Apresentação - Associação Betel de Evangelismo e Missões

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Revista Betel
Apresentação
L
ouvamos ao Senhor pelo privilégio de vermos
mais um número da Revista Betel. O nosso propósito é que o Senhor Jesus Cristo seja conhecido e cumpramos a Sua ordem: Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada
no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo. Mateus 28:18-19.
Que Deus seja glorificado na revelação da Pessoa
do nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é a nossa expectativa
que Cristo seja conhecido e engrandecido em Tudo. E, que
Deus nos leve a fazer parte do Seu grande propósito.
Que todos os leitores façam suas colheitas no maravilhoso campo das insondáveis riquezas de Cristo!
Os Editores
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Revista Betel
“Cristo é tudo em todos” • Ano 6 • Nº 4 • Outono 2011
Sumário
Apresentação, 1
Estudo Bíblico
A Doutrina de Jezabel, 3
Bem-Aventurados III , 13
Judas e Eu, 18
Pecado Versus Graça, 24
Humberto X.Rodrigues
Abel Emerich
Riqueza
David Wilkerson
Glenio Fonseca Paranaguá
da
Graça
Família – Céu ou Inferno?, 29
Andrew Murray
Você Tem Sede de Deus?, 34
Legado
O Motivo Mais Importante para o Arrependimento , 42
Associação Betel, 47
Don Whitney
Charles Haddon Spurgeon
Revista Betel
Estudo Bíblico
A Doutrina de Jezabel
3
David Wilkerson
Pois certos indivíduos se
introduziram com dissimulação,
os quais, desde muito, foram
antecipadamente pronunciados
para esta condenação, homens
ímpios, que transformaram em
libertinagem a graça do nosso
Deus e negam o nosso único
Soberano e Senhor, Jesus Cristo.
Judas 1:4
E
u poderia colocar como
subtítulo desta mensagem
“O Perigo de Ser Seduzido pela Falsa Doutrina”. Leia Apocalipse 2:18-19 e você
verá que o próprio Cristo advertiu
a igreja contra a doutrina de Jezabel. Mas tenho contra ti que toleras
a Jezabel, mulher que se diz profetisa.
Com o seu ensino ela engana os meus
servos, seduzindo-os a se prostituírem e
a comerem das coisas sacrificadas aos
ídolos (Apocalipse 2:20). A palavra
grega aqui traduzida por Jezabel é
sinônima de falso mestre. Ela representa claramente falsas doutrinas. Jesus esclarece o assunto, continuando
...a todos que não têm esta doutrina...
(Apocalipse 2:24).
Aqui está um grupo do povo de
Deus, cheio de boas obras e caridade, tendo um tipo de fé e de paciência. Mas o olhar de Jesus aparece no
meio deles, fulgurante como chamas
de fogo. Mesmo com tudo de bom e
recomendável, existe algo muito perigoso acontecendo, algo tão sedutor
que Cristo avisa que enviará juízo e
4
Estudo Bíblico
fará deles exemplo para todas as igrejas. Alguns membros da igreja estavam a serviço de Satanás. Suas boas
obras, caridade, serviço, fé e paciência ficavam obscurecidas pela sedução de uma falsa doutrina. Estavam
encantados por um ensinamento falso, disfarçado em verdadeira Palavra,
mas que na realidade era mal.
A Sedução dos Servos de Deus
Cristo diz: meus servos estão sendo seduzidos, isto é, os ministros.
Chegamos a essa perigosa situação
sobre a qual Cristo avisou. Há multidões de pastores, mestres e evangelistas inteiramente sob o encanto
sedutor da doutrina de Jezabel. Estes
mestres seduzidos, por sua vez, estão
produzindo “filhos da sedução”. Ensinam a prostituição e o consumo de
alimento dos ídolos - isto é prostituição espiritual. É comer o alimento
demoníaco de doutrinas que justificam o pecado.
Quero dizer de maneira que não
reste nenhuma dúvida, que é perigoso dar ouvidos a ensinos errôneos. A
falsa doutrina pode condená-lo ao
inferno mais rapidamente do que todas as paixões ou pecados da carne.
Os falsos pregadores e mestres estão
mandando mais gente para o inferno
do que todos os traficantes de drogas, gigolôs e prostitutas juntos. Não
acho que esta seja uma afirmativa
Revista Betel
exagerada - creio nisto. Multidões de
cristãos cegos, mal conduzidos, estão cantando e louvando ao Senhor
em igrejas escravizadas pela falsa
doutrina. Milhares sentam-se para
ouvir mestres que estão pregando a
doutrina de demônios - e ainda saem
dizendo: “Não é uma maravilha?”
Cristo não considera esta questão
de maneira superficial. Seus olhos
estão novamente penetrando a igreja, e Ele vem para advertir, expor e
salvar o Seu povo e Seus servos desta
terrível sedução. Seria bom que levássemos este assunto a sério. É sério
saber que igreja se está frequentando.
É sério saber a quem você está dando
ouvidos. É sério saber o ensinamento
que seu coração está recebendo.
O povo de Deus está se vendendo
em liquidação a Satanás por todos
os lados ao se entregar nas mãos de
falsos mestres e traficantes de falsas
doutrinas. Vender-se em liquidação
à Satanás nos traz à mente a visão
de viciados consumados, alcoólatras,
prostitutas afligidas pela AIDS, e
por ateus que odeiam a Deus. Não.
Está acontecendo na igreja, em convenções e reuniões evangélicas e em
grandes seminários de ensino.
A marca do cristão seduzido é ser
“levado para todos os lados” buscando alguma doutrina nova, diferente,
estranha. A Bíblia adverte: Não vos
deixeis envolver por doutrinas várias
Revista Betel
Estudo Bíblico
e estranhas (Hebreus 13:9). Não se
deixe conduzir de lá para cá, de um
lado para o outro. Não nos referimos
aqui àquelas vezes em que o crente
amadurecido vai à uma outra igreja,
que não a sua, para ouvir um verdadeiro homem de Deus pregar a Cristo e o arrependimento. Referimo-nos aqui a correr de um lugar para
outro, de seminário para convenção,
de uma igreja para outra, de reunião
de milagre para reunião de cura, não
tendo raízes. Seus ouvidos estão
sempre em comichão para ouvir algo
novo, algo sensacional, algo que entretém, algo agradável à carne.
Nós os encontramos na Igreja
de Times Square - forasteiros, ervas humanas, cavalgando ventos
de doutrinas. Este tipo acaba não
retornando porque nos recusamos
a coçar ouvidos que têm comichão.
Eles desejam ser adulados, e não
reprovados. Assim correm de volta
aos seus mestres - os suavizadores,
os felizes adeptos do pensamento
positivo. Eles lembram os atenienses que de nenhuma outra coisa se
ocupavam, senão de dizer e ouvir a
última novidade (Atos 17:21). Paulo avisou a Timóteo que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário,
cercar-se-ão de mestres segundo as
suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos (2 Timóteo
4:3).
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A Doutrina de Cristo
A marca do crente maduro é a recusa em ser levado ao redor por todo
vento de doutrina (Efésios 4:14). Tais
crentes não são manipulados por nenhum mestre. Não têm necessidade
de correr de um lado para o outro
porque estão crescendo em Cristo.
Estão se banqueteando em pastos
verdejantes. Circuncidaram os ouvidos, e avaliam cada mestre, cada
doutrina, segundo o padrão de santidade de Cristo. Podem discernir
todas as falsas doutrinas e repelem
todos os ensinos estranhos, novos.
Eles aprenderam Cristo. Não ficam
presos à música, aos amigos, às personalidades marcantes ou aos milagres, mas à fome pela Palavra pura.
Só existem duas doutrinas. A
doutrina de Cristo e a doutrina de
Jezabel. Paulo diz: ...a fim de ornarem, em todas as cousas, a doutrina
de Deus, nosso Salvador (Tito 2:10).
Qual é a doutrina de Cristo? A graça de Deus ensina-nos que negando
a impiedade e as paixões mundanas,
devemos viver sóbria, reta e piedosamente, no presente mundo (Tito 2:
11-12). A doutrina de Cristo moldará você à imagem de Cristo. Ela trará
à luz todo pecado oculto e todo desejo mau.
Será que o seu mestre o repreende
com autoridade, falando e exortando-o a abandonar o pecado e a dei-
6
Estudo Bíblico
tar por terra todos os ídolos como
lhe é instruído em Tito 2? Você está
aprendendo a odiar o pecado de forma veemente? Ou você ainda sai da
igreja não convencido de culpa? Você
consegue desapegar-se dos pecados
de estimação? A mensagem da doutrina de Cristo é: Purifiquemo-nos de
toda impureza, tanto da carne como do
espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (2 Coríntios
7:1).
Muitos nos escrevem dizendo:
“Nosso pastor vive dizendo, ‘Não
estou aqui para pregar contra o pecado; estou aqui para exaltar a Jesus.”
Ou, ‘Nenhuma pregação condenatória sairá deste púlpito - estou aqui
para remover o medo e a depressão
do meu povo’ Mesmo entre os pastores pentecostais há dois extremos.
Alguns berram um evangelho duro e
legalista sem amor, de obras; enquanto outros pregam contra o pecado de
uma forma acovardada, deixando do
jeito que era antes da mensagem. Falso amor e lágrimas de crocodilo.
A doutrina de Cristo é uma doutrina de piedade e de santidade. Se
alguém ensina outra doutrina e não
concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino
segundo a piedade, é enfatuado, nada
entende, mas tem mania por questões
e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações,
Revista Betel
suspeitas malignas (I Timóteo 6:3-4).
Alguns dizem: “Meu mestre fala a
respeito de santidade”. Mas não me
refiro a simplesmente usar as palavras “santo” e “piedoso”; refiro-me a
pregar isso com toda a autoridade. A
pregação da doutrina de Cristo traz
bênção, fortalece e incentiva você,
mas também ela o condena tão profundamente, que você não consegue
sentar-se para ouvi-la, e ainda continuar apegado a um pecado secreto.
A Doutrina de Jezabel
Examinemos esta doutrina de demônios e vejamos se você corre perigo de se vender a Satanás. Há três
marcas distintas da doutrina de Jezabel. Todas foram encontradas na Jezabel do Antigo Testamento, a mãe e
a materialização das falsas doutrinas.
Jesus tornou ou seu nome sinônimo
de falsa doutrina. Trata-se de uma
doutrina que ensina que algo mal
pode ser bom, que o profano pode
ser puro.
Jezabel, no hebraico, significa “casta, virtuosa, sem idolatria”.Imagine!
A mulher mais ímpia, idólatra, maquinadora, odienta de toda a Bíblia
chamada de virtuosa, sem pecado.
Ou seja, uma coisa muito má com
nome de boa. Mas ironicamente é
“casta?” - com um ponto de interrogação. Como? Quando? Onde? Como
foi que se tornou casta? Quando?
Revista Betel
Estudo Bíblico
Onde?
Agora olhe para Acabe. Fez Acabe,
filho de Onri, o que era mau perante o
Senhor, mais do que todos os que foram
antes dele. Como se fora cousa de somenos andar ele nos pecados de Jeroboão,
filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e
foi, e serviu a Baal, e o adorou (I Reis
16:30-31). Acabe significa “alguém
como pai” ou “carimbado com a natureza de seu pai”. Jezabel representa
a falsa doutrina e Acabe é sua vítima.
A Bíblia declara que não bastava que
Acabe tivesse um coração inclinado
para o pecado, à idolatria e à concessões. Ele traz para sua vida uma
influência satânica que o confirmará
em seu pecado. Ninguém houve, pois,
como Acabe, que se vendeu para fazer
o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o instigava (I
Reis 21:25).
A mensagem então é que a tendência dos cristãos que se apegam a
pecados secretos e à luxúria, abracem
uma falsa doutrina que só vai servir
para instigá-los e confirmá-los em
seus pecados, e acabem contraindo
matrimônio com esta doutrina. A
última coisa de que Acabe tinha necessidade era Jezabel. Como era perigosa. Ela fez florescer o que havia
de pior nele, ampliou isso e destruiu
Acabe. Dá-se o mesmo com a falsa
doutrina. Se houver algum pecado,
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paixão ou mundanismo em você, a
última coisa de que precisa é uma
doutrina que traga à tona o que você
tem de pior. Quando Davi pecou
com Bate-Seba, ele não precisava de
um falso profeta com uma mensagem tranquilizadora para dizer-lhe
quanto Deus o amava. Ele necessitava de um profeta imparcial, Natã,
com um dedo apontado, clamando:
Tu és o homem. Os que pregam a
doutrina de Cristo mostram ao povo
a diferença entre o mal e o bem. De
seus lábios não sai nenhuma mistura.
A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro (Ezequiel
44:23).
Ezequiel denuncia esses falsos
profetas que se enriquecem trazendo
uma mensagem que traz justificativa
para o pecado. Conjuração dos seus
profetas há no meio dela, como um leão
que ruge, arrebatando a sua presa; eles
devoram as almas, tomam tesouros e
coisas preciosas, e multiplicam as suas
viúvas no meio dela. Os seus sacerdotes
transgridem a minha lei, e profanam
as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem
discernem o impuro do puro; de meus
sábados escondem os seus olhos, e assim
sou profanado no meio deles. Os seus
príncipes no meio dela são como lobos
que arrebatam a presa para derramarem o sangue, para destruírem as al-
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Estudo Bíblico
mas, para seguirem a avareza. Os seus
profetas têm feito para eles reboco com
argamassa fraca, tendo visões falsas,
e predizendo-lhes mentira, dizendo:
Assim diz o Senhor Deus; sem que o
Senhor tivesse falado (Ezequiel 22:2528).
Como consequência, temos uma
geração toda de crianças confusas
que nem podem reconhecer o mal
quando o vêem. Os falsos profetas
as enganaram. Chamam de bom
quando roqueiros de cabelos tingidos de púrpura, vestidos de sadomasoquistas, se pavoneiam e giram
sexualmente no púlpito, explodindo
seu “rock and roll”. Dizem-lhes que o
sexo fora do casamento é bom desde que você esteja apaixonado e de
fato respeite o parceiro. Pregadores
e mestres têm se tornado os maiores
defensores do pecado na nação.
A Doutrina de Jezabel
Promove a Cobiça
Porém Nabote disse a Acabe:
Guarde-me o Senhor de que eu te dê a
herança de meus pais...Então Acabe...
deitou-se na sua cama, voltou o rosto,
e não comeu pão. Veio ter com ele Jezabel, sua mulher, e lhe perguntou: Por
que está o teu espírito tão desgostoso,
e não comes pão?...Governas tu, com
efeito, no reino de Israel? Levanta-te,
e come! Alegre-se o teu coração. Eu te
darei a vinha de Nabote, o jezreelita”(I
Revista Betel
Reis 21: 1-7).
Ouça a doutrina de Jezabel: “Você
é o rei. Você tem direitos. Que nada
o detenha de obter o que deseja.” Ela
disse a Acabe: “Alegre-se. Seja feliz.
Regozije-se. Eu a conseguirei para
você.” Esse é o evangelho da prosperidade em poucas palavras: “Não
fique triste nem sinta-se condenado
por esses desejos que o consomem.
Eu consego isso para você.” Durante
séculos a igreja pregou o sacrifício e
denunciou a cobiça, dizendo que é
pecado andar atrás das coisas materiais. Mas paralelamente veio a doutrina de Jezabel, dizendo “eu consigo
isso para você”. Como os métodos
enganosos usados por Jezabel, essas
doutrinas distorcem e fazem mal uso
da Bíblia.
O maior engodo da igreja moderna é a questão de usar a Palavra de Deus para dar um rótulo de
aprovação à ganância. Olhando por
cima, a doutrina de Jezabel funciona
(v. I Reis 21:14-16). Essa doutrina
deu a Acabe o que ele desejava. Ele
se apossou de seus direitos porque
quando um homem era apedrejado
por alta traição contra o rei, todos os
seus bens revertiam para o rei. Nunca houve dúvida de que para muitos
esta doutrina da prosperidade funciona. À semelhança de Acabe, desfrutam de suas possessões.
Mas Acabe não pôde desfrutá-la
Revista Betel
Estudo Bíblico
por causa de um irritante profeta de
Deus.
Então veio a palavra do Senhor a
Elias, o tisbita: Levanta-te, desce para
encontrar-te com Acabe, rei de Israel,
que está em Samaria. Ele está na vinha de Nabote, desceu até lá para tomar posse dela. Dir-lhe-ás: Assim diz
o Senhor: Não mataste e tomaste a
herança? Então lhe dirás: Assim diz o
Senhor: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, lamberão o
teu sangue, o teu mesmo. Disse Acabe
a Elias: Já me achaste, ó inimigo meu?
Respondeu-lhe: Achei-te, porque te
vendeste para fazer o que é mau aos
olhos do Senhor. Trarei o mal sobre
ti, lançarei fora a tua prosperidade, e
arrancarei de Acabe todo o homem,
escravo ou livre, em Israel (I Reis 21:
17-20).
Imagine Acabe caminhando pela
sua nova propriedade, dizendo:
“Como as coisas são boas! Ah, Jezabel, posso não concordar com todos
os métodos dela, mas ela consegue
tudo o que quer.” Porém no seu encalço está o profeta Elias. Acabe vacila, chocado. Ele sabia o que viria. Sua
consciência lhe disse: “Já me achaste,
inimigo meu?”
Assim ocorre hoje. Deus tem enviado profetas por toda a terra, clamando em voz alta, confrontando a
doutrina do materialismo de Jezabel,
deixando tão incortável aos cristãos
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o desfrutar de seus brinquedos e
aquisições. Eles se venderam em liquidação. Não podem vê-lo, mas
o pecado está por trás de tudo isto.
Toda vez que clamo contra a doutrina da prosperidade, sinto sobre mim
o espírito e o poder de Elias. Você
vai ouvir mais e mais exposição desta
doutrina de Jezabel. Por toda parte,
vozes proféticas serão ouvidas em
alto e bom som, clamando: “É pecado. Você comprou porque se vendeu
ao pecado.”
Jezabel Odeia os Profetas de
Deus e as Profecias de Deus
Ora, Acabe fez saber a Jezabel tudo
o que Elias havia feito, e como matara
à espada todos os profetas. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, e
dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e
outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer a tua vida como a cada
um deles (I Reis 19:1-2).
Os cristãos atados pela doutrina
de Jezabel não têm consideração alguma pelos santos profetas de Deus.
Eles ficam friamente impassíveis,
como fez Jezabel enquanto Acabe
conta em detalhes a milagrosa demonstração da autoridade sobrenatural no monte Carmelo. Ouça o que
diz Acabe: Mas Jezabel, talvez devamos ouvir. Vi com meus próprios olhos.
Nossos profetas dançaram e gritaram
durante horas, mas não houve poder.
10
Estudo Bíblico
Foi só Elias proferir a palavra de Deus
e o fogo caiu. As pessoas ajoelhavam-se, inclinadas sobre o rosto, por toda
parte arrependendo-se. Afastaram-se
de toda idolatria. Deus enviou um reavivamento de santidade. Mas Jezabel
não se deixou impressionar. Ficou,
porém mais inflexível.
Ainda é assim. Os mestres da doutrina de Jezabel e os que, como Acabe
são suas vítimas, não estão abertos ao
convencimento da parte do Espírito
Santo, nem à mensagem de arrependimento e santidade. Ouvem, depois
seguem seu caminho mais determinados do que antes. Não há o temor
de Deus nestas pessoas.
O sinal mais seguro de um falso
mestre e de uma doutrina de Jezabel
é rejeitar as advertências proféticas e
recusar-se a ouvir falar em juízo. Para
eles isso é morbidez e ser condenatório. Riem-se, zombam e ridicularizam. Não têm o mínimo respeito por
nenhuma advertência negativa. Jeremias diz que tais pastores são cegos e
mudos. O Senhor diz: Dai ouvidos...
Mas não ouviram, nem inclinaram os
seus ouvidos; pelo contrário, andaram
nos seus próprios conselhos, na dureza do seu coração maligno. Andaram
para trás, e não para diante ( Jeremias
723,24).
Os que ensinam a doutrina de
Jezabel alegam serem profetas. Mas
há uma prova que distingue os ver-
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dadeiros dos falsos profetas. Os profetas de Jezabel profetizam sempre
boas coisas, apenas paz e prosperidade. Mas nos profetas de Jerusalém
vejo coisa horrenda; cometem adultérios, andam em falsidade, e fortalecem
as mãos dos malfeitores, para que não
se convertam cada um da sua maldade; todos eles se tornaram para mim
como Sodoma, e os moradores de Jerusalém como Gomorra. Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos acerca
dos profetas: Eis que os alimentarei
com absinto e lhes darei a beber água
venenosa; porque dos profetas de Jerusalém se derramou a impiedade sobre
toda a terra. Assim diz o Senhor dos
Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam, e vos enchem de vãs esperanças;
falam as visões do seu coração, não o
que vem da boca do Senhor. Dizem
continuamente aos que me desprezam:
O Senhor disse: Paz tereis, e a qualquer que anda segundo a dureza do
seu coração, dize: Não virá mal sobre
vós ( Jeremias 7:14-17). Eles não levam o povo a desviar-se da maldade.
Falam de sonhos e agem de modo
louco no púlpito. São brincalhões.
A Aliança de Acabe com o
Mundo
Acabe arrependeu-se face à pregação de Elias. A mensagem de Elias
afetou-o profundamente. Ele rasgou
Revista Betel
Estudo Bíblico
as vestes e, por algum tempo, andou
em humildade. Deus chamou a esta
atitude arrependimento. Não viste
que Acabe se humilha perante mim? (I
Reis 21:29). Daquele dia em diante
ele poderia olhar para trás e dizer:
“Arrependimento? Sim. Mediante
a pregação daquele grande profeta
de Deus, Elias, em meu jardim em
Jezreel...” Para ele era uma experiência já passada, e não um caminhar
diário. Não durou muito tempo.
O problema era que ele havia feito
uma aliança com o mundo. Ele estava de acordo com o pecado. Havia
se tornado irmão e amigo do mundo. Irmão, aqui, significa “afinidade,
exatamente igual a mim, alguém que
respeito”. Ele estava em aliança com o
que Deus havia amaldiçoado.
E também hoje há um arrependimento superficial, apesar de verdadeiro. Se a aliança com o mundo
não for rompida, a pessoa voltará ao
antigo estado.
Acabe alegava amar a verdade,
mas no íntimo odiava a reprovação.
Acabe e Josafá foram à guerra contra
a Síria. Quatrocentos falsos profetas
pregavam sucesso: “Subam e prosperarão. Vocês conseguem.” Acontece que havia um profeta solitário
contra os 400 falsos profetas. Ouça
a exigência de Acabe para ouvir a verdade: Porém Micaías disse: Tão certo
como vive o Senhor o que o Senhor me
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disser, isso falarei. Vindo ele à presença
do rei, este lhe disse: Micaías, iremos
a Ramote-Gileade à peleja, ou deixaremos de ir? Respondeu-lhe ele: Sobe, e
triunfarás, porque o Senhor a entregará
nas mãos do rei. Disse-lhe o rei: Quantas vezes te conjurarei, que não me fales
senão a verdade em nome do Senhor?
(I Reis 22:14-16). Mas em seu coração ele não desejava ouvi-la; ele a
odiava. Então mandou encarcerar o
profeta.
Pastores, professores e toda a congregação hoje dizem: “Desejamos
muito a verdade. Pregue-a do jeito
que ela é. Vá. Despeje-a. Não importa quanto machuque.” Mas em
seus corações, alguns estão dizendo:
“Sombria demais. Dura demais. Não
agüento mais isso”
Acabe estava cego para o fato
terrível de que estava sendo guiado
por espíritos de mentira. Este espírito mentiroso não era de Deus, mas
estava sob o Seu comando. Os espíritos malignos, mentirosos, podem
ir ou vir sob a ordem de Deus. Não
são de Deus, mas enviados por Deus.
O Senhor pôs o espírito mentiroso na
boca de todos estes teus profetas (I Reis
22:22,23).
Este espírito de mentira levou Zedequias, um falso profeta, a vangloriar-se de que o Espírito de Deus estava sobre ele. O espírito mentiroso
que estava nele podia honestamente
12
Estudo Bíblico
declarar: “O Senhor me enviou”. Espíritos mentirosos são muito persuasivos - Tu o induzirás (I Reis 22:22).
Acabe estava agora convencido de
que estava ouvindo a voz de Deus, e
que voltaria vitorioso.
Os cristãos sujeitos pela doutrina
de Jezabel estão cem por cento seguros de estarem certos. Não conseguem ver o engano. Acabe não subiu
pensando: “Micaías está certo; ele
tem a mente de Deus. Os 400 são
falsos; não têm a palavra de Deus.”
Não. Ele subiu totalmente convencido, totalmente enganado, totalmente
seduzido. Estava convencido de que
Micaías estava errado e os 400 estavam certos.
Por Que Alguns Cristãos
Caem Num Engano Destes?
Eis que vós confiais em palavras
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falsas, que para nada vos aproveitam.
Que é isso? Furtais e matais, cometeis
adultério e jurais falsamente, queimais
incenso a Baal e andais após outros
deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta
casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações!
( Jeremias 7: 8-10).
Aí está a resposta. Apego a algum
pecado de estimação, ou a algum
ídolo secreto no coração. Justificativa
para o pecado. Um caminhar com o
mundo, irmanando-se com ele. Depois vêm à casa do Senhor vangloriando-se: “Não estou condenado”.
Isso é um convite aberto aos espíritos
mentirosos.
World Challenge, P. O. Box 260,
Lindale, TX 75771, USA.
Alguns anos atrás, uma pobre lavadeira foi compelida pelas circunstâncias a lavar para fora,
devido às necessidades financeiras que sua família estava passando. Enquanto trabalhava no tanque
com água e sabão, suas lágrimas se misturavam com a espuma à medida que derramava diante
de Deus o encargo de seu coração pela salvação de seu filho. Ela não foi rejeitada em seu pedido
e seu garoto nasceu de novo, no Espírito, e se tornou um professor de escola dominical com
uma grande responsabilidade por sua classe. Um de seus alunos era D.L.Moody – o homem
que alcançou multidões. Edward Kimbal, nascido de oração, sentia igualmente uma grande
preocupação por aquele estudante de 17 anos de idade de sua classe. Reprimindo qualquer
resistência, visitou a sapataria onde Moody se tornou um cristão. Quão pouco aquela humilde
lavadeira seria louvada por um público admirador, pela parte que teve no ministério de Moody.
Mas os registros eternos infalivelmente incluirão todos os elos na corrente da providência. Quão
interessante será traçar a fonte de todas as obras de Deus à esta poderosa arma que é a oração!
-- Selecionado
Estudo Bíblico
Revista Betel
Bem-Aventurados III
13
Humberto X.Rodrigues
Bem-aventurados os que
têm fome e sede de justiça,
porque eles serão fartos.
Mateus 4:6
B
em-aventurados os que
têm fome e sede de justiça,
porque eles serão fartos;
Já consideramos até aqui que precisamos ser “humildes de espíritos”;
isto significa sermos esvaziados de
nós mesmos. Também precisamos
“chorar”, isto é, lamentar o nosso estado de miserabilidade, e precisamos
ser “mansos”, isto é, abrir mão da nossa vontade, e nos submeter à vontade
de Deus, sermos inteiramente e com-
pletamente dependentes de Deus.
Fome e sede são sensações físicas extremamente dolorosas, e não
descansaremos enquanto não estivermos saciados. Essa fome e sede
de justiça são desejos espirituais que
brotam do íntimo daquele que está
em Cristo, que pode dizer como o
salmista quando expressou assim o
seu desejo por Deus: Assim como o
cervo brama pelas correntes das águas,
assim suspira a minha alma por ti,
ó Deus! A minha alma tem sede de
Deus, do Deus vivo; quando entrarei
14
Estudo Bíblico
e me apresentarei ante a face de Deus?
Salmos 42:1-2.
Nosso Senhor usou, com freqüência, os fatos naturais para nos
ensinar as verdades espirituais. À luz
dessa ilustração do salmista, como o
cervo brama pelas correntes das águas,
temos que encarar o fato de que, sem
sede espiritual, não cresceremos.
Esse crescimento não acontece pela
força da nossa carne, mas pela ação
da graça de Deus, gerando em nosso
coração a necessidade de buscarmos
um profundo relacionamento com
Deus por meio de Jesus Cristo.
A minha alma tem sede de Deus,
do Deus vivo: Os filhos de Deus anseiam e suspiram pelo conhecimento vivo de Deus. Suas almas sempre
suspiram por uma pureza interior
mais completa. E, ao mesmo tempo,
gemem pela corrupção que há em
seus corações. A sede por Deus deve
ser a marca de todo aquele que foi
salvo por Jesus Cristo. O progresso
da vida cristã se realiza por termos
a luz de Deus, por serem abertos os
nossos olhos. Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a
luz. Salmos 36:9.
“ ‘Fome’ e ‘sede’ não são sensações
passageiras. A fome é profunda e
forte, e continua enquanto não for
satisfeita. A fome fere e é dolorosa.
Essa fome espiritual assemelha-se à
fome e à sede reais. É algo que con-
Revista Betel
tinua se intensificando e que deixa o
indivíduo simplesmente desesperado. É algo que provoca sofrimento e
agonia.” D. Martyn Lloyd-Jones.
O que significa ter sede e fome
de justiça? Considerando que a primeira bem-aventurança abre a porta
de entrada para o reino de Deus e as
demais bem-aventuranças são a plenitude daqueles que estão em Cristo,
ter sede e fome de justiça significa temer que algo pecaminoso esteja em
nós, e temer que algo de iníquo nos
atinja ou nos toque. A fome e a sede
são um processo contínuo na vida
dos filhos de Deus, e a realização
completa desse anseio só se dará na
consumação dos séculos. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça
como o ribeiro impetuoso. Amós 5:24.
O nascido de novo descobre, através dos anos, que ele já foi conduzido
por uma longa jornada, e, a cada passo, foi pessoalmente experimentando
os cuidados de Deus, e, por meio da
Palavra, seus olhos foram iluminados
para ver a gloriosa Pessoa do Senhor
Jesus Cristo: Tendo iluminados os
olhos do vosso entendimento, para que
saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da
sua herança nos santos. Efésios 1:18.
A sede e a fome de justiça têm
como matéria prima a profunda necessidade que Deus, em sua infinita
graça, gera no coração do salvo para
Revista Betel
Estudo Bíblico
conhecê-Lo. Deus permite as crises
na vida de seus filhos para que eles
O busquem. Irei e voltarei ao meu
lugar, até que se reconheçam culpados
e busquem a minha face; estando eles
angustiados, de madrugada me buscarão. Oséias 5:15. À luz dessa verdade
descobrimos que as nossas angústias
são de valor inestimável.
Por isso, não podemos desprezar
os dias difíceis de nossas vidas. Por
outro lado, não podemos injetar ou
levar as pessoas a terem sede e fome.
A sede e a fome têm que ser despertadas pela graça de Deus. E, muitas
vezes, o próprio Deus nos chama
para o deserto, lugar “árido” e “seco”,
com o único propósito de falar ao
nosso coração. Portanto, eis que eu a
atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe
falarei ao coração. Oséias 2:14.
O nosso Senhor Jesus trilhou esse
caminho, foi para o deserto e cada
inimigo foi vencido. Nada resta neste
universo que possa vencer o menor
daqueles que está em Cristo. Não temos que escalar nada, porque somos
mais que vencedores. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação,
ou a angústia, ou a perseguição, ou a
fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de
ti somos entregues à morte todo o dia;
Somos reputados como ovelhas para o
matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por
15
aquele que nos amou. Romanos 8:3537.
Considerando que em Cristo estamos completos, e que não há necessidade de acrescentarmos algo
que já foi “consumado”, agora é uma
questão de viver pela fé e de receber,
de nos apropriar, da abundância da
Fonte que há em nós. O crescimento
espiritual pede que o coração tenha
sede e fome do Senhor Jesus. E com a
transformação sempre crescente dos
filhos à semelhança de Cristo, somos
aperfeiçoados. Então conheçamos, e
prossigamos em conhecer ao Senhor; a
sua saída, como a alva, é certa; e ele a
nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. Oséias 6:3.
A semente traz dentro de si todo
o potencial de vida que ela tem. A semente está completa, nada lhe pode
ser acrescentado. Quando a mesma é
lançada na terra, passa pelo processo
de morte, surgindo a “erva, depois a
espiga, e, por fim, o grão cheio de espiga”. Esse é o princípio natural conforme a palavra de Deus: Porque a
terra por si mesma frutifica, primeiro a
erva, depois a espiga, por último o grão
cheio na espiga. Marcos 4:28.
Semelhantemente, o crescimento da vida de Cristo implantada no
regenerado é como o crescimento
natural no reino vegetal. Não há necessidade de acrescentar nada, não
precisamos fazer nenhum esforço
16
Estudo Bíblico
para o seu desenvolvimento. Veja o
texto “a terra por si mesmo frutifica”.
A palavra de Deus como “semente” é
lançada ao coração, e a mesma têm
em si todo o potencial para gerar vida
quando recebida pela fé: Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus,
pois, havendo recebido de nós a palavra
da pregação de Deus, a recebestes, não
como palavra de homens, mas segundo
é, na verdade, como palavra de Deus, a
qual também opera em vós, os que crestes. I Tessalonicenses 2;13.
Os que têm fome e sede de justiça são os que anseiam por ver Cristo se manifestando em suas vidas,
anseiam também para que outros
vejam que a justiça de Deus é Cristo. Os que têm fome e sede de justiça são aqueles que anseiam por ver
o triunfo final de Deus sobre o mal.
“Ter fome e sede, na verdade, significa estar desesperado, estar morrendo
de inanição, sentir que a vida se esvai;
perceber que precisa urgentemente
de ajuda.” John N. Darby.
Porque eles serão fartos: a palavra
grega para fartos é cortaxo, que expressa um sentimento de plena satisfação. O propósito de Deus, por
meio da Palavra, é nos levar para
dentro da realidade do que significa
estar em Cristo. Por isso, necessitamos da revelação do Espírito Santo
das riquezas contidas em Cristo.
Para que os seus corações sejam conso-
Revista Betel
lados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência,
para conhecimento do mistério de Deus
e Pai, e de Cristo, Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria
e da ciência. Colossenses 2:2 -3.
Deus permitiu que Davi passasse
por muitas tristezas para que pudesse conduzi-lo à largueza: Ouve-me
quando eu clamo, ó Deus da minha
justiça, na angústia me deste largueza. Salmos 4:1. A largueza da qual
o Salmista fala acontece quando,
em aflição, somos levados por Deus
a um lugar amplo para desfrutarmos de Sua companhia. Os filhos de
Deus se refugiam na gloriosa Pessoa
do Senhor Jesus e na Sua justiça que
nos - é concedida ou imputada gratuitamente.
Que gloriosa verdade! Fomos
aceitos e nos tornamos agradáveis a
Deus por meio de Cristo. Todo louvor e graças sejam ao nosso Deus. Ele
nos deu em Seu amado Filho tudo
que necessitamos para a consciência,
para o coração, para “hoje” e por toda
a eternidade. Podemos dizer que não
há, nem poderia existir, qualquer falta no Cristo de Deus. Sua pessoa e
Sua obra devem satisfazer todos os
anseios do coração humano. Porque
nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade; E estais perfeitos
nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade. Colossenses 2:9-10.
Revista Betel
Estudo Bíblico
“Felizes os que têm sede e fome
de justiça”! E que o coração de cada
filho de Deus seja conquistado por
essas palavras: quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. Apocalipse 22:11b. E que
também não sejamos negligentes na
posição de filhos, permanecendo firmes na porção que nos foi dada. Que
encontremos em Cristo todo o nosso
prazer, cuja obra “consumada é a base
eterna de nossa salvação e paz.
E que, ansiando pelo bendito momento quando Jesus virá para nos receber para Si mesmo, para que onde
17
Ele estiver, possamos estar também,
para de lá nunca mais sairmos, eternamente. Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas
que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Porque,
se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição,
Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a
qual, começando a ser anunciada pelo
Senhor, foi-nos depois confirmada pelos
que a ouviram. Hebreus 2:1-3.
NOSSA MAIOR NECESSIDADE
É da maior importância que os filhos do Senhor reconheçam plenamente que o Seu objetivo
é, acima de tudo o mais, que eles O conheça. Está é a finalidade que governa todos os seus
tratamentos para conosco. Esta é a maior de todas as nossas necessidades.
Este é o segredo da força, firmeza e serviço. Determina a medida da nossa utilidade para o
Senhor. Esta era a única paixão da vida do apóstolo Paulo. Era a causa da sua incessante luta pelos
santos. É o âmago e pivô de toda carta aos Hebreus.
Nosso Senhor faz a afirmação de que a vida eterna é esta: que conheçam a ti o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João 17:3.
O crescente conhecimento Dele se manifesta no crescimento da vida. Há, pois, operação nos
dois sentidos: conhecimento para a vida e vida para conhecimento.
-- T.Austin-Sparks
Deus sempre fala com corações que com ele sintonizam.
-- Richard C. Trench
Não receies a adversidade: lembra-te de que os papagaios de papel sobem contra o vento e não
a favor dele.
-- H.Mabie
18
Estudo Bíblico
Judas e Eu
Revista Betel
Abel Emerich
Então, um dos doze, chamado
Judas Iscariotes, foi ter com
os príncipes dos sacerdotes e
disse: Que me quereis dar, e
eu vo-lo entregarei?E eles lhe
pesaram trinta moedas de
prata. E, desde então, buscava
oportunidade para o entregar.
Mateus 26:14-16
O
artigo 29 do Código
Penal brasileiro assim
leciona: “Quem, de
qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas, na medida de sua
culpabilidade”. Sabidamente, esse é
o parâmetro norteador do direito
penal, em todo o mundo civilizado.
Aliás, tal assertiva fora herdada do
direito romano, sob cuja autoridade
o Senhor Jesus foi condenado, em
decisão proferida pelo procurador da
Judéia, Pôncio Pilatos, que incorpo-
rava também a figura de juiz.
Nas sagradas escrituras, Judas
Iscariotes é apontado apenas como
o traidor do Senhor. Veja: E, quando estavam assentados a comer, disse
Jesus: em verdade vos digo que um de
vós, que comigo come, há de trair-me.
E logo, falando ele ainda, veio Judas,
que era um dos doze, da parte dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e
dos anciãos, e, com ele, uma grande
multidão com espadas e porretes. Ora,
o que o traía tinha-lhes dado um sinal,
dizendo: Aquele que eu beijar, esse
Revista Betel
Estudo Bíblico
é; prendei-o e levai-o em segurança.
E, logo que chegou, aproximou-se dele
e disse-lhe: Rabi, Rabi. E beijou-o. E
lançaram-lhe as mãos e o prenderam.
Marcos 14:18 e 43-46.
Seria unicamente Judas o culpado
pela morte de Jesus?
Se considerarmos a atitude de Judas, à luz do direito penal, ainda que
pelas Sagradas Escrituras ele seja
apontado apenas como o traidor do
Senhor, irremediavelmente, deveria
ser denunciado, pelo menos, como
co-autor, na morte do Cordeiro Inocente, não houvesse a autoridade do
Império Romano, para dar legalidade ao episódio.
Pilatos lavou as suas mãos, embora tenha lavrado a sentença de morte
do Senhor da Glória.
Historicamente se sabe que o sinédrio romano passou a noite ouvindo testemunhas, a fim de apurar
a existência de algum crime, porventura, atribuído a Jesus; e, por
fim, O levaram à presença do sumo
sacerdote, onde se conclui que nem
eram necessárias testemunhas, posto que o Senhor teria blasfemado
em sua presença e em presença de
todos os congregados. Veja: E os que
prenderam Jesus o conduziram à casa
19
do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
E, Levantando-se o sumo sacerdote,
disse-lhe: Não respondes coisa alguma
ao que estes depõem contra ti? E Jesus,
porém, guardava silêncio. E, insistindo
o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu
és o Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhe
Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém,
que vereis em breve o Filho do Homem
assentado à direita do Todo-poderoso e
vindo sobre as nuvens do céu. Então,
o sumo sacerdote rasgou as suas vestes,
dizendo: Blasfemou; para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que
bem ouvistes, agora, a sua blasfêmia.
MATEUS 26: 57 e 62-65.
É que, segundo as leis religiosas
judaicas, O Senhor Jesus teria cometido o crime de blasfêmia, pelo fato
de haver afirmado ser ele O Cristo,
ou Messias, Aquele que era esperado pelos Judeus. É bom lembrarmos
que os nomes “Cristo e Messias” designam uma só coisa, a saber, que se
trata do “Ungido de Deus”; ou seja,
ungido para ser o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo. No
Evangelho segundo João Ele é assim
reconhecido: No dia seguinte, João viu
a Jesus que vinha para ele, e disse: Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo. João 01:29. A designação
de Cristo para ser o Cordeiro, foi por
Ele aceita antes mesmo da fundação
20
Estudo Bíblico
do mundo. Vejamos: (...) E adoraram-na todos os que habitam sobre a
terra, esses cujos nomes não estão escritos no Livro da vida do Cordeiro que
foi morto desde antes da fundação do
mundo. Apocalipse13:08.
Essa fora a maneira de Deus, para
promover a nossa salvação, do pecado, que consistiu num processo de
identificação conosco. Assim, Deus
formou a Jesus (homem), no ventre
de Maria, e nEle, isto é, em Jesus, o
Cristo, filho eterno de Deus veio habitar, desde a concepção: No princípio, era o verbo (Cristo), e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (...)
E o verbo se fez carne e habitou entre
nós, e vimos a sua glória, como a glória
do Unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade. João 01:01 e 14.
Concluímos, pois, que quando
O Senhor Jesus informou ao sumo
sacerdote ser Ele o Cristo, não cometeu crime algum, porquanto, Ele
e Cristo, de fato, são uma só pessoa.
Apesar das evidências de que Jesus é o Cristo, com tantos milagres,
curas, ressuscitações, e demonstrações de poder, Deus não deixou por
menos, posto que Jesus fora ainda
declarado Filho de Deus, com poder,
como depreendemos da Carta aos
Romanos: Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado
para o evangelho de Deus, o qual antes
havia prometido pelos seus profetas nas
Revista Betel
Santas Escrituras, acerca de seu Filho,
que nasceu da descendência de Davi
segundo a carne, declarado Filho de
Deus em poder, segundo o Espírito
de santificação, pela ressurreição dos
mortos, - Jesus Cristo, nosso Senhor.
Romanos 01:01-04.
Ainda que encontremos algumas
traduções bíblicas em que, no texto
acima, informem que Jesus fora “designado Filho de Deus em poder”, estas
não se ajustam bem ao escrito original, em que está dito que Ele fora
“declarado Filho de Deus em poder”.
Ocorre que a designação revela um
fato presente, enquanto na declaração se reconhece um fato pré-existente. Com efeito, Jesus fora gerado
pela palavra de Deus, no ventre de
Maria.
Logo, quem crê em Jesus, crê em
Deus Filho, posto que Ele e Cristo
são uma só pessoa: Quem crê no Filho
de Deus em si mesmo tem o testemunho; quem em Deus não crê mentiroso
o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o
testemunho é este: que Deus nos deu
a vida eterna; e esta vida está em seu
Filho. Quem tem o Filho tem a vida;
quem não tem o Filho de Deus não tem
a vida. I João 05:10-12.
Os judeus, porém, insistiam na
crucificação do Senhor: Disse-lhes
Pilatos: Que farei, de Jesus, chamado
Cristo? Disseram-lhe todos: Seja cruci-
Revista Betel
Estudo Bíblico
ficado! Então, Pilatos, vendo que nada
aproveitava, antes o tumulto crescia,
tomando água, lavou as mãos diante
da multidão, dizendo: Estou inocente
do sangue deste justo: considerai isso.
E, respondendo todo o povo, disse: O
seu sangue caia sobre nós e sobre nossos
filhos. Mateus 27: 22-25.
Vale lembrar que Judas fora
apontado apenas como o traidor
do Senhor, a quem entregou às autoridades, embora conhecesse o fim
proposto, que era matá-Lo; Pilatos,
por sua vez, lavou as mãos e disse
ser inocente: Estou inocente do sangue deste justo; considerai isso. SIC.
Mateus 27:24b. As autoridades religiosas (sumo sacerdote, escribas e
anciãos) não participaram diretamente de atos executórios, ainda que
insistissem e incitassem a multidão,
pela morte do Senhor. Esse fato fora
também assim registrado: Veio para
o que era seu ( Judeus), e os seus não o
receberam. João 01:11.
Então, quem foi o culpado pela
morte de Jesus?
Estou certo de que, lançada esta
pergunta a uma grande platéia, dela
obteríamos diversas respostas. Uns
certamente diriam que foi Judas Iscariotes, quem matou O Senhor da
Glória, haja vista, este O haver entregue à turba de soldados, conhecendo
21
tal fim. Outros, por certo informariam que os responsáveis pela morte
do Senhor teriam sido as autoridades romanas, posto que Roma dominava o território de Israel, naquele
tempo, quando se aplicava a pena de
morte na cruz aos estrangeiros, isto
é, a quem não fosse cidadão romano.
Essa era a pena capital para determinados crimes, além da pena acessória
que consistia em que o criminoso
fosse drasticamente surrado. Ainda
outros, diriam que foram as autoridades religiosas judaicas, as culpadas
pela morte do Senhor, porque clamavam fosse Ele crucificado; mesmo
porque, paralelamente às leis romanas, observava-se o cumprimento
das normas religiosas judaicas.
Contudo, a resposta a essa pergunta não deve ser buscada na seara do direito penal, senão à luz das
sagradas escrituras; para tanto se
impõe o esclarecimento de alguns
pontos:
O primeiro deles é apurar o motivo que trouxe Cristo ao mundo,
quando ele se “intrometeu” em nosso
pecado, em cujo tempo nós estávamos separados da vida de Deus, sem
Deus no mundo; sendo certo que,
por amor, Ele veio buscar e salvar
o que se havia perdido: Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o
que se havia perdido. LUCAS 19:10.
Porque Deus amou o mundo de tal
22
Estudo Bíblico
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna.
JOÃO 03:16.
Pela expressão salvar o que se havia
perdido, as escrituras designam a caça
ao malfadado homem, que voluntariamente se desligou de Seu Criador,
dando ouvidos ao convite de Satanás, ocasião em que comeu do fruto
da árvore do conhecimento do bem e
do mal, que Deus havia dito que não
comesse. Gênesis 02:16 e 17.
O segundo é o que diz respeito à
retribuição da desobediência do homem à ordem divina, fato que gerou
a sua morte. Sendo certo que o conceito de pecado, é tido como a desobediência à vontade divina e implica
em morte: Porque o salário do pecado
é a morte (...) Romanos 6:23ª.
O terceiro ponto a ser esclarecido,
e, talvez, o mais eloqüente, é que Jesus, nasceu sem a natureza pecaminosa dos filhos de Adão, porque fora
gerado por Deus e não por homem;
ora, se a retribuição para a natureza
do pecado (passada por Adão à sua
descendência) é que gera a morte,
como conseguiram matar o Senhor
Jesus, naquela cruz, se não existia
nEle as condições para morrer, por
não se achar pecado nEle?
O esclarecimento à esse quesito
deflui da boca do próprio Senhor Jesus e fora registrada ainda por João.
Revista Betel
Ipsis verbis: E eu, quando for levantado
da terra, todos atrairei a mim. E dizia
isso significando de que morte havia de
morrer. João 12:32 e 33.
A resposta está aí, e consiste numa
realidade espiritual, que independe
da aceitação humana; porquanto,
quando levantaram aquela cruz, tendo nela pregado o corpo de Jesus, Ele
atraiu todos os seres humanos a si,
onde fomos identificados na Sua carne; isto é, desde Adão, até o último
que virá a nascer neste mundo; todos
fomos, invariavelmente atraídos ao
corpo do Senhor, e o matamos com
o nosso pecado, cujo salário é morte.
Através do corpo de Jesus é que temos acesso a Deus, o Pai. Tal realidade levou o Senhor Jesus a afirmar ser
Ele a porta: Eu sou a porta; se alguém
entrar por mim, salvar-se-á, entrará,
sairá, e achará pastagens. João 10:09.
Vemos,
Chego a uma triste conclusão de
que Judas e eu, com toda certeza,
matamos o Senhor da Glória; cabe
a você reconhecer que também foi
atraído ao corpo santo do Senhor,
naquela cruz, e, com a sua natureza
pecaminosa também contribuiu para
a morte do Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo.
A tua salvação depende disso!
Veja o que o apóstolo Paulo nos
lembra, escrevendo aos romanos: sa-
Revista Betel
Estudo Bíblico
bendo isto: que o nosso velho homem
foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que
não sirvamos mais ao pecado. Porque
aquele que está morto está justificado
do pecado. Romanos 6:06 e 07.
Se você ainda não sabia isto, agora
ficou sabendo, e já não há desculpas
de ignorância desse fato!
Por fim, se você, pela Graça de
Deus, vier a reconhecer a sua atração
ao corpo santo do Senhor, naquela
cruz, já não seremos apenas Judas e
eu os culpados pela morte Jesus; mas
seremos agora três, a saber: Judas, eu
23
e você.
Lembre-se, em reconhecer esse
fato, está a tua salvação!
Confesse!
Esse convite à confissão tem o
sentido de aceitação; aliás, no texto
original, expressa a conotação de homologia, ou seja: você diz, com a sua
boca, que concorda com a proposta
divina pra que você seja salvo de sua
natureza de pecado.
A saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Romanos 10:09.
Ele se derramou por nós, e ser conformados à Sua morte significa, portanto, que nós
derramamos nossa vida pelos outros.
-- Campbell Morgan
Deus é amor, e aquele que aprendeu a viver no Espírito de amor aprendeu a viver e a habitar em
Deus.
-- Andrew Murray
Até a morte, terei empregado tudo o que existe em mim para amar o Senhor.
-- Irmão Lawrence
A cruz de Cristo é o coração de Deus quebrado pelo pecado. Ela nos fala que Deus, que tem de
julgar e punir o pecado, salvará e perdoará o pecador.
-- Ruth Paxson
A marca de um santo não é a perfeição, mas a consagração. Um santo não é um homem sem
faltas, mas um homem que se deu sem reservas a Deus.
-- Bispo Westcott
24
Estudo Bíblico
Pecado Versus Graça
Revista Betel
Glenio Fonseca Paranaguá
Portanto, assim como por um
só homem entrou o pecado
no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte
passou a todos os homens,
porque todos pecaram. Pois
todos pecaram e carecem da
glória de Deus. Romanos
5:12 e 3:23.
O
que é o pecado? Alguns
dizem que é orgulho.
Outros afirmam que é
rebeldia. Há também
os que sustentam ser autonomia. Na
verdade o pecado foi uma atitude
teomaníaca de Adão que originou a
sua separação de Deus, bem como de
toda a sua descendência. No pecado
a criatura fica apartada da comunhão
com o seu Criador. O ser humano se
torna morto, isto é, separado espiritualmente de Deus.
O pecado é uma oposição da cria-
tura ao governo do Criador. O homem criado à imagem e semelhança
de Deus não aceita a idéia de não ser
como Deus. Essa é a base de toda a
rebeldia egoísta do pecado. Somos
uma raça contaminada pelo egoísmo
e tentamos viver às nossas próprias
custas.
A trama do pecado propõe a auto-coroação do ser humano como se
ele fosse o próprio Deus. O que está
latente em todo o comportamento
pecaminoso é a arrogância autônoma de quem quer se dirigir por con-
Revista Betel
Estudo Bíblico
ta própria. Sendo assim, podemos
dizer que o pecado é uma sugestão
de independência, em que a criatura tenta viver com os seus recursos
naturais. No fundo dessa obstinação
reside um sentimento de soberania.
O pecado é hereditário e universal. Todos nós nascemos em pecado
e ninguém pode dar uma de João-sem-braço achando-se imaculado.
Davi percebeu claramente este fato
quando disse: Eu nasci na iniqüidade,
e em pecado me concebeu minha mãe.
Salmos 51:5. Isso não significa que o
seu nascimento tenha sido adulterino, mas que ele foi gerado no âmbito
de uma raça perversa e presunçosa.
Todos os seres humanos, exceto Jesus, foram concebidos em pecado.
Outrossim, o pecado é sempre uma oposição a Deus. Todo
crime é contra a humanidade,
mas o pecado é radicalmente contra a Divindade. Apesar de Davi
ter cometido dois ou três crimes
no contexto desse salmo, ele diz que
o seu pecado era somente contra
Deus. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus
olhos, de maneira que serás tido por
justo no teu falar e puro no teu julgar.
Salmos 51:4.
A prova de nossa pecaminosidade
é a morte. O apóstolo Paulo diz que
o único lucro do pecado são os restos
mortais. Porque o salário do pecado é
25
a morte, mas o dom gratuito de Deus
é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso
Senhor. Romanos 6:23.
Todos nós somos pecadores por
natureza, não tendo qualquer inclinação natural por Deus. Nenhum
pecador busca automaticamente a
Deus. Não existe essa disposição espontânea do ser humano procurar o
Deus verdadeiro, voluntariamente.
Veja como o salmista expõe a tendência humana. Do céu, olha Deus
para os filhos dos homens, para ver se
há quem entenda, se há quem busque
a Deus. Salmos 53:2. E Paulo reitera de modo definitivo: não há quem
entenda, não há quem busque a Deus;
Romanos 3:11.
A proposta do pecado ao ser humano é a sua emancipação de Deus
e nunca a sua aproximação dele. Não
há interesse instintivo do pecador
com relação à intimidade com Deus.
Tudo o que o pecador almeja é a sua
isenção no que diz respeito à busca
pessoal de Deus, pois no íntimo, o
pecado propõe que o ser humano
seja ele mesmo, o seu deus.
Ora, se ninguém busca a Deus naturalmente, quando resolve buscá-lo,
quem o fez buscar? Aqui entra a graça. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens,
educando-nos para que, renegadas a
impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, jus-
26
Estudo Bíblico
ta e piedosamente. Tito 2:11-12.
O pecado nos tornou arrogantes
e teimosamente rebelados contra
Deus. O Deus trino não faz parte
da nossa agenda repleta de compromissos. Mas a graça vem em Cristo
de um modo polido, e, irresistivelmente nos atrai para o coração do
Pai. Somos convidados por um amor
incondicional a participar de um relacionamento sem cobranças.
Todas as religiões do mundo começam com a iniciativa humana de
criar um deus à imagem e semelhança da criatura e de fazê-lo digno de
veneração. Nessas religiões vemos a
criação construindo seus ídolos e altares como um invento de sua imaginação. Porém, no Cristianismo é o
Criador quem empreende a busca da
criatura. A boa notícia do Evangelho
mostra o eterno Caçador farejando e
perseguindo a caça que ele ama com
amor integral, até alcançá-la. No
Evangelho é a graça que procura o
desgraçado.
Pecado é tudo o que pretende
exaltar a criatura em lugar do Criador. O sentimento que nos enaltece
é ameaçador. A carência de elogio ou
a cata de um tamanco que nos eleve é muito arriscada, pois podemos
torcer o pé. O pecado gosta do culto
à personalidade. A graça é a contratura do Criador para obter a cria na
dimensão da criatura. Na graça, o
Revista Betel
Deus absoluto não temeu se reduzir
até ao diâmetro de servo com bacia
nas mãos e cruz nas costas, pois, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em
semelhança de homens; e, reconhecido
em figura humana, Filipenses 2:7.
Se o pecado pode ser definido
como a arrogância da teomania humana, a graça pode ser descrita como
Deus na estatura de um homem se
revelando totalmente favorável àquele que é o mais detestável dos rebeldes. O caráter da graça é a indignidade do indigente. Quanto mais
descrédito perante a lei, mais crédito
diante da graça. O Evangelho é a boa
nova para os canalhas e o habeas-corpus a todos os sentenciados ao
inferno.
Alguém disse que graça é mais do
que favor a quem não merece, é favor
cabal àquele que tem completo demérito. A questão não é se a pessoa
não tem algum merecimento, mas se
ela tem total desmerecimento. A graça só requer integral desonra a fim
de poder honrar aquele que é o mais
cafajeste dos pecadores. Sobreveio a
lei para que avultasse a ofensa; mas
onde abundou o pecado, superabundou
a graça. Romanos 5:20.
Jesus mostrou o estilo magnânimo do reino da graça, quando contou uma parábola de um homem rico
que preparou uma grande ceia e con-
Revista Betel
Estudo Bíblico
vidou muita gente. Todavia os convidados não deram bola para o convite
nem fizeram caso da festa. Eles eram
muito importantes e tinham negócios vantajosos em vista.
Talvez aqueles convidados tenham rejeitado o ingresso ao banquete da graça, porque eles eram
nobres demais a fim de participar
de um festival que não lhes custasse
coisa alguma, nem lhes agregasse algum valor especial. A reação daquele
senhor perante o promoter é um sintoma do caráter da graça: Voltando o
servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu
servo: Sai depressa para as ruas e becos
da cidade e traze para aqui os pobres,
os aleijados, os cegos e os coxos. Lucas
14:21.
A graça não exclui ninguém, todavia tem-se percebido que os ilustres
não se sentem à vontade no salão de
festas do reino da graça. Aquele chamamento foi ecumênico, mas apenas
os deficientes puderam comemorar o
evento. O único bloqueio para a celebração do evento é a justiça própria
com seus direitos e privilégios.
Jesus contou uma outra parábola
em que um rei comemorava as bodas do seu filho, quando um penetra tentou fazer uma boquinha livre.
Naquela época era costume do dono
da festa, que fosse rico, dar as vestes
festivais para os convidados, a fim
27
de ninguém se sobressair sobre os
outros. Contudo, havia alguém naquele banquete destoando. Entrando,
porém, o rei para ver os que estavam
à mesa, notou ali um homem que não
trazia veste nupcial e perguntou-lhe:
Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Mateus
22:11-12.
O mérito é o nosso maior problema. Nós não gostamos da
graça nem aceitamos com facilidade a dependência divina. Viver tão somente pelo consentimento da opinião do céu é uma
dificuldade terrível para os atrevidos
da terra. Mas aquele rei não concordou com a permanência daquele
abusado que quis ditar as regas da
festa com a sua indumentária. Então,
ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora,
nas trevas; ali haverá choro e ranger de
dentes. Porque muitos são chamados,
mas poucos, escolhidos. Mateus 22:1314.
O traje na Bíblia tipifica a questão
da justiça. Aquele intrometido queria
ser aceito com a sua justiça e não com
a justiça do rei. A graça nunca acolhe
quem se traja com a sua justiça, uma
vez que os celebrantes da festa do Rei
sempre se vestem com as roupas que
lhe foram dadas no hall do Palácio.
Só a justiça de Cristo pode atender
a dignidade do pecador. Assim, nin-
28
Estudo Bíblico
guém entra no reino de Deus portando sua reputação pessoal.
Um tempo desses, estive numa
capital do Nordeste celebrando um
casamento. O pai do noivo acabou
esquecendo o seu terno na cidade
onde mora, bem distante do local
da festa, o que causou uma situação
embaraçosa. Um dos tios do noivo
tinha mais de um terno, que podia
emprestá-lo, mas o pai não quis, pois
havia alguma diferença na compleição física, e todos nós queremos ficar
bem na foto. Ele teve que comprar
uma roupa nova, ainda que tivesse
um terno de grife, só para ficar confortável na festa.
No reino de Deus nós seremos
aceitos somente com a vestimenta de
Cristo. Ela é a única justiça feita sob
medida. Nenhuma indumentária
pessoal será admitida nesse aprazível ágape da graça absoluta. Nós só
participaremos da festa, se Cristo for
a nossa identidade. Pois todos vós sois
filhos de Deus mediante a fé em Cristo
Revista Betel
Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Gálatas 3:26-27. Quero apenas
lembrar aqui, que este batismo não é
em águas, mas na identificação com
Cristo.
O Pai só nos aceita plenamente na
pessoa do seu Filho amado. Sendo
assim, não há necessidade de vestuários complementares. O filho pródigo, mendigo maltrapilho, quando foi
recebido como fidalgo na casa do seu
pai, foi acolhido sob as expensas e os
cuidados do tesouro paterno. O pai,
porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos
pés. Lucas 15:22.
Graça é a coleção de inverno, o
guarda-roupa preparado pelo Pai
para os filhos malroupidos. É o Pai
condecorando os falidos com a excelência da aristocracia. É o pecador
sendo recebido no reino de Deus
apenas pela justiça de Cristo.
Somente na eternidade, purificados e livres das restrições do corpo de barro, é que os
redimidos dentre os homens serão capazes de entender o pleno significado da Sua cruz de
vergonha e cantar com a mais profunda adoração: “Digno és (…) porque foste morto” (Ap 5.9).
-- Jessie Penn-Lewis
Um cristianismo roubado da cruz é um cristinismo roubado da sua glória.
-- The Overcomer
Revista Betel
Riqueza
Família – Céu
ou Inferno?
da
Graça
29
Andrew Murray
Rogo-vos , pois, eu, o
prisioneiro no Senhor, que
andeis de modo digno da
vocação a que fostes chamados.
Efésios 4:1
D
eus criou o homem à
sua própria semelhança (Gênesis 5.1). O
homem caído também
produziu filhos à sua semelhança,
de acordo com a sua imagem. Infelizmente, depois da queda de Adão,
seus filhos receberam a sua semelhança e não a de Deus (Gênesis 5.3).
Este fato mostra-nos o temível
e universal poder do pecado. O poder de dar vida aos outros foi uma
das maravilhosas características da
semelhança de Deus conferidas ao
homem. Quando o pecado entrou
no homem, aquela semelhança não
foi destruída, porém foi terrivelmente distorcida. O homem ainda tinha
o poder de gerar filhos à sua própria
semelhança.
Quando o pecado conquistou
Adão, conquistou toda a raça humana. É por causa dessa habilidade
de reproduzir que o homem pode
ser renovado para se tornar a força
que Deus usa para restabelecer seu
Reino. A relação de pais para filhos
tornou-se o poder do pecado. Con-
30
Riqueza
tudo, quando Deus a restaurar, será
a força da graça.
O Pecado dos Pais
Notemos na primeira família
como o pecado do pai reapareceu e
amadureceu no filho. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração…
e o teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22.37-39). Nestes dois grandes
mandamentos, temos a soma de toda
a vontade de Deus para conosco.
Adão havia transgredido o primeiro e, no seu pecado, lançara fora
o amor a Deus. Seu primogênito
se recusou a sujeitar-se ao segundo mandamento, alimentando ódio
e, depois, assassinando seu irmão.
Com o pecado de Adão, sua natureza
se corrompeu, e foi justamente essa
natureza que ele transmitiu ao seu
filho. O pecado do filho foi o fruto
amadurecido do pecado do pai.
Este primeiro quadro da vida em
família, que temos na Palavra de
Deus, lança uma luz sombria sobre
nossos próprios lares. Os pais freqüentemente vêem suas próprias falhas e limitações no comportamento
pecaminoso de seus filhos. Quando
os pais reconhecem que seus filhos
herdaram sua própria natureza corrupta, isso deve torná-los muito mais
pacientes e sábios na forma de discipliná-los. Deve levar os pais a buscarem a única solução para o pecado –
da
Graça
Revista Betel
a graça e a vida que vêm do alto!
A Raiz de Todo o Pecado
É no pecado daquele primeiro
filho, Caim, que temos a raiz e o
protótipo de todos os pecados dos
filhos. A família foi designada por
Deus para ser a imagem do amor
que reina no céu. O pecado entrou
na primeira família e, ao invés de
ser a imagem do céu, passou a ser a
entrada para o inferno. No lugar do
amor e da felicidade que Deus planejou para a família, ódio e homicídio
a transformaram numa cena de terrível violência.
A raiz de todo o pecado é o egoísmo – separando-nos primeiro de
Deus e depois do homem. O egoísmo se manifesta até nos pequeninos
do maternal. Surge nas atividades
diárias com amigos na escola ou nas
brincadeiras com colegas. Manifesta-se mesmo contra o pai ou a mãe,
impedindo o filho de dar amor ou
obediência.
O amor é o caminho que nos leva
a habitarmos em Deus e Deus em
nós. Os pais devem buscar isto acima
de tudo: o reinado do amor em seu
lar. Precisamos reconhecer que cada
manifestação de um espírito egoísta
ou sem amor é semente da árvore
que produziu fruto tão amargo em
Caim. Nada deve servir de empecilho para que os pais removam essas
Revista Betel
Riqueza
sementes malignas da vida de seus
filhos. Devemos temer e arrancar as
sementes que podem amadurecer de
forma tão terrível mais adiante. Nosso alvo deve ser restaurar a vida em
nossa família para aquilo que era o
propósito original de Deus: ser um
espelho e um antegosto do amor do
céu.
A Responsabilidade dos Pais
Não devemos esquecer a influência da vida dos pais. À sua semelhança, conforme a sua imagem…
Estas palavras se referem não só a
uma bênção perdida no Paraíso, e
a maldição que veio com o pecado,
mas também a graça que vem com a
redenção.
É verdade que um cristão nascido
de novo não pode, através de nascimento natural, gerar um filho à sua
semelhança espiritual. Entretanto,
é também verdade que aquilo que a
natureza não pode produzir, a oração e uma vida de fé podem alcançar
através das promessas e do poder de
Deus.
Os pais devem ser o que querem
que seus filhos sejam. Se quisermos
guardá-los do pecado de Caim que
não amou seu irmão, devemos vigiar contra o pecado de Adão, que
não amou o mandamento do seu
Deus. Que o pai e a mãe vivam uma
vida marcada pelo amor a Deus e ao
da
Graça
31
próximo. Este é o tipo de ambiente
em que filhos amorosos podem ser
criados. Que todos os tratamentos
com seus filhos sejam marcados pelo
amor. Palavras iradas, repreensões
ásperas e respostas impacientes são
contagiosas.
O amor exige abnegação. Leva
tempo, atenção e perseverança para
treinar nossos filhos nos caminhos
de Deus. Quando nossos filhos nos
ouvem falando dos outros, seja de
amigos ou de inimigos, que recebam
a impressão do amor de Cristo que
queremos manifestar. O pai e a mãe
também devem mostrar amor e respeito um pelo outro. Suas atitudes
bondosas e desprendidas de egoísmo
devem provar aos filhos que o amor é
possível e que tem recompensas imediatas.
Acima de tudo, lembremos que é
o amor de Deus que é o segredo de
um lar amoroso na Terra. Quando os
pais amam ao Senhor seu Deus com
todo o coração, o amor em família
será fortalecido. Somente aqueles
pais que estão dispostos a viver vidas
consagradas, inteiramente entregues
a Deus, receberão a plena promessa
e a bênção do Senhor. Se quisermos
transformar nossos lares num antegosto do céu, então religião comum,
de coração morno, não será suficiente. Somente o amor de Deus derramado em nossos corações e vidas
32
Riqueza
farão nossos lares na Terra se assemelharem ao lar do céu.
Família – Instrumento de Deus
Pela fé Noé… aparelhou uma arca
para a salvação de sua casa (Hebreus
11.7). Noé é um exemplo de como a
fé de um pai justo obtém uma bênção, não só para si mesmo, mas para
seus filhos também. Até Cão, o filho
de Noé que, quanto ao seu caráter,
merecia perecer, foi salvo do dilúvio
por meio da fé do pai. Isto prova que,
aos olhos de Deus, a família é considerada uma unidade, com o pai como
cabeça e representante. Os pais e os
filhos são um só, e é neste princípio
que Deus agirá com as famílias do
seu povo. Foi esse mesmo princípio
que deu ao pecado seu terrível poder
no mundo.
Quando Adão pecou, todos seus
descendentes se tornaram sujeitos ao
pecado e à morte. O dilúvio, assim
como a queda, foi prova disso. Vemos que os filhos do terceiro filho de
Adão, Sete, caíram tanto quanto os
filhos de Caim. Sete também foi um
filho gerado à semelhança de Adão
(Gênesis 5.3), com uma natureza
pecaminosa a ser transmitida de geração a geração. Assim, o pecado ganhou domínio universal sobre todas
as gerações. A família tornou-se a
maior fortaleza do pecado, porque os
filhos herdavam o mal de seus pais. A
da
Graça
Revista Betel
unidade dos pais e filhos era a força
do pecado.
A libertação de Noé do dilúvio seria a introdução de uma nova era – o
primeiro grande ato da graça redentora de Deus em favor de um mundo
pecaminoso. Nele, Deus manifestou
os grandes princípios da graça que
são: misericórdia no meio do juízo,
vida através da morte, e fé como o
meio de libertação.
A família foi o instrumento através do qual o pecado alcançou seu
domínio universal. Este princípio seria agora resgatado do poder do pecado e adotado na aliança da graça.
A família agora serviria como a ferramenta para estabelecer o Reino de
Deus. A relação de pais e filhos tinha
sido o meio de transmitir e estabelecer o poder do pecado. Agora a família seria o veículo para a extensão da
graça do Reino de Deus.
O homem que é justo aos olhos de
Deus não é tratado meramente como
indivíduo, mas no seu papel como
pai. Quando Deus abençoa, ele tem
prazer em abençoar de forma tão
abundante que a bênção transborda
para a casa do seu servo. O pai é mais
do que o canal designado para suprir
as necessidades materiais do filho. O
pai que crê precisa se enxergar como
canal escolhido e administrador da
graça de Deus.
Precisamos compreender esta ver-
Revista Betel
Riqueza
dade bendita e, pela fé, aceitar a Palavra de Deus. Tens sido justo diante de
mim no meio desta geração (Gênesis
7.1). Então compreenderemos também esta palavra: Entra na arca, tu
e toda a tua casa. Deus dá a certeza
de que a arca na qual o pai será salvo é para toda sua família também.
A arca será a casa da família. Deus
não se dirige aos membros da família
separadamente – o pai deverá levar
toda sua família para dentro da arca.
Salvos Pela Fé
Pode surgir a pergunta se um
pai tem o poder de levar seus filhos
à arca. A resposta é simples e clara:
Pela fé Noé aparelhou uma arca para
a salvação de sua casa. Deus sempre
dá graça em proporção ao dever que
impõe. Os pais que crêem precisam
da
Graça
33
viver, agir e orar em favor de seus filhos e, junto com eles, como os que
têm a convicção que os filhos foram
designados por Deus para estarem
junto com eles na arca. Devemos
confiar firmemente em Deus em favor da salvação de cada filho. Devemos instruir e inspirar nossos filhos
com este pensamento em mente.
Que eles cresçam com a consciência
de que estar junto com seus pais é
estar na arca. Dessa forma, a bênção
não se perderá.
Não é suficiente orar e esperar
que seu filho seja salvo. Você precisa
aceitar pela fé a certeza de que pode
ser salvo e agir em obediência à ordem de trazê-lo para dentro da arca.
“How to Bring Your Children to
Christ”, de Andrew Murray.
Não nos enganemos – sem cristianismo, sem a educação cristã, sem os princípios de Cristo
inculcados na vida dos jovens – nós estaremos simplesmente criando pagãos. Fisicamente, eles
podem ser perfeitos e até mesmo, intelectualmente brilhantes. Mas espiritualmente, eles serão
pagãos.
Não nos enganemos! O grande desafio deste século à maternidade é que mães tenham uma
vida com Deus, uma realidade que elas possam passar a seus filhos!
-- Selecionado
A marca do crente maduro é a recusa em ser “levado ao redor por todo vento de doutrina”
(Efésios 4:14).
-- David Wilkerson
34
Legado
Revista Betel
Você Tem Sede de Deus?
Don Whitney
Aquele, porém, que beber
da água que eu lhe der
nunca mais terá sede...
João 4:14
Parte 1
Três Tipos de Sede Espiritual
E
mbora não seja perceptível
em todos os momentos,
em um sentido existe uma
sede em todas as pessoas.
Deus não nos criou para estarmos
contentes com nossa condição natural. Ou de uma forma ou de outra,
em um grau ou outro, todos querem
mais do que têm no presente momento. A diferença entre as pessoas
é o tipo de anseio que possuem no
fundo de sua alma.
Em se tratando de sede espiritual,
podemos dizer que há pelo menos
três tipos.
1. Sede da alma vazia
A pessoa não convertida possui
uma alma vazia. Destituída de Deus,
Revista Betel
Legado
busca contínua e freneticamente algo
para preencher seu vazio. Os objetivos desta corrida desvairada podem
incluir dinheiro, sexo, poder, casas,
propriedades, esportes, hobbies, entretenimento, misticismo, realização,
reconhecimento e estudo; em qualquer desses, porém, está essencialmente fazendo a vontade da carne e
dos pensamentos (Efésios 2.3).
Como Agostinho afirmou: Tu nos
criaste para ti mesmo e nossos corações
vivem inquietos enquanto não acharem repouso em ti. Sempre buscando,
nunca satisfeita, a alma vazia vai de
um objetivo a outro, sempre incapaz
de achar algo que consiga preencher
o vácuo do tamanho de Deus que
existe no seu coração.
A ironia da alma vazia é que, embora seja perpetuamente insatisfeita
em tantas áreas de sua vida, ela se
satisfaz com tanta facilidade em relação à busca de Deus. Sua atitude
para com assuntos espirituais é como
o homem que disse à sua alma complacente em Lucas 12.19: Tens em
depósito muitos bens para muitos anos:
descansa, come e bebe, e regala-te.
Sejam quais forem os desejos da
alma vazia nesta vida, estes nada têm
em comum com o que o pastor e teólogo do século dezoito, Jonathan
Edwards, chamava de “desejo santo,
exercitado por meio de anseios, fome
e sede de Deus e de santidade”, que
35
caracteriza o verdadeiro cristão.
2. Sede da alma árida
A diferença entre a alma vazia e
a alma árida é que a primeira nunca
experimentou os rios de água viva
( Jo�������������������������������
ão�����������������������������
7.38), enquanto que a segunda já os conhece e sabe do que está
sentindo falta. Isto não significa que
a alma árida tenha perdido a habitação interior do Espírito Santo; de
fato, como Jesus disse, a água que eu
lhe der será nele uma fonte a jorrar
para a vida eterna ( João 4.14, ênfase
acrescentada). Como é, então, que a
alma do verdadeiro crente em Cristo
se torna árida, quando Jesus prometeu que aquele que beber da água que
eu lhe der nunca mais terá sede, para
sempre ( João 4.14)?
A alma do cristão pode se tornar
árida em uma de três maneiras. A
mais comum é quando se bebe demais das fontes dessecantes do mundo e se esquece dos ribeiros de Deus
(Salmos 65.9). Talvez o salmista
tivesse bebido demais das águas espiritualmente salgadas e insalubres
do mundo, pois escreveu duas vezes
no mesmo capítulo sobre ansiar por
Deus com todo o coração e, ao mesmo tempo, sobre sua firme resolução
de não se afastar da Palavra do Senhor (ver Salmos 119.10). Excessiva
atenção a um determinado pecado
ou pecados e falta de atenção à co-
36
Legado
munhão com Deus (duas coisas que
freqüentemente ocorrem em conjunto) inevitavelmente definharão a vida
espiritual do cristão.
Uma segunda causa de aridez na
vida de um filho de Deus é o que os
puritanos chamavam das deserções de
Deus. Por razões nem sempre claras
para nós, o Senhor às vezes retira a
nossa consciência de sua proximidade. O melhor e mais conciso conselho que posso oferecer a cristãos
que lutam com este tipo de aridez
espiritual vem de William Gurnall:
“O cristão precisa aprender a confiar num Deus que pode se afastar”.
Quando o sol se esconde atrás de
uma nuvem, não está menos próximo do que quando seus raios podem
ser sentidos.
Em terceiro lugar, prolongada fadiga física ou mental pode causar aridez espiritual. Tanto a causa como a
cura geralmente são bastante óbvias.
A pessoa pode não perceber crescimento espiritual quando passa por
fadiga ou esgotamento, entretanto é
possível que tenha aprendido muitas
lições na batalha que causou a fadiga,
as quais serão vistas como significativos marcos espirituais na sua vida
quando o sol voltar a brilhar.
Indiferente da causa, a aridez na
vida do cristão o faz sentir como o
salmista que suspirava por Deus
como a corça pelas correntes das águas
Revista Betel
(Salmos 42.1). Quando você estiver
nesta condição, nada mais além da
água viva do próprio Deus o satisfará. Outras coisas podem tê-lo distraído, mas agora a única coisa que
importa é voltar a ter a consciência
da presença do Pai.
3. Sede da alma saciada
Pode parecer uma contradição,
mas em contraste com a alma árida,
a alma saciada tem sede de Deus precisamente por ter sido saciada por
ele. “Oh! Provai, e vede que o Senhor
é bom” (Sl 34.8). Ao provar que o
Senhor realmente é bom, o sabor foi
tão singularmente satisfatório que
gerou um anseio por muito mais.
O apóstolo Paulo demonstrou
isto na sua famosa exclamação: “para
o conhecer” (com a idéia: “oh, que eu o
pudesse conhecer!” – Fp 3.10). Nas
linhas anteriores, ele havia se exultado no relacionamento e conhecimento de Jesus que já tinha, dizendo que
considerava tudo como refugo e perda diante da sublimidade desta experiência (vv. 7,8). No entanto, logo em
seguida clama: “para o conhecer”. A
alma de Paulo estava saciada com Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, ainda
sedenta por ele.
Conhecer bem a Cristo satisfaz
tanto a sede espiritual porque nenhuma pessoa, possessão ou experiência
pode produzir nada semelhante ao
Revista Betel
Legado
prazer espiritual que temos nele. Comunhão com Cristo é algo incomparável porque não há desapontamento
algum com o que se descobre nele.
Além disso, a gratificação espiritual
que se recebe através de conhecê-lo
inicialmente nunca acaba. E por cima
de tudo isso, o Senhor em quem se
encontra toda essa satisfação é um
universo infinito de vida e realização,
no qual se pode imergir para explorar e desfrutar sem limites. Portanto,
não há nenhuma falta de satisfação
em conhecer a Cristo; contudo, Deus
não nos fez de tal forma que uma só
experiência pudesse saciar todo futuro desejo por ele.
Jonathan Edwards descreveu a
relação entre o bem espiritual desfrutado na comunhão com Cristo e
a sede por mais que isto produz da
seguinte forma: “O bem espiritual é
realmente capaz de nos satisfazer;
quem dele provar sentirá mais sede
por ele… e quanto mais experimentar, quanto mais conhecer de fato
esta excelente, inigualável, e excelsa
doçura e a satisfação que traz, com
mais intensa fome e sede a buscará”.
Que Deus faça com que esta oração de A. W. Tozer seja uma expressão verdadeira das nossas próprias
aspirações:
Ó Deus, tenho provado da tua
bondade, e isto tanto me tem saciado
como tem aumentado minha sede.
37
Tenho dolorosa consciência da minha
necessidade por graça ainda maior.
Envergonho-me da minha falta de
desejo. Ó Deus, Deus �����������������
Triúno, quero desejar a ti; anseio estar cheio de anseios:
tenho sede de ficar com mais sede ainda.
Parte 2
A Bênção da Sede Espiritual
Bem-aventurados todos os que nele
esperam (ou “os que por ele anseiam”,
no original), declarou o profeta Isaías (Isaías 30.18). Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça , reiterou Jesus (Mateus 5.6). Um intenso
desejo pelo Senhor e pela sua justiça
é uma bênção. Como assim?
1. Deus inicia a sede espiritual
A razão de alguém ter sede por
Deus é que o Espírito Santo está
agindo dentro dele. Se você é um
cristão, duas pessoas vivem no seu
corpo: você e o Espírito Santo. Como
o apóstolo Paulo explicou: Acaso não
sabeis que o vosso corpo é santuário do
Espírito Santo que está em vós, o qual
tendes da parte de Deus, e que não sois
de vós mesmos? (1 Coríntios 6.19). E
o Espírito Santo não está passivo no
seu interior.
Por exemplo, assim como você
pode escolher pensamentos para colocar na sua mente, ele também pode
– e de fato coloca. Você pode decidir
38
Legado
que vai pensar por alguns instantes
sobre o que deve fazer esta noite; da
mesma forma, ele pode plantar pensamentos sobre Deus e as coisas de
Deus. Esta ação faz parte do processo
que ele usa para levar um cristão a se
inclinar para o Espírito (Romanos 8.5).
Outra parte da ação dele é levar
você a ter sede de Deus e anseios
(como “Aba, Pai”, ver Romanos
8.15), assim como outros sinais de
vitalidade espiritual.
Charles Spurgeon, o singular
pregador batista britânico do século
XIX, descreveu assim a bênção da
sede:
“Quando alguém suspira por
Deus, é fruto de uma vida secreta no
seu interior: ele não suspiraria muito
tempo por Deus por sua própria natureza. Ninguém tem sede por Deus
enquanto ainda estiver no seu estado carnal (ou seja, não convertido).
A pessoa não regenerada suspira por
qualquer coisa antes de suspirar por
Deus. É prova da natureza renovada
ter um anseio por Deus; é uma obra
de graça na sua alma e você deve ser
profundamente agradecido por isso.”
2. Deus coloca sede espiritual a
fim de poder saciá-la
Deus não acende o fogo do desejo
por ele a fim de nos frustrar ou para
zombar de nós. Ele mesmo declarou:
Não disse à descendência de Jacó: Bus-
Revista Betel
cai-me em vão (Isaías 45.19). O que
se aplica à linhagem natural de Jacó
(Israel) é válido também para seus
descendentes espirituais – aqueles
que crêem no Messias de Israel, Jesus.
Deus gera sede no homem por ele
a fim de poder saciá-la com sua própria vida. Pois dessedentou a alma sequiosa é a promessa de Salmo 107.9,
e fartou de bens a alma faminta. Jesus
garante que são bem-aventurados os
que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos (Mateus 5.6, ênfase
acrescentada).
Jonathan Edwards argumentava
que, de acordo com as Escrituras,
“os tementes a Deus são destinados a
experimentar felicidade inconcebível
e além do conhecimento humano”.
E acrescentava: “Sem dúvida, Deus
alcançará seu objetivo em gloriosa perfeição”. Se Deus, de fato, nos
criou para fruirmos de inimaginável
plenitude de alegria, e plantou em
nós o anseio para a alcançarmos,
então certamente também “fez o
homem capaz de experimentar este
imensurável e sublime êxtase espiritual… Deduzimos que o homem
foi designado para uma maravilhosa bem-aventurança, já que Deus o
criou com anseios e desejos que não
podem ser satisfeitos com nada menos que uma felicidade muito grande… Um desejo que não pudesse ser
satisfeito seria um eterno tormento.”
Revista Betel
Legado
Edwards defendia, obviamente,
que estes “anseios e desejos” eram evidências de sede por Deus, um anseio
que só pode ser completa e finalmente saciado no desfrutar eterno e ilimitado de comunhão face a face com
o próprio Senhor na vida celestial.
Ao contemplar sua glória, os regenerados testificarão que estão
abundantemente saciados com a plenitude da casa do Senhor e que da
torrente das suas delícias ele lhes dá
de beber (Salmos 36.8).
Você tem sede de Deus? Sede é
uma parte do plano de Deus que nos
conduz em direção ao seu magnífico
e inconcebível alvo eterno!
Parte 3
Passos Práticos para
Ter Sede de Deus
Se você possui verdadeira sede
por Deus, seu anseio sem dúvida é
ter mais anseio ainda. Como insistia
Jonathan Edwards: “Verdadeiros e
graciosos anseios por santidade não
são meros desejos inúteis ou infrutíferos”.
1. Medite na Palavra de Deus
Observe que devemos “meditar” e
não meramente ler. Muitas pessoas
que estão desfalecendo espiritualmente são leitores assíduos da Bíblia.
Sem o auxílio da meditação, adver-
39
tia o grande homem de fé e oração,
George Müller, a simples leitura da
Palavra de Deus pode tornar-se informação que apenas “passa pelas
nossas mentes, tal qual água que passa por um encanamento”.
Pense no fluxo incessante de informação que passa pela sua mente
diariamente – todas as coisas que vê,
lê e ouve. A maioria das pessoas luta
com “sobrecarga de informação”, sem
conseguir acompanhar a entrada fenomenal de dados em suas mentes.
Se não tomarmos cuidado, as palavras da Bíblia podem se transformar
em mais uma corrente de dados no
rio cada vez mais volumoso que passa pelos nossos pensamentos. Assim
que acabam de passar, empurradas
pela pressão do fluxo de outras informações, logo passamos a focalizar o
que está agora diante de nós. Tantas
coisas passam pelos nossos cérebros
que, se não absorvermos algumas
delas, não seremos afetados por nenhuma.
Certamente, se devemos absorver alguma coisa de tudo aquilo que
passa por nossas mentes, devem ser
as palavras inspiradas do céu. Se
não absorvermos a água da Palavra
de Deus, não teremos como matar
nossa sede espiritual. Meditação é o
meio de absorção.
Gaste 25 a 50 por cento do seu
tempo de leitura meditando em al-
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Legado
gum versículo, frase ou palavra daquela passagem. Faça perguntas a
respeito. Ore sobre o assunto. Pegue
a caneta e rabisque seus pensamentos num bloco de papel. Procure pelo
menos uma maneira de aplicar ou
viver aquilo. Demore um pouco ali.
Sature sua alma lentamente na água
da Palavra e descobrirá que isso não
só trará refrigério, mas também estimulará sede por muito mais.
2. Ore através das Escrituras
Depois de ter lido uma passagem
da Bíblia, ore usando uma parte do
mesmo trecho. Quer tenha lido apenas um capítulo ou vários, escolha
depois uma parte da sua leitura e,
versículo por versículo, permita que
as palavras de Deus se tornem as
asas das suas palavras a ele.
Embora seja possível orar usando
qualquer trecho das Escrituras, recomendo especialmente que, indiferente de onde tenha feito sua leitura,
você depois vire para os Salmos e use
um deles para orientar sua oração.
O livro de Salmos era o divinamente inspirado hinário de Israel. Além
disso, duas vezes no Novo Testamento (ver Efésios 5.19 e Cl 3.16)
recomenda-se aos cristãos que cantem salmos. De forma diferente de
todo o restante da Bíblia, os Salmos
foram inspirados por Deus para o explícito propósito de serem refletidos
Revista Betel
para Deus.
Suponhamos que você tenha escolhido o Salmo 63 para sua oração hoje. O primeiro versículo diz:
Ó Deus, tu és o meu Deus forte, eu
te busco ansiosamente; a minha alma
tem sede de ti; meu corpo te almeja,
numa terra árida, exausta, sem água.
Você poderia entrar na oração
confessando que o Senhor é o seu
Deus, agradecendo-o graciosamente por isto e depois simplesmente
exultando em Deus pelo fato dele ser
Deus. Em seguida, poderia expressar
os anseios e suspiros que sente por
ele, reconhecendo que é uma bênção
divina ter uma sede de Deus plantada no seu coração pelo próprio Deus.
Talvez depois sinta desejo de pedir
ao Senhor que plante esta sede divina nos seus filhos ou em alguém com
quem tenha falado do evangelho. E
assim poderia caminhar pelo salmo,
orando a respeito do texto e daquilo
que lhe ocorre enquanto lê. Se nada
lhe vier à mente enquanto está meditando sobre um versículo ou trecho
do capítulo, passe adiante.
Os elementos poéticos, entranhados e espiritualmente transparentes
dos Salmos freqüentemente combinam de forma que elevam a alma
e acendem uma paixão por Deus.
Tratam de forma realista com toda
a gama das emoções humanas e podem tomá-lo de qualquer situação
Revista Betel
Legado
espiritual onde estiver e elevá-lo em
direção ao céu. Nada consegue renovar tão infalivelmente meus anseios
por Deus e atirar-me como foguete
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ao nível experimental de comunhão
com ele do que orar com as palavras
dos Salmos.
Tudo em que Paulo se gloriava estava centralizado na cruz: não na Encarnação, mas na cruz;
não no Exemplo Divino, mas na cruz; não na Segunda Vinda, mas na cruz; não em seus próprios
trabalhos, sofrimentos e lágrimas, mas na cruz. O coração de toda revelação incide sempre
sobre os estendidos braços da cruz.
-- The Overcomer
O amor do Senhor Jesus abrange toda a raça e, no entanto, ele me escolhe e se concentra em
mim.
-- D. M. Panton
Minha vida é concentrada e controlada pela consciência de que alguém me ama com amor
onipotente — todos os portões do céu não podem prevalecer contra ele; um amor onipresente
— nunca há uma condição de vida na qual ele não se revela; um amor onisciente — alcançando
as desconhecidas necessidades da alma.
-- S. H. Tyng
“Para mim o viver é Cristo.” Portanto, para mim agora nada é impossível, nenhuma tentação
é inconquistável, nenhuma obra outorgada por Deus é impraticável, nenhuma coroa é
inconquistável.
-- D. M. Panton
Que o Senhor nos leve não somente a ter mais da Sua vida, mas também menos de nós
mesmos.
-- Watchman Nee
O Evangelho tem de ser antagonista a tudo o que é contrário a Deus.
-- C. A. Fox
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Legado
O Motivo Mais
Importante para o
Arrependimento
Revista Betel
Charles Haddon Spurgeon
“Não há arrependimento
salvífico sem a
contemplação da cruz”.
Olharão para aquele
a quem traspassaram.
Zacarias 12.10.
O
quebrantamento santo que faz um homem
lamentar o seu pecado surge de uma operação divina. O homem caído não
pode renovar seu próprio coração.
O diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável,
ou o granito amolecer a si mesmo,
transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os céus
e lançou os fundamentos da terra
pode formar e reformar o espírito
do homem. O poder de fazer que
da rocha de nossa natureza fluam
rios de arrependimento não está na
própria rocha. O poder jaz no onipotente Espírito de Deus… Quando
Deus lida com a mente do homem,
por meio de suas operações secretas e misteriosas, Ele a enche com
uma nova vida, percepção e emoção.
Deus… me fez desmaiar o coração ( Jó
23.16), disse Jó. E, no melhor sentido, isso é verdade. O Espírito Santo
nos torna maleáveis e nos tornamos
receptíveis às suas impressões sagradas… Agora, quero abordar o âmago
Revista Betel
Legado
e a essência de nosso assunto.
O enternecimento do coração e o
lamento pelo pecado são produzidos
por olharmos, pela fé, para o Filho de
Deus traspassado. A verdadeira tristeza pelo pecado não acontece sem
o Espírito de Deus. Mas o Espírito
de Deus não realiza essa tristeza sem
levar-nos a olhar para Jesus crucificado. Não há verdadeiro lamento pelo
pecado enquanto não vemos a Cristo… ”Ó alma, quando você chega a
contemplar Aquele para quem todos
deveriam olhar, Aquele que foi traspassado, então seus olhos começam a
lamentar aquilo pelo que todos deveriam chorar – o pecado que imolou o
seu Salvador!”
Não há arrependimento salvífico
sem a contemplação da cruz… O
arrependimento cristão é o único arrependimento aceitável. E a essência
desse arrependimento é olhar para
Aquele que foi moído pelos pecados… Observe isto: quando o Espírito Santo realmente opera, Ele leva
a alma a olhar para Cristo. Nunca
uma pessoa recebeu o Espírito de
Deus para a salvação, sem que tenha
recebido dEle o olhar para Cristo e o
lamentar por seus pecados.
A fé e o arrependimento são gerados e prosperam juntos. Ninguém
deve separar o que Deus uniu! Ninguém pode arrepender-se do pecado
sem crer em Jesus, nem crer em Jesus
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sem arrepender-se do pecado. Olhe,
então, com amor para Aquele que
derramou seu sangue, na cruz, por
você. Por meio desse olhar, você obterá perdão e quebrantamento. Quão
admirável é o fato de que todos os
nossos males podem ser curados por
um único remédio: Olhai para mim e
sede salvos, vós, todos os limites da terra (Isaías 45.22). Contudo, ninguém
olhará para Cristo sem que o Espírito de Deus o incline a fazer isso. Ele
não conduz uma pessoa à salvação, se
ela não se rende às suas influências e
não volve seu olhar para Jesus.
O olhar que nos abençoa, produzindo quebrantamento de coração,
é o olhar para Jesus como Aquele
que foi traspassado. Quero me demorar nisso por um momento. Não
é somente o olhar para Jesus como
Deus que afeta o coração, mas também olhar para este mesmo Senhor
e Deus como Aquele que foi crucificado por nós. Vemos o Senhor
traspassado, e, em seguida, inicia-se
o traspassamento de nosso coração.
Quando o Espírito Santo nos revela
Jesus, os nossos pecados também começam a ser expostos.
Venham, almas queridas, vamos
juntos à cruz, por um pouco, e notemos quem era Aquele que recebeu
a lançada do soldado romano. Olhe
para o seu lado e observe aquela terrível ferida que atingiu seu coração e
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Legado
desencadeou um duplo fluxo de sangue. O centurião disse: Verdadeiramente este era Filho de Deus (Mateus
27.54). Aquele que, por natureza, é
Deus e governa sobre tudo, sem o
Qual nada do que foi feito se fez ( João
1.3), tomou sobre Si mesmo nossa
natureza e se tornou homem, como
nós, mas não tinha qualquer mácula de pecado. E, vivendo em forma
humana, foi obediente até à morte,
morte de cruz. Foi Ele quem morreu!
Ele, o único que possui a imortalidade, condescendeu em morrer! Ele,
que era toda a glória e poder, sim, Ele
morreu! Ele, que era toda a ternura
e graça, sim, Ele morreu! Infinita
bondade esteve pendurada na cruz!
Beleza indescritível foi traspassada
com uma lança! Essa tragédia excede todas as outras! Por mais perversa que tenha sido a ingratidão do
homem em outros casos, a sua mais
perversa ingratidão se expressou no
caso de Jesus! Por mais horrível que
tenha sido o ódio do homem contra
a virtude, o seu ódio mais cruel foi
manifestado contra Jesus! No caso
de Jesus, o inferno superou todas as
suas vilezas anteriores, clamando:
Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo (Mateus 21.38).
Deus habitou entre nós, e os homens não O aceitaram. Visto que
o homem foi capaz de traspassar e
matar o seu Deus, ele cometeu um
Revista Betel
pecado horrível. O homem matou o
Senhor Jesus Cristo e O traspassou
com uma lança! Nesse ato, o homem
mostrou o que fariam com o próprio
Eterno, se pudesse chegar até Ele.
O homem é, no coração, assassino
de Deus. Ele se alegria se Deus não
existisse. Ele diz em seu coração:
Não há Deus (Salmos 14.1). Se a sua
mão pudesse ir tão longe quanto o
seu coração, Deus não existiria nem
mesmo por mais uma hora. Isto dá
ao traspassamento de nosso Senhor
uma forte intensidade de pecado: foi
o traspassamento de Deus.
Por quê? Por que razão o bom
Deus foi assim perseguido? Oh! pelo
amor de nosso Senhor Jesus Cristo,
pela glória de sua Pessoa, pela perfeição de seu caráter, eu lhe peço – admire-se e envergonhe-se de que Ele
foi traspassado! Não foi uma morte
comum. Aquele assassinato não foi
um crime comum. Ó homem, Aquele que foi traspassado com a lança
era o seu Deus! Na cruz, contemple
o seu Criador, o seu Benfeitor, o seu
melhor Amigo!
Olhe firmemente para Aquele que
foi traspassado e observe o Sofredor
que é descrito na palavra “traspassado”. Nosso Senhor sofreu severa e
terrivelmente. Não posso, em uma
mensagem, descrever a história de
seus sofrimentos – as tristezas de
sua vida de pobreza e perseguição; as
Revista Betel
Legado
angústias do Getsêmani e do suor de
sangue; as tristezas de seu abandono,
traição e negação; as tristezas no palácio de Pilatos; os golpes de chicotes, o cuspe e o escárnio; as tristezas
da cruz, com sua desonra e agonia…
Nosso Senhor foi feito maldição por
nós. A penalidade do pecado ou o
que lhe era equivalente, Ele a suportou, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados
(1 Pedro 2.24). O castigo que nos traz
a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5).
Irmãos, os sofrimentos de Jesus
devem amolecer nosso coração! Nesta manhã, lamento o fato de que não
me entristeço como deveria. Acuso a
mim mesmo daquele endurecimento de coração que eu condeno, visto
que posso contar-lhes essa história
sem enternecimento de coração. Os
sofrimentos de meu Senhor são indescritíveis. Examinem e verifiquem
se já houve tristeza semelhante à de
Jesus! A sua tristeza foi abismal e insondável… Se você considerar firmemente a Jesus traspassado por nossos
pecados e tudo que isso significa, seu
coração se dilatará! Mais cedo ou
mais tarde, a cruz desenvolverá todo
sentimento que você será capaz de
produzir e lhe dará capacidade para
mais. Quando o Espírito Santo põe a
cruz no coração, o coração se dissolve
em ternura… A dureza de coração
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desaparece quando, com profundo
temor, contemplamos a Jesus sendo
morto.
Devemos também observar quem
foram os que traspassaram a Jesus.
Olharão para aquele a quem traspassaram. Ambos os verbos se referem
às mesmas pessoas. Nós matamos o
Salvador, nós que olhamos para Ele
e vivemos… No caso do Salvador, o
pecado foi a causa de sua morte. O
pecado O traspassou. O pecado de
quem? Não foi o pecado dEle mesmo,
pois Ele não tinha pecado, e nenhum
engano se achou em seus lábios. Pilatos disse: Não vejo neste homem
crime algum (Lucas 23.4). Irmãos, o
Messias foi morto, mas não por causa dEle mesmo. Nossos pecados mataram o Salvador. Ele sofreu porque
não havia outra maneira de vindicar
a justiça de Deus e de prover-nos um
escape da condenação. A espada, que
deveria cair sobre nós, foi despertada
contra o Pastor do Senhor, contra o
Homem que era o Companheiro de
Jeová (Zacarias 13.7) Se isso não
quebranta nem amolece nosso coração, observemos por que Ele foi levado a uma posição em que poderia ser
traspassado por nossos pecados. Foi
o amor, poderoso amor, nada mais
do que o amor, que O levou até a
cruz. Nenhuma outra acusação Lhe
pode ser atribuída, exceto esta: Ele
era culpado de amor excessivo. Ele
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Legado
se colocou no caminho do traspassamento, porque resolvera salvar-nos.
Ouviremos isso, pensaremos nisso,
consideraremos isso e permaneceremos apáticos? Somos piores do
que os brutos? Tudo que é humano
abandonou a nossa humanidade? Se
Deus, o Espírito Santo, está agindo
agora, uma contemplação de Cristo
derreterá o nosso coração de pedra.
Quero dizer-lhes ainda, ó amados: quanto mais olharmos para
Jesus crucificado, tanto mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão
crescente produzirá sensibilidade
crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado,
para que odeiem cada vez mais o
pecado. Livros que expõem a paixão
de nosso Senhor e hinos que cantam
a sua cruz sempre foram bastante queridos pelos crentes piedosos,
por causa de sua influência sobre o
coração e a consciência deles. Vivam
no Calvário, amados, até que viver e
amar se tornem a mesma coisa. Diria
também: olhem para Aquele que foi
traspassado, até que o coração de vocês seja traspassado.
Um antigo teólogo dizia: “Olhe
Revista Betel
para a cruz, até que tudo que está na
cruz esteja em seu coração”. E acrescentou: “Olhe para Jesus, até que Ele
olhe para você”. Olhem com firmeza
para sua Pessoa sofredora, até que
Ele pareça estar volvendo sua cabeça e olhando para você, assim como
o fez com Pedro, que saiu e chorou
amargamente. Olhe para Jesus, até
que você veja a si mesmo. Lamente
por Ele, até que lamente por seu próprio pecado… Ele sofreu em lugar,
em favor e em benefício de homens
culpados. Isso é o evangelho. Não
importa o que os outros preguem,
nós pregamos a Cristo crucificado (1
Coríntios 1.23). Sempre levaremos
a cruz na vanguarda. A essência do
evangelho é Cristo como substituto
do pecador. Não evitamos falar sobre a doutrina do Segundo Advento,
mas, antes e acima de tudo, pregamos Aquele que foi traspassado. Isso
levará ao arrependimento, quando o
Espírito de graça for derramado.
Extraído do sermão matinal de
domingo 18 de setembro de 1887,
no Tabernáculo Metropolitano de
Londres.
A vontade de Deus e a minha felicidade são sinônimos.
-- Evan Hopkins
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Associação Betel
A
Associação Betel é uma entidade juridicamente
organizada, sem quaisquer vínculos denominacionais ou fins lucrativos, mantida por recursos
advindos de colaboração espontânea de pessoas
que apóiam seus objetivos, cujo fim é viabilizar a pregação do
Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo.
Os objetivos da Associação Betel:
a) Apoiar missionários e pregadores (uma vez confirmados
em seus compromissos com a verdade do Novo Nascimento
pela nossa morte e ressurreição com Cristo) para a pregação
do Evangelho de Cristo;
b) Produzir e adquirir literatura e material evangelístico
para uso dos missionários e dos grupos por eles atendidos,
como: folhetos, livretos, estudos dirigidos, livros evangelísticos, Bíblias, fitas de áudio e afins;
c) Assistência Social, sempre vinculada ao Evangelismo,
pois “a fé sem obras é morta em si mesma”.
A Associação Betel é mantida por colaborações espontâneas de pessoas físicas ou jurídicas, que apóiam seus objetivos.
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desconhecidas, possam gozar da mesma graça e esperança.
São aqueles que compreendem com amor e dedicação as
Palavras do Senhor Jesus Cristo: “Indo por todo o mundo,
pregai o Evangelho a toda criatura”.
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Produção:
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Diagramação e
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André Henrique Santos
Impressão
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