Sobre a reconfiguração no ensino de matemática: Uma análise fatorial de correspondência múltipla em um caso de uso da reconfiguração no cálculo de áreas de figuras planas. (talvez este subtítulo não seja necessário, talvez somente o “Sobre a reconfiguração no ensino de matemática” seja suficiente, o que achas?) Cláudia Regina Flores Méricles Thadeu Moretti Introdução Nesta última década diversas pesquisas em Educação Matemática apontam para a importância de se incentivar nos meios educacionais o desenvolvimento pelo educando da habilidade de visualizar tanto objetos do mundo real, quanto, em nível mais avançado, conceitos, processos e fenômenos matemáticos. Considera-se que esta habilidade é tão ou mais importante do que a de calcular numericamente e a de simbolizar algebricamente. Além disso, os educadores matemáticos começaram a tomar consciência da importância assumida pelo entendimento das informações visuais em geral, tanto para a formação matemática do educando quanto para sua educação global. Além disso as pesquisas realizadas nos últimos tempos constatam que para o ensino da geometria euclidiana e espacial, particularmente, o uso do desenho, ou seja, da figura que representa a situação matemática em questão é fundamental para a aprendizagem. De fato, a figura desempenha um papel importante na aprendizagem geométrica, sobretudo na resolução de problemas, pelo seu suporte intuitivo e por desempenhar uma função heurística. Então, importante saber de que modo o ensino pode lançar mão do uso de figuras geométricas, não só como instrumentos mediadores de conhecimentos geométricos mas, sobretudo, para o desenvolvimento da visualização. Neste sentido, destacamos as pesquisas realizadas por Mesquita (1989) e Padilla (1992), na França, e por Flores Bolda (1997), que procuraram resgatar o papel heurístico das figuras geométricas planas na resolução de problemas matemáticos, comprovando que sua utilização exige um “aprender a ver e a ler” estas figuras. Além disso, um trabalho realizado sobre as possíveis apreensões de uma figura geométrica, particularmente, o caso da reconfiguração, pode contribuir sensivelmente para uma melhor desenvoltura na aprendizagem dos alunos. A preferência por métodos didáticos que privilegiam a visualização vem do fato de que se acredita que o incentivo a tal habilidade poderá suprir uma deficiência do ensino convencional ao mesmo tempo em que complementaria o quadro de um aprendizado de outra forma incompleto. Ainda, como em nossas escolas elementares e universidades, os aspectos ligados à visualização têm sido pouco enfatizados, buscamos, neste trabalho, contribuir para sua valorização, enfatizando a visualização de figuras geométricas planas a partir do uso da reconfiguração, ou seja, de um tratamento puramente figural na resolução de cálculos de áreas em exercícios para o ensino fundamental. Neste sentido, além da discussão teórica sobre a reconfiguração de figuras planas, este artigo pretende trazer exemplos do uso da reconfiguração para o cálculo de áreas de figuras planas no ensino fundamental e, ainda, demonstrar a partir de uma análise fatorial de correspondência múltipla, o aumento significativo na performance dos alunos, tanto em termos de conteúdo como em termos de visualização, quando da utilização da reconfiguração de figuras planas em problemas de geometria envolvendo o cálculo de área. Reconfiguração: uma operação de tratamento puramente figural O uso de figuras para auxiliar na visualização, compreensão e resolução de problemas matemáticos constitui-se como um forte aliado, fato este que muitas pesquisas já demonstraram. Dentro deste aspecto, o que nos interessa ver aqui é o trabalho na figura propriamente dita, quer dizer, o tratamento que se possa fazer numa figura geométrica, a fim de achar o caminho de uma solução para um problema matemático. Ora, a história pode nos dar exemplos desse uso. Leonardo da Vinci é um destes casos. Ele desenvolveu estudos sobre as proporções geométricas, tanto da geometria plana como da geometria dos sólidos tridimensionais, estabelecendo a equivalência entre as áreas de figuras retilíneas e curvas, o que chamou de Scienza de equiparantia. A figura abaixo é um exemplo disto. Ele fez a construção de uma figura geométrica curvilínea tendo a mesma área que uma figura retilínea dada, ou vice versa, quer dizer, a equivalência entre um triângulo retilíneo e um triângulo curvilíneo. Fig. Mas, como este tratamento figural pode ser estudado, analisado e teorizado a fim de possamos fazer uso deste modo de resolução no ensino de matemática? Duval, ...... Exemplos de reconfiguração (ou um exemplo de reconfiguração trabalhado pelos alunos) Análise fatorial de correspondência múltipla Conclusão Atualmente, os debates na área da educação, de uma maneira geral, discutem a crise educacional que nos encontramos. Não há dúvidas que vivemos numa época em que tudo vem sendo questionado, inclusive, nossas formas tradicionais de ensino. Já não se trata, no momento atual, agir e reagir sempre com os mesmos reflexos. Portanto, urge cercar o problema e propor novas perspectivas de ensino que possam responder de melhor forma às turbulências de nossa sociedade contemporânea. Assim sendo, pensar o caso da reconfiguração de figuras geométricas planas no ensino de matemática, significa trazer para a educação do aluno novas formas de resolução para uma mesma atividade matemática. Isso quer dizer que, por exemplo, ao invés do aluno resolver seus exercícios de cálculo de área usando somente o procedimento de fórmulas, ele terá outra alternativa de solução, ou seja, a busca heurística na própria figura. Isso significa também, possibilitar ao aluno uma desenvoltura tanto nas suas formas de pensar como na sua forma de olhar. Vale lembrar que a intuição heurística que traz uma figura pode levantar percepções distintas e envolver outros tantos fatores que possam auxiliar ou dificultar este papel heurístico. Isso significa que a utilização de figuras geométricas na resolução de problemas matemáticos, requer uma certa aprendizagem de leitura e interpretação destas. Talvez esteja aí uma oportunidade para pensar o papel do professor, ou seja, na formação de um professor tanto para o uso de novos modos de ensinar, como para com seu conhecimento de uma operação de tratamento puramente figural. Ainda, cabe sublinhar que a análise fatorial de correspondência, utilizada no exemplo que discutimos aqui, se faz apenas como um suporte no tratamento da informação. Isso significa que, mediante este tratamento podemos chegar a resultados que possibilitem uma via de avaliação da pesquisa. Isto não garante que todos, ou que grupos de alunos, tenham de uma maneira geral adquirido a aprendizagem desejada caso o resultado da análise aponte para isso. Bem sabemos que a aprendizagem é particular e intrínseca a cada indivíduo, podendo ou não, ser demonstrada por ele exteriormente.