TURISMO EM ESPAÇOS RURAIS INTRODUÇÃO REFERENCIAL

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VI Seminário Latino Americano de Geografia Física
II Seminário Ibero Americano de Geografia Física
Universidade de Coimbra, Maio de 2010
TURISMO EM ESPAÇOS RURAIS
Elsbeth Léia Spode Becker1; Gilceu Antonio Cippolat2
INTRODUÇÃO
Fomos habituados a pensar e sentir o mundo com seus espaços naturais, rurais e
urbanos. Entretanto, essa forma de organização do espaço geográfico adquire novas
condições quando o natural se artificializa e o rural incorpora elementos que, em
décadas anteriores, eram essencialmente urbanas.
No Brasil e, também, no município de Santa Maria, o Distrito de Santo Antão, não
deve mais ser considerado somente como um espaço geográfico com características
naturais e rurais e destinadas apenas para a exploração das atividades agropecuárias.
Com a diversificação das atividades agrícolas e a necessidade de geração de renda, o
turismo rural passa a ser mais uma alternativa para as famílias rurais. Esta alternativa
quando bem orientada e planejada pode representar, aos pequenos produtores rurais,
a oportunidade de maiores cuidados ao meio ambiente e a fixação e permanência dos
familiares no meio rural.
As manifestações de turismo no espaço rural vêm se consolidando como uma opção
de valorização da cultura local, proporcionando lazer para os moradores das áreas
urbanas e a comunidade local pode compartilhar dos benefícios indiretos gerados por
essa atividade.
O Distrito de Santo Antão, no município de Santa Maria, Estado do Rio Grande do
Sul, apresenta diferentes características em seu espaço geográfico: belezas naturais,
culturais e a religiosidade de seus habitantes, onde é possível desenvolver e explorar
atividades referentes ao turismo rural familiar, proporcionando uma nova alternativa
de fonte de renda para o desenvolvimento rural sustentável. Este trabalho apresenta
uma investigação realizada junto aos moradores do Distrito com o objetivo de
diagnosticar o potencial turístico da região.
REFERENCIAL TEÓRICO
As viagens sempre estiveram presentes na vida dos homens. Enquanto nômade
deslocava-se de um lugar para outro, em busca de alimentos para sua sobrevivência.
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Geógrafa – CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO-UNIFRA. [email protected]
Licenciado em Geografia.
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Tema 5- Geografia Física e Cultura: geopatrimónio e geoturismo
A história das viagens confunde-se com a própria história da humanidade, pois os
deslocamentos sempre acompanharam o desenvolvimento humano. O homem préhistórico se deslocava em busca de alimentos e proteção, respondendo ao instinto
natural de sobrevivência e de defesa. Algumas vezes a fome era a principal responsável
pela evasão dos indivíduos de sua sociedade (REJOWSKY, 2000).
A partir da fixação do homem no território e o aumento da população houve a
necessidade produzir mais alimentos fazendo com que o excedente fosse
comercializado em outros locais. Surgiram, assim, as pequenas viagens para realizar a
comercialização.
Embora o turismo seja uma atividade milenar, para muitos países, historicamente,
vem se configurando como um segmento da economia capaz de gerar grandes
ingressos de recursos e proporcionar melhor qualidade de vida para a população
envolvida nessa atividade.
Com o crescimento da crise ambiental e o aumento da consciência ecológica da
população, surge a necessidade de buscar uma nova opção além de “sol e praia”,
turismo essencialmente urbano, para uma nova alternativa que valorize e resgate as
potencialidades locais e regionais do meio rural. A potencialidade turística do meio
rural vem crescendo, devido à grande demanda de turistas, que almejam minutos de
paz, de descanso, de lazer e de tranquilidade.
A história do turismo no meio rural no Brasil é bastante recente e está relacionada
com as diversas fases do processo de ocupação do território. As paisagens rurais
brasileiras, com seus aspectos marcantes, constituíram-se através dos chamados ciclos
econômicos, originando um diversificado patrimônio histórico e cultural em cada
região. No decorrer do século XX as mudanças nos aspectos demográficos e
socioeconômicos, desencadeados pela industrialização, intensificaram a urbanização e
levaram ao esvaziamento progressivo do campo a favor das cidades que representam
a nova via do futuro e oferece inúmeras oportunidades de trabalho. Atraídos pelo
encanto das cidades, os jovens desertaram as regiões rurais, cujo fenômeno é
amplamente observado até os dias de hoje (ALMEIDA; SOUZA, 2006).
Atualmente, as atividades agrícolas exploradas num sistema intensivo de uso do
solo, através do avanço tecnológico no campo, não atendem a necessidade de
manutenção do nível de empregos no meio rural. Assim, o meio rural vem sofrendo
profundas alterações, não apenas pelo crescimento e importância das atividades nãoagrícolas, como também, pela crescente associação entre o meio rural e a qualidade
de vida.
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Nesse contexto, o turismo é visto como uma alternativa de lazer e de renda no meio
rural e que deve ser planejado em função da sustentabilidade. O turismo rural
(organizado, planejado e qualificado), que valoriza o meio ambiente e, principalmente,
a cultura local, apresenta-se como uma opção para o desenvolvimento rural
sustentável. Com isso, contempla os setores econômicos capazes de criar atividades
comerciais alternativas, com a finalidade de a população conhecer e apreciar as
belezas existentes na natureza (BARRETO, 2000).
Nesse processo é importante destacar e valorizar a manutenção da história, as
tradições e a cultura de cada região. Para isso, há a necessidade de a família rural
superar o sentimento de inferioridade em relação aos urbanos, com os quais irão
conviver no meio rural, transformando o encontro por meio turismo em uma
oportunidade de ampliar a renda familiar.
METODOLOGIA
Buscou-se várias fontes bibliográficas que serviram de suporte teórico para a
pesquisa e analisou-se o recorte espacial do Distrito. A partir dos conhecimentos
compilados sobre o Distrito, foi elaborado o instrumento de pesquisa e aplicado aos
moradores do Distrito. O levantamento de dados e as informações foram feitos por
meio de entrevistas estruturadas com aplicação de questionários, auxílio de caderneta
de campo e registro fotográfico. O instrumento de pesquisa foi aplicado em 36 famílias
residentes no Distrito, aleatoriamente, buscando verificar as questões sociais e
econômicas existentes na área em estudo. A partir desses dados procedeu-se a
tabulação, a análise e as considerações finais.
Caracterização do recorte espacial da pesquisa
O distrito de Santo Antão, no município de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil,
localiza-se na região central do estado, entre as coordenadas geográficas 53°35’ e
54°08’ de longitude oeste e 29°33’ e 34°00’ de latitude sul.
O clima de Santa Maria é subtropical. As temperaturas médias anuais são de 22ºC,
entretanto verificam-se grandes oscilações de temperatura, que caracterizam um
clima de transição. No período de verão, as temperaturas médias variam em torno de
30ºC, mas chegam a atingir a elevação de 40ºC. No inverno, entretanto, as
temperaturas médias são menores de 18ºC, e são comuns as geadas nos períodos de
junho a agosto (RECHIA, 2006).
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A cobertura vegetal é caracterizada pelos campos e a mata subtropical. Segundo
Viero (2003, p. 12) “as áreas de campo são aproveitadas para o desenvolvimento de
atividades agropastoris. Das áreas de mata subtropical, muitas vezes, são retiradas
árvores para a exploração madeireira.”
Por toda a extensão do município encontram-se unidades de paisagens
morfológicas da zona de transição entre o Planalto Meridional Brasileiro e a Depressão
Periférica do Rio Grande do Sul.
O relevo favorece a instalação natural dos recursos hídricos. A bacia do rio Uruguai
e a bacia do rio Jacuí, duas bacias importantes do Rio Grande do Sul, têm afluentes
que, nascendo no município de Santa Maria, escoam suas águas em direção ao leito do
curso maior: o rio Ibicuí-Mirim (RECHIA, 2006). O rio Vacacaí, o rio Vacacaí-Mirim e
outros tributários menores, complementam a hidrografia local
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – (2008) o município
de Santa Maria tem uma população de 270.073 habitantes, o que a torna a quinta
maior cidade do Rio Grande do Sul.
Santa Maria possui 1791,65 km² de área territorial. Limita-se ao norte com os
municípios de São Martinho da Serra, Itaara, Júlio de Castilhos e Silveira Martins; ao
sul, com os municípios de Formigueiro, São Sepé e parte de São Gabriel; ao leste, com
o município de Restinga Seca; a oeste com parte do município de São Gabriel, com os
municípios de Dilermando de Aguiar e São Pedro do Sul.
O município é formado por nove distritos além da sede: São Valentim, Pains, Arroio
Grande, Arroio do Só, Passo do Verde, Boca do Monte, Palma, Santa Flora e Santo
Antão.
Santo Antão, localizado ao norte da cidade, com uma área de 51,70 km² e 11 Km
distante da sede, (figura 1), tem como limites: ao Norte: Estrada Municipal Armando
Arruda limite intermunicipal - Santa Maria - São Martinho da Serra; ao Leste:
nascente da Sanga da Água Negra - divisa intermunicipal Santa Maria – Itaara; ao Sul:
Estrada Nova para São Martinho da Serra, divisa Santa Maria - São Pedro do Sul e ao
Oeste: da ponte da ferrovia sobre o Arroio Ferreira, limite intermunicipal - Santa Maria
- São Martinho da Serra.
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Figura 1 – Localização do Distrito de Santo Antão no Município de Santa Maria, Rio Grande
do Sul, Brasil.
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Tema 5- Geografia Física e Cultura: geopatrimónio e geoturismo
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Santo Antão tem sua história ligada na fé e a religiosidade é marcante entre os
moradores locais. A influência religiosa foi deixada por um monge italiano, João Maria
Agostini, chegado àquele local por volta de maio de 1846, que presenteou a
comunidade com uma imagem de Santo Antão, considerado protetor do campo e dos
animais. A capela de Santo Antão é uma das unidades religiosas mais antigas do
município (figura 2).
Figura 2: Capela de Santo Antão
Fonte: Acervo dos autores - Novembro/2009.
A devoção a Santo Antão é uma das mais antigas manifestações da religiosidade
popular de Santa Maria. A expressão máxima dessa religiosidade na Festa de Santo
Antão que ocorre anualmente no dia 17 de janeiro. No alto de um morro, conhecido
como Morro de Santo Antão, instalou-se uma imagem do padroeiro e iniciou-se
intensa devoção e crença nos poderes miraculosos de uma fonte d’água ali existente.
O acesso ao morro de Santo Antão é feito através da estrada para São Martinho da
Serra, denominada estrada da Caturrita. Nesse trajeto pode-se observar várias
espécies da flora do Bioma da Mata Atlântica e uma vegetação de extrato secundário
com espécies nativas da Floresta Subcaducifólia Decídua.
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A declividade do terreno durante o percurso oferece uma paisagem contemplativa
proporcionada pelo relevo acidentado somada à vegetação nativa (figura 3).
Figura 3: Vista da paisagem a partir do Morro Santo Antão
Fonte: Acervo dos autores – Novembro/2009.
O Morro Santo Antão possui uma altitude de 420 metros, típico da unidade
geomorfológica de rebordo do Planalto Meridional Brasileiro, o que implica em áreas
com a declividade superior a 30%.
A festa anual atrai milhares de fiéis que sobem o Morro em busca da água das
nascentes. As águas são consideradas milagrosas e coletadas pelos fiéis em pequenos
potes para abençoar as residências ou para cura de enfermos.
A partir da forte religiosidade existente no local e das belezas naturais é possível
desenvolver atividades referentes ao turismo no meio rural, aliando outras
oportunidades de renda aos moradores locais por meio do artesanato, gastronomia,
trilhas e outros. Até o momento, percebe-se que há, de forma incipiente, o
aproveitamento desses recursos para a geração de renda complementar às atividades
do campo. No entanto, constatou-se que os moradores locais percebem o lugar com
perspectivas para o turismo (figura 4).
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RECURSOS NATURAIS E CULTURAIS EXISTENTES NO DISTRITO
80%
70%
mata nativa
69%
religiosidade
60%
50%
40%
trilhas
47%
produtos
coloniais
fonte dos
milagres
morros para
rapel
cachoeiras
33%
30%
22%
20%
17%
14%
10%
mirantes
6%
6%
6%
estrada dos
jesuítas
0%
Figura 4 – Percepção dos moradores locais em relação aos recursos naturais e culturais com
perspectiva ao desenvolvimento do turismo como atividade complementar de renda.
Fonte: pesquisa de campo. Novembro/2009.
Quanto aos recursos existentes no Distrito de Santo Antão, 69% dos entrevistados
responderam que, como se trata de uma área rural privilegiada pela natureza, com
mata nativa em abundância, pode ser amplamente utilizada para exploração do
turismo rural; 47% afirmaram que a religiosidade trazida pelos antepassados pode ser
utilizada como um bem religioso e cultural para atrair as pessoas até a localidade; 33%
dos moradores disseram que o Distrito possui diversas trilhas em sua mata nativa e
morros que podem ser explorados no turismo rural; 22% dedicam-se à produção de
produtos coloniais, pois a maioria dos moradores é composta de pequenos produtores
rurais, que produzem alimentos de subsistência e comercializam o excedente; 17% das
pessoas entrevistadas destacaram que o Distrito tem uma fonte de água denominada
“Fonte dos Milagres”; 14% enfatizaram que na localidade os morros podem ser
utilizados para a prática de rappel; 6% dos entrevistados destacaram que as
cachoeiras, a estrada dos jesuítas e a construção de mirantes seriam também
alternativas para promover e desenvolver o turismo rural no Distrito.
Alguns locais proporcionam a visitação do citadino ao Distrito, a exemplo, da Igreja
do Santo Antão, onde são realizados encontros semanais dos fiéis, e uma vez por ano é
realizada a grande festa com procissão dos devotos em homenagem ao Padroeiro do
Distrito; da trilha ecológica, com 750 metros, que leva até a Capela de Santo Antão,
visualizando a vegetação típica do local, pássaros e animais de pequeno porte, em
meio a uma área com mata nativa preservada; da trilha ecológica, com 1.000 metros,
que leva até a Fonte dos Milagres, também localizada em meio à mata nativa (figura
5); do mirante existente no topo do Morro junto Capela de Santo Antão, onde os
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visitantes podem obter uma visão privilegiada da bela paisagem que circunda esse
morro; do salão de festas com capacidade para aproximadamente 200 pessoas, para a
realização de jantares e comemorações com pratos típicos da cultura local; da área de
lazer e de descanso do corpo e da mente junto ao ar puro da natureza,
proporcionando momentos de reflexão e renovação das forças para enfrentar os dias
agitados da vida moderna; de exposições de artigos e peças antigas típicas da região;
da área para a prática de esportes como futebol, voleibol de areia e cancha de bocha;
da área com espaço agradável para degustação e para a venda de produtos coloniais
produzidos na localidade (chalé do artesanato e agroindústria de produtos coloniais).
Figura 5: Mata nativa com trilha ecológica
Fonte: Acervo dos autores - Novembro/2009.
Com base nos resultados obtidos na pesquisa de campo junto aos moradores
verificou-se que existe pouco investimento e comprometimento por parte do setor
público, especialmente da Prefeitura Municipal de Santa Maria, pois os moradores
esperam mais resultados e investimentos que possam promover o desenvolvimento
do local.
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CONCLUSÕES
Embora os problemas sociais se reflitam no desenvolvimento e na urbanização
tanto da cidade como no meio rural, Santa Maria possui uma organização políticoadministrativa com Distritos bem estruturados e alguns com grande potencial turístico,
como o Distrito Santo Antão.
A análise do Distrito de Santo Antão permitiu constatar que o local possui
potencialidade turística para desenvolver atividades relacionadas o turismo no meio
rural, pois é favorecido pelo relevo acidentado e pela existência de mata nativa, de
morros para prática de rappel, de trilhas, de “fonte milagrosa”, de estradas dos
jesuítas e de um povo devoto e religioso, que tem a festa anual do padroeiro Santo
Antão como um dos fortes atrativos para destacar o Distrito no turismo.
Constatou-se, ainda, que a população local tem percepção do lugar e valoriza as
potencialidades naturais e culturais, especialmente, a religiosidade. No entanto, o
desenvolvimento do turismo no Distrito necessita de atenção especial do poder
público para que estes recursos se tornem realmente atrativos e se consolidem como
uma das alternativas para a geração de renda e de emprego, fixando o jovem rural
junto aos seus familiares, evitando o êxodo rural.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BARRETO, M.. Turismo e legado cultural: as possibilidades do planejamento. São
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