perda da visão central Visão maculada Principal causa de cegueira entre os idosos, a degenerescência macular relacionada com a idade começa a revelar-se depois dos 50 anos. A visão distorcida e enevoada é um dos sinais de alerta Visão de doente com DMI Todo o campo de visão apresenta-se nítido. Cores e contornos são percetíveis, é possível realizar todas as tarefas do dia-a-dia. sinais de alerta Sintomas da dmi Caso reúna estes sintomas, consulte o médico. ´ ´ Deixar de ver objetos de forma nítida. Visão distorcida. Os objetos aparentam formas e tamanhos alterados e as linhas tornam-se onduladas. As cores ficam pouco claras. Nos casos mais graves, pode surgir uma mancha escura no centro do campo de visão. Torna-se difícil ler, ver televisão, conduzir ou escrever. ´ ´ Em Portugal, 12% das pessoas com mais de 55 anos sofre de DMI. No total, são 300 mil os portugueses afetados O centro do campo de visão aparece desfocado ou com uma mancha escura. Deixa de conseguir ler, conduzir ou enfiar linha numa agulha. A degenerescência macular relacionada com a idade (DMI) é um processo degenerativo que afeta a mácula, - a parte do fundo do olho responsável pela visão central. A mácula permite realizar tarefas tão corriqueiras como guiar, ler, ver televisão ou enfiar a linha numa agulha. A origem da DMI não é clara. Mas, nos países desenvolvidos, graças ao sucesso nos tratamentos de doenças como a diabetes e as cataratas, a DMI passou a ser a principal responsável pelos casos de cegueira. Trata-se de um processo degenerativo que afeta parte da população acima dos 50 anos. Dados da Direção-Geral de Saúde estimam que, em Portugal, 12% das pessoas com mais de 55 anos sofre da doença. Calcula-se que em Portugal surjam a cada ano cerca de 2500 a 3000 novos casos, perfazendo um total de 300 mil pessoas afetadas. Destas, 45 mil correm elevado risco de cegar. Na Europa, mais de 6,5 milhões de pessoas sofrem de DMI na sua forma tardia (cegueira). Existem dois tipos de DMI: atrófica (seca) e exsudativa (húmida). No primeiro, a doença surge depois de os vasos sanguíneos do coroide e da retina ficarem total ou parcialmente destruídos. Os vasos desaparecem lentamente, a parte central da retina atrofia e torna-se muito fina e pigmentada, formando-se depósitos amarelos na má- > teste saúde 105 outubro/novembro 2013 Visão normal 27 perda da visão central > A DMI húmida não tem cura, mas há tratamentos que a controlam cula. O olho parece começar a desenvolver uma mancha enevoada no centro e os doentes perdem a visão gradualmente, num processo que pode levar anos. A forma exsudativa é mais grave e responsável por 20% dos casos de DMI. Nesta variante, há o desenvolvimento de vasos sanguíneos anormais por trás da retina que, por serem muito finos, rompem-se e causam hemorragias e cicatrizes. Ao contrário da DMI atrófica, a exsudativa tem tratamento, mas não cura. Névoa de alarme ■ Além da idade, há fatores de risco a ter em conta. A saber: o historial familiar da doença, o tabagismo (os fumadores apresentam o dobro do risco, em relação aos não-fumadores), doença cardiovascular, níveis elevados de colesterol e, em alguns casos, cirurgia prévia às cataratas. ■ Os principais sinais de alerta são a perda de capacidade de ver objetos com clareza, a visão distorcida e, nos casos mais graves, o aparecimento de uma zona escura ou vazia no centro do campo de visão. Em geral, ambos os olhos são afetados, podendo os sintomas surgir de forma gradual ou repentina. A DMI surge, sobretudo, em adultos com mais de 55 anos permitem testar a visão de letras e símbolos à distância, e oftalmascopias, para observar a retina com uma luz. Em alguns casos, o médico pode sugerir uma angiografia fluorescente que, com a injeção de um líquido de contraste, permite visualizar eventuais novos vasos e lesões da mácula. ■ Em casa, podem ser feitos testes como o da grelha de Amsler. O procedimento é simples: tape o olho com a mão e, com a folha a cerca de 30 centímetros, fixe a imagem. Num olho saudável, as linhas deverão surgir direitas e definidas. Repete-se depois o teste ao outro olho. Pessoas que usam óculos devem colocá-los para fazer o teste. Atenuar os sintomas Mesmo nas situações mais graves, permanece sempre alguma visão periférica, pelo que não há uma cegueira total. ■ Na presença destes sintomas, é recomendada uma visita ao oftalmologista - ou ao médico de família, que o encaminhará para o especialista -, cuja bateria de testes podem confirmar ou despistar a DMI. Na consulta deverão ser feitos testes de acuidade visual,que ■ A DMI seca não tem tratamento eficaz. Alguns estudos indicam que o consumo de zinco, vitaminas e antioxidantes pode retardar a progressão da doença quando já existem lesões, mas outros indicam que o betacaroteno (presente nos alimentos ricos em vitamina A), pode aumentar o risco de cancro do pulmão em fumadores. Nestes casos, os suplementos vitamínicos são desaconselhados. Para a DMI húmida existem trata- O teste Amsler ajuda-o a testar a visão em casa teste saúde 105 outubro/novembro 2013 Situação normal 28 Segure o papel a 30 centímetros dos olhos e fixe o ponto.As linhas da grelha surgem alinhadas e a bola escura bem centrada. Visão alterada Ao fim de algum tempo a fixar a grelha, as linhas aparecem distorcidas e algo desfocadas. É um sinal de que algo está errado. Nos casos em que há uma alteração, a visão torna-se desfocada. A bola mais escura é quase impercetível e as linhas aparecem distorcidas. Também pode surgir uma espécie de "borrão" no centro do campo de visão. As linhas surgem distorcidas. testemunho uma vida normal graças ao tratamento João Cardoso, 70 anos, consultor, Parede mentos, mas todos com riscos. ■ A fotocoagulação com laser destrói os vasos sanguíneos anómalos e previne futuras lesões, sendo eficaz em alguns doentes para limitar as lesões da mácula central. Mas há o risco de destruição de tecido saudável, levando à formação de uma mancha de cegueira permanente. É uma terapia aplicada em lesões graves, de pequena dimensão, bem definidas, localizadas no exterior da fóvea (mácula central). ■ Já na terapia de laser fotodinâmico, em que uma substância injetada no organismo é depois ativada no olho com recurso ao laser, há uma maior preservação do tecido saudável. Isto porque o tecido dos vasos sanguíneos anómalos faz uma maior retenção do medicamento injetado do que o tecido saudável. É indicada para doentes com lesões menos graves e visão saudável num dos olhos. ■ Existem ainda drogas antiangio- Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) onde fez exames para determinar se a sua DMI era seca ou húmida. A sofrer da variante húmida, João iniciou o tratamento com bevacizumab (Avastin). "Foi como uma luz que me apareceu. Pareço outro!", congratula-se. O doente, que tinha perdido 60% de visão, acabou por recuperar 40 por cento. "Faço a minha vida: conduzo, continuo a trabalhar, viajo. Ler é que é mais complicado", afirma. A cada dois meses e meio, João toma a injeção que, garante, "não é dolorosa". Ambos os olhos estão afetados, mas só o direito é injetado por ter uma atividade neovascular constante, o que não se verifica na vista esquerda. "Enquanto puder, vou continuar a fazer a minha vida, não vou parar. Às vezes penso por quanto tempo poderei continuar a fazer o tratamento e o que farei caso tenha de parar. génicas, que são injetadas diretamente no olho e cujo tratamento deve ser repetido mensalmente em doentes com lesões graves da fóvea. Estes fármacos, como o ranibuzamab (Lucentis) e o bevacizumab (Avastin), bloqueiam o desenvolvimento de novos vasos sanguíneos e as hemorragias. ■ O Avastin, bastante mais barato, tem sido alvo de controvérsia, por suspeita de riscos acrescidos. Contudo, vários estudos, incluindo o publicado na revista The Lancet, em julho de 2013, revelaram que ambos, se administrados regularmente, têm graus de eficácia e segurança semelhantes. É imperioso que autoridades de saúde esclareçam o assunto, em nome da segurança dos doentes e pela racionalização dos custos. ■ Há ainda a possibilidade de cirurgia, movimentação da mácula ou o uso de corticoides, tratamentos com riscos acrescidos. Mas as doutoras que me têm acompanhado no hospital Amadora-Sintra são incansáveis", elogia. Com uma vida ativa, dividida entre o trabalho e a família, João beneficia dos avanços da medicina: "Há 15 anos, teria ficado cego. Hoje faço uma vida normal". teste saúde aconselha Pare de fumar e faça exercício ´ Deixar de fumar é a medida preventiva que apresenta resultados mais claros, quer na prevenção, quer no atraso da progressão da DMI. ´ ´ ´ ´ Exercício físico. A atividade física regular reduz o risco de desenvolver esta doença. O uso de óculos de sol é um modo de prevenção razoável, mas não tem evidências claras. Controlar o colesterol é benéfico para a saúde em geral e reduz os riscos de desenvolver DMI. Uma dieta saudável é recomendável, mas não está provado que os suplementos vitamínicos resultem como forma de prevenção. ´ Ir ao oftalmologista regularmente é uma boa prática que ajuda à deteção precoce da DMI. teste saúde 105 outubro/novembro 2013 Foi aos 67 anos que João Cardoso detetou os primeiros sinais da doença. "Ia no carro com o meu genro, para a passagem de ano, e ele perguntou-me se eu via bem porque estava a acender os máximos para ver as placas", recorda. João respondeu que via bem, mas, ao chegar ao restaurante, foi incapaz de ler a frase que estava numa das paredes. Da mesa, era o único que não o conseguia fazer. Há algum tempo que João via algumas imagens desfocadas: "Confundia o 5 com o 6, por exemplo", conta. Preocupado, à chegada a Lisboa, consultou uma médica que lhe receitou exames. Mas só alguns meses mais tarde é que João fez a angiografia que deu o diagnóstico: DMI. "O oftalmologista foi um bocado duro. Eu não sabia o que era a DMI e fiquei aflito!", recorda. Passou depois a ser acompanhado pela equipa de oftalmologia do Hospital 29