Contando à Nova Geração a História do Espiritismo em Ribeirão Preto

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Contando à
Nova Geração a História
do Espiritismo em
Ribeirão Preto
TEODORO JOSÉ PAPA
Papa, Theodoro José
P229c
Contando à nova geração a história do espiritismo em
em Ribeirão Preto. Capivari, Gráfica e Editora do Lar, 1989.
104p.
CDD – 133.09
1. Espiritismo  História  ‘Ribeirão Preto.
2. Ribeirão Preto  Espiritismo  História
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CONTANDO À
NOVA GERAÇÃO A HISTÓRIA
DO ESPIRITISMO EM
RIBEIRÃO PRETO
TEODORO JOSÉ PAPA
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1ª Edição 1989 – 1.000 exemplares
Capa: Ilustração e Arte de
Rita Foelker
Av. Renato Pauperio, 54 – Jd. Ana Maria
13200 – Jundiaí – SP
EDIÇÃO DO AUTOR
Direitos Reservados
Endereço do Autor:
Theodoro José Papa
Rua Visconde do Rio Branco, 830 – Fone: (16) 625 3204
14001  Ribeirão Preto - SP
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APRESENTAÇÃO DO AUTOR
Theodoro José Papa nasceu na Calábria, Itália, no dia 4 de Julho de 1907. Como
imigrante, chegou ao Brasil com a família no ano de 1914, estabelecendo-se na cidade de
Araraquara.Em 1918 a família transferiu-se para Ribeirão Preto, onde seu genitor exerceu
o cargo de engenheiro agrônomo da Prefeitura Municipal.
Entre 1918 e 1922, único período em que freqüentou escola, estudou no 2º Grupo
Escolar “Fábio Barreto”, dividindo o tempo entre o estudo e a aprendizagem da profissão
de serralheiro.
Por várias razões expostas no decorrer deste livro, a família aderiu ao Espiritismo,
passando, ele, estudar com afinco essa filosofia.Com o passar dos anos, já adulto,
dedicou-se à doutrina com muito amor e dedicação.
Em 1933 casou-se com Albertina Vanini. Tiveram três filhos: Vera e Elizabet,
professoras, e Marcos Vinícius, médico.
Como autodidata, por sua dedicação à doutrina, tornou-se requisitado
conferencista, percorrendo várias cidades paulistas,mineiras, e outras, levando a toda a
parte sua palavra entusiástica e fácil.
Autor de várias peças teatrais, algumas já publicadas em livros.
Dirigiu o Teatro amador por cerca de 40 anos, tornando-se membro da Sociedade
Brasileira de Autores.
Colaborou na imprensa local, publicando centenas de artigos.
Pertence à ordem dos Velhos Jornalistas.
Em virtude de suas atividades filantrópicas, recebeu do Poder Público Municipal o
título de “Cidadão Honorário” de Ribeirão Preto.
Publicou dois livros com peças teatrais de sua autoria e produziu vários trabalhos
literários. É membro da Academia Ribeirãopretana de Letras, ocupando a cadeira nº 16,
cujo patrono é Paulo Setúbal.
É presidente da Unificação Kardecista há 51 anos, tendo participado da
construção da sede própria daquela entidade.
Participou ativamente da construção do Ginásio Espírita Apóstolo Paulo, instituto
de ensino que teve, por longos anos, brilhante atuação na sociedade Ribeirãopretana.
Participou recentemente da construção da Creche “Vovó Meca”, hoje em pleno
funcionamento no Conjunto Habitacional Geraldo Correa de Carvalho, à rua Adolfo
Leandro, 211.
Faz parte de diversas instituições culturais e filantrópicas.
Ainda hoje, com 81 anos, permanece em plena atividade.
Diariamente vai à Creche, “Vovó Meca”, preside os trabalhos da Unificação
Kardecista, e ainda atende a solicitações para conferências em várias instituições espíritas
locais.
Os Editores
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PREFÁCIO
Uma vez mais se comprova que “recordar é viver”; é justamente a que nos leva o
presente livro de autoria do confrade e amigo Theodoro Papa, companheiro de lutas de
mais de 50 anos em Ribeirão Preto.
Reconhecemos nesse trabalho uma justa e oportuna homenagem do autor aos
companheiros do passado, alicerces seguros sobre os quais a Doutrina Espírita pôde
sobreviver nas bases profundas de seus puros princípios, chegando aos nossos tempos
atuais sem mácula e sem deturpações.
Se o nosso caro Papa não houvesse registrado suas memórias de ontem, vividas
junto a todos os companheiros desse passado já bem distante, creio que jamais teríamos
em mãos a nossa história, pois desconhecemos outro confrade, ainda encarnado, que
tenha vivido uma existência tão ativa, tão participante das atividades espirítistas desse
tempo, agora, relatadas por ele. É um documento histórico e que muito nos conforma,
pois verificamos, uma vez mais, que todos aqueles que se tornam espíritas através das
bases fundamentais de Allan Kardec jamais esmorecem, jamais se perturbam e sempre
deixam para a posteridade um rastro luminoso de sua fé e de suas obras; é justamente o
que está acontecendo com Theodoro José Papa: inspirado, desde o berço, na realidade
espírita, alicerçou sua mocidade no estudo e no trabalho, de maneira a se tornar hoje, por
tudo o que fez e tem feito de belo, justo e superior no cenário do Espiritismo em Ribeirão
Preto, em um exemplo vivo de espírita cristão, modelo exemplar a inspirar a quantos, nos
dias futuros em nossa terra, queiram erguer seus braços, abrir seu cérebro e iluminar seu
coração no trabalho a ser desenvolvido e vivido no ambiente social de nossa coletividade
humana, levando a esse ambiente tão perturbado em que ora vivemos, a tocha viva do
Espiritismo Kardequiano, como esperança, como base de fé e como a certeza do
verdadeiro roteiro de vida cristã.
Finaliza seu livro histórico com a republicação de alguns artigos, positivos e
extraordinários, no desejo de refutar o padre Gonzales, e o que conseguiu nitidamente, e
onde encontramos, por vezes, alguns tópicos um tanto fortes mas que foram,
simplesmente, produto do ambiente provocado pelo pobre padre, que daqui se retirou até
humilhado, pois, se de um lado es tava, como diziam, um douto sacerdote, do outro lado
estava um simples operário, diferenciados, no entanto, na postura de seus pessoais
conceitos. Encerra seu trabalho com uma “Declaração de Princípios” por nós elaborada,
aprovada e publicada por toda a Diretoria da então União Municipal Espírita de Ribeirão
Preto, trabalho que, não só esclarecia o povo refutando as infelizes afirmativas do frei
Boaventura, como recebeu profunda manifestação de apoio e apreço de nossa Sociedade;
era mais uma vitória da sublimidade dos princípios espíritas.
Ao caríssimo Papa, o nosso abraço de irrestrita solidariedade, junto às felicitações
por esse oportuno livro que une, num amplexo de profunda verdade, o passado e o
presente da coletividade espírita Ribeirãopretana.
Jaime Monteiro de Barros
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ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS
O prezado confrade e amigo que ler este nosso modesto trabalho que relembra os
trabalhadores da primeira hora escalados para a Seara do Cristo, neste setor de Ribeirão
Preto, de momento poderá pensar que fizemos uma obra pessoal, visto que o nosso nome
se encontra em cada página e em cada folha deste histórico.
No entanto, queremos esclarecer que em nenhum momento ou hora das dezenas
que a ele nos dedicamos, passou pela nossa mente semelhante idéia.
Com a confecção deste trabalho, não tivemos outro objetivo, senão o de deixar
para a posteridade um singelo relato dos primeiros acontecimentos ocorridos em nossa
cidade, e dos primeiros passos dados pelos veteranos da Codificação Espírita, bem como
do trabalho e do sacrifício, e porque não dizer, da luta que enfrentaram a fim de
plantarem a frondosa árvore Kardequiana.
Se o nosso nome aparece em cada virada de página, é porque desde a nossa
infância estivemos envolvidos em todo esse movimento, e presenciamos ao vivo cerca de
80% do que estamos relatando.
Os outros 20%, são fatos relatados na nossa infância e juventude, ouvidos de
companheiros idôneos, de confrades idealistas e sinceros, que nos contavam sua história e
adesão ao espiritismo.
Lembramos ainda uma vez, que nos iniciamos no trabalho da Doutrina Espírita,
com apenas 11 anos de idade, em 1919, quando presenciamos em nossa casa, no alto da
rua Tamandaré, anexa onde hoje funciona a Escola Industrial, os mais belos fenômenos
mediúnicos, quando nossa genitora servia como médium,. Crescemos, portanto, dentro do
ambiente espírita e acompanhamos o seu crescimento. Essa é a razão porque o leitor
encontra o nosso nome em cada página deste relato.
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INTRODUÇÃO
Atendendo a inúmeros pedidos de companheiros, principalmente da ala jovem,
que militam nesta imensa seara Espírita, para escrevermos a historia do Espiritismo em
Ribeirão Preto, vamos procurar relembrar o passado, folhear as páginas da nossa velha
memória, já amareladas pela ação do tempo, e assim satisfazer o anseio e a vontade dos
nossos irmãos em Cristo.
Para tanto, apelamos para os nossos amigos espirituais, principalmente para
aqueles que conosco conviveram e nos orientaram durante a nossa infância e juventude, a
fim de que possamos oferecer à nova geração de trabalhadores, subsídios leais do
Movimento Espírita nestes 66 anos que se passaram sob os nossos olhares, e que tudo
estava para se fazer. E isso, quando um punhado de idealistas ouviram críticas e
zombarias de outros religiosos, mas que,m confiantes na proteção dos desencarnados,
tudo enfrentavam, inclusive as ruas poeirentas, ou lamacentas de nossa cidade.
Sabemos ser esta uma tarefa pesada, por sustentarmos uma carcaça de 81 anos, e
só com muita ajuda dos nossos mentores é que poderemos levá-la até o fim.
Outros mais cultos poderiam desempenha-la, no entanto foi a nós confiada, e isto
possivelmente pelo tempo de serviço e por sermos o mais antigo companheiro, pois que à
cerca de 68 anos estamos envolvidos no Movimento Espírita. Repetimos, é uma tarefa
delicada para nós que não cursamos Escolas Superiores, que somos um autodidata mas
com uma vasta leitura das obras espiritualistas históricas e filosóficas,e aprendemos no
grande livro da natureza, o modo de agir e viver.
Mas, antes de entrarmos no campo histórico, de relatarmos aquilo que
presenciamos, que fizemos ao lado de outros irmãos, durante esses 60 anos de atividade
espírita, julgamos de capital importância, relatarmos o porque, as razões de nossa família
ter ingressado nas fileiras da Terceira Revelação, pois isso representa para nós, a pedra
angular da nossa fé.
NOSSO INGRESSO NO ESPIRITISMO
Membro de tradicional família italiana, extremamente católica, desde os primeiros
anos de nossa infância, lá numa pequena cidade da Calábria, víamos a nossa genitora cair
por terra com acessos, e com vizinhos e parentes a socorre-la com vinagre e tapas no
rosto até recuperar os sentidos.
Nosso pai já estava no Brasil há 2 anos, onde desempenhava em Araraquara, o
cargo de Engenheiro Agrônomo da Prefeitura. Em 1914 a família fora chamada,
instalando residência na Morada do Sol. Durante quase 4 anos assistimos às mesmas
cenas; gritos, socorros e médicos, sem resultado algum. Foram 4 anos de provas e
sofrimentos.
Por questões profissionais, em 1918, a família transferia residência para esta
cidade de Ribeirão Preto, Dr. Macedo Bittencourt, passou a exercer as mesmas funções
de agrônomo, passando toda a família a residir numa casa no alto da rua Tamandaré,
anexa à atual Escola Profissional, pois que ali era o Horto Municipal. Ali passamos a
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maior parte da nossa infância, pois o Horto abrangia uma grande área, inclusive o Bosque
Municipal e parte do Morro de São Bento.
Ao lado estava a Chácara Olímpia, onde residia a família do Sr. Lino Engracia
com o qual logo fizemos amizade, brincando com o filho menor, hoje o Dr. João
Engracia de Oliveira.
Passados os primeiros 3 meses, que foram cobertos de alegria, pois que nossa mãe
nada sofrera, julgamos que ela estivesse curada, com a simples mudança de ares.
Mas o engano fora total, e num dia que não se apagou da nossa memória, apesar
dos nossos 10 para 11 anos, vimos nossa mãe a correr, gritar e chorar, pelas ruas do
Horto, com cerca de 12 funcionários procurando acalma-la, sem resultado. Nesse ínterim,
o médico fora avisado chegando de charrete com nosso pai. Aplicou injeção e ministrou,
remédios. Após algum tempo, foi se acalmando, e voltando tudo à serenidade. Com a
saída do médico aproximou-se um funcionário conhecido por Nani, que respondia pelo
expediente na falta do nosso genitor, e disse: Sr.Papa, essa doença de sua esposa, não é
para médicos. E como médium vidente e auditivo que era, passou a relatar e a explicar
toda aquela fenomenologia, que o nosso pai aceitou de momento, pedindo orientação
sobre aquele fenômeno e como deveria proceder.
A orientação foi clara indicando um médium de nome João Perujo e sua esposa
Sra. Fraquita, dando assim início ao tratamento com passes e água fluida. Além dos
passes, passou-se a fazer reuniões mediúnicas em nossa casa, durante os anos de 1919 a
1922, desenvolvendo a nossa genitora excelente mediunidade de incorporação por seu
intermédio assistimos as mais belas comunicações. Ela era uma mulher analfabeta, e
lembramo-nos que, numa reunião, manifestara-se o espírito de um Bispo Católico, e
relatara uma missa em latim perfeito, pois que o nosso pai conhecia esse idioma.
Com o seu desenvolvimento, desapareceram os acessos, e todas suas
conseqüências. Agora, estava realmente curada.
Queremos frisar bem que fora nessa casa da rua Tamandaré durante os 6 anos que
ali moramos, que assistimos, em plena luz do dia, os mais belos fenômenos mediúnicos,
razão porque toda a família passou a dedicar-se à nobre causa da Codificação
kardequiana.
GRUPOS ESPÍRITAS
Naquele tempo, não existiam Centros Espíritas, e as reuniões eram feitas em
grupos que iam se espalhando por toda a cidade, dos quais guardamos algumas
recordações.
Lembramo-nos de um Grupo Espírita que foi instalado numa velha casa da rua
Tamandaré, esquina com a Capitão Salomão, hoje defronte a Escola Profissional. Esse
grupo era presidido pelo velho amigo Lino Engracia de Oliveira, e nós, que éramos
vizinhos, assistimos a várias reuniões, pois já éramos adolescentes, e corria o ano de 1919
ou 1920. Outro grupo do qual nos lembramos vagamente funcionava na rua Guatapará,
em Vila Virgínia e era presidido por um tal de Garcia, um velho espanhol. Este, quando
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encerrou o Grupo, doou ao Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, três obras de Kardec
ditadas em castelhano, que guardamos até hoje, como relíquia.
Lembramo-nos de um outro Grupo Espírita, presidido por um velho companheiro,
João Ribeiro dos Santos, e que funcionou por longo tempo, à rua Américo Brasiliense,
entre as ruas Sete de Setembro e Marechal Deodoro. Já com os nossos 19 anos, ali
assistimos a várias reuniões, onde fazíamos alguns comentários.
Mais tarde conhecemos, numa travessa da rua Minas, um outro Grupo, presidido
por um senhor de cor, Tertuliano dos Santos. Suas reuniões eram um misto de histerismo,
com umbandismo e espiritismo. Como moço, aos 19 e 20 anos, tomamos parte em várias
reuniões e fizemos ali vários comentários, pois que estávamos iniciando a arte de falar em
público. Muita coisa assistimos entre a nossa adolescência e a mocidade, desde a nossa
iniciação em 1919.
De 1919 a 1922, os grupos espíritas reuniam-se a portas fechadas, e recebiam do
mundo espiritual as mais belas lições e orientações seguras para o desenvolvimento da
Terceira Revelação.
Pelo ano de 1921, chegava a Ribeirão Preto, com sua família, o confrade Emiliano
Cardoso de Morais, reforçando os grupos espíritas e tomando parte ativa nas reuniões que
se realizavam na casa do confrade Alexandre de Abreu, um velho companheiro que
conhecemos e que com ele tivemos vários encontros.
Passados os primeiros meses de trabalho, o Sr. Emiliano, desmembrou-se do
grupo de Alexandre de Abreu, e com outros confrades, alugou uma casa na rua Amador
Bueno nº 127. Ali formou um novo grupo de trabalho, que muito contribuiu para o
desenvolvimento dos trabalhos mediúnicos.
Como médium curador, junto com sua esposa, Dna. Izabel, que era dotada de
excelente mediunidade, realizaram grandes benefícios, curando muitos enfermos, e
aumentando, assim, os colaboradores.
PRIMEIRO CENTRO ESPÍRITA
Em virtude de grande número de pessoas que freqüentavam o grupo do Sr.
Emiliano, resolveram transforma-lo num Centro Espírita, contando com o apoio de todos
os freqüentadores, destacando-se entre eles o confrade José Salles, comerciante nesta
cidade e que havia sido beneficiado com a cura de sua enfermidade.
Assim, José Salles comprou a casa da rua João Ramalho nº 14, pela importância
de 12 contos de réis, e doou ao Centro, instalando ali a União Espírita de Ribeirão Preto,
cujo primeiro Presidente foi o velho confrade Sr. João Batista Ramos de Oliveira, que
teve a honra de receber a primeira edição em português do Livro dos Espíritos. Com a
fundação da União Espírita, em 1922, nossa família passou a freqüenta-la, e ali assistimos
a reuniões maravilhosas, durante cerca de 3 anos, com o salão sempre superlotado.
Nós éramos apenas um adolescente, mas lembramos dos médiuns e das várias
manifestações que ali se processavam e apesar da união entre todos, o espírito da
desunião acabou por separar o grupo de trabalhadores, possivelmente um trabalho do
Alto, a fim de que o movimento espírita se espalhasse.
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SEPARAÇÃO
O que houve ali na União Espírita, entre o Sr. Emiliano e um grupo de
colaboradores, não estamos bem a par, pois repetimos, éramos um adolescente. O fato é
que esse grupo dissidente, formando pelos companheiros: João Batista Ramos de
Oliveira, Jorge Castro, José da Cruz Teixeira, Antonio do Rosário, Joaquim Nunes Rolo,
Lino Engracia de Oliveira e outros, desligaram-se da União Espírita, em 1925, fundando
o grupo Eurípedes Barsanulfo, que funcionou nos primeiros meses, na rua Luiz da Cunha
entre a Rua Padre Feijó e Castro Alves.
Esse grupo desempenhou suas atividades com a presença dos companheiros supra
citados e outros, inclusive a confreira Dna. Iolanda Batista Orsi que está até hoje
freqüentando as reuniões e que é uma excelente médium vidente.
Da Rua Luiz da Cunha, o grupo transferiu-se para a Rua José Bonifácio, na
residência do confrade João Batista Ramos de Oliveira, onde deram-se os primeiros
passos para transforma-lo em Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, como personalidade
Jurídica. Assim, após alguns meses de atividades, o grupo já com um bom número de
Associados, constituiu-se em Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, em Assembléia
Geral, realizada no dia 18 de abril de 1926, em sua nova Sede, à rua Álvares Cabral, nº
45, a cerca de 30 metros da rua São Sebastião.
A sua primeira Diretoria foi constituída dos confrades: Presidente – Jorge Castro,
Vice-Presidente – Cândido Pinto da Silva Valada, 1º Secretário – Lourenço de Paiva, 2º
Secretário – José da Cruz Teixeira, Tesoureiro – Joaquim Nunes Rolo, Orador – Antonio
do Rosário, Procurador – Aristides Motta, Bibliotecário – Joaquim Ferreira, Conselheiros
Fiscais – Alexandre de Abreu, Lino Engracia de Oliveira e José Antonio de Morais.
De acordo com alguns dados históricos, essa foi a primeira Diretoria do Centro
Espírita Eurípedes Barsanulfo que tomou posse no dia 1º de maio de 1926 e adquiriu
personalidade jurídica no dia 11 de junho do mesmo ano, sendoportanto, o segundo
Centro Espírita fundado em nossa cidade. O salão das reuniões era confortável e cm um
alpendre e uma área descoberta ladrilhada, onde, por ocasião das conferências, tudo
ficava lotado.
Antes de historiarmos outras organizações que foram se sucedendo, cabe-nos o
dever de relatar as atividades do Centro Eurípides, casa em que nos filiamos com apenas
19 anos de idade, iniciando assim, ao lado de outros companheiros as primeiras
atividades espíritas.
No dia 1º de maio de 1931, ocupamos o primeiro cargo na Diretoria: o de
Cobrador. Os sócios freqüentavam as reuniões e ali pagavam suas mensalidades que
variavam de 1, 2 e 3 mil réis, e que mal davam para o pagamento do aluguel, água e luz,
razão porque as atividades do Centro eram limitadas somente aos trabalhos doutrinários
com muito bom resultado.
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NOVAS ATIVIDADES
Nesse mesmo ano de 1931, fundamos a Associação dos Moços Espíritas,
composta de um triunvirato e um mentor, a saber: José Papa Inocêncio Rufino Salles e
Antonio Garrido, três jovens, que tinham como seu orientador, o inesquecível
companheiro Gustavo Marcondes, verdadeiro Apóstolo da Doutrina, que tinha dela um
profundo conhecimento.
A finalidade dessa atividade era a de propagar a Doutrina Espírita, quer pela
palavra, quer pela imprensa, com a distribuição de boletins.
Nessa ocasião, Chico Xavier ainda não estava em evidência. Não existiam
mensagens psicografadas, razão porque, o intelectual secretário, extraia trechos de Leon
Denis, de Kardec, de Camille Flamarion e de outros autores; fundia os ensinos, que eram
transformados em boletins e distribuídos ao público.
Um dos primeiros oradores que a Associação trouxe para Ribeirão Preto, foi o
então eloqüente tribuno Dr. Pedro Lameira de Andrade, um dos mais brilhantes oradores
da época, que proferiu três conferências no antigo Cinema Santa Helena, localizado à rua
Florêncio de Abreu, entre as ruas Marcondes Salgado e Cerqueira César.
UM FENÔMENO QUE NOS IMPRESSIONOU
Certa noite estávamos reunidos, eu, José Papa, Inocêncio Rufino Salles, Antonio
Garrido com o nosso orientador Gustavo Marcondes, numa sala da Antiga Biblioteca dos
Pobres, organizando o plano de trabalho para a vinda do conhecido tribuno Pedro de
Camargo, mais conhecido por Vinícius. Em dado momento, ouviu-se uma forte pancada,
como se alguém tivesse usado uma barra de ferro por toda a extensão da mesa, que tinha
cerca de 5 metros. A pancada foi tão forte, que durante alguns segundos zumbiu em
nossos ouvidos.
Todos os quatro ficamos estáticos, e o Sr. Gustavo disse: se for de um amigo bom,
pode repetir. Mas não repetiu, e deduzimos ter sido de espírito inferior, tentando impedir
o Movimento Evangelizador. Mas não conseguiu, pois Pedro de Camargo esteve em
nossa cidade realizando 3 proveitosas conferências, no local já mencionado, onde
centenas de pessoas superlotavam o grande salão.
O trabalho dos moços era bonito e elevado, pois visitavam outras cidades
realizando palestras e distribuindo folhetos.
As cidades mais visitadas eram: Sertãozinho, Pontal, Jardinópolis e Cravinhos.
Na véspera da vinda de Vinícius, mandamos imprimir cinco mil boletins
intitulados “O Segredo do Destino”. E como a Associação tinha compromisso em
Jardinópolis, para lá nos dirigimos, tomando parte numa festividade na Sociedade
Espírita Bezerra de Menezes, que existe até hoje, e que era então presidida pelo confrade
Jerônimo Rosa e Silva.
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Nesse tempo não existia ponte sobre o rio Pardo, e a travessia era feita por balsa.
O nosso retorno deu-se por volta de meia noite. Aqui chegando, aguardava-nos uma
equipe de alunos da Escola Biblioteca dos Pobres, e assim nos dividimos por todas as
ruas da cidade, distribuindo os cinco mil boletins.
UM ACONTECIMENTO HISTÓRICO
A Jovem senhorita Aparecida Rebello, há tempos vinha se interessando pela
fenomenologia mediúnica, estudando as obras de Kardec e de outros autores, e assim em
cada dia mais vinha se convencendo da realidade da Filosofia Espírita. Inteligente,
sincera e idealista, muito embora pertencente à tradicional família católica, não teve
dúvidas em abraçar os ensinos Kardequianos. E para mostrar a sua nova fé, fez sua
pública profissão de fé no Espiritismo.
O nosso orientador Gustavo Marcondes preparou esse evento, que teve lugar no
Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, em noite festiva, com todas as suas dependências
lotadas, onde a jovem professora fez uso da palavra, emitindo conceitos elevados que
encantaram a todos os presentes, e ganhando assim a nova Associação mais uma grande
colaboradora. A jovem, a quem nos referimos, é hoje a senhora aparecida Rebello
Novelino, dedicada esposa do Dr. Tomás Novelino.Ela jamais deixou cair o arado de suas
mãos, razão porque o seu trabalho na cidade de Franca, ao lado do esposo, é algo que
encanta e estimula.
Todo esse trabalho maravilhoso ocorreu em abril de 1932, ocasião em que a
Associação dos Moços Espíritas, sempre sob a orientação de Gustavo Marcondes,
liderava o movimento de propaganda, deslocando-se para as cidades vizinhas, realizando
assim, um laço de união entre as mesmas. O movimento cresceu, e as fileiras da
Associação iam engrossando com a adesão de novos companheiros, como: Luiz Monteiro
de Barros, então estudante de medicina, José Leal, funcionário público, e mais tarde o
professor Jaime Monteiro de Barros, cirurgião dentista recém-formado.
Em novembro de 1933 contraímos núpcias com a então jovem Alertina Vanini,
vinda do Protestantismo, mas já espírita convicta.
O ato, somente civil, foi realizado no salão da então Escola Biblioteca dos Pobres,
ocasião em que a saudação foi feita pelo Dr. Camillo de Mattos, advogado e espírita,
secundado pelo então Cônsul Italiano Dr. Túlio Grazioli. Durante a festa, o casal e mais
alguns companheiros, fomos até a residência do Sr. Gustavo, distante a poucos metros da
Escola, a fim de fazermos uma oração. Estando presente o médium João Cândido,
manifestou-se o Espírito Martinho Lutero, proferindo belíssima saudação.
João Cândido era um companheiro de cor, carpinteiro e semi-analfabeto, mas em
questão de mediunidade, não conhecemos outro igual.
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O MOVIMENTO ESPÍRITA CRESCIA
O presidente do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, Sr. Cândido Pinto da Silva
Valada, se ausentou por alguns meses por motivo de viagem. Os companheiros ficaram
como ovelhas sem pastor; as mensalidades não cobriam as despesas. Após alguns dias de
paralisação, com a volta do presidente, foi alugado um salão de uma antiga padaria, na
rua Saldanha Marinho, perto da rua Rio de Janeiro, pelo preço de 40 mil réis por mês, e
ali se instalou a nova Sede. Apesar desse contratempo, iniciou-se uma campanha para a
construção da sede própria.
Com o movimento de listas foram conseguidos três contos de réis, o que
entusiasmou a todos. Procurou-se um terceiro, e foi encontrado o da rua Mariana
Junqueira nº 41, pelo preço de 9 contos de réis. O terreno era de herdeiros, e a causa foi
entregue nas mãos do Dr. Gugliano. Este, em poucos dias nos entregou a escritura, não
nos cobrando honorários. Mas com registro e despesas de cartório, o terreno ficou em 10
contos, importância essa completada com empréstimo de companheiros, que acabaram
perdoando a dívida. Em 1º de maio de 1936 elegeu-se a nova Diretoria, assumindo a
presidência o companheiro Lino Engracia de Oliveira, ocasião em que fomos eleito
orador oficial.
A Campanha pró construção já ia alta, e em virtude de sermos o único jovem de
diretoria, o peso da mesma caía para o nosso lado.
O Dr. Gugliano financiou a construção pelo preço de 21 contos de réis. Tratava-se
de um salão e mais duas salas. Todos os membros da diretoria trabalharam intensamente,
e quando faltava dinheiro, nós íamos busca-lo com o Dr. Gugliano.
Terminada a construção estávamos devendo dezoito contos. Após ingentes
esforços conseguimos seis contos, levamos para o Dr.Gugliano, e num bate papo gostoso,
ele fez a doação dos dose contos de réis restantes, causando grande contentamento a
todos os membros da diretoria.
O prédio foi inaugurado no dia 1º de novembro de 1936, com a presença do
professor Leopoldo Machado, um dos grandes tribunos da época. No dia 1º de maio de
1937, fomos eleito presidente do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo.
NOVA ORIENTAÇÃO
O nosso primeiro ato, foi a criação da Escola Evangélica para as crianças, que
deu e continua dando frutos maravilhosos.
Passados os primeiros meses, criamos o Departamento Feminino sob a
Presidência da confreira Dna.Alzira Belém Barbosa, que se incumbiu da assistência aos
necessitados.
Nesse mesmo ano de 1937, o Deputado Campos Vergal. nos enviava artigos que
publicávamos no jornal “A Cidade”, quando surgiu o Padre Dionísio Gonzáles refutando
os mesmos, pelo jornal “O Diário da Manhã”.
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Não tivemos dúvidas, entramos na liça e assumimos o comando publicando uma
série de artigos contra o Padre e contra a Igreja Católica. O Padre acabou sendo removido
para outra cidade. Os artigos encontram-se em nossos arquivos e estão publicados no
final deste relato histórico.
SEMANA ESPÍRITA
Sempre fomos entusiasmados pela nobre causa da Terceira Revelação, razão
porque em 1938, realizamos aqui, em Ribeirão Preto, a 1ª Semana Espírita do Brasil, que
teve por local a Sede do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo e que teve como oradores,
o professor Jaime Monteiro de Barros, eu, José Papa, Alfredo Mendes, José Peres
Castelhano, de São João da Boa Vista, e Albertina Vanini Papa que falou em nome da
Mulher Espírita Ribeirãopretana. Nessa primeira Semana Espírita, praticamente tudo foi
improvisado, mas dado o excelente resultado, esse movimento realizou-se todos os anos,
sob a orientação do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo. Com a Fundação da União
Municipal Espírita, em 1945, esse trabalho passou a ser patrocinado pela mesma, com
ótimo resultado. Houve uma inesquecível Semana Espírita, realizada no antigo Cine
Avenida, cuja lotação era de 1.200 lugares, todos tomados, inclusive os corredores e a
rua, pois foram colocados alto-falantes e trouxemos para RibeirãoPreto, confrades de
diversas localidades. Os oradores que tomaram parte foram: Dr. Tomás Novelino, Dr.
Agnelo Morato, Dr. Carlos Steagal, Dr. Ignácio Ferreira, Dr. Ary Lex e o Deputado
Federal Romeu de Campos Vergal que encerrou a semana em Praça Pública, num
palanque armado na Praça Carlos Gomes, que ficou lotada com inúmeros confrades e
simpatizantes da Doutrina Espírita.
As Semanas Espíritas continuam até hoje sob o patrocínio da União
Intermunicipal Espírita.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Em 1939, nossa esposa, Dna Albertina, assumiu a Presidência do Departamento
Feminino do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, e conseguiu arrebanhar um grupo de
dedicadas companheiras, e muitas delas continuam até nos dias atuais. Organizou o
Departamento de Corte e Costura, onde se confeccionava inúmeras peças de roupas que
eram distribuídas às famílias carentes.
Por sugestão do Dr. Camillo de Mattos, fundamos o Dispensário Eurípedes, dando
ele 200 mil por mês, o suficiente para ajudar cerca de 40 famílias. Esse trabalho esteve
por longo tempo a cargo da Dna. Juju, esposa do companheiro Jaime Monteiro de Barros.
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GABINETE DENTÁRIO
Em 1939, com a colaboração de vários companheiros, instalamos numa Sala do
Centro Eurípedes Barsanulfo, um Gabinete Dentário para as pessoas carentes. É justo que
conste deste histórico, que a primeira extração dentária de uma senhora carente, foi feita
pelo Prof. Jaime Monteiro de Barros.
O Gabinete teve vários profissionais e durante longos anos, prestou relevantes
serviços, graciosamente, a centenas de pessoas necessitadas.
Em 1940 foi fundada também no Centro Eurípedes, a primeira Farmácia
Homeopática, cujo primeiro atendimento a várias pessoas foi feito pelo Dr. Luiz
Monteiro de Barros, médico em São Paulo.
Essa farmácia que esteve a cargo do Prof. Jaime Monteiro de Barros e Dna.
Albertina Vanini Papa, atendeu a centenas de famílias carentes que semanalmente lhe
batiam à porta.
JUVENTUDE ESPÍRITA
Em 1942 foi criada ainda no Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, a Juventude
Espírita reunindo algumas dezenas de Jovens de ambos os sexos, que se dedicavam ao
Estudo da Doutrina Espírita, bem como à parte recreativa.
Essa juventude mais tarde foi transformada em Mocidade Espírita Emmanuel com
cerca de 180 jovens e que marcou época em nossa cidade.
Foi a época áurea da Mocidade Espírita de Ribeirão Preto com um vasto programa
de estudos, de visitas e noites de arte em todos os Centros Espíritas da cidade.
Nas Semanas Espíritas ela se destacava não só com números de arte, mas também
com sua colaboração, pois estava a seu cargo todo o movimento de propaganda.
TEATRO ESPÍRITA
Levados pelo entusiasmo da Mocidade Espírita Emmanuel no ano de 1942,
fundamos o Teatro Experimental Eurípedes, que floresceu de maneira brilhante.
Inspirados pelo Alto, escrevemos várias peças espíritas, algumas delas já publicadas.
Conseguimos formar um elenco que não temia os profissionais. Contavam desse primeiro
elenco os seguintes jovens e senhores: Dona Pequena, mãe do ator Lima Duarte, Izerita
Vaz, João Vaz, Lino Vazoim, Ludovico Labati, Nazareno Montovani, Ivone Barboni, Ilda
de Mello,rosa Papa, Aristides Valcampis, Ricardo Penati, Neusa E.Garcia, Maia Neto,
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Josefina Proni, Darci Trovato, Alfredo Mendes, Dirceu Marturano, Elena Guimarães,
Vicente G. Sette, Estanislau de Lima, Nilton E. Garcia, Marta Fonseca, Ariclenes Martins
(hoje Lima Duarte) e outros que ingressaram mais tarde.
Com esse elenco conseguimos montar várias peças, e em cada apresentação era
um verdadeiro sucesso.
Com as nossas apresentações conseguimos por várias vezes lotar todas as
dependências do Teatro Pedro II.
Em média fazíamos de 2 a 3 apresentações por mês, em nossa cidade, e em outras
localidades como: Franca, Araraquara, Sacramento, São Joaquim da Barra, Barretos,
Sertãozinho, Pontal e outras. O desencarne de uns, a transferência de outros, os afazeres,
o estudo e a preocupação pela vida, fizeram com que o elenco fosse diminuindo, até não
termos mais condições de montar novas peças. Apesar de tudo, e cm modificação do
elenco, o Teatro funcionou até o ano de 1985, o que nos damos por satisfeitos.Ele não
está morto, mas sim adormecido, e é possível que ainda despertará para dar continuidade
a sua tarefa cênica.
CONFRATERNIZAÇÃO ESPÍRITA
Em setembro de 1945, por sugestão do confrade Prof. Jaime Monteiro de Barros,
José Papa e o companheiro Salvador Trovato, nos reunimos na Sede do Centro Espírita
Apóstolo Paulo, e após várias trocas de idéias, ficou deliberado criar-se a
Confraternização Espírita da cidade.
Nessa reunião, realizada no dia 22 de setembro, estiveram presentes os seguintes
representantes de Centros Espíritas: Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, José Papa –
Centro Espírita Apóstolo Paulo, Salvador Trovato – Centro Espírita Amor e Caridade,
Joaquim Nunes Rolo – Centro Espírita Batuíra, Mário Rufino Carvalho – Centro Espírita
Allan Kardec, José Delibo – Sociedade União e Caridade, José Cunha – União Espírita,
José da Costa Texeira – Centro Espírita redentor, Esperidião Fernandes.
Durante 3 anos, as reuniões mensais deram excelentes resultados, pois os Centros
se confraternizavam, havendo um perfeito entrelaçamento. Em Julho de 1947 realizou-se
em São Paulo, o Movimento de União da Família Espírita Paulista, resultando então a
União das Sociedades Espíritas do Estado, com ramificação em todas as cidades.
Porém os espíritas de Ribeirão Preto já estavam mais adiantados do que os da
Capital, de maneira que o único trabalho que tivemos, foi o de modificar o nome, de
Confraternização Espírita, para União Municipal Espírita, continuando com a mesma
atividade. A União Municipal Espírita sob a presidência do Prof. Jaime Monteiro de
Barros, passou então a assumir a responsabilidade das Semanas Espíritas, bem como, a
comemoração de suas datas, 31 de março e 3 de outubro, nascimento e desencarne de
Allan Kardec. Mais tarde houve modificação no nome de União das Sociedades Espíritas
do Estado, passando a União Municipal a denominar-se União Intermunicipal Espírita de
Ribeirão Preto, que vem desenvolvendo grandes atividades.
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VAMOS RETROCEDER UM POUCO A MEMÓRIA
Existia na rua Rio de Janeiro, lá pelo ano de 1938, um Grupo Espírita dirigido
pelo confrade Nicola Spinelli, e que ali funcionou durante algum tempo. O nosso
companheiro Salvador Trovato que havia se convertido ao Espiritismo no ano anterior,
1937, por causa da polêmica que tivemos com o Padre Dionísio, entusiasmado com a
nova fé, passou a fazer parte do Grupo, transformando-o logo em Sociedade com
personalidade jurídica, dando-lhe o nome de Centro Espírita São Paulo. Fato esse
ocorrido no dia 1º de maio de 1939, passando a ter mais tarde o nome de Centro Espírita
Apóstolo Paulo. Pela quantia de 600 mil réis foi adquirido um terreno à rua São Paulo,
esquina com rua Anita Garibaldi, naquela ocasião, sem calçamento e cercado de
matos.Foi ali construída a primeira Sede do Centro, onde tomamos parte em várias
reuniões. O entusiasmo do companheiro Trovato crescia, razão porque idealizou a
construção de um albergue no terreno restante. Da idéia à realidade, foi um passo, e em
27 de fevereiro de 1944 o albergue foi construído, contando com o auxílio do Dr. Camillo
de Mattos, que na ocasião doou a quantia de 20 contos de réis. Passou então a denominarse Centro Espírita e Albergue Noturno Apóstolo Paulo.
O atendimento no Albergue sempre foi grande, mas com o tempo sua Diretoria
sofreu muitas modificações. Fomos procurado pelo confrade Trovato, que nos expôs a
belíssima idéia de fundir-se todos os Centros Espíritas de Ribeirão Preto, e fazer-se uma
grande obra social, que foi levada ao conhecimento dos demais centro, porém foi
rejeitada.
Diante da negativa, resolvemos unir os dois Centros São Paulo e Eurípedes
Barsanulfo.Em 1949, em Assembléia previamente convocada, reuniram-se os sócios das
duas entidades e foram dados os primeiros passos para essa fusão. Com apenas um voto
contrário do Centro Espírita Apóstolo Paulo e na totalidade a favor do Centro Eurípedes
Barsanulfo, decidiu-se construir no local do Albergue um Ginásio Espírita.
Essa Assembléia foi presidida pelo Prof. Jaime Monteiro de Barros, surgindo
dessa fusão, a Unificação Kardecista, com dois Departamentos centrais. Centro Espírita
Eurípedes Barsanulfo e Ginásio Espírita Apóstolo Paulo. A primeira Diretoria ficou
assim constituída: Presidente, José Papa – Vice-Presidente, Salvador Trovato – Secretário
Geral, Prof. Jaime M. de Barros – Secretário, Antonio de O. Campos – Tesoureiro,
Ângelo Massaro.
Com essa fusão, ambas as sociedades perderam a personalidade jurídica, passando
para Unificação Kardecista.
Após alguns meses de luta e de trabalho, o prédio do Albergue foi reformado e
ampliado, de acordo com as exigências da Lei, a fim de que pudesse ser instalado o
Ginásio.
Sabe Deus o trabalho que tivemos nas repartições da Capital! Mas graças ao
auxílio do Alto e de amigos terrenos, todo o processo foi feito com carinho, razão porque
foi registrado o Ginásio Espírita Apóstolo Paulo.Seu primeiro Diretor foi o Prof, Mario
Ribeiro de Araújo, que teve como Secretária a Profa. Maria Emília Barbone.
Os anos passaram, a Secretária foi substituída, mas o Diretor continuou firme, sem
usufruir coisa alguma, e ainda gastando dinheiro do seu bolso.Durante 20 anos, o
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Professor Mário esteve à frente do Estabelecimento, ministrando ensino gratuito a todas
crianças carentes, pois o Ginásio Apóstolo Paulo, com o seu Diretor à frente,
representava uma bandeira de seriedade, de honestidade e de amor.
Infelizmente, depois de 20 anos de luta pelo grande ideal da cultura, ele voltou
para a Pátria Espiritual, ficando o Ginásio sob a direção do Professor Valdir Vilella e a
Escola de Comércio sob a direção do Prof. Dr. Carlos Eduardo Martinelli.
Contudo, tudo se modificou; o Estado passou a dar o curso integrado gratuito, as
despesas do Ginásio aumentaram, razão porque chegamos à conclusão de que ele não
tinha mais razão de existir. Sendo assim, foi transferido para o Curso Oswaldo Cruz
(COC), que assumiu a responsabilidade do pagamento de todos os encargos trabalhistas
dos funcionários, até a data que lhe foi entregue em 1973, passando dessa data em diante
a pagar um pequeno aluguel do prédio, importância essa que foi aplicada na Assistência
Social, mantida pela Unificação Kardecista que atendia a 100 famílias por mês, cm
gêneros alimentícios, roupas, calçados e medicamentos. Essa assistência prolongou-se até
o ano de 1982, quando a Unificação resolveu construir a creche, que recebeu o nome de
Vovó Meca, localizada à rua Adolfo Leandro, nº 211, no Conjunto Geraldo Corrêa de
Carvalho, Ipiranga, e que vem funcionando normalmente sob a Direção da companheira
Verônica de Andrade, e já conta com 120 crianças. A creche é considerada como creche
modelo, completando assim a Unificação Kardecista, mais uma de suas tarefas.
BODAS DE OURO DO CENTRO ESPÍRITA EURÍPEDES
BARSANULFO
O Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, hoje Unificação Kardecista, completou
no dia 1º de maio de 1976, cinqüenta anos de fundação meio século de atividade
filantrópica, culturais e religiosas.
Em regozijo a essa magna data, sua diretoria programou várias festividades que se
prolongaram por todo o ano, que foi denominado de “Ano Eurípedes”. Entre as
festividades, Euripidianas, foi realizada a Semana Espírita, de 25 a 30 de maio, que
contou com a colaboração dos seguintes conferencistas: Dr. Ary Lex, médico em São
Paulo, Dr. Wilson Ferreira de Mello, médico de Campinas, Dr. José Pereira Brasil,
advogado, em São José do Rio Preto, Dr. Sérgio Lourenço, advogado em Presidente
Prudente, Dr. Ângelo Morato, cirurgião dentista em Franca, Dr. Tomaz Novelino, médico
em Franca e Dr. Walter Radamés Acorsi, engenheiro agrônomo em Piracicaba.
PRAÇA EURÍPEDES BARSANULFO
O confrade e vereador José Delibo, apresentou à Câmara Municipal, projeto de
doação de uma área para instalação de uma praça em homenagem a Eurípedes
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Barsanulfo, em comemoração aos 50 anos de atividades do Centro Espírita que leva o seu
nome, projeto esse que foi aprovado por unanimidade, quando então era prefeito o Dr.
Welson Gasparini.
A área escolhida foi localizada no Alto do Sumarezinho, um belíssimo triângulo
entre as ruas: Prof. Hohene, José Hanna e Maria Cenedesi Bredariol. Ajardinada a área
com muito capricho, a praça foi inaugurada no dia 1º de novembro de 1976, às 19 horas,
perante um público que lotou toda a área, e houve a seguinte programação: Como
Presidente da entidade, fizemos a abertura e a saudação às autoridades e ao público em
geral. Em seguida fez uso da palavra o conhecido tribuno Divaldo Pereira Franco,
especialmente convidado para o ato. Saudação do então vice-Prefeito, Sr. Antonio Carlos
Morandini, saudação do Prof. Jaime Monteiro de Barros, Presidente da União Municipal
Espírita e saudação do então Prefeito, Dr. Welson Gasparini.
O descerramento da Placa esteve a cargo da distinta confreira Dona Ederides
Milani Rezende, irmã carnal de Eurípedes Barsanulfo, encerrando assim essa solenidade.
Em prosseguimento às comemorações do Ano Eurípedes, no dia 2 de novembro,
às 20 horas, no Teatro Municipal, perante um público que superlotou todas as suas
dependências, Divaldo pronunciou brilhante conferência lusiva a data, encantando a
todos os presente.
PRAÇA ALLAN KARDEC
Ribeirão Preto, pela beleza da sua topografia, pelo alto nível cultural, religioso e
filantrópico da sua gente, com dezenas de Templos Espíritas e com milhares de adeptos
da Terceira Revelação, ressentia-se da falta de uma Praça Pública dedicada aos grandes
Mestres do Passado.
Mas tudo vem ao seu tempo e de acordo com o merecimento de cada uma,
segundo expressão do Pedagogo da Velha Galiléia.
Esse mérito não tardou para os espíritas da nossa querida Ribeirão Preto, pois
fomos presenteados com a Praça Allan Kardec, graças ao dinamismo do confrade e então
Vereador Sr. Antonio Carvalho, que apresentou um projeto a Câmara Municipal e que
teve aprovação por unanimidade. A praça está localizada no Jardim Macedo entre as ruas:
Cirene, Edna Rocha de Freitas e Daniel Kujawski. A União Municipal Espírira, então
presidida pelo Prof. Jaime Monteiro de Barros, tomou a frente desse movimento,
apressando a sua inauguração. Em reunião previamente marcada, os diretores da UME
reuniram-se para estudar os planos, ocasião em que foi nomeada uma Comissão de três
membros, sendo eles, Theodoro José Papa, José de Almeida Rezende e o autor do
projeto. Entraram em entendimento com sua Excelência o Prefeito Municipal, o Dr.
Antonio Duarte Nogueira, a fim de que a praça fosse ajardinada.
A Comissão acima designada providenciou tudo, bem como a confecção da Placa
e do Programa Inaugural a ser realizado em 3 de outubro de 1969, as 19 horas. Essa
deliberação foi levada ao conhecimento do Sr. Prefeito que apressou o término da
ornamentação, realizando sua inauguração na data prevista. Por motivo de enfermidade
em família, o Prof. Jaime não pode comparecer.
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Ao ato inaugural, a família Espírita esteve presente prestigiando essa grande
efeméride. No palanque encontravam-se várias autoridades civis, militares e religiosas,
pois ali se encontrava o Reverendíssimo Arcebispo Dom Mieli, cuja presença muito nos
honrou. Prestigiou o ato, embora adoentado, razão porque providenciamos uma cadeira
para acomodá-lo.
A inauguração constou do seguinte programa: Nossa palavra de abertura e
saudação aos presentes, saudação do confrade José Antonio Luiz Balieiro, então VicePresidente da UME, o autor do projeto, vereador Antonio Carvalho e o Sr. Prefeito
Municipal Dr. Antonio Duarte Nogueira, encerrando assim as festividades da noite com
fortes vibrações e entusiásticas palmas de todos os presentes pela maravilhosa dádiva
recebida: a praça com o nome do Codificador do Espiritismo.
COISAS DO PASSADO
Vamos novamente recordar alguma coisa do passado que ficou fortemente ligado
ao presente do Movimento Espírita.
PRIMEIRO JORNAL ESPÍRITA
A União Espírita foi a primeira entidade que adquiriu personalidade jurídica em
nossa cidade, apesar do desligamento de alguns companheiros, conforme já relatamos.
Ela continuou com suas atividades prestando serviços relevantes, não só aos seus
freqüentadores, como também as famílias carentes.
Entre o elevado trabalho estritamente Kardecista que o Sr. Emiliano realizava,
queremos destacar um outro que consideramos de grande importância. A Criação do
primeiro Jornal Espírita denominado "Amor à Verdade" cujo primeiro número foi
publicado no dia 1º de maio de 1936 e que teve grande repercussão. O jornal possuía
vasta matéria social e religiosa, pois os seus colaboradores eram eficientes e dotados de
grande Cultura Espírita e, modéstia à parte, pertencemos a esse grupo de colaboradores
composto de Braz Cartolano, José Leal, Vera Lúcia, Antonio Zacaro, Leônidas F. Goes,
Irene Teixeira Goes, Mário Orsi, Zacarias Onofre, Antenor Ramos (este de São Paulo) e
tantos outros. O Editorial que era do seu Diretor, Sr. Emiliano Cardoso de Morais,
abrilhantava o jornal, do qual temos vários números em nossos arquivos.
NOSSA SEGUNDA POLÊMICA
Corria o ano de 1954 quando num belo dia a Praça XV amanheceu com diversas
faixas convidando o povo para as conferências que seriam proferidas pelo Frei
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Boaventura na Cava do Bosque, onde iria desmascarar o Espiritismo, desafiando mesmo,
os espíritas para ali comparecerem.
Nesse tempo éramos praticamente "Moço de Cabeça Quente" e ao vermos
semelhante estardalhaço, não tivemos dúvida. Aceitamos o desafio e nos preparamos para
esse encontro.
A nossa primeira atitude foi a de publicarmos uma carta aberta dirigida ao Bispo
Dom Luiz do Amaral Mousinho informando-o dos acontecimentos e da nossa resolução.
As conferências do Frei teriam início em uma segunda-feira. Possivelmente inspirado
pelo Alto, o nosso companheiro Jaime Monteiro de Barros pediu uma reunião prévia a
fim de se estudar a questão e tomar-se as providências necessárias, pois já estava
resolvida a nossa presença na Cava do Bosque. Essa reunião foi realizada na Sede da
Unificação Kardecista que ficou lotada de companheiros, dando várias opiniões, alguns
deles até oferecendo dinheiro para custear a publicação. Nesse ínterim surgiu o
imprevisto, uma companheira vinda do Rio de Janeiro e que ali comparecera a convite de
parentes, médium vidente e auditiva que era, nos chamou a atenção dizendo: Sr. Papa,
estou vendo ao seu lado o espírito de Eurípedes Barsanulfo e ele está dizendo para o
senhor não ir a Cava do Bosque. Deve fazer o seu trabalho pela imprensa. Terminado
esse esclarecimento, veio uma mensagem psicografada por um outro companheiro,
assinada por Eurípedes, dizendo a mesma coisa.
Diante da revelação, nós nos desmontamos, pois estávamos entusiasmados para
irmos ao debate, mas obedecemos a advertência e fizemos o nosso trabalho pela imprensa
com uma série de artigos que foram publicados no Jornal "O Diário da Manhã".
Não fomos à Cava do Bosque, mas a turma mais entusiasmada da Mocidade
Espírita lá estava todas as noites e na volta passavam por nossa casa e nos informavam
tudo o que acontecia. Baseados nessas informações produziam os nossos artigos
respondendo às mentiras do Frei Boaventura.
Na Cava do Bosque havia cenas cômicas e apupos a quem se atrevesse apartear o
Frei e até a polícia entrava em cena. Aquela foi uma semana agitada em que a família
espírita se movimentou. Nossa casa transformou-se num verdadeiro Quartel-General. O
entusiasmo invadiu muita gente, pois ganhamos com isso, do proprietário da então
Emissora PRA-7 um programa de 15 minutos e que ficou a cargo do Professor Jaime
Monteiro de Barros. Ele transmitia, durante esse prazo, verdadeiras mensagens de
esclarecimento e de consolação. A semana passou, o Frei foi embora e o Espiritismo saiu
fortalecido.
Todos os artigos constam de nossos arquivos e estão publicados no final deste
livro.
PROGRAMA DE RÁDIO
Em virtude da amizade que nos liga ao Dr. Ricardo Cristiano Ribeiro, que é
também um grande admirador do Espiritismo e proprietário da Rádio Renascença,
ganhamos em 1973 30 minutos de espaço na emissora a fim de levarmos ao ar um
Programa Espírita.
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Não perdemos tempo. Organizamos a nossa Equipe, coordenamos os trabalhos e
em julho de 1973 inaugurávamos o Programa Gotas de Luz, que vai ao ar até hoje, todos
os domingos, as 7:45 horas, programa esse que se tornou uma tradição para a família
espírita não só de Ribeirão Preto, como também de outras cidades vizinhas. Gotas de Luz,
durante estes 15 anos de existência tem levado a muitos corações aflitos consolação e
esperança para dias melhores.
OUTRAS ENTIDADES ESPÍRITAS
Já que estamos fazendo um histórico do Espiritismo em nossa querida Ribeirão
Preto, vamos registrar aqui as demais entidades, quer aquelas que deixaram de existir,
quer aquelas que até hoje engrandecem o trabalho social e religioso no setor em que
foram instaladas.
ASILO BEZERRA DE MENEZES
Na Avenida da Saudade, subindo a esquerda, na esquina com a Rua Pernambuco,
no ano de 1935 ou 1936, o nosso confrade Manoel Branquinho instalou um Asilo, não só
para idosos, mas principalmente para perturbados mentais, obsidiados, dirigindo-o com
muito carinho. A direção clínica estava a cargo do Dr. Nemésio C. de Freitas, espírita
muito dedicado.
Pelo seu Diretor fomos convidados a prestar nossa colaboração, razão porque
todas as terças-feiras lá estávamos, fazendo o nosso comentário evangélico. Os trabalhos
ali eram constantes e com resultados satisfatórios, motivando o seu crescimento, até
fazer-se necessário ampliar as suas instalações.
Em dezembro de 1937 inaugurou-se a enfermaria e outras benfeitorias. Nesse ato
reuniu-se boa quantidade de confrades para assistir as solenidades.
O orador dessa festividade foi o Dr. Camillo de Mattos, pronunciando brilhante
conferência. Ficou a nosso cargo a apresentação e a oração de abertura. Havia compacta
assistência, também presentes os médicos que ali prestavam assistência, o Dr. Dante R.
Guazelli e o Dr. Benedicto Terreri.
Guardamos com muito carinho a fotografia dessa solenidade, para nós muito
valiosa, pois que ali estavam muitos dos nossos familiares. O trabalho dessa instituição
prolongou-se por longos anos e somos testemunhas de muitas curas ali realizadas com
simples passes e pregações evangélicas.
Em virtude do acúmulo das nossas tarefas, fomos distanciando nossas visitas,
razão porque desconhecemos os motivos do fechamento do asilo. Passados alguns anos,
ficamos sabendo que o Sr. Manoel Branquinho havia transferido o asilo para Jurucê,
Município de Jardinópolis, e que nosso filho, como Médico do Estado ali lotado, dava
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assistência aos velhos ali recolhidos. Com o desencarne do senhor Manoel Branquinho, o
asilo deixou de existir.
CENTRO ESPÍRITA REDENTOR
Na Avenida da Saudade, subindo à direita, a uns 30 metros da Rua Capitão
Salomão, existia o mencionado Centro, onde logo na entrada, à esquerda, estava armado
um altar com velas e imagens de santos de todas as qualidades.
Em nossa mocidade passávamos em frente e não sabíamos bem o que era, pois
dizíamos intimamente que Centro Espírita não usa vela e muito menos imagem de santo.
Com a fundação da Confraternização Espírita, o Centro Redentor também foi
convidado e lá esteve representado pelo seu Presidente Sr. Esperidião Fernandes, homem
simples que mais agia por incompreensão, por ser elemento de pouca cultura. O ponto
importante é que esse Centro passou a fazer parte da Confraternização e assim a ser
visitado por companheiros oradores que iam explicando a pureza da Doutrina isenta de
qualquer dogma, ou ritualismo.
Com essas visitas e falando os oradores com muita diplomacia, aos poucos o
Presidente foi tirando as velas, os santos e o altar, limitando-se às reuniões mediúnicas e
evangélicas.
Isso ocorreu durante o ano 1940 a 1950, mais ou menos, pois com o desencarne
do seu Presidente, o Centro Redentor deixou de existir.
CENTRO ESÍRITA AMOR E CARIDADE
A família espírita sempre cresceu acompanhando o desenvolvimento da cidade e
os seus adeptos surgiram de todas as partes.
Na década de 1936-1936, entre tantos companheiros que freqüentavam as
reuniões do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, destacamos uma senhora, Dª Ana Pita,
com a qual tínhamos muita afinidade. Certo dia ela nos disse: Sr. Papa, eu agora não
poderei freqüentar as reuniões com muita assiduidade, pois vou organizar um grupo na
minha casa. Agradecemos a participação dela ate aquela data e continuamos ligados pela
amizade e ideal espírita.
Surgiu assim, mais uma tenda de trabalho evangélico, um grupo de companheiros
à frente Dª Ana, seguida pelos confrades: irmãos Abrantes, irmãos Cremonez, família
Pita, José Querido, João Pereira Aquino, Joaquim S. Paula, Maria Colucci, Anto0nio Luiz
Prates, João Mariano, Augusto Teixeira e outros. Num de trabalho puro Cristianismo,
fundaram o Centro Espírita Amor e Caridade que deixou de ser um grupo, para adquirir
personalidade jurídica e cuja primeira Diretoria foi a seguinte: Presidente - Mário Rufino
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Carvalho, Vice-Presidente - José Maria Querido, Tesoureiro - Joaquim Nunes Rolo,
Secretário - José Cremonez, Diretora - Ana Pita.
Essa equipe de seareiros foi muito dinâmica, pois logo arregaçou as mangas e
partiu para a construção da sede própria.
Dª Pita doou o terreno da rua Aurora, hoje nº 274, mas que naquela época sem
calçamento a numeração era outra.
Mas isso não impediu que os trabalhos continuassem. Iniciou-se a construção e no
dia 21 de agosto de 1938 tivemos o prazer de assistir a festa de cobertura do prédio ao
lado de outros companheiros como: Lino Engrácia de Oliveira, Francisco Amadeu, Ana
Pita, Mário R. Carvalho, José Querido, Pedro Cremonez, Carlos Pita e outros, entre as
vibrações de alegria e as orações de agradecimentos a Deus. Assim, depois de um ano de
luta, no dia 25 de fevereiro de 1939, inaugurava-se na Vila Tibério mais um Templo de
Oração denominado Centro Espírita Amor e Caridade, tendo Dª Ana à sua frente, prestou
a Comunidade Espírita e aos necessitados em geral grandes benefícios materiais e
espirituais.
A tarefa da Dª Ana materialmente terminou na terra quando desencarnou em 19
de agosto de 1956, deixando muitos corações oprimidos e muitas lágrimas naqueles que
com ela conviveram. No funeral, o Centro Espírita Amor e Caridade estava superlotado e
todos em silêncio nos acompanharam na oração que ali proferimos. O desencarne da sua
benfeitora não desanimou os companheiros que continuaram, com amor e entusiasmo, a
obra por ela iniciada. O Salão do Centro foi ampliado, construiram-se mais salas para a
Evangelização da Infância, todo o seu movimento cresceu, graças ao esforço dos novos
diretores que seguiram as pegadas da Dª Ana.
A atual diretoria é composta dos seguintes confrades: Presidente - Luiz Vitorazi,
Vice-Presidente - Adélcio Aparecido Calori, 2º Vice-Presidente - Luiz Antonio Carraro,
1º Secretário - Valda Cristiano Cremenez, 2º Secretário - Oscar Costa, Tesoureiro Arnado José de Souza, 2º Tesoureiro - Maria Rosa da Silva.
SOCIEDADE ESPÍRITA UNIÃO E CARIDADE
Nos primeiros meses do ano de 1932, nós já pertencíamos à Diretoria do Centro
Espírita Eurípedes Barsanulfo, sito à Rua Alvares Cabral, presidido pelo Sr. Cândido
Pinto Valada, e nos lembramos bem quando um grupo de confrades liderado pelo Dr.
Romeu Pereira e com a médium Dª Brunella Pileggi passaram a freqüentar as reuniões
mediúnicas.
Dª Brunella era uma médium em desenvolvimento e dizia receber o Espírito de
Eurípedes Barsanulfo. Isso era contestado pelo Presidente Cândido Pinto Valada, pois ele
conviveu muito tempo com Eurípedes e o espírito comunicante nada dizia que pudesse se
identificar como sendo o Apóstolo de Sacramento.
O aludido grupo freqüentou o Centro Eurípedes Barsanulfo algumas vezes e como
não se afinou bem, passou a realizar as reuniões na casa da Sra. Brunella.
Com o aumento do número de pessoas, resolveu-se fundar uma Sociedade com a
finalidade de se estudar os fenômenos metapsíquicos e o tratamento de pessoas
perturbadas por espíritos obsessores. Assim sendo, no dia 20 de dezembro de 1932,
contando com inúmeros confrades, realizou-se a primeira reunião na então Escola e
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Biblioteca dos Pobres, presidida pelo Dr. Romeu Pereira e Secretariada pelo confrade
Adair Ramos Ribeiro, criando-se assim a Sociedade União e Caridade, cuja primeira
Diretoria foi a seguinte: Presidente - Antonio da Costa Lima, Vice-Presidente - Dr.
Álvaro Cayres Pinto, 1º Secretário - Adair Ramos Ribeiro, 2º Secretário - Alcides Palma,
1º Tesoureiro - Alberto Solera, 2º Tesoureiro - Antonio Guimarães.
Assinaram a ata da fundação vários confrades, inclusive nós que tomamos parte
na reunião. Nessa mesma reunião foi nomeada uma Comissão para elaborar os Estatutos
da Sociedade.
Tudo pronto, a Sociedade passou a funcionar num prédio sito ã Rua Mariana
Junqueira, esquina com a Tibiriçá, onde o entusiasmo tomou conta de todos os
companheiros com as manifestações transmitidas por intermédio do médium João
Cândido, que encantavam os presentes. Embora fazendo parte da Diretoria do Centro
Eurípedes, em virtude da amizade que nos ligava aos diretores, prestávamos também a
nossa colaboração, junto com a noiva Albertina.
O movimento ali era grande, todos eram atraídos pelas manifestações recebidas
pelo médium João Cândido, cujo guia espiritual era Martinho Lutero.
No dia 16 de julho de 1933, fundou-se nessa Sociedade o Departamento Feminino
Legionárias do Bem, cuja finalidade era a de prestar assistência as famílias carentes.
A sua primeira Diretoria foi constituída pelas seguintes companheiras: Presidente
- Arlinda Cayres Pinto, Vice-Presidente - Albertina Veiga Miranda, 1ª Secretária Mercedes Marcondes, 2ª Secretária - Albertina Vanini, 1ª Tesoureiro - Alcina Rodarte, 2ª
Tesoureira - Amanda Guimarães.
A ata da fundação foi lavrada pela 2ª Secretária, então nossa noiva Albertina
Vanini, que praticamente passou a dirigir as reuniões do Departamento.
Mas, a finalidade principal da Sociedade era a construção do Sanatório Caridade.
O Dr. Camillo de Mattos, sempre com o seu espírito filantrópico, doou à
Sociedade um grande terreno que, se não me falha a memória, estava localizado à Rua
Bernardino de Campos, entre as ruas São José e Garibaldi.
Em dia que não nos lembramos, com grande movimentação foi lançada a Pedra
Fundamental do Sanatório, ocasião em que o Dr. Cayres Pinto aproximando-se nos disse:
"Papa, no momento em que se iniciar a construção, eu darei mil tijolos", o que nos
encheu de alegria. Em 1934, a Sociedade transferiu sua sede para a Rua General Osório,
esquina da Rua São José, pois ali ficaria mais bem instalada e foi ali que a família de Dª
Brunella passou a residir e que vimos a Quiquita engatinhando.
As reuniões continuavam com grande freqüência, mas nada de se pensar na
construção do Sanatório.
Em 1935, assumiu a Presidência da Sociedade, o Tenente Alberto Lopes, Militar
da ativa que, vendo a impossibilidade de se construir o Sanatório, resolveu vender o
terreno em lotes e construir a sede para a Sociedade.
Entre os muitos freqüentadores destacava-se o Sr. Paschoalin De Vicenzo,
construtor dos mais prestigiados que, querendo ajudar a Sociedade prontificou-se a dor
um terreno.
Nessa ocasião nós tínhamos uma oficina de serralheria, mas gostávamos de
construção, razão porque estávamos negociando o terreno da Rua Marcondes Salgado
que pertencia a uma senhora negra, mãe do célebre Dr. Cajú, um jovem obsidiado que era
célebre em fazer discursos em plena via pública.
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O Sr. Paschoalin, interessado no terreno, pediu-nos para cedê-lo e foi adquirido
para a Sociedade pelo preço de 7 contos de réis.
Iniciou-se a campanha de construção, sendo que as Legionárias do Bem cuja
Presidente era então a Dna. Albertina Vanini Papa, suspendeu todo o trabalho de
assistência social colaborando assim em favor da construção que é o atual prédio da Rua
Marcondes Salgado, 223.
Mas a Sociedade não parou na primitiva construção, adquiriu mais terreno,
ampliando o auditório e construindo outras salas, para corte e costura, evangelização e
assistência aos necessitados. Criou outros departamentos, como Biblioteca, Consultório
Médico e mais uma dezena de trabalhos em prol das famílias carentes.
Em 1982, essa benemérita instituição completou 50 anos de profícuos trabalhos e
essa maravilhosa data foi comemorada com grande alegria; e nós tivemos a honra de
sermos convidados como orador oficial das festividades.
Todas as Diretorias que passaram deixaram a sua marca de trabalho material e
espiritual, espelhando-se sempre na Codificação Kardequiana.
CENTRO ESPÍRITA PEQUENINOS DE JESUS
Esse centro surgiu precisamente no ano em que nós nos debatíamos numa
entusiástica polêmica pela imprensa com o Padre Dionísio Gonzáles.
Um grupo de companheiros humildes, mas cheios de fé e de idealismo iniciou as
reuniões em julho de 1937, na residência do confrade Brasilino Nogueira, à Rua Floriano
Peixoto, 72, onde por vários meses se reuniram para estudo da Doutrina Espírita. Com o
desenvolvimento das sessões, o grupo cresceu, e foi transformado e registrado como
Centro Espírita Pequeninos de Jesus, que teve sua primeira diretoria formada pelos
seguintes companheiros: Presidente, Brasilino Nogueira Pires – Vice-Presidente, Votirino
de Mello – 1º Secretário, Antonio de Moura Pinto – 2º Secretário, Loreto Carneiro – 1º
Tesoureiro, Vicente Lorenzato – Procuradora, Luzia Bento.
Em virtude do aumento de freqüentadores, em 1º de julho de 1938, a sociedade
transferiu sua sede para a Av. da Saudade, 166, local onde se iniciou um movimento para
a aquisição da sede própria. Após vários anos de luta, de trabalho e dedicação, o nobre
ideal foi concretizado com a inauguração da sede própria, localizada na Travessa São
Roque, 108, Campos Elíseos, em 07 de junho de 1953.
O ato inaugural foi presidido pelo Prof. Jaime Monteiro de Barros, então
Presidente da União Municipal Espírita, ocasião em que pronunciou belíssima oração,
cumprimentando a nova Diretoria presidida pelo confrade Vitorino de Mello, que foi o
pioneiro da construção.
Essa sociedade tem desenvolvido grande atividade no campo doutrinário, com a
criação da Mocidade Espírita, a Escola Evangélica, e o Departamento Feminino que
muito tem feito em prol das famílias necessitadas daquele populoso bairro. A sua atual
Diretoria é presidida pelo confrade Mário Cecilino, que vem desenvolvendo grandes
atividades.
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CENTRO ESPÍRITA JOANA D`ARC
Esta nova organização espírita foi fundada no dia 03 de março de 1935, em
homenagem à grande heroína da França.. Seus idealizadores reuniam-se na residência de
um confrade, sita à Rua Álvares Cabral onde foi eleita a primeira Diretoria, constante dos
seguintes confrades: Presidente, Dolores Bueno Ramos – Vice-Presidente, Desidério
Rodrigues – Secretário, Maria Joanna de Jesus – Tesoureiro, Maria de Souza – Oradora,
Ana de Oliveira.
O primeiro ato da Diretoria foi o de registrar o Centro, acontecido no dia 17 de
maio do mesmo ano.
Após algum tempo de atividade sua sede foi transferida para a Rua Saldanha
Marinho, entre a Rua São Sebastião e Américo Brasilience. Foi ali que conhecemos esse
templo de oração, na pessoa de Dna. Maria Maracolina, mais conhecida como Dna Maria
das Argola, isto porque usava uns brincos de argola de tamanho grande. Conhecemos
também Dna Alice Ricardina, uma senhora de cor que tinha o coração do tamanho do
corpo, e era bem gorda; uma outra companheira que nos chamada de Xará, Dna Maria
Theodora Gomes Rego, avó da nossa companheira de trabalho, a Dra.Fernanda
Ripamonte; a Dna Diva Castelo Manco, mãe da Dra. Fernanda e que fundou a li a Escola
de Evangelização.
Essa segunda leva de companheiros foi inegavelmente o sustentáculo do Centro,
pois dedicavam-se com muito amor e desinteresse. Os colaboradores do Centro Joana
D’Arc aumentavam a cada dia, por esse motivo transferiram a sede para a Rua Amador
Bueno, esquina com a Duque de Caxias, nos fundos da antiga Casa Glória.
O novo presidente, Sr. Antonio Batista; era dotado de boa mediunidade curadora e
conseguiu arrebanhar grande número de assistentes. Mas o tempo foi modificando o
trabalho do presidente e desgostando uma boa parte dos diretores e associados,
descontentamento esse que dividiu os componentes da Sociedade em duas partes, uma
contra o presidente, e outra a favor. Para se decidir o impasse, foi convocada uma
assembléia para o dia 07 de julho de 1942.
A parte favorável ao Presidente ajustou um advogado para tomar parte e fazer a
defesa do Presidente. Muito embora o advogado fosse nosso amigo, pedimos licença para
ocultar o nome. A outra parte do Centro também convidou a sua advogada, e essa, como
era espírita, fazemos questão de lembrar o seu nome: a Dra. Evangelina de Carvalho.
Estávamos completamente alheios a toda essa questão e nada sabíamos do que estava se
passando, muito embora, conhecêssemos o então Presidente do Centro Joana D’Arc.
Para surpresa nossa, na tarde do dia mencionado, a Dra. Evangelina bateu em
nossa casa, intimando-nos a tomarmos parte da Assembléia, alegando que o advogado da
situação era um brilhante orador, e que receava ser derrotada. Diante da amizade que nos
ligada a Dra. Evangelina, acabamos cedendo, comprando a briga de uma questão que não
era nossa. Por isso, às 20 horas, lá estávamos nós com a doutora. Salão superlotado, a
assistência dividida em duas partes e já com os ânimos exaltados; junto estava o
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advogado da situação. De outro lado estavam três elementos da Polícia Secreta, todos
meus amigos particulares.
Tomamos assento ao lado de outros companheiros. Foi aberta a reunião,
explicados os motivos da sua convocação e depois a palavra foi franqueada.
Iniciaram-se os debates. Verdadeiro tribunal de acusação e de defesa, acalorando
cada vez mais as partes, tornando-se um verdadeiro tumulto. Nós estávamos calados
assistindo tudo aquilo que não era próprio para uma Assembléia de Espíritas, e
sentíamos-nos um tanto deprimidos.
As vozes se alteravam e em dado momento, com muita mágoa, vimos as duas
partes se levantarem ameaçando-se com os punhos fechados. Nessa hora nós nos
levantamos e nos colocamos nomeio das duas partes, e num momento rápido os três
policiais nos cercaram, pois temiam agressão.
Felizmente a luta foi só de palavras e quando iniciamos a nossa fala, as partes se
acalmaram e nós continuamos a falar o que julgamos necessário. Recebemos dois apartes
do advogado da situação, aos quais respondemos fraternalmente.
Pela terceira vez, fomos aparteados pelo advogado, só que dessa vez respondemos
com mais energia, dizendo-lhe que nos debatíamos numa questão espírita, e que ele sendo
de outra crença, não podia tomar parte no litígio.
Ele acatou nosso pedido, permanecendo calado, enquanto que no auge da palavra,
depusemos toda a Diretoria e nomeamos uma Comissão para tratar da eleição da nova
Diretoria. Assim terminou o litígio no Centro Espírita Joanna D’Arc. Chegamos em casa
à uma hora da manhã, e lá encontramos a minha esposa com dores de parte; fizemos meia
volta, alugamos um carro e fomos buscar a parteira Dna. Nenê Conrado, que fez o parte
da nossa filha Elisabete. Mas o Centro Joanna D’Arc restabeleceu-se, com novos
diretores trabalhando de maneira abnegada e mediante grandes esforços conseguiram a
sua sede própria, situada à Rua Henrique Dumont, 247, onde novos companheiros ali
estão a postos, trabalhando por amor à causa. A sua atual Diretoria é composta dos
seguintes confrades: Presidente, Prof. Oswaldo Ferreira Alves Filho – Vice Presidente,
Geraldo Lourival da Silva – 1 Secretário , Profa. Wany Aparecida Caparraz Witzel – 2º
Secretário, Anésia Alice da Silva – 2º Tesoureiro, Marco Geraldo Witzel – 2º Tesoureiro,
José Aguiar.
Esses novos companheiros continuaram os trabalhos dos primeiros operários,
dando seqüência ao ideal que sempre norteara os seus idealizadores. Foi ali, nesse
templo da rua Henrique Dumont que desencarnou o seu baluarte, Dna Maria Marcolina, a
remanescente d os seus fundadores. Junto com outros companheiros fizemos a oração em
homenagem ao Espírito que voltava para a casa paterna, certo de ter cumprido na terra a
sua tarefa de trabalho e de amor.
CRUZADA DOS MILITARES ESPÍRITAS
O alto mundo espiritual que tudo prevê, em boa hora inspirou a criação da
Cruzada dos Militares Espíritas na terra do cruzeiro.
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O núcleo de Ribeirão Preto, praticamente nasceu em ´nossa casa, quando
comemorávamos o aniversário da nossa esposa Dna. Albertina, no dia 22 de abril de
1957. Após a saída dos amigos e parentes, permaneceu conosco a família do Capitão
Costa Leite em agradável conversa sobre o espiritismo. Sugerimos a criação da Cruzada
dos Militares em nossa cidade, o que foi aceito com entusiasmo.
No dia seguinte começamos a convidar a quantos Militares Espíritas conhecíamos,
como: Coronel Paulo Soares de Moura, Tenente Ilques Barbosa, Tenente José Alves de
Lima, Aspirante Gil Vicente da Silva Passos, Cabo Antonio Casome Bezerra e outros que
realizaram várias reuniões na sede da Unificação Kardecista, para que, no dia 25 de
junho, se concretizasse o trabalho, elegendo a sua primeira Diretoria que ficou assim
constituída: Presidente, Capitão Ernani da Costa Leite – Vice Presidente, Tenente Ilques
Barbosa – 1º Secretário, Tenente Altamiro Lima – 2º Secretário, Cabo Antonio Casome
Bezerra – 1º Tesoureiro, Sargento João Bethon – Diretor de Difusão, Aspirante Gil
Vicente da Silva Passos – Diretor de Estudos, Tenente José Alves de Lima – Diretor
Social, Tenente Hermógenes Martins de Souza – Conselho Fiscal, Coronel Paulo Soares
de Moura, José Papa e o Sargento Sebastião Motta. Finda a eleição com uma salva de
palmas aos diretores eleitos, lembramos-nos das palavras do Presidente que entre outras
disse: “Quanto ao trabalho e a disciplina, nada temos que acrescentar, pois que nós os
militares já possuímos a disciplina de caserna”.
Nessa mesma reunião foi escolhida uma comissão a fim de preparar a solenidade
da posse e o seu programa ficando a data de 4 de agosto, para a posse da primeira
diretoria.
Assim realizou-se a posse da 1ª Diretoria do Núcleo dos Militares Espíritas de
Ribeirão Preto, ocorrida na sede da Unificação Kardecista. Como Presidente de Honra
daquela solenidade, foi escolhido sua Excelência o Prefeito Municipal, Sr. Costábile
Romano. A solenidade da posse, constou de um programa lítero-musical com a presença
de várias autoridades, inclusive do Presidente Nacional da Cruzada dos Militares
Espíritas, que deu posse à Diretoria do Núcleo local, proferindo eloqüente saudação
durante cerca de 40 minutos atraindo a atenção de todos presentes que lotaram o amplo
salão da Unificação Kardecista.
Durante longos anos a cruzada manteve-se firme em seu idealismo, semanalmente
visitando os Centros Espíritas locais, levanto sempre uma palavra de entusiasmos, de
conforto e de esclarecimento.
Por várias vezes acompanhamos o Núcleo em suas peregrinações evangélicas,
sempre dentro daquela disciplina de que lhe era peculiar, e com a qual muito aprendemos.
No entanto, com a transferência do Presidente, Capitão Costa Leite para São
Paulo, e com o desencarne do Coronel Paulo Soares de Moura, houve como que uma
decadência no entusiasmo e muitas coisas foram ficando para trás. Mas a obra do Cristo
não poderia estacionar e muito menos retroceder, razão porque novos elementos
ingressaram, estimulando as suas atividades. Podemos mesmo dizer que a Cruzada teve
várias fases distintas: fundação e propagação de seus ideais, adaptação calma e serena
após ser lançada a semente ao solo, e por fim o surgimento de novos cultivadores,
militares entusiasmados como o Capitão Eurípedes Kuhl, o Oficial da Reserva Osny de
Oliveira e outros, que assumiram o Comando da Cruzada, deram-lhe Personalidade
Jurídica, e iniciaram um movimento pró Sede Própria. Esse movimento foi vitorioso e
hoje a cruzada possui confortável sede à Rua Legionário Maurício, 69, com Oficina
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Profissionalizante, Gabinete Dentário e um trabalho grandioso de assistência às famílias
carentes. A Cruzada, como não podia deixar de ser, com sua disciplina cristã, funciona
dentro das normas Kardecistas, reconhecida como Utilidade Pública Federal e Municipal.
Filiada à Federação Espírita Brasileira e à União Intermunicipal Espírita de nossa cidade,
e isso graças a sua atual Diretoria composta dos seguintes confrades: Presidente Oficial
da Reserva Osny de Oliveira – Diretor Administrativo, Oficial da Reserva Eurípedes
Kuhl – Diretor Financeiro, Farmacêutico Tarcísio Mioto – Diretor Social, Ícaro Antonio
Scalon – Diretora de Assistência à Saúde, Lucy Câmara Kuhl.
CENTRO ESPÍRITA BENEDITO ROSA DE JESUS
Quando nos tempos idos da nossa mocidade gostávamos de ver uma procissão
passar e com todo o respeito nos postávamos na sarjeta da calçada admirando o silêncio
dos seus componentes.
Lembramo-nos entre tantas personagens de um senhor de cor, vestindo roupa de
Irmandade de São Benedito.
Os tempos se passaram e estávamos em franca atividade na seara espírita, quando
fomos convidados para fazer uma palestra num Grupo Espírita que funcionava numa
meia-água, na rua Prudente de Morais, nas imediações da Av. Independência.
A entrada da meia-água deva-se por um corredor estreito, conforme o porte da
pessoa, era preciso entrar de lado. Lá chegando, qual não foi o nosso espanto em nos
depararmos com o senhor de cor que por várias vezes vimos na procissão da Irmandade
de São Benedito.
Fomos apresentados, e na sua abertura da sessão ,explicava ele a sua conversão à
Doutrina Espírita de maneira bem interessante, principalmente por que foi feita com
aquele seu linguajar muito simples.
Terminando a palestra despedimo-nos do velho Laureano Venâncio e as nossas
visitas ao seu Grupo passaram a se fazer cerca de duas a três vezes ao ano. Certa noite,
isso deve ter acontecido lá pelo ano de 1930, lá estávamos com a nossa equipe composta
pelos companheiros, Adelmo Castaldelli,Vicente Granato, Júlio Rigo e outros que nos
acompanhavam em todas as reuniões, quando ouvimos do Sr. Laureano, o seguinte: “Dos
moços da cidade, só o companheiro Papa é que se lembra do “Nego Veio” e vem sempre
nos visitar”. Esses fatos ficaram gravados em nossa memória.
No dia em que completamos 33 anos, (4 de julho de 1940) encontramo-nos com o
Sr. Laureano em uma casa comercial, (Casa Bardaro) e ele, não sabemos como, sabia do
nosso aniversário. Após os cumprimentos, sorrindo nos disse: “Ó, cuidado com essa
idade, é a idade de Cristo”, e despediu-se. Temos a impressão que esse foi um dos nossos
últimos encontros. O seu Grupo era muito bem freqüentado; dado a sua humildade, atraía
muita gente.
Quanto à data do seu desencarne não temos dados certos.Aquela meia-água que
era de sua propriedade, ele a doou para a Sociedade, sendo ele substituído por um outro
companheiro de valor, Benedito Cândido que aderiu ao Espiritismo em virtude da cura da
sua esposa obtida naquela meia-água.
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Conhecemos de perto o Benedito Cândido, sabemos do seu dinamismo e a tudo o
que renunciou em favor da instituição. No lugar da meia-água construiu confortável sede,
sempre à disposição dos menos afortunados. Durante quase 40 anos presidiu aquela casa
com amor e carinho, e ao lado de uma equipe de trabalhadores construiu na Vila
Carvalho, um terrenos de cerca de 4.500 metros quadrados, belíssima obra assistencial,
com Creche, Ambulatório Médico, Gabinete Odontológico, Farmácia, que prestam
relevantes serviços às famílias carentes do bairro. Para completar a obra, essa equipe de
seareiros, construiu e montou moderníssima padaria, não só destinada aos seus assistidos,
como também para ajudar a população carente.A sua atual Diretoria é composta dos
seguintes confrades: Presidente, Breno Nogueira – Vice-Presidente, Dr. Waldir D. Vilella
– Secretário, Unysses de Souza Carvalho – 2º Secretário, Antonio G. Granato – 1º
Tesoureiro, Benegno Payano – 2º Tesoureiro, Manoel Milena – Diretor de Patrimônio,
Mauro Antonio Neves.
SOCIEDADE BENEFICIENTE IRMÃOS DE BOA VONTADE
O nome desta entidade calhara a propósito, pois que seus componentes, como
criaturas simples, eram dotadas de uma boa vontade admirável. Tivemos o prazer de
conhece-los e com eles convivermos, admirando sempre o seu esforço e o seu dinamismo
em prol da causa nobre.
O seu objetivo era a construção de um Albergue Noturno, a fim de recolherem e
ampararem os andarilhos da vida, e aqueles transeuntes que não possuíam recursos para a
diária de um hotel. De uma simples idéia passou-se à realidade, e assim foi constituída a
primeira Diretoria tendo como Presidente Albino Tremeschini- Vice-Presidente, José
Covelo – 1º Secretário, Joaquim Gonçalves Pirahy – 2º Secretário, Ângelo Lino Vasoim
– 1º Tesoureiro, Américo Orlandi – 2º Tesoureiro, Guilherme Castaldelli – Orador, João
Antonio Praxedes. Teve como sede provisória um prédio localizado na Av. da Saudade,
106, e a sua fundação deu-se em 30 de setembro de 1953.
Esse grupo de trabalhadores honestos e sinceros, recebeu a adesão de outros
idealistas, e assim iniciou-se as primeiras atividades para a construção da sede própria,
adquirindo um terreno à Rua Major de Carvalho nos Campos Elíseos.
Diretores foram se sucedendo, sempre com o mesmo idealismo, dando seqüência
ao trabalho, confeccionando a planta do prédio, que foi aprovada, recebendo o nº 801.
Após ingentes esforços no ano de 1956, reuniram-se no terreno supra citado grande
número de confrades para o ato da colocação da pedra fundamental do futuro albergue. A
solenidade foi presidida pelo então Prefeito Municipal, Sr.Costábile Romano, que foi um
grande colaborador da obra. O Prof. Jaime Monteiro de Barros, fez a saudação aos
presentes e dirigindo-se ao Sr. Prefeito, disse-lhe: “Senhor Prefeito Municipal, sua
presença nesta Solenidade muito nos honra. Hoje está sendo colocada a primeira pedra
desta futura casa de amparo aos necessitados. Temos a certeza de que, ainda na vossa
gestão, ela será inaugurada, pois confiamos nesta equipe que compõe a diretoria”.
A profecia do Prof. Jaime Monteiro de Barros foi cumprida. Passados alguns
meses de atividade e de trabalho profícuo, realizou-se a inauguração da sede da
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Sociedade Beneficiente Irmãos da Boa Vontade, com o albergue anexo, e isso com a
presença do Sr. Prefeito Municipal, Sr. Costábile Romano. Anexo ao Albergue, foi
também instalado um Gabinete Dentário, que prestava gratuitamente grandes serviços aos
necessitados. O Gabinete Dentário funcionou durante longos anos sob a responsabilidade
do Cirurgião Dentista, Prof. Urbano dos Santos Bastos. Aos sábados atendia ele a
dezenas de pessoas, extraindo dentes imprestáveis. É de se notar que nunca houve um
caso de infecção. Nesse mesmo albergue foi instalado também um Consultório Médico
em homenagem ao companheiro desencarnado, Sr. Emmanuel Gaetani, que por muito
tempo funcionou sob a responsabilidade do Dr.Luiz Gastani.
A equipe que sucedeu os primeiros trabalhadores, deu continuidade ao nobre
ideal, adquirindo mais terras e ampliando o Albergue que continua a prestar bons
serviços, sob a Presidência do confrade Helson Barbosa.
CASAS DE BETÂNIA
A família espírita, inegavelmente lembra-se da primitiva família cristã, quando
seus adeptos reunirão-se de uma maneira fraterna, formando grupos de trabalhadores,
preocupando-se com os menos afortunados.
A célebre casa do caminho descrita por Emmanuel, representou o esforço e o
sacrifício daquela gente simples, mas dedicada a favor dos necessitados.
As Casas de Betânia, podemos afirmar, é o coroamento de um grupo de
companheiros que, a exemplo dos homens do caminho, se reuniu sob a égide do Cristo a
fm de dar seqüência à obra iniciada na manjedoura.
Isto aconteceu no ano de 1960, quando um grupo de criaturas liderado pelo
confrade João de Oliveira (tio João), tendo ao seu lado: Homemo Zaponi, João Bethon,
Laura de Oliveira, Salvador Berti e outros, iniciaram o trabalho de visitas às famílias
carentes localizadas nos bairros de Tanquinho, Vila Recreio, Vila Amélia, Ipiranga.
Levavam o pão para o corpo e para a alma. Mas o grupo cresceu e outros elementos
aderiram como: Sebastião Martins Moura, Tereza Andreoli, Arnaldo Cerri, Stela Mellim,
Dr. Dorival Sortino.Adquiriram uma pequena casa à rua Rio Formoso, 412 e ali
instalaram sua sede, com Ambulatório Médico, e Cozinha, passando a fornecer sopa
adiaria às famílias carentes.
O entusiasmo crescia a cada dia, e logo iniciaram um movimento para a
construção de uma Creche.Esse fato provocou uma reunião na residência do confrade
Sebastião M. Moura, onde se encontrava o médium José Fagundes. Manifestou-se por seu
intermédio o Apóstolo de Sacramento, Eurípedes Barsanulfo, em memorável
comunicação, entusiasmando todos os presentes para a construção da Creche.
Da palavra, passaram a ação movimentando todo o grupo para a realização da
obra, que já estava planejada na espiritualidade. O companheiro Arnaldo Cerri fez a
doação do terreno de sua propriedade, localizado à rua General Câmara, esquina com a
rua André Rebouças, terreno que na ocasião era um campo aberto.
Numa manhã domingueira, Arnaldo convidou-nos pra visitarmos o terreno. Lá
chegando, porque não dizer, torcemos o nariz e dissemos: mas vocês vão construir uma
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creche aqui, no meio do mato? Pois foi ali que se ergueu o monumento, Casas de Betânia,
que hoje honra a obra espírita. Ribeirão Preto é a cidade que mais cresce no interior
paulista; em pouco tempo aquelas ruas lamacentas, foram cobertas de asfalto, e novos
prédios foram construídos por toda a parte.
Não fizemos parte deste grupo de trabalhadores, estávamos compromissados em
outra parte, mas acompanhamos de perto seu trabalho, a exemplo da formiga, não parava,
não demonstrava cansaço, irmanados no cumprimento da tarefa.
Juntaram-se a essa equipe de trabalhadores, o Dr. Denizard Rivali Gomes, o Dr.
Luiz Carlos Rala e outros, fortalecendo a equipe liderada por Arnaldo Cerri que assumira
a Presidência, dando assim, início a obra, não medindo esforços e sacrifícios para
completar o objetivo dos novos seareiros.
Certo dia formos visitar a construção, e em confabulação fraterna, o Arnaldo, nos
disse confidencialmente: “a construção vai muito bem. Sempre que uma pedra de tropeço
surge no meio do caminho, há uma pessoa que a retira”. O Arnaldo não nos revelou o
nome da pessoa que servia de cirineu, mas nós ficamos sabendo quem era. Após vários
anos de luta, a equipe pôde ver com alegria a obra completa, um verdadeiro monumento
arquitetônico, cuja inauguração deu-se no dia 3 de outubro de 1972, iniciando seu
funcionamento com 30 crianças, número que crescia a cada dia. Após 4 anos de luta, por
questões de seus múltiplos afazeres, Arnaldo Cerri deixava a Presidência daquela casa em
1976, passando esse espinhoso cargo para o companheiro Sebastião Martins Moura, que
se mantém até hoje (1989), e que, com seu dinamismo ampliou a obra em seus diversos
setores, dotando-a de grandes melhoramentos, tais como: Quadra de Esportes, Oficina de
Marcenaria, Escola de Datilografia, Artesanato de Pintura de Tecidos, Costuras,
Horticulturas e outras.
Mantém Escola de Evangelização, Mocidade Espírita e reuniões doutrinárias.
No momento a Creche está com 300 crianças matriculadas nas várias faixas
etárias. Sua manutenção é feita através de colaboradores, dos Bazares, Jantares e doações.
No dia 23 de novembro de 1985, essa instituição completou 25 anos de funcionamento, e
essa magna data foi festivamente comemorada, com um programa lítero-musical e um
suculento jantar para todos os colaboradores, promovendo dessa forma uma verdadeira
confraternização entre os primeiros trabalhadores, e os que agora mantém as rédeas dessa
obra assistencial.
SANATÓRIO ESPÍRITA VICENTE DE PAULO
A família espírita de uma maneira geral é constituída de criaturas endividadas,
espíritos que vieram de um pretérito culposo. Cônscios desse passado, as pessoas
procuram unir-se, agrupar-se em núcleos para o desenvolvimento de tarefas que visam
beneficiar o seu semelhante sofredor.
Essa é a razão porque vamos em todas as partes, cidades, aldeias e vilarejos,
instituições filantrópicas, levantadas e dirigidas pelos companheiros de ideal espírita, que
muitas vezes sacrificam seus interesses pessoais em prol da causa que abraçaram.
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Em nossa cidade, a idéia da construção do Sanatório Espírita, de há muito vivia no
âmago de companheiros que aguardavam o seu amadurecimento para colocarem às mãos
a obra.
Essa idéia amadureceu no dia 7 de dezembro de 1945 quando uma equipe de
confrades se irmanou e reuniu-se na sede da Sociedade União e Caridade, situada à rua
Marcondes Salgado, 223, saindo dali a decisão do início da construção e que atraiu
inúmeros espíritas. Foi eleita assim, a primeira Diretoria que ficou assim constituída:
Presidente, Admar Marcelo – Vice Presidente, Pedro Ramos Machado – 1º Secretário,
Arabela Gomes Coimbra – 2º Secretário, Carlos de Souza Espíndola – 1º Tesoureiro,
Francisco Massaro – 2º Tesoureiro, Estefânia Carneiro.
Essa Diretoria, contou com o apoio de dezenas de companheiros que se
encontravam presentes. Esses cotizaram-se fazendo doações num montante de Cr$
221,00 (duzentos e vinte e um cruzeiros). O Sanatório Espírita Vicente de Paulo, foi
registrado em cartório no dia 16 de maio de 1946, ficando assim, instituída oficialmente
aquela Sociedade Espírita.
Os primeiros trabalhadores tiveram a tarefa de organizar a Sociedade e preparar o
terreno para os novos operários do Vicente de Paulo, o que na realidade aconteceu ainda
no ano de 1946, quando assumiu a Presidência do Sanatório o valoroso companheiro
Dr.João Engracia de Oliveira, que teve como braço forte a confreira Dona Estefânia
Carneiro. Esses novos soldados do Cristo, estreitaram seus laços de amizade e iniciaram
um movimento pró sede e Sanatório, adquirindo um grande terreno à rua Flávio Uchoa
1294, onde já existia uma pequena casa, e que fora reformada. Ali os diretores se
reuniam, estudando planos de atividades a fim de dar continuidade à obra.
Nesse terreno foi colocada a pedra fundamental do Sanatório, cuja solenidade
constou da Semana Espírita de 1947, ou 1948, reunindo no local grande número de
confrades e simpatizantes. O Teatro Experimental Eurípedes, dirigido por nós,
funcionava a todo vapor, razão porque demos um espetáculo pró Sanatório que rendeu
Cr$ 3.000,00 (três mil cruzeiros). Na entrega da renda, os artistas foram recepcionados
com uma lauta mesa de doces e refrigerantes ali nas dependências da rua Flávio Uchoa.
Mas o homem propõe e Deus dispõe dizia um velho ditado italiano, razão porque
o Presidente João Engracia de Oliveira, inspirado pelos mentores espirituais, adquiriu um
terreno bem maior, à rua Pará pela quantia de Cr$60.000,00 (sessenta mil cruzeiros),
local que então seria construído o prédio. Parte do terreno da rua Flávio Uchoa foi
loteado para cobrir a importância supra, e deu-se início à construção do prédio. Com João
Engracia na frente, colaboradores surgiram de todas as partes, e nós. Diretor do Teatro
Eurípedes, marcamos mais um espetáculo teatral, pró Sanatório, no vasto salão do
Auditório da antiga P.R.A. 7. Isso ocorreu quando estava no Governo do Estado de São
Paulo, o Sr. Jânio Quadros, e na época, houve um movimento revolucionário, proibindo
toda e qualquer reunião. Mas o espetáculo já estava marcado e os ingressos todos
vendidos, o que fazer?
Telefonamos para o Delegado Regional, Dr. Laranjeira, que era nosso amigo,
falamos do espetáculo e ele nos disse: “Papa, pode dar o espetáculo, pois enquanto o
povo se diverte não pensa em revolução”. O espetáculo foi apresentado, e assim, de grão
em grão, o Sanatório foi construído e inaugurado em 1956. Foram recolhendo ali algumas
dezenas de perturbados mentais e obsidiados que recebiam dos diretores o mais fraternal
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carinho. Durante 17 anos, João Engracia esteve à testa daquela casa, e muitos foram
aqueles que se libertaram de seus perseguidores espirituais e de seus problemas materiais.
Em 1966, o Dr.João Engracia de Oliveira deixou a presidência do Sanatório,
sendo substituído por outros companheiros que deram continuidade a esse gigantesco
trabalho, iniciado em 1946.
Seus continuadores, nas pessoas do Dr.Carlos Eduardo Martinelli, Dr. Mário
Marcos Pompeu de Araújo, João Neme e outros, inegavelmente realizaram grandes
modificações , ampliaram suas instalações,modernizando aquele Hospital Psiquiátrico,
localizado à rua Pará nº 1280, e que hoje orgulha a obra espírita de nossa cidade.
Os novos seareiros, com seu dinamismo, levaram o Sanatório ao mais alto grau,
sendo reconhecido de utilidade Pública, Federal, Estadual e Municipal., e ali continuam a
atender os nossos irmãos que passam pela dura prova da obsessão. A sua atual diretoria é
presidida pelo confrade Dr.Carlos Eduardo Martinelli.
CASA DA VOVÓ
Conhecemos o Sr. Emmanuel no ano de 1938, ou 39, quando nos procurou no
então Centro Espírita Eurípedes de Barsanulfo e numa linguagem que muito arrastava o
italiano, nos relatou a sua história. Ouvimos com muito carinho, não só por vermos nele
um excelente médium, mas também porque fomos atraídos por aquela linguagem que era
semelhante a nossa, pois nascemos na mesma terra. Falou-nos dos seus sofrimentos e de
suas andanças pelos consultórios médicos, sem resultado algum. No Rio de Janeiro, onde
possuía familiares, procurara o consultório do Dr. Osvaldo de Mello, que após ligeiros
exames dissera-lhe simplesmente: sua doença não é para médicos, volte para a sua cidade
e procure um Centro Espírita e ficará curado.
De fato, o Sr. Emmanuel Gaetani, dedicou-se com muito carinho à causa espírita,
desenvolvendo excelente mediunidade falante, onde espíritos de diversas categorias
manifestavam-se por seu intermédio, ora nos transmitindo mensagens consoladora, ora
queixando-se de suas agruras, transmitindo ensinamentos pelo exemplo.
A sua freqüência aos trabalhos mediúnicos era infalível e ao lado de outros
companheiros, como: Tenente Lima, Ofélia Bataglia, realizamos inúmeras reuniões, não
só as programadas no Centrom, como em residências particulares, em que seus
moradores se encontravam enfermos.
Durante cerca de 18 anos Emmanuel Gaetani fez parte do Conselho da Unificação
Kardecista, e muito nos alegrávamos com sua presença.
O Sr. Emmanuel também realizava todas as terças-feiras, uma reunião em sua cãs,
junto com a família, e alguns amigos que ali se irmanavam no culto de oração a Deus.
Muitas comunicações foram dadas por espíritos amigos, estimulando todos os presentes.
Ao lado do ideal espírita, o Sr. Emmanuel alimentava outro ideal, a construção de
uma casa para abrigar pessoas idosas sem recursos, que encontrariam ali um ambiente
fraterno e o calor que os familiares não lhes tinham dado. O lar para os velhos
desamparados constituiu-se numa bandeira que não pôde ser defraudada, pois a morte
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física arrebatou-o numa terça-feira em sua casa, quando havia terminado de fazer a
oração de encerramento da reunião semana.
Seu corpo tombou por terra, no dia 5 de setembro de 1957, mas a sua alma
permaneceu mais viva do que quando encarnada.
Nesse mesmo dia, ao cair do sol, por sugestão do confrade Dr.José Pereira Bastos,
reunimo-nos em sua casa, que distanciava poucos metros da residência do Ser.Emmanuel,
e ali realizamos com 5 ou 6 companheiros e mais a filha do desencarnado, Filomena, uma
reunião de oração e que para surpresa de todos, por uma médium que estava presente,
(Dona Mafalda) o espírito do Sr. Ammanuel, cujo corpo estava sendo velado, deu uma
manifestação que encantou a todos, e cujas características, com sotaque italiano, não
deixou dúvidas. Uma outra particularidade convincente, é que chamou a filha de Mena,
nome familiar que a médium desconhecia.
O desencarne do Ser. Emmanuel deixou um lugar vago na mesa de trabalho da
Unificação Kardecista, vago materialmente, porque um espírito continua presente, é visto
com freqüência e tem dado comunicações.
As reuniões na casa do Sr. Emmanuel continuaram sob a direção das filhas, bem
como continuou vivo o ideal da construção do Lar para os velhinhos desamparados. Em
sua homenagem foi fundada a Sociedade Espírita 5 de setembro e oficializada em 1973,
com o objetivo único de construir a casa dos idosos.
Essa tarefa caiu sobre os ombros do filho Dr. Luiz Gaetani, que reuniu uma
equipe de companheiros, dando mãos à obra. Foi iniciada a luta, pois o ideal do pai
deveria ser concretizado.
Adquiriram amplo terreno, e, com o auxílio dos companheiros encarnados e
desencarnados, iniciou-se a construção da tão almejada “Casa do Vovô”.
As lutas, as peripécias e os contratempos, não necessitamos descreve-los, porque
são conhecidos por todos os trabalhadores de boa vontade. Mas isso não foi motivo para
desânimo, razão porque seus trabalhadores não deixaram o arado no meio do caminho,
mas o levaram com muito entusiasmo até o fim da jornada. A obra sita à rua Tapajós nº
2881, foi terminada e ergueu-se a Casa do Vovô, que inegavelmente honra a Terceira,
Revelação, não só pelo seu estilo arquitetônico, mas sobretudo pelo trabalho benemérito e
filantrópico que ela presta.
Com a presença do conhecido tribuno baiano, Divaldo Pereira Franco, essa casa
de benemerência foi inaugurada no dia 26 de março de 1976, portanto 3 anos de lutas da
equipe presidida pelo Dr. Luiz Gaetani e cujos esforços foram coroados.
Ali se encontram dezenas de idosos que, ao lado do pão para o corpo, recebem
também o da alma, que os alimenta com o calor de todos os seus colaboradores.
A sua atual Diretoria, é presidida pelo confrade Dr. Luiz Gaetani.
CENTRO ESPÍRITA BATUÍRA
Antonio Gonçalves da Silva Batuíra, foi um dos grandes apóstolos do Espiritismo
na Capital Bandeirantes, pois doou toda a sua fortuna conseguida através de trabalho
honrado, às instituições filantrópicas. Em nossa cidade, um grupo de confrades, reuniu-se
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precisamente em maio de 1930 e fundou o Centro Espírita Batuíra, perpetuando assim o
nome do Missionário Português numa casa espírita.A sua primeira Diretoria, foi
constituída dos seguintes confrades: Presidente, Antonio José Martins – Vice-Presidente,
Antonio Lopes Garrido – 1º Secretário, José Justino Carlos da Silva – 2º Secretário,
Augusto Nobre – 1º Tesoureiro, Joaquim Gomes Sette – Orador, José Corrêa Gomes.
Conhecemos o Centro Espírita Batuíra no ano de 1931, com sede à rua Martinico
Prado nº 3. Quando a convite do confrade José Corrêa Gomes, fomos falar naquela Casa
de Oração, ficamos conhecendo o casal, Tonico e América Martins (a Dona Pequena)
com seu dois filhos de 6 a 7 anos. Geraldo e Ariclenes (hoje o conhecido astro da
televisão Lima Duarte). A família morava nas dependências do Centro, razão porque
fomos nos entrelaçando na amizade, pois nossa visita ao Centro repetia-se sempre.
Outro Diretor do Centro que muito colaborou foi o Jovem Antonio Garrido,
entusiasta de teatro amador. Precisamente em 1932 ele encenou a peça de um só ato,
“Redenção da Humanidade”, levada ao palco do Teatro Carlos Gomes, localizado onde
hoje funciona o terminal de ônibus urbano. O Garrido representou o Cristo, e Dona
Pequena fez o papel da Humanidade. A encenação foi um sucesso. A peça é de autoria do
confrade Odilon Ferreira, genro do Sr. Cândido P. Valada. Ela está hoje nos nossos
arquivos.
Mas o Sr. José Corrêa Gomes, que era a coluna mestra do Centro, transferiu-se
para Santo André; Antonio Garrido mudou-se para a cidade de São Vicente, deixando
desfalcado aquele templo de oração.
Mas o que é de Deus não pode perecer, razão porque surgiram novos
trabalhadores e em 1943, João Ferreira, Almerico Serafim de Oliveira, João Andrade,
Lindolfo Fernandes, José Resende, e outros, arregaçaram as mangas e logo adquiriram
um terreno à rua Rodrigues Alves, iniciando assim um movimento pró construção da sede
própria, cujo lançamento da pedra fundamental deu-se em 1943, ocasião que reuniu
grande número de confrades. Discursaram na ocasião os confrades: Tenente Augusto M.
de Assunção, Jaime Monteiro de Barros, e nós José Papa.
Para Presidente do Centro, foi eleito o confrade João Ferreira, que praticamente
financiou a construção, e os futuros diretores foram quitando toda a dívida. Os diretores,
sempre entusiasmados, deram continuidade a obra, inaugurando a sede própria localizada
à rua Rodrigues Alves nº 588, no dia 22 de julho de 1944, abrindo assim as portas de
mais um Templo Espírita.Muitos foram aqueles que receberam ali o pão do corpo e da
alma.
Após alguns anos de funcionamento, realizou-se ali mais um avanço, fazendo o
mesmo um comodato com o instituto Paulo de Tarso, presidido pelo confrade Dr. Simão
Camelo, que ampliou a sede construindo mais salas, e atendendo a maior número de
necessitados. Passados 15 anos, o comodato terminou, o instituto Paulo de Tarso
construiu sua dede, liberando o Centro Batuíra, que sob a presidência do Sr. José
Rezende, deu continuidade ao seu programa de amparo as famílias carentes.
Quando José Rezende desencarnou, outros continuaram a obra, instalando em
suas dependências uma tipografia, denominada Gráfica Batuíra, que vem funcionando a
todo vapor, imprimindo mensagens e o Jornal Verdade e Luz, órgão da União
Intermunicipal Espírita da Ribeirão Preto.
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CENTRO ESPÍRITA AMOR E CARIDADE JESUA E MARIA
Este Centro foi fundado em abril de 1937, precisamente no ano em que travamos
uma polêmica, pela imprensa, com o Padre Dionízio Gonzáles.
Conhecemos este Centro quando funcionava num grande terreno situado à rua
Tamandaré, esquina com a Capitão Salomão, à esquerda de quem sobre. A propriedade
era da confreira Dona Mariquinha que cedia ali uma grande sala onde se realizavam as
sessões então presididas pelo confrade Sr. Morgado. Ali estivemos várias vezes, pois
tínhamos amizade como Presidente que sempre nos convidava. Com o desencarne do Sr.
Morgado, assumiu a presidência do Centro o confrade Ângelo Massaro, companheiro
entusiasmado, que por vários anos dirigiu aquela Casa de Oração.
Dado o seu entusiasmo, movimentou os companheiros para a construção da sede
própria, e foi aí que Dona Mariquinha doou o terreno na mesma rua Tamandaré, o ano de
1956. O Presidente Ângelo Massaro, construiu o prédio quase que todo às suas custas,
pois tinha amor à causa.
Nessa mesma ocasião nós estávamos ampliando o prédio do Ginásio Apóstolo
Paulo, e vendo que o Sr. Ângelo estava custeando a obra, ajudávamo-lo, enviando alguns
sacos de cimento e tinta.
Na inauguração da nova sede localizada à rua Tamandaré nº 594, a pedido do
Presidente, foi organizada uma semana de festividades e conferências, onde vários
companheiros fizeram uso da palavra, ficando uma noite exclusiva para a Cruzada dos
Militares Espíritas, recém fundada e presidida pelo Capitão Costa Leite.
A obra foi concretizada, o Presidente Ângelo Massaro desencarnou, mas ela
continua a prestar grandes serviços à coletividade, tendo como Presidente a confreira
Maria Emília Barboni.
UM ACONTECIMENTO INÉDITO
Relutamos intimamente se deveríamos, ou não, relatar o que ocorreu num dos
Templos Evangélicos desta cidade; depois de muito meditarmos, concluímos que
deveríamos narra-lo, pois ele agitou a família espírita local, e deve contar nos anais da
história do Espiritismo Ribeirãopretano.
Corria o ano de 1939, praticamente estávamos em plena mocidade, e como todo o
jovem, não costumávamos deixar nada para o dia seguinte. A noiva de um de nosso
companheiro que pertencia a uma Igreja Evangélica, avisou o noivo, e este nos transmitiu
a notícia, de que viria da capital um ministro para realizar uma série de conferências que
arrasaria com o Espiritismo.
A par da noticia, pedimos ao jovem confrade para mandar avisar ao Ministro que
lá estaríamos para assistir as conferências e para eventuais apartes.
A notícia correu por grupos e Centros Espíritas, e no dia marcado fomos com um
grupo de companheiros. Ao entrarmos todos os lugares estavam tomados, na maioria por
espíritas, razão pela qual fomos obrigados a tomar lugar na frente.
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Iniciando a reunião, o Sr. Ministro subiu à tribuna e suas primeiras palavras foram
de advertência para que ninguém o interrompesse e que não aceitaria nenhum aparte.
Ficamos desenxabidos, mas obedecemos a ordem, engolindo à seco durante uma
hora, as inverdades, e aos absurdos proferidos pelo pregador. Terminado todo o
palavrório, levantamo-nos e delicadamente pedimos a palavra, para refutarmos os falsos
conceitos ali apresentados, e nos foi negada. Nos últimos lugares do templo, entre outros
companheiros, estava um confrade, homem simples, que levado pelo entusiasmo, gritou:
“estais com medo, chiem?"
Essa atitude não nos agradou, mas foi espontânea, e assim ficou a frase no ar;
estava dita.
O Sr. Ministro abandonou a tribuna, retirando-se do templo.
Diante da negativa, dirigimo-nos à redação do Jornal A Cidade, relatamos o
acontecimento, e em nota publicada, convidamos o povo em geral para, no dia seguinte
reunir-se no auditório da Unificação Kardecista, situada à rua Mariana Junqueira, 504,
pois iríamos refutar as falsas acusações feitas pelo Sr. Ministro. No dia marcado, o
amplo salão da Unificação Kardecista ficou lotado, e muitos evangélicos estavam
presentes, com a Bíblia nas mãos, conferindo todos os capítulos e versículos que íamos
pronunciando. A reunião foi presidida pelo Prof. Jaime Monteiro de Barros, e ali falamos
cerca de 2 horas, desfazendo com provas irrecusáveis todo o trabalho do Sr. Ministro. Ao
terminarmos, diferente da atitude do pregador evangélico, que nos negou a palavra, nós a
franqueamos a todos os presentes. Mas não houve nenhum valente que dela quisesse
fazer uso. Assim, o Prof. Jaime, após a prece de agradecimento a Deus, encerrou a
reunião.
A pessoa que nos contou que o Ministro deveria realizar uma semana de
pregações, disse-nos que ele voltou para a Capital no dia seguinte daquela noite
memorável, quando não aceitou o aparte.
FEIRA DO LIVRO ESPÍRITA
A mocidade Espírita fundada pelo inesquecível companheiro, Prof. Leopoldo
Machado, cujo Primeiro Congresso realizou-se no Rio de Janeiro, no dia 23 de julho de
1948, escreveu páginas brilhantes em todo o território nacional.
Em Ribeirão Preto, atendendo o pedido do emérito Professor Leopoldo, fundamos
a primeira Mocidade Espírita Emmanuel na década de 1947-1948, então anexa ao Centro
Espírita Eurípedes Barsanulfo, que muito tem colaborado com o movimento espírita
RibeirãoPretano. De acordo com as normas regimentais, cada Centro Espírita deveria
criar o seu Departamento de Mocidade, o que de fato aconteceu.
Assim sendo, elementos de diversas mocidades como: Pedro Teixeira Filho, Aldo
Aguillar Bianco, Sebastião Martins Moura, Nanci Ebner, José Luiz de Maio, Delcides
Furtado, José Andrade, Vicente Mendes Mundim Filho, e outros, formaram um grupo de
trabalho denominado “Grupo Espírita Cirineu”, que se reunia todos os sábados às 20
horas, na sede da Unificação Kardecista.Foi esse grupo jovem que obedecendo a
orientação do querido médium Francisco Cândido Xavier, organizou a primeira Feira do
Livro Espírita no ano de 1974, que teve por local o sub-solo do Teatro Pedro II. Dado o
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sucesso obtido, esse grupo mandou confeccionar uma barraca e passou a realizar todos os
anos, no mês de julho, e em plena Praça XV, a Feira do Livro Espírita, hoje oficializada
pelos Poderes Públicos. Durante vários anos, a feira vem funcionando sob a orientação do
mencionado grupo com grande movimento, não só da família espírita, como de
simpatizantes.
Numa das Feiras, se não nos falha a memória, a de 1975 ou 1976, ela foi
encerrada na Cava do Bosque com a presença do médium Chico Xavier, que então
autografou livros.
Nestes últimos anos, a Feira, embora continue a ser movimentada pelos jovens
espíritas, foi anexada à União Internacional Espírita de Ribeirão Preto.
Durante os 14 anos de funcionamento, a Feira vendeu 160.971 livros espíritas,
número bastante elevado, considerando que aqui existem uma Banca de Livros Espíritas e
uma Livraria, vendendo, diariamente, dezenas de livros. Aos seus idealizadores, os
nossos cumprimentos.
BANCA DO LIVRO ESPÍRITA
A Criação da Banca do Livro Espírita, é uma demonstração concreta do interesse
que o nosso povo tem pelo livro espírita, pois que somente ele, com sua profunda
filosofia imortalista é capaz de consolar os aflitos, enxugar lágrimas e aliviar dores.
Fundada em 3 de outubro de 1959, pelos confrades, João de Oliveira (Tio João),
João Engracia de Oliveira e Sebastião Martins Moura, marcou época em nossa cidade. No
primeiro ano, a Banca esteve sob o patrocínio do Sanatório Espírita Vicente de Paulo,
cuja Presidência era ocupada pelo Sr. João Engracia de Oliveira. Em 1960, ela passou a
ser orientada e dirigida pelo Jovem Sebastião Martins Moura, e inegavelmente tornou-se
um ponto de encontro dos espíritas, não só pela sua localização em ponto central, à rua
General Osório, como pela atração das obras espíritas que ali se encontravam em
exposição. Portanto, durante 28 anos, a Banca do Tiãozinho, obrigava os espíritas a parar,
ler e pensar sobre esse presente que o mundo espiritual nos enviava. No dia 15 de
fevereiro de 1988, Sebastião entregou a Banca à União Intermunicipal Espírita, que dessa
data em diante, a dirigira.
GRUPO DE EFEITOS FÍSICOS
Entre vários Departamentos, a Unificação Kardecista teve no período de 1959 a
1969, o Grupo de Efeitos Físicos, presidido pelo companheiro Dr.José Pereira Bastos, e
secretariado pelo Coronel Paulo Soares de Moura, ex-Secretário do Ministério da Guerra,
composto de 10 a 12 companheiros.
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Entre vários fenômenos que presenciamos, registramos aqui apenas um. Para a
realização de alguns fenômenos, existiam na sala alguns apetrechos, entre eles uma
vitrola elétrica e vários discos. Durante as reuniões, era comum a quebra de alguns deles.
Em uma reunião ficou acertado que cada companheiro traria um disco na próxima
vez.
Na tarde da reunião, como era de costume, fomos arrumar a cabine para o médium
elevamos o osso disco, a canção italiana “Mama”, e o colocamos no meio dos demais,
sem comunicar aos componentes do grupo. À noite, durante a reunião em total escuridão,
o Espírito assobiou a canção. Ora, nós não havíamos revelado o nome da canção, e
ninguém sabia da nossa oferta. Como foi que o espírito descobriu e nos chamou a
atenção? É um fenômeno que não se pode duvidar.
FATOS E FENÔMENOS QUE PRESENCIAMOS E QUE NOS
CONTARAM
Alexandre Gomes de Abreu foi um dos pioneiros do movimento espírita em nossa
terra, e entre outras coisas nos dizia: “Certa vez eu estava subindo a então esburacada rua
Tamandaré. Passando em frente a uma residência vi um jovem aparando a grama do
jardim, e uma senhora na janela dando orientação. Ao ver-me passar gritou para o
jardineiro:“Corra, entre, porque o Demônio está passando”, e ao mesmo tempo fechou a
janela.
Isto deve ter ocorrido pelo ano de 1910. Por aí nota-se o falso conceito de que se
fazia à cerca dos adeptos do Espiritismo.
A MEDIUNIDADE DE JOÃO RAMOS
João Batista de Oliveira Ramos, foi outro pioneiro do Espiritismo que teve a
ventura de ler a primeira edição do Livro dos Espíritos traduzido para o português.
Dotado de uma mediunidade vidente e auditiva das mais perfeitas a ponto de confundir os
desencarnados com os encarnados, contou-nos diversos fenômenos dos quais registramos
somente dois.
Dizia-nos ele: “Certa tarde estava cansado e resolvi deitar para descansar, quando
vimos um muro muito comprido e sobre ele diversas aves, urubus, em animada conversa,
a ponto de me perturbar o descanso. O diálogo entre os urubus ia crescendo a ponto de
me deixar nervoso, quando um dele disse: Olha, vamos embora porque o homem está
nervoso e pode pegar uma espingarda e nos atirar. Assim se retiraram e me deixaram em
paz”.
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OUTRO FENÕMENO
Outro fato interessante que o Sr. João Ramos nos contou, foi o seguinte: Dizia-nos
ele que estava subindo a rua General Osório. Ao atravessar a rua Amador Bueno, uma
família, pais e filhos, vinham em sentido contrário, ocupando toda a calçada.
Ele por educação desceu à sarjeta; todos o cumprimentaram sorridentes.Ele tornou
a subir para a calçada. Olhando para trás não viu mais ninguém. Tratava-se de um tipo de
mediunidade que o estava perturbando, razão porque orou muito e pediu a Deus para que
ela fosse afastada.
João Ramos desencarnou com 90 anos e em plena lucidez.
UM FATO PARA RIR
O Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo ainda tinha a sua sede à rua Álvares
Cabral e era presidido pelo velho companheiro Cândido Pinto Valada. Nós éramos jovens
e estávamos numa sessão comemorativa, quando um dos médiuns quase fascinado,
chamou a atenção do presidente, pois via Joana D’Arc, com seu cavalo branco, entrando
pelo salão até à mesa dos trabalhos.
O Sr. Cândido, homem sensato, estudioso e convicto, com toda a sua humildade
disse-lhe: “Ora, será que ela não podia deixar o cavalo lá fora”? A risada foi geral.
UM FENÔMENO COMPROVADO
Estávamos numa reunião festiva, sentado ao lado de um médico amigo, antiespírita, muito embora tivesse uma filha jovem atormentada por espíritos malignos, que
era periodicamente levada pela genitora ao Centro, para tomar passes.
Entre o saborear de um doce e um refrigerante, disse-nos o médico: “Papa, você
sabe que eu sempre caçoei do Espiritismo, mas agora não caçôo mais. Veja o que me
aconteceu:
Um dia operei um senhor de uma úlcera, operação perfeita.
A tarde fiz a visita ao operado e encontrei-o com um forte soluço, que muito me
preocupou. Receitei e fui para casa, mas durante a noite não dormi pensando no cliente.
No dia seguinte logo cedo visitei-o e o soluço continuava. Por essa razão fiz nova
receita. À tarde nova visita, e o soluço permanecia.Eu tinha esgotado todos os recursos,
fazendo aí a terceira receita. À noite não conseguia conciliar o sono pensando no meu
cliente. Sou muito devoto de Santo Antonio e para ele fiz uma oração pedindo sua ajuda;
terminada a oração dormi.
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No dia seguinte pela manhã fui ao hospital e ao entrar no quarto do operado, ele levantou
os braços e me disse: Doutor aquele padre que o senhor mandou benzeu-me e eu sarei do
soluço. Não me lembrando do pedido anterior, perguntei: Mau eu mandei o Padre?
Ele com toda a simplicidade disse: mandou sim, Doutor! Ele me falou que foi o
senhor quem o mandou. E passou a descrever o tipo do padre, que inegavelmente batia
com a aparência de Santo Antonio. Por isso, amigo Papa, eu continuo católico, mas não
caçôo mais do Espiritismo.
UM FENÔMENO QUE ME IMPRESSIONOU
O ano de 1945 assinalou o fim da Segunda Guerra Mundial. Nós estávamos
presidindo a costumeira sessão de segunda-feira no Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo,
quando em dado momento, através de um médium que tinha pouco convívio com os
companheiros, portanto quase um estranho, manifestou-se um espírito em estado de
desespero, gritando e chorando. Como é nosso costume, procuramos acalma-lo e orientalo, e ele respondeu-nos dizendo aos gritos: Eu não sei de nada, não vejo nada porque sou
cega, eu só ouvi uma voz que me disse: vai ao Centro Eurípedes Barsanulfo, porque o
Presidente de lá é seu primo. Diante dessa revelação, quase desmaiamos. No entanto,
naquele momento, retrocedemos no passado e lembramo-nos de que, na Itália, tínhamos
duas primas que nasceram cegas. Quando viemos para o Brasil tínhamos 7 anos
incompletos e a lembrança das primas cegas praticamente havia desaparecido.Por
parentes fomos informados que após a morte dos genitores, as duas crianças cegas
haviam sido internadas numa Casa de Crianças órfãs e cegas na cidade de Nápoles.
Quando os aliados invadiram a Itália, que estava sob o domínio alemão, houve um
grande bombardeio anunciado pelos jornais dizendo que as bombas atingiram, entre
outros locais, um Asilo de Crianças cegas. Foi precisamente nesse bombardeio que nossa
prima faleceu. E atraída naturalmente por nossa afinidade, manifestou-se em nossa
reunião. Agora perguntamos: Quem teria feito essa revelação ao médium, o qual mal
conhecíamos, e que nós mesmos já não nos lembrávamos mais?
Pode-se duvidar de um fenômeno dessa natureza?
JOÃO PERUJO
João Perujo foi o maior médium curador e vidente que conhecemos na nossa
infância, e foi o elemento que nos conduziu ao Espiritismo. A sua senhora, A Dna
Fraquita (Francisca) nos contava vários fenômenos que se realizavam por seu intermédio.
Dizia-nos que era comum à noite, levantar-se e escrever páginas de papel assinadas por
São Vicente de Paulo. Nós, sem sabermos o que era aquilo, julgávamos que ele estava
enlouquecendo.
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Certo dia, recebemos da Federação Espírita de Paris, uma carta pedindo a
fotografia do João. Espantamos porque na França não conhecíamos ninguém. Em virtude
da assistência do pedido resolvemos satisfaze-los, ela foi o João de gravata e paletó para
ser fotografado. Passados 8 dias fui busca-la e o fotógrafo não quis nos entregar a
fotografia.Disse que a foto saíra com defeito, que entrou ar na objetiva, e que ele havia
saído ladeado de cruzes e outros vultos. Tirou nova fotografia, e quando fui busca-la
apresentava os mesmos defeitos. Tirou uma terceira fotografia. Quando fui busca-la tanto
ele como o fotógrafo viram que a mesma mostrava as mesmas sombras, cruzes e vultos
em forma de anjos que o ladeavam.
Foi mandada uma daquelas fotos para a França, atendendo ao pedido que lhe
faziam, e o João ficou com uma cópia.
Com o seu de desencarne, essa fotografia desapareceu deixando toda a família
preocupada. Certa noite o espírito do João apareceu deixando toda a família
preocupada.Certa noite o espírito do João apareceu para a filha Gertrudes, que era
médium vidente e auditiva, e mostrou-lhe onde estava a foto pedindo que ela nos fosse
entregue. Essa foto, no quadro, encontrava-se na Secretaria da Unificação Kardecista.
Muito embora a ação do tempo (perto de 60 anos) e tenha desgastado, ainda se percebe
nitidamente os vultos e as cruzes que o ladeiam.
Esse é um fenômeno não muito comum, mas é realmente valoroso, quando as
pessoas o merecem.
COMPANHEIROS ILUSTRES
Companheiros ilustres que honraram as famílias Espíritas, e que por aqui passram
nas décadas de 1935 a 1955.

Dr. Pedro Lameira de Andrade, advogado, jornalista membro da Federação
Espírita Paulista e orador dos mais eloqüentes.

Prof. Leopoldo Machado, escritor, jornalista, poeta, conferencista e fundador do
Ginásio Leopoldo de Nova Iguaçu.

Pedro de Camargo (Vinícius), escritor e conferencista atraente, residente na
cidade de Piracicaba.

Gaetano Mero, Presidente da União Federativa de São Paulo, conferencista e
fundador da Rádio Piratininga, a Rádio dos Espíritas.

Carlos Jordão da Silva, industrial, conferencista e Presidente da Federação
Espírita Paulista.

Dr. Ary Lex, médico em São Paulo, conferencista que fez a saudação aos
formandos de medicina da Faculdade de Ribeirão Preto no ano de 1963, ocasião
em que coloram grau 12 jovens espíritas entre eles o nosso filho Marcos.

Prof. Emílio Manso Vieira, grande tribuno e Membro da Federação Espírita
Paulista.

Dr. Antonio D’Angelo, advogado em São Paulo, escritor e conferencista.

Dr. Roberto Previdello, gerente do Banco do Brasil de Bauru, conferencista e
Presidente da União Municipal Espírita.
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Dr. Inácio Ferreira, médico em Uberaba, escritor, conferencista e Diretor do
Sanatório Espírita daquela cidade.
José Russo, escritor, jornalista, conferencista e Diretor da Casa de Saúde Allan
Kardec da cidade de Franca.
Dr. Pereira Brasil, poeta, jornalista, conferencista e Juiz de Direito na cidade de
Rio Preto.
General Duque Estrada, conferencista e Presidente da Cruzada dos Militares de
São Paulo.
Prof.Anselmo Gomes, verdadeiro poliglota e conferencista, residente na cidade de
Bebedouro.
Dr. Tomaz Novelino, médico na cidade de Franca, conferencista e fundador
Diretor do Educandário Pestalozzi.
Dr. Ângelo Morato, inspetor odontológico, escritor, poeta, jornalista e
conferencista admirado.
Hamilton Wilsom, irmão carnal de Eurípedes Barsanulfo, poeta, e conferencista
dos mais admirados.
José Peres Castigliano, jornalista em São João da Boa Vista, e entusiasmado
conferencista.
José Marques Garcia, fundador da Casa de Saúde Allan Kardec, de Franca, e
conferencista.
Zilda Gama, médium psicografa, residente em Belo Horizonte. Por seu
intermédio, o espírito de Victor Hugo ditou os romances, “Do Calvário ao
infinito”, “Na Sombra e na Luz”, Redenção” e outros.
Romeu de Campos Vergal, Deputado Federal, escritor e conferencista dos mais
procurados.
Profa. Corina Novelino, conferencista, escritora e Diretora do Lar de Eurípedes
em Sacramento.
Dr. Clóvis Tavares, escritor residente em Belo Horizonte, poeta, conferencista e
tradutor.
Prof.Pietro Ubaldi, residente em Gubio, Itália, conferencista, escritor, autor da
importante obra “A Grande Síntese”.
Batista Lino, conferencista, editor e proprietário da Livraria Allan Kardec em São
Paulo.
Odilon Ferreira, jornalista em Uberlândia, escritor e conferencista.
Coronel Genésio Nitrini, conferencista e ex-Comandante da Polícia Militar de
Campinas
Dr.Souza Ribeiro, médico em Campinas, jornalista, conferencista e grande
polemista.
João Leão Pita, conferencista e representante do Jornal “O Clarim”, editado em
Matão.
Francisco Amadeu, conferencista e representante do Jornal Aurora, editado no Rio
de Janeiro.
João Cândido, médium, de extraordinários poderes e que por seu intermédio,
manifestavam-se espíritos de alto conhecimento.
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Dr. Carlos Steagal, Cirurgião Dentista em Santa Bárbara d’Oeste, grande
colaborador e conferencista dedicado.
Capitão Castro Carvalho, médico junto à Assembléia Legislativa do Estado de
São Paulo. Autor do projeto que reconheceu a Unificação Kardecista, como de
Utilidade Pública.
Dr. Wilson Ferreira de Mello, médico residente em Barretos, poeta, escritor e
conferencista dos mais requisitados.
Onofre Batista, um dos idealizadores do Sanatório Espírita Américo Bairral, de
Itapira, e conferencista apreciado.
Leonardo Severino, poeta, jornalista e conferencista, representante da Revista
Internacional de Matão.
Anália Franco, a professorinha que andava pelas ruas do Rio e São Paulo, sempre
rodeada de crianças, brancas e negras, e que para todas foi uma verdadeira mãe.
Passou por Ribeirão Preto no ano de 1918. Lembramo-nos de que se hospedou
numa velha casa situada à Rua Álvares Cabral, esquina de Duque de Caxias. Junto
com Dna Clélia fundou o Asilo Anália Franco. Por muito tempo a nossa irmã
Rachel ia lá uma vez por semana, ensinar as crianças a fazer flores artificiais.
Deolindo Amorim, jornalista, escritor, autor de várias obras e conferencista dos
mais abalizados.
Carlos de Brito Imbassahy, engenheiro, escritor, jornalista e conferencista, filho
de renomado escritor, Carlos Imbassahy.
Gustavo Marcondes, alto funcionário do Banco do Brasil, verdadeiro Apóstolo da
Cultura, fundador da antiga Escola e Biblioteca dos Pobres, conferencista de
renome, fundador do Centro Espírita Allan Kardec e do Lar de Eurípedes em
Campinas, onde residiu por longos anos.
Maria da Cruz, colaboradora de Eurípedes Barsanulfo em Sacramento, e
trabalhadora incansável na Seara do Mestre Jesus.
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Há cerca de 40 anos, a convite do companheiro e poeta José Soares Cardoso, veio
pela primeira vez em Ribeirão Preto, o então jovem Divaldo Pereira Franco, que falou
para a Mocidade Espírita Emmanuel, na Sede do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo.
Sua palavra inflamada e eloqüente bem demonstrava o brilhante futuro que o aguardava
dentro da Seara Espírita. O notável tribuno baiano retornou dezenas de vezes.
É pois com muito orgulho que o temos na galeria dos grandes vultos da Doutrina
Espírita que passaram por esta cidade.
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CHICO XAVIER
Ribeirão Preto sempre foi uma cidade privilegiada em seus diversos campos de
atividades, principalmente no da espiritualidade e da filantropia; se de um lado tivemos
um Padre Euclides que foi um verdadeiro Apóstolo de Cristo e se desdobrava em amor e
caridade, e isso o demonstrou no seu inesquecível encontro em 1918 com a educadora
Anália Franco; por outro lado, destacamos a figura ímpar de Francisco Cândido Xavier.
Foi precisamente no dia 20 de fevereiro de 1972, que a nossa querida Ribeirão
Preto recebeu a visita do médium de renome internacional, Francisco Cândido Xavier.
A noite, no Ginásio da Cava do Bosque, perante uma assistência calculada em dez
mil pessoas, Chico Xavier recebia o mais alto galardão: Cidadão Honorário de Ribeirão
Preto, conferido pelos Poderes Públicos, numa propositura do então Vereador Antonio de
Carvalho. Na sessão solene presidida pelo nobre Vereador Dr.Marcelino Romano
Machado, tivemos a ventura de colocar na lapela do homenageado, o Brasão da Cidade.
Durante 2 dias, Chico foi nosso hóspede, deixando em nossa residência, um banho
de luz e de fluidos benéficos. Chico visitou várias instituições espíritas, e fez também
uma visita aos detentos da Cadeia local, levando aos nossos irmãos encarcerados, um
pouco de alegria e de conforto espiritual.
Ainda no dia 20, no período da manhã, Chico esteve na sede da Unificação
Kardecista, em uma memorável sessão por nós presidida, e perante uma multidão que
superlotou o amplo salão, o médium psicografou um poema do poeta Ribeirãopretano
Ricardo Gonçalves, que transcrevemos a seguir:
RIBEIRÃO PRETO
Ribeirão Preto! ... O céu que se anila e engrinalda,
Para o carro solar que avança em resplendores,
Reinando sobre o campo em festa de esmeralda,
Adornando de flores!...
Revejo contigo... A memória desvenda,
A pompa em que surgiste ao menino que eu era,
O júbilo da praça, o brilho da fazenda.
O solo em primavera.
Corro a sorver-te a paz das manhãs harmoniosas...
Em torno, os cafezais engastando rubis,
Ouço malhas batendo e vejo a gleba em rosas!...
É a cidade feliz.
Hoje, entre arranha-céus, ante a própria conquista.
Fulges galgando espaço em ritmo seguro,
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Esplêndido florão da grandeza paulista,
Indicando o futuro.
A vida estenda ao mundo a paz que te descerra,
Cânticos de ascensão que o teu progresso então,
Ribeirão Preto em luz, terra da minha terra,
Deus te exalte e abençoe!...
NOTA FINAL  AGRADECIMENTO
Quando, em nossa infância, assistíamos embevecidos às manifestações e as
consoladoras mensagens ditadas por aqueles que já haviam se transferido par ao além da
campa, jamais poderíamos pensar que o futuro nos havia reservado uma tarefa que
deveríamos cumprir à risca.
Não cursamos academias, aprendemos a malhar e moldar ferro incandescente, no
entanto, o mundo Espiritual nos transformou em pregador evangélico, em escritor, em
polemista, em teatrólogo, e agora, no fim da nossa jornada, em historiador dos primeiros
acontecimentos espíritas de nossa cidade.
Com este trabalho, temos a impressão de termos completado na terra a nossa
tarefa, embora não possamos e nem devamos, julga-la. Fizemos o que estava no nosso
alcance, e o que a nossa memória conseguiu gravar durante mais de 60 anos de atividades
espíritas. É com muito carinho que dedicamos esse trabalho à nossa esposa, Dona
Albertina, que há 55 anos nos acompanha nesta luta, ora na assistência social, ora no
Salão de Corte e Costura, ora na Direção dos Trabalhos Mediúnicos. Com muito afeto o
dedicamos aos nossos filhos Vera Lúcia, Marcos Vinícius e Elizabete, valiosos presentes
que recebemos do céu, que tiveram um berço espírita, e que com muito amor souberam
honrá-lo.
Dedicamos também aos nossos companheiros da Unificação Kardecista que
sempre nos prestigiaram e nos estimularam para a continuidade do trabalho. Dedicamos
também aos jovens companheiros: Aldo Aguillar Bianco, Eduardo Pereira, Pedro
Teixeira Filho (o Pedrinho), Dra. Fernanda Ripamonte, que muito se empenharam e nos
estimularam para a realização desta obra. Registramos aqui os nossos agradecimentos à
dedicada confreira Vicentina Benedicta de Mello, que graciosamente prontificou-se a
datilografar este nosso trabalho, visto ter sido ela também a nossa revisora, pois lhe
entregamos os simples manuscritos, e ela nos devolvia datilografados.
Ao terminarmos este relato, agradecemos ao céu que nos iluminou, aos nossos
Mestres da Espiritualidade, os quais, apesar dos nossos 81 anos fortificaram-nos com
seus fluidos benéficos, reavivando a nossa memória, para que assim pudéssemos realizar
este histórico, cujo único objetivo, é o de deixar para a nova geração, os dados dos
primeiros acontecimentos espíritas em nossa cidade.Além das Sociedades aqui
registradas e que inegavelmente ficaram o marco inicial do movimento espírita, outras
entidades surgiram depois e cujo histórico é mais conhecido, por serem recentes, e o seu
trabalho benemérito vive na alma e no coração de cada espírita. Todas elas estão
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desempenhando importante papel na Seara Espírita, onde cada seareiro tem sua função. É
pois com satisfação que as mencionamos neste histórico. São elas:
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Centro Espírita Santo Agostinho  Rua João Ramalho, 1224.
Centro Espírita Donzela de Orleans  Rua Paraná, 1153.
Centro Espírita Pai Jacó dos Santos  Rua Barão de Mauá, 188.
Centro Espírita Allan Kardec  Rua Monte Alverne, 667.
Centro Espírita Apóstolo Pedro  Rua Jorge Velho, 59.
Centro Espírita P.Francisco de Assis  Rua Anada Amado, 343.
Centro Espírita Fonte Viva  Rua Sacadura Cabral, 832.
Centro Espírita Mariano do Nascimento  Rua Albuquerque Lins, 516.
Centro Espírita Obreiros do Bem  rua Bernardino de Campos, 396.
Centro Espírita Izabel S.de Morais  Rua Visconde de Inhomerim, 19.
Centro Espírita Antonio de Pádua  Rua Vital Brasil, 810.
Centro Espírita Amor e Redenção  Rua Cel. Luiz da Cunha, 135.
Centro Espírita Maria de Nazareth  Rua romano Coro, 226.
Sociedade B. de Estudos Psíquicos Bezerra de Menezes  Rua Francisco de
Assis, 145.
Sociedade Espírita 25 de Dezembro  Rua Espírito Santo, 3093.
Sociedade Espírita Joana de Angelis  Rua Nilo Peçanha, 77.
Sociedade Beneficente Milton Mattos  Rua Pará, 1603.
Distribuidora de Pães aos Pobres  Rua João Ribeiro, 911.
Creche Pingo de Leite  Av. Lusitânia, 710.
Casa Emmanuel B. de Paz  Rua Clemente Santilli, 56.
Na polêmica que tivemos com o Padre Gonzáles, em 1937, publicamos uma série
de artigos, sendo que alguns deles foram quase inutilizados pela ação do tempo.
Os que estamos aproveitando, alguns trechos também estão ilegíveis, mas
procuramos reconstituí-los, razão porque o leitor amigo relevará algumas falhas que
porventura apresentem.
No entanto, temos a certeza de que saberá avaliar o nosso trabalho realizado numa
época em que o clero ainda dominava os incautos, como nos tempos da inquisição.
O ESPIRITISMO E O PADRE GONZALES*
Quando deixará de ser ridicularizada ou perseguida a Verdade, que contrapõe
diques a erros e abusos inveterados?
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*Artigo publicado no Jornal “A Cidade”, de 1º de novembro de 1937 e de 4 de dezembro
de 1937
51
Quando terá a Verdade, entre os homens, a passagem ampla e a liberdade de agir
de conformidade com seus predicados?
Perguntamos ainda: quando baixará ela ao seio da humanidade, sem que esta,
voltando-se toda empavonada, não a expulse, não a devore nas chamas da fogueira, não a
prenda em calabouços? Até o presente momento não podemos registrar um fato sequer,
de ter sido esta parcela Divina recebida com carinho e apreço pelos homens.
A Verdade não se amolda a caprichos de quem quer que seja, não usa duas
túnicas, nem se deixa levar por interesses egoísticos do materialismo; age por conta
própria e tem certeza de que a vitória é sua.
O Espiritismo, esta chama Divina, portadora das verdades de Além Túmulo, é a
síntese mais perfeita e a filosofia mais racional, capaz de dar ao homem uma diretriz
segura e perfeita da vida espiritual. Os seus ensinamentos robustos e cheios de amor
Divino, possuem em si a alavanca poderosa da transformação da humanidade.
Os espíritos do Senhor, que são as virtudes dos céus, qual imenso exército que se
põe em marcha, desde que para isso receba ordens, espalham-se sobre toda a superfície
da Terra, a fim de prevenir o homem que é chegado o tempo em que todas as coisas
devem ser restabelecidas em seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os
orgulhosos e glorificar os justos.
Eis que o Espiritismo, sendo a Verdade emanada do céu, não pode ter recepção
melhor do que tiveram suas companheiras, e por isso está sendo perseguido e
achincalhado por aqueles que, cegos pelo interesse e pelo fanatismo, não podem e não
estão em condições de serem iluminadas por este fogo sagrado. De uma coisa tenhamos
certeza: a ignorância é a causa de todos os males e ela jamais salvará alguém.
A maior parte da humanidade tem cabeça como adorno do corpo, e recusa-se a
raciocinar por estranho comodismo, deixando-se levar por cérebros alheios.
Quando, na pira do tempo, a evolução queimar as grilhetas do medo, o homem se
libertará da escravidão mental em que vive e passará a ser liberto; cantará a sublime
canção do nosso Rui:
“Oh! Liberdade, tu não és a chama do saque, tu és o Anjo da Paz!”
Os ataques ao Espiritismo têm aumentado de maneira assombrosa. Enquanto uns
procuram impedir-lhe a marcha por meio de combate cerrado de coisas impróprias ao
século XX, outros há que, conhecedores destas verdades, procuram demonstrar por A
mais B a lógica da doutrina dos Espíritos.
Entre muitos que atacam o Espiritismo tem-se sobressaído o Reverendo Gonzáles,
que muita coisa disse contra o Espiritismo mas nada provou, pois sempre que tentou
provar por cérebro alheio, foi sempre desmantelado pela pena brilhante do nosso confrade
Dr. Imbassahy (vide Reformador de 1-11-37).
Francamente, quando saímos a campo para polemizar com o Reverendo,
julgávamos estar na presença de um polemista razoável e idealista, mas na série dos seus
artigos, por nós estudados convencemo-nos do contrário. O nosso antagonista, que a
cerca de três meses vem descarregando ataques contra o Espiritismo, tem-nos convencido
que não passa de um transcritor de coisas velhas, pois não nos foi possível, até o
momento, apreciar uma argumentação sua, uma idéia racional, uma lógica criteriosa.
Desvia-se sempre para a parte do achincalhamento, do fazer pouco, de pisar sobre a
individualidade que escreve e nunca teve coragem de refutar uma só de nossas
concepções doutrinárias.
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Ainda ontem, li a resposta que deu ao meu último artigo publicado no jornal “A
Cidade”.
Não esperava por outra coisa, pois já sabia, de antemão, que ia tratar-me como lhe
é de costume. Injuriou muito, enfureceu-se, enfim, disse um amontoado de asneiras e não
teve a coragem necessária, o mínimo saber que se requer para refutar uma só das
concepções que lhe apresentei. Ótimo polemista o Reverendo!. Não sabendo raciocinar,
dá “patadas” a valer, sendo só o que ele sabe fazer. Ainda mais: ficou enfurecido pelo
simples fato de eu chamá-lo “vivedor” (que se serve) do Evangelho. Continuo na mesma
afirmativa, enquanto o Reverendo não provar o contrário.
NOTA: O pseudo jornalista, de frases primitivas, não está à altura de argumentar
ao nosso lado, pois colocamos, acima de tudo, o ideal sublime da doutrina e não tratamos
de individualidades. Temos a dizer que não voltaremos mais à campo enquanto não nos
responder tudo quanto lhe perguntamos. Responder com lógica e com princípios de
civilidade, ferindo unicamente questões doutrinárias. Afirmamos que, se assim não
proceder, está provada a incompetência de sua parte na discussão de doutrina tão elevada.
Esperamos, pois, que o Reverendo se revista de modéstia e trate melhor o seu
semelhante, para dar prova que é um verdadeiro ministro de Deus.
Para terminar pergunto à V.Revma (o que peço responder sem usar sofismas ou
subterfúgios): QUAL É O OBIETIVO DA RELIGIÃO QUE PROFESSA?
O REVERENDO GONZALES E O ESPIRITISMO*
José Papa
Ainda uma vez aqui estamos, frente a frente ao Reverendo Gonzáles, num desejo
de trazermos luz a uma contenda que está sendo travada entre o representante do clero e o
espiritismo. Não quero desta vez refutar os fatos ventilados pelo Reverendo, na série já
longa de seus artigos, mesmo porque conforme afirmei em meu último artigo publicado
no “Correio d’Oeste”, em 26 do corrente, os ditos fatos nada têm a ver com o Espiritismo,
pois são todos eles obra de prestidigitadores célebres e ilusionistas teatrais.
Aquele que deseja saber o gosto de uma determinada água precisa naturalmente
bebê-la. Um cego não pode apreciar os vários efeitos da luz, nem o surdo pode ser
deleitar com os sons harmoniosos da música.
Isto tudo é essencialmente lógico, razoável e justo. Ora, o Reverendo Gonzáles,
tencionando liquidar com o Espiritismo, tem por real obrigação e necessidade, saber o
que anda dizendo, isto é, tem que demonstrar por A mais B, em que ponto o Espiritismo
lhe parece falho. Mas, para tanto, não pode e nem deve basear-se em personalidades e
fatos que, de Espiritismo, só tem nome. Deve, antes de tudo, ir à fonte da doutrina
naquilo que ela apresenta como conceitos fundamentais.
____________________________
*Artigo publicado no Jornal “A Cidade”, de 18 de novembro de 1937
53
Onde reside, para os espiritistas contemporâneos, a base de toda concepção
espírita? Qual foi a criatura incumbida de codificar o Espiritismo no século passado?
Allan Kardec, esse espírito de escol, o bom senso encarnado, no dizer de Leon Denis,
tomou sobre seus ombros essa missão. Portanto, suas obras, portadoras reais das verdades
de Além Túmulo, contém as bases fundamentais da Doutrina dos Espíritos, sobressaindose a obra ditada pelos espíritos: O Livro dos Espíritos.
Quero concluir, pois, que o Reverendo Gonzáles deve, em primeiro lugar, dirigirse resoluto e sem idéias preconcebidas à codificação do Espiritismo, às obras de Allan
Kardec, para obter assim a sua própria opinião. Só depois disso é que poderá surgir a
campo, acompanhado da necessária documentação para só depois tentar refutar a filosofia
e amoral espiritista, demonstrando com uma moral mais elevada (se for capaz) o erro do
Espiritismo.
Até hoje não surgiu criatura alguma que, tendo compulsado as obras de Allan
Kardec, possa demonstrar sua inverdade através de uma filosofia mais racional e mais
cristã.
Vai agora tentar o Reverendo Gonzáles. Estamos certos de que, depois de estudar,
medir com bom senso a moral e a concepção espiritista, com referência a todos os atos da
vida da criatura humana, o Reverendo Gonzáles irá chegar, como nós todos,os sinceros
espiritistas, a estas sublimes considerações que constituem o próprio Espiritismo: a) a
existência de um único e verdadeiro Deus, Pai de todas as criaturas; b) a existência da
alma eternamente evolutiva através das suas múltiplas reencarnações tanto neste como
em outros planos incontáveis no Universo; é o único meio de se aproximar Deus de sua
criaturas; c) a supremacia da lei do amor abrangendo em seu seio toda a justiça e toda a
moral; é a única esperança de se ver realizada na Terra a fraternidade do Cristo; d) o
Espiritismo não é lei de compensações, mas de responsabilidade profunda e de
compromissos intensos. Nele não há ressentimentos nem promessas de dores, o que há, e
sempre há de haver, é o ensinamento aliado à consolação, a verdade de permeio com a
doçura e nunca alegações quaisquer, mesmo ocultas, porque o aflito de tudo necessita,
menos de mais aflições; e) o insucesso ou o êxito nas relações com os desencarnados está
na razão direta do caráter de quem perquire, visto ser positiva a lei de atração dos
semelhantes; f) finalmente, os espíritos de luz não permitem as frivolidades e ganâncias
dos homens, nem desviam a reta das provas traçadas aos homens; eles esclarecem-nos
apontando as conseqüências dos erros; ensinam a viver uma vida pura e santa
esclarecendo-nos que, para tal, é necessário estar sempre sob o pendão da moralidade e
sob a meditação sublime do amor a Deus.
Terminando pergunto: onde se oculta o motivo de combater uma doutrina tão
cristã? (Repito ainda o que publiquei no “Correio d’Oeste”). “Só os que se sentem
prejudicados no seu meio de vida é que procuram ataca-la, pois o Espiritismo não admite
sacerdotes remunerados, nem que estes cobrem pelas preces que fazem. No Espiritismo
todos trabalham e ganham o pão com o suor do seu rosto. (Gêneses c. 3 v 19). Esta é a
lei. Portanto, só os “vivedores” do Evangelho é que procuram aniquilar este empecilho, o
Espiritismo, que os obriga a fazer jus às suas responsabilidades.
54
O ESPIRITISMO E O PADRE GONZALES*
José Papa
Leitor amigo: em meu último artigo prometi não voltar mais a campo, enquanto o
nosso contendor não respondesse aos nossos argumentos. Não deveria, pois, voltar, visto
que o senhor Reverendo pouco ou nada disse a respeito. Porém, peço permissão para
voltar novamente, a fim de elucidar algumas passagens ventiladas por Sua
Reverendíssima.
Pergunto: quem desafiou os espíritas do Brasil? Quem começou a atacar de
maneira vergonhosa o Espiritismo? O Reverendo, naturalmente! Vejo então que o
qualificativo de intruso está melhor para o senhor vigário, que foi o primeiro a insultar
quem estava quieto.Eu não fiz mais do que meu dever: defender a doutrina de que faço
parte.
Para o senhor Reverendo, Ciência, só é aquela que hoje apresenta teoria e amanhã
é arrasada pela evolução. (Ciência, é um conjunto de leis imutáveis, que estudam
metodicamente uma determinada categoria de fenômenos, tendo em vista a previsão. O
Espiritismo é a ciência que estuda a generalidade dos fenômenos da vida no conjunto
universal; é a ciência-máter donde emanam todas as outras). Ciência é só aquela que
atravessa os séculos sem sofrer modificações. Uma idéia científica nem sempre é logo
aceita pela maioria. Galileu apresentou a idéia da rotação da terra. Todos negaram-lhe a
afirmativa, obrigando-o, a retratar-se. Galileu retratou-se, mas nem por isso a terra
permanece imóvel.
As leis do Espiritismo atravessam séculos, pois são imutáveis, porque imutáveis
são as leis de Deus.
“O Espiritismo não é religião; como religião, baseia-se na crença de que as almas
dos defuntos comunicam-se conosco por intermédio de pessoas especiais, chamadas
médiuns”. Ora, diz o Reverendo: “tudo isso é pura falcatrua, conforme demonstrou-se até
hoje com fatos insuspeitos e irrecusáveis”. O espiritismo é religião, porque tem Deus
como princípio.
Religião só é aquela que une o amor de Deus para com o homem e o amor do
homem para com Deus.
Então, o Reverendo, tentou provar que os defuntos não se comunicam! Tem
certeza? Deixamos de apresentar, aqui, fatos provados cientificamente por William
Crockes, Lombroso, Flamarion, Charles Richet, Bozzano, Oliver Lodge e tantos outros,
pois estes ao seu ver, são ingênuos, retardados, simplórios, bisonhos da ciência
(gonzalesca), mas vamos aos defuntos do Evangelho: Moisés e Elias no Tabor, os dois
varões à Madalena, os espíritos imundos que a toda hora se deparavam com o Mestre, a
volta do Cristo ao Cenáculo e outros mais que os há. Que me responde a esse respeito?
Não são espíritos de defuntos? Então de quem são?
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*Artigo publicado no Jornal “A Cidade”, de 12 de dezembro de 1937
55
Agora vou lhe apresentar mais um “espírito de defunto”. Com a palavra, o
príncipe das letras brasileiras, Coelho Netto. “De repente numa decisão entrei no
escritório, desmontei lentamente o fone do aparelho apliquei o ouvido e ouvi. Ouvi meu
amigo. Ouvi minha neta. Reconheci-lhe a voz que me impressionou, que me fez sorrir e
chorar, senão o que ela dizia. Ainda que eu duvidasse, com toda a minha incredulidade,
havia de convencer-me, tais eras as referências, as alusões que a pequena voz do Além
fazia de fatos e incidentes tão bem conhecidos por nós.
Mistificação? E que mistificador seria esse que conhecia episódios ignorados de
nós mesmos, passados na mais estreita intimidade entre mão e filha? Não!. Era ela a
minha neta, ou antes: a sua alma verdadeira que se comunicava daquele modo com o
coração materno levantando-o da dor em que jazia, para a consolação suprema.
“Ouvi toda a conversa e compreendi que nós estamos nos aproximando da grande
Era. O finito defronta o infinito e as fronteiras que separam as almas já se comunicam. E
eis como me converti; eis porque te disse que a minha estrada de Damasco foi o
escritório, onde, se não fui deslumbrado pelo fogo celeste, ouvi a voz do céu, voz vinda
do Além, da outra vida, do mundo da perfeição” (Contos da vida e da morte, de Coelho
Netto).
Então, o senhor Reverendo, que tal? Só falta o Reverendo dizer que Coelho Netto
era um bobo.
Disse mais o cabotino reverendo: “para saber se o Espiritismo é uma verdade ou
produto da superstição e impostura, o meio mais seguro é fazer experiências próprias –
Catecismo Espírita, pág. 55.
Em primeiro lugar pergunto-lhe: quando é que o reverendo fez experiência
própria? Quando foi que se reuniu aos sacerdotes para fazer experiências a respeito?
Vamos ao termo “cabotino” que é o mesmo que cômico ambulante, mau
comediante e outras coisas mais.
Não acham, os leitores, que este termo é muito bem aplicado aos padres? Pois são
eles que fantasiam com certa roupagem preta e percorrem esse mundo afora para
extorquir dinheiro às custas de suas comédias. E que maus comediantes são eles!
Inventam uma porção de aparatos para suas cenas, e nem assim, conquistaram a simpatia
dos assistentes. Tenha pois, o senhor vigário, a bondade de ingerir mais essa pílula, e que
faça boa digestão.
Mais ainda, nos diz o padre: “Porque os Kardecistas não trabalham em plena luz
do dia”? Aí vai a resposta:
Se o Reverendo quisesse sair desse cubículo infecto da sacristia e do
confessionário e dar umas voltas logo pela manhã a tomar o ar puro, haveria de ver lá
pelas bandas da rua Visconde do Rio Branco, esquina com Cerqueira César, uma
oficinazinha de aspecto humilde e nela o signatário destas linhas a repicar com o martelo
na bigorna, no harmonioso tom, cantando a honradez do operário, ganhando o pão com o
suor do seu rosto.; E se não estiver cansado depois de jantar vá fazer o “quilo” dando um
passeio defronte à Empresa Força e Luz e há de ver o mesmo operário da manhã, num
salão de portas bem escancaradas, cumprindo a ordem do Mestre: “Ide e pregai o
Evangelho”. É assim que procedem os Espiritistas.Eis porque ilustre Reverendo, os
espiritistas não podem trabalhar durante o dia. Porque eles não vivem de indulgências,
nem de missas, trabalham para ganhar a vida, porque o trabalho é a prece perene da
criatura ao Criador, é uma benção de Deus.
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A Igreja trabalha às claras, diz sua reverendíssima. Protestamos, com a sua
história na mão e diante dos fatos! Protestamos folheando “História dos Papas”,
folheando Castilho em “História das Perseguições Religiosas na Europa”, lendo Emílio
Bossi em “A Igreja e a Liberdade” e tantos outros. E nem pode fazer tudo às claras a
entidade que responde a certas perguntas com a palavra: “Mistério!” A entidade que vive
apertada entre dogmas humanos contrários à razão, aos Evangelhos, à ciência e ao
raciocínio. Não pode fazer tudo às claras a entidade que tem lugares escusos, como
sacristia, confessionário, criptas, conventos, etc, etc...
O termo: bestunto, aplicado por sua Reverendíssima, melhor aplicação teria para a
sua paróquia, que vive numa eterna paralisia, rezando sempre pela mesma cartilha.
E agora, lá vem a última:
O objetivo da Igreja do senhor vigário. Vamos ver: “Difundir a verdade e
desmascarar a mentira, ensinar os ignorantes e perdoar os seus gratuitos perseguidores”.,
Vamos aos miolos disso tudo.
Quando é que a Igreja difundiu a verdade? Nunca! Em época alguma. A história
está repleta de fatos. A Igreja sempre empanou a verdade. Falam por nós os Galileus, os
Giordanos Brunos, os Spinozas, os Copérnicos, e outros. A Igreja jamais desmascarou a
mentira; pelo contrário, sempre viveu abraçada a ela, aos dogmas, aos seus ensinamento,
ao ritualismo. Enfim, A Igreja é a mentira personificada, pois ela só se mantém a custa de
tanto mentir. Quando é, senhor vigário, que a Igreja instruiu o ignorante? Falam as
estatísticas pornôs. É o que colhemos no jornal “O Farol”, de São Luiz do Maranhão, de 1
de agosto de 1931.
Porcentagem de analfabetos nos países Católicos:
Guatemala 92,7%, Costa Rica, 82,2%, Brasil 80%, Colômbia 73%. Porcentagem
de analfabetos nos países Protestantes: Canadá 11%, Estados Unidos, 7,7%, Inglaterra
1,8%, Austrália 1,8%.
Aí está o quanto se interessa a Igreja pela instrução. E nem se poderia interessar,
pois seria prejuízo para quem gosta de trazer tudo debaixo do “mistério”.
Vamos ver agora (sem comentários), como é que a Igreja perdoa os seus inimigos:
João Huss, Jerônimo de Praga, condenados à fogueira (em 30 de maio de 1410). A
donzela de Orleans, Joana D’Arc, condenada à fogueira em 30 de maio de 1431. Na noite
de São Bartolomeu, dias 23 e 24 de agosto de 1572, foram degolados em Paris cerca de
10.000 huguenotes (protestantes). Na província da França na mesma ocasião, foram
trucidados por ordem da corte, com aprovação do Papa Gregório XIII, cerca de 40.000
calvinistas.
Seria esse o objetivo da Igreja, senhor vigário?
Nota: Deixamos de publicar a estatística na íntegra, para poupar espaço.
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O ESPIRITISMO E O PADRA GONZALES*
José Papa
A opinião pública mal orientada, até por cultores do Espiritismo, parecer
convencida de que este não é mais que seita crescida e vegetando como parasita à sombra
da frondosa árvore do Cristianismo.
Tem sido induzida a erros por todos quantos se encontram do lado oposto da
doutrina.
São mil bocas da ignorância pretensiosa, do obscurantismo intolerante, do
fanatismo religioso, que vociferam contra o que não conhecem.
Essa gota infrene dos embargadores da evolução, com a sua alvissareira pretensão
de “Madre”, tenta incutir no cérebro humano o vírus peçonhento do ódio contra o seu
irmão. Não bastaram 17 séculos de perseguição tremenda e bárbara que essa Igreja
petulante fez contra aqueles que reconheciam um Deus de amor e de bondade, amando-o
em Espírito e Verdade; não se saciou ainda com sangue de suas vítimas, devoradas pela
Inquisição; procura até os nossos dias, fazer com que a sua ação penetre em todos os
recantos e não trepida, para isso, em lançar a discórdia e o ódio entre as crenças de
diferentes agremiações.
Aonde está, nos padres da Igreja de Roma, aquela candura sublime do Messias?
Aonde está nos clérigos, aquela autoridade amável do Cristo, a ponto de só com o olhar
afastar os espíritos satânicos que atormentavam os lunáticos? Aonde está, nos pseudos
ministros de Deus aquela expressão encantadora do Sermão do Monte?
Nada disso temos visto na Igreja de Roma e em seus representantes. O mesmo
espírito de vingança e de ódio é o que temos visto na maioria dos ditos ministros.
É última moda, agora, o Reverendo Gonzáles querer desmantelar o Espiritismo. E
de que forma? Seguindo a mesma orientação dos seus mestres, por exemplo: Loyola.
Procura tudo quanto é desonesto e debita-o à conta do Espiritismo. Foge da lógica
do raciocínio, do bom senso, e vai às historiazinhas que acontecem que acontecem em
arraiais, e que nada têm a ver com Espiritismo; por exemplo: a dita “fábrica de
fantasmas”, aliás, já por nós conhecida.
Teremos o prazer de entregar-lhe um número de jornal espiritista “A Alvorada”,
que alude à fábrica, com o comentário do nosso confrade José Peres.
Já pelo tamanho, já pela analogia do Reverendo, ou ainda pela tabela de preços,
concluímos que ela tem tanto de Espiritismo, quanto a Igreja te de Cristianismo.
Porque o Reverendo gostou mais da tabela de preços; de se cobrar 100 dólares por
seção. Por se um pouco caro, não Reverendo?
Na Igreja é mais barato. Cobra ela pelas missas 5$000, 10$000, 15$000 e vai indo
de 100$000 até 500$000. Esta é só para gente rica. Batizados de 6$000 e de 10$000;
benzimento de defuntos 10$000. Se tiver muito pecado, 100$000; a crisma é mais barato
2$000, porque é “por atacado”. E o Reverendo, acostumado com o seu balcãozinho, julga
muito fácil as outras agremiações terem balcão.
____________________________
*Artigo publicado no Jornal “A Cidade” em 18 de dezembro de 1937.
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Quem conhece o Espiritismo, dentro de suas bases da codificação, por si se
convence de que só um cérebro doentio poderia aludir à dita fábrica relacionando-a ao
Espiritismo.
Quando é que o Reverendo viu ou leu que no Espiritismo se paga para entrar ou
sair ou que ele tem alguma cousa para vender? Nunca, não é? E nem poderia ver ou ler,
a não ser nesses fatos de parasitas que se rotulam com o Espiritismo para ludibriar a
credulidade dos incautos, imitando assim os senhores prelados que se rotulam de
Cristianismo para ter mais autoridade perante o público. Veja, pois, que o Cristo nada tem
a ver com as mixórdias do clero, e nem o Espiritismo é responsável por aqueles que o
exploram.
Mas, o Reverendo nos dá a impressão de ser uma dessas mulherzinhas, muito
tagarelas, que fuçam e tudo quanto é beco para futricar, como certos contos de
Polichinelo. Parece-me que o amigo não aprecia a palestra pela lógica ou pela parte
filosófica; escorrega sempre para os contos de fadas e conclui: Espiritismo Imoral e
bárbaro!
Reverendo, para provar-se uma coisa, não basta falar ou dizer que fulano disse. É
preciso apontar a causa do dano e sustentar com base.
Pois lanço-lhe este desafio: aponte qual é a imoralidade ou a barbaridade que o
Espiritismo cometeu; qual foi a guerra que ele dirigiu; o sangue que derramou; as
fogueiras que acendeu; o lar que conspurcou; a donzela que violou; as propriedades de
que se apropriou. Responda-me Reverendo, não pule a cerca para outro terreno.
Experimente fazer-me V. Revma. As mesmas perguntas referentes à Igreja.
O ilustre sacerdote não tem trepidado em ridicularizar essa plêiade de sábios que
se declaram em favor do Espiritismo. No que se baseia para dês fazer um Flamarion, um
Delane, um Aksakof e tantos outros que já citamos? Em Houdini, naturalmente! Quem é
Houdini? Um prestidigitador, ilusionista (um tapeador). Ótimas credenciais possui para
desfazer um monumento comprovado pelas maiores capacidades científicas.
O Reverendo sempre escolhe fatos contra e nunca pró: naturalmente com espírito
de prevenção.
Que ingratidão seria a nossa se desconhecemos o valor oral de um Santo
Agostinho, de um Francisco de Assis, de um Padre Euclydes, este último cidadão da
nossa terra. (Neste ponto do artigo há falta de um pedaço do impresso do jornal, que se
desfez com o passar dos seus 50 anos).
Três parágrafos depois. No final do terceiro ainda se lê – que nos apresentou
um caso de reencarnação a que o jornal se refere chamando-o de “Miss Enigma”.
Tal fato embasbacou a ciência. Diz-nos, ainda, a reportagem: “Fenômeno único de
reencarnação” (único para eles). “O enigma dessa bela oca ainda não pôde ser
desvendado e continua a desafiar a argúcia dos sábios mais ilustres.
A reportagem é grande; procure estudar o caso e se não puder resolve-lo, chame
por Houdini, diz-nos o referido sacerdote.
(Neste ponto, aconteceu o mesmo que já expliquei acima. Falta um pedaço do
impresso do jornal).
“E porque vês o argueiro no olho do teu irmão, porém não reparas na trave que
tens no teu? Ou como poderás dizer a teu irmão, deixa-me tirar o argueiro do teu olho,
quanto tens a trave no teu? Hipócritas! Tira primeiro a trave do teu olho e então verá
claramente, para tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
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O ESPIRITISMO E O PADRE GONZALEZ*
José Papa
Nesta situação grave para a nacionalidade, neste momento de incertezas e de
confusão por que passamos, uma só coisa é louvável: reunir todos os homens sob uma só
bandeira de verdadeiro espiritualismo cristão, fazendo assim que estes, em verdadeiras
preces a Deus, implorem a paz tanto almejada, principalmente pelos brasileiros, que
detestam a luta arada, pois esta não é mais que um instinto de barbarismo, e não se
coaduna com a evolução dos filhos de Santa Cruz.
No entanto, não bastam os rumores que dos países longínquos vêm até nós,
rumores de guerras e de flagelos, era preciso que um pseudo ministro vindo de terra
desconhecida viesse insultar-nos tirando-nos a paz, aquela doce paz que vínhamos
fruindo. E dentre seus insultos indecorosos que vem fazendo a milhares de brasileiros,
trabalhadores da grandeza nacional, procura ainda o ilustre sacerdote descarregar e
outrem aquilo que já se torna pesado para si.
Caso de polícia, diz ele. Ótimo discípulo de Cristo. Condena-se com suas próprias
palavras; com seus próprios atos demonstra que um abismo incomensurável o separa do
Messias.
Apelo ao público em geral que confronte nossos artigos e verão quais são os mais
indecorosos, estúpidos e inconsistentes.
Para nós, ilustre sacerdote, as vossas ameaças não nos atemorizam; jamais
fugiremos da luta, quer pela imprensa, quer pela palavra, se necessário for. E haveremos
de mostrar ao homem o quanto está distante a Igreja de Roma, da de Cristo. Convido
ainda mais o Reverendo, que me aponte no Código Civil Brasileiro, em que o artigo
incorri para que seja necessária a presença da polícia.
Porque V. Revma. Não procura desfazer o que eu disse com os o dogmas da
Igreja? Quer entregar a questão a outros? É a lembrançazinha do passado, Reverendo?
Ainda não perdeu a tradição da Inquisição? Lembramos que o Cristo disse positivamente:
“ninguém vai ao Pai senão por Mim”. Quer dizer, que, para se ir até Deus, temos que
imitar o Cristo. Vossa Revma. O tem imitado? Seus artigos falam por si sós.
O Reverendo estranhou eu dizer que religião só é aquela que liga o Amor de Deus
para com o homem e o Amor do homem para com Deus. Vejam que lógica: Religião só é
aquela que não podendo com a carta recorre a polícia (e a tradição?). Ótima religião!...
Vejam esta: “a ciência verdadeira só é aquela que atravessa os séculos sem sofrer
modificações”. Tal é o Catolicismo, nos diz o padre, que nos seus princípios, apostolados
e ensinos é sempre idêntico.
____________________________
*Artigo publicado no Jornal “A Cidade”, de 24 de dezembro de 1937
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Que tal, leitor? Aqui há duas partes: a primeira, estamos com o Reverendo, pois
de fato a Igreja não se modificou em nada quanto ao modo de agir. São 17 séculos na
mesma intolerância iniciada com Constantino. Na segunda parte não concordamos. A
Igreja tem tido vários concílios e designou vários dogmas; adoração da imagens,
ritualismo, infalibilidade Papal, etc.
Diz o Sr. Vigário – “Vislumbro um embargo, alguma mão que o apadrinha nesta
contenda”. Sabem porque leitores? Porque copiei a estatística que publiquei. Pudera!
Deveria eu, fazer uma estatística de cabeça? Que lógica tem o Reverendo! Ainda mais, se
eu copio dados históricos, estou no meu papel de inculto, de malhador de ferro (com
muita honra!). Mas o interessante é que o Reverendo, sendo um Mestre, um Teólogo, um
rabino, também tem copiado, pois seus artigos são quase todos transcritos do livro de
Heuzé do Dr. Leonídio e de algum jornal. Veja pois, não é nada demais que eu, na
qualidade de operário, transcreva alguma coisa. Mas é muito fácil ao Reverendo, inteirarse da verdade: experimente-me num debate de improviso.
Senhores! Se há ofensa maior para os brasileiros é esta que segue. Diz o
Reverendo “a historieta de Coelho Netto é presenciada por o um espírita, sem mais
testemunhas e contada pelo mesmo; fica pois prejudicado o conto”. Em primeiro lugar
temos a dizer que os espíritas não presenciaram e nem contaram. Que o declarou foi o
próprio Coelho Netto. O seu livro está aí, para todos lerem. Em segundo lugar o
Reverendo nos dá a entender que o Coelho Netto não merece crédito, é o um mentiroso.
Sim, para o senhor vigário ele é isso, mas para os brasileiros, ele é o “Príncipe das
Letras”, é o ídolo de nossa terra, ao qual muito devemos. Duvidar de Coelho Netto, do
que ele diz nas suas obras, só é papel de vigário, sem responsabilidade, que não trepida
em atacar os sábios e os letrados. Bom hóspede é o Reverendo, humilde ao extremo.
O Reverendo não quer que se fale certas verdades referentes à Igreja. Diz que não
se trata de insultos ao Catolicismo. Nós não insultamos, Reverendo. Quem insultou foi V.
Revma. E, ao demais, se saiu à chuva, terá que se molhar. O mesmo direito com que tenta
nos achincalhar, temos nós de retribuir. O amigo silencia e nós respeitamos seu silêncio.
Diz o vigário: “É questão de honra, acabar com essa propaganda nefasta”. Dá-nos
a entender que é preciso prender o herege, apedreja-lo, queima-lo. É assim que procedem
os discípulos do Cristo. Leitores, vejam a diferença das palavras do Cristo quando era
ofendido: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. A do Reverendo: matai esse
herege, prendei esse insolente que se propõe a desfazer da religião da maioria dos
brasileiros.
A maioria dos brasileiros não é católica, Reverendo. Se pudéssemos ver a
consciência de cada um, veríamos que uma parte muito diminuta está ligada à “Santa
Madre Igreja”.
Para terminar ouçamos os defuntos:
“Se ouvirdes dizer que o Evangelho de Jesus é a guerra e o derramamento de
sangue, eu vos digo, em verdade, que esse é o Evangelho dos rancorosos e vingativos,
mas não de Jesus, que amou os homens e lhes pregou a Paz”.
“Se vos disserem que o Evangelho é o fausto, as riquezas e as comodidades dos
ministros da palavra, eu vos digo, em verdade, que esse é o Evangelho dos mercadores
do Templo, mas não o de Jesus, que recomendou aos seus discípulos a pureza de coração
e o desprendimento dos bens da Terra”.
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“Se vos disserem que o Evangelho é a água, as mãos, levantadas ao Céu, as
pancadas no peito, a forma e o culto externo, eu vos digo em verdade que esse Evangelho
é dos hipócritas, mas não o de Jesus, que recomendou o amor e a adoração a Deus em
Espírito e Verdade.
“Se vos disserem que o Evangelho é a resistência às leis e aos princípios que
governam os povos, eu vos digo, em verdade, que esse é o Evangelho dos rebeldes e
ambiciosos, mas não o de Jesus, que mandou dar a Deus o que é de Deus e a César o
que é de César”.
“Se vos disserem que o Evangelho é a intolerância, o anátema, a perseguição, a
vingança e o ódio, eu vos digo em verdade, que esse é o Evangelho da soberba e da ira,
mas não o de Jesus que rogava ao Pai misericórdia pelos seus mortais inimigos”.
Nota: Neste ponto do artigo, há falta de um pedaço do impresso do jornal, que se
desfez com o passar dos seus 50 anos.
1954
Nesta polêmica que tivemos contra o Frei Boaventura em 1954, e que saímos a
campo de fronte erguida, para defendermos os princípios básicos da Filosofia Espírita,
alguns dos nossos artigos também foram danificados pela ação do tempo.
Mas os que estamos publicando, é o bastante para se avaliar a luta que os
veteranos do Espiritismo sustentaram contra as trevas.
SECÇÃO LIVRE
CARTA ABERTA
A DOM LUIZ DO AMARAL MOUSINHO, BISPO DA DIOSECE DE
RIBEIRÃO PRETO
José Papa
Ribeirão Preto, cidade essencialmente cristã, tem vivido brilhantes páginas de
altruísmo e filantropia, através de um trabalho constante e progressivo de sua população a
favor dos necessitados, praticando a verdadeira Religião que, no dizer do Apóstolo
Thiago, “é amparar os pobres e viúvas em suas necessidades” — e isto sem rótulos,
dogmas e publicidade.
Nunca, em nossa querida cidade, como nesse imenso torrão brasileiro, houve
disputas raciais ou religiosas, porque não está na índole deste povo as disputas que
fragmentam e dividem e que tanto descalabro têm trazido a outras pátrias, levando as ruas
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com o sangue de seus filhos, muitas vezes arrastados pela incompreensão de uma dita
“guerra santa”, se é que há santidade em derramamento de sangue.
Este povo, pois, feliz e ordeiro, que tem vivido de mãos dadas, sem indagar do
sentimento religioso de cada um, porque sabe que Religião é Amor, está de sobressalto e
vexado diante da perturbação da ordem religiosa, provocada pelo ilustre Príncipe da
Igreja Católica Apostólica romana em nossa cidade, trazendo para aqui o Frei
Boaventura, a fim de pôr em litígio Católicos e Espíritas, que até hoje têm vivido na mais
harmoniosa paz.
Frei Boaventura retifica a opinião dos Srs. Bispos de que na atualidade o
Espiritismo é o maior inimigo da Igreja Católica, por estar despovoando a mesma dos
fiéis, que em tempos outros ali prestavam suas colaborações. O Espiritismo, afirma
Kardec, “não veio para incutir sentimentos religiosos àqueles que já o possuem e que, na
mesma, sentem-se bem”. Se a Igreja Católica está sendo abandonada pelos seus adeptos,
é porque eles não têm encontrado, ali, o alívio para os seus males e as esperanças para
suas aflições, sendo obrigados a procurá-los em outros apriscos.
Não é, pois, combatendo o Espiritismo com as armas da mentira que se consegue
a volta da “ovelha tresmalhada”, mas, sim, fazendo da Igreja Católica o aprisco de todas
as almas, curando-as de todas as dores físicas e morais, tal como faziam os Apóstolos da
“Igreja do Caminho”. Que a Igreja Católica se transforme na verdadeira Igreja do Cristo,
na sua simplicidade, na sua humildade, sem ouro, sem pompas e sem soldados armados
para defende-la, e então a humanidade toda reunir-se-á sob o seu teto, a fim de ouvir, em
Espírito e Verdade, o Evangelho de Jesus, reunindo um só rebanho para um só pastor —
o próprio Jesus, o Cristo de Deus.
Não foi o Espiritismo o primeiro a declarar guerra à Igreja Católica, como afirmou
o Frei Boaventura. A história está viva e patente para ser consultada, e em relação ao
Espiristimo, é bom ter-se em mente que foi ele que passou a ser perseguido desde aquela
queima das obras de Allan Kardec, pelo Sr. Bispo de Barcelona, em praça pública, logo
no início de sua difusão... No entanto, os Espíritas nunca fugiram à luta em defesa da
causa nobilitante da Terceira Revelação, usando, para isso, as melhores armas de vitória:
raciocínio, lógica, bom-senso e amor.
Fomos desfiados para a luta das idéias e aceitamos o desafio, porém em debates
públicos, e, como em todas as causas deve haver ordem e disciplina, método e equidade,
propomos a Dom Luiz do Amaral Mousinho o seguinte: — que seja escolhida uma
Comissão composta de pessoas idôneas e imparciais, em número de 3 (três) membros,
para dirigir os debates, a fim de se evitar ironias, privilégios e desrespeito, bem como
qualquer atitude ofensiva a qualquer religião. Os assuntos a serem debatidos serão
divididos em 3 (três) temas que reputamos como básicos para a Doutrina Espírita, a
saber:
1. — O Evangelho de Cristo perante a Igreja Católica e o Espitirismo.
2. — A Justiça Divina em face da Igreja Católica e do Espiritismo.
3. — As manifestações dos Espíritos e as Curas Espirituais com relação à Igreja
Católica, o Espiritismo e o Evangelho de Jesus.
Cada tema terá a durabilidade 2 (duas) horas, cabendo 1 (uma) hora para cada
Relator, sendo a mesma dividida de 15 em 15 (quinze) minutos para cada um. A
Comissão Diretora poderá, em caso de necessidade, conceder mais 30 (trinta) minutos
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para perguntas e respostas entre os dois Relatores. Os debates poderão ser realizados em
um só dia ou em dias diferentes.
Aguardamos, pois, a resposta por esta mesma coluna, inclusive a designação do
Representante de V. Senhoria, a fim de prepararmos os debates.
A recusa desta nossa proposição demonstrará, de público, a falsidade ora
apresentada pelo Frei Boaventura.
Ribeirão Preto, 17 de Junho de 1954.
“LÓGICA DE ENCANADOR”
Não nos causou surpresa a linguagem da resposta a nossa CARTA ABERTA ao
Clero Romano, quando, então, aceitamos o desafio feito aos Espíritas e propusemos a
nomeação de uma comissão para dirigir os debates em torno de temas básicos da
Doutrina Espírita. Tivemos razão bastante para exigir uma comissão controladora, pois já
sabíamos de antemão que, em Campinas, em debates com o Frei Boaventura, o nosso
confrade Benedicto Nascimento foi posto fora do recinto. Exigimos a comissão porque
queremos ordem e respeito, e para que se evitasse ironias e vaias, pois tivemos
conhecimento dessas atitudes ainda ontem, dia 19, na Cava do Bosque, quando o Prof.
Pirilampo em aparte com o Frei Boaventura foi vaiado seguindo-se uma salva de palmas
quando o Frei anunciou que o referido aparteante não era Espírita. Concluímos que há um
terreno preparado para vaiar os Espíritas que forem debater na Cava do Bosque. Mas, diz
o autor ode Leviandades, que o Sr. Bispo trouxera a Ribeirão Preto o Frei Boaventura
para esclarecer os católicos, enquanto que o Sr. Frei declara, de público, que veio por
conta própria. (Com quem estará a verdade?). Achamos justo, louvável até a atitude do
Episcopado local em promover uma campanha de esclarecimento, mas esclarecer, o que é
a Doutrina Católica. Querer esclarecer o que é a sua própria Doutrina com ataques às
doutrinas alheias, é demonstrar falta de argumento em causa própria. Que se limite a
Igreja de Roma em mostrar as belezas de sua Doutrina, e os fiéis inteligentes e estudiosos
saberão distinguir onde há luzes e onde há trevas. Mas, diz o “Diário de Notícias” (e isto
com ares de mofa) “um tal J. Papa, com lógica de encanador, teve o desplante de
escrever...etc...etc...” Obrigado, Sr. Redator, muito obrigado, nunca ocultamos com a
capa preta aquilo que somos, um encanador, e as nossas mãos calejadas estão a
comprovar a veracidade de nossa profissão. Vivemos à custa da honradez do nosso
trabalho, nunca fizemos do Evangelho de Cristo o Balcão Comercial, a exemplo dos
discípulos de Roma. Temos orgulho de, ao menos neste ponto, imitar o Cristo e seus
apóstolos. Ele, o Nazareno, era carpinteiro e trabalhava com o próprio pai, que também o
era. Os apóstolos eram pescadores e fabricantes de tendas. O OS SENHORES
CLÉRIGOS, QUAL É A SUA PROFISSÃO? DO QUE VIVEM? Jesus não tinha onde
reclinar a cabeça e os apóstolos de Roma vivem em faustosos palácios, adornados de
púrpuras, de pedrarias, etc. etc. Mas, continua o fabricante de “Leviandades”: com que
direito esse infeliz chama etc. etc. Sr. Reverendo, onde há maior infelicidade: no honrado
operário, chefe de família, que labuta de sol a sol para a manutenção dos seus, e que nas
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horas vagas a peito escancarado, prega o Evangelho de Cristo, dando de g raça o que de
graça recebe (Matheus, cap. 10, vrs. 8), ou nesses infelizes que, pecando contra o Espírito
Santo (Matheus cap. 13, vrs. 31), mercadejam as coisas sagradas e divinas? Continuamos
a afirmar que não fugiremos da luta: fomos desafiados e “topamos a parada”. O que
insistimos é num debate doutrinário, em pontos básicos do Espiritismo, e na sua
nomeação de uma comissão para dirigir os debates. Lançamos-lhes, pois, este repto de
honra, e, se o negarem, ficará comprovada a sua falsidade.
Ribeirão Preto, 20 de Junho de 1954.
A HUMILDADE DE UM DISCÍPULO DE CRISTO
José Papa
A nossa lógica de encanador machucou um pouco os Clérigos locais. O que fazer?
Cano é uma composição de ferro e outros metais sólidos que, no geral, machucam, não ao
oficial que o maneja, pois este tem prática e cautela, mas aquele que dele se avizinha sem
a necessária vigilância. Assim, o Redator do Diário de Notícias parece que foi atingido
por um pedaço de cano. Perdão, Reverendo, não temos culpa, pois estávamos trabalhando
quando, inopinadamente, fomos provocados. Mas, o atingido foi o discípulo de Cristo, e
Cristo pregava a humildade, a tolerância e o perdão para aqueles que erram; assim, o
ilustre Sacerdote, como discípulo de Jesus, nunca devia ter descido para o terreno
pessoal, onde há falta ode lógica e de argumentos, muito comuns aos Sacerdotes
Romanos, que, geralmente, descambam para o ataque individual, a fim de fugirem à falta
doutrinária.
Não fomos os que inventamos os fatos de Campinas e da Cava do Bosque; a
multidão é unânime em confessa-los, e o próprio Frei Boaventura fez menção do fato.
Diz o Sr. Articulista que fugimos ao ensino de tolerância ensinada pela Doutrina
Espírita. Mais uma vez, perdão; ao somos discípulos de Cristo, porque, para ser discípulo
de Jesus, é preciso ser douto, sábio, doutor em teologia e mestre em Israel...
Pedro era formado em medicina; João era um grande engenheiro; Thiago um
iminente professor de filosofia, e assim sucessivamente, razão porque eles não tinham
erros de gramática e nem faltas de lógica, de que tanta questão faz o autor de “Encanador
sem lógica”.
Diz ainda o articulista, que problemas doutrinários e sistemas não se medem com
canos e com calos, mas com lógica e raciocínio. Bravo, Professor, estamos com o Sr.
Agora, uma perguntazinha: —não era justamente isso que estávamos exigindo quer em
nossa “Carta Aberta”, quer em nosso repto? Porque os Srs. Não aceitaram? Porque
exigiram e gritaram pelo nosso nome na Cava do Bosque, entre gritos, apupos e
algazarras, a ponto de alguém declarar que aquilo estava parecendo um Circo Romano? É
assim que medem sistemas e doutrinas? Onde a maior lógica: —no Comércio da Cava do
Bosque, ou num debate honesto e pacífico como propusemos?
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O Reverendo acha que somos ridículos porque não temos lógica. Onde a maior
ridicularidade: — na nossa lógica de encanador ou nas atitudes anti-cristãs daqueles que
atacam o homem e fogem do convite honesto deste mesmo homem? Afirma ainda o Sr.
Padre — que contrariamos abertamente a mansidão da Doutrina Espírita; no entanto, se o
Reverendíssimo conhecesse bem o Evangelho de Jesus, haveria de ver, bem claro, que,
no momento necessário, o Cristo contrariando a beleza de seu coração, muniu-se de um
azorrague e expulsou os vendilhões do Templo. Quem é que continua a vender no
Templo: somos nós, os Espíritas? Não, nós não somos doutos e nem sábios; e no entanto
o Cristo, voltando o seu pensamento para o Céu, dissera: “graças Te dou Senhor, porque
ocultastes estas cousas (os dons divinos), aos doutos e sábios, e as revelastes aos
pequeninos (encanadores)”.
O Reverendo perde-se entre lógica e sistemas, despista o assunto e bate na mesma
tecla. “Porque não vai à Cava do Bosque, demonstrar ao orador que está mentindo? E nós
também perguntamos: — porque não aceitaram a nossa proposição em debatermos
assuntos básicos do Espiritismo perante uma Comissão de homem imparciais? Mas, logo
veio o cochicho de porão: “ele é um encanador e não pode debater-se com um doutor em
Tecnologia”. Ouvimos, sacudimos os ombros, o cochicho distanciou-se; abrimos os olhos
e vimos o carpinteirinho de 12 anos discutir no Templo com os doutores da Lei e com os
doutos da época, que ficaram embasbacados ante a argumentação daquele operariozinho,
e envergonharam-se mesmo. Isto faz-nos crer que os doutos de hoje estão com receio de
serem esmagados por algum estilhaço de cano, e f içaria feio para o Clero local, se isto
acontecesse.
Mas, alguém nos dissera (e nós não acreditamos, pois que ele é especialista em
Espiritismo): “o Frei Boaventura tem receio de enfrentar e debates ordeiros, o que ele
quer é carnaval”. Suponhamos que isto seja verdade; será que não terá por este Clero
Ribeirãopretano alguém para substituí-lo? Nós não fazemos questão, porque A
RAPADURA É SEMPRE A MESMA. Pois, senhor Reverendo, a nossa proposição
continua de pé, hoje, amanhã ou qualquer dia (mas não deixe esfriar muito). Caso isto
não acontecer, eu tomaria a liberdade de lembrar-lhe o sábio conceito do grande Mestre
Gamaliel, quando o farisaismo Israelita encabeçava uma perseguição de morte aos
discípulos de Cristo, ele os advertiu dizendo-lhes: “Não vos metais com esses homens (os
discípulos) mas deixai, porque se esta obra for dos homens, se desfará, mas, se for de
Deus, não podereis desfaze-la”. (Atos, cap. 5 V vrs. 38 e 39). Não se preocupe pois com
o Espiritismo porque, se for Doutrina humana, muito logo se desfará, mas, se for
Doutrina Divina, nem as fogueiras da “Santa Inquisição” lhe diminuirão um só til.
Ficam, pois com este artigo, encerrados os debates pela palavra escrita. Encerramos por
um só motivo: os nossos artigos terão que sair em Secção Livre e é muito justo e muito
louvável que se pague a referida Secção; no entanto, os canos que colocamos na parede
são curtos e o nosso dinheiro vem é de lá. Nos Centros Espíritas Kardecistas, não há nada
para se vender. Essa é a razão porque encerramos os debates pela palavra escrita, mas
ainda resta-nos a palavra falada, e esta a daremos de graça todas as vezes que qualquer
clérigo a desejar.
Ribeirão Preto, 22 de Junho de 1954.
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SECÇÃO LIVRE
OPORTUNO ESCLARECIMENTO
Em face da pregação ora feita nesta cidade por destacado elemento da Igreja
Católica Apostólica Romana contra o Espiritismo, cabe-nos, através da Imprensa local e
de “Hora Espírita”, esclarecer a toda honrada população de Ribeirão Preto, em nome da
União Municipal Espírita desta cidade, acerca dos princípios básicos de nossa Doutrina e
como deve ser estudada por todos aqueles que desejarem conhece-la, quer para saber de
sua verdade, a fim de adota-la como norma de conduta filosófica-religiosa, quer
simplesmente para inteirar-se de seus princípios a fim de verificar a possibilidade de
combate-la ou destruí-la.
Dentro pois das normas éticas de um bom-senso, há necessidade, acima de tudo,
para se conhecer alguma cousa, qualquer que seja o setor visado, de estudar na devida
origem, em suas verdadeiras fontes, aquilo que se deseja aprender. Duas premissas, pois,
levantamos neste instante: 1ª — estudar o assunto; 2ª — buscar na verdadeira origem, os
elementos desse competente estudo.
Desenvolvendo a primeira premissa afirmamos que, em relação ao Espiritismo,
para se obter conhecimento de causa, é absolutamente necessário estudar primeiro os seus
princípios todos, antes de qualquer discussão ou possibilidade de se emitir opinião a seu
respeito. Não se aprende Espiritismo, aliás como qualquer outra doutrina, sem se buscar,
pelo próprio raciocínio, o entendimento de suas bases fundamentais.
O professor, o amigo realmente orienta, esclarece, coopera, porém não pode
realizar o trabalho absolutamente individual de cada aprendiz, no esforço próprio de
aprender, a fim de que seja, não só possuidor de seus próprios conhecimentos,
integrando-os em si mesmo através de seu próprio raciocínio, como igualmente
adquirindo, nesse setor, positiva personalidade. Dessa maneira, o aprendiz não será fruto
de simples opinião alheia, nem joguete de concepções diversas e controvertidas,
porquanto saberá, por esforço próprio valorizar e conceituar tudo que estuda, ouve e vê.
Assim como não se alfabetiza uma criatura em simples horas ou dias, igualmente
não se adquire verdadeiro e honesto conhecimento de qualquer assunto ou matéria, em
simples horas, ouvindo 3 a 4 pregações ou lendo 1 a 2 livros, quase sempre secundários e
não básicos.
A própria história do Cristianismo relata-nos um fato por demais concludente: foi
quando Pilatos, legítimo representante do Império Romano, absolutamente cético em
matéria espiritual, inteiramente indiferente aos problemas de alma, sem um objetivo sério
e honesto de aprender, pergunta, indiferentemente, ao Divino Mestre Jesus — o que é a
Verdade. E Jesus, a própria Verdade, silencia-se diante de Pilatos. Porque? Onde está a
razão desse silêncio? E que o Divino Mestre, lendo diretamente a alma de Pilatos, viu de
sua impossibilidade em entender tal assunto, dada a vacuidade daquele espírito em
matéria tão transcendente, pois a Verdade, produto secular da evolução infinita da alma
que se destina para Deus, não podia ser entendida numa simples resposta, porque não
podia se comportar , tão imensa que era, e tão acanhado qual estreito entendimento de um
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homem que só conhecia o seu próprio direito de governar e mandar, através da força
bruta então feita justiça. Estaria Jesus agindo com falta de caridade com Pilatos? Não,
porquanto qualquer resposta que o Divino Mestre pudesse dar, numa síntese de Seu Amor
e de Sua Sabedoria, somente confusão se estabeleceria na mente cética e indiferente de
Pilatos; e era justamente isso que Jesus queria evitar, porque sabia ser preferível deixa-lo
numa simples expectativa do que atira-lo ao tremendo caos da confusão. E por divina
caridade, Jesus silenciou, aguardando a evolução da alma de Pilatos, em séculos futuros,
a fim de que ele próprio, Pilatos, pudesse buscar, com sua própria alma, o fundamento da
Eterna Verdade.
Confusão, meus caros amigos, é o que tem ocorrido na mente daqueles que,
afoitos, precipitados e realmente mal conduzidos, têm buscado a Doutrina Espírita em
fontes duvidosas e sem aquela lúcida advertência de Allan Kardec, ou seja, o estudo
sério, perseverante, metódico, aliado ao bom-senso e à honestidade.
Para quem realmente deseja aprender o Espiritismo possui o mesmo as suas obras
fundamentais, as suas Escolas de Doutrina, bem como a pessoal orientação, sobretudo na
fase de início, daqueles que, pelos próprios conhecimentos, méritos, e experiências,
sabem, em nome de Jesus, conduzir os neófitos para os mesmos paramos de
conhecimento. Eis-nos já na segunda premissa, ou seja, buscar-se, na legítima fonte, o
conhecimento de tão esplêndida verdade.
É por demais irrisório buscar-se, na palavra de um Sacerdote pré-determinado
para combater, a luz primeira de um bom entendimento.
Onde a base de uma argumentação, o fundamento para um lúcido raciocínio? Por
ventura, no julgamento de uma causa, o meretíssimo Juiz de Direito condena ou absolve
o réu ouvindo apenas a acusação? Não seria, em tal caso, unilateral o veredicto?
Não cabe pois, sem absoluto, nenhuma culpa ao Espiritismo, da conseqüência das
conclusões absurdas e irreverentes a que tem chegado muitas criaturas que, se de início
armaram-se de boa vontade para combate-lo, não souberam buscar em legítimas fontes os
seus princípios sãos e puros, honestos e eternos.
As obras de Allan Kardec, seguidas daquelas oriundas de seus legítimos
cooperadores, aí estão, no silêncio de seus excelsos princípios, na honestidade de seus
positivos fundadores e na elevação de sua linguagem, a convidar quem quer que seja, em
pleno uso de seu livre arbítrio, ao estudo dessa verdade que dia a dia conquista, ora pelo
saber, ora pelo bem, almas e almas, não no propósito de proselitismo, mas sim no
abençoado anseio de dar a cada um pleno conhecimento de si mesmo, como elemento
fundamental no cômputo geral do Universo.
Concluindo as nossas assertivas, transmitimos, a todos de boa vontade, os
principais princípios básicos do Espiritismo, a fim de, mais uma vez, conceituando a
nossa verdade, evitarmos confusão ou mera ignorância acerca de nossa Doutrina,
visando, tal fato, não exaltar os espíritas os espíritas e muito menos diminuir ou
menosprezar o valor de qualquer outra filosofia religiosa. O nosso objetivo, como
dissemos é apenas evitar confusões acerca do que é o Espiritismo, a fm de que o mesmo
não seja adulterado em seus fundamentos e sobretudo em seus objetivos.
Eis a nossa “Declaração de Princípios”:
1. — A existência de Deus.
2. — A pré-existência e a sobrevivência do Espírito.
3. — A perfectibilidade do Espírito através da lei de Evolução, tanto no plano
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espiritual como no plano material.
4. — A reencarnação do Espírito como princípio inerente à lei de evolução
espiritual.
5. — A lei de ação e reação ou de causa e efeito como base da Justiça, impelindo
a criatura para a lei do Amor.
6. — A comunicabilidade do Espírito através do fenômeno mediúnico.
7. — A existência do perispírito ou seja do corpo fluídico, como elemento de
ligação entre o Espírito e a matéria, quer na fase de encarnação, quer no
plano espiritual.
8. — A pluralidade dos mundos habitados.
9. — A moral do Cristo como base ética da vida, sintetizada no espírito de
solidariedade universal.
10. — O Espiritismo como o Consolador ou o Espírito de Verdade prometido por
Jesus.
11. — Allan Kardec como o emissário de Jesus para a codificação da Doutrina
Espírita.
12. — O Espiritismo como filosofia espiritualista progressiva, de base científica e
de finalidade religiosa, sem dogmas, idolatria, ritualismo e sacerdócio
organizado.
13. — Como lema teórico: — Deus-Cristo-Caridade.
14. — Como lema prático: — Trabalho-Solidariedade-Tolerância.
15. — O caráter rigorosamente gratuito do uso da mediunidade, em qualquer de
seus setores.
16. — O exemplo pessoal deverá sempre preceder o ensino teórico, a fim de
consolidar o verdadeiro valor da fé.
A União Municipal Espírita de Ribeirão Preto, pois, com tal “Declaração de
Princípios”, coloca-se, dessa forma, perante a opinião pública, no seu devido lugar,
assumindo absoluta responsabilidade quanto a estes verdadeiros conceitos do Espiritismo,
bem como no legítimo método de estuda-lo e propaga-lo, ao mesmo tempo que não se
responsabiliza por qualquer interpretação pessoal ou partidária de sua Doutrina, por quem
quer que seja ou, antes, por aqueles que, no geral são fruto exclusivo de mera ignorância,
de conceitos preconcebidos ou mesmo, outras vezes, de requintada maldade.
Propagando nossa Doutrina com honestidade e sinceridade, conhecimento e
respeito, não interferimos em absoluto na vida de qualquer Religião, respeitando-as e
aguardando da mesma forma, o devido respeito para conosco.
Ribeirão Preto, 17 de Junho de 1954.
Jaime Monteiro de Barros
José Papa
José Cunha
Ivone Barboni
João Antonio Prexedes
Francisco Massaro
— Presidente
— Vice Presidente
— 1º Secretário
— 2º Secretário
— 1º Tesoureiro
— 2º Tesoureiro
69
ÍNDICE
Apresentação do Autor .................................................................................................... 6
Prefácio ............................................................................................................................ 7
Esclarecimentos Necessários ........................................................................................... 8
Introdução ........................................................................................................................ 9
Nosso Ingresso no Espiritismo ......................................................................................... 9
Grupos Espíritas................................................................................................................ 10
Primeiro Centro Espírita .................................................................................................. 11
Separação ......................................................................................................................... 12
Novas Atividades ............................................................................................................ 13
Um Fenômeno que nos impressionou .............................................................................. 13
Um Acontecimento Histórico .......................................................................................... 14
O Movimento Espírita crescia ........................................................................................ 15
Nova Orientação .............................................................................................................. 15
Semana Espírita ............................................................................................................... 16
Assistência Social ............................................................................................................ 16
Gabinete Dentário ............................................................................................................ 17
Juventude Espírita ............................................................................................................ 17
Teatro Espírita ................................................................................................................. 17
Confraternização Espírita ................................................................................................ 18
Vamos Retroceder Um Pouco Na Memória..................................................................... 19
Bodas de Ouro do Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo ............................................... 20
Praça Allan Kardec .......................................................................................................... 20
Coisas do Passado ............................................................................................................ 21
Primeiro Jornal Espírita ................................................................................................... 22
Nossa Segunda Polêmica ................................................................................................. 22
Programa de Rádio .......................................................................................................... 23
Outras Entidades Espíritas ............................................................................................... 23
Asilo Bezerra de Menezes ............................................................................................... 24
Centro Espírita Redentor ................................................................................................ 24
Centro Espírita Amor e Caridade .................................................................................... 25
Sociedade Espírita União e Caridade .............................................................................. 26
Centro Espírita Pequeninos de Jesus ............................................................................... 28
Centro Espírita Joana D’Arc ........................................................................................... 29
Cruzada dos Militares Espíritas ...................................................................................... 30
Centro Espírita Benedito Rosa de Jesus .......................................................................... 32
Sociedade Beneficente Irmãos de Boa Vontade .............................................................. 33
Casas de Betânia .............................................................................................................. 34
Sanatório Espírita Vicente de Paulo ................................................................................ 35
Casa do Vovô .................................................................................................................. 37
Centro Espírita Batuíra .................................................................................................... 38
Centro Espírita Amor e Caridade Jesus e Maria .............................................................. 40
Um Acontecimento Inédito .............................................................................................. 40
70
Feira do Livro Espírita ..................................................................................................... 41
Banca do Livro Espírita ................................................................................................... 42
Grupo de Efeitos Físicos .................................................................................................. 42
Fatos e Fenômenos que presenciamos e que nos contaram ............................................. 43
A Mediunidade de João Ramos ....................................................................................... 43
Outro Fenômeno .............................................................................................................. 44
Um Fato para rir ............................................................................................................... 44
Um Fenômeno Comprovado ............................................................................................ 44
Um Fenômeno que me impressionou .............................................................................. 45
João Perujo ....................................................................................................................... 45
Companheiros Ilustres ..................................................................................................... 46
Divaldo Pereira Franco .................................................................................................... 48
Chico Xavier .................................................................................................................... 49
Ribeirão Preto .................................................................................................................. 49
Nota Final  Agradecimento .......................................................................................... 50
O Espiritismo e o Padre Gonzales ................................................................................... 51
O Reverendo Gonzales e o Espiritismo ........................................................................... 53
O Espiritismo e o Padre Gonzales ................................................................................... 55
O Espiritismo e o Padre Gonzales ................................................................................... 58
O Espiritismo e o Padre Gonzales ................................................................................... 60
Carta Aberta ..................................................................................................................... 62
Lógica de Encanador ....................................................................................................... 64
A Humildade de um Discípulo de Cristo ........................................................................ 65
Oportuno Esclarecimento ................................................................................................ 67
71
Impressão e Arte
GRÁFICA E EDITORA DO LAR
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13.360  Capivari  Fone: (0194) 91-1633
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