review article metaplasia óssea do endométrio: uma revisão

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Rev Pat Tocantins
V. 1, n. 04, p. 14-24, 2014
SOCIEDADE DE PATOLOGIA DO TOCANTINS
REVIEW ARTICLE
METAPLASIA ÓSSEA DO ENDOMÉTRIO: UMA REVISÃO DA
LITERATURA
Renata Moreira Marques Passos1 Stephanie Yuka Matwijszyn Nagano 1, Micael Cruz Santana 1 e Virgílio
Ribeiro Guedes2
RESUMO
Introdução: A metaplasia óssea do endométrio é uma doença rara, na qual ocorre
formação de osso a partir de outro tipo de tecido.
Materiais e métodos: Foi realizada revisão a partir bases eletrônicas de dados
bibliográficos da MEDLINE E LILACS, utilizando – se dos seguintes termos:
metaplasia, óssea, endométrio, histeroscopia, fertilidade.
Revisão: A metaplasia óssea provavelmente tem origem em células estromais que
sofrem calcificação e passam a produzir tecido ósseo. A análise genética do DNA pode
confirmar se o material ósseo é proveniente da mãe ou do feto. O quadro clínico inclui
metrorragia, irregularidade menstrual, dor pélvica, passagem de fragmentos ósseos e
infertilidade secundária. A histeroscopia foi considerada padrão-ouro para diagnóstico e
tratamento desta entidade.
Conclusão: É fundamental que a metaplasia óssea seja investigada, principalmente para
evitar uma histerectomia desnecessária.O prognóstico é bom, e as mulheres geralmente
recuperam a fertilidade após um ano.
Palavras – chave: metaplasia; endométrio; osso; histeroscopia; fertilidade.
1 - Graduando do Curso de Medicina pela Fundação Universidade Federal do Tocantins.
2- Professor orientador: Mestrando em ciências da Saúde e Professor da Fundação Universidade Federal
do Tocantins, Brasil.
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etiologia, como: calcificação distrófica,
INTRODUÇÃO
do
heterotopia, calcificação metastática,
endométrio é uma doença rara, em que
endometrite pós-abortiva, curetagem,
ocorre formação de osso a partir de um
ossos fetais retidos e terapia estrogênica
tecido diferente, dentro de um mesmo
pós-aborto (HANDIGUND; PATTED,
indivíduo. Normalmente, esse termo
2013).
A
metaplasia
óssea
não se aplica à persistência de osso
Segundo Manzur; Varela, 2010,
embrionário ou fetal resultando em
em 80% dos casos há um histórico de
calcificação ou ossificação. É uma
abortos
condição raramente encontrada, com
geralmente a partir de 12 semanas de
menos de 100 casos descritos na
gestação. Para Parente et al, 2009, a
literatura, e com incidência estimada de
metaplasia óssea é responsável por
3/10.000. A maioria dos casos ocorre
0,15% dos casos encaminhados para
nas mulheres em idade reprodutiva,
clínicas
porém também há relatos em mulheres
histeroscopia.Além
após a menopausa (FAWAD, 2012).
Fawad, 2012, a apresentação conjunta
espontâneos
onde
primeiro caso de metaplasia óssea em
do
1884, e atribuíram a presença do tecido
secundária.
no
endométrio
à
são
induzidos,
realizadas
disso,
a
segundo
mais clássica de uma metaplasia óssea
Sorinolaet al. descreveram o
ósseo
ou
endométrio
É
uma
é
a
intenção
infertilidade
desse
artigo
dos
contribuir para a discussão deste tema,
fibroblastos em osteoblastos. Em 1923,
através de uma revisão da literatura
Thaleret al. associaram a causa da
sobre os aspectos centrais da literatura a
metaplasia
respeito
diferenciação
óssea
espontânea
com
um
aborto
da
metaplasia
óssea
anterior (CAYUELA et al., 2009).
endométrio.
Entretanto, a patogenia desta doença
MATERIAIS E MÉTODOS
do
Após definição do tema – chave
ainda não é completamente esclarecida.
A maioria dos autores acredita que o
foi
osso
da
médica mediante consulta às principais
transformação de células estromais do
publicações sobre o tema. O material foi
endométrio em células osteoblásticas,
identificado com auxílio das bases
que passam a produzir tecido ósseo.
eletrônicas de dados bibliográficos da
Entretanto, há outras teorias para sua
National
formado
é
resultado
15
realizada
revisão
Library
of
da
literatura
Medicine
–
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MEDLINE
(http://
- ETIOLOGIA
www.ncbi.nlm.nih.gov/PubMed/); e da
Literatura
Ciências
Latino-Americana
da
Saúde
-
Apesar das diversas teorias que
em
surgiram para explicar a etiologia da
LILACS
metaplasia óssea, sua causa ainda não é
(http://www.bireme.br/).
totalmente esclarecida.
Foram buscados artigos entre os
Para Fawad (2012), a metaplasia
anos de 2009 e 2013, a partir das
óssea
seguintes palavras-chave: metaplasia
acontecer
Segundo este
analisado, comparado e avaliado quanto
maioria
referências disponibilizadas nos artigos
dos
metaplasia
caso envolvendo os principais aspectos
casos.Manzur;
Varela
óssea
endometrial
têm
história prévia de aborto.
da metaplasia óssea do endométrio.
A maioria dos pacientes está em
Dentre os temas pesquisados estavam:
idade reprodutiva (entre 20 e 40 anos), e
etiologia, patogenia, quadro clínico,
tem histórico de aborto no primeiro
diagnóstico, análise genética, relação
trimestre, podendo ser terapêutico ou
e
espontâneo.
artigos
ósseatambém
publicados em português, espanhol,
foram
a ossificação
80% dos pacientes diagnosticados com
que continham análise ou relatos de
francês
parto.
publicados na literatura, mostraram que
Foram incluídas as pesquisas
e
autor,
o
(2010, em uma revisão de 50 casos
de revisão encontrados.
inglês
durante
ou
precedida por histórico de aborto na
adotada foi a observação minuciosa das
Somente
aborto
útero, ovário e na vagina, sendo
do tema em questão. Outra estratégia
prognóstico.
após
heterotópica pode ocorrer no colo do
à sua contribuição para a análise crítica
tratamento
ainda
instrumentação
artigos na sua íntegra, foi devidamente
fertilidade,
tecido
implantação de tecido ósseo pode
material coletado, que reuniu dez
a
um
do endométrio sofrem transformação. A
histeroscopia
(hysteroscopy); fertilidade (fertility). O
com
em
metaplásico em que células estromais
(metaplasia); óssea (bone);endométrio
(endometrial);
consiste
Entretanto, a metaplasia
já
foi
descrita
em
mulheres pós-menopausa. O intervalo
incluídos.
de tempo entre o aborto antecedente e o
início da ossificação varia de 8 semanas
REVISÃO
até 14 anos. Handigund; Patted, (2013)
descreveram o caso de metaplasia óssea
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endometrial em uma mulher de 62 anos,
longo prazo, essa exposição pode levar
com histórico de aborto há 37 anos
células estromais multipotentes a se
antes de obter este diagnóstico.
diferenciar em células osteoblásticas.
Muitas
ideias
sido
Além disso, a endometrite crônica
publicadas na literatura a fim de
também pode estimular a proliferação
elucidar a patogênese da metaplasia
de
óssea
capacidade
endometrial.
incluem
têm
Algumas
delas
heterotopia,calcificação
células
mesenquimais,
de
diferenciar-se
condroblastos
distrófica, ossificação após endometrite
com
e
em
osteoblastos
(HANDIGUND; PATTED, 2013).
pós-abortiva, calcificação metastática,
Para Gulec et al (2010) um
metaplasia em tecido de cicatrização,
possivel mecanismo para a metaplasia é
piometrite,
a calcificação distrófica em resposta à
terapia
com
estrogênio
prolongado após o aborto e ossos fetais
inflamação
retidos.
ocorre como uma resposta adaptativa,
Alguns
secundários
à
casos
podem
hipercalcemia,
constituemminoria.
ser
mas
em
Handigund;
que
crônica.
um
Esta
tipo
de
mudança
célula
é
transformado em outro mais capaz de
Patted(2013), relataram um caso de
suportar
metaplasia óssea endometrial em uma
adverso.Outro mecanismo que pode
paciente que usava doses elevadas de
explicar ametaplasia óssea é a sua
cálcio e vitamina D, a longo prazo.
origem no epitélio mulleriano, surgindo
Em
doenças
alguns
países,
específicas
devem
outras
determinado
ambiente
na zona de transição e correspondendo a
ser
um
excluídas. Na Índia, por exemplo, a
indicativo
de
histerectomia
(GULEC et al., 2010).
tuberculose endometrial é recorrente, e
Segundo Manzur; Varela (2010),
pode causar infertilidade, assim como a
outro
fator
ossificação endometrial(HANDIGUND;
ossificação
PATTED, 2013).
insuficiência
que
poderia
endometrial
renal
levar
seria
crônica.
à
a
Este
A endometrite crônica é outro
condição provocaria um metabolismo
fator que pode levar à metaplasia.
anormal do cálcio-fósforo, podendo
Handigund;Patted,
originar
(2013)
sugeriram
que a endometrite crônica pós-abortiva
áreas
de
metastática.
pode estimular a liberação de radicais
superóxido e fator de necrose tumoral.A
- QUADRO CLÍNICO
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calcificação
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- RELAÇÃO COM A FERTILIDADE
A metaplasia óssea endometrial
Ao analisar a metaplasia óssea,
pode ocorrer de uma forma mais leve.
Nesses
casos,
os
é importante ressaltar suas implicações
indivíduos
e relações com a fertilidade. A maioria
permanecem assintomáticos (FAWAD,
dos autores considera que a metaplasia
2012). Segundo Handigund; Patted
óssea exerce, no útero, o mesmo efeito
(2013) há relatos de metaplasia óssea
de um dispositivo intrauterino. Para
cervical em uma mulher de 24 anos, que
Fawad,
não apresentava sintomas. Sua única
estudo de Lewis et al, que mediram o
irregularidades
volume de sangue menstrual e as
menstruais, leucorreia, dor pélvica,
concentrações de prostaglandina E2
dispareunia e infertilidade secundária
antes e após remoção dos fragmentos
(HANDIGUND; PATTED, 2013).
ósseos em mulheres com metaplasia
Outros sintomas são a passagem
de
fragmentos
menstrual,
ósseos
no
óssea. O resultado é que o volume
sangue
menometrorragia
menstrual
e
originais
não
levam
e
a
concentração
de
prostaglandina E2 diminuíram em 50%
subfertilidade. Em muitos casos os
sintomas
provoca
cavidade uterina. Este autor descreve o
As apresentações clínicas mais
incluem
metaplasia
subfertilidade por alterar o meio da
queixa era a infertilidade primária.
comuns
a
após a remoção dos ossos (FAWAD,
ao
2012).
diagnóstico precoce (GULEC et al.,
Gulec et. al associaram a
2010).
infertilidade
Além do quadro clínico clássico,
com
uma
endometrite
reativa provocada por este aumento na
é necessária uma atenção especial às
produção
possíveis complicações que podem
resultaria
decorrer da metaplasia óssea. Polat et al.
de
prostaglandinas.
no
Isso
impedimentoda
implantação efetiva do blastocisto.
descreveram um caso em que a paciente
Anualmente, ocorrem um total
apresentava-se com metaplasia óssea no
de 42 milhões de abortos no mundo
endométrio e colo do útero, e seus
todo. Apesar dessa alta prevalência, a
sintomas surgiram após a perfuração
metaplasia óssea do endométrio é
uterina que ocorreu durante a remoção
raramente diagnosticada. Dessa forma,
dos fragmentos ósseos.
para Polat et. al (2011), pacientes que
apresentam
18
apenas
queixas
de
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infertilidade
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secundária
devem
ser
gravidez espontânea foi alcançada em 3
obrigatoriamente avaliadas para excluir
pacientes (dentro de 4 a 16 meses após
o diagnóstico de metaplasia óssea
o tratamento) e o parto ocorreu sem
endometrial. É certo que o número de
complicações.
pacientes
realizou a tentativa de reprodução
diagnosticadas
com
Uma
assistida,
técnicas
gravidez, e a outra paciente foi perdida
imagem
recentemente
desenvolvidas fossem mais utilizadas.
durante
o
sem
pacientes
metaplasia óssea seriam maiores se
de
pórem
das
resultar
seguimento.
O
em
estudo
Lousquyet al. realizaram, em
realizado por Lousquy et. al mostra que
2009, um estudo sobre a fertilidade após
a remoção completa dos fragmentos
o manejo histeroscópico em casos de
ósseos pode ser associada a restauração
metaplasia óssea endometrial. Neste
da fertilidade em alguns casos. Para
estudo, 5 mulheres com idade entre 25-
estes
33
com
fertilidade depende de fatores como:
infertilidade secundária e com abortos
extensão e profundidade da ressecção
recorrentes, e foram diagnosticadas com
endometrial, persistência de fragmentos
metaplasia óssea pela histeroscopia.
ósseos, sinéquias uterinas e fatores de
Entre as mulheres, três apresentaram
infertilidade associados.
aborto
anos
no
apresentaram-se
2º
trimestre,
autores,
a
recuperação
da
duas
Outro artigo feito por Creux et.
apresentaram aborto no 1º trimestre e
al (2010) também analisou a fertilidade
em uma houve morte fetal com 41
após a ressecção histeroscópica da
semanas de gestação. As 5 pacientes
metaplasia óssea. Este relatou um
foram
ressecção
estudo retrospectivo e descritivo de 7
histeroscópica dos fragmentos ósseos,
casos observados no Hospital Jean
realizada sem complicações. O exame
Verdier, na França, que se apresentaram
histopatológico
com infertilidade secundária e abortos.
submetidas
foi
à
realizado
e
confirmou a metaplasia óssea nas 5
A
pacientes. O diagnóstico de tuberculose
pacientes para melhor visualização da
endometrial foi descartado em todos os
cavidade uterina e para retirada de
casos. A histeroscopia pós-operatória
fragmentos
mostrou cavidade uterina normal em 3
histeroscopia realizada não mostrou
mulheres e metaplasia óssea persistente
recorrência de metaplasia óssea em
em 2 pacientes. No seguimento, a
nenhuma das pacientes. Os resultados
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histeroscopia
foi
ósseos.
realizada
A
nas
segunda
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obtidos foram: seis pacientes evoluíram
induzido).
para gestação, sendo 3 espontâneas e 3
análises na literatura.
através de fertilização in vitru ou
Para
Handigund;
isso,
há
diversas
Patterd
(2013)
através de injeção intracitoplasmática de
relataram o estudo de Cayuelaet al., que
espermatozoides, realizadas no primeiro
analisaram o padrão de DNA de uma
ano após o tratamento histeroscópico.
mulher
Na evolução, uma gestação foi perdida
diagnosticada com metaplasia óssea
de vista. Duas foram submetidas a parto
endometrial após um aborto no 3º
normal bem sucedido. Uma teve um
trimestre. O resultado encontrado foi o
aborto espontâneo seguido por outra
mesmo padrão de DNA no sangue do
gestação ectópica. Uma resultou em
paciente e na biopsia do endométrio
gestação gemelar que evoluiu com
contendo material ósseo. Este estudo
síndrome HELLP e exigiu cesárea às 27
concluiu
semanas. E por fim, a última gestação
endometrial, o tecido não é de origem
resultou em atraso de crescimento intra-
fetal, mas derivado da própria paciente.
uterino, exigindo cesariana em 38
semanas.Neste
Creuxet
27
que
anos
de
na
idade,
ossificação
Gulec et. al buscaram algumas
al.
explicações para a origem do material
também demonstraram que, apesar de
ósseo. Segundo estes autores, o osso
resultar em algumas complicações, é
não
possível
o
hematopoiéticas até o terceiro semestre
tratamento histeroscópico da metaplasia
da gestação. Assim, a presença de
óssea, sendo esta a melhor escolha para
medula óssea em fragmentos retirados
o tratamento da ossificação endometrial
da cavidade uterina é uma prova de que
e recuperação da fertilidade.
este material não é de origem fetal. No
haver
estudo,
de
gestação
após
ANÁLISE
GENÉTICA
MATERIAL ÓSSEO
Um
envolvendo
dos
a
principais
metaplasia
preenchido
por
células
entanto, outros autores argumentam que
DO
a
presença
de
medula
pode
ser
atribuível ao fato do osso estar dentro
dilemas
óssea
é
da cavidade endometrial por tempo
é
suficiente para permitir que células
confirmar se o material ósseo no
hematopoiéticas circulem e iniciem a
endométrio é proveniente da própria
formação de medula. Este embate pode
mãe (o que caracteriza metaplasia óssea
ser solucionado ao analisar o DNA dos
verdadeira) ou se é de origem fetal (que
fragmentos.
ocorre após um aborto, espontâneo ou
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Outro estudo envolvendo análise
utilizá-la foram Acharya et. al. Desde
genética da causa de metaplasia óssea
então, há inúmeros relatos na literatura
do endométrio foi realizado por Parente
sobre
et. al em 2009. O estudo envolveu 14
(GULEC et al., 2010).
a
eficácia
da
histeroscopia
pacientes, dentre as quais foi possível
Alguns autores sugerem que, em
coletar amostras de sangue e de DNA
casos de infertilidade, a histeroscopia
de 8 delas. A impossibilidade de
deve ser a primeira abordagem e deve
extração de DNA nos outros casos
ser
provavelmente ocorreu por problemas
laparoscopia para a detecção de outras
nas
causas de infertilidade. Para eles, o
técnicas
de
armazenamento
como
por
processamento
do
material
exemplo,
e
ósseo,
realizada
juntamente
procedimento
de
com
histeroscopia
a
via
aquecimento
laparoscópica tambémvisa reduzir o
excessivo ou fixação inadequada. A
risco de perfuração (GULEC et al.,
média de idade das pacientes era de 40
2010).
anos, e os fragmentos ósseos foram
A
ultrassonografia
diagnosticados entre 4 meses e 40 anos
desempenha
após
diagnóstico. Geralmente, a metaplasia
a
interrupção
da
gestação.
de dois maridos, para também compará-
dispositivo intra-uterino. Para Fawad,
los ao DNA obtido na extração óssea.
em alguns casos, a metaplasia é
Os resultados mostraram que o material
visualizada
uterino
histerossalpingografia,
nenhuma
aparência
como
defeitos
em
são
disso, o resultado final indicou que o
reticuladas, profundamente localizadas
perfil de DNA foi completamente o
na mucosa e com aparência de um disco
mesmo no material ósseo e no sangue
plano.
materno, confirmando que o DNA tem
endometrial é ocupada por uma imagem
origem
hiperecoica,
nestes
casos
de
metaplasia óssea.
ultrassom,
com
brancas
na
vistas
No
ósseas,
que
um
relação com o material paterno. Além
materna
lamelas
de
no
surge
apresentava
a
fundamental
Também foi avaliado o perfil de DNA
não
com
papel
também
a
e
cavidade
sombra
acústica
posterior. Segundo Manzur; Varela
(2010) o ultrassom como orientação na
- DIAGNÓSTICO
laparoscopia pode ser aplicado em casos
A histeroscopia ainda é o padrão
com metaplasia óssea extensa, com
ouro para diagnóstico da metaplasia
invasão profunda no miométrio.
óssea no endométrio. Os primeiros a
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A
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histeroscopia
cirúrgica
- TRATAMENTO
permite a visualização e também a
Estudos
mais
antigos
ressecção do tecido ósseo. Ao contrário
recomendavam uma série de dilatação e
da histeroscopia para ressecção de
curetagem com o objetivo de remover o
pólipos ou miomas submucosos, a
osso do endométrio. Entretanto, a
histeroscopia para metaplasia óssea não
literatura mais recente afirma que a
se
curetagem,
beneficia
da
preparação
do
isoladamente,
deve
ser
endométrio para a contracepção ou uso
evitada pelo alto risco de formação de
de análogos do GnRH, devido à má
sinéquias. Polat et. al afirmam que a
proliferação
existente
histeroscopia guiada por ultrassom deve
nestes casos (MANZUR; VARELA,
ser preferida em relação à dilatação e
2010).
curetagem para remoção de fragmentos
endometrial
É imprescindível que haja a
ósseos no útero.
diferenciação entre metaplasia óssea no
endométrio
e
outras
O tratamento padrão ouro para a
entidades
ossificação
endometrial
é
a
semelhantes. A formação óssea no
histeroscopia, que pode ser feita sob
endométrio
ser
orientação do ultrassom, que permite a
malignos
visualização adequada e a completa
também
encontrada
em
pode
tumores
Mullerianos mistos e emteratomas. Para
remoção
Gulec
ósseas(HANDIGUND;
et
al.
diferenciais
outros
incluem
diagnósticos
DIU,
corpos
das
espículas
PATTED,
2013).
estranhos, calcificação da submucosa,
Para Handigund; Patted (2013),
síndrome e miomas de Asherman,
o uso de estrogênio é controverso, já
tumores
e
que pode promover osteogênese e levar
adenossarcoma do endométrio.O exame
a metaplasia óssea. Para estes autores,
histopatológico
em mulheres com ciclo menstrual
mesodérmicos
deve
mistos
ser
sempre
realizado para confirmar o diagnóstico.
regular,
Tal distinção é fundamental,
hormônios
regeneração endometrial.
diagnóstico errôneo pode resultar em
histerectomia
próprios
endógenos já são suficientes para
principalmente pelo fato de que um
uma
os
Gulec et. al sugerem que a
desnecessária
histeroscopia guiada por ultrassom com
(HANDIGUND; PATTED, 2013).
objetivo de remover uma área extensa
de metaplasia óssea representa uma
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alternativa
mais
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eficaz
a
O tratamento também ocorre
laparoscopia, e por isso encorajam esta
através da histeroscopia, com remoção
técnica. Para eles, todos os casos devem
completa
ser
exame
cavidade endometrial. Este método
no
pode inclusive auxiliar na recuperação
avaliados
ultrassonográfico
que
com
transvaginal
período pré ou pós operatório.
da
Polat et al. discutem se a
das
espículas
fertilidade
ósseas
da
(HANDIGUND;
PATTED, 2013).
histeroscópica pode ser inadequada para
O prognóstico da metaplasia
pacientes com metaplasia óssea extensa
óssea é bom, quando esta é manejada de
e nas quais as partículas ósseas estão
maneira
embutidas no miométrio. Tais autores
geralmente retornam à fertilidade dentro
consideram
de um ano (POLAT et al., 2011).
que
a
exigência
da
adequada.
As
pacientes,
abordagem laparoscópica deve ocorrer
para complicações como perfuração
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dispositivo
intrauterino e sua remoção completa
pode restaurar a fertilidade e levar à
concepção espontânea (HANDIGUND;
PATTED, 2013).
CONCLUSÃO
A
metaplasia
óssea
do
endométrio é uma condição rara, que
deve ser devidamente investigada.
A
histeroscopia continua sendo o padrão
ouro
para
seu
diagnóstico,
pois
possibilita completa visualização da
cavidade uterina. Contudo, o exame
histopatológico ainda deve ser realizado
em todos os casos para confirmação
diagnóstica (GULEC et al., 2010).
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