o social na poesia de josé godoy garcia - ileel

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O SOCIAL NA POESIA DE JOSÉ GODOY GARCIA
Mestranda Ionice Barbosa de Campos
Universidade Federal de Uberlândia – UFU
[email protected]
Este trabalho intenta expor parte de uma futura dissertação que traz como tema
central localizar o expoente social na poesia de um autor goiano, ainda pouco
conhecido, mas que foi basilar para a concretização da poesia moderna em Goiás. Nesse
sentido, nossos objetivos estão centrados em examinar a poesia de José Godoy Garcia
em sua relação com a sociedade; analisar linhas de força do modernismo brasileiro e da
modernidade poética a partir da obra de Godoy Garcia; comparar o autor com outros
poetas de expressão nacional; levantar e rever a recepção crítica do autor e concorrer
para redimensionar a fortuna crítica do poeta, entre outros.
Dessa forma é que podemos explicitar que o princípio norteador dessa pesquisa
está ligado à questão da repercussão, por assim dizer, das obras de autores interioranos,
especificamente, o poeta José Godoy Garcia que é um autor goiano. Isto é, por que
tantas pessoas se dedicam tanto a estudos, debates, críticas e afins de autores que já são
consagrados como, por exemplo, Mário Quintana e Oswald de Andrade? Não que eles
não sejam dignos de tal ato, ao contrário, são imensamente merecedores deste feito.
Mas, por que não se dedicar um pouco também aos nossos “poetas menores”, já que
eles também se dispuseram de corpo e alma a esse mundo.
Destarte, chegamos à pergunta: onde estão os estudos, teses e dissertações sobre
a obra de José Godoy Garcia? Por que não encontramos tantos ensaios, artigos, e outras
publicações sobre esse poeta que foi basilar para a produção literária em Goiás? E é
procurando responder, não exaustivamente, a essas perguntas que chegamos à conclusão
de que se faz necessário um estudo um pouco mais aprofundado da obra de José Godoy
Garcia. No entanto, não podemos analisar toda a obra do autor, por isso faremos um
recorte, focando analisar a produção do poeta em questão no que tange ao aspecto social
abordado em suas poesias.
No que tange à vida e obra do autor acima mencionado evidenciamos que José
Godoy Garcia foi um poeta importante para a concretização da poesia moderna em
Goiás. Nasceu em Jataí (GO) no ano de 1918, formou-se em Direito, em 1956 mudou-se
para Brasília e sempre participava de atividades políticas de esquerda. Godoy Garcia
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morreu em 1999 com 80 anos de idade e 50 anos de carreira. Durante seu percurso na
literatura escreveu romances, contos e poesias, tendo publicado vários livros.
Nos anos 1940, surgiu um grupo de jovens poetas que revolucionou a poesia em
Goiás. Desse grupo, participava José Godoy Garcia juntamente com alguns outros
poetas contemporâneos a ele como, Domingos Felix de Sousa, Bernardo Élis, José
Décio Filho, João Accioli, entre outros. Esse grupo foi responsável por trazer o
modernismo ao Estado do qual eles faziam parte e dessa forma, quando começa a
ganhar corpo, no Brasil, a geração de 45, com seu formalismo e antimodernismo, esses
jovens fazem acontecer, um pouco anacronicamente, o modernismo em Goiás.
Gilberto Mendonça Teles (1962) em Poesia em Goiás discorre sobre esse “grupo
de revolucionários” e faz menção à obra de cada um. No que tange ao poeta José Godoy
Garcia, que foi muito influenciado pelos poetas de 22, Teles (1962) evidencia que sua
obra seguia a característica estilística da obra de Mário de Andrade, a quem ele dedica
seu primeiro livro, Rio do Sono (1948). Sua antologia Poesias será a corpus deste
projeto.
Vale ressaltar que Poesias é o resultado da união dos outros livros de poesia de
José Godoy Garcia. No entanto, temos uma cronologia, constituída pela forma inversa,
da obra poética do autor em questão. No livro escolhido para ser analisado temos então
a reunião de Os Dinossauros dos Sete Mares (1988), Os Morcegos (1987), Flautista e o
Mundo Sol Verde e Vermelho (1994), A Última Nova Estrela (1999), Araguaia
Mansidão (1972), Entre Hinos e Bandeiras (1985), A Casa do Viramundo (1980) e por
último Rio do Sono (1948).
A obra do autor mencionado não tem sido muito debatida e analisada entre os
pesquisadores, nos meios acadêmicos ou até mesmo pela crítica literária. Nesse sentido,
pretendemos no desenvolver desse trabalho abordar aspectos característicos do escritor
e ainda ponderar questões que discorrem sobre o aspecto social em sua obra,
tencionando contribuir com a fortuna crítica referente ao poeta em questão.
José Godoy Garcia foi um dos responsáveis pela “modernização” da poesia em
Goiás, trazendo para o estado, juntamente com outros companheiros, o que se aflorava
no campo poético, ainda que um pouco tardiamente. Ele tem uma poesia de cunho
social elevado, em que mostra não só os valores de seu estado, mas retrata também o
contexto histórico da época.
A partir do modernismo, época em que os literatos começaram a se opor à poesia
que vinha sendo escrita até então, iniciou-se o período da composição da poesia em
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versos mais livres, com poucas rimas e um pouco voltada para a prosa, no sentido de
não “obedecerem” às regras pré-estabelecidas, no que diz respeito ao metro e às sílabas.
Para Candido (2000), Verney era um desses poetas que, além de preferir uma
composição sem rimas, optava por uma temática quotidiana e o aproveitamento da
linguagem diária e corriqueira, vez que: “repudiava, pois a mania versejante, uma das
taras do tempo, reservando o exercício do verso às vocações verdadeiras dos que fossem
capazes de escrever com a lógica, naturalidade e modernidade”. (CANDIDO, 2000,
p.46)
Essa modernização foi efetivamente demarcada com a Semana de Arte Moderna,
a qual baliza a entrada do Modernismo artístico e literário em nosso país no bojo de um
momento histórico dos mais controvertidos e ricos que já tivemos.
Nesse sentido, vários escritores do século XX, a exemplo de autores
antecedentes a eles, começaram a escrever seus poemas voltados para outros temas, de
maneira que optaram por destacar em suas poesias o que até então estava fora das
margens poéticas como os objetos e os acontecimentos mais quotidianos, os seres
marginalizados pela sociedade e excluídos da tradição poética, por exemplo, a velhice e
os objetos sem valor. Isso passou a ser motivo para poetizar, ainda com mais
veemência, aquilo que já faziam poetas anteriores ao Modernismo.
Destarte, depois que se deu o início a tal estilo poético os escritores vêm cada
vez mais se revelando e tecendo poesias que são até mesmo consideradas marginais por
não terem um conteúdo considerado de valor, na perspectiva de que as poesias estariam
à margem do meio social em que deveriam estar integradas, nas leis e normas
convencionais.
Nesse sentido, as poesias assumem o caráter de tratar a realidade e estão
concentradas no âmbito de revelar o que está implícito, o que foi deixado de lado pela
sociedade, o que muitos acham irrelevante. E é nesse contexto que está ligada uma das
temáticas encontradas na obra de José Godoy Garcia.
José Guilherme Merquior (1996) defende a abertura da poesia ao social, e em
consonância com ele é que podemos explicitar que uma lírica social de valor só é
possível através da íntima compreensão do social e da interpretação histórica, o que
exige uma penetração no problema social.
A nova lírica não se basta num mero moralismo; é evidente que não
chegará a nenhum valor fora da íntima compreensão do social, nem
saberá propor uma formação criadora sem interpretação histórica
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concreta. Interpretação desse tipo só é, hoje, possível na base de uma
penetração no problema social – na questão social (MERQUIOR,
1996, p.203)
E é sob tal perspectiva que esta pesquisa visa mostrar como José Godoy Garcia trabalha
com o que é de novo na poesia pelo prisma social, do que acontece à sua volta. São
poemas “livres”, que remetem à prosa, contam histórias, narram fatos e ações diversas.
Para exemplificar o que foi exposto até aqui, destaquemos um poema Goiânia,
87 de José Godoy Garcia (1999, p.28):
Foi em Goiânia, 87, onde a negra
Luz do césio veio com sua umbela de átomo,
Nervura de ódio e crime ferir a linfa
E medula da vida mentindo solopando
A dignidade do chão minando sua água
azul alume abrindo a boca da morte (...)
em que podemos verificar a constante linha que nos leva a entender que o poema se
trata de um acontecimento “histórico”, por assim dizer, na cidade onde vivia o poeta
então. Depreende-se uma crítica ao episódio que ocorreu e do qual muitas foram as
vítimas. Essa é uma forma do poeta homenagear aos que tiveram suas vidas ceifadas
pela fórmula química e aos seus próximos, e também uma crítica aos que, de uma forma
ou de outra “contribuíram” para que isso acontecesse.
E não apenas nesse poema, mas em muitos outros também - que apesar de serem
versificados, com certo ritmo, e até mesmo uma musicalidade - o autor destaca pontos
que se aproximam bastante do contexto social e que evidenciam ocorrências como a do
poema citado e outras mais.
Para sedimentar tal estudo recorreremos à teoria da lírica e enfatizaremos os
estudos que priorizam a relação complexa entre poesia e sociedade, como é o caso de
trabalhos que recebem a assinatura de Alfredo Bosi, Antonio Candido, José Guilherme
Merquior, T. Adorno, Walter Benjamin, entre outros.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANDIDO, Antônio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. 8. ed.
São Paulo: T. A. Queiroz, 2000.
GARCIA, José Godoy. Poesia. 1ª ed. Brasília: Thesaurus, 1999.
MERQUIOR, José Guilherme. Razão do poema. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
TELLES, Gilberto Mendonça. A Poesia em Goiás. Goiânia: Ed. da UFG, 1962.
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