Brasil Ano 12 - no 4 ISSN 1518-9740 Neurologia • Ansiedade e equilíbrio postural Trabalho • Cinesioterapia laboral em indústria do vestuário Physical Therapy Brazil Fisioterapia Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - Julho/Agosto de 2011 Julho / Agosto de 2011 13 anos Lombalgia • Pilates e lombalgia • Ativação do transverso do abdome em puérperas Traumato • Lesões em árbitros de futebol • Amputação transtibial unilateral e protetização • Reconstrução do ligamento cruzado anterior Acupuntura • Fibromialgia e serotonina www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil Physical Therapy Brazil (vol. 12, nº 4 julho/agosto 2011 - 241~320) EDITORIAL Coincidências II, Marco Antonio Guimarães da Silva................................................................................................................. 243 ARTIGOS ORIGINAIS A influência da ansiedade sobre o equilíbrio postural em estudantes universitários, Wilma Souza, Glória Maria Rosa, Glauco Gaban, Leonardo Pistarino-Pinto, Ângela Silva, Nélio Souza, Ana Carolina Martins......................... 244 Prevalência de distúrbios associados nas crianças com paralisia cerebral, Ana Cristina Resende Camargos, Edifrance Sá de Souza, Jaqueline Cristiane Silva Andrade, Juliane Lopes Pôssas, Patrícia Cristina Santana, Tiago Chaves Rocha............................................................................................ 250 Uso da Técnica de Energia Muscular em mulheres com cervicalgia, Cristina de Fátima Hoffmann, Monica Augusta Alves de Rezende, Cristiane Clemente, Alisson Guimbala dos Santos Araujo..................................................... 255 Habilidade de ativação do transverso do abdome em puérperas precoces de um hospital público da cidade de Salvador/BA, Leila Corrêa de Albuquerque Feijó, Melina Pimentel Magalhães....................................................... 261 Lesões ocorridas em árbitros de futebol da CBF durante a partida, treinamento e teste físico, Alberto Inácio da Silva, Mauro Ricetti Paes.................................................................................................................................. 267 Pilates e lombalgia: efetividade do transverso abdominal, capacidade funcional e qualidade de vida, Nicole Thays Albino, Fabio Sprada de Menezes, Micheline Henrique Araújo da Luz Koerich, Guilherme Silva Nunes, Patrícia Vieira de Souza.......................................................................................................................... 273 Influência da cinesioterapia laboral sobre os sintomas álgicos de trabalhadores da indústria do vestuário, Andrei Pereira Pernambuco, Lucila Regina de Castro, Meiriane Kely Ribeiro, Jorge Vilano de Castro, Aladir Horácio dos Santos....................................................................................................................... 279 Laser de baixa potência como tratamento coadjuvante da dor miofascial: avaliação eletromiográfica, Fernanda Souza da Silva, Luisa Ribeiro Estrela, Marlon Bluner Teotonio Teixeira, Rebecca Barbosa de Decco Monteiro Marinho, Josiane Sena dos Santos, Angélica Rodrigues de Araújo....................................... 285 Avaliação da qualidade de vida de pacientes amputados transtibiais unilaterais antes e após a protetização, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Elisangela Araujo Barbosa, Núbia Caroline da Paz Olivério, Roberto Araújo Enéas, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, Érika Porto Xavier................................................................................. 291 RELATOS DE CASO A utilização da acupuntura no tratamento da fibromialgia relacionando com a qualidade de vida e a dosagem sérica de serotonina, Fernando Rodrigues da Silva, Humberto de Sousa Fontoura, Camilla Ferreira Vilela Roriz........................................................................................................................................................ 298 Fechamento de úlceras de pressão em pacientes com lesão medular: proposta terapêutica, Daniel Joppert, Victor Hugo Bastos, Dionis Machado, Thiago Nunes, Leandro Mendes da Silveira, Nelson Kale Junior, Raphael Goulart, Mariana Mello, Julio Guilherme Silva, Marco Orsini........................................................ 303 REVISÃO Benefícios da equitação com fins terapêuticos na reabilitação de crianças com paralisia cerebral, Ana Santiago, Gisela Santos, Mónica Santos, Raquel Nunes, Susana Dias, Isabel Coutinho......................................................... 310 NORMAS DE PUBLICAÇÃO..........................................................................................................................................316 EVENTOS..........................................................................................................................................................................318 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 242 Fisioterapia Brasil www.fisioterapiabrasil.com.br Editor Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ – Rio de Janeiro) Conselho científico Abrahão Fontes Baptista (Universidade Federal da Bahia – BA) Anamaria Siriani de Oliveira (USP – Ribeirão Preto) Dirceu Costa (Uninove – São Paulo) Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Espiridião Elias Aquim (Universidade Tuiuti – Paraná) Fátima Aparecida Caromano (USP – São Paulo) Guillermo Scaglione (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Hugo Izarn (Universidade Nacional Gral de San Martin – Argentina) Jamilson Brasileiro (UFRN) João Carlos Ferrari Corrêa (Uninove – São Paulo) Jones Eduardo Agne (Universidade Federal de Santa Maria – Rio Grande do Sul) José Alexandre Bachur (Universidade Católica de Petrópolis – RJ, Universidade de Franca -SP) José Rubens Rebelatto (UFSCAR – São Paulo) Lisiane Tuon (Universidade do Extreme Sul Catarinense – UNESC) Marcus Vinícius de Mello Pinto (Universidade Católica de Petrópolis – RJ) Margareta Nordin (Universidade de New-York – NYU – Estados Unidos) Mario Antônio Baraúna (Universidade do Triângulo Mineiro – UNIT – Minas Gerais) Mario Bernardo Filho (UERJ – RJ) Neide Gomes Lucena (UFPB) Nivaldo Antonio Parizotto (UFSCAR – São Paulo) Norberto Peña (Universidade Federal da Bahia – UFBA – Bahia) Roberto Sotto (Universidade de Buenos Aires – UBA – Argentina) Victor Hugo Bastos (UFVJM – Diamantina – MG) Grupo de assessores Jorge Tamaki (PUC – Paraná) Antonio Coppi Navarro (Gama Filho – São Paulo) Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Antonio Neme Khoury (HGI – Rio de Janeiro) Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) João Santos Pereira (UERJ – Rio de Janeiro) Solange Canavarro Ferreira (HFAG – Rio de Janeiro) José Roberto Prado Junior (Rio de Janeiro) Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro 01037-010 São Paulo SP E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias [email protected] Atendimento (11) 3361 5595 / 3361 9932 E-mail: [email protected] Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 240,00 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Diretor Antonio Carlos Mello [email protected] Direção de arte Cristiana Ribas [email protected] Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de e-mail: [email protected] I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 243 Editorial Coincidências II Marco Antonio Guimarães da Silva Estava convencido de que nesse editorial deixaria de lado as ligeiras incursões em algumas áreas, predominantemente humanas e sociais, e falaria sobre um tema ligado a fisioterapia. Um fato, ou melhor, uma discreta coincidência entre um livro e um filme impediu-me de fazê-lo. Já havia escrito um editorial, há algum tempo atrás, que falava sobre coincidências. À época busquei amparo na psicologia analítica de Jung (Carl Gustav), a qual gravita no circuito dos estudos das polaridades e sua integração ao inconsciente coletivo. Para que nos situemos, é bom lembrar que Jung postulou que a atividade da mente inconsciente podia se projetar no mundo externo dos fatos, em aparentes coincidências, e os fatos do mundo externo do universo poderiam coincidir com os arquétipos do inconsciente coletivo. Acredito que possamos utilizar a definição ortodoxa de coincidência como sendo o significado de coisas que acontecem em uma sequência acidental de fatos ou em um mesmo período de tempo, para explicar o que escrevo a seguir. Com uma personalidade camaleônica, confirmada pelos astros e por meios pouco ortodoxos de adivinhações, venho, ao longo de minha vida, me envolvendo com projetos e situações que se renovam de tempos em tempos e que, aparentemente, não se relacionam entre si. A minha última e ousada incursão volta-se para a literatura. Acordei um belo dia e disse para mim mesmo: “Vou entrar no mundo ficcional”. Sete meses depois estava com o meu primeiro romance escrito. Não sei até quando continuarei percorrendo o caminho das letras, na condição de escritor, mas, a julgar pela intensidade e paixão que esse novo oficio vem me despertando, suponho que esse ciclo me acompanhará até o final da minha vida. Mas isso não importa. Voltemos ao meu primeiro romance, porque irei utilizá-lo para explicar o motivo desse editorial. O livro em questão é um meta romance, em que um dos protagonistas é um flanêur, que caminha por entre as ruas de Paris e pensa estar vendo alguns escritores já mortos, dentre os quais Gertrude Stein, Proust, James Joyce, Scott Fitzgerald, Ezra Pound e Virginia Woolf. *Professor Associado da UFRRJ e de Doutorado no exterior. Mas onde estaria a aludida coincidência? Há um filme de um diretor norte americano, muito famoso, em cartaz há dois meses no Brasil, que aborda uma temática muito parecida com a que abordei no meu livro: um roteirista americano muda-se para Paris e começa a ver escritores e outros artistas já mortos. Ainda que ache que as semelhanças não cheguem ao nível atribuído pelos leitores, que me telefonaram ou enviaram e-mails para relatar o fato, reconheço que o diretor do filme eu pensamos algo muito parecido. Embora meu livro tenha sido lançado em 2010 e o filme tenha saído em 2011, é bem possível que os nossos pontos coincidentes tenham sido pensados no mesmo momento. Na época, eu estava em Paris e o diretor em questão deveria estar em Nova York, com quase seis mil quilômetros de distância nos separando, mas também não faria nenhuma diferença se estivesse na mesma rua que eu. O fato é que nossos pensamentos se cruzaram em algum momento. Acredito que outras coincidências estejam, agora mesmo, ocorrendo com zilhares de pessoas. Não se surpreendam pois, se virem um projeto ou um trabalho idêntico aos seus serem reproduzidos por outrem. Adianto, caso haja alguém pensando em escrever ou já tenha escrito algo semelhante, que meu segundo romance, que já está na editora (http://www.octavo.com.br), deverá ser lançado em outubro e trata da difícil relação entre um autor, que insistia em utilizar um pseudônimo, e seu editor, que o roubava desbragadamente. Para que não seja condenado a morrer na fogueira com uma tábua e pregos na língua para parar de blasfemar, tal e qual Giordano Bruno, termino essa crônica com uma noticia sobre fisioterapia: entre 9 e 12 de outubro estará ocorrendo o XIX Congresso Brasileiro de Fisioterapia, AFB 2011 Florianópolis, que já recebeu aproximadamente 1600 trabalhos científicos e que, ao que tudo indica, será um grande sucesso. Parabéns à comissão organizadora. 244 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Artigo original A influência da ansiedade sobre o equilíbrio postural em estudantes universitários The influence of anxiety on postural balance in academic students Wilma Souza, Ft., M.Sc.*, Glória Maria Rosa, Ft.,M.Sc.**, Glauco Gaban, Ft., M.Sc.***, Leonardo Pistarino-Pinto****, Ângela Silva, D.Sc.*****, Nélio Souza******, Ana Carolina Martins****** *Profª da UGF, **Profª de Cinesioterapia I e II da UGF e do Módulo de Movimento Terapêutico I e II do UNIFESO, ***Especialista em Fisioterapia Cinética Funcional, **** Fisioterapeuta, UGF, *****Psicóloga, ******UNIFESO, Especialista em Geriatria e Gerontologia Interdisciplinar (UFF) Resumo Abstract Introdução: O sistema tônico postural regula a posição do corpo no espaço orientando-o e equilibrando-o. Elevados níveis de ansiedade têm sido correlacionados com as desordens do equilíbrio corporal. Objetivo: Investigar a influência do aumento nos níveis de ansiedade sobre o equilíbrio postural antes e durante um evento ansiogênico. Material e métodos: Para a análise, os participantes responderam ao Inventário de Ansiedade Traço-Estado de Spielberger e o equilíbrio postural foi mensurado por meio do Biodex Balance System. Resultados: As mulheres apresentaram-se significativamente mais ansiosas que os homens. A análise correlacional entre ansiedade-traço e o índice de oscilação médio-lateral nível 8 nas mulheres revelou correlação negativa significante antes do evento. Nos homens houve um aumento significativo da estabilidade no índice de oscilação antero-posterior e geral no nível 2 durante o evento ansiogênico, no entanto não houve alteração significativa nos níveis de ansiedade. Conclusão: Os resultados sugerem que a ansiedade-estado parece alterar o equilíbrio, no entanto o treinamento parece minimizar sua interferência. Introduction: The tonic postural system regulates body position to provide spatial orientation and balance. High levels of anxiety have been associated with body balance disorders. Aim: To investigate the influence of increased anxiety levels on postural balance before and during an anxiogenic event. Material and methods: The participants answered to the Spielberger State Trait Anxiety Inventory and the postural balance was measured using the Biodex Balance System. Results: Women presented themselves as significantly more anxious than men. The correlational analysis between trait anxiety and the medial/lateral stability index level 8 showed a significant negative correlation before the event. In men could be perceived a significant increase of stability in antero/posterior and overall stability indexes in level 2 during the anxiogenic event, however there was not a significant alteration in the anxiety levels. Conclusion: The results suggest that state anxiety seems to change the balance; however the training seems to minimize its interference. Key-words: anxiety, postural balance, autogenic training. Palavras-chave: ansiedade, equilíbrio postural, treinamento autógeno. Recebido em 19 de junho de 2009; aceito 7 de julho de 2011. Endereço para correspondência: Glória Maria Rosa, Av. Oliveira Botelho, 504, 25960-001 Teresópolis RJ, Tel: (21) 2642-3545, E-mail: glrosa@ superig.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Introdução O controle tônico postural é regulado pelo sistema sensorial (visual, vestibular e proprioceptivo), sua função é regular a posição do corpo no espaço com a finalidade de equilíbrio e orientação [1,2]. Este controle envolve uma complexa rede de conexões e centros neurais que funciona como um circuito de controle por feedback central e periférico [3-5]. O sistema visual está envolvido nas oscilações de baixa frequência (< 0,1Hz) [6] e mede a orientação dos olhos e da cabeça com relação aos objetos circunvizinhos [7,8]. O sistema vestibular informa sobre as modificações na posição da cabeça relacionadas ao meio através dos canais semicirculares e sistema otolítico [9]. Já o sistema somatossensorial fornece informações sobre a orientação das partes do corpo, umas em relação às outras, bem como sobre a superfície de suporte por meio de receptores nos músculos, tendões, articulações e pele [10]. Distúrbios em um ou mais destes sistemas sensoriais podem comprometer a manutenção do equilíbrio, facilitando a ocorrência de quedas ou dificuldade na execução de atividades motoras [3,11]. Os desequilíbrios somatossensoriais têm sido correlacionados com desequilíbrios psicocomportamentais, como elevados níveis de ansiedade, que podem ser definidos como uma resposta psicológica e física à ameaça do autoconceito [12]. A ansiedade acompanha a maior parte das pessoas no seu processo existencial, sendo provocada por um aumento previsto ou inesperado de tensão emocional ou desprazer [13]. Essa associação entre ansiedade e equilíbrio parece ser devido a seu efeito sobre o sistema sensorial [4,14], que parece também abranger uma atividade integrada entre circuitos neurais envolvendo o sistema vestibular [15]. No entanto, a relação entre ansiedade e controle postural permanece obscura. Este trabalho tem como objetivo investigar a influência do aumento dos níveis de ansiedade na regulação equilíbrio postural em estudantes universitários saudáveis, utilizando uma plataforma dinâmica para a mensuração do equilíbrio. Os estudantes foram analisados antes e durante a presença de um evento ansiogênico (no caso, o período de provas acadêmicas), a fim de elucidar melhor sua hipótese de correlação. Material e métodos Participaram deste estudo, após consentimento por escrito, 63 estudantes universitários, 42 do gênero feminino e 21 do masculino, do curso de Fisioterapia da Universidade Gama Filho (UGF) do Rio de Janeiro, na faixa etária média de 21 anos (± 2,1), altura média de 1,67 m (± 8,02) e peso médio de 64 kg (± 12,3) (Tabela I). 245 Tabela I - Médias de peso, altura e idade dos participantes da amostra. n Peso Altura Idade 63 63 63 Mínimo Máximo 43,00 1,48 19,00 100,00 1,86 28,00 Média 64,0635 1,6702 21,7937 Desvio Padrão 12,3365 8,027 2,111 Todos os procedimentos obedeceram aos princípios do Comitê de Ética para pesquisa da UGF sob o protocolo CAAE 0008.0.312.000-06. Os participantes que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido à sua realização não apresentaram os seguintes critérios de exclusão: problemas neurológicos ou osteomioarticular de membros inferiores; problemas emocionais prévios; distúrbios motores; atletas em período de competição; mulheres em período menstrual e uso de medicações psicoativas, tranquilizantes ou álcool em um período inferior a 24 horas antes dos testes. Os participantes foram analisados 20 dias antes e durante o período de provas acadêmicas, consideradas por estudiosos como um importante evento ansiogênico [15,16]. Os níveis de ansiedade foram avaliados por meio do Inventário de Ansiedade Traço-Estado de Spielberg (IDATE) [17]. A pontuação deste instrumento varia de 20 (mínimo) a 80 (máximo) e sua pontuação total pode ser obtida pela soma dos pontos assinalados nas escalas das duas partes. Na sua interpretação tomou-se o cuidado para a inversão dos valores das afirmativas, nas quais a pontuação mais alta significa baixa ansiedade, sendo que o inverso também é verdadeiro. A capacidade do indivíduo em manter a estabilidade postural dinâmica bilateral foi medida pelo Balance System da Biodex, que consiste de uma plataforma com mobilidade multiaxial e alcance de até 20 graus de inclinação. Os participantes foram orientados a ficarem sobre a plataforma em uma posição confortável com os olhos abertos no nível mais estável da plataforma (nível 8). Após 20 segundos de adaptação os participantes eram capazes de se manterem naturalmente sobre a plataforma neste nível. Em seguida, foram realizados três testes nos níveis 8 e 2, com duração de 20 segundos cada. Em cada um dos níveis foram gerados eletronicamente os índices de estabilidade médio-lateral (IML), antero-posterior (IAP) e estabilidade para todos os lados (IGE). A análise estatística dos dados obtidos foi realizada com o auxílio do programa SPSS 7.5 para Windows. As diferenças dos gêneros nos escores médios de ansiedade-estado e traço antes e durante o evento ansiogênico foram obtidos usando o teste t de Student para amostras independentes, uma vez que estas apresentam distribuição normal. Já a comparação da média dos gêneros nos níveis de ansiedade, bem como nos índices de oscilação nos dois níveis foram obtidas utilizando o teste t de Student de amostras pareadas. A análise das correlações parciais, controlando a altura, teve por objetivo avaliar a relação entre a ansiedade-estado e ansiedade-traço nos índices de instabilidade níveis 2 e 8. O nível de significância para todas as análises foi de p < 0,05. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 246 Resultados Os escores médios de ansiedade-estado antes do evento ansiogênico, utilizando o teste t de Student para amostras independentes, demonstraram maiores níveis nas mulheres que nos homens, contudo não foram estatisticamente significativos. O mesmo não ocorreu com a ansiedade-traço revelando valores significativamente maiores nas mulheres que nos homens (p = 0,043). A análise comparativa dos níveis de ansiedade entre os gêneros durante o período de provas revelou valores significativamente maiores nas mulheres com níveis de ansiedade-estado (p = 0,001) e traço (p = 0,047) do que nos homens (Tabela II). Tabela II - Dados médios (± desvio padrão) de ansiedade antes (AESTOTA) e durante (AESTOTD) e ansiedade traço antes (ATRATOTA) e durante o período ansiogênico (ATRATOTD) dos indivíduos em estudo. Sexo feminino masculino feminino masculino feminino masculino feminino masculino AESTOTA ATRATOTA AESTTOTD ATRATOTD n Média 42 21 42 21 42 21 42 21 41,881 40,190 40,857** 36,381 49,285** 39,857 41,809 36,857 Desvio Padrão 7,119 7,145 8,330 7,002 13,514 7,579 9,469 8,416 **diferença significativa (p < 0,05). O teste t de Student de amostras pareadas foi utilizado para analisar as diferenças dos índices de oscilação entre os dois períodos, antes e durante as provas. Este revelou que nos homens houve redução em todos os índices de oscilação durante o evento ansiogênico, quando comparado com o período anterior, apresentando valores significativos para os índices antero-posterior (p = 0,032) e geral (p = 0,020) no nível 2 (Tabela III). Para as mulheres não houve diferenças estatisticamente significativas, contudo pode ser observado um discreto aumento nos índices gerais de oscilação nos níveis 2 e 8 (Tabela IV). Tabela III - Dados médios (± desvio padrão) dos índices de oscilação nos dois níveis de instabilidade antes e durante o período de provas entre os indivíduos do gênero masculino. n Pair 1 Pair 2 Pair 3 Pair 4 Pair 5 Pair 6 A análise das correlações parciais, controlando a altura, entre a ansiedade e os índices de instabilidade nos níveis 2 e 8 foi estatisticamente significativa nos indivíduos do gênero feminino antes do período de provas (p = 0,028), revelando correlação negativa entre a ansiedade-traço e o índice de oscilação médio-lateral no nível 8 (mais estável) (Figura 1). Figura 1 - Relação entre ansiedade traço (ATRATOTA) e o índice de oscilação médio lateral no nível 8 (IML8) dos indivíduos do gênero feminino antes do período de provas. 60 IAP2A IAP2D IGE2A IGE2D IML2A IML2D IAP8A IAP8D IGE8A IGE8D IML8A IML8D 21 21 21 n Pair 1 Pair 2 Pair 5 ATRATOT A 21 Tabela IV - Dados médios (± desvio padrão) dos índices de oscilação nos dois níveis de instabilidade antes e durante o período de provas entre os indivíduos do gênero feminino. Pair 4 40 21 3,8000 2,9428** 4,7667 3,5523** 3,0286 2,4667 1,4667 1,2619 1,6619 1,5143 1,1048 1,0048 Desvio Padrão 2,0381 1,8712 2,6969 2,4521 1,8813 1,4729 0,5677 0,5045 0,4706 0,5082 0,3383 0,3057 **diferença significativa (p < 0,05). Pair 3 50 21 Média Pair 6 IAP2A IAP2D IGE2A IGE2D IML2A IML2D IAP8A IAP8D IGE8A IGE8D IML8A IML8D 42 42 42 42 42 42 Média 2,1714 2,1190 2,4952 2,5000 1,6143 1,6095 1,1976 1,1762 1,3881 1,3976 0,8857 0,8667 Desvio Padrão 1,5644 1,2603 1,4665 1,3365 0,8056 1,0849 0,4693 0,5490 0,5310 0,5205 0,2619 0,2496 30 Discussão 20 ,4 O objetivo geral do presente estudo foi investigar a influência do aumento nos níveis de ansiedade sobre o equilíbrio postural antes e durante um evento ansiogênico. A ,6 ,8 1,0 1,2 IML8A 1,4 1,6 1,8 2,0 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 palavra ansiedade origina-se do grego Anshein, que significa oprimir, sufocar [18]. Pode-se distinguir ansiedade em duas condições: 1) ansiedade como um estado e 2) ansiedade como um traço de personalidade. A primeira se caracteriza por ser um estado emocional transitório, marcado por sentimentos de tensão, apreensão e hiperatividade do sistema nervoso autônomo (incremento do ritmo cardíaco, elevação da pressão arterial, respiração mais rápida e profunda etc.). Já a segunda, é referente às diferenças relativamente estáveis entre os indivíduos, que ocasiona uma elevação maior ou menor do estado de ansiedade. Sendo esta, consequência da exposição a situações (físicas ou psicológicas) percebidas como ameaçadoras [12]. A ansiedade-estado é provocada por um aumento inesperado ou previsto da tensão emocional ou desprazer e pode desenvolver-se em qualquer situação (real ou imaginária), quando a ameaça é grande para ser ignorada, dominada ou descarregada [19]. Assim, eventos estressores como provas acadêmicas, podem ser entendidos como preditores ambientais de ansiedade [17]. Isto pode ser confirmado no presente estudo, ao demonstrar um aumento significativo nos níveis de ansiedade-estado durante o período de provas acadêmicas em estudantes. Sendo que as mulheres apresentaram maiores níveis que os homens. Evidências internacionais [20,21] e nacionais [22] têm demonstrado que a ansiedade afeta mais as mulheres que os homens. Isto está de acordo com os resultados observados em nossos estudos, pois os mesmos demonstraram maiores escores médios de ansiedade-traço nas mulheres quando comparados aos valores obtidos nos homens, sendo essas diferenças significativas antes e durante o evento ansiogênico. Esta constatação é apoiada por diversos estudos em diferentes países [16,23-29] e parece que a etiologia desse evento se dá pela forte ligação existente entre o estrogênio e numerosas funções como o comportamento cognitivo, sistema reprodutor e as emoções [30]. O perfil ansioso das mulheres tem sido demonstrado em alunos com diferentes idades. Um estudo transcultural com 1.690 alunos norte-americanos e chilenos da escola elementar de diferentes níveis socioeconômicos (baixo, médio e alto), encontrou diferenças no teste de ansiedade (reação emocional desagradável diante de uma situação avaliativa na sala de aula). A amostra total deste estudo revelou altos escores de ansiedade no gênero feminino, quando comparado ao masculino. Isso foi demonstrado nos mesmos grupos, que foram divididos de acordo com os seguintes critérios: cultural e status social [16]. Outro estudo, realizado com crianças de 7 a 12 anos da segunda a sexta série em escola pública de uma região metropolitana confirmou estes dados, constatando que as meninas, em geral, manifestaram mais preocupações que os meninos, sendo estas nas diferentes áreas: escolar; socialização entre os colegas; eventos futuros e a aparência [26]. Esses resultados estão de acordo com o presente estudo, confirmando o perfil ansioso encontrado no gênero feminino. 247 A personalidade ansiosa, maior nas mulheres, pode ser um dos fatores predisponentes de seus escores significativamente maiores em ansiedade-estado durante o período de provas. Estudos revelaram que diferentes fatores sociais como: alto nível de expectativas éticas; pressões no sentido da profissionalização; ingresso no mercado de trabalho; afirmação pessoal e busca de independência econômica, constituem requisitos importantes da personalidade da mulher moderna. Estas condições forçam a mesma a se engajar em comportamentos competitivos, comumente estressantes e eventualmente conflitantes, sendo ainda, o projeto de constituição de uma família, outro fator que ocasiona um maior estado de ansiedade [28]. A análise entre estado e traço de ansiedade com o equilíbrio corporal nas mulheres revelou uma correlação negativa significante entre ansiedade-traço e o índice de oscilação médio-lateral no nível 8, antes do evento ansiogênico. Durante o período de prova, nenhuma diferença significativa foi observada. Entretanto, podemos constatar um discreto aumento nos índices gerais de oscilação nos níveis 8 e 2 durante o evento ansiogênico, quando comparado ao período anterior. Esses achados não foram observados nos homens, que revelaram redução em todos os índices no período de realização das provas, sendo significativa a diferença no índice de oscilação ântero-posterior e geral no nível 2. Alguns fatores podem ter influenciado os melhores resultados no gênero masculino, uma vez que estes não apresentaram elevação em seus estados de ansiedade na segunda testagem. Assim, sua performance nesta fase não sofreu interferência. O seu melhor desempenho durante o período de provas no aparelho talvez tenha sido efeito das repetições do teste (3 testes nos níveis 8 e 2, com duração de 20 segundo cada) e mais o período de adaptação na plataforma de 20 segundos no nível 8 (mais estável). O controle postural adaptativo se desenvolve através de dois processos: 1) adaptação rápida durante as repetições do teste e 2) habituação de longo prazo obtida pela repetição da habilidade [31]. A melhora na performance do equilíbrio tem sido demonstrada utilizando o Biodex Balance System, sendo esta, na segunda sessão de 5 repetições de 20 segundos cada [32]. Estudos visando analisar a influência do treinamento sobre a performance de equilíbrio, mantiveram indivíduos saudáveis e atletas por 20 segundos com os olhos abertos e posteriormente fechados em plataforma de força dinâmica. Após 1 hora de intervalo os mesmos foram mantidos por 10 e 20 segundos sob as mesmas condições por 3 vezes consecutivas com 1 minuto de intervalo. Esse estudo demonstrou que a repetição dos eventos pode melhorar gradativamente as estratégias de controle de equilíbrio [5], o que pode evidenciar os achados no gênero masculino em nosso estudo. Além disso, trabalhos envolvendo idosos com exercícios para o equilíbrio também observaram melhora em sua performance [33], confirmando que esse evento ocorre independente da idade testada. 248 O nível 2 do aparelho sempre foi realizado após os 3 testes no nível 8, além do período de adaptação no mesmo nível (mais estável), isso pode ter proporcionado um controle postural de adaptação rápida como sugere Tjernström et al. [31], melhorando com as repetições dos testes as estratégias de controle de equilíbrio, como verificado por Perrin et al. [5]. Além disso, o Biodex Balance System utiliza um feedback visual através de um cursor localizado à frente do indivíduo em análise, que o orienta a manter-se equilibrado auxiliando-o a corrigir-se através da atividade muscular consciente. Estudos têm demonstrado que o feedback visual facilita a contração muscular isolada, ajudando a eliminar os desequilíbrios musculares enquanto restabelece a atividade muscular antecipatória (feedforward) e reativa (feedback) a musculatura, para que se obtenha como resultado final, a estabilidade articular dinâmica [31,34-42]. Outros estudos confirmam estes achados, evidenciando que indivíduos com desordens de ansiedade apresentam uma dependência visual maior sobre equilíbrio postural quando comparado com indivíduos saudáveis [35]. Dessa forma, como as informações sensoriais sobre a tarefa são utilizadas para avaliar os resultados e ajudar a organizar futuras estratégias de ativação muscular, é provável que durante a execução dos testes, a performance dos homens tenha se tornado melhor pela estimulação frequente das vias sensoriais e motoras. Cada vez que um sinal atravessa a sequência de sinapses, elas tornam-se mais eficazes na transmissão desse mesmo sinal. Quando essas vias são facilitadas regularmente, cria-se a memória desses sinais que pode ser, inclusive, utilizada para programar futuros movimentos. Portanto, a facilitação frequente melhora tanto a memória das tarefas para o controle motor pré-programado, quanto às vias reflexas para o controle neuromuscular [36]. Quanto às relações entre a ansiedade e o equilíbrio, pacientes portadores da doença de Parkinson que cursam com eventos ansiogênicos, alterações do equilíbrio e até mesmo quedas, têm sido observados e parece realmente coexistir ligações neurofisiológicas entre as áreas relacionadas com o equilíbrio e a ansiedade [43,44]. Um estudo em crianças com elevados níveis de ansiedade revelou que o tratamento do equilíbrio melhorou seus estados de ansiedade e autoestima [45]. O mesmo foi demonstrado nos estudos de Wada et al. [14], que observaram influência significativa do estado de ansiedade sobre o índice de oscilação antero-posterior com os olhos abertos, quando foram confrontados os resultados do grupo de alta e baixa ansiedade. Entretanto, os resultados obtidos com as mulheres do nosso estudo não revelaram alterações significativas no equilíbrio durante o período de provas, momento que se apresentaram com elevados níveis de ansiedade, discordando dos estudos citados. Assim, considerando que a ansiedade piora o equilíbrio e que as repetições da tarefa podem melhorá-lo, é provável que os resultados obtidos nos homens deste estudo tenham sido melhores do que o esperado na segunda fase provavelmente pelo efeito das repetições dos testes mesmo diante de uma situação de interferência (período de provas acadêmicas). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Conclusão Os resultados do presente estudo sugerem que mulheres possuem uma personalidade ansiosa e um estado de ansiedade maior que os homens, entretanto, o evento ansiogênico não demonstrou interferir na piora do equilíbrio entre os gêneros. Isto provavelmente ocorreu devido às repetições dos testes nos dois níveis associados ao feedback visual oferecido pelo equipamento, que pode ter contribuído para organizar estratégias de ativação muscular, melhorando significativamente a performance do equilíbrio no gênero masculino. Isso ocorreu independente do evento ansiogênico e provavelmente atenuando o efeito dessa situação no gênero feminino. Portanto, mais estudos necessitam ser realizados a fim de confirmar estas constatações e melhor estreitar suas correlações. Referências 1. Bricot B. Postura normal y posturas patológicas. Revista IPP 2008;1(2):1-13. 2. Nashner LM. 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Embora a PC seja uma desordem predominantemente motora, pode apresentar uma série de outros distúrbios associados como convulsões, transtornos de cognição, linguagem, audição, visão, além de alterações respiratórias e ortopédicas, que podem comprometer ainda mais o quadro clínico dessas crianças. Objetivo: Investigar a prevalência dos distúrbios associados em crianças com PC e verificar a relação da prevalência desses distúrbios com cada classificação da PC. Materiais e métodos: Foi realizado um estudo transversal através da coleta de dados dos distúrbios associados apresentados pelas crianças com PC atendidas na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Betim. Foi utilizado o teste qui-quadrado para comparar a proporção entre os grupos e a diferença foi considerada estatisticamente significativa quando p < 0,05. Resultados: Os distúrbios ortopédicos e auditivos apresentaram a maior e menor prevalência, respectivamente. A maior ocorrência dos distúrbios associados ocorreu no grupo de crianças com quadriplegia espástica, classificadas como nível V pelo GMFCS. Conclusão: Este estudo avaliou os distúrbios associados apenas de uma forma dicotomizada e, portanto, a influência da gravidade de cada um desses distúrbios em cada grupo não pode ser analisada. Introduction: Cerebral Palsy (CP) is considered one of the most severe impairments in childhood. Although CP is a predominantly motor disorder, it can potentially cause a series of other associated disturbances, such as convulsions, and also affect areas such as cognition, language, hearing, sight, not to mention respiratory and orthopedic alterations, which may bring about further impairments to these children’s clinical picture. Objective: To investigate the prevalence of associated disturbances in children with CP and to verify the relationship between the prevalence with each CP classification. Materials & methods: A cross-section study was carried out by collecting data about the associated disturbances experienced by the children with CP being accompanied at the Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Betim (Association of Parents and Friends of Exceptional People of Betim). The chi-square test was used to compare the proportion between the groups and the difference was considered statistically significant when p < 0.05. Results: The orthopedic and hearing disturbances had the biggest and smallest prevalence, respectively. The biggest occurrence of associated disturbances was observed in the group of children classified with level V of spastic quadriplegia, according to the GMFCS. Conclusion: This study assessed the associated disturbances only in a dichotomized way, and therefore the influence of the severity of each one of these disorders in each group could not be analyzed. Palavras-chave: paralisia cerebral, prevalência, complicações. Key-words: cerebral palsy, prevalence, complications. Recebido em 23 de novembro de 2009; aceito em 21 de abril de 2011. Endereço para correspondência: Ana Cristina Resende Camargos, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – Campus JK, Clínica de Fisioterapia, Rodovia MGT 367 – Km 583, no 5000, Alto do Jacuba, 39100-000 Diamantina MG, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Introdução A paralisia cerebral (PC) foi definida como um grupo de desordens do desenvolvimento do movimento e da postura que causam limitações das atividades e são atribuídos a distúrbios não-progressivos durante o desenvolvimento cerebral no período fetal ou infantil [1]. É considerada uma das mais severas incapacidades da infância, o que promove uma grande demanda para os serviços de saúde, educação e também para a família [2]. Apresenta a prevalência de 1.5 a 3 para cada 1000 nascidos vivos em países desenvolvidos [2]. Em países subdesenvolvidos, a prevalência pode chegar a 7 para cada 1000 nascidos vivos [3]. Pode ser classificada de acordo com o tipo de alteração motora em espástica, discinética, atáxica ou mista [4]. O tipo espástico é classificado ainda de acordo com a distribuição nos membros em quadriplégico, diplégico e hemiplégico [5]. Conforme o nível de comprometimento motor pode ser classificado pelo Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (Gross Motor Function Classification System - GMFCS) em cinco níveis, sendo o nível I o mais leve e o nível V o mais grave [6]. Embora a PC seja uma desordem predominantemente motora pode apresentar uma série de outros distúrbios associados como convulsões, transtornos de cognição e linguagem, déficits auditivos, visuais, respiratórios e ortopédicos. Todas essas alterações podem comprometer ainda mais o quadro clínico dessas crianças, interferir na função e na evolução motora, além de determinar modificações no prognóstico [1,7,8]. De acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde, existe uma interação dinâmica entre o comprometimento das estruturas e funções corporais, a realização das atividades da vida diária e a participação na sociedade [9]. Assim, a presença de distúrbios associados pode interferir na execução das atividades de vida diária e restringir participação de crianças com PC [8,10,11]. Além disso, pode alterar a saúde e a qualidade de vida dessas crianças [12]. Baseado nos diversos distúrbios associados apresentados por crianças com PC e na sua repercussão no quadro clínico e no desempenho funcional dessas crianças, o objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência dos distúrbios associados em crianças com PC e verificar a relação da prevalência desses distúrbios com cada classificação da PC. Material e métodos Foi realizado um estudo do tipo transversal, no qual foram analisados todos os prontuários das crianças com diagnóstico de PC atendidas na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Betim (APAE Betim) no período de fevereiro de 2003 a dezembro de 2007. 251 Foram incluídas no estudo apenas as crianças com PC que apresentaram seus dados completos nos respectivos prontuários, independente da idade e sexo. Foram excluídas as crianças que apresentaram outro diagnóstico clínico neurológico além da PC como, por exemplo, espinha bífida, síndrome de Down, artrogripose, dentre outros. Foi utilizada uma amostra de conveniência e não foi realizado cálculo da amostra, mas todas as crianças atendidas nessa instituição que preencheram os critérios de inclusão participaram do estudo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais protocolo CAAE 0280.0.213.000-07. Uma vez que os dados foram coletados diretamente dos prontuários, foi obtida uma autorização da instituição para a coleta de dados. Para a coleta das informações contidas nos prontuários foi elaborada uma ficha de dados pelos pesquisadores do estudo. Essa ficha continha informações sobre a identificação da criança como idade, sexo, classificação da PC e presença de distúrbios associados como: convulsões, déficit cognitivo, alterações de linguagem, déficits auditivos, déficits visuais, distúrbios respiratórios e distúrbios ortopédicos. Durante a coleta dos dados a presença de distúrbios associados foi avaliada como uma variável dicotômica (sim/ não). A presença de convulsões era considerada quando existia relato de pelo menos uma crise convulsiva. O déficit cognitivo era determinado quando a criança apresentava dificuldade de interação com o ambiente, objetos e pessoas ou ausência de resposta aos comandos verbais. Alterações na dicção, emissão de sons incompreensíveis ou ausência de verbalização constituíram os critérios para determinar alterações de linguagem. O déficit auditivo foi considerado quando a criança apresentava redução à resposta aos estímulos sonoros ou perda total da audição. O déficit visual foi identificado quando as crianças não conseguiam acompanhar um objeto com o olhar ou apresentavam diminuição da acuidade visual, estrabismo, perda total ou parcial da visão ou relato de uso de lentes corretivas. Em relação aos distúrbios respiratórios foram considerados relatos de internações decorrentes de qualquer evento respiratório tais como pneumonia, asma, bronquite, dentre outros, além de relato de qualquer diagnóstico clínico de patologia respiratória. Como distúrbios ortopédicos foram identificados a presença de encurtamentos musculares, contraturas e deformidades. Para a análise dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 14.0 para Windows. Foi realizada estatística descritiva para a caracterização da amostra e foi descrita a proporção de cada distúrbio associado para o total de crianças com PC e para cada grupo separado de acordo com as classificações da PC. Foi utilizado o teste qui-quadrado para comparar a proporção entre os grupos e a diferença foi considerada estatisticamente significativa quando o valor de p fosse menor que 0,05. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Figura 1 - Prevalência dos distúrbios associados nas crianças com paralisia cerebral. 97,1 71 60,9 42 39,1 37,7 Distúrbios ortopédicos Distúrbios respiratórios Déficits visuais Déficits auditivos 20,3 Alterações de linguagem 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Déficit cognitivo Foram avaliados 69 prontuários de crianças portadoras de PC, com idade média de 5,88 (± 3,35) anos. Quarenta e cinco eram do sexo masculino e 24 do sexo feminino. No total, 27 crianças apresentaram convulsões, 42 déficit cognitivo, 49 alterações da linguagem, 14 déficit auditivo, 29 déficit visual, 26 distúrbios respiratórios e 67 distúrbios ortopédicos. A Figura 1 representa a prevalência dos distúrbios associados para a amostra total de crianças com PC. Dessa forma, pode-se destacar que os distúrbios ortopédicos apresentaram maior prevalência e os déficits auditivos menor prevalência. Quanto à classificação do tipo de alteração motora, 24 crianças eram quadriplégicas espásticas, 12 diplégicas espásticas, 16 hemiplégicas espásticas, 10 discinéticas, três atáxicas e quatro do tipo misto. A prevalência dos distúrbios associados foi verificada em relação à classificação do tipo de alteração motora das crianças (Tabela I). Foi observada diferença significativa entre os grupos de crianças quanto ao déficit cognitivo (p = 0,0001), alterações de linguagem (p = 0,0001), déficit auditivo (p = 0,049), déficit visual (p = 0,049), distúrbios respiratórios (p = 0,0001) e distúrbios ortopédicos (p = 0,0001). A maior ocorrência de todos esses distúrbios foi identificada no grupo de quadriplegia espástica. Em contrapartida, a menor ocorrência de déficit cognitivo foi identificada no grupo de hemiplegia espástica. Para o déficit visual, as alterações de linguagem e os distúrbios ortopédicos a menor ocorrência foi identificada no grupo de crianças com ataxia. Em relação ao déficit auditivo foi encontrada menor ocorrência nos grupos de crianças atáxicas e diplégicas espásticas e em relação aos distúrbios respiratórios nos grupos com ataxia e hemiplegia espástica. Não houve diferença significativa na porcentagem de convulsões entre os grupos (p = 0,31). Quando classificadas em relação ao nível de comprometimento motor, 21 crianças com PC se enquadravam no nível I do GMFCS, três crianças no nível II, duas crianças no nível III, quatro crianças no nível IV e 39 crianças no nível V. Foi avaliado também se existia diferença entre o nível do comprometimento motor (GMFCS) e a prevalência dos distúrbios associados, conforme a Tabela I. Houve diferença significativa na porcentagem de crianças com déficit cognitivo (p = 0,0001), alterações de linguagem (p = 0,001), déficit visual (p = 0,004) e distúrbios respiratórios (p = 0,003) entre os níveis do GMFCS. A maior ocorrência desses distúrbios foi identificada nas crianças classificadas como nível V do GMFCS. A menor ocorrência de déficit cognitivo e distúrbios respiratórios foi encontrada nas crianças classificadas nos níveis II e III do GMFCS, de alterações da linguagem nas crianças de nível III e déficit visual em crianças de nível II do GMFCS. Não houve diferença significativa na porcentagem de convulsões (p = 0,073), déficit auditivo (p = 0,362) e distúrbios ortopédicos (p = 0,97) entre os diferentes níveis do GMFCS. Convulsões Resultados Porcentagem 252 Distúrbios associados Tabela I - Prevalência dos distúrbios associados em relação ao tipo de alteração motora e ao Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS). Diagnóstico topográfico Convulsões n (%) Quadriplegia espástica Diplegia espástica Hemiplegia espástica Discinética Ataxia Tipo misto GMFCS Nível I Nível II Nível III Nível IV Nível V 11 (40,7%) 4 (14,8%) 4 (14,8%) 6 (22,2%) 0 (0%) 2 (7,4%) Déficit cognitivo n (%) 19 (45,2%) 7 (16,7%) 1 (2,4%) 9 (21,4%) 2 (4,8%) 4 (9,5%) 4 (14,8%) 1 (3,7%) 0 (0%) 3 (11,1%) 19 (70,4%) 5 (11,9%) 1 (2,4%) 1 (2,4%) 3 (7,1%) 32 (76,2%) Alteração da Déficit audilinguagem tivo n (%) n (%) 20 (40,8%) 8 (57,1%) 10 (20,4%) 0 (0%) 3 (6,1%) 1 (7,1%) 10 (20,4%) 4 (28,6%) 2 (4,1%) 0 (0%) 4 (8,2%) 1 (7,1%) 8 (16,3%) 2 (4,1%) 1 (2,0%) 4 (8,2%) 34 (69,4%) 2 (14,3%) 0 (0%) 0 (0%) 1 (7,1%) 11 (78,6%) Déficit visual n (%) 13 (44,8%) 6 (20,7%) 2 (6,9%) 6 (20,7%) 0 (0%) 2 (6,9%) 3 (10,3%) 0 (0%) 1 (3,4%) 1 (3,4%) 24 (82,8%) Distúrbios Distúrbios respiratórios ortopédicos n (%) n (%) 16 (61,5%) 24 (35,8%) 3 (11,5%) 12 (17,9%) 1 (3,8%) 16 (23,9%) 3 (11,5%) 8 (11,9%) 1 (3,8%) 3 (4,5%) 2 (7,7%) 4 (6,0%) 2 (7,7%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (7,7%) 22 (84,6%) 20 (29,9%) 3 (4,5%) 2 (3,0%) 4 (6,0%) 38 (56,7%) Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Discussão Os resultados deste estudo demonstraram que os distúrbios mais frequentes foram os distúrbios ortopédicos, que apresentaram 97,1% de prevalência em relação à amostra total de crianças com PC. Sabe-se que o desequilíbrio muscular, associado ao mau posicionamento frequente da criança, cria condições favoráveis à instalação das deformidades, o que pode interferir diretamente na eficácia de execução do movimento [13]. De acordo com Gatti e Antunes [14], as alterações ortopédicas e a presença de espasticidade estão diretamente relacionadas em crianças com PC, pois dentre os fatores que levam às contraturas e deformidades estão o desequilíbrio muscular e a força excessiva dos músculos espásticos. Esse resultado pode ter sido influenciado devido ao fato da maior parte da amostra avaliada ser do grupo espástico, uma vez que 52 crianças das 69 avaliadas correspondiam às crianças dos grupos de quadriplegia espástica, diplegia espástica e hemiplegia espástica. As alterações de linguagem e o déficit cognitivo foram identificados como o segundo e terceiro distúrbios mais frequentes, correspondendo a 71% e 60,9%, respectivamente. Odding, Roebroeck e Stam [15] reportam que 80% das crianças com PC apresentam alterações de fala. Esses autores e Bechung e Hagberg [10] relatam ainda que o déficit cognitivo representa um dos distúrbios mais frequentes em crianças com PC. De acordo com Pruitt e Tsai [12], é difícil generalizar a relação entre PC e função cognitiva devido à natureza heterogênea dos tipos de PC. É importante ressaltar ainda que tanto as presenças de déficit cognitivo quanto as de alterações de linguagem podem restringir a participação escolar [8,10,11]. A presença de déficit visual foi observada em 42% da amostra estudada. Os resultados do presente estudo foram semelhantes aos de Salt e Redshaw [16], que relataram que cerca de 40% das crianças portadoras de PC possuem anormalidades da visão, incluindo miopia, defeitos no campo visual e cegueira cortical. Segundo Fernandes [17], crianças com deficiência visual grave apresentam dificuldade em adquirir informações e consequentemente, isso pode acarretar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor. As convulsões apresentaram 39,1% de frequência entre as crianças com PC. Esses valores foram similares ao estudo de Ostenjo, Carlberg e Vollestad [8], que encontraram uma frequência de 36%. Carlsson, Hagberg e Olsson [18] reportaram que existe uma estreita relação entre comprometimento cognitivo e alta frequência de convulsões nas crianças com PC. Além disso, a presença de convulsões também pode afetar as atividades e participação das crianças com PC [10]. Os distúrbios respiratórios normalmente ocorrem devido ao excesso de secreções e à ineficácia da tosse que podem propiciar o aparecimento de pneumonias e atelectasias [12,19]. No presente estudo os distúrbios respiratórios apresentaram prevalência de 37,7%. Borges, Galigali e Assad [20] relatam 253 que o sistema respiratório de indivíduos com PC sofre influên­ cia direta e indireta dos distúrbios do tônus, da postura e do movimento. Segundo Barbosa [21] a espasticidade impede o uso funcional dos membros, o que gera posturas fixas e fraqueza da musculatura respiratória. Cabe ressaltar que as complicações respiratórias merecem grande atenção, pois estão entre as causas mais frequentes de morte em crianças com PC [22]. Enfim, os déficits auditivos apresentaram a menor prevalência (20,3%). A perda auditiva pode estar relacionada a crianças com kernicterus, infecção congênita, baixo peso ao nascimento ou lesão hipóxico-isquêmica [12,23]. Entretanto, esse distúrbio não é muito discutido na literatura em crianças com PC, provavelmente por sua prevalência não ser tão elevada. Além disso, foi observado que quanto maior o número de membros acometidos e quanto pior o nível de comprometimento motor pelo GMFCS, maior a susceptibilidade para ocorrência de distúrbios associados nas crianças com PC. Esse resultado já era esperado, principalmente porque as crianças do grupo quadriplégico espástico, com a classificação de nível V pelo GMFCS, são consideradas as mais graves dentre os grupos das crianças com PC [24,25]. Além disso, Mancini et al. [26] relatam que o nível elevado de comprometimento motor apresenta uma forte associação com a redução do desempenho de atividades e da participação social. No presente estudo, o grupo com quadriplegia espástica apresentou a maior ocorrência de déficit cognitivo, visual, auditivo, alterações da fala, distúrbios respiratórios e alterações ortopédicas. Esses achados estão de acordo com Costa, et al. [24] e Bechung e Hagberg [10], que confirmam que as crianças com quadriplegia apresentam a maior prevalência dos distúrbios associados. Entretanto, no presente estudo não foram encontradas diferenças significativas entre o número de membros acometidos e a frequência de convulsões. Esses resultados contrariam os dos estudos de Bruck et al. [27], no qual a prevalência de epilepsia é mais elevada nas formas quadriplégicas (66,1%) e hemiplégicas (70,6%). As crianças do nível V do GMFCS também apresentaram maior prevalência de déficit cognitivo, visual, alterações da fala e distúrbios respiratórios. Bechung e Hagberg [10] e Schenker, Coster e Parush [11] relatam que quanto maior o nível do GMFCS pior será a participação social, entretanto, ainda há poucos relatos na literatura que correlacionem nível de comprometimento motor e déficits associados na criança com PC. Um resultado interessante do estudo refere-se às menores prevalências estarem associadas aos níveis II e III do GMFCS e não ao nível I. Entretanto, o tamanho da amostra desses grupos pode ter interferido nesse resultado, pois foram avaliadas apenas três crianças no nível II e duas crianças no nível III. É importante ressaltar que este estudo avaliou os distúrbios associados apenas de uma forma dicotomizada e, portanto, a influência da gravidade de cada um desses distúrbios em cada Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 254 grupo não pode ser analisada. Além disso, outros distúrbios associados também podem interferir no desempenho funcional das crianças com PC. Conclusão Os distúrbios ortopédicos foram os mais evidentes nas crianças com PC e a maior prevalência dos distúrbios associados ocorreu no grupo de crianças com quadriplégica espástica, classificadas como nível V pelo GMFCS. O conhecimento de todas as alterações associadas facilita o processo de compreensão da criança com PC e proporciona uma melhor abordagem dos profissionais da equipe de reabilitação. A eficácia do tratamento depende de atenção especial a todos os fatores que podem interferir no desempenho funcional e participação das crianças com PC, incluindo os distúrbios associados. Entretanto ainda são necessários novos estudos que investiguem a relação direta entre o impacto dos distúrbios associados nas atividades de vida diária e na participação das crianças com PC. Referências 1. Bax M, Goldstein M, Rosenbaum P, Leviton A, Paneth N, Dan B, et al. Proposed definition and classification of cerebral palsy, April 2005. Dev Med Child Neurol 2005;47(8):571-6. 2. Surveillance of cerebral palsy in Europe (SCPE). Surveillance of cerebral palsy in Europe: a collaboration of cerebral palsy surveys and registers. Dev Med Child Neurol 2000;42(12):816-24. 3. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 255 Artigo original Uso da Técnica de Energia Muscular em mulheres com cervicalgia Use of the Muscle Energy Technique in women with neck pain Cristina de Fátima Hoffmann*, Monica Augusta Alves de Rezende*, Cristiane Clemente**, Alisson Guimbala dos Santos Araujo, Ft., M.Sc.*** *Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Associação Catarinense de Ensino, Faculdade Guilherme Guímbala, **Especialista em trauma e ortopedia, Curso de formação em Osteopatia pelo IBO, ***Supervisor do Ambulatório de Disfunções Músculo-esquelética da Faculdade Guilherme Guimbala-FGG, Especialista em Ortopedia e Traumatologia-FGG, Centro de Ciências da Saúde e do Esporte Resumo Abstract A Técnica de Energia Muscular (TEM) utiliza contrações isométricas e a articulação tratada é mobilizada até a barreira motora nos três planos do espaço sendo definida como uma forma de tratamento manipulativo osteopático. O objetivo do trabalho foi elaborar uma proposta de intervenção terapêutica para mulheres que sofrem de dor e desconforto com indicativo para cervicalgia. Foram tratadas 22 mulheres com 37,18 (± 13,23) anos, que apresentavam dor e desconforto na região cervical. Utilizou-se três avaliações: Questionário de Dor e Desconforto, Escala Visual Analógica da Dor (EVA) e Questionário WHOQOL BREF. Todas as mulheres foram avaliadas pré e pós-tratamento e foram realizadas 10 intervenções da referida técnica 2 a 3 vezes por semana com duração de 15 minutos, 3 repetições para cada músculo com 7 segundos de duração. Os resultados demonstraram pelo coeficiente de variação 92,80% de melhora da dor, 52,60% no desconforto e 72,73% pela EVA. No questionário houve, no domínio físico, ganho de 200%, no psicológico 39,06%, relações sociais 100%, qualidade de vida 1,29% e no meio ambiente não houve ganho. Conclui-se que a técnica proposta apresentou melhora nos sintomas de dor e desconforto. The Muscle Energy Technique (MET) uses isometric contractions and the treated joint is mobilized up to the motor barrier in the three planes of space, defined as a form of osteopathic manipulative treatment. The aim of this study was to develop a proposal for therapeutic intervention for women who suffer from pain and discomfort indicating cervicalgia. 22 women 37.18 (± 13.23) years old with neck pain and discomfort were treated, using 3 different evaluations: Pain and Discomfort Questionnaire, Pain Visual Analog Scale (VAS) and WHOQOL BREF Questionnaire. These women were evaluated before and after the treatment. 10 interventions of 15 minutes using this technique were performed, 2 to 3 times per week, with 3 repetitions of 7 seconds for each muscle. The results showed the coefficient of variation of 92.80% for reducing of pain, 52.60% for discomfort and 72.73% with the VAS. In relation to the questionnaires was observed a gain of 200% in the physical domain, 39.06% in the psychological domain, 100% in the social relationships, 1.29% in the quality of life and no gain in environment. It was concluded that this technique improves the symptoms of pain and discomfort. Palavras-chave: cervicalgia, técnica de energia muscular, fisioterapia, dor e desconforto. Key-words: neck pain, muscle energy technique, physical therapy, pain and discomfort. Recebido 22 de setembro de 2010; aceito em 06 de julho de 2011. Endereço para correspondência: Cristina de Fátima Hoffmann, Rua José do Patrocínio, 655, 89221-140 Joinville SC, E-mail: crisarteminha@bol. com.br 256 Introdução A cervicalgia pode ser definida como a presença de dor na região posterior ou posterolateral do pescoço e região cervical, podendo-se irradiar para os segmentos adjacentes se tratando de uma algia de origem óssea, articular ou muscular [1]. É considerada um problema de saúde de alta prevalência, sendo até mais prevalente que a lombalgia, porém menos incapacitante [2], é uma queixa comum na população em geral, tornando-se mais frequente com o avançar da idade [3]. Ocorre devido à extrema mobilidade da coluna e da importância das estruturas que compõem o pescoço [4]. É um problema frequente nos consultórios médicos e sua prevalência no mundo é de 48,5% [5], sendo um problema com repercussão social importante, onde 66% dos adultos sofreram alguma vez desse problema, no entanto, somente 5% dessa população irá desenvolver um problema crônico [6]. Afeta 30% de homens e 43% de mulheres em algum momento da vida, é a que mais afasta trabalhadores de suas atividades profissionais [7]. Estima-se que 34% dos adultos tiveram dor cervical no último ano e que 14% nos últimos 6 meses, sendo frequente nas mulheres na faixa etária de 20 a 50 anos [7,8], porém outro estudo comenta que ocorre geralmente em pessoas menores de 45 anos apresentando assim limitação nas suas atividades físicas [9]. Mais da metade da população entre 65% a 70% sofre de problemas relacionados à coluna cervical, seja por atividade laboral ou doméstica, 25% referem dor intensa que limita a atividade e a prevalência é alta em indivíduos de meia idade. Por outro lado, cerca de 1/3 da população experimentará dor cervical em algum momento de sua vida [10]. Sua origem é multifatorial, podendo aparecer dores miofaciais, alterações posturais, hérnias de disco, tensão no pescoço, processos inflamatórios, traumas mecânicos entre outros [7,11]. A dor cervical mecânica engloba a dor cervical aguda, as lesões em chicote, as disfunções cervicais e a dor cervical-ombro aparecendo assim limitação na amplitude de movimento, sensação de aumento da tensão muscular entre outros sintomas [11], trazendo prejuízos nas atividades de vida diária [12]. A cervicalgia tensional não é tratada como uma patologia em si, mas como um sintoma ou forma de manifestação do tipo síndromes musculares dolorosas [13]. Ocorre como uma desordem orgânica e funcional, provocada pelo trabalho repetitivo decorrente de postos de trabalhos inadequados [14-16], que provocam alterações na coluna e interferem no sistema muscular do indivíduo, levando a compensação na cintura escapular ocasionando tensões nas cadeias musculares, onde o posicionamento do corpo influenciará na postura da cabeça [17], ocorrendo assim inibição da musculatura flexora cervical profunda e sobre a atividade dos músculos flexores cervicais superficiais e axioescapulares [18]. A fisioterapia exerce um papel importante no alívio dos sintomas da cervicalgia dispondo de inúmeros recursos para o tratamento, entre os quais a Técnica de Energia Muscular Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 (TEM) poderá ser usada. Essa técnica consiste em contrações isométricas e a articulação é mobilizada até a barreira motora nos três planos do espaço podendo defini-la como uma forma de tratamento manipulativo osteopático, no qual o paciente usa ativamente seus músculos, sob solicitação, a partir de uma posição precisamente controlada em uma direção específica, resistindo ao movimento com uma contra-força igual, evitando assim que se produza qualquer movimento [19]. A força necessária não é muito elevada e não deve, em nenhum caso, produzir incômodo ao paciente [19]. Essa deve ser controlada e aplicada lenta e relaxadamente. Depois de um período de contração de sete segundos, solicita-se ao paciente que, gradualmente, interrompa sua contração, enquanto o terapeuta diminui sua contraforça. A articulação não deve ser forçada, mas somente mantida contra a barreira. Cada contração é seguida por um período de descontração de alguns instantes. Praticam-se três ou quatro séries de três contrações. Depois de cada série, no tempo do relaxamento, o terapeuta aproveita o novo comprimento muscular adquirido para mobilizar a articulação visando encontrar uma nova barreira muscular [20]. Com base nessas informações, o objetivo da presente pesquisa foi elaborar uma proposta de intervenção terapêutica para mulheres que sofrem de dor e desconforto com indicativo para cervicalgia. Material e métodos A pesquisa realizada foi do tipo descritiva - estudo de caso. Para tal, foram selecionadas 32 mulheres que assinaram o termo de consentimento, das quais 10 foram excluídas, sendo que 5 por não comparecerem ao tratamento no dia marcado e 5 por terem faltado em alguma sessão, formando assim a amostra com 22 mulheres na faixa etária entre 19 e 56 anos, com média de idade de 37,18 (± 13,23) anos. Antes do início dos trabalhos práticos, que foram realizados no período de maio a junho de 2010 no Ambulatório de Disfunções Músculo-Esquelética da Faculdade Guilherme Guimbala – FGG, cada participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, firmando sua disposição em participar voluntariamente do estudo. A presente pesquisa foi submetida e teve aprovação do Comitê de Ética do Hospital Municipal São José no. 10032, conforme as resoluções nacionais 196/96 e 251/97 relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos. Como instrumento elaborou-se uma ficha de avaliação para coleta de identificação da participante e se anexou os protocolos: Questionário de Dor e Desconforto, Escala Visual Analógica da Dor (EVA), e o Questionário WHOQOL-BREF elaborado pela Organização Mundial de Saúde contendo 26 questões subdivididas em 5 domínios: físico, psicológico, relação social, meio ambiente e qualidade de vida. Realizou-se uma pré e pós-avaliação por meio do Questionário de Dor e Desconforto que foi autoadministrado, porém antes era preenchido nome, idade, atividade profissional na empresa e, logo após, o questionário era respondido, no qual o fisio- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 terapeuta explicava somente a diferença de desconforto nos músculos avaliados como uma sensação de cansaço, ou falta de força e não dor. Para a avaliação da EVA era apresentada uma escala na qual a participante visualizava somente cores, o vermelho como cor mais forte correspondia à escala dez, muita dor, e a cor azul correspondia à ausência de dor, sendo que somente o fisioterapeuta visualizava a escala numérica (0 a 10), para que o participante não fosse influenciado através da numeração, respondendo por uma dor não existente. O questionário foi autoadministrado a cada participante. Foram realizadas 10 intervenções da TEM com cada participante, sendo essas aplicadas de duas a três vezes por semana, em dias alternados. Cada sessão teve duração de quinze minutos, realizando-se três repetições de cada exercício para os músculos: trapézio superior, escalenos curto e fibras anteriores, grande dorsal, peitoral maior, elevador da escápula e o esternocleidomastóideo, com duração de sete segundos para cada repetição. As técnicas foram aplicadas dentro do limite de amplitude de movimento alcançada pela participante, que era solicitada a realizar o movimento contra a mão do terapeuta, o qual não empregava força. A aplicação era controlada, realizada lenta e relaxadamente. Depois da contração esta se interrompia para que houvesse um período de relaxamento, mas aproveitando-se o novo comprimento adquirido para ganho de amplitude de movimento. Após a aplicação das intervenções e dos questionários, foram realizados os levantamentos estatísticos da pesquisa, cujos resultados foram digitados em uma planilha eletrônica do programa Microsoft Office Excel® 2003. Para análise descritiva, utilizou-se o cálculo da média, desvio padrão e coeficiente de variação. Resultados Conforme expresso na Tabela I, a qual demonstra os resultados obtidos por meio da aplicação do Questionário de Dor e Desconforto - elaborado pelos autores - aplicado pré e póstratamento com a Técnica de Energia Muscular, observou-se uma melhora significativa de 92,80% das mulheres em relação à dor e de 52,60% em relação ao desconforto das pacientes. Tabela I - Comparativo entre pré e pós-aplicação questionário. Sintoma Dor Desconforto Pré 14 19 Pós 1 9 Ganho % 92,80% 52,60% Com relação à análise dos resultados da aplicação da Escala Visual Analógica da Dor, descritos na Tabela II, observouse que todas as mulheres apresentaram melhora do quadro álgico quando comparado pré e pós-tratamento pela Técnica de Energia Muscular. Essa melhora se comprova por meio do cálculo do coeficiente de variação, o qual apresentou um resultado de 72,73% neste item da avaliação. 257 Tabela II - Comparação entre a pré e a pós-aplicação da EVA. Comparativo Media (DP) Ganho % EVA (Pré) EVA (Pós) 5,26(± 1,75) 1,43(± 1,61) 72,73% Por fim, realizou-se a análise dos resultados obtidos com a aplicação do Questionário WHOQOL BREF – qualidade de vida. Para tal, separou-se o questionário em cinco domínios, sendo esses: físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e qualidade de vida. Das 26 questões existentes, duas delas - as de números 25 e 26 - foram direcionadas exclusivamente para qualidade de vida. A Tabela III demonstra os resultados em % de ganho da pós-avaliação em comparação à pré-avaliação com a aplicação do Questionário WHOQOL BREF – qualidade de vida. Tabela III - Comparativo de ganhos em relação aos domínios do questionário de WHOQOL. Domínio Físico Psicológico Relações sociais Meio ambiente Qualidade de vida 1 2 3 4 5 200% 16,67% 13,85% 5,08% 40% 15,74% 22,87% 3,74% 39,06% 24,65% 100% 63,64% 40,54% 8,65% 40,63% 33,33% 23,53% 18,18% 5,71% 33,33% 1% 1% 0,67% 1,29% 0,56% No que diz respeito ao domínio Físico, observou-se que as pacientes, após a aplicação da TEM, sentiram-se melhor, o que pode ser evidenciado através do ganho percentual da resposta 1 (200%), na qual houve um menor número de respostas na pós-avaliação. No que se refere ao domínio Psicológico, os resultados demonstram que a resposta número 4 teve o maior índice de escolha, representando 39,06% das respostas, sendo esta relacionada à satisfação das pacientes com vários aspectos de sua vida durante o período de tratamento. Em relação ao domínio Relações Sociais, 100% das respostas indicam que as pacientes estão satisfeitas com seus relacionamentos, pois deixaram de assinalar a resposta de número 1 como resultado. Ainda, no que diz respeito ao domínio Meio ambiente não houve melhora dos resultados no comparativo entre o pré e o pós-tratamento, já que as resposta 1 e 5 foram as menos citadas (33,33%), sendo a resposta de número 4 a melhor resposta para o resultado. Por fim, o domínio Qualidade de vida apresentou a resposta de número 2 como a mais assinalada na pós-avaliação, representando que 1,29% das pacientes passaram a estar satisfeitas com sua vida. Discussão Devido a poucos estudos serem localizados empregando a TEM, a discussão abaixo apresenta comparações com outros estudos que utilizaram terapia manual. Um estudo comenta 258 que caso haja suspeita de alguma patologia não se deve usar TEM até que se possa estabelecer o diagnóstico preciso. A patologia não exclui o uso da técnica, mas sua presença deve ser estabelecida de modo que a dosagem da aplicação possa ser modificada conforme o quadro clínico apresentado. Afirma também que os efeitos colaterais são mínimos ocasionalmente ocorrendo alguma rigidez ou sofrimento muscular após o tratamento, porém se a área tratada não for bem localizada ou se empregada muita força de contração, a dor poderá aumentar. Por fim, ainda observa-se a não existência de correlação significativa entre a diminuição da dor e o ganho de amplitude após a realização da técnica. Esse achado pode ser decorrente do fato que as técnicas de energia muscular são eficazes em pacientes que apresentam dor e espasmo muscular severo e não restrição de amplitude [19], por isso o presente estudo evidenciou mais os resultados em relação à dor, ao desconforto e à qualidade de vida do que à amplitude de movimento. Com a aplicação do Questionário de Dor e Desconforto e da EVA no pré e pós-intervenções, pôde-se observar melhora no quadro de dor e desconforto de 92,80% e 52,60% respectivamente e na EVA de 72,73% das pacientes tratadas, uma vez que esta técnica proporcionou o relaxamento das fibras musculares da região cervical, ocorrendo, assim, o alívio dos sintomas. Esses resultados demonstram a importância da aplicação da TEM não só em mulheres como, também, em demais pacientes que sofrem de dor e desconforto na região cervical. Este resultado corrobora com o encontrado por Morelli e Rebelatto [21], os quais examinaram a evolução de seis pacientes com diagnóstico de cefaleia do tipo tensional, submetidos a um protocolo de tratamento com terapia manual (tração cervical manual), alongamentos, mobilização vertebral e massagem, sendo a intensidade da dor avaliada pela EVA. Observou-se como resultado a melhora do quadro álgico apresentado com o tratamento proposto. Outro estudo [12] comparou o nível de dor, amplitude de movimento e força muscular antes e após aplicação da terapia de liberação posicional em 20 pacientes do sexo feminino. Utilizou-se para a avaliação da dor a escala visual numérica, verificando melhora do nível de dor após a aplicação, evidenciando assim que a terapia manual foi eficaz e benéfica no tratamento da cervicalgia. Já no trabalho realizado por Bógea et al. [3], que verificou a eficácia de um protocolo de tratamento com técnicas de Terapia Manual nas cervicalgias crônicas, foram avaliados 10 pacientes, de ambos os sexos e na faixa etária de 50 a 68 anos, utilizando como instrumento o goniômetro e EVA. Os resultados demonstraram eficácia do protocolo com melhora da dor e amplitude de movimento. As técnicas de terapias manuais são amplamente utilizadas no tratamento da cervicalgia, entre elas, podemos citar o Mulligan, pois proporciona muitos benefícios como, por exemplo, aumento da amplitude de movimento, relaxamento muscular e alívio da dor. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 No estudo realizado por Silva et al. [22], que avaliou o efeito da mobilização das vértebras cervicais na dor e amplitude de movimento em pacientes com disfunção craniomandibular, 14 pacientes foram avaliados para a amplitude da cervical e da abertura da boca e avaliação da dor na cervical e na articulação temporomandibular, antes e após a mobilização. Os resultados evidenciaram um aumento significativo na amplitude de movimento cervical, exceto para a flexão. As variáveis de dor e abertura da boca também obtiveram melhora significativa, concluindo, assim, que a técnica é eficaz para a melhora da dor e amplitude de movimento a curto prazo. Outro estudo [23] avaliou 21 indivíduos com diagnóstico clínico de cervicalgia, sendo que em 14 deles foi encontrada uma disfunção da coluna cervical superior e utilizou a manipulação por thrust como tratamento, objetivando observar um possível alívio do quadro álgico e o tempo de duração deste alívio. Os resultados evidenciaram melhora na redução da cefaleia e diferença insignificante nos sintomas de cervicalgia concluindo, assim, que não se devem usar somente as manipulações por thrust no tratamento da cervicalgia alta, mas também outras técnicas de terapia manual para a redução dos sintomas de dor e desconforto. O que corrobora com outro estudo [24], o qual comenta que as dores na região cervical por ser uma região nobre com características específicas na dinâmica do seu funcionamento requer maiores cuidados nas formas de abordagens e de utilização das técnicas manuais. Nesse estudo, os autores compararam diversas técnicas de terapias manuais (mobilização, manipulação e cinesioterapia livre) usados na abordagem fisioterápica, objetivando esclarecer quais resultados poderiam ser mais eficientes. Concluíram que quanto mais técnicas aplicadas no tratamento, melhores serão os resultados para a melhora da dor ou desconforto e ganho na amplitude de movimento da região cervical. Mayor et al. [25] compararam a efetividade da terapia manual frente a eletroestimulação nervosa transcutânea para a diminuição da intensidade da dor em pacientes com cervicalgia de origem mecânica subaguda ou crônica. Foram avaliados 90 pacientes, sendo 47 tratados com terapia manual e 43 com a eletroestimulação, utilizando como instrumento a escala visual analógica. Concluiu-se que houve uma redução na intensidade da dor percebida pelos pacientes, porém não se encontrou diferença entre os tratamentos. O tratamento com quiropráxia também pode ser utilizado para a melhora da amplitude de movimento e sintomatologia dolorosa, conforme estudo com 10 pacientes de ambos os sexos, com idade entre 22 e 44 anos, que apresentavam queixa de cervicalgia e realizaram esse tratamento. Observou-se redução significativa na presença da dor e, ainda, ganho de amplitude de movimento em apenas uma sessão de tratamento [26]. Num estudo que comparou a cefaleia cervicogênica por meio da eficácia da técnica de terapia manual e um programa de exercícios de baixa intensidade, utilizados de forma individual ou combinada, foram avaliados 200 participantes que preencheram os critérios diagnósticos de cefaleia cervicogênica Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 e foram divididos em quatro grupos: terapia manipulativa, terapia por exercício, terapia combinada (terapia manipulativa + exercício) e grupo controle. A dor foi avaliada através da intensidade e duração pelo questionário de Northwick Park Neck Pain Index, exame físico (dor ao movimento do pescoço, dor cervical superior comum, teste muscular craniocervical flexão) entre outros. Concluiu-se que a terapia manipulativa e o exercício físico podem reduzir os sintomas da cefaleia [27]. Na pesquisa realizada por Anderson e Seniscal [28], com o objetivo de comparar os efeitos do tratamento osteopático e relaxamento muscular progressivo, em vinte e seis pacientes com cefaleia do tipo tensional, os resultados evidenciaram que os exercícios de relaxamento e o tratamento osteopático realizado três vezes por semana tiveram uma significativa melhora na cefaleia em relação ao grupo que foi tratado somente com exercício de relaxamento. Avaliando a eficácia da terapia manual e exercícios físicos para a dor cervical mecânica, avaliada pela escala visual, em noventa e quatro pacientes, observou-se que os pacientes tratados com terapia manual e exercício apresentaram melhora significativa do quadro de dor, incapacidade e recuperação do paciente quando comparado com um grupo tratado somente com exercícios de mobilização e ultrassom terapêutico [29]. Outro estudo comparou os efeitos da terapia manual e dos exercícios de alongamento na dor cervical em cento e vinte e cinco mulheres. Foram divididas em dois grupos, o primeiro recebeu terapia manual duas vezes por semana e o segundo realizou exercícios de alongamento 5 vezes por semana e a dor foi avaliada pela escala visual analógica. Concluiu-se que ambos os grupos tratados com alongamentos ou terapia manual diminuíram consideravelmente a dor na região cervical, porém observou-se que os exercícios de alongamento podem ser recomendados em primeira instância, como uma intervenção terapêutica adequada para aliviar a dor em curto prazo [30]. Os principais sintomas da disfunção temporomandibular são a cefaleia, dor facial, limitação funcional, dor cervical entre outros. Estudo que avaliou a dor em vinte pacientes com disfunção temporomandibular, após a aplicação de técnicas de terapia manual e estas associadas à laserterapia de baixa potência, formou dois grupos: o primeiro tratado com terapia manual e o segundo com terapia manual + laserterapia. Utilizou-se o protocolo de terapia manual baseado em Chaintow, Makofsky e Bienfaint e a laserterapia o laser ASGA (904 nm) 6 J/cm2 aplicados em quatro pontos préauriculares. A dor foi avaliada pela escala visual analógica e verificou-se que as técnicas de terapia manual isoladas ou associadas à laserterapia apresentaram resultados satisfatórios no controle da dor [31]. Conclusão Após a realização do estudo concluiu-se que a técnica empregada proporcionou melhora no quadro de dor, desconforto e qualidade de vida, o que está evidenciado nos resultados 259 obtidos durante a execução do tratamento proposto, porém o estudo apresenta limitações devido ao baixo número de participantes tratadas. Referências 1. Kazemi A, Muñoz Corsini L, Martín Barallat J, Pérez Nicolás M, Henche M. Estudio etiopatogénico de la cervicalgia en la población general basado en la exploración física. Rev Soc Esp Dolor 2000;7(4):220-4. 2. Gómez-Conesa A, Abril Belchí E. Actividad fisioterapéutica en patología vertebral en Atención Primaria de Salud. Fisioterapia 2006;28(3):162-71. 3. Bógea PR, Vieira RACF, Fonteque MAC. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 261 Artigo original Habilidade de ativação do transverso do abdome em puérperas precoces de um hospital público da cidade de Salvador/BA Ability to activate the transversus abdominis in immediate postpartum in a public hospital of Salvador/BA Leila Corrêa de Albuquerque Feijó*, Melina Pimentel Magalhães** *Fisioterapeuta do Hospital Geral Roberto Santos e Professora da Universidade Católica do Salvador, ** Fisioterapeuta Resumo Abstract Estudo descritivo de corte transversal com mulheres no pósparto imediato na enfermaria de obstetrícia de um hospital público da cidade de Salvador/BA. Participaram as de gestação de feto único, sendo excluídas as menores de 18 anos, as com patologia lombar diagnosticada, as submetidas à cirurgia prévia de coluna e/ou toracoabdominal e as que referiram dor incapacitante em coluna lombar. As participantes foram selecionadas por formulário e avaliadas por Unidade de Biofeedback Pressórico (UBP). Das 56 mulheres, a maioria era parda 49 (87,5%), 39 (69,6%) tinham entre 18 e 27 anos. Das 31 (55,4%) que ativaram o transverso abdominal, 28 (57,1%) foram abordadas após 24 horas do parto, 16 (66,7%) eram primíparas, 20 (62,5%) de parto normal, 24 (54,6%) tiveram filhos nascidos a termo e 16 (61,5%) geraram neonatos de peso adequado. 26 (55,3%) negaram dificuldade para dejeções e 20 (62,5%) tinham tosse efetiva ao comando verbal. Apesar da ativação satisfatória do transverso do abdome, não se observou relação desta com cor, idade, dia da avaliação, paridade, tipo de parto, idade gestacional, peso dos neonatos, dificuldade nas dejeções e tosse. This is a descriptive cross-sectional study with women in the immediate postpartum period in the obstetrics ward of a public hospital of Salvador/BA. The participants were women with single fetus, and were excluded patients < 18 years old, those diagnosed with lumbar disease, those who underwent spine and/or thoracoabdominal surgery and those who reported disabling pain in the lumbar spine. They were selected using a questionnaire and evaluated by Pressure Biofeedback Unit (PBU). 49 (87.5%) out of 56 mothers were pardas (mixed race), 39 (69.6%) were 18 to 27 years old. From the 31 (55.4%) mothers who activated the transverse abdominal muscle, 28 (57.1%) were approached 24 hours after delivery, 16 (66.7%) were primiparous, 20 (62.5%) had normal birth, 24 (54.6%) had children born at term and 16 (61.5%) had adequate weight neonates. It was observed that 26 (55.3%) denied difficulty in defecation and 20 (62.5%) had effectively cough on verbal commands. Although activation of transversus abdominis is satisfactory, we did not observe association with color, age, date of evaluation, parity, kind of delivery, gestational age, newborns weight, cough and difficulty in defecation. Palavras-chave: transverso abdominal, período pós-parto, músculos abdominais. Key-words: transversus abdominis, postpartum period, abdominal muscles. Recebido em 7 de dezembro de 2010; aceito em 23 de maio de 2011. Endereço para correspondência: Leila de Albuquerque, Avenida Sete de Setembro, 2173/802, 40080-002 Salvador BA, E-mail: proleila@hotmail. com, [email protected] 262 Introdução Dos músculos abdominais, os anteriores provavelmente sofrem maior sobrecarga durante a gestação [1]. Destes, o Transverso do Abdome (TA), com fibras horizontais, deprime o abdome mais significativamente que os demais. Verdadeira cinta abdominal, sua contração aumenta a tensão na fáscia toracolombar. Sinérgico e antagonista do diafragma contém as vísceras na inspiração e aumenta a pressão intra-abdominal na expiração forçada, gerando maior alinhamento intervertebral. Importante estabilizador da coluna lombar, o TA minimiza sobrecargas nesta região e intervém nas grandes funções como defecação, tosse e parto [2-7]. O puerpério, período após o parto da placenta, dura cerca de 6 a 8 semanas e divide-se em estágios imediato (1º ao 10º dia), tardio (11º ao 45º dia) e remoto (além do 45º dia). No imediato ocorrem as mais importantes disfunções biomecânicas e fisiológicas pertinentes à gravidez [8,9]. Estirada pelo crescimento uterino, a cinta abdominal enfraquecida após o parto, dá pouco controle mecânico e suporte para o tronco, especialmente na região lombar, que fica vulnerável a lesões por uso incorreto [1,8,9]. Com a recuperação dos músculos abdominais ocorrendo cerca de seis semanas após o parto, de modo lento e às vezes imperfeito [9], no pós-parto, atividades diárias impostas sem respaldo muscular adequado são executadas de forma biomecânica incorreta. Assim, as alterações causadas por gestação e parto expõem a puérpera a prejuízos musculoesqueléticos significativos [10]. Frente aos distúrbios biomecânicos do pré e pós-parto, as mulheres adotam estratégias comuns. Uma é o uso excessivo dos músculos oblíquos e subutilização dos abdominais profundos inferiores, com perda da ativação do TA e restrição na parte superior do canister abdominal [11]. Este canister é proposto por Hodges [12], como coativação de diafragma, TA e assoalho pélvico, com aumento da pressão intra-abdominal e tensão na fáscia toracolombar, dando rigidez à coluna lombar [3]. A estabilização lombar gerada pelo TA, proposta em vários estudos, evidencia ser este o primeiro músculo ativado nos movimentos dos membros superiores em pacientes assintomáticos, prevenindo lesões lombares [3-5]. Para Sapsford et al. [13], a contração dos abdominais ocorre durante o treino dos músculos do assoalho pélvico, sendo o TA o mais ativo. Neumann & Gill [14], estudando músculos abdominais e do assoalho pélvico, afirmaram que a ação isolada dos músculos pélvicos é menos efetiva do que em sinergismo com o TA e que há aumento significativo da pressão intra-abdominal com contração associada. Verificar a habilidade de ativação do TA no pós-parto pode gerar informações sobre sua tonicidade neste período, e fundamentar possibilidades terapêuticas como seu fortalecimento e conscientização, tão relevantes quanto necessárias às atividades pós-gravídicas. Assim, este estudo objetiva verificar Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 a habilidade de ativação do transverso abdominal (HAT) em puérperas precoces. Material e métodos Deste estudo descritivo de corte transversal em mulheres no pós-parto imediato, da enfermaria de obstetrícia do Hospital Geral Roberto Santos, na cidade de Salvador/BA, participaram mães de feto único. Foram excluídas as menores de 18 anos, as com diagnóstico de patologia lombar, as que relataram cirurgia prévia em coluna e/ou toracoabdominal e as que referiram dor lombar incapacitante. Dados primários foram coletados por formulário elaborado pelos autores e pela utilização de Unidade de Biofeedback Pressórico (UBP) e os secundários obtidos por consulta aos prontuários médicos, de janeiro a março de 2010, com permissão da direção do hospital. Foi feito estudo piloto com 20 puérperas, para calibração do formulário e sua posterior aplicação após os devidos ajustes. As mulheres selecionadas por formulário foram submetidas à avaliação indireta da habilidade de ativação isolada do Transverso do Abdome (HAT) com a UBP. O formulário semiestruturado com dados sociodemográficos, obstétricos e clínicos compôs-se de questões objetivas, aplicadas pelos pesquisadores. A avaliação da HAT foi feita com o Stabilizer Pressure Biofeedback™, ou Unidade de Biofeedback Pressórico (UBP), fabricado pelo Chattanooga Group, composta por transdutor pressórico com três bolsas infláveis, um catéter e um esfigmomanômetro. A bolsa tem 16,7 x 24 cm de material inelástico. O esfigmomanômetro varia de 0-200 mmHg, graduado de 2 em 2 mmHg, e registra alterações de pressão na bolsa, por mudanças de posição do examinado durante a contração do TA, o que demonstra o grau de ativação deste músculo [2,15]. Para o teste, as mulheres ficavam em supino no leito hospitalar com a bolsa inflável sob a coluna lombar, membros superiores ao lado do corpo e inferiores em flexão de quadril a 70º e joelho a 110º, aferidos com goniômetro para membros inferiores marca Carci®. A bolsa pressórica era insuflada dez vezes, para evitar refluxo de ar e permitir sua distribuição uniforme. Posteriormente, com a válvula fechada, era posta sob a coluna lombar da puérpera, e a insuflação aumentada para 40 mmHg. Após informações necessárias, era solicitada a contração do TA que consistia no movimento do abdome em direção à coluna, de forma lenta e controlada. Três contrações eram solicitadas e mantidas por dez segundos, aferidos por timer digital da marca Herweg®®. Durante a contração, a pressão de 40 mmHg deveria ser mantida e registrada no esfigmomanômetro, e neste período, movimentos de pelve ou tronco não deveriam ocorrer, representando assim a habilidade da puérpera em ativar seu TA. Eram orientados três ciclos respiratórios antes de cada contração e instituiu-se o mínimo de duas contrações sem alteração de pressão, mantidas pelo tempo determinado, para ser considerada presente a HAT. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 263 Movimentos da coluna ou pelve durante a contração provocavam oscilação de pressão no esfigmomanômetro, demonstrando assim inabilidade de ativação do TA, expressa no formulário pela palavra não. Ausência destes movimentos durante as contrações, mantida a pressão de 40 mmHg, constatava HAT, expressa pela palavra sim no formulário. As variáveis sociodemográficas foram idade em anos e cor da pele em branca, preta, amarela, parda e indígena, segundo o IBGE. As obstétricas: paridade, categorizada em primíparas (um parto) e multíparas (dois ou mais partos); idade gestacional do recém-nascido (RN), de acordo com Sarmento [16]: pré-termo (< 37 semanas), termo (37 a 42 semanas) e pós-termo (> 42 semanas); tipo de parto, classificado em normal e cesáreo; peso do RN ao nascer, classificado em baixo peso (< 2.500 g), peso insuficiente (entre 2.500 e 2.999 g), peso adequado (entre 3.000 e 3.999 g) e excesso de peso ou macrossomia (RN com 4.000 g ou mais) segundo critérios da OMS [17]; e dia da avaliação, correspondente ao dia pós-parto, categorizado em primeiras 24 horas e após 24 horas. As variáveis clínicas foram presença de tosse ativa e dificuldade de dejeções. O banco de dados foi criado no programa Excel (versão 2003) e analisado no software R (v. 2.10.1), com correção dos dados digitados, para eliminar possíveis erros. Foi feita análise descritiva (frequência absoluta e relativa) para identificar características gerais e específicas na amostra estudada. Para verificar associações significativas entre as variáveis qualitativas e a habilidade de ativação do transverso abdominal, foi utilizado o teste Qui-Quadrado ou Exato de Fisher e consideradas estatisticamente significantes associações com p-valor < 0,05. Os resultados foram apresentados em tabelas comparativas elaboradas no programa Word (versão 2003), para melhor visualização e interpretação dos dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, sob o protocolo 089/2009. As puérperas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual foram expostos os objetivos do estudo e garantido o anonimato, confidencialidade e não maleficência, conforme aspectos éticos determinados pela Resolução 196/96. e 7 (12,5%) dentro das primeiras 24 horas pós-parto. Nas variáveis clínicas, verificou-se que 47 (83,9%) negaram dificuldade nas dejeções, e a tosse ativa esteve presente em 32 (57,1%) puérperas (Tabela I). Resultados *RN = recém-nascido; **4 neonatos não tiveram o peso registrado. Das 69 mulheres selecionadas por critério de inclusão, 8 foram excluídas por serem menores de 18 anos e 5 por história de patologia em coluna lombar, totalizando 56 mães. As avaliadas foram de maioria parda 49 (87,5%). 39 (69,6%) tinham de 18 a 27 anos, 15 (26,8%) de 28 a 37 anos, e apenas 2 (3,6%) idade maior ou igual a 38 anos (Tabela I). Nas variáveis obstétricas, houve predomínio de multíparas 32 (57,1%). Para 44 (78,6%) a gestação foi a termo e 32 (57,1%) mulheres tiveram parto normal. Do total avaliado, 26 (50,0%) geraram neonatos de peso adequado. 49 (87,5%) foram avaliadas após 24 horas do parto, Da população estudada, 31 (55,4%) mulheres obtiveram a HAT satisfatória. Destas, 26 (53,1%) eram pardas, 5 (71,4%) negras e 12 (80,0%) com idade entre 28 e 37 anos. Das 25 (44,6%) que não ativaram o TA, 20 (51,3%) tinham de 18 a 27 anos, 23 (46,9%) eram pardas e 2 (28,6%) negras (Tabela II). A Tabela II mostra as variáveis obstétricas e sua influência na HAT. Das 31 (55,4%) mulheres com HAT, 16 (66,7%) eram primíparas e 15 (46,9%) multíparas, 24 (54,6%) tiveram gestação a termo e 20 (62,5%) parto normal. Do total de neonatos daquelas com HAT, 16 (61,5%) tinham peso Tabela I - Características sociodemográficas, obstétricas e clínicas de puérperas precoces de um hospital público da cidade do Salvador/ BA, 2010. Características sociodemográficas Cor da pele Parda Preta Idade (anos) 18-27 28-37 ≥ 38 Características obstétricas Paridade Primíparas Multíparas Idade gestacional do RN* Pré-termo Termo Tipo de parto Normal Cesáreo Peso do RN ao nascer** Baixo peso Peso insuficiente Peso adequado Excesso de peso Dia da avaliação (dia pós-parto) < 24 horas > 24 horas Características clínicas Dificuldade de dejeções Não Sim Presença de tosse Não Sim N (56) % 49 7 87,5 12,5 39 15 2 69,6 26,8 3,6 24 32 42,9 57,1 12 44 21,4 78,6 32 24 57,1 42,9 12 10 26 4 23,1 19,2 50,0 7,7 7 49 12,5 87,5 47 9 83,9 16,1 24 32 42,9 57,1 264 adequado. Das que ativaram o TA, 3 (42,9%) foram avaliadas nas primeiras 24 horas pós-parto, e 28 (57,1%) após. Das mulheres sem HAT, 17 (53,1%) eram multíparas, 20 (45,4%) tiveram gestação a termo e 13 (54,2%) parto cesáreo. Do total de neonatos deste grupo, 10 (38,5%) tinham peso adequado. Em 21 (24,9%) mães, a avaliação ocorreu após 24 horas do parto, enquanto 4 (57,1%%) foram abordadas nas primeiras 24 horas. Nota-se na Tabela II que, das 31 (55,4%) mulheres que ativaram o TA, 26 (55,3%) não tinham dificuldade para dejeções e 20 (62,5%) possuíam tosse eficaz. Das 25 (44,6%) sem HAT, 4 (44,4%) apresentaram dificuldade nas dejeções e 13 (54,2%) eram incapazes de tosse efetiva. Tabela II - Associação de características sociodemográficas, obstétricas e clínicas com habilidade de ativação do transverso abdominal de puérperas precoces de um hospital público da cidade do Salvador/BA, 2010. Habilidade de ativação sim não valor N (31) % N (25) % de p Características sóciodemográficas Cor da pele 0,4428 Parda 26 53,1 23 46,9 Preta 5 71,4 2 28,6 Idade (anos) 0,0286 18-27 19 48,7 20 51,3 28-37 12 80,0 3 20,0 ≥ 38 2 100 Características obstétricas Paridade 0,1793 Primíparas 16 66,7 8 33,3 Multíparas 15 46,9 17 53,1 Idade Gestacional do RN* 1,0000 Pré-termo 7 58,3 5 41,7 Termo 24 54,6 20 45,4 Tipo de Parto 0,2804 Normal 20 62,5 12 37,5 Cesáreo 11 45,8 13 54,2 Peso do RN ao nascer** 0,7430 Baixo peso 5 41,7 7 58,3 Peso insuficiente 6 60,0 4 40,0 Peso adequado 16 61,5 10 38,5 Excesso de peso 2 50,0 2 50,0 Dia da Avaliação (dia pós-parto) 0,6880 < 24 horas 3 42,9 4 57,1 > 24 horas 28 57,1 21 42,9 Características clínicas Dificuldade de Dejeções 1,0000 Não 26 55,3 21 44,7 Sim 5 55,6 4 44,4 Presença de Tosse 0,2804 Não 11 45,8 13 54,2 Sim 20 62,5 12 37,5 *RN = recém-nascido **quatro neonatos não tiveram o peso registrado Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Discussão A habilidade de ativação do transverso abdominal em mulheres no puerpério imediato foi satisfatória. As mães tinham entre 18 e 27 anos e eram de maioria parda. Em geral, as que ativaram o TA foram abordadas após 24 horas do parto, eram primíparas, de parto normal, com neonatos de termo e com peso adequado ao nascer. As mesmas negaram dificuldade às dejeções e tinham tosse efetiva ao comando verbal. A faixa etária da população foi equivalente à estudada por Herrington & Daves [18] que avaliaram a ativação do TA em adultos jovens e assintomáticos. Cairns et al. [19] não notaram significância estatística com relação a ativação do TA em população adulta. Apesar de terem estudado faixa etária mais jovem, Perez & Feijó [5] também não encontraram associação estatisticamente significante. Assim, os resultados semelhantes ao do presente estudo sugerem que, de fato, a HAT independe da idade. Existem evidências quanto à constituição muscular do negro ter predomínio de fibras do tipo II, cuja capacidade de hipertrofia é maior [5]. Okano et al. [20], comparando o desempenho motor em diferentes sexos e grupos étnicos, observaram diferente força e resistência nos músculos abdominais, tendo a raça negra obtido resultados superiores. No presente estudo, a maior porcentagem de mulheres com HAT foi de pardas. Sendo minoria em número absoluto, as negras apresentaram, neste estudo, ativação satisfatória. Contudo, esta associação não foi estatisticamente significante. Distensão excessiva e consequente diminuição na força de contração dos músculos abdominais e pélvicos resultam das adaptações musculoesqueléticas gestacionais, como anteversão pélvica acompanhada ou não de hiperlordose lombar e mudanças do ângulo de inserção destes músculos [21,22]. Acredita-se que protrusão abdominal seja comum em puérperas por perda de tônus dos músculos abdominais, distendidos pelo útero gravídico [1,8,9]. Entretanto, no presente estudo, a maioria das mães foi capaz de contração efetiva do TA. Pandofe et al. [23], estudando mulheres de 20 a 30 anos, investigaram a relação entre hiperlordose lombar, abdome protruso e diminuição funcional da parede abdominal, observando que a amostra com protrusão abdominal apresentou grau máximo de força muscular de abdominais. Vale ressaltar que o músculo testado foi o reto abdominal, que eram nulíparas e que algumas praticavam atividade física de alta intensidade, o que limita possível comparação com o presente estudo. Sabe-se que a lombalgia crônica produz déficit de força dos músculos estabilizadores lombares, com destaque para o TA [2,15,18,19]. Esta condição foi interesse de Marques & Bigolin [24], que avaliaram a força muscular abdominal no pré e pós-operatório de artrodese lombar. Não constataram diferença significativa de força, em concordância com a literatura, que refere propensão do TA à fatigabilidade nos distúrbios lombares. Estes autores avaliaram o TA utilizando o biofeedback pressórico, como no presente estudo, mas a dor Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 lombar incapacitante, característica daquela população, foi critério de exclusão nesta, o que diferencia os estudos. As mães avaliadas após 24 horas do parto tiveram, na sua maioria, HAT satisfatória, diferente das abordadas nas primeiras horas. Para Polden & Mantle [8], nas primeiras horas pós-parto, entorpecimento do períneo é frequente, tendo havido anestesia local ou não. Ademais, traumas como lacerações espontâneas e episiotomia são dolorosos e levam tempo para cicatrizar. Com o abdome vazio, pendente e ainda aumentado, à medida que se movem, executam funções como falar ou rir, as puérperas percebem falta de controle dos músculos abdominais. Sem tempo suficiente para adaptação às mudanças ocorridas, conclui-se que a dificuldade efetiva de contração muscular é realmente maior nas primeiras horas pós-parto. No presente estudo, a HAT foi mais frequente em primíparas. Nas multíparas, a paridade pode contribuir para o estresse mecânico cumulativo do tecido conectivo da parede abdominal [22]. Rett et al. [22], estudando a diástase do músculo reto do abdome (DMRA) no puerpério imediato de parto normal, observaram prevalência de DMRA semelhante entre primíparas e multíparas e associaram tal fato à fraqueza muscular abdominal decorrente da última gestação nos dois grupos. Esta associação não cabe para o presente estudo em virtude dos resultados apresentados. O grupo com HAT teve predomínio de partos normais. Investigando a influência da via de parto sobre a força muscular do assoalho pélvico no pós-parto remoto, Barbosa et al. [25] mostraram que o parto normal em primíparas diminuiu a força muscular do assoalho pélvico. Pela relação de sinergismo desta musculatura com os abdominais, discutida em alguns estudos [3,11,13,14], pode-se supor decréscimo de força do TA em primíparas de parto vaginal. Os resultados do presente estudo vão de encontro a este pensamento. Contudo, o período pós-parto em que se deu a avaliação neste e no estudo citado foram diferentes, o que limita uma possível comparação. Rett et al. [26] sugeriram ser a recuperação do parto cesáreo semelhante à do vaginal, salvo particularidades como dor na ferida operatória e maior restrição ao leito. Questiona-se a ausência de HAT ocorrida neste estudo, naquelas de parto cesáreo, pela incisão cirúrgica na parede abdominal. Na gravidez, peso e dimensões do útero mudam a morfologia musculoesquelética do tronco, aumentando distâncias entre inserções musculares, alongando excessivamente os músculos abdominais [21]. Seria esperado que mulheres com gestação a termo e neonatos de peso adequado tivessem dificuldade em ativar o TA, pela grande distensão da parede abdominal. Os resultados deste estudo contrariam esta hipótese, embora não tenha sido encontrada na literatura constatações a este respeito. Constipação é comum no pós-parto imediato, por fraqueza de abdominais, relaxamento dos músculos lisos do intestino, e por temor de dores perineais, rasgadura da 265 episiotomia ou rompimento da sutura no parto cirúrgico [8]. Contrariando esta afirmação, a maior parte das mulheres com HAT deste estudo, negou dificuldade nas dejeções. Consistindo a rotina nutricional da unidade de internação de dieta normal a branda, sem componente laxativo, entende-se que as dejeções regulares no puerpério imediato não estejam associadas à dieta, que não foi considerada variável de análise. Não foram encontrados outros estudos para serem comparados, permitindo melhor entendimento desta condição. A tosse, normalmente dolorosa em cirurgias abdominais, após cesariana é mais complicada dada a frouxidão muscular abdominal [8]. No presente estudo, mães que tiveram HAT satisfatória tossiram ao comando verbal. Acredita-se que isto se deva ao maior número de parto normal, já que as submetidas à cesariana relataram dificuldade em tossir por dor incisional e medo de possível rompimento da sutura. Não se constatou diferença significativa quanto à capacidade de tossir no grupo das que não ativaram o TA. Esta pesquisa é relevante por verificar a habilidade de ativação do TA em puérperas precoces, esclarecendo sobre este músculo neste período, assunto pouco discutido. Teve as vantagens de ser estudo de corte transversal de baixo custo e de não ter havido recusas, além do instrumento de coleta ser de fácil utilização. Contudo, a pequena amostra foi fator limitante, já que não foram encontradas associações positivas nas variáveis estudadas. Conclusão Análise e discussão dos resultados permitem afirmar que mulheres no puerpério imediato possuem habilidade de ativação do transverso abdominal, aferida pela Unidade de Biofeedback Pressórico. Porém, neste estudo a ativação do TA não teve relação com idade, cor, paridade, tipo de parto, idade gestacional, peso do RN ao nascer, dia da avaliação, dificuldade nas dejeções e capacidade de tossir. Sugere-se novos estudos para evidências científicas mais contundentes. Referências 1. Stephenson RG, O’Connor LJ. Fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2004. 2. Costa LO, Menezes LC, Lançado RL, Oliveira WM, Ferreira PH. Confiabilidade do teste palpatório e da Unidade de Biofeedback Pressórico na ativação do músculo transverso do abdome em indivíduos normais. Acta Fisiátrica 2004;1(3):101-5. 3. Lemos AM, Feijó LA. A biomecânica do transverso abdominal e suas múltiplas funções. Fisioter Bras 2005;6(1):66-70. 4. Gouveia KM, Gouveia EC. O músculo transverso abdominal e sua função de estabilização da coluna lombar. Fisioter Mov 2008;21(3):45-50. 5. Perez RM, Feijó LA. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 267 Artigo original Lesões ocorridas em árbitros de futebol da CBF durante a partida, treinamento e teste físico Injuries occurred with CBF football referees during the match, training and physical test Alberto Inácio da Silva, D.Sc.*, Mauro Ricetti Paes** *Prof. Adjunto do departamento de Educação Física da UEM – Campus Ivaiporã, **Mestrando em Fisiologia Geral – UFPR, Membro do Grupo de pesquisa em Árbitro de Futebol Resumo Abstract Atualmente, as lesões desportivas têm ganhado destaque nos estudos envolvendo o futebol. Há muito se aventa que o árbitro de futebol estaria suscetível aos mesmos tipos de lesões que os jogadores. Assim sendo, o objetivo do trabalho foi analisar as situações em que o árbitro profissional de futebol sofre lesões. Para tanto, a amostra foi composta por 18 árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com idade de 37,2 ± 3,3 anos, entrevistados durante o teste físico aplicado pela Federação Paranaense de Futebol (FPF). Estabeleceram-se três situações em que o árbitro poderia se lesionar e se esta lesão seria considerada lesão esportiva: durante a avaliação física, no treinamento e no transcorrer da partida. Do total da amostra pesquisada, 10 árbitros declararam ter sofrido algum tipo de lesão esportiva em uma das situações descritas anteriormente. Foram identificadas 25 lesões. Destas 80% ocorreram durante o treinamento do árbitro. Os tipos encontrados foram 92% (23) de distensões e 8% (2) de fraturas. Por estes dados, podemos concluir que os árbitros de futebol pouco se lesionam durante o jogo, sendo mais frequente a ocorrência de lesões físicas durante o treino ou o teste físico. Currently, sports injuries have highlighted studies which include football. For a long time it is known that football referee would be susceptible to the same injuries than the football players. Thus, the aim of this study was to analyze injuries situations in professional football referees. The sample was composed of 18 referees from Brazilian Football Confederation (BFC), 37.2 ± 3.3 years old, who were interviewed during their physical test applied by Paranaense Football Federation (PFF). We established three situations that a referee could be injured and if this injury would be considered or not a sports injury: during physical evaluation, in a training session or in a match. Ten of eighteen referees suffered one type of sports injury described in the above situations. We identified 25 injuries. Eighty percent of these injuries occurred during the referee training session, and the most common injuries were 92% (23) distensions and 8% (2) fractures. Therefore, we can conclude that football referees suffer few injuries during the game and more frequently get injured during training session or during their physical test. Key-words: referee, soccer, sports injuries. Palavras-chave: árbitro, futebol, lesões esportivas. Recebido 11 de fevereiro de 2011; aceito em 17 de junho de 2011. Endereço para correspondência: Alberto Inácio da Silva, Rua Santa Mariana, 35, Guanabara I, 86870-000 Ivaiporã PR, E-mail: albertoinacio@bol. com.br 268 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Introdução Materiais e métodos Atualmente, as lesões desportivas têm ganhado destaque nos estudos envolvendo os esportes de contato, nos quais o futebol está incluído [1,2]. Há uma máxima que afirma que “o esporte proporciona saúde”. Entretanto, esta afirmação nem sempre é verdadeira, pois na maioria das vezes, os indivíduos que praticam esportes, seja este amador ou profissional, não possuem acompanhamento médico e, muitas vezes, nem passam antes da temporada por uma avaliação médica ou física [1]. Como esporte de alto nível, o futebol tem sido alvo de inúmeras mudanças nos últimos anos, principalmente em função da adoção de diferentes metodologias de treinamento e das exigências físicas cada vez maiores. Isto, por sua vez, obriga os atletas a trabalharem perto de seus limites máximos de exaustão, culminando com maior predisposição às lesões [2]. Há muito se aventa que o árbitro de futebol estaria suscetível aos mesmos tipos de lesões que os jogadores. Afinal, o futebol mundial se tornou mais competitivo e mais rápido nos últimos anos, e o árbitro não pode permanecer à margem desse desenvolvimento [3]. Além de boa preparação física para poder avaliar as jogadas, evitando com isso que as regras sejam violadas, o árbitro deve também estar bem posicionado para visualizar as agressões entre os atletas, pois o risco de um jogador sofrer ferimento é cerca de 1000 vezes maior do que o encontrado na maioria de outras profissões [4]. Apesar do estresse fisiológico que o árbitro é submetido no transcorrer de uma partida, somente os jogadores de futebol passaram a ser objeto de investigação no que se refere à lesão esportiva. Contudo, poucos estudos relatam a prevenção de lesões no futebol, algumas explicações para esta ausência de estudos sobre este tema pode ser a falta de evidências sólidas sobre os fatores de risco e os mecanismos das lesões em diferentes níveis de jogadas [5]. Por outro lado, trabalhos de cunho científico envolvendo árbitros de futebol são muito recentes e escassos, se tomarmos como referência os estudos envolvendo os jogadores de futebol [7,8]. Na revisão bibliográfica que foi realizada apenas dois trabalhos discorrendo sobre o tema lesão em árbitros de futebol foi encontrado. Contudo, estes buscaram analisar a ocorrência de leões em duas situações apenas: durante o jogo ou o treinamento [9,10]. Portanto, não foi encontrada nenhuma referência sobre a ocorrência de lesão durante o teste físico dos árbitros, momento este que possui ainda muita controvérsia, sendo objeto de vários trabalhos [3,6,7,11-13]. O diagnóstico das reais situações em que o árbitro possa vir a ser acometido por uma lesão é de fundamental importância, pois poderão ser tomadas medidas profiláticas visando a diminuição da chance de ocorrência da mesma. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi fazer uma análise retrospectiva das incidências, circunstâncias e características das lesões que acometem o árbitro de futebol. Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa retrospectiva, que objetivou a identificar em que situação, local e o tipo de lesões que o árbitro de futebol é acometido. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UEPG (parecer: 49/2007). Um consentimento escrito foi obtido de todos os sujeitos, antes do início deste estudo, depois de uma breve, mas detalhada explicação sobre a natureza da pesquisa. A população deste estudo foi composta por árbitros profissionais da Federação Paranaense de Futebol (FPF) credenciados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Assim sendo, a amostra foi composta por 18 árbitros da CBF pertencentes ao quadro de arbitragem da FPF, ou seja, 82% dos árbitros do Paraná credenciados pela CBF. Os árbitros que não compareceram no dia do teste foram excluídos da pesquisa, ou seja, como critério de exclusão se utilizou a ausência do árbitro no dia do teste físico. Os dados foram coletados mediante entrevista, na qual o entrevistador preenchia um questionário modelo semiestruturado predeterminado durante os testes efetuados pela FPF nas seguintes cidades: Curitiba, Maringá, Rolândia, Cascavel e Pato Branco. O questionário utilizado foi elaborado para se padronizar as perguntas de maneira a caracterizar precisamente as atividades vinculadas à arbitragem, a fim de considerar as lesões ocorridas durante as mesmas como lesões esportivas. A definição da situação, localização e tipo de lesão, proposta pela Union European of Football Association (UEFA) para padronizar o levantamento dos tipos de lesões que eram acometidos os jogadores de futebol foram utilizadas [14]. Portanto, só foram consideradas lesões esportivas as ocorridas durante uma partida de futebol, durante o treinamento físico e durante os testes físicos aplicados pela FPF ou pela CBF, para a avaliação física dos árbitros. Foram descartadas as lesões que ocorreram fora dessas três situações pré-determinadas. Além disso, foi perguntado ao árbitro quantas vezes este treinava durante a semana, se havia acompanhamento de um profissional e quando ele entrou para o quadro de árbitros da federação. Para o levantamento do tipo de lesão sofrida pelos árbitros, utilizou-se parcialmente a classificação sugerida por Hägglund e colaboradores [14], ou seja, as lesões foram classificadas em distensão, luxação, entorse, fratura e contusão. Ao indagar quais as lesões sofridas pelos árbitros, questionou-se também se ele teria recorrido a auxílio médico e o que ele diagnosticou; se teria passado por algum tratamento fisioterapêutico e por quanto tempo. Caso o árbitro não tivesse solicitado auxílio médico, indagamos em que local teria ocorrido a lesão e assim caracterizar qual tipo de lesão o teria acometido. Por último, questionamos se o árbitro praticava regularmente atividade física ou não; qual era a frequência e a duração dessa preparação física (treinamento). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Resultados A idade dos árbitros avaliados foi de 37,2 ± 3,3 anos, sendo que o tempo médio de experiência na arbitragem foi de 11,9 ± 4 anos. Do total da amostra desta pesquisa (n = 18), apenas 10 árbitros declararam ter sofrido algum tipo de lesão esportiva em uma das situações descritas anteriormente, representando, portanto 55% da amostra pesquisada. Foram identificadas 25 lesões, sendo que cinco árbitros (50%) sofreram apenas uma lesão, dois árbitros (20%) sofreram três lesões, um árbitro (10%) sofreu duas lesões outro quatro lesões e um terceiro sofreu oito lesões. Das 25 lesões relatadas, 20 ocorreram durante o treinamento físico, três durante os testes físicos aplicados pela Comissão de Arbitragem da FPF ou da CBF e duas ocorreram quando o árbitro estava arbitrando uma partida. Portanto, 80% das lesões que acometem os árbitros, ocorrem durante seu treinamento físico. Na Figura 1, está apresentado em que situação os árbitros mais se lesionam. O maior número de lesões, em comparação ao número de árbitros lesionados é devido ao fato de que alguns árbitros sofreram mais de uma lesão e/ ou sofreram lesões em situações diferentes, caracterizando, assim, mais de uma lesão. Quando calculado a incidência de lesão por 1000 horas de atividade, foram encontrados os seguintes valores de incidência média: 129,22 ± 25,96 lesões por 1000 horas de teste, 32,58 ± 22,12 lesões por 1000 horas de treino. A lesão mais frequente na arbitragem foi a distensão. Este tipo de lesão acomete os árbitros nas três situações descritas anteriormente. O segundo tipo de lesão desenvolvida pelos árbitros foi a fratura, como demonstrado na Tabela I. Os árbitros não apresentaram nenhuma luxação, entorse ou contusão. O maior número de lesão que os árbitros foram acometidos foi a distensão, esta por sua vez foi diagnosticada principalmente na região da panturrilha. No entanto, foi constatado também este tipo de lesão em outra parte do membro inferior (Figura 2). Nº de lesões Figura 1 - Situações onde o árbitro se lesiona. 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Treinamento Teste Jogo Tabela I - Tipo e situações onde o árbitro sofre lesão. Tipo da Lesão Distensão Fratura Treinamento 19 1 Teste 3 - Jogo 1 1 Figura 2 - Local onde o árbitro sofreu distensão. coxa post 22% coxa ant 4% Panturrilha 74% Árbitros na faixa etária entre os 40 e 45 anos são os que apresentam mais lesões (Figura 3). Dos 18 árbitros pesquisados, quatro tinham entre 30 a 34 anos, nove entre 35 a 39 anos e cinco entre 40 a 45 anos. Com relação à frequência e duração da atividade física desenvolvida pelos árbitros visando sua preparação física para arbitrar ou ser submetido aos testes físicos, os árbitros responderam que treinam em média 4,6 ± 1,8 dias por semana, e cada sessão dura em média 75,8 ± 33,8 minutos. Figura 3 - Tipo de lesão mais frequente em cada faixa etária dos árbitros. 14 12 10 n. de lesões O tempo de exposição à lesão nas partidas e treinamentos foi calculado com base nas informações fornecidas pelos árbitros durante a entrevista. O risco de lesão por 1000 horas foi calculado como o número de lesões x 1000/ total de horas gasto em cada uma das situações acima mencionadas. O tempo de exposição nos testes físicos foi calculado da mesma forma, contudo, levando em consideração que os árbitros da CBF são testados duas vezes por ano pelo departamento de arbitragem estadual e uma pelo departamento de arbitragem nacional, sendo estas informações consideradas para o cálculo do tempo gasto nesta situação. Para a apresentação dos dados utilizou-se a estatística descritiva. Os resultados são reportados como valores médios e com os respectivos desvios. 269 8 6 4 2 0 30-34 anos 35-39 anos 40-45 anos Distenção Fratura 270 Discussão Dos 10 árbitros que relataram ter sofrido algum tipo de lesão, 80% possuíam diagnóstico médico, ou seja, oito árbitros procuraram cuidados médicos após a lesão. Isso ajudou na identificação mais precisa do tipo de lesão que os árbitros haviam sofrido. Na Figura 1 e Tabela I pode ser observado em quais situações e tipos de lesões que os árbitros foram acometidos. Com exceção de um árbitro, todas as outras lesões relatadas ocorreram no membro inferior, ou seja, 99%. A lesão no membro superior do árbitro (clavícula) foi ocasionada, segundo ele, por uma queda durante a partida. Um estudo da topografia das lesões no futebol envolvendo jogadores, realizado durante 64 jogos da Copa do Mundo de 2002, identificou que as lesões ocorridas durante esta competição afetaram predominantemente, as articulações do joelho, tornozelo, e dos músculos da coxa e panturrilha, ou seja, membros inferiores [15]. Em outro estudo, durante competições de futebol organizadas pela FIFA e Jogos Olímpicos entre os anos de 1998 e 2001, constatou-se que as lesões ocorreram principalmente no tornozelo (17%), coxa (16%), perna (15%) e joelho (12%), ou seja, também nos membros inferiores [16]. O maior número de lesões ocorreu quando os árbitros estavam treinando (Tabela I) para arbitrar uma partida ou serem submetidos aos testes da FIFA. Portanto, árbitros apresentaram número maior de lesões relacionadas a uma musculatura não preparada para o esforço solicitado, ou seja, a distensão muscular durante o treinamento físico, atingindo principalmente a panturrilha (Figuras 1 e 2). Corroborando com nossos achados verificamos que durante a preparação dos árbitros para a Copa de 2006, foi desenvolvido um estudo visando conhecer que tipo e em que situação os árbitros se lesionavam, nesse trabalho, também foi constatado que o maior número de lesões ocorria durante o treinamento e acometiam em maior número a panturrilha [9]. Jogadores apresentam maior número de lesões em decorrência de pancada (contusão), ou seja, os jogadores possuem maior número de lesões no tornozelo e joelho, por haver contato constante entre eles. Contudo, as lesões musculares também foram maiores que outros tipos de lesões em um estudo envolvendo jogadores de futebol no Brasil [2]. Os árbitros de futebol em vários países, inclusive onde o futebol é altamente competitivo, como na Itália, Espanha, Portugal e Brasil, não são profissionais e trabalham em tempo integral fora do campo de futebol. Eles, normalmente, possuem idade superior à dos jogadores. Apesar desta diferença, os árbitros devem acompanhar as jogadas não importando o ritmo que as mesmas ocorrem [17]. Para melhorar esta situação, os órgãos governamentais da Europa e do futebol mundial, a UEFA e a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) movimentaram-se para profissionalizar os árbitros de futebol nas últimas temporadas [3]. O fato de que os árbitros são em média 10 a 15 anos mais velhos que os jogadores teria um efeito negativo no Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 rendimento físico [3]. O árbitro deve ser submetido a programa de treinamento especializado para garantir um nível apropriado de preparação física, para conduzir uma partida oficial de futebol e ser submetido aos testes físicos, pois com o aumento da idade observou-se uma maior pré-disposição para as lesões musculares (Figura 3). Arnason e colaboradores [18] relatam que o aumento de idade e previas distensões no músculo ísquio-tibial aumentaram o fator de risco para distensão no ísquio-tibial em jogadores de futebol. A importância da diferença de idade entre os jogadores e árbitros pode ser justificada pelo quesito experiência. Esta é considerada entre os órgãos diretivos da arbitragem internacional FIFA e a UEFA como um pré-requisito fundamental para o indivíduo adentrar a elite da arbitragem [19]. Estudos demonstram que os árbitros de futebol para ter condições de arbitrar jogos de primeira linha, de nível nacional e internacional, necessitam ter alguns anos de experiência [20], por isso os árbitros aqui estudados apresentaram em média 38 anos de idade e 12 anos de experiência. Os árbitros de futebol possuem uma profissão e utilizam a arbitragem para uma complementação de renda, isto implica em que suas sessões de treinamento físico devem ser organizadas de forma que não interfiram nos compromissos de trabalho. Portanto, para garantir que os árbitros tenham nível ótimo de preparo físico, deve-se enfatizar e reforçar a qualidade da estrutura de seus programas de treinamento, fornecendo o estímulo adequado para o treinamento a fim de que consigam atingir o nível adequado de preparo, uma vez que o tempo que pode ser dedicado aos treinos é curto [3,6,7]. Os árbitros afirmaram fazer uma preparação física para arbitrar, realizavam esta atividade 4 vezes por semana, sendo que a duração era em média de 75 minutos. A atividade física praticada pela grande maioria dos árbitros foi a corrida aeróbica, sendo ignorado por eles os trabalhos anaeróbicos, ou seja, corridas intermitentes. Portanto, o que observamos aqui, é que a grande maioria dos árbitros, treina com frequência, duração e tipo de atividade física recomendada para uma pessoa possuir o mínimo de qualidade de vida. Isso também já foi observado e discutido em outro país. Krustrup e Bangsbo [6] desenvolveram um estudo com árbitros dinamarqueses e relataram que o treinamento dos árbitros de alta classe, frequentemente, consistia de corrida aeróbica de intensidade moderada com percursos entre 3 – 7 km. A maioria dos árbitros aumenta a intensidade e a frequência de treinamentos, principalmente quando está próximo do testes físicos aplicados pelas Federações ou pela Confederação Brasileira de Futebol. Isto ocorre porque caso não alcancem êxito nos testes não poderão arbitrar os jogos oficiais. Como os árbitros sabem que no teste existem provas anaeróbicas (corridas de velocidade) começam a prática sem uma preparação gradual, ocorrendo, portanto as lesões. Para tentar diminuir o número elevado de lesões nos árbitros, durante o treinamento, seria necessário desenvolver programas de treinamento que levassem em consideração não Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 somente as exigências físicas do árbitro para arbitrar as partidas, mas também as necessidades energéticas para a realização dos testes físicos, pois se eles não conseguirem êxito nestes, não poderão arbitrar. Desta forma diminuiria o número de lesões não somente durante o treinamento, mas também durante os testes físicos; as duas situações demonstradas neste estudo onde os árbitros mais se lesionam. Os árbitros também apresentaram lesões durante a realização dos testes físicos (Figura 1 e Tabela I). Para avaliar a aptidão física dos árbitros de futebol, a FIFA é responsável pela elaboração de uma bateria de testes. Um dos trabalhos pioneiros sobre a avaliação funcional do árbitro foi desenvolvido por Rontoyannis et al. [21]. Quando da realização desta pesquisa na Grécia em 1992, a bateria de teste elaborada pela FIFA era composta por 4 testes: um que mensurava a resistência aeróbica (teste de Cooper); outro a resistência anaeróbica (2 corridas de 50 metros – teste de velocidade; duas corridas 200 metros – teste de resistência à velocidade, aplicadas de forma alternadas) e; outro que mensurava a agilidade (4 x10 m), prova esta que foi abolida em 1995. Os testes físicos são realizados em pista de atletismo, ou seja, em uma superfície mais regular que o campo de futebol. Isso pode justificar o baixo número de fraturas e ausência de entorses nesta situação (Tabela I). Entretanto, verifica-se a presença de lesões musculares (distensões), ou seja, atribui-se isso ao esforço físico exacerbado aplicado pelos árbitros nas provas com o intuito de ser aprovado no teste. Em um estudo no qual foram avaliados 209 árbitros profissionais de futebol, constatou-se que a maioria reprovou durante a execução dos testes anaeróbicos [12], sendo que nesse estudo os testes anaeróbicos foram aplicados antes do teste aeróbico. Após a mudança na ordem de aplicação dos testes físicos, em 2005, foi publicado um novo estudo envolvendo 224 árbitros profissionais. Neste estudo foi relatado que os árbitros continuavam reprovando mais nas provas anaeróbicas, já que dos 84 árbitros reprovados, somente 17% reprovavam na prova aeróbica [13]. O grande número de reprovações nas provas anaeróbicas ocorria porque o árbitro se lesionava nessa prova, ou seja, demonstrando que o árbitro não estava preparado para executar estes tipos de ação motora. Já a grande maioria dos árbitros que eram reprovados na prova aeróbica, era em decorrência da falta de resistência cardiorrespiratória para alcançar o índice estabelecido para ser considerado apto. Foi durante o jogo que o árbitro apresentou o menor número de lesões musculares (Figura 1). Este dado é interessante, pois a distância percorrida pelo árbitro é similar à do jogador de futebol. Já foi relatado na literatura científica que o árbitro de futebol percorre distâncias entre 9 e 12 km no transcorrer do jogo [22,23] sendo que, o deslocamento do jogador de futebol durante a partida, em particular o meio campista, também fica entre 9 e 12 km durante a partida [24]. Essa semelhança entre o deslocamento total dos árbitros e dos jogadores reforça a ideia de que os árbitros de futebol devem se preparar fisicamente de forma mais profissional e especí- 271 fica [3,7], pois o futebol atual exige que o atleta apresente alto nível de capacidade anaeróbica (velocidade e explosão muscular) para as ações de jogo, principalmente “sprint” e resistência aeróbica para os curtos períodos de recuperação entre as ações de jogo [25]. Segundo Ekstrand e Nigg [26], o jogador de futebol pode vir a sofrer lesão durante o jogo, devido ao uso de calçados inadequados, bem como ao tipo de gramado ou desnivelamento do solo utilizado, além, é claro, daquelas ocasionadas pelo contato físico. Estes fatores também foram mencionados por alguns árbitros durante a seleção de árbitros para a Copa de 2006, como possíveis causa de suas lesões [9]. A ausência de relatos na literatura científica sobre a ocorrência de lesão física no árbitro de futebol não permitiu aprofundar mais este estudo sobre as situações onde os árbitros se lesionam ou as causas. Contudo, destacamos a importância deste estudo, e alertamos os demais pesquisadores da necessidade de se investigar o levantamento dos fatores que levam os árbitros a se lesionar nas situações descritas acima. Conclusão Foi possível constatar que os árbitros de futebol pouco se lesionam durante o jogo. O maior número de lesões que os árbitros foram acometidos ocorreu principalmente durante sua preparação física, seja para arbitrar uma partida ou para ser submetidos aos testes físicos da FIFA. Desta forma faz-se necessário que os árbitros de futebol sejam submetidos a programas de treinamento físico supervisionado e desenvolvido dentro das exigências físicas destes para a realização do teste físico e para a condução das partidas de futebol, sendo que a oferta destes programas seja de responsabilidade e supervisão das federações e da Confederação Brasileira de Futebol. Em adição, sugere-se que estudos sobre lesões esportivas envolvendo árbitros de futebol sejam realizados com maior frequência, visto que a literatura ainda é incipiente nesse campo. Referencias 1. Prati SRA, Vieira JLL. Análise das causas e conseqüências de lesões na articulação do joelho em atletas de esporte coletivo. Revista da Educação Física/UEM 1998;9(1):83-91. 2. Cohen M, Abdalla RJ, Ejnisman B, Amaro JT. 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Este estudo objetivou avaliar os efeitos do Método Pilates na efetividade da contração do MTA, na capacidade funcional e na qualidade de vida de indivíduos com lombalgia. Foram avaliados 16 indivíduos com lombalgia mecânica e média de idade de 42,1 ± 10,3 anos. A efetividade da contração do MTA foi avaliada através de uma Unidade Pressórica de Biofeedback, o nível de capacidade funcional pelo Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry e a qualidade de vida pelo Short Form-36 (SF-36). O protocolo de avaliação foi realizado antes e após 10 sessões do Método Pilates e os dados foram submetidos à análise estatística com nível de significância de α = 0,05. Os resultados mostraram que todos os participantes alcançaram uma contração efetiva do MTA após a intervenção. Verificou-se melhora significativa no Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry (17,62 ± 15,63 para 9,75 ± 10,19) e para 7 dos 8 domínios do SF-36. O método Pilates foi eficaz na promoção de contração efetiva do MTA e na melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida dos indivíduos com lombalgia que participaram da pesquisa. Low back pain has been related with the weakness of lumbar column muscles and the Transversus Abdominis Muscles (TAM) can be characterized as the main component of this group. This study aimed to identify the effects of the Pilates Method on the effectiveness contraction of the TAM, on the functional capacity and on the quality of life in people with low back pain. The research included 16 individuals with mechanical low back pain and mean age 42.1 ± 10.3 years old. The effectiveness contraction of the TAM was evaluated through a Pressure Biofeedback Unit, the level of functional capacity by the Oswestry Disability Index and the quality of life by the Short Form-36 (SF-36). Two evaluations were accomplished, before and after 10 Pilates session and the data had been submitted to the statistics analysis with level of significance of α = 0.05. The results showed that the contraction of TAM was efficient in the whole sample after the intervention. Significant improvements were observed in the Oswestry Disability Index (17.62 ± 15.63 to 9.75 ± 10.19) and for 7 of the 8 domains of the quality SF-36. Pilates method was efficient in the promotion of the accomplished contraction of the TAM and in the improvement of the functional capacity and quality of life of the individuals with low back pain that had participated of this research. Palavras-chave: Pilates, lombalgia, transverso abdominal, capacidade funcional, qualidade de vida. Key-words: Pilates, low back pain, transversus abdominis, functional capacity, quality of life. Recebido em 14 de fevereiro de 2011; aceito em 28 de junho de 2011. Endereço para correspondência: Micheline Henrique Araujo da Luz Koerich, Rua Paschoal Simone, 358, 88080-700 Florianópolis SC, Tel: (48) 9953-1825, E-mail: [email protected] 274 Introdução A incapacidade gerada pela dor lombar crônica não específica tem se tornado um problema socioeconômico e de saúde pública [1]. Apesar da discussão de fatores multicausais das lombalgias, cada vez mais os estudos têm relacionado o aparecimento da lombalgia à fraqueza dos músculos estabilizadores da coluna lombar [2-6]. Além disso, outras pesquisas relacionadas com a estabilidade segmentar lombar têm focado a atenção no músculo transverso abdominal (MTA) [7-10]. Esse é o mais profundo dos músculos abdominais e também tem sido proposto como o mais importante desse grupo, fornecendo uma estabilização dinâmica contra forças de rotação e translação na coluna lombar, além de sustentar as vértebras lombares e proporcionar eficiência no controle neuromuscular ideal para o complexo lombo-pelve-quadril [10-12]. Diversos estudos mostraram a diminuição da ativação e do controle da musculatura abdominal, principalmente o MTA, em indivíduos com dor lombar, como o estudo realizado por Ferreira et al. [13] que avaliou o recrutamento da musculatura abdominal em indivíduos com e sem queixas lombares. Os pesquisadores analisaram a espessura da musculatura abdominal verificando que, durante a contração isométrica, a média da espessura do MTA era menor no grupo com dor lombar, não tendo diferenças nos músculos oblíquos. Nesse mesmo estudo, na avaliação eletromiográfica, verificouse uma menor ativação do MTA no grupo lombalgia, sem haver diferença na musculatura oblíqua do abdome. Concluíram então, que o limiar da ativação do MTA está aumentado em pessoas com lombalgia, mostrando evidências que há mudanças no controle dessa musculatura em indivíduos com dor lombar. No tratamento das lombalgias e melhora do controle da musculatura profunda do abdome, o método Pilates tem se mostrado uma proposta interessante para promover o reequilíbrio muscular corporal. É uma técnica que visa trabalhar força, alongamento e flexibilidade, principalmente os músculos estabilizadores profundos da lombar, preocupando-se em manter o alinhamento corporal adequado [14,15]. Com este objetivo, no método Pilates, todos os exercícios são realizados com a constante ativação da musculatura abdominal durante a expiração, principalmente do MTA, sendo este um dos pilares do método [16,17]. A dor e a disfunção provocadas pela lombalgia podem também comprometer os níveis de atividades normais das pessoas acometidas, tendo que ser obrigadas a deixar de lado seus empregos e vida social, devido à incapacidade que a lombalgia proporciona [18]. Esses fatores podem influenciar na qualidade de vida daqueles que sofrem com dores lombares, já que, de acordo com Seidl e Zannon [19], o termo qualidade de vida relacionada à saúde, muito frequente na literatura, parece implicar os aspectos mais diretamente associados às enfermidades ou às intervenções em saúde. Entretanto, pode-se entender por qualidade de vida, um equilíbrio entre Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 o bem-estar físico, psíquico e social, sendo estes altamente atingidos por pessoas com lombalgias. Assim, este estudo tem como objetivo avaliar os efeitos do método Pilates na efetividade de contração do músculo transverso abdominal, na capacidade funcional e na qualidade de vida em sujeitos com lombalgia. Material e métodos Trata-se de uma pesquisa de campo descritivo e pré-experimental caracterizada por uma abordagem quali-quantitativa. Amostra O processo de seleção da amostragem foi do tipo intencional, composta por 16 indivíduos adultos com lombalgia mecânica que iniciaram a prática do método Pilates com instrutores fisioterapeutas aptos à aplicação do método em cinco clínicas da Grande Florianópolis/SC com estúdios de Pilates completos (solo, bola e aparelhos). Dentre os participantes, nove eram mulheres (56,3%) e sete eram homens (43,7%), com idade entre 30 e 56 anos (42,1 ± 10,3). Os valores do Índice de Massa Corporal (IMC) estiveram entre 33,8 e 20,9 kg/m² (24,9 ± 3,5). Os participantes tinham as mais diversas profissões, porém nenhuma considerada como trabalho físico pesado. Foram utilizados como critérios de exclusão: realizar outro tratamento conservador ou medicamentoso para a lombalgia, ter sido submetido à cirurgia prévia na região lombar, lesões neurológicas com prejuízo da função cognitiva e faltar mais de uma vez durante os 10 atendimentos. Métodos Os instrumentos utilizados foram: 1) uma entrevista semiestruturada sociodemográfica e clínica, 2) Unidade Pressórica de Biofeedback (Chattanooga Stabilizer Pressure Biofeedback), 3) a versão brasileira do questionário de qualidade de vida Short-Form 36 (SF-36) e, 4) Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry. A entrevista semiestruturada, sociodemográfica e clínica composta de 11 questões forneceu informações pessoais para a caracterização da amostra. A primeira parte foi destinada a dados sociodemográficos como idade, sexo, peso e altura para o cálculo do índice de massa corporal (IMC), escolaridade, postura predominante na profissão, naturalidade e local de residência. A segunda parte foi composta por questões sobre: o diagnóstico clínico, histórico de cirurgia na região lombar, outras doenças associadas, tratamentos e medicamentos em uso. A Unidade Pressórica de Biofeedback foi utilizada na avaliação indireta da efetividade de contração do MTA. Trata-se de um instrumento analógico de 0-200 mmHg de pressão com exatidão de ± 3mmHg. É composto de uma bolsa pneumática Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 de três câmaras, um manômetro, um tubo de ligação entre os dois últimos, uma válvula de parafuso e uma pera de insuflação. Esse teste tem sido mostrado como válido e confiável para a avaliação da função muscular abdominal profunda [10,20-24]. Hodges et al. [25] mostraram que essa medida indireta de biofeedback de pressão está relacionada com a medida direta da eletromiografia no controle motor do MTA. O questionário de qualidade de vida SF-36 é um instrumento classificado como genérico, pois quantifica a percepção do paciente sobre seu estado geral de saúde. Ele é suficientemente preciso para análises de grupos sobre o aspecto geral de saúde e é o instrumento genérico mais comumente utilizado na literatura ortopédica [26]. Ele foi traduzido para a língua portuguesa e validado no Brasil por Ciconelli et al. [27]. É realizado através de 11 perguntas ou 36 itens agrupados em oito domínios: capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. Adicionalmente, os quatro primeiros domínios citados anteriormente definem o índice físico de qualidade de vida (PCS-36) e os quatro últimos medem o índice mental (MCS-36). Cada resposta tem o seu valor numérico que é colocado em fórmulas específicas para um cálculo de notas que variam de 0 (zero) a 100 (cem), onde 0 é o pior e 100, o melhor para cada domínio. Além disso, 100 pontos identificam o indivíduo sem problemas de saúde para o PCS-36. Já para o MCS-36, um score menor que 50 indica um estado negativo em relação à saúde e acima de 50 um estado positivo de saúde. É chamado de raw scale porque o valor final não apresenta nenhuma unidade de medida. Esse questionário é autoaplicável e leva cerca de 10 minutos para responder. A desvantagem do SF-36 é o fato de que pode não detectar mudanças em aspectos específicos. Devido a isso, seu uso tem sido recomendado associado ao de instrumentos específicos em estudos de prosseguimento das desordens musculoesqueléticas [26]. Sendo assim, foi escolhido o Índice de incapacidade funcional em lombalgia de Oswestry (Oswestry Disability Index-ODI) que é um instrumento classificado como específico. O Índice de Oswestry foi utilizado para avaliar a capacidade funcional dos sujeitos com lombalgia e foi criado por pesquisadores do Departamento de Ortopedia Cirúrgica de Nuffield em Oxford, no Reino Unido, e é utilizado mundialmente, com estudos de confiabilidade para a população brasileira [28,29]. Elaborado em 1980, consiste num questionário de 10 perguntas com seis possibilidades de resposta cada uma, refletindo a repercussão das lombalgias e radiculopatias nas atividades diárias: intensidade da dor, cuidados pessoais, atividade de carga, marcha, posição sentada, ortostatismo, sono, vida sexual, social e lazer. É um dos questionários mais utilizados, apresentando uma boa validade de convergência com os índices de Roland-Morris, Waddell e Escala Visual Analógica (EVA) para a dor e uma boa sensibilidade à mudança. Uma desvantagem é o período explorado não ser explici- 275 tado no questionário. Cada uma de suas questões vale de 0-5 pontos, somando um total de 50 pontos e o seu cálculo final é realizado de acordo com a seguinte fórmula: (Número total de pontos/ 5 x número de questões respondidas) x 100. Assim o score final varia de 0-100 e quanto mais alto o resultado, maior é a incapacidade funcional decorrente da lombalgia. De acordo com o estudo realizado por Vigatto [29] para o desenvolvimento da versão brasileira em português desse instrumento, o processo de adaptação teve sucesso e foi demonstrado que o instrumento adaptado teve excelentes propriedades psicométricas, próprias para a cultura brasileira. Procedimentos Com a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (CEP) da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, sob o número 10345/2008, deu-se início à coleta de dados. Foram incluídos no estudo os sujeitos com lombalgia mecânica que não apresentaram uma contração efetiva do MTA através do teste de contração do MTA com a Unidade Pressórica de Biofeedback na primeira aula de apresentação do método Pilates. Para a realização do teste de contração do MTA, cada indivíduo foi colocado em decúbito ventral com os membros superiores ao lado do corpo e a bolsa de pressão sob o abdome, umbigo localizado no centro da bolsa e as espinhas ilíacas ântero-superiores direita e esquerda alinhadas no bordo distal da mesma. Primeiramente, realizou-se a familiarização do indivíduo com a execução do teste. A almofada foi insuflada até 70 mmHg que é considerada a unidade de pressão do biofeedback. Com o peso do conteúdo abdominal sobre a almofada, os sujeitos foram instruídos a retirar ao máximo seu abdome inferior da almofada na expiração sem qualquer movimento da pelve ou do tronco. Começada a expiração normal durante a ação de retirada, a contração foi realizada por 10s. Um sucesso no desempenho do teste reduz a pressão de 6-10 mmHg, indicando a correta contração localizada do MTA, independente dos outros músculos abdominais. Uma depressão de 6 mmHg, nenhuma mudança ou um aumento na pressão indica uma contração não efetiva do MTA. Os sujeitos praticaram 10 sessões de uma hora do método Pilates, duas vezes por semana, durante cinco semanas consecutivas. E, com o consentimento dos sujeitos, foram realizadas duas avaliações. Primeiramente, antes do 2º atendimento e, depois de totalizar 10 sessões do método Pilates, efetuou-se a reavaliação no início do 12º atendimento. Os sujeitos foram avaliados com a utilização do espaço do próprio Estúdio de Pilates, no qual eram realizados os respectivos atendimentos. A avaliação foi dividida em 4 etapas: execução do teste de contração do MTA, entrevista semiestruturada sociodemográfica e clínica, aplicação do questionário de qualidade de vida SF-36 e, por último, o Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 A reavaliação foi realizada em três etapas: reexecução do teste de contração do MTA, reaplicação do questionário de qualidade de vida SF-36 e, mais uma vez, o Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry. Análise dos dados O tratamento dos dados foi realizado em duas etapas. Primeiramente com a realização da estatística descritiva, visando verificar as medidas de tendência central, frequências e percentuais, cálculo da média, bem como medidas de variabilidade e desvio padrão, permitindo a análise do comportamento das respostas dos sujeitos da pesquisa com relação às variáveis analisadas. Na segunda etapa, foram comparados os dados obtidos antes e depois da intervenção. Para isso, foi utilizada a estatística inferencial. Para verificar a normalidade dos dados foi utilizado o teste Shapiro Wilk. As variáveis que apresentaram distribuição nomal antes e após o tratamento foram tratadas com a utilização do teste comparativo “t” de student para dados pareados. Já as variáveis não normais foram analisadas com o teste comparativo de Wilcoxon. O nível de significância adotado foi de p < 0,05. Utilizou-se o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 15. Resultados Os valores obtidos para avaliação da eficácia na contração muscular estão apresentados na Figura 1. Através do mesmo constatou-se que os sujeitos não realizavam a contração devida do MTA antes da intervenção do método Pilates e que, depois dos 10 atendimentos, todos os indivíduos apresentaram efetividade na contração desse músculo, independente das diferenças nas faixas etárias e também do IMC. Figura 1 - Pressão do Stabilizer no teste de contração do músculo transverso abdominal antes e depois da intervenção. Os resultados obtidos através do Índice de Incapacidade Funcional de Oswestry (distribuição não normal dos dados) Stabilizer Pressão em mmHg 70 65 60 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011 12131415 16 Contração antes Contração depois apontaram melhora na capacidade funcional dos sujeitos com uma significância de p = 0,0008***. A média dos índices antes da intervenção foi de 17,62 ± 15,63 com o valor mínimo de 2 e o máximo de 64 e depois da intervenção a média foi de 9,75 ± 10,19, com o valor mínimo de 0 e o máximo de 40. Os valores dos índices de acordo com as respostas de cada sujeito antes e depois podem ser visualizadas na Figura 2. Figura 2 - Índice de Oswestry de cada sujeito antes e depois da intervenção. Índice de Oswestry 276 80 Oswestry 60 40 20 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011 12131415 16 Antes Depois Tabela I - Média com desvio padrão (DP) dos domínios e das componentes do SF-36 antes e depois da intervenção e seus níveis de significância. Domínios Capacidade funcional Limitações físicas Dor Estado de saúde Vitalidade Aspectos sociais Aspectos emocionais Saúde mental PCS-36 MCS-36 Média com DP antes Média com DP depois Nível de significância 67,5 ± 18,8 79,7 ± 15,4 P = 0,002* 59,4 ± 39,7 87,5 ± 24,1 P = 0,017* 52,2 ± 16,2 69,7 ± 13 P = 0,001* 58,7 ± 14 56,6 ± 24 72,6 ± 25,5 70,5 ± 14 P = 0,001* 66,6 ± 20,4 P = 0,002* 85,1 ± 16 P = 0,017* 56,2 ± 41,7 85,4 ± 24,2 P = 0,008* 69,5 ± 20,5 73,5 ± 21,6 P = 0,167 59,4 ± 18,7 76,9 ± 12,9 P = 0,0005* 63,7 ± 22,9 77,7 ± 15,2 P = 0,0003* A Tabela I mostra a média com desvio padrão dos domínios e dos componentes do SF-36 antes e depois da intervenção e seus respectivos níveis de significância. Os domínios capacidade funcional, dor, saúde geral e vitalidade apresentaram dados normais. Já os índices PCS-36 e MCS36 e os domínios limitações físicas, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental apresentaram dados não normais. Os seus oito domínios e os seus índices físicos e mentais mostraram uma média maior no final que a apresentada no início Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 da intervenção. Além disso, apenas o domínio saúde mental teve uma melhora não significativa (p = 0,167). O MCS-36 mostrou que cinco indivíduos da amostra tinham um aspecto negativo em relação à saúde antes da intervenção e, após os atendimentos, apenas um indivíduo não teve melhora nesse índice. Então, no início da intervenção 68,75% da amostra apresentou um aspecto positivo em relação à saúde e, no final, esse índice aumentou para 93,75% da amostra. Discussão Apesar de o MTA ser ativado de várias maneiras (em indivíduos saudáveis) para preparar o corpo para um desequilíbrio postural esperado [30], as pessoas com lombalgia têm a contração do MTA prejudicada e, consequentemente, ausente no período que precede o início do movimento [3133]. Esses resultados são semelhantes aos encontrados nessa pesquisa ao identificar a ineficiência da contração do MTA no início da intervenção. Cresswell et al. [34-36] realizaram uma série de estudos sobre a pressão intra-abdominal e a ativação da musculatura do tronco que também apresentaram a importância da atividade do MTA. Seus estudos indicaram que a pressão intraabdominal aumentou durante atividades funcionais realizadas pelos músculos que não eram responsáveis pela flexão da coluna, particularmente o MTA e o diafragma. Outro estudo realizado por Herrington e Davies [10] verificaram a efetividade na contração do MTA proporcionada após exercícios do método Pilates e compararam com mais dois grupos, um que realizou exercício abdominal comum (abdominal curl) e mais um grupo controle num total de 36 mulheres saudáveis, 12 em cada grupo. Como resultado, o grupo Pilates teve 83% de efetividade na contração no teste de isolamento do MTA, o grupo do abdominal curl 33% e o grupo controle 25%. Esses resultados assemelham-se com o presente estudo, mostrando o aumento da efetividade da contração do MTA nos participantes após exercícios do método Pilates. A perda da função é algo muito incidente em pessoas com lombalgia [19]. Assim, tornam-se obrigados a mudar seus hábitos de vida, para se adequarem as dificuldades impostas, e em muitos casos o afastamento do trabalho é evidente. Um estudo controlado e randomizado realizado por Hodges [37] relacionou a ação do MTA e o controle da coluna com o treino específico do MTA em um grupo de pacientes com dor lombar crônica e os resultados indicaram uma redução na dor e na incapacidade funcional. Através dos resultados do Índice de Oswestry e do SF-36, este estudo acompanha os resultados da pesquisa de Hodges, apesar dos sujeitos da presente pesquisa não terem realizado um treino específico do MTA. O Índice de Oswestry também foi usado em um estudo realizado por Gladwell et al. [38] com uma amostra de 34 sujeitos com lombalgia crônica não específica, os quais foram divididos em grupo controle (n = 14) e grupo Pilates (n = 20), sendo que o grupo Pilates realizou seis semanas do pro- 277 grama e ambos os grupos continuaram com suas atividades normais. Ao final do período de intervenção, o grupo Pilates demonstrou uma diminuição significante no índice (p < 0,05), demonstrando uma diminuição da incapacidade. Associado a perda da função, essas pessoas podem apresentar diminuição da qualidade de vida [39], sendo o método Pilates uma boa maneira de promoção da qualidade, como mostra também o estudo de Gladwell et al. [38], seguindo o índice de incapacidade, demonstrou significativa melhora na qualidade de vida (p < 0,05). Esse estudo mostrou melhora também em saúde geral, função no esporte, flexibilidade, propriocepção e diminuição da dor. Esses dados em relação à saúde geral e à dor condizem com os resultados do SF-36 do presente estudo. Os resultados encontrados no SF-36 de melhora significativa no estado geral de saúde e na vitalidade, além do aspecto positivo em relação à saúde de acordo com o MCS36 vão de encontro a um estudo prospectivo com medidas repetidas em adultos saudáveis conduzido por Segal et al. [14] para verificar os efeitos do método Pilates na flexibilidade, composição corporal e status de saúde durante seis meses, com reavaliações no segundo, no quarto e no sexto mês. A flexibilidade apresentou melhora no final do sexto mês, já as componentes de percepção funcional e de saúde através do questionário da American Academy of Orthopedic Surgeons (AAOS) e a composição corporal não apresentaram mudanças estatisticamente significativas. Comentários positivos dos sujeitos relataram melhora na postura, na flexibilidade e no cansaço matutino. Conclusão Através dos resultados, conclui-se que houve aumento da efetividade de contração do músculo transverso abdominal e uma melhora significativa tanto da capacidade funcional quanto da qualidade de vida nos participantes da pesquisa, indicando que o método Pilates pode ser útil no tratamento para a lombalgia mecânica. Referências 1. Smeets RJEM, Vlaeyen JWS, Hidding A, Kester ADM, Heijden GJMG, Knottnerus JA. Chronic low back pain: Physical training, graded activity with problem solving training, or both? The one-year post-treatment results of a randomized controlled trial. Pain 2008;134:263-76. 2. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 279 Artigo original Influência da cinesioterapia laboral sobre os sintomas álgicos de trabalhadores da indústria do vestuário Influence of labor kinesiotherapy on pain symptoms in clothing industry workers Andrei Pereira Pernambuco, Ft.*, Lucila Regina de Castro, Ft.**, Meiriane Kely Ribeiro, Ft.**, Jorge Vilano de Castro, Ft.**, Aladir Horácio dos Santos, D.Sc.*** *Professor do Centro Universitário de Formiga (UNIFOR-MG), Doutorando em Biologia Celular pelo Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, **UNIFOR-MG,*** Professor do UNIFOR-MG Resumo Abstract Introdução: As modificações no processo de trabalho vêm criando uma nova relação homem/máquina, esta, por sua vez, visando o aumento da produtividade passou a interferir negativamente na saúde do trabalhador. Objetivos: Avaliar a eficácia da cinesioterapia laboral (CL) enquanto método profilático e de tratamento da dor musculoesquelética entre trabalhadores da indústria do vestuário, além de investigar possíveis associações entre os sintomas álgicos e fatores de risco. Material e métodos: 48 voluntários participaram do estudo e foram submetidos a um programa de CL (10 min/3x semana/8 semanas). As variáveis de interesse foram coletadas antes e após o período de intervenção. Para a análise estatística dos dados utilizou-se o teste t pareado com α ajustado para 0,05 e uma análise de regressão linear. Resultados: Ocorreu a remissão dos sintomas em uma parcela significativa dos voluntários, contudo, novos casos de dor musculoesquelética surgiram entre os trabalhadores que foram submetidos à CL. Os fatores de risco que se associaram à sintomatologia dolorosa foram o gênero do trabalhador, o tempo de trabalho e a realização de horas extras. Conclusão: A CL não se mostrou um método profilático eficiente, entretanto, pode ser considerada útil para o tratamento de quadros já instalados. Introduction: The changes in the work process are creating a new man-machine relationship, which aiming at increasing productivity has a negative effect on worker’s health. Aim: To evaluate the effectiveness of labor kinesiotherapy (LK) as a prophylactic method and treatment for musculoskeletal pain among workers in the clothing industry, as well as to investigate possible associations between pain symptoms and risk factors. Material and methods: 48 volunteers participated in the study and were subjected to a LK program (10 min/3x weeks / 8 weeks). The variables of interest were collected before and after the intervention period. For the statistical analysis we used the paired t test with α set to 0.05 and a linear regression analysis. Results: Remission occurred in a significant number of volunteers; however, we noticed new cases of onset of musculoskeletal pain among workers who underwent LK. The risk factors that were associated with painful symptoms were worker’s gender, working time and overtime performance. Conclusion: The LK was not an effective prophylactic method, however, it can be considered useful for treatment of already installed symptoms. Key-words: occupational health, accident prevention, cumulative trauma disorders. Palavras-chave: saúde do trabalhador, prevenção de acidentes, transtornos traumáticos cumulativos. Recebido em 28 de fevereiro de 2011; aceito em 30 de junho de 2011. Endereço para correspondência: Andrei Pereira Pernambuco, Rua Turfa, 370, 35680-151 Itaúna MG, Tel: (37) 3241-9201, E-mail: [email protected] 280 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Introdução Material e métodos Com a introdução de novas tecnologias, o processo de trabalho evoluiu significativamente, em busca de maior produtividade, num esquema de automatização e especialização. Tal situação acarretou numa nova relação homem/máquina, que vem causando importantes mudanças no ambiente de trabalho com consequente prejuízo à saúde do trabalhador [1-3]. Essa nova relação, que inclui a rotinização do trabalho, proporcionou riscos eminentes para a saúde dos trabalhadores e influiu negativamente sobre diversos aspectos, como, físico, mental e social, levando ao adoecimento do trabalhador e seu consequente afastamento do trabalho, muitas das vezes devido a distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT), ou mesmo devido à depressão [2,3]. Em ambientes de trabalho mecanizados, a situação é ainda mais grave, os trabalhadores se transformam em meros operadores de máquinas e integrantes de linhas de montagem, participando de uma jornada de trabalho longa, desgastante e desqualificada [4]. Deste modo, o impacto socioeconômico provocado pela ocorrência de DORT e depressão vem crescendo de forma alarmante, visto que a incidência destes já atinge proporções epidêmicas [4-7] e diferentemente dos acidentes de trabalho, as lesões relacionadas ao trabalho não são eventos casuais ou acidentais, mas, na verdade, são fenômenos evitáveis, socialmente dirigidos [8,9]. Em indústrias do vestuário, observa-se que a organização científica do trabalho implicou de maneira significativa e negativa no surgimento de quadros dolorosos e de outras condições incapacitantes [5,10]. Por isto, este segmento da indústria tem sido alvo de preocupação por parte de profissionais da saúde e de sindicatos trabalhistas, afinal suas características incluem utilização de mão de obra barata com baixa escolaridade; grande contingente de mulheres; longas jornadas de trabalho; repetitividade e posturas incorretas; preocupação voltada, sobretudo para o lucro, sem se preocupar com a saúde do trabalhador [11]. Ao se buscar uma maneira eficaz de se prevenir ou tratar problemas musculoesqueléticos no ambiente ocupacional, diversos estudos têm apontado a cinesioterapia laboral (CL), mais popularmente conhecida como ginástica laboral, como uma potencial ferramenta para o enfrentamento de distúrbios físicos e emocionais do trabalhador [3,9,10,12,13]. Todavia, são escassos e contraditórios os estudos que buscam estabelecer uma relação direta entre a CL e o trabalho desempenhado na indústria do vestuário, de maneira a contribuir para o entendimento de como este tipo de intervenção poderia evitar ou amenizar sintomas referidos por trabalhadores que atuam neste setor industrial. Deste modo, ao analisar este contexto é que se traçou o desenho experimental deste estudo, que objetivou verificar se a CL é uma ferramenta eficaz na redução e prevenção de sintomas álgicos em trabalhadores da indústria do vestuário, bem como identificar fatores de risco que interferem na ocorrência de DORT entre trabalhadores que atuam neste setor. Foi realizado um estudo longitudinal, intervencional, do tipo pré e pós-teste em uma indústria do vestuário da cidade de Formiga/MG, Brasil. Sujeitos Todos os funcionários foram convidados e aceitaram participar voluntariamente da pesquisa. A população de trabalhadores na referida indústria era de 55 funcionários durante o período do estudo. Dois trabalhadores (3,6%) exerciam suas funções no setor administrativo e 53 (96,4%) no setor de facção. Dos 55 trabalhadores, 48 foram incluídos no estudo por meio dos seguintes critérios: fazer parte do setor de facção, estar presente nas datas pré-agendadas para a coleta dos dados; participar de todas as etapas do estudo (avaliação pré-intervenção; intervenção e avaliação pós-intervenção), ter assiduidade em 80% das sessões de CL e ter assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. Sete trabalhadores foram excluídos do estudo, 2 por não trabalharem no setor de facção, 3 por não participarem de todas as etapas do estudo e 2 por praticarem atividade física regular (3 dias ou mais por semana) [14]. Cuidados éticos Os sujeitos foram informados sobre os aspectos éticos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, o qual orientava sobre os objetivos do estudo e os riscos que estavam expostos. O protocolo de trabalho cumpriu as recomendações da Declaração de Helsinki (2002) e da Resolução 196/96 do CNS/MS, recebendo parecer favorável para a execução do Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos do UNIFOR-MG (no 07/2009). Avaliação pré-intervenção As variáveis de interesse foram coletadas por meio de um questionário [15] composto pelos seguintes itens: idade, gênero, estado civil, grau de instrução, tempo de trabalho na empresa, realização de horas extras, execução de outros trabalhos e problemas de saúde relacionados ao emprego. Para a localização dos sintomas álgicos foi utilizado um diagrama da dor, adaptado do questionário da dor de McGill [16], por meio do qual se avaliou a localização da dor e suas características. Para a avaliação da intensidade da dor foi utilizada uma escala analógica visual (EAV) de 100 mm, instrumento com validade e confiabilidade asseguradas [16]. O próprio trabalhador, após orientação dos pesquisadores, assinalou a intensidade da dor percebida por ele no momento da entrevista na EAV e a localização e as características da dor no diagrama da dor. A aplicação individualizada do questionário foi conduzida por um fisioterapeuta cegado para os objetivos do estudo e Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Nessa etapa, todos os trabalhadores foram submetidos à prática de um programa de CL do tipo compensatória. Esta é executada durante a jornada de trabalho, com duração de cinco a 10 minutos. Seu objetivo é compensar a tensão muscular adquirida pelo uso excessivo ou inadequado das estruturas músculo-ligamentares; melhorar a retirada de resíduos metabólicos através do incremento da circulação sanguínea; modificar a postura no trabalho e prevenir a fadiga muscular. São sugeridos aos trabalhadores exercícios de alongamento, respiratórios e posturais [17,18]. As sessões de CL foram realizadas no ambiente laboral, durante o horário regular de atividades, três vezes por semana, durante 10 minutos, por um período de oito semanas, totalizando 24 sessões. Todo o processo de intervenção foi conduzido por pesquisadores (fisioterapeutas) capacitados para esta tarefa. Avaliação pós-intervenção Ao término do programa de CL, os trabalhadores foram reavaliados pelo mesmo fisioterapeuta que conduziu a avaliação inicial. Desta vez, somente foram avaliados os sintomas álgicos, com uma nova aplicação da EAV e do diagrama da dor. Sendo que novamente os sintomas relatados deveriam corresponder à dor percebida pelo trabalhador no momento da avaliação. Análise estatística Para verificar se a CL foi eficaz na redução e prevenção da dor muscular, foi conduzido um teste t pareado de Student, que avaliou as diferenças entre as médias pré e pós-intervenção. Para se verificar quais os fatores de risco que possuíam maior correlação com os sintomas apresentados pelos voluntários, foi também conduzida uma análise de regressão linear, na qual foram consideradas as seguintes variáveis: idade, gênero, tempo de trabalho, posição adotada para trabalhar, realização de horas extras, problemas de saúde atuais e dupla jornada de trabalho; sendo a dor, a variável resposta em todas as equações. Todas as conclusões estatísticas foram discutidas no nível de significância de 5% (α = 0,05). Para tanto foi utilizado o software Minitab versão 14. Resultados Participaram do presente estudo, 48 funcionários, trinta mulheres e dezoito homens, com faixa etária entre 18 e 53 anos (33,83 ± 9,77). Figura 1 - Atuação da CL enquanto método de tratamento da dor musculoesquelética entre trabalhadores da indústria do vestuário. Voluntários com queixa de dor Prática da cinesioterapia laboral Na avaliação dos sintomas álgicos antes da aplicação da CL, 12 funcionários relataram dor muscular, sendo a maioria do gênero feminino (66,66%); após a intervenção, apenas três destes funcionários relatavam a persistência do sintoma álgico (p = 0,001) (Figura 1), sendo que, além destes casos surgiram outros nove casos de dor (Figura 2). Estes resultados sugerem que a CL pode ser considerada um método de tratamento eficiente, conforme se observa na Figura 1. Por outro lado, a CL demonstrou-se ineficaz enquanto método profilático, já que sua capacidade para evitar o surgimento de novos casos não pôde ser atestada, conforme apresentado na Figura 2. 12 10 8 6 4 2 0 * Pré-intervenção Pós-intervenção Fase da pesquisa Figura 2 - Atuação da CL enquanto método de prevenção da dor musculoesquelética entre trabalhadores da indústria do vestuário. Voluntários com queixa de dor os dados foram coletados no próprio posto de trabalho do voluntário, durante sua jornada. 281 12 10 8 6 4 2 0 Pósintervenção Novos casos Total de casos Em relação à intensidade da dor, verificou-se que a CL conseguiu gerar uma melhora significativa também neste parâmetro (p = 0,004), demonstrando ter sido eficaz na redução da intensidade da dor percebida pelos funcionários quando se comparou os períodos pré e pós-intervenção, como apresentado na Tabela I. Tabela I - Valores de média, desvio padrão (DP) e mediana da amostra, antes e após a intervenção. N Antes CL 12 Após CL 12 Valor de P = 0,004 Média 4,416 3,166 DP 1,88 1,99 Mediana 4,0 3,0 282 No que se refere à correlação entre dor musculoesquelética e as variáveis de interesse, observou-se que as variáveis, gênero, tempo de trabalho e hora extra foram as que mais influíram sobre as queixas do trabalhador, estas três variáveis associadas, potencializaram em 67,49% as chances de ocorrência de DORT. Ao se analisar estas variáveis individualmente, pôde-se notar que as mulheres apresentam uma probabilidade aproximadamente três vezes maior de serem acometidas por dor musculoesquelética do que os homens. Quanto à variável tempo de trabalho, observou-se que a cada ano trabalhado ocorre um aumento de 0,95 nas chances de se desenvolver dor musculoesquelética. E no que se refere à realização de horas extras, verificou-se que trabalhadores que prolongam sua jornada de trabalho, possuem aproximadamente 4 vezes mais chances de serem acometidos por sintomas álgicos do que trabalhadores que não possuem este hábito. Discussão Os resultados do presente estudo demonstram que a CL é uma alternativa plausível para o tratamento das DORT, entretanto o mesmo não se pode afirmar no que se refere a seu potencial enquanto método profilático. Os dados de uma extensa revisão de literatura sobre o tratamento de DORT através da CL sugeriram que esta técnica não pode ser considerada um método ergonômico de prevenção eficiente e que, na maioria das vezes, os programas implantados em empresas visam mais os interesses da instituição do que a saúde dos próprios trabalhadores [18]. Contradizendo os achados acima, também é possível identificar relatos na literatura que defendem a eficácia da CL na prevenção de DORT, pelo menos nos dois primeiros anos após a instalação deste tipo de programa na empresa, mas que após esta data o surgimento de novos casos tende a aumentar [19]. Dentre os que defendem a CL como método de prevenção de DORT, existe o consenso que a CL é capaz de melhorar a amplitude de movimento, a flexibilidade e a resistência muscular, reduzir o percentual de gordura corporal, maximizar a qualidade de vida, reduzir o índice de absenteísmo, além de aumentar a produtividade [19-23]. A CL pode ainda interferir no convívio dentro de empresas, melhorando as relações interpessoais e aliviando as dores em trabalhadores [24,25]. Contudo, de acordo com a equipe de especialistas do National Research Council and Institute of Medicine [26], existe uma escassez de estudos que associam a prevenção de DORT através da CL, e os poucos estudos que o fazem possuem rigor metodológico baixo o que gera inconsistência em suas conclusões. Deste modo, o que existe são resultados controversos, ou seja, alguns demonstram uma correlação positiva entre ausência de sintomas e a prática da CL e outros mostram o contrário [27]. Já é bem estabelecido na literatura científica que a prática de exercícios físicos é importante para a saúde e qualidade de Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 vida de trabalhadores, mas, se realizados desconsiderando outros aspectos como as modificações do ambiente de trabalho, podem levar a persistência de dor musculoesquelética [28]. Tal fato foi confirmado por um ensaio clínico que demonstrou não haver diferenças significativas na qualidade de vida, entre um grupo controle e um grupo de trabalhadores que praticaram a CL [19]. Refutando estes achados, pesquisadores evidenciaram melhoras significativas no estado de saúde geral dos trabalhadores que praticaram a CL, além disso, puderam observar uma redução das queixas de cansaço e estresse, aumento da disposição para o trabalho e da integração entre os colegas, com consequente redução nas queixas de dor [25]. Um estudo recente também afirma que é possível incrementar a saúde no ambiente de trabalho através da utilização de protocolos de promoção de saúde. Estes permitiriam inclusive a redução do peso corporal e da circunferência abdominal dos trabalhadores, entretanto, os autores sugerem atenção aos métodos de abordagem, já que protocolos que se utilizam apenas de aconselhamentos aos funcionários, na maioria das vezes, são ineficazes, sendo necessária a aproximação e participação direta dos profissionais de saúde junto aos trabalhadores [27]. Em nosso estudo, quando se correlacionou as variáveis de interesse com a dor, verificou-se que as variáveis que mais contribuíram para o surgimento de sensações álgicas foram o gênero do trabalhador, o tempo de trabalho em uma mesma função e a realização de horas extras. Um estudo que avaliou o motivo pelo qual as mulheres empregadas têm maior probabilidade do que os homens de desenvolverem lesões musculoesqueléticas identificou sintomas álgicos mais prevalentes e mais graves nos membros superiores de mulheres que trabalhavam (81%) quando comparadas aos homens. Os autores atribuíram esta maior prevalência e severidade dos sintomas à dupla jornada de trabalho, enfrentada pelas mulheres, sobretudo, em países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Nossos resultados foram semelhantes, na medida em que as mulheres apresentaram uma probabilidade aproximadamente três vezes maior de serem acometidas por DORT do que os homens. Contudo, a variável dupla jornada de trabalho, não estava correlacionada à dor percebida pelos trabalhadores em nosso estudo [29]. O predomínio de desconfortos entre as mulheres pode ser explicado por hábitos culturais, uma vez que as mulheres se sentem mais livres para falarem sobre seus sintomas e sentimentos, ou talvez porque possuam uma capacidade de auto-observação mais desenvolvida, devendo-se ambos os eventos a fatores sociais e educacionais [30]. Outros três fatores são apontados como responsáveis pela maior prevalência de DORT entre as mulheres. O primeiro refere-se à força física, que é um terço menor nas mulheres quando comparada à dos homens, deste modo, as mulheres necessitam de um esforço aumentado para realizarem o mesmo tipo de trabalho, sobrecarregando o sistema musculoesquelético e aumentando o risco de lesões. O segundo está relacionado à dupla jornada de trabalho (empresa/casa), gerando redução no período de Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 descanso e sobrecarga para os tecidos musculoesqueléticos. O terceiro fator refere-se ao posto de trabalho, que não é projetado com base em medidas antropométricas femininas, assim, as mulheres passam a desenvolver adaptações posturais na tentativa de se adaptarem ao seu maquinário [27,29,31,32]. No que se refere ao tempo de trabalho, evidências demonstram que trabalhadores na faixa etária de 20 a 30 anos apresentam frequências elevadas de desconfortos musculoesqueléticos, e que com o aumento da idade, tais desconfortos se agravam. Este fenômeno pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo fato de que com o aumento da idade ocorre um decréscimo no desempenho durante a jornada de trabalho, que, segundo alguns autores, estaria relacionado à perda de capacidade física decorrente do envelhecimento [33]. Deste modo, infere-se que o envelhecimento expõe o trabalhador a micro-traumas na coluna vertebral, deixando-o mais vulneráveis às lesões ocupacionais. Entretanto, o envelhecimento por si só não é o único responsável pela ocorrência de lesões musculoesqueléticas no ambiente de trabalho, sendo importante ressaltar também o papel da postura corporal, do ritmo e cargas de trabalho, além de outros fatores de risco, bem como das condições sensoriais e motoras do trabalhador [19,28]. Quanto à realização de horas extras, foi observado em uma investigação, que analisava a relação entre índice de lesões ocupacionais e períodos prolongados de trabalho, que existe uma relação diretamente proporcional entre o número de horas trabalhadas diariamente ou semanalmente e o adoecimento do trabalhador. Entre as pessoas que trabalhavam mais de 12 horas por dia ou mais de 60 horas por semana, a taxa de lesões e de doenças ocupacionais foi aproximadamente 35% maior do que entre aquelas que trabalharam por um período de tempo inferior [30]. Segundo os autores da pesquisa, trabalhar horas extras aumenta as chances de se desenvolver DORT em cerca de 70%. Estes dados corroboram com os encontrados em nosso estudo. Esta situação é agravada pelo fato de que os trabalhadores, em todo o mundo, têm aumentado as horas de serviço devido à intensificada concorrência global, visando o aumento da produtividade sem se preocupar com a própria saúde [34]. Um estudo recente realizado na Dinamarca demonstrou uma correlação positiva entre as altas demandas no ambiente de trabalho e a redução da expectativa de vida de trabalhadores do gênero masculino, o mesmo não foi observado em relação às mulheres [35]. Esta relação ainda precisa ser melhor avaliada por futuras investigações científicas, entretanto, o atual estágio de conhecimento sobre o tema serve como alerta para proprietários e funcionários de grandes indústrias. No estudo mencionado foi descartada a influência de outros fatores nesta relação, como, o estilo de vida e a classe social dos trabalhadores, demonstrando assim que a alta demanda no ambiente laboral é capaz de influir negativamente sobre a expectativa de vida dos trabalhadores [35]. Por fim, uma ampla revisão de literatura publicada em 2011 corrobora com os achados de nosso estudo, ao demons- 283 trar que programas de promoção de saúde no ambiente de trabalho podem reduzir o absenteísmo e melhorar o estado geral de saúde dos trabalhadores. Os autores da revisão também destacam o papel dos fatores de risco no processo de adoecimento do trabalhador e sugerem que a redução ou eliminação destes possa contribuir positivamente para a preservação da saúde ocupacional [36]. Conclusão O programa CL falhou enquanto método profilático, já que não foi capaz de evitar o surgimento de novos casos de DORT entre trabalhadores da indústria do vestuário. No entanto, mostrou-se ser um método de tratamento eficiente, visto que proporcionou a redução no número de casos de dor musculoesquelética e foi capaz de reduzir a intensidade dos sintomas álgicos percebidos pelos trabalhadores. No que concerne aos fatores de risco, os que mais influenciaram sobre o surgimento e permanência de sintomas álgicos entre os trabalhadores da indústria do vestuário foram o gênero do trabalhador, o tempo de trabalho na empresa e a realização de horas extras. Novos estudos se fazem necessários, de maneira que este tema tão controverso se torne mais presente nas discussões científicas, abrindo espaço para que surjam novas verdades e condutas baseadas em evidências científicas e que estas possam ser implementadas em prol da melhora da qualidade de vida dos trabalhadores, tanto em seu ambiente laboral como fora dele. Agradecimentos Agradecemos a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo amplo apoio fornecido. Agradecemos também ao proprietário da empresa estudada, por ter permitido a execução da pesquisa em seu estabelecimento e aos voluntários pela colaboração. Referências 1. Brandão AG, Horta BL, Tomasi E. 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Os dispositivos luminosos (LASER’s e LED’s) são citados na literatura como uma nova modalidade para o tratamento dessa síndrome. Objetivo: Avaliar os efeitos do laser de baixa intensidade na modulação da dor de indivíduos portadores de síndrome dolorosa miofascial. Métodos: Dois indivíduos foram aleatoriamente alocados em dois grupos – laser de baixa intensidade (LBI) e compressão isquêmica (CI). O sinal eletromiográfico dos músculos trapézio superior e médio e a intensidade da dor foram coletados diariamente antes e após as intervenções. Resultados: A intensidade da dor pré e pós-intervenção apresentaram diferenças significativas, em repouso e em movimento, apenas para o grupo LBI. Diferenças significativas não foram observadas na intensidade da dor ao longo das 8 sessões nos grupos avaliados. Não foram encontradas diferenças entre a atividade muscular de nenhum dos músculos em ambos os grupos, a curto e a longo prazo. Conclusão: Ambas as intervenções acarretaram efeitos benéficos distintos sob a síndrome dolorosa miofascial. A combinação das duas técnicas pode ser uma alternativa interessante para o tratamento desta síndrome. Introduction: The myofascial pain syndrome refers to the regional muscle pain caused by trigger points. These are characterized as hyperirritability points present in muscles in which the palpation induces the reproduction of symptoms. The light devices (LASER’s and LED’s) are cited in literature as a new modality for the treatment of this syndrome. Objective: To evaluate the effects of low intensity laser in the modulation of pain in individuals with myofascial pain syndrome. Methods: Two females Palavras-chave: síndrome dor miofascial, terapia a laser de baixa intensidade, eletromiografia. composed the sample of this study. Participants were randomly assigned to two groups – low level laser therapy (LLLT) and ischemic compression (IC). The electromyographic signal (rest) of the upper and middle trapezius and the intensity of pain were collected daily before and after intervention. Results: Pain intensity before and after the intervention showed significant differences at rest and in motion, just for the LLLT group. Significant differences were observed in pain intensity over the 8 sessions in all groups evaluated. No significant differences were found between the muscular activity of any muscle in both groups, both short and long term. Conclusion: Both interventions led to distinct beneficial effects on myofascial pain syndrome. The combination of two techniques may be an interesting alternative for the treatment of this syndrome. Key-words: myofascial pain syndromes, low-level laser therapy, electromyography. Recebido em 2 de maio de 2011; aceito em 29 de junho de 2011. Endereço para correspondência: Angélica Rodrigues de Araújo, Centro Clínico de Fisioterapia – PUC Minas, Avenida Trinta e Um de Março, Acesso 7, Prédio 46, 30535-000 Belo Horizonte MG, Tel: (31) 3319-4425, E-mail: [email protected] 286 Introdução O termo “síndrome dolorosa miofascial” é utilizado clinicamente para designar dor muscular regional causada por trigger points [1-3] ou, menos frequentemente, por uma banda tensa muscular [1,4]. Segundo a literatura, os trigger points são definidos como pontos de hiperirritabilidade [5] – latentes ou ativos [6,7] – presentes no musculo esquelético, cujo toque induz à reprodução de sintomas [5]. Essas estruturas são fortemente capazes de modular funções do sistema nervoso central, sendo causa comum de fenômenos sensoriais e autonômicos tais como dor (local e referida), parestesia [2,5] e sudorese excessiva [8] e de significativa disfunção motora (rigidez e restrição de movimento) [1,2]. Os trigger points miofasciais geralmente afetam indivíduos jovens [6], com idade entre 30-40 anos, apresentando maior incidência no sexo feminino [8,9]. Sua prevalência é alta (3745% em indivíduos assintomáticos e 93% em indivíduos com queixa de dor regional) e varia de acordo com o segmento corpóreo acometido [8,10,11]. De acordo com a literatura, os músculos posturais do pescoço, do ombro e da cintura pélvica juntamente com os músculos mastigatórios [6] são aqueles em que os trigger points são comumente encontrados. Desses, o trapézio superior, o escaleno, o esternocleidomastóideo, o elevador da escápula e o quadrado lombar são os mais frequentemente acometidos [5]. A formação dos trigger points pode resultar de fatores como traumas severos, posturas inadequadas, sobrecarga mecânica e estresse emocional [5,12]. Entretanto, a fisiopatologia da síndrome dolorosa miofascial ainda não está bem definida e parece envolver múltiplos níveis do sistema nervoso central e periférico [13]. A abordagem terapêutica da síndrome dolorosa miofascial tem como foco principal o controle da dor [14]. Tratamentos farmacológicos e não farmacológicos são propostos com tal objetivo [2], dentre eles: toxina botulínica tipo A [15], anestésico local [16], ultrassom terapêutico [17], eletroterapia [18], acupuntura [19] e compressão isquêmica [20,21]. Este último tem sido uma alternativa amplamente utilizada na prática clínica devido principalmente a sua praticidade e baixo custo, apesar das controvérsias ainda existentes na literatura quanto à eficácia dessa técnica [20,22]. Estudos têm mostrado que a estimulação tecidual com ondas eletromagnéticas na faixa do vermelho ao infravermelho é efetiva em favorecer a modulação da dor [23,24]. Os efeitos da luz de baixa intensidade sobre a dor têm sido relatados em várias condições agudas e crônicas [25-27]. O estímulo a microcirculação local e as alterações induzidas sobre as aferências nociceptivas e sobre o sistema nervoso central são algumas das principais justificativas fisiológicas para o uso de dispositivos luminosos (LASER’s e LED’s) na modulação da dor [28]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Algumas revisões sistemáticas têm sugerido o uso dessa nova modalidade para o tratamento da dor miofascial [2931], porém a literatura não é unânime quanto a real eficácia dessa terapia [27,32-35]. Este estudo teve como objetivos avaliar a eficácia do laser de baixa intensidade, na faixa espectral do infravermelho (904 nm), na modulação da dor em indivíduos com diagnóstico de síndrome dolorosa miofascial. Buscou-se especificamente correlacionar mudanças na intensidade da dor (repouso e movimento) induzidas pela luz com alterações no padrão de atividade dos músculos trapézio superior e médio e na amplitude de movimento cervical dos indivíduos com dor miofascial. Material e métodos A população de estudo foi composta por 18 indivíduos com histórico de dor cervical crônica, associada à presença de triggers points nos músculos trapézio superior e médio. Para serem incluídos no estudo, os indivíduos deveriam apresentar diagnóstico médico de dor miofascial, queixa de dor contínua na região do pescoço e/ou do ombro por pelo menos 3 meses e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, concordando em participar da pesquisa. Como critérios de exclusão, considerou-se: presença de síndrome do impacto; síndrome do desfiladeiro torácico; capsulite adesiva, cervicobraquialgia; história prévia de câncer, de infecções e/ou de fotossensibilidade; histórico de cirurgia da coluna cervical nos últimos doze meses que precederam a inclusão no estudo; realização de outro tratamento (medicamentoso ou conservador) que pudesse interferir nos resultados da pesquisa. Cinco indivíduos foram excluídos após avaliação médica, quatro desistiram antes do início da coleta de dados, três foram excluídos após a realização de avaliação fisioterápica, quatro abandonaram o estudo após obterem alguma evolução no quadro álgico, restando apenas dois indivíduos para compor a amostra, ambos do sexo feminino, com idade de 42 e 52 anos. O protocolo de pesquisa utilizado foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) (CAAE-0038.0.213.000-07) e todas as atividades foram realizadas no Laboratório de Pesquisa do Departamento de Fisioterapia da PUC Minas. As participantes do estudo foram aleatoriamente alocadas em dois grupos – Laser de Baixa Intensidade (LBI) e Compressão Isquêmica (CI) - e submetidas a uma avaliação fisioterápica inicial. Essa foi realizada dois dias antes do início das intervenções e consistia em investigação da história clínica da patologia (realizada a partir de um questionário previamente elaborado) e das limitações funcionais geradas pela dor cervical (Neck Disability Index - NDI) [36] e realização de exame físico visando: 1) identificação do padrão (Questionário de Dor de McGill) [37] e da intensidade (Escala Visual Numérica – EVN) da dor (repouso e movimento); 2) Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 mensuração das amplitudes de movimento (ADMs) de flexão anterior, extensão, flexão lateral e rotação cervical (Cervical Range of Motion - CROM); 3) localização dos trigger points nos músculos trapézio superior e médio [5]. Foram selecionados, em cada indivíduo, no máximo, quatro triggers points ativos, um em cada ventre muscular, o relato de maior dor à palpação, dado pela EVN, foi utilizado como critério para seleção do trigger point em cada músculo; e 4) coleta do sinal eletromiográfico, em repouso, dos músculos trapézio superior e médio, bilateralmente. Dois dias após a realização da última intervenção, essa mesma avaliação foi realizada (avaliação final) em ambos os grupos. A aplicação do Questionário de Dor de McGill e a medida das ADMs da coluna cervical também foram realizadas no terceiro e no sexto dias de tratamento, pré e imediatamente após cada uma das intervenções. Para cada movimento avaliado, foram realizadas 3 medidas e a média considerada para as análises. A intensidade da dor (repouso e movimento) na região dos músculos trapézio superior e médio e os registros eletromiográficos em repouso desses músculos foram também avaliados diariamente, antes e após cada intervenção, durante todo o período experimental. Para coleta do sinal mioelétrico foi utilizado o Eletromiógrafo (EMG) da marca Miotec, modelo Miotool 400, composto por um sistema de quatro canais com resolução de 14 bits, aquisição por canal de 2000 amostras/segundo, ganho fixo de 100x. O processamento dos dados foi realizado no software Miograph 2.0. O sinal foi captado através de eletrodos de superfície bipolares (Ag/AgCl), descartáveis e de formato cilíndrico (MEDITRACE 100 - KENDALL. Chicopee, MA.). Utilizou-se uma distância fixa entre os eletrodos de 30 mm entre os mesmos. Os dados coletados foram transmitidos para um notebook (LG T2330, Processador Intel Pentium Dual, 1.60GHz, Memória RAM de 894 MB, Sistema operacional Windows Vista TM Business) via porta USB. Previamente à colocação dos eletrodos, a impedância da pele foi reduzida [38] mediante a limpeza com água e sabão, seguida pela aplicação de álcool 70% e tricotomia (se necessária). A seguir, os eletrodos foram fixados paralelamente a fibra muscular dos músculos trapézios superiores e médios, e uma leve pressão manual foi aplicada sobre eles para aumentar o contato entre o gel do eletrodo e a pele. Os eletrodos do músculo trapézio superior e médio foram posicionados exatamente no centro entre a linha do acrômio e a vértebra C7 e no centro entre a borda medial da escápula e a vértebra T3, respectivamente. O eletrodo de referência foi colocado na proeminência óssea de C7. As técnicas para preparação da pele e aplicação dos eletrodos na superfície cutânea seguiram as recomendações da Surface ElectroMyoGraphy for the NonInvasive Assessment of Muscles (SENIAM) [39]. Os dados EMG foram coletados, na avaliação inicial, ao longo das 8 sessões de intervenção, pré e imediatamente após a aplicação de cada técnicas, e na avaliação final, em repouso, por 10 287 segundos. Para as aquisições, os indivíduos permaneceram na posição sentada com os pés apoiados e as mãos repousando sobre as coxas. Para a intervenção do grupo LBI foi utilizado um dispositivo de laser de baixa potência (Laserpulse - IBRAMED), na faixa espectral do infravermelho (comprimento de onda de 904nm) com os seguintes parâmetros: potência de pico de 70W, modo de emissão – pulsado, com duração de pulso de 60 ns e frequência de repetição do pulso de 9500Hz, densidade de energia de 12J/cm² e tempo de aplicação prédeterminado pelo aparelho de 0,36 segundos por ponto. A abertura circular da caneta utilizada para as aplicações era de 0,13090 cm². A aplicação do dispositivo luminoso foi realizada perpendicular à área tratada, com a caneta aplicadora em contato com a pele, sem pressão aos tecidos e de forma pontual. Cada trigger point era irradiado uma única vez, a cada sessão. Barreiras mecânicas como cremes e oleosidade foram previamente retiradas antes das aplicações. Para evitar a exposição direta aos olhos, óculos de proteção, específicos para o comprimento de onda, foram utilizados pelo terapeuta e pelo sujeito durante todo o período de aplicação do recurso luminoso. No grupo CI, a pressão digital foi realizada com o dedo polegar, sobre o trigger point. A pressão foi aplicada gradualmente, até que a sensação de dor fosse atingida, e foi mantida até que a dor ou desconforto reduzisse aproximadamente pela metade. Deste modo, a pressão era novamente aumentada ao nível da dor. Esse processo foi repetido por 90 segundos. Ambas as intervenções foram realizadas uma vez ao dia, em dois dias da semana, com intervalo mínimo de 24 horas, durante quatro semanas, totalizando-se 8 sessões. Resultados As características gerais e específicas dos participantes do estudo estão resumidas nas Tabelas I e II, respectivamente. Pode-se observar que ambos os indivíduos apresentavam dor em repouso e ao movimento, com duração superior a seis meses e acompanhada de distúrbios psicossomáticos (alterações do sono e do humor, estresse emocional e depressão) [17]. Em todos foram encontrados quatro triggers points ativos. Tabela I - Características gerais dos participantes do estudo. Características Idade Cor Peso Ocupação Tempo de dor Número de trigger points ativos Grupo LBI Indivíduo A 52 Branca 52 kg Desempregado 3 anos Grupo CI Indivíduo B 42 Branca 71 kg Secretária 8 anos 4 4 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 288 Tabela II - Características específicas dos participantes do estudo. Grupo LBI Indivíduo A Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Características Dor localizada Dor em repouso Dor em movimento Rigidez matinal Parestesia Dor nos membros superiores Cefaléia Distúrbio do sono Depressão Estresse emocional Mudança de humor Postura inadequada Espasmo muscular Limitação de movimento Grupo CI Indivíduo B Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Na Figura 1 está representada a intensidade da dor, avaliada pela EVN, em repouso e em movimento, nas situações imediatamente pré e pós-intervenções, para ambos os grupos (LBI e CI). É possível observar que a intensidade da dor variou em ambos os grupos e que as duas técnicas aplicadas induziram à diminuição da mesma após cada sessão de intervenção. Os resultados do Teste de Wilcoxon mostraram que as medianas da intensidade da dor (EVN) pré e pós-intervenções apresentaram diferenças estatisticamente significativas apenas para o grupo LBI, tanto em repouso quanto em movimento (a = 95%; p = 0.01 para ambos os casos) (Tabela III). Figura 1- Intensidade da dor (EVN) em repouso e em movimento, nas situações imediatamente pré e pós-intervenções, ao longo das 8 sessões (*ss), para os grupos LBI e CI. Tabela III- Medianas da intensidade da dor (EVN), pré e pós intervenção e percentual de variação da mesma ao longo das 8 sessões, para as situações de repouso e movimento para os grupos LBI e CI. Grupos / Situação LBI CI Repouso Movimento Repouso Movimento Mediana Mediana prépós% Reduinterven- intervenção ção ção 2,50 0,50 80,0 5,50 1,50 72,7 2,50 2,0 20,0 2,50 2,0 20,0 Em relação aos dados do Questionário de McGill, apesar das diferenças observadas em relação aos índices de dor, essas não atingiram limites de significância, para nenhum dos subgrupos avaliados, imediatamente após as intervenções ou em longo prazo (avaliações inicial e final), em ambos os grupos de intervenção (Mann Whitney Test, p > 0.05; a = 95%). Diferenças estatisticamente significativas entre as ADMs só foram observadas no grupo CI, no terceiro e no sexto dia, e apenas imediatamente após essa intervenção (Mann Whitney Test, p = 0.03; a = 95%). Na tabela IV estão resumidos os dados da atividade muscular (Root Mean Square – RMS) dos músculos trapézios superior e médio direito e esquerdo, coletados nas avaliações inicial e final para cada um dos grupos de intervenção. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre a atividade muscular de nenhum dos músculos em ambos os grupos, tanto a curto (imediatamente após as intervenções) quanto a longo (após as 8 sessões) prazo (Wilcoxon Test, p > 0.05, a = 95%). Tabela IV - Atividade muscular (Root Mean Square – RMS) dos músculos trapézios superior e médio direito e esquerdo, coletados nas avaliações inicial e final para cada um dos grupos de intervenção. Intensidade da dor (EVN) 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 mostraram estatisticamente significativas, em nenhuma das situações avaliadas (Mann Whitney Test, p > 0.05; a = 95%). R M CI préintervenção R M CI pósintervenção R - Repouso 1ss* 2ss 3ss 4ss R M LBI préintervenção R M LBI pósintervenção M - Movimento 5ss 6ss 7ss 8ss Atividade muscular Trapézio superior direito Trapézio superior esquerdo Trapézio médio direito Trapézio médio esquerdo Média Média Variação antes depois LBI 8,67 +33,38% CI 6,04 -14,68% LBI 4,46 -14,40% CI 8,71 -10,30% LBI 5,63 +3,87% CI 8,33 -4,80% LBI 5,21 +11,56% CI 5,67 -6,74% Valor-p p > 0.05 p > 0.05 p > 0.05 p > 0.05 p > 0.05 p > 0.05 p > 0.05 p > 0.05 Discussão Na Tabela III é possível verificar que o percentual de redução total da intensidade da dor foi maior no grupo LBI, tanto em repouso (80,0%) quanto em movimento (72,7%). Porém, as diferenças observadas entre os grupos de tratamento não se A literatura sugere que a compressão isquêmica [22] e o laser de baixa intensidade [40,41] são capazes de gerar alívio da dor. No presente estudo as duas técnicas aplicadas foram efetivas Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 em promover diminuição da intensidade da dor dos indivíduos portadores de síndrome dolorosa miofascial. Entretanto, esses resultados se mostraram estatisticamente significantes apenas no grupo que recebeu intervenção com luz. Esses achados, talvez possam ser justificados pelas teorias que circundam o mecanismo de ação, de ambas as técnicas, no controle da dor. Uma das teorias propostas para o alívio da dor proporcionado pelo laser de baixa intensidade sugere um efeito sistêmico que pode alterar o input sensorial para o sistema nervoso central e diminuir a percepção da dor na área tratada [41]. Outra teoria propõe que o aumento da circulação induzido pela luz acarreta em maior aporte sanguíneo para as células em hipóxia, ou seja, elevação da oferta de oxigênio. A elevação da microcirculação, decorrente da aplicação das ondas eletromagnéticas, pode ser responsável pela quebra do ciclo dor-espasmo-dor [28]. Da mesma forma a compressão isquêmica possui duas hipóteses que suportam a sua aplicação. A primeira sugere que essa técnica equaliza o comprimento dos sarcômeros que envolvem os trigger points, reduzindo consequentemente a dor e o nódulo palpável [2]. Segundo Hou et al. [18] a redução da dor, após a aplicação dessa técnica, resulta da hiperemia local devido a mecanismos reflexos da medula que promovem relaxamento reflexo da musculatura. No entanto, os mecanismos de ação, de ambas as técnicas, ainda não estão bem estabelecidos e, portanto, essas hipóteses são apenas especulativas. A dor reduz a função pela limitação das amplitudes de movimento (ADM) do pescoço e pelo espasmo muscular [42]. Era esperado, no atual trabalho que, com a redução da dor apresentada por ambos os grupos, consequentemente houvesse uma melhora da ADM e do espasmo muscular. Entretanto, apenas o grupo CI apresentou aumento estatisticamente significativo da ADM, mesmo sem apresentar diferenças significativas no nível de dor, e essa melhora foi alcançada somente imediatamente após essa intervenção, não se mantendo ao longo das sessões. Os achados não significativos da redução da intensidade da dor, no grupo CI, podem ser justificados pelos fatores emocionais associados à síndrome dolorosa miofascial [1,5,6] e também pelo fato da CI ser considerada, na prática clínica, como um procedimento bastante doloroso. No entanto, a teoria sugere um relaxamento muscular gerado por essa técnica [18] e esse efeito pode ser observado com o aumento da ADM. Já as ondas eletromagnéticas poderiam ter atuado na hipóxia, um fator intimamente ligado à formação dos trigger points [2], e não no relaxamento muscular, o que pode justificar o alívio da dor sem consequente melhora da ADM. Conciliar a aplicação das duas técnicas pode ser uma alternativa interessante para o tratamento da síndrome dolorosa miofascial, visto que ambas as técnicas apresentaram efeitos benéficos distintos – melhora do nível de dor e relaxamento muscular – ambos de extrema importância para a restauração da função muscular perdida nessa síndrome. 289 Várias hipóteses têm sido propostas na tentativa de explicar a origem da atividade elétrica presente nas áreas tensas miofasciais. A disfunção nas junções neuromusculares [5] e a ativação das fibras intrafusais musculares gerada pelo sistema nervoso simpático [43] são algumas das fontes deduzidas como desencadeadoras dessa atividade elétrica. Apesar das teorias que explicam o meio pelo qual a LBI e a compressão isquêmica atuam no alívio do quadro álgico acreditarem na quebra do ciclo dor-espasmo-dor [28] e em um relaxamento reflexo da musculatura [18], respectivamente, no presente estudo, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas entre a atividade muscular de nenhum dos músculos em ambos os grupos. Tal fato pode ser justificado pela pequena amostra do estudo ou pela existência de mecanismos fisiopatológicos ainda desconhecidos pela literatura. Em resumo, os resultados encontrados no presente trabalho sugerem que ambas as intervenções (LBI e CI) induziram a efeitos positivos sob a síndrome dolorosa miofascial. Portanto, a combinação das duas técnicas parece ser uma alternativa apropriada para o tratamento da síndrome dolorosa miofascial. Conclusão Ambas as intervenções foram capazes de induzir um efeito positivo sobre os sintomas da síndrome dolorosa miofascial. Não foi possível estabelecer correlações entre as mudanças da intensidade da dor induzida pela terapia com luz e/ ou compressão isquêmica com o padrão de atividade dos músculos trapézio superior e médio e amplitude cervical dos indivíduos com dor miofascial. Novos estudos devem ser conduzidos considerando uma população maior, a fim de verificar a reprodução dos resultados encontrados. Agradecimentos Suporte financeiro: FIP/PUC-MG Referências 1. Cummings M, Baldry P. Regional myofascial pain: diagnosis and management. Best Pract Res Clin Rheumatol 2007;21(2):367-87. 2. Borg-Stein J, Simons DG. Myofascial pain. Arch Phys Med Rehab 2002;83(1):40-7. 3. Mense S, Simons DG. Muscle pain, understanding its nature, diagnosis, and treatment. LWW 2001;205-87 4. Harden RN, Muscle pain syndromes. Am J Phys Med Rehab 2007;86:47-58. 5. Simons DG, Travell J. Myofascial pain and dysfunction: the trigger point manual. 2 ed. Baltimore: Williams and Wilkins; 1999. 6. Bennett R. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 291 Artigo original Avaliação da qualidade de vida de pacientes amputados transtibiais unilaterais antes e após a protetização Quality of life assessment in patients with unilateral transtibial amputation before and after prosthetization Thiago Brasileiro de Vasconcelos*, Elisangela Araujo Barbosa*, Núbia Caroline da Paz Olivério*, Roberto Araújo Enéas, Ft., Esp.**, Vasco Pinheiro Diógenes Bastos, Ft., D.Sc.***, Érika Porto Xavier, Ft., M.Sc.**** *Alunos do Curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará (Estácio/FIC), **Técnico Ortopédico da Ortomol Produtos Ortopédicos, ***Co-Orientador, Professor do Curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará (Estácio/FIC), ****Orientadora, Professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará (Estácio/FIC) Resumo Abstract Objetivo: Avaliar a qualidade de vida (QV) de pacientes amputados transtibiais unilaterais antes e após a protetização. Material e métodos: Estudo de caráter descritivo, observacional e longitudinal. Foi utilizada uma ficha de avaliação fisioterápica e realizada a análise da QV através do questionário SF-36 com 14 pacientes amputados transtibiais unilaterais antes e 2 meses após a protetização. A comparação dos resultados intergrupos foi realizada pelo Teste t de Student pareado. A significância estatística foi de 5% (p < 0,05). Resultados: De acordo com o perfil sociodemográfico dos pacientes, 71% eram do sexo masculino enquanto 29% do feminino, com média de idade de 34,21 ± 14,12 anos. A análise intergrupos apresentou uma diferença significante após a protetização em seis domínios do SF-36: capacidade funcional (p < 0,001), aspectos físicos (p = 0,002), dor (p = 0,035), estado geral de saúde (p = 0,013), aspectos sociais (p < 0,001) e emocionais (p < 0,001). Conclusão: Observamos que houve uma melhora considerável na QV dos pacientes amputados transtibiais unilaterais após a protetização em comparação a aplicação do questionário antes do uso de próteses, os pacientes apresentaram melhora da sua autoestima, independência e socialização. Objective: To evaluate the quality of life (QoL) of patients with unilateral transtibial amputations before and after prosthetization. Materials and methods: This was a descriptive, observational and longitudinal study. A physical therapy evaluation form was used and the analysis of QoL performed through the SF-36 questionnaire with 14 patients with unilateral transtibial amputations before and after 2 months of prosthesis. The paired Student t test was used to compare the results between groups. The statistical significance was 5% (p < 0.05). Results: According to patients’ sociodemographic profile, 71% are male and 29% female, mean age 34.21 ± 14.12 years. Between group analysis showed a significant difference after the prosthesis in six domains of SF-36: functional capacity (p < 0.001), physical aspect (p = 0.002), pain (p = 0.035), general health (p = 0.013), social aspects (p < 0.001) and emotional (p < 0.001). Conclusion: We observed a considerable improvement in the QoL after prosthetization in patients with unilateral transtibial amputations when compared to the questionnaire application before wearing prostheses, the patients showed an improvement on their self-esteem, independence and socialization. Palavras-chave: amputação, amputação transtibial, reabilitação, qualidade de vida. Key-words: amputation, transtibial amputation, rehabilitation, quality of life. Recebido em 24 de maio de 2011; aceito em 4 de julho de 2011. Endereço para correspondência: Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Rua Pedra Branca, 121, 60135-110 Fortaleza CE, Tel: (85) 3231-5125, E-mail: [email protected] 292 Introdução As amputações de membros inferiores são tão antigas quanto a própria humanidade. Os primeiros registros de amputação são datados dentre 3500 e 1800 a.C., com relatos de uma guerreira, que com um membro inferior amputado na guerra, confeccionou uma prótese em ferro e retornou à batalha [1,2]. Amputação é uma palavra derivada do latim, com o seguinte significado: ambi = ao redor de/ em volta de e putation = podar/retirar. Podemos definí-la como sendo a retirada, geralmente cirúrgica, total ou parcial de um ou mais membros [1]. Entre as causas mais comuns de amputação encontramos: vasculopatias periféricas, traumáticas, tumorais, infecciosas, congênitas e iatrogênicas. De acordo com Carvalho et al. [3], o diabetes, o trauma e os tumores malignos são responsáveis por mais de 90% das amputações de membros inferiores. As amputações podem ser realizadas em vários níveis dos seguimentos corporais. A amputação transtibial, abordada no presente trabalho, segundo Carvalho [1] é realizada entre a desarticulação tibiotársica e a de joelho. Podemos dividí-la em três níveis de amputação: proximal, medial e distal sem deixar de considerar a importância funcional da articulação do joelho na reabilitação e na deambulação dos pacientes amputados [2]. A perda de um membro é um problema sério, difícil de ser encarado e assimilado. A maioria dos pacientes apresenta alterações não só do ponto de vista estético e funcional, como também, psíquicas e sociais de longa duração [4]. Para o paciente, então, constitui-se em uma monstruosidade que aleija e aniquila, destruindo tudo como uma avalanche que desaba sobre ele. Na realidade, porém, devemos considerar a amputação não como um fim de alguma coisa, mas sim o princípio de uma nova fase, um recomeço que, se de um lado mutilou a imagem corporal, de outro lado eliminou o perigo de perder a vida, ou aliviou a dor, ou ainda traz boas perspectivas futuras com melhor funcionalidade e bem-estar [5,6]. Esse fato sugere que a qualidade de vida desses pacientes pode estar afetada. O conceito de qualidade de vida mais comumente utilizado por pesquisadores, porém, controverso, baseia-se na própria definição de saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), ou seja, a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações [7,8]. A qualidade de vida, portanto, é um fator relevante que deve ser analisado nos pacientes protetizados. A mensuração da qualidade de vida pode ser feita entre os sadios e entre os doentes, ou seja, em todo o espectro do processo saúde-doença. Na verdade, a mensuração da qualidade de vida nos doentes ou após um episódio potencialmente incapacitante é que recebe atenção maior da comunidade científica [9]. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Para uma melhor qualidade de vida e uma maior independência em suas atividades diárias, o que aumenta sua autoestima, as pessoas que possuem algum tipo de deficiência física que envolva a falta de algum membro inferior ou superior, ou parte dele, precisam ser protetizadas [10]. A protetização, ou seja, a aplicação de um dispositivo artificial que tem a função de substituir uma parte do corpo, tem como objetivo reabilitar o paciente para uma vida normal e integrá-lo a sociedade, permitindo a sua locomoção através da prótese, inserindo um maior grau de função nas suas atividades de vida diária e profissional, recaindo em uma melhor qualidade de vida [2,5]. A fisioterapia tem como um dos principais objetivos do processo de reabilitação o de restaurar no indivíduo elementos de independência, onde as relações estabelecidas definem a aceitação das pessoas, determinando a qualidade de suas vidas. Acredita-se que a partir da compreensão da forma como as pessoas vivem seu dia-a-dia, suas dificuldades e objetivos é possível assisti-las com mais eficiência, contribuindo para seu bem-estar [11]. Portanto, este trabalho tem como finalidade analisar a qualidade de vida de pacientes antes e após a protetização, contribuindo assim para uma descrição global da saúde diante do SF-36 de fácil administração e compreensão, consequentemente favorecendo planejamentos futuros de condutas para a população em estudo. O presente estudo tem como objetivo geral avaliar a qualidade de vida de pacientes amputados transtibiais unilaterais antes e após a protetização. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo, observacional e longitudinal com estratégia de análise quantitativa dos resultados. Foi realizado em um centro de reabilitação e serviços de ortopedia técnica em geral, localizado na cidade de Fortaleza/ CE, durante o período de fevereiro a novembro de 2010. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Estácio do Ceará (CEP/FIC Protocolo nº: 123/09). Os sujeitos do estudo foram intencionalmente compostos pela totalidade de pacientes atendidos pelo centro de reabilitação. Como critérios de inclusão consideraram-se: amputados transtibiais unilaterais, faixa etária entre 20 e 50 anos de idade, nunca ter sido protetizado, independentes do estado civil, religião, raça, status socioeconômico ou grau de escolaridade e que manifestaram desejo em participar da pesquisa mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos pacientes que possuíam outros tipos de amputação, que já tinham sido protetizados ou que simplesmente não manifestaram o interesse em participar da pesquisa, que não responderam ao questionário ou desistiram durante o período da pesquisa. Além dos motivos citados acima, pacientes com distúrbios neurológicos, vestibulares Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 e visuais diagnosticados, com déficit cognitivo muito baixo que impossibilitasse a compreensão das perguntas executadas, também foram excluídos do estudo. A coleta de dados foi realizada em uma sala por meio da aplicação de uma ficha de avaliação estruturada, previamente elaborada, com o propósito de identificar o perfil dos pacientes amputados transtibiais unilaterais, o tamanho dos cotos, formas de aquisição das próteses, atendimentos de fisioterapia realizados e posteriormente aplicado o questionário SF-36 para os mesmos responderem. Segundo Dias [12], o SF-36 é um questionário multidimensional que analisa a qualidade de vida, com validação em mais de 15 países traduzido para versão em português por Ciconelli et al. [13] formado por 36 itens, englobados em 8 escalas (componentes): Capacidade Funcional, Aspectos Físicos, Dor, Estado Geral de Saúde, Vitalidade, Aspectos Sociais, Aspectos Emocionais e Saúde Mental. Cada um desses componentes possui um escore, cuja pontuação varia de 0 a 100, sendo zero o pior estado de saúde e 100 o melhor estado de saúde. Depois de dois meses da protetização, foi aplicado novamente o questionário SF-36 aos pacientes, indagando como estavam se sentindo, o que tinha melhorado e como estava sua percepção do “status” geral de saúde. O estudo estatístico descritivo das variáveis aferidas foi feito através da média e desvio padrão (DP). Os resultados foram submetidos à estatística inferencial para análise da diferença entre as médias + desvio padrão (DP) dos domínios do SF-36 antes e após o tratamento fisioterápico através do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0, adotando nível de significância de 5% (p < 0,05). Utilizou-se o teste t de Student pareado de acordo com o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov (KS). Os dados foram tabulados e apresentados como percentuais agrupados em gráficos, tabelas e/ou quadros, usando para isto o software Microsoft Office Excel 2007. Resultados Neste estudo foi avaliada a qualidade de vida de 14 pacientes amputados transtibiais antes a após a protetização. A idade variou de 20 a 50 anos, com idade média de 34,21 ± 14,12 anos. De acordo com o perfil sociodemográfico dos pacientes, 71% (n = 10) eram do sexo masculino enquanto 29% (n = 4) do sexo feminino (Gráfico 1). Sobre o nível de escolaridade, 29% (n = 4) possuíam ensino fundamental, proporção essa também repetida para ensino médio; 21% (n = 3) ensino fundamental incompleto e 7% (n = 1) eram analfabetos, proporção também repetida entre os que possuíam ensino superior e médio incompletos. O tempo médio de amputação foi de 4,07 ± 1,94 anos, 71% (n = 10) das amputações foram no membro inferior esquerdo e 29% (n = 4) no membro inferior direito. As lesões traumáticas totalizaram 86% (n = 12) 293 das causas de amputação, seguidas pela insuficiência vascular periférica 7% (n = 1) e malformação congênita 7% (n = 1). Gráfico 1 - Distribuição da amostra quanto ao sexo, Fortaleza/ CE 2010. 29% Feminino 71% Masculino Avaliando as comorbidades e o risco do aparecimento das mesmas nos pacientes do estudo, 93% (n = 13) afirmaram não possuir diabetes e 7% (n = 1) responderam que possuíam, 64% (n = 9) não possuíam hipertensão arterial sistêmica (HAS) enquanto 36% (n = 5) afirmaram que eram hipertensos, 86% (n = 12) não eram obesos e 14% (n = 2) apresentaram obesidade, 86% (n = 12) responderam que não fumavam e 14% (n = 2) eram fumantes, 79% (n = 11) destacaram não ingerirem bebidas alcoólicas enquanto 21% (n = 3) afirmaram que ingeriam, 57% (n = 8) responderam não serem sedentários e 43% (n = 6) eram sedentários (Gráfico 2). Desta forma, as comorbidades não influenciaram na avaliação da qualidade de vida. Gráfico 2 - Distribuição dos dados de acordo com as comorbidades e os hábitos de vida que geram as mesmas, Fortaleza/CE 2010. % 100 93% 86% 86% 90 79% 80 64% 70 60 50 36% 40 30 21% 20 14% 14% 7% 10 0 Diabetes HAS Obesidade Sim 57% 43% Fumo Etilismo Sedentarismo Não Com relação à presença de dor, 64% (n = 9) dos pacientes responderam que não possuíam dores e 36% (n = 5) afirmaram possuir algum tipo de dor, destes 60% (n = 3) sentiam dores na coluna lombar e 40% (n = 2) na coluna cervical. Avaliando os tamanhos dos cotos dos pacientes, observamos que 57% (n = 8) tinham cotos médios (terço médio da tíbia), 29% (n = 4) pequenos (terço proximal da tíbia) e 14 % (n = 2) longos (terço distal da tíbia) (Gráfico 3). Sobre as formas de aquisição da prótese, 57% (n = 8) foram de recursos próprios, 29% (n = 4) doadas pelo governo, 7% (n = 1) doada pela empresa de trabalho, proporção esta também repetida em doação (Gráfico 4). Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 294 Gráfico 3 - Avaliação do tamanho do coto dos pacientes amputados transtibiais unilaterais, Fortaleza/CE 2010. % 60 57% 50 40 29% 30 20 14% Discussão 10 0 Longo Médio Pequeno Gráfico 4 - Distribuição dos dados de acordo com as formas de aquisição das próteses, Fortaleza/CE 2010. % 60 57% 50 40 29% 30 20 10 0 Na análise da qualidade de vida (Tabela I), comparamos as médias dos valores obtidos nos domínios do questionário SF-36 antes e após a protetização de amputados transtibiais unilaterais. Através da estatística analítica, observamos que ocorreram diferenças estatisticamente significativas (*teste t de Student pareado onde p < 0,05) nos domínios capacidade funcional (p < 0,001), aspectos físicos (p = 0,002), dor (p = 0,035), estado geral de saúde (p = 0,013), aspectos sociais (p < 0,001) e aspectos emocionais (p < 0,001). Particular Governo 7% 7% Empresa Doação Quando questionados sobre os atendimentos de fisioterapia 71% (n = 10) responderam ter realizado reabilitação com fisioterapeutas e 29% (n = 4) afirmaram que não. Dos pacientes que receberam atendimento fisioterápico apenas 20% (n = 2) realizaram corretamente o programa de reabilitação protético, isto é, antes e após a protetização. Tabela I - Avaliação da qualidade de vida, através da média da pontuação dos pacientes amputados transtibiais, nos oito domínios do SF-36 antes e após a protetização. Domínios Capacidade funcional Aspectos físicos Dor Estado geral de saúde Vitalidade Aspectos sociais Aspectos emocionais Saúde mental Média antes DP Média após DP p 16,78 4,24 64,28 7,06 p < 0,001* 12,5 51,07 7,29 6,11 50 10,15 p = 0,002* 69,28 5,69 p = 0,035* 52,5 66,42 5,26 4,07 67,85 75 6,28 4,56 p = 0,013* p = 0,110 37,5 8,59 82,14 6,77 p < 0,001* 21,42 64,28 8,27 5,22 78,57 10,25 p < 0,001* 78 5,09 p = 0,069 Dados expressos em média ± desvio-padrão; * p < 0,05 – diferença significativa intergrupos. A maior frequência de amputação transtibial ocorre com destaque para complicações vasculares geralmente em indivíduos acima de 50 anos e, em seguida, condições traumáticas observadas em adultos jovens, devido a maior exposição ao trabalho e trânsito [3,14]. Em crianças, as causas mais comuns de amputação incluem as deformidades congênitas, condições traumáticas ou por tratamento de doença maligna. Em relação à variável sexo, diversos estudos [15-17] mostraram que o maior índice de amputação ocorre em homens, em média 75% dos casos, corroborando com nossos achados. Os resultados desta pesquisa revelaram que a maioria (29%) dos amputados cursou ensino fundamental completo, proporção essa também repetida para ensino médio. O trabalho de Oliveira e Moreira [18] confirma nossos achados quando afirmaram que os pacientes amputados de membros inferiores do seu estudo cursaram em sua maioria o ensino fundamental (36%) seguido pelo ensino médio (19%). Observamos em nosso estudo que o tempo médio decorrido entre amputação e admissão no centro de protetização foi de 4,07 ± 1,94 anos, resultado que se aproximou ao encontrado por Abdallah et al. [19], que observaram um tempo médio de protetização de 5,18 ± 6,52 anos. Considera-se importante a avaliação de comorbidades em pacientes amputados, pois as mesmas poderiam alterar a sua qualidade de vida. Os resultados desta pesquisa revelaram que os pacientes em sua maioria não as apresentam. Seidel et al. [20], Sheahan et al. [21] destacaram que algumas doenças e/ ou hábitos de vida, como diabetes, insuficiência vascular e tabagismo, têm sua relação estabelecida com o aumento do risco de evolução para a amputação. Mazo et al. [22] afirmaram que as doenças não transmissíveis (DNTs), tais como doenças cardiovasculares, hipertensão, derrame, diabetes, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, artrite, osteoporose, depressão, amputações, diminuição da visão e ou cegueira, entre outras, transformaram-se nas principais causas de morbidade, incapacidade e mortalidade em todas as regiões do mundo inclusive em países em desenvolvimento. Verificou-se, no presente estudo, que os pacientes apresentam dores localizadas na coluna lombar e cervical. Lida [23] destacou que 24 das 33 vértebras são flexíveis e, destas, as que possuem maior mobilidade são as cervicais e as lombares. Tais Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 estruturas, se danificadas implicam em prejuízos sérios para a saúde do ser humano, não sendo tratadas de forma adequada são facilmente lesionadas. Behr et al. [16] afirmam que a dor nas costas tem uma incidência elevada em amputados de membros inferiores, e pode ser ocasionada pela alteração no padrão da marcha presente nesses pacientes. De acordo com Carvalho [1], Vasconcelos et al.[2], Luccia e Silva [24], os pacientes amputados transtibiais avaliados por este estudo possuem, em sua maioria, tamanho de coto ideal para a protetização, pois os mesmos afirmaram que cotos a partir de 3 cm abaixo do tendão patelar até o limite do 1/3 médio com 1/3 distal da tíbia são considerados como um bom nível, quanto maior melhor, de acordo com as possibilidades de cada caso, boa alavanca, bom volume muscular, menor gasto energético, boa marcha, não sendo necessário o uso de correias na prótese para a fixação da mesma, evitando a atrofia do músculo quadríceps e a má circulação [25]. Acrescentando, Carvalho [1] e Debastiani [26] afirmaram que os cotos transtibiais apresentam uma tendência à deformidade em flexão do joelho, aumentando proporcionalmente quanto mais proximal for o nível de amputação realizado. Nos estudos de Santos et al. [14], Tekin [27], Schoppen et al. [28] e Pedrinelli [29], evidenciou-se que o paciente amputado sofre grande alteração do potencial funcional músculo esquelético e dificuldades na adaptação a uma condição incapacitante, pois o mesmo necessita fazer mudanças na sua vida, desde alterações sociais, econômicas e até familiares. Os resultados desta pesquisa revelaram que as próteses em sua maioria (57%) foram adquiridas por recursos próprios, enquanto apenas 29% foram financiadas pelo governo, sendo assim Carvalho [10] afirma que se deve adicionar um conjunto de medidas médicas, sociais, educacionais, psicológicas e econômicas com a finalidade de tornar o paciente apto para reincorporá-lo à sociedade utilizando seus próprios recursos residuais para que tenha qualidade pelo menos razoável de vida e, assim, serem capazes de retornar as suas atividades diárias, laborais e o convívio social [14]. Ciconelli et al. [13] ressaltam que é importante relatar o comprometimento na qualidade de vida de determinada patologia de forma genérica e ao compará-la com outras doenças pode-se demonstrar sua importância para o indivíduo, em nível social ou de saúde, dentro de uma comunidade, facilitando um maior conhecimento do indivíduo ou da população a ser trabalhada norteando a decisão quanto à melhor distribuição de recursos dentro do sistema de saúde. Existem várias evidencias [5,17,25,29-31] dos benefícios da fisioterapia na reabilitação de pacientes amputados, e as mesmas destacam o fisioterapeuta como um dos integrantes da equipe multidisciplinar direcionada ao tratamento destes pacientes. Sendo assim, Pastre et al. [17], Bona et al. [25], Torres et al. [31], Sampol [32], Schweitzer e Miquelluti [33] complementam afirmando que o fisioterapeuta desempenha funções importantes diante da reabilitação de pacientes amputados 295 no acompanhamento do mesmo em todos os estágios do programa de reabilitação, supervisionando e tratando desde o estágio pré e pós-operatório, na educação de mobilidade pré e pós-protética e, se necessário, em cuidados de manutenção das funções musculoesqueléticas. Nesse sentido, a presença do fisioterapeuta é importante no processo dinâmico, criativo, progressivo e educativo, objetivando a restauração ótima do indivíduo, sua reintegração à família, comunidade e sociedade. Com base em depoimentos de amputados protetizados, citados por Carvalho [1], eles afirmaram que a qualidade de vida está intimamente ligada ao nível de independência da população, em poder fazer suas atividades da vida diária sozinhos, praticar esportes, visitar amigos e parentes. Este estudo apontou diferenças estatisticamente significativas em seis domínios do questionário SF-36 após a protetização, e está em concordância com os trabalhos de Vasconcelos et al. [2], Bocollini [5], Carvalho [10] e Abdallah et al. [19], os quais afirmam que para uma melhor qualidade de vida, readaptação profissional, independência em suas atividades diárias e reintegração social – o que aumenta sua autoestima –, as pessoas que possuem algum tipo de deficiência física que envolva a falta de algum membro inferior ou superior, ou parte dele, precisam ser protetizadas. No estudo feito por Abdallah et al. [19], com o intuito de avaliar o índice de capacidade locomotora e da qualidade de vida em amputados atendidos por um centro de reabilitação, os autores aplicaram o questionário SF-36 em amputados na fase de cicatrização, protetização e já protetizados. De acordo com os autores, a alteração na qualidade de vida é uma situação comum em pessoas que sofreram alguma amputação de membros, ambos os grupos apresentaram redução na qualidade de vida, bem como influência negativa na sua capacidade locomotora, porém sem diferenças significativas entre eles. Nesse contexto, Warmuz et al. [4] destacam que é necessário a construção de centros de reabilitação, objetivando tornar a protetização mais comum e acessível aos pacientes amputados, facilitando suas atividades de vida diária e melhorando sua qualidade de vida. No presente estudo, os domínios vitalidade e saúde mental não apresentaram diferenças significativas, dados estes que talvez possam ser explicados pela amostra ser composta, em sua maioria, por adultos jovens com a vitalidade e saúde mental em ascensão. Segundo Carvalho et al. [3], os jovens reagem melhor à amputação a longo prazo do que os amputados de idade avançada, pois os jovens apresentam depressão imediata após a cirurgia, entretanto, esse distúrbio vai se resolvendo gradualmente com o tempo, o que não acontece em relação aos idosos. No estudo de Caldas et al. [6], em relação à idade, foi possível analisar que a mesma obtém uma correlação positiva com o domínio limitação por aspectos emocionais, onde a explicação é de que, quanto maior ou mais elevada for à idade do paciente protetizado, maior será a limitação emocional. Tsur et al. [34] corroboram que a idade influência 296 significativamente nas atividades de vida diária, mobilidade, retorno ao trabalho, atividade social, capacidade de conduzir um carro ou utilizar os transportes públicos e a realização de atividade fisica em amputados abaixo do joelho após a protetização. Conclusão Após a protetização verificou-se uma melhora na qualidade de vida dos pacientes amputados transtibiais unilaterais. Ressalta-se o aumento da sua autoestima, independência e socialização. A utilização da prótese transtibial melhorou os domínios, capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, aspectos sociais e aspectos emocionais. Em geral, nossa amostra foi composta por adultos jovens, amputados transtibiais unilaterais, com predomínio do lado esquerdo, sexo masculino, ensino fundamental completo, ausência de comorbidades, com aquisição própria da prótese e que não realizaram corretamente o programa de reabilitação protético. Destaca-se que o correto cumprimento do programa de reabilitação está diretamente relacionado ao sucesso da protetização, o fisioterapeuta está inserido em todas as fases de reabilitação do paciente amputado, desempenhando funções importantes desde o período pré-operatório até a fase final quando o paciente é reinserido novamente na sociedade. Referências 1. Carvalho JA. Amputações de membros inferiores: em busca da plena reabilitação. 2ª ed. 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Material e métodos: Estudou-se 2 pacientes com fibromialgia, os quais foram submetidos a dosagem sérica de serotonina, a aplicação do questionário de impacto da fibromialgia e a 10 sessões de acupuntura. As dosagens de serotonina e a aplicação do questionário foram realizadas 3 vezes, sendo: 1 dia antes das 10 sessões de acupuntura, 1 dia após as 10 sessões de acupuntura e 30 dias após o final das 10 sessões de acupuntura. Resultados: Observou-se uma redução significativa na serotonina sérica e no escore do questionário de impacto da fibromialgia após as sessões de acupuntura, porém no pré-teste e 30 dias após ambos estavam aumentados. Utilizou-se o teste t de Student para a análise estatística e o nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05). Conclusão: Apesar do pequeno número de pacientes, os resultados indicam que a acupuntura mostrou-se eficaz no tratamento a curto prazo dos dois pacientes fibromiálgicos em estudo, ou seja, obteve-se melhora na qualidade de vida, e esta melhora está diretamente relacionada com a redução sérica de serotonina. Introduction: The fibromyalgia syndrome is a disease characterized by chronic widespread pain, sleep disturbance, depression and fatigue, which changes significantly the quality of life of the patients. The acupuncture as a treatment option result in improving quality of life for these individuals. Methods: The study involved 2 patients with fibromyalgia. They underwent 10 sessions of acupuncture. The serum levels of serotonin and the application of the fibromyalgia impact questionnaire took place before, after and 30 days after the acupuncture sessions. Results: There was a significant reduction in serotonin levels and in the fibromyalgia impact questionnaire scores after the acupuncture sessions, but we found an increase in both during the pre-test and 30 days after. The Student T test for statistical analysis was used and the level of significance adopted was 5% (p < 0.05). Conclusion: Although the number of patients was small, acupuncture was effective in fibromyalgia short-term treatment in patients, i.e, improvement in quality of life, and this improvement is directly related to the reduction in serum serotonin. Key-words: fibromyalgia, acupuncture, serotonin, quality of life. Palavras-chave: fibromialgia, acupuntura, serotonina, qualidade de vida. Recebido em 13 de julho de 2010; aceito em 1 de julho de 2011. Endereço para correspondência: Fernando Rodrigues da Silva, Rua Monte Cristo, Q.26 L.8, Vila Regina, 74453-570 Goiânia GO, Tel: (62) 81253174, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Introdução A Síndrome da Fibromialgia (SFM) pode ser definida como uma síndrome dolorosa crônica não inflamatória, caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo e sensibilidade exacerbada à palpação de determinados sítios denominados pontos dolorosos (tender points). São sintomas acompanhantes da maioria dos pacientes: fadiga, distúrbio do sono e do humor, cefaleia crônica, síndrome do intestino irritável, ansiedade e depressão [1-3]. A etiologia da fibromialgia ainda é idiopática e provavelmente deve estar relacionada a distúrbios multifatoriais, como as alterações comportamentais, neuroendócrinas e imunológicas [2,4,5]. Estima-se que a fibromialgia afeta de 2 a 7% da população mundial. E os sintomas geralmente surgem, na média, entre os 30 e 50 anos de idade, porém sua prevalência aumenta com a idade. Embora sendo incomum, essa síndrome pode acometer crianças, adolescentes e idosos, ou seja, pode ser diagnosticada em qualquer fase da vida [6,7]. A fibromialgia provoca um impacto negativo importante na qualidade de vida dos pacientes, sendo que, a utilização dos questionários como instrumentos enquanto método de acompanhamento clínico tem sido utilizado e associado como medida de avaliação dos sintomas, pois proporciona uma maior capacidade de detectar a melhora ou piora na qualidade de vida após uma determinada intervenção. O questionário sobre o impacto da fibromialgia (QIF) é o instrumento específico para a avaliação do impacto na qualidade de vida desses pacientes [4]. A acupuntura demonstrou ser um método eficaz para o tratamento coadjuvante da fibromialgia, melhorando a capacidade funcional, quantidade de dias em que se sentiu bem, diminuição de sintomas como dificuldade de trabalhar, dor, cansaço, sono não reparador, rigidez, ansiedade e depressão, favorecendo assim uma melhora da qualidade de vida dos pacientes [8]. No estudo realizado por Sprott et al. [9], observou-se que após o tratamento de pacientes fibromiálgicos com acupuntura houve uma relação com as mudanças na serotonina e substância P no soro dos pacientes com fibromialgia, sugerindo então, a redução da dor em pacientes fibromiálgicos. Segundo Guyton e Hall [10], a serotonina é secretada pelos núcleos da rafe no tronco encefálico, os quais projetam várias fibras para diversas áreas encefálicas, especialmente para o diencéfalo, córtex cerebral e hipotálamo, e muitas outras fibras descem os cornos dorsais da medula espinhal. E então, a serotonina é um neurotransmissor e está implicada no sistema de analgesia, o qual inibe ou suprime as fibras tipo C e do tipo A-delta, e assim, o sistema de analgesia pode bloquear os sinais da dor no ponto inicial de entrada para a medula espinhal, e acredita-se que a sua ação inibitória, nas regiões superiores do sistema nervoso, auxilie a controlar o humor da pessoa. Neste estudo de caso, tivemos como principais objetivos: analisar por meio do questionário o impacto da fibromialgia 299 nos pacientes, observar uma possível relação com a serotonina e a melhora na qualidade de vida, e também demonstrar a importância e os benefícios da acupuntura na melhora da qualidade de vida dos pacientes portadores de fibromialgia comparando o pré e o pós-acupuntura. Material e métodos Tipo de estudo Trata-se de uma pesquisa de campo na área da saúde, e tem como característica o estudo de caso, tendo como base o método longitudinal, observacional, comparativo e experimental. Amostra Este estudo de caso foi composto por dois voluntários, sendo um paciente do gênero feminino com 44 anos de idade e o outro do gênero masculino com 61 anos de idade, e ambos possuem o diagnóstico clínico de fibromialgia. Aspectos éticos O estudo foi elaborado de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo Seres Humanos, baseado na Resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, o qual foi submetido e aprovado sob o protocolo nº 059/09, pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Materno Infantil, Goiânia – Goiás. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual constam todas as explicações necessárias acerca deste trabalho científico. Critérios de inclusão e exclusão Os critérios de inclusão adotados foram: pacientes com diagnóstico clínico de fibromialgia; ter disponibilidade de tempo para a realização das 10 sessões de acupuntura; responder o questionário sobre o impacto da fibromialgia; realizar as dosagens de serotonina. Os critérios de exclusão foram: pacientes com fibromialgia que não se sujeitaram a assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido; pacientes que já haviam se submetido ao tratamento com acupuntura ou a outro tratamento holístico (shiatsu, yoga, terapia floral e outros); fibromiálgicos que apresentam déficits cognitivos; pacientes que não possuem disponibilidade de horário para a realização das 10 sessões de acupuntura, responder o QIF e as dosagens de serotonina. Materiais e instrumentos Os materiais e instrumentos utilizados durante este estudo de caso foram: Termo de Consentimento Livre e 300 Esclarecido; Questionário sobre o impacto da fibromialgia; maca; travesseiro; cronômetro; agulhas de acupuntura descartáveis e estéreis de dimensão 0,25 x 30 mm; algodão hidrófilo e álcool etílico a 70%, para realizar assepsia dos pontos de acupuntura. Sessões de acupuntura Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 10 questões que são: capacidade funcional, bem-estar, faltas no trabalho, dificuldades no trabalho, dor, fadiga, rigidez, sono, ansiedade e depressão. Sendo que, quanto maior o escore, maior é o impacto da SFM na qualidade de vida dos pacientes [17]. No entanto, a versão brasileira do QIF mostrou ser um instrumento de fácil compreensão e aplicação, válido e confiável para medir a capacidade funcional e o estado de saúde dos pacientes brasileiros com SFM, e assim, melhorar no auxílio diagnóstico e tratamento dessa síndrome [18]. O QIF foi aplicado e interpretado pelo próprio pesquisador, sendo: um dia antes da primeira sessão, um dia após a décima sessão e 30 dias após a décima sessão de acupuntura. Os pacientes foram orientados previamente, e os mesmos tiveram a liberdade de ligar, caso ainda surgissem dúvidas durante as respostas, entretanto, nenhum paciente verificou a necessidade de ligar. Durante o tratamento com acupuntura os pacientes ficaram em decúbito dorsal, pois segundo Focks [11] é a melhor posição para se evitar um colapso pela agulha e para se obter maior relaxamento. Cada sessão teve duração de 30 minutos, que foram distribuídos da seguinte forma: iniciou-se com a inserção neutra de agulhas finas em um ângulo perpendicular aos acupontos e os pacientes relataram a sensação Te-Qi, e nos 5, 10, 15, 20 e 25 minutos realizou-se a estimulação dos pontos que foi realizado manualmente com a técnica de rotação no sentido horário para tonificá-los, e aos 30 minutos retiraram-se as agulhas e os fechamentos dos acupontos foram realizados. Neste estudo, realizou-se um total de 10 sessões de acupuntura para cada paciente, sendo duas vezes por semana, e não houve nenhuma intercorrência. Os acupontos estimulados durante as sessões seguiram a seguinte sequência: B62, R6, IG4, E36, F3, IG11, VB34, R3, P7 e ID3, sendo que os pontos IG4, E36, F3, IG11, VB34 e R3 foram estimulados bilateralmente. Neste estudo, adotou-se a padronização dos pontos de acupuntura utilizados em nossos pacientes de acordo com os sinais e sintomas da fibromialgia, assim como também fizeram outros autores [12-15]. O teste t de Student para amostras independentes foi utilizado buscando diferenças nos resultados obtidos no questionário de impacto da fibromialgia e dos níveis de serotonina dos pacientes, e essas variáveis foram comparadas antes da acupuntura (pré-teste), após acupuntura (pós-teste) e 30 dias após acupuntura. O nível de rejeição da hipótese de nulidade foi de 0,05, ou seja, toda a análise estatística foi realizada com 5% de significância. Os dados foram analisados no programa Statiscal Package for the Social Science (SPSS), versão 17.0. Dosagens de serotonina Resultados As coletas de sangue foram realizadas rigorosamente, um dia antes da primeira sessão, um dia após a décima sessão e 30 dias após a décima sessão de acupuntura, todas as coletas foram realizadas no período matutino, entre os horários das 06h30min às 07h30min, no Padrão Laboratório Clínico®. No preparo para a coleta de sangue os pacientes tiveram que seguir as seguintes instruções: jejum de 8 horas e permanecer 24 horas sem ingerir os alimentos que interferem no resultado como: abacate, ameixa, banana, berinjela, chocolate, frutos secos, mexilhões, nozes, pickles e tomate [16]. Na Tabela I verifica-se a análise entre pré-teste, pós-teste e 30 dias após o fim do tratamento do QIF e serotonina. Sendo que, no pré-teste com pós-teste (0,016) e pós-teste com 30 dias após (0,017) houve relevância estatística, mas na comparação entre pré-teste e 30 dias após (0,338) não houve diferença estatística significativa. Na Figura 1, verificamos que os maiores escores do QIF coincidem com os maiores resultados de serotonina, os quais ambos foram no pré-teste e 30 dias após. Por outro lado, o pós-teste apresentou a menor pontuação do QIF, e também o menor valor do resultado da serotonina. Aplicação do Questionário sobre o Impacto da Fibromialgia Tabela I - Nível de significância, média e desvio padrão na comparação do QIF e dosagens de serotonina entre pré-teste, pós-teste e 30 dias após a acupuntura nos pacientes. A avaliação do nível de qualidade de vida dos pacientes foi realizada utilizando-se o Questionário sobre o Impacto da Fibromialgia (QIF). O QIF é um instrumento desenvolvido especificamente para avaliar o impacto da fibromialgia na qualidade de vida dos pacientes, o qual é composto por Análise estatística Média Pré-teste vs. Pós-teste Pré-teste vs. 30 dias Pós-teste vs. 30 dias 65,72 100,07 57,50 Desvio padrão 60,66 50,06 49,56 Nível de significância 0,016 0,338 0,017 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Figura 1 - Comparação da média do QIF e dosagens da serotonina no pré-teste, pós-teste e 30 dias após aplicação da acupuntura nos pacientes. Pré-teste: Pré-teste: Pós-teste: Pós-teste: 30 dias: 30 dias: QIF Serotonina QIF Serotonina QIF Serotonina QIF: % Serononina: ng/ml Discussão A relevância social deste estudo consiste em mostrar que a técnica de acupuntura no tratamento da fibromialgia pode favorecer não só o paciente, mas aqueles diretamente ligados a ele, uma vez que uma melhor qualidade de vida causa maior conforto e segurança em seus familiares. Os acupontos foram escolhidos com a finalidade de permitir a reprodução da técnica e aliviar a sintomatologia da SFM [12,14]. Para isto, foram usados os mesmos pontos de acupuntura para todos os pacientes contrariando o que preceitua a acupuntura praticada na clínica de acordo com a medicina tradicional chinesa que opta sempre pelo tratamento individualizado [19]. Cândido et al. [14] observaram uma significativa redução da dor, avaliada pela escala visual analógica da dor (EVA), sendo que esses resultados demonstram a eficácia da acupuntura na redução da dor dos pacientes tratados. No estudo realizado por Takiguchi et al. [20], observou-se que a dor e os distúrbios do sono interferem diretamente na qualidade de vida, e as melhoras desses dois fatores geraram consequentemente uma melhora nos valores observados no QIF, esta constatação demonstra o efeito positivo da acupuntura na diminuição do impacto da fibromialgia na vida dos 12 pacientes estudados. O presente estudo corrobora com os resultados de Cândido et al. [14] e Takiguchi et al. [20], pois além da dor e o distúrbio do sono terem melhorado nos pacientes, observouse também uma melhora significativa na rigidez, cansaço e depressão, ou seja, essa melhora na qualidade de vida reforça a importância da utilização da acupuntura nos pacientes fibromiálgicos. 301 Singh et al. [21] encontraram que quanto maior a idade do sujeito, mais positivas foram as mudanças decorrentes da acupuntura observadas pelo QIF. Tais mudanças referem-se à melhora da sintomatologia da fibromialgia, o que também foi observado no presente estudo. Deluze et al. [22] avaliaram a eficácia da eletroacupuntura no tratamento de pacientes com fibromialgia e observaram que os pacientes tratados com esse método referiram melhora da dor, redução na quantidade de medicação utilizada, melhora na qualidade do sono e melhora global. Apesar de não ter sido utilizado a eletroacupuntura neste estudo, obteve-se alguns resultados similares aos encontrados por esses autores, os quais incluem a redução da dor, melhora na qualidade do sono e global. Os resultados observados no presente estudo foram semelhantes ao estudo de Mendonça [8], que por meio da análise dos resultados obtidos em seu estudo, concluiu que houve uma diminuição da pontuação obtida no QIF e na EVA após a intervenção da acupuntura, melhorando assim a capacidade funcional, dias de alívio, dificuldade de trabalhar, dor, cansaço, sono não reparador, rigidez, ansiedade e depressão. Targino et al. [23], Araújo [12], Martin et al. [13] e Costa [24], em seus estudos prospectivos, randomizados e controlados sobre o tratamento da fibromialgia com acupuntura, concluíram que este é um método eficaz a curto prazo para o tratamento coadjuvante da fibromialgia melhorando a dor e a depressão e cujo efeito talvez se deva à modulação dos neurotransmissores envolvidos na dor e não ao simples agulhamento, uma vez que não obteve melhora em seu grupo controle. No presente estudo (Figura I), observou-se o envolvimento de um neurotransmissor (serotonina) na melhora da qualidade de vida dos 2 pacientes em estudo, onde no pós-teste obtivemos o menor escore do QIF e também uma redução importante no nível sérico de serotonina. Sprott et al. [9] realizaram um estudo em 29 pacientes com fibromialgia, no qual foram avaliados níveis de dor e pontos tensos positivos utilizando a EVA e dolorimetria, e também analisou os níveis de serotonina (5-HT) e substância P (SP) no soro e a concentração de 5-HT nas plaquetas foram dosadas concomitantemente. Houve estatisticamente uma significativa redução no número de pontos tensos patológicos e contagens da EVA dos pacientes. Também houve uma diminuição significante de 5-HT nas plaquetas, um aumento no soro da concentração de 5-HT e de SP. Os resultados de Sprott et al. [9] demonstram que a acupuntura está associada com mudanças na 5-HT e SP no soro de pacientes com fibromialgia, e também demonstrou que a acupuntura é satisfatória no tratamento da dor em pacientes fibromiálgicos. Porém, nosso estudo confrontou com os resultados de 5-HT, onde tivemos valores normais de 5-HT no soro antes e após 30 dias da acupuntura, e uma redução significante de 5-HT no soro após a décima sessão de acupuntura. No entanto, os resultados convergiram quanto 302 à redução significativa da dor, que neste trabalho foi avaliada pelo QIF. Conclusão A metodologia deste trabalho foi satisfatória, cujos objetivos foram alcançados, ou seja, demonstrou-se a importância da acupuntura para melhorar a qualidade de vida dos pacientes portadores de fibromialgia; observou-se uma possível relação com a serotonina e a melhor qualidade de vida; analisou-se por meio do questionário sobre o impacto da fibromialgia a utilização da acupuntura e seus benefícios nos pacientes com fibromialgia. Pode-se concluir que, embora o número de pacientes seja pequeno, a acupuntura mostrou-se eficaz no tratamento a curto prazo da fibromialgia, onde se obteve uma melhora na qualidade de vida dos dois pacientes fibromiálgicos em estudo, e esta melhora pode estar relacionada com a redução sérica de serotonina. Referências 1. Carvalho MAP, Lanna CCD, Bértolo MB. Reumatologia: diagnóstico e tratamento. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. 2. Ortiz MR, González EB. La fibromialgia: fundamentos y tratamiento. Rev Fac Cienc Salud 2006;4:1-18. 3. Perea DCBNM. Fibromialgia: epidemiologia, diagnóstico, fisiopatologia e tratamento fisioterápico. Fisioter Bras 2003;4(4):282-8. 4. Provenza JR, Pollak DF, Martinez JE, Paiva ES, Helfenstein M, Heymann R, Matos JMC, Souza EJR. Fibromialgia. Rev AMRIGS 2005;49(3):202-11. 5. Alambert PA, Santos LR, Hime RC, Povoa FF, Alexandre Filho ER, Contenças ACS. 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Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 303 Relato de caso Fechamento de úlceras de pressão em pacientes com lesão medular: proposta terapêutica Closure of pressure ulcers in patients with spinal cord injury patients: therapeutic proposal Daniel Joppert, Ft.*, Victor Hugo Bastos, Ft.**, Dionis Machado, Ft.***, Thiago Nunes****, Leandro Mendes da Silveira****, Nelson Kale Junior*****, Raphael Goulart******, Mariana Mello, Ft.*******, Julio Guilherme Silva********, Marco Orsini, D.Sc.********* *Responsável Técnico pelo Serviço de Reabilitação da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (ANDEF), Fisioterapeuta Rotina do Hospital Estadual Azevedo Lima (HEAL), **Professor Adjunto do departamento de Fisioterapia da UFVJM, Diamantina/MG, Docente do programa Multicêntrico de pós-graduação em Ciências Fisiológicas (PMPGCF), ***Professora Substituta da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Diamantina/MG, ****Fisioterapeutas da ANDEF, *****Pós-Graduado em Reabilitação Neurológica, ESEHA, ******Enfermeiro da Clínica Médica do Hospital Estadual Azevedo Lima, *******Programa de Iniciação Cientifica, UFF, ********Professor do Programa de Mestrado em Ciência da Motricidade, UNISUAM, *********Graduando em Medicina e Doutorando em Neurociências|Neurologia, HUAP, UFF, Professor Pesquisador, Programa de Mestrado em Ciências da Motricidade, UNISUAM Resumo Abstract A úlcera de pressão (UP) é uma complicação frequente em indivíduos com mobilidade reduzida que, além de apresentar tratamento longo e oneroso, aumenta o risco de comorbidades e consequente morte. Em uma situação mínima de equidade de assistência multidisciplinar, instituiu-se um protocolo de tratamento para facilitar o fechamento de UP em lesados medulares de diferentes causas e níveis neurológicos. Em ação conjunta, a fisioterapia utilizou laser terapêutico, enquanto a enfermagem realizou curativos com polihexanida e hidrogel. Todos os pacientes foram orientados a lidar e tratar a UP em âmbito domiciliar. Ao final do programa ocorreu piora em um caso decorrente de complicações associadas. Ocorreram melhorias em quatro casos, sendo que em dois desses a ferida foi totalmente fechada no período em que o estudo se prontificou a monitorar. Diversos fatores demonstram interferir no processo de fechamento da ferida, dentre eles, condições de ordem socioeconômica, familiar e de saúde geral individual. Na busca de melhores resultados, é imperativa a mudança de hábitos para eliminar a compressão tissular local e preservar condições mínimas de higidez do corpo. The pressure ulcer (PU) is a frequent complication in individuals with reduced mobility which demands a long and expensive treatment and also increases the risk of comorbidities and death. In a situation of minimum equity of multidisciplinary care, we adopted a treatment protocol to facilitate closure of pressure ulcers in spinal cord injuries of different causes and neurological levels. The Physical Therapy worked together with Nursing and used laser therapy, polyhexanide and hydrogel dressings on the PU, respectively. All patients were instructed on how to deal with and treat the PU at home. At the end of the program, one subject got worse in consequence of complications. Improvements occurred in four cases, and in two the wound was completely closed in the period of the study. Many factors interfered with the wound healing process, including socio-economic, familiar, individual and general health conditions. In order to get better results, it is imperative to change habits to eliminate the local tissue compression and preserve minimum conditions of good health of the body. Key-words: pressure ulcer, laser, hydrogel, physical therapy. Palavras-chave: úlcera de pressão, laser, hidrogel, fisioterapia. Recebido em 2 de fevereiro de 2011; aceito em 21 de junho de 2011. Endereço de correspondência: Victor Hugo Bastos, Departamento de Fisioterapia Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Rodovia MGT 367, 5000 Alto da Jacuba 39100-000 Diamantina MG, Tel: (38) 3532-1239, E-mail: [email protected] 304 Introdução Úlceras de pressão (UP) é o termo designado a feridas que resultam de pressão prolongada sobre tecidos moles em qualquer área do corpo, principalmente em locais de proeminências ósseas. Estas lesões cutâneas se desenvolvem devido à necrose tecidual provocada por isquemia compressiva, fato este diretamente ligado à permanência por longos períodos numa mesma posição e forças de cisalhamento, como ocorre em pacientes acamados ou restritos à cadeira de rodas. Desta forma, pacientes com lesão medular (LM) apresentam um risco elevado para desenvolver UP, devido a alterações de mobilidade e de sensibilidade [1-4]. A UP é uma complicação grave que pode postergar o processo de recuperação funcional por limitar a execução plena dos exercícios necessários à reabilitação e, na pior das hipóteses, pode levar ao óbito por infecção generalizada. Como as úlceras cutâneas crônicas são de difícil cicatrização e considerável incidência, torna-se necessário uma abordagem multidisciplinar mais eficiente. É indiscutível que a identificação e o tratamento precoce permitem impedir a progressão e aceleraram a regeneração da UP. Este fato influencia de maneira positiva na redução do custo e evolução do tratamento [2,5-9]. Em geral, o tratamento conservador de uma UP deve incluir medidas multidisciplinares para reduzir ou eliminar os fatores desencadeantes, promover cuidados específicos da ferida e otimizar o estado geral e nutricional do enfermo. O tratamento inclui limpeza, revestimento e aplicação de agentes físicos, além de desbridamento e investigação sobre colonização (infecção), quando necessário. Destes, a higienização adequada e mudança de decúbito (alívio da pressão local) são essenciais, e o suporte da enfermagem indispensável [2,3]. Este estudo busca expor evidências obtidas numa proposta terapêutica multidisciplinar para fechamento de UP em pacientes com LM, por meio de orientações domiciliares e uso tópico da Polihexanida (PHMB) e Hidrogel após a aplicação de recurso fototerapêutico (laserterapia de baixa potência - LBP). O PHMB é uma substância inócua para o tecido vivo, exercendo efeito antimicrobiano, enquanto o Hidrogel é um gel transparente que reduz significativamente a dor e mantém o meio úmido, evitando a desidratação das terminações nervosas e favorecendo a autólise e remoção de tecidos desvitalizados [10-12]. O laser é um instrumento foto estimulante, cujo princípio é a estimulação da produção de energia por emissão de uma radiação eletromagnética nãoionizante [2,7-9,13]. Os resultados obtidos servem de base para futuras análises comparativas a respeito da evolução do fechamento de UP. Material e métodos Estudo descritivo-observacional que acompanhou a contração das feridas numa proposta de tratamento para fecha- Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 mento de UP em pacientes com LM de causas distintas. Para ser incluído na pesquisa, o participante deveria ser participante do Programa de Reabilitação Integrada (PRI) da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (ANDEF), apresentar UP com grau II, e, impreterivelmente, ter a possibilidade de nomear um colaborador responsável, fosse ele familiar ou profissional. Estariam excluídos da pesquisa pacientes que apresentassem qualquer contraindicação à aplicação do laser, sendo estas: presença de carcinomas, anemia ou hemorragia, tecido desvitalizado, útero gravídico, inflamação, tecidos necróticos, áreas fotossensíveis e desnutrição [14]. Os pacientes selecionados foram informados a respeito da pesquisa, sobre os objetivos e procedimentos envolvidos. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado conforme preconizado pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Os produtos aplicados no tratamento das úlceras na ANDEF foram adquiridos com a Walkmed S/A, sob a apresentação de Acquasept®, frascos solução e gel. Delineamento da pesquisa O protocolo consistia na realização de uma entrevista inicial, orientação domiciliar e abordagem terapêutica. A anamnese inicial serviu de base para avaliar diversos aspectos dos pacientes, como patologia de base, reincidência das úlceras, condição socioeconômica, escolaridade e o grau de independência funcional (Spinal Cord Independence Measure -versão III) [15]. Ao término da anamnese, solicitou-se a nomeação de um colaborador responsável para auxílio do tratamento domiciliar. Palestras educativas foram realizadas para que o colaborador e o paciente aprendessem a lidar com as úlceras. As palestras educativas possuíam dois pontos focais de abordagem: a higienização da ferida para prevenção de infecção e a realização de mudança de decúbito seriada e lateralização corporal para o alívio da pressão local [16-18]. Com os colaboradores devidamente treinados, iniciouse o controle sobre as úlceras. Para tal, a documentação fotográfica foi realizada com uma câmera digital Canon PowerShot A530, de 5.0 Megapixels, a uma distância regular de 14 centímetros. As feridas foram mapeadas e mensuradas. Foi utilizado papel filme transparente de poliéster (laser film A4) e caneta (retroprojetor) para delinear a extensão das úlceras. Todo material para garantir a assepsia deste procedimento, como luvas estéreis, álcool 70%, algodão, máscara e óculos de proteção foram utilizados. A imagem obtida no mapeamento foi digitalizada para o formato de “gráficos por mapa de bits” (BMP, ou Windows Bitmap) através de um scanner (HewlettPackard – HP Photosmart C4280). Sem perder a dimensão da UP, utilizou-se o programa Image Lab version 2.2 para mensurar a área ferida. O processo de mapeamento e mensuração da ferida foi realizado em dois momentos: início e final do programa, que variou entre 34 e 47 dias. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Somente após estes cuidados iniciais e procedimentos iniciou-se o tratamento. Preconizou-se um protocolo semanal de duas aplicações de LBP antes da administração de Hidrogel e PHMB na troca do curativo [10-12]. A responsabilidade dos cuidados com a troca dos curativos e assepsia da ferida ficou a cargo da equipe de enfermagem. No centro de reabilitação, antecedendo a aplicação da LBP, os participantes da pesquisa foram submetidos à limpeza da ferida. A higiene da UP foi realizada com soro fisiológico aquecido a 37ºC e gaze estéril, conforme preconizado no Protocolo de Assistência aos Portadores de Feridas, produzido pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/MG [12]. A equipe de fisioterapia utilizou o aparelho Laserpulse da Ibramed S/A para administrar uma radiação luminosa de emissão contínua com laser vermelho de HeNe, com comprimento de onda de 660 nm (nanômetros). A dosimetria irradiada foi de 6 joules/cm2, depositada utilizando a técnica pontual, delineando a borda da ferida a cada 1 cm, seguindo esta regra para cada ponto aplicado também na região interna da ferida, na intenção de garantir uma mesma quantidade de energia luminosa para cada cm2 da UP. A caneta de aplicação num ângulo de 90° com o tecido, a uma distância de aproximadamente 5 a 10 mm, garantiu um menor índice de dispersão eletromagnética. Em teoria, estes são os procedimentos necessários para garantir a eficiência máxima do recurso [15,19-21]. Após o procedimento fisioterapêutico, a ferida era ocluída pela equipe de enfermagem. Neste processo, era administrado o PHMB/Hidrogel (Acquasept®) diretamente e na borda da ferida, com posterior oclusão (gaze umedecida pela solução da Acquasept® e esparadrapo antialérgico). As feridas foram reavaliadas periodicamente, seguindo os mesmos procedimentos da avaliação inicial. A contração da ferida foi avaliada percentualmente através da fórmula: {[(área inicial - área final) ÷ área inicial] x 100}. Utilizou-se como unidade de medida da área da ferida o centímetro quadrado (cm2) [22-23]. A média diária de variação do tamanho da ferida foi calculada através da fórmula: (área inicial - área do dia da medida) ÷ quantidade de dias de tratamento, que utilizou o milímetro quadrado (mm2) como unidade de medida. Resultados A pesquisa contou com cinco participantes, sendo 80% do gênero masculino. A faixa etária estudada variou de 17 a 61 anos. Do total de 5 casos de lesão medular, 2 foram decorrentes de malformações congênitas por mielomeningocele (MMC) e 3 por traumatismo raquimedular (TRM). Em relação à incidência, 2 pacientes possuíam UP com localização na região sacra, 2 na região isquiática e 1 no hálux. As tabelas a seguir demonstram os dados obtidos com a pesquisa. • Análise evolutiva do paciente 1: homem, 61 anos, com LM completa por TRM vítima de projétil de arma de fogo 305 (PAF) ocorrido um ano antes. Conseguiu o fechamento total de UP na região sacra grau II de 5,16 cm2 em 43 dias. Totalmente dependente, apresentava nível neurológico C4. Sua UP era reincidente, adquirida decorrente compressão mantida. Dentre nossa amostra, este foi o mais assíduo ao tratamento, obtendo 100% de presença, em 13 sessões de LBP conforme protocolo descrito. Apesar de apresentar maior idade dentre os participantes, fato que poderia dificultar a cicatrização da ferida por um processo natural de redução da capacidade regenerativa, este foi o que apresentou o melhor resultado. Além de seguir as recomendações de uma maneira extremamente satisfatória, este utilizou o PHMB / Hidrogel em sua UP todos os dias. Os curativos realizados em seu domicílio foram realizados por profissionais de enfermagem contratados. O fato de não ter controle esfincteriano nem de ter participado de um programa de reeducação vesical levava a necessidade de uso de fralda de maneira contínua, entretanto, foi seguido a recomendação de fazer uso intermitente. • Análise evolutiva do paciente 2: homem, 21 anos, com LM completa com nível neurológico de T10 por TRM vítima de acidente automobilístico ocorrido dois anos antes. Apresentou uma taxa de contração da ferida negativa. Medindo 1,61 cm2 inicialmente e 1,63 cm2 ao final do programa, este foi o único caso em que houve piora da UP. Localizada na região sacra, era reincidente por postura mantida. Este aumento de 0,2 cm2 ocorreu nos 34 dias controlados. O paciente dois compareceu a 13 sessões do tratamento proposto e faltou três. Apesar de ter realizado um número próximo à média geral de sessões de LBP, o mesmo apresentava outras quatro úlceras mais graves, sendo duas trocanterianas e duas isquiáticas (grau IV). O mesmo tratava as úlceras em casa higienizando a ferida com soro fisiológico e ocluindo-as com gaze embebida em hidrogel e esparadrapo antialérgico. Tal paciente não seguiu as recomendações de ordem nutricional e de liberação da pressão sobre a ferida. Em adição, também apresentou emagrecimento e anemia (provável perda de sangue pelas outras úlceras) durante o programa. Além disso, ainda apresentava alguma dependência para realização de transferências. Pelo mesmo motivo do paciente um, também fazia uso de fraldas de forma contínua e não seguiu a orientação de uso intermitente. • Análise evolutiva do paciente 3: homem, 19 anos, com LM incompleta com nível neurológico de L4 por TRM consequente decorrente de acidente automobilístico aos três anos de idade. Apresenta pequeno déficit funcional a partir do nível medular de L4, com boa funcionalidade para deambulação. Apresentou pela primeira vez uma UP devido ao uso inapropriado de recurso ortótico de membro inferior para auxílio à locomoção (órtese tornozelo-pé). Compareceu a 12 sessões do tratamento proposto e faltou a seis, em 36 dias corridos. Inicialmente com uma UP de Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 306 0,93 cm2 na região medial da articulação metatarsofalangeana do hálux, o estudo evidenciou uma contração de 0,67 cm2 da ferida. O mesmo tratava as úlceras em casa lavando a ferida com soro fisiológico e ocluindo-a com gaze e esparadrapo normal. Seguiu as recomendações de não usar sapato fechado. • Análise evolutiva da paciente 4: mulher, 27 anos, com LM completa por MMC dorsolombar, com nível neurológico de T11. Apresenta boa adaptação ao meio. Conseguia fazer transferências independente, mas apresentava dificuldades para realizar a lateralização de alívio na cadeira de rodas. Apresentou UP devido à postura mantida na cadeira de rodas por longos períodos. Compareceu às 12 sessões durante 35 dias. Sua ferida contraiu 0,96 cm2 dos 1,92 cm2 iniciais. A mesma não contou com apoio do colaborador. Tratava a úlcera em casa sozinha, lavando a ferida durante o banho e ocluía com esparadrapo normal após secar. A mesma era usuária de fralda pelo mesmo motivo dos pacientes um e dois, mas não conseguiu fazer uso intermitente. • Análise evolutiva da paciente 5: homem, 17 anos, com LM completa por MMC lombar alta, com nível neurológico de L2, conseguiu o fechamento total de UP grau II isquiática de 2,03 cm2 em 47 dias. Era o mais novo dos participantes e apresentava excelente grau de adaptação funcional. Independente funcionalmente numa cadeira de rodas. Conseguia realizar trocas posturais e lateralização de alívio sem dificuldades, apesar de relatar não ter se lembrado de efetuar a programação do alívio da pressão, realizando trocas posturais de forma aleatória, de acordo com a necessidade. Apresentava outras duas ulceras, sendo uma isquiática de grau IV e outra sacra de grau III, todas adquiridas por razão da postura mantida. Compareceu a 14 sessões do tratamento proposto e faltou a três, realizando um número próximo a média geral de sessões de LBP. Relatou apoio do colaborador para a realização dos curativos no domicílio. Em domicílio, ocluía sua úlcera com soro fisiológico, gaze e esparadrapo antialérgicos. Usuário de fralda pelo mesmo motivo dos demais pacientes, e assim como o paciente dois e três também não conseguiu fazer uso intermitente. Tabela I - Localização e mensurações das áreas das lesões (úlceras). Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4 Paciente 5 Localização da úlcera Sacra Sacra Hálux Isquiática Isquiática Área pré -tratamento 5,16 cm2 1,61 cm2 0,93 cm2 1,92 cm2 2,03 cm2 Área pós-tratamento 0 cm2 1,63 cm2 0,26 cm2 0,96 cm2 0 cm2 Tabela II - Distribuição quanto à origem e reincidência da úlcera. Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4 Paciente 5 Úlcera primária Hospitalar Hospitalar Domiciliar Domiciliar Domiciliar Reincidência Sim Sim Não Sim Sim Existência de outras úlceras Não Sim, outras 4 Não Não Sim, outras 2 Contração da ferida (%) 100 - 1,24 67,74 50 100 Tempo total (dias) 43 34 36 35 47 Média de contração (mm2/dia) 0,12 -0,0005 0,018 0,027 0,043 Tabela III - Mensurações da assiduidade ao tratamento realizado na instituição (Andef ). Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4 Paciente 5 Frequência absoluta 13 13 12 12 14 Faltas 0 3 6 0 3 Frequência (%) 100% 81,25% 66,5% 100% 82,35% Tabela IV - Características social e econômica da amostra. Paciente 1 Paciente 2 Paciente 3 Paciente 4 Paciente 5 Renda familiar (rf) e Renda per capita (rpc) R$ 10.000,00 rf R$ 2.500,00 rpc R$ 1.600,00 rf R$ 400,00 rpc R$ 2.000,00 rf R$ 500,00 pc R$ 900,00 rf R$ 225,00 rpc R$ 1.290,00 rf R$ 430,00 rpc Escolaridade Score SCIM Colaboradores domiciliares Superior completo 23 Sim, técnicos de enfermagem Fundamental incompleto 55 Sim, uma pessoa da família Fundamental completo 75 Sim, um amigo Médio completo 58 Sim, uma pessoa da família Fundamental incompleto 63 Sim, uma pessoa da família Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 307 Tabela V - Pesquisa sobre orientações domiciliares. Material usado no curativo domiciliar Manobras de alívio de pressão, lateralização e/ou trocas posturais Realizou a cada 1 hora Paciente 2 Paciente 3 PHMB soro e gel acquasept®), gaze e esparadrapo antialérgico Hidrogel, gaze e esparadrapo antialérgico Gaze, soro fisiológico e esparadrapo Paciente 4 Gaze e esparadrapo comum Não realizou Alívio da pressão contínua (parou de usar a órtese tornozelo-pé) Não realizou Paciente 5 Gaze, soro fisiológico e esparadrapo antialérgico Não realizou Paciente 1 Tabela VI - Controle sobre a frequência em que foram realizadas as orientações domiciliares. Orientações Inspeção da pele Hidratação e cuidados com a pele Alivio pressão local Evitar uso de fraldas, sapatos, ... Controle nutricional Paciente 1 Todos os dias, realizado por familiares e outros colaboradores Paciente 2 Todos os dias, realizado pelo colaborador e pelo próprio paciente Todos os dias, uso de hi- Todos os dias, uso de dratantes e consumo de 2 óleo mineral na pele a 3 litros de água por dia A cada 1 hora quando acordado e a cada 3 horas quando dormindo Sim durante momentos alternados durante o dia e noite Suporte profissional adequado Sem controle, não realizava Não conseguiu deixar de usar fraldas Sem controle Discussão A UP é uma patologia crônica que tende a ser progressiva e ocasionar diversas complicações se não tratada adequadamente. A presença de UP onera os gastos públicos, prejudica a qualidade de vida dos pacientes, dificulta a reabilitação, atrasa o retorno ao trabalho e as atividades de lazer, além de expor ao risco de morte [21,24,25]. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, o custo médio hospitalar para tratar as UP’s foi estimado em US$ 21.675, incluindo tratamento clínico e cirúrgico. Fatos como a alta morbidade, o alto custo do tratamento e o grande impacto negativo no bem estar do sujeito que apresenta UP justifica a necessidade de uma maior atenção dos pesquisadores em produzir estudos para otimizar técnicas para cicatrização de feridas [2,26,27]. O fechamento da UP é um processo complexo, principalmente em relação aos fatores que interferem na cura [21], entretanto, o fechamento da ferida está diretamente associado à correção da causa primária que, nestes casos, é a eliminação da compressão contínua sobre a região do Paciente 3 Todos os dias, realizado pelo colaborador e pelo próprio paciente Todos os dias, uso de hidratantes e consumo de 2 a 3 litros de água por dia Alívio total Paciente 4 Menos de 2 vezes por semana, realizado pelo próprio paciente Não realizou Paciente 5 Pelo menos 2 vezes na semana, realizado pelo próprio paciente Não realizou Sem controle, não realizava Sim, evitou totalmente o uso de sapatos fechados Suporte profissional adequado Não conseguiu deixar de usar fraldas Sem controle Sem controle, realizava de forma aleatória Não conseguiu deixar de usar fraldas Sem controle corpo afetada. Buscar tratamento especializado e seguir as recomendações domiciliares formam a base para que a UP se feche. Diversos fatores podem interferir favorecendo ou prejudicando o processo de fechamento da ferida, que interagem de forma aleatória e produzem resultados inesperados. Alguns destes fatores foram identificados e categorizados neste estudo. Desta maneira percebemos que existem fatores de ordem econômica, social, suporte público, cultural, nutricional, individual, funcional e suporte técnica. Na amostra analisada, os fatores de ordem socioeconômica, suporte técnico e funcionais parecem ser os mais importantes. Isto por que o controle sobre a técnica de higiene, tratamento e liberação da compressão contínua na ferida são as atividades básicas para se iniciar o tratamento da UP. Esta afirmação reforça a necessidade de ocorrer palestras iniciais para orientação e treinamento prático dos colaboradores para lidar com a UP. Sob o ponto de vista econômico, quanto melhor a condição, mais recursos terapêuticos podem ser utilizados. Os principais fatores foram mapeados na tabela abaixo. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 308 Tabela VII - Controle sobre os fatores percebidos que podem interferir no fechamento de uma úlcera de pressão. Fatores de ordem Nutricional Estado geral Sócioeconômico Cultural Individual Funcional Suporte técnico Suporte público Facilitadores Controle nutricional balanceado. Saúde em bom estado geral. Acesso a recursos mais eficientes, boa qualidade de apoio. Facilidade na comunicação e compreensão. Idade não avançada, úlcera não reincidente, úlcera de pequena extensão, prática de esporte, nãoassociação com outras patologias, boa interação familiar, etc... Quanto mais independente para realizar as trocas posturais e lateralização de alívio. Suporte profissional adequado, cuidados específicos sendo realizados. Garantia de atendimento de qualidade, de oferta de medicamentos e saneamento básico. Conclusão Pode-se afirmar que o protocolo aplicado foi efetivo quando seguido corretamente, visto que em dois casos ocorreu o fechamento completo da úlcera, e o resultado e maior eficiência foi do paciente que acumulava fatores individuais mais desfavoráveis. O paciente em questão, mais idoso e mais dependente para realização das manobras de alívio de pressão, era o que apresentava as melhores condições de ordem socioeconômica, cultural, familiar e de suporte técnico. A condição socioeconômica pode ser um grande facilitador, mas não é decisivo se não ocorrerem mudanças no padrão comportamental para seguir as recomendações dadas. Esta atitude é fundamental para o fechamento da úlcera de pressão. Como o tratamento da úlcera sofre interferência de múltiplos fatores, a multidisciplinaridade integra diferentes pontos de vista para produzir um resultado melhor, isto é, promover o fechamento da úlcera de pressão no menor tempo possível. Para garantir tais condições, torna-se imprescindível a identificação e resolução precoce dos fatores que podem interferir prejudicialmente no processo de cicatrização. A presença de qualquer fator prejudicial pode impossibilitar o fechamento de uma úlcera de pressão. Referências 1. Silva EWNL, Araújo RA, Oliveira EC, Falcão VTFL. Aplicabilidade do protocolo de prevenção de úlcera de pressão em unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva 2010; 22(2):175-85. 2. Rocha JA, Miranda MJ, Andrade MJ. Abordagem terapêutica das úlceras de pressão – Intervenções baseadas em evidências. Acta Med Port 2006;19:29-38. 3. Souza DMST, Santos VLCG. Fatores de risco para o desenvolvimento de úlceras por pressão em idoso institucionalizado. Rev Latinoam Enfermagem 2007;15(5):958-64. 4. Kochhann ARS, Canali N, Serafim MAP. Comparação de picos de pressão em assento flexível em portadores de lesão medular Prejudiciais Desnutrição e nutrição não adequada. Saúde em condição precária, deteriorada. Toda limitação ou impossibilidade de acesso a recursos, falta de apoio do colaborador. Problemas de comunicação e compreensão. Idade avançada, úlcera reincidente, úlceras extensas e funda, úlceras em locais pouco vascularizados, sedentarismo, associação com ouras patologias, problemas de relacionamento, etc... Quanto mais dependente para realizar as trocas posturais e lateralização de alívio. Ausência de mão de obra qualificada, mau exercício da profissão e não execução dos cuidados mínimos. Não garantia de atendimento de qualidade, entrega de medicamentos e saneamento básico. e indivíduos normais: uma avaliação por interface de pressão. Acta Fisiátrica 2004;11(3):95-100. 5. Louro M, Ferreira M, Póvoa P. Avaliação de protocolo de prevenção e tratamento de úlceras de pressão. Rev Bras Ter Intensiva 2007;19(3): 337-41. 6. Biasoli MC, Machado CMC. Hidroterapia: aplicabilidades clínicas. Rev Bras Med 2006;63(5):225-37. 7. Araújo AR, Chaves MEA, Leal BB, Pinotti M, Silveira EG, Resende R. 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Material e métodos: Foram utilizadas nove bases de dados na pesquisa de artigos que abordassem esta temática. Resultados: Foram encontrados cinco artigos experimentais (um sobre equitação terapêutica e os restantes sobre hipoterapia) e um artigo de revisão sistemática. Conclusão: Foram encontrados benefícios na função motora das crianças com PC, consequentes da utilização da equitação com fins terapêuticos. Introduction: This study emerges due to the importance of the horseback riding therapy as a complement of rehabilitation in children diagnosed with Cerebral Palsy (CP). Purpose: To verify which are the benefits of the horseback riding and hippotherapy in children diagnosed with CP. Methods: Nine databases were used to search articles on this theme. Results: Five experimental articles (one about horseback riding, and the others about hippotherapy) and one systematic literature review were found. Conclusion: We found benefits in the motor function of children with CP, who participate in a horseback riding therapy. Key-words: hippotherapy, horseback riding, cerebral palsy. Palavras-chave: hipoterapia, equitação terapêutica e paralisia cerebral. Recebido em 24 de março de 2011; aceito em 01 de julho de 2011. Endereço para correspondência: Maria Isabel Pombas de Sousa Coutinho, Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa, Av. D. João II Lt. 4. 69. 01 - 1990-069 Lisboa, Tel: (351) 218980400, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Introdução A equitação com fins terapêuticos tem vindo a assumir grande destaque como uma das terapias que complementam a reabilitação das crianças com Paralisia Cerebral (PC). Nesta sequência, surge a necessidade de reunir a evidência científica existente acerca do tema, de modo a comprovar os efeitos vantajosos que estas terapias alternativas mostram na função motora desta população. A equitação com fins terapêuticos é uma abordagem de tratamento que utiliza o cavalo para promover uma reeducação e/ou educação funcionalmente significativa nas crianças com alterações sensório-motoras. Neste artigo são especificadas duas modalidades distintas: a hipoterapia e a equitação terapêutica [1]. No caso da hipoterapia, os objectivos são neuromotores específicos e prioritários no processo de reabilitação do indivíduo. Trata-se de uma abordagem de orientação clínica, a qual é conduzida por profissionais de saúde com apoio de instrutores de equitação e cavalos treinados para o efeito. O objectivo é retirar contributos da reabilitação através do movimento do cavalo e não do ensino equestre [2-4]. A segunda abordagem, equitação terapêutica, pode ser direccionada para várias áreas: saúde, educação ou equitação. Requer ao praticante a capacidade de exercer uma acção sobre o cavalo. Para além dos benefícios terapêuticos que recebe, o indivíduo aprende simultaneamente a montar. O cavalo actua a nível psicológico e como facilitador do processo de ensino/aprendizagem, o qual apresenta uma postura mais activa [3-5]. As crianças com PC encontram-se no conjunto de população que pode se beneficiar desta abordagem terapêutica. Segundo a SCPE (Surveillance of Cerebral Palsy in Europe), a PC é um termo utilizado para definir um grupo de situações clínicas que apresentam uma perturbação do movimento e/ou postura e da função motora devido a uma lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento. As consequências desta lesão incluem alterações do tónus, perturbações globais da postura e do movimento, alterações no controlo motor selectivo, no alinhamento musculo-esqueléctico e muitas vezes dificuldades na interacção mãe-filho. Uma das principais características produzidas pelo cavalo e transmitida ao praticante é uma série de movimentos sequenciados e simultâneos, os quais resultam num movimento tridimensional que assemelha o passo do cavalo à marcha humana [3]. Este movimento tridimensional propicia o desenvolvimento dos aspectos motores, como a coordenação motora, a postura, o ritmo, a flexibilidade, o equilíbrio, normalizando o tónus muscular, além de desenvolver os aspectos psicopedagógicos e emocionais de forma descontraída, lúdica, em contacto com a natureza, diferente dos ambientes encontrados em clínicas e consultórios [6]. Alguns autores apontam como resultados da utilização do cavalo na abordagem de crianças com paralisia cerebral, 311 as melhorias na marcha, facilitação do controlo postural funcional, regulação do tónus e inibição dos reflexos tónicos, bem como uma melhoria na capacidade de comunicação [3,4,7]. O objectivo desta revisão é a sistematização dos benefícios cientificamente comprovados em estudos anteriores de forma a justificar a aplicação de uma terapia já utilizada há décadas, mas que só recentemente começou a ser estudada [5]. A falta de evidência científica, que comprove a eficácia da hipoterapia e equitação terapêutica na melhoria da função motora das crianças com PC, conduziu-nos à realização deste estudo. Material e métodos Bases de dados Os artigos utilizados nesta revisão sistemática de literatura foram pesquisados unicamente em bases de dados virtuais. Para responder à questão proposta pela revisão foram recolhidos artigos das seguintes bases de dados: Biomed Central, Medscape, Web of Science, Scopus, Cochrane, Science Direct, Pubmed Central, PEDro, Springerlink. Todas estas são fidedignas apresentando critérios rigorosos de selecção dos artigos publicados. Métodos de pesquisa Os critérios de pesquisa foram iguais em todas as bases de dados, sendo utilizados os termos ‘hippotherapy’, ‘equotherapy’ e ‘cerebral palsy’ inicialmente sem filtros, e, posteriormente, com filtros para o título e resumos, para tornar a pesquisa mais específica. Métodos de revisão Os critérios de selecção passaram por fases de eliminação (Figura 1), que se basearam na leitura do título, do resumo, e numa fase mais avançada pela leitura integral dos artigos. Os critérios de inclusão utilizados foram: 1) o idioma dos artigos, sendo admitidos artigos em Português e Inglês; 2) a data, contribuindo para a nossa amostra artigos realizados a partir de 1998; 3) a população alvo, que incluía crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 18 anos, com Paralisia Cerebral; 4) o tipo de estudo, abrangendo revisões sistemáticas, estudos experimentais e observacionais; 5) e a amostra, que exigia um mínimo de 3 crianças em cada estudo. Amostra A amostra final inclui seis estudos, dos quais um é referente à equitação terapêutica, quatro são referentes à hipoterapia e um é referente a ambas. Um dos artigos analisados é um estudo de revisão sistemática e cinco são estudos experimentais. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 312 Figura 1 - Critérios de seleção dos artigos. Biomed Central Medscape Web of Science Scopus Science Direct Cochrane Pubmed Central PEDro Springerlink 17632 referências 17499 Excluídos por pesquisa com filtros 133 referências 66 Manualmente Excluídos duplicados 12 Não se enquadram no tipo de estudo 17 Não são a população-alvo pretendida 1 excluído por ser capítulo de livro 6 excluídos por data anterior a 1998 6 excluídos por indisponibilidade do resumo 3 excluídos por inadequação da população-alvo 7 excluídos por inadequação do tipo de estudo 67 referências Excluídos por leitura do título e do resumo 15 referências Excluídos por leitura integral do artigo 6 artigos incluídos na revisão sistemática Resultados Os resultados dos vários artigos analisados estão apresentados nas Tabelas I a III e seguem-se sumarizados por autor. No estudo de Ionatamishvili et al. [8], a amostra de cem crianças com PC, com idades compreendidas entre os 3 e 14 anos era dividida em dois grupos, um de controlo (n = 50) e outro de teste (n = 50). O de controlo era sujeito a exercícios terapêuticos, utilizando o método de Bobath. No grupo teste, os doentes eram sujeitos a dois momentos de intervenção. No primeiro (adaptação), constituído por três a oito procedimentos, o objectivo era promover a adaptação da criança ao cavalo. No segundo momento (procedimento), constituído por 40-45 procedimentos de equitação terapêutica, três a cinco vezes por semana, o objectivo era a aquisição de padrões motores próximos do normal. No final observava-se no grupo teste uma diminuição significativa na espasticidade e na hipercinésia, superior ao grupo controlo, permitindo um aumento da função motora. Esta era observada tanto na posição estática como na marcha. Segundo os autores, a melhoria da função motora encontrava-se relacionada com o facto de as crianças no grupo teste terem adquirido uma independência nas suas acções mais cedo do que no grupo controlo. O artigo de Hamill et al. [9] examinava os efeitos da hipoterapia em três crianças com PC classificadas na GMFCS no nível V. O estudo era baseado em crianças com idades compreendidas entre os 27 e os 54 meses, com as características descritas na tabela. Para a mensuração do estudo eram utilizadas a GMFM-88, a SAS e dois questionários aplicados aos pais das crianças. Após dez sessões de hipoterapia, de 50 minutos cada, nenhuma das crianças mostrava melhorias significativas na SAS, GMFM 88 pontuação total ou na GMFM 1 por inadequação da população 1 por inadequação da terapia utilizada´ 1 por publicação em russo 6 por indisponibilidade do artigo 88 Dimensão B, no entanto, todos os pais demonstravam interesse em que as crianças continuassem no programa de hipoterapia, pois percepcionavam melhoria no controlo do tronco e no sentar dos seus filhos, bem como no controlo da cabeça. O estudo piloto de Andrade et al. [10] pretendia avaliar os efeitos de um programa de hipoterapia de oito semanas sobre o gasto energético durante a marcha, as dimensões do comprimento do passo, a velocidade e a cadência, e a performance da Medida Gross Motor Function (GMFM), em três rapazes e duas raparigas com paralisia cerebral diplégia espástica e hemiplégia espástica. A idade das crianças estava compreendida entre os nove e os onze anos. O estudo submetia estas crianças a oito semanas de controlo sem sessões de hipoterapia, seguido de oito semanas de intervenção, nas quais as sessões eram realizadas duas vezes por semana (dezesseis sessões na totalidade) e um pós-teste. Os resultados mostravam uma diminuição significativa do gasto de energia durante a marcha, e uma melhoria no score total da GMFM. Contudo, não eram registadas alterações significativas nas várias componentes da marcha avaliadas. Um estudo desenvolvido por Benda et al. [5] com uma amostra de quinze crianças (entre os 4 e os 12 anos) diagnosticadas com paralisia cerebral espástica concluía que a hipoterapia aumentava a simetria dos músculos paraespinhais cervicais, torácicos e lombares e dos adutores e abdutores da coxa. O estudo baseava-se numa sessão de oito minutos de hipoterapia para o grupo experimental (n = 7) e de sela estática para o grupo de controlo (n = 8). A avaliação era realizada através da aplicação de um pré-teste/pós-teste que consistia na realização de EMG aos grupos musculares a serem analisados. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 313 Tabela I - Artigos de revisão. Artigo de revisão Sterba J [12] Número de estudos analisados 11 (5 Hipoterapia e 6 Equitação terapêutica) Estudos conclusivos 10 (5 Hipoterapia 5 Equitação terapêutica) Estudos não conclusivos Terapia utilizada Hipoterapia e 1 (Equitação Equitação teraterapêutica) pêutica Específico para Não específico PC para PC 8 (3 Equitação 3 (Equitação terapêutica, terapêutica) 5 Hipoterapia) Tabela II - Equitação terapêutica. Artigo Ionatamishvili, Loriya, Rukhadze, Sheshaberidze, Tsverava [8] Caracterização da Tempo amostra (idade, de dura- Frequência sexo, número e ção do das sessões tipo de PC) estudo Idade: 3-14 anos Sexo: 56 rapazes e 44 raparigas Tipo: PC espástica e hipercinésia 40-45 procedimentos de Equitação Terapêutica, 3 a 5 vezes por semana Tempo de duração das sessões Objecto de estudo (dentro da função motora) Movimentos voluntários, 90 -120 hipercinésia, minutos, no 2º espasticidade e período (profunção motora cedimento) (estática e na marcha) Métodos de avaliação - Escala para a Hipercinésia (0 a 5); - Escala para espasticidade (0 a3); - Escala para função motora (0 a 4); - Observação das crianças no início e no final Tabela III - Hipoterapia. Artigo Andrade C, Cintas H, McGibbon N & Widener G [10] Benda W, Grant K, McGibbon N [5] Benda W, Duncan B, McGibbon N, SilkwoodSherer D [11] Caracterização da amostra (idade, sexo, número e tipo de PC) Idade: 9-11 anos Sexo: 3 rapazes e 2 raparigas Tipo: PC diplégica e hemiplégica espástica Tempo de duração do estudo 8 semanas de controlo sem sessões de hipoterapia, seguido por um período de oito semanas de intervenção, e um pós-teste Idade: 4-12 Sexo: não foi referido Tipo: PC espástica Número: 15 - 7 casos. 8 controlos Idade: 4-16 Sexo: não foi referido A Tipo: PC espástica Número: 47 - 25 casos. 22 controlos 36 semanas 12 semanas de Idade: 4-16 controlo sem sessões Sexo: não foi referido B de hipoterapia, 12 Tipo: PC espástica semanas de intervenNúmero: 6 ção e 12 semanas de avaliação Frequência das sessões 2 vezes por semana (16 sessões no total) Tempo de Objecto de esduração Métodos de tudo (dentro da das sesavaliação função motora) sões Gasto energético durante a caminhada, dimensões do comprimento Gross Motor do passo, velociFunction Meadade e cadência, sure (GMFM) desempenho na Gross Motor Function Measure (GMFM). Uma sessão 8 minutos Simetria dos grupos musculares Electromiografia Uma sessão 10 minutos Simetria dos adutores Electromiografia Simetria dos adutores - Electromiografia; GMFM 66 - Questionários de autopercepção Uma sessão/ semana (durante 12 semanas) 30 minutos Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 314 Artigo Caracterização da amostra (idade, sexo, número e tipo de PC) Tempo de duração do estudo 3 crianças com PC: Idades compreendidas entre os 27 e os 54 meses - criança A: rapaz com PC tetraplégica mista, nível V na GMFCS e pontuação de 15% Hamill D, Wa- na GMFM (Dimensão B) 10 semanas shington K & - criança B – rapariga com White OR [9] PC tetraplégica hipotónica, nível V na GMFCS e pontuação de 18% na GMFM - criança C – rapaz com PC tetraplégica distónica, nível V na GMFCS e pontuação de 16% na GMFM No seguimento deste estudo surge o artigo de Benda et al. [11] que pretendia analisar a actividade do grupo muscular dos adutores a curto e a longo prazo. Numa primeira fase eram analisados os efeitos da hipoterapia a curto prazo. Eram seleccionadas 47 crianças com paralisia cerebral espástica, tendo o grupo experimental (n = 25) realizado uma sessão de 10 minutos de hipoterapia e o grupo de controlo (n = 22) uma sessão de 10 minutos de sela estática. A avaliação era realizada através de um pré-teste/pós-teste que consistia na realização de EMG aos adutores. A segunda fase do estudo era aplicada às 6 primeiras crianças seleccionadas na fase anterior. Nesta fase, a amostra era submetida a um estudo de 36 semanas, cujo período era dividido em três, sendo que nas primeiras e nas últimas 12 semanas as crianças não realizavam hipoterapia. Nas 12 semanas que intercalavam as referidas anteriormente, era realizada uma sessão de 30 minutos por semana. A avaliação desta fase era realizada através da GMFM, EMG e um inquérito sobre autopercepção. O estudo concluía que existem melhorias a curto e a longo prazo na simetria dos adutores após a realização de hipoterapia. O artigo de revisão de Sterba [12] surgia na sequência da falta de evidência científica que comprove a eficácia da equitação terapêutica ou da hipoterapia na reabilitação de crianças com paralisia cerebral. Concluía-se, através de uma selecção de onze artigos (seis referentes à equitação terapêutica e cinco à hipoterapia), que estas terapias aumentavam a funcionalidade motora destas crianças (apenas um artigo não mostrava eficácia significativa). Esta vantagem devia-se ao mecanismo fisiológico que está na base que é responsável pelas melhorias na coordenação, equilíbrio, força, simetria e postura testadas pela mobilização funcional avaliada na GMFCS. Frequência das sessões Tempo de Objecto de esduração tudo (dentro da das sesfunção motora) sões As sessões de hipoterapia são realiza50 minudas uma vez tos por semana durante 10 semanas Examinar os efeitos da hipoterapia em três crianças com PC classificadas na GMFCS no nível V. Métodos de avaliação Gross Motor Function Measure-88 (GMFM-88). - Sitting assessment scale (SAS) - 2 questionários para os pais das crianças. Discussão Durante a fase de selecção averiguámos que a maioria dos artigos de revisão se baseava nos mesmos artigos experimentais, demonstrando a falta de estudos nesta temática. Dos artigos experimentais analisados, quatro mostraram evidências significativas: na diminuição do gasto energético na marcha; no aumento da simetria muscular, principalmente em nível dos adutores; na diminuição dos movimentos involuntários no tronco, face e extremidades; na diminuição da espasticidade; e na melhoria da função motora. No artigo de revisão as melhorias, tanto da equitação terapêutica como da hipoterapia, são descritas em dez dos onze artigos analisados e referem-se à coordenação, equilíbrio, força, simetria e postura. No entanto, um dos artigos experimentais refere que nenhuma das crianças mostrou melhorias significativas em nível do controlo postural. Ainda assim, no questionário realizado aos pais das crianças foram apontadas melhorias neste parâmetro. A opinião destes era igualmente referida no estudo de Benda et al. [11], apesar de não ter sido incluída nos métodos de avaliação. Consideramos importante a inclusão deste critério de avaliação no sentido de não discriminar a percepção dos pais sobre os benefícios da hipoterapia no quotidiano da criança com PC. Segundo vários autores os benefícios encontrados nas crianças que realizam hipoterapia ou equitação terapêutica estão relacionados com os mecanismos fisiológicos inerentes ao cavalo: o movimento tridimensional e recíproco do passo do cavalo produz movimentos pélvicos no cavaleiro que se assemelham aos movimentos gerados na marcha dita normal, em indivíduos sem alterações motoras; as variações na velocidade, direcção e amplitude do passo do cavalo, proporcionam Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 respostas/reacções de equilíbrio e rectificação no cavaleiro; a deslocação do centro de gravidade facilita as estabilizações dinâmicas posturais e a sua correcção nas perturbações do equilíbrio, promovendo os mecanismos antecipatórios do controlo postural (feedback); a sensação dos movimentos suaves e rítmicos provocados pelo cavalo permitem a cocontracção, a estabilização articular, as transferências de peso e respostas posturais e de equilíbrio, potenciando uma melhoria na função motora (grossa) das crianças com paralisia cerebral [1,12]. É ainda reforçada a importância da equitação com fins terapêuticos valorizando a motivação da criança aliada ao seu desejo de montar o cavalo [1]. Embora os artigos analisados tenham apresentado benefícios na realização da equitação com fins terapêuticos em crianças com PC, o facto de as amostras não terem um grupo homogéneo no que diz respeito ao tipo de PC representa uma limitação para as conclusões do nosso estudo. Desta forma, sugerimos que sejam realizados estudos mais específicos para os vários tipos de PC e que diferenciem os efeitos destas duas modalidades de equitação com fins terapêuticos. Seria também importante a realização de protocolos/guidelines para a aplicação desta abordagem terapêutica, no sentido de a uniformizar em Portugal, tentando corresponder às várias características do tipo de paralisia cerebral e aos vários tipos de objectivos para cada uma. Conclusão Concluindo, a revisão realizada, mostrou evidência do uso destas terapias (hipoterapia e equitação terapêutica) para crianças com PC em nível do gasto energético na marcha; da simetria muscular, principalmente em nível dos adutores; dos movimentos involuntários no tronco, face e extremidades; da espasticidade; da função motora, da coordenação, equilíbrio, força, e postura. 315 Referências 1. Gallego AJ, Haro VJJ, Napier B. Introducción a la hipoterapia e hípica terapéutica en parálisis cerebral. Almeria: Universidad de Almeria;1999. 2. Costa N, Faria L. Autoconceito e equitação adaptada em portadores de paralisia cerebral. 2º Seminário internacional de educação física, lazer e saúde – novos modelos de análise e intervenção. Braga: Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho; 2005. 3. Ferrari J. A prática do psicólogo na equoterapia. São Paulo: Universidade Presbiteriana MacKenzie - Faculdade de Psicologia; 2003. 4. Santo E, Silva JL, Moraes MW, Hartmann C. Benefícios da equoterapia com crianças portadoras de necessidades especiais. Livro de Memórias do VI Congresso Científico Norte-Nordeste; 2008. 5. Benda W, Grant K, McGibbon N. Improvements in muscle symmetry in children with cerebral palsy after equine-assisted therapy (hippotherapy). J Altern Complement Med 2003;9:817-25. 6. Casady R, Larsen D. The effect of hippotherapy on ten children with cerebral palsy. Ohio: Physical Therapy Division, The Ohio State University; 2005. 7. Bertoti D. Effect of therapeutic horseback riding on posture in children with cerebral palsy. Phys Ther 1988;68:1505-12. 8. Ionatamishvili N, Loriya M, Sheshaberidze E, Rukhadze M. Riding therapy as a method of rehabilitation of children with cerebral palsy. Hum Physiol 2004;30(5):561-5. 9. Hamil D, Washington K, White O. The effect of hippotherapy on postural control in sitting for children with cerebral palsy. Phys Occup Ther Pediatr 2007;27:23-42. 10.Andrade C, Cintas H, McGibbon N, Widener G. Effect of an equinemovement therapy program on gait, energy expenditure, and motor function in children with spastic cerebral palsy: a pilot study. Dev Med Child Neurol 1998;40:754-62. 11.Benda W, Duncan B, McGibbon N, Silkwood-Sherer D. Immediate and long-term effects of hippotherapy on symmetry of adductor muscle activity and functional ability in children with spastic cerebral palsy. Arch Phys Med Rehabil 2009;90:966-74. 12.Sterba J. Does horseback riding therapy or therapist-directed hippotherapy rehabilitate children with cerebral palsy. Dev Med Child Neurol 2007;49:68-73. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 316 Normas de Publicação - Fisioterapia Brasil Revista Indexada na LILACS - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde, CINAHL, LATINDEX Abreviação para citação: Fisioter Bras A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das várias áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos na revista, os autores concordam com estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponível, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf ). Submissões devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo ([email protected]). A publicação dos artigos é uma decisão dos editores. Todas as contribuições que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anônimos. Segundo o Conselho Nacional de Saúde, resolução 196/96, para estudos em seres humanos, é obrigatório o envio da carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, independente do desenho de estudo adotado (observacionais, experimentais ou relatos de caso). Deve-se incluir o número do Parecer da aprovação da mesma pela Comissão de Ética em Pesquisa do Hospital ou Universidade, a qual seja devidamente registrada no Conselho Nacional de Saúde. 1. Editorial O Editorial que abre cada número da Fisioterapia Brasil comenta acontecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou destaca artigos importantes publicados na própria revista. É realizada a pedido dos Editores, que podem publicar uma ou várias Opiniões de especialistas sobre temas de atualidade. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais com relação a aspectos experimentais ou observacionais, em estudos com animais ou humanos. Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo (inglês e português), Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão, Agradecimentos (optativo) e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no formato Excel ou Word. Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com resolução de 300 dpi. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 3. Revisão São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do conhecimento em alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia. Revisões consistem necessariamente em análise, síntese, e avaliação de artigos originais já publicados em revistas científicas. Será dada preferência a revisões sistemáticas e, quando não realizadas, deve-se justificar o motivo pela escolha da metodologia empregada. Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não expõem necessariamente toda a história do seu tema, exceto quando a própria história da área for o objeto do artigo. O artigo deve conter resumo, introdução, metodologia, resultados (que podem ser subdivididos em tópicos), discussão, conclusão e referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais. Literatura citada: Máximo de 50 referências. 4. Relato de caso São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais casos clínicos ou terapêuticos com características semelhantes. Só serão aceitos relatos de casos não usuais, ou seja, doenças raras ou evoluções não esperadas. Formato: O texto deve ser subdividido em Introdução, Apresentação do caso, Discussão, Conclusões e Referências. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 5. Opinião Esta seção publica artigos curtos, que expressam a opinião pessoal dos autores: avanços recentes, política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses, críticas à interpretação de estudos originais e propostas de interpretações alternativas, por exemplo. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e não traz um resumo destacado. Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espaços. Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura. Literatura citada: Máximo de 20 referências. 6. Cartas Esta seção publica correspondência recebida, necessariamente relacionada aos artigos publicados na Fisioterapia Brasil ou à linha editorial da revista. Demais contribuições devem ser endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos eventualmente citados em Cartas serão informados e terão direito de resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem ser breves e, se forem publicadas, poderão ser editadas para atender a limites de espaço. A publicação está condicionada a avaliação dos editores quanto à pertinência do tema abordado. Preparação do original • Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte maneira: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. • Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Figuras com algarismos arábicos. • Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, isoladas das ilustrações e do corpo do texto. • As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cinza, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, quando forem indispensáveis à compreensão dos resultados (histologia, neuroimagem, etc). Página de apresentação A primeira página do artigo traz as seguintes informações: • Título do trabalho em português e inglês; • Nome completo dos autores e titulação principal; • Local de trabalho dos autores; • Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone e E-mail; Resumo e palavras-chave A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, deverá conter resumos do trabalho em português e em inglês e cada versão não pode ultrapassar 200 palavras. Deve conter introdução, objetivo, metodologia, resultados e conclusão. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 Abaixo do resumo, os autores deverão indicar 3 a 5 palavras-chave em português e em inglês para indexação do artigo. Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br. Agradecimentos Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técnicos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referências, em uma seção à parte. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver. As referências bibliográficas devem ser numeradas com algarismos arábicos, mencionadas no texto pelo número entre colchetes [ ], e relacionadas nas Referências na ordem em que aparecem no texto, seguindo as normas do ICMJE. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com a List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais e latinoamericanas, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplos: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995.p.465-78. Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Envio dos trabalhos A avaliação dos trabalhos, incluindo o envio de cartas de aceite, de listas de correções, de exemplares justificativos aos autores e de uma versão pdf do artigo publicado, exige o pagamento de uma taxa de R$ 150,00 a ser depositada na conta da editora: Banco Itaú, agência 0733, conta 45625-5, titular: Atlântica Multimídia e Comunicações Ltda (ATMC). Os assinantes da revista são dispensados do pagamento dessa taxa (Informar por e-mail com o envio do artigo). Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para o editor executivo, Jean-Louis Peytavin, através do e-mail artigos@atlanticaeditora. 317 com.br. O corpo do e-mail deve ser uma carta do autor correspondente à Editora, e deve conter: • Resumo de não mais que duas frases do conteúdo da contribuição; • Uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi publicado em outros meios além de anais de congresso; • Uma frase em que o autor correspondente assume a responsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que todos os outros autores estão cientes e de acordo com o envio do trabalho; • Uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os procedimentos e experimentos com humanos ou outros animais estão de acordo com as normas vigentes na Instituição e/ou Comitê de Ética responsável; • Telefones de contato do autor correspondente. • A área de conhecimento: ( ) Cardiovascular / pulmonar ( ) Saúde funcional do idoso ( ) Diagnóstico cinético-funcional ( ) Terapia manual ( ) Eletrotermofototerapia ( ) Orteses, próteses e equipamento ( ) Músculo-esquelético ( ) Neuromuscular ( ) Saúde funcional do trabalhador ( ) Controle da dor ( ) Pesquisa experimental /básica ( ) Saúde funcional da criança ( ) Metodologia da pesquisa ( ) Saúde funcional do homem ( ) Prática política, legislativa e educacional ( ) Saúde funcional da mulher ( ) Saúde pública ( ) Outros Observação: o artigo que não estiver de acordo com as normas de publicação da Revista Fisioterapia Brasil será devolvido ao autor correspondente para sua adequada formatação. Atlantica Editora - [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 318 Agenda Setembro 15 a 17 de setembro VI SULBRFIR - Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória Londrina, PR Informações: (43) 3323.1316 ou 9118.7005, E-mail: [email protected] 16 a 19 de setembro 66 ° Congresso Brasileiro de Cardiologia Centro de Convenções FIERGS - Porto Alegre, RS Informaçãoes: congresso.cardiol.br/66/ Outubro 9 a 12 de outubro XIX Congresso Brasileiro de Fisioterapia Florianópolis, SC Informações: www.afb.org.br/ 19 a 21 de outubro II Congresso Paraense de Fisioterapia Belém, PA Informações: www.fisiocopaf.com.br 19 a 21 de outubro Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho Salvador, BA Informações: www.abrafit.fst.br Novembro 3 a 5 de novembro I Congresso Internacional de Fisioterapia, Ética e Bioética Vitória, ES Informações: www.confibe.com.br 11 a 14 de novembro V Congresso Brasileiro e III Congresso Internacional da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva V Jornada Brasil-Argentina de Fisioterapia Esportiva Maceió, AL Informações: www.sonafe2011.com 2012 Fevereiro 12 a 16 de fevereiro 18° Congresso Mundial de Ergonomia, Congresso da União Latino-Americana de Ergonomia 16° Congresso Brasileiro de Ergonomia Centro de Convenções de Pernambuco, Recife, PE Cursos de Neurociências Aplicadas à Reabilitação Prof. Dr. Nelson Annunciato e Prof. Dr. Carlos Monteiro Vocês estão convidados a conhecer um modo diferente de aprender neurociências e aplicá-las às terapias. 18/06 27/08 17/09 15/10 19/11 10/12 -Ampliando os conhecimentos teóricos-práticos sobre a Motricidade: do reflexo ao movimento voluntário. -A porta de entrada para a Neuro-Universo terapêutico: Órgãos dos Sentidos. Sensação, Consciência, Percepção e seus distúrbios. -Quesitos básicos para a Atenção e Controle Postural: compreendendo melhor a Formação Reticular. -Reações posturais normais e alteradas na Paralisia Cerebral: como analisá-las e tratá-las. -Sistema crânio-oro-cervical: relação postural entre a cabeça, tronco e membros. -Funções Nervosas Superiores e seus Distúrbios. Investimento por módulo: R$ 190,00 profissionais R$ 160,00 graduandos (com comprovante) Mais informações e inscrições: www.neda-brain.com [email protected] Tel.: (22) 2376-2071 Local dos cursos: Av. Paulista, 1776, 2º andar - São Paulo - SP - das 8hs às 18 hs. Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011 319 320 Fisioterapia Brasil - Volume 12 - Número 4 - julho/agosto de 2011