Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade” ISSN:2175-9685 Licenciado sob uma Licença Creative Commons CONTROVÉRSIAS CATÓLICAS, REPERCUSSÕES PÚBLICAS E O PAPADO DE FRANCISCO Emerson José Sena da Silveira Doutor em Ciência da Religião PPCIR-Universidade Federal de Juiz de Fora [email protected] GT 9 - TRADIÇÕES RELIGIOSAS, ESPAÇO PÚBLICO E POLÍTICA Resumo: O novo papado entronizou uma mudança de estilo e pastoral no comando da Igreja Católica, algo que tem sido comentando extensamente desde os primeiros momentos, quando Jorge Maria Bergoglio apresentou-se como o Papa Francisco. Gestos, falas, atitudes e comportamentos acirraram controvérsias internas e repercutiram no espaço público, em especial, devido a sua presença em lugares como parlamentos legislativos e a seus discursos. Inclusive, sua presença e seus discursos estabelecem novos marcadores semânticos em relação aos papados anteriores; ao mesmo tempo, no entanto, recuperam algumas posições católicas de cunho social. Nesse sentido, a presente comunicação pretende analisar algumas falas, discursos e gestos do Papa Francisco, cotejando-os com as reações internas do clero e relacionando-os, por um lado, às disputas políticas no espaço público das relações internacionais e, por outro, às perspectivas ontológicas que marcam o mundo religioso. A hipótese que sustenta este trabalho é de que a semântica das posturas e palavras de Francisco, ancorada na dimensão ontológica do mundo religioso católico, desdobra-se em influências polissêmicas no âmbito da política e economia mundiais, que não são possíveis de serem controladas a priori. Essa circularidade da religião a outras esferas de valor e destas à religião podem reforçar as controvérsias internas que, por sua vez, repercutiram publicamente . Palavras-chaves: Controvérsias Católicas; Papa Francisco, Espaço Público. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 Introdução Desde 2013, é possível dizer que o Papa Francisco ultrapassou o protagonismo político, social e midiático que a Igreja Católica desfrutou nos tempos de sua intensa luta contra o regime comunista da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Contudo, nos papados anteriores, as controvérsias católicas, ou seja, os pontos de forte desacordo internos, doutrinários e pastorais, ganharam, progressivamente, o espaço público. As disputas e tensões entre grupos católicos leigos e hierárquicos, e suas alianças com outras instituições não-eclesiais, implodiram a fronteira entre “dentro” e “fora”, lançando a Igreja Católica em novos dilemas que emergiram durante as controvérsias. É preciso, entretanto, situar a relação da modernidade com a Igreja Católica e seus catolicismos (popular, eclesiástico, formal, tradicional), marcada por aproximações e distanciamentos, condenações e hesitações. Ao longo do tempo, esses impasses recrudesceram as tensões internas: de um lado, os católicos e seus grupamentos mantêm diversos graus de recusa e aceitação do imaginário moderno; de outro, a produção, circulação e consumo de informação nas redes sociais, e na atual esfera pública, tornam públicas algumas controvérsias católicas. Retiro a noção de controvérsia dos escritos de Bruno Latour (2000; 2007) e a adapto às discussões teórico-empíricas deste texto: controvérsia é o embate, e forte discordância, entre as diferentes, e muitas versões sobre um fato, um evento, um gesto, uma fala ou um discurso, no caso, os pertinentes ao Papa Francisco. Quanto maior e mais agudo o embate, maior a temperatura da polêmica, e vice-versa, quanto menor e menos agudo o embate, menor a temperatura, maior o consenso, maior a naturalidade. A partir de leituras bibliográficas e textos publicados na imprensa, por outro lado, e para traçar um breve panorama das repercussões do papado de Francisco, tomarei como ponto de partida os contextos que deram origem à luta contra o comunismo no papado de João Paulo II, uma das mais fortes controvérsias internas do catolicismo, que mobilizará acusações e categorias acusatórias contra os gestos do Papa Francisco. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 Embates, entraves e novas possibilidades A publicitação de questões teológicas ou pastorais internas inicialmente circunscritas ao âmbito eclesial, tem resultado em movimentos diversificados, tanto da Igreja quanto da sociedade, em busca por apoios políticos, sociais e epistemológicos. Há uma complexa rede de alianças/disputas em andamento: por um lado, grupos católicos mais liberais, mais conservadores ou mais progressistas, aproximam-se dos meios de comunicação social e seus circuitos para divulgarem ou defenderem, ideias e posições em relação às controvérsias; por outro, grupos laicos, tanto de esquerda, quanto de direita, aproximam-se ou distanciam-se dessas controvérsias para pressionar institucionalmente a Igreja e outros atores institucionais e sociais a partir dos discursos católicos. Logo, a própria ideia de dentro e fora se tornou ambivalente e pode ser reposicionada de acordo com o eixo da polêmica em questão – seja moral, pastoral, doutrinário. Esse processo de ambivalência torna-se agudo com o Concílio Vaticano II, que abre um longo e extenso leito de controvérsias ainda em plena ebulição por suas imensas repercussões, internas e externas à Igreja Católica. De um lado, os tradicionalistas de diversas vertentes, inclusive cismáticas, dando ênfase à moral clássica e às ideias de “igreja-fortaleza” e continuidade da tradição, valorizando ritos e simbologias românico-medievais. De outro lado, os liberais e progressistas de agrupamentos variados, dando primazia às questões sociais e às ideias de “igrejaaberta” e não restrita aos cânones clássicos teológicos. Entre essas duas polaridades, movimentos e grupos religiosos católicos têm flutuado. Por exemplo, parte dos movimentos católicos carismáticos deslocou-se, progressivamente, de uma ênfase em crenças e práticas pentecostais a uma pauta próxima ao polo conservador-moral e sua agenda de batalha contra o aborto, a união civil homossexual e outros. Nesse sentido, interpreto as condições que contribuíram com a ascensão política dos papados do pós-guerra em dois momentos chaves, 1979-2005 (João Paulo II) e a partir 2013 (Papa Francisco) como integrantes de pêndulos ou eixos hermenêuticosemânticos, que denominarei provisoriamente, enquanto tipos ideais ao estilo weberiano, eixo ortopráxico e eixo ortodoxo. O primeiro é caracterizado pela noção de ação evangélica prática: as doutrinas e conceitos teológicos cedem lugar às vivências Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 pastorais efetivas, tornando o agir mais pragmático. O segundo é caracterizado pela preocupação com as doutrinas e conceitos teológicos, considerados primordiais, sendo a ação evangélica prática deslocada para segundo plano, tornando-se mais metafísicoreflexivo, mais preocupado com as batalhas ideológicas. Contudo, embora ambos os eixos partam das considerações teológicas emanadas das Sagradas Escrituras, em especial, do Novo Testamento (mais especificamente dos Evangelhos e sua mensagem central), há um jogo oscilante entre prática e reflexão como primeiro e segundo planos. Assim, proponho que desde o Concílio Vaticano II, os papados oscilam entre os dois eixos, sendo João XXII e Francisco os mais expressivos representantes do eixo ortopráxico e João Paulo II e Bento XVI os do eixo ortodoxo. Todavia, não condicionarei de forma mecânica os exemplos aos tipos ideais, pois os eixos tipológicos propostos por mim são instrumentos de compreensão das realidades e não uma camisa-de-força. Por exemplo, apesar de Bento XVI estar situado no eixo ortodoxo, muitas de suas atitudes pastorais podem ser iluminadas pelo eixo ortopráxico, por exemplo, quando critica o capitalismo financeiro ou quando cria mecanismos de combate ao abuso de menores dentro da Igreja Católica. As ações do Papa Francisco, apesar de situarem-se num eixo mais ortopráxico, não podem ser desligadas de um contexto teológico-moral. É essa ambivalência entre os dois eixos o que desconcerta os críticos e os apoiadores do Papa Francisco quando, por exemplo, o Pontífice escreve uma pequena carta de felicitações a uma escritora italiana cujo livro infantil foi proibido pelo prefeito de Veneza por conter supostos elogios a um casal homoafetivo e, ao mesmo tempo, confirma a validade do sacramento da confissão de sacerdotes membros da Fraternidade Pio X e excomungados por João Paulo II, um grupo católico ultratradicionalista e cismático. Para dentro e para fora da Igreja Católica, o Papa Francisco desliza entre os eixos, retirando, com sua ação ortopráxica, a temperatura de controvérsias do catolicismo em torno de temas que alimentaram e ainda alimentam ações, práticas e discursos, como o casamento gay, o aborto e eutanásia e as intervenções da biologia genética (pesquisa com células-tronco e outros). Por outro lado, pobreza, injustiça social, mercados financeiros globais e ecologia ganham destaque nos discursos oficiais do papa Francisco. Esses movimentos Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 confundem grupos dentro e fora da Igreja Católica, tornando improdutivas classificações como “esquerda” e “direita”, “progressista” e “conservador”, semânticas usadas no campo da política para interpretar a ação e atuação dos papas católicos. Há uma inequívoca dificuldade de tradução desses termos para interpretar o âmbito das ações e práticas católicas do Pontífice Católico e seus impactos no catolicismo. Por outro lado, é preciso fazer um pequeno arco temporal e articular eventos para compreender como se deu, recentemente, a emergência do papa Francisco como global player, expressão que significa um grande jogador mundial no complexo campo das relações político-sócio-culturais no mundo contemporâneo. Para tanto, parto da década de 1960, repleta de grandes mudanças. Em 1968, três grandes acontecimentos alteraram profundamente as conjunturas do catolicismo no mundo e a própria estrutura da modernidade: as revoltas de Maio de 1968, a Primavera de Praga e a Conferência de Medellín. Os epicentros desses fenômenos estiveram localizados na França, na antiga Tchecoslováquia e na Colômbia, com grande repercussão mundial, pautando valores, protestos, movimentos e inspirando lutas sociais e religiosas em muitos países. Por outro lado, as controvérsias em relação aos mesmos movimentos por parte de governos e a condenação da hierarquia católica criou quadros simbólicos por meio dos quais houve a oscilação do eixo ortopráxico continuado por João XXII com a convocação do Concílio Vaticano II para o eixo ortodoxo, sob a liderança de João Paulo II como forte protagonista no cenário político e público internacional. A luta ideológica contra o comunismo soviético foi comandada por João Paulo II, o ”papa pop”, desde sua eleição, em 1979. Aliado dos governos anglo-saxões e liberalconservadores de Margaret Thatcher (Reino Unido) e Ronald Reagan (Estados Unidos da América), o papa polonês logrou desmontar, pelo menos simbolicamente, o poderio comunista encarnado pela URSS, em especial em sua terra natal, Polônia. Toda a Europa Oriental vivia sob a influência soviética e, apesar das graduais reformas feitas pelo líder Nikita Kruschev (1955-1964), havia forte repressão das liberdades individuais, centralismo e militarização, entre outras características. Após dez anos de governo do general De Gaulle, um dos vencedores das forças nazistas na Segunda Guerra Mundial, a Quinta República Francesa foi abalada com as Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 maiores revoltas europeias não-sangrentas: em maio de 1968, estudantes universitários partindo das Universidades de Nanterre e Sorbonne, tomaram as ruas de Paris. Milhares de cidadãos franceses se mobilizaram e milhões de operários entraram em greve. As forças sindicais e governamentais surpreenderam-se com o sucesso das mobilizações que exprimiam a falência dos meios clássicos de representação e gestão políticas. Essa movimentação se deu em consonância com as críticas da contracultura aos modelos e valores familiares e morais herdados do mundo cristão que enfatizavam determinadas estruturas, em geral baseadas no direito natural. O clima de comoção espalhou-se mundialmente, num contexto em que a Guerra Fria, as guerras de pela descolonialização na África/Ásia e as sangrentas ditaduras latino-americanas estavam no auge, embora as ideias de autoridade, hierarquia e representação institucional fossem questionadas. Conectada em uma mesma trama histórica, a repressão à Primavera de Praga apagou a última esperança histórica de democracia e liberdade do socialismo real. Em janeiro de 1968, o secretário geral do Partido Comunista, Alexander Dubcek, iniciou um programa de reformas cujo mote era “por um socialismo mais humano”: igrejas e imprensa foram liberadas da censura, restrições foram retiradas, propôs-se o fim do monopólio político do Partido Comunista e renasceram os movimentos pelos direitos civis de minorias sociais e étnicas. Outros países do bloco comunista, como a Iugoslávia, começaram a ser afetados. Todavia, em agosto de 1968, tropas do Pacto de Varsóvia1, comandadas pela URSS, iniciaram a ocupação de Praga (CONTRERAS, 2009). O Congresso do Partido Comunista da Tchecoslováquia que consagrou o programa “socialismo com face humana” foi anulado, o presidente tcheco e outros líderes foram presos e levados à Moscou. Embora houvesse resistência civil-pacífica, o ímpeto reformista arrefeceu e a URSS reestabeleceu sua influência (CONTRERAS, 2009). O comunismo, de modo geral, fechou-se às reformas orientadas para liberdades individuais, direitos civis, sobretudo das minorias étnicas, sexuais e religiosas. Com o endurecimento dos regimes comunistas, a reação dos países capitalistas foi polarizar e polemizar com os mesmos, aumentando a temperatura das controvérsias e das ações políticas e militares (CONTRERAS, 2009). 1 Tratado político-militar assinado após a II Guerra Mundial pelos países comunistas da Europa Oriental e a URSS. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 No mesmo ano de 1968, na cidade de Medellín, Colômbia, ocorria a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, cujo objetivo era viver ao modo latino-americano, as recentes mudanças do Concílio Vaticano II (1962-1965) (COMBLIN, 2008). Ficou clara uma orientação pastoral-eclesial que levava em conta a dramática realidade social vivida na América Latina: intensa desigualdade social, violações dos direitos humanos no campo e nas cidades, ditaduras político-militares etc. Ganhava contornos vívidos uma ação pastoral diferente do modelo assistencial e do modelo sacramental-hierárquico, modelos preocupados com questões doutrinárias e morais (COMBLIN, 2008). Nos termos dos tipos ideais, a valorização da ortopraxia, deixando a ortodoxia em segundo plano. Dois papas lideraram a Igreja Católica durante as turbulências e intensas mudanças durante a década de 1960: João XXIII e Paulo VI. O último avançou no diálogo com outras igrejas cristãs (anglicana, luterana, ortodoxas), lutou contra guerras (Vietnã e outras), mas, diante de direitos reprodutivos, técnicas assistidas de reprodução, conquistas feministas (pílula anticoncepcional) e emergência dos debates de gênero, por exemplo, fixou os contornos de ação e pensamento católicos em sua famosa encíclica, Humanae Vitae, de 2 de julho de 1968 (DUFFY, 1998). Estava criado, então, o contexto do futuro papado de João Paulo II: o comunismo fechado para reformas democráticas, o auge de governos liberais-conservadores nas principais potências mundiais (EUA e Inglaterra) e de militares-conservadores na América Latina e África. Os movimentos reformistas e liberais político-sociais perdiam fôlego (DUFFY, 1998). Por outro lado, no campo cultural, os festivais, como de Woodstock, as novas experiências sexuais, reprodutivas e religiosas, abriram a possibilidade da autonomia em relação às regras religiosas e às instituições. O movimento do papado e da hierarquia eclesiástica foi cuidado, com vaivéns entre doutrinas antigas, por um lado, e, por outro, buscas por novas respostas pastorais e teológicas, como a Teologia da Libertação e as Comunidades Eclesiais de Base. Com a queda do Muro de Berlim em 1989, o símbolo mais eloquente das proposições, valores e práticas comunistas, começou o declínio do protagonismo papal de João Paulo II no cenário internacional, não obstante intenso uso dos meios de comunicação (TV, Rádio), a forte presença performático-carismática, os encontros Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 massivos (Jornadas Mundiais da Juventude, Jornada Mundial da Família), o forte apoio de movimentos eclesiais tradicionalistas com foco no discurso da moral reprodutiva (Opus Dei, Comunhão e Libertação e outros) e o apoio de novos movimentos religiosos, como a Renovação Carismática Católica. Em 2005, com a morte do primeiro papa polonês, ascendeu Bento XVI, antigo colaborador de João Paulo II. A partir daí, as batalhas do papado se concentraram em alguns elementos morais-doutrináriospastorais: a família heterossexual com casamento orientado para a finalidade reprodutiva, a defesa dos sacramentos e da concepção tradicional de hierarquia, a abertura em relação às demandas tradicionalistas cismáticas, a guerra contra o aborto, movimentos e legislações protetivas de direitos das minorias sexuais (LGBTT), entre outros. Esse realinhamento moral, em clima de combate e mobilização, somados ao fim do comunismo enquanto alternativa real de sociedade e à marcha ascensional de direitos de minorias sexuais, fez do papado de Bento XVI um protagonista social, cultural e político deslocado e estranho no contexto internacional. Em 2013, em função de pressões internas e considerações pessoais, Bento XVI renuncia e em seguida, o Colégio Cardinalício elege um cardeal latino-americano dotado de larga experiência pastoral em grandes periferias urbanas, portador de alguns aspectos inicialmente interpretados como alinhados ao eixo doutrinário-moral ou ortodoxo dos dois papados anteriores. Por exemplo, quando era arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio posicionou-se ativamente contra o reconhecimento de direitos civis aos casais homoafetivos. No entanto, ao ascender ao trono papal, o Papa Francisco, por meio de gestos e atitudes ortopráxicas, abrandou a temperatura de algumas das controvérsias católicas e suas repercussões internas e externas. Cito, entre muitas ações, a escolha do nome Francisco, a relação aberta e afetuosa com todos os grupos sociais e pessoas, a opção por atos simbólicos em prol de minorias étnicas, a ênfase na pauta da desigualdade e injustiça sociais, a crítica ao sistema financeiro global e a eleição da ecologia como eixo de mobilização moral. Quando confrontado, o Papa Francisco opta por contornar as polêmicas ao invés de polarizar, aumentando a temperatura das controvérsias. Há, de fato, um reposicionamento do papado como ator geopolítico e cultural no complexo mundo contemporâneo. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905 Nesse sentido, para vislumbrar isso torna o Papa Francisco um global player, pesquisei no jornal conservador O Globo, manchetes e reportagens que discorriam sobre ações, palavras, gestos e discursos papais. Da eleição como papa até setembro de 2015, mais de três mil imagens e textos pode ser agrupadas no que denominei de eixo ortopráxico. Da missa na Ilha de Lampedusa – celebrada no local em que centenas de imigrantes norte-africanos morreram –, aos gestos de diálogo com igrejas protestantes e pentecostais e os muçulmanos, das entrevistas livres em suas viagens, até as afirmações sobre a paz entre palestinos e israelenses, desenham-se os contornos de um aclamado líder mundial. Quantitativamente, os temas agrupados em categorias construídas a posteriori fornecem o seguinte quadro: questões doutrinárias e morais (3%); questões sociais (40%); paz mundial entre governos e povos (25%); mulheres (7%); imigrantes e pobres (20%); meio-ambiente (5%). Em termos qualitativos, as referências em sua maioria (95%) são positivas e favoráveis, mesmo em assuntos polêmicos, como no caso dos abusos sexuais de menores perpetrados por parte de padres e bispos. Um papa com o estilo e a postura de Francisco, transitando do eixo ortodoxo ao eixo ortopráxico, move-se com vivacidade e carisma no espaço e na esfera públicos e entre os mais diversos mundos, culturas, sistemas, países e grupos. Inicia-se, assim, um novo capítulo da complexa relação entre a Igreja e o Mundo. Referências LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: Editora Unesp. 2000. _______. La cartographie des controverses. Technology Review, n.0, p.82‐83, 2007. COMBLIN, Joseph. Conferência Episcopal de Medellín: 40 anos depois. Cadernos de Teologia Pública, São Leopoldo: Instituto Humanitas-UNISINOS, 2008. CONTRERAS, Emilia Martos. La Primavera de Praga en el diario comunista Berliner Zeitung. HAOL, n. 19, Universidad de Almería, Espanha, p.151-161, Abril 2009. DUFFY, Eamon. Santos e Pecadores: história dos Papas. São Paulo: Cosac & Naify, 1998. Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. ST0905