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Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2013. ISSN 2317-9759
ANÁLISE DOS CÂNIONS URBANOS NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA –
PR: OS ASPECTOS TERMO-HIGROMÉTRICOS
GABRIEL, Adrielle Laisa
CRUZ, Gilson Campos Ferreira da
Introdução
O processo de urbanização e o decorrente crescimento urbano são responsáveis por
alterações climáticas que ocorrem onde estas são construídas, surge à preocupação com o
conforto e bem-estar da população que mora dentro delas, em razão disto, procura-se estudar as
causas e efeitos do aumento da temperatura na vida dos habitantes da cidade e os fatores e
elementos do clima que relacionados ajudam a interferir no campo térmico na área urbana. O
crescimento urbano e o processo urbanização, intensificado no século XX como Cajazeira e
Zanella (2009) colocam, “implicou num quadro de instabilidade total das cidades que se
formavam, com desequilíbrio populacional entre as áreas urbana e rural, ocasionando um
‘inchaço’ dos grandes centros urbanos...”, muitas vezes tidos como sinônimo de
desenvolvimento e progresso.
No Brasil esse processo intensificou-se na década de 1950, tornando-se um país urbano
em poucas décadas, dados mostram que de 31,2% da população residindo em domicílios urbanos
em 1940, para 44,7% em 1960; 67,6% em 1980; 75,6% em 1991 e 78,4% em 1996 (MATOS,
2000 p. 7), já dados recentes do censo mostram que a população urbana era de 81,25% em 2000,
e de 84,35% em 2010 (IBGE).
Em Ponta Grossa não poderia ser diferente, observando os dados do IBGE, a cidade
possui atualmente uma população de mais de 311.000 habitantes, da qual 305.000
aproximadamente moram na área urbana, número considerável que representa um aumento de
12,5 % apenas na última década, onde a população era de 266.552 habitantes.
O fato é que o êxodo rural e a migração para os grandes centros só aumentaram nas
últimas décadas e a urbanização aconteceu de forma muito desigual e como Monteiro (2003)
coloca, acabou destruindo as perspectivas de planejamento, ocasionando grande segregação
sócio espacial e consequentemente grande degradação socioambiental.
Dessa forma, a paisagem natural é substituída por um ambiente construído, alterando o
balanço energético e hídrico da cidade fazendo com que ela sofra consideráveis mudanças em
sua qualidade, através da retirada da cobertura vegetal e a impermeabilização do solo,
interferindo no escoamento superficial da água e no aumento da poluição atmosférica causado
por indústrias e veículos.
Na urbanização, o processo verticalização tem grande influência na cidade e seus
arredores, através das trocas de calor do tecido urbano.
Como Danni-Oliveira (2003 p. 158) explica “A verticalização, ao configurar-se como
verdadeira cortina de concreto, tente a alterar a rugosidade da superfície local, ora canalizando os
ventos, ora atuando como barreiras de livre circulação”, além disso, completa que “os prédios
agem como armazenadores térmicos, modificando as trocas de energia e assim propiciando a
criação de campos térmicos diferenciados”.
Em Ponta Grossa o marco inicial da verticalização, segundo Löwen Sahr (2001) ocorreu
mais precisamente em 1947 na rua XV de novembro que abrigava o centro do comércio da
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cidade tendo como prédio principal o Edifício Ópera. Na década de 50 intensifica-se o processo
de verticalização, no eixo leste-oeste, ocorrendo também na Avenida Vicente Machado.
O cânion urbano é “um espaço tridimensional, formado por uma rua e os edifícios que a
ladeiam” (VILELA, 2007 p. 59), onde se leva em consideração a disposição das edificações,
relacionando a altura dos edifícios com a largura da rua. Ainda segundo Vilela (2009), as
temperaturas de superfície e o balanço da radiação estão diretamente ligados à geometria do
cânion.
Para se analisar as condições térmicas dos cânions urbanos utiliza-se o fator de visão do
céu (Sky View Factor):
“é um parâmetro utilizado para caracterizar a entrada de radiação em áreas urbanas e
para expressar a relação entre a área visível do céu e a porção do céu coberto por
edificações e/ou vegetações vistos de um ponto especifico de observação” (CARFAN,
2011).
Esse cálculo indica o valor de quanto de céu que está sendo obstruído, seja por
edificações ou arvores, acima de um ponto da superfície (SALVI SAKAMOTO, 2001 p. 168).
Os valores variam de 0 a 1, sendo que, quanto mais perto de 1 menor é a obstrução do céu,
podendo determinar as trocas de energia que ocorrem em um ponto na superfície. “Assim,
quanto maior a capacidade de visão do céu, maior a capacidade de resfriamento. ” (VILLELA,
2009 p. 60). Geiger (1961 p. 494) destaca que qualquer edifício pode tornar um ambiente de
exposição sul num clima quente e seco, e se voltado para norte um clima totalmente úmido e
frio. Tendo assim a exposição e orientação do cânion relação direta com a obstrução e o campo
termo-higrométrico nesses locais.
Objetivos
Partindo de tais princípios o objetivo da pesquisa visa caracterizar os cânions urbanos
em Ponta Grossa em duas situações no centro da cidade no que diz respeito as suas condições
termo-higrométricas e de fator de visão do céu.
Metodologia
Localizada no Centro-Leste do Paraná, a 110 km da capital Curitiba, Ponta Grossa
situa-se na região dos Campos Gerais numa área total de 2.112,6 km² e com 311 mil habitantes,
sendo por isto a quarta maior cidade do Paraná em termos populacionais. Suas coordenadas de
referência são -25° 05' 42'' e -50° 09' 43'' possuindo uma altitude média de 975 m.
Para este trabalho serão apresentados dados parciais de 3 pontos (Figura 1) ao longo da
rua XV de novembro localizados entre as ruas Sete de Setembro e Coronel Dulcidio para a coleta
de dados de temperatura e umidade do ar, feitos por um termo-higrômetro com datalogger na
análise do campo termo-higrométrico que registra a temperatura e umidade, quando programado,
a cada dez segundos, portanto a medição foi realizada por meio de transecto em cada ponto
percorrendo a largura da rua, sendo no mesmo local feita as fotos com a lente olho de peixe para
o cálculo do Sky View Factor.
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Figura 1 – Pontos de coletas de dados.
Fonte: Google
Org: Gabriel, A. L. 2013.
Para o cálculo dos valores da obstrução do céu foi utilizado um software idealizado por
Matzarakis, A., Rutz, F., Mayer, H. (2007), o Rayman é um sistema de dados gráficos, onde é
possível a visualização de áreas sombreadas pelos obstáculos naturais e artificiais, as fotos
tiradas da lente olho de peixe foram inseridas neste programa, onde se obteve os índices de
obstrução do céu (MINELLA; ROSSI; KRÜGER, 2009).
Resultados E Discussão
Em campo realizado no dia 08 de outubro de 2013, foi feito o registro em três horários
durante o dia, tarde e noite por volta das 9h, 15h e 21h.
1º ponto - Edifício Comercial Vidal Correia
O primeiro ponto medição fica entre as ruas sete de setembro e Eng. Schamber, entre
um dos maiores prédios da rua dispostos paralelamente. Dessa forma o fator de visão do céu foi
o menor apresentado dos três índices 0.480, sendo que quanto mais próximo de 0 maior será a
obstrução do céu e quanto mais próximo de 1, quase não haverá, tendo obstrução maior a NE e
S. Os dados registrados durante a manhã apresentaram a maior amplitude com a queda na
umidade e alta na temperatura, na medição da tarde e da noite apenas a umidade teve maior
variação sendo, coincidindo nesses horários a velocidade do vento aonde a noite chegaram a 5,2
m/s caindo a umidade e na segunda com ventos variando de 0 a 2 m/s a umidade apresentou
instabilidade, neste ponto o ar quente vindo da parte mais baixa, onde se localiza o parque
ambiental, sobe, concentrando-se nos cânions, tendo assim, a umidade, relação direta com o
vento.
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Figura 2- Foto olho de peixe ponto 1.
Figura 3 – Movimento aparente do sol ponto1.
2º PONTO
Com obstrução apenas na parte norte este ponto foi o que apresentou o maior fator de visão do
céu 0.934, localizado entre as ruas Sant’ana e Augusto Ribas, nos dois lados temos edificações
apresentam 2 pavimentos, justificando assim o índice de FVC. Durante os registros este ponto
apresentou sol nos dois períodos manhã e a tarde, justificando assim o aumento na temperatura,
nos dois períodos, já a noite a temperatura teve uma variação de 0,5ºC ficando entre 14,5ºC a
15ºC, com a umidade sempre seguindo de forma inversa. Neste ponto também houve menor
vento, sendo registrado apenas com a passagem dos carros, o que não teve relevância nos índices
de temperatura e umidade.
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Figura 4 – Lente olho de peixe ponto 2
Figura 5 – Movimento aparente do sol ponto 2
3º PONTO
No terceiro ponto localizado entra as ruas Augusto Ribas e a Coronel Dulcídio, os edifícios em
ambos lados da rua apresentam 7 pavimentos, o fator de visão do céu obteve o índice de 0. 553,
tendo obstrução ao norte e no horizonte NW e também ao sul, aqui o sol é obstruído a norte
durante toda manhã e no inicio da tarde, deixando este ponto na maior parte do tempo na sombra,
esta tendo neste ponto relação direta com o campo termo-higrométrico, o que irá justificar a
queda ou estabilidade na temperatura e consequentemente aumento na umidade nos três períodos
de medição, como foi ocorrido.
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Figura 6 – lente olho de peixe ponto 3.
Figura 7 – movimento aparente do sol ponto 3.
Considerações Finais
Estes resultados são parciais e fazem parte do trabalho de conclusão de curso ainda em
andamento. O que se percebe com esta análise, é que a Rua XV de Novembro, por sua relação
altura/largura, apresentando em sua maioria prédios de vários pavimentos, e uma rua de apenas
uma faixa em sentido único pode ser considerada um Cânion Urbano, que por sua vez terá
grande influencia na obstrução do céu, como no ponto 1 e no ponto 3. O que pode-se observar é
nos casos mostrados o maior fator de visão do céu, no caso ponto 2, as temperaturas
apresentaram-se maiores, em relação aos de fator de visão do céu menor, ponto 1 e 3, onde as
temperaturas apresentaram-se menores devido ao maior sombreamento, em contrapartida, o
ponto 2 apresentou menores índices de umidade que nos outros pontos. Mostrando assim a
relação do sombreamento pela da obstrução do céu dos cânions urbanos no campo termohigrométrico nesses pontos.
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