UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA Eliane Conceição Lima da Luz OS PERCALÇOS NA TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA INFANTIL Curitiba 2010 ELIANE CONCEIÇÃO LIMA DA LUZ OS PERCALÇOS NA TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA INFANTIL Monografia apresentada ao curso de Pós Graduação em Psicologia Clínica – abordagem psicanalítica - da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial à obtenção do título de especialista. Orientadora: Prof.ª Mestre Maria Otília Bento Holz Curitiba 2010 TERMO DE APROVAÇÃO Eliane Conceição Lima da Luz OS PERCALÇOS NA TRANSFERÊNCIA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA INFANTIL Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Especialista em Psicologia Clínica – Abordagem Psicanalítica, no curso de pós-graduação em Psicologia Clínica da Universidade Tuiuti do Paraná. _____________________________________________ Profª. Mestre Maria Otilia Bento Holz Universidade Tuiuti do Paraná - UTP _______________________________________________ Prof. Dr. Jorge Sesarino Universidade Tuiuti do Paraná - UTP Curitiba, março de 2010 As crianças e seus pais que, tão surpreendentemente, me levaram a questionamentos e experiências tão instigantes na clínica. AGRADECIMENTOS - primeiramente a minha Orientadora Mestre Maria Otilia Bento Holz por ter me guiado neste percurso para construção deste trabalho com toda dedicação e carinho. - aos demais professores da pós, em especial os do núcleo da psicanálise, Dayse Maluceli, Dr. Jorge Sesarino e Ângela Valore, pelo conhecimento transmitido. - ao meu esposo Samuel, pelo apoio e compreensão, e ao meu filho Pedro Henrique, pelo carinho. - finalmente, às amizades construídas nesse período, em especial as da supervisão clínica, pelo apoio, incentivo e principalmente por terem tornado essa trajetória mais rica, gratificante e prazerosa. Todo principiante em psicanálise provavelmente se sente alarmado, de início, pelas dificuldades que lhe estão reservadas quando vier a interpretar as associações do paciente e lidar com a reprodução do reprimido. Quando chega a ocasião, contudo, logo aprende a encarar estas dificuldades como insignificantes e, ao invés, fica convencido de que as únicas dificuldades realmente sérias que tem de enfrentar residem no manejo da transferência. FREUD 1915 [1914]. RESUMO O presente trabalho discorre sobre o tema transferência, em especial seu manejo, na clínica psicanalítica com criança, principalmente no que diz respeito ao lugar que os pais ocupam na relação transferencial. Para tanto foram utilizados recortes e fragmentos de um caso clínico para examinar o tema em questão, articulado aos conceitos psicanalíticos, mais especificamente com a teoria de Sigmund Freud, Jacques Lacan, entres outros autores da atualidade. A transferência é considerada a mola propulsora da análise, mas aparece também como responsável pelas resistências que obstaculizam o tratamento. Entretanto, se identificadas e trabalhadas, resultam num bem-sucedido desfecho, embora haja casos em que os pais resistem na continuidade do trabalho. A família ocupa um lugar de extrema importância, na verdade do casal parental que se reflete no sintoma da criança. Portanto, no percurso de uma análise infantil há que se considerar a relação transferencial familiar, favorável ou não ao tratamento. Palavras-chave: psicanálise, transferência, criança, pais. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................08 2. Cap. I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA....................................................09 3. Cap. II – HISTÓRICO DO CASO CLÍNICO...............................................24 4. Cap. III – DISCUSSÃO DO CASO CLÍNICO..............................................25 5. Cap. IV – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................37 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................40 8 1. Introdução A transferência é um fenômeno humano, natural que ocorre em nosso cotidiano. Assim, a transferência não é criada pela situação analítica, mas evidenciada por este contexto. Na clínica é condição fundamental para a análise, pois é a transferência que possibilita que esta se inicie, sendo importante seu manejo. Na história da psicanálise, o caso clínico “Pequeno Hans” (1909) é a primeira análise de uma criança. Freud conduziu esta análise indiretamente, por intermédio do seu aluno, o pai de Hans. A criança não vem sozinha para a análise, geralmente são seus pais que a trazem. Além disso, a família ocupa um lugar de extrema importância, na verdade central na direção do tratamento da criança, pois depende dela a continuidade ou não da análise. O tema transferência foi escolhido devido à busca por respostas às questões que desde o início da clínica me inquietaram. Questões estas que estão relacionadas à transferência na clínica psicanalítica infantil. O tema transferência é inesgotável, sem dúvida, e existem muitas obras que se referem ao fenômeno transferência, mesmo assim é fundamental o estudo deste tema, especialmente quando se refere à clínica com criança, onde a transferência assume papel significante na continuidade ou não do trabalho. Sendo assim, neste estudo de caso discute-se o tema transferência, em especial seu manejo, na clínica psicanalítica com criança, principalmente no que diz respeito ao lugar que os pais ocupam na relação transferencial. 9 Cap. I – Fundamentação teórica A psicanálise é uma experiência de saber que se baseia na transferência. Esta depende da intervenção possível do analista. “É exatamente nos tempos atuais, em que há um rechaço do saber inconsciente, que o desejo do analista implicado em seu ato se mostra, cada vez mais, como operador clínico privilegiado”. (GONIN e MAIA, 2006, p. 49). Assim como o inconsciente, a transferência não é uma invenção de Freud, mas recai sobre ele o uso deste fenômeno no contexto da análise. Essa descoberta, afirma Stryckman (1997), juntamente com outras, fez com que Freud diferenciasse radicalmente a psicanálise dos métodos de sugestão utilizados durante a hipnose como a praticava Charcot e do método catártico de Breuer. No “Dicionário internacional de psicanálise”, encontramos a definição do termo transferência como sendo: [...] transposição, o deslocamento para outra pessoa – e principalmente para o psicanalista – de sentimentos, desejos, modalidades relacionais outrora organizados ou experimentados em relação a personagens muito investidas da história do sujeito. O termo alemão Übertragung significa literalmente „transporte‟, mas sua tradução para „transferência‟ está hoje consagrada pelo uso. (MIJOLLA, 2005, p. 1894). De acordo com Kaufmann (1996), o termo „transferência‟ foi utilizado por Freud, em francês, pela primeira vez em seu artigo sobre histeria, datado de 1888, para o dicionário médico de Villaret. Entretanto, foi nos „Estudos sobre histeria (1895)‟ que a transferência assumiu o significado que tem hoje: “a de envolver o analista na psicanálise de um sujeito” (KAUFMANN, 1996, p. 548). Miller (2002) busca nos primeiros textos de Freud o conceito de transferência. Observa que o termo „Übertragung‟ aparece primeiramente em “A ciência dos 10 sonhos”, porém numa concepção muito geral. “Nesse sentido, a transferência, a primeira transferência freudiana, é o processo geral das formações do inconsciente – o sonho, o lapso, o chiste – é que o desejo mascara e se aferra a significantes esvaziados, enquanto tais, de significação”. (MILLER, 2002, p. 59). A partir do caso Dora, afirma Miller (2002), surge a significação precisa da transferência na teoria freudiana. “A transferência, em sentido psicanalítico, se produz quando o desejo se aferra a um elemento muito particular que é a pessoa do terapeuta”. (MILLER, 2002, p. 59). Isso dá origem à idéia de que a transferência é sobretudo um fenômeno ilusório, um fenômeno imaginário. [...] Assim, a transferência freudiana é o momento em que o desejo do paciente se apodera do terapeuta, em que o psicanalista – não usa sua pessoa – imanta as cargas liberadas pelo recalque. (MILLER, 2002, p. 60). No “Dicionário de psicanálise: Freud & Lacan”, Stryckman (1997) enumera algumas características da transferência: 1. A transferência é um processo que se constitui pela fala (talking-cure) endereçada ao analista. [...] 2. Isto que nos transfere, é um saber sexual inconsciente, um saber sobre o objeto. A transferência é um fenômeno inconsciente. [...] 3. Este saber da transferência é um saber insabido do sujeito da transferência, mas suposto ao analista, por aquele que o ignora. Para Freud há um desejo de saber. [...] 4. Este saber inconsciente se endereça à pessoa do „médico’ e se produz na análise pela rememoração e a repetição. [...] 5. A transferência faz obstáculo a análise, ela faz resistência, porém do lado do médico, do analista. (STRYCKMAN, 1997, p. 263-264). Miller (2002) encontra na teoria freudiana três formas de transferência diferenciadas pelo autor: a primeira identifica a transferência com a função de repetição; a segunda, com a resistência; e, por último identifica a transferência com a sugestão. 11 A transferência identificada à função de repetição podemos observar no caso Dora, aponta Miller (2002); nele Freud se deparou com a compulsão à repetição e definiu a transferência como sendo uma manifestação da repetição. No entanto, a transferência não é algo acontecido no passado que permeia o presente, e sim, algo atual e vivido com a figura do analista, ou seja, não é uma reprodução, é uma atualização. As transferências são reedições, reproduções das moções e fantasias que durante o avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico. (FREUD, 1905 [1901], vol. VII, p. 111). Transferência relacionada à repetição já foi objeto de muitos debates desde Freud, informa Kaufmann (1996). Primeiramente tinha-se a idéia de repetição quase como sinônimo de reprodução de alguma coisa passada. Freud, contudo, admite que as repetições possam ser edições revistas e corrigidas e não simplesmente reimpressões repetidas no agir da transferência. No texto a “Dinâmica da transferência (1912)”, Freud explica que cada sujeito, de acordo com sua historia individual, adquire uma maneira singular de conduzir-se na vida erótica. Essa forma adquirida é constantemente repetida no decorrer da vida sem que exista uma consciência dessas repetições. ...incluirá o médico em uma das suas „séries‟ psíquicas que o paciente já formou. Se a „imago paterna‟ [...] foi o fator decisivo no caso, o resultado concordará com as relações reais do indivíduo com seu médico. Mas a transferência não se acha presa a este protótipo específico: pode surgir também semelhante a imago materna ou imago fraterna. As peculiaridades da transferência para o médico, graças as quais ela excede, em quantidade e natureza, tudo o que se possa justificar em fundamentos sensatos ou racionais, tornam-se inteligíveis se tivermos em mente que essa transferência foi precisamente estabelecida não apenas pelas idéias antecipadas conscientes, mas também por aquelas que foram retiradas ou que são inconscientes. (FREUD, 1912, vol. XII, p. 112). 12 A transferência é considerada a mola propulsora da análise, mas aparece também como responsável pelas resistências mais fortes; entretanto, se identificadas e trabalhadas, resultam num bem-sucedido desfecho. No texto “Dinâmica da transferência (1912)” Freud se questiona a respeito disso. Aponta que a resistência está relacionada à repetição disso que presidiu a formação do sintoma. Assim, a transferência, no tratamento analítico, invariavelmente nos aparece, desde o início, como a arma mais forte da resistência, e podemos concluir que a intensidade e persistência da transferência constituem efeito e expressão de resistência. [...] Logo percebemos que a transferência é, ela própria, apenas um fragmento da repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido, não apenas para a figura do médico, mas também para todos os outros aspectos da situação atual. (FREUD, 1912, vol. XII, p. 115-116, 166). No seminário livro 11 “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1964), Lacan coloca a transferência a um tempo de fechamento do inconsciente, não a um tempo de abertura, aponta a ambiguidade da transferência. Miller (2002) destaca este caráter bifacial na transferência. “A análise se faz, em certo sentido, graças a transferência e, em outro sentido, apesar da transferência”. (MILLER, 2002, p. 62). Por meio da transferência é possível ver o funcionamento de um mecanismo inconsciente na atualidade da sessão. Dessa forma, somente após a transferência ter se iniciado é que os conteúdos do inconsciente são ativados e assim passíveis de interpretação. Quando o autor usa a expressão “apesar da transferência” o faz no sentido de a transferência servir de tampa para as associações inconscientes, na medida em que as interrompe. Assim, identificam-se dois aspectos da transferência, um que se relaciona com a repetição e outro com a resistência. Stryckman (1997), no “Dicionário de psicanálise: Freud & Lacan”, retoma o conceito de transferência construído por Lacan que a coloca como tendo a ver com a 13 experiência dialética. Assim a transferência como resistência toma outro sentido, não sendo a transferência que faz a resistência, mas sim ali onde resiste à fala, onde o discurso do paciente resiste revelando-se para o paciente intransponível, o faz sofrer e produzir sintomas. Kaufmann (1996) assinala no ensino de Lacan onde: ... o paradoxo que é dizer que a transferência é uma resistência que interrompe a comunicação do inconsciente (as associações se calam para se fixar na pessoa do analista) e, ao mesmo tempo, dizer que ela é o momento em que a interpretação do analista, que visa o inconsciente, pode assumir todo o seu alcance. É nisso que a transferência é um nó. (KAUFMANN, 1996, p. 552). Freud em “Recordar, repetir e elaborar” (1914) diz que cabe ao analista trabalhar com o paciente, no sentido de superar a resistência e tornar consciente o que está inconsciente. A terceira forma de transferência identificada por Miller (2002), transferência identificada à sugestão, diz respeito ao fato de os resultados da psicanálise basearemse sobre a sugestão, ou seja, mediante o fenômeno da transferência o analista influi sobre a pessoa a respeito do seu caso. “[...] em que lugar o psicanalista se situa na cura; situa-se no lugar aonde se dirige o sintoma, é o receptor essencial do sintoma e, por isso, o lugar que deve à transferência lhe permite operar sobre o sintoma”. (MILLER, 2002, p. 65). O conceito de transferência sofreu modificações de Freud a Lacan, esclarece Miller (2002). Explica que Lacan coloca no „fundamento da transferência a função do sujeito suposto saber‟ (S.s.S.). “O sujeito suposto saber é para nós o pivô no qual se articula tudo o que se relaciona com a transferência”. (MILLER, 2002, p. 56). Elucida que “pivô” é uma palavra muito interessante, que em sentido figurado assinala a 14 sustentação de algo de uma coisa que gira em torno. “A transferência é, simultaneamente, o tempo de experiência e a elaboração, o trabalho da experiência analítica na medida em que tem como pivô, nessa posição, o Outro”. (MILLER, 2002, p. 75). O analisante inicia a análise supondo que o analista está de posse de um saber que lhe pertence, ou seja, o paciente coloca o analista no lugar de detentor de um saber, de um saber sobre ele, explica Miller (2002). Entretanto, com o passar do tempo se dá conta que não é bem assim, mas a análise se estabelece com base nessa teoria. O lugar do sujeito suposto saber não é a pessoa do analista, e sim, um efeito do discurso, um lugar que o analista é chamado a ocupar. [...] a transferência não é um milagre diante do qual o psicanalista deva ajoelhar-se. A teoria do sujeito suposto saber situa a transferência como consequência imediata da estrutura da situação analítica, quer dizer, como consequência imediata daquilo que Lacan chamou de discurso analítico; [...]. A estrutura da situação analítica coloca, em primeiro lugar, o analista em posição de ouvinte, ouvinte do discurso que ele estimula no paciente, posto que o convida a se entregar a ele sem omitir nada, sem consideração pelas conveniências [...]. (MILLER, 2002, p. 72). Em seu Seminário livro 08 “A transferência” Lacan (1960-1961), refere-se ao texto de Platão „O Banquete‟, relacionando a transferência ao amor. Refere-se também a uma disparidade subjetiva na relação transferencial, afirmando que não há simetria entre a posição do analista e a do analisante. Nesta relação o analista atuaria como objeto e não como sujeito. O analista transfere para o paciente um saber que não é teórico, mas um saber que vem do discurso do paciente. Um saber insabido. Desse modo, o analista ocuparia um lugar vazio de significação. Assim, por meio da transferência o trabalho do paciente é provocado e sustentado. 15 Kaufmann (1996), explica que no texto “O Banquete” Lacan trabalha o conceito de transferência como uma espécie de relato de sessões analíticas, demonstrando o que deve ser o desejo do analista, e relaciona a transferência com o amor. “A transferência está na fronteira entre o desejo e o amor”. Isso permite que se entenda melhor a complexidade do amor de transferência onde está envolvido o sujeito e o analista, mais precisamente o desejo do analista. Lacan inverteu o sentido da transferência colocando o desfecho desta na dependência do desejo do analista. “A transferência é um fenômeno em que estão incluídos, juntos, o sujeito e o psicanalista”. (LACAN, 1964, p. 219). Freud reconheceu o caráter perturbador da transferência, o amor que se volta para o analista. Este se apresenta, por um lado, como revelador do passado e, por outro, como resistência ao relato deste passado. Diante disso, assinala Kaufmann (1996), Freud se questiona se este amor de transferência não seria a cópia de um amor antigo. Chega à conclusão que é próprio de todo enamoramento repetir modelos infantis. No seminário livro 11 “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1964), Lacan refere-se à transferência como sendo um dos quatro conceitos fundamentais da psicanálise e a define como: “atualização da realidade sexual do inconsciente”. Vale ressaltar que para Lacan o inconsciente é estruturado como uma linguagem e este constitui-se dos efeitos da fala sobre o sujeito. A transferência à medida que vai se instalando, durante o tratamento psicanalítico, vai assumindo um valor mais preciso. De acordo com Mijolla (2005), podemos perceber um conjunto de fenômenos que são observáveis no percurso de uma 16 análise. Alguns destes fenômenos citados pelo autor são: neurose de transferência, transferência negativa, transferência positiva. Sobre transferência positiva e negativa, Freud as explica no texto “Dinâmica da transferência (1912)”, sendo que a positiva tem base nos aspectos de afeto e confiança, enquanto a transferência negativa reúne sentimentos hostis. A transferência positiva se divide em transferência de sentimentos afetuosos ou amistosos, aceitáveis à consciência e transferência de prolongamentos desses sentimentos no inconsciente. “Com referência aos últimos, a análise demonstra que invariavelmente remontam a fontes eróticas”. (FREUD, 1912, vol.XII, p. 116). Freud na “Dinâmica da transferência (1912)” alerta que: Não se discute que controlar os fenômenos da transferência representa para o psicanalista as maiores dificuldades; mas não se deve esquecer que são precisamente eles que nos prestam o inestimável serviço de tornar imediatos e manifestos os impulsos eróticos ocultos e esquecidos do paciente. (FREUD, 1912, vol.XII, p. 119). Em “Fragmento da análise de um caso de histeria (1905[1901])”, a experiência de Freud nos revela um belo exemplo de transferência negativa, explica Stryckman (1997). “[...] Assim, fui surpreendido pela transferência e por causa desse “x” que me fazia lembrar-lhe o Sr. K., ela se vingou de mim como queria vingar-se dele, e me abandonou como se acreditara enganada e abandonada por ele”. (FREUD, 1905 [1901], vol. VII, p. 113). No Seminário livro 11 “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1964), Lacan explica que a transferência positiva é o amor, porém salienta que o termo “amor” é um termo aproximativo. Expõe que Freud já havia colocado a autenticidade desse amor em questão, alertando para uma tendência sustentar que se 17 trata de uma espécie de um falso amor. Já a transferência negativa não se a identifica com o ódio. Utiliza-se o termo ambivalência, porém esse, assim como a primeiro, ou ainda mais que o primeiro, mascara muitas coisas. “Diremos com mais justeza, que a transferência positiva é quando aquele de quem se trata, o analista no caso, pois bem, a gente o tem em boa consideração - negativa, está-se de olho nele”. (LACAN, 1964, p. 120). A neurose de transferência é um sintoma produzido na análise, pois a transferência se estrutura pela fala, pela demanda que é atualizada na análise. No texto “Recordar, repetir e elaborar” (1914), Freud explica que o sujeito transfere, desloca para o analista suas fantasias, suas lembranças infantis, suas representações inconscientes. Os conteúdos, ao se tornarem conscientes, devem ser trabalhados para que possam ser elaborados, isto mediante o manejo da transferência, ou seja, o analista utilizando-se da posição que a transferência lhe concede, isola a repetição na transferência, possibilitando que o paciente passe de uma neurose comum para uma neurose de transferência permitindo a intervenção. A transferência cria, assim, uma região intermediária entre a doença e a vida real, através da qual a transição de uma para a outra é efetuada. A nova condição assumiu todas as características da doença, mas representa uma doença artificial, que é, em todos os pontos, acessível à nossa intervenção. (FREUD, 1914, vol. XII, p. 170). Para falar sobre o imaginário e o simbólico da transferência, Kaufmann (1996) busca nos Escritos de Lacan uma análise da transferência de Dora em termos de inversões dialéticas. “A transferência não é nada de real no sujeito, senão a aparição, num momento de estagnação da dialética analítica, dos modos permanentes segundo os quais ele constitui seus objetos” (LACAN, 1951, p. 224). [...] a transferência é uma 18 relação essencialmente ligada ao tempo e a seu manejo. (Écrits). (KAUFMANN, 1996, p. 548). Kaufmann (1996) explica que Lacan em seus seminários deu continuidade ao estudo da transferência em função dos três registros: real, simbólico e imaginário. Lacan enfatiza a importância de distinção dos planos imaginários e simbólicos na direção do tratamento. Di Ciaccia (1992) retomando Lacan diz que a transferência em seu lado imaginário é um obstáculo na cura, enquanto no registro simbólico, ao contrário do imaginário, trata-se de fator de cura. Entretanto, Lacan em seu último ensino, a ênfase recai sobre o real. A transferência como real é: ... posta em ato da realidade do inconsciente. Aqui a transferência é o amor que se dirige ao saber e vemos muito bem que não se trata de afetividade. [...] Neste caso, o analista encarnará um lugar inteiramente específico, podemos até dizer único, para o analizante. Aí existe o que poderíamos chamar de os mistérios da transferência: de se oferecer à interpretação, mais do que oferecer-se a interpretar, o analista encontra-se proscrito a assumir a função da presença. (DI CIACCIA, 1992, p. 203 - 204). Em relação à clínica com criança, Bergès e Balbo (1997) explicam que o trabalho com adulto leva os psicanalistas a formular hipótese sobre a sexualidade infantil; portanto, trabalhar diretamente com criança, é ouvir diretamente dela, antes que sejam completamente recalcadas as formações que constroem precocemente os desejos ainda não totalmente inconscientes. Nos dias de hoje ninguém mais duvida da capacidade para a transferência por parte da criança, explica Mijolla (2005). O caso clínico “Pequeno Hans” (1909) é na história da psicanálise a primeira análise de uma criança. Hans era um menino de cinco anos que tinha fobia de cavalos. Freud conduziu esta análise indiretamente, por 19 intermédio do pai de Hans, seu aluno. Neste caso a transferência de Hans foi para sua imagem paterna. E é em condição de transferência que o pai de Hans se reporta a Freud. De acordo com Golder (2000), quando se trata de família com criança que vem se consultar há vários momentos sensíveis que envolvem a compreensão da situação de cada um. No trabalho com crianças a urgência conduz. Porém é necessário que os pais enlacem uma transferência suficientemente forte para que o trabalho tenha êxito, caso contrário, este estará comprometido, mesmo que a criança tenha demonstrado desejo de vir e falar. A interrupção do trabalho com criança se deve, muitas vezes, ao fato de que os pais terão que se haver com um sintoma que na realidade é deles. Jerusalinsky (2004) complementa que os pais pedem: “[...] diagnósticos, avaliações, indicações educativas, remédios etc., demanda essa que se orienta, aparentemente, no sentido que lhes seja arrumado o „boneco estragado‟ do seu narcisismo”. (JERUSALINKY, 2004, p. 92). O trabalho com criança, explica Golder (2000), levanta questões muito peculiares. A criança não vem por conta própria, os pais são estimulados por orientação da escola ou do médico a fazerem alguma coisa. Assim, a criança na maioria das vezes vem sem nada demandar, porém isso não impede que logo de início a criança se agarre à oportunidade oferecida e expresse seu mal-viver. É a partir do expressar da criança que o trabalho poderá se concretizar ou ser interrompido, dependendo da disposição desses pais em levar adiante, enxergar suas implicações no sintoma. 20 H. Von Hugh-Helmuth (citada por Bergès e Balbo 1997) constata que: [...] com os pais, o projeto de analisar seu filho não se apresenta sob os melhores auspícios: mesmo quando eles a formulam por sua própria iniciativa, sua demanda é feita contra sua vontade plena; os sintomas de seu filho, o insucesso dos outros métodos de tratamento, a espera de um milagre, levam-nos em último recurso ao psicanalista, pelo qual nutrem apenas desconfiança, e do qual duvidam que possa ser bem sucedido, onde tudo o mais fracassou. (BERGÈS e BALBO, 1997, p. 41). Eiguer (1985) revela que é muito difícil identificar a transferência, no que concerne à observação da família, pelo fato dela raramente ser verbalizada. Entretanto, a elaboração e interpretação da transferência permitem que a família supere a idealização do analista com sentimentos mais ambivalentes, o que será favorável ao desapego ulterior. No decorrer e instalação da transferência a família encontrará força para as mudanças necessárias. “A transferência é frequentemente uma companheira incômoda, embaraçosa, mas é-nos impossível afastá-la do espaço terapêutico. Devemos, então, planejar fazê-la trabalhar do nosso lado; ela poderá, assim, tornar-se uma companheira de uma ajuda inestimável”. (EIGUER, 1985, p. 144). Desde o “Pequeno Hans” a análise com criança vem sofrendo modificações. Mijolla (2005) revela que atualmente a dificuldade na análise com criança não é a ausência de transferência, mas o fato de esta ocorrer com uma intensidade rara, com componentes arcaicos por vezes tão maciços e violentos que muitas vezes se tornam difíceis de serem suportados pelo analista. Em seu livro “A criança sua „doença‟ e os outros”, Maud Mannoni (1987) identifica diferentes tipos de transferência numa análise de criança: a do analista, a dos pais, a da criança. Explica que o discurso que sustenta a transferência é um discurso coletivo, sendo que a experiência da transferência se faz entre o analista, a criança e os 21 pais, pois a criança não é uma entidade em si, está atrelada na representação que tem o adulto a seu respeito. A família humana é uma instituição de estrutura complexa. Desde o início existem interdições e leis. Como nos diz Lacan (1992): “... a família estabelece, entre as gerações, uma continuidade psíquica cuja causalidade é de ordem mental”. Sendo assim, há que se ressaltar a relação entre o sintoma da criança com o par familiar, dizendo respeito ao vínculo pai e mãe. Nessa medida, por meio da escuta dos pais poderemos saber qual foi o lugar reservado à criança, quais os significantes que se repetem de geração em geração, quais os acontecimentos que não foram simbolizados e fazem marcas neste sujeito. Em “Duas notas sobre a criança” (1969), Lacan afirma que o sintoma da criança diz muito da estrutura familiar, aparece como representante da verdade do par familiar ou diz respeito à subjetividade da mãe. Na primeira situação, representar a verdade do par familiar torna-se mais complexo, mas, ao mesmo tempo, mais aberto à intervenção, pois já está articulado à metáfora paterna, envolvido nas substituições. Assim as intervenções do analista podem delongar o circuito e fazer com que essas substituições continuem. Entretanto, se estiver ligado à subjetividade da mãe, explica Lacan (1969), a criança é envolvida como correlato de uma fantasia da mãe. Neste caso há uma distância entre a identificação com o ideal do eu e a parte apreendida do desejo da mãe. A parte que assegura que isso não aconteça, ou seja, a função paterna não faz a mediação, assim deixa a criança aberta a todas as capturas fantasmáticas da mãe. Com 22 isso a criança transforma-se em „objeto‟ da mãe e sua função é a de revelar a verdade desse objeto. [...]a criança normal é a criança que não incomoda, o que quer dizer que ela é particularmente discreta sobretudo o que concerne à verdade do meio familiar; não é deste lado que vamos vê-la surgir, é uma criança bem educada e talvez isso que chamamos „bem educado‟ designe a sabedoria da criança que sabe que a verdade do meio familiar, do casal genitor, deve ser tratada com pudor; então acontece que existem crianças que tem sintomas de tal sorte que a verdade escapa apesar delas e, nesse momento, elas atrapalham, e são tão mais insuportáveis quanto mais próximas estão da dita verdade. (MELMAN, 1997, p. 23). A família ocupa um lugar de extrema importância, na verdade central, na direção do tratamento da criança, afirmam Bergès e Balbo (1997). Na maioria das vezes atrapalha e impede seu progresso. O empecilho surge na transferência da família para com o analista. Portanto, a instauração de uma análise de criança deve ser levada em consideração o movimento transferencial familiar, antes que este esteja elaborado. Tanto do lado do analista quanto do analisante esta posição familiar vai interferir no estabelecimento da transferência. “Quando se considera o que é a análise do eu, como ignorar que se trata também da análise da família? [...] A família é marcada, de forma crucial, pelos lugares prescritos na sua estrutura do próprio discurso familiar.” (BERGÈS e BALBO, 1997, p. 32). Assim constata-se que a criança nunca vem sozinha para a análise. O sintoma na criança não deve ser visto como dela, mas como um sinal, um código a ser decifrado que diz da estrutura desta família, da relação desta família. O sintoma vem no lugar da palavra que falta. É por meio deste sintoma que aparece na criança, que a família, os pais podem repensar suas histórias e suas vidas. Portanto, a transferência com a criança vai além, está enlaçada na transferência com os pais, sendo que a 23 permanência da criança em análise vai depender dessa transferência que se estabelecerá com os pais. 24 3. Cap. II Histórico do caso clínico. Paciente identificado pelo nome fictício de Paulo. Seu pai Mauro, sua mãe Paula e sua irmã Eduarda. Paulo tem 10 anos de idade e está na quarta série do ensino fundamental. Foi encaminhado pela escola devido a dificuldades na aprendizagem. Distrai-se com muita facilidade e não consegue acompanhar os colegas para copiar as tarefas do quadro. Fica a olhar pela janela imerso em seus pensamentos. Mãe complementa a queixa revelando que o filho é muito introvertido e está obeso. Paulo mora com seus pais e uma irmã de cinco anos nos fundos da casa da avó paterna. A gravidez não foi planejada e, segundo o pai, foi “um peso” quando soube, foi rejeição de imediato. Com o tempo revela ter superado, inclusive diz dar mais atenção e amor ao filho do que a sua filha (esta foi planejada e desejada). Entretanto, Mauro não demonstra ter boas expectativas em relação ao filho no futuro. Revela que se vê no filho e tem medo do que ele possa ser: “um nada”. Não gosta de fazer as tarefas domésticas que sua mãe lhe pede. Paulo tem outros interesses, por exemplo, ficar pensando nos jogos que quer comprar. Há brigas com a irmã e isso ocasiona castigo. Reclama que seu pai vai logo batendo sem ouvi-lo antes. Não ouve na escola, assim como não é ouvido pelo pai. Com essa demanda relacionada ao filho, os pais de Paulo procuraram ajuda. 25 4. Cap. III – Discussão do caso clínico Os pais de Paulo procuram atendimento para o filho a pedido da pedagoga da escola onde estuda. A queixa é que Paulo, na escola, fica a olhar pela janela quando não está distraído com alguma outra coisa. Apresenta dificuldades em matemática, é muito lento para copiar as tarefas do quadro, não consegue acompanhar os colegas. Lacan (1972-1973) no seminário livro 20 “Mais, ainda”, citando Freud, explica que a criança não repete certas ações desagradáveis apenas para chamar a atenção do professor, mas que isso tem um objetivo, um determinado sentido, pois se encontra presa em cadeias de gozo das quais não consegue sair. Em “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” (1964), Lacan nos ensina que, desde o início da vida, toda a demanda, além de satisfação de necessidade, constitui-se como demanda de amor. Já em casa, as queixas são muitas brigas com a irmã, não ajuda nos afazeres domésticos, não faz a lição e pega escondido dinheiro dos pais. “Ele chega em casa joga a mochila, vai jogar videogame. Lembra de pegar a mochila no outro dia quando vai para a escola. As vezes fica o dia inteiro comendo. Ele está obeso! Já cansei de falar. Não sabemos mais o que fazer”, diz a mãe. Bergès e Balbo (1997) explicam que “com os pais, o projeto de analisar seu filho não se apresenta sob os melhores auspícios: mesmo quando eles formulam a demanda por sua própria iniciativa. Sua demanda é feita contra sua vontade plena; os sintomas de seu filho, o insucesso dos outros métodos de tratamento, a espera de um milagre, levam-nos em último recurso ao psicanalista, pelo qual nutrem apenas 26 desconfiança, e do qual duvidam que possa ser bem sucedido, onde tudo o mais fracassou”. (p. 41). Assim como Bergès e Balbo (1997) afirmam em sua teoria, os pais de Paulo vieram buscar ajuda para o filho não por sua própria iniciativa, mas a pedido da escola. Não sabem mais o que fazer com o filho. Os pais de Paulo trouxeram suas preocupações e frustrações com o filho diante da não aprendizagem e dos seus comportamentos considerados inadequados. Frustramse por este não ser o filho ideal. Revelam não saber mais o que fazer. Estão desanimados. “Já pensei em desistir, não adianta falar com ele, parece que não ouve. Estou a ponto de explodir, estou no meu limite, eu não aguento mais”, diz Mauro, o pai. Mas será que eles ouvem o filho, para saber o que se passa com ele? Os comportamentos de Paulo, os insucessos fazem com que os pais se deparem com seu próprio insucesso, como pais. Buscam ajuda quando tudo mais fracassou. Os sintomas de Paulo se encontram no lugar de responder ao que tem de sintomático na estrutura familiar. Em “Duas notas sobre a criança” (1969), Lacan afirma que o sintoma da criança diz muito da estrutura familiar, aparece como representante da verdade do par parental ou diz respeito à subjetividade da mãe. Miller (1998) em “A criança entre a mulher e a mãe” complementa que o sintoma da criança é mais complexo caso esteja ligado ao par familiar. O sintoma é mais sensível à dialética que a intervenção do analista pode introduzir no caso. “Quando o sintoma da criança diz respeito à vinculação do par pai/mãe, ele já está articulado à metáfora paterna, já envolvido nas substituições e, portanto, as intervenções do analista podem prolongar o circuito e 27 fazer com que essas substituições prossigam”. (p. 08). No caso de Paulo, parece estar vinculado ao par pai/mãe. Paula, assim como o filho, se coloca de forma passiva permitindo que Mauro decida sozinho o que acha melhor para a família. Mauro, por sua vez, age de forma que Paulo continue nesta posição, alheio na escola, alheio às coisas que o cercam e sem poder se posicionar, dizer o que pensa, pois não é escutado. Paulo testemunha a verdade da realidade do casal parental. Neste caso o sintoma infantil é visto como uma confirmação desse fracasso do ideal de seus pais. É uma forma de não mais encarnar esse “outro imaginário”. Bergès e Balbo (1997) acrescentam que o sintoma na criança não deve ser visto como dela, mas como um sinal, um código a ser decifrado que diz da estrutura desta família, da relação desta família. A gravidez não foi planejada. “Quando fiquei sabendo foi um peso. Eu não queria o filho Dra. Rejeitei no início, fiquei perdido, mas depois aceitei e hoje amo e dou mais atenção a ele do que para a Eduarda. (irmã de Paulo que foi planejada e desejada). Mauro culpa-se pela rejeição ao filho. Hoje procura fazer além, compensálo, entretanto suas palavras logo adiante o denunciam. [...] Mas veja, Dr.ª eu não tenho boas expectativas em relação a ele, eu olho para ele e vejo que também vai ser um “nada”. Eu me vejo nele! Eu era assim também Dra. Ficava olhando pela janela e sonhando, queria estar lá fora brincando”, revela Mauro. Mauro olha o filho e deparase com suas frustrações, com suas faltas, com suas questões, com o seu “nada”! Assim como assinala Dolto (1985) no “Seminário de psicanálise de criança”, neste caso “os pais da realidade praticam uma relação falseada pela repetição de seu passado sobre o filho”. 28 Lacan (1985) em “Complexos familiares” fala de uma continuidade psíquica, cuja causalidade é de ordem mental, que se estabelece entre as gerações. Pela da escuta dos pais pode-se entender o lugar reservado a Paulo, pois Mauro vê no filho a marca “nada” que é dele. Significante que atribui a Paulo como um “nada” quando olha para o filho. Segundo Rodulfo (1990, citado por Rosa, 2000, p. 78), o significante não reconhece a propriedade privada, não é próprio de ninguém; circula, atravessa gerações, trespassa o individual, o grupal e o social. Assim Paulo vai sendo objeto do “desejo” do pai. Não consegue aprender, pois aprendendo talvez não tenha nenhum lugar no desejo de seu pai. Diante do questionamento do que espera do filho, Mauro começa a falar de si, de sua história, suas questões e no momento difícil em que se encontra, não conseguindo falar do filho. Presenciar o crescimento do filho faz Mauro reviver sua história. No início Paulo mostrou-se reservado. Respondia somente o que lhe era perguntado, não ia além, não se permitia escolher sobre o que gostaria de falar ou mesmo escolher outra atividade ou um objeto na caixa lúdica. Aceitava o que a analista propunha. No entanto, com o passar do tempo, Paulo começou a se permitir escolher e bancar suas escolhas. Falava sobre o que queria. Não necessitava mais o uso de jogos ou outras atividades. Começou a usar o seu espaço para falar de si. Golder (2000) esclarece que a criança na maioria das vezes vem sem nada demandar, porém isso não impede que logo de início ela possa expressar seu mal-viver. Paulo aceita a oferta de trabalho. Encontra um lugar onde é escutado, trazendo para o campo da palavra suas frustrações. 29 Na clínica a transferência assume condição fundamental de análise, pois é ela que possibilita que a análise se inicie. É a mola propulsora, sendo fundamental como ela é manejada e conduzida. Buscando nos ensinos de Freud encontramos transferência como sendo: “[...] reedições, reproduções das moções e fantasias que durante o avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a característica de substituir uma pessoa anterior pela pessoa do médico”. (FREUD, 1905 [1901], vol. VII, p. 111). Assim a transferência não é algo acontecido no passado que permeia o presente, e sim atual e vivida com a figura do analista, ou seja, não é uma reprodução, é uma atualização. Lacan (1964) conceitua a transferência como sendo atualização da realidade sexual do inconsciente. Numa determinada sessão Paulo entra sorrindo, coloca a mão no bolso retira um pirulito e oferece à analista dizendo: “Guardei para você”. Assim o vínculo transferencial com a analista foi aparecendo cada vez mais. Freud explica no texto “Dinâmica da transferência (1912)”, que a transferência positiva tem base nos aspectos de afeto e confiança. Lacan (1964) no seminário livro 11 “Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise” ilustra a transferência positiva como sendo “aquele de quem se trata, o analista no caso, pois bem, a gente o tem em boa consideração...”. (p. 120). No decorrer do trabalho Paulo apresentou alguns efeitos clínicos bem significativos. Relata que sua professora elogiou sua melhora nas notas e comportamento, inclusive está mais participativo, mas se entristece quando não foi elogiado ao contar para o pai. “A professora disse que melhorei bastante que estou me esforçando. Acha que vou passar. Meu pai não falou nada”, diz Paulo. 30 As conquistas de Paulo, a melhora em suas notas e comportamentos na escola não foram valorizados e nem citados pelos pais nas entrevistas com a analista. Seu pai falava somente que o comportamento do filho estava piorando, não sabia o que fazer. Dessa forma Mauro diz que o filho não corresponde às expectativas dele, o ideal de filho, o seu próprio ideal. Lacan, no texto “O estádio do espelho como formador da função do Eu” (1949), explica-nos que o „eu Ideal‟ que se constitui no estádio do espelho manifesta um narcisismo primário, uma dimensão imaginária, idealizada, ligada ao narcisismo dos pais, e que atribui ao sujeito uma impressão de onipotência. Este “Eu” resultaria dos investimentos narcísicos dos pais sobre o bebê. Assim o sujeito se identifica com essa imagem, passando a nela investir também, fazendo com que o sujeito ame a si mesmo, numa dimensão narcísica. No entanto, os pais não projetam apenas seu narcisismo sobre o filho, mas também suas exigências, e é a partir delas que se originará, o „ideal de eu‟, que é o „eu‟ comprometido em ter de ser/fazer/cumprir esse ideal e só assim poder ser amado e reconhecido. Mauro marca entrevista com a analista. O filho vem junto e entra na sala com o pai. “Hoje a professora teve que ser enérgica com ele, estava muito agitado, atrapalhando os colegas, inclusive mandou bilhete, não dá mais. E em casa pegou dinheiro escondido. Eu estou muito triste com isso, gostaria que a Drª. conversasse com ele”. O que estaria deixando Paulo “agitado”? Mauro não procura saber o que acontece com o filho. Busca somente uma “correção” sem implicar-se. Jerusalinsky (2004) salienta que os pais pedem: “[...] diagnósticos, avaliações, indicações 31 educativas, remédios etc., demanda essa que se orienta, aparentemente, no sentido que lhes seja arrumado o „boneco estragado‟ do seu narcisismo”. (p. 92). O que esses comportamentos de Paulo estariam realmente denunciando? A criança rouba quando se sente roubada. Paulo foi privado do recurso à palavra deparando-se com a impossibilidade de recorrer a ela, pois não é escutado. Ali onde procura, falar para ser compreendido, depara-se com um grande Outro não barrado. Assim Paulo rouba. É na transgressão da lei que tenta ser escutado. Mauro continua. Casamento em crise. Esposa pediu que ele saísse de casa, quer a separação. Paulo que ouvia em silêncio, coloca o capuz do agasalho na cabeça. De repente levanta-se vai até a caixa lúdica pega o pote de massinha, senta no tapete e começa amassar. Paulo ouve em silêncio, e disso nada quer saber. Lacan (1968-1969), no seminário livro 16 “De um Outro ao outro”, nos ensina que “existe em algum lugar uma verdade, uma verdade que não se sabe, sendo que ela se articula no nível do inconsciente. É lá que devemos encontrar a verdade sobre o saber”. Após Mauro sair da sala, Paulo continuou em silêncio. Analista pergunta se ele quer falar alguma coisa sobre o que ouviu. Permanece calado. Após um tempo em silêncio... “Peguei as moedas porque queria comprar um bolinho na escola e ele não deu quando eu pedi”. Mais silêncio... “Tem briga todo o dia em casa. Quando eles começam a brigar eu saio para a rua. Não fico senão vai sobrar pra mim. Meu pai bate e nem pergunta antes o que aconteceu. Sempre sou eu, nunca é a Eduarda. Eu fico muito triste e também com muita raiva”, confessa Paulo. Relembra uma situação em que o pai foi lhe bater e a mãe ficou na frente para protegê-lo. Paulo se queixa que seus pais roubam seu sossego. Di Ciaccia (1992) retoma Lacan quando este explica 32 que a transferência em seu lado imaginário é um obstáculo na cura, enquanto no registro simbólico, ao contrário do imaginário, trata-se de fator de cura. Nessa sessão houve a possibilidade de Paulo colocar em palavras seus afetos. Ao final da sessão Paulo pede para levar um pedaço de massinha para sua casa. Na sessão seguinte Paulo traz o pedaço de massinha. Devolve ao pote, mostrando que quando recebe o que pede, devolve, não precisa roubar. Demonstra também estar levando um “pedaço de atenção”, de um lugar onde se sente acolhido, escutado, como sujeito, desejante. Desde então Paulo começou a falar de si, de seus medos, de seus sonhos e de suas fantasias. “Sabe o que tenho medo que vai acontecer? Vai cair uma pedra bem grande do céu na terra, mas daí eles vão lá tentar explodir, ou então vai cair no mar e vai formar uma onda muito grande e vai matar tudo... você sabia que com os dinossauros foi assim, senão eles estariam aqui até hoje. [...] Sabe o que mais tenho medo? Que aquela menina igual do filme “Poltergeist”, saia de dentro da televisão. Assistir filmes de terror me deixa com medo, mas eu assisto igual”. Assim Paulo, por um breve tempo, teve possibilidade de sair dessa posição de objeto, dessa dependência e alienação aos pais e buscar suas respostas, construir suas fantasias, formar sua subjetividade, vivenciar sua neurose infantil. Algumas sessões se passaram. Paulo traz um sonho. Relata parte deste, pois não o lembra no todo. Um homem, que não soube identificar quem era, corria atrás dele. Caiu no chão e o homem se aproximava cada vez mais. Neste exato momento acorda angustiado e assustado. Paulo não consegue dizer nada sobre seu sonho. Não sabe o que significa, não consegue associar a alguma coisa. Entretanto, quem será esse 33 homem que o persegue? Sendo o sonho uma realização de desejo, mesmo num pesadelo, num sonho de angústia há algo dessa ordem, de desejar livrar-se de algo. Esse sonho demonstra um momento privilegiado do trabalho analítico. O inconsciente emergindo, como nos diz Freud, “o sonho é o caminho real que conduz ao inconsciente”. Uma via de acesso ao inconsciente de Paulo, pois o sonho desvela pensamentos, conteúdos mentais recalcados, reprimidos, que foram afastados da consciência. Uma das funções do sonho, segundo Freud (1901), é ser guardião do sono, entretanto, no caso de sonhos de angústia, contrariando o princípio do prazer, fracassam na tentativa de realização do desejo inconsciente, provocam o despertar, interrompendo o sono. Entretanto, trata-se da realização de um desejo, a esse respeito Freud explica que: “Já não há nada de contraditório para nós na idéia de que o processo psíquico gerador de angústia possa, ainda assim, constituir a realização de um desejo”. (FREUD, 1901, vol. V, p. 608). Freud (1901) nos coloca que no inconsciente nada pode ser encerrado e esquecido. Algo que foi experimentado há tempo volta com força total assim que entra em contato com as fontes inconscientes de afeto. Tão logo há o encontro ressurge para vida e mostra-se catexizada com uma excitação que encontra descarga motora. Isso também demonstra que a psicanálise trabalha com o atual, não trabalha no passado ou com o passado, pois os afetos passados são revividos no presente. É justamente nesse ponto, afirma Freud, que a análise deve intervir, e acrescenta que: “Sua tarefa consiste em possibilitar aos processos inconscientes serem finalmente abordados e esquecidos. [...] e a psicoterapia não pode seguir outro caminho senão o de colocar o Ics. sob o 34 domínio do Pcs.”. (FREUD, 1901, p. 606). No entanto, no caso de Paulo, este não conseguiu interpretar seu sonho e diante dos questionamentos a respeito deste, silencia. Durante o trabalho houve muitas faltas, na maioria das vezes não avisadas. Na sessão seguinte à falta, o pai “justificava”. “Drª. não deu para vir, peguei folga e fomos viajar”. “Não deu para vir, tive que trabalhar”. “Não tinha dinheiro para lhe pagar, por isso não trouxe Paulo”. Percebia-se que tudo era motivo para não trazer Paulo. Tudo era mais importante que a análise do filho. Também era difícil para Mauro efetuar o pagamento das sessões. Muitas vezes não pagava, atrasava, deixava acumular. A resistência por parte dos pais de Paulo é visível. Apesar de a transferência ser considerada a “mola” propulsora da análise, no caso dos pais de Paulo aparece como responsável pelas resistências. Freud explica que: “... a transferência, no tratamento analítico, invariavelmente nos aparece, desde o início, como a arma mais forte da resistência, e podemos concluir que a intensidade e persistência da transferência constituem efeito e expressão de resistência”. Lacan coloca a transferência a um tempo de fechamento do inconsciente, não a um tempo de abertura, ou seja, aponta essa ambiguidade da transferência. “A transferência não é nada de real no sujeito, senão a aparição, num momento de estagnação da dialética analítica, dos modos permanentes segundo os quais ele constitui seus objetos” no diz Lacan (1964). Os pais marcam horário com a analista. Mauro diz que o filho não poderá continuar. O trabalho será interrompido porque não estão tendo condições de trazê-lo devido ao seu trabalho e não há ninguém que possa fazê-lo. Os pais fazem muitas 35 críticas e reclamações a respeito do filho. “Nós sabemos que ele tem que continuar vindo, não melhorou em nada parece que piorou, mas não tem como vir”. Françoise Dolto (1985) no “Seminário de psicanálise de criança” explica que: “Com efeito, tendo os pais passado anos, sem se aperceberem, diante do problema que eles próprios criaram no filho, o desaparecimento dos problemas deste último os coloca num estranho estado de sofrimento reencontrado, em seus corpos ou em suas relações”. (p. 32) Os pais mostram-se em conflito a respeito da análise do filho, se podem ou não acreditar no trabalho, se podem ou não trazê-lo. Nas entrevistas iniciais, os pais colocaram que um dos seus desejos era que o filho aprendesse, fosse aprovado. Entretanto, quando Paulo faz movimento nesse sentido, os pais veem como piora. Os pais não o aprovam, talvez não adotaram esse novo filho capaz de aprender, pois um “nada” não melhora. A analista comenta sobre as mudanças de Paulo, os efeitos clínicos percebidos nos atendimentos e os relatados pela professora. Ressalta a importância da continuidade do trabalho. Diante das colocações, Paula olha para o marido e diz: “você que decide”. Mauro decide dar continuidade ao trabalho do filho, mas Paulo vem somente mais uma sessão. A analista aguarda Paulo. Passaram-se quatro semanas e Paulo não vem, tampouco os pais ligam avisando. Analista liga. Mauro informa que Paulo foi aprovado na escola, no entanto não virá mais. Assim o trabalho com Paulo se encerra. Mauro interrompe o trabalho do filho, pelo telefone, num momento de importantes efeitos clínicos, embora os pais não reconhecessem tais efeitos. O pai prometeu que voltaria, assim que se organizasse, para dar continuidade ao trabalho. 36 Desistiu de fazer o enfrentamento de seu gozo e dar a liberdade ao filho, para que este pudesse mais que aprender ter outro lugar que não fosse o de “nada”. Ter um lugar no desejo de seus pais e não como um sintoma do casal parental. Após ter transcorrido algum tempo da promessa de Mauro que traria Paulo para dar continuidade ao trabalho, a analista liga. No entanto, a resistência continua, dizendo que agora está mais difícil, pois Mauro está desempregado. 37 5. Cap. IV – Conclusão e considerações finais. Nos trabalhos psicanalíticos com criança, a questão do lugar dos pais sempre esteve presente, de modo objetivo ou subjetivo. O interesse em trazer este estudo de caso, foi refletir sobre o lugar que os pais ocupam na relação transferencial no trabalho com a criança, considerando que ela não vem por conta própria. Os pais de Paulo buscam efeitos imediatos e uma “correção” para o filho. Mas uma demanda não se aceita e nem se rejeita, trabalha-se. Pedindo por respostas e por soluções, os pais de Paulo colocam a praticante da psicanálise numa posição de saber, de quem tem o “saber” para mudar no filho o que eles até então não conseguiram. Colocam-na num lugar de Sujeito Suposto Saber. Todavia, esse não é o lugar que o analista deve ocupar, pois o saber está com o paciente, mesmo que insabido. Cabem ao analista sim, as intervenções, pontuações, a direção do tratamento, sendo essas decorrentes da fala do paciente, já que o analista trabalha com o que o paciente traz. A preocupação com o manejo da transferência esteve presente desde o início, tanto nas entrevistas com os pais como no trabalho com Paulo. Neste percurso, os percalços foram surgindo. Faltas. Os pais não conseguiam trazer Paulo. Chegavam atrasados, não pagavam as sessões. Mesmo diante dos visíveis efeitos clínicos arrumavam sempre uma desculpa para não trazer o filho, sobrepondo outras atividades no mesmo horário, não dando prioridade ao trabalho. Além da falta de comprometimento com a análise do filho, não acolhiam o que era falado nas entrevistas. Não queriam se defrontar com a parte que lhes cabia. Ao mesmo tempo em que buscavam ajuda para solucionar os problemas, resolvê-los, tinha um preço. O preço da parcela de cada um, da qual provavelmente Paulo tivesse a menor, ou ainda, 38 nem a tivesse. Assim demarcavam-se a falta de implicação, as fugas, a ausência dos pais, enfim a resistência. O manejo da transferência e as demandas dos pais de Paulo constituíram um ponto nodal. No entanto, estabelecer ou não laços transferenciais com os pais, neste caso não interferiu para estabelecer laços com Paulo, mas afetou a continuidade da análise. As demandas, as resistências que foram surgindo, por parte dos pais, foram sendo trabalhadas na medida do possível. Fazer uso deste lugar, de Suposto Saber, mas sem mestria, propiciou que os pais aceitassem a análise do filho por um tempo. Entretanto, não durou muito, pois estes não permitiram a continuidade do trabalho e o interromperam. Mas, segundo Freud, “O que o paciente viveu sob a forma de transferência nunca mais esquecerá”. No decorrer do trabalho procurou-se decifrar o que sinalizava o sintoma de Paulo, o que tinha a dizer sobre essa família e os efeitos sobre Paulo. No que se refere a Paulo, este encontrou um espaço onde pode falar e ser escutado. Aceitou a oferta de trabalho permitindo assim a instalação da transferência. Visíveis efeitos clínicos foram surgindo e Paulo avançava na direção de poder esburacar esse Outro e vivenciar sua neurose infantil, construir seu mito. No que cabe ao pai, pode-se perceber que Mauro diante de questões que são suas decide interromper o trabalho do filho para que este continue no lugar que lhe é devido na dinâmica familiar. A mãe, por sua vez, não se posiciona, pois não se autoriza pela continuidade da análise do filho, embora o quisesse. Para que a análise de Paulo tivesse sucesso, seria fundamental que seus pais estivessem dispostos a fazer a parte deles. Que Mauro conseguisse identificar como 39 suas as questões que atualmente enxerga em Paulo. Trabalhar essas questões. Refletir sobre o lugar do filho no seu desejo, pois é nesse momento que ele tem a possibilidade de se implicar no sintoma do filho e no seu. Somente assim Paulo poderia sair desse lugar de “nada” e ocupar o seu lugar, como sujeito de sua história e no desejo do casal parental. O atendimento desse paciente resultou em muita reflexão, principalmente sobre a transferência, análise de controle e estudo teórico. Percebi o quanto a transferência e a resistência se fazem presentes durante todo o atendimento. Considerando que a formação é permanente, pretendo continuar buscando, cada vez mais, condições no manejo da transferência, já que isso me inquieta. 40 6. Referencias bibliográficas 1. BERGÈR, J; BALBO, G. A criança e a psicanálise: novas perspectivas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 2. DI CIACCIA, A. Seminário - A Transferência. In: __- Letras da Coisa, nº 12. Publicação de Coisa Freudiana: Curitiba, 1992, p. 199 - 262. 3. DOLTO, F. Seminário de psicanálise de criança. Rio de Janiero: Zahar Editores, 1985. 4. EIGUER, A. A transferência familiar. In:__- Um divã para uma família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985. 5. 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