PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL – 3ª EDIÇÃO ENSINO MÉDIO PROJETO BRASILEIRINHO: Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque I) Apresentação O Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque é uma iniciativa da área de filosofia do Colégio Estadual Vicente Jannuzzi que através do Projeto Brasileirinho- Os Tons da Aquarela Cultural de nosso país, desde os anos de 2007 e 2008 vem criando estratégias de ensino para incentivar o prazer pela aprendizagem na ESCOLA, fazendo com que esta não se dissolva no contexto da família e comunidade, mas ganhe relevo permitindo que o aluno a sinta na força de seus próprios valores. O ponto de partida para tal projeto surgiu no momento em que a professora de filosofia percebeu um baixo rendimento dos alunos em sua disciplina filosofia, acompanhado de um desinteresse pelo universo da escola; percebeu ainda que a filosofia, como muitas disciplinas, era vista na escola de uma forma muito conteudística, acadêmica, distante do interesse real dos alunos. A professora pensou então em uma proposta pedagógica que pudesse assegurar um tratamento interdisciplinar e contextualizado para os conhecimentos de filosofia, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos, como na vivência cotidiana do aluno, seu entorno sócio-cultural e histórico. Partindo dessa idéia a professora encontrou na Obra BRASILEIRINHO da cantora Maria Bethânia os suportes necessários para articular os conhecimentos filosóficos com diferentes conteúdos, de uma forma lúdica e prazerosa na sala de aula. A estratégia para tal articulação passaria pelo mundo da poesia, arte, música, teatro, etc – todos elementos contidos na Obra numa linguagem rica e interessante. Era o momento de buscar o feitiço da arte para o prazer de aprender! “Vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas” Esse é um trecho de um samba de roda da Bahia, de domínio público, contido na Obra Brasileirinho, muito cantado pelos nossos alunos e que acabou traduzindo o espírito de nosso projeto: quem sabe ler, gosta de ler, é capaz de aprender, criar , ensinar e transformar! Nossos “camaradas”, nossos alunos – hoje, além de entusiasmados leitores, são também compositores, músicos, artistas, atores, poetas e escritores! II) Razões que explicam a realização do trabalho e o contexto para qual ele se destina: Nossa escola é de Ensino Médio da Rede Estadual do Rio de Janeiro. O Colégio Vicente Jannuzzi se localiza na Zona Oeste, na Barra da Tijuca e recebe alunos em sua maioria da comunidade carioca da CIDADE DE DEUS muito conhecida pela violência e pelo tráfico de drogas. Temos na escola um grupo heterogêneo de alunos – os que convivem diariamente com o crime e a violência e trazem esse contexto para a escola e não conseguem vê-la como fator de ascensão e cidadania; temos um outro grupo que apesar de conviver com a violência e crime conseguem ver na escola a oportunidade de mudança de vida, construção de valores e atitude cidadã. Temos alunos que têm muitas dificuldades financeiras, como temos alunos que “trabalhando” para o crime desfilam na escola com roupas de marca, tênis importados , dinheiro na carteira, até automóveis e motocicletas.Existe ainda um grupo de alunos remanescentes das escolas particulares que os reprovaram por diversas vezes e os pais matriculam na escola pública “como castigo” para seus erros. Diante desse contexto diversificado a professora percebeu em todos os grupos duas características marcantes e comuns: um profundo desinteresse pela escola e um profundo desconhecimento da cultura brasileira, seus poetas, compositores populares, artistas, atores, escritores. Parecia que o que interessava e fazia sentido para o aluno era o mundo do tráfico, do funk onde se fala um mesmo vocabulário, se ouve um mesmo tipo de música e se tem acesso a uma cultura restrita. Precisava agora encontrar meios para trazer o aluno para escola, fazê-lo interessar pelas aulas e acima de tudo despertá-lo para a possibilidade de novos conhecimentos, novas formas de vida. E o projeto Brasileirinho nasceu quando apostamos na arte ligada ao prazer de aprender, quando apostamos na capacidade do nosso aluno de gostar daquilo que não conhece. Construir a arte e a cultura na sala de aula era muito mais do que educação, era a nossa redenção. A escola funciona em três turnos com primeiras, segundas e terceiras séries do Ensino Médio – em cada turno temos 18 turmas com aproximadamente 45 alunos. A faixa etária dos alunos é de 15 anos (na primeira série), 16 anos (na segunda série) e 17 anos (na terceira série). O Projeto começou com os alunos da professora Vânia que são do primeiro e segundo turno, em sua maioria alunos da primeira série, depois se estendeu para outras séries e outros turnos. Vale destacar que os alunos da primeira série quando chegam na escola apresentam um grau de dificuldade de leitura e interpretação muito grande dificuldade essa oriunda de um déficit do Ensino Fundamental da Rede Municipal que há mais de quatro anos criou um sistema de aprovação automática o que vem contribuindo decisivamente na queda da aprendizagem básica dos alunos.Em nossa escola não temos muito o problema da evasão escolar justamente porque na Zona Oeste do Rio de Janeiro existem pouquíssimas escolas de Ensino Médio – o que demanda uma procura por matrícula muito expressiva em nossa escola. O que ocorre é justamente problemas ligados à sala de aulas super- lotadas, falta de uma infra-estrutura adequada o que acarreta alunos faltosos e desinteressados. Portanto o projeto teria muito desafios pela frente, porém o desafio maior seria fazer o aluno sentir a escola na força de seus próprios valores, entendendo principalmente a sala de aula, como um lugar privilegiado da imaginação criativa, logo de esperança e transformação. III) Objetivos Gerais: - Introduzir o aluno no mundo da escola usando a arte e a cultura como estratégias. - Conduzir pelas mãos da leitura, o aluno no saber filosófico que acompanha, em surdina, as obras de arte, a música, a poesia, a cultura, enfim, a vida de cada um. - Pensar a escola como lugar de mudança e transformação, atitude que se traduz na mudança de hábitos capazes de transformar o mundo que se vive. - Levar o universo da cultura para além dos muros da escola, como família, comunidade, bairros e praças. - Criar monitorias na sala de aula ( programa reco-reco – reconhecimentorecompensa) para auxiliar os alunos com déficit de aprenidizagem do programa Sucesso Escolar. - Fazer do ato da leitura compartilhada na sala de aula e fora da sala de aula como uma prática contínua e necessária para interação entre o visual e o literal, a imagem e a escrita. - Utilizar os recursos das novas tecnologias da comunicação (computadores, notebooks, Ipod, MP3) como pontes e caminhos para interação do aluno com os conteúdos curriculares. Importante nesse objetivo é não ver esses recursos como “concorrentes”, mas como auxiliares na sala de aula dentro da proposta do professor. - Incentivar e estimular a participação dos alunos em concursos de redação, olimpíadas, prêmios, para fomentar um ambiente saudável de competição na escola. - Ampliar a visão de mundo e inserir o aluno no conhecimento das raízes populares da cultura brasileira. - Possibilitar a vivência de emoções e o exercício da fantasia e da imaginação através da poesia, pintura e música. - Participar de debates sistemáticos ouvindo sempre a opinião do outro para recompor ponto de vista e argumentos. - Saber ler e entender seu entorno sócio histórico e cultural como um olhar filosófico, ou seja, investigativo e questionador. IV) Objetivos Específicos: - Ler, de modo filosófico, as letras das músicas da Obra Brasileirinho,contextualizando-as com diferentes estruturas e registros. - Dispor dos conteúdos propostos na Obra e transferi-los para outras situações cognitivas que sejam pertinentes. - Reconhecer e valorizar as diversidades culturais brasileiras, respeitando-as como resultantes de um processo histórico. - Compreender a si mesmo como resultado da sociedade cultural a que pertence. - Conhecer o folclore brasileiro, nossas músicas, arte, poesia, literatura, cancioneiro, etc. - Identificar elementos culturais que constituem o chamado sincretismo religioso brasileiro. - Investigar a identidade cultural do brasileiro, suas características e o que seria o chamado descobrimento de nossa “brasilidade” citada na obra Brasileirinho. V) Metodologia de Trabalho – Ano 2007. I SARAU DE POESIA E FILOSOFIA NO BOSQUE: De acordo com o planejamento anual de filosofia da escola no terceiro bimestre se trabalha a unidade CULTURA. Pensando nesse ponto a professora resolveu torná-lo mais do que um simples conteúdo curricular e dar-lhe um caráter INTERDISCIPLINAR mediante a realidade que se apresentava como o desinteresse dos alunos pela escola , pela disciplina filosofia, baixo rendimento e principalmente desinteresse e desinformação a respeito das raízes populares da cultura brasileira no que diz respeito as matrizes indígenas e africanas. Foi justamente nos meses de maio e junho, no segundo bimestre, após o baixo rendimento do primeiro bimestre que a professora planejou criar um método de ensino, uma estratégia que pudesse tornar a filosofia mais viva e dinâmica para os alunos – planejou trabalhar o tema cultura de uma forma interdisciplinar através de um Cd que traduzisse a cultura brasileira desde o descobrimento até os dias atuais numa linguagem rica, tipicamente brasileira e acima de tudo numa linguagem que valoriza as diferenças, as diversidades que vê na cultura um fator de inclusão e formação social.Quando a professora pensou na possibilidade da música como estratégia inicial, ela considerou um fator: na adolescência a música passa a ocupar um lugar muito forte na vida do aluno, basta observar que no ônibus, em casa, em todos os lugares – inclusive muitas vezes na sala de aula escondido do professor, o adolescente está sempre ouvindo música. Parece que a adolescência tem “trilha sonora”. Então, haveria que canalizar esse grande interesse para algo que fosse construtivo na aprendizagem do aluno. MAIO/2007 – Primeira Semana Com 12 turmas de filosofia e 12 músicas no CD, em um primeiro momento, a professora se propôs digitar todas as letras das músicas, xerocálas e levá-las para a sala de aula. Separou uma música do CD para cada turma. A primeira semana de visitas às turmas a receptividade foi excelente – o fato da professora chegar com um rádio na sala de aula já animou a turma. Todos queriam saber qual o “pancadão” que a professora iria tocar. Então a professora disse que iriam aprender os conteúdos de filosofia através da música popular brasileira na voz de uma grande intérprete e cantora chamada Maria Bethânia. A princípio os alunos estranharam a escolha, muitos não conheciam a cantora, muito menos o repertório – mas aceitaram a proposta da música como alternativa diferenciada de aula Antes de tocar a música, a professora fez uma leitura compartilhada da letra, propôs uma interpretação e somente depois executou a música no rádio. Os alunos gostaram, pediram para repetir a música, cantaram e alguns sugeriram outras músicas de Cds que saíram de suas mochilas – o que no futuro iria se tornar um feedback da proposta inicial do projeto. Segunda Semana Após ouvirem o CD a professora encaminhou os alunos até a sala de vídeo da escola onde eles iriam assistir o DVD do Show Brasileirinho, onde numa linguagem mais completa e abrangente os alunos puderam entender em que consiste um trabalho de interpretação de um artista, de contato e carisma com o público, de cantar o que se acredita, entender a linguagem do cenário, a diferença entre letra e música, a proposta autoral da cantora contida na Obra, os temas sugeridos, os poemas recitados e a grande reverência ao Brasil. Vale destacar que nesse dia os alunos puderam perceber todo sentimento que na Obra provoca na professora de filosofia e que em vários momentos esse sentimento foram transmitidos a eles quando se sabe que na “arte de ensinar é que de repente se aprende”. Terceira Semana Na sala de aula novamente a professora dividiu os alunos em grupo e cada grupo iria discutir uma proposta criativa para apresentar a turma sua interpretação da música selecionada – o que mais lhe chamou atenção, o que mais lhe emocionou, o que mais caracteriza o povo brasileiro em todas as suas dimensões. A professora sugeriu que os alunos fizessem pesquisas com os temas sugeridos nas músicas para auxiliar no andamento dos trabalhos. Quarta Semana Alguns alunos nessa semana foram para a Biblioteca e outros foram para a Sala de Informática atrás de subsídios que pudessem auxiliar nos trabalhos. Foi nessa semana, após conversa com alunos sobre andamento dos trabalhos que surgiu a idéia de que fizéssemos na escola um Sarau de Poesia e Filosofia baseado na Obra Brasileirinho como culminância de todos os trabalhos das 12 turmas. Como haviam muitos alunos escrevendo crônicas, depoimentos e poesias , a professora sugeriu que se publicasse um livro pela escola e que esse livro fosse lançado em uma tarde de autógrafos como programação do Sarau. A idéia agradou a todos e a professora saiu atrás de patrocínio para o livro. Observação – Logo na primeira semana de trabalho, durante a leitura compartilhada das letras das músicas na escola, a professora detectou os alunos com déficit de leitura e os acompanhou no programa Sucesso Escolar para sanar as dificuldades.Esse programa consiste em aulas auxiliares de língua portuguesa, redação, criado pelo Estado em parceria com alunos monitores da escola. JUNHO/2007 Durante o mês de junho, reunidos em grupos, na sala de aula, os alunos começaram a organizar e estruturar os trabalhos. Algumas turmas optaram por fazer teatro sobre temas ligados a religiosidade do povo brasileiro – a obra Brasileirinho aborda a tradição das festas juninas brasileiras em homenagens a Santo Antônio e São João e São Pedro. Alguns alunos ensaiavam peças nesse sentido, outros resolveram montar uma quadrilha para São João na escola e convidaram alunos de outras séries; outros criaram pinturas, desenhos e maquetes para os Santos. A sala de aula se tornou um palco de teatro, um ateliê de pintura e também um estúdio de música – porque nesses intervalos a professora descobriu vários alunos na escola que tocam instrumentos musicais diversos (e que mesmo não sendo alunos de sua disciplina) resolveram ajudar os colegas na criação dos trabalhos. A Bachiana Brasileira de Villa Lobos número 05, foi executada por um aluno no cavaquinho – que nunca tinha ouvido falar de Villa-Lobos, mas que passou a conhecê-lo quando sua turma, através da música Melodia Sentimental, estudou o Grande Compositor Brasileiro. O Lundu da Marquesa de Santos, também de Villa-Lobos, foi ensaiado por um aluno da primeira série que estava aprendendo a tocar saxfone e resolveu ajudar nesta empreitada. Tivemos um grupo dedicado ao estudo da cultura africana que através de um lindo CORDEL contou como era feita a viagem do negro da África para o Brasil – chamou-se Cordel de Yayá Massemba. Uma outra turma resolveu criar poesia para a Cabocla Jurema – contextualizando-a no imaginário brasileiro, antiga e contemporânea, a Cabocla Jurema está presente na cultura indígena e africana. Esse grupo solicitou auxílio à professora de literatura que na época emprestou livros de José de Alencar – Iracema – que retrata bem os jardins e os encantos da Jurema. As poesias ficaram lindas e a professora aproveitou a oportunidade para contextualizar a mitologia grega – que mostra a origem da filosofia, na tentativa de explicação racional para fatos e fenômenos, com a mitologia africana e brasileira – que também têm mitos riquíssimos, poucos conhecidos e valorizados entre nós. JULHO/ 2007 O mês de julho na escola é dedicado às avaliações bimestrais e recesso semestral. A professora utilizou vários mecanismos de avaliação dos alunos – entre eles: envolvimento nas atividades propostas, engajamento, pontualidade, assiduidade, criatividade, interação com o grupo, domínio dos conteúdos e compromisso com o projeto. Dedicou um momento também para que os alunos se auto-avaliassem e pudessem questionar o que poderia ser melhorado para continuidade dos trabalhos.Nessa auto-avaliação os alunos ponderaram que a estrutura física da escola não estava ajudando no andamento das atividades (desde 2005 nossa escola está em obra e temos em nosso meio muita poeira, muitos tijolos, areia, cimento, pedras, paredes danificadas, portas quebradas e principalmente muito barulho de obra na escola – como maquitas, serras elétricas, picaretas, etc). Diante desse fator, os alunos acharam melhor que procurássemos outro local para fazer a culminância do projeto que seria o I SARAU DE POESIA E FILOSOFIA da escola. Surgiu a idéia de que procurássemos um parque municipal que fica ao lado da escola, solicitássemos o espaço para o evento que seria no meio do verde e das águas, ao ar livre! A idéia foi aprovada, a direção do parque autorizou o evento e agendamos o Sarau para o dia 04/09/2007. AGOSTO/ 2007 O mês de agosto foi dedicado aos preparativos do Sarau – cada grupo já com seus trabalhos organizados apresentou-os primeiramente à professora na sala de aula . Durante uma semana a professora assistiu a apresentação de 12 turmas, na segunda semana agendou os grupos para um ensaio no local da apresentação. Os trabalhos artísticos ficaram guardados na escola, pois no dia do Sarau teríamos também apresentação de desenho e pintura. Entramos em contato com uma marcernaria para construção do palco para o evento, buscamos patrocínio, entramos em contato com pessoal de som e filmagem e também conseguimos patrocínio. Montaríamos o palco na beira de um lago. A professora conseguiu também um patrocínio para confecção de bonés para os alunos usarem no dia do evento – pois como o evento era ao ar livre, o sol carioca poderia desgastar. Os meninos usaram bonés brancos com azul e as meninas bonés brancos com rosa – nos bonés estava escrito o nome da escola e do projeto.Nossa diretora também nos ajudou na confecção dos convites para o evento, todos os pais, responsáveis, membros da Secretaria de Educação e Cultura e também o entorno da comunidade foram convidados. A cantora Maria Bethânia também foi convidada, não pode comparecer ao evento por problema de saúde, mas fez questão de gravar uma mensagem para os alunos do Sarau. A gravação da cantora está junto com a gravação do evento.Foi um motivo de orgulho e alegria para todos da escola. SETEMBRO/ 2007 No dia 04 de setembro de 2007 foi realizado o I Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque com a participação dos alunos da escola, professores, pais, responsáveis, comunidade, profissionais da Secretaria de Educação e direção da escola. No dia do evento tivemos: - Recital de Poesia - Teatro - Mostra de Desenho e Pintura - Tarde de Autógrafos - Crônicas, depoimentos - Música erudita e popular - Roda de Viola Todas as programações foram registradas em vídeo e foto. Os alunos ficaram muito felizes com o evento e os pais também! No mesmo dia já foi comentado que o evento se tornaria uma prática anual da escola, que a estratégia de ensino modificou consideravelmente a rotina da escola, a rigidez dos conteúdos curriculares e principalmente a forma tradicional de avaliação baseada em testes e provas. VI) Metodologia de Trabalho – Ano 2008 O ano de 2008 já começou com um novo programa curricular de filosofia, uma nova estratégia de ensino mostrando seu foco interdisciplinar e contextualizado no diálogo com outras disciplinas. Na primeira semana de aula, a professora deu boas vindas aos alunos usando uma pequena maneira de entrosamento através de algumas frases que ela espalhou nos murais da escola – justamente para chamar atenção dos alunos novos que estão chegando e não sabem o que é filosofia. Exemplos de frases espalhadas pelos murais da escola: “ MORA NA FILOSOFIA’. FILOSOFAR É PRECISO! PARA QUE SERVE A FILOSOFIA? O QUE É FILOSOFIA? MARÇO/ 2008. De acordo com a programação tradicional da disciplina filosofia, o professor começa seu planejamento explicando a origem grega da filosofia e faz a passagem do pensamento mítico(que justificava uma realidade não compreendida pela razão) para o pensamento filosófico – quando o homem, pelo uso da razão contesta a veracidade dos mitos e impõe um pensamento mais racional, investigativo e questionador.Sempre nessa época se estuda os mitos gregos com os alunos até chegar ao Mito da Caverna de Platão onde o homem descobre a verdade, o conhecimento, a realidade perfeita. Mudando um pouco essa linha de abordagem a professora buscou na mitologia brasileira – mitos que explicavam aos nossos antepassados, índios tupis guaranis, carajás, como o mundo era feito, os fatos e os fenômenos, etc. Sugeriu que os alunos fizessem essa busca também em casa, com seus avós, bisavós, sobre história contadas por eles que explicam a tradição mítica de nossa sociedade. O resultado foi surpreendente – principalmente os alunos de tradição nordestina, muito presentes na Zona Oeste do Rio de Janeiro, trouxeram mitos interessantes, contaram para a turma e foi uma troca de informações muito prazerosa. A professora descobriu que não precisa se referir à uma Grécia distante do século Va.C para explicar o que é mito para os alunos. Eles mesmos o conhecem na força da tradição dos seus antepassados.Todo esse material sugerido pelos alunos facilitou a introdução dos conteúdos da história da filosofia, onde a filosofia onde a mesma deve auxiliar o aluno a tornar temático o que está implícito e questionar o que parece óbvio. Sendo evidente que a filosofia não se produz no vácuo, mas se desenvolve a partir de conteúdos concretos, vale dizer sobre que, na importância de textos e conteúdos concretos, uma primeira escolha se impõe: não é possível pretender que o aluno construa uma competência de leitura filosófica sem que ele se familiarize com o universo específico em que essa atividade se desenvolve, sem que ele se aproprie de temas, problemas e métodos elaborados a partir da própria tradição filosófica. Por essas razões é que a professora passou a conjugar uma parte histórica com uma parte temática que seja consoante com os interesses dos alunos.O método deu certo e a já serviu de incentivo à inúmeros eventos que vem acontecendo na escola desde então em diversas áreas do conhecimento. ABRIL/ 2008- SOLARATA VICENTINA Como preparativo para o II Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque – a professora de filosofia sugeriu aos alunos que tomassem contato com autores de filosofia e poesia que pudessem auxiliá-los nos trabalhos futuros. Surgiu a idéia de que fizéssemos uma roda de leitura desses autores – porém estaríamos ainda com aquele velho problema da obra e do barulho da escola. Então ficou decido que as turmas iriam fazer essa roda de leitura no Bosque Municipal ao lado da escola, de uma maneira mais tranqüila e saudável. A idéia era pegar os livros na biblioteca, levar para o bosque, cada um escolher um livro, ler primeiramente individualmente num local especialmente escolhido e depois de um determinado tempo, todos se reuniriam novamente para partilhar a leitura feita. Assim fizemos com as turmas e como tudo no Rio de Janeiro termina em festa, no final de cada evento programamos um piquenique, acompanhado de boa música, seja no rádio ou no violão. Denominamos esse evento de SOLARATA VICENTINA! Os alunos que participaram desse evento são da primeira série do Ensino Médio, ou seja, alunos novos que estão chegando e conhecendo a escola. MAIO/ 2008 Após o contato dos alunos com os autores a professora começou prepará-los para o evento do Sarau. Nesse meio tempo tivemos eleição do grêmio estudantil da escola, o que veio auxiliar o projeto com a implantação provisória (em parte – por causa da obra) de uma rádio na escola. Uma das diretoras do Grêmio é uma aluna que se destacou muito no Sarau em 2007 onde escreveu poesias lindíssimas. Com essa parceria do Grêmio a professora pôde no mês de maio agendar com os alunos uma visita à Academia Brasileira de Letras onde eles iriam aprender fazer leitura dramatizada e também conhecer autores, concertos, etc. O passeio aconteceu e os alunos voltaram de lá animados em escrever. Muitos alunos nesse dia conheceram pela primeira vez o Cristo Redentor – mesmo morando no Rio, não tinham visto de tão perto.Esse grêmio tem feito um bom trabalho também com a comunidade local e com os pais dos alunos, conseguiram eventos como olimpíadas, debate sobre eleições municipais, reuniões com representantes de turma, etc. JUNHO/ 2008No mês de junho de 2008 a professora de filosofia começou com os alunos da primeira série todas aquelas etapas previstas de acordo com o projeto de filosofia, onde separaria 12 turmas para 12 músicas do CD. Xerocou as letras das músicas e começou todo método de trabalho como em 2007. JULHO/2008 Continuação das etapas como em 2007 – seguindo a seqüência – sala de aula, sala de vídeo, biblioteca e laboratório de informática . Segunda semana – recesso escolar. AGOSTO/2008 Em sala de aula a professora começou a estruturar os novos trabalhos – nesse ano também será editado um segundo livro de autoria dos alunos contendo poesias, crônicas e depoimentos sobre a cultura Brasileira. Surgiu um grupo de trabalho que propôs uma discussão sobre a nossa “brasilidade” , perguntando: Quem é o Brasileiro? Qual sua identidade cultural? As respostas estão aparecendo em forma de crônicas, artigos de opinião , desenhos e teatro. Nesse mês também a professora dedicou uma parte do planejamento curricular de filosofia para os Estudos de Estética e Arte na Escola com a seguinte proposta: “A Arte de Pensar a Arte” – destacou temas como: - O senso e sensível - A verdade na Arte - Utilidade da Arte - O Efeito Purificador - O Fim da Estética - Beleza é fundamental? - Para além do Belo e do Feio O propósito do estudo destes temas filosóficos é justamente dar um embasamento filosófico aos trabalhos do Sarau a respeito da Cultura Brasileira enfocada na Obra Brasileirinho de Maria Bethânia. SETEMBRO No mês de setembro os alunos continuam estudando os temas de filosofia de forma contextualizada com o repertório do Brasileirinho; estão esquematizando o II Sarau de Poesia e Filosofia que acontecerá no dia 12/11 às 13:00 horas no Bosque Municipal da Barra da Tijuca – Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro. No dia 25 de setembro os alunos foram convidados pela cantora Maria Bethânia para irem até o Theatro Municipal da cidade do Rio de Janeiro para assistirem o show BRASILEIRINHO. A cantora fez um show beneficente em prol do Hospital da Criança pró-Cardiáca. Na véspera do evento, no dia 24 de setembro, a cantora deu uma entrevista para o Jornal O Globo e falou sobre o trabalho da professora da Cidade de Deus que com seus alunos fez um lindo projeto na escola baseado em sua Obra, falou inclusive que conheceu os alunos e que eles chegaram até ela falando um português lindo! Portanto no dia 25 de setembro a professora Vânia levou um grupo de alunos para o show da cantora Maria Bethânia que pela primeira vez se apresentava no Theatro Municipal justamente com o show e repertório conhecidíssimo pelos alunos. Eles adoraram, tiraram fotos do teatro, com a cantora e isso vai ficar para sempre guardado em seus corações. OUTUBRO Projeto em andamento, temos apresentações de alunos agendadas até o dia 04 de novembro e a partir dessa data montaremos um cronograma de apresentação para o II Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque do Colégio Estadual Vicente Jannuzzi. VII) Resultados Obtidos - Avaliação A avaliação do projeto é positiva uma vez que desde sua implantação ele vem crescendo e ocupando maior espaço na escola. A proposta de incentivar a aprendizagem e o interesse do aluno pela escola, pelas mãos da arte e da música, começou timidamente e hoje tem uma dimensão maior quando, pelo projeto, formamos alunos leitores, escritores, artistas, poetas e principalmente assíduos, interessados em conhecer e desvendar possibilidade de vida e futuro com a escola e por causa da escola. Hoje além do Brasileirinho, existem vários projetos em andamento na escola – fato que antes não acontecia. Quem chega até nós com dificuldades básicas de leitura e interpretação é recebido com programas de inclusão e alfabetização. Os talentos promissores são desvelados e incentivados de forma pública, festiva e comemorativa. É um projeto de sucesso que nasceu em uma escola onde a palavra sucesso não existia. Apenas se ouvia falar de violência, drogas e crimes. Positivo também foi o apoio da cantora Maria Bethânia – que ao saber do projeto – quando os alunos a informaram em seu site na sala de informática da escola – se dispôs a conhecer a escola, os alunos e a professora. Além disso, temos ainda o fato de que a cantora convidou a professora para participar do PROGRAMA SEM CENSURA da TVE onde num programa em sua homenagem estariam presentes na mesa debatedora pessoas que passaram pela vida da cantora e deram um contribuição positiva – entre os convidados estavam Haroldo Costa, Kati Braga, Bibi Ferreira, Miúcha, Renata Sorrah, Professor Júlio Diniz e a professora Vânia da Escola Pública falando aos telespectadores em que momento seu caminho como educadora cruzou o caminho de uma cantora que por sua generosidade compreendeu a dimensão social de seu trabalho como artista e como cidadã brasileira .Após esse programa a escola pôde contar com o apoio de um jornalista do RS que criou em seu site Brasileirinho um espaço para a escola e divulga todos os trabalhos dos alunos que recebem elogios do mundo todo. No início desse ano tivemos a visita de uma professora Chilena na escola, que veio conhecer o projeto para implantá-lo no Chile. Tudo isto elevou a auto-estima dos alunos e dos professores, criando um ambiente de alegria e otimismo na escola. Outros fatores importantes da avaliação dizem respeito ao aproveitamento dos alunos: as notas bimestrais aumentaram consideravelmente, conseguimos um maior índice de aprovação, acompanhado de um maior índice na qualidade do Ensino. Em 2007 ainda, a professora Vânia inscreveu o Projeto Brasileirinho no PRÊMIO CULTURA VIVA do MinC – na categoria Escola Pública de Ensino Médio – e a escola recebeu uma premiação configurando o terceiro lugar no território nacional. Isso também foi motivo de muito orgulho para todos da escola. Atualmente a professora continua envolvida com o projeto e ficou feliz ao saber pela direção da escola que o MEC tinha um programa específico para o reconhecimento e valorização do trabalho de educadores que acreditam que possam fazer muito mais pelos seus alunos e pelo seu país, quando confiaram à si mesmos a missão de educar. SUMÁRIO I) APRESENTAÇÃO II) RAZÕES QUE EXPLICAM A REALIZAÇÃO DO TRABALHO E O CONTEXTO PARA QUAL ELE SE DESTINA III) OBJETIVOS GERAIS IV) OBJETIVOS ESPECÍFICOS V) METODOLOGIA DE TRABALHO – ANO 2007 VI) METODOLOGIA DE TRABALHO _ ANO 2008 VII) RESULTADOS OBTIDOS – AVALIAÇÃO COLÉGIO ESTADUAL VICENTE JANNUZZI Rio de Janeiro – RJ PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL – 3ª EDIÇÃO ENSINO MÉDIO Projeto BRASILEIRINHO: Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque Área: Filosofia Professora Vânia Aparecida Silva Corrêa Pinto PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL - Terceira Edição Projeto BRASILEIRINHO: Sarau de Poesia e Filosofia no Bosque. Rio de Janeiro – RJ PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL – 3ª Edição MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO/ SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA DIRETORIA DE CONCEPÇÕES E ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA EDUCAÇÃO BÁSICA. ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, BLOCO L, EDIFÍCIO SEDE, 4º ANDAR – SALA 419 BRASÍLIA – DF CEP: 70047-900 Remetente: Professora Vânia Aparecida Silva Corrêa Pinto Estrada do Rio Grande, 3600 – casa 1903- Jacarepaguá Cep; 22.723.001 – Rio de janeiro - RJ