ISSN 0872-8844 N.º105 . DEZEMBRO 2012 . 6,5€ enfermagem em revista A ENFERMAGEM EM AÇÃO ENTREVISTA ENFERMEIRO RUI FONTES FALA-NOS DA SUA EXPERIÊNCIA NA GESTÃO DE LARES DE IDOSOS CIÊNCIA E TÉCNICA ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR: EXISTEM OU NÃO COMPETÊNCIAS? SUMÁRIO PUB SUMÁRIO P04 EDITORIAL P05 ACTUALIDADES ORIGEM DO CONSUMO DE ÁLCOOL PODE ESTAR NUM MACACO PRIMITIVO P06 ACTUALIDADES OS NÍVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM CICLO DIÁRIO P07 ACTUALIDADES COMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE FAZER COM QUE O SEU FILHO NASÇA JÁ VICIADO P08 ACTUALIDADES AS NOZES OCUPAM A POSIÇÃO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORAÇÃO SAUDÁVEL P10 ENTREVISTA ENTREVISTA COM O ENFERMEIRO RUI FONTES CUIDAMOS DA SUA FORMAÇÃO Mais informações em www.sinaisvitais.pt P16 ÉTICA RESPOSTA À EUTANÁSIA ENQUANTO PRÁTICA ÉTICA P21 CIÊNCIA & TÉCNICA ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA PRÉ-HOSPITALAR: EXISTEM OU NÃO COMPETÊNCIAS? P27 CIÊNCIA & TÉCNICA VIVÊNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGÊNCIA P33 CIÊNCIA & TÉCNICA TRABALHO DE EQUIPA NA URGÊNCIA PEDIÁTRICA P39 CIÊNCIA & TÉCNICA VIOLÊNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVIÇO DE URGÊNCIA P46 CIÊNCIA & TÉCNICA A COMUNICAÇÃO COM O DOENTE VENTILADO P55 CIÊNCIA & TÉCNICA TÉCNICA ASSÉTICA: SIM OU NÃO? P59 GESTÃO E LIDERANÇA CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANÇA NA ADOPÇÃO DE PRÁTICAS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS LOTE 19, EIRAS 3020-265 COIMBRA telefone 239 801 020 fax 239 801 029 FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE E ADMINISTRAÇÃO Formasau, Formação e Saúde, Lda. Parque Empresarial de Eiras, Lote 19, Eiras - 3020-265 Coimbra T 239 801 020 F 239 801 029 CONTRIBUINTE 503 231 533 CAPITAL SOCIAL 21.947,90 € DIRECTOR António Fernando Amaral DIRECTORES-ADJUNTOS Carlos Alberto Margato / Fernando Dias Henriques EDITORES Arménio Guardado Cruz / João Petetim Ferreira / José Carlos Santos / Paulo Pina Queirós / Rui Manuel Jarrô Margato ASSESSORIA CIENTÍFICA Ana Cristina Cardoso / Arlindo Reis Silva / Daniel Vicente Pico / Elsa Caravela Menoita / Fernando Alberto Soares Petronilho / João Manuel Pimentel Cainé / Luís Miguel Oliveira / Maria Esperança Jarró / Vitor Santos RECEPÇÃO DE ARTIGOS Mariana Cruz Gomes CORRESPONDENTES PERMANENTES REGIÃO SUL Ana M. Loff Almeida / Maria José Almeida REGIÃO NORTE M. Céu Barbiéri Figueiredo MADEIRA Maria Mercês Gonçalves COLABORADORES PERMANENTES Maria Arminda Costa / Nélson César Fernandes / M. Conceição Bento / Manuel José Lopes / Marta Lima Basto / António Carlos INTERNET www.sinaisvitais.pt E-MAIL [email protected] ASSINATURAS Mariana Cruz Gomes / Célia Margarida Sousa Pratas INCLUI Revista de Investigação em Enfermagem (versão online) PREÇOS INDIVIDUAL 1 ANO 31€ 2 ANOS 57€ UNIÃO EUROPEIA 1 ANO 58€ RESTO DO MUNDO 1 ANO 87€ INSTITUIÇÕES/ SERVIÇOS 1 ANO 45€ AVULSO POR NÚMERO 6,50€ FOTOGRAFIA 123rf© IMPRESSÃO FIG Induústrias Gráficas, SA, Coimbra TIRAGEM MÉDIA 6.500 exemplares NÚMERO DE REGISTO 118 368 DEPÓSITO LEGAL 88306/ 95 ISSN 0872-8844 3 EDITORIAL ACTUALIDADES EDITORIAL SECÇÃO DA RESPONSABILIDADE DE ANTÓNIO FERNANDO AMARAL ORIGEM DO CONSUMO DE ÁLCOOL PODE ESTAR NUM MACACO PRIMITIVO antónio fernando amaral, Enfermeiro [email protected] DEZEMBRO 2012 Vivemos num país em crise, as empresas, todas elas, estão financeiramente mal, as pessoas têm medo do futuro. A questão é: será que isto vai durar? A questão que também temos que fazer é: Como vai ser depois da crise e como me vou preparar para sair bem dela? 4 O capital humano é o capital dos capitais, o investimento na formação e no conhecimento é um investimento no capital humano. O governo não está a perceber isto e está apostado em desvalorizar e até desperdiçar o seu melhor capital, mas cada um de nós também tem que pensar na melhor maneira de se apresentar quando a situação retomar a competitividade e aí aqueles que estiverem melhor preparados são os que “sobreviverão”. Apostar na formação, quer académica quer complementar, frequentando cursos de cursa duração, pós-graduações, etc. é apostar no futuro, é apostar no capital humano. Alguns dizem, mas para quê? O que é que acrescenta? Eu digo que a formação acrescenta sempre. Ficamos sempre mais enriquecidos, mais conhecedores, com outras visões sobre as coisas, outras formas de fazer e de dizer, mais preparados para enfrentar as adversidades e para resolver os problemas que no dia-a-dia se nos colocam. Sei que, do ponto de vista da gestão financeira familiar, o investimento na formação não é prioritário em relação à comida, à habitação etc, mas cuidado, se não lhe dispensarmos alguma atenção podemos ficar a perder. Os cursos de mestrado começam a ficar desertos ou com pouca procura, os cursos e jornadas ficaram vazios de repente, porquê? Claro que a resposta é a falta de dinheiro, ou será que a depressão que se abateu sobre, nomeadamente os enfermeiros, nos está a fazer esquecer a importância deste investimento? Os mais preparados são os que melhor enfrentarão os desafios do futuro. O conhecimento é a melhor arma para combater os preconceitos, os autoritarismos, a demagogia, as novas formas de totalitarismo. O conhecimento é felicidade e liberdade. Invistam no conhecimento. Comer frutas fermentadas do chão pode ter aberto o caminho para a capacidade de digerir etanol. A capacidade de metabolizar o etanol poderia ter surgido no ancestral comum de chimpanzés, gorilas e seres humanos à medida que este macaco ancestral se tornou mais terrestre e começou a comer frutas fermentadas no chão. O gosto pelo álcool pode ser um desejo antigo. A capacidade de metabolizar o etanol - o álcool no vinho, cerveja e destilados - pode ter a sua origem no ancestral comum de chimpanzés, gorilas e seres humanos há cerca de 10 milhões de anos atrás, talvez quando este ancestral se tornou mais terrestre e começou a comer frutas em fermentação no chão. O químico Steven Benner, da Fundação para Evolução Molecular Aplicada, em Gainesville, na Flórida, chegou a essa conclusão ao analisar enzimas que metabolizam o álcool de primatas extintos. Benner e seus colegas estimaram o código genético das enzimas, a partir de enzimas produzidas no laboratório e, em seguida, analisaram como eles funcionam de maneira a entender como eles mudaram ao longo do tempo. Os seres humanos dependem de uma enzima chamada álcool desidrogenase 4, ou ADH4, para metabolizar o etanol. A enzima é comum em todo o esôfago, estômago e intestinos, e é a enzima que primeiro entra em contato com o que uma pessoa bebe. Entre os primatas, nem todos os ADH4s são os mesmos - alguns não podem metabolizar eficazmente o etanol. Os resultados mostraram que a maioria dos antepassadosde primatas não teria sido capaz de metabolizar o etanol, mas no ponto da ramificação que levou a gorilas, chimpanzés e humanos - um ancestral que viveu cerca de 10 milhões de anos atrás - a enzima torna-se um digestor de álcool poderoso. Em comparação com as enzimas anteriores, esta foi 50 vezes mais eficiente tendo sido capaz de quebrar o nível de etanol encontrado nas modernas bebidas alcoólicas. Com uma casca ou pele danificada, a levedura pode ter invadido a fruta e os seus açúcares fermentados em etanol. Assim, os indivíduos que poderiam digerir etanol teriam sobrevivido melhor do que aqueles que não podiam. Isso também explica por que a capacidade de metabolizar o etanol não evoluiu nos primatas que habitam sobretudo em árvores como os orangotangos onde raramente encontramos frutos fermentados. 5 ACTUALIDADES ACTUALIDADES OS NÍVEIS DE INSULINA AUMENTAM E DIMINUEM NUM CICLO DIÁRIO A VIDA MODERNA PODE CONFLITUAR COM O CICLO NATURAL DA HORMONA momentos do dia. Perturbar os ritmos circadianos dos animais interfere com a subida e queda diária da hormona e faz com que os ratos fiquem propensos à obesidade. DEZEMBRO 2012 Se as conclusões se aplicarem em seres humanos, poderiam ajudar a explicar por que as pessoas que trabalham em turnos noturnos costumam estar acima do peso e sofrem de problemas de saúde. A descoberta também pode ligar a epidemia da obesidade, em parte, ao fato de se ficar acordado até tarde e comer na hora errada. Os resultados sugerem que se o horário das refeições coincidir com a sensibilidade à insulina pode ajudar a proteger contra o diabetes. Satchidananda Panda, um geneticista e biólogo do Instituto Salk de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia refere ainda que abusar de forma crónica com a desregulação horária das refeições pode contribuir para a resistência à insulina e, eventualmente, levar a diabetes. 6 Um novo estudo sugere que, tal como o sol, os níveis de insulina sobem e descem num ritmo diário. Interromper esse ciclo pode contribuir para a obesidade e a diabetes. Vários sistemas orgânicos comportam-se como um relógio diário conhecido como ritmo circadiano. Temperatura corporal, pressão arterial e a libertação de muitas hormonas fazem parte dos temporizadores circadianos. Mas, até agora, ninguém tinha mostrado que a insulina - uma hormona que ajuda a controlar a forma como o corpo usa os açúcares para a energia - também tem um ciclo diário. Trabalhando com ratinhos, pesquisadores da Universidade Vanderbilt, em Nashville descobriram que os roedores são mais sensíveis aos efeitos da insulina em determinados COMER JUNK FOOD DURANTE A GRAVIDEZ PODE FAZER COM QUE O SEU FILHO NASÇA JÁ VICIADO Uma dieta saudável durante a gravidez é fundamental para o futuro da saúde dos filhos. Uma nova pesquisa publicada na edição de março de 2013, do The FASEB Journal sugere que as mães grávidas que consomem junk food podem realmente causar alterações no desenvolvimento da sinalização opióide no cérebro dos seus filhos. Esta mudança faz com que os bebés sejam menos sensíveis aos opióides, que são libertados após o consumo de alimentos que são ricos em gordura e açúcar. Por sua vez, estas crianças, que nascem com uma maior "tolerância" a junk food precisam comer mais do mesmo para alcançar uma "boa" resposta. Os resultados desta pesquisa, em última análise, permitem informar melhor as mulheres grávidas sobre os efeitos duradouros que a sua dieta tem sobre o desenvolvimento dos seus filhos ao longo da vida, boas preferências e risco de doença metabólica, refere Beverly Mühlhäusler, Ph.D., pesquisador envolvido na Pesquisa FoodPLUS. Muhlausler e seus colegas estudaram os filhos de dois grupos de ratos, um dos quais se alimentaram de uma ração normal e o outro tinha sido alimentados com uma gama de alimentos que os humanos apelidam de "junk food" durante a gravidez e a lactação. Após o desmame, os filhotes receberam injeções diárias de um bloqueador do recetor opióide, que bloqueia a sinalização de opiáceos. O Bloqueio de sinalização opióide reduz o consumo de gordura e açúcar, impedindo a libertação de dopamina. Os resultados mostraram que o bloqueador de recetor opióide foi menos eficaz na redução da gordura e ingestão de açúcar nos filhotes das mães alimentadas com junk food, sugerindo que a via de sinalização opióide nessas 7 crias é menos sensível do que para filhotes cujas mães se alimentaram com uma ração padrão. Este estudo mostra que a dependência de junk food é ou pode ser um vício verdadeiro. É triste dizer, mas junk food durante a gravidez transforma as crianças em viciados em junk food. " Federation of American Societies for Experimental Biology (2013, February 28). Eating junk food while pregnant may make your child a junk food addict. ScienceDaily. Retrieved February 28, 2013, from http://www.sciencedaily.com­ /releases/2013/02/130228103443.htm ACTUALIDADES ENTREVISTA DEZEMBRO 2012 AS NOZES OCUPAM A POSIÇÃO SUPERIOR DOS ANTIOXIDANTES PARA UM CORAÇÃO SAUDÁVEL 8 Um novo estudo científico coloca as nozes na melhor posição entre a família de alimentos que os leigos reivindicam estarem entre os alimentos perfeitos que a Mãe Natureza produz. Os cientistas apresentaram uma análise que mostra que as nozes têm a combinação de antioxidantes, mais saudável e de melhor qualidade do que qualquer outro fruto seco. As Nozes classificam-se acima dos amendoins, amêndoas, pistachos e outros frutos secos. Um punhado de nozes contém antioxidantes quase duas vezes mais que uma quantidade equivalente de qualquer outro fruto seco habitualmente consumidos. Este estudo sugere que os consumidores devem comer nozes como parte de uma dieta saudável. O investigador responsável, refere que as nozes em geral, têm uma combinação incomum de benefícios nutricionais - além dos antioxidantes – e vêm embrulhadas num pacote conveniente e barato. As Nozes contêm muita proteína de alta qualidade que pode substituir a carne, vitaminas e minerais, fibra alimentar, e são lácteos e sem glúten. Anos de pesquisa por cientistas de todo o mundo ligaram o consumo regular de pequenas quantidades de nozes ou manteiga de amendoim com a diminuição do risco de doenças do coração, certos tipos de cancro, cálculos biliares, diabetes tipo 2 e outros problemas de saúde. Os antioxidantes presentes nas nozes são 2-15 vezes mais potentes que a vitamina E, conhecida pelos seus efeitos antioxidantes poderosos que protegem o corpo contra os danos químicos naturais envolvidos na causa da doença. Uma outra vantagem em escolher as nozes como fonte de antioxidantes está no fato de o calor reduzir a qualidade dos antioxidantes, ora as pessoas geralmente comem as nozes cruas ou o que permite obter a plena eficácia dos antioxidantes. As nozes contêm ainda gorduras polinsaturadas saudáveis e monoinsaturada, em vez de gordura saturada que é prejudicial. Quanto às calorias, comer nozes parece não causar ganho de peso e até mesmo pode fazer com que as pessoas tenham uma maior sensação de plenitude e satisfação, tornando-as menos propensos a comer demais. Num estudo dos EUA de 2009, o consumo de nozes foi associado com um risco significativamente menor de ganho de peso e obesidade. ENTREVISTA COM O ENFº RUI FONTES A PROPÓSITO DA COORDENAÇÃO DO LARES DE IDOSOS DO SAMS EM AZEITÃO E DA OFERTA SOCIAL NESTE SECTOR Entrevista da responsabilidade de Carlos Margato Tem cinquenta e um anos e apresenta-se como enfermeiro que partiu cedo para um percurso na área da gestão. Considera-a a mais adequada à sua personalidade: sempre gostei de liderar e desde muito cedo tive a possibilidade de o fazer. Por exemplo: capitão de equipa no futebol, presidente de associação de estudantes, dirigente desportivo na colectividade da terra, empreendedor em iniciativas e eventos culturais e desportivos. Refere nunca ter sofrido daquela falsa modéstia portuguesa de que não gostamos de chefiar, de liderar e de gerir. Dedicou os últimos quinze anos a desenvolver competências na área de gestão. Destaca como relevante o Curso de Liderança para a Mudança, promovido pela Ordem dos Enfermeiros e pelo ICN, que muito alterou a minha vida profissional, dirigindo-a decisivamente para a área da gestão. 9 ENTREVISTA Ser enfermeiro e coordenar um Lar de Idosos a tempo inteiro não é frequente em Portugal. Que razões/ motivações estão subjacentes a essa decisão? DEZEMBRO 2012 Ser enfermeiro e outra coisa qualquer não é comum em Portugal, infelizmente. Na verdade, os enfermeiros têm ficado virados para si próprios não desempenhando outras funções ou ocupando outros lugares que não sejam dentro da própria área técnico-científica. Quantos enfermeiros na função de deputado desde o 25 de Abril? Quantos de nós exercemos funções relevantes nas autarquias? Em empresas? Mesmo nas associações que não sejam especificamente de enfermagem? Não será esta a razão da pouca relevância que a profissão continua a ter e do pouco valor social da mesma? 10 Quando fui para coordenador (director técnico) do lar de idosos sofri o peso da ignorância de muitos técnicos sociais em relação à lei e o peso do estigma que a área social era destino exclusivo do serviço social. Não foi fácil a minha aceitação. Utilizaram-se vários estratégias para colocar em causa a qualidade de um enfermeiro como director técnico. Cedo percebi que era dos melhores e até fui levado a pensar que a gestão de lares deveria ser entregue a enfermeiros, pelo seu conhecimento global da área da saúde e da área social. Mas hoje, reconheço que o exercício de funções de gestão não tem a ver com a base de formação profissional que se tem. Pode ser-se bom director técnico sendo enfermeiro, assistente social, psicólogo ou com outra profissão qualquer. Convém é que saiba liderar, tenha conhecimentos profundos na área social e na área de saúde. O ideal é a construção de um profissional híbrido entre o social e a saúde. Há quantos anos desempenhas as funções de coordenador do Lar de Idosos do SAMS em Azeitão? Fiz recentemente dez anos como coordenador do lar de idosos, coincidindo mais ou menos com os vinte e cinco de enfermagem. Na grande maioria dos Lares os coordenadores são assistentes sociais. Identificas razões suficientes para afirmar que essa função deveria ser desempenhada por enfermeiros? ENTREVISTA Já respondi mais ou menos a essa questão. Os enfermeiros trazem ao Lar de Idosos uma mais-valia interessante e hoje com os conhecimentos que tem podem, de facto, responder às necessidades na área social que surgem num lar, conseguindo também assegurar os cuidados de saúde e fazer a sua gestão. O grande drama do serviço social é que os lares são, em geral, autenticas unidades de pessoas idosas doentes, para as quais a saúde é fundamental e o serviço social não tem qualquer preparação para responder a essa necessidade. Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importância. A questão é que os enfermeiros, ao longo de todos estes anos, viram nos lares a acumulação de umas horas, onde poderiam ganhar “uns trocos” sem qualquer responsabilidade. Essa imagem faz ainda hoje com que se olhe para o enfermeiro do lar como aquele que não tem lugar em mais lado algum. O grande drama do serviço social é que os lares são, em geral, autenticas unidades de pessoas idosas doentes para as quais a saúde é fundamental e o serviço social não tem qualquer preparação para responder a essa necessidade. Assim a enfermagem tem aqui um lugar de grande importância. Fala-me um pouco do Lar que coordenas: número de residentes, de assistentes operacionais, de cozinheiros, condutores, entre outros… O lar de idosos do SBSI/SAMS é a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal e aquela que poderá ter a vaidade de dizer que será a melhor do país. É costume incomodar e provocar as pessoas com esta ideia que é consequência de trabalhar num lar muito especial: uma equipa de colaboradores apaixonados por aquilo que fazem, que discute em qualquer lugar as questões do envelhecimento, que sabe o que é funcionalidade, utilidade e felicidade no processo de envelhecimento, que tem formação, ultrapassando as horas obrigatórias anuais e cuja auto-estima é muito elevada; instalações muito interessantes e de elevado nível; uma organização de trabalho ímpar, com utilização do método responsável, com todos os residentes com enfermeiro, fisioterapeuta e auxiliares de referência; com um modelo de comunicação original, assente na evidência científica e nos mais inovadores processos de gestão. Mas tudo isto podia ser dito e teria pouco valor se não soubéssemos quantos residentes caíram nos últimos dez anos, que evolução teve o número de quedas, quais são os valores da escala de Katz, da escala de Morse, da escala de equilíbrio e da mini-mental; qual o valor médio da percepção da dor, quantas escaras existiram em dez anos, quantas conseguimos tratar e como; quantas pessoas recorrem por ano às urgências hospitalares e quantos dias de internamento hospitalar tem os residentes por ano; quantos recursos são feitos ao exterior, qual o grau de satisfação de residentes, colaboradores, familiares, parceiros internos e parceiros externos; quantas pessoas foram algaliadas no ano e quantos antibióticos foram prescritos. Já seria um lar bom com todos estes indicadores, mas é ainda melhor porque no início do ano definimos os nossos objectivos, avaliamo-los durante o ano e atingimos grande parte deles. É um lar diferente, porque não trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e não resolvemos situações de residentes problemáticos com comprimidos para dormir. É um lar bom porque contrariamos todas as prescrições que disfuncionalizam residentes, debatendo com os prescritores essas situações. É um Lar muito bom, porque preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirões. Somos diferentes, mas só vendo. 11 O lar de idosos do SBSI/SAMS é a resposta mais adequada e ajustada aos novos desafios do envelhecimento em Portugal. É um lar diferente porque não trocamos funcionalidade por cadeiras de rodas e não resolvemos situações de residentes problemáticos com comprimidos para dormir. É um lar bom porquê contrariamos todas as prescrições que disfuncionalizam residentes, debatendo com os prescritores essas situações. Preferimos que os nossos residentes morram atropelados na estrada do que amarrados a camas ou a cadeirões. DEZEMBRO 2012 ENTREVISTA 12 ENTREVISTA A portaria 67/2012 evolui no conceito de “Lar de Idosos” para “estrutura residencial para pessoas idosas” e defini-o como o estabelecimento para alojamento colectivo, de utilização temporária ou permanente, em que são desenvolvidas actividades de apoio social e prestados cuidados de enfermagem. e conforto. Pessoas que só precisam de se sentir seguras e ter apoio para desenvolverem novos projectos de vida. Nesta área, o enfermeiro tem necessidade apenas de fazer formação, prevenir, ensinar e educar para a saúde e para um envelhecimento mais feliz e mais saudável. Como sabes, na maioria destas estruturas, há um enfermeiro “umas horas por dia ou por semana”. Consideras essa uma “boa resposta” de cuidados de enfermagem? Numa outra área, temos as pessoas dependentes, muitas delas, fortemente dependes, com enfermagem 24 horas por dia, fisioterapeutas, auxiliares com cargas de trabalho muito confortáveis e cómodas. Nesta área, recebemos também doentes para recuperação global cujo rendimento financeiro é maior e muito significativo, assegurando sustentabilidade de todos os recursos humanos. Claro que não posso dizer nunca que isso é uma boa resposta, mas devemos também ter em atenção que não existem recursos financeiros para termos um enfermeiro num lar de idosos permanentemente. Contudo, parece que esta situação é um equívoco e esta questão pode não fazer sentido no futuro próximo. O que precisamos é de determinar tipologias para os cuidados e serviços a pessoas idosas. Num lar em que só existam pessoas idosas independentes, um enfermeiro é suficiente, bem como a sua actividade de prevenção, ensino e educação. Já numa tipologia com residentes fortemente doentes temos que ter um enfermeiro a tempo inteiro, mas estas unidades já existem e chamam-se cuidados continuados, pelo que os lares são respostas para pessoas sem cuidados de saúde permanentes. A nova portaria veio estigmatizar ainda mais a pessoa idosa. Está errada. Um enfermeiro num Lar diminui em milhões de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal. A comparticipação devia ser dada em função de indicadores e assim teríamos comparticipação que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos. É o modelo que devia ter sido adoptado para os cuidados continuados mas alguns preferiram caminhar pela estrada do grande empreendedorismo da construção civil e do cimento. Não havia auto-estradas para fazer… Mas então há “mais valias” em ter enfermeiro 24 horas? Numa unidade capaz de responder á recuperação global, á recuperação de situações de doença pontuais, pós cirurgias, etc. Numa unidade que consiga especializar-se em determinadas especificidades e que possa, pelo rendimento financeiro, assegurar os enfermeiros e os outros técnicos. Não podemos continuar a fazer redes, ao lado da rede hospitalar, exigir técnicos de saúde e não procurar saber como se sustentam esses projectos. Quero esclarecer que nada disto confronta o modelo de estado social ou faz com que não defenda um estado que trate e cuide dos mais fragilizados em igualdade de circunstâncias com toda a população. Não gosto é de contribuir para um estado que não é social mas que é um estado das instituições sociais. Fala-me da tua experiência neste âmbito No nosso lar fizemos aquilo que todos podem fazer, mas que parece não terem vontade: dividimos a estrutura em duas zonas distintas. Uma está destinada a pessoas idosas independentes, sem necessidade de cuidados de saúde e de higiene Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depósitos. Isto é consequência de não criarmos novos modelos, no- vas tipologias. De não diferenciarmos os níveis de necessidades e serviços. A nossa resposta é “Tudo ao Monte e Fé em Deus”. Dai termos uma taxa de institucionalização na europa do norte de cerca de 17% e em Portugal 3,5%. Por isso, os indicadores atrás referidos demonstram essa “mais-valia”. Todos os indicadores atrás referenciados são melhorados com a introdução de enfermeiros, mas mantenho a ideia inicial: numa resposta em que se encontrem pessoas doentes e não necessariamente num lar que pretende que as pessoas sejam felizes e saudáveis. Na área das pessoas dependentes o enfermeiro mede o seu desempenho por muitos indicadores: ulceras de pressão, recursos a urgências e dias de internamento, quedas, número de medicamentos, percepção da dor, antibióticos consumidos. Se introduzires um enfermeiro num lar e medires estes indicadores concluis que todos baixam num tempo muito reduzido. É isto que o Estado não quer perceber mas que as Instituições ditas socias também não aceitam: um enfermeiro num Lar diminui em milhões de euros os custos com as pessoas idosas em Portugal. A comparticipação devia ser dada em função destes indicadores e assim teríamos comparticipação que assegurava o custo dos enfermeiros em lares de idosos. Mas isso, provavelmente acabaria com os velhos doentes, desgraçados e infelizes e as Instituições ficavam cada vez com menos clientes porque vivem, exclusivamente do assistencialismo e da caridade. O Regulamento da Individualização das Especialidades Clínicas de Enfermagem (Regulamento n.º 168/2011, publicado em Diário da República, 2.ª série — N.º 47 — 8 de Março de 2011) prevê a criação de uma especialidade designada de SAÚDE DO IDOSO. Da tua experiência com pessoas idosas consideras esta uma especialidade necessária? Temos muito que discutir. Primeiro precisamos de enfermeiros capazes de gerir lares e liderar equipas que não sejam exclusivamente constituídas pelos seus pares. Enfermeiros que se exponham, como diferentes, contribuindo com a sua acção para transformações significativas das instituições sociais e das entidades privadas na área do envelhecimento. Mas é claro que é fundamental uma especialidade para a área das pessoas idosas. Daqui a pouco tempo são metade da população portuguesa e metade da população mundial, tendo em conta 13 PUB ENTREVISTA os países mais desenvolvidos. Julgo que deveríamos iniciar um profundo debate sobre a enfermagem e o envelhecimento e que a revista Sinais Vitais poderia ser um dos lugares mais interessantes para fazer este debate nacional e até internacional. DEZEMBRO 2012 Que competências devem ser desenvolvidas pelos enfermeiros nesta especialidade? 14 Conhecimento sobre novos modelos para abordagem do envelhecimento, legislação, direitos humanos e envelhecimento, diversidade de respostas, e necessidades sociais e de saúde do envelhecimento, liderança, gestão de equipamentos com uma forte componente prática. Seria bom analisar-se a Pós Graduação promovida pela associação amigos da grande Idade da qual sou presidente e que foi feita em parceria com a universidade Fernando Pessoa, estando para ser lançada a segunda edição com a Universidade da Estremadura. Conhecendo como eu sei a realidade portuguesa em termos de respostas sociais dirigidas à pessoa idosa, elas são suficientes e adequadas? Não, as respostas não são suficientes mas acima de tudo são desadequadas. Costumo a dizer que se o Marquês de Pombal descesse à terra ficaria deslumbrado com tanta evolução mas se entrasse num lar sentir-se-ia no tempo dele! Os lares mantem o modelo asilar e continuam ser considerados depósitos. Isto é consequência de não criarmos novos modelos, novas tipologias. De não diferenciarmos os níveis de necessidades e serviços. A nossa resposta é “Tudo ao Monte e Fé em Deus”. Dai termos uma taxa de institucionalização na europa do norte de cerca de 17% e em Portugal 3,5%. É necessária uma revolução e penso que ela estará para breve. Os revolucionários ao contrário do habitual vão ser os empreendedores capitalistas que irão investir num novo modelo de oferta de cuidados e serviços. Consegues dizer-me quantos Lares há em Portugal continental? Existem cerca de 2.000 lares em Portugal, cerca de 2.000 centros de dia e 2.500 serviços de apoio domiciliário. Isto legalmente. Prevê-se que possam existir cerca de 2.500 lares ilegais ou clandestinos no país! A ENFERMAGEM TEM UM ENDEREÇO www.sinaisvitais.pt Conhecedor das respostas sociais neste âmbito encarara a tua velhice de forma despreocupada? Não, claro que não! Primeiro, quero nomear o mais rapidamente possível, alguém que me represente com autoridade para não ser “apanhado” na teia da destituição de direitos e vontades. Não quero que me coloquem um nariz de palhaço e uma peruca quando for o carnaval, como se fosse um velho tonto apalhaçado! Mas, não tenho garantias. Se calhar vou mesmo fazer essas figuras patéticas. Para grande gáudio dos técnicos. O que mudaria na organização desta reposta social se fosse convidado pelo governo a coordená-la? A Associação a que presido tem vários documentos, mas destaco de imediato: – mudaria o modelo de financiamento e deixava de distribuir dinheiro a instituições sem avaliar os seus indicadores de qualidade e desempenho; – criava um novo modelo de oferta que não fosse destinado a pessoas idosas doentes, mas apenas a pessoas idosas ou seja implementava novas tipologias; – apostava nos cuidados domiciliários e nos centros de dia, criando uma rede nacional que incluiria também o centro de saúde e os lares; – criava um programa para legalização de lares clandestinos e ilegais. Poucas medidas, mas de grande eficácia. Aliás Portugal espera um ministro que queira ficar na história. NOTÍCIAS √ FORMAÇÃO √ CIÊNCIA √ DISCUSSÃO PARQUE EMPRESARIAL DE EIRAS, LOTE 19, EIRAS 3020-265 COIMBRA telefone 239 801 020 fax 239 801 029 ÉTICA ÉTICA ENTRADA DO ARTIGO OUTUBRO 2010 RESPOSTA À EUTANÁSIA ENQUANTO PRÁTICA ÉTICA DEZEMBRO 2012 EDUARDO JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS Enfermeiro na Fundação Aurélio Amaro Diniz 16 RESUMO Na praxis clínica o significado da eutanásia acresce pela pressão da moralidade pública e profunda convicção dos que lidam com pessoas particularmente vulneráveis e para as quais o fenómeno patológico é profundamente incapacitante. Este artigo corporiza a preocupação dos que se debatem com este dilema ético, sugerindo o encaminhamento para cuidados paliativos e a adopção de uma posição mais proactiva das escolas de enfermagem e instituições/serviços na formação e ensino especializado. ABSTRACT In clinical practice the meaning of euthanasia is increased by the pressure of public morality and deep conviction of dealing with particularly vulnerable persons and for which the pathological phenomenon is profoundly disabling. This article presents the concern of those who struggle with this ethical dilemma, suggesting the orientation to palliative care and the adoption of a more proactive position by nursing schools and institutions/services in training and specialized education. Palavras-chave: Eutanásia, fim-de-vida, cuidados paliativos, ética. Keywords: Euthanasia, life-end, palliative care, ethics. INTRODUÇÃO A Eutanásia deriva da junção de duas palavras: Eu, que significa bom e Thanatos que quer dizer morte. Semanticamente: morte doce, morte sem agonia ou sem sofrimento físico. Trata-se, portanto, do processo através do qual alguém causa deliberadamente a morte de outra a pedido desta última (na expressão de Arroyo e Serrano, 1988). Por se associar intrinsecamente ao “acto intencional de matar” (Serrão, 1996, p.382), a eutanásia é palco de inúmeras polémicas, posições e origina uma acesa controvérsia num diálogo nem sempre construtivo em torno do conceito de morte com dignidade. O facto é que existe uma manifesta falta de informação objectiva sobre os motivos que podem originar um pedido desta natureza (P/13/APB/08) e como tal a eutanásia impõe-se como foco de reflexão à enfermagem. Isto porque sempre que ao enfermeiro se apresente a possibilidade de participação na mesma, surge à priori o dever de recusa. Todavia, no domínio da liberdade, do livre arbítrio, a eutanásia constitui-se como um dilema ético (Queirós, 2001; Archer, Biscaia e Osswald, 2001; Nunes, Amaral e Gonçalves, 2005). É sobre a posição da Enfermagem que nos pretendemos debruçar, sugerindo a filosofia dos cuidados paliativos como solução, em detrimento da realidade portuguesa. ASPECTOS CONCEPTUAIS A dignidade humana é sentida e expressa através do corpo como suporte biológico de existência. Nem a pessoa é o corpo, nem tão pouco proprietária do seu corpo. Como tal, a dignidade humana quanto mais agredida é, tanto mais se impõe como fronteira inviolável entre o humano e o não-humano. É por esse motivo que hoje a dignidade humana aparece ligada a expressões que vão desde a "qualidade de vida", ao "cuidado", à "carícia", à "compaixão" (26/CNECV/99). Neste sentido, o respeito pela dignidade de cada pessoa humana é uma exigência ética, inscrevendo na prática diária dos cuidados de saúde o permanente centrar desses mesmos cuidados em cada pessoa (Martins, 2010). Por outro lado, cresce a noção de que, no âmbito da prestação de cuidados de saúde, os utentes devem ser livres de recusar determinados tratamentos à luz do princípio do respeito pela autonomia individual. Assim, é hoje possível qualquer doente competente recusar um determinado tratamento, mesmo que desta forma se abrevie o momento da sua morte. Aliás é neste mesmo sentido que se questiona se esta capacidade decisória pode ser exercida prospectivamente, nomeadamente quando não for possível o exercício da autodeterminação individual (E/10/APB/07). Curiosamente é neste domínio que surge a eutanásia e manifestamente se materializa pela pressão exercida pelos utentes, nos profissionais de saúde, ao exigirem respeito pelo seu “direito” de morrer. Com efeito, quando os profissionais de saúde se sentem compelidos a agir e por termo ao sofrimento de um utente existe um conflito inevitável entre o dever ético do cuidar protector – o dever da beneficência e da não-maleficência – e o respeito pela autonomia e do direito de escolha do utente (Thompson, Melia e Boyd, 2004). Em todo o caso, a eutanásia só é uma opção livre quando se assegurar que se trata de um pedido racional de alguém que não se revê mais no seu projecto de vida pessoal, ou seja, que não se trata de um comportamento apelativo por parte de alguém que se encontra insatisfeito com as condições de vida que lhe são proporcionadas (P/13/ APB/08). É ainda de referir os resultados do estudo realizado por Van Der Wal (1992) apud Pessini e Barchifontaine (2005) que descreveu que 56% dos casos dos pedidos de eutanásia se deviam aos utentes verem o seu sofrimento sem sentido e 46% porque temiam o declínio. No entanto, várias são as causas que precipitam tais pedidos. Para muitos doentes, a solidão em que se encontram pode implicar que a morte assistida seja considerada a solução final, ainda que não desejada, para o seu dilema existencial. Outras causas residem, ainda, no sofrimento intenso devido ao sentimento de abandono e de exclusão social, e menos frequentemente a dor profunda e insustentável (P/13/APB/08). Neste ponto, pode-se apontar os cuidados paliativos como estratégia ideal dado que é a mais referida pelos autores (Marques, Santos e Santos, 2001; Thompson, Melia e Boyd, 2004; Pessini e Barchifontaine, 2005). Assim e com a atenção sincera dirigida para o utente que solicita a eutanásia, o estabelecimento de “verdadeiras” relações de ajuda e com o auxílio dos cuidados paliativos, o 17 ÉTICA DEZEMBRO 2012 ÉTICA 18 sofrimento extremo não permanece sem resposta. Há então que considerar que indubitavelmente o papel do enfermeiro é acompanhar o utente, privilegiando a sua qualidade de vida, minorando a dor, ajudando-o a aceitar e a preparar-se para a morte, beneficiando de cuidados paliativos e de acompanhamento psicológico (Nunes, Amaral e Gonçalves, 2005). Pretende-se providenciar conforto e bem-estar ao doente crónico (e, por maioria de razão, ao doente terminal), recorrendo a meios proporcionados de tratamento por parte de uma equipa de saúde especialmente sensibilizada nesta matéria. (E/10/APB/07). Decerto que um outro desafio reside também no dever do Estado implementar uma política efectiva de luta contra a dor, nomeadamente através da implementação generalizada do Plano Nacional de Luta Contra a Dor; e promover a generalização dos cuidados paliativos a nível domiciliário, nos Centros de Saúde e cuidados em hospitais oncológicos e outros estabelecimentos de saúde (P/13/APB/08). Em suma, o desafio dos cuidados paliativos constitui, então, o de resgatar da dignidade do ser humano na última fase da sua vida (Pessini e Barchifontaine, 2005). PERSPECTIVA ÉTICO-LEGAL De acordo com a nossa ordem jurídica a eutanásia é uma prática ilegal e criminalizada (E/10/APB/07). Contudo, a lei portuguesa não trata da prática eutanásia, mas como o direito à vida é inviolável segundo a CRP1 e o CP2 - que se traduz num corpo de normas jurídicas que primam por serem as que regulam o regime de penas/punições quando algum acto destoa daquilo que se considera legalmente admissível - por analogia, a “eutanásia” é punível. Esmiuçando, o já referido CP que manifesta relevante ponderação para o tema aqui em apreço evidencia-se o Título I (que trata, em específico, do crime contra as pessoas), o qual se subdivide no Capítulo I (Dos crimes contra a vida), que engloba os artigos 131º, 133º,134º,138º. Neste âmbito, reza o artigo 131º, corpo normativo que regula e penaliza o tipo legal de crime respeitante ao Homicídio (o dito homicídio simples) –, que “Quem matar outra pessoa é punido com pena de prisão de oito a dezasseis anos”. Já o artigo 133º (onde se enquadra o delito criConstituição da República Portuguesa (Lei Constitucional 1/2005) minal do Homicídio privilegiado) esclarece que “Quem matar outra pessoa por compreensível emoção violenta, compaixão, desespero ou motivo de relevante valor social ou moral, que diminua sensivelmente a sua culpa, é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos”. Ao dirigirmos o nosso reparo para o Artigo 134º que trata o “Homicídio a pedido da vítima” no seu nº1 clarifica-se que “Quem matar outra pessoa por pedido sério, instante e expresso que ela lhe tenha feito é punido com pena de prisão até 3 anos”. O Artigo 135.º (Incitamento ou ajuda ao suicídio) no seu n.º 1) refere que “ Quem incitar outra pessoa a suicidar -se, ou lhe prestar ajuda para esse fim, é punido com pena de prisão até três anos” contudo, e acautelando a possibilidade do suicídio ou da tentativa, prossegue o n.º 2 do mesmo artigo ditando que, “Se a pessoa incitada ou a quem se presta ajuda for menor de 16 anos ou tiver, por qualquer motivo, a sua capacidade de valoração ou de determinação sensivelmente diminuída, o agente é punido com pena de prisão de um a cinco anos. Quanto ao Artigo 138° (Exposição ou abandono), lê-se que “Quem colocar em perigo a vida de outra pessoa”, – alínea a)- “Expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação de que ela, só por si, não possa defender-se”, ou - alínea b) - “Abandonando-a sem defesa, sempre que ao agente coubesse dever de a guardar, vigiar ou assistir, é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos.” Por último, é também de salientar o facto de que a eutanásia também contraria os princípios basilares que alicerçam a profissão, conforme disposto no Código Deontológico dos Enfermeiros3 e no REPE4. No enquadramento deontológico, os deveres do enfermeiro, incitam “o respeito do direito da pessoa à vida durante todo o ciclo vital” (Artigo 82.º) e a obrigatoriedade do enfermeiro “defender e promover o direito do doente à escolha do local e das pessoas que deseja o acompanhem na fase terminal da vida e, respeitar e fazer respeitar as manifestações de perda expressas pelo doente em fase terminal, pela família ou pessoas que lhe sejam próximas” (Artigo 87.º). 1 2 Código Penal (Decreto Lei 59/2007) 3 Decreto Lei nº 104/98 de 21 de Abril de 1998 4 Decreto-Lei Nº 161/96 de 4 de Setembro de 1996 CUIDADOS PALIATIVOS: QUE RESPOSTAS? Em Portugal, os cuidados Paliativos estão a dar os primeiros passos, verificando-se a existência de alguma preocupação relativamente ao utente em fase terminal (Queirós, 2001). Todavia, assiste-se a um deficit ou mesmo ausência de respostas, por parte dos serviços e instituições de saúde aos utentes (Sapeta, 2003). Num estudo realizado pela APEME (2008), sobre o grau de satisfação da população com os Cuidados Paliativos, através da aplicação de um questionário por entrevista telefónica a uma amostra de 606 elementos, salienta-se que 31 % dos inquiridos os consideram completamente insuficientes, 25% insuficientes, 31% suficientes, 9% moderadamente suficientes e 5% completamente suficientes. Curiosamente quando inquiridos sobre “as principais sugestões para melhorias dos cuidados paliativos”, 14% apostavam na formação profissional e 8% deseja mais profissionais especializados na área. É ainda de referir o estudo realizado por Sapeta (2003) que afirma que a maioria das escolas de Enfermagem lecciona, em mais que um ano lectivo e em mais do que uma área científica, os temas “cuidados paliativos” e “dor crónica”, contudo numa abordagem bastante superficial, dado ao número de horas associado. Desta forma e especificamente neste aspecto o Programa Nacional de Cuidados Paliativos (DGS, 2004, p. 2) considera que é imprescindível “uma preparação sólida e diferenciada, que deve envolver quer a formação pré-graduada, quer a formação pós-graduada dos profissionais que são chamados à prática deste tipo de cuidados”. CONCLUSÃO Na actualidade a questão da eutanásia suplanta expectativas/dúvidas não só na população, mas também nas camadas profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros. Concomitantemente, várias fracções sociais manifestam interesse ou reprovação pela sua prática. Ora é defendida por uns e/ou reprovada por outros. É importante destacar que a percepção e livre arbítrio que o enfermeiro possui norteia a sua prática profissional e consequentemente influencia algumas tomadas de decisão. Notabiliza-se, contudo, a vinculação do exercício da profissão a um 19 ÉTICA DEZEMBRO 2012 conjunto de regras e aspectos legais e ético-deontológicos, que se identificam como orientações para julgar a acção profissional, constituindo, por fim, a obrigatoriedade do enfermeiro se reger pelas mesmas. É neste contexto, que nos surgiu a proposta da reflexão sobre possíveis “soluções/respostas”, que se esbarraram com a filosofia dos cuidados paliativos, que na maioria dos autores referidos se apresentam como a melhor resposta nacional face às actuais disposições legais. Em epílogo, procurou-se evidenciar e incentivar a necessidade/obrigatoriedade de formação na área, salientando não só a importância da tomada de decisão dos serviços/instituições, mas predominantemente das escolas de Enfermagem. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APB – Inquérito Nacional à Prática da Eutanásia. [Em linha] 2007. [Consult. 20 Julho 2010]. 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Se por um lado existe evidência científica que reafirma a importância do enfermeiro neste contexto, existem correntes de pensamento que argumentam o inverso, objectivando este artigo responder à questão “Existem ou não competências para o exercício profissional do enfermeiro em emergência pré-hospitalar?”. ABSTRACT In a moment that the pre hospital emergency system is discussed, arises the needing to reflect about the competence and importance that the included professionals have to work in this field, including the nurses, that don´t have evoke consensus. If on one hand exists scientific evidence that reaffirms the importance of the nurse´s presence in that field, there exists currents of thought that argue the inverse. So, this article objectify answer to the question “Exist or not competence for the nurse’s professional exercise in the pre hospital care field?” Palavras-Chave Enfermagem; Emergência pré-hospitalar Keywords Nursing; Pre hospital emergency. INTRODUÇÃO Vida (SIV) e da figura do enfermeiro responsável pelo acompanhamento dos meios no terreno no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU), representando, conjuntamente com os pré-existentes VMER e helicópteros de Emergência médica, os meios operacionais através dos quais os enfermeiros intervêm actualmente na prestação de cuidados de emergência pré-hospitalar, em equipa com médicos, psicólogos, tripulantes de ambulância de socorro (TAS) / tripulantes de ambulância de emergência (TAE) e técnicos de operações e telecomunicações de emergência (TOTE) (OE, 2008). SERRÃO, Daniel – Eutanásia e Distanásia. Lisboa: Editorial Verbo, 1996. THOMPSON, Ian; MELIA, Kath; BOYD, Kenneth – Ética em Enfermagem. 4.ª Edição. Loures: Lusociência, 2004. ISBN: 972-838367-3. Num momento em que a posição do enfermeiro nas equipas de emergência pré-hospitalar é amplamente discutida, justifica-se a necessidade de reflectir acerca das suas competências para o exercício nesta área, assim como o seu papel na garantia da segurança e qualidade dos cuidados de saúde prestados neste contexto. A presença dos enfermeiros na emergência pré-hospitalar em Portugal remonta há cerca de 20 anos, exercendo estes funções nas mais variadas áreas, desde o transporte de recém-nascidos, Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER), heli-transporte de doentes críticos e em catástrofe [Ordem dos Enfermeiros (OE), 2008]. Numa constante e progressiva consolidação do Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM) a que se tem assistido, o papel do enfermeiro tem sido reforçado, nomeadamente com a recente criação das ambulâncias de Suporte Imediato de Contudo, as competências do enfermeiro para a prestação de cuidados neste contexto assim como a necessidade da sua intervenção parecem não reunir consensualidade, sendo suscitadas correntes de pensamento que se opõem à sua actividade e presença neste âmbito de cuidados. Apesar inicial “Existem ou não competências para o exercício profissional do enfermeiro no contexto 21 CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA ment including bio-psycho-social needs and not merely physical needs…” (Melby & Ryan, 2005, p.1147). A este respeito ainda, Palma, Rodríguez, Azanón e Rodriguez (2005) são contundentes ao concluírem que a presença dos enfermeiros no âmbito pré-hospitalar é imprescindível, não só por possuírem a qualificação necessária para colaborar e actuar na prestação de cuidados a pessoas em situações de urgência/emergência, como também pela diferenciação na prestação dos mesmos, o que possibilita indubitáveis benefícios para o doente, mediante a melhoria de conhecimentos, respostas, colaboração e adaptação do mesmo à sua situação de alteração no continuum saúde-doença. DEZEMBRO 2012 Porém, contrariamente à evidência científica que aponta os benefícios da participação do enfermeiro no contexto de cuidados de emergência pré-hospitalar, as correntes divergentes indicam determinados aspectos como limitadores ou mesmo inviabilizadores desta presença, que vão desde a inadequação da sua formação até há inexistência de legitimidade ético-deontológica para a prestação de determinados cuidados de forma autónoma, envolvendo dúvidas relacionadas com a qualificação e intervenção profissionais. 22 de cuidados pré-hospitalar?”. De facto, compreendo que se não nos ocuparmos desta problemática, corremos o sério risco de uma vez mais vermos diminuídas as nossas áreas de intervenção, o que indubitavelmente representa uma perda para a profissão e, em última instância, para a comunidade alvo dos nossos cuidados, pelo consequente impacto na qualidade desses cuidados. Assim, a este propósito, entendemos que o enfermeiro possui competências que o habilitam à prestação de cuidados de emergência no contexto pré-hospitalar, constituindo a sua presença nas equipas pré-hospitalares uma inegável mais-valia, suportada em todo um corpo de conhecimentos técnico - científicos que resultam em claros benefícios para as pessoas assistidas. Tal como a evidência científica (Suserud & Haljamäe, 1997, 1999; Melby & Ryan, 2005) afirma, os conhecimentos base e competências em ciências como anatomia, fisiopatologia e farmacologia, a complementaridade das ciências sociais e humanas, produção científica e prática baseada na evidência, o espírito crítico - reflexivo e os elevados conhecimentos da realidade intra-hospitalar são características dos enfermeiros que acrescem saberes e competências adicionais ao âmbito da emergência pré-hospitalar, permitindo a sua presença “…perform and document a high quality and holistic assess- Neste sentido, o Sindicato dos Técnicos de Ambulância de Emergência (STAE) (2010) refere que a nível internacional, os serviços de emergência médica demonstram que as soluções para os recursos humanos nesta área devem incidir na formação de profissionais unicamente direccionados para o desempenho de cuidados de emergência em ambiente pré-hospitalar (comummente denominados como “paramédicos”), com autorização para executar determinados procedimentos médicos invasivos, sob direcção médica e certificação, acrescentando ainda que não existem vantagens em termos de eficiência ou qualidade dos cuidados prestados com a inclusão de enfermeiros neste âmbito de cuidados. Porém, Suserud e Haljamäe (1997, 1999), aos quais acrescemos a nossa aprovação, opõem-se a esta posição, salientando, inversamente, a tendência internacional a que se assiste no sentido de um aumento do número de enfermeiros no âmbito pré-hospitalar. Como estes referem, os modelos que preconizaram a existência do tipo de solução para os recursos humanos sugerido pelo STAE (2010), basearam-se na inexistência de médicos e enfermeiros suficientes para suprir, simultaneamente, as necessidades intra e pré-hospitalares, pelo que por uma questão de racionalização de meios humanos optaram pela sua retenção no âmbito intra-hospitalar, em detrimento do pré-hospitalar. Com o debate em torno da importância de um elevado nível de competências para aumentar a qualidade dos cuidados de emergência pré-hospitalar, foram suscitadas, por parte de vários países, alterações na forma de encarar os recursos humanos necessários para a prossecução deste objectivo. Como tal, a Noruega, a Suécia ou a Holanda são exemplos de países que, apesar de inicialmente suportados em modelos de emergência médica que pressupunham a existência de profissionais de emergência médica como os referidos pelo STAE (2010), alteraram o seu modo de funcionamento, incluindo os enfermeiros nas equipas de emergência pré hospitalar, salientando “…the importance of having equally competence emergency personel working in the pre-hospital area and in hospital, that is, professionals doing the same type of work should have similar competence levels and practical training.” (Suserud & Haljamäe, 1997, p.145). Na verdade, a emergência médica pré-hospitalar é uma componente da Emergência Médica, a qual abrange um largo espectro 23 DEZEMBRO 2012 CIÊNCIA & TÉCNICA 2424 intervenção, desde os cuidados intensivos até à prestação de cuidados em serviços de urgência, passando pelo transporte inter-hospitalar de doentes urgentes, todos eles ambientes de cuidados nos quais os enfermeiros têm uma participação essencial e competências reconhecidas [Suserud, 2005; Administração Regional de Saúde do Norte (ARSN), 2009;]. Partilhando estas actividades toda uma série de significativas afinidades que exigem um conjunto de conhecimentos e competências comuns, torna-se clara a importância da presença do enfermeiro de um modo transversal em todas elas, permitindo uma boa articulação e continuidade, fundamentais para toda a cadeia de cuidados, realçando a evidência científica produzida nos países que adoptaram este modelo de emergência pré-hospitalar que “…the increasing number of nurses in pre-hospital emergency care is contributing to the quality of the service by rasing the competence level of the team as a whole.” (Suserud & Haljamäe, 1997, p.145). Outra das objecções apontada refere-se à necessidade de formação específica para a prestação de cuidados em emergência pré-hospitalar, sendo referido que o “enfermeiro, carece sempre, de formação especializada para a intervenção pré-hospitalar que não seja conjunta com o médico, …sob pena de estar em causa a segurança e a qualidade dos cuidados prestados” (STAE, 2010, p.5). De facto, aceitamos a menção de que é necessária formação acrescida à formação base fornecida pelo Curso de Licenciatura em Enfermagem (CLE). Porém, esta é claramente uma preposição inviável no sentido de reiterar a inexistência de competências de enfermagem em emergência pré-hospitalar. Não podemos esquecer que a licenciatura não concede por si só uma especialização da prática profissional, pois apenas confere uma base de conhecimentos e competências no âmbito da enfermagem de cuidados gerais, encaminhando posteriormente o enfermeiro a sua prática profissional num determinado sentido, obviamente suportada pela formação adicional que essa área exija. Todavia, a existência de um corpo sólido de conhecimentos base, adquirido no CLE, vai favorecer a posterior aquisição de conhecimentos e competências, suportando e solidificando a prestação de cuidados na área específica em causa. CIÊNCIA & TÉCNICA Por outro lado, decorrente de vários factores como a gravidade e complexidade das situações clínicas, a imprevisibilidade de ocorrências e a prestação de cuidados em ambiente extra-hospitalar, com elevada exposição social e reduzido número de intervenientes no processo de decisão, o exercício profissional neste contexto é reconhecidamente específico e complexo, o que exige uma preparação singular e contínua dos profissionais envolvidos (Tomás, 2009; OE, 2010). Face a isto, na realidade portuguesa todos os enfermeiros que prestam cuidados nas VMER, SIV, helicópteros de emergência médica e CODU têm formação que os habilita à sua actividade, conferindo as competências teórico - práticas consideradas essenciais pelas entidades competentes, ao que se acrescem as pós-graduações e mestrados que têm surgido nas áreas de urgência/ emergência, encaradas como uma mais-valia na qualificação e intervenção profissionais (Vieira, Oliveira & Ressurreição, 2005; Tomás, 2009). A literatura (Suserud & Haljamäe, 1997, 1999; Melby & Ryan, 2005), por sua vez, sugere a existência de um consenso relativamente ao facto dos enfermeiros com experiência de anestesia, unidade de cuidados intensivos e serviço de urgência serem os mais habilitados para a prestação de cuidados de emergência pré-hospitalar, decorrente da formação que possuem e da constante interacção com situações clínicas críticas, que lhes permite uma manutenção das competências, que de outro modo poderiam decrescer, face a períodos de menor operacionalidade decorrente da inexistência de situações críticas na área de influência dos meios de socorro. Desta forma, poderá residir neste aspecto um dos défices do modelo português, em que os enfermeiros dos meios SIV apenas prestam cuidados no contexto pré-hospitalar em exclusividade. Todavia, na VMER esta questão não se coloca, uma vez que os enfermeiros que nela prestam cuidados desenvolvem a sua actividade profissional também em contexto intra-hospitalar, preferencialmente nos serviços supracitados, sendo esta uma das condições de ingresso previamente definida, o que potencia o processo de retro-alimentação de experiência e conhecimento com consequente mais-valia para as duas áreas (Suserud, 2005; OE, 2010). É também no capítulo da legitimidade ético-deontológica para a prestação de determinados cuidados que são colocadas dúvidas relacionadas com a qualificação e intervenção profissionais do enfermeiro “…que não seja conjunta com o médico…” (STAE, 2010, p.5), pois o carácter de intervenção em situações críticas contempla que, não raras vezes, se torne necessário aplicar determinadas intervenções e procedimentos considerados life saving, como entubação endo-traqueal, desfibrilhação, prescrição e administração de fármacos ou liderança em situações de emergência, comummente reconhecidas como do âmbito de intervenção médica, colocando-se questões como “qual a fronteira em termos de intervenções médicas e de enfermagem?” ou “pode o enfermeiro prescrever e decidir sobre intervenções e procedimentos life saving?” (Vieira, Oliveira & Ressurreição, 2005). Porém, o decreto-lei nº 161/76 de 4 de Setembro, enquanto Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE), permite que estas dúvidas possam ser esclarecidas, dissipadas e devidamente documentadas, em articulação com os demais documentos descritores e reguladores da profissão. Definidos os cuidados de enfermagem como “as intervenções autónomas ou interdependentes a realizar pelo enfermeiro no âmbito das suas qualificações profissionais” (número 1, artigo 4º do decreto-lei nº 161/76), as intervenções autónomas referem-se às “acções realizadas pelos enfermeiros, sob sua única e exclusiva iniciativa e responsabilidade, de acordo com as respectivas qualificações profissionais” (número 2, art. 9º do decreto-lei nº 161/76), enquanto as interdependentes são respeitantes às intervenções realizadas “pelos enfermeiros de acordo com as respectivas qualificações profissionais, em conjunto com outros técnicos, para atingir um objectivo comum, decorrentes de planos de acção previamente definidos pelas equipas multidisciplinares em que estão integrados e das prescrições ou orientações previamente formalizadas” (número 3, artigo 9º do decreto-lei nº 161/76). Continuando a análise, o número 4, art. 9º do mesmo diploma, refere que os enfermeiros “procedem à administração de terapêutica prescrita, detectando os seus efeitos e actuando em conformidade, devendo em situação de emergência, agir de acordo com a qualificação e os conhecimentos que detêm, tendo como finalidade a manutenção ou recuperação das funções 25 CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010 DEZEMBRO 2012 vitais”, indo ao encontro do documento descritor das competências do enfermeiro de cuidados gerais (OE, 2004, p.19), que afere que este profissional “ajuíza e toma decisões fundamentadas, qualquer que seja o contexto da prestação de cuidados” e responde eficazmente não só em situações inesperadas como de emergência ou catástrofe. 26 Face ao exposto e, enquanto prestador de cuidados em emergência médica pré-hospitalar, é pressuposto que o enfermeiro detenha formação específica orientada e oficialmente certificada, em que os conteúdos nela desenvolvidos contemplem procedimentos e intervenções com vista à “manutenção ou recuperação das funções vitais”. A este propósito, a ARSN (2009), num documento cujo conteúdo elenca “recomendações sobre competências e formação em urgência e emergência”, indica que tanto os médicos como os enfermeiros que desenvolvem actividade nesta área devem possuir as mesmas formações específicas, de modo a permitir que actuem de modo similar e com conhecimentos semelhantes. Deste modo, torna-se claro que o enfermeiro deverá actuar em conformidade com as suas qualificações profissionais, devendo prestar todos os cuidados por si considerados necessários, sob pena do incumprimento da alínea a), número 1, art. 76º da Lei nº 111/2009, que indica que o enfermeiro deve “exercer a profissão com os adequados conhecimentos científicos e técnicos, com o respeito pela vida, pela dignidade humana e pela saúde e bem-estar da população, adoptando todas as medidas que visem melhorar a qualidade dos cuidados e serviços de enfermagem”. Para além disto, estão ainda obrigados ao “cumprimento das convenções e recomendações internacionais que lhes sejam aplicáveis e que tenham sido, respectivamente, ratificadas ou adoptadas pelos órgãos de soberania competentes” (alínea c), número 1, art. 76º da Lei nº 111/2009), nas quais se incluem, por exemplo, as guidelines de Suporte Avançado de Vida (Nolan, Deakin, Soar, Böttiger & Smith, 2005) emanadas pelo International Liaison Committee on Resuscitation e aceites pelo Conselho Português de Ressuscitação, constituindo componentes sine qua non da formação e actuação dos enfermeiros em emergência pré-hospitalar. Em suma, torna-se evidente que a presença do enfermeiro na prestação de cuidados emergência pré-hospitalar está obviamente provida e supor- tada em competências que garantem a qualidade dos mesmos, constituindo a sua presença uma mais-valia inegável. Contudo, julgamos que a consolidação destes argumentos é algo de que os enfermeiros se devem ocupar, através da produção de evidência científica e de uma prática baseada na mesma, pois só assim é permitida a descrição das competências e da sua importância de um modo devidamente fundamentado e alicerçado, futuramente gerador de políticas de saúde que prossigam o reconhecimento e a valorização das competências do profissional de enfermagem. VIVÊNCIAS DOS ENFERMEIROS NO HELITRANSPORTE DE EMERGÊNCIA JOSÉ PEDRO OLIVEIRA RIBEIRO DE DEUS Enfermeiro no Serviço de Urgência Geral do Hospital do Montijo. Pós-Graduado em Urgência e Emergência Hospitalar PATRÍCIA FILIPE VICENTE MARREIROS Enfermeira no Serviço de Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital Garcia de Orta. Pós-Graduada em Urgência e Emergência Hospitalar BIBLIOGRAFIA ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DE SAÚDE DO NORTE - Comissão regional do doente crítico - Um ano de reflexão e mudança. (2009) Porto: Administração Regional de Saúde do Norte. 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(2010) Lisboa: Ordem dos Enfermeiros. PALMA, Garcia; RODRÍGEZ, Salvador; AZANÓN, Hérnandez; RODRÍGUEZ, Camero – Provesso enfermero y atención prehospitalaria urgente. Tempus Vitalis. 1578 – 5963. 5:2 (2005) 1-3. SINDICATO DOS TÉCNICOS DE AMBULÂNCIA DE EMERGÊNCIA Esclarecimento sobre o conceito de técnico de emergência médica. (2010) Porto: Sindicato dos Técnicos de Ambulância de Emergência. SUSERUD, Bjorn-Ove – A new profession in the pre-hospital care field – the ambulance nurse. British Association of Critical Care Nurses, Nursing in Critical Care. 1478 - 5153. 10:6 (2005) 269-270. SUSERUD, Bjorn-Ove; HALJAMÄE, Hengo – Nurse competence: Advantageous in pre-hospital emergency care? Accident & Emergency Nursing. 0965 – 2302. 7 (1997), 18-25. SUSERUD, Bjorn-Ove; HALJAMÄE, Hengo – Role of nurses in pre-hospital emergency care. Accident & Emergency Nursing. 0965 – 2302. 5 (1999) 141-151. TOMÁS, Alexandre – O enfermeiro em ambulâncias de Suporte Imediato de Vida – Afirmar a Enfermagem no pré-hospitalar. Ordem dos Enfermeiros. 1646 – 2629. 32 (2009) 59-60. VIEIRA, Pedro; OLIVEIRA, Luís; RESSURREIÇÃO, Serafim – O enfermeiro perante a emergência pré-hospitalar. Sinais Vitais. 61 (2005) 32-35. INTRODUÇÃO Nos últimos anos a emergência pré-hospitalar tem vindo a evoluir com vista a proporcionar uma assistência “in situ” no menor tempo possível. Com este evoluir surgiu a necessidade de utilizar um meio de transporte mais rápido e diferenciado de forma a potenciar a taxa de sobrevivência nas diversas situações para as quais é solicitado. A par do nosso interesse pessoal pelo tema, curiosidade intelectual e o desejo em aumentar os nossos conhecimentos nesta área, foram para nós as principais fontes de inspiração e interesse para a escolha desta problemática, permitindo assim a formulação da seguinte pergunta de investigação: – Quais as vivências dos enfermeiros que efectuam helitransporte de emergência, na assistência primária e secundária? Segundo Correia citado por Sanches (2003:20) vivência consiste no “acto ou efeito de viver (…) tudo o que é vivido pelo indivíduo com a noção do que é vivido”. É esta a essência do nosso método, ou seja, descrever a forma como os participantes experienciam o vivido, reflectindo o ponto de vista daqueles que vivem ou viveram essa experiência. Para Antunes e Marcelino (2002:4) “os cuidados emergenciais na assistência pré-hospitalar apresentam-se como um desafio aos enfermeiros, aliciante e motivador, pois proporciona-lhes um espaço para desenvolverem novas competências bem como a possibilidade de transmitir conhecimentos e produzir in- DEZEMBRO 2012 CIÊNCIA & TÉCNICA 28 CIÊNCIA & TÉCNICA formação, numa nova concepção de cuidados.” para efectuar esta missão. Em inúmeras situações este meio de assistência assume primordial importância como é o caso de doentes em que o factor tempo é vital, áreas de difícil acesso para outros meios de assistência, acidentes com multivítimas, assim como a existência de condições meteorológicas que impeçam a utilização de meios terrestres. 4) Transporte de Medicamentos – Situação idêntica à descrita anteriormente. Parafraseando Worsing (1990:311), “under the right conditions, a helicopter may be used to gain access to patients where no other vehicle can be used or when other operational considerations are in effect. However, the use of a helicopter has greater operational restrictions. (…) they should only be used in those special circumstances, such as severe trauma, uncontrollable or internal bleeding, life-threatening burns, profound hypothermia, fractures or dislocations with neurologic or circulatory deficit threatening, anaphylaxis (…)”. No que se refere às missões do helicóptero, estas podem ser divididas em: 1) Missões Primárias – Basicamente este tipo de missão caracteriza-se por um rápido e pronto acesso ao local da ocorrência, com vista à assistência imediata no local e estabilização da vítima, de forma a garantir um adequado transporte à unidade hospitalar, permitindo ao longo deste, as intervenções necessárias de acordo com o estado do doente. 2) Missões Secundárias – Neste tipo de missão não são necessárias uma prontidão e rapidez como no caso descrito anteriormente. Baseia-se fundamentalmente no assegurar do transporte, após a vítima se encontrar previamente estabilizada, entre o local da ocorrência do sinistro e a entidade hospitalar. No entanto, de acordo com o estado do doente, podem ser necessárias intervenções imediatas ao longo do transporte. 3) Transporte de Órgãos – Não é muito usual em Portugal, uma vez que as unidades de transplantação adoptam os seus próprios circuitos, no entanto, o helicóptero é considerado o meio ideal 5) Transporte de Equipas Médicas – Também é um tipo de missão que não é muito vulgar em Portugal, mas baseia-se fundamentalmente em transportar uma equipa médica a um determinado local e aguardar noutro sítio diferente que esta o chame para efectuar o transporte. Devido a estes três últimos tipos de missões anteriores não serem frequentes a nível Nacional, optou-se por abranger apenas as missões secundárias e primárias, sendo que estas também são as que mais directamente estão relacionadas com a área de urgência e emergência. DESENHO METODOLÓGICO ADOPTADO Por considerarmos pertinente ser detentor do máximo de saberes e de experiências, dessa forma, sentimos a necessidade de conhecer a vertente vivencial dos enfermeiros que efectuam helitransporte de emergência, uma vez que, não existem muitos estudos nessa área específica do transporte de doentes críticos por meio aéreo, bem como, o relato das experiências de quem os executa. Deste modo, propusemo-nos realizar este estudo de investigação, com os objectivos principais: • Percepcionar as vivências do enfermeiro de helitransporte de emergência da região Sul (sedeado no aeródromo de Tires); • Diferenciar as vivências do enfermeiro nos dois tipos de assistência. Aquando da formulação da pergunta de investigação, questionámo-nos se esta permitiria aos indivíduos em estudo, compreender a questão que seria colocada e se a mesma era em simultâneo abrangente, dessa forma,, elaboramos as seguintes questões de investigação: • Qual o significado que tem para si efectuar heli- transporte de emergência? • Quais as suas vivências nos dois tipos de assistência existentes? Face ao factor temporal, este estudo foi realizado num período de tempo compreendido entre Janeiro e Julho de 2009. Para a concretização deste trabalho optou-se por uma metodologia de carácter Qualitativo de nível 1, uma vez que a realização deste estudo de investigação visa a compreensão de um facto vivenciado de uma forma particular pelos enfermeiros que exercem a sua actividade em helitransporte. Este será também um estudo de carácter Exploratório – Descritivo, uma vez que existe pouco conhecimento acerca da temática em questão e irá descrever essa mesma. Considera-se ainda este estudo de carácter transversal relativamente às suas características temporais, uma vez que os dados que iram ser futuramente recolhidos estarão directamente relacionados com o juízo e opinião dos sujeitos no momento da colheita dos dados. Quanto à “população-alvo” deste estudo de investigação, será referente a enfermeiros que tenham experiência em Helitransporte a exercer funções na base aérea de Tires. A amostra no nosso estudo é não probabilística racional ou “intencional”, num total de três (3) enfermeiros. A selecção de participantes foi efectuada propositadamente, permitindo estudá-la em profundidade, ou seja, devera ser capaz de reflectir e examinar de modo crítico a experiência vivida, querer partilhar essa experiência e ter disponibilidade para o fazer, TRATAMENTO DE DADOS O tratamento dos dados qualitativos – entrevistas – será feito através da análise de conteúdo. A análise de conteúdo que iremos realizar diz respeito a duas questões que constam da entrevista aberta, inseridas no nosso instrumento de recolha de dados. Será elaborada uma tabela, em que consta a informação obtida pelos Enfermeiros, subdividida em unidades de contexto, unidades de registo e unidades de enumeração e posteriormente serão interpretados e analisados os resultados. 29 CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA Aplicado o instrumento de Recolha de Dados e tratados os mesmos, pode-se caracterizar a amostra com um total de 3 participações, em que todos os participantes são do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 33 e 50 anos e com uma experiência profissional não inferior a 12 anos e não superior a 29 anos. Quais as suas vivências nos dois tipos de assistência existentes? Categoria Unidade de Contexto Qual o significado que tem para si efectuar helitransporte de emergência? Categoria Unidade de Contexto DEZEMBRO 2012 Nível técnico Nível de Formação Profissional 30 Significado do Helitransporte de emergência Nível Pessoal Nível Relacional Nível Emocional Nível Prático Unidade de Registo Transporte Primário Unidade de Enumeração Unidade de Registo Maior preferência pelo Transporte Primário 1 Primazia pelas questões de segurança 1 Desconhecimento do local de aterragem 1 Capacidade de gerir vários cenários 1 Maior capacidade de atenção e segurança 1 SUB-TOTAL 5 Transporte de um hospital para outro 1 Doentes minimamente estáveis 1 Tipo de serviço direccionado para doentes críticos 1 Transporte de doentes para uma unidade hospitalar de acordo com o seu grau de gravidade 1 Destreza técnica 1 Ser um operacional activo 1 Proceder ao acompanhamento do doente 1 Complemento do acompanhamento do doente 1 Complemento do tratamento 1 SUB-TOTAL 7 Formação necessária dos profissionais na área de intensivos e VMER 1 Identificação de sintomatologia 1 Experiência de voo 1 SUB-TOTAL 3 Gratificação 1 CONCLUSÃO Complemento da actividade 1 Responsabilidade na estabilização do doente 1 Recuar no tempo 1 Das várias conclusões deste estudo realçamos aquelas que nos parecem mais pertinentes, de entre as quais: Menor conforto no helitransporte 1 A Divisão em duas categorias principais em estudo: Não deve ser considerada como topo de gama 1 • Significado de Helitransporte de Emergência; SUB-TOTAL 6 • Vivências nos dois tipos de Assistência. Interacção com outras realidades 1 SUB-TOTAL 1 Importância do medo 1 Distanciamento em relação ao nervosismo 1 SUB-TOTAL 2 Maior rapidez em transporte de doente entre unidades hospitalares Face à categoria Significado do Helitransporte de Emergência, foram seleccionadas seis Unidades de Contexto após a análise das respostas dadas a esta pergunta: Nível Técnico, Nível de Formação Profissional, Nível Pessoal, Nível Relacional, Emocional e Prático. 1 Menor tempo de chegada ao local 1 Vantajoso em termos geográficos 1 SUB-TOTAL 3 TOTAL 22 Vivências nos dois tipos de assistência Transporte Secundário Indiferenciado Unidade de Enumeração Transporte com menos riscos e após estabilização do doente Dar continuidade mantendo o mesmo nível de cuidados 1 1 SUB-TOTAL 4 Experiência nova 1 Bom relacionamento com a equipa (pilotos) 1 SUB-TOTAL 2 TOTAL 11 31 Os enfermeiros focaram-se essencialmente em questões de natureza técnica e pessoal, relativamente ao significado atribuído ao efectuar helitransporte de emergência, com um sub-total de Unidades de Enumeração de 7 e 6 respectivamen- te. O nível técnico-prático obteve cerca de metade das significâncias (44,5%). As unidades de registo relativas ao nível técnico têm um enfoque sobre a temática do doente crítico, transporte e acompanhamento do mesmo, uma vez que valorizam a existência de profissionais competentes e motivados para trabalhar com este tipo de utentes críticos e por conseguinte aumentar a qualidade dos cuidados prestados aquando do transporte do doente entre unidades hospitalares ( “(…) é uma responsabilidade em termos de estabilidade de um doente que tem que ser transportado por este meio (…)” ), Já relativamente a aspectos de carácter profissional foram evidenciadas características de âmbito de experiência relativa a várias áreas como VMER, Intensivos ou experiência de voo. “(…) tenho uma imensidão de conhecimentos que são adequados para este tipo de transporte, que são o acompanhamento do CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010 doente critico. (…) é exactamente dar continuidade, mantendo o mesmo nível de cuidados que ele tem no hospital de origem até chegar ao hospital de destino.” BIBLIOGRAFIA A nível pessoal aglomera os diversos “intervenientes” implicados no Helitransporte de Emergência, como o caso do Helicóptero (mais especificamente o seu conforto), cuidados relativos ao doente, e temas relacionados com uma opinião mais pessoal. ALMEIDA, Armando, “O papel dos enfermeiros na Emergência pré – Hospitalar”, Revista Mundo Médico, nº 3, Ano I, Março/Abril, 1999, Quanto a aspectos de carácter prático são enumeradas vantagens deste tipo de transporte como a rapidez e eficiência. DEZEMBRO 2012 Relativamente às vivências os entrevistados, es- 32 tes identificaram preferencialmente o transporte primário, uma vez que exige mais dos conhecimentos de cada um e também o facto de este tipo de transporte gerar maior capacidade de gestão de cenários bem como de redobrada atenção por parte dos entrevistados. “(…) embora hajam cenário que são mais complicados, e é muito gratificante fazer os que são primários, puxam mais pela adrenalina (…)”A nível da abordagem secundária referem que esta requer um planeamento mais cuidado com estabilização prévia dos doentes o que, numa primeira análise constituirá um tipo de transporte com menores riscos. “ Para nós, penso que, não sei se isto é verídico para todos, mas acho que no geral normalmente é, todos nós preferimos muito mais situações primárias do que as situações secundárias.“ Destacam ainda como factor geral, não especificando qualquer tipo de transporte, o facto da boa relação com a equipa, nomeadamente os pilotos e de esta constituir uma experiência nova, ao alcance de poucos enfermeiros dada os poucos elementos que são necessários para constituir uma equipa de Helitransporte e ao baixo número de Helicópteros com estas características a operar em Portugal na actualidade. ALMEIDA, Amândio, “As evacuações aeromédicas no contexto nacional do transporte de doentes”, Revista Sinais Vitais, nº37, Julho de 2001, ISSN: 0872-8844, BARDIN, I, “Análise de conteúdo”, 3ªed., Lisboa, Edições 70, 2004, ISBN: 972-44-1214-8, BENNER, Patrícia., “De Iniciado a Perito”, 1ª ed., Coimbra, Quarteto Editora, 2001, TRABALHO DE EQUIPA NA URGÊNCIA PEDIÁTRICA FERNANDA LOUREIRO Licenciada em Enfermagem, Mestre em Ciências da Educação, Mestranda em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediatria, Enfermeira na Unidade de Urgência Pediátrica, Centro Hospitalar de Setúbal, E.P.E., Hospital de São Bernardo. BOGDAN, Robert e BIKLEN, Sari., “Investigação Qualitativa em Educação- Uma introdução à teoria e aos métodos”, 1.ª ed., Porto, Porto Editora, 1994, BOLANDER, Verolyn – “Enfermagem Fundamental – Abordagem Psicofisiológica”. 1ª ed. Loures: Lusociência, 1998, “Dicionário da Língua Portuguesa” (1994), 7ªEd. 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Reflete-se sobre as vantagens e desvantagens do mesmo numa optica de prestação de cuidados e gestão dos mesmo. Palavras-Chave: Trabalho de equipa, urgência pediátrica. ABSTRACT Article sustained in personal reflection about the work of nursing staff in the pediatrics emergency context. Reflects on the advantages and disadvantages in care and its management Keywords: Team work, pediatric emergency INTRODUÇÃO A gestão de cuidados de enfermagem é uma actividade que implica recursos humanos, materiais e financeiros. Enquanto actividade de administração deve-se atender aos mesmos organizando-os numa lógica de eficiência / eficácia. A forma como os enfermeiros se constituem para gerir o seu trabalho é um dos aspectos essenciais a esta gestão (FREDERICO E LEITÃO, 1999). A metodologia de trabalho desta classe profissional é resultado da evolução histórica mas também dos conceitos de gestão, saúde / doença e cliente. Existe uma maior complexidade nos fenómenos de saúde/doença o que implica também, cuidados de enfermagem mais complexos. Na área da pediatria, esta questão é potenciada quer pelo valor social e cultural que é atribuído às crianças quer pela presença permanente de DEZEMBRO 2012 CIÊNCIA & TÉCNICA 34 CIÊNCIA & TÉCNICA um parceiro imprescindível: o prestador de cuidados. Por outro lado, a concepção actual de cuidados de enfermagem, conforme definida pela Ordem dos Enfermeiros, procura: “ promover processo de readaptação, (..) satisfação das necessidades humanas fundamentais e a máxima independência na realização das actividades de vida, (…) adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos factores – frequentemente através de processos de aprendizagem do cliente” (ORDEM DOS ENFERMEIROS, 2001, p.8-9). um número mínimo de 3 enfermeiros por turno (COMISSÃO NACIONAL DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2008). A forma como este trabalho é desenvolvido tem em conta as características do serviço em questão. A ORGANIZAÇÃO: MÉTODO DE EQUIPA Uma equipa pode ser definida como um grupo com elevado grau de interdependência gerada para a realização de um objectivo ou execução de uma tarefa (FERREIRA, 2004). O trabalho em equipa é uma metodologia de trabalho que consiste na organização dos enfermeiros por equipas sendo-lhes atribuída a responsabilidade da prestação de cuidados a um grupo de doentes (FREDERICO E LEITÃO, 1999). Na optimização dos cuidados torna-se imperioso recorrer a outros profissionais de saúde. O trabalho em equipa surge como uma ferramenta central de todo este processo. Ocorre no seio da equipa de enfermagem mas, também numa perspectiva mais abrangente na equipa multiprofissional que inclui além dos enfermeiros, médicos, assistentes sociais, fisioterapeutas, educadores de infância, professores etc. Mas como pode ser integrado este trabalho de equipa na gestão dos cuidados no dia a dia de um serviço de urgência pediátrica? Esta é questão de partida para este artigo. Através da reflexão pessoal e pesquisa bibliográfica procurou-se integrar teoria e prática (re)pensando cuidados de enfermagem. O CONTEXTO: URGÊNCIA PEDIÁTRICA A existência de serviços de urgência pediátrica nas instituições hospitalares é um facto recente. Só se começou a abordar as especificidades da criança e, a pediatria como ramo da medicina na transição do século XVIII para o séc. XIX (COELHO, 1996). Historicamente, a assistência à criança era pouco diferenciada e muitas vezes associada a instituições religiosas. O primeiro hospital dedicado às crianças só surgiu em Portugal em 1877 – Hospital D. Estefânia. E, foi nesta instituição que, em 1957, começou a funcionar a Consulta Permanente de Crianças, o primeiro esboço de uma urgência pediátrica em Portugal. Rapidamente se percebeu que era insuficiente para as necessidades e nos últimos 50 anos assistiu-se à abertura de serviços de urgência pediátrica um pouco por todo o país (Ibidem). Estes serviços têm um modo de funcionamento similar ao de uma urgência geral embora com a especificidade inerente ao utente pediátrico. Os enfermeiros organizam-se por equipas na sua prestação diária de cuidados sendo preconizado Esta metodologia exige uma dinâmica que pretende um melhor rendimento do grupo de enfermeiros (PATITA E FARINHA, 1999) e pressupõe uma filosofia de trabalho aberto (FREDERICO E LEITÃO, 1999). A equipa é liderada por um dos elementos, que assume a responsabilidade de planear, coordenar, supervisionar e avaliar os cuidados de enfermagem prestados. Tem como vantagens: enfatizar a liderança e a comunicação favorecendo a dinâmica de grupo, incentivar a melhoria da qualidade dos cuidados, utilizar melhor as capacidades dos enfermeiros e prestar apoio aos elementos menos experientes (BALDERAS, 1995). Por outro lado, como desvantagens assume-se a exigência de um maior número de elementos de enfermagem e caso não exista boa coordenação e distribuição pode transformar-se num método á tarefa ou funcional (FREDERICO E LEITÃO, 1999). A PRÁTICA: REFLEXÃO SOBRE O CUIDAR No dia-a-dia da urgência pediátrica acorrem com frequência utentes em situação não urgente, facto que é amplamente reportado na literatura (COELHO, 1996; CURADO, 2004; CALDEIRA [et al], 2006). Não existe um número estanque de utentes, mas de um fluxo variável de crianças / famílias díspares na sua complexidade quer de saúde/doença quer social e familiar. A equipa é, assim, responsável pela prestação de cuidados às crianças / famílias que recorrem à urgência du- rante o turno independentemente do número ou tipo de situações clínicas que apresentam. Encontram como primeiro profissional de saúde o enfermeiro e, esperam um atendimento rápido e eficaz assim como compreensão por parte desta classe profissional (MAIA, 1999). Enquanto responsável de equipa na urgência de pediatria suscita-me com frequência questões relacionadas com a organização de cuidados de enfermagem por equipas. Quando se trabalha em equipa há possibilidade de mobilizar recursos no sentido de uma maior adequação de cuidados. E, porque numa equipa existem diferentes pessoas, com diferentes competências é possível direccionar os cuidados de uma forma mais personalizada e adaptada. Este não é um processo fácil de executar na medida em que, é necessário ter um conhecimento amplificado, não só das situações de urgência pediátrica mas também de cada um dos membros que constituem a equipa. A decisão deve ser partilhada e não imposta sendo consensual entre os membros da equipa (XYRICHIS E REAM, 2007). Trata-se de identificar nos enfermeiros mais valias que contribuam para uma resolução de problemas e satisfação mútua: profissional e criança/família. Por outro lado, o facto de se trabalhar em equipa proporciona a reflexão e a partilha de experiência. Neste sentido, no seio da equipa encontra-se como motivação o trabalho em si (PEREIRA E FÁVERO, 2001) e a discussão que gera em torno do mesmo. Consegue-se discutir os cuidados, as atitudes e práticas, numa tentativa de ver outros pontos de vista, repensar os cuidados e em última análise melhorar a prestação. Parece-me claro que tem necessariamente de existir um objectivo assumido por todos os membros da equipa. BLANCHARD (2007, p. 159) refere que “desenvolver equipas altamente eficazes, tal como desenvolver uma grande organização, começa com uma imagem daquilo que estamos a apontar – um alvo”. Neste sentido é importante existir uma missão que se encontre em harmonia com o serviço e a instituição de saúde mas também com o interesse dos profissionais. Para um elemento recém-chegado à equipa a integração é, habitualmente, facilitadora na medida em que é inserido num grupo de elementos de menor dimensão e, com uma dinâmica de funcio- 35 CIÊNCIA & TÉCNICA DEZEMBRO 2012 namento própria. Importa não esquecer, como refere FONTES (2000) que as equipas têm uma disciplina própria e que cada elemento deve impor disciplina a si mesmo atendendo ao funcionamento e objectivos da equipa sem colidir com os mesmos. 36 Encontro como dificuldade, na minha prática, o facto de que nem sempre o chefe de equipa assume as suas funções em pleno. Frequentemente, tem para além das suas funções de chefe de equipa a responsabilidade de prestação de cuidados num sector da urgência. Este facto, é limitativo porque o enfermeiro fica sobrecarregado deixando com frequência de lado aspectos de gestão da própria equipa para prestar cuidados aos utentes. Parece-me que esta organização enviesa a metodologia de trabalho em equipa sendo fonte frequente de sentimentos negativos de frustração e impotência. Por outro lado, a própria escolha do elemento responsável de equipa é também polémica. Deve-se valorizar as competências pessoais e profissionais na sua atribuição mas na realidade observa-se com frequência que o critério idade / experiência profissional é o mais prevalente. Admite-se que este critério é vantajoso como tão bem enfatiza Benner. Contudo parece-me que não deve dominar sobre outros. Do ponto de vista organizacional e, dada a complexidade deste tipo de gestão, era útil a existência de reuniões periódicas de partilha entre enfermeiros responsáveis de equipa, o que não verifico na minha prática diária. Partilha não só de aspectos relacionados com o próprio serviço mas, também com a própria dinâmica de trabalho em equipa. Do ponto de vista comunicacional, este método permite uma maior satisfação por parte dos enfermeiros pois estão mais disponíveis e envoltos no seu trabalho. Contudo, se a equipa não funciona adequadamente, pode ser um factor de instabilidade e desmotivação. SOUSA [et al.] (1998) referem que as equipas passam por quatro estádios de desenvolvimento: a formação, o conflito, a regulamentação e o desempenho sendo a adaptação o factor essencial nestas fases. Quando a equipa já está bem definida e cimentada existe maior coordenação no trabalho porque existe um conhecimento pessoal e profissional mais apro- CIÊNCIA & TÉCNICA fundado. Os enfermeiros cuidam ao mesmo tempo que se sentem cuidados. FERREIRA (2004) refere que o sistema “equipa” é composto por quatro elementos: o chefe, o grupo, o objectivo e as práticas comuns. Os elementos tendem adquirir características do líder / chefe de equipa e há uma harmonização de procedimentos. Entendo que, o responsável de equipa não deve terá pretensão de ser o detentor do conhecimento mas, deve ter a capacidade de o gerir. Isto significa aceitar que, do ponto de vista profissional pode existir na equipa alguém com maior nível de conhecimentos e, assimilar este aspecto como uma mais valia a ser utilizada e rentabilizada. Por vezes, o método de equipa implica a aplicação de outras metodologias de trabalho de forma a conseguir dar repostas em tempo útil aos utentes, nomeadamente devido à afluência ao serviço de urgência ou por questões particulares / pessoais. Trata-se de escolher o método que mais se adequa ao contexto. Neste sentido pode-se dizer que é um método de trabalho dinâmico e cooperativo e que faz todo o sentido num cuidar em urgência. Pode-se referir que encontro paralelismo entre a pesquisa bibliográfica e a minha vivência pessoal na metodologia de trabalho em equipa. Considero que é método mais adaptado ao contexto em concreto porque permite uma melhor prestação quer na óptica do utente, quer na óptica dos enfermeiros. Por fim importa não esquecer que “trabalhar em equipa significa que os diferentes profissionais se empenham para atingir os cuidados de saúde exercendo a sua autonomia profissional, mas simultaneamente reconhecendo a sua interdependência” (FONTES, 2000, p.20). CONCLUSÃO De uma forma geral foram expostos os principais conceitos inerentes á metodologia de trabalho de equipa em enfermagem. Numa óptica pessoal e, reflectindo sobre a prática, foi referido como ideias principais no que concerne ao trabalho de equipa: • possibilidade de mobilização de recursos humanos para um cuidar mais personalizado e adaptado; • metodologia que potencia a reflexão e a partilha de experiências; BIBLIOGRAFIA ARAÚJO, Maria José – O enfermeiro e os cuidados de saúde á criança e adolescente [Em linha]. Lisboa: Alto Comissariado da Saúde, 2008. [Consult. 30 Nov. 2009]. Disponível em WWW:> http://www.acs.min-saude. pt/wp-content/uploads/2008/04/enfermeiros-e-cuidados-de-saude-crianca-e-adolescente.pdf ATWAL, Anita; CALDWELL, Kay – Nurse` perceptions of multidisciplinary team work in acute health-care. International Journal of Nursing Practice. ISSN 1322-7114. 12, 2006, p.359-365. BALDERAS, María de La Luz Pechero – Administracion de los servicios de enfermeria. 3ª Ed. Madrid: Interamericana, Mcgraw-Hill,1995. 216 p. ISBN 968-25-2229-3. BLANCHARD, Ken – Um nível superior de liderança. Lisboa: Edição Actual Editora, 2007. 319 p. ISBN 978-989-8101-04-4 FERREIRA, Carla – Responsabilidade em Equipa: dar e receber. Hospital de São José – Boletim de Enfermagem, nº25, Abril 2004, p.4-6. FONTES, Raquel Veloso - O trabalho em equipa: sua importância para a enfermagem. Ecos da Enfermagem. Porto. Ano XXXII, n.º 214 (Janeiro /Abril, 2000), p. 19-20. FREDERICO, Manuela; LEITÃO, Maria dos Anjos – Princípios de Administração para Enfermeiros. Coimbra: Formasau, 1999.193p. ISBN 972-8485-09-3. KURCGANT, Paulina [et al.] – Administração em Enfermagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, Ltda. 1991.237p. ISBN 85-1212470-9. MAIA, Olga Conceição Costa – Triagem no serviço de urgência pediátrica. Porto. INformar. 5:18 (Julho/Setembro, 1999), p.14-18. OLIVEIRA, Beatriz Rosana Gonçalves; LOPES, Thaís Azzoni; VIEIRA, Claudia Silveira – O processo de trabalho da equipa de enfermagem na UTI neonatal e o cuidar humanizado. Texto e Contexto Enfermagem. Florianopolis. 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Ano VIII – Especial Julho 1998, n.º 31, p. 5-8. • responsável de equipa com outras funções atribuídas como geradora de sentimentos negativos; COELHO, Mário [et al.] – Urgências Pediátricas e Casuística do Hospital D. Estefânia. Lisboa: Laboratórios Bial. 1996.283p. XYRICHITS, Andreas; REAM, Emma – Team work: a concept analysis. Journal of Advanced Nursing. Oxford. ISSN 0309-2402. Vol 61, n.º2 (January, 2008), p.232-241. • experiência profissional enquanto critério de escolha de responsável de equipa; COMISSÃO NACIONAL DA SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – Carta Hospitalar de Pediatria – documento em discussão [Em linha]. Lisboa: Alto Comissariado da Saúde, 2008. [Consult. 30 Nov. 2009]. Disponível em WWW:> . • vantagem em reuniões inter equipas; • estádios de desenvolvimento da equipa como influência na dinâmica da equipa. COLLINS, Angela [et al.] – An example of team competence. Critical Care Nurse. ISSN02795442.vol 27, n.º2, April 2007, p.142-144. CURADO, Maria Alice dos Santos – Reorganização das urgências pediátricas na sub região de saúde de Lisboa. Enfermagem. Lisboa. ISSN 0871-0775. n.º 35/36 (2º semestre), 2004, p.64-80. 37 CIÊNCIA & TÉCNICA ENTRADA DO ARTIGO NOVEMBRO 2010 VIOLÊNCIA SOBRE OS ENFERMEIROS NO SERVIÇO DE URGÊNCIA DORA ALEXANDRA LEAL COELHO Licenciada em Enfermagem MIGUEL ALEXANDRE DIAS REBELO Licenciado em Enfermagem PUBLICAÇÕES SINAIS VITAIS. JOSÉ CARLOS AMADO MARTINS Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica; Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Dedicação à Enfermagem! / EDIÇÕES / REVISTA SINAIS VITAIS / REVISTA DE INVESTIGAÇÃO / NEWSLETTER DIGITAL 39 RESUMO O Serviço de Urgência é uma unidade onde a predisposição para a violência no local de trabalho é geralmente maior, tanto a nível nacional como internacional. Esta pode ser de origem física ou “não-física” e os seus autores são normalmente pacientes, acompanhantes e/ou visitantes. É, por isso, fundamental a adopção de medidas de prevenção e de intervenção com o objectivo de reduzir actos de violência. O presente artigo pretende fazer uma revisão dos principais documentos produzidos sobre esta temática. Palavras-Chave: Violência, enfermeiros, urgência ABSTRACT The Emergency Department is one of the units where the propensity to the workplace violence is generally higher, as at national as at international level. It can be physical or “non-physical” and his authors are usually patients and/or visitors. So it’s important to adopt prevention and intervention measures to reduce these violence acts. This article intends to make a revision of the principal documents produced about this thematic. Keywords: Violence, nurses, emergency CIÊNCIA & TÉCNICA INTRODUÇÃO A violência no local de trabalho contra os profissionais de saúde e, em particular, contra os enfermeiros não é um fenómeno novo, apesar de ser pouco estudado em Portugal. Este fenómeno apenas foi recentemente reconhecido como uma séria ameaça nos serviços de saúde, a qual impõe uma abordagem e um tratamento adequado por parte das organizações. Segundo o Relatório de Avaliação dos Episódios de Violência contra os Profissionais de Saúde (2007), “A violência contra profissionais de saúde no local de trabalho tem-se tornado um problema generalizado e frequente em Portugal, assim como no mundo”, pelo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) a considerou como um problema de saúde pública. -Moreno (2004) atribuiu uma classificação da violência no trabalho contra os profissionais de saúde quanto à sua origem, a qual hoje em dia é DEZEMBRO 2012 CIÊNCIA & TÉCNICA Além do mais, é do conhecimento geral que “os enfermeiros apresentam o mais elevado risco de serem agredidos fisicamente e abusados emocionalmente no trabalho em comparação com outros profissionais de saúde” (Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector, 2008). • Violência física: uso de força física contra outra pessoa ou grupo que resulta em dano físico, sexual ou psicológico (bater, pontapear, esbofetear, etc.); 40 O presente artigo pretende fazer uma revisão dos principais documentos produzidos sobre esta temática a nível nacional e internacional. VIOLÊNCIA NO LOCAL DE TRABALHO Entende-se por violência no local de trabalho “qualquer acto contra um funcionário que cria um ambiente hostil de trabalho e afecta negativamente o trabalhador, seja física ou psicologicamente” (Matchulat apud Relatório de Avaliação dos Episódios de Violência contra os Profissionais de Saúde, 2007). Conclui-se, portanto, que este tipo de violência traduz-se não só em violência física, mas também em violência “não-física”, caracterizada por agressão verbal, pressão moral, ameaças, discriminação racial e sexual e violência contra propriedade. A violência no local de trabalho tem “consequências graves e duradouras a nível individual, institucional e social” (idem), colocando em causa a saúde física e mental das vítimas, prejudicando o seu desempenho profissional e a qualidade dos cuidados prestados e afectando a sua imagem social. A California Division of Occupational Safety and Health, citada por Contrera-Moreno e Contrera- • Violência externa: realizada por pessoas externas à organização com intenção criminosa; • Violência por iniciativa do cliente: iniciado por doentes ou pelos seus familiares; • Violência horizontal ou interna: cujos autores são colegas de trabalho, supervisores ou outros profissionais de saúde. O Relatório Resumido de 2004 da Associação para o Desenvolvimento e Cooperação Garcia D’Orta (AGO) sobre a “Violência contra os Profissionais de Saúde no Local de Trabalho” classifica a violência no local de trabalho da seguinte forma: • Violência psicológica: uso intencional de poder, incluindo ameaça de uso de força física e/ou institucional contra outra pessoa ou grupo resultando em dano físico, mental, espiritual, moral ou social (insultos, pressão moral, assédio...). A violência psicológica divide-se ainda em ameaça/agressão verbal, pressão verbal, assédio sexual e discriminação. ORIGEM DA VIOLÊNCIA NOS LOCAIS DE TRABALHO “Em Enfermagem, enquanto as fontes primárias de agressões verbais e físicas e assaltos são mais comuns em doentes e familiares/visitantes, a violência horizontal realizada por colegas de trabalho e médicos são a maior fonte de violência «não-física», responsável por mais de metade dos abusos emocionais e verbais” (Hesketh et al. apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector, 2008). “A violência «não-física» é de longe mais prevalente que a violência física, e é mais provável que ocorra a um profissional de saúde ou profissionais de outros sectores de saúde do que a outros profissionais de outros sectores” (Hewitt e Levin apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector, 2008). A violência sobre os profissionais de saúde pode surgir em qualquer ambiente de prestação de cuidados de saúde, no entanto, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH, 2002) considera que existem locais onde existe uma maior predisposição para estes casos, sendo o serviço de urgências (SU) um deles. “A acessibilidade 24 horas por dia dos SU, a falta de seguranças adequadamente treinados, armados ou visíveis, e um ambiente altamente stressante são algumas das razões que justificam a especial vulnerabilidade para a violência nos SU. A esmagadora maioria dos autores de violência no serviço de urgência são os pacientes, os familiares e os visitantes” (Kowalenko, T. et al. apud Boyett, L. et al., 2009). “A dor e o desconforto, assim como a tensão, stress e a fúria dos pacientes, membros da família e visitantes são frequentemente intensificados pelo espaço limitado, falta de privacidade e longos períodos de espera” (McPhaul, K. e Lipscomb, J. apud Boyett, L. et al., 2009) resultando em frustração e vulnerabilidade que poderão incitar o abuso físico e verbal sobre os profissionais dos serviços de urgência, em particular os enfermeiros. Pacientes com alguns tipos de intoxicação (ex: intoxicação etílica), devido à alteração do seu estado de consciência, poderão apresentar maior predisposição para iniciar um quadro de violência sobre estes profissionais. da carga de trabalho, a diminuição da realização pessoal, a fadiga e exaustão emocional. Relativamente à violência horizontal, isto é, entre os profissionais de saúde, esta, segundo a American Nurses Association (ANA), poderá surgir por diversos motivos, entre os quais o burnout, a eleva- A percepção da carência de apoio institucional é o factor chave da insatisfação sentida pelos enfermeiros, resultando em níveis inadequados de profissionais perante o volume de trabalho exis- 41 CIÊNCIA & TÉCNICA tente, promessas incumpridas para melhorar a segurança dos locais de trabalho, preocupações ignoradas, educação e treino insuficiente e falta de apoio por parte dos colegas de Enfermagem, dos médicos e dos administradores após um incidente violento. CIÊNCIA & TÉCNICA dos em salas de espera sobrelotadas e desconfortáveis, a falta de pessoal treinado e polícia para prevenir e gerir crises potencialmente perigosas, a movimentação de pessoas em áreas não restritas e áreas mal iluminadas. MEDIDAS DE PREVENÇÃO PRINCIPAIS FACTORES DE RISCO DEZEMBRO 2012 A ANA, em 2002, considera a existência de três factores de risco principais, associados à violência sobre os profissionais de saúde, e em particular sobre os enfermeiros, no seu local de trabalho: ambiente, práticas de trabalho e características das vítimas e autores. 42 • Ambiente: associado à violência pela presença de doentes mentais com pouco ou nenhum seguimento clínico nos SU, pela movimentação, sem restrições, de pessoas estranhas à instituição e familiares perturbados, presença de membros de gangues, alcoólicos ou toxicodependentes, áreas de estacionamento pouco iluminadas, doentes traumatizados e familiares perturbados. • Práticas de trabalho: associadas a longos períodos de espera no SU, aos poucos profissionais de saúde para o volume de trabalho existente, ao trabalho isolado com pacientes durante exames auxiliares de diagnóstico ou de tratamento e à falta de pessoal qualificado e treinado no reconhecimento e gestão de comportamentos agressivos. • Características das vitimas e dos autores: as vítimas são frequentemente enfermeiros sem treino nesta área ou jovens com pouca experiência profissional; os autores têm habitualmente um historial de comportamentos violentos ou um diagnóstico de psicoses, demência ou então são utilizadores de substâncias ilícitas. O NIOSH (2002) e a ANA (2002) consideram a existência de factores de risco comuns a todas as unidades de saúde, destacando-se o trabalho directo com pessoas com temperamento instável (influência de drogas e álcool ou historial de violência ou patologias psiquiátricas), a existência de poucos profissionais disponíveis para o volume de trabalho existente, períodos de espera prolonga- As agressões verificadas nos SU continuam a ser um sério problema, pelo que a aplicação de medidas preventivas e intervenções são urgentes. Uma parte significativa das agressões no local de trabalho é prevenível, pelo que “Um programa de prevenção da violência forte e compreensivo requer uma abordagem interdisciplinar, com objectivos claros e adequados ao tamanho e complexidade do local de trabalho” (Occupational Safety and Health Act apud Boyett, L. et al., 2009). O Plano Nacional de Saúde 2004-2010 (PNS) reconhece a violência no local de trabalho como “um problema de elevada relevância”, afirmando ainda que “A violência é mais frequente contra enfermeiros, pessoal administrativo e clínicos gerais”. Perante este facto, foram propostas medidas de promoção de combate à violência, enfatizando a prevenção e uma política de tolerância zero. A DGS propõe então uma intervenção global com diversas medidas: • Macro: incluem medidas sociais, políticas e legais, pelo que foi criado um Observatório Nacional da Violência Contra os Profissionais de Saúde no Local de Trabalho, onde são registados on-line todos os episódios de violência contra estes profissionais; • Meso: normativas com linhas orientadoras para dirigentes, profissionais de saúde e utentes, realçando as condições de trabalho e de acesso aos serviços de saúde; • Micro: procedimentos de segurança, mecanismos de notificação de incidentes, formação em comunicação e resolução de conflitos, etc. A DGS defende que “cada episódio de violência deve ser abordado como um episódio de elevada relevância, o qual (...) deve ser registado, sofrer uma avaliação profunda e conduzir à tomada das medidas necessárias, para que assim possa ser contornado” (Relatório de Avaliação dos Episódios de Violência contra os Profissionais de Saú- de, 2007). No entanto, o International Council of Nurses (ICN) afirma que apenas 1/5 dos casos de violência são oficialmente reportados (Brurgeois et al. apud Review and Evaluation of Workplace Violence Prevention Programs in the Health Sector, 2008). Segundo o relatório português da DGS, apenas 35 episódios de violência foram comunicados à DGS nesse ano, confirmando os escassos números mencionados pelo ICN. Os principais motivos que justificam estes escassos números relativos às queixas por actos de violência incluem o medo de repercussões se a acção legal prosseguir, a tolerância da violência no local de trabalho num ambiente de prestação de cuidados, a percepção da violência como fazendo “parte do trabalho”, a falta de apoio dos colegas e das hierarquias superiores e a percepção de incompetência por ser incapaz de lidar com um cliente violento. Os actos violentos a que os profissionais de saúde e, em particular, os enfermeiros, estão sujeitos trazem consigo consequências que não podem ser descuradas. A ANA (2002) e o NIOSH (2002) evidenciaram como as principais consequências destes actos sobre os enfermeiros, lesões físicas, trauma psicológico, stress emocional e ansiedade, baixa auto-estima, Síndrome de Stress Pós-Traumático, sentimentos de incompetência, culpa e fraqueza, medo de regressar ao local de trabalho e de ser cri- ticado pelos superiores, falta de confiança nas suas competências, alteração na relação com os colegas de trabalho, impacto na vida pessoal (actividades de vida, questões emocionais e económicas...), etc. ASPECTOS JURIDICO-LEGAIS Em Portugal, em termos legais, o direito à “não-violência” encontra-se consignado na Constituição da República Portuguesa, tendo como princípios fundamentais: • Princípio da igualdade: “Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.” (Art. 13º da Constituição da República Portuguesa); • Direito de Resistência: “Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública” (Art. 21º da Constituição da República Portuguesa); • Direito à Integridade Pessoal: “A integridade moral e física das pessoas é inviolável” e “Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a maus-tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos” (números 1 e 2 do Art. 25º da Constituição da República Portuguesa). Na seguinte tabela, retirada do Relatório Resumido da AGO (2002), com o tema “Violência contra os Tabela 1: Tipificação legal da violência em Portugal Tipos de violência Física Tipificação no Código Penal •Ofensa à integridade física simples; •Ofensa à integridade física grave; •Agravação pelo resultado; •Ofensa à integridade física qualificada; •Ofensa à integridade física por Tipo de crime • • • • • Particular Público Público Público Particular negligência. Discriminação Ameaça/Agressão verbal • Ameaça • Particular Pressão moral • Coacção • Particular Assédio sexual • Coacção sexual • Particular Ameaça/agressão verbal • Difamação; Injúria • Publicidade e calúnia • Particular 43 CIÊNCIA & TÉCNICA profissionais de saúde no local de trabalho”, encontra-se descrita a tipificação legal dos diferentes tipos de violência: Como podemos observar na tabela, existem crimes públicos, em que o Estado tem obrigação de investigar independentemente de haver queixa ou não, e crimes particulares onde o Estado deixa nas mãos dos afectados quererem ou não, submeter o agressor a julgamento. Neste últimos crimes, a submissão do arguido a julgamento depende de três condições cumulativas: DEZEMBRO 2012 • Queixa junto do Ministério Público (MP) ou das autoridades policiais; 44 • Constituição de assistente (é obrigatória a constituição de advogado) – é o estatuto processual que permite avançar com o processo contra determinado arguido nestes crimes de natureza particular; • Acusação particular, isto é, finda a fase de investigação do crime pelo MP (após a queixa pelo ofendido), a pessoa é notificada para deduzir a acusação particular contra o arguido. ASPECTOS ÉTICOS Tal como afirma o ponto nº 1 do Artigo 78º do Código Deontológico, a relação entre quem cuida e quem recebe cuidados pauta-se por princípios e valores – a dignidade humana é o verdadeiro pilar do qual decorrem os outros princípios e que tem de estar presente, de forma inequívoca, em todas as decisões e intervenções. Como está previsto no Código Deontológico, Artigo 76º - Deveres em Geral, alínea f), os membros efectivos da Ordem dos Enfermeiros (OE), estão obrigados a “Contribuir para a dignificação da profissão” mesmo que sejam obrigados a “comunicar os factos de que tenham conhecimento e possam comprometer a dignidade da profissão ou a saúde dos indivíduos ou sejam susceptíveis de violar as normas legais do exercício da profissão” (Artigo 76º, alínea i). Segundo o Parecer CJ-48/2002, referido no Código Deontológico, o enfermeiro pode recusar-se a prestar cuidados, à pessoa que desrespeita a sua dignidade pessoal. Contudo, a dignidade e os direitos do doente exigem que o exercício dos direitos profissionais não coloquem em risco a vida dele, pelo que, quando necessário, o enfermeiro CIÊNCIA & TÉCNICA em questão deverá diligenciar no sentido de o doente não ficar sem assistência, comunicando a sua decisão. Em caso de desrespeito da sua dignidade, o enfermeiro, como membro efectivo da OE tem o direito de “solicitar a intervenção da ordem na defesa dos seus direitos e interesses profissionais, para garantia da sua dignidade e da qualidade dos serviços de enfermagem” (Artigo 75º. - Direitos dos Membros, alínea j)). O enfermeiro, no seu exercício, observa os valores humanos pelos quais se regem os indivíduos e os grupos (Artigo 81º do Código Deontológico) mas, enquanto indivíduo e membro de um grupo, espera que os seus valores também sejam respeitados. Se o utente tem o direito de ser atendido com qualidade, também o profissional de saúde tem o direito de não ser lesado na sua dignidade por comportamentos que desrespeitem os seus direitos de personalidade. Segundo o artigo 78º, anteriormente citado, o enfermeiro tem o direito de “usufruir de condições de trabalho que garantam o respeito pela deontologia da profissão e pelo direito do cliente a cuidados de enfermagem de qualidade”. Na Carta dos Direitos e Deveres dos Doentes (incluída no Código Deontológico dos Enfermeiros), são atribuídos direitos específicos aos doentes, mas também deveres, entre os quais está o de respeitar a dignidade humana dos outros doentes e dos profissionais de saúde. NOTA FINAL As consequências resultantes da violência no local de trabalho são várias e incidem sobre a dimensão física, psíquica e social. Existem diversos mecanismos legais que possibilitam uma actuação perante actos violentos sobre os enfermeiros no seu local de trabalho, dependendo apenas da apresentação de uma queixa formal por parte destes. A nível ético, há que salientar que a dignidade humana é o verdadeiro pilar de todos os princípios. O enfermeiro, no seu exercício, observa os valores humanos pelos quais se regem os indivíduos e os grupos mas, enquanto indivíduo e membro de um grupo, espera que os seus valores também sejam respeitados. A violência sobre os enfermeiros, em particular nos SU, começa a ser reconhecida como um gra- 45 ve problema, sobre o qual é fundamental actuar quer a nível preventivo quer a nível interventivo, pois não é algo que “faça parte do trabalho” do enfermeiro. A notificação pronta de qualquer caso de violência é crucial para conhecermos a real dimensão do problema e, simultaneamente, contribuirmos para a dignificação da nossa profissão. BIBLIOGRAFIA AMARAL, M.; GONÇALVES, R.; NUNES, L. – Código Deontológico do Enfermeiro: dos Comentários à Análise de Casos. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros, 2006. 456 p. ISBN 972-99646-0-2 AMERICAN NURSES ASSOCIATION – Preventing Workplace Violence. Occupational Health & Safety Series [em linha]. Maryland: ANA, 2002. [Consult. 7 Maio 2010]. Disponível em http://www.nursingworld.org/ MainMenuCategories/OccupationalandEnvironmental/occupationalhealth/OccupationalResources/PreventingWorkplaceViolence.aspx; BOYETT, L. 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Disponível em: http://www.dgs.pt/; CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA ENTRADA DO ARTIGO SETEMBRO 2011 A COMUNICAÇÃO COM O DOENTE VENTILADO CATARINA AMARAL GERARDO HENRIQUES Licenciada em Enfermagem DANIEL RICARDO MOREIRA DE ALMEIDA SILVA Licenciado em Enfermagem gestos; piscar de olhos; escrita (quadro mágico e comunicador de teclas); e mímica labial; e os sentimentos que estão associados ao facto de estes doentes estarem impedidos de comunicar verbalmente são: a frustração, ansiedade, confusão, dor/sofrimentos, raiva e horror. Palavras-chave Comunicação; Comunicação em Enfermagem; Ventilação mecânica; Doente ventilado; Cuidados Intensivos. PAULO ALEXANDRE CARVALHO FERREIRA Professor Adjunto na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra ABSTRACT DEZEMBRO 2012 Patients who are mechanically ventilated show several changes regarding their verbal communication, not only because of the presence of the ventilatory prostheses, but also due to the situation of their clinical condition. The purpose of this paper is to study and reach a better understanding of the communications difficulties of conscientious patients that have undergone trough this procedure of mechanical ventilation, while admitted to the Intensive care units; identity the concerns, thoughts and feelings they deal with when confronted with such hurdles, and learn the main strategies and means for nurses to reach them. 46 For methodology we consulted a brochure on the subject, using scientific health data bases, such as b-on, EBSCO and Scholar Google. From that research, and using search terms as “communication” and “ventilated patients”, several articles came up, from which only 9 were used (in accordance with the exclusion criteria) in this revision. RESUMO Os doentes que se encontram ventilados mecanicamente apresentam alterações ao nível da comunicação verbal, não só devido à presença da prótese ventilatória, mas também a todo o ambiente envolvente e ao seu estado clínico. Os objectivos deste trabalho são conhecer as dificuldades de comunicação dos doentes conscientes, submetidos a ventilação mecânica, internados nas unidades de cuidados intensivos; identificar os seus sentimentos perante essas barreiras e conhecer as principais estratégias/meios para comunicar eficazmente com os mesmos. Como metodologia utilizada foi realizada uma revisão da literatura acerca da temática, usando bases de dados científicas da área da saúde, como a b-on, EBSCO e Scholar Google. Dessa pesquisa bibliográfica, e utilizando como descritores as palavras “communication” e “ventilated patients”, foram encontrados vários artigos, dos quais apenas foram utilizados nove (de acordo com os critérios de exclusão) para a realização desta revisão. The main conclusions of this work were as such: Most ventilated patients find it difficult to communicate; the methods and strategies more commonly used are, nodding, gesture, blinking, writing (magic board and keypads), and libmimic. The feelings associated with being unable to communicate verbally are mostly frustration, anxiety, confusion, pain/suffering, anger and horror. As principais conclusões deste trabalho foram: a maioria dos doentes que se encontram ventilados mecanicamente sente dificuldades em comunicar; os métodos e estratégias mais utilizados com este tipo de doentes são, acenos de cabeça; Keywords: Communication; Nursing Communication; Mechanical ventilation; Ventilated patient; Intensive Caring. INTRODUÇÃO A comunicação é o processo de transmissão de mensagens e interpretação do seu significado (Wilson et al (1995) apud Perry e Potter (2006)). Em enfermagem, a mesma, é uma competência adquirida através de estudo e diligência, e assume particular importância, pois impulsiona a interacção e o contacto entre enfermeiro/utente e permite a cooperação entre todos os elementos da equipa de saúde. São várias as situações que põe à prova as nossas capacidades de tomada de decisão e que implicam uma utilização atenta, de técnicas terapêuticas. Uma dessas preocupações/situações no contexto da nossa prática profissional prende-se com a comunicação com a pessoa ventilada. O facto de uma pessoa conectada a uma prótese ventilatória, mesmo que consciente, não conseguir interagir verbalmente com os profissionais e com os familiares, pode constituir uma fonte de sentimentos negativos, tais como: a ansiedade, a frustração e a insegurança, que acabam por dificultar a rapidez da sua recuperação. O enfermeiro deve estar atento para a identificação, tão rápida quanto possível, dos problemas potenciais do doente, para os quais tem competência para avaliar, planear e implementar intervenções que contribuam para evitar esses mesmos problemas ou, minimizar-lhes os efeitos indesejáveis (Ordem dos enfermeiros, 2002). VENTILAÇÃO MECÂNICA Segundo Agrelo et al (2008) a ventilação mecânica é todo o procedimento de respiração artificial que envolve um aparelho mecânico para substituir a função respiratória do ser humano, podendo esta melhorar a oxigenação e influenciando a mecânica pulmonar. A anestesia é a situação de uso mais frequente de ventilação artificial. O uso da mesma, é essencial quando envolve a anestesia inalatória profunda, durante o uso de bloqueadores neuromusculares e quando o acto cirúrgico exclui a possibilidade de manter a ventilação espontânea, tais como procedimentos cardíacos e toracopulmonares. A correcta compreensão das técnicas ventilatórias é fundamental para a escolha do modo apro- 47 CIÊNCIA & TÉCNICA priado de ventilação para cada situação uma vez que a ventilação mecânica inapropriada pode provocar sérias lesões pulmonares tão ou mais graves que aquelas que justificaram o seu uso. As modalidades ventilatórias consistem numa relação entre o volume e a pressão. Existem 4 grandes modos ventilatórios: Ventilação Controlada; Ventilação Assistida; Ventilação assistida-controlada; e Ventilação mandatória intermitente. DEZEMBRO 2012 O doente em unidades de Cuidados Intensivos 48 CIÊNCIA & TÉCNICA ternamento, utilizando uma linguagem simples, ao doente/família; explicar a utilidade do equipamento que o envolve, fazendo demonstrações; apresentar a equipa; descrever os procedimentos a que será sujeito no imediato e posteriormente (ex: entubação endotraqueal); e envolver a família no processo de cuidar, incentivando-a a comunicar com o mesmo. À posteriori, várias são as estratégias que se podem adoptar, estas vão desde: As Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) são um contexto específico de prestação de cuidados de saúde. Diferenciam-se dos outros serviços pela sofisticada tecnologia de monitorização e de intervenção terapêutica, pelos recursos humanos altamente especializados e pela gravidade do estado clínico dos doentes que aí se encontram internados. • Mímica labial; Segundo Sá (1999), o doente em unidade de cuidados intensivos é rodeado por uma imensidão de estímulos sensório-perceptivos que o lançam num mundo desconhecido e penoso que o faz sofrer. Torna-se importante que os profissionais de enfermagem conheçam devidamente os doentes, e aqui a comunicação assume um papel fundamental, pois é através dela que o mesmo exprime os seus sentimentos e dá a conhecer as suas necessidades (Gomes et al, 2006). • Utilizar cartões com desenhos referentes a necessidades/actividades que o doente possa querer satisfazer ou tabela com as frases mais frequentes do mesmo; OPTIMIZAÇÃO DA COMUNICAÇÃO COM A PESSOA VENTILADA O Enfermeiro deve ser capaz de optimizar estratégias para estabelecer uma comunicação eficaz com os doentes, diminuindo assim, o stress e a ansiedade dos mesmos e proporcionando-lhes a possibilidade de manter a comunicação com o exterior, nomeadamente, exprimir as suas emoções, sentimentos, opiniões e necessidades, uma vez que não podem fazê-lo pela via habitual. A comunicação não verbal nesta situação, assume um papel imprescindível na relação interpessoal enfermeiro/doente. Inicialmente, em situações que seja possível, é importante estabelecer um sistema alternativo de comunicação, antes que o doente seja incapaz de comunicar verbalmente. Algumas das intervenções possíveis passam por: explicar a razão do in- • Tentativa e erro; • Tentativa por letras; • Estabelecer códigos não linguísticos uniformes a todos os elementos da equipa; • Fornecer material para que o doente se exprima através de linguagem escrita; • Disponibilidade para conversar com a pessoa se as tentativas de compreender a pessoa forem infrutíferas. Apesar de todas estas técnicas serem bastante úteis, torna-se essencial o papel do enfermeiro nestas situações, já que é necessário que seja este a “dar o primeiro passo” no processo de comunicação, mostrando uma atitude de disponibilidade, interesse e respeito para com a pessoa a quem presta cuidados. Phaneuf (2005), refere que existe um conjunto de comportamentos e atitudes que influenciam a comunicação não verbal e que iremos descrever de seguida: - Postura e atitudes corporais Ex: A orientação do corpo traduz a nossa atenção; • Evitar braços cruzados, mãos na cintura e mãos nos bolsos. - Gestos Ex: O tamborilar dos dedos, o batimento de pernas, o morder dos lábios, o mexer no cabelo demonstram inibição. - Contacto visual Ex: Fugas constantes do olhar ou o olhar fixo podem transmitir falta de interesse ou inibição. - Expressão facial METODOLOGIA Ex: Os traços e a mímica facial podem ser reveladores de compreensão, interesse, indiferença, aborrecimento e irritação; Para a realização deste trabalho foi feita pesquisa bibliográfica em bases de dados científicas na área da saúde como: EBSCO; b-on e Scholar Google. Nessas bases foram pesquisados artigos de investigação acerca da temática do nosso trabalho, de forma a responder às nossas questões de pesquisa: “Quais as principais estratégias/métodos utilizados no processo de comunicação com o doente ventilado e consciente?” e “Quais os sentimentos vivenciados pelos doentes com ventilação assistida mecanicamente, com impossibilidade de comunicar verbalmente?”. • O sorriso pode indicar que somos calorosos e estamos disponíveis. - Voz Ex: O tom de voz demasiado elevado do Enfermeiro, poderá ser sentido como agressivo e o demasiado baixo pode transmitir inibição; • O tom seguro da voz é sinónimo de autoconfiança e da auto-afirmação. - Silêncio Ex: O silêncio pode dar tempo à pessoa para pensar no que sente, na maneira de exprimir as suas necessidades e preocupações, ao mesmo tempo que permite ao enfermeiro examinar as suas próprias preocupações e observar as mensagens não verbais que o doente possa estar a transmitir; - Toque Ex: O toque pode levar a pessoa a ficar mais atenta e a valorizar a interacção, vendo no enfermeiro alguém presente, prestável e preocupado. Assim, apesar do doente ventilado não comunicar através da voz, existem outras formas do mesmo comunicar, sendo então o enfermeiro a “peça-chave” neste processo de comunicação. Da pesquisa bibliográfica realizada nas bases de dados acima referidas, encontramos 683 artigos sobre a temática em causa, utilizando os descritores: “Communication” e “Ventilated patients”, tendo sido apenas seleccionados trinta e dois. Através da leitura do abstract dos mesmos e de acordo com os nossos critérios de exclusão, (Ano em que foram realizados (anteriores a 1990); o seu conteúdo, já que muitos não estavam directamente relacionados com a nossa área temática, não dando respostas aos nossos objectivos e o facto de alguns não serem artigos de investigação científica), seleccionamos apenas nove. De seguida serão apresentados os dados relativos aos estudos pesquisados, para posterior discussão dos mesmos. 49 CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA RESULTADOS Autor Título Metodologia Principais resultados/Conclusões Connoly, M., 1992 “Temporaly nonvocal trauma patients and their gestures: a descriptive study” Estudo descritivo e exploratório Quantitativo Os métodos mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar com os profissionais de saúde foram: acenos de cabeça (34%), gestos com os dedos (23%), gestos convencionais (29%) e piscar de olhos (3,4%),. “Communication – Related responses of ventilated patients” Estudo descritivo, correlacional Quantitativo - A maioria dos doentes ventilados sente dificuldade em comunicar; - A maioria, sente maior dificuldade em comunicar com a família; - Os doentes que estão incapacitados de falar devido a ventilação mecânica, possuem sentimentos de raiva e de horror. - Os gestos são o método alternativo à comunicação mais utilizado, seguido da escrita, mímica labial, expressões faciais e acenos de cabeça. O quadro alfabético e o quadro de comunicação são os métodos menos usuais. Dobbin et al 2004 “Communication ability, method, and content among nonspeaking nonsurviving patients treated with mechanical ventilation in the intensive care unit” Estudo descritivo e retrospective Quantitativo - 72% Dos doentes submetidos a ventilação mecânica, conseguiram estabelecer alguns episódios de comunicação, principalmente através de acenos de cabeça, mímica labial, gestos e escrita; - Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, no que diz respeito ao método e ao conteúdo do processo de comunicação, aquando do uso de sedativos e analgésicos. “Recollections expressed by mechanically ventilated patients of Intensive Care Unit, Hospital University Kebangsaan Malaysia (HUKM)” Estudo exploratório Quantitativo - 69% Relataram experiências assustadoras devido há presença de prótese ventilatória e durante a entubação; - Os doentes vivenciam altos níveis de frustração quando pretendem dar a entender quais as suas necessidades através da comunicação; - Apesar de estarem sedados, os doentes têm noção de todos os acontecimentos desagradáveis na Unidade onde estão internados; DEZEMBRO 2012 Menzel 1994 50 Ho Siew et al 2008 Hartelius, Laakso e Markstrom, 2009 “Communication and quality of life in individuals receiving home mechanical ventilation” Estudo Descritivo Quantitativo - A percepção do discurso está diminuída nos doentes que recebem ventilação mecânica em casa; - Os mesmos indivíduos têm elevados níveis de disfunção na sua comunicação; - A comunicação é uma das necessidades humanas básicas mais afectadas pela ventilação mecânica. Silva, Souza e Tavares 2007 “Comunicação Enfermeira e paciente na Unidade de Tratamento Intensivo” Estudo Descritivo Qualitativo - Devido à condição física dos doentes internados em Unidades de Cuidados Intensivos (ventilação mecânica; fraqueza muscular e contenção física que o impede de recorrer à escrita; alterações do nível de consciência ou outra razão que o deixa ansioso, deprimido, sonolento ou letárgico), a maior parte das Enfermeiras sentiram muita dificuldade em comunicar com estes doentes; - A duração do contacto com o doente é um importante meio para estabelecer comunicação com ele; - As Enfermeiras mostram disposição para observar cuidadosamente o doente, o que facilita o processo de comunicação entre ambos. Rosário 2009 “Comunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivos” Estudo descritivo e exploratório Qualitativo - A maioria dos doentes sentiu dificuldade em comunicar, sendo que a maior dificuldade era em comunicar com a família e com todos os profissionais de saúde; - A principal barreira humana foi o facto de não ser compreendido pelos profissionais de saúde e o desconhecimento do motivo porque não falava; - A principal alternativa à comunicação verbal, foi a utilização da escrita e dos gestos, seguido da mímica labial e por último do quadro magnético com o alfabeto; - Os sentimentos relacionados com a incapacidade de comunicar verbalmente foram de impotência, medo e ansiedade; - Os sentimentos relacionados com o internamento foram de confusão, dor/ sofrimento, mas de segurança aquando da presença de profissionais de saúde; 51 CIÊNCIA & TÉCNICA Berg et al, 2004 DEZEMBRO 2012 Berg et al, 2006 52 “Patients reports of health care practitioner interventions that are related to communication during mechanical ventilation” “Communication boards in critical care patient’s views”. CIÊNCIA & TÉCNICA Estudo descritivo Estudo Misto - 62% Dos doentes demonstraram elevados níveis de frustração, quando tentavam comunicar com os profissionais de saúde, enquanto ventilados mecanicamente; - 79% Dos doentes, aos quais foram administrados sedativos, demonstraram um menor nível de frustração, do que aqueles a quem não foram administrados tais fármacos. Estudo descritivo e exploratório Estudo Misto - A maioria dos doentes que foram submetidos a ventilação mecânica experienciaram altos níveis de frustração quando tentavam comunicar quais as suas necessidades que estavam afectadas; - Os níveis de frustração dos doentes eram mais baixos, se utilizassem um quadro para escrever; DISCUSSÃO Após a análise dos resultados obtidos nos diferentes artigos científicos, foram várias as conclusões a que podemos chegar sobre a problemática em causa de modo a conseguirmos dar resposta às nossas questões de pesquisa. Segundo Machado e Sá (2006, p.31) “Um dos principais factores de stress para um doente submetido a ventilação mecânica é o compromisso da comunicação verbal. Não só pelo facto de ser difícil expressar-se como também, ser compreendido por parte dos profissionais de saúde”. Esta afirmação vai ao encontro dos resultados obtidos pela autora do artigo “Comunicar com o doente ventilado em Cuidados Intensivos”, que conclui, que a maioria dos doentes ventilados sentiu dificuldades em comunicar e que essas dificuldades levaram a sentimentos de ansiedade e medo, que são causadores de stress. Esta adjudica também que a principal barreira humana à comunicação dos doentes ventilados é o facto de estes terem receio de não serem compreendidos pelos profissionais de saúde. Connoly, (1992); Menzel (1994); Dobbin et al (2004) e Rosário (2009), identificam os vários métodos alternativos, mais utilizados pelos doentes ventilados para comunicar. Entre os mais usados estão: os acenos de cabeça, os gestos, o piscar de olhos, a escrita e a mímica labial. Berg et al (2006) enfatiza a vontade e a preferência expressa pelos doentes em utilizar os quadros para comunicar, já que os consideram simples de compreender e manusear. Ferreira et al (2006, p. 52) afirmam também que o quadro mágico é um método de comunicação bastante prático pois pode apagar-se sempre que é utilizado e pode ser usado inúmeras vezes. Queirós (1998) reportando-se a Sieh e Brentin afirma que “Escrever pode ser muito cansativo, por isso é preciso encorajar o doente a escrever as palavras mais importantes”. No que diz respeito às condições físicas do doente ventilado, de acordo com os resultados de Silva, Souza e Tavares (2007), a ventilação mecânica, a fraqueza muscular e a contenção física, são aspectos que o impede de recorrer à escrita, assim como as alterações do nível de consciência ou outra razão que o deixe ansioso, deprimido, sonolento ou letárgico, o que leva os profissionais de saúde, na maioria das vezes a sentiram dificuldade em comunicar com estes doentes. Sendo assim, as análises anteriores sugerem que são várias as estratégias que podemos adoptar para comunicar com os doentes ventilados, basta haver capacidade imaginativa e criativa por parte dos intervenientes. Estas destinam-se a proporcionar ao doente, apesar de impedido de o fazer pela via habitual, a possibilidade de poder manter as suas relações com os profissionais de saúde e com os familiares, exprimindo as suas emoções, sentimentos, opiniões e necessidades. Dos vários estudos encontrados sobre a temática dos sentimentos apresentados por este tipo de apesar de os doentes ventilados estarem sedados. doentes quando sujeitos a ventilação mecânica, todos concluem que os mesmos apresentam elevados níveis de frustração, sentimentos de raiva e horror, ansiedade, confusão e dor/sofrimento, devido ao internamento em si, mas principalmente por não conseguirem comunicar com os profissionais de saúde, não podendo pedir ajuda sempre que alguma das suas necessidades esteja afectada. Para além disso, estes doentes, muitas vezes encontram-se sedados. Um aspecto relacionado com este assunto, foi tido em conta por Berg et al (2004), que relaciona o nível de frustração dos doentes ventilados com o facto de eles estarem sedados ou não. Assim, os autores concluem que quando os mesmos estão nesta situação, não comunicam e portanto, o nível de frustração é menor, enquanto que, aqueles a quem não foi administrado quaisquer tipos de sedativos, comunicam de forma muito mais frustrada. Por outro lado, no estudo realizado por Dobbin et al (2004), não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o método e o conteúdo do processo de comunicação, aquando do uso de sedativos ou analgésicos. O que poderá estar na origem desta discordância é o tempo de ventilação, tido em conta no primeiro estudo analisado, pois este é bastante superior (12 meses) em relação ao dos participantes do estudo de Dobbin et al, para além do prognóstico clínico no primeiro, ser pior. Reflectindo um pouco sobre os resultados anteriores, achamos que este é um assunto que deve ser reflectido por todos os profissionais de saúde, no sentido de não desvalorizarem a comunicação, Muitas vezes, nas unidades de Cuidados Intensivos, onde a comunicação é limitada pela condição física dos doentes, os aspectos técnicos predominam bastante. A pessoa encontra-se numa situação de desvantagem e as actividades inerentes a estas unidades, segundo Silva, Sousa e Tavares (2007), são apontadas como limitadoras para uma abordagem mais próxima e individualizada, levando a que os doentes desenvolvam um conjunto de sentimentos e emoções que dificultam a comunicação. Assim, mais uma vez, concluímos que o Enfermeiro tem uma função importante no que diz respeito a este processo com o doente ventilado, pois deve dominar um leque de conhecimentos vasto e possuir aptidões e qualidades que ultrapassem todo o âmbito técnico e científico, tal como é referido por Carpenter e Carpenter (2003). CONCLUSÃO Para além das técnicas propriamente ditas, que podemos utilizar em contexto prático com as pessoas ventiladas e internadas em unidades de cuidados intensivos, apercebemo-nos de quão é essencial que o enfermeiro conheça e sinta, a importância da comunicação entre a pessoa/equipe de saúde e que a mesma será tanto mais difícil quanto mais instável estiver o doente. É nosso dever tentar, sempre exaustivamente, conseguir entender a pessoa que temos à nossa frente e que se encontra numa situação de desvantagem, já que apresenta dificuldade em comunicar verbalmente e em ser compreendido. Ellis (1995) apud Machado e Sá (2006, p. 29) afirmam que “(…) um enfermeiro genuíno é percebido pelos doentes como digno de confiança e capaz de receber uma confidência.” Em género de conclusão, parece-nos importante referir, que só teremos a ganhar com o desenvolvimento do nosso desempenho neste âmbito, numa perspectiva de satisfação mútua na inter relação enfermeiro/doente no processo de comunicação. Achamos também, que os profissionais de saúde devem fazer uma reflexão global sobre o processo de comunicação neste contexto clínico, no 53 CIÊNCIA & TÉCNICA CIÊNCIA & TÉCNICA DEZEMBRO 2012 ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010 54 sentido de reduzir sentimentos negativos como a ansiedade, o medo e a frustração e por outro lado melhorar a comunicação entre Enfermeiro/ Doente. ENG, Ho Siew [et al] - Recollections Expressed by Mechanically Ventilated Patients of Intensive Care Unit (ICU), Hospital Universiti Kebangsaan Malaysia (HUKM). Med & Health [em linha]. 2008; 3(1): 4653. [Consult. 20 de Maio 2010]. Disponível em: http://www.ppukm.ukm. my/ukmmcjournal/media/blogs/ukmmcjournal/Archive/2008Vol3No1/ Page%2046%20-%2053.pdf. Para sensibilizar os profissionais, sugerimos que os vários serviços hospitalares onde estão internados pessoas submetidas a ventilação artificial, façam um estudo experimental, utilizando como método para comunicar, o quadro mágico, não só porque vários autores, como por exemplo: Stovsky et al (1988) e Fried-Oakon et al (1991) realizaram estudos onde obtiveram resultados positivos, mas também na tentativa de reduzir os níveis de frustração que estes doentes apresentam, devido à incapacidade de comunicar verbalmente. FERREIRA, Guida [et al] – Técnicas de comunicação com o doente ventilado. Revista Sinais Vitais. Coimbra. ISSN 0872-8844. - Nº 68 (2006), p. 49-53. BIBLIOGRAFIA AGRELO, Albino [et al] – Manual de Ventilação Mecânica no Adulto: Abordagem ao doente critico. 1ª Edição. Loures: Lusociência, 2008. 256 p. ISBN 978-972-8930-42-4. 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It is a reflection on the technique used by nurses during the treatment of wounds. É uma reflexão sobre a técnica utilizada pelos enfermeiros durante o tratamento de feridas. Palavras-chave: Pele, feridas, cicatrização, técnica limpa, técnica asséptica, enfermeiros. Keywords: Skin, sores, scarring, clean technique, aseptic technique nurses. CIÊNCIA & TÉCNICA DEZEMBRO 2012 REFEXÃO SOBRE TÉCNICA USADA NO TRATAMENTO DE FERIDAS 56 A pele é considerada um dos componentes essenciais do corpo humano, recobrindo-o na sua totalidade e o seu peso representa 15 a 20 % do peso corporal (Oliveira, Martinho, Nunes, 2001). Histológicamente é constituída por três estruturas distintas a epiderme, derme e tecido subcutâneo. As suas funções são de protecção, homeostasia, termorregulação, metabolismo da vitamina D, percepção sensitiva e exerce um papel estético (Oliveira, Martinho, Nunes, 2001; Martins, Oliveira, 2002; Abreu, Marques, 2003). Para que a pele possa realizar a sua função, esta deve encontrar-se íntegra, no entanto está, diáriamente, sujeita a diferentes factores que colocam em causa a sua integridade, por exemplo as feridas, "toda lesão de um tecido ou órgão em sua integridade anatómica, provocada por agente físico, químico ou microbiano" (Oliveira, Martinho, Nunes, 2001, p.326). A realização de pensos, executar o tratamento à ferida, é uma das actividades inerentes à prática de enfermagem (Moreira, 1998, p. 37), sendo uma área em que o enfermeiro se assume como possuidor de conhecimento formal, que lhe permite executar o tratamento à ferida assumindo a responsabilidade pelo seu acto. A preocupação com o tratamento das feridas sempre existiu, pois são em muitas situações, um factor limitativo para a pessoa, o que em termos sociais se repercute com o aumento da abstinência laboral, bem como o aumento do número de baixas. Procurou-se sempre a utilização de diferentes agentes que fornecessem protecção à ferida do ambiente externo, assim como facilitasse o seu processo de cicatrização, em que este é “constituído por uma série de processos bioquímicos complexos e muito ordenados, que representa o culminar da acção de diferentes tipos de células em resposta a diferentes ambientes celulares” (Ovington, 2004, p.145). A abordagem realizada às feridas sofreu uma revolução a partir de 1962, quando George Winter "demonstrou que a cicatrização da ferida é favorecida em meio húmido" (Martins, Oliveira, 2002, p.59), o que era o oposto do assumido como verdade até então. A comprovação que o meio húmido é necessário para "promover a migração celular e a formação de tecido de granulação" (Oliveira, Martinho, Nunes, 2001, p.325), juntamente com o conhecimento da fisiologia do processo de ci- CIÊNCIA & TÉCNICA catrização, conduziu à existência, no mercado, de uma vasta gama de dispositivos para cobertura, produtos para limpeza e tratamento das lesões (Oliveira, Martinho, Nunes, 2001). Para a escolha do curativo, sendo curativo "um meio terapêutico que consiste na limpeza e aplicação de uma cobertura estéril em uma ferida com a finalidade de promover a rápida cicatrização e prevenir a contaminação de tecidos internos por microorganismos da pele e do meio ambiente" (Martins, Oliveira, 2002, p.63), é preciso conhecer os materiais existentes no mercado bem como as suas indicações. Executar o tratamento à ferida tem por objectivo “promover a cicatrização, minimizar lesões cutâneas e prevenir a infecção” (Paulino, Tareco, Rojão, 1999, p. 279), e para tal é preciso que durante o executar o tratamento à ferida se consiga “tratar e prevenir infecção, diminuir infecções cruzadas por meio de técnicas e procedimentos correctos, remover corpos estranhos, reaproximar os bordos (…)” ( Martins, Oliveira, 2002, p. 63). De forma a facilitar o trabalho dos enfermeiros, durante o executar o tratamento à ferida, existe no mercado os “kits”, que reúnem todo o material esterilizado necessário para a execução do tratamento, o que “previne a contaminação do material” (Moreira, 1998, p.39). Para executar o tratamento à ferida deve-se utilizar técnica asséptica (Moreira, 1998; Paulino, Tareco, Rojão, 1999; Bajay, Jorge, Dantas, 2003; Mallett, Dougherty, 2004; Fernandes, 2005), o que implica a utilização de material esterilizado e a sua manipulação com técnica asséptica, para prevenir a contaminação do mesmo e desta forma prevenir a infecção da ferida, “todos os instrumentos, líquidos e materiais que entrem em contacto com uma ferida têm de ser esterilizados, caso se pretenda reduzir o risco de contaminação” (Mallett, Dougherty, 2004, p.74). A cicatrização da ferida é um processo sistémico, e por isso é afectada quer por factores locais quer pelas condições gerais do indivíduo. A infecção da ferida “é a complicação mais grave do processo de cicatrização, provocando um aumento do volume de drenagem da ferida e alterando a sua característica para purulenta, além de provocar a ruptura dos tecidos formados” (Martins, Oliveira, 2002, p.63), atrasando o processo de cicatrização. Existem três estados microbianos possíveis para uma ferida, a contaminação “é a presença de microorganismos na superfície dos tecidos” (Neve, 2000, p.25), a colonização “ é a multiplicação dos microorganismos na superfície sem invasão dos tecidos” (Idem) e a infec- ção “quando os microorganismos invadem os tecidos e não há da parte destes uma resposta adequada” (Idem). A presença de microorganismos por si só não implica uma infecção, até porque “os humanos têm pelo menos 1014 microorganismos a viver no interior ou sobre o corpo” (Ovington, 2004, p.146) e, por isso, é impossível uma ferida ser estéril. A infecção da ferida resulta do desequilíbrio entre a resistência do hospedeiro e as bactérias, a favor destas. Isto acontece porque há um aumento da carga bacteriana ou por uma diminuição das defesas do hospedeiro, e caracteriza-se clinicamente pela presença de “eritema, edema, dor, aumento do volume de drenagem do exsudado da ferida com alteração das suas características para purulenta e odor fétido” (Oliveiro, Martinho, Nunes, 2001, p.328). th-Temple, Johnson, 2000, p.418). Tendo por base este conhecimento justifica-se a utilização de técnica asséptica durante a execução do tratamento à ferida de forma a evitar o “transporte” de microorganismos para o leito da ferida. Mesmo que estes microrganismos sejam considerados comensais, microorganismos pertencentes à flora residente, eles podem num hospedeiro com as suas defesas diminuídas provocar uma infecção. A flora residente é composta por microorganismos que se multiplicam na pele, é de baixa virulência, contudo podem causar infecções nas pessoas imunodeprimidas na presença de soluções de continuidade (Blom, Lima, 2002). Um dos aspectos com que me deparei na prática é a técnica utilizada para limpar as feridas, pelo que considero oportuno uma reflexão sobre o assunto, uma vez que a limpeza da ferida faz parte do executar tratamento à ferida. “O processo de limpeza é de fundamental importância para a reparação tecidual. A reparação tecidual não poderá evoluir de modo adequado, enquanto todos os agentes inflamatórios não forem removidos do leito da ferida” (Yamada, 2003, p.50). O desbridamento é “a remoção de tecidos necrosados e de corpos/ partículas estranhos do leito da ferida, usando técnicas mecânicas e/ou químicas” (Idem). Estes dois processos de limpeza são importantes na “prevenção da infecção no tratamento de feridas crónicas” (Ovington, 2004, p.147). Da bibliografia consultada, Yamada refere a utilização de “técnica limpa x técnica estéril”, questionando se, de facto, existe a necessidade de limpar as feridas abertas utilizando soluções e produtos esterilizados e com técnica asséptica. Refere que dada a falta de justificações através de estudos científicos a AHCPR (Agency for Health Care Policy an Research) e NPUAP (National Pressure Ulcer Advisory Panel) recomendam “para limpeza de feridas crónicas, técnica limpa e coberturas limpas” (Yamada, 2003, p.51). No entanto, para a utilização de técnica limpa é necessário “uso individualizado dos materiais e que os mesmos, depois de abertos, sejam adequadamente armazenados” (Idem) o que não se verifica e existem situações em que a utilização de técnica limpa não está indicada “se houver invasão da corrente sanguínea e em pacientes imunodeprimidos. Nesses casos deve-se usar tudo estéril” (Idem). Também não faz sentido a utilização de material e produtos esterilizados (o que implica um maior custo) para depois a sua manipulação ser com técnica limpa, pois na técnica limpa as “pinças e luvas não necessitam de ser estéreis” (Smi- Apesar de Yamada referir a utilização de “procedimento limpo para a maioria das feridas crónicas, cirúrgicas e não cirúrgicas” (2003, p.51), salienta que primáriamente à implementação desta técnica, por uma instituição, é importante a realização de um “treino prévio de como trabalhar com técnica limpa, na qual, ao invés de pinças ou luvas esterilizadas, utilizam-se luvas de procedimento” (Idem, p.52). “Embora as feridas crónicas sejam consideradas contaminadas ou colonizadas e não estéreis, motivo que fundamenta a utilização de tais procedimentos (técnica limpa)” (Idem) é importante que o enfermeiro assuma a responsabilidade de prevenir “contaminações oriundas de técnicas inadequadas e procedimentos contaminados” (Idem). Independentemente da técnica utilizada para a limpeza de ferida “ela deve sempre evitar o trauma mecânico e/ou químico da ferida” (Gou, 2001) e ter a finalidade de “facilitar a remoção de secreções e de microorganismos de ferida (Smith-Temple, Johnson, 2000, p.462). A irrigação da ferida é a técnica de limpeza mais recente, em que existe a combinação da “capacidade em remover particular e outros contaminados, inclusive bactérias, sem gerar dano ao delicado tecido de granulação” (Gou, 2001). Para a realização da irrigação recorre-se ao uso de agulha e seringa, sendo recomendado a utilização de uma seringa de 35 ml e agulha de 19 G (gauge) (Gou, 2001; Yamada, 2003), pois desta forma consegue-se obter uma pressão de 8 psi (per square inch) considerada “adequada e efectiva para a limpeza” (Yamada, 2003, p.54). À medida que aumenta o tamanho da seringa diminui-se a pressão. A utilização de seringas de 20 ml e agu- 57 CIÊNCIA & TÉCNICA GESTÃO | LIDERANÇA ENTRADA DO ARTIGO AGOSTO 2010 DEZEMBRO 2012 lhas de 18 G também estão indicadas (Gou, 2001; Yamada, 2003) com os quais obtém-se uma pressão de 9.5 psi que “embora esse valor esteja acima do valor considerado adequado para o processo de limpeza, estão abaixo de 15 psi, pois acima deste, segundo Rodeheaver (1997), causa danos ao tecido de granulação” (Yamada, 2003, p.55). . 58 Na pesquisa realizada está documentado a utilização de “frascos de soro fisiológico de 125 ou 250 ml perfurados de diferentes maneiras” (Idem) para a irrigação da ferida, “frascos plásticos de soro perfurados, sendo fundamental que o profissional que utilizar ou orientar o procedimento no domicílio certifique-se da pressão exercida conforme o sistema escolhido, evitando comprometer o tecido em formação” (Gou, 2001), a minha questão é, como é que se certifica? Existem situações “feridas com resíduos, corpos estranhos, fragmentos e outros” (Yamada, 2003, p.56) em que é necessário o recurso a compressas humedecidas e suavemente pressiona-las ou fricciona-las sobre a ferida para a sua efectiva limpeza. No entanto, se com a pinça não consegue exercer a pressão desejada, as compressas devem ser pegas pelos seus cantos, para que a área da compressa tocada pelas mãos não toque no leito da ferida e lembrar que “usar a gaze uma só vez” (Oliveira, Martinho, Nunes, 2001, p.333). Outro dos aspectos a ser valorizado pelos enfermeiros é a importância da lavagem das mãos. “A lavagem das mãos com água e sabão é um dos procedimentos mais simples e dos mais eficazes na prevenção e controlo das infecções hospitalares e demais infecções (Armoud, 2001, p.319), porque as mãos são o principal veículo na transmissão exógena da infecção por serem o “instrumento” mais usado no cuidado prestado aos utentes e raramente estão livres de microorganismos, sejam eles residentes ou transitórios (Blom, Lima, 2002; Tavares, 2003). Existem diferentes técnicas de lavagem das mãos, sendo a lavagem higiénica ou social e a lavagem asséptica ou desinfecção higiénica as frequentemente realizadas no centro de saúde. Durante o procedimento de executar o tratamento à ferida as mãos devem ser lavadas com técnica higiénica no início do procedimento para “prevenir a infecção cruzada” (Paulino, Tareco, Rojão, 1999, p.281) “após retirar o penso para prevenir a infecção” (Idem, p.282) e no final do procedimento para “prevenir a infecção cruzada” (Idem). São vários aspectos que concretizam a intervenção: Executar tratamento de feridas e que por vezes merecem reflexão. Muito do que nos é ensinado, na escola, é assumido por nós como uma verdade aceite por todos e que a prática reflecte o que aprendemos. No entanto, quando em prática profissional somos confrontados num meio com práticas que diferem do aprendido, as dúvidas surgem e sentimos a necessidade de reflectir e encontrar respostas. CULTURA ORGANIZACIONAL E TIPO DE LIDERANÇA NA ADOPÇÃO DE PRÁTICAS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO PAULA PINTO FERREIRA Enfermeira especialista Urgência Pediátrica, Hospital S.Teotónio, Viseu RICARDO RODRIGUES Doutorado em Gestão, Universidade da Beira Interior, NECE, Covilhã PAULO PINHEIRO Doutorado em Gestão, Universidade da Beira Interior, NECE, Covilhã RUI PINTO Doutorado em odontologia, Porto REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, E. S. de; MARQUES, M. E. - Histologia da Pele Normal In JORGE, S. A.; DANTAS, S. R. - Abordagem Multiprofissional do Tratamento de Feridas. São Paulo. Atheneu, 2003. cap. 4. p.17-28. ARMOUD, G. A. – Técnica de Lavagem das Mãos In MARTINS, M. A.; [et al.] - Manual de Infecção Hospitalar: Epidemiologia, Prevenção e Controle. 2ª Ed. Rio de Janeiro. Editora Médica e Científica Ltda, 2001. cap. 28. p.319-324. BAJAY, H. M.; JORGE, S. A.; DANTAS, S. R. – Técnicas Básicas para a Realização de Curativos no Âmbito Hospital In JORGE, S. A.; DANTAS, S. 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Por outro lado a gestão do conhecimento e a liderança estão intimamente ligadas com a cultura da organização, o que vai exigir adaptações em ambas e se vai tornar na base das práticas organizacionais, ao nível dos problemas de adaptação e integração, tanto externa como interna. Palavras-Chave: Gestão do conhecimento, cultura, liderança, organizações de saúde ABSTRACT Understand the processes of knowledge in the organization, from the perspective of their implementation by employees on a daily basis is a critical factor of success. Hence the practice of knowledge management requires continuous support by the leaders, ensuring their value and results are apprehended in the minds of the employees. Organizations should therefore be aware of the leaders, in particular its leadership style, which becomes fundamental to the functioning of knowledge management initiatives in an organization. On the other hand knowledge management and leadership are closely connected with the culture of the organization, which will require adjustments in both and will become the basis of organizational practices, in the problems of adaptation and integration, both external and internal. Keywords: knowledge management, culture, leadership, health organizations. GESTÃO | LIDERANÇA INTRODUÇÃO A necessidade de produção contínua de conhecimento novo, é uma resposta à obsolescência de saberes que deixam de estar ajustados às exigências do progresso tecnológico das sociedades. DEZEMBRO 2012 Numa organização o conhecimento é um activo com características particulares; trata-se de um activo intangível difícil de avaliar. O seu valor relaciona-se com a sua utilidade e aplicabilidade, não podendo ser medido por si só mas nas actividades e resultados derivados da sua aplicação (Davenport e Prusak, 1998), nomeadamente as mudanças de rentabilidade, a eficiência e a taxa de inovação resultantes dos processos de gestão deste activo (Cohen, 1998). 60 Conhecer os processos do conhecimento na organização, na perspectiva da sua aplicação pelos colaboradores no quotidiano é um factor crítico de sucesso. Daí que as práticas de gestão do conhecimento exijam a sustentação contínua por parte dos líderes, assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores. A gestão de conhecimento nas organizações de saúde é uma ferramenta essencial, para sustentar a sua vantagem competitiva, uma vez que é frequente o capital conhecimento destas organizações perder-se por elevadas taxas de mobilidade dos seus colaboradores e as próprias organizações não terem consciência do valor do conhecimento que possuem (Bansal, 2003). REVISÃO DA LITERATURA A aplicação do conhecimento é um sub-processo que traduz o conhecimento num processo interactivo através dos quais são utilizados os resultados de investigação (Graham e Tetroe, 2007); um processo social complexo que envolve utilizadores individuais e organizacionais de investigações, interagindo estes para que os resultados possam ser aplicados, tendo presentes os factores organizacionais para a sua implementação (Estabrooks, Midodzi, Cummings e Wallin, 2007; Graham e Tetroe, 2007). A disciplina gestão do conhecimento em saúde surgiu em paralelo com a criação da economia do conhecimento, de onde emerge o capital inte- GESTÃO | LIDERANÇA lectual, activo intangível, como principal fonte de poder e riqueza, em detrimento dos activos tangíveis, com a crença de que se este activo intangível for colocado de forma eficaz no trabalho, ele será o único factor capaz de criar vantagem competitiva na organização, desbloqueando conhecimento supostamente adormecido(Sheffield, 2008). Uma gestão estratégica do conhecimento é crucial para a implementação de um programa de gestão de conhecimento (Ernest eYoung, 1999; Kavindri, 2005; Parlby e Tayler, 2000; Robertson, 2005) e deve abordar um leque de questões, tais como: o aproveitamento do conhecimento já existente, criação de um modelo de conhecimento organizacional, efectuar a relação entre o conhecimento e a criação de valor, incluir uma série de projectos integrados com resultados a médio e longo prazo, deve ser tida como um processo e não um projecto, identificar as necessidades da organização e possíveis resolução destas. Interligando deste modo a estratégia de gestão do conhecimento com a estratégia de gestão do negócio, onde só aqui tem cabimento e hipóteses de sucesso. Chait (1999) relevando a importância desta interligação, refere que em muitos aspectos a gestão do conhecimento em pouco difere em alguns aspectos da gestão da organização, dizendo que deve existir uma visão, com a qual as pessoas devem estar alinhadas e por fim que este alinhamento deve ser de cima para baixo em toda a organização. A gestão do conhecimento deve ter como foco de atenção a reformulação de atitudes e comportamentos das pessoas (Havens e Knapp, 1999), direccionando-se para uma cultura que valorize e incentive a inovação, transparência, trabalho em equipa e partilha de conhecimento, requerendo liderança (Parlby e Tayler, 2000) e tempo. Neste contexto, a gestão do conhecimento nas organizações, é uma área de relevante interesse, devendo ser transversal a todas as outras funções da organização, centrando-se essencialmente nas pessoas, nos seus comportamentos, acções, rotinas, motivações e de igual modo, em dois aspectos considerados fulcrais: o aspecto tecnológico, relacionado com as tecnologias de informação e comunicação que lhes permite a obtenção de dados e informações, e o humano que concentra a sua preocupação na partilha das experiências entre os indivíduos. A partilha de informação e conhecimento são tidos como elementos importante nos novos modelos de gestão organizacionais (Sveiby , 1998), no entanto até ao momento, pouca atenção tem sido prestada, ao papel dos líderes organizacionais nas tarefas de difusão do conhecimento e aprendizagem nas organizações (Vera e Crossan,2004), tendo estes um papel determinante no sucesso da aplicação do conhecimento (Berta e tal, 2010). Conhecer os processos do conhecimento (conhecimento que não é um objecto, é dinâmico e cresce nas organizações ao longo do tempo, não pode ser avaliado por si só (Mouritsen, 2004) tendo presente a complexidade do conceito de valor que torna ainda mais difícil justificar através de uma métrica (Chong e tal, 2000; Kaplane Norton, 2004)) na organização, na perspectiva da sua aplicação pelos colaboradores no quotidiano é um factor crítico de sucesso. Daí que as práticas de gestão do conhecimento, têm como principal papel transformar o conhecimento como ser conceitual em prático, permitindo desta forma a obtenção de resultados significativos para a organização (Ibrahim e Reid…) exijem a sustentação contínua por parte dos líderes, assegurando que o seu valor e resultados estejam apreendidos nas mentes dos colaboradores. São considerados lideres aqueles indivíduos que sobressaem e que podem influenciar o grupo a adoptar determinados procedimentos perante um problema. Não querendo abordar especificamente o conceito de líder "aquela pessoa que causa a mudança mais eficaz no desempenho do grupo" (Cattell, 1953, citado por Fiedler, 1967, p. 8), e que "é identificada e aceite como líder pelos seguidores" (Sanford, 1949, citado por Fiedler, 1967, p. 8), é fundamental reter que este é sempre o agente do processo ou da acção de liderança que acontece no grupo ou na organização. No seu modelo contingencial, Fidler postula que o desempenho dos grupos depende da interacção entre o estilo de liderança e a situação que se apresenta (Shrivastava &Mitro, 1984). Fiedler (1965, 1967) defende ainda, que não existe nenhum estilo de liderança que possa ser considerado o mais eficaz para qualquer situação. Por outras palavras, uma pessoa torna-se líder não apenas devido aos atributos da sua personalidade mas, também, em virtude da coexistência de vários factores situacionais da interacção entre o líder e os seus subordinados. "o tipo de atitude de liderança requerido para o desempenho eficaz do grupo depende do grau em que a situação é favorável ou desfavorável para o líder" (Fiedler, 1967, p. 15) O papel do líder do conhecimento é fornecer visões estratégicas, motivar, comunicar de modo eficaz, actuar como um agente da mudança, devendo suportar a geração do conhecimento e não controlá-lo, Von Krogh, Nonaka e Ichijo (2000). Quando o assunto é a criação do conhecimento há uma mudança no papel da gestão. Os gestores não devem tentar controlar a criação do conhecimento, mas sim promovê-la. Não se gere o conhecimento, apenas se capacita para o conhecimento. Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) sintetizam a capacitação para o conhecimento como o “conjunto geral de actividades organizadas que afectam de maneira positiva a criação do conhecimento”. Considerar a gestão do conhecimento como simples modismo pode representar a perda de oportunidade de compreender como o conhecimento é desenvolvido, gerado e usado nas organizações. (Bouthillier e Shearer, 2002): Fernandes no seu estudo “Gestão do conhecimento corporativo”, verificou ao questionar uma determinada população sobre o que poderia motivá-los para implementar um processo de gestão de conhecimento ou melhorar a sua rotina, que a grande maioria (55,17%) das pessoas esperavam uma orientação do seu do líder para poderem implementar ou melhorar as suas rotinas com base num programa de gestão do conhecimento, 34,48% se o seu líder lhe pedisse, uma minoria de 3,45% por ordem do líder e ainda 6,9% referia a questão da obtenção de tempo, para poder adoptar essas mudanças. Por tudo isto as organizações devem prestar a devida importância aos seus líderes e especial ao seu o tipo de liderança. Aparecendo a liderança como uma linha cardinal que coloca em funcionamento toda a gama de iniciativas de gestão do conhecimento numa organização. O líder influencia as acções do grupo, estando simultaneamente sob o escrutínio deste, passando a coordenar as suas acções e sendo responsável pelos seus resultados, pelo que passa a estar naturalmente no centro das actividades de gestão 61 GESTÃO | LIDERANÇA DEZEMBRO 2012 do conhecimento. Tornam-se então essenciais os valores como a confiança e a abertura, já que sem eles o conhecimento pode ser facilmente perdido. Aliado a estes valores, num plano superior, é essencial que exista cooperação voluntária e compromisso emocional, o que reflecte o modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem a organização. Esta atitude implica que os líderes conduzam a sua prática demonstrando voluntariedade na partilha do conhecimento. 62 A eficácia da liderança é fundamental ao desenvolvimento das organizações (Denison e tal, 1995, Singh 2008) tendo já sido verificado em estudos que os líderes mais eficazes reflectem uma maior complexidade de pensamento, são capazes de reconhecer paradoxos, contradições e a complexidade do ambiente (Denison e tal, 1995) devendo para tal a investigação sobre liderança centrar-se no desempenho cognitivo e comportamental dos líderes. Nas organizações os líderes são de extrema importância para detectar a inércia organizacional (Nonaka e tal, 2001) e para exercer um esforço no sentido de introduzir e legitimar novas estruturas e processos (Crossan e tal, 1999), tendo um papel importante no compromisso (Singh, 2008), construção de relacionamentos dos colaboradores (Kouzes e Posner, 2002; Rictchie e Martin, 1999), devendo estes compreender as pessoas, os processos, sistemas e príncipios de negócio, para que seja possível a tomada de decisão (Debowski, 2006) estando a produtividade organizacional relacionada com a gestão do conhecimento, através de adequados estilos de liderança (Singh, 2008). Um dos parâmetros chaves da gestão do conhecimento bem sucedida é a cultura da organização (fenómeno complexo, que se forma sob a multiplicidade de interacções do organismo social com o seu ambiente interno e externo), sendo esta talvez também o seu obstáculo mais significativo. A cultura de cada organização deve muito a seus líderes, pois é deles que parte a formação dos valores e crenças culturais que serão partilhados por todos na organização. Alguns autores relacionam a formação da cultura com o conjunto de significados, crenças e valores dos fundadores da organização, Paschini (2006) A cultura organizacional pode ser entendida como um sustentáculo das práticas Organizacionais ( Hofstede, 1991; Schein, 1992; Scheinder, 1996), sen- GESTÃO | LIDERANÇA do tida como o conjunto de pressupostos básicos que um determinado grupo inventou, descobriu ou desenvolveu ao aprender a lidar com os problemas de adaptação externa e de integração interna, e que funcionou suficientemente bem para serem considerados válidos e ensinados aos novos membros como a forma correcta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas. Na concepção de Hofstede (1991, 2001) a cultura é adquirida e não herdada. Ela advém do ambiente social do indivíduo e não dos genes. Ela deve ser distinguida da natureza e da personalidade de cada um, mesmo que as fronteiras entre esses três conceitos envolvam discussão entre especialistas de diferentes ciências sociais. Para o autor, os três níveis de programação mental têm suas características específicas, a saber: - personalidade: é específica do indivíduo, herdade e aprendida. - cultura: específica ao grupo ou categoria, sendo ela aprendida; - natureza humana: é universal e é transmitida. A cultura é assim tida como uma programação mental, ou seja, o “software da mente”, produzido no ambiente social em que a pessoa cresce e adquire suas experiências. Os valores e a maneira de pensar dos líderes e de gestores de topo, destaca Schein (2001), são parcialmente determinados pela herança cultural de cada um e pelas experiências que partilharam. O autor adverte ainda que para tornar a organização mais eficiente e eficaz, deve-se entender o papel da cultura na vida da organização. No entanto, que o que quer, que seja proposto, somente será percebido como o líder quiser, até que o grupo como um todo tenha realizado a acção e observado os seus resultados, Schein (2004). O que pressupõe a existência de níveis hierárquicos (lideres e liderados, podendo haver maiores e menores níveis de distância hierárquica) que informam sobre as relações de dependência, podendo ser definidos como o grau de aceitação, por aqueles que têm menos poder, Hofstede (1991), estando directamente relacionada com a forma encontrada por diferentes sociedades para lidar com a questão fundamental de gerir as desigualdades entre os indivíduos. Dos valores partilhados numa organização os mais frequentemente mencionados e que pro- movem o comportamento da gestão do conhecimento são confiança e abertura. Sem lealdade e confiança, o conhecimento é perdido facilmente, Um nível elevado de confiança e lealdade na organização é uma condição essencial para que exista uma cooperação voluntária (condição chaves aos desafios de hoje), um compromisso emocional que tenha reflexo no modo como os diversos colaboradores se relacionam e sentem na organização. Esta atitude implica que os lideres conduzam a sua prática pelo mesmo exemplo e demonstrem voluntariedade na partilha do seu conhecimento. dores, que identificam as práticas de gestão do conhecimento nas instituições de Cardoso(2007) METODOLOGIA Modelo Conceptual proposto Estudo de caso A especificação de um modelo teórico de base implica descrever as estruturas relacionais que se pretendem medir, tornando-se para tal necessário seleccionar um conjunto de variáveis que operacionalizem o problema a estudar. O estudo de caso é muito utilizado quando não se consegue controlar os acontecimentos e, portanto, não é de todo possível manipular as causas do comportamento dos participantes. È uma investigação que se baseia principalmente no trabalho de campo, estudando uma pessoa, um programa ou uma instituição na sua realidade, utilizando para isso, entrevistas, observações, documentos, questionários e artefactos (Yin, 1994). Com o objectivo de construir um modelo explicativo das relações teoricamente estabelecidas entre gestão do conhecimento, a cultura organizacional, o tipo de liderança existente numa Organização de Saúde, efectuaram-se os seguintes passos: a especificação do modelo teórico de base; a construção de um diagrama de caminhos, representante das relações teóricas a testar; a conversão do diagrama de caminhos num conjunto de equações estruturais e especificação do modelo de medida; a escolha da matriz de dados e estimação do modelo proposto; re-especificação do modelo (Cardoso, 2007).O modelo de medição refere-se aos indicadores e / ou sub-construções que refletem as construções em causa, enquanto que o modelo estrutural aborda as relações entre os construtos. O modelo conceptual proposto contem um conjunto de variáveis que influenciam as práticas de gestão do conhecimento, que correspondem a dois construtos, que são medidos através de vários indicadores. Assim o modelo contém relações do construto de cultura organizacional, liderança, gestão do conhecimento. Cada construto é constituído por um conjunto de indicadores. O construto de liderança por 18 indicadores, avaliados segundo a escala de LPC de Findler; o construto de cultura organizacional por 18 indicadores, que avaliam a cultura organizacional no que diz respeito á distância hierárquica de Hosfted; o construto gestão do conhecimento por 34 indica- Bogdan e Biklen (1994), refere que o estudo de caso consiste na observação detalhada de um contexto e pode ser representado como um funil, em que o início do estudo é sempre a parte mais larga. No que diz respeito à “generalização” das conclusões e resultados de um estudo de caso, é necessário salientar que esta metodologia de investigação não tem o propósito de generalizar os resultados obtidos mas sim de conhecer profundamente casos concretos e particulares (Merriam, 1988 e Yin, 1994). Sendo os resultados apenas com base em uma amostra, devem permitir tirar conclusões, válidas para a população (Wilde e Hess 2007). Em estudos como este a análise do complexo de causa-efeito entre as conexões é o foco principal. Para a verificação estatística desses modelos complexos, a Modelagem de Equações Estruturais (SEM) é um dos métodos mais populares no campo das ciências sociais (Homburg e Pflesser 2000). Dentro da abordagem SEM existem dois métodos diferentes, ou seja, um que analisa a covariância (LISREL) que é parametro orientada e o outro que analisa a variância (PLS) que determina a relevância da previsão (Jöreskog e Wold, 1982). A abordagem do PLS foi seleccionada uma vez que não exige uma amostra grande, não possui 63 GESTÃO | LIDERANÇA DEZEMBRO 2012 problemas de identificação e não presume uma distribuição normal das variáveis (Chin, 1998; Chin, Marcoli &Newsted, 2003), permitindo a estimação simultânea de um grupo de equações, medindo-se os conceitos (modelo de mensuração) e as relações entre eles (modelo estrutural). 64 Um modelo PLS é composto de duas partes: o modelo exterior e interior do modelo. O modelo externo descreve as relações entre as variáveis observáveis ou indicadores e as variáveis latentes ou constructos. O modelo interno mostra os relacionamentos diretos e indiretos entre os construtos (Chin, 1998). Visando a PLS maximizar a variância explicada para os indicadores e as variáveis latentes, tornando-se possível examinar as relações e os R-Squared (R2), que determinam a qualidade do modelo. No modelo estrutural, as relações entre as variáveis são apresentadas sob a forma de um diagrama de caminhos. As hipóteses propostas são apresentadas sob a forma de relações causais, e graficamente representadas por flechas. A eficácia, do caminho o chamado coeficiente, varia entre os valores -1 a 1. Um valor de 1 representa uma correlação perfeita positiva, que significa que a variação de um construto independente leva à variação idêntica do construto respectivos dependentes. Valores superiores a 0,4 são considerados muito fortes, em contraste com um valor de -1 que indica uma correlação de oposição, isto significa que um aumento de uma variável exógena leva à diminuição idêntica da respectiva variável endógena. Os valores inferiores a -0,4 são vistos como muito fortes. Um coeficiente de caminho de 0 estados, é indicativo de que a variável exógena não tem qualquer influência sobre a respectiva variável endógena (Jahn 2007). Coeficientes de caminho inferiores a 0,1, respectivamente superior -0,1 são considerados como não significativos (Huber et al. 2007). Para testar o modelo proposto foi construído um questionário, baseado em três escalas já validadas á população portuguesa: a escala LPC(least prefered coworker) apenas respondida pelo Enfermeiro Chefe do Serviço, a sub escala de distância Hierarquica de Hofsetede e a escala de gestão do conhecimento de Leonor Cardoso, aplicada a todos os outros Enfermeiros, composto por 70 indicadores que medem 3 construtos (os construtos podem GESTÃO | LIDERANÇA ser medidos por indicadores reflexivos (explicam o construto) ou formativos (explicados pelo construto). Em nosso estudo os indicadores dos construtos tipo de liderança, cultura organizacional e gestão do conhecimento são reflexivos), O qual foi aplicado á população de Enfermeiros que trabalhava num dia das o8H ás 24H, tendo-se obtido uma amostra de 31,4% do total de Enfermeiros que trabalham na Instituição. QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO - Em que medida a cultura organizacional e a liderança contribuem para a implementação de práticas de gestão do conhecimento nas instituições de saúde? HIPÓTESES H1: A cultura organizacional tem impacto nas práticas de gestão do conhecimento nas organizações de saúde H2: A liderança das chefias de enfermagem reflecte-se nas práticas de gestão do conhecimento nas organizações de saúde limiar usual é de 0,7 (Nunnally & Bernstein, 1994). Os valores variam de 0,72-0,94 , estas escalas podem, portanto, ser consideradas confiáveis. Validade discriminante foi avaliada por meio de crossloadings. Os itens devem ter maior correlação com a sua própria construção do que com qualquer outra, significando que eles são percebidos pelos entrevistados como na montagem com a construção teórica (Messick, 1988; Paço et al., 2010). Três indicadores apresentaram problemas crossloading, e foram excluídos (C6,C10,C13). Para avaliar a multicolinearidade, a avaliação tanto do valor da tolerância e do factor de inflação da variância (VIF) foi efectuada. Estas medidas dão-nos o grau em que cada variável independente é explicada pelas outras (Hair et al. 2009). Foi utilizada a técnica de bootstrapping, 500 amostras foram calculadas para testar a significância de ponderação. Bootstrapping consiste na eliminação sistemática de observações, gerando um grande número de subamostras a partir da amostra original. O modelo é então recalculado para cada subamostra e os pesos resultam em média. Os coeficientes resultantes da média, são comparados com o peso original (Rodrigues et al., 2010). Modelo Final RESULTADOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bergeron, P. (1996)“Information Resources Management”. ARIST, v.31, p.263-300 Bontis, N., Dragonneti, N.C., Jacobson, K., Roos, G. (1999)“The Knowledge Toolbox: a review of the tools available to measure and manage intangible resources”. 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Medford, New Jersey: Information Today, 3rd edition O modelo explica 45,2% da variação da gestão do conhecimento com base na Cultura organizacional. O significado dos coeficientes estruturais e da magnitude dos efeitos directos permitem testar as hipóteses de investigação. Os resultados são os seguintes. De acordo com Nunnally & Bernstein (1994), confiabilidade e validade psicométricas da equação são essenciais. O primeiro passo foi a determinação de alfa de Cronbach (Cronbach, 1951) para testar a confiabilidade das escalas propostas. O to, apesar de ser um factor de potencial influência sobre as práticas de gestão do conhecimento nas organizações, não é um factor determinante neste caminho. Uma vez que o questionário de liderança só foi aplicado ás chefias formais, poderá levar-nos a reflectir se efectivamente os “lideres” oficiais serão os verdadeiros lideres das equipas. A Cultura gera efeitos importantes sobre as práticas de gestão do conhecimento. Resultados semelhantes que relevam a importância da cultura organizacional são encontrados na literatura (REF), reforçando a ideia de que a gestão da cultura é essencial na adopção de práticas de gestão do conhecimento. Tendo como R2 (0,452podemos inferir uma elevada capacidade explicativa, em relação ás práticas de gestão do conhecimento, no modelo apresentado. Cronbach, L. J. (1951).” Coefficient alpha and the internal structure of tests”. Psychometrika, 16(3). Cronin, B., Davenport, E. (2002) “Intelligence and Strategy”. Annual Review of Information Science and Ttechnology, vol.36, p. 311-389 Daft, R.L., Weick, K.E.(1984) “Toward a model of organizations as interpretation systems”. Academy Of Management Review, v.9, n.2, p.284-295 Davenport, E. & Cronin, B.(2000) “Knowledge management: semantic drift or conceptual shift?” Journal of Education for Library and Information Science, 41(4): 294-306 H1: C + KM – Aceite Davenport, T. H., Prusak, L. 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