrevenba por causa da rebelião de Israel, Amós diz que passado o juízo virá a restauração (9.11-15). A ira de Deus está a serviço da Sua misericórdia. A ameaça da ira de Deus é Sua penúltima palavra; a palavra final é a promessa da Sua misericórdia. Os profetas focalizam a atenção do povo de Deus emi diferentes quadros emoldurados pela futura promessa escatológica. No centro está Yahweh e Sua graciosa presença em Sião. Deus criará um novo Israel que consistirá de crentes: o fiel remanescente de Israel (Sf 3.11-20) e gentios convertidos (Sf 3.9). Tanto israelitas quanto gentios tornar-se-ão um povo de Deus (Is 19.24-25; Am 9.11-12). Deus formará este novo Israel pelo perdão dos pecados (Jr 31.31-34) e pelo derramamento de Seu Santo Espírito (Jl 2.28-29). Para o Seu povo escatológico reunido em torna da presença de Yahweh (Jl 3.17) e do Messias (Is 11; Mq 5), Deus criará "novos céus e nova terra" (Is 65.17-25). Também os Escritos apontam unanimemente para o futuro. Os Salmos são dominados pela esperança em Yahweh. Maldições para os ímpios e bênçãos para os justos na Literatura Sapiencial devem, ser entendidas como escatológicas. Perder es ia perspectiva significa ser partícipe da superficial teologia dos amigos de Jó, que entenderam as ameaças e bênçãos como temporais. No centro do Livro de Lamentações está a confiança do poeta de que as misericórdias) do SENHORi jamais se findam — por isso ele espera no S E N H O R (3.19-26). Daniel proclama o Reino escatológico de Deus ao falar de "um como o Filho do IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 37 homem" que virá em glória (cap. 7). Os Escritos terminam com a referência ao decreto de Ciro pelo qual os exilados devem retornar a Jerusalém e reconstruir o templo (2 Cr 36). Vê-se que também, esta última secção do cânone hebraico encerra inclinando-se para o futuro. Mesmo a vôo de pássaro pode-se notar que todo o Antigo Testamento apresenta uma perspectiva e confiança futuras. Os escritores da antiga aliança ficam na "ponta dos pés" aguardando a misericórdia de Deus por vir. Os atos salvíficos de Yahweh no passado, os ofícios e instituições do Antigo Testamento são tipos, prelúdios, entradas do prometido futuro. O futuro escatológico é descrito no Antigo Testamento como estando tanto em continuidade quanto em descontinuidade com o presente. A continuidade entre o "agora" e a "era escatológica" é expressa de várias formas. Primeiro, o mesmo Deus que salvou o Seu Povo e que com ele estava é o mesmo Deus que virá, que salvará Seu povo e com ele estará. Nas palavras de Isaías, " E l e é o primeiro c o último" (44.6). Segundo, o povo de Deus, aqueles que "confiam em Yahweh" e "invocam, o Seu Nome" agora, continuarão se ser Seu povo depois — mesmo a morte não poderá separá-los de Deus (p. ex., Is 26.19; Sl 73.24-26). Terceiro, a nova criação é freqüentemente descrita em termos da Terra Prometida do Antigo Testamento (cf. Am 9.13-15; Jl 3.17-21). A escatológica Terra Prometida será semelhante à do Antigo Testamento. Mas, o Antigo Testamento apresenta o futuro como estando também em descontinuidade com o presente. O futuro será bem mais esplendoroso. Em primeiro lugar porque a futura salvação que Yahweh irá instaurar será bem maior que Seus atos salvíficos no passado. Haverá um novo e maior êxodo da escravidão (Is 11.15-16; 52.12). Deus "tragará a morte para sempre" (Is 25.8). A kavôd de Deus, Sua glória, encherá toda a terra (Nm 14.21; Is 11.9). Por outro, o povo de Deus será maior. O escatológico povo de Deus será integrado por multidões de gentios (p. ex., Is 25.6ss; Sf 26.19). Os crentes de todas as gerações estarão nele incluídos (Dn 12.2). Por fim, a escatológica Terra Prometida, os "novos céus e nova terra", será bem maior que o seu tipo mencionado no Antigo Testamento (Is 35; 65.17-25). A descontinuidade entre o agora e a era escatológica indica que o futuro prometido do Antigo Testamento não é simplesmente aqui e agora, como também não culmina num milênio terreal. Daniel afirma que o Reino escatológico de Deus é bem diferente dos reinos dos homens (caps. 2, 7), razão pela qual este futuro também não é secular ou humanista. Ele se caracteriza por bênçãos futuras que Deus concede, por graça somente, 38 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 e que serão desfrutadas apenas pelos crentes. O prometido futuro do Antigo Testamento é um futuro centrado no Evangelho; é o futuro Reino de Deus, não uma utopia econômica ou política. A ameaça da ira escatológica de Deus contra os, incréus tem por objetivo conduzir pecadores ao arrependimento (p. ex., Sf 2.1-3; Is 66.24). Mas a promessa da misericórdia escatológica de Deus visa criar e manter a esperança em Yahweh (Sl 73; Is 35; 40-66). A escatologia do Antigo Testamento é, pois, de uma relevância muito prática. Não é uma especulação abstrata; pelo contrário, ela conclama ao arrependimento do pecado e ao exercício da fé (p. ex., Is 8.17). A certeza que as promessas escatológicas produzem é uma certeza em Yahweh, não um, sentimento piedoso com vistas à otimização do mundo; é uma certeza em Deus, não no homem ou no processo natural da história (Sl 39.7).3 Este aspecto sola fidei do Antigo Testamento precisa ser enfatizado em contraposição às re-leituras secularizadas ou marxistas que se fazem do Antigo Testamento.4 Da mesma forma a função das promessas escatológicas de conclamar pessoas à fé e à esperança em Deus deve ser reiterada para neutralizar neoapocalípticos que utilizam profecias do Antigo Testamento como bola de cristal para satisfazer a curiosidade humana sobre o futuro.5 O Novo Testamento apropria-se destas promessas do A n tigo Testamento e enquadra-as na moldura do "já — ainda não". Por um lado, as promessas escatológicas vetero-testamentárias cumprem-se em Cristo. Na carta ao Gálatas o apóstolo São Paulo afirma que Cristo é o "descendente" de Abraão, o Israel reduzido a U m , através de Quem todas as nações da terra são abençoadas (cap. 3). Em outros textos, a Escritura atesta que o novo, o maior Davi chegou e assenta-se no trono davídico como Rei sobre todos (p. ex., Lc 1,32; At 2.29-30). Um novo e maior Templo surgiu (Mt 12.6; Jo 2.18ss). Um, novo Israel Cristo fez nascer formado tanto por judeus quanto por gentios pelo perdão dos pecados e o derramamento do Santo Espírito (Gl 3.28-29); At 2.1-4). O escatológico Reino de Deus manifestou-se em Cristo (Lc 11.20; Cl 1.13). A morte foi tragada pela vitória (1 Co 15.54); o " D i a do S E N H O R " chegou (2 Co 6.1-2). Por outro lado, o Novo Testamento projeta as promessas do Antigo Testamento na tela do futuro e declara que a consumação é um "ainda não". Cristãos hão de herdar as promessas feitas a Abraão (Rm 4.13ss.; Gl 3.14). O Filho de Davi e o S E N H O R de Davi virá novamente (Ap 22.16-20). Deus "tabernaculizará" com Seu povo para sempre (Ap 21.3,22). O Novo Israel de Deus será congregado no Último D i a para adorá-Lo (Mt 24:31; Ap 14). O Reino escatológico de Deus é ainda futuro IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 39 (Mt 25.34). A morte ainda será tragada (Ap. 21.4). O " D i a do S E N H O R " ainda está por vir (1 Ts 5.1-11). Por um lado, os cristãos já se regozijam com as bênçãos escatológicas de Deus pela fé. Por outro, os cristãos são também pecadores vivendo num m,undo caído e, por isso, aguardam ainda o desfrutar destas bênçãos ao vivo e em celeste dimensão. Sinais escatológicos 0 Antigo Testamento apresenta o escatológico " D i a de Y a h w e h " como sendo precedido e acompanhado por determinados sinais que podem ser agrupados em duas categorias, ou seja, fenômenos cósmicos e intensa tribulação contra os santos. Os fenômenos cósmicos têm sua imagem provavelmente derivada da teofania divina no Monte Sinai onde havia trovões e relâmpagos e o monte esfumaceava e tremia (Ex 19.1-25). Esta linguagem teofânica é projetada no futuro yôm Yahweh. Os profetas o descrevem como um; dia assombroso em que a terra irá estremecer e até os corpos celestes irão se entenebrecer (p. ex., Am 5.18-20; Sf 1.14-18; Jl 2.30-31). Estes sinais cósmicos dão testemunho Daquele que está por vir: O S E N H O R dos Exércitos aproxima-se e com tão grande ira que, como diz o profeta Isaías, os incréus esconder-se-ão ante o Seu terror (2.10-19). Textos do Antigo Testamento falam de uma intensa perseguição contra os santos pouco antes do eschaton. O intérprete bíblico precisa reconhecer que tais textos estão escritos em gêneros proto- e apocalípticos. Por esta razão não devemi ser interpretados literalisticamente como os dispensacionalistas geralmente o fazem.6 Deve-se considerar que estes textos empregam figuras e vestem, sua mensagem com indumentária antes de Cristo. Os capítulos 38 e 39 de Ezequiel, por exemplo, descrevem os últimos dias como de guerra contra Israel. Os inimigos são nações distantes do norte e do leste (38.2-6). Não obstante a dificuldade em identificar os lugares, Meseque e Tubal foram localizados na Anatólia. A identidade de "Gogue da terra de Magogue" é imprecisa mas com certeza não se referem à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas como, de novo, dispensacionalistas sustentam.7 O texto enfatiza que Yahweh trará estes inimigos contra Seu povo Israel e depois os destruirá para vindicar Sua santidade perante as nações. Ezequiel 38 e 39 não devem ser interpretados literalisticamente; não se pode cogitar em uma guerra moderna no Oriente Médio ou no atual conflito no Golfo Pérsico. A ordem divina ao profeta de falar "às aves de toda espécie, e a todos os animais do campo" (39.17) demonstra a natureza simbólica da linguagem. O profeta emprega linguagem tipológica para descrever os derradeiros estertores dos 40 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 inimigos do povo de Deus. Esta guerra final estará sob o controle de Deus e através de Sua vitória Yahweh vindicará Sua santidade diante de todos. São João, em Apocalipse 20.7-10, utiliza esta figura de Ezequiel para descrever o "pouco tempo" de Satanás contra a Igreja. O profeta Zacarias no capítulo 14 também descreve, em linguagem apocalíptica, uma guerra final contra Jerusalém. A ênfase de Zacarias está novamente em que Yahweh manifesta Seu domínio sobre todas as coisas vencendo os inimigos do Seu povo. O profeta, entretanto, revela um outro propósito para esía intensa perseguição. E l a tem por objetivo "refinar" e "testar" o Israel de Deus visando primordialmente fortalecer a fé do remanescente (13.8-9). Daniel 7 e 11 também mencionam uma perseguição escatológica contra os santos, embora numa abordagem diferente da de Ezequiel e Zacarias. Daniel enfatiza que tal perseguição será comandada por um " r e i " mau. Em sua descrição este personagem é um novo e maior Antíoco IV. A linguagem, é tipológica: assim como Antíoco irá perseguir os santos no período grego, da mesma forma levantar-se-á um " r e i " mau que perseguirá, os santos na era escatológica (7.20-27). Ele se arrogará prerrogativas divinas e atacará o povo de Deus (11.36-15). Seu fim, entretanto, não tardará em chegar (7.26; 11.45). Nestas visões dadas a Ezequiel este " v i l ã o " escatológico é descrito em termos semelhantes ao tipo, ou seja, Antíoco IV. Como ocorre com toda linguagem escatológica, o antítipo não é replica exata do tipo. Contudo, estes textos revelam algo da natureza do perseguidor. Ele reinvidicará prerrogativas divinas, perseguirá os santos, virá de Roma, a quarta besta.8 Também este será condenado no julgamento final. O apóstolo São Paulo, em, 2 Tessalonicenses 2 cita Daniel 11: o Novo Testamento relaciona este " r e i " mau com o "homem da iniqüidade", o Anticristo. Outro aspecto relevante na escatologia do Antigo Testamento é o Advento de Yahweh. A teofania do Sinai, como vimos, é o tipo da grande teofania escatológica, o yôm Yahweh. Os profetas, em especial, destacam o yôm Yahweh como evento imponente, visível a todos. Zacarias lembra que Ele virá com todos os Seus anjos (14.5); Isaías, que Ele virá "em fogo" (66.15). Este escatológico "dia do S E N H O R " tem seu locas especialmente em Sofonias. Jerônimo traduziu Sf 1.15 por dies irae, dies illa, que passou a ser tema musical na Igreja Católica Romana e Protestante sendo também parte do repertório do coral do Seminário em. tempos passados. Por um lado o yôm Yahweh é um dies irae em que Deus consumirá todos os iníquos' (1.2-3). Por outro, aqueles "que invocam o Nome de Yahweh" — tanto o IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 41 remanescente quanto os gentios que crêem — serão salvos (3.9-20). A Septuaginta traduz yôm Yahweh como hê heméra tou kyríou (cf. p. ex., Sf 1.7). O Novo Testamento fala do "dia do S E N H O R " com uma significativa ênfase. A l i a expressão é, vez por outra, alterada para hê heméra toa kyríou hymon lesou Ghristòü (1 Co 1.8); ou heméra Christou lesou (Fp 1.6); ou ainda heméra Christou (Fp 1.10). Em outras palavras, Cristo é Yahweh que vem em glória. Não raras são as vezes, como nestes casos, em que o Novo Testamento atribui a Jesus Cristo o que o Antigo Testamento atribui a Yahweh. A divindade de Cristo já se manifesta na era vétero-testameniária. A ressurreição é mais um aspecto relevante da escatologia do Antigo Testamento. Verdade é que o Antigo Testamento não fala sobre a ressurreição corpórea dos mortos com tal freqüência como o faz o Novo. Silêncio, porém, não significa ausência, muito menos negação. A l é m de exemplos de mortos que ressuscitam em Israel (cf. 1 Rs 17; 2 Rs 4; 2 Rs 13.21), há referências claras à ressurreição escatológica no Antigo Testamento como Jo 19.25; Isaías'26; Daniel 12 e outras. Uma passagem significante e que por vezes tem recebido interpretação desvirtuada em cenários críticos é Ezequiel 37.9 Neste capítulo o profeta aplica a imagem da ressurreição de mortos ao Israel em exílio, retratado como ossos secos. Empregand,o a figura do "levantá-los" da sepultura, Yahweh está prometendo restaurar Israel e trazê-lo de volta à sua terra. Embora a figura da ressurreição seja empregada metaforicamente, ela implica e pressupõe a crença na ressurreição do corpo. A aplicação desta imagem sugerida pelo profeta só pode ser compreendida à luz da ressurreição física. É como se Ezequiel estivesse a dizer: assim como haverá ressurreição dos mortos, também Israel será "ressuscitado" da "morte" do exílio. A ressurreição como realidade escatológica deve merecer a atenção devida; não apenas por ser central na teologia e pregação cristãs, como pelo fato de a cultura religiosa brasileira, impregnada de conceitos, imagens e expressões espiritualistas imitativos do conceito bíblico de ressurreição, poder tornar-se obstáculo à apreensão de seus benefícios salvíficos por parte do ouvinte. É oportuno, portanto, que o ministro confronte esporadicamente perante sua congregação a mensagem bíblica da ressurreição com a antagônica teoria da reencarnação.10 Uma característica de Yahweh que o Antigo Testamento enfatiza repetidas vezes é Sua ira e que precisa ser seriamente considerada ao se falar da escatologia que se propõe bíblica. Numa sociedade com tendências ao universalismo, quando é teologicamente elegante priorizar toda a humanidade indiscriminadamente como "povo de Deus", c mister enfocar também a ira 42 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 de Deus para que eventualmente não nos integremos a esta i n clinação aeróbica. O primeiro ponto a observar é que Yahweh é provocado à ira. É o que nossos dogmáticos denominam Sua voluntas consequens.11 Ê por causa do mundo que era ímpio que Deus envia o dilúvio (Gn 6); é por causa da abominação de Sodoma e Gomorra que Deus as destrói (Gn 18-19); é por causa da maldade das nações que Deus as lança fora de Canaã (Dt 9.4-5). Yahweh "não tem prazer na morte do perverso"; Yahweh é "tardio em irar-se". Em segundo lugar, os recipientes da ira de Deus são dela merecedores. Eles são incréus. Sodoma e Gomorra, por exemplo, não acolhiam nem dez justos. Deus havia dado aos Amoritas 400 anos antes de os lançar fora da terra. Com freqüência aqueles sobre quem Yahweh assopra Sua ira são chamados Seus inimigos e afrontantes de Sua Igreja. Finalmente, termos como "morte", "sheol", "cova" para designar o fim são termos de sentido ambivalente. Em determinados contextos o termo "morte" tem a conotação de morte temporal apenas. É "morte" no seu sentido mínimo. Em outros contextos ela assume um sentido máximo; é "Morte" com " M " maiúsculo prenhe de conotações horrorizantes para descrever uma realidade distante de Yahweh. O Saltério, vez por outra, fala da morte neste sentido. O Salmo 88, p. ex., fala dos que estão na sepultura e no sheol como "desamparados", aqueles de quem Deus "não se lembra". O salmista ora por livramento da "Morte" neste sentido máximo, visto ser este o tipo de morte a ser vivenciado pelo descrente.12 A compreensão de " v i d a " no Antigo Testamento deve ser entendida em relação ao que acabamos de dizer. Enquanto "morte" é lei, " v i d a " é evangelho. O dom da vida está fundamentado na imerecida chesed, ou fidelidade, de Yahweh. Os salmos não se cansam de doxologizar a frase "Yahweh salva por amor do Seu Nome" (p, ex., 31.3; 54.1; 79.9; 113.11). Apenas Ele é a fonte da vida (36.9; 42.8). A vida eterna é sola fidei cujos recipientes são os que "invocam o Nome do S E N H O R " (.11 2.32), cujos nomes são encontrados "escritos no livro" da vida (Dn 12.1-2). Em contraste com a "morte eterna", cuja causa está na desfé e impiedade humanas, a causa da vida eterna é a chesed de Yahweh, ou a Sua voluntas antecedem.13 Mesmo a morte temporal não separa o crente de Yahweh. O salmo 139 diz que Deus estará com ele mesmo que este faça a sua cama no sheol (v. 8). No seu contexto, o salmo 49 atesta vida após a morte quando o autor diz: "Mas Deus remirá a minha alma do poder do sheol, pois Ele me tomará para S i " (v. 15). À luz do versículo 10 o salmista espera morrer. Mas, ao contráIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 43 rio do perverso, que será consumido pelo sheol, ele será remido por Deus e, nas palavras dos salmo 73, recebido na glória. O último aspecto relevante da escatologia do Antigo Teslamento que queremos destacar é o da nova criação. Para melhor compreender a nova criação, necessário se faz que retrocedamos à situação edênica e pós-edênica. Por todo o Antigo Teslamenfo os seres humanos e o mundo natural são interdependentes. Em Gênesis 1 e 2 lê-se que a humanidade é o clímax da criação de Deus. O mundo foi feito para os seres humanos. O mundo é a praça da humanidade. Deus dá as plantas como alimento para homens e mulheres (1.29-30) e após o dilúvio, para surpresa de alguns vegetarianos, Deus lhes concede também os animais como alimento (9.3). Dentro da ordem da criação o ser humano deve mordomear o mundo natural. A terra foi dada ao homem, (SI 115.16); o homem deve "cultivar e guardar" o solo (Gn 2.15); Adão dá nomes aos animais (2.19-20). Entretanto, após a Queda, a situação se radicaliza: Yahweh maldiz o solo. Espinhos e abrolhos amofinam o labor do homem; fome e terremotos fustigam a humanidade (Gn 12.10; Am 1.1). Nos livros de Samuel e Reis animais selvagens atacam pessoas (1 Sm, 17.37; 2 Rs 17.25-26). Até os profetas protestam contra a destruição ecológica (Is 14.8; He 2.17). A partir da Queda a natureza investe contra a humanidade e a humanidade abusa da natureza. A escatologia do Antigo Testamento apresenta o reverso desta situação. Animais selvagens "não farão mal nem dano algum em meu santo monte", diz Yahweh (Is 65.25). Violência não haverá mais porque homens e animais viverão em harmonia, diz Deus (Is 11.6-9). Ao invés de fazer brotar espinhos e abrolhos, o solo será abundante em cereais. O profeta Amos retrata a terra tão fértil que enquanto a ceifa se processa, já é tempo do novo plantio (9.13). Montanhas e outeiros destilarão vinho envelhecido e leite (Am 9.13-14). O povo não mais terá fome (Ez 34.26-29). Águas vivas fluirão de Sião (Zc 14.8). O deserto será frutífero e o Mar morto repleto de peixes (Is 35; Ez 47.8ss). Estes e outros textos pintam o retorno ao Jardim do Éden; é o reverso do mundo amaldiçoado; é o novo céu e nova terra — é a nova criação. Pelos textos acima pode-se ver que a nova criação é reIcalada como estando em continuidade com a presente criação. Os autores bíblicos não se envergonham de serem, criaturas. Não há nada pecaminoso ou inferior em que seres humanos habitem a terra. O Antigo Testamento não acarinha um desejo platônico de deixar a terra e viver com Deus em alguma esfera ideal, etérea. 0 problema não está com a natureza criada em si. O problema é que a ordem criada está sob a maldição divina desde 44 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 a Queda. Por isso o escatológico D i a de Yahweh trará livramento e "alegria" não apenas aos homens pecadores como à criação em geral (Sl 96.11-13; 98.7-9). Os mesmos textos, por outro lado, revelam que a nova criação é apresentada como estando em descontinuidade com a presente criação. Embora os profetas mencionados ainda falem do futuro em termos de terra de Israel antes de Cristo, sua descrição mostra uma terra bem diferenciada e maior do que a Terra Prometida. A figura de animais convivendo em h a r m o n i a e cereais em abundância indicam o reverso da natureza amaldiçoada. Uma escatologia bíblica precisa levar em consideração esta descontinuidade tanto quanto a continuidade. Em conclusão podemos afirmar que a escatologia do A n tigo Testamento é uma proposta missiológica-soteriológica de Deus. Embora aterrorizantes, suas ameaças visam, chamar o descrente ao arrependimento e à fé. Por outro, inseridas nelas estão as promessas de vitória para o justo: os inimigos do povo de Deus serão vencidos. A Igreja de Deus precisa constantemente recorrer à escatologia porque nela encontra sua origem na graça, seu propósito no mundo, seu final glorioso. Na escatologia está o conforto para momentos de perseguição e a certeza da presença do S E N H O R também para o "Israel de D e u s " deste lado da cruz. NOTAS FINAIS KAISER, Walter C. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, Vida Nova, 1980 visualiza esta promessa como permeando todo o Antigo Testamento. 2 CLTNES, David J . A . The theme of lhe pentateuch. University of Sheffield, 1978. 3 ZIMMERLI, Walther. Der Mensch und seine Hoffnung im Alten Teslament. Gottingen, Vanderhoeek und Rupreeht, 1968 explora este aspecto com propriedade. 4 Cf., p. ex., LIBÂNIO, João B. e BINGEMER, Maria Clara L. Escatologia Cristã. In: A Libertação na História. Petrópolis, Vozes, 1985, tomo X, série III. 5 Talvez o mais popular nesta linha seja LINDSEY, Hall e C A R L S O N , C . C . A agonia do grande planeta terra. David A. de Mendonça, trad. São Paulo, Cruzada da Literatura Evangélica do Brasil e Mundo Cristão, 1973. 6 Uma breve mas excelente avaliação critica destes movimentos numa ótica luterana (e que clama por tradução) está em The end times: a study on eschatology and millenialism — a report of the Comission ore Theology and Church Relations of the Lutheran Church-Missonri Synod. s. 1., s. ed., setembro 1989. Uma análise mais popular pode ser encontrada em P L U E G E R , Aaron Luther. Things to come for planei earth. St. L o u i s , Concórdia, 1977. Para um estudo mais abrangente dos movimentos milenistas recentes, cf. ERICKSON, Millard ,J. Opções contemporâneas na escatologia: IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O T/1991 45 um estudo do milênio. Gordon Chown, trad. São Paulo, Vida Nova, 1982. Embora Erickson se mostre crítico dos movimentos de forma geral, ele mesmo inclina-se a um "pré-milenismo pós-tribulacionista". Cf. Y A M A U C H I , Edwin M. Foes from the Noerthern frontier. Grand Rapids, Baker, 1982. Cf. também LINDSEY, Hà, óp, cr/., p. 54-65. 8 Um longo estudo para a identificação da quarta besta no capítulo 7 é feito por YOUNG, Edward J. The prophecy of Daniel: a commentary. Grand Rapids, Eerdmans, 1972, p. 275-94. Cf. também L E U P O L D , H . C . Exposüwn of Daniel. Columbus, The Wartburg Press, 1949, p. 287 e suas referencias ao capítulo 2 de Daniel. 9 Cf., p. ex., COOKE, G . A . The book of Ezekiel: a criticai and exegetical commentary. In: The International Criticai Commentary. New York, Charles Scribner's Sons, 1937, v. 2, p. 398'ss. A bibliografia sobre o assunto é ainda bastante incipiente mas uma boa introdução sobre a matéria pode ser buscada em SNYDER, John. Reencamaçao ou ressurreição? São Paulo, Vida Nova, 1985. 11 SCHMIDT, Heinrich. the doctrinal theology of lhe Evangélica! Lutheran Church. 3. ed., rev. Charles A. Hay e Henry E. Jacobs, trad. Minneapolis, Augsburg, 1961, p. 282-83. 12 KRAUS, Hans-Joachim. Theology of the Psalms. Keilh Crim, trad. Minneapolis, Augsburg, 1986, p. 162-68 13 SCHMIDT, Heinrich, op. cil. Aula inaugural proferida a alunos e professores do Seminário Concórdia no dia 27 de fevereiro de 1991. 46 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 AUXÍLIOS HOMILÉTICOS (Os auxílios homiléticos desta edição baseiam-se no Evangelho do Dia, conforme a Série Histórica Revisada). DIA DE PENTECOSTE João 14.23-27 19 de Maio de 1991 A Festa Ao longo dos tempos o Pentecoste tem sido visto pelos cristãos como se tivesse sido equivalente a um espetáculo moderno de luz e som, A narrativa de Atos 2 tem servido para mostrar que afinal, sob certas circunstâncias, Deus pode e vai impressionar os sentidos e assim sacudir os céticos e dar força à mensagem dos seus, crentes. T a l ingênua afirmação do Pentecoste como espetáculo impressionante esquece entretanto que nem os céticos de plantão no dia do Pentecoste se deixaram impressionar, muito menos convencer. "Estão embriagados", disseram então e até boje gozam dos cristãos. Fixar-se neste aspecto do Pentecoste tem um aspecto positivo, como diz o apóstolo: A igreja se edifica a si mesma. Entretanto, o que o Pentecoste tem de especial e único é o fato de ser uma data, um marco, que fixa o novo tempo de Deus com o homem em busca do perdido. A pregação do dia de Pentecoste deveria por isto evitar dois desvios que facilmente se notam. Primeiro, o Pentecoste não foi um espetáculo capaz de fazer calar os céticos. Os céticos de plantão naquele dia gozaram: Estão embriagados. O Pentecoste não foi este espetáculo impressionante capaz de revolucionar o universo. Segundo, o Espírito Santo não age, nem, convence pelo uso de truques de magia, como línguas de fogo, falar em línguas, curas, poder. O Espírito Santo não hipnotiza, nem arrasta os sentidos. Ele age na quietude do coração, não se sabe de onde vem, nem para onde vai, etc. Quando o Espírito Santo age extraordinariamente, é por sua decisão exclusiva, e todo cristão é agente passivo. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 47 O Espírito Santo ilumina o entendimento a partir do anúncio do Evangelho. A partir do momento em que percebe o sentido que teve a vida de Cristo, o homem aprende a reconhecer o sentido da sua própria vida. Naquela ocasião aconteceu por exemplo o pentecoste israelítico, a festa das sete semanas, a festa que celebrava o fim da safra dos cereais, o 50° dia depois do Passa, que se linha celebrado com as primícias. Os discípulos, que até ali estiveram calados, ou falando na surdina, de repente se vêem envolvidos numa situação em que já não podem não falar. Estranhamente vão explicando o sentido de tudo aquilo que acontecera nestas ultimas sete semanas. Não sentem barreiras na comunicação. Estão embriagados, dizem os céticos. Talvez porque os discípulos, não acreditando no seu dom, falassem hesitantem,ente, dando tal impressão? 0 que e como aconteceu realmente naquele dia? Os discípulos nunca mais reeditaram o Pentecoste dos fenômenos. De tudo aquilo que se passou neste dia, o que a igreja pode guardar e experimentar como o seu Pentecoste hoje? Isto Jesus mesmo definiu em textos como este do Evangelho que a Igreja tem separado para este dia. Aí Jesus distingue dois momentos. E n quanto estou convosco e depois. (.) enquanto está unido ao depois "pela palavra que vos tenho dito". Onde a palavra se faz ouvir, Jesus está vivo e presente, o Pai faz morada. A igreja de todos os tempos é uma e a mesma em todos os lugares sob uma condição - SE — amar a Jesus for igual ao guardar sua palavra. Palavra esta cuja manifestação está restrita aquele pequeno grupo (v. 22). Amá-lo significa amar o sentido que ele manifesta e objetivamente deu à sua vida na sua Palavra. Este sentido projeta-se em primeiro lugar sobre o próprio indivíduo: Eu preciso de salvação. Ou não? Às vezes, ou geralmente, este aspecto confessional está ausente da pregação cristã e está na origem dos desvios que sofre o Pentecoste, Eu preciso é interpretado como " E u já precisei". Ou, " E u ale precisaria". Ou, "o mundo precisa". Mas quando é que eu preciso deste Salvador ao ponto de amá-lo somente por ser o meu Salvador e ao ponto de me apropriar da sua Palavra como sendo esta palavra que me dá a sua salvação? Será esta talvez uma das grandes falhas dos cultos do Pentecoste. Esta renovação da confissão da própria indigência espiritual, este retorno ao ponto de partida, este retorno ao espírito de arrependimento? Ao mesmo tempo em que os discípulos se demonstram co-responsáveis do crime, proclamam, que aquela morte era a libertação para todos? 48 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 É neste sentido que o Espírito do Pentecoste soprou na Reforma Luterana. A igreja toda confronta-se outra vez com, a primeira tese: "Quando nosso Senhor Jesus Cristo disse; Arrependei-vos..." Para guardar a Palavra de Jesus é preciso por isto antes e acima de tudo reunir-se novamente com, toda a congregação ao pé da cruz para reorientar a partir daí toda a avaliação que se faz da vida individual e da vida comunitária do cristão. Especialmente agora que E L E não está mais conosco. Quem vai transmitir esta sua palavra que perdoa, consola e conforta? Muitos cultos de Pentecoste não passam de discurso "a respeito" quando deveriam ser testemunho pessoal de uma congregação/pregador que reconhece, como Pedro, que os desobedientes à L e i de Deus o crucificaram. Se alguém me ama — esta condicional exige mais do que simplesmente ser alguém que admite e testifica diante dos homens que o pecador tem um Salvador em Cristo. Se alguém me ama, pressupõe o testemunho pessoal como resposta. Como alguém que tendo se acidentado contra um alimento na estrada, mas ileso, em vez de ficar se lamentando, sai estrada fora avisar outros motoristas do perigo que está à frente. O texto "Se alguém me ama." Esta condicional que Jesus introduz, deve preocupar uma igreja nos dias atuais. É na avaliação correta desta observação que hoje pode existir Pentecoste, se... Porque nem tudo que se chama Pentecoste, nem tudo que se faz invocando o Espírito Santo, nem tudo que se ensina de acordo com as Escrituras pode por este fato ser visto como o Pentecoste. Aqueles homens não foram aqueles heróicos e intrépidos desafiantes de um mundo hostil. Não eram também, os seguros e infalíveis visionários conscientes de que inspiração divina era-lhes sempre acessível. Eram, isto sim, tímidos e inseguros. Conscientes de que falharam nem só nos momentos cruciais, de grande desafio, mas também falharam, em levar avante a mera rotina do discípulo daquele Jesus. Não conseguiam esquecer disto. O último a se dar conta disto fora Tome. E com ele, nenhum linha escapado a quedas redundantes e repreensões tanto mais contundentes, quanto maior era o carinho e amor com que tinham sido concretizadas. O que se pode ainda esperar de homens como nós? Somos realmente capazes de provar a nossa dedicação a Jesus? Tudo visto e provado, a resposta é não. Mas, se... IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 49 O incrível é que em tudo, até no caso de Judas, E L E teve carinho e perdão para todos. Mesmo que isto lhe tenha acarretado aquela morte horrível. Mais ainda isto nos constrange e envergonha porque ele repetidamente prevenia disto. E prevenia de que ele tinha de ir sozinho. Não teria ninguém por ele. E se... Tão completamente alheios e estranhos somos ao amor de Deus, que nun,ca nos conseguimos; identificar com ele. Quando os discípulos achavam que tinham, visto e reconhecido o amor Deus como tal, n,o momento seguinte dava-se conta que o amor era sempre novo e infinito. Por isto, se... Desistir. A solução foi desistir de querer provar que somos capazes de nos alinhar com Jesus e amar como ele ama. Mais ainda, é reconhecer que todo o esforço de amar, em, nós não deixa nunca de ser uma forma de amor próprio. E por isto, temos de desconfiar de nós. E aceitar que o amor em nós será sempre este grande SE. A única coisa segura é o amor D E L E . Este é um amor sobre o qual se deve falar, para o qual se deve falar, para o qual se deve apontar. Finalmente é nisto que seguidores tornados tímidos e inseguros se agarram como sua garantia pessoal. O nosso amor por ele, enfim, nada mais consegue ser do que a confissão e testemunho daquilo que o seu amor faz por nós. Este amor por nós encontra sua expressão mais viva no sacramento para o qual estas palavras são essenciais. No sacramento este Deus por nós é o Deus que se dá por nós ao ponto de se incorporar totalmente em nós. No entender de Lutero, ao comermos o seu corpo, comemos a sua vida e suas boas obras; enquanto que o seu martírio e sofrimento sacrificiais são nos incorporados no seu sangue que bebemos. A quem isto interessa? A quem o mal, que corrói o mundo, também corrói a consciência, assaltados pelo pecado e caídos em pecado. Aqueles para quem pecado é uma realidade sensível. Pessoas que têm consciência do mal feito a Cristo e aos cristãos; os que não são indiferentes com a injustiça nem, com o sofrimento do inocente; os que lutam, trabalham e oram, e, se mais não podem, se identificam com, os que estão na adversidade. Estes são aqueles que não só querem o benefício do Sacramento, mas também aceitam a comunhão nele contida, o amor que nos é dado de maneira tão ampla, profunda e completa. Amar a Cristo é amar o que E l e nos dá. Com. isto aprendemos a reconhecer o amor dele e o desamor e a falta de comunhão a que o pecado nos relegou. Claro, existem aqueles que desejam os benefícios do amor de Cristo, mas evitam comprometer-se com ele, hábeis em não 50 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 envolvimento. Não se envolvem com pecadores declarados, não têm paciência com os que se lamentam, que não partilham a dor dos outros, não suportam os fracos de caráter, não dignificam, o indigno, não defendem o ausente, não intervêm a favor da verdade, nada arriscam (vida, propriedade, honras) a favor da igreja e dos cristãos. São egoístas a quem este Sacramento do amor não beneficia em nada. (Lutero) Mas onde alguém tem consciência de que sua comunhão com Cristo é esta comunhão mais ampla, aí existe consciência de pecado, de faltas, de fraqueza. Aí é preciso consolo, a força e a esperança que o amor de Cristo selou para os seus no sacramento. Desta consciência brota a fome e a sede que constantemente precisam ser mitigados. Se alguém me ama: aí está a realidade do Pentecoste — o agir do Espírito no espírito de Cristo para a comunhão dupla no amor de Cristo. Uma, a comunhão que nos é dada por Cristo e por toda a cristandade passada, presente e futura. E segunda, a comunhão que nós agora podemos oferecer aos que carecem deste amor do qual Cristo nos enche constantemenle em, favor de outros necessitados como eu. O Pentecoste diário O problema que Jesus aponta no texto é o temor e a perturbação da sua igreja/discípulos. Este problema é atual na medida em que reconhecemos que o só guardar a Palavra parece deixar a igreja insegura e perturbada. Uma igreja que busca o sucesso em sintonia com os movimentos e expectativas do mundo, que por isto altera suas prioridades, evidentemente está sendo focada por Jesus como um problem,a. O objetivo que Jesus propõe é que esta igreja confie e assim goze de uma paz nova, desconhecida no mundo — a sua paz. P a r a tanto enfatiza aquilo que faz o Pentecoste permanente nos corações — o amor do P a i para todo aquele que toma consciência de que não existe amor naquilo que o mundo oferece. Este Deus que vem comungar a vida com o homem, (e Jesus enfatiza: "Esta palavra não é minha mas do Pai.") este Deus é o Deus que faz o Pentecoste. Mas este Deus comunga no singular e se manifesta no plural. Esta comunhão e sua manifestação tem nome: o amor. O amor do Deus Salvador pelo perdido, do perdido pelo Salvador que por sua vez comungam o amor pelos perdidos. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 51 Tema: O Pentecoste será permanente se guardarmos a sua Palavra. I — Porque nela Deus confirma o seu amor. II — Porque ela nos ensina e depender do amor de Deus. Tema: A promessa de um Pentecoste permanente — meu Pai o amará. I — Diante da hostilidade — II — Diante dos desafios à — do mundo faremos nele morada. fé o Consolador nos ensinará. Conclusão: Não se turbe o vosso coração. Tema: Este é também o meu Pentecoste. I — Me reconheço na timidez daqueles discípulos. II — Reconheço a mesma promessa do Pai. III — Confio nas mesmas bênçãos. P. P. Wairich PRIMEIRO DOMINGO APÓS PENTECOSTE João 3.1-8 26 de Maio de 1991 E r a a primavera do ano 30 d . C . 0 primeiro ano do ministério de Jesus. Época da Páscoa. A cidade de Jerusalém fervilhava de peregrinos. Entre os muitos assuntos na boca do povo, um se destacava: quem, é este Jesus de Nazaré? João Batista o batizara (Mc 1.9-11). Chamara-o de Cordeiro de Deus (Jo 1.29; Jo 1.36). Surpreendera a todos ao expulsar os vendilhões e cambistas do templo (Jo 2.13-16). Tornara-se benquisto do povo ao curar os seus enfermos (Jo 2.23). Sua pregação (Mt 4.17) mexera com as consciências. No coração de todos estava a pergunta: "Será este, porventura, o Cristo?" (Jo 4.29). 52 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 Uns diziam; que não. Outros, manifestavam dúvidas. M u i tos, porém, "vendo os sinais que ele fazia, creram no seu nome" (Jo 2.23). Entre os que tinham dúvidas, encontrava-se um ilustre cidadão de Jerusalém. Seu nome, Nicodemos, Ele era fariseu. Seita que, no tempo de Jesus, degenerara em fanatismo nacionalista e num partido político radical. Ele era também membro do Sinédrio, o supremo tribunal eclesiástico dos judeus. Homem de bens, de projeção social, culto e diríamos boje, um, eminente teólogo, portanto, "um dos principais judeus" (Jo 3.1). Nicodemos tomou uma importante decisão. Ter um encontro pessoal com Jesus. Queria testar a capacidade teológica de Jesus. Assim "de noite foi ter com Jesus" (Jo 3.2). De noite... talvez porque durante o dia Jesus estava por demais ocupado com o atendimento do povo. De noite... talvez porque não queria assumir publicamente esta visita. Não queria expor-se a críticas de colegas. Proferiu o anonimato da calada da noite. Tanto faz. 0 importante é que Nicodemos foi encontrar-se com Jesus. Ele inicia seu diálogo chamando Jesus de Rabi (Jo 3.2). Ou seja, Mestre. Titulação reservada aos escribasí versados na Escritura. 0 "sabemos" se refere talvez a um grupo de fariseus, ou componentes do Sinédrio, liderados pelo próprio Nicodemos que já anteriormente haviam enviado uma comissão a João Batista para saber se ele era ou não o Cristo, Na ocasião João Batista lhes assegurou: " E u não sou o Cristo" (Jo 1.19-28). Agora em relação a Jesus, estavam convencidos que ele era "Mestre vindo da parte de Deus" (Jo 3.2), uma vez que "ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele" (Jo 3.2; Jo 2.23). Certamente Nicodemos ouvira as pregações de Jesus. Estas versavam sobre dois temas fundamentais: a questão do arrependimento e do reino dos céus (Mt 4.17). Dai a afirmação de Jesus a Nicodemos: "se alguém não nascer de n o v o . . . " (Jo 3.3). Acontece que para os fariseus não havia necessidade de um "nascer de novo". Segundo eles, o simples fato de serem, descendência de Abraão lhes conferia o reino de Deus (Rm 9.6,7). João Batista já OS advertira deste falso conceito (Mt 3.9). Daí o solene juramento de Jesus: " E m verdade, em verdade te d i g o . . . " (Jo 3.5), para mais uma vez deixar bem claro que o reino de Deus não se concede por hereditariedade, mas procede do "nascer de novo". Em que consiste este "nascer de novo?" Em "voltar ao ventre materno?" Como ironicamente perguntou Nicodemos? Não. Jesus esclarece: "pela água e pelo Espírito" (Jo 3.5). O IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 53 primeiro nascimento, o físico, é um nascer terreno, para a morte. Porém, o segundo nascimento, o "nascer de novo" é um, nascer espiritual. É uma ação do Espírito Santo. 0 Catecismo Menor (perg. 299) afirma: "mas com a palavra de Deus, a água é batismo, isto é, água de vida, cheia de graça e um lavar de renascimento no Espírito Santo, como diz Paulo a Tito 3.5. É "nascer de novo" pois o convertido nasce para Deus (Rm, 8.14; Gl 3.26,27). Ante a incompreensão de Nicodemos, Jesus usa a figura do vento. O vento é uma realidade. Vemos a sua força, sua ação, "assim é todo o que é nascido do Espírito" (Jo 3.8). 0 "novo nascimento" é dinâmico. Deve agir no munido através da santificação (1 Co 3.7; Cl 2.19; 1 Pe 2.2; 2 Pe 3.18; Gl 5.22-25). Nicodemos tinha dúvidas sobre a messianidade de Jesus. Assim Jesus se revela a ele como o Messias profetizado. Ele veio do céu e para o céu retornará (Jo 3.13). Antes porém, ele sofrerá (Is 53) e será levantado numa cruz, a exemplo do que aconteceu no deserto no tempo de Moisés (Nm 21.9). Qual o objetivo deste sacrifício? "Para que todo que nele crê tenha a vida eterna" (Jo 3.15). Este é o reino de Deus, a vida eterna. Dai a importância do "nascer de novo". Importa-vos nascer de novo 1. pelo arrependimento 2. para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. A pergunta de Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo velho?" 1. A resposta de Jesus: "pela água e do Espírito. 2. Qual o objetivo deste "nascer de novo?" — "para que todo o que nele crê tenha a vida eterna". Walter O. Steyer 54 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Lucas 16.19-31 2 de Junho de 1991 Contexto A ilustração usada por Jesus é do ciclo das 16 parábolas e histórias relatadas por Lucas do período das mensagens de Jesus na Galiléia, Samaria, Peréia e Judéia, no final do ano em que sofreu oposição, especialmente dos fariseus (Lc 9.51 a 19.27). Jesus proclamava "o evangelho do reino de Deus", que era a culminância da revelação de Deus. Já fora feita pela " l e i e os profetas", um conceito que vigorou até João Batista (Lc 16.16). Jesus Cristo c agora o cumprimento desta aliança eterna de Deus, anunciada pelos profetas (Jr 31.31; 32.40), e agora está aí aquele pelo qual "Deus ajuda", se quisermos traduzir o nome de "Lázaro", a forma grega de Eleazar (Esdras 7.5). Por mencionar o nome de Lázaro Jesus certamente não contou uma parábola, mas uma história veridica como ilustração. A ênfase nesse período de oposição que Jesus sofria era a necessidade de dar uma resposta de fé e vida ao evangelho e não imitar a oposição, o descaso, e o amor às riquezas de que os fariseus sofriam (Lc 16.14). Texto V. 19 — O "homem r i c o " do texto não tom nome para Jesus. E r a um mau administrador dos bens que havia recebido de Deus (v. 25). Mesmo sendo do povo de Deus, pois conhecia " P a i Abraão" (v. 24), hão vivia a fé de Abraão (Rm 4.3), pois não levava a sério "Moisés e os profetas" (v. 31), que pregavam a fé vivida em amor, em contraste com o seu amor às riquezas em que "se regalava esplendidamente". O rico havia esquecido de deixar que Deus fosse o seu Deus pela fé, e que era necessário "fazer amigos" com as riquezas. A oportunidade de fazer amigos estava diante da sua porta. V v . 20/21 — Lázaro é a oportunidade do rico. Mas apenas lhe dá "migalhas". Lázaro tinha tudo para oferecer ao rico: a mensagem do "reino de Deus" (Lc 6.20), o constante convite ao arrependimento, pois estava junto à mesa do rico para comer as migalhas. Os cães, talvez do rico, tinha mais interesse por ele do que o rico egocêntrico. V. 22 — Havia a crise, o ajuste de contas. Lázaro viu o que creu: o reino, como Abraão o recebeu. O rico não recebeu IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 55. o que creu: sua fortuna acabou. Morreu e foi enterrado! É uma advertência violenta: em que os homens crêem? V. 23 — O interesse de Jesus não é dar detalhes do céu (o lugar de Abraão) e do inferno, mas enfatizou três coisas: 1. Há dois lugares apenas: céu e inferno após a morte. 2. A pessoa que morre não fica vagando, mas entra logo na situação definitiva, apenas aguardando a revelação total de cada destino. 3. Nesta fase houve, na história de Jesus, possibilidade de comunicação, concedida por Deus, que pode ser uma exceção para enfatizar a mensagem de arrependimento e fé. V. 24 — O rico agora lembra que estamos no mundo para servirmos um ao outro. Mas só lembra que Lázaro deve servir (talvez era um servo dele). Agora precisa da misericórdia, da ajuda, do alívio, da compaixão que ele próprio não deu no sofrimento dos outros. Com um pouco de amor poderia ter aliviado a Lázaro. Agora o sofrimento do rico não tem mais volta. É eterno. Vv. 25/26 — Não é Lázaro quem responde. Abraão é autorizado por Deus, como "pai da fé". Certamente é nova exceção. Mas não há possibilidade de ajuda. Não se ultrapassam os limites. O consolo de Lázaro lembra a paraclesia dada por Jesus (1 Jo 2.1), pelo Espírito Santo (Jo 14.16), e praticada em parte já pelos cristãos (Rm 12.8). V v . 27/28 — Havia testemunho, o rico se lembra. Mas só agora se lembra. N u m primeiro gesto de simpatia agora quer que alguém, talvez Lázaro, vá testemunhar aos parentes. Ora, o testemunho estava todos os dias à sua porta. V. 29 — A questão é apenas "ouvir"! O testemunho do além, de Deus, está no mundo: está em Moisés (a Lei) e nos profetas (e os Escritos). Está tudo dito: Jesus o está proclamando. O "evangelho do reino de Deus" está sendo anunciado. Mas é a dureza do coração, dos fariseus, dos ricos fariseus, que não quer aceitar um Messias humilde que veio reinar nos coração. V v . 30/31 — Sempre o homem sabe melhor: quem sabe um resuscitado, um espírito, uma nova revelação, um novo profeta. Nem o Jesus ressuscitado foi recebido pelos endurecidos fariseus! O julgamento de "Moisés c os profetas" é final! Também a salvação do Messias, proclamada por "Moisés e os profetas" é final! "Quem tem ouvidos, ouça!" (Mt 11.15). 56 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 Disposição Introdução. O futuro é longo demais: dura uma eternidade. 0 tempo que temos para pôr em dia o futuro é agora. Deus nos dá a vida e o futuro. Nossos recursos para pôr em dia o futuro. I. " E l e desejava alimentar-se". A. A vida é dada por Deus. 1 . Todos recebemos a vida de forma igual. a. Nascemos com o dom. da vida. b. Precisamos assumir a vida. c. Somos responsáveis para servir aos outros. 2. Deus colocou os recursos para a vida no mundo. a. A riqueza é dada por Deus para repartir. b. Não há necessidade de pobres. c. Temos que aprender a repartir. B. O 1. 2. 3. abuso da vida e nosso mau uso dos recursos. Achamos que a vida e o futuro nos pertencem. A cobiça afastam Deus e o próximo. O futuro não está garantido se não deixarmos "Deus ser Deus". 1. Todos precisamos alimentar-nos: somos "mendigos" que Deus quer suprir. 5. O abuso da vida faz outros sofrer e destruir nosso próprio futuro. II. "Eles tem Moisés e os profetas: ouçam-nos!" A. Os recursos para vida eterna são dados por Deus. 1. Precisamos de recursos internos para chegarmos à vida eterna. 2. Deus é o "Senhor e Doador da vida". 3. Já deu os recursos para todo o homem: estão em "Moisés e os profetas". 1. Tudo foi cumprido em Cristo, o F i e l . B. " O u v i r " é o problema para por em dia o futuro. 1. Para receber os recursos internos é preciso "ouvir": testemunho. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 57 2. Para "ouvir", Deus tem que dar a " v i d a " pela fé. 3. Assim estaremos na fé de Abraão: nosso futuro — evita o "tormento" do futuro, e — recebe o "consolo" de Deus. Conclusão. Quando recebemos os recursos internos vamos "testemunhar" para que outros "ouçam". Martim C. Warth T E R C E I R O DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E Lucas 14.15-24 9 de Junho de 1991 Observação: É cada vez mais difícil pregar o evangelho para o homem de nosso tempo. Observando as igrejas, no mundo inteiro, detectamos o surgimento de crises e questionamentos. Parece que não existe mais ouvido para a "mensagem, cristã". A falta de crescimento das igrejas, a aparente estagnação em muitos setores das mesmas, parece evidenciar que a mensagem cristã não consegue mais atingir o ouvinte. Será que a igreja tem que mudar o conteúdo de sua mensagem? A parábola sobre a "grande ceia" nos convida a uma reflexão sobre o "porquê" de nossa participação e ação na igreja cristã. Contexto: O capítulo 14 de Lucas quer ser transparente, especialmente nas suas parábolas, a respeito do posicionamento do homem perante um convite importante. É claro quem é que convida e quem ele quer atingir com. esta mensagem. Aceitar um convite significa assumir toda a responsabilidade e não medir as conseqüências. O convite recebido requer um; posicionamento claro e definido. Texto: A parábola quer colocar o ouvinte numa situação de decisão. Descreve o homem e seu posicionamento perante o chamado que tem sua origem em Deus. Jesus usa o momento de uma ceia (cf. Lc 14.1), conectando este fato com uma antiga tradição do povo de Deus. E r a convicção do povo de Deus, desde o antigo testamento, que o satisfazer da fome e da sede servia como ilustração e ensinamento a respeito dos valores espirituais da comunhão com Deus (SI 23.5 — 36.9 — 107.9 — cf. Is 25.6 — 58 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 55.1-3 — Lc 13.29 — 22.30 etc.) e da participação no reino de Deus. Na parábola o ponto de partida é a afirmativa do V. 15. Esta exclamação do fariseu descreve uma situação de fato e de direito. A bem-aventurança do membro do povo de Deus parece ser um assunto pacífico e seguro. O crente não necessita preocupar-se com o seu destino eterno, pois tem certeza de sua salvação. O fariseu, com todo o seu zelo, parece ter segurança absoluta sobre o seu destino eterno. A resposta de Jesus permite ao ouvinte espelhar-se na verdade que ouve. Será que o fariseu pode ser "tão seguro" de si? Como reagem os convidados? (cf. Lc 14.7,17,24) Eles parecem ser incomodados com o convite que receberam. Têm, algo mais importante para fazer. A resposta é inequívoca. Tomaram conhecimento do convite mas resistem e rejeitam, cada um em conformidade com a importância de sua preocupação (as três rejeições são representativas), a oportunidade de realizar o que deles se espera. Sua relação íntima com as cousas conquistadas, por sua força e com o seu empenho, não permite o envolvimento com os conteúdos que o convite traz. A decisão é clara. Não querem participar. A vida "material" é mais importante do que a vida "espiritual". A reação do Senhor é a justa ira sobre a rejeição do convite. A partir do v. 21 abre-se uma nova visão, pois. os convidados são deixados de lado. Importante é observar a evolução do texto (cf. as palavras "sair" "depressa" "trazer" "obrigar" todos etc), pois a mola mestra para a expansão do "reino" é o grande amor do Senhor. Náo importa o "status" alcançado. Importa a aceitação do convite. Estamos perante uma severa admoestação. O portador do convite do reino de Deus quer ser ouvido, respeitado e seguido. Perante o seu convite outros valores se tornam obsoletos. O ouvinte necessita decidir entre adoração em, espírito e verdade e a idolatria. Outra alternativa não existe. Esboço: Deus quer salvar todos os homens. Por isto ele a) oferece vida espiritual em abundância b) não aceita a indiferença ou rejeição c) convida todos os homens a ouvir e aceitar a sua Palavra. Hans Horsch IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 59 QUARTO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Lucas 15.11-32 16 de Junho de 1991 Introdução: Constatamos, especialmente em nossos dias, que muitas pessoas vivem uma vida completamente alienada. Parecem viver sem orientação ou objetivo em sua vida. As vidas humanas se tornam vazias. Permanecem apegadas em cousas superficiais. Tomou conta, de grande parte da humanidade, a falta de sentido na vida. Onde encontramos as causas deste esvaziamento da vida humana? Qual o remédio para sanar esta situação? A perícope em questão oferece uma resposta. Texto: A parábola nos faz compreender o que significa a "morte" e a " v i d a " para o homem de todos os tempos. E l a surge do conflito entre Jesus — o doador da vida — e os fariseus — representantes de uma religiosidade formal e descompromissada com a vontade genuína de Deus. O comportamento de Jesus para com os pecadores da época provocou as mais diversas reações por parte do povo de Deus. A parábola contém o ensinamento decisivo para o ouvinte atento. Os filhos mencionados, no texto são descritos em seu relacionamento para com o pai. Observando bem a descrição de ambos, descobrimos as tentações de nossa própria existência. Mas, o texto não pára por aí. Ele nos oferece não somente a solução dos problemas mas também a alegria daqueles que participam na busca do perdido. O homem "perdido e condenado" de nosso tempo merece o amor do P a i que está no céu. O auge das afirmações encontramos nos versículos 24 e 32. Tentaremos dar três ênfases: A fuga descrita permite a identificação. A busca da auto-administração da vida, sem aceitar a interferência de uma vontade superior, está em todos os homens. O distanciamento de Deus traz consigo o distanciamento do homem de si mesmo e do seu próximo. O homem de nosso tempo evidencia traços característieos de seu desequilíbrio psico-somático. Não consegue mais lidar consigo mesmo. Assim ele cai na dependência de uma vida "animalesca", ou melhor, entregue às suas próprias paixões. A alienação da vida humana está perante os olhos daqueles que conseguem "enxergar". Fora da influência benigna do pai e vivendo sua apostasia "de fato", o homem degenera de tal maneira que sua vida está sujeita às forças da desunião, desordem e destruição. Viver assim significa experimentar o poder da morte. GO IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 A volta do filho pródigo fala por si mesma. Forçado a reconhecer sua situação surge a busca e a conscientização. " C a i n do em s i " (v. 17) e reconhecendo a sua culpa, nasce a sua decisão de voltar ao pai. Necessitamos re-descobrir a mensagem clara de lei e evangelho. Dr. Martinho Lutero reconheceu, após muita luta interna, o quanto é necessário para o homem, o "cair em si". Aprender a desesperar-se mesmo (sob a Lei) significa aprender a refugiar-se sob as promessas de Jesus Cristo (Evangelho). Através do arrependimento sincero, da confissão da culpa e da declaração do perdão, o homem de hoje encontrará a chance da nova vida, preparada por intermédio de Jesus Cristo, nosso Salvador. A aceitação e reintegração do filho na comunhão com o pai e o alívio que o próprio Deus oferece para todo fugitivo. O comportamento do pai, descrito nesta parábola, é comovente e permite olhar no coração daquele que nos oferece a sua graça. A aceitação incondicional do filho gera a grande alegria. 0 reencontro entre o pai e o filho fornece a base para o reencontro do filho consigo mesmo e com o seu próximo. Vale agora viver a nova vida. Uma vida sob o poder da ressurreição, uma vida de esperança e de realização. Esboço: Deus não quer que vivas uma vida alienada a) ele conhece as tuas tentações b) ele espera a tua volta c) ele te oferece a vida verdadeira. Hans Horsch QUINTO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Lucas 6.36-42 23 de Junho de 1991 \. A temática das perícopes: O Salmo 138 lembra que o fiel e misericordioso Deus é rico em perdoar os humildes de coração. (v. 6) O texto do A . T . , Gn 50.15-21 nos destaca a bondade de José para com seus irmãos. Temerosos de uma possível vingança do poderoso irmão, os irmãos prostraram-se humildemente IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 61 diante de José, que reagiu, dizendo: "acaso estou eu em.lugar de Deus?" E os consolou com, seu perdão e promessa de ajuda. Na epístola, Rm 12.14-21, Paulo reafirma o mandamento de Jesus de amarmos e bendizermos os nossos inimigos (Mt 5.44), como também destaca a necessidade da humildade, o "não ser sábio aos seus próprios olhos", do querer a paz com, todos e o não querer vingar-se do próximo, porque em última análise, o Justo Juiz e Vingador é só Ele e mais ninguém (Dt 32.35). 0 orgulho e seus "derivados" na vida dos cristãos são um forte destestemunho perante os que não são cristãos. como José, o cristão não paga o mal com o mal. Guiado pelo Espírito, o cristão vai contra o impulso natural no ser humano. 2. Contexto: A presente perícope pertence ao sermão da Planície, de Jesus, que começa com o v. 17 e vai até o v. 49. O Mestre está preparando os seus discípulos para a grande missão. E a lição nesse momento é: O P a i é misericordioso, por isso os seus também são misericordiosos. Como? Não julgando, não condenando, perdoando e sendo generosos para com o próximo em suas necessidades físicas e espirituais. 3. Texto: Vers. 36: "O Pai é misericordioso, por isso os> seus também são misericordiosos". Quem foi aceito por Deus em. sua misericórdia, quer e vai ser misericordioso no seu agir com, os outros. Deus não quer destruir, mas perdoar. Assim, os cristãos, no convívio com os outros são orientados a não julgar, não condenar, a perdoar e ser generosos. Vers. 37-38: Um exemplo de misericórdia c o não julgar e condenar. Viver da misericórdia de Deus é perdoar (Mt 19.21-35). Quanto mais os discípulos viverem, no perdão, mais experimentarão a misericórdia de Deus. Jesus não proíbe todo e qualquer julgar. Há um julgar justo e ordenado por Deus. Jesus não quer que seus ouvintes fiquem indiferentes diante de idéias e atitudes condenáveis. Isso seria um conformismo incompatível com o espírito da justiça divina. A exortação no texto refere a um julgar leviano, sem amor. Essa atitude reprovada inclui o pecado da língua referido por Tiago 3. Ao julgar segue o condenar. Quem julga e condena levianamente, sem, querer "ganhar o irmão", caso ele estiver em perigo, provoca a ira de Deus e não pode contar para a sua própria pessoa com a misericórdia divina. Quem assim agir, ele mesmo será julgado e condenado. Quando sentamos no Seu lugar de Juiz, esquecemos que nós também haveremos de estar perante Ele (Rm 14.10). 02 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 "Perdoai e sereis perdoados" — Na grande família humana um é devedor do outro. Todos nós somos devedores de amor para com nosso próximo. Por causa da fraqueza da nossa carne, é inevitável que surjam desentendimentos no convívio com os irmãos. Pedir perdão e perdoar é a solução para esses problemas. Paulo escreve aos efésios: "Longe de vós toda a amargura, c cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem, assim toda a malícia. Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou." (Ef 4.31,32) Em sua carta aos colossenses Paulo exorta seus leitores a "suportarem-se uns aos outros" (Col 3.13), o que significa que na diversidade das individualidades devemos perdoar-nos mutuamente, "assim como o Senhor nos perdoou". "Dai, e dar-se-vos-á" — O que temos nós que não tenhamos recebido? Nosso viver é um contínuo receber. O de Jesus foi um contínuo dar. Ele deu-se por amor. Agora nós somos convidados a dar ao próximo o que ele necessita no corpo e na alma. Não perdoar alguém é negar-lhe algo que ele necessita muito. "A caridade por nós praticada não nos abre o céu, mas o não praticá-la nos fecha o céu." Vers. 39 e 40: É guia cego quem julga e condena e não vê o esplendor da misericórdia divina envolver toda existência humana. Quem, não vê o seu erro não pode guiar outros. Nessas palavras poimênicas Jesus está preparando seus alunos, os discípulos, os futuros líderes, para que não queiram guiar alguém sem estar conscientes da misericórdia de Deus. O discípulo tem no seu Mestre o exemplo a seguir. E todos sabiam o quanto o Mestre era misericordioso. Vers. 41 e 42: A cegueira espiritual referida por Jesus não só impede o homem, a ver a misericórdia divina que o quer salvar, como ainda o impossibilita a enxergar a seriedade de sua natureza pecaminosa. Cristãos também sofrem recaídas em, matéria de visão do dia a dia da vida, especialmente do convívio com os irmãos. Nós temos traves e argueiros nos nossos olhos. Orgulho, arrogância, farisaísmo nos enche de nós mesmos. Não raras vezes perdemos nossos sentimentos de compreensão e tolerância cristã. Quem vive no arrependimento diário e pede perdão, refugiando-se na misericórdia de Deus, esse verá no irmão a sua própria imagem — a de um pobre pecador, fraco e falho. Só quando o acusador se coloca diante do Deus justo, como seus defeitos, é que ele será capaz de ajudar o outro para libertar-se do argueiro. Vivendo na misericórdia de Deus, pode-se ajudar IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 68 o outro, sem pretensões de querer ser mais. Vendo a m i m mesmo nos meus erros possso ter compaixão do outro no seu erro. Antes de querer mudar os outros, eu preciso querer mudar. A misericórdia de Deus me faz olhar primeiro para mim; mesmo e minha fraqueza. 4. Meditação; A misericórdia de Deus é o princípio de todo o agir dos filhos de Deus, Num mundo em que a lei condena o infrator e onde a tendência natural do homem é julgar o outro (Rm 2.1), o discípulo será tentado a ocupar o trono do julgamento de Deus e condenar o pecador (Mt 7.1). Isso ele não deve fazer, porque ele vive do perdão de Deus (Mt 6.12) e ele pode somente ser a voz do perdão de Deus para seu próximo. Se ele julga, ele perde o Deus perdoador e terá contra si o Deus Juiz. O discípulo, através de arrependimento, precisa limpar seu próprio olho da trave de seu próprio pecado para que possa ver claramente para então remover o argueiro do olho do irmão (v. 42). Jesus também ensina a seus discípulos que ninguém está autorizado a executar o julgamento de Deus. (Rm 12.19) Todos, no entanto, precisam comparecer diante do julgamento de Deus. "Onde pessoas Se acham no direito de julgar sobre os outros, aí entram no campo que compete a Deus". "Querer estar acima dos outros é uma qualidade da natureza humana. As pessoas querem aparecer. E para poder aparecer, justificam-se a si mesmas e julgam e condenam os outros. Quanto mais as pessoas procuram ser as tais, tanto mais passam a desprezar os outros". Cristo traz uma justiça que liberta e salva, "recheada" de misericórdia divina. Essa misericórdia em nossa vida cria uma nova visão. E essa nova visão da minha própria culpa, a solidariedade de culpa, cria uma nova comunhão, ura novo relacionar-se com o próximo. Descobre-se, então, que ninguém, está acima do outro, mas um ao lado do outro. Somente aquele que conheceu a dor de uma trave removida do olho pode ajudar o outro com seu argueiro alojado no mesmo órgão. Jamais quis Jesus negar o valor da crítica misericordiosa, que descobre erros e os aponta, mas ensinou aos seus discípulos a não condenar injusta e impiedosamente. Esse erro ocorre quando não levamos em conta a fraqueza do irmão, quando o julgamos sem, conhecimento suficiente, quando falamos de modo impensado, quando espalhamos boatos, quando desenterramos coisas do passado ou comentamos publicamente o que é secreto, quando nos habituamos a criticar tudo e a todos, com ares de infalibilidade, quando insinuamos segundas intenções no próximo, interpretan64 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 do mal seus atos e quando faltamos com o devido amor na aplicação da disciplina cristã. 5. Disposição: Tema: Sede misericordiosos! 1. Deus é misericordioso. 2. Quem vive da misericórdia de Deus não pode julgar e condenar. 3. Quem vive da misericórdia de Deus aprende a ver os outros com novos olhos. Gerhard Grasel SEXTO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Lucas 5.1-11 30 de Junho de 1991 "Tudo é possível ao que crê! (Mc 9.23) Há promessas como essa e há textos bíblicos que, quanto mais conhecidos, mais nos certificam da presença poderosa e graciosa de Deus em nossa vida. No relato da pesca maravilhosa, Cristo conscientiza o homem de sua pecaminosidade, revela-se como Ajudador, e convoca os crentes para serem, suas testemunhas às outras pessoas. Tudo no belo quadro de uma pescaria, tão conhecido, tão apreciado, tão simples. O texto está inserido no ministério de Jesus na Galiléia (Lc 4 a 9). A escolha dos primeiros discípulos foi uma de suas primeiras tarefas, ao iniciar seu ministério. O cenário é a margem ocidental do lago de Genezaré, conhecido no Antigo Testamento por "mar de Quinerete", palavra hebraica que significa harpa (kinnor), por causa da semelhança entre a forma do lago e esse instrumento. A primeira grande comissão ou chamamento ocorre ao som das águas dessa enorme harpa construída pela natureza de Deus, Os personagens mais atuantes, além, do Mestre e Concertista Jesus são os pescadores, homens simples, sem grande cultura, mas laboriosos e dispostos a atender à palavra de Jesus, ouvindo e fazendo o que manda. " N a d a apanhamos" (v. 5) — Situações de insucesso e frustração na vida profissional não são novas, nem são exclusividade da moderna era industrial. Há fases na vida em que parece não IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 (55 haver esperança de êxito, apesar de pormos em execução os mais audaciosos planos e investirmos altas somas, capacidades e tempo. Defrontando-se com o resultado adverso de uma noite de trabalho em vão, o discípulo, ainda assim confiante, exclama: "Mas sobre a tua palavra lançarei as redes". Seguindo a palavra de ordem e convite do Salvador, Pedro e os crentes de todos os tempos experimentam maravilhas. Jesus submeteu-se ao mais infrutífero dos trabalhos: redimir a humanidade perdida das malhas do pecado, do mundo e do poder do diabo — e transformou essa tarefa em sucesso e salvação. "Epídé tôo réemati — apesar de todas as contra-indicações, hora imprópria, desânimo, cansaço, os discípulos atendem a seu Mestre e confiam na ordem recebida. "Senhor, aumenta-nos a fé" na lua palavra! O propósito do milagre da pesca é o mesmo expresso em Jo 20.31. O processo inicia com o "ensinava do barco as multidões". (v. 4) Apresentou-se-lhes como Salvador através da pregação da palavra de vida e sucesso pessoal. Nessa palavra foi que Pedro confiou. Essa palavra transforma-se no convite que leva os discípulos a seguir Jesus. E r a preciso que essa mensagem exitosa fosse levada adiante por homens convictos e que cumprissem cabalmente o seu ministério. O êxito da empreitada tinha o objetivo de fortalecer a fé daqueles pescadores de dois mares. Em ambos os barcos, de pesca e do ensino, eles atendem á voz do Mestre. Em ambas as tarefas eles seriam bem sucedidos, porque bem amparados. O mar da vida precisa ser desbravado a serviço do Salvador Jesus, sob pena de que a nossa vida tenha sido vivida em vão. O chamado do texto é específico aos discípulos de Jesus, para pegar com vida, capturar (zoogroon) pessoas para as malhas do evangelho de Cristo, como seus mensageiros. Mas também se aplica a todos os crentes, no sentido de que dêem testemunho de Sua presença em suas vidas. O sucesso da pesca tem ainda um significado positivo em relação ao trabalho de nossas mãos, que não é vão, quando realizado "no Senhor". (1 Co 15.57,58) Muitos são os entraves à obra da missão da igreja. Quantas desculpas se arranjam para fugir a essa responsabilidade! A pesca maravilhosa é a promessa presente de que o trabalho da igreja, através de seus membros, na pregação e no testemunho, jamais deixará de ser bem sucedido. "A minha palavra não voltará v a z i a . . . " (Is 55.11) Um dos maiores obstáculos ao progresso da palavra é a falta de empenho e a fraqueza de fé dos cristãos. Seguir a Jesus (ekoloúthesan/y. 11), depois de lhe entregaram tudo, barco, trabalho, confiança e louvor, para o engrandecimento de seu reino e de sua obra na terra. 66 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 Disposição Tema: Sobre a tua palavra lançarei as redes! 1. A palavra de Deus corre velozmente (Sl 147.15ss) cobre de nuvens os céus, prepara a chuva, faz brotar nos montes a erva, dá o alimento aos animais, ninguém lhe resiste: Ouçamo-la, aceitemo-la, ajamos de acordo com ela! "Desejai ardentemente... o genuíno leite espiritual! (Contexto da Epístola do dia: 1 Pe 2.2). 2. A palavra de Deus revelada em Cristo se manifesta ao homem de forma salvadora e milagrosa: transforma sua vida, e "suas misericórdias se renovam todas as manhãs" (Leitura do A n t i go Testamento do domingo). 3. A palavra de Deus é viva e eficaz em sua Igreja. Seus pastores, ao exercer o ministério público da pregação da palavra e administração dos sacramentos, têm a promessa de que "prosperará" (Is 55). Seus crentes, como sacerdotes reais, nação santa e povo de propriedade de Deus a proclamam para que todos "alcancem misericórdia". (Epístola) Elmer Flor SÉTIMO DOMINGO APÔS PENTECOSTE João 4.5-15(16-26) 07 de Julho de 1991 Jesus encontrava-se no início do seu ministério. Havia-se revelado como o Messias por ocasião da páscoa (Jo 2.18,19 e 23). A purificação do templo (Jo 2.13-16), os sinais realizados (Jo 3.30), o encontro com Nicodemos (Jo 3.1-15), o testemunho de João Batista (Jo 3.30), tudo somou para uma crescente notoriedade de Jesus. No entanto, este prestígio gerou inúmeros ciúmes, tanto por parte de alguns adeptos de João Batista (Jo 3.26), como principalmente dos fariseus (Jo 4.1). Para evitar atritos, Jesus achou por bem voltar para a Galiléia (Jo 4.3). IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 67 Ele se encontrava na Judéia, e para chegar à Galiléia, era-lhe necessário atravessar a região de Samaria. Território hostil devido a rivalidade entre judeus e samaritanos (Ed 4 e Ne 4). Havia três estradas que levavam através da Samaria. O caminho do litoral, margeando o Mediterrâneo, o do vale do rio Jordão e a estrada que atravessava pelo meio o território de Samaria. Jesus escolheu esta última via, a de maior contato com a população local. Jesus e sua comitiva chegaram assim nas proximidades de uma cidade chamada Sicar (Jo 4.5). Localizava-se a mesma entre os montes Ebal e Gerizim (Dt 11.29). E r a uma cidade histórica (Gn 33.19 e Jz 24.1). Venerada pelos samaritanos (Gn 34.2) devido ao poço cavado por Jacó, poço cuja água assegurava a subsistência da população. Os samaritanos não eram judeus. A origem dos mesmos achamos registrado em 2 Rs 17.24-28. Adotavam um culto misto, sincretista, com forte influência pagã e alguns traços de judaísmo. Assim aceitavam apenas o Pentateuco, bem como a circuncisão e também, esperavam a vinda de um Messias. Como os judeus vedavam o acesso de samaritanos ao templo em Jerusalém, eles construíram um templo rival junto ao monte Gerizim. Mas este havia sido destruído em 128 a . C . por João Hircano. Mesmo assim o monte Gerizim era-lhes, sagrado, pois diziam que ali se dera o encontro entre Abraão e Melquisedeque (Gn 14.18-20), e ainda segundo os samaritanos, neste lugar Abraão era para sacrificar seu filho Isaque (Gn 22). Segundo a tradição, aqui também se localizava o túmulo de Jacó, a quem veneravam como patriarca (Jo 4.12). O poço situava-se nas proximidades da cidade. Era, ao mesmo tempo um lugar de pouso, em cuja sombra das árvores descansavam os peregrinos. Sendo a hora sexta, ou seja, meiodia, a hora era propícia. Jesus ficou junto ao poço, enquanto seus discípulos foram à cidade a fim de buscarem alimentos. Nisto se aproxima uma mulher samaritana para buscar água no poço. Jesus dirige-lhe a palavra, pedindo que ela lhe desse um pouco de água para beber. O diálogo que a seguir se estabeleceu entre Jesus e esta mulher samaritana é um dos mais expressivos do Novo Testamento. Comprova todo o amor de Deus a favor de uma "ovelha perdida" (Lc 15.3-7). Evidencia o chamado de Deus ao arrependimento. E revela a messianidade de Jesus. Especialmente o objetivo da sua vinda. Nas palavras do próprio Jesus: "O Filho do homem veio salvar o que estava perdido". A mulher samaritana era uma "ovelha perdida — mas através do dom de Deus (o sacrifício vicário do Messias) e da água viva — o evangelho deste amor de Deus (Jo 3.15,16) ela seria reconduzida ao divino aprisco. E esta salvação é completa. Quem nele crê tem a vida eterna. Somente o Messias pode conduzir a 68 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 pastos verdejantes e levar para junto das águas de descanso (Sl 23.2). Pelo: contexto vemos que Jesus atingiu seu objetivo. A mulher samaritana reconheceu em Jesus inicialmente um profeta (Jo 4.19), depois o Cristo (Jo 4.29), e graças ao seu testemunho a favor do Messias, toda a cidade de Sicar veio a crer, tanto que unânimes todos confessaram: "sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo" (Jo 4.42). Jesus se manifesta como o Messias aos samaritanos 1. converte uma mulher (Jo 4.5-26) 2. leva-a ao testemunho pessoal (Jo 4.28-30 e 39) 3. e assim evangeliza uma cidade inteira (Jo 4.40-42). Walter O. Steyer OITAVO DOMINGO APÓS PENTECOSTE João 6.1-15 14 de Julho de 1991 ESTUDO: 1. Metá tauta: depois destas coisas, pressupõe um período de tempo de pelo menos seis meses ao máximo de um ano. João introduz relatos omitidos nos sinóticos e sublinha outros já feitos. 2. Os verbos estão no imperfeito. gum tempo (cf. variante). Jesus estava sentado por al- 3 A festa dos judeus — explica a concentração de pessoas e a curiosidade; estranhos vindos de fora, 4. 6 e 10b — Devem ser vistas como explicações entre parênteses. Ajudam a compreender mas não compõem o objetivo pelo qual João registra o relato. 5. Agorasonem — Subjuntivo— Onde compraríamos... ou se comprássemos, Não pede a informação. Jesus quer que Filipe reflita sobre o problema. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 69 6. Autos — Ele, ele próprio. 10. Ton arithmou — Acusativo, relação: em relação a números, no que respeita números. 14. Elegon — Imperfeito: no sentido — espalhar de boca em boca. Palavras especiais: Semeia (v. 2, 14) É tema especial deste evangelho (2.11, 18, 23; 3.2, 4, 48, 54, especialmente 10.41). Tó paseha: Em João (2.13; 5.1; 6.4; 11.55) são importantes estas menções para determinar a extensão do ministério de Jesus. Em 6.4 Jesus está a um ano da morte, no pico do ministério da Galiléia, mas também desafiante mais e mais rejeição. Mello — em 6 e 15 é intenção definida cuja ação é irreversível. Denárion — salário de um dia. Hoi ándres — (masculino) em v. 10, mas hoi antropoi (significando o povo todo) no v. 14 V. 14 — A confissão era verdadeira nas Palavras empregadas. O discurso era certo e dirigido à pessoa certa. Mas a atitude, as intenções c o objetivo eram falsos. V. 14 e 15 — São relato exclusivo de João Harpazein — Envolve até violência. (Obrigá-lo) Aspectos homiléticos: Contexto — Qual é a missão de Jesus? 5.47 = Se porém não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas Palavras. 43 = "Se outro vier em seu próprio nome." "Vós, os que aceitais glória uns dos outros e não procurais a glória de Deus." Jesus acusa que a misericórdia de Deus é também; consumida egoisticamente pelo homem que só procura Deus para benefícios pessoais. 70 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 Depois da multiplicação a multidão prova com seus atos o que Jesus lhes via no coração. Confira os sinóticos (Mt 14.14-21; Mc 6.34-44 e Lc 9.11-17) - Todos enfatizam o teste que Jesus fez com os discípulos para ver se voltariam para Ele em busca de auxílio. (Decepção?) Só sabiam confiar nos seus recursos próprios e força. Ao mesmo tempo não deixaram de fazer o povo assentar-se, depois! Os sinóticos tem como contexto os ensinamentos de Jesus, explicações sobre o Reino e curas. O texto: A. Revela o Deus Provera Em todas as circunstâncias. Este Deus espera a nossa confiança porque ele não falha. Este Deus espera confiança também quando a confiança é o único recurso. B. Revela o homem (anthropos do v. 14) e a inversão que faz da bondade e do amor de Deus. (Ilustração: o texto do AT Israel no deserto). Josefo também relata de dois charlatães que se intitularam profetas de Deus e atraíram e fanatizaram multidões com promessas de glórias futuras. C. Dar glórias à providência de Deus, em si é nada. Dar glórias ao Deus Barriga (no dizer de Lutero) e "obrigar" Deus por meio de culto e orações e satisfazer necessidades materiais é colocar aquele Jesus dos escritos de Moisés (5.47) na fuga (6.15). D. Todos os cálculos, seguros e garantias que se puderem ajuntar são postos em desafio por um Deus que olha dos céus e prove para todos. Infelizmente, o homem julga que é seu direito e dever apropriar-se não só das dádivas divinas, mas também apropriar-se do Doador. O texto nos confronta com um problema da natureza humana, identificado no contexto pelas palavras de Jesus e ilustrado no texto pela atitude da multidão e dos discípulos. Todos se interessam por Jesus, o procuram e seguem,. E Jesus confirma que o amor de Deus pela humanidade é concreto, presente na pessoa de Jesus, nas suas palavras e atos. O problema que se opõe à fé é o homem só reconhecer e admitir a bondade de Deus quando as suas expectativas estiverem satisfeitas. Tanto os discípulos acharam que a pergunta de Jesus só faria sentido se Deus lhes tivesse antecipadamente feito chegar às suas mãos pelo menos 200 denários. Querer alimenIGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 71 tar aquela multidão era exigir o impossível. Nem; Deus, nem Jesus podem fazer isto, no entender destes cristãos pragmáticos e modestos no pedir e esperar. Do outro lado, estão aqueles que pensam que Deus lhes deve tudo. E que querem transformar Deus no "gênio da lâmpada" para suas ambições. Não tem auto-crítica, muito menos arrependimento em si. O objetivo do texto é fazer com que o cristão seja ambicioso e confiante na sua vida de oração (por estar na presença de Jesus); ao mesmo tempo aprenda com Jesus a canalizar os recursos de Deus não em benefício pessoal, ou para capitalizar honras, mas para servir o seu próximo com humildade de espírito. Organização do material: Acima dos recursos que temos, está aquele que nos ama. Por isto: aprendamos a receber o seu auxílio com humildade aprendamos a repartir os benefícios com confiança. P. P. Weirích NONO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Mateus 5.13-16 21 de Julho de 1991 É importante notar, sempre de novo, o contexto destas palavras de Jesus. Em primeiro lugar, elas são ditas a Seus discípulos; por outro, elas vêm logo após as bem-aventuranças onde Jesus descreve a atitude do mundo em relação a Seus discípulos e Sua Igreja. A última beatitude é transicional. As duas metáforas do texto — sal e luz — invertem o processo e descrevem a influência que tem, o Reino de Deus sobre o mundo, ou seja, a atuação dos seguidores de Cristo sobre aqueles que "por minha causa" os perseguem, (cf. 5.11-12). O pronome hymeis no início de ambos os versículos é enfático. Não é o mundo, não são os escribas e fariseus, más os filhos do Reino apenas que são sal da terra e luz do mundo, inerente nestas duas figuras está uma verdade fundamental: a 72 . IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 Igreja e o mundo são duas entidades separadas. De um lado está "a terra"; do outro, "vós" que sois o sal da terra. De um lado está "o mundo"; de outro, "vós" que sois a luz do mundo (cf. o Salmo indicado para hoje onde esta distinção fica bem definida). Verdade é que as duas entidades estão relacionadas entre si, mas esta relação depende da sua diferença. N u m a sociedade com tendências religiosas universalistas, quando é teologicamente elegante tornar obscuras as fronteiras entre Igreja e o mundo, bem como referir-se a toda a humanidade indiscriminadamente como "povo de Deus", é oportuno lembrar esta diferença para que nossos cristãos não se integrem a essa inclinação aeróbica. Sal e luz são duas metáforas extraídas da comum necessidade cotidiana de qualquer família independente de sua posição social ou econômica. Tanto o sal quanto a luz exercem, uma função salutar sobre o ambiente onde se encontram e atuam. Pode-se dizer que o sal possui uma função especialmente negativa e secreta atuando no combate à deterioração. A atividade dos discípulos pode ser comparada aqui ao fato que o sal não é simplesmente aspergido, mas ele é esfregado sobre os elementos para que estes não se decomponham. Mais do que isso, na ótica do contraste entre Igreja c mundo, este se encontra doente, ferido, de chagas abertas. E o sal — a Palavra de Deus testemunhada pela Igreja — arde, precisa arder. Helmuth Thielicke explora este aspecto dizendo que cristãos há que se apresentam ao mundo como sendo mel e não sal e por isso o mundo os rejeita. "Jesus", diz ele, "não falou: 'vós sois o mel do mundo'. Ele disse: 'vós sois o sal da terra'. 0 sal arde e a mensagem não adulterada do juízo e da graça de Deus sempre temi sido uma coisa que arde — tanto arde que os homens se têm revoltado e reagido contra e l a . . . [Por outro lado,] onde não houver amarga reação o puro sal está em falta" (Life can begin again: Sermons on the Sermon on the Mount. Philadelphia, Fortress, 1963, p. 28). O sal pode perder sua capacidade de atuação ao sofrer a influência de outros elementos químicos. Estudiosos afirmam que o sal do Mar Morto, devido à exposição a outros elementos químicos, possui gosto alcalino e se torna imprestável. Jesus ao falar com Seus discípulos na segunda parte do vers. 13 deve ter-se voltado em direção ao Mar Morto para ilustrar Seu argumento. A segunda figura utilizada por Jesus é a da luz. Sc o sal, atuando de forma salutar, possui uma atuação negativa e age de maneira secreta, a luz, por seu turno, tem uma função positiva iluminando abertamente, publicamente. São metáforas que se complementam. " L u z " , na Escritura Sagrada, significa conheIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 73 cimento de Deus (cf. 6.22-23; Sl 36.9); bondade, justiça e verdade (Ef 5.8-9); alegria, glória e verdadeira felicidade (Sl 97.11; Is 9.1-7; cf. 60.19). Em última análise " l u z " outra coisa não é senão o equivalente aos "frutos do Espírito", como se acham alistados na Epístola de hoje. É importante ressaltar que Jesus não diz: "vós deveis ser... s a l . . . luz", mas Ele diz: "vós Sois s a l . . . luz". A relação com Deus gera naturalmente, espontaneamente, este processo. É evidente que os discípulos, os cristãos não são luz em si e por si mesmos. Nós somos luzes "no SEN H O R " (Ef 5.8). Cristo é a "luz do mundo" (Sl 27.1-43. 3; Is 49.6; 60.1; Lc 1.78; 2.32; Jo 8.12; 2 Co 4.6). Somos a "luz do mundo" num sentido derivado sim, mas natural, lógico. A ilustração dessa verdade Jesus a faz por meio (de novo) de duas realidades do cotidiano. A primeira é a da cidade, polis, construída sobre um monte. Com suas muralhas e fortalezas, não pode ser escondida. E l a é visível a todos de dia e de noite. A segunda realidade é a da lâmpada, lychnos, acesa no velador. Lâmpadas da época podem ser vistas hoje em grandes museus ou em coleções particulares. O que Jesus tinha em mente era uma dessas lâmpadas de terracota em forma de pires com prolongamento era um dos lados. Mede cerca de 1Ocm de comprimento, 7cm de largura e 4cm de altura. Possui duas pequenas aberturas na parte superior: uma onde se coloca o óleo e a outra, na extremidade do prolongamento, onde é colocado um pavio e que, uma vez aceso, "alumia a todos que se encontram na casa". A luz não pode ser escondida. À moda do sal que, se não salgar — sua razão existencial - perde sua identidade funcional, assim a luz que é colocada sob o alqueire: consome o oxigênio e o pavio apenas fumega, tendendo a ser sufocado. A mensagem é evidente: Jesus não espera a auto-preservação da fé. Autopreservação é auto-destrunição; segurança é aniquilamento, morte. Jesus quer que a fé — para se manter viva, atuante, acesa seja exposta ao mundo, aos obstáculos, aos desafios, aos perseguidores (cf. a leitura do Antigo Testamento para hoje). Este aspecto fica manifesto na expressão "diante dos homens", émprosten tón antrôpon, uma expressão de caráter genérico, universal. A estes as "boas obras", kalá erga, devem ser mostradas para que possam, ser vistas. O verbo "ver", oráo, sintetiza todo o modus operandi da fé cristã. A ética cristã não se caracteriza por um isolacionismo asceta; antes por uma exibição fluente, natural, desinibida. O testemunho pessoal não se dá apenas oralmente, mas, a partir do texto, visivelmente (cf. 1 Pe 3.1). Sugestão de Tema: Ardendo e Iluminando. Acir Raymann 74 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 DÉCIMO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Mateus 25.14-30 28 de Julho de 1991 a) Assunto central das perícopes; O Salmo 119.105-112 dá a tônica das leituras bíblicas deste domingo: "Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho". O texto do A T , Êx 32, mostra que e como o povo de Israel cedo se desviou da palavra do Senhor e adorou o bezerro de ouro. A epístola, Fp 3.7-11, mostra que o conhecimento de Cristo, que se adquire da palavra de Deus, é a sublimidade e o maior lucro, porque a fé em Cristo dá-nos a justiça que procede de Deus e nos põe em comunhão com Deus. O evangelho do dia mostra que precisamos trabalhar com a nossa fé, vivendo-a em obras para a glória de Deus e para o bem de nosso próximo. b) Contexto: Jesus falou dos acontecimentos que haverão de preceder o fim do mundo (Mt 24). Conta, então, quatro parábolas, das quais o texto de hoje é a última. As quatro parábolas são para ilustrar e ressaltar a necessidade de vigilância; de vigilância com operosa atividade em favor do reino de Deus. Em seguida à perícope de hoje vem o relatório sobre o juízo final. Estamos em meio ao assim chamado " A n o da Igreja", época em que — espera-se — a Igreja, a congregação, cada cristão esteja bem ativo, empregando seus talentos, seus dons em favor do reino de Deus. Por isso o evangelho deste domingo é apropriado para estimular os crentes a viverem e a anunciarem a palavra de Deus com todas as suas forças. c) Texto: Vers. 14-17: O homem entregou seus bens a três dos seus servos: cinco, dois e um talentos respectivamente. O que recebeu cinco talentos "saiu imediatamente a negociar". E l e não perdeu tempo. Ele ganhou outro tanto para o seu patrão. " D o mesmo modo o que recebera dois, ganhou outros dois." Estes dois servos se constituem em exemplo para os cristãos: cada cristão precisa logo trabalhar para seu Senhor. Os talentos que o Senhor Deus nos dá são os dons do Espírito Santo: Evangelho, fé, perdão, esperança, alegria, etc. "Negociar" com, esses talentos significa "pô-los a serviço do reino de Deus" (missão e evangelização). A recompensa pelo bom e habilidoso trabalho está mostrado nos versículos 20-23. Vers. 18: O que ganhara um talento de seu senhor pensou negativamente; mas também poderia ter produzido tanto quanto os outros dois, se tão somente houvesse ganho outro tanto negociando. Ele, porém, foi mau e preguiçoso. Ele conhecia o seu IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 75 senhor e a vontade dele, mas não fez a vontade de seu senhor! Qualificação dele: mau e preguiçoso! A recompensa pela sua maldade e preguiça está contada nos, versículos 24-30. Vers. 19: "Depois de muito tempo vem o senhor daqueles servos e ajusta a conta com eles". É claro que esta parábola tem lição espiritual: O Senhor Jesus, por fim, virá para o julgamento final, para o acerto de contas com cada pessoa (Mt 25.31-46). Não basta só conhecer o Senhor Deus e a sua vontade. É preciso fazer a vontade dele. "Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11.6). A fé, a confiança em Jesus leva a pessoa a ser ativa na igreja, no reino de Deus. A fé verdadeira move o cristão para o viver cristão, para a missão e para a evangelização. Portanto: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos". II Co 13.5a. d) Disposição: Tema: O SERVO F I E L DE JESUS CRISTO I — Faz a vontade de seu Senhor. II — Recebe a recompensa do seu Senhor. Curt Albrecht ÚLTIMO DOMINGO DO ANO DA IGREJA Mateus 25.1-13 24 de Novembro de 1991 a) Assunto central das perícopes: O Salmo 130 expressa o clamor das profundezas, clamor de quem reconhece as suas iniqüidades, mas que confia no perdão, aguardando o Senhor e esperando na sua palavra, com ansiedade, certo de que o Senhor redime o seu povo. Isaías 65.17-25 dá força a esta esperança no Senhor, porque relata a criação de novos céus e nova terra para os que esperam no Senhor. O Senhor promete ouvir o clamor que lhe é dirigido. O apóstolo Pedro, na epístola para hoje, II, 3.3,4,8-10a,13, lembra que há zombadores c incrédulos, que não esperam no Senhor por novos céus e nova terra. Todavia, o Senhor é longânimo e vai cumprir sua promessa de criar novos céus e nova terra. Nós, cristãos, "segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça". O evangelho, por isso, exorta à perseverança na fé e na vida cristã ao dizer: V I G I A I ! 76 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 b) Contexto: " N o Monte das Oliveiras achava-se Jesus assentado, quando se aproximaram dele os discípulos, em particular, e lhe pediram: Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá da tua vinda c da consumação do século." 24.3. E ele passa a dizer-lhes uma série de coisas que devem preceder o seu retorno para o julgamento final. 24.4-14. Conta, então, quatro parábolas — das quais nossa perícope é a terceira — para sublinhar a necessidade de vigilância da nossa parte e o empenho por alcançar a vida eterna. c) Texto: Vers. 1-4: "Reino dos céus" aqui é mais amplo do que apenas o governo de Deus, pelo Espírito Santo, no coração, na vida do cristão. "Reino dos céus" é o (retorno de Cristo para) instalar a vida eterna. E isto vai acontecer na prática como aconteceu com as dez virgens, que saíram para o encontro do noivo. Elas saíram, tiveram de caminhar ao encontro dele. Não era uma espera de parar quieto. Precisavam andar. A i n d a vivemos, estamos indo ao encontro do Noivo celeste, Jesus Cristo. Todas as dez levaram suas lâmpadas, mas só a metade delas levou óleo sobressalente. As que foram sem combustível de reserva são chamadas de "néscias", porque foram desprevinidas. Não se deram conta de que o noivo poderia atrasar e seu óleo consumir-se nas lâmpadas durante a espera, vindo a faltar para a caminhada com, o noivo para as bodas. As cinco moças que levaram óleo sobressalente são chamadas de "prudentes". Elas puderam manter suas lâmpadas acesas (Lc 12.35); por isso não perderam a oportunidade nem a condição de acompanhar o noivo para as bodas. Vers. 5-12: O inesperado aconteceu para as néscias: o noivo tardou em vir. Adormeceram (aoristo) e dormia (imperfeito: estavam dormindo, todas), quando o noivo chegou. As prudentes puderam reabastecer suas lâmpadas e "entraram, com ele para as bodas". O pior de tudo para as néscias foi que a porta foi fechada. Mas elas ainda tentaram e chegaram até a porta das bodas, clamando lhas abrisse o noivo. Era, porém, tarde demais. Tinham perdido a oportunidade. Vers. 13: Este versículo encerra a moral da história, da parábola das dez virgens: " V i g i a i , pois, porque não sabeis o dia nem a hora". Jesus vai voltar, mas o dia e a hora não estão marcados para nós. É uma questão de espera, com vigilância e em militância constantes, na fé em Cristo. Estamos vivendo e, como tais, caminhamos na direção do dia final. A luz da nossa fé em Cristo precisa estar constantemente acesa para vermos o Noivo celeste c para poder acompanhá-lo para as bodas nas IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 77 mansões celestiais. O tempo sobremodo oportuno, o dia de salvação é aqui e agora. Não durmamos! Jesus exorta: V I G I A I ! d) Disposição: Tema: VIGIAI! I — Porque o Noivo celeste virá. II Porque não sabeis o dia nem a hora, Curt Albrecht DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Lucas 19.41-48 4 de Agosto de 1991 Tema: JESUS E M J E R U S A L É M ! 1 A maior parte de nosso texto é lei. 0 Senhor foi ao seu templo em cumprimento a Malaquias 3.1, porém, Jerusalém rejeitou a sua paz (v. 42). Por isso os Romanos virão e destruirão Jerusalém, um evento que aconteceu em 70 d . C . "Não ficará pedra sobre pedra" (Lc 21.6). Assim como os Babilônios sitiaram Jerusalém (Jr 6.6; Ez 4.2), assim também o fariam os Romanos (v. 43). A oração do salmista contra a Babilônia (Sl 137.9) tornou-se a profecia do Senhor contra Jerusalém (v. 44). Jerusalém experimentará a "vingança" de Deus (21.22) porque ela rejeitou a pedra angular (20.17-18). As filhas de Jerusalém deveriam chorar por si próprios e pelos seus filhos (23.28-31). O desejo preferencial de Jerusalém por um Messias lutador, guerreiro, que vencesse Roma, ao invés do Príncipe da Paz, irá conduzi-la à ruína. 2 — A destruição de Jerusalém no ano 70 d . C . prefigura o Dia do Juízo. A ameaça de Jesus também nos chama ao arrependimento. Naquele dia os inimigos de Cristo, que recusam seu jugo, serão abatidos (19.27). Então Cristo dirá aos que o rejeitaram: "Apartai-vos de mim, vós todos os que praticais iniquidades (13.27; veja 9.26; 12.9). 3 — Entretanto, Jesus não quer a destruição de Jerusalém nem a nossa. Ele até chora por causa dos seus habitantes (41-42; veja 23.28). Ele queria ajuntar seus filhos como uma galinha ajunta os seus pintinhos, mas eles não o quiseram (13.34). Em Cristo o tempo (kairós) oportuno da visitação graciosa de Deus 78 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 chegou (v. 44; veja 1.68; 7.16). No entanto, os líderes de Jerusalém procuraram destruí-lo (v. 47). Nele Jerusalém haveria de achar paz no seu sentido mais completo, num relacionamento correto com Deus; no entanto, a paz estava oculta aos seus olhos (v. 12). A salvação havia chegado, "porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido" (Lc 19.9-10); eles, porém, o recusaram. Todas estas passagens evidenciam a profunda angústia e o inabalável amor do Senhor. 4 — O desejo do Senhor de salvar os perdidos levou-o a Jerusalém para sofrer e morrer (9.51; 13.33; 9.22,44; 18.31-33). A l i , em Jerusalém, vemos na cruz o Rei da Paz (v. 38), o R e i dos Judeus (23.88), morrendo por Israel e por nós. A l i , em Jerusalém, vemos Cristo sendo amassado, quebrado, em nosso lugar, para que possamos ser o seu povo. 5 — Agora é o tempo de nós sermos visitados por nosso gracioso Deus. Que nós possamos dizer pelo poder do Espírito Santo; "Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor!" Que nós possamos conhecer, "ainda hoje, o que é devido a paz", porque a sua morte dá-nos a verdadeira paz. Que possamos cada vez mais nos firmar através da fé, em suas palavras (v. 48), porque elas são palavras de perdão de pecados e de vida através de sua morte e ressurreição. Egon M. Seibert, Adapt. DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Lucas 18.9-14 11 de Agosto de 1991 Introdução: Como seriam diferentes vossas orações c o vosso culto a Deus se vós soubésseis que o fim do mundo — o dia do Senhor, a segunda vinda de Cristo — viesse a acontecer hoje à tardinha (o que é bem possível), não é mesmo? O final de outro ano eclesiástico que se aproxima e o Evangelho deste dia dirigem-nos ao exame de nossas orações e de nosso culto à luz da segunda vinda de Cristo. Nossas orações e nosso culto à luz da segunda vinda de Cristo IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 79 I - O mundo em que vivemos não providencia modelos apropriados para orações a Deus ou para o culto a Deus. A — O mundo coloca ênfase cm autoconfiança, auto-estima, e orgulho. Candidatos a cargos políticos bem como pessoas à procura de emprego são encorajadas a gabar-se de saias realizações e conquistas. Pessoas são louvadas e premiadas por causa de suas ações cívicas, políticas e até mesmo religiosas. B — O mundo, porém, não reconhece a influência do pecado original no homem (Gn 6.5). C — 0 homem não consegue justificar-se perante Deus e permanece condenado diante dele. II - Deus providenciou o meio pelo qual podemos escapar do veredito de culpa. A — Jesus Cristo viveu uma vida perfeita era nosso lugar (Jo 8.46; Hb 4.15). B — Jesus Cristo, por meio de seu sacrifício, pagou a dívida que tínhamos com Deus por causa de nossa pecaminosidade (2 Co 5.21; R m 5.8). C — Através de sua ressurreição dentre os mortos, Jesus Cristo conquistou o pecado, o Diabo, a morte, e a sepultura para nós (Rm 6.4). III — O veredito divino — "Inocente por causa de Cristo" — está à disposição de todas as pessoas. A — Pessoas (como o fariseu) : 1 — Podem rejeitar a oferta divina de perdão através de Jesus. 2 — Podem gabar-se de sua suposta superioridade em assuntos de religião, moral e justiça civil. 3 No dia da segunda vinda de Cristo, no dia do Juízo, serão surpreendidas ao ouvir o veredito divino — "Culpados! Apartai-vos de m i m ! " (Porque o que se exalta, será humilhado, v. 14; Mt 25.41). B — Pessoas (como o cobrador de impostos) a quem, o Espírito Santo trouxe ao arrependimento e à fé através da proclamação da L e i e do Evangelho: 80 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 1 — Confessarão perante Deus, em oração particular e em culto público: — "Deus, sê propício a mim pecador!" (1 Tm 1.15). 2 — Têm já, agora, a certeza de que seus pecados são perdoados (Mt 9.2). 3 — Na segunda vinda de Cristo ouvirão o veredito: — "Inocentes por causa de Cristo!" (O que se humilha, será exaltado", v. 14, Mt 25.34). Conclusão: Como pretendes aparecer diante de Cristo na sua segunda vinda? Pretendes gabar-te de tuas participações nas atividades da igreja, de tuas boas ações, de tua suposta moralidade superior? Ou será que é tua intenção agarrar-te na misericórdia de Deus em Jesus Cristo? Como na parábola do Fariseu e do P u blicano, Deus quer declarar justos aqueles que foram guiados pelo Espírito Santo a orar: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" Queira o Espírito Santo, através do precioso Evangelho, capacitar-nos a orar e a prestar culto desta forma. Egon M. Seibert, Adapt. DÉCIMO TERCEIRO DOMINGO APÔS PENTECOSTE Marcos 7.31-37 18 de Agosto de 1991 1. Próprios do dia a) Salmo 146: o Intróito aponta para o louvor em, virtude das grandes obras de Deus e de sua fidelidade frente à fragilidade e às fraquezas humanas, destacando o reinado eterno do "Senhor que abre os olhos aos cegos". b) Isaías 29.18-21: a leitura do AT destaca a redenção que se cumpriria no Messias, pois "naqueles dias os surdos ouvirão", apontando assim para a obra de Cristo, destacada no evangelho do dia. c) 2 Coríntios 12.6-10: a epístola destaca o "poder de Deus que se aperfeiçoa na fraqueza", mostrando que a doença IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 81 tem seu lado positivo, pois o poder de Deus em nós é aperfeiçoado e podemos confiar que os olhos do Pai estão sobre nós. d) Marcos 7.31-37: o evangelho relata a cura de um surdo e gago e destaca o fato de que Jesus "tudo tem feito esplendidamente bem". 2. Contexto "Marcos inicia seu evangelho com a afirmação de que ele é a boa nova de Jesus Cristo, o F i l h o de Deus. E então expõe a viva demonstração de nosso Senhor como o servo que cura c reconcilia, e que age para atrair todos a si — culminando na declaração de Pedro; " T u és o Cristo" (8.29). Após, Jesus é mostrado como o Messias-Servo que voluntariamente serve até completar a sua obra, entregando-se à morte." (Concórdia Pulpit for 1979) 3. Texto V. 32: "Surdo e gago" — por causa de sua surdez, o homem tinha dificuldade em falar, mas não era mudo. V. 33: denota o cuidado especial de Jesus, seu amor para com aquele homem, pois tira-o da multidão, loca seus ouvidos e língua. V. 34: "Efatá" — em aramaico, "ser aberto", "ser libertado". A idéia não é da parte específica da pessoa sendo aberta, mas da pessoa inteira ser aberta ou libertada. É a ordem que despedaça os grilhões com que Satanás tinha mantido presa a sua vítima. V v . 35-37: a ação de Jesus é concretizada — os ouvidos do surdo se abrem e o empecilho da língua é retirado, e ele passa a falar desembaraçadamente. Isto trouxe admiração. As, pessoas ficaram atônitas além, de todas as medidas, excessivamente, sobremaneira. O texto encerra com a declaração: "tudo ele tem feito esplendidamente bem". E o ex-surdo-gago, junto com os demais, não pode deixar de testemunhar da ação de Deus em sua vida. 4 Pensamento central "Jesus rompe as vidas fechadas dos homens e abre-se à saúde da comunhão com Deus e com o próximo. Somente a palavra de Deus tem poder para abrir nossa surdez natural e trazer-nos à fé e à vida. Jesus é o Messias, o prometido que traria salvação e plenitude de vida a todos." (Concórdia Pulpit for 1979) . . 82 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 5. Persuasão a) Objetivo: a confiança naquele que tudo faz esplendidamente bem, que abre nossos ouvidos para a boa nova da salvação e nos coloca em comunicação com, o P a i . b) Moléstia: o ser humano, por natureza, se isola e aliena de Deus e do seu próximo. As pessoas ainda continuam, se afastando de Deus e deixando de ouvir sua voz. Somos surdos para com Deus. c) Meio: Cristo veio ao mundo para irromper em nossas vidas com sua obra, abrindo nossos ouvidos para seu evangelho e quebrando as barreiras entre Deus e os homens. "Tudo ele tem feito esplendidamente bem". 6. Disposição Tema: Jesus faz tudo bem I — Abre nossos ouvidos e nossas vidas 1. Somos surdos de nascença. 2. Não poderíamos ouvir a voz de Cristo sem a ação do Espírito Santo. 3. Jesus vem ao nosso encontro e toca nossas vidas. 4. Para que confiemos neste Senhor. II — Para podermos ter comunicação com o P a i 1. Nossa alienação e isolamento de Deus. 2. O perdão que provém da obra de Cristo. 3. Pelo perdão, estamos novamente em comunhão com, o Pai. 4. Sabemos que, mesmo em meio à doença, os olhos do P a i estão sobre nós. Rony Ricardo Marquardt IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 83 DÉCIMO QUARTO DOMINGO APÓS PENTEGOSTE Lucas 10.25-37 25 de Agosto de 1991 1) As leituras do dia: Sl 142 — Davi, perseguido por Saul e escondido na caverna, é mais uma vítima da violência (como o foi o assaltado da história do Bom Samaritano). Sua esperança está apenas em Deus, Gn 4. (1-7) 8-16a — Caim teve atitude diametralmente oposta a do Bom Samaritano. Faltou-lhe amor. O contraste entre a atitude de Caim e a do Bom Samaritano é flagrante! 1 Jo 4.7-11 — O grande e belo texto: "Deus é amor." O amor de Deus é a base e a origem do nosso amor ao semelhante. Lc 10.25-37 — O Bom Samaritano: um exemplo de amor ao próximo. O exemplo é dado por Jesus para ilustrar o fruto da fé salvadora: amar a Deus acima de tudo (cf. explicação do 1" mandamento — Cat. Men,or) se reflete no amor ao próximo. O amor não fica só em palavras, mas se demonstra em obras. 2) O texto: V. 25 — "com o intuito de por Jesus em provas": Em várias ocasiões tentaram arrancar de Jesus algumas respostas erradas, que o condenassem (cf. Mt 22.15ss, Mt 22.23ss). Somos confrontados com pessoas que não querem conhecer a verdade, mas só querem confundir ou ridicularizar. Devemos estar "sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão da esperança que há em nós" (1 Pe 3.15). V. 26 — A tática de Jesus: Ele não inventa respostas, mas remete o interlocutor à Escritura: "O que está escrito? Como interpretas?" (Cf.: Lc 4.1ss: Jesus rebate as tentações com a P a lavra de Deus!). V. 27 — Pelas respostas, o escriba demonstrou não pertencer ao grupo dos que valorizavam mais a lei cerimonial. Centralizou, corretamente, tudo no amor. V. 28 — Jesus elogia suas respostas. Mas não bastava apenas conhecimento desta verdade: é necessário praticá-la: "Faze isto e viverás!" — lembramos aqui que o 1o mandamento (ou: a primeira tábua resumida pelo escriba) só pode ser cumprida pela fé. Não é uma mera obediência, como obra humana, mas é um ato de fé e confiança, do que decorre toda a vida de amor ao próximo. 84 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 V. 29 — Mesmo conhecendo, faltava a fé justificadora: o escriba tenta justificar-se a si mesmo. No caminho da auto-justificação, a pessoa se afasta cada vez mais do caminho oferecido por Deus. — A pergunta "Quem é o meu próximo?" deve ser entendida dentro do contexto judaico (Mt 5.43): "Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo." Entre os inimigos constavam todos os estrangeiros (todos os não-judeus). V. 30 — Assaltantes — violência — vítimas — de ontem, e de hoje. Quanta falta de amor existe, e quanta oportunidade de demonstrar amor aos injustiçados se nos apresenta cada d i a . . . ! — Cf.: O Salmo do dia: Davi perseguido; a leitura do A T : A violência de Caim contra Abel. V. 31 e 32 — O Sacerdote e o levita tiveram oportunidade de exercer misericórdia, de demonstrar amor ao semelhante prostra,do à beira do caminho; m,a,s não o fizeram. Cf. Tg 4.17: "Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisto está pecando." V. 33 — Há necessidade de se explicar a situação dos samaritanos (cf. 2 Rs 17.24-41). Judeus e samaritanos eram inimigos írreconciliáveis, tanto por questões de religião como de raça. — esplanichníste: compadecer-se: palavra-chave no texto. V. 34 — A compaixão em ação. O samaritano não ficou só na intenção de ajudar; seu amor ao próximo não foi feito de grandes discursos; mas foi prático! Correndo risco de assalto, deixando seus interesses de lado, ajudou o necessitado. (Cf. 1 Jo 3.18 c 1 Jo 4.7-11 (a leitura da epístola do dia.) V. 35 — O samaritano pagou para que outra pessoa continuasse cuidando do ferido: Boa prática de caridade é contribuir para que hospitais, creches, asilos, orfanatos, etc. possam cumprir bem suas funções. V. 36 — Quantas perguntas e respostas aparecem neste texto? — o estilo catequético transparece neste episódio. T o d a a mensagem poderia girar em torno das perguntas e respostas constantes no texto. V. 37 — Se confrontados com desafios semelhantes, qual tem sido a nossa reação? Como anda a prática do amor ao próximo em nossa igreja? 3) Os problemas e a solução: Os problemas: a intenção maldosa do escriba: por Jesus à prova; sua tentativa de auto-justificação; as atitudes de desamor: dos assaltantes, do sacerdote e do levita; omissão; as nossas atitudes de desamor, discriminação... IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 85 — A solução: 1 Jo 4.9,10: o amor de Deus por nós, revelado em Cristo, nos impulsiona ao amor a Deus e ao próximo. i) O Bom Samaritano no dia a dia: — Questionamento: Duas senhoras, dirigindo à noite, em estrada deserta; um homem deitado no acostamento. Será um atropelado? será um bêbado? será uma estratégia maldosa para um assalto? Resolvem não parar; a consciência acusa. Na primeira oportunidade, avisam a polícia. — Ilustração: Atualização da história — Duas escolas disputam um campeonato de futebol. Muita torcida, muita briga, ameaças!... D i a seguinte um componente do time perdedor vê o artilheiro do time adversário cair da bicicleta. Ninguém por perto para ajudar. Sua primeira reação foi rir, debochar! Depois, pensando melhor, foi ver o que tinha acontecido: havia um pé quebrado. Telefonou para casa, ajudou. Início de uma grande amizade! 5) Disposição: T E M A : O amor ao próximo. O B J E T I V O : Estimular à prática da caridade em, situações bem concretas da vida congregacional e comunitária, como fruto da verdadeira fé. I N T R O D U Ç Ã O : Cf. "Ponto 4 — Questionamento". I — Por que amamos? a) porque Ele nos amou primeiro (1 Jo 4.9,10) b) há muitos carentes/necessitados c) é da vontade de Deus. II — Como amamos? a) Não como o sacerdote e o levita (v. 32,32) b) Não como Caim (1 Jo 3.11,12) c) Como o samaritano (v. 33-35) d) Como Jesus! (cf. Hino n° 269). C O N C L U S Ã O : Cf. "Ponto 4 — Ilustração". Carlos Walter Winterle 86 IGREJA LUTERANA 1/1991 DÉCIMO QUINTO DOMINGO APÔS PENTECOSTE Lucas 17.11-19 1º de Setembro de 1991 Contexto A perícope faz parte do ciclo final da viagem de Jesus pela Galiléia, Samária, Peréia e Judéia (Lc 9.51 a 19.27). Estavam chegando a Jerusalém, como o contexto vai indicando (17.11 da caminho para Jerusalém, 18.31 subindo, 18.35 perto de Jericó, 19.1 em Jericó, 19.28 subindo de fato, 19.41 chegando). Há duas curas, dos leprosos (17.11-19) e do cego (1-8.35-43), com detalhes semelhantes. Em ambos a invocação por compaixão (17.13 e 18.38), em ambos "a tua fé te salvou" (17.9 e 18.42), em ambos o agradecimento e o louvor a Deus (17.18 e 18.43). As ênfases da pericope sobre gratidão e ingratidão se espelham também em outras perícopes deste ciclo. A fidelidade e a gratidão são o assunto em 17.20 a 18.8 e 18.11-27. A infidelidade e ingratidão são o assunto em 19.28-44. Texto Há duas partes claras: a cura dos dez (v. 11-14) e á resposta de fé do sàmaritano (vv. 15-19). V v . 12/13 — A situação é típica dos leprosos da época: tinham que ficar longe da sociedade (Lv 13.45-46). A doença criava algumas barreiras sociais, mas derrubava outras. Havia entre os dez um samaritano. Judeus e samaritanos não se davam porque do ponto de vista religioso e social o sàmaritano era considerado "não limpo" (Jo 4.9). Samaritanos eram de descendência mista: israelitas que permaneceram quando o reino do norte foi levado cativo e a Assíria colocou colonizadores gentios em Israel (2 Reis 17.24). Mas o sofrimento derruba as barreiras (leprosos com o samaritano), bem como o amor (o bom, samaritano, Lc 10.33) e a fé (a mulher samaritana, Jo 4.7). Todos, judeus e o samaritano, pediram compaixão de Jesus. V. 14 — A cura se realizou "indo eles". Se a fé salvou e curou o samaritano (v. 19), não teriam os demais também fé em Jesus, pois também foram curados? Não seriam os demais apenas "crentes" negligentes que esqueceram o doador quando receberam uma grande bênção? A ordem de Jesus corresponde ao que está prescrito em Lv 14.1. Vv. 15/16 — Os dez certamente ofereceram os sacrifícios prescritos. Os nove decerto acharam que este cerimonial já era IGREJA LUTERANA 1 /1991 87 suficiente "compensação" para a ajuda recebida de Deus. Não vollaram para dar "glórias a Deus" e "agradecer a Jesus". Mas O estrangeiro voltou. Podia até ser que não fosse aceito pelo sacerdote: as barreiras derrubadas pelo sofrimento se ergueram novamente? Os samaritano cultuavam no monte Gerizim (Jo 4.20), onde os samaritanos haviam construído um templo em c. 400 A C , destruído pelos judeus em c. 128 A C , porque diziam ser este o monte (e não Ebal) que Moisés havia indicado para construir o altar (Dt 27.4-6). O louvor do samaritano é em alta voz, sem temor, com fé agradecendo a Jesus (eucharistein), como antes havia implorado por compaixão (kyrie eleison). Ambos os termos agora fazem parte da liturgia. Vv. 17/19 — A pergunta "onde estão os nove?" fala também. aos tempos atuais. Há muita gente que com fé clama o "kyrie eleison" e esquece depois de mostrar o "eucharistein" na vida cristã. A fé do samaritano não apenas o salvou fisicamente, mas espiritualmente. O leproso curado em Lc 5.12ss. também mostrou a sua fé e confiança em Jesus: "Senhor, se quiseres, podes purificar-me". Jesus purifica também do pecado: "A tua fé te salvou" (v. 19). Esboço Introdução: A vida é uma dádiva de Deus. No mundo é tão frágil diante das adversidades. A história dos leprosos nos dá três palavras para a vida: compaixão, fé, gratidão. Três Palavras Para Vida I. Compaixão. A. Os leprosos viviam da compaixão. Estavam em miséria física, emocional (sem esperança de cura na época), e social (eram excluídos da sociedade). B. Também precisamos da compaixão. Temos problemas pessoais (doença, tristeza, pecado). O mundo está com problemas (fome, pobreza, discriminação, guerra). II. Fé. A. O grito por compaixão crê que alguém pode ajudar. Deus em Cristo carregava nossas dores. Ajudou os leprosos: A tua fé te salvou. B. Se tudo está bem conosco, então foi a fé que salvou! Deus é o Senhor e Doador da V i d a : nos sara física e espiritualmente. Dá forças não só para sobreviver, mas 88 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 para agir com coragem e fé. A confiança no Deus forte e compassivo nos dá vitórias e um espirito voluntário para vencer (Sl 51.12). III. Gratidão. A. Nove aceitaram a misericórdia de Jesus, mas na alegria da cura esqueceram o doador. Só um voltou para mostrar gratidão. B. Este é o padrão para nós: quando a fé nos cura, então nossa vida toda pertence a Deus. Nossa resposta é adoração, gratidão, culto, louvor. A vida cristã em amor é também nosso louvor a Deus: vida que recebe e espera tudo de Deus, e que vive o amor ao próximo. Martim C. Warth DÉCIMO SEXTO DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E Mateus 6.25-33 8 de Setembro de 1991 A ênfase das perícopes Com clareza, todos os quatro textos apontam para a providência divina em, face à ansiedade humana. O salmo n° 4 destaca que Deus sempre responde as orações dos que nele confiam e assim continuará fazendo. A alegria do mundo baseia-se sobre "cereal" e "vinho" mas o verdadeiro regozijo do cristão depende de sua comunhão com Deus. A obediência na promessa de providência divina, alcança a misericórdia de Deus em suprir as necessidades físicas do homem (1Rs 17.18-14). O Evangelho, por sua vez, procura ressaltar que a busca do reino de Deus e da sua justiça, garante, por si mesma, o recebimento das coisas menos importantes, ou seja, daquilo que precisamos para nossas necessidades físicas (Mt 6.33). 0 Contexto 0 contexto imediato do Evangelho determina o uso correto das propriedades (Mt 6.19-24). Esta sessão aborda especialmente o materialismo, em contraste com a espiritualidade. ConsIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 89 titui o "manifesto contra o materialismo" dos ensinos de Jesus. Estes versículos nos ensinam a verdade dos cuidados de Deus por nós, e, em conseqüência, o fornecimento para nossas necessidades materiais. Este ensino tem passado despercebido, tanto que por muitas vezes aqueles que não tem riquezas, não as tem somente porque não encontram a oportunidade ou a habilidade para adquiri-las, e não porque não tivessem a vontade de possuí-las. O deus "riquezas" os atraem mais fortemente do que o Cristo da Galiléia. 0 resumo deste ensino é: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas". 0 Texto 0 resumo do ensino desta perícope, determina que a concentração recaia sobre um, texto-base, ou seja: Mateus 6.33. Este versículo aponta para o tema central: "Desejai as coisas celestiais". Há boas razões, apontadas em toda a perícope de Mateus, para o discípulo de Cristo evitar a ansiedade quanto à vida fisica. 1. A vida humana é mais que a parte física, e por isso merece mais consideração do que os desejos pelas; coisas físicas podem fornecer (vs. 25). A mente começa a admitir o pensamento inferior de que a vida consiste apenas em "comer, beber e vestir-se". Quem toma esta atitude torna-se seguidor das riquezas, não podendo ser discípulo do reino, porquanto já perdeu a confiança no Rei. 2. Deus cuida dos animais inferiores, como as aves, que não fazem provisão alguma para si mesmos. Assim também, certamente cuidará de seus próprios filhos (vs. 26). Jesus não encoraja a preguiça nem falava contra o esforço do trabalho, tão somente, mostrou que a obtenção da alimentação não deve ser acompanhada pela ansiedade, porque a providência divina funciona neste mundo até mesmo entre os animais inferiores. Se o discípulo negar ou duvidar da providência divina então agirá como o pagão, que nunca considerou Deus seu Pai. 3. A ansiedade não altera as condições da vida e nem. aumenta a sua duração (vs. 27). 4. A ansiedade pelas coisas físicas faz parte da conduta dos gentios. Os discípulos do reino contam com o seu Pai celeste vs. 32). A ausência dos desejos realmente espirituais entre os gentios é que provocara a sua apostasia, levando-os finalmente, à adoração dos Ídolos. O discípulo é diferente do 90 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 gentio no caráter e nos desejos porque confia nas promessas do P a i celeste. 5. 0 conhecimento perfeito que o P a i tem de nossas necessidades físicas garante o fornecimento para as mesmas (vs. 32). Toda a Escritura ensina a bondade, sabedoria e conhecimento perfeitos do P a i celeste. Por isso, podemos esperar confiantemente o fornecimento de todas as necessidades que temos, do Pai celeste. 6. A busca do reino de Deus e de sua justiça, garante, por si mesma, o recebimento das coisas menos importantes, ou seja, daquilo de que precisamos para nossas necessidades físicas (vs. 33). Disposição Tema: Desejai as coisas celestiais. Como? 1 . Confiando na providência do P a i em suprir as necessidades fisicas. a) O discípulo do reino que perde a confiança no P a i torna-se seguidor das riquezas. O velho homem em nós anseia pelo comer e beber. b) 0 P a i conhece nossas necessidades físicas. c) O P a i nos convida a confiarmos na sua providência que nos veste (lírios) e alimenta (aves). 2. Buscando em, primeiro lugar o alimento celestial. a) A ausência dos desejos realmente espirituais provoca apostasia e idolatria. No exemplo dos gentios transparece a nossa própria tendência. b) O P a i nos mostrou sua providência suprindo integralmente nossa carência espiritual em seu Filho Jesus Cristo. No Evangelho encontramos alimento em, abundância. c) Busquemos pois, as coisas celestiais oferecidas pelo P a i na Palavra e nos Sacramentos. Nereu Rui Weber IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 91 DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E Lucas 7.11-16 15 de Setembro de 1991 1) As leituras do dia: Sl 116.1-9 — Um salmo de ação de graças, pois o Senhor acudiu na aflição. "Laços de morte me cercaram... livraste da morte a minha alma." 1 RS 17.17-24 — Elias 1 ressuscita o filho da viúva de Sarepta. Os paralelos deste texto com o Evangelho são muitos e podem ser usados na mensagem. 1 Co 15.1-11 — Paulo relata a ressurreição de Cristo e arrola uma série de testemunhas oculares. Além do grande ponto comum do dia — a ressurreição dos mortos, pode ser usado também o ponto comum das testemunhas e sua reação: divulgaram o que viram! Lc 7.11-16 — As leituras anteriores são preparatórias para a leitura do Evangelho. A verdade da ressurreição dos mortos é apresentada num crescendo. O Senhor Jesus é o Senhor da vida e da morte! 2) O texto: V. 11 — Seguindo a Cristo, os discípulos se defrontavam com situações as mais variadas, tanto de alegria (bodas de Caná), como de tristeza. Jubilaram no Monte da Transfiguração e choraram no Monte do Calvário. Aquele que segue a Cristo deve estar consciente de que nem tudo são rosas no caminho de Jesus. Ao defrontar-se com a morte, deve saber que Cristo está ao lado. V. 12 — A situação desamparada de uma viúva na época: sem aposentadoria, sem seguro.. . Deus permite que as nossas escoras humanas caiam uma a uma, para confiarmos apenas nele! — O cortejo da morte, saindo da cidade, se defronta com o cortejo da vida, entrando na cidade. Neste duelo, o Vencedor e Cristo! V. 13 — Quando a viúva viu desabar sua última escora humana (arrímo de família), Jesus aparece em seu caminho e diz: "Não chores!" — compadecer-se (Cf. Lc 10.33: o bom samaritano). "Chorai com os que choram" (Rm 12.15). A queixa de muitos que passaram por situações de dor e de luto é que não encontraram um ombro amigo para se apoiar e chorar. Como cristãos, somos "pequenos cristos" no caminho de outras pessoas. Cumpramos a nossa função consoladora: "Consolai o meu povo!" 9.2 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/199! V. 14 - Uma palavra de ordem daquele que é a própria ressurreição e a vida (Jo 11.25)! — As ressurreições realizadas por Jesus (Mt 9.25: a filha de Jairo; Jo 11.43 — Lázaro; e o jovem de Naim) são uma boa ilustração para o próprio fato da conversão: Ef 2.1 — Estávamos mortos em nossos delitos e pecados, e Ele nos deu vida! a Palavra de Jesus abre os ouvidos mortos, penetra no íntimo e dá a vida! Isto é obra, poder e amor de Jesus! Um homem morto não pode dar vida a si mesmo. V. 15 — "E Jesus o restituiu a sua mãe." O jovem foi ressuscitado não para uma vida egoísta, mas para uma vida a serviço de sua mãe, como é da vontade de Deus (4° mandamento). V. 16 — "Grande profeta — Dt 18.15,18 — "Deus visitou o seu povo" — expressão característica dos tempos messiânicos: Lc 1.78 — "Nos visitará o sol nascente das alturas"; Mt 1.23 — "Emanuel = Deus conosco," V. 17 — A reação do povo: temor e glória (v. 16) e testemunho. É a reação que Deus espera diante dos seus feitos. M u i tas vezes ficamos apáticos c calados diante das maravilhas de Deus. 3) Os problemas e a solução; — Os problemas: a morte — salário do pecado — a dor, o choro — a solidão. — A solução: Cristo venceu a morte e dá a verdadeira vida! 4) Disposição: T E M A : Morte e vida. O B J E T I V O : Reforçar a verdade central da fé cristã: Em Cristo temos vida, pois Ele venceu a morte, ressuscitando. I N T R O D U Ç Ã O : Mencionar alguma situação marcante de sepultamento na vida comunitária ou da história mundial. I — A morte — a dura realidade a reação das pessoas diante dela a morte eterna IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 93 II - A vida — conquistada por Cristo: sua ressurreição (Páscoa!) dada pela fé consolo na aflição esperança futura. C O N C L U S Ã O : Nós, que recebemos a vida, testemunhamos a vida! Carlos Walter Winterle DÉCIMO OITAVO DOMINGO APÔS PENTECOSTE Mateus 26.26-29 22 de Setembro de 1991 ASSUNTO: A INSTITUIÇÃO DA S A N T A CEIA. Este é um dos mistérios da fé e da vida cristã: Jesus se oferece a nós em, sua Palavra e também, de forma real e concreta, palpável, na Santa Ceia. Parece que, de um modo geral os problemas com respeito à Santa Ceia são dois. O primeiro, e talvez principal, é a dificuldade de compreensão deste mistério. É uma daquelas coisas que a mente humana não consegue captar em toda a sua profundidade. É um dos mistérios da fé que não conseguimos compreender realmente. É apropriado fazer revisões periódicas e constantes sobre o assunto, em forma de estudo e meditação particular do pastor, e em forma de estudos bíblicos com, a congregação. A nosso ver esse é um típico assunto ao qual se aplica muito bem o velho ditado latino: "repetitio est matter studiorum". Há tantos aspectos e nuances, há tanta riqueza de conteúdo e significado que é somente mediante escudo continuado que vamos conseguir nos familiarizar e adquirir domínio a seu respeito. O segundo problema, decorrente do primeiro, (i.e., da d i ficuldade de compreensão) é a falta de motivação dos fiéis para participarem da Santa Ceia, e a nossa frustração, como pastores, de não conseguirmos motivá-los a buscar a Mesa do Senhor espontânea e livremente. 94 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 Ora a solução deste segundo problema está na solução do primeiro. ;É preciso promover o estudo e o conhecimento sobre a Santa Ceia. Todo o conteúdo da Bíblia é importante, mas a Santa Ceia é um daqueles especialmente importantes, que solicita de nós muito mais do que apenas pregações esporádicas. . Para auxiliar neste sentido lembramos aos colegas que na coletânea "Pelo Evangelho de Cristo" há dois sermões de Lutero (p. 253 e 287) que são um bom subsídio e um bom estímulo para a nossa reflexão pessoal. A l é m disso também vale lembrar o que Lutero escreveu no Catecismo Maior sobre o assunto, além de outros escritos de sua autoria que os irmãos tenham consigo ou aos quais tenham acesso. Lembrado que (segundo nosso modo de ver) esses escritos são úteis especialmente para a nossa reflexão e aprofundamento pessoal; para nos servir de base na elaboração de uma mensagem contextualizada ao nosso tempo, ao nosso povo e na nossa linguagem. Não seria de esperar, nem mesmo no maior apuro de tempo, uma simples transposição dos textos de Lutero para os ouvidos dos nossos congregados, até porque sua linguagem não é acessível à média do nosso povo. Há várias ênfases que poderiam ser dadas com relação à Santa Ceia. Inclusive com a suplementâção por parte de outros textos, como os relatos paralelos e 1 Co 11.17ss. A questão da Ceia presta-se bem para uma exposição mais sistemática, do tipo "estudo-bíblico". Aquele que vai pregar precisa escolher qual o aspecto que deseja enfatizar. Poderia destacar a Ceia Pascal, que era a festa maior que estava sendo realizada, dentro da qual acontece a Instituição; poderia explorar a relação entre o significado da Antiga Aliança, lembrada na Páscoa judaica e da Nova Aliança, lembrada com a Santa Ceia; poderia destacar o aspecto do "isto é meu corpo" em contrapartida aos ensinamentos sobre o simbolismo e a trans-substanciação; poderia falar dos elementos usados (qual seja, o pão — de que tipo, com ou sem, fermento; se pode ser hóstia — e o vinho — se pode ser suco de uva, outra bebida, se o vinho "tem que ser tinto, porque o sangue é vermelho", como acham alguns luteranos, se é vinho misturado com água — ); poderia enfatizar o preparo/dignidade para o recebimento da Ceia (precisando levar em conta 1 Co 11); seria possível destacar que Jesus deu graças; poderia falar do sangue — que estava presente na Antiga Aliança e que agora, na Nova, é do próprio Salvador. Será muito útil dispor de um bom comentário bíblico ou auxílio doutrinário. O Texto Relata a instituição da Santa Ceia. Jesus estava reunido com seus 12, comendo a refeição festiva da páscoa, quando, a IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 95 certa altura, interrompe a seqüência tradicional do cerimonial e introduz algo inteiramente novo; algo diferente; algo único. Que, no entanto, de lá para cá é repetido incansavelmente pelos cristãos: o comer e beber do seu próprio corpo e sangue, junto com 0 pão e o vinho. O que para nós hoje é algo natural, pois repelimos vezes: sem conta, para os 12, naquela primeira vez, com certeza foi algo de muito extraordinário e grandioso, pois Jesus introduziu um elemento novo, um significado completamente deferente no meio de uma cerimônia que eles estavam acostumados a celebrar. O sentido da cerimônia até então era relacionado com o sangue do cordeiro sacrificial do A T ; a partir de agora passa a estar ligado com o sangue do próprio Cristo, que iria ser derramado em favor de toda a humanidade, de todos os tempos, dali a poucas horas. E r a o próprio sangue da Salvação que estava em cena naquele momento e naquelas palavras de Jesus. Grandioso. Milagroso. Misterioso. Abençoador!.. . Sugestão de Esboço: Obs.: O ponto " 3 " do esboço poderia, também, ser subidividido em mais um, ficando " 3 " e "4". Tema: A morte que traz vida (ou — A morte de Cristo (que) nos traz vida) 1 . O sangue de Cristo (sua vida, tudo o que foi e o que fez. Também no sentido literal, pois no AT já estava presente o sangue, que é fonte de vida.) 2. F o i derramado (Cristo sofreu — e morreu —. A vida foi dada, foi oferecida, foi tirada. O próprio Salvador se entregou à morte. E l e não precisava morrer, mas quis — por nós! Nós não gostamos da idéia da morte, mas precisamos morrer. A morte nos ronda. Seu principal representante é nosso inimigo mortal e nos quer conduzir à morte eterna. Mas nós podemos vencer o diabo e a morte, com a morte de Cristo (i.e., com seu siangue que foi derramado). 3. Em favor de muitos, para remissão dos pecados. (A morte de Cristo não foi simples morte. Não foi morte e ponto final. Mas foi morte "em favor de"; foi morte que trouxe resultados, benefícios, vida. Não só para alguns, mas para muitos, i.e., para todos que aceitarem a fé. 96 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 Conclusão: — Isto nos é lembrado na Santa Ceia, que, por isto, é festa e alegria. — Esta bênção (perdão que vem da morte (i.e., do sangue derramado por Cristo) e que fortifica a nossa fé) nos é trazida, doada, oferecida na Santa Ceia. Irmo Arnaldo Huebner DÉCIMO NONO DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E Marcos 12.28-34 29 de Setembro de 1991 0 texto do Salmo introduz o assunto proposto no bloco de leituras para este domingo. F a l a dos feitos do Senhor a favor dos seus filhos. Mostra o amor de Deus, motivo da resposta do cristão, que serve a Deus e ao próximo. O escriba inquiridor procurou obter de Jesus uma resposta que pudesse dar clareza à complexa relação de mandamentos com seus variados valores. E r a m em número de 613 os mandamentos divinos que os fariseus reconheciam, e havia grande divergência quanto aos que eram de maior ou menor importância. Como conhecedores da lei de Deus, os escribas, em sua função, tinham a tarefa de interpretá-la, retalhando-a e aplicando-a à vida diária do povo. Diante da pergunta pelo "principal de todos os mandamentos", Jesus redirecionou o assunto; não o tratou a nível de superfície, mas foi à raiz. Jesus retornou o escriba ao seu próprio conhecimento da lei (Dt 6.4,5 e Lv 19.18). O escriba apreciou a resposta, elogiou-a e expressou sua concordância com o ponto de vista de Jesus. Jesus, porém, foi mais longe e demonstrou que o estar no e sob o reino da Deus não é obtido pelo que o homem sabe ou faz, mas pelo que Deus faz e oferece ao homem. O escriba, por seus méritos, chegou apenas perto. A lei não o pode conduzir ao trono da graça de Deus. Jesus aproveitou o momento e lembrou este fato ao escriba. A mensagem pode explorar a questão da interiorização da lei, da verdadeira conversão e conseqüente vida em amor a Deus e ao próximo. Pode contrastar o "cristianismo de sabedoria" IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 97 (conhecer a letra da lei), com o "cristianismo de desgaste em amor" (viver o espírito da lei), pela orientação e forças que procedem da graça de Deus. Sugestão de tema: Do principal dos mandamento à ação. Introdução I — Constatação I: O Senhor é o único Deus 1. T e m direito de governo sobre todos 2. Trata com amor suas criaturas 3. Quer ser reconhecido e considerado. II — Reação esperada pelo Senhor 1. Amor a Deus: incondicional 2. Amor ao próximo: igualado. III — Constatação II: O homem precisa de Jesus Cristo 1. Só o conhecimento da lei não basta 2. É impossível cumprir a lei 3. Jesus Cristo é a Possibilidade. IV — Vivendo em amor 1. É preciso conhecer a Jesus Cristo e seu amor 2. O amor de Cristo impulsiona à ação 3. A ação cristã é espontânea e tem alvos certos. Conclusão Nelson Lautert VIGÉSIMO DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E Marcos 2.1-12 6 de Outubro de 1991 Contexto O evangelho de Marcos inicia muito cedo a narrar os conflitos de Jesus com seus críticos; e adversários, decorrentes dos milagres feitos ou de seus discursos, o que ocorre logo após as primeiras curas. As situações de conflito devem-se a curas de doenças físicas, poder de perdoar pecados, amizade com peca98 IGREJA LUTERANA/NÚMERO t/1991 dores, cerimônias de jejum e da guarda de sábado não cumpridas. 0 Conflito se estabelece Vs. 1-4: Não obstante a oposição sofrida, ou até mesmo em função dessa polêmica, o povo se reúne em torno de Jesus. Quer vê-lo, ouvi-lo, tocá-lo, experimentar sinais. (Nisto tudo o povão de nossos dias não é diferente ao expressar suas carências.) E Jesus "anunciava-lhes a palavra". Por palavra e sacramentos, ainda hoje, Gristo se faz presente em, sua igreja, nos cultos públicos:, trazendo perdão e vida plenos de real sentido. Toda e qualquer busca terrena e imediatista de alívio e cura, fora do âmbito da palavra e das promessas de Deus, pode levar a descaminhos, desespero, morte espiritual. Um grupo de pessoas chega ao lugar e à sala em que Jesus se encontra para receber uma cura. Cura da paralisia do amigo enfermo que carregaram, alçaram e baixaram até ali. A paralisia é figurativa de dissolução física do corpo humano, de impotência, de acomodação de músculos, nervos, movimentos. Este estado de imobilidade provoca, no entanto, um testemunho coletivo de fé e confiança dos que o conduzem: "Vendo-lhes a f é . . . " A onisciência de Jesus revela-se, antes mesmo de iniciar qualquer ação visível de cura. O que esquadrinha corações e sabe todas as coisas (Sl 139.23) está presente fisicamente na terra. E dispõe-se a ajudar. Vs. 5-7: Certificando-se da fé nos personagens envolvidos com a cura do paralítico, inclusive o próprio doente, Jesus imediatamente promove a cura maior, a mais substancial, a mais necessária: o perdão de pecados. Pecados que, por culpa original ou atual, causam toda espécie de enfermidades. Mas essa providência tão importante gera, como contraste, nos opositores, racionalistas de todos os tempos, a descrença, a dúvida, a oposição aberta. Essa oposição se evidencia na tentativa de eliminar a concorrência, de neutralizar o inimigo. São menscionados os escribas (grammateís, sopherim), que surgiram de uma combinação de um governo civil e religioso, no último período do A T . E r a m ao mesmo tempo legisladores e teólogos, e interpretavam a lei nesses dois aspectos. E r a m o que se poderia querer demais erudito para questionar qualquer agressão à lei e à religião estabelecida. Torna-se clara, no texto, a intenção dos escribas e dos demais opositores (Lucas menciona ainda os fariseus) em ofuscar o brilho de poder e fama que Jesus irradiava. Sob a acusação de blasfêmia, lançam a acusação mais contundente à natureza, aos atributos e à obra do Messias, que estaria "falando impiamente" contra Deus, e por isso merecia a condenação. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 99 O Conflito se resolve Vs. 8-12: Mais uma vez Jesus dá mostras de sua onisciência, a grande arma que usa para vencer seus adversários. Ao "ler" os pensamentos dos inimigos desconcerta-os com duas perguntas contundentes, a segunda, na verdade, irrespondível. Desafia-os a distinguir entre duas coisas impossíveis ao homem de realizar — a autoridade para perdoar pecados e a realização de um milagre fisicamente observável. Por uma conseqüência externa, a cura física, sela a verdade do perdão. Por um sinal visível atesta o direito e o poder de fazer o que está acima do âmbito das provas humanas. Ambos os atos são igualmente difíceis, superam a capacidade humana, e despertam a admiração expressa no v. 12. "Levanta-te..." A capacidade de obedecer a essa ordem final, o paralítico a recebe de Deus, por meio de seu Filho humanado. E r a a mais completa afirmação da divindade de Jesus, arrancando a admiração e o aplauso de crentes e descrentes. 0 F i l h o do homem — expressão que se cristalizou no período intertestamentário e se originou no uso por Daniel 7.13,14. A l i o profeta profetiza o domínio, a glória, o poder do Cristo que haveria de vir, o que se cumpre cabalmente no texto estudado. "Jamais v i m o s . . . " — eídomen pressupõe um objeto ou fenômeno visível, a presença do reino desse Messias e a manifestação de sua presença na vida dos crentes e da igreja. Proposta Homilética Deus (Messias) Presente em meio a seu Povo 1. anunciando a palavra (lei e evangelho) 2. perdoando os pecados 3. suprindo necessidades físicas (cura do paralítico) 4. maravilhando os crentes e trazendo vida e esperança. Elmer Flor 100 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Mateus 15.21-28 13 de Outubro de 1991 O contexto É surpreendente que este texto esteja sucedendo um trecho no qual Jesus ensina que aquilo que contamina o homem não são as coisas externas e sim o seu interior. Os fariseus haviam se escandalizado com os ensinamentos de Jesus (v. 12). Talvez para evitar novos confrontos com, escribas e fariseus (v. 1) é que Jesus se retirou para a região de Tiro e Sidom. O texto Seguem algumas observações sobre o texto. V. 22 — A mulher cananéia, não sendo judia, ao encontrar-se com. Jesus, somente poderia ter para com ele uma atitude de desprezo ou, quando muito, de indiferença. No entanto a mulher o chama de "Senhor, F i l h o de Davi", designação que o identificava como o Messias prometido no Antigo Testamento. Esta designação Jesus havia recebido de pouca gente de seu povo. Somente a fé poderia entusiasmar-se com este galileu. Não apela para curandeiros, benzedeiras e outros representantes de forças do ocultismo. V. 23 — T a l como conhecemos a Jesus, os gritos persistentes e patéticos desta mãe pedindo por sua filha entregue ao poder de Satanás, iriam logo colocá-lo em prontidão para ajudar. Jesus, porém, se conserva indiferente. Os próprios discípulos se mostram surpresos. Diante de tal situação constrangedora eles intervém a favor da mulher, talvez mais para se livrar da situação embaraçosa e irritante naquela terra estrangeira. É incômodo ouvir as súplicas de uma pessoa aflita. Melhor é despachá-la o quanto antes. É fácil despedir um mendigo dando-lhe um troquinho ou alguma coisa que não precisamos mais, sem mexer na raiz do seu problema. V. 24 — Jesus permanece fiel ao seu povo, mesmo se este povo é infiel e o rejeita (Mt 11.21). A atitude de Jesus também parece contradizer a sua ordem dada no mesmo Evangelho segundo a qual os discípulos deveriam IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 101 levar o evangelho a todas as nações. Seguem algumas sugestões para explicar o procedimento de Jesus: 1. É possível que Jesus quisesse testar a fé desta mulher. Como cananéia (ou grega, de origem siro-fenícia, conforme Marcos 7.26) poderia ela ter preconceitos contra os judeus. 2. Jesus quis mostrar que ele ama os descendentes de Abraão a despeito de ter sido rejeitado por eles. Apesar de toda a infidelidade de Israel, Jesus permanece fiel. Ninguém pode acusar Jesus de ter desprezado o seu povo como justificativa para que Israel o desprezasse. Jesus não beneficiou os gentios em detrimento de Israel. 3. O episódio pode ter sido utilizado por Jesus para testar a paciência dos discípulos e posteriormente para instruí-los a respeito da persistência na oração. 4. A demonstração de tamanha fé, protagonizada por uma mulher estrangeira, pode ter sido provocada por Jesus a fim, de servir como emulação (estímulo) a judeus que, posteriormente, iriam ler este relato através dos Evangelhos de Mateus e Marcos. V v . 25-27 — "Socorre-me". O amor pela filha fez que ela assumisse a dor de seu sofrimento. Os pais sabem que o sofrimento dos filhos é, geralmente, dor mais aguda para os pais do que para os próprios filhos. Mesmo o aparente desprezo não impediu a mãe de pedir socorro de Jesus. A mulher não contraria a Jesus, até lhe dá razão: "Jesus, é verdade, se você se dedicasse aos gentios você trataria os filhos como cachorrinhos e os cachorrinhos como filhos". De outra parte ela está convicta que com Jesus está a abundância. As sobras de sua misericórdia seriam o suficiente para sua filha. Na verdade, nem se pode falar em repartir o amor de Jesus. O seu amor é tão imenso que há abundância tanto para judeus como para gentios. O que Jesus chama de migalha, para nós significa mais do que um banquete pois, conforme Paulo "ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos" ( E f 3.20). Jesus ultrapassa os limites de sua missão em resposta aos apelos da fé, ainda que seja de uma pessoa gentia. A sua ajuda é acessível a todo aquele que crê, quer seja judeu quer seja gentio (Rm 1.10). A fé continua lutando mesmo quando todas as chances parecem ter-se dissipado. E l a descobre possibilidades que não se percebem sem ela. Recorre ao potencial que fica despercebido àquele que não crê. E l a percebe que a mesa posta por Deus 102 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 para Israel é tão farta que pode suprir todas as nações. Nossas dificuldades nunca são um caso perdido ou sem solução! A mulher cananéia está disposta a aceitar a graça de Deus da maneira mais humilde, como mendiga, mesmo debaixo da mesa. Seríamos nós capazes de humilhar-nos tanto? Talvez Jesus nunca mais retornaria àquela região. Era, pois, a sua única oportunidade para conseguir ajuda para sua filha (2 Co 6.2). V. 28 — A fé é capaz de provocar aplausos do próprio Jesus. Disposição O texto presta-se para falar sobre temas como "fé", "amor de Jesus", "Epifania", "oração". Nossa proposta recai sobre o último. UMA MULHER GENTIA ORA DE UMA FORMA EXEMPLAR 1. Na sua angústia ela se dirige a Jesus (v. 22) 2. Nada a faz desistir de apelar para Jesus a. Nem a aparente indiferença de Jesus (v. 23) b. Nem a aparente rejeição de Jesus (vv. 24-27) 3. E l a recebe a recompensa de seu gesto (v. 28) a. Jesus elogia sua atitude b. Jesus atende seu pedido. Christiano J. Steyer VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO APÓS PENTECOSTE Mateus 5.38-48 20 de Outubro de 1991 A leitura do Antigo Testamento apresenta o momento da renovação da aliança do povo de Deus, ou seja, um grande culto de reconsagração onde são (re)vivenciados os atos salvíficos de Deus na história e vida do Seu povo, ocasião em que Israel faz um voto de servir a Yahweh com integridade e fidelidade — voto este perenizado através da ereção de um monumento. A epístoIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 103 la ressalta, por um, lado, a agressividade do inundo contra o Servo c Seus servos mas, por outro, a entrega nas mãos de Deus das ameaças que sobrevêm à Igreja para que esta continue a proclamar a Palavra com intrepedez. Viver e anunciar a Palavra independentemente das circunstâncias é a ênfase destas leituras ritmadas pelo som, do primeiro dos oito sinos do carrilhão que enaltecem esta Palavra no Salmo 119. O contexto do santo Evangelho é o do Sermão do Monte e o auditório são os discípulos. O "ouvistes" de Jesus transporta-nos para o Antigo Testamento numa referência conhecida mas por vezes mal interpretada. A "lex talionis" (Ex 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21) é freqüentemente olhada através do óculos de, Marcião e, por isso mesmo, tomada como representando a baixa moralidade e espírito de vingança reinante no Antigo Testamento num suposto contraste com a lei do amor no Novo Testamento. E n tretanto, o contexto desta passagem em Êxodo mostra claramente que esta lei está se referindo a uma restrição e não a uma eventual retribuição ou vingança. Trata-se aqui de Israel atuando no "reino da esquerda" e não especificamente como igreja. No "reino da esquerda" a justiça deve ser exercida de tal forma que ela não exceda o crime mas, por outro, que ela também não deixe de corresponder à sua gravidade. Jesus está se dirigindo a Seus discípulos, ou seja, à Igreja, no domínio do "reino da direita". Não se pode esquecer, entretanto, que o contexto cultural-religioso é o dos fariseus e escribas que confundem, Igreja/estado e além disso fazem uma "re-leitur a " do Antigo Testamento sob o prisma de seus costumes e tradições rabínicas e pré-talmúdicas. Fariseus e escribas apelavam para esta lei com o objetivo de justificar a retribuição e vingança pessoais que o Antigo Testamento repetidamente proíbe (cf. Lv 19.18; Pv 20.22; 24.19). Ao afirmar " E u , porém, vos digo" Jesus não está tentando contrastar a lei do Antigo Testamento com uma nova realidade ou ordem política. Antes, Ele está estabelecendo as fronteiras da ética onde e como os crentes irão atuar — algo similar ao que se acha expresso no Decálogo. O " E u , porém, vos digo" coloca Jesus como o cumprimento, o padrão para os discípulos e Sua Igreja. Os dois exemplos da perícope (juntamente com os outros três citados anteriormente — vv. 22, 28 e 34) ilustram a natureza da justiça que "excede" (v. 20) a "justiça" dos escribas c fariseus, O verbo anthisiemi (v. 39) significa resistir, opor-se a alguém ou alguma coisa. A Escritura ensina que não devemos nos opor a Deus e à sua vontade (ex.: Rm 9.19; 2 Tm 3.8; Lc 21.15; Rm 13.2). Somos, porém,, constantemente instados a resistir ao diabo (Ef 6.13; 1 Pe 5.9; Tg 4.7). Como entender, então, que 104 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 somos solicitados a não resistir ao "perverso"? É importante notar que tô ponerô é masculino e não neutro e que, portanto, diz respeito não ao diabo em si, mas à pessoa má. Isto não significa que não se reconheça a pessoa como sendo má, porém o que Cristo quer é que não haja vingança. Ao ler-se as palavras de Cristo à luz do que imediatamente segue nos vv. 43-48 e quando a paralela em Lucas 6.29-30 é explicada com. base no que imediatamente precede nos vv. 27-28 torna-se notório que a passagem chave, idêntica em ambos os relatos dos evangelistas, é "amai os vossos inimigos" (Mt 5.44; Lc 6.27). Em outras palavras, Jesus está condenando o espirito de desamor, ódio e vingança. F i c a evidente, portanto, que a expressão "volta-lhe também a outra [face]" significa demonstrar por atitude, palavra e ação que se está repleto não do espírito de rancor mas do Espírito do amor (cf. Rm 12.19-21). Este é o padrão que Cristo quer; é o padrão que Ele mesmo cumpriu. É o Messias, o Servo que está a querer o que Ele mesmo fez uma vez por todas para todos os homens centrando Sua vida em Deus e, sem relutar, submeter Seu amor ao desamor dos homens (cf. Is 50.5-6 e 1 Pe 2.21-23). Não é o Antigo Testamento que acrescenta ao "amarás o teu próximo" as palavras "e odiarás o teu inimigo". O escriba fazia este acréscimo. A mentalidade rabínica faz a pergunta: "Quem é o meu próximo?" (Lc 10.29) e nela está implícita a limitação da resposta que, em última análise, deixa margem ao ódio que para ele pode se externar no campo racial e nacional e bem assim contra os samaritanos, inimigos religiosos, gentios, "cães", inimigos pessoais. Ao dizer "amai os vossos inimigos" (v. 44) Jesus remove todo e qualquer limite ao amor. O amor não é inspirado por seu objeto como também não depende daquele que o recebe. O verbo agapáo implica muito mais do que simples afeição: ele tem. origem em Deus (vv. 45, 48) e encontra-se apenas no discípulo de Cristo. Este amor tem sua fonte no amor adotivo do Pai (vv. 44, 45) que se mostra absolutamente imparcial ao ponto de beneficiar também o mau e o injusto. O amor sem limites revela sua peculiaridade não apenas na dimensão humana como também na dimensão celeste, diante de Deus, através da intercessão em favor, hyper, do inimigo. A Escritura apresenta exemplos marcantes de pessoas em ação i n tercessória por seus adversários: Abraão (Gn 18.22-33), Estêvão (At 7.60) e o próprio Jesus (cf. Is 53.12; Lc 23.24; Mt 11.29; 1 Pe 2.23). Tais exemplos contrastam com a animosidade dos próprios discípulos contra os samaritanos (Lc 9.54). Por outro, a afirmação comum entre pais: " E u vou ensinar meu filho a como se comportar" via de regra significa uma inculcação não cristã de vingança e revide (simul peccator). IGREJA LUTERANA NÚMERO 1/1991 105 O padrão e o poder para amar o inimigo está no próprio Jesus. E l e humanou-se para fazer a vontade do Pai plenamente, completamente com a escatológica "uma vez para sempre" pelo Seu supremo ato de amor, amando a humanidade. A este amor o discípulo está sendo convocado e para este amor Cristo o capacita. A recompensa já está ganha e garantida, vicariamente, por meio do Christus Victor. Sugestão de tema: Um Amor Sem Limites. Acir Raymann VIGÉSIMO T E R C E I R O DOMINGO APÓS PENTECOSTE Marcos 12.41-44 27 de Outubro de 1991 As Perícopes e o Tema do Domingo O tema do domingo, contido nas leituras das perícopes do domingo, são "os sacrifícios agradáveis a Deus" (Salmo do dia, 51.17), a saber, espírito quebrantado, coração contrito, lábios que louvam, coração puro, espírito voluntário, ofertas cordiais. A receita divina através do profeta Miquéias (Leitura do A T ) é praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com Deus (Mq 6.8). Tudo o mais, formalismo exterior, cerimônias que eram sombra do corpo, que é Cristo, não têm mais valor. Ou nunca tinham valor em si mesmos, mas apenas na perspectiva da gratidão pela obra salvadora de Cristo. Na epístola, a preocupação da igreja do NT em relação a seus necessitados se resolve pela separação dos apóstolos para a pregação da palavra e a oração, e pela escolha dos sete diáconos para "servir às mesas" e fazer a obra social. Assim a palavra de Deus crescia e o número de discípulos se multiplicava. O Texto Muitas passagens paralelas ensinam as virtudes da oferta do cristão (Ml 3.10; Lc 6.38; 1 Tm 6.17,18; Gl 6.9,10). Mas o 106 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 texto em estudo ensina sobre a oferta através de um magnífico exemplo. Se o dízimo era, no culto de Israel, o padrão (Ex 35.22), há exemplos em que o povo de Deus ofertou até mesmo mais que o exigido ou esperado (Ex 36.5; 1 Cr 29.3,4). De igual forma, o Salvador Jesus assiste a um exemplo vivo e o evangelista relata a oferta da viúva de "tudo quanto possuía", dado em sua pobreza (hustéreesis), sacrificando o sustento, a própria vida (bíos). 0 contexto anterior apresenta um discurso eloqüente de Jesus, dirigido especialmente contra a justiça própria e o formalismo de fariseus, saduceus e escribas. Como ensinava no templo, pôs-se a observar, e até mesmo a vigiar nos seus detalhes as ofertas dos que ali prestavam culto e sacrifício. O gazofilácio era uma das treze caixas de metal, no formato de trombetas, colocadas em volta das paredes do átrio das mulheres no templo herodiano, para recolher as ofertas para sustentar os serviços do templo. Jesus se importa com as ofertas de seu povo e controla, além e acima da oferta em si, a motivação do doador. Não se impressionou com as quantias, por mais altas que fossem. Lv 27.30 determinava que se trouxesse o dízimo à casa do Senhor como oferta a Deus. Em Is 1.11ss.; Is 43.24; e Ml 3.8 Deus afirma que observa o coração e a intenção do doador. Muitos não gostam da idéia de que sua oferta esteja sob a observação de alguém, muito menos de seu Senhor, que é ao mesmo tempo o Senhor de seus bens. Isto exporia a pequenez de sua fé, da qual a oferta deriva. Não se sentem à vontade ao se detectar a motivação que os leva a ofertar. Os ricos, que ofertavam muito, faziam-no talvez por um senso de obrigação; quem sabe, para serem vistos e admirados. Suas ofertas, em todo caso, não sensibilizaram o Salvador e não mereceram maiores comentários. A mulher que Jesus destaca é pobre, necessitada, prestes a morrer de fome (são significados possíveis de ptoochós). E r a viúva, com todas as conotações de abandono e solidão. As duas moedas romanas eram as de menor valor existentes. Apesar de todos esses dados que despertam a compaixão humana, e a tornam antes alvo de doações do que doadora, o fato elogiado por Jesus se prende a que ela ofertou voluntariamente, agradecida, efusivamente, como fruto da fé. (1 Co 13.3) O que esta mulher ensina pelo exemplo, a Bíblia ensina por conceitos (2 Co 9.7; Rm 12.8). Apenas quando se oferta alegre e livremente, pode-se experimentar a alegria de dar. Vs. 13-44: Jesus convoca os discípulos para a aula sobre a oferta. A importância do assunto e a gravidade do momento estão expressos no améen légoo, em verdade digo. Os discípulos aprendem como dar e se lhes ensinam os critérios pelos quais é IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 107 Deus que julga uma oferta. A mulher por certo não morreu e nem passou fome. Deus cuidou dela. Os que se preocupam doentiamente com seus bens, que têm incertezas quanto a seu futuro material, são esses os que menos ofertam. É uma relação da causa e conseqüência. Como são avaliadas as tuas ofertas diante de Deus? O ato da viúva pobre não pode ser copiado mecanicamente. Copia sua fé. Entrega-te primeiro ao Senhor, como o fizeram os macedônios. (2 Co 8.5) O amor de Cristo te fará abundar em tuas ofertas. Tema Uma lição sobre a oferta do cristão 1 . Eu aprendo o que é uma oferta sem valor (formalismo, cerimônias, desejo de aparecer, preocupações com os bens materiais. . .) 2. Eu aprendo a oferecer sacrifícios agradáveis a Deus (fé verdadeira, coração puro, espírito voluntário). Elmer Flor VIGÉSIMO Q U A R T O DOMINGO APÓS P E N T E C O S T E Marcos 4.35-41 3 de Novembro de 1991 Contexto O cap. 4 de Marcos é essencialmente didático, concentrando 4 parábolas, sua explicação e aplicação, numa seqüência marcante dos ensinos do Mestre. A referência dos vs. 33 e 34 explicita ainda mais esse recurso didático, o das parábolas, contadas "conforme o permitia a capacidade dos ouvintes." Seus discípulos recebiam posteriormente uma instrução particular, um aprofundamento especial, uma pós-graduação. No texto em estudo, a aula, de teórica, transforma-se em prática, e orienta o crente nos perigos da vida. Da Bonança à Tempestade Vs. 35-37: A aula teórica, por parábolas, estendera-se até "tarde". Jesus transfere a situação de ensino para o barco que 108 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 estava a sua espera, e que seguiu pelo mar da Galiléia na companhia de outros barcos compondo uma esquadra de seguidores. E r a uma escola ambulante. Seus discípulos passam a ser submetidos a uma prova de confiança plena no Mestre. A atividade exaustiva do dia teve como conseqüência o cansaço terreno do Instrutor. Estando a leste do mar, nos arredores de Gafarnaum, devem ter rumado à costa oeste, terra dos gerasenos. De um início tranqüilo, a viagem se torna dramática. Da Tempestade à Bonança Vs. 38-39: Jesus ocupa um lugar à popa do barco, a parte traseira, reservada ao timoneiro. Aí não se sente tanto a violência com que o barco corta as ondas, nem o balanço a que é submetido, como na proa. Enquanto Jesus descansa sobre um travesseiro, o mar se põe travesso. O grande temporal é chamado de láilaps, e Mateus o chama de seismós, palavra grega que aparece no termo português "movimento sísmico" ou terremoto, no caso, uma espécie de maremoto. "Mestre!" é o grito de socorro dos discípulos apavorados. E r a a hora de aprenderem com o divino Instrutor uma lição de vida frente aos perigos que os ameaçam. 0 poder do Messias e do Reino de Deus que inaugura entre os homens no Novo Testamento faz-se presente tanto nos seus ensinamentos, como também nos atos milagrosos que confirmam a palavra nos que persistem na dúvida. Na anarquia que se estabelece entre as forças da natureza, e que se coloca como meio de disciplina, julgamento e chamado à ordem no caos, Jesus confronta sua tranqüilidade ao temor dos demais; o poder do Criador enfrentando a criatura insubmissa; a tempestade na natureza e nos corações à bonança que traz ao mundo com sua presença abençoadora. Da Bonança à Confiança Vs. 40-41: Jesus não se limita a repreender o mar e o vento, acalmando sua fúria, baixando a crista das ondas. Repreende Os discípulos, que se abalaram com o perigo, acalma seus corações agitados, baixa a crista de sua confiança em suas próprias habilidades de navegadores, Eles aprendem uma lição de vida, submetendo a fraqueza humana à presença do Senhor da natureza. Jesus aprofunda, com' essa repreensão, sua comunhão com os companheiros de jornada e aproxima-se deles no convívio mútuo, num gesto em, que põe seu poder a serviço compassivo em favor dos mesmos e confirmando, assim, a sua fé. O temor de todos os circunstantes também se acalma diante da prova de proteção e libertação que Cristo oferece a seus seguidores, não importa quão violenta possam ser a perseguição e os transtornos IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 109 que enfrentam, tanto corporal como espiritualmente. As perguntas finais, tanto as de Jesus como a do povo, são retóricas, e sua resposta é óbvia. Jesus confirma a fé de seus seguidores e sua confiança nele que é o Senhor de tudo, também de suas vidas. Proposta Homilética A Vitória do Mestre sobre a timidez e a dúvida: uma aula sobre a fé que salva. O processo de ensino-aprendizagem leva da teoria (parábolas) à prática (livramento dos perigos) : 1. Testa a fé dos que, por sua fraqueza, incorrem em perigos. 2. Permite que a prova seja difícil, a ponto de reprovação. 3. Aparece no momento certo e oferece ajuda (perdão) e aprovação final (livramento). 4. Ensina onde e com quem não há perigo em qualquer circunstância da vida. Elmer Flor FESTA DA REFORMA Mateus 11.12-15 31 de Outubro de 1991 LEITURAS O salmo 46 é um salmo de louvor cantado pelo povo de Deus, pela proteção e derrota dos inimigos. F o i de onde Lutero tirou a inspiração para compor o hino "Castelo Forte é nosso Deus". O texto ensina: Cada cristão deve lembrar-se do socorro por ele recebido da parte de Deus em tantas angústias de sua vida, e esta recordação deve levá-lo ao constante louvor e à sempre maior confiança no Deus forte em todas as lidas da sua vida. O salmo convida o cristão a se refugiar no Senhor Jesus e confiante nas promessas de salvação, perseverar através das lutas da vida., 110 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 O texto de Apocalipse apresenta um anjo voando pelo meio do céu levando um evangelho eterno destinado aos incrédulos da terra exortando-os a se arrependerem! porque o fim está próximo. Ainda há tempo para se arrependerem e acharem misericórdia diante de Deus. O contexto desta leitura mostra que os habitantes da terra ficaram maravilhados com os poderes manifestados pela besta e seu falso profeta (Ap 13.12-14). O anjo os lembra de que se haverão com alguém que é mais poderoso que a besta — aquele que é a origem de todas as coisas no céu e na terra. Nesta época da Reforma é sempre oportuna a reflexão sobre o fascínio que as maravilhas do mundo podem exercer até sobre os cristãos levando-os a perderem de vista o iminente juízo de Deus sobre estas coisas passageiras. É oportuno o convite à reconsagração ao Senhor enquanto houver misericórdia e perdão. A leitura de 2 Crônicas sugere a necessidade que o cristão tem de purificar constantemente a sua vida, consagrando todo o templo do Espírito ao Senhor. Em nossa vida não há lugar para nenhum "deus" por menor que seja. Deus Espírito Santo exige que todo o seu templo seja a ele consagrado. O texto sugere que esta consagração diária seja feita por meio de ofertas de sacrifício e ações de graça. O Evangelho de Mateus destaca o fato de que não é sem luta e persistente esforço que o discípulo conquista o reino do seu Senhor. Jesus faz alusão ao fato de que certas pessoas (publicanos, prostitutas, judeus, etc), as quais tendo entrado em contato com João Batista (Mt 3.1-10) e com Jesus (Mt 4.23-25) os aceitaram, como mensageiros do Reino e se tornaram discípulos, esforçando-se para corrigir sua vida e proclamar a chegada deste Reino. O destaque é dado ao empenho observado nos discípulos que aparentemente poderiam ser considerados os mais indignos para a tarefa do testemunho por causa da vida que levavam antes do contato com o Evangelho, num,a verdadeira demonstração de arrependimento e conversão, sem fingimento. Esta consagração é exigida também dos discípulos da Igreja cristã de hoje. É justamente contra a religiosidade aparente, contra a frieza espiritual que este texto de Mateus vem alertar. DISPOSIÇÃO: Em se tratando de festa da Reforma todas as passagens sugerem uma reflexão em torno da reconsagração ao Senhor, mediante a firme resolução de persistir na fé criada pelo Evangelho restaurado pela Reforma do Séc. X V I . Por causa desta fé, IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 111 o cristão permanecerá de posse do reino, mesmo através de muitas lutas contra a incredulidade, materialismo, etc. O texto de 2 Crônicas reforça esta ênfase da reconsagração que deve ocorrer pelo abandono dos pecados e maus desejos da Carne para poder haver um processo de purificação do templo do E. Santo. 0 Salmo 46 traz um consolo muito grande ao discípulo que se esforça para conquistar o reino. Lutero experimentou este consolo e pode compor, inspirado neste salmo, o seu mais famoso hino "Castelo forte é o nosso Deus". O salmo ensina que mesmo que se abale aquilo que é considerado inabalável e se agite o que parece geralmente sereno, Deus continua rocha firme, é imutável na sua atitude de salvador. Continua o refúgio certo de todos os que a ele recorrem. SUGESTÃO DE TEMA: Consagrai-vos ao Senhor Deus Forte. I — Porque os que se esforçam, se apoderam do Reino. II — Porque no Senhor há. o refúgio e o consolo necessários para a luta diária. Nereu Rui Weber A N T E P E N Ú L T I M O DOMINGO D O A N O D A I G R E J A Mateus 24.15-28 10 de Novembro de 1991 O contexto A perícope está inserida num conjunto que trata da segunda vinda de Jesus (parusia) e da consumação dos séculos. A destruição do templo de Jerusalém é um prelúdio do desfecho no juízo final. O conjunto inicia com o lamento de Jesus sobre Jerusalém que não quis receber a salvação (23.37-39) e continua com a profecia da destruição do templo (24.1-2). A seguir os discípulos perguntam quando "estas cousas" irão suceder e que sinais haverá anunciando a sua vinda c a consumação do século (24.3). Os comentários nem sempre são unânimes em distinguir quais as palavras de Jesus se referem à destruição de Jerusalém e quais dizem respeito à sua vinda e à consumação do século. 112 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 Nos versículos 4 a 14 Jesus anuncia os sinais que precederão a sua vinda e previne os discípulos de não se deixarem enganar por falsos cristos. O texto Limitamo-nos em tocar nos aspectos mais relevantes da perícope. A tribulação que se iria abater sobre Jerusalém, e suas conseqüências sobre os fiéis, eram apenas um prelúdio ou uma fase de sua volta. A perícope gira ao redor de três assuntos: os fiéis são alertados para fugirem da Judéia (vv. 15-19), são incentivados a orar (vv. 20-22) e são previnidos de não confiar em qualquer espírito que se anuncia como o guia para o encontro com Cristo (vv. 23-28). V. 15 — Jesus lembra palavras do profeta Daniel: "o abominável da desolação" (Dn 9.27; 11.31; 12.11). As opiniões divergem sobre o cumprimento das palavras de Daniel. Alguns julgam tratar-se do santuário edificado por Antíoco Epifânio (175-104 a.C.) dentro do templo para nele serem oferecidos sacrifícios a Júpiter (Zeus). Outros afirmam tratar-se dos sacrifícios que os romanos ofereceram aos seus ídolos nos lugares sagrados dos judeus, conforme relata Josefo. A profecia de Daniel, no entanto, não se esgota com estas abominações. Dentro do princípio segundo o qual a destruição de Jerusalém e a consumação dos séculos formam um conjunto, a profecia de Daniel continua se cumprindo até a volta de Jesus. P o r isto, também dentro deste mesmo critério incluem-se no "abominável da desolação" as atividades do homem da iniqüidade e da perdição de quem Paulo fala em 2Ts 2.3. As palavras de Jesus no v. 16 foram observadas literalmente pelos cristãos de Jerusalém quando os romanos reagiram à revolta dos judeus (66-70 A D ) . Atravessaram, o Jordão e foram para um local elevado chamado Pela. Também, aqui o sentido das palavras deste versículo não se esgotaram naquela ocasião. O significado estende-se até o tempo da segunda vinda do Senhor. Há uma fuga espiritual para os montes (Sl 121.1), local bem mais seguro do que os altos além do Jordão. É i m portante não perder tempo para buscar abrigo junto a Jesus antes que vem a destruição. É preciso desprender o coração das coisas materiais (vv. 17, 18). Fugir como Ló e não olhar para trás. A fuga oferece dificuldades. Para alguns até muito grandes. Necessário se faz, por is,so, que a igreja ore, a fim, de que a fuga possa ter êxito. No inverno, devido ao frio, a chuva e o IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 113 vento, a fuga seria dificultada ou mesmo tornada impossível. Embaraçosa seria a situação para as mulheres grávidas e as que estivessem amamentando (v. 19). Se a fuga precisasse ocorrer em dia de sábado igualmente haveria perigo. Não porque fosse proibido para os cristãos deslocarem-se neste dia, porém mais pelo escândalo que estariam provocando nos moradores por onde teriam que passar. Poderiam até ser barrados e mortos (Ex 31.14; Nm 15.32-35). As orações pedindo que o Senhor removesse todos os impedimentos para a fuga, deveriam ser motivadas pelas tribulações mencionadas no v. 21 e 22. Josefo descreve os, horrores sucedidos durante a destruição de Jerusalém. O mundo nunca havia passado por isto anteriormente. A respeito das tribulações antes da consumação dos séculos, fala o livro de Apocalipse (cf. Ap 13 e 16). Os dias seriam tão terríveis que, se o período não fosse abreviado pelo Senhor, por causa dos escolhidos, ninguém seria salvo. Além das tribulações levantar-se-iam enganadores, falsos profetas e falsos cristos, com doutrina falsa. Tudo tão bem estruturado que, novamente, se não fosse a interferência do Senhor, os próprios eleitos seriam, demovidos de sua fé (v. 24). O apóstolo Paulo fala que o "aparecimento do iníquo é, segundo a eficácia de Satanás, com, todo poder, e sinais e prodígios da mentira" (2Ts 2.9). A respeito das bestas, lê-se em Apocalipse que a 1ª besta "peleja contra os santos, e os vence" e que a 2ª besta seduz os habitantes da terra com seus sinais (Ap 13). A igreja não deverá ser tomada de surpresa quando estas coisas sucedem, pois Jesus o anuncia com antecedência (v. 25). Não devem, os cristãos, deixar enganar-se como se Jesus pudesse ser encontrado no deserto, no interior de uma casa ou em outro local. Quando ele chegar não será preciso procurar por ele (v. 26). Ele virá repentinamente, como um relâmpago. Será visto em toda a parte (v. 27). Apesar dos sinais que anunciam a sua volta, ela será inesperada, de surpresa (2Pe 3.10). É, pois, tolice querer determinar o dia e o horário de sua chegada (Mc 13.32). Muito se tem discutido sobre o significado do v. 28. Quem são os abutres e o cadáver? Se a perícope se referisse apenas, à destruição de Jerusalém, poder-se-ia pensar, como efetivamente muitos têm feito, nas águias, emblema das legiões romanas. Mas este não é o caso. P E . Kretzmann diz que o significado deste provérbio é: "onde está Cristo ali também estarão os eleitos". Lutero, no seu sermão sobre Mt 24.27,28, com uma argumentação interessante, interpreta o provérbio dizendo que onde estiver a palavra de Deus ali também estará a igreja. É preciso lembrar, porém, que na perícope Jesus está respondendo a uma pergunta dos discípulos feita no v. 3. A pergunta foi: que sinal haverá 114 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 da tua vinda e da consumação do século? Assim, pois, como se identifica onde está um corpo morto, pelo giro dos urubus por cima do local, assim, pelos sinais apontados, poderá ser identificado quando será a consumação do século. A destruição sobreveio ao templo e à Jerusalém como resultado de sua impenitência, assim o juízo está pairando sobre o mundo todo, impenitente e espiritualmente morto (Mt 24.10-12; 2Ts 2.1ss.; 1Tm 4.1ss; 2Tm 3.1ss.; 2Pe 3.3ss.; Ju 18). Hoje, agora, não é diferente. Onde está o pecado ali está o julgamento. O mundo o despreza, mas o único escape é Cristo. Disposição Jesus fala sobre os sinais que anunciam a sua volta e a consumação dos séculos e sobre as providências que os cristãos devem tomar. I. A volta de Jesus será precedida de tempos muito difíceis (vv. 15-19). II. Os cristãos precisam estar atentos para não serem, enganados. 1. Quanto a falsos cristos (vv. 23-25). 2. Quanto ao local e hora da volta do Senhor (vv. 26-27). III. Os cristãos precisam orar a fim de que possam suportar as tribulações e perseverar até ao fim (vv. 20-22). Christiano J. Steyer PENÚLTIMO DOMINGO DO ANO DA IGREJA Mateus 25.31-46 17 de Novembro de 1991 Assunto: O discurso de Jesus sobre o grande julgamento (sobre a sua volta, ou 2ª vinda). 1.º — Cenário Jesus está falando sobre o fim do mundo e a sua volta para "orquestrar" ou "dirigir" este final. Este recado de Jesus é IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 115 sempre importante para nós, de forma toda especial em tempos de muito apego a esta vida e às coisas materiais, às coisas deste mundo. Assim foi também com, os judeus. Por isso ele inicia o seu sermão, já em, 24.1 e 2, fazendo referência ao Templo de Jerusalém que, embora fosse "Templo de Deus", tinha, na verdade, para a grande maioria, muito mais o significado de grandeza pessoal, de realização própria, de superioridade da raça, de segurança pessoal. Orgulhavam-se de possuir um templo. A l i mentavam uma falsa segurança em relação ao seu destino eterno e justificavam uma impunidade social e moral estribados; no fato de terem, o Templo em, Jerusalém, o que, acreditavam muitos dos judeus, era uma garantia incondicional de que Deus lhes era favorável e os abençoaria e protegeria, sendo que nada de mal lhes poderia acontecer. "Se temos o Templo, então nada nos pode suceder". O Templo virou uma espécie de talismã da sorte. Jesus quer derrubar esta falsa segurança e acordá-los para a realidade. "Não se fiem nesta construção. Não ficará pedra sobre pedra". Jesus está dizendo mais: "não se fiem nesta vida; nas realizações que vocês conseguem obter nela; nas suas capacidades. Tudo isto vai terminar. Não se fiem neste mundo, pois ele não vai durar para sempre, e vocês também não vão viver nele para sempre. Prestem atenção neste fato c cuidem para estar preparados". Jesus contou quatro parábolas relacionadas com o fim do mundo, alertando, nelas, para os sinais da proximidade deste fim, bem como para a sabedoria e prudência que é recomendável cultivar com relação à questão. 2.º - Assunto: Nosso trecho contempla o que poderíamos chamar de "clímax" do sermão de Jesus sobre o fim do mundo. O Salvador está falando da fé, que é o critério de separação entre " v i d a " e "morte"; entre "salvação" e "condenação". Em cada uma das três parábolas anteriores a respeito do assunto ele enfatizou um aspecto da questão. Na primeira delas (Mt 24.45-51) ele visou os responsáveis pela igreja (ministros, líderes, dirigentes); na segunda (Mt 25.1-13) dirigiu-se a todos, enfatizando a necessidade de haver vida espiritual; na terceira (Mt 25.24-30) dirigida também, a todos, ele tem em vista os dons espirituais e as boas obras, ou seja, o uso (administração) que os, cristãos fazem das coisas recebidas dele. Agora, com o discurso de Mt 25.31-46 ele apresenta a essência de tudo numa 4ª exemplificação, qual seja, a do atendimento prestado (ou omitido) a quem precisava. O nosso trecho mostra como a fé cristã é comprometimento de vida. Tudo o que se pode dizer da vida cristã em ênfases 116 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 separadas, visando destacar com mais nitidez ora este ora aquele aspecto, pode ser dito em conjunto e em resumo: ser cristão é ser engajado! É assumir uma vivência cristocêntrica — e não apenas discursar a respeito. Há toda uma dimensão social envolvida nestas palavras de Jesus. Não no sentido barato de "evangelho social" que anda por aí e que se pode ler e ouvir tanto, na linha do "evangelho dos pobres", do "evangelho da revolução", do "evangelho latino-americano" ou de qualquer outra roupagem da "teologia da libertação" (que não procura levar o homem a Cristo para ser libertado dos pecados, preferindo, antes levar cada um a ser libertador de si mesmo em relação a todas as ordens e estruturas que o cercam, as quais seriam todas opressoras e malignas), mas no sentido verdadeiramente bíblico de envolvimento social, em que o cristão, em Cristo, ao mesmo tempo em que é senhor livre de todas as coisas e não está sujeito a ninguém, é um servo (=. escravo, servidor, um que presta serviços; um que se consome em obras de amor pelo próximo) de todas as coisas e sujeito a todos. A verdadeira dimensão social deste texto c que ele está dizendo a cada um que se julga cristão que a fé não é algo a guardar dentro do bolso; que a fé não é individualista nem, exclusivista; que a fé implica em manifestações exteriores que não são, absolutamente, particulares. Jesus está mostrando que a fé tem frutos de amor. Quem confia em Cristo, quem ama Jesus, torna-se portador deste amor para os outros, para o próximo, para a sociedade. Esta ca dimensão social do texto: fé se traduz em serviço social. É importante notar como, no texto, este comprometimento social está intimamente conectado com o ser ou não ser cristão; com o estar à direita ou à esquerda do Rei no dia do julgamento. É uma palavra muito séria. É uma palavra de julgamento para os incrédulos e de consolo para os crentes. Sim, palavra de conforto para os fiéis que, mesmo tendo limitações e fraquezas, mesmo sendo imperfeitos, sabem que serão considerados justos por causa do sacrifício de Cristo em seu lugar, o qual recebem pela fé, a qual, por sua vez, é vibrante e frutífera, sendo, inclusive, louvada pelo R e i e Senhor. 3.º — Estrutura do texto: i . ) Descreve (não seria melhor 'refere-se', já que não há palavras que possam, realmente, descrever aos nossos olhos momento tão grandioso como este) o julgamento final da humanidade. IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 117 — O assunto não é novo. Está referido em outros textos. Além dos relatos paralelos, também está em Mt 16.27; 19.28 e 24.29-31. — 0 episódio tem caráter de realeza, de majestade. 0 vs. 31 fala em "assentar no trono da glória". A figura usada na descrição é a de uma corte real reunida. Faz lembrar, hoje, um "Tribunal do J u r i " , com toda a pompa e ritualidade que o cerca. Lembra o momento de entrada do juiz no recinto. 2.) 0 próprio Redentor e Salvador será o juiz, o que chama a atenção. Para quem crê Cristo é Salvador; para quem, não crê ele é pedra de tropeço. Quem não crê no Filho já está julgado. 3.) Ninguém, escapa ao julgamento. (vs. 32: todas as nações serão reunidas em sua presença). Não há como fugir. 4.) A separação entre bons e maus; entre salvos e perdidos; entre fiéis e infiéis. Também não é assunto novo. A parábola do Joio, em Mt 13.24ss, bem como a da Rede de Pesca, em Mt 13.47-50 já tratam dele. — Nenhum ser humano pode fazer a separação. Temos que conviver com os fingidos. Mas o dia virá em que Jesus irá fazer a separação, e esta será eterna. 5.) Direita c esquerda. Linguagem figurada para descrever céu e inferno; salvação e perdição. — Na verdade não é naquele momento que se decide. Apenas é a declaração pública daquilo que já está definido pela presença ou ausência da fé. Ter ou não ter fé, eis a questão! (Jo 3.18). 6.) Cabritos e ovelhas. Linguagem figurada para referir os que se salvam e os que se perdem. A ovelha, em comparação com o cabrito, era considerada animal nobre. 7.) O prêmio: a posse do reino que está preparado desde a fundação do mundo. É a bem-aventurança eterna. O paraíso. A felicidade e o gozo pelos séculos dos séculos. 8.) O critério: a fé. Quem tem fé vai para o céu; quem não tem vai para o inferno. — A demonstração dessa fé está nas obras, no atendimento aos necessitados. A verdadeira fé é aquela que produz resultados. Que cada qual se examine. 118 IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 4° — Esboço: Tema — A dimensão social da fé: uma questão de vida ou morte! 1 — Há muita hipocrisia e fingimento na igreja. (Espaço para descrever o mal, os problemas, o pecado. A falta de preocupação social é uma prova de fingimento, pois quem, ama o próximo (como decorrência da fé) não pode deixá-lo passar necessidades. 2 — V a i haver um, momento de julgamento, em, que as aparências desaparecerão. (Espaço para auto-exame. Como estou eu?) 3 — O critério para a vida ou morte, no julgamento, é um só: fé em Cristo. 4 — Q u a l é o critério para a verificação da fé? Jesus parece muito claro ao dizer que é o amor ao próximo. (Esta é a dimensão social, cf. vs. 35-36. Fé ativa no amor). 5 — Só pode amar o próximo quem experimenta o amor de Deus em Cristo. Este amor nos é oferecido abundantemente (citar formas, frisando a coletividade do amor). 6 — Deus nos quer brindar com seu amor já neste inundo (nas multiformes bênçãos) e na eternidade, dando-nos posse do reino que está preparado desde a fundação do mundo. Conclusão: Não esqueçamos do nosso próximo! Irmo Arnaldo Huebner Ú L T I M O DOMINGO D O A N O D A I G R E J A 24 de novembro de 1991 Mateus 25.1-13 a) Contexto: O capitulo 25 do evangelho de Mateus pode ser dividido em três partes importantes: Na primeira Jesus se refere à sua segunda vinda como acontecimento que tende a levar o homem a velar, a vigiar e a ser sincero na sua religião, na sua fé em Cristo. É o que vemos nesta parábola das dez virgens. Na segunda alude ao mesmo fato a fim de exortar à atividade e à fidelidade por meio da parábola dos talentos. Na IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 119 terceira parte Jesus termina, relatando como será o dia do Juízo Final. b) As outras leituras: O Salmo 130 expressa o clamor das profundezas, preocupado com os pecados, que, porém,, — ele sabe — têm perdão em, Deus. "Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra". Isaías 65.17-25 fala nos novos céus e na nova terra que o Senhor cria, o que vem confirmado em Ap 21.1-7, onde é descrita a felicidade que haverá no novo céu e na nova terra — a vida com, Deus. II Pe 3.3,4,8-10 lembra que há escarneccdores no mundo, os quais duvidam do retorno de Cristo para o juízo. Deus, porém, é longânimo e não quer a condenação de ninguém. " V i r á , entretanto, como ladrão, o dia do Senhor". 0 f i m do Ano da Igreja leva-nos, automaticamente, a pensar no fim do mundo. Por isso o tema é de exortação — V I G I A I ! c) O texto: Vers. 1: Segundo o costume da época, as amigas da noiva iam ao encontro do noivo dela, para o recepcionarem e o acompanharem até ela. Iam munidas de lâmpadas. É um quadro muito singelo, mas de uma elucidação extraordinária para a vivência cristã e para a compreensão da necessidade de vigilância espiritual durante a nossa vida. Vers. 2-4: " C i n co dentre elas eram néscias, e cinco prudentes". Quando e como pessoas são néscias ou prudentes para e perante Deus? Néscio para Deus é todo aquele que não aceita as coisas do Espírito de Deus; é o incrédulo; é aquele que não adquire a sabedoria de Deus e que constrói sobre areia. Néscio para Deus é todo aquele que vive imprudentemente e que não ajunta para si tesouro no céu. Enfim, é todo aquele que rejeita a graça e o amor de Deus revelados em Cristo Jesus. Prudente perante Deus é todo aquele que se ocupa principal e primordialmente com o reino de Deus, de como servir a Deus, de como fazer a vontade de seu Senhor Jesus Cristo. Prudente é todo aquele que cuida onde e como anda, sempre pensando em fazer a vontade de Deus. Enfim, é todo aquele que aceita a Jesus como seu Salvador, nele crê e a ele serve conscientemente. Vers. 5-7: O noivo demorou a vir e as virgens adormeceram na sua espera. De repente o grito: "Eis o noivo! Saí ao seu encontro!" Todas levantaram e todas prepararam suas lâmpadas. Só que as cinco néscias se deram conta de que o azeite estava se esgotando, Não conseguiriam) acompanhar o noivo. Um vexame! Tudo perdido! Espera baldada! Vers. 8-9: As prudentes não puderam fornecer o azeite necessário às néscias; elas mesmas precisavam dele. Ninguém pode dar a fé a outrem. Só Deus o pode. Naquela hora da noite era difícil conseguir azeite. E r a tarde demais. O tempo de comprar já passara. Quando Cristo vier, no dia do juizo, não será 120 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 mais possivel ler a Bíblia, ir à igreja, participar dum estudo bíblico para chegar à fé nele. 0 tempo é agora. Hoje é o dia de salvação. Hb 3.12-15. Sejamos prudentes, prevenidos. Vers. 10-12: Enquanto as néscias se afastaram do noivo, na tentativa de conseguir azeite e luz, as prudentes, as preparadas entraram com o noivo para as bodas. Pior de tudo: a porta foi fechada! Quando, mais tarde, as néscias chegaram, a porta estava fechada e de nada adiantou implorar: "Senhor, senhor, abre-nos a poria!" O noivo não as conhecia e elas ficaram de fora. F i c a m fora do céu todos os que não tiverem fé em Jesus e que, portanto, não estão preparados para receber o Senhor Jesus Cristo no dia derradeiro com a alegria da salvação. Vers. 13: " V i g i a i ! " Esta é a exortação de Jesus nesta parábola. É certo que Ele vem; mas não se sabe o dia nem a hora. Então, V I G I A I ! c) Disposição: Tema: VIGIAI! I — Porque é certo que Cristo vem e II — Porque fica fora do novo céu e da nova terra quem não está preparado. Curt Albrecht IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 121 LIVROS D O G M Á T I C A CRISTÃ. Por Carl E. Braaten e Robert W. Jenson, editores; e Gerhard O. Forde, Philip J. Hefner, Hans Schwarz, Paul R. Sponheim. Traduzido por Gerrit Delfstra, Luís H. Dreher, Geraldo Korndõrfer, Luís M. Sander. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1990. Vols. I e II Na contracapa se anuncia que os autores, "em virtude de sua identificação cora a tradição luterana. .. escrevem com urna orientação ecumênica e sem atitude sectária, visando servir à Igreja toda". Já avisa que essa "contextualidade consciente da teologia não deve ser pervertida a ponto de se postular um isolacionismo tão arbitrário, auto-suficiente e ilusório quanto a pretensa universalidade de teologias formuladas em outros continentes". No prefácio de Walter Altmann "os autores se confessam devedores dos grandes teólogos protestantes da metade deste século, como Barth, Bultmann e T i l l i c h " por uma "exigência de contextualidade". Acha que a Dogmática Cristã fazia falta no cenário do "extraordinariamente importante projeto coletivo de construção teológica latino-americana" e das "significativas contribuições dogmáticas nas obras de teólogos individuais, como Leonardo Boff e Juan Luis Segundo". Com isso já está caracterizada suficientemente a obra. No entanto Gari E. Braaten e Robert W. Jenson ainda sublinham esta característica, dizendo em seu prefácio que "o fato do pluralismo teológico é ineludível". Por essa razão, "embora todos nós nos situemos dentro da tradição luterana, as diferenças entre nós (autores da dogmática), e as conseqüentes incoerências do livro, são consideráveis". Não sabem, se é bênção ou maldição quando "em alguns pontos os autores simplesmente discordam, ou ocasionalmente esse desacordo chega ao ponto da contradição". Acham que a centralidade confessional do "artigo da justificação somente pela fé" é um "erro reducionista" que impediu "uma recepção plena da tradição dogmática católica" e "produziu uma forma particularmente desumana de sectarismo luterano". Eles confiam, que "os participantes deste projeto de dogmática estão livres dele". Nos seus prolegômenos à dogmática Braaten ainda assinala que "a teologia confessional trabalhou para repristinar a dogmática pré-iluminista da Igreja" (p. 60). Ele reconhece que há ainda correntes teológicas "tentando restaurar velhas moda122 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 lidades de ortodoxia" (p. 62). Na sua análise da Escritura Sagrada, que não identifica com Palavra de Deus, mas com " u m meio da graça" (p. 83), Braaten verifica que "o biblicismo fundamentalista não diminuiu de vigor, ainda que não desfrute de muito prestigio nas grandes escolas teológicas" (p.. 91). Numa enciclopédia de opiniões teológicas divergentes, como o livro pretende ser pelo acima exposto, em que "uma afirmação teológica é uma projeção da imaginação" (p. 41), é de se admirar que Braaten sustente afirmações bíblicas e confessionais como "a justificação através da fé somente". Para ele "este artigo constitui a base existencial da vida da Igreja no mundo" (p. 76), embora se precise perguntar se o entende como um eleito calvinista ou um pecador salvo pela fé no evangelho de Jesus Cristo. Em todo o caso Braaten opta pelas "grandes escolas teológicas" e não por um confessionalismo bíblico. A obra está dividida em 12 loci, abrangendo os assuntos clássicos da teologia: Prolegômenos, 0 Deus Triuno, O conhecimento de Deus, A criação, O pecado e o mal, A pessoa de Jesus Cristo, A obra de Cristo, 0 Espírito Santo, A Igreja, Os meios da graça, V i d a Cristã, Escatologia. Martim C. Warth P E L O E V A N G E L H O DE CRISTO. Por Martinho Lutero . Obras Selecionadas de Momentos Decisivos da Reforma . Seleção e publicação pela Comissão Interluterana de Literatura ( C I L ) . Tradução de Walter O. Schlupp. Porto Alegre/São Leopoldo: Concórdia/Sinodal, 1984. Esta é a primeira tentativa de apresentar uma coletânea de escritos de Lutero ao público no Brasil. 0 ocasião foi o 5º centenário do nascimento de Lutero (nasceu em 10.11.1583). Já havia escritos de Lutero publicados em português, como o Catecismo Menor, Da Liberdade Cristã, Da Autoridade Secular, e Do Cativeiro Babilônico da Igreja. Mas faltavam muitos outros escritos importantes. Desta forma surgiu esta tentativa de fazer mais alguma coisa, até que pudessem ser publicadas as Obras Selecionadas em grande estilo. Pelo Evangelho de Cristo é um, volume que não pode faltar na biblioteca do pastor, do estudante de teologia e da congregação cristã luterana, bem como nos lares dos cristãos. A introdução, escrita por Nestor Beck, dá um excelente apanhado hisIGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 123 tórico da vida e da obra de Lutero. Lutero contribui com os seguintes tratados: Prefácio ao Primeiro Volume da Edição Completa dos Escritos Latinos; Debate para o Esclarecimento do V a lor das Indulgências (95 Teses); Um Sermão sobre a Indulgência e a Graça; Debate e Defesa do F r e i Martinho Lutero contra as Acusações do Doutor Eck; Carta de Lutero a Espalatino; Sermão sobre as Duas Espécies de Justiça; à Nobreza Cristã de Nação Alemã, acerca do Melhoramento do Estado Cristão; O Discurso de Lutero na Assembléia de Worms; Sermão no Domingo de Invocavit; Carta aos Cristãos de Estrasburgo contra o Espírito Entusiástico; Prefácio ao Novo Testamento; Prefácio à Epístola de São Paulo aos Romanos; Fundamento e Motivação da Escritura para o Direito e a Autoridade de uma Assembléia ou Comunidade Cristã Julgar sobre Toda Doutrina, Chamar, Nomear, e Demitir Professores; Prefácio do Hinário de Wittenberg; Um Novo Prefácio de Martinho Lutero; Os Hinos; Carta de Lutero a Ludovico Senfl; Missa e Ordem do Culto Alemão; Resposta a Diversas Perguntas Referentes aos Votos Monásticos, para todos Aqueles que estão Deixando sua Condição de Padre, Monge ou Freira, a Título de Apoio; O Manual do Batismo Revisado; Manual de Casamento para os Pastores em Geral; Exortação ao Sacramento do Corpo e Sangue do Nosso Senhor; Confissão (Adendo a Sobre a Santa Ceia de Cristo); Um Sermão sobre Sofrimento e Cruz; Sermão no Domingo de Páscoa em Coburgo; Como se Deve Orar, para o Mestre Pedro Barbeiro; Carta a seu Filho Hans. A maioria dos tratados são clássicos de Lutero e refletem muito bem a sua teologia. Sua Confissão é um modelo de confissão de fé, esperança e certeza de um teólogo cristão. Martim C. Warth OBRAS S E L E C I O N A D A S . Por Martinho Lutero. Seleção pela Comissão Obras de Lutero: Joachim Fischer, Martim C. Warth, Martin N. Dreher, Donaldo Schüler, Nestor J . L . Beck, Luis M. Sander. Publicação da Comissão Interluterana de Literatura (CIL). São Leopoldo/Porto Alegre: Sinodal/Concórdia, Vols. I e II, 1987/ 1989. Obras de Lutero dispensam de apresentação. É o grande teólogo do século X V I que desafiou a Igreja a fazer a Reforma tão necessária, com uma volta à Escritura Sagrada. 124 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 O vol. I: Os Primórdios, traz os Escritos de 1517 a 1519. Em excelente tradução de Walter 0. Schlupp, Martinho L. Hasse, Ilson Kayser, Luís M. Sander e Annemarie H ö h n temos os seguintes tratados: Debate sobre a Teologia Escolástica, Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgências (95 Teses), Um Sermão sobre a Indulgência e a Graça, O Debate de Heidelberg, Explicações do Debate sobre o Valor das Indulgências, Sermão sobre o Poder da Excomunhão, Relato do Fr. Martinho Lutero, Agostiniano, sobre o Encontro com o Sr. Legado Apostólico em Augsburgo, Apelação do F r . Martinho Lutero ao Concilio, Uma Breve Instrução sobre Como Devemos Confessar-nos, Sermão sobre as Duas Espécies de Justiça, Um Sermão sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo, Debate e Defesa do Fr. Martinho Lutero contra as Acusações do Dr. João Eck, Comentário de Lutero sobre a 13ª Tese a respeito do Poder do Papa (Enriquecido pelo Autor), Comentários de Lutero sobre suas Teses Debatidas em Leipzig, Um Sermão sobre a Preparação para a Morte, e no final três Sermões sobre os Sacramentos; Um, Sermão sobre o Sacramento da Penitência, Um Sermão sobre o Santo, Venerabilíssimo Sacramento do Batismo, Um Sermão sobre o Venerabüíssimo Sacramento do Santo e Verdadeiro Corpo de Cristo e sobre as Irmandades. O V o l . II: O Programa da Reforma, traz os Escritos de 1520 numa tradução de Martin N. Dreher, Ilson Kayser, Cláudio Molz, Luís M. Sander e Walter O. Schlupp. Lutero trata dos seguintes temas: Catorze Consolações; Modo de Confessar-se; Condenção Doutrinai dos Livros de Martinho Lutero, Feita por Alguns Mestres Nossos de Lovaina e Colônia; Das Boas Obras; Breve Forma dos Dez Mandamentos, Breve Forma do Credo, Breve Forma do Pai-Nosso; A respeito do Papado em, Roma contra o Celebérrimo Romanista de Leipzig; Um Sermão sobre a Excomunhão; Um Sermão a respeito do Novo Testamento, Isto É, a respeito da Santa Missa; À Nobreza Cristã da Nação Alemã, acerca da Melhoria do Estamento Cristão; Do Cativeiro Babilônico da Igreja; Carta de Lutero a Leão X, Sumo Pontífice; Tratado de Martinho Lutero sobre a Liberdade Cristã; Por que os Livros do Papa e de Seus Discípulos Foram Queimados pelo Doutor Martinho Lutero. O programa de publicações das Obras Selecionadas prevê um total de dez volumes. Os volumes 3 e 4 já estão traduzidos e devem aparecer na imprensa em pouco tempo. Todo pastor e estudante de teologia vai se beneficiar com estas leituras em Lutero, mas a tradução está em linguagem acessível ao grande público, às universidades, às paróquias e pessoas que queiram conhecer Lutero. IGREJA LUTERANA/NÚMERO 1/1991 125 Todos os tratados de Lutero vêm com uma introdução escrita por membros da Comissão Obras de Lutero e muitas notas de pé-de-página que ajudam o leitor a conhecer melhor a história e as circunstâncias que motivaram os escritos de Lutero. Desta forma os volumes se constituem em valiosa enciclopédia e manual de informações sobre o período da Reforma luterana e os, pais da igreja citados por Lutero. Martim C. Warth 126 IGREJA L U T E R A N A / N Ú M E R O 1/1991 LA SALLE Composição, impressão e acabamento na Tipografia e Editora La Salle - Canoas, RS 19 9 1