Friedrich Nietzsche: uma introdução

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Friedrich
Nietzsche:
introdução*
uma
Fonte: www.netmundi.org/
Friedrich Nietzsche nasceu em
Rocken, uma pequena vila da Alemanha, em 1844. Estudou na
famosa escola preparatória
de Schulpforta, que já havia tido nomes como o filósofo
Fichte, e entrou para a
Universidade de Bonn, tendo mais tarde se transferido para a
Universidade de
Leipizig, para concentrar seus estudos em filologia.
Sua maior descoberta em Leipizig talvez tenha sido um livro
acanhado
nas prateleiras da biblioteca universitária chamado “O Mundo
como Vontade e
Representação”, de Arthur Schopenhauer. Nietzsche adorou a
crítica voraz com
que o filósofo destroçava a sociedade de sua época e se
interessou pelo estilo
ateu de escrita.
Este estilo ateu de Schopenhauer injetou em Nietzsche a força
para se
desprender de toda a metafísica até então dominante. Era
necessário bolar uma
nova ideia sobre o homem, concebê-lo de um novo jeito: não
havia mais como entendê-lo
como objeto ou como essência fixa. O homem é pura mutação.
O homem e a moral
A característica do homem é sua mutabilidade eterna. Essa
mutabilidade
precisa ser controlada pelo rebanho, para que a
imprevisibilidade que carrega
se docilize (e se transforme em previsibilidade adequada às
normas sociais).
Segundo Nietzsche, o homem, que é pura criação, não pode se
rebaixar à previsão
científica: ele cria, se expande, quer sempre mais, não é um
objeto sensível ou
uma engrenagem mecânica.
É por isso que o autor rejeita a moral que ele chama de
contranatural.
É necessário separar dois tipos de moral: 1) a natural, que
está de
acordo com os instintos do homem, com sua sede de dominação,
com o livre fluxo
da vontade de potência; e 2) a moral contranatural, aquela que
está de acordo
com a castração, com o viver da vida não digno, com o ódio à
vida, que é
característica do rebanho.
O fundamental da filosofia de Nietzsche está na concepção do
homem
enquanto vida que quer mais vida, enquanto potência que quer
mais potência –
indivíduo de moral natural. Mas porque este tipo de homem não
é visto por aí?
Afinal, Nietzsche critica toda a sociedade europeia, retira de
sua época
qualquer possibilidade de alcançar uma vida de fato plena –
onde está, então, o
tipo de homem livre, potente?
O super-homem
Este seria o super-homem, conceito tão mal interpretado de sua
filosofia. O super-homem, ao contrário do senso comum, não é
uma tentativa de
Nietzsche se aproximar de políticas que viriam a ser o
nazismo, essa é uma má
apropriação nazista do conceito. O super-homem é o homem que
vive como artista,
é pura criação. Ele ama a vida, amor-fati!
E o que isso tem a ver com as ciências humanas contemporâneas?
Primeiramente é necessário observar que Freud bebeu muito de
Nietzsche. O
conceito de pulsão é diretamente influenciado pelo conceito de
vontade de
potência.
Partindo disso, como não perceber a influência de Freud em
Deleuze,
Foucault, Bourdieu entre outros,
procedimentos e ferramentas
além
da
criação
de
de análise baseadas na multiplicidade exposta por Nietzsche em
sua filosofia,
como a genealogia foucaultiana?
Nietzsche como caixa de
ferramentas
A genealogia foucaultiana é a extrapolação para as ciências
humanas da
genealogia da moral. Um jeito não histórico de fazer história,
ou seja, um
jeito de se fazer história sem sujeição aos marcos do
pensamento marxista ou
positivista. Não se trata de observar uma linha do tempo de
fatos que precisam
ser observados, mas sim de observar forças que se concatenam
em uma luta
constante por sobrevivência.
Esse é o grande trunfo de Nietzsche, sua filosofia é uma caixa
de
ferramentas perfeita, conforme Deleuze descreveu a própria
função da filosofia.
É uma caixa de ferramentas pronta para ser utilizada por
qualquer um que queira
adentrar em seu mundo.
O mundo da filosofia nietzscheana, portanto, não é um lugar
inóspito e
aristocrata: mas é um campo de criação e sublimação.
Vinicius Siqueira é editor da revista eletrônica Colunas
Tortas.
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