1 Revista Betel Apresentação L ouvamos ao Senhor pelo privilégio de vermos mais um número da Revista Betel. O nosso propósito é que o Senhor Jesus Cristo seja conhecido e cumpramos a Sua ordem: Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Mateus 28:18-19. Que Deus seja glorificado na revelação da Pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é a nossa expectativa que Cristo seja conhecido e engrandecido em Tudo. E, que Deus nos leve a fazer parte do Seu grande propósito. Que todos os leitores façam suas colheitas no maravilhoso campo das insondáveis riquezas de Cristo! Os Editores 2 Revista Betel “Cristo é tudo em todos” • Ano 6 • Nº 4 • Outono 2011 Sumário Apresentação, 1 Estudo Bíblico A Doutrina de Jezabel, 3 Bem-Aventurados III , 13 Judas e Eu, 18 Pecado Versus Graça, 24 Humberto X.Rodrigues Abel Emerich Riqueza David Wilkerson Glenio Fonseca Paranaguá da Graça Família – Céu ou Inferno?, 29 Andrew Murray Você Tem Sede de Deus?, 34 Legado O Motivo Mais Importante para o Arrependimento , 42 Associação Betel, 47 Don Whitney Charles Haddon Spurgeon Revista Betel Estudo Bíblico A Doutrina de Jezabel 3 David Wilkerson Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformaram em libertinagem a graça do nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. Judas 1:4 E u poderia colocar como subtítulo desta mensagem “O Perigo de Ser Seduzido pela Falsa Doutrina”. Leia Apocalipse 2:18-19 e você verá que o próprio Cristo advertiu a igreja contra a doutrina de Jezabel. Mas tenho contra ti que toleras a Jezabel, mulher que se diz profetisa. Com o seu ensino ela engana os meus servos, seduzindo-os a se prostituírem e a comerem das coisas sacrificadas aos ídolos (Apocalipse 2:20). A palavra grega aqui traduzida por Jezabel é sinônima de falso mestre. Ela representa claramente falsas doutrinas. Jesus esclarece o assunto, continuando ...a todos que não têm esta doutrina... (Apocalipse 2:24). Aqui está um grupo do povo de Deus, cheio de boas obras e caridade, tendo um tipo de fé e de paciência. Mas o olhar de Jesus aparece no meio deles, fulgurante como chamas de fogo. Mesmo com tudo de bom e recomendável, existe algo muito perigoso acontecendo, algo tão sedutor que Cristo avisa que enviará juízo e 4 Estudo Bíblico fará deles exemplo para todas as igrejas. Alguns membros da igreja estavam a serviço de Satanás. Suas boas obras, caridade, serviço, fé e paciência ficavam obscurecidas pela sedução de uma falsa doutrina. Estavam encantados por um ensinamento falso, disfarçado em verdadeira Palavra, mas que na realidade era mal. A Sedução dos Servos de Deus Cristo diz: meus servos estão sendo seduzidos, isto é, os ministros. Chegamos a essa perigosa situação sobre a qual Cristo avisou. Há multidões de pastores, mestres e evangelistas inteiramente sob o encanto sedutor da doutrina de Jezabel. Estes mestres seduzidos, por sua vez, estão produzindo “filhos da sedução”. Ensinam a prostituição e o consumo de alimento dos ídolos - isto é prostituição espiritual. É comer o alimento demoníaco de doutrinas que justificam o pecado. Quero dizer de maneira que não reste nenhuma dúvida, que é perigoso dar ouvidos a ensinos errôneos. A falsa doutrina pode condená-lo ao inferno mais rapidamente do que todas as paixões ou pecados da carne. Os falsos pregadores e mestres estão mandando mais gente para o inferno do que todos os traficantes de drogas, gigolôs e prostitutas juntos. Não acho que esta seja uma afirmativa Revista Betel exagerada - creio nisto. Multidões de cristãos cegos, mal conduzidos, estão cantando e louvando ao Senhor em igrejas escravizadas pela falsa doutrina. Milhares sentam-se para ouvir mestres que estão pregando a doutrina de demônios - e ainda saem dizendo: “Não é uma maravilha?” Cristo não considera esta questão de maneira superficial. Seus olhos estão novamente penetrando a igreja, e Ele vem para advertir, expor e salvar o Seu povo e Seus servos desta terrível sedução. Seria bom que levássemos este assunto a sério. É sério saber que igreja se está frequentando. É sério saber a quem você está dando ouvidos. É sério saber o ensinamento que seu coração está recebendo. O povo de Deus está se vendendo em liquidação a Satanás por todos os lados ao se entregar nas mãos de falsos mestres e traficantes de falsas doutrinas. Vender-se em liquidação à Satanás nos traz à mente a visão de viciados consumados, alcoólatras, prostitutas afligidas pela AIDS, e por ateus que odeiam a Deus. Não. Está acontecendo na igreja, em convenções e reuniões evangélicas e em grandes seminários de ensino. A marca do cristão seduzido é ser “levado para todos os lados” buscando alguma doutrina nova, diferente, estranha. A Bíblia adverte: Não vos deixeis envolver por doutrinas várias Revista Betel Estudo Bíblico e estranhas (Hebreus 13:9). Não se deixe conduzir de lá para cá, de um lado para o outro. Não nos referimos aqui àquelas vezes em que o crente amadurecido vai à uma outra igreja, que não a sua, para ouvir um verdadeiro homem de Deus pregar a Cristo e o arrependimento. Referimo-nos aqui a correr de um lugar para outro, de seminário para convenção, de uma igreja para outra, de reunião de milagre para reunião de cura, não tendo raízes. Seus ouvidos estão sempre em comichão para ouvir algo novo, algo sensacional, algo que entretém, algo agradável à carne. Nós os encontramos na Igreja de Times Square - forasteiros, ervas humanas, cavalgando ventos de doutrinas. Este tipo acaba não retornando porque nos recusamos a coçar ouvidos que têm comichão. Eles desejam ser adulados, e não reprovados. Assim correm de volta aos seus mestres - os suavizadores, os felizes adeptos do pensamento positivo. Eles lembram os atenienses que de nenhuma outra coisa se ocupavam, senão de dizer e ouvir a última novidade (Atos 17:21). Paulo avisou a Timóteo que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos (2 Timóteo 4:3). 5 A Doutrina de Cristo A marca do crente maduro é a recusa em ser levado ao redor por todo vento de doutrina (Efésios 4:14). Tais crentes não são manipulados por nenhum mestre. Não têm necessidade de correr de um lado para o outro porque estão crescendo em Cristo. Estão se banqueteando em pastos verdejantes. Circuncidaram os ouvidos, e avaliam cada mestre, cada doutrina, segundo o padrão de santidade de Cristo. Podem discernir todas as falsas doutrinas e repelem todos os ensinos estranhos, novos. Eles aprenderam Cristo. Não ficam presos à música, aos amigos, às personalidades marcantes ou aos milagres, mas à fome pela Palavra pura. Só existem duas doutrinas. A doutrina de Cristo e a doutrina de Jezabel. Paulo diz: ...a fim de ornarem, em todas as cousas, a doutrina de Deus, nosso Salvador (Tito 2:10). Qual é a doutrina de Cristo? A graça de Deus ensina-nos que negando a impiedade e as paixões mundanas, devemos viver sóbria, reta e piedosamente, no presente mundo (Tito 2: 11-12). A doutrina de Cristo moldará você à imagem de Cristo. Ela trará à luz todo pecado oculto e todo desejo mau. Será que o seu mestre o repreende com autoridade, falando e exortando-o a abandonar o pecado e a dei- 6 Estudo Bíblico tar por terra todos os ídolos como lhe é instruído em Tito 2? Você está aprendendo a odiar o pecado de forma veemente? Ou você ainda sai da igreja não convencido de culpa? Você consegue desapegar-se dos pecados de estimação? A mensagem da doutrina de Cristo é: Purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (2 Coríntios 7:1). Muitos nos escrevem dizendo: “Nosso pastor vive dizendo, ‘Não estou aqui para pregar contra o pecado; estou aqui para exaltar a Jesus.” Ou, ‘Nenhuma pregação condenatória sairá deste púlpito - estou aqui para remover o medo e a depressão do meu povo’ Mesmo entre os pastores pentecostais há dois extremos. Alguns berram um evangelho duro e legalista sem amor, de obras; enquanto outros pregam contra o pecado de uma forma acovardada, deixando do jeito que era antes da mensagem. Falso amor e lágrimas de crocodilo. A doutrina de Cristo é uma doutrina de piedade e de santidade. Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, Revista Betel suspeitas malignas (I Timóteo 6:3-4). Alguns dizem: “Meu mestre fala a respeito de santidade”. Mas não me refiro a simplesmente usar as palavras “santo” e “piedoso”; refiro-me a pregar isso com toda a autoridade. A pregação da doutrina de Cristo traz bênção, fortalece e incentiva você, mas também ela o condena tão profundamente, que você não consegue sentar-se para ouvi-la, e ainda continuar apegado a um pecado secreto. A Doutrina de Jezabel Examinemos esta doutrina de demônios e vejamos se você corre perigo de se vender a Satanás. Há três marcas distintas da doutrina de Jezabel. Todas foram encontradas na Jezabel do Antigo Testamento, a mãe e a materialização das falsas doutrinas. Jesus tornou ou seu nome sinônimo de falsa doutrina. Trata-se de uma doutrina que ensina que algo mal pode ser bom, que o profano pode ser puro. Jezabel, no hebraico, significa “casta, virtuosa, sem idolatria”.Imagine! A mulher mais ímpia, idólatra, maquinadora, odienta de toda a Bíblia chamada de virtuosa, sem pecado. Ou seja, uma coisa muito má com nome de boa. Mas ironicamente é “casta?” - com um ponto de interrogação. Como? Quando? Onde? Como foi que se tornou casta? Quando? Revista Betel Estudo Bíblico Onde? Agora olhe para Acabe. Fez Acabe, filho de Onri, o que era mau perante o Senhor, mais do que todos os que foram antes dele. Como se fora cousa de somenos andar ele nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou (I Reis 16:30-31). Acabe significa “alguém como pai” ou “carimbado com a natureza de seu pai”. Jezabel representa a falsa doutrina e Acabe é sua vítima. A Bíblia declara que não bastava que Acabe tivesse um coração inclinado para o pecado, à idolatria e à concessões. Ele traz para sua vida uma influência satânica que o confirmará em seu pecado. Ninguém houve, pois, como Acabe, que se vendeu para fazer o que era mau perante o Senhor, porque Jezabel, sua mulher, o instigava (I Reis 21:25). A mensagem então é que a tendência dos cristãos que se apegam a pecados secretos e à luxúria, abracem uma falsa doutrina que só vai servir para instigá-los e confirmá-los em seus pecados, e acabem contraindo matrimônio com esta doutrina. A última coisa de que Acabe tinha necessidade era Jezabel. Como era perigosa. Ela fez florescer o que havia de pior nele, ampliou isso e destruiu Acabe. Dá-se o mesmo com a falsa doutrina. Se houver algum pecado, 7 paixão ou mundanismo em você, a última coisa de que precisa é uma doutrina que traga à tona o que você tem de pior. Quando Davi pecou com Bate-Seba, ele não precisava de um falso profeta com uma mensagem tranquilizadora para dizer-lhe quanto Deus o amava. Ele necessitava de um profeta imparcial, Natã, com um dedo apontado, clamando: Tu és o homem. Os que pregam a doutrina de Cristo mostram ao povo a diferença entre o mal e o bem. De seus lábios não sai nenhuma mistura. A meu povo ensinarão a distinguir entre o santo e o profano, e o farão discernir entre o impuro e o puro (Ezequiel 44:23). Ezequiel denuncia esses falsos profetas que se enriquecem trazendo uma mensagem que traz justificativa para o pecado. Conjuração dos seus profetas há no meio dela, como um leão que ruge, arrebatando a sua presa; eles devoram as almas, tomam tesouros e coisas preciosas, e multiplicam as suas viúvas no meio dela. Os seus sacerdotes transgridem a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem discernem o impuro do puro; de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles. Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa para derramarem o sangue, para destruírem as al- 8 Estudo Bíblico mas, para seguirem a avareza. Os seus profetas têm feito para eles reboco com argamassa fraca, tendo visões falsas, e predizendo-lhes mentira, dizendo: Assim diz o Senhor Deus; sem que o Senhor tivesse falado (Ezequiel 22:2528). Como consequência, temos uma geração toda de crianças confusas que nem podem reconhecer o mal quando o vêem. Os falsos profetas as enganaram. Chamam de bom quando roqueiros de cabelos tingidos de púrpura, vestidos de sadomasoquistas, se pavoneiam e giram sexualmente no púlpito, explodindo seu “rock and roll”. Dizem-lhes que o sexo fora do casamento é bom desde que você esteja apaixonado e de fato respeite o parceiro. Pregadores e mestres têm se tornado os maiores defensores do pecado na nação. A Doutrina de Jezabel Promove a Cobiça Porém Nabote disse a Acabe: Guarde-me o Senhor de que eu te dê a herança de meus pais...Então Acabe... deitou-se na sua cama, voltou o rosto, e não comeu pão. Veio ter com ele Jezabel, sua mulher, e lhe perguntou: Por que está o teu espírito tão desgostoso, e não comes pão?...Governas tu, com efeito, no reino de Israel? Levanta-te, e come! Alegre-se o teu coração. Eu te darei a vinha de Nabote, o jezreelita”(I Revista Betel Reis 21: 1-7). Ouça a doutrina de Jezabel: “Você é o rei. Você tem direitos. Que nada o detenha de obter o que deseja.” Ela disse a Acabe: “Alegre-se. Seja feliz. Regozije-se. Eu a conseguirei para você.” Esse é o evangelho da prosperidade em poucas palavras: “Não fique triste nem sinta-se condenado por esses desejos que o consomem. Eu consego isso para você.” Durante séculos a igreja pregou o sacrifício e denunciou a cobiça, dizendo que é pecado andar atrás das coisas materiais. Mas paralelamente veio a doutrina de Jezabel, dizendo “eu consigo isso para você”. Como os métodos enganosos usados por Jezabel, essas doutrinas distorcem e fazem mal uso da Bíblia. O maior engodo da igreja moderna é a questão de usar a Palavra de Deus para dar um rótulo de aprovação à ganância. Olhando por cima, a doutrina de Jezabel funciona (v. I Reis 21:14-16). Essa doutrina deu a Acabe o que ele desejava. Ele se apossou de seus direitos porque quando um homem era apedrejado por alta traição contra o rei, todos os seus bens revertiam para o rei. Nunca houve dúvida de que para muitos esta doutrina da prosperidade funciona. À semelhança de Acabe, desfrutam de suas possessões. Mas Acabe não pôde desfrutá-la Revista Betel Estudo Bíblico por causa de um irritante profeta de Deus. Então veio a palavra do Senhor a Elias, o tisbita: Levanta-te, desce para encontrar-te com Acabe, rei de Israel, que está em Samaria. Ele está na vinha de Nabote, desceu até lá para tomar posse dela. Dir-lhe-ás: Assim diz o Senhor: Não mataste e tomaste a herança? Então lhe dirás: Assim diz o Senhor: No lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabote, lamberão o teu sangue, o teu mesmo. Disse Acabe a Elias: Já me achaste, ó inimigo meu? Respondeu-lhe: Achei-te, porque te vendeste para fazer o que é mau aos olhos do Senhor. Trarei o mal sobre ti, lançarei fora a tua prosperidade, e arrancarei de Acabe todo o homem, escravo ou livre, em Israel (I Reis 21: 17-20). Imagine Acabe caminhando pela sua nova propriedade, dizendo: “Como as coisas são boas! Ah, Jezabel, posso não concordar com todos os métodos dela, mas ela consegue tudo o que quer.” Porém no seu encalço está o profeta Elias. Acabe vacila, chocado. Ele sabia o que viria. Sua consciência lhe disse: “Já me achaste, inimigo meu?” Assim ocorre hoje. Deus tem enviado profetas por toda a terra, clamando em voz alta, confrontando a doutrina do materialismo de Jezabel, deixando tão incortável aos cristãos 9 o desfrutar de seus brinquedos e aquisições. Eles se venderam em liquidação. Não podem vê-lo, mas o pecado está por trás de tudo isto. Toda vez que clamo contra a doutrina da prosperidade, sinto sobre mim o espírito e o poder de Elias. Você vai ouvir mais e mais exposição desta doutrina de Jezabel. Por toda parte, vozes proféticas serão ouvidas em alto e bom som, clamando: “É pecado. Você comprou porque se vendeu ao pecado.” Jezabel Odeia os Profetas de Deus e as Profecias de Deus Ora, Acabe fez saber a Jezabel tudo o que Elias havia feito, e como matara à espada todos os profetas. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias, e dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e outro tanto, se até amanhã a estas horas eu não fizer a tua vida como a cada um deles (I Reis 19:1-2). Os cristãos atados pela doutrina de Jezabel não têm consideração alguma pelos santos profetas de Deus. Eles ficam friamente impassíveis, como fez Jezabel enquanto Acabe conta em detalhes a milagrosa demonstração da autoridade sobrenatural no monte Carmelo. Ouça o que diz Acabe: Mas Jezabel, talvez devamos ouvir. Vi com meus próprios olhos. Nossos profetas dançaram e gritaram durante horas, mas não houve poder. 10 Estudo Bíblico Foi só Elias proferir a palavra de Deus e o fogo caiu. As pessoas ajoelhavam-se, inclinadas sobre o rosto, por toda parte arrependendo-se. Afastaram-se de toda idolatria. Deus enviou um reavivamento de santidade. Mas Jezabel não se deixou impressionar. Ficou, porém mais inflexível. Ainda é assim. Os mestres da doutrina de Jezabel e os que, como Acabe são suas vítimas, não estão abertos ao convencimento da parte do Espírito Santo, nem à mensagem de arrependimento e santidade. Ouvem, depois seguem seu caminho mais determinados do que antes. Não há o temor de Deus nestas pessoas. O sinal mais seguro de um falso mestre e de uma doutrina de Jezabel é rejeitar as advertências proféticas e recusar-se a ouvir falar em juízo. Para eles isso é morbidez e ser condenatório. Riem-se, zombam e ridicularizam. Não têm o mínimo respeito por nenhuma advertência negativa. Jeremias diz que tais pastores são cegos e mudos. O Senhor diz: Dai ouvidos... Mas não ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos; pelo contrário, andaram nos seus próprios conselhos, na dureza do seu coração maligno. Andaram para trás, e não para diante ( Jeremias 723,24). Os que ensinam a doutrina de Jezabel alegam serem profetas. Mas há uma prova que distingue os ver- Revista Betel dadeiros dos falsos profetas. Os profetas de Jezabel profetizam sempre boas coisas, apenas paz e prosperidade. Mas nos profetas de Jerusalém vejo coisa horrenda; cometem adultérios, andam em falsidade, e fortalecem as mãos dos malfeitores, para que não se convertam cada um da sua maldade; todos eles se tornaram para mim como Sodoma, e os moradores de Jerusalém como Gomorra. Portanto assim diz o Senhor dos Exércitos acerca dos profetas: Eis que os alimentarei com absinto e lhes darei a beber água venenosa; porque dos profetas de Jerusalém se derramou a impiedade sobre toda a terra. Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam, e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor. Dizem continuamente aos que me desprezam: O Senhor disse: Paz tereis, e a qualquer que anda segundo a dureza do seu coração, dize: Não virá mal sobre vós ( Jeremias 7:14-17). Eles não levam o povo a desviar-se da maldade. Falam de sonhos e agem de modo louco no púlpito. São brincalhões. A Aliança de Acabe com o Mundo Acabe arrependeu-se face à pregação de Elias. A mensagem de Elias afetou-o profundamente. Ele rasgou Revista Betel Estudo Bíblico as vestes e, por algum tempo, andou em humildade. Deus chamou a esta atitude arrependimento. Não viste que Acabe se humilha perante mim? (I Reis 21:29). Daquele dia em diante ele poderia olhar para trás e dizer: “Arrependimento? Sim. Mediante a pregação daquele grande profeta de Deus, Elias, em meu jardim em Jezreel...” Para ele era uma experiência já passada, e não um caminhar diário. Não durou muito tempo. O problema era que ele havia feito uma aliança com o mundo. Ele estava de acordo com o pecado. Havia se tornado irmão e amigo do mundo. Irmão, aqui, significa “afinidade, exatamente igual a mim, alguém que respeito”. Ele estava em aliança com o que Deus havia amaldiçoado. E também hoje há um arrependimento superficial, apesar de verdadeiro. Se a aliança com o mundo não for rompida, a pessoa voltará ao antigo estado. Acabe alegava amar a verdade, mas no íntimo odiava a reprovação. Acabe e Josafá foram à guerra contra a Síria. Quatrocentos falsos profetas pregavam sucesso: “Subam e prosperarão. Vocês conseguem.” Acontece que havia um profeta solitário contra os 400 falsos profetas. Ouça a exigência de Acabe para ouvir a verdade: Porém Micaías disse: Tão certo como vive o Senhor o que o Senhor me 11 disser, isso falarei. Vindo ele à presença do rei, este lhe disse: Micaías, iremos a Ramote-Gileade à peleja, ou deixaremos de ir? Respondeu-lhe ele: Sobe, e triunfarás, porque o Senhor a entregará nas mãos do rei. Disse-lhe o rei: Quantas vezes te conjurarei, que não me fales senão a verdade em nome do Senhor? (I Reis 22:14-16). Mas em seu coração ele não desejava ouvi-la; ele a odiava. Então mandou encarcerar o profeta. Pastores, professores e toda a congregação hoje dizem: “Desejamos muito a verdade. Pregue-a do jeito que ela é. Vá. Despeje-a. Não importa quanto machuque.” Mas em seus corações, alguns estão dizendo: “Sombria demais. Dura demais. Não agüento mais isso” Acabe estava cego para o fato terrível de que estava sendo guiado por espíritos de mentira. Este espírito mentiroso não era de Deus, mas estava sob o Seu comando. Os espíritos malignos, mentirosos, podem ir ou vir sob a ordem de Deus. Não são de Deus, mas enviados por Deus. O Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas (I Reis 22:22,23). Este espírito de mentira levou Zedequias, um falso profeta, a vangloriar-se de que o Espírito de Deus estava sobre ele. O espírito mentiroso que estava nele podia honestamente 12 Estudo Bíblico declarar: “O Senhor me enviou”. Espíritos mentirosos são muito persuasivos - Tu o induzirás (I Reis 22:22). Acabe estava agora convencido de que estava ouvindo a voz de Deus, e que voltaria vitorioso. Os cristãos sujeitos pela doutrina de Jezabel estão cem por cento seguros de estarem certos. Não conseguem ver o engano. Acabe não subiu pensando: “Micaías está certo; ele tem a mente de Deus. Os 400 são falsos; não têm a palavra de Deus.” Não. Ele subiu totalmente convencido, totalmente enganado, totalmente seduzido. Estava convencido de que Micaías estava errado e os 400 estavam certos. Por Que Alguns Cristãos Caem Num Engano Destes? Eis que vós confiais em palavras Revista Betel falsas, que para nada vos aproveitam. Que é isso? Furtais e matais, cometeis adultério e jurais falsamente, queimais incenso a Baal e andais após outros deuses que não conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e dizeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a praticar estas abominações! ( Jeremias 7: 8-10). Aí está a resposta. Apego a algum pecado de estimação, ou a algum ídolo secreto no coração. Justificativa para o pecado. Um caminhar com o mundo, irmanando-se com ele. Depois vêm à casa do Senhor vangloriando-se: “Não estou condenado”. Isso é um convite aberto aos espíritos mentirosos. World Challenge, P. O. Box 260, Lindale, TX 75771, USA. Alguns anos atrás, uma pobre lavadeira foi compelida pelas circunstâncias a lavar para fora, devido às necessidades financeiras que sua família estava passando. Enquanto trabalhava no tanque com água e sabão, suas lágrimas se misturavam com a espuma à medida que derramava diante de Deus o encargo de seu coração pela salvação de seu filho. Ela não foi rejeitada em seu pedido e seu garoto nasceu de novo, no Espírito, e se tornou um professor de escola dominical com uma grande responsabilidade por sua classe. Um de seus alunos era D.L.Moody – o homem que alcançou multidões. Edward Kimbal, nascido de oração, sentia igualmente uma grande preocupação por aquele estudante de 17 anos de idade de sua classe. Reprimindo qualquer resistência, visitou a sapataria onde Moody se tornou um cristão. Quão pouco aquela humilde lavadeira seria louvada por um público admirador, pela parte que teve no ministério de Moody. Mas os registros eternos infalivelmente incluirão todos os elos na corrente da providência. Quão interessante será traçar a fonte de todas as obras de Deus à esta poderosa arma que é a oração! -- Selecionado Estudo Bíblico Revista Betel Bem-Aventurados III 13 Humberto X.Rodrigues Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos. Mateus 4:6 B em-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Já consideramos até aqui que precisamos ser “humildes de espíritos”; isto significa sermos esvaziados de nós mesmos. Também precisamos “chorar”, isto é, lamentar o nosso estado de miserabilidade, e precisamos ser “mansos”, isto é, abrir mão da nossa vontade, e nos submeter à vontade de Deus, sermos inteiramente e com- pletamente dependentes de Deus. Fome e sede são sensações físicas extremamente dolorosas, e não descansaremos enquanto não estivermos saciados. Essa fome e sede de justiça são desejos espirituais que brotam do íntimo daquele que está em Cristo, que pode dizer como o salmista quando expressou assim o seu desejo por Deus: Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei 14 Estudo Bíblico e me apresentarei ante a face de Deus? Salmos 42:1-2. Nosso Senhor usou, com freqüência, os fatos naturais para nos ensinar as verdades espirituais. À luz dessa ilustração do salmista, como o cervo brama pelas correntes das águas, temos que encarar o fato de que, sem sede espiritual, não cresceremos. Esse crescimento não acontece pela força da nossa carne, mas pela ação da graça de Deus, gerando em nosso coração a necessidade de buscarmos um profundo relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: Os filhos de Deus anseiam e suspiram pelo conhecimento vivo de Deus. Suas almas sempre suspiram por uma pureza interior mais completa. E, ao mesmo tempo, gemem pela corrupção que há em seus corações. A sede por Deus deve ser a marca de todo aquele que foi salvo por Jesus Cristo. O progresso da vida cristã se realiza por termos a luz de Deus, por serem abertos os nossos olhos. Porque em ti está o manancial da vida; na tua luz veremos a luz. Salmos 36:9. “ ‘Fome’ e ‘sede’ não são sensações passageiras. A fome é profunda e forte, e continua enquanto não for satisfeita. A fome fere e é dolorosa. Essa fome espiritual assemelha-se à fome e à sede reais. É algo que con- Revista Betel tinua se intensificando e que deixa o indivíduo simplesmente desesperado. É algo que provoca sofrimento e agonia.” D. Martyn Lloyd-Jones. O que significa ter sede e fome de justiça? Considerando que a primeira bem-aventurança abre a porta de entrada para o reino de Deus e as demais bem-aventuranças são a plenitude daqueles que estão em Cristo, ter sede e fome de justiça significa temer que algo pecaminoso esteja em nós, e temer que algo de iníquo nos atinja ou nos toque. A fome e a sede são um processo contínuo na vida dos filhos de Deus, e a realização completa desse anseio só se dará na consumação dos séculos. Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso. Amós 5:24. O nascido de novo descobre, através dos anos, que ele já foi conduzido por uma longa jornada, e, a cada passo, foi pessoalmente experimentando os cuidados de Deus, e, por meio da Palavra, seus olhos foram iluminados para ver a gloriosa Pessoa do Senhor Jesus Cristo: Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos. Efésios 1:18. A sede e a fome de justiça têm como matéria prima a profunda necessidade que Deus, em sua infinita graça, gera no coração do salvo para Revista Betel Estudo Bíblico conhecê-Lo. Deus permite as crises na vida de seus filhos para que eles O busquem. Irei e voltarei ao meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão. Oséias 5:15. À luz dessa verdade descobrimos que as nossas angústias são de valor inestimável. Por isso, não podemos desprezar os dias difíceis de nossas vidas. Por outro lado, não podemos injetar ou levar as pessoas a terem sede e fome. A sede e a fome têm que ser despertadas pela graça de Deus. E, muitas vezes, o próprio Deus nos chama para o deserto, lugar “árido” e “seco”, com o único propósito de falar ao nosso coração. Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. Oséias 2:14. O nosso Senhor Jesus trilhou esse caminho, foi para o deserto e cada inimigo foi vencido. Nada resta neste universo que possa vencer o menor daqueles que está em Cristo. Não temos que escalar nada, porque somos mais que vencedores. Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por 15 aquele que nos amou. Romanos 8:3537. Considerando que em Cristo estamos completos, e que não há necessidade de acrescentarmos algo que já foi “consumado”, agora é uma questão de viver pela fé e de receber, de nos apropriar, da abundância da Fonte que há em nós. O crescimento espiritual pede que o coração tenha sede e fome do Senhor Jesus. E com a transformação sempre crescente dos filhos à semelhança de Cristo, somos aperfeiçoados. Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. Oséias 6:3. A semente traz dentro de si todo o potencial de vida que ela tem. A semente está completa, nada lhe pode ser acrescentado. Quando a mesma é lançada na terra, passa pelo processo de morte, surgindo a “erva, depois a espiga, e, por fim, o grão cheio de espiga”. Esse é o princípio natural conforme a palavra de Deus: Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. Marcos 4:28. Semelhantemente, o crescimento da vida de Cristo implantada no regenerado é como o crescimento natural no reino vegetal. Não há necessidade de acrescentar nada, não precisamos fazer nenhum esforço 16 Estudo Bíblico para o seu desenvolvimento. Veja o texto “a terra por si mesmo frutifica”. A palavra de Deus como “semente” é lançada ao coração, e a mesma têm em si todo o potencial para gerar vida quando recebida pela fé: Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas segundo é, na verdade, como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes. I Tessalonicenses 2;13. Os que têm fome e sede de justiça são os que anseiam por ver Cristo se manifestando em suas vidas, anseiam também para que outros vejam que a justiça de Deus é Cristo. Os que têm fome e sede de justiça são aqueles que anseiam por ver o triunfo final de Deus sobre o mal. “Ter fome e sede, na verdade, significa estar desesperado, estar morrendo de inanição, sentir que a vida se esvai; perceber que precisa urgentemente de ajuda.” John N. Darby. Porque eles serão fartos: a palavra grega para fartos é cortaxo, que expressa um sentimento de plena satisfação. O propósito de Deus, por meio da Palavra, é nos levar para dentro da realidade do que significa estar em Cristo. Por isso, necessitamos da revelação do Espírito Santo das riquezas contidas em Cristo. Para que os seus corações sejam conso- Revista Betel lados, e estejam unidos em amor, e enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de Deus e Pai, e de Cristo, Em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência. Colossenses 2:2 -3. Deus permitiu que Davi passasse por muitas tristezas para que pudesse conduzi-lo à largueza: Ouve-me quando eu clamo, ó Deus da minha justiça, na angústia me deste largueza. Salmos 4:1. A largueza da qual o Salmista fala acontece quando, em aflição, somos levados por Deus a um lugar amplo para desfrutarmos de Sua companhia. Os filhos de Deus se refugiam na gloriosa Pessoa do Senhor Jesus e na Sua justiça que nos - é concedida ou imputada gratuitamente. Que gloriosa verdade! Fomos aceitos e nos tornamos agradáveis a Deus por meio de Cristo. Todo louvor e graças sejam ao nosso Deus. Ele nos deu em Seu amado Filho tudo que necessitamos para a consciência, para o coração, para “hoje” e por toda a eternidade. Podemos dizer que não há, nem poderia existir, qualquer falta no Cristo de Deus. Sua pessoa e Sua obra devem satisfazer todos os anseios do coração humano. Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade; E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade. Colossenses 2:9-10. Revista Betel Estudo Bíblico “Felizes os que têm sede e fome de justiça”! E que o coração de cada filho de Deus seja conquistado por essas palavras: quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda. Apocalipse 22:11b. E que também não sejamos negligentes na posição de filhos, permanecendo firmes na porção que nos foi dada. Que encontremos em Cristo todo o nosso prazer, cuja obra “consumada é a base eterna de nossa salvação e paz. E que, ansiando pelo bendito momento quando Jesus virá para nos receber para Si mesmo, para que onde 17 Ele estiver, possamos estar também, para de lá nunca mais sairmos, eternamente. Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram. Hebreus 2:1-3. NOSSA MAIOR NECESSIDADE É da maior importância que os filhos do Senhor reconheçam plenamente que o Seu objetivo é, acima de tudo o mais, que eles O conheça. Está é a finalidade que governa todos os seus tratamentos para conosco. Esta é a maior de todas as nossas necessidades. Este é o segredo da força, firmeza e serviço. Determina a medida da nossa utilidade para o Senhor. Esta era a única paixão da vida do apóstolo Paulo. Era a causa da sua incessante luta pelos santos. É o âmago e pivô de toda carta aos Hebreus. Nosso Senhor faz a afirmação de que a vida eterna é esta: que conheçam a ti o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. João 17:3. O crescente conhecimento Dele se manifesta no crescimento da vida. Há, pois, operação nos dois sentidos: conhecimento para a vida e vida para conhecimento. -- T.Austin-Sparks Deus sempre fala com corações que com ele sintonizam. -- Richard C. Trench Não receies a adversidade: lembra-te de que os papagaios de papel sobem contra o vento e não a favor dele. -- H.Mabie 18 Estudo Bíblico Judas e Eu Revista Betel Abel Emerich Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e disse: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei?E eles lhe pesaram trinta moedas de prata. E, desde então, buscava oportunidade para o entregar. Mateus 26:14-16 O artigo 29 do Código Penal brasileiro assim leciona: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Sabidamente, esse é o parâmetro norteador do direito penal, em todo o mundo civilizado. Aliás, tal assertiva fora herdada do direito romano, sob cuja autoridade o Senhor Jesus foi condenado, em decisão proferida pelo procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, que incorpo- rava também a figura de juiz. Nas sagradas escrituras, Judas Iscariotes é apontado apenas como o traidor do Senhor. Veja: E, quando estavam assentados a comer, disse Jesus: em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me. E logo, falando ele ainda, veio Judas, que era um dos doze, da parte dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e dos anciãos, e, com ele, uma grande multidão com espadas e porretes. Ora, o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse Revista Betel Estudo Bíblico é; prendei-o e levai-o em segurança. E, logo que chegou, aproximou-se dele e disse-lhe: Rabi, Rabi. E beijou-o. E lançaram-lhe as mãos e o prenderam. Marcos 14:18 e 43-46. Seria unicamente Judas o culpado pela morte de Jesus? Se considerarmos a atitude de Judas, à luz do direito penal, ainda que pelas Sagradas Escrituras ele seja apontado apenas como o traidor do Senhor, irremediavelmente, deveria ser denunciado, pelo menos, como co-autor, na morte do Cordeiro Inocente, não houvesse a autoridade do Império Romano, para dar legalidade ao episódio. Pilatos lavou as suas mãos, embora tenha lavrado a sentença de morte do Senhor da Glória. Historicamente se sabe que o sinédrio romano passou a noite ouvindo testemunhas, a fim de apurar a existência de algum crime, porventura, atribuído a Jesus; e, por fim, O levaram à presença do sumo sacerdote, onde se conclui que nem eram necessárias testemunhas, posto que o Senhor teria blasfemado em sua presença e em presença de todos os congregados. Veja: E os que prenderam Jesus o conduziram à casa 19 do sumo sacerdote Caifás, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos. E, Levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe: Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti? E Jesus, porém, guardava silêncio. E, insistindo o sumo sacerdote, disse-lhe: Conjuro-te pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus. Disse-lhe Jesus: Tu o disseste; digo-vos, porém, que vereis em breve o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu. Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes, dizendo: Blasfemou; para que precisamos ainda de testemunhas? Eis que bem ouvistes, agora, a sua blasfêmia. MATEUS 26: 57 e 62-65. É que, segundo as leis religiosas judaicas, O Senhor Jesus teria cometido o crime de blasfêmia, pelo fato de haver afirmado ser ele O Cristo, ou Messias, Aquele que era esperado pelos Judeus. É bom lembrarmos que os nomes “Cristo e Messias” designam uma só coisa, a saber, que se trata do “Ungido de Deus”; ou seja, ungido para ser o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. No Evangelho segundo João Ele é assim reconhecido: No dia seguinte, João viu a Jesus que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. João 01:29. A designação de Cristo para ser o Cordeiro, foi por Ele aceita antes mesmo da fundação 20 Estudo Bíblico do mundo. Vejamos: (...) E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no Livro da vida do Cordeiro que foi morto desde antes da fundação do mundo. Apocalipse13:08. Essa fora a maneira de Deus, para promover a nossa salvação, do pecado, que consistiu num processo de identificação conosco. Assim, Deus formou a Jesus (homem), no ventre de Maria, e nEle, isto é, em Jesus, o Cristo, filho eterno de Deus veio habitar, desde a concepção: No princípio, era o verbo (Cristo), e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (...) E o verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. João 01:01 e 14. Concluímos, pois, que quando O Senhor Jesus informou ao sumo sacerdote ser Ele o Cristo, não cometeu crime algum, porquanto, Ele e Cristo, de fato, são uma só pessoa. Apesar das evidências de que Jesus é o Cristo, com tantos milagres, curas, ressuscitações, e demonstrações de poder, Deus não deixou por menos, posto que Jesus fora ainda declarado Filho de Deus, com poder, como depreendemos da Carta aos Romanos: Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Revista Betel Santas Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, - Jesus Cristo, nosso Senhor. Romanos 01:01-04. Ainda que encontremos algumas traduções bíblicas em que, no texto acima, informem que Jesus fora “designado Filho de Deus em poder”, estas não se ajustam bem ao escrito original, em que está dito que Ele fora “declarado Filho de Deus em poder”. Ocorre que a designação revela um fato presente, enquanto na declaração se reconhece um fato pré-existente. Com efeito, Jesus fora gerado pela palavra de Deus, no ventre de Maria. Logo, quem crê em Jesus, crê em Deus Filho, posto que Ele e Cristo são uma só pessoa: Quem crê no Filho de Deus em si mesmo tem o testemunho; quem em Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. I João 05:10-12. Os judeus, porém, insistiam na crucificação do Senhor: Disse-lhes Pilatos: Que farei, de Jesus, chamado Cristo? Disseram-lhe todos: Seja cruci- Revista Betel Estudo Bíblico ficado! Então, Pilatos, vendo que nada aproveitava, antes o tumulto crescia, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo: considerai isso. E, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos. Mateus 27: 22-25. Vale lembrar que Judas fora apontado apenas como o traidor do Senhor, a quem entregou às autoridades, embora conhecesse o fim proposto, que era matá-Lo; Pilatos, por sua vez, lavou as mãos e disse ser inocente: Estou inocente do sangue deste justo; considerai isso. SIC. Mateus 27:24b. As autoridades religiosas (sumo sacerdote, escribas e anciãos) não participaram diretamente de atos executórios, ainda que insistissem e incitassem a multidão, pela morte do Senhor. Esse fato fora também assim registrado: Veio para o que era seu ( Judeus), e os seus não o receberam. João 01:11. Então, quem foi o culpado pela morte de Jesus? Estou certo de que, lançada esta pergunta a uma grande platéia, dela obteríamos diversas respostas. Uns certamente diriam que foi Judas Iscariotes, quem matou O Senhor da Glória, haja vista, este O haver entregue à turba de soldados, conhecendo 21 tal fim. Outros, por certo informariam que os responsáveis pela morte do Senhor teriam sido as autoridades romanas, posto que Roma dominava o território de Israel, naquele tempo, quando se aplicava a pena de morte na cruz aos estrangeiros, isto é, a quem não fosse cidadão romano. Essa era a pena capital para determinados crimes, além da pena acessória que consistia em que o criminoso fosse drasticamente surrado. Ainda outros, diriam que foram as autoridades religiosas judaicas, as culpadas pela morte do Senhor, porque clamavam fosse Ele crucificado; mesmo porque, paralelamente às leis romanas, observava-se o cumprimento das normas religiosas judaicas. Contudo, a resposta a essa pergunta não deve ser buscada na seara do direito penal, senão à luz das sagradas escrituras; para tanto se impõe o esclarecimento de alguns pontos: O primeiro deles é apurar o motivo que trouxe Cristo ao mundo, quando ele se “intrometeu” em nosso pecado, em cujo tempo nós estávamos separados da vida de Deus, sem Deus no mundo; sendo certo que, por amor, Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido: Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. LUCAS 19:10. Porque Deus amou o mundo de tal 22 Estudo Bíblico maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. JOÃO 03:16. Pela expressão salvar o que se havia perdido, as escrituras designam a caça ao malfadado homem, que voluntariamente se desligou de Seu Criador, dando ouvidos ao convite de Satanás, ocasião em que comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, que Deus havia dito que não comesse. Gênesis 02:16 e 17. O segundo é o que diz respeito à retribuição da desobediência do homem à ordem divina, fato que gerou a sua morte. Sendo certo que o conceito de pecado, é tido como a desobediência à vontade divina e implica em morte: Porque o salário do pecado é a morte (...) Romanos 6:23ª. O terceiro ponto a ser esclarecido, e, talvez, o mais eloqüente, é que Jesus, nasceu sem a natureza pecaminosa dos filhos de Adão, porque fora gerado por Deus e não por homem; ora, se a retribuição para a natureza do pecado (passada por Adão à sua descendência) é que gera a morte, como conseguiram matar o Senhor Jesus, naquela cruz, se não existia nEle as condições para morrer, por não se achar pecado nEle? O esclarecimento à esse quesito deflui da boca do próprio Senhor Jesus e fora registrada ainda por João. Revista Betel Ipsis verbis: E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. E dizia isso significando de que morte havia de morrer. João 12:32 e 33. A resposta está aí, e consiste numa realidade espiritual, que independe da aceitação humana; porquanto, quando levantaram aquela cruz, tendo nela pregado o corpo de Jesus, Ele atraiu todos os seres humanos a si, onde fomos identificados na Sua carne; isto é, desde Adão, até o último que virá a nascer neste mundo; todos fomos, invariavelmente atraídos ao corpo do Senhor, e o matamos com o nosso pecado, cujo salário é morte. Através do corpo de Jesus é que temos acesso a Deus, o Pai. Tal realidade levou o Senhor Jesus a afirmar ser Ele a porta: Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, entrará, sairá, e achará pastagens. João 10:09. Vemos, Chego a uma triste conclusão de que Judas e eu, com toda certeza, matamos o Senhor da Glória; cabe a você reconhecer que também foi atraído ao corpo santo do Senhor, naquela cruz, e, com a sua natureza pecaminosa também contribuiu para a morte do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. A tua salvação depende disso! Veja o que o apóstolo Paulo nos lembra, escrevendo aos romanos: sa- Revista Betel Estudo Bíblico bendo isto: que o nosso velho homem foi com Ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado. Porque aquele que está morto está justificado do pecado. Romanos 6:06 e 07. Se você ainda não sabia isto, agora ficou sabendo, e já não há desculpas de ignorância desse fato! Por fim, se você, pela Graça de Deus, vier a reconhecer a sua atração ao corpo santo do Senhor, naquela cruz, já não seremos apenas Judas e eu os culpados pela morte Jesus; mas seremos agora três, a saber: Judas, eu 23 e você. Lembre-se, em reconhecer esse fato, está a tua salvação! Confesse! Esse convite à confissão tem o sentido de aceitação; aliás, no texto original, expressa a conotação de homologia, ou seja: você diz, com a sua boca, que concorda com a proposta divina pra que você seja salvo de sua natureza de pecado. A saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Romanos 10:09. Ele se derramou por nós, e ser conformados à Sua morte significa, portanto, que nós derramamos nossa vida pelos outros. -- Campbell Morgan Deus é amor, e aquele que aprendeu a viver no Espírito de amor aprendeu a viver e a habitar em Deus. -- Andrew Murray Até a morte, terei empregado tudo o que existe em mim para amar o Senhor. -- Irmão Lawrence A cruz de Cristo é o coração de Deus quebrado pelo pecado. Ela nos fala que Deus, que tem de julgar e punir o pecado, salvará e perdoará o pecador. -- Ruth Paxson A marca de um santo não é a perfeição, mas a consagração. Um santo não é um homem sem faltas, mas um homem que se deu sem reservas a Deus. -- Bispo Westcott 24 Estudo Bíblico Pecado Versus Graça Revista Betel Glenio Fonseca Paranaguá Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram. Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. Romanos 5:12 e 3:23. O que é o pecado? Alguns dizem que é orgulho. Outros afirmam que é rebeldia. Há também os que sustentam ser autonomia. Na verdade o pecado foi uma atitude teomaníaca de Adão que originou a sua separação de Deus, bem como de toda a sua descendência. No pecado a criatura fica apartada da comunhão com o seu Criador. O ser humano se torna morto, isto é, separado espiritualmente de Deus. O pecado é uma oposição da cria- tura ao governo do Criador. O homem criado à imagem e semelhança de Deus não aceita a idéia de não ser como Deus. Essa é a base de toda a rebeldia egoísta do pecado. Somos uma raça contaminada pelo egoísmo e tentamos viver às nossas próprias custas. A trama do pecado propõe a auto-coroação do ser humano como se ele fosse o próprio Deus. O que está latente em todo o comportamento pecaminoso é a arrogância autônoma de quem quer se dirigir por con- Revista Betel Estudo Bíblico ta própria. Sendo assim, podemos dizer que o pecado é uma sugestão de independência, em que a criatura tenta viver com os seus recursos naturais. No fundo dessa obstinação reside um sentimento de soberania. O pecado é hereditário e universal. Todos nós nascemos em pecado e ninguém pode dar uma de João-sem-braço achando-se imaculado. Davi percebeu claramente este fato quando disse: Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Salmos 51:5. Isso não significa que o seu nascimento tenha sido adulterino, mas que ele foi gerado no âmbito de uma raça perversa e presunçosa. Todos os seres humanos, exceto Jesus, foram concebidos em pecado. Outrossim, o pecado é sempre uma oposição a Deus. Todo crime é contra a humanidade, mas o pecado é radicalmente contra a Divindade. Apesar de Davi ter cometido dois ou três crimes no contexto desse salmo, ele diz que o seu pecado era somente contra Deus. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar. Salmos 51:4. A prova de nossa pecaminosidade é a morte. O apóstolo Paulo diz que o único lucro do pecado são os restos mortais. Porque o salário do pecado é 25 a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor. Romanos 6:23. Todos nós somos pecadores por natureza, não tendo qualquer inclinação natural por Deus. Nenhum pecador busca automaticamente a Deus. Não existe essa disposição espontânea do ser humano procurar o Deus verdadeiro, voluntariamente. Veja como o salmista expõe a tendência humana. Do céu, olha Deus para os filhos dos homens, para ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus. Salmos 53:2. E Paulo reitera de modo definitivo: não há quem entenda, não há quem busque a Deus; Romanos 3:11. A proposta do pecado ao ser humano é a sua emancipação de Deus e nunca a sua aproximação dele. Não há interesse instintivo do pecador com relação à intimidade com Deus. Tudo o que o pecador almeja é a sua isenção no que diz respeito à busca pessoal de Deus, pois no íntimo, o pecado propõe que o ser humano seja ele mesmo, o seu deus. Ora, se ninguém busca a Deus naturalmente, quando resolve buscá-lo, quem o fez buscar? Aqui entra a graça. Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, jus- 26 Estudo Bíblico ta e piedosamente. Tito 2:11-12. O pecado nos tornou arrogantes e teimosamente rebelados contra Deus. O Deus trino não faz parte da nossa agenda repleta de compromissos. Mas a graça vem em Cristo de um modo polido, e, irresistivelmente nos atrai para o coração do Pai. Somos convidados por um amor incondicional a participar de um relacionamento sem cobranças. Todas as religiões do mundo começam com a iniciativa humana de criar um deus à imagem e semelhança da criatura e de fazê-lo digno de veneração. Nessas religiões vemos a criação construindo seus ídolos e altares como um invento de sua imaginação. Porém, no Cristianismo é o Criador quem empreende a busca da criatura. A boa notícia do Evangelho mostra o eterno Caçador farejando e perseguindo a caça que ele ama com amor integral, até alcançá-la. No Evangelho é a graça que procura o desgraçado. Pecado é tudo o que pretende exaltar a criatura em lugar do Criador. O sentimento que nos enaltece é ameaçador. A carência de elogio ou a cata de um tamanco que nos eleve é muito arriscada, pois podemos torcer o pé. O pecado gosta do culto à personalidade. A graça é a contratura do Criador para obter a cria na dimensão da criatura. Na graça, o Revista Betel Deus absoluto não temeu se reduzir até ao diâmetro de servo com bacia nas mãos e cruz nas costas, pois, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, Filipenses 2:7. Se o pecado pode ser definido como a arrogância da teomania humana, a graça pode ser descrita como Deus na estatura de um homem se revelando totalmente favorável àquele que é o mais detestável dos rebeldes. O caráter da graça é a indignidade do indigente. Quanto mais descrédito perante a lei, mais crédito diante da graça. O Evangelho é a boa nova para os canalhas e o habeas-corpus a todos os sentenciados ao inferno. Alguém disse que graça é mais do que favor a quem não merece, é favor cabal àquele que tem completo demérito. A questão não é se a pessoa não tem algum merecimento, mas se ela tem total desmerecimento. A graça só requer integral desonra a fim de poder honrar aquele que é o mais cafajeste dos pecadores. Sobreveio a lei para que avultasse a ofensa; mas onde abundou o pecado, superabundou a graça. Romanos 5:20. Jesus mostrou o estilo magnânimo do reino da graça, quando contou uma parábola de um homem rico que preparou uma grande ceia e con- Revista Betel Estudo Bíblico vidou muita gente. Todavia os convidados não deram bola para o convite nem fizeram caso da festa. Eles eram muito importantes e tinham negócios vantajosos em vista. Talvez aqueles convidados tenham rejeitado o ingresso ao banquete da graça, porque eles eram nobres demais a fim de participar de um festival que não lhes custasse coisa alguma, nem lhes agregasse algum valor especial. A reação daquele senhor perante o promoter é um sintoma do caráter da graça: Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos. Lucas 14:21. A graça não exclui ninguém, todavia tem-se percebido que os ilustres não se sentem à vontade no salão de festas do reino da graça. Aquele chamamento foi ecumênico, mas apenas os deficientes puderam comemorar o evento. O único bloqueio para a celebração do evento é a justiça própria com seus direitos e privilégios. Jesus contou uma outra parábola em que um rei comemorava as bodas do seu filho, quando um penetra tentou fazer uma boquinha livre. Naquela época era costume do dono da festa, que fosse rico, dar as vestes festivais para os convidados, a fim 27 de ninguém se sobressair sobre os outros. Contudo, havia alguém naquele banquete destoando. Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Mateus 22:11-12. O mérito é o nosso maior problema. Nós não gostamos da graça nem aceitamos com facilidade a dependência divina. Viver tão somente pelo consentimento da opinião do céu é uma dificuldade terrível para os atrevidos da terra. Mas aquele rei não concordou com a permanência daquele abusado que quis ditar as regas da festa com a sua indumentária. Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos. Mateus 22:1314. O traje na Bíblia tipifica a questão da justiça. Aquele intrometido queria ser aceito com a sua justiça e não com a justiça do rei. A graça nunca acolhe quem se traja com a sua justiça, uma vez que os celebrantes da festa do Rei sempre se vestem com as roupas que lhe foram dadas no hall do Palácio. Só a justiça de Cristo pode atender a dignidade do pecador. Assim, nin- 28 Estudo Bíblico guém entra no reino de Deus portando sua reputação pessoal. Um tempo desses, estive numa capital do Nordeste celebrando um casamento. O pai do noivo acabou esquecendo o seu terno na cidade onde mora, bem distante do local da festa, o que causou uma situação embaraçosa. Um dos tios do noivo tinha mais de um terno, que podia emprestá-lo, mas o pai não quis, pois havia alguma diferença na compleição física, e todos nós queremos ficar bem na foto. Ele teve que comprar uma roupa nova, ainda que tivesse um terno de grife, só para ficar confortável na festa. No reino de Deus nós seremos aceitos somente com a vestimenta de Cristo. Ela é a única justiça feita sob medida. Nenhuma indumentária pessoal será admitida nesse aprazível ágape da graça absoluta. Nós só participaremos da festa, se Cristo for a nossa identidade. Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Revista Betel Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Gálatas 3:26-27. Quero apenas lembrar aqui, que este batismo não é em águas, mas na identificação com Cristo. O Pai só nos aceita plenamente na pessoa do seu Filho amado. Sendo assim, não há necessidade de vestuários complementares. O filho pródigo, mendigo maltrapilho, quando foi recebido como fidalgo na casa do seu pai, foi acolhido sob as expensas e os cuidados do tesouro paterno. O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Lucas 15:22. Graça é a coleção de inverno, o guarda-roupa preparado pelo Pai para os filhos malroupidos. É o Pai condecorando os falidos com a excelência da aristocracia. É o pecador sendo recebido no reino de Deus apenas pela justiça de Cristo. Somente na eternidade, purificados e livres das restrições do corpo de barro, é que os redimidos dentre os homens serão capazes de entender o pleno significado da Sua cruz de vergonha e cantar com a mais profunda adoração: “Digno és (…) porque foste morto” (Ap 5.9). -- Jessie Penn-Lewis Um cristianismo roubado da cruz é um cristinismo roubado da sua glória. -- The Overcomer Revista Betel Riqueza Família – Céu ou Inferno? da Graça 29 Andrew Murray Rogo-vos , pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados. Efésios 4:1 D eus criou o homem à sua própria semelhança (Gênesis 5.1). O homem caído também produziu filhos à sua semelhança, de acordo com a sua imagem. Infelizmente, depois da queda de Adão, seus filhos receberam a sua semelhança e não a de Deus (Gênesis 5.3). Este fato mostra-nos o temível e universal poder do pecado. O poder de dar vida aos outros foi uma das maravilhosas características da semelhança de Deus conferidas ao homem. Quando o pecado entrou no homem, aquela semelhança não foi destruída, porém foi terrivelmente distorcida. O homem ainda tinha o poder de gerar filhos à sua própria semelhança. Quando o pecado conquistou Adão, conquistou toda a raça humana. É por causa dessa habilidade de reproduzir que o homem pode ser renovado para se tornar a força que Deus usa para restabelecer seu Reino. A relação de pais para filhos tornou-se o poder do pecado. Con- 30 Riqueza tudo, quando Deus a restaurar, será a força da graça. O Pecado dos Pais Notemos na primeira família como o pecado do pai reapareceu e amadureceu no filho. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração… e o teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22.37-39). Nestes dois grandes mandamentos, temos a soma de toda a vontade de Deus para conosco. Adão havia transgredido o primeiro e, no seu pecado, lançara fora o amor a Deus. Seu primogênito se recusou a sujeitar-se ao segundo mandamento, alimentando ódio e, depois, assassinando seu irmão. Com o pecado de Adão, sua natureza se corrompeu, e foi justamente essa natureza que ele transmitiu ao seu filho. O pecado do filho foi o fruto amadurecido do pecado do pai. Este primeiro quadro da vida em família, que temos na Palavra de Deus, lança uma luz sombria sobre nossos próprios lares. Os pais freqüentemente vêem suas próprias falhas e limitações no comportamento pecaminoso de seus filhos. Quando os pais reconhecem que seus filhos herdaram sua própria natureza corrupta, isso deve torná-los muito mais pacientes e sábios na forma de discipliná-los. Deve levar os pais a buscarem a única solução para o pecado – da Graça Revista Betel a graça e a vida que vêm do alto! A Raiz de Todo o Pecado É no pecado daquele primeiro filho, Caim, que temos a raiz e o protótipo de todos os pecados dos filhos. A família foi designada por Deus para ser a imagem do amor que reina no céu. O pecado entrou na primeira família e, ao invés de ser a imagem do céu, passou a ser a entrada para o inferno. No lugar do amor e da felicidade que Deus planejou para a família, ódio e homicídio a transformaram numa cena de terrível violência. A raiz de todo o pecado é o egoísmo – separando-nos primeiro de Deus e depois do homem. O egoísmo se manifesta até nos pequeninos do maternal. Surge nas atividades diárias com amigos na escola ou nas brincadeiras com colegas. Manifesta-se mesmo contra o pai ou a mãe, impedindo o filho de dar amor ou obediência. O amor é o caminho que nos leva a habitarmos em Deus e Deus em nós. Os pais devem buscar isto acima de tudo: o reinado do amor em seu lar. Precisamos reconhecer que cada manifestação de um espírito egoísta ou sem amor é semente da árvore que produziu fruto tão amargo em Caim. Nada deve servir de empecilho para que os pais removam essas Revista Betel Riqueza sementes malignas da vida de seus filhos. Devemos temer e arrancar as sementes que podem amadurecer de forma tão terrível mais adiante. Nosso alvo deve ser restaurar a vida em nossa família para aquilo que era o propósito original de Deus: ser um espelho e um antegosto do amor do céu. A Responsabilidade dos Pais Não devemos esquecer a influência da vida dos pais. À sua semelhança, conforme a sua imagem… Estas palavras se referem não só a uma bênção perdida no Paraíso, e a maldição que veio com o pecado, mas também a graça que vem com a redenção. É verdade que um cristão nascido de novo não pode, através de nascimento natural, gerar um filho à sua semelhança espiritual. Entretanto, é também verdade que aquilo que a natureza não pode produzir, a oração e uma vida de fé podem alcançar através das promessas e do poder de Deus. Os pais devem ser o que querem que seus filhos sejam. Se quisermos guardá-los do pecado de Caim que não amou seu irmão, devemos vigiar contra o pecado de Adão, que não amou o mandamento do seu Deus. Que o pai e a mãe vivam uma vida marcada pelo amor a Deus e ao da Graça 31 próximo. Este é o tipo de ambiente em que filhos amorosos podem ser criados. Que todos os tratamentos com seus filhos sejam marcados pelo amor. Palavras iradas, repreensões ásperas e respostas impacientes são contagiosas. O amor exige abnegação. Leva tempo, atenção e perseverança para treinar nossos filhos nos caminhos de Deus. Quando nossos filhos nos ouvem falando dos outros, seja de amigos ou de inimigos, que recebam a impressão do amor de Cristo que queremos manifestar. O pai e a mãe também devem mostrar amor e respeito um pelo outro. Suas atitudes bondosas e desprendidas de egoísmo devem provar aos filhos que o amor é possível e que tem recompensas imediatas. Acima de tudo, lembremos que é o amor de Deus que é o segredo de um lar amoroso na Terra. Quando os pais amam ao Senhor seu Deus com todo o coração, o amor em família será fortalecido. Somente aqueles pais que estão dispostos a viver vidas consagradas, inteiramente entregues a Deus, receberão a plena promessa e a bênção do Senhor. Se quisermos transformar nossos lares num antegosto do céu, então religião comum, de coração morno, não será suficiente. Somente o amor de Deus derramado em nossos corações e vidas 32 Riqueza farão nossos lares na Terra se assemelharem ao lar do céu. Família – Instrumento de Deus Pela fé Noé… aparelhou uma arca para a salvação de sua casa (Hebreus 11.7). Noé é um exemplo de como a fé de um pai justo obtém uma bênção, não só para si mesmo, mas para seus filhos também. Até Cão, o filho de Noé que, quanto ao seu caráter, merecia perecer, foi salvo do dilúvio por meio da fé do pai. Isto prova que, aos olhos de Deus, a família é considerada uma unidade, com o pai como cabeça e representante. Os pais e os filhos são um só, e é neste princípio que Deus agirá com as famílias do seu povo. Foi esse mesmo princípio que deu ao pecado seu terrível poder no mundo. Quando Adão pecou, todos seus descendentes se tornaram sujeitos ao pecado e à morte. O dilúvio, assim como a queda, foi prova disso. Vemos que os filhos do terceiro filho de Adão, Sete, caíram tanto quanto os filhos de Caim. Sete também foi um filho gerado à semelhança de Adão (Gênesis 5.3), com uma natureza pecaminosa a ser transmitida de geração a geração. Assim, o pecado ganhou domínio universal sobre todas as gerações. A família tornou-se a maior fortaleza do pecado, porque os filhos herdavam o mal de seus pais. A da Graça Revista Betel unidade dos pais e filhos era a força do pecado. A libertação de Noé do dilúvio seria a introdução de uma nova era – o primeiro grande ato da graça redentora de Deus em favor de um mundo pecaminoso. Nele, Deus manifestou os grandes princípios da graça que são: misericórdia no meio do juízo, vida através da morte, e fé como o meio de libertação. A família foi o instrumento através do qual o pecado alcançou seu domínio universal. Este princípio seria agora resgatado do poder do pecado e adotado na aliança da graça. A família agora serviria como a ferramenta para estabelecer o Reino de Deus. A relação de pais e filhos tinha sido o meio de transmitir e estabelecer o poder do pecado. Agora a família seria o veículo para a extensão da graça do Reino de Deus. O homem que é justo aos olhos de Deus não é tratado meramente como indivíduo, mas no seu papel como pai. Quando Deus abençoa, ele tem prazer em abençoar de forma tão abundante que a bênção transborda para a casa do seu servo. O pai é mais do que o canal designado para suprir as necessidades materiais do filho. O pai que crê precisa se enxergar como canal escolhido e administrador da graça de Deus. Precisamos compreender esta ver- Revista Betel Riqueza dade bendita e, pela fé, aceitar a Palavra de Deus. Tens sido justo diante de mim no meio desta geração (Gênesis 7.1). Então compreenderemos também esta palavra: Entra na arca, tu e toda a tua casa. Deus dá a certeza de que a arca na qual o pai será salvo é para toda sua família também. A arca será a casa da família. Deus não se dirige aos membros da família separadamente – o pai deverá levar toda sua família para dentro da arca. Salvos Pela Fé Pode surgir a pergunta se um pai tem o poder de levar seus filhos à arca. A resposta é simples e clara: Pela fé Noé aparelhou uma arca para a salvação de sua casa. Deus sempre dá graça em proporção ao dever que impõe. Os pais que crêem precisam da Graça 33 viver, agir e orar em favor de seus filhos e, junto com eles, como os que têm a convicção que os filhos foram designados por Deus para estarem junto com eles na arca. Devemos confiar firmemente em Deus em favor da salvação de cada filho. Devemos instruir e inspirar nossos filhos com este pensamento em mente. Que eles cresçam com a consciência de que estar junto com seus pais é estar na arca. Dessa forma, a bênção não se perderá. Não é suficiente orar e esperar que seu filho seja salvo. Você precisa aceitar pela fé a certeza de que pode ser salvo e agir em obediência à ordem de trazê-lo para dentro da arca. “How to Bring Your Children to Christ”, de Andrew Murray. Não nos enganemos – sem cristianismo, sem a educação cristã, sem os princípios de Cristo inculcados na vida dos jovens – nós estaremos simplesmente criando pagãos. Fisicamente, eles podem ser perfeitos e até mesmo, intelectualmente brilhantes. Mas espiritualmente, eles serão pagãos. Não nos enganemos! O grande desafio deste século à maternidade é que mães tenham uma vida com Deus, uma realidade que elas possam passar a seus filhos! -- Selecionado A marca do crente maduro é a recusa em ser “levado ao redor por todo vento de doutrina” (Efésios 4:14). -- David Wilkerson 34 Legado Revista Betel Você Tem Sede de Deus? Don Whitney Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede... João 4:14 Parte 1 Três Tipos de Sede Espiritual E mbora não seja perceptível em todos os momentos, em um sentido existe uma sede em todas as pessoas. Deus não nos criou para estarmos contentes com nossa condição natural. Ou de uma forma ou de outra, em um grau ou outro, todos querem mais do que têm no presente momento. A diferença entre as pessoas é o tipo de anseio que possuem no fundo de sua alma. Em se tratando de sede espiritual, podemos dizer que há pelo menos três tipos. 1. Sede da alma vazia A pessoa não convertida possui uma alma vazia. Destituída de Deus, Revista Betel Legado busca contínua e freneticamente algo para preencher seu vazio. Os objetivos desta corrida desvairada podem incluir dinheiro, sexo, poder, casas, propriedades, esportes, hobbies, entretenimento, misticismo, realização, reconhecimento e estudo; em qualquer desses, porém, está essencialmente fazendo a vontade da carne e dos pensamentos (Efésios 2.3). Como Agostinho afirmou: Tu nos criaste para ti mesmo e nossos corações vivem inquietos enquanto não acharem repouso em ti. Sempre buscando, nunca satisfeita, a alma vazia vai de um objetivo a outro, sempre incapaz de achar algo que consiga preencher o vácuo do tamanho de Deus que existe no seu coração. A ironia da alma vazia é que, embora seja perpetuamente insatisfeita em tantas áreas de sua vida, ela se satisfaz com tanta facilidade em relação à busca de Deus. Sua atitude para com assuntos espirituais é como o homem que disse à sua alma complacente em Lucas 12.19: Tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come e bebe, e regala-te. Sejam quais forem os desejos da alma vazia nesta vida, estes nada têm em comum com o que o pastor e teólogo do século dezoito, Jonathan Edwards, chamava de “desejo santo, exercitado por meio de anseios, fome e sede de Deus e de santidade”, que 35 caracteriza o verdadeiro cristão. 2. Sede da alma árida A diferença entre a alma vazia e a alma árida é que a primeira nunca experimentou os rios de água viva ( Jo������������������������������� ão����������������������������� 7.38), enquanto que a segunda já os conhece e sabe do que está sentindo falta. Isto não significa que a alma árida tenha perdido a habitação interior do Espírito Santo; de fato, como Jesus disse, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna ( João 4.14, ênfase acrescentada). Como é, então, que a alma do verdadeiro crente em Cristo se torna árida, quando Jesus prometeu que aquele que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede, para sempre ( João 4.14)? A alma do cristão pode se tornar árida em uma de três maneiras. A mais comum é quando se bebe demais das fontes dessecantes do mundo e se esquece dos ribeiros de Deus (Salmos 65.9). Talvez o salmista tivesse bebido demais das águas espiritualmente salgadas e insalubres do mundo, pois escreveu duas vezes no mesmo capítulo sobre ansiar por Deus com todo o coração e, ao mesmo tempo, sobre sua firme resolução de não se afastar da Palavra do Senhor (ver Salmos 119.10). Excessiva atenção a um determinado pecado ou pecados e falta de atenção à co- 36 Legado munhão com Deus (duas coisas que freqüentemente ocorrem em conjunto) inevitavelmente definharão a vida espiritual do cristão. Uma segunda causa de aridez na vida de um filho de Deus é o que os puritanos chamavam das deserções de Deus. Por razões nem sempre claras para nós, o Senhor às vezes retira a nossa consciência de sua proximidade. O melhor e mais conciso conselho que posso oferecer a cristãos que lutam com este tipo de aridez espiritual vem de William Gurnall: “O cristão precisa aprender a confiar num Deus que pode se afastar”. Quando o sol se esconde atrás de uma nuvem, não está menos próximo do que quando seus raios podem ser sentidos. Em terceiro lugar, prolongada fadiga física ou mental pode causar aridez espiritual. Tanto a causa como a cura geralmente são bastante óbvias. A pessoa pode não perceber crescimento espiritual quando passa por fadiga ou esgotamento, entretanto é possível que tenha aprendido muitas lições na batalha que causou a fadiga, as quais serão vistas como significativos marcos espirituais na sua vida quando o sol voltar a brilhar. Indiferente da causa, a aridez na vida do cristão o faz sentir como o salmista que suspirava por Deus como a corça pelas correntes das águas Revista Betel (Salmos 42.1). Quando você estiver nesta condição, nada mais além da água viva do próprio Deus o satisfará. Outras coisas podem tê-lo distraído, mas agora a única coisa que importa é voltar a ter a consciência da presença do Pai. 3. Sede da alma saciada Pode parecer uma contradição, mas em contraste com a alma árida, a alma saciada tem sede de Deus precisamente por ter sido saciada por ele. “Oh! Provai, e vede que o Senhor é bom” (Sl 34.8). Ao provar que o Senhor realmente é bom, o sabor foi tão singularmente satisfatório que gerou um anseio por muito mais. O apóstolo Paulo demonstrou isto na sua famosa exclamação: “para o conhecer” (com a idéia: “oh, que eu o pudesse conhecer!” – Fp 3.10). Nas linhas anteriores, ele havia se exultado no relacionamento e conhecimento de Jesus que já tinha, dizendo que considerava tudo como refugo e perda diante da sublimidade desta experiência (vv. 7,8). No entanto, logo em seguida clama: “para o conhecer”. A alma de Paulo estava saciada com Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, ainda sedenta por ele. Conhecer bem a Cristo satisfaz tanto a sede espiritual porque nenhuma pessoa, possessão ou experiência pode produzir nada semelhante ao Revista Betel Legado prazer espiritual que temos nele. Comunhão com Cristo é algo incomparável porque não há desapontamento algum com o que se descobre nele. Além disso, a gratificação espiritual que se recebe através de conhecê-lo inicialmente nunca acaba. E por cima de tudo isso, o Senhor em quem se encontra toda essa satisfação é um universo infinito de vida e realização, no qual se pode imergir para explorar e desfrutar sem limites. Portanto, não há nenhuma falta de satisfação em conhecer a Cristo; contudo, Deus não nos fez de tal forma que uma só experiência pudesse saciar todo futuro desejo por ele. Jonathan Edwards descreveu a relação entre o bem espiritual desfrutado na comunhão com Cristo e a sede por mais que isto produz da seguinte forma: “O bem espiritual é realmente capaz de nos satisfazer; quem dele provar sentirá mais sede por ele… e quanto mais experimentar, quanto mais conhecer de fato esta excelente, inigualável, e excelsa doçura e a satisfação que traz, com mais intensa fome e sede a buscará”. Que Deus faça com que esta oração de A. W. Tozer seja uma expressão verdadeira das nossas próprias aspirações: Ó Deus, tenho provado da tua bondade, e isto tanto me tem saciado como tem aumentado minha sede. 37 Tenho dolorosa consciência da minha necessidade por graça ainda maior. Envergonho-me da minha falta de desejo. Ó Deus, Deus ����������������� Triúno, quero desejar a ti; anseio estar cheio de anseios: tenho sede de ficar com mais sede ainda. Parte 2 A Bênção da Sede Espiritual Bem-aventurados todos os que nele esperam (ou “os que por ele anseiam”, no original), declarou o profeta Isaías (Isaías 30.18). Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça , reiterou Jesus (Mateus 5.6). Um intenso desejo pelo Senhor e pela sua justiça é uma bênção. Como assim? 1. Deus inicia a sede espiritual A razão de alguém ter sede por Deus é que o Espírito Santo está agindo dentro dele. Se você é um cristão, duas pessoas vivem no seu corpo: você e o Espírito Santo. Como o apóstolo Paulo explicou: Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? (1 Coríntios 6.19). E o Espírito Santo não está passivo no seu interior. Por exemplo, assim como você pode escolher pensamentos para colocar na sua mente, ele também pode – e de fato coloca. Você pode decidir 38 Legado que vai pensar por alguns instantes sobre o que deve fazer esta noite; da mesma forma, ele pode plantar pensamentos sobre Deus e as coisas de Deus. Esta ação faz parte do processo que ele usa para levar um cristão a se inclinar para o Espírito (Romanos 8.5). Outra parte da ação dele é levar você a ter sede de Deus e anseios (como “Aba, Pai”, ver Romanos 8.15), assim como outros sinais de vitalidade espiritual. Charles Spurgeon, o singular pregador batista britânico do século XIX, descreveu assim a bênção da sede: “Quando alguém suspira por Deus, é fruto de uma vida secreta no seu interior: ele não suspiraria muito tempo por Deus por sua própria natureza. Ninguém tem sede por Deus enquanto ainda estiver no seu estado carnal (ou seja, não convertido). A pessoa não regenerada suspira por qualquer coisa antes de suspirar por Deus. É prova da natureza renovada ter um anseio por Deus; é uma obra de graça na sua alma e você deve ser profundamente agradecido por isso.” 2. Deus coloca sede espiritual a fim de poder saciá-la Deus não acende o fogo do desejo por ele a fim de nos frustrar ou para zombar de nós. Ele mesmo declarou: Não disse à descendência de Jacó: Bus- Revista Betel cai-me em vão (Isaías 45.19). O que se aplica à linhagem natural de Jacó (Israel) é válido também para seus descendentes espirituais – aqueles que crêem no Messias de Israel, Jesus. Deus gera sede no homem por ele a fim de poder saciá-la com sua própria vida. Pois dessedentou a alma sequiosa é a promessa de Salmo 107.9, e fartou de bens a alma faminta. Jesus garante que são bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos (Mateus 5.6, ênfase acrescentada). Jonathan Edwards argumentava que, de acordo com as Escrituras, “os tementes a Deus são destinados a experimentar felicidade inconcebível e além do conhecimento humano”. E acrescentava: “Sem dúvida, Deus alcançará seu objetivo em gloriosa perfeição”. Se Deus, de fato, nos criou para fruirmos de inimaginável plenitude de alegria, e plantou em nós o anseio para a alcançarmos, então certamente também “fez o homem capaz de experimentar este imensurável e sublime êxtase espiritual… Deduzimos que o homem foi designado para uma maravilhosa bem-aventurança, já que Deus o criou com anseios e desejos que não podem ser satisfeitos com nada menos que uma felicidade muito grande… Um desejo que não pudesse ser satisfeito seria um eterno tormento.” Revista Betel Legado Edwards defendia, obviamente, que estes “anseios e desejos” eram evidências de sede por Deus, um anseio que só pode ser completa e finalmente saciado no desfrutar eterno e ilimitado de comunhão face a face com o próprio Senhor na vida celestial. Ao contemplar sua glória, os regenerados testificarão que estão abundantemente saciados com a plenitude da casa do Senhor e que da torrente das suas delícias ele lhes dá de beber (Salmos 36.8). Você tem sede de Deus? Sede é uma parte do plano de Deus que nos conduz em direção ao seu magnífico e inconcebível alvo eterno! Parte 3 Passos Práticos para Ter Sede de Deus Se você possui verdadeira sede por Deus, seu anseio sem dúvida é ter mais anseio ainda. Como insistia Jonathan Edwards: “Verdadeiros e graciosos anseios por santidade não são meros desejos inúteis ou infrutíferos”. 1. Medite na Palavra de Deus Observe que devemos “meditar” e não meramente ler. Muitas pessoas que estão desfalecendo espiritualmente são leitores assíduos da Bíblia. Sem o auxílio da meditação, adver- 39 tia o grande homem de fé e oração, George Müller, a simples leitura da Palavra de Deus pode tornar-se informação que apenas “passa pelas nossas mentes, tal qual água que passa por um encanamento”. Pense no fluxo incessante de informação que passa pela sua mente diariamente – todas as coisas que vê, lê e ouve. A maioria das pessoas luta com “sobrecarga de informação”, sem conseguir acompanhar a entrada fenomenal de dados em suas mentes. Se não tomarmos cuidado, as palavras da Bíblia podem se transformar em mais uma corrente de dados no rio cada vez mais volumoso que passa pelos nossos pensamentos. Assim que acabam de passar, empurradas pela pressão do fluxo de outras informações, logo passamos a focalizar o que está agora diante de nós. Tantas coisas passam pelos nossos cérebros que, se não absorvermos algumas delas, não seremos afetados por nenhuma. Certamente, se devemos absorver alguma coisa de tudo aquilo que passa por nossas mentes, devem ser as palavras inspiradas do céu. Se não absorvermos a água da Palavra de Deus, não teremos como matar nossa sede espiritual. Meditação é o meio de absorção. Gaste 25 a 50 por cento do seu tempo de leitura meditando em al- 40 Legado gum versículo, frase ou palavra daquela passagem. Faça perguntas a respeito. Ore sobre o assunto. Pegue a caneta e rabisque seus pensamentos num bloco de papel. Procure pelo menos uma maneira de aplicar ou viver aquilo. Demore um pouco ali. Sature sua alma lentamente na água da Palavra e descobrirá que isso não só trará refrigério, mas também estimulará sede por muito mais. 2. Ore através das Escrituras Depois de ter lido uma passagem da Bíblia, ore usando uma parte do mesmo trecho. Quer tenha lido apenas um capítulo ou vários, escolha depois uma parte da sua leitura e, versículo por versículo, permita que as palavras de Deus se tornem as asas das suas palavras a ele. Embora seja possível orar usando qualquer trecho das Escrituras, recomendo especialmente que, indiferente de onde tenha feito sua leitura, você depois vire para os Salmos e use um deles para orientar sua oração. O livro de Salmos era o divinamente inspirado hinário de Israel. Além disso, duas vezes no Novo Testamento (ver Efésios 5.19 e Cl 3.16) recomenda-se aos cristãos que cantem salmos. De forma diferente de todo o restante da Bíblia, os Salmos foram inspirados por Deus para o explícito propósito de serem refletidos Revista Betel para Deus. Suponhamos que você tenha escolhido o Salmo 63 para sua oração hoje. O primeiro versículo diz: Ó Deus, tu és o meu Deus forte, eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, numa terra árida, exausta, sem água. Você poderia entrar na oração confessando que o Senhor é o seu Deus, agradecendo-o graciosamente por isto e depois simplesmente exultando em Deus pelo fato dele ser Deus. Em seguida, poderia expressar os anseios e suspiros que sente por ele, reconhecendo que é uma bênção divina ter uma sede de Deus plantada no seu coração pelo próprio Deus. Talvez depois sinta desejo de pedir ao Senhor que plante esta sede divina nos seus filhos ou em alguém com quem tenha falado do evangelho. E assim poderia caminhar pelo salmo, orando a respeito do texto e daquilo que lhe ocorre enquanto lê. Se nada lhe vier à mente enquanto está meditando sobre um versículo ou trecho do capítulo, passe adiante. Os elementos poéticos, entranhados e espiritualmente transparentes dos Salmos freqüentemente combinam de forma que elevam a alma e acendem uma paixão por Deus. Tratam de forma realista com toda a gama das emoções humanas e podem tomá-lo de qualquer situação Revista Betel Legado espiritual onde estiver e elevá-lo em direção ao céu. Nada consegue renovar tão infalivelmente meus anseios por Deus e atirar-me como foguete 41 ao nível experimental de comunhão com ele do que orar com as palavras dos Salmos. Tudo em que Paulo se gloriava estava centralizado na cruz: não na Encarnação, mas na cruz; não no Exemplo Divino, mas na cruz; não na Segunda Vinda, mas na cruz; não em seus próprios trabalhos, sofrimentos e lágrimas, mas na cruz. O coração de toda revelação incide sempre sobre os estendidos braços da cruz. -- The Overcomer O amor do Senhor Jesus abrange toda a raça e, no entanto, ele me escolhe e se concentra em mim. -- D. M. Panton Minha vida é concentrada e controlada pela consciência de que alguém me ama com amor onipotente — todos os portões do céu não podem prevalecer contra ele; um amor onipresente — nunca há uma condição de vida na qual ele não se revela; um amor onisciente — alcançando as desconhecidas necessidades da alma. -- S. H. Tyng “Para mim o viver é Cristo.” Portanto, para mim agora nada é impossível, nenhuma tentação é inconquistável, nenhuma obra outorgada por Deus é impraticável, nenhuma coroa é inconquistável. -- D. M. Panton Que o Senhor nos leve não somente a ter mais da Sua vida, mas também menos de nós mesmos. -- Watchman Nee O Evangelho tem de ser antagonista a tudo o que é contrário a Deus. -- C. A. Fox 42 Legado O Motivo Mais Importante para o Arrependimento Revista Betel Charles Haddon Spurgeon “Não há arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz”. Olharão para aquele a quem traspassaram. Zacarias 12.10. O quebrantamento santo que faz um homem lamentar o seu pecado surge de uma operação divina. O homem caído não pode renovar seu próprio coração. O diamante pode mudar seu próprio estado para tornar-se maleável, ou o granito amolecer a si mesmo, transformando-se em argila? Somente aquele que estendeu os céus e lançou os fundamentos da terra pode formar e reformar o espírito do homem. O poder de fazer que da rocha de nossa natureza fluam rios de arrependimento não está na própria rocha. O poder jaz no onipotente Espírito de Deus… Quando Deus lida com a mente do homem, por meio de suas operações secretas e misteriosas, Ele a enche com uma nova vida, percepção e emoção. Deus… me fez desmaiar o coração ( Jó 23.16), disse Jó. E, no melhor sentido, isso é verdade. O Espírito Santo nos torna maleáveis e nos tornamos receptíveis às suas impressões sagradas… Agora, quero abordar o âmago Revista Betel Legado e a essência de nosso assunto. O enternecimento do coração e o lamento pelo pecado são produzidos por olharmos, pela fé, para o Filho de Deus traspassado. A verdadeira tristeza pelo pecado não acontece sem o Espírito de Deus. Mas o Espírito de Deus não realiza essa tristeza sem levar-nos a olhar para Jesus crucificado. Não há verdadeiro lamento pelo pecado enquanto não vemos a Cristo… ”Ó alma, quando você chega a contemplar Aquele para quem todos deveriam olhar, Aquele que foi traspassado, então seus olhos começam a lamentar aquilo pelo que todos deveriam chorar – o pecado que imolou o seu Salvador!” Não há arrependimento salvífico sem a contemplação da cruz… O arrependimento cristão é o único arrependimento aceitável. E a essência desse arrependimento é olhar para Aquele que foi moído pelos pecados… Observe isto: quando o Espírito Santo realmente opera, Ele leva a alma a olhar para Cristo. Nunca uma pessoa recebeu o Espírito de Deus para a salvação, sem que tenha recebido dEle o olhar para Cristo e o lamentar por seus pecados. A fé e o arrependimento são gerados e prosperam juntos. Ninguém deve separar o que Deus uniu! Ninguém pode arrepender-se do pecado sem crer em Jesus, nem crer em Jesus 43 sem arrepender-se do pecado. Olhe, então, com amor para Aquele que derramou seu sangue, na cruz, por você. Por meio desse olhar, você obterá perdão e quebrantamento. Quão admirável é o fato de que todos os nossos males podem ser curados por um único remédio: Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra (Isaías 45.22). Contudo, ninguém olhará para Cristo sem que o Espírito de Deus o incline a fazer isso. Ele não conduz uma pessoa à salvação, se ela não se rende às suas influências e não volve seu olhar para Jesus. O olhar que nos abençoa, produzindo quebrantamento de coração, é o olhar para Jesus como Aquele que foi traspassado. Quero me demorar nisso por um momento. Não é somente o olhar para Jesus como Deus que afeta o coração, mas também olhar para este mesmo Senhor e Deus como Aquele que foi crucificado por nós. Vemos o Senhor traspassado, e, em seguida, inicia-se o traspassamento de nosso coração. Quando o Espírito Santo nos revela Jesus, os nossos pecados também começam a ser expostos. Venham, almas queridas, vamos juntos à cruz, por um pouco, e notemos quem era Aquele que recebeu a lançada do soldado romano. Olhe para o seu lado e observe aquela terrível ferida que atingiu seu coração e 44 Legado desencadeou um duplo fluxo de sangue. O centurião disse: Verdadeiramente este era Filho de Deus (Mateus 27.54). Aquele que, por natureza, é Deus e governa sobre tudo, sem o Qual nada do que foi feito se fez ( João 1.3), tomou sobre Si mesmo nossa natureza e se tornou homem, como nós, mas não tinha qualquer mácula de pecado. E, vivendo em forma humana, foi obediente até à morte, morte de cruz. Foi Ele quem morreu! Ele, o único que possui a imortalidade, condescendeu em morrer! Ele, que era toda a glória e poder, sim, Ele morreu! Ele, que era toda a ternura e graça, sim, Ele morreu! Infinita bondade esteve pendurada na cruz! Beleza indescritível foi traspassada com uma lança! Essa tragédia excede todas as outras! Por mais perversa que tenha sido a ingratidão do homem em outros casos, a sua mais perversa ingratidão se expressou no caso de Jesus! Por mais horrível que tenha sido o ódio do homem contra a virtude, o seu ódio mais cruel foi manifestado contra Jesus! No caso de Jesus, o inferno superou todas as suas vilezas anteriores, clamando: Este é o herdeiro; ora, vamos, matemo-lo (Mateus 21.38). Deus habitou entre nós, e os homens não O aceitaram. Visto que o homem foi capaz de traspassar e matar o seu Deus, ele cometeu um Revista Betel pecado horrível. O homem matou o Senhor Jesus Cristo e O traspassou com uma lança! Nesse ato, o homem mostrou o que fariam com o próprio Eterno, se pudesse chegar até Ele. O homem é, no coração, assassino de Deus. Ele se alegria se Deus não existisse. Ele diz em seu coração: Não há Deus (Salmos 14.1). Se a sua mão pudesse ir tão longe quanto o seu coração, Deus não existiria nem mesmo por mais uma hora. Isto dá ao traspassamento de nosso Senhor uma forte intensidade de pecado: foi o traspassamento de Deus. Por quê? Por que razão o bom Deus foi assim perseguido? Oh! pelo amor de nosso Senhor Jesus Cristo, pela glória de sua Pessoa, pela perfeição de seu caráter, eu lhe peço – admire-se e envergonhe-se de que Ele foi traspassado! Não foi uma morte comum. Aquele assassinato não foi um crime comum. Ó homem, Aquele que foi traspassado com a lança era o seu Deus! Na cruz, contemple o seu Criador, o seu Benfeitor, o seu melhor Amigo! Olhe firmemente para Aquele que foi traspassado e observe o Sofredor que é descrito na palavra “traspassado”. Nosso Senhor sofreu severa e terrivelmente. Não posso, em uma mensagem, descrever a história de seus sofrimentos – as tristezas de sua vida de pobreza e perseguição; as Revista Betel Legado angústias do Getsêmani e do suor de sangue; as tristezas de seu abandono, traição e negação; as tristezas no palácio de Pilatos; os golpes de chicotes, o cuspe e o escárnio; as tristezas da cruz, com sua desonra e agonia… Nosso Senhor foi feito maldição por nós. A penalidade do pecado ou o que lhe era equivalente, Ele a suportou, carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados (1 Pedro 2.24). O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados (Isaías 53.5). Irmãos, os sofrimentos de Jesus devem amolecer nosso coração! Nesta manhã, lamento o fato de que não me entristeço como deveria. Acuso a mim mesmo daquele endurecimento de coração que eu condeno, visto que posso contar-lhes essa história sem enternecimento de coração. Os sofrimentos de meu Senhor são indescritíveis. Examinem e verifiquem se já houve tristeza semelhante à de Jesus! A sua tristeza foi abismal e insondável… Se você considerar firmemente a Jesus traspassado por nossos pecados e tudo que isso significa, seu coração se dilatará! Mais cedo ou mais tarde, a cruz desenvolverá todo sentimento que você será capaz de produzir e lhe dará capacidade para mais. Quando o Espírito Santo põe a cruz no coração, o coração se dissolve em ternura… A dureza de coração 45 desaparece quando, com profundo temor, contemplamos a Jesus sendo morto. Devemos também observar quem foram os que traspassaram a Jesus. Olharão para aquele a quem traspassaram. Ambos os verbos se referem às mesmas pessoas. Nós matamos o Salvador, nós que olhamos para Ele e vivemos… No caso do Salvador, o pecado foi a causa de sua morte. O pecado O traspassou. O pecado de quem? Não foi o pecado dEle mesmo, pois Ele não tinha pecado, e nenhum engano se achou em seus lábios. Pilatos disse: Não vejo neste homem crime algum (Lucas 23.4). Irmãos, o Messias foi morto, mas não por causa dEle mesmo. Nossos pecados mataram o Salvador. Ele sofreu porque não havia outra maneira de vindicar a justiça de Deus e de prover-nos um escape da condenação. A espada, que deveria cair sobre nós, foi despertada contra o Pastor do Senhor, contra o Homem que era o Companheiro de Jeová (Zacarias 13.7) Se isso não quebranta nem amolece nosso coração, observemos por que Ele foi levado a uma posição em que poderia ser traspassado por nossos pecados. Foi o amor, poderoso amor, nada mais do que o amor, que O levou até a cruz. Nenhuma outra acusação Lhe pode ser atribuída, exceto esta: Ele era culpado de amor excessivo. Ele 46 Legado se colocou no caminho do traspassamento, porque resolvera salvar-nos. Ouviremos isso, pensaremos nisso, consideraremos isso e permaneceremos apáticos? Somos piores do que os brutos? Tudo que é humano abandonou a nossa humanidade? Se Deus, o Espírito Santo, está agindo agora, uma contemplação de Cristo derreterá o nosso coração de pedra. Quero dizer-lhes ainda, ó amados: quanto mais olharmos para Jesus crucificado, tanto mais lamentaremos o nosso pecado. A reflexão crescente produzirá sensibilidade crescente. Desejo que olhem muito para Aquele que foi traspassado, para que odeiem cada vez mais o pecado. Livros que expõem a paixão de nosso Senhor e hinos que cantam a sua cruz sempre foram bastante queridos pelos crentes piedosos, por causa de sua influência sobre o coração e a consciência deles. Vivam no Calvário, amados, até que viver e amar se tornem a mesma coisa. Diria também: olhem para Aquele que foi traspassado, até que o coração de vocês seja traspassado. Um antigo teólogo dizia: “Olhe Revista Betel para a cruz, até que tudo que está na cruz esteja em seu coração”. E acrescentou: “Olhe para Jesus, até que Ele olhe para você”. Olhem com firmeza para sua Pessoa sofredora, até que Ele pareça estar volvendo sua cabeça e olhando para você, assim como o fez com Pedro, que saiu e chorou amargamente. Olhe para Jesus, até que você veja a si mesmo. Lamente por Ele, até que lamente por seu próprio pecado… Ele sofreu em lugar, em favor e em benefício de homens culpados. Isso é o evangelho. Não importa o que os outros preguem, nós pregamos a Cristo crucificado (1 Coríntios 1.23). Sempre levaremos a cruz na vanguarda. A essência do evangelho é Cristo como substituto do pecador. Não evitamos falar sobre a doutrina do Segundo Advento, mas, antes e acima de tudo, pregamos Aquele que foi traspassado. Isso levará ao arrependimento, quando o Espírito de graça for derramado. Extraído do sermão matinal de domingo 18 de setembro de 1887, no Tabernáculo Metropolitano de Londres. A vontade de Deus e a minha felicidade são sinônimos. -- Evan Hopkins 47 Revista Betel Associação Betel A Associação Betel é uma entidade juridicamente organizada, sem quaisquer vínculos denominacionais ou fins lucrativos, mantida por recursos advindos de colaboração espontânea de pessoas que apóiam seus objetivos, cujo fim é viabilizar a pregação do Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Os objetivos da Associação Betel: a) Apoiar missionários e pregadores (uma vez confirmados em seus compromissos com a verdade do Novo Nascimento pela nossa morte e ressurreição com Cristo) para a pregação do Evangelho de Cristo; b) Produzir e adquirir literatura e material evangelístico para uso dos missionários e dos grupos por eles atendidos, como: folhetos, livretos, estudos dirigidos, livros evangelísticos, Bíblias, fitas de áudio e afins; c) Assistência Social, sempre vinculada ao Evangelismo, pois “a fé sem obras é morta em si mesma”. A Associação Betel é mantida por colaborações espontâneas de pessoas físicas ou jurídicas, que apóiam seus objetivos. São basicamente pessoas regeneradas, contribuintes muitas vezes anônimos, mas que se fazem participantes da pregação, para que também outras pessoas, até mesmo por eles desconhecidas, possam gozar da mesma graça e esperança. São aqueles que compreendem com amor e dedicação as Palavras do Senhor Jesus Cristo: “Indo por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura”. 48 Revista Betel CNPJ 72219207/0001-62 Produção: Associação Betel Diagramação e fotos dos artigos André Henrique Santos Impressão Idealiza Gráfica REVISTA BETEL é uma publicação trimestral que visa a edificação dos cristãos. Contém artigos e estudos bíblicos centrados na pessoa do Senhor Jesus Cristo. Esta publicação é sustentada por doações voluntárias de irmãos em Cristo e distribuída aos leitores gratuitamente. 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